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História do Cinema Português O Cinema Mudo Português Os Primórdios Os irmãos Lumière apresentaram, pela primeira vez, o seu Cinematógrafo em Paris no Grand Café, tornando célebre a data de 28 de Dezembro de 1895. Pouco mais de seis meses depois o cinema debutava em Lisboa. "Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança", de Aurélio Paz dos Reis (Col. Cinemateca Portuguesa) 6º Semestre - 2012 - 2013

Bibliografia e Fontesancacid.yolasite.com/resources/01.002 - HCP - O cinema... · Web viewMas Freire Correia realizou dois documentários de sucesso assinalável em 1909: "A Cavalaria

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Histria do Cinema Portugus

O Cinema Mudo Portugus

Os Primrdios

Os irmos Lumire apresentaram, pela primeira vez, o seu Cinematgrafo em Paris no Grand Caf, tornando clebre a data de 28 de Dezembro de 1895. Pouco mais de seis meses depois o cinema debutava em Lisboa.

"Sada do Pessoal Operrio da Fbrica Confiana", de Aurlio Paz dos Reis (Col. Cinemateca Portuguesa)

A 18 de Junho de 1896, no Real Colyseu da Rua da Palma n 288, Edwin Rousby apresentava o seu Animatgrafo em Lisboa.

Porm o pblico portugus conhecia j a projeco de fotografias, primeiro pelos cicloramas, dioramas e as vistas estereoscopias e, mais tarde, pela lanterna mgica, com a projeco de fotografias transparentes em chapa de vidro posteriormente coloridas. A 28 de Dezembro de 1894, o fotgrafo alemo Carlos Eisenlohr inaugurava a sua "Exposio Imperial" nas lojas do Hotel Avenida Palace. Para alm das projeces j conhecidas dos lisboetas, apresentou a grande novidade: a fotografia viva - veiculada no por um Kinetograph de Edison, como foi publicitado ento - mas pelo Elektrotachyscop ou Schnellseher, um invento de Ottomar Anschutz, que A. J. Ferreira opta, fundamentadamente, por chamar de Electro-Tachiscpio Eisenlohr. Projectava imagens de aces, de um co a andar ou o galope de um cavalo, contidas em discos de dimetro reduzido que produziam imagens de curtssimos segundos.

No princpio de 1895, a Tabacaria Neves apresenta o Kinetoscope de Edison (na verdade uma cpia do invento, construda em Londres por Robert W. Paul, encomendada pelo grego George Georgiades, que apresentou a mquina em Lisboa). Ao contrrio do invento precedente, o Kinestoscope tinha o visionamento individual e a pelcula com cerca de 1380 fotografias permitia uma projeco de 20 segundos.

A mquina que apresentou a sesso cinematogrfica no Real Colyseu no foi o Cinematgrafo dos Irmos Lumire, mas antes uma sua concorrente, tambm da autoria do ingls Robert W. Paul, o Teatrograph, que apenas projectava. A mquina projectava por detrs da tela, onde apareciam imagens de tamanho natural, representando durante cerca de um minuto. A sesso foi muito bem recebida e nos meses que se seguiram sesso da Rua da Palma, vrias foram as mquinas que rodopiaram nos cinemas lisboetas, disputando entre si o pblico cinfilo.

No Real Colyseu da Rua da Palma do comendador Antnio Santos Jnior, a 18 de Junho de 1986, Edwin Rousby exibe os filmes da casa produtora do ingls Robert-William Paul, da qual enviado. So filmes de cerca de um minuto, "vistas animadas" tomadas pelos operadores da produtora inglesa: "Bailes Parisienses", "A Ponte Nova em Paris", "O Comboio", "A Dana Serpentina", "Uma Loja de Barbeiro e Engraxador em Washington". RW. Paul enviar tambm o seu operador Henry Short ao sul da Europa, registar vistas animadas de paisagens que enriqueceriam o programa da casa produtora inglesa. Short passa tambm por Portugal, registando vrias vistas que, embora destinadas a ser exibidas em Londres, chegariam a ser integradas no programa das sesses portuguesas de Rousby, em 1897.

O sucesso arrebatador, acabando por prolongar a sua estadia e aumentar as sesses. Mas foi quando Rousby seguiu a sua tourne para o Teatro-Circo Prncipe Real, no Porto, que a fotografia animada no s ganha um entusiasta, como cria um profissional, fundador do cinema portugus: Aurlio da Paz dos Reis. De Julho a Agosto Rousby exibe os seus filmes no Teatro do Prncipe Real (hoje Teatro S da Bandeira), no repetindo, porm, o sucesso de Lisboa.

O Cinema Mudo Portugus

Aurlio da Paz dos Reis

Aurlio da Paz dos Reis est presente no dia da estreia portuense e fica verdadeiramente impressionado com a novidade.

Aurlio Paz dos Reis (Col. Cinemateca Portuguesa)

Proprietrio de um prspero negcio de floricultura, a conhecida loja "A Flora Portuense", Paz dos Reis era tambm um excelente fotgrafo. Planeando dar incio a uma actividade produtora, parte ento para Paris, com vista aquisio de um aparelho dos irmos Lumire. Perante a recusa dos mesmos, Paz dos Reis adquire um outro aparelho de filmar, positivar e projectar.

Forma uma sociedade com seu cunhado, fotgrafo profissional, Francisco Fernandes Magalhes Bastos Jnior e Antnio da Silva Cunha, industrial proprietrio da Camisaria Confiana e figura de grande relevo social na altura. Filma ento, "Sada do Pessoal Operrio da Fbrica Confiana", "Feira de Gado na Corujeira", "Chegada de um Comboio Americano a Cadouos", "O Z Pereira na Romaria de Santo Tirso", "Azenhas no Rio Ave", "O Jogo do Pau", "Rio Douro", "No Jardim", "O Mercado do Porto", "O Vira" e "A Dana Serpentina".

Embora Portugal j tivesse assistido ao rodar da manivela por Harry Short, o cinema portugus nasce ento, em bero portuense, pela mo de Aurlio da Paz dos Reis .

Em 12 de Dezembro de 1896, Aurlio da Paz dos Reis apresenta no Teatro do Prncipe Real o fruto do seu "Kinetographo Portuguez", a primeira sesso portuguesa de cinema com filmes portugueses filmados por um portugus. O pblico acede e aplaude e o Kinetographo dirige-se para Braga para novas sesses, regressando de novo para o Porto e depois para o Rio de Janeiro.

Em terras brasileiras e devido sobretudo a falhas tcnicas, Aurlio da Paz dos Reis, no consegue fazer singrar o seu trabalho. Desiludido regressa a Portugal a 24 de Janeiro de 1897 e abandona a cinematografia.

"Feira do Gada da Corujeira", de Aurlio Paz dos Reis (Col. Cinemateca Portuguesa)

O Cinema Mudo Portugus

Os Pioneiros e as Produtoras

Quando Edwin Rousby chega a Lisboa para apresentar o seu programa no Real Colyseu da Rua da Palma em Lisboa, conhece Manuel Maria da Costa Veiga, fotgrafo versado em electricidade e mecnica, que o ajuda a preparar a sesso. Entusiasmado, Costa Veiga inicia a sua actividade como exibidor, adquirindo um projectoscpio de Edison nesse mesmo ano e exibindo filmes em salas Lisboetas.

(Fotograma) Documentrios de Manuel Maria da Costa Veiga (Col. Cinemateca Portuguesa)

Trs anos depois adquire uma mquina de filmar e regista o seu primeiro filme, "Aspectos da Praia de Cascais", com imagens do rei D. Carlos a banhos em Cascais. Costa Veiga passa a registar visitas oficiais e outros importantes acontecimentos polticos do pas. Funda a primeira produtora portuguesa, a Portugal Film, com sede em Algs, perto da sua residncia.

Em 1909 surgem, em Lisboa, a Portuglia Film, de Joo Freire Correia e Manuel Cardoso, com financiamento de D. Nuno de Almada e a Empresa Cinematogrfica Ideal de Jlio Costa.

Joo Freire Correia, fotgrafo, inicia a sua actividade ao comprar um projector para a inaugurao do Salo Ideal ao Loreto em 1904, a primeira sala de cinema portuguesa. Funda a produtora cinco anos depois, para a qual roda vrios filmes, como a "Batalha de Flores" que alcanou grande xito. Foi operador de "O Rapto de Uma Actriz", primeiro filme de entrecho portugus, realizado por Lino Ferreira em 1907.

Mas Freire Correia realizou dois documentrios de sucesso assinalvel em 1909: "A Cavalaria Portuguesa" e "O Terramoto de Benavente". O primeiro mostrava j uma certa tcnica de captao de imagem, exibindo as proezas da cavalaria portuguesa mas de maneira a causar sensaes de perigo, fictcio, ao pblico. O terramoto foi filmado em Abril, tendo sido exibido dois dias depois - uma rapidez notvel - e tendo sido exportadas 22 cpias para o estrangeiro.

"Os Crimes de Diogo Alves", de Joo Tavares(Col. Cinemateca Portuguesa)

Joo Freire Correia seria ainda responsvel pela produo das duas verses de "Os Crimes de Diogo Alves ", realizao que confiou primeiro a Lino Ferreira em 1909 mas que ficou inacabada, tendo sido Joo Tavares a realizar a segunda verso em 1911.

De salientar ainda a tentativa precoce do cinema sonoro com o incompleto " Grisette" (1908), utilizando o mtodo Gaumont mas com as adaptaes do Freire Correia, que tentou sincronizar imagem e som. A Portuglia produziu ainda o primeiro filme surgido de uma adaptao de uma obra literria. "Carlota ngela" baseou-se na obra homnima de Camilo Castelo Branco e teve realizao de Joo Tavares, em 1912.

"Grisette", de Manuel Cardoso (Col. CP)

Jlio Costa, de sociedade com Joo Almeida, adquire o Salo Ideal a Freire Correia e D. Nuno Almada em 1908 e funda a Empresa Cinematogrfica Ideal, produtora e distribuidora. Remodelado e convenientemente apetrechado, o Salo Ideal exibe um precursor do cinema falado, o "Animatgrafo Falado": um grupo de pessoas l os textos e produz sons em sincronia com a exibio do filme. Esse grupo era composto pelos bombeiros voluntrios da Ajuda, dos quais faziam parte Jlio Costa mas tambm Antnio Silva, o inesquecvel actor das comdias portuguesa do cinema falado.

Enquanto espera a construo do seu estdio na Rua Marqus Ponte de Lima, Jlio Costa inicia a sua actividade a filmar "vistas". Inicia a rodagem de filmes de fundo com "Chantecler Atraioado" e depois com " Rainha depois de Morta", de Carlos Santos, o primeiro filme portugus de cariz histrico. A empresa de Jlio Costa foi tambm pioneira por ter agrupado pela primeira vez produo, distribuio e exibio. A empresa viria a fechar portas depois de um estranho incndio.

"Rainha Depois de Morta", de Carlos Santos (Col. CP)

Surge em 1918, a Lusitnia Film , uma companhia de produo com um projecto ambicioso, liderada por Celestino Soares e Lus Reis Santos. Faz obras no antigo estdio da Portuglia Film, em So Bento e d incio sua actividade com a filmagem de documentrios.

Ainda em 1918, produzem-se duas curtas-metragens maniveladas no exterior por Costa Veiga e realizadas pelo jovem Leito de Barros: " Malmequer" e "Mal de Espanha". Iniciaram-se as filmagens de " O Homem dos Olhos Tortos", baseado no folhetim policial de Reinaldo Ferreira, com realizao de Leito de Barros. Mas, devido a dificuldades financeiras, ficaria inacabado. Um complot bem organizado viria a cessar a actividade da empresa que planeava filmar "A Severa", como produo seguinte.

Fechado o "ciclo de Lisboa", criada no Porto a primeira produtora que asseguraria durante alguns anos uma produo contnua de cinema em Portugal.

O Cinema Mudo Portugus

A Estrangeira Cinematografia Portuguesa

"Frei Bonifcio", de Georges Pallu (Col. Cinemateca Portuguesa)

Depois de ter fundado uma empresa de produo com o seu nome em 1910, o exibidor portuense Nunes de Mattos, acrescenta Invicta Film designao da firma, dois anos mais tarde.

Filmam vrias actualidades e documentrios, entre eles "O Naufrgio do Silurian", sendo cento e oito cpias exportadas para a Europa. Em Novembro de 1917, Nunes de Mattos decide fundar a segunda Invicta Film, Lda, aumentando os scios e o capital social. Henrique Alegria assume a Direco Artstica e compram a Quinta da Prelada, no Porto, onde seriam edificados os estdios e os laboratrios da produtora.

Em 1918 partem para Paris, de onde trazem uma equipa tcnica sada dos quadros da casa Path. A equipa encabeada por George Pallu, o realizador que seria o autor de praticamente todas as longas-metragens da produtora portuense. Da equipa faziam tambm parte Andr Lecointe, arquitecto-decorador; Albert Durot, operador de cmara e Georges e Valentine Coutable - o casal que ocuparia, respectivamente, o cargo de Chefe de Laboratrio e de Montagem. Durot seria mais tarde substitudo por Maurice Laumann, tambm vindo dos quadros da Path.

"Amor de Perdio", de Georges Pallu (Col. CP)

Durante seis anos, a Invicta Film produz vrios filmes e documentrios, enriquecendo o panorama filmogrfico portugus. Em 1924, porm, a empresa d sinais de graves dificuldades financeiras, acabando por dispensar todo o seu pessoal e assegurando apenas o funcionamento do laboratrio. A Invicta Film viria a encerrar definitivamente em 1928.

Rino Lupo outro marco da cinematografia. Entra em cena atravs de Georges Pallu que aceita a sua realizao de " Mulheres da Beira" (segundo um conto de Abel Botelho), com fotografia de Artur Costa de Macedo. Embora as desavenas a nvel financeiro e o incumprimento de prazos estipulados tenha ditado o seu afastamento da produtora, Rino Lupo realiza ainda " Os Lobos", outra prola do cinema mudo portugus. Filmar outros ttulos ainda, sem que nenhum atinja a qualidade dos primeiros.

"Os Lobos", de Rino Lupo (Col. Cinemateca Portuguesa)

Formam-se mais trs empresas nos anos vinte que vm preencher o vazio deixado pela existncia efmera das produtoras portuguesas: Caldevilla Film, Fortuna Film e Ptria Film. Tambm estas seguem o mote portugus, contratando tcnicos estrangeiros para fazer uso da sua experincia na produo portuguesa. Embora os realizadores trazidos de casas produtoras francesas fossem apresentados como profissionais de reconhecido mrito no seu pas, na verdade, aproveitavam esse mediatismo para progredirem numa carreira sem a publicitada projeco anterior.

Raul de Caldevilla funda em 1920 a sua Caldevilla Film, sediando a produo em Lisboa, na Quinta das Conchas, ao Lumiar. O francs Maurice Mariaud o realizador escolhido para as obras " Os Faroleiros" e "As Pupilas do Senhor Reitor", para as suas duas nicas produes. A produtora fecharia as portas por acentuado desentendimento dos scios em assuntos financeiros das produes.

"Os Faroleiros", de Maurice Mariaud (Col. Cinemateca Portuguesa)

Virgnia de Castro e Almeida, escritora de livros infantis, funda em Lisboa a produtora Fortuna Film. Contrata o advogado francs Roger Lion para realizador das produes baseadas nos seus romances. Com ele chegam a actriz Gil-Clary, sua mulher, Maxudian e os operadores Daniel Quintin e Marcel Bizot. Filmam " A Sereia de Pedra" e os " Olhos da Alma", este ltimo rodado na Nazar, naquele que foi o seu primeiro registo na tela.

Henrique Alegria sai da Invicta Film, em 1922, para fundar a Ptria Film com Raul Lopes Freire. Compram a Quinta das Conchas, onde Maurice Mariaud realiza "O Fado". Tambm esta produtora encerraria a sua actividade depois da rodagem de "Aventuras de Agapito e Fotografia Comprometedora", da autoria de Roger Lion.

"Os Olhos da Alma", de Roger Lion(Col. Cinemateca Portuguesa)

O Cinema Mudo Portugus

Os Filmes

"O Vira", de Aurlio Paz dos Reis (Col. Cinemateca Portuguesa)

At ao aparecimento do primeiro filme de entrecho, "O Rapto de Uma Actriz" de Lino Ferreira, em 1907, os filmes produzidos eram "vistas" ou "filmes panormicos", documentrios que captavam assuntos ou cenas da vida portugueses.

Harry Short, da londrina casa Paul filma as primeiras vistas portuguesas ("A Boca do Inferno", 1896; "O Mercado do Peixe na Ribeira Nova", 1896), mas Aurlio Paz dos Reis o pioneiro do filme portugus, com portugueses, filmado por um portugus. Entre filmes que seguiam as temticas das produes estrangeiras, como a "Chegada de Comboios", (Lumire), as "Danas Serpentinas" (que mostravam as danas da bailarina norte-americana Loies Fuller), incluam-se, na obra dos pioneiros maniveladores portugueses, tradies ("Jogo do Pau" e "O Vira" de Paz dos Reis; "Batalha das Flores", de Joo Freire Correia) paisagens urbanas e monumentos nacionais.

De referir em particular Manuel Maria da Costa Veiga, que assegurou grande parte dos registos dos acontecimentos sociais e polticos at 1911 (e depois em 1918, com "Manifestaes a Sidnio Pais". Contam-se, entre outras, as visitas do Rei Eduardo VII, Afonso XIII, os Duques de Connaught e ainda do Kaiser Guilherme II.

Documentrios de Manuel Maria da Costa Veiga (Col. CP)

Durante a segunda dcada de 1900, que compreende a instaurao da Repblica e o final da Primeira Grande Guerra Mundial, as produes continuam maioritariamente dominadas pelo documentrio. Eternizam-se, assim, diversos acontecimentos sociais e polticos que os operadores presenciam e registam com as suas cmaras, rivalizando com os operadores de jornais de actualidades estrangeiros, como a Path ou de produtoras como a Gaumont. Mas os temas alargam-se ao turismo, ao desporto, com concursos hpicos, corridas de carros e eventos desportivos como o futebol, e aos prodgios da natureza, como os naufrgios ou as inundaes.

De 1912 a 1917, o cinema portugus sofre uma crise e embora haja um grande incremento em termos de abertura de salas de cinema e surjam trs novas distribuidoras (Empresa Internacional de Cinematografia, J. Castello Lopes Lda e Sociedade Raul Lopes Freire), e a melhor produo caracterizada predominantemente pelo documentrio.

A 9 de Maro de 1916, a Alemanha declara guerra a Portugal, que envia os seus soldados para engrossar as frentes de combate. A participao portuguesa na guerra ento registada pela mo de Ernesto de Albuquerque e pelas produtoras Invicta Film e Servios Cinematogrficos do Exrcito.

A partir de 1915, surgem algumas obras cmicas que deixam testemunhos em obras burlescas " la" Chaplin do portugus Emdio Ribeiro Pratas e do ingls Cardo - gnero que ter curto sucesso. De referir, dentro do mesmo gnero, a cinematizao de "Quim e Manecas", a popular banda desenhada de Stuart Carvalhais (que representou o pai do Manecas no filme), manivelada por Ernesto de Albuquerque.

"Pratas, O Conquistador", de Emdio Ribeiro Pratas (Col. CP)

Em 1918, Leito de Barros filma "Mal de Espanha", uma curta-metragem com laivos de satirizao social, para a efmera produtora Lusitnia Film. Ainda em 1919, Nascimento Fernandes enceta uma trilogia cmica que o tem como protagonista principal.

Durante a dcada de vinte, surgem ainda "Aventuras de Agapito" (1924), de Roger Lion (com argumento de Maurice Mariaud) e "Charlotin e Clarinha" (1925), de Roberto Nobre, com fotografia de Albert Durot, duas outras incurses no gnero cmico e ambas inspiradas em modelos americanos.

Quando a produtora portuense Invicta Film d incio sua produo contnua de filmes portugueses, inicia-se a cruzada contra a crescente presena e influncia das produes estrangeiras. Recorre-se ao motivo portugus, exibio do patrimnio e do orgulho na literatura nacional conjugados com elencos portugueses. E lana o seu lema ao distribuir " A Rosa do Adro": "Romance Portugus-Filme Portugus-Cenas Portuguesas-Artistas Portugueses".

"Mal de Espanha", de Leito de Barros (Col. CP)

No princpio da dcada de 20, a Invicta Film, com realizao de George Pallu, adapta as obras " Os Fidalgos da Casa Mourisca", de Jlio Diniz, " Amor de Perdio" de Camilo Castelo Branco, seguindo-se, mais tarde a temtica, ousada para a poca, com " O Primo Baslio" de Ea de Queiroz. De destacar ainda a produo " Mulheres da Beira", uma realizao de Rino Lupo sob adaptao de um conto de Abel Botelho. Iluminam a tela as representaes de Robles Monteiro, Amlia Rey-Colao, Palmira Bastos, Antnio Pinheiro, Eurico Braga e Brunilde Jdice, entre tantos outros nomes.

A tendncia para a adaptao de obras portuguesas mantm-se at " Cludia", de Georges Pallu, em 1923, a primeira produo de uma estratgia agora virada para o estrangeiro, com vista exportao e ao lucro da distribuio alargada. Contratam-se estrelas estrangeiras que no fazem brilhar nem melhorar os lucros da empresa. Seguindo a mesma linha de difuso e promoo da cultura e patrimnio portugus em territrio nacional e estrangeiro, o francs Roger Lion filma " A Sereia de Pedra" e os " Os Olhos da Alma" (que inscreve, pela primeira vez, a Nazar, como cenrio cinematogrfico portugus), adaptando dois romances de Virgnia de Castro e Almeida, para a Fortuna Films , a produtora portuguesa da escritora.

"Os Fidalgos de Casa Mourisca", de Georges Pallu (Col. CP)

Outra iniciativa de igual intuito e seriedade, foi a Caldevilla Films de Raul de Caldevilla, o pioneiro publicitrio, que encarregou outro francs, Maurice Mariaud, de filmar " Os Faroleiros" e "As Pupilas do Senhor Reitor". Salvo algumas incurses da Invicta Film, todas as produes destas trs produtoras regeram-se pela vontade de mostrar o que portugus, feito por portugueses, com assuntos portugueses, embora sob batuta francesa.

J para a Ptria Film , Mariaud filmaria ainda "O Fado", que embora de argumento seu, se inspirava na pea de Bento Mntua, no quadro homnimo de Jos Malhoa e no poema de Augusto Gil, "A Cano das Perdidas". Acima de tudo, tratava, pela primeira vez, a cano nacional.

"As Pupilas do Senhor Reitor", de Maurice Mariaud (Col. CP)

Rino Lupo marcaria a dcada com " Os Lobos" (1923), com fotografia de Artur Costa de Macedo e rodado na Serra da Estrela.

Reinaldo Ferreira, jornalista de pseudnimo Reprter X, realiza para a sua produtora homnima, " O Txi n 9297" (1927), o primeiro filme policial portugus, inspirado no assassinato da actriz Maria Alves. Pioneiro nas temticas cinematogrficas, filmaria ainda " Rita ou Rito?", que aborda a mudana de identidade sexual, " Vigrio Sport Club", o primeiro filme sobre futebol e " Hipnotismo ao Domiclio", de assunto sobrenatural, mas inspirado em moldes cmicos americanos.

"Rita ou Rito?", de Reinaldo Ferreira (Col. CP)

O Cinema Mudo Portugus

A Nova Gerao

"Maria do Mar" de Leito de Barros (Col. Cinemateca Portuguesa)

No final da dcada de vinte, os "jovens turcos" iniciam a regncia da toada cinematogrfica, assistindo-se ao regresso de Leito de Barros e ao aparecimento dos jovens Antnio Lopes Ribeiro (que pouco tempo depois, lanaria Manoel de Oliveira), Jorge Brum do Canto , Chianca de Garcia e Arthur Duarte.

Querem demarcar-se das produes anteriores, inspirando-se em moldes estticos do cinema francs, alemo e russo. Tambm os elencos acompanham essa ruptura, trazendo ao cran actores e actrizes do teatro do teatro de revista, por oposio aos elencos que vinham do chamado teatro "declamado". Desaparecem Eduardo Brazo, Brunilde Jdice, Antnio Pinheiro ou Pato Moniz, e formam nova escola as presenas de Vasco Santana, Antnio Silva , Maria Matos, Ribeirinho ou Maria Olguim.

"A Dana dos Paroxismos", de Jorge Brum do Canto (Col. Cinemateca Portuguesa)

Tambm as ligaes do Estado com o cinema mudaria, a partir do final da dcada de vinte. O poder institudo veria agora nestes jovens que dominavam a imprensa cinematogrfica e influenciavam as massas com o seu modo de ver e de mostrar, um meio privilegiado de propaganda do novo regime.

Antnio Lopes Ribeiro arranca com a sua carreira beneficiando da Lei dos 100 metros. Filma "Uma Batida em Malpique" e " Bailando ao Sol" (1928), este ltimo com fotografia de Anbal Contreiras. Partir mais tarde com Leito de Barros em visita pelos estdios europeus, acabando por passar por Moscovo, onde conhece Dziga Vertov e Eiseinstein.

"Bailando ao Sol", de Antnio Lopes Ribeiro (Col. Cinemateca Portuguesa)

Leito de Barros, que visualiza em casa de Lopes Ribeiro o filme em 9,5 mm que este fizera com o seu cunhado na Nazar, entusiasma-se e regressa s filmagens com "Nazar, Praia de Pescadores". De novo na Nazar, Leito de Barros filma " Maria do Mar", um marco para a esbatida esttica cinematogrfica portuguesa, que Joo Bnard da Costa classifica como "um soberbo fresco, onde o cinema portugus grava pela primeira vez uma tipologia humana dramtica e por vezes trgica, com uma fora telrica esmagadora". Realiza ainda "Lisboa, Crnica Anedtica" (1929), onde numa recolha de vrias cenas citadinas, exibe Chaby Pinheiro, os repetentes Adelina Abranches e Alves da Cunha, Nascimento Fernandes, e os inesquecveis Vasco Santana e Beatriz Costa .

Inspirado em Marcel l'Herbier, Jorge Brum do Canto estreia-se com " A Dana dos Paroxismos" (1928), com argumento seu e onde representa o papel principal. Estreia em sesso particular em 1930, e apenas volta a ser visto em 1984.

"Ver e Amar!", de Chianca de Garcia (Col. Cinematecca Portuguesa)

Manuel de Oliveira filma " Douro, Faina Fluvial", que Antnio Lopes Ribeiro convence a levar para o V Congresso Internacional da Crtica, onde recebe elogios de Pirandello.

Mas , de novo, Leito de Barros que marcar a histria do cinema, com " A Severa", baseado na obra de Jlio Dantas, coma realizao primeiro filme portugus sonoro. Iniciava-se, assim, uma nova etapa na vida cinematogrfica nacional.

"Douro, Faina Fluvial", de Manoel de Oliveira (Col. Cinemateca Portuguesa)

Bibliografia e Fontes

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Faria de Almeida, M., Resumo da Histria do Cinema, RTP Centro de Formao, Lisboa, 1982

Ferreira, Antnio J., O Cinema Chegou a Portugal, - Palestra Baseada no Livro A Fotografia Animada em Portugal 1894-1895-1896-1897 - 1896.

Ferreira, Antnio J., A Fotografia Animada em Portugal, 1894-1896-1897, ed. Cinemateca Portuguesa, Lisboa, 1986.

Nobre, Roberto, Singularidades do Cinema Portugus, Portuglia Editora, Lisboa.

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Pina, Lus de, Aventura do Cinema Portugus, ed. Vega, Lisboa, 1977

Pina, Lus de, Documentarismo Portugus, Instituto Portugus de Cinema, 1977.

Pina, Lus de, Panorama do Cinema Portugus, Terra Livre, Lisboa, 1978.

Ribeiro, Flix, Panorama do Cinema Portugus, Lisboa.

Bandeira, Jos Gomes, Porto: 100 anos de cinema portugus, Cmara Municipal do Porto, Porto, 1996.

Antunes, Joo e Matos-Cruz, Jos de, Cinema Portugus 1896-1998, Lusomundo, Lisboa, 1997.

Duarte, Fernando, Primitivos do Cinema Portugus, ed. Cinecultura, Lisboa, 1960.

PIONEIROS PORTUGUESES

-------- AURLIO DA PAZ DOS REIS -------

Depois da fantstica inveno dos irmos Lumire, a notcia depressa se espalhou. O interesse por esta nova mquina despertou em muitos homens de negcios e especialmente de fotgrafos uma inusitada vontade de possuir as mquinas e ter o domnio das suas tcnicas. O fascnio pelas imagens em movimento so desde a sua origem uma fonte de grande admirao e paixo. O Cinmatographe dos franceses Lumire a ambio de muitos homens da poca. Entre eles est, Aurlio da Paz dos Reis que ficou tambm ele sucumbido pela magia do cinema.

Meses depois, da apresentao inaugural em Paris dos irmos Lumire, Portugal teve tambm a oportunidade de assistir a esta nova magia. Por iniciativa do empresrio Antnio Santos Jnior e do tcnico ingls Erwin Rousby que representava a empresa do fabricante ingls de aparelhagem especializada de William Paul, traz a Lisboa e ao Porto o Animatgrafo. Decorria ento o ms de Junho de 1896. Depois de enorme sucesso na Capital a apresentao rumou para o Porto, onde apesar do fraco sucesso da iniciativa na cidade, houve um espectador muito especial que logo se interessou por ter tambm uma mquina daquelas. Era Aurlio da Paz dos Reis.

Aurlio da Paz dos Reis era comerciante. Possua uma loja de flores e sementes no Porto. Para alm da sua dedicao floricultura, tambm se dividia por uma actividade de fotgrafo amador. este gosto pela fotografia que o leva a Paris, com a inteno de adquirir uma mquina como a dos irmos Lumire. De regresso Aurlio da Paz dos Reis, no trouxe o Cinmatographe igual ao dos irmos Lumire, mas sim um outro modelo, que se julga que tivesse sido o Kintographe. Uma aparelho que podia ser utilizado como cmara de filmar e projector.

Em Setembro de 1896 so registadas as primeiras imagens em movimento no nosso pas. Imagens que foram recolhidas por Aurlio da Paz dos Reis com o seu Kintographe. A filmagem consistiu da Sada do Pessoal Operrio da Fbrica Confiana do Porto.

Muitos outros documentos, ou quadros, como eram chamados na poca, foram filmados por Aurlio da Paz dos Reis e seu scio e cunhado Francisco Magalhes Bastos Jnior.

Em 1897 Aurlio da Paz dos Reis desloca-se ao Brasil com uma srie de quadros filmados de vrios pontos de Portugal. O objectivo seria conseguir fazer um bom negcio. Contando, em recuperar o investimento feito. Porm Aurlio da Paz dos Reis regressa frustrado a Portugal, pouco tempo depois de ter partido. As razes desse fracasso so ainda hoje pouco esclarecidas. O que se sabe ao certo, que o pioneiro portugus no mais filmou depois dessa viagem.

Muitos dos documentos por ele filmados ficaram irremediavelmente perdidos. Os seus filhos quando ainda crianas, brincavam recortando os fotogramas com uma tesoura. Assim se perdeu um esplio histrico de incalculvel valor.

Para alm das primeiras imagens portuguesas que recolheu, Aurlio da Paz dos Reis foi uma importante figura poltica do seu tempo. Aurlio da Paz dos Reis era um liberal e democrata que defendia a implantao de uma repblica para Portugal. Foi vereador na Cmara Municipal do Porto durante os anos da Primeira Guerra Mundial ( 1914-1918 ).

Sada do Pessoal Operrio da Fbrica Confiana do Porto.

Aurlio da Paz dos Reis nasceu em 28 de Julho de 1862 e viria a morrer em 18 de Setembro de 1931.

Para a histria , Aurlio da Paz dos Reis, comerciante, poltico, floricultor e fotgrafo amador, foi no s o criador do cinema portugus mas tambm o primeiro operador de cmara e director de fotografia.

Filmografia:

Sada do Pessoal Operrio da Fbrica Confiana

Feira de Gado na Corujeira

Chegada de um Comboio Americano a Cadouos

O Z Pereira na Romaria de Santo Tirso

Azenhas no Rio Ave

O Jogo do Pau

Rio Douro

Mercado do Porto

Cortejo Eclesistico saindo da S do Porto no Aniversrio de Sagrao do Eminentssimo Cardeal D. Amrico

O Vira

A Rua do Ouro

Marinha no Tejo

Sada de Dois Vapores

Torre de Belm

Avenida da Liberdade

A Dana Serpentina

FONTES:

Filmes, Figuras e Factos da Histria do Cinema Portugus de M. Flix Ribeiro Edc. Cinemateca

------- MANUEL MARIA DA COSTA VEIGA ------

Manuel Maria da Costa Veiga foi um dos pioneiros do cinema portugus. ele que depois de Aurlio Paz dos Reis se torna o segundo caador de imagens.

Ao contrrio de muitos outros operadores de cmara, Costa Veiga, no originalmente fotgrafo. O seu interesse no final do sculo XIX tinha muito a ver com as novas tecnologias emergentes na poca. Como a mecnica e a electricidade. este interesse pelas novas tecnologias que leva Costa Veiga a cruzar-se e a interessar-se pelo cinema. Em primeiro lugar pela exibio. Inicia alguns negcios sem sucesso. em 1899 que Costa Veiga adquire num leilo de um coleccionador uma cmara de filmar. a partir desse ano que se comea a notabilizar como operador de cmara.

Ao seu primeiro trabalho intitulo-o Aspectos da Praia de Cascais. No pequeno filme via-se o ltimo rei de Portugal , D. Carlos, no banho na praia de Cascais. Muitas outras reportagens do gnero se seguiram ao longo da sua carreira.

Manuel Costa Veiga com sentido de oportunidade captou com a sua cmara momentos significativos no seu tempo. Visitas de pessoas importantes da poca, como Eduardo VII, de Afonso XIII , o Kaiser da Alemanha e outros.

Depois da implantao da Repblica em 1910, Manuel da Costa Veiga fixou com a sua cmara as festas um ano depois da revoluo e as manifestaes a Sidnio Pais em Lisboa. Muitos outros documentos teriam eventualmente sido filmados por este pioneiro. Porm, infelizmente no houve cuidados em preservar estes documentos.

No campo da fico, Manuel da Costa Veiga foi o director de fotografia do realizador Leito de Barros. O primeiro filme produzido pela Lusitnia Film O Homem dos Olhos Tortos no chegou a ser concludo por razes financeiras. A princpio seria uma srie de nove episdios que contava as aventuras de um detective portugus. Seguiram-se depois Mal de Espanha e Malmequer que Manuel Maria da Costa Veiga viria a dividir a fotografia com Artur Costa de Macedo.

Malmequer

O homem dos olhos tortos

Funeral do rei D. Carlos e do prncipe herdeiro vtimas de assassinato em 1908

Filmografia.

Aspectos da Praia de Cascais

Uma Parada dos Alunos da Casa Pia de Lisboa

Exerccios de Artilharia no Hipdromo de Belm

Uma Tourada Antiga Portuguesa

Parada de Bombeiros

Uma Viagem de Cascais Parede

A Operao dum Leo

No campo da fico.

Filmes em que participou como director de fotografia. Todos realizados por Leito de Barros em 1918

O Homem dos Olhos Tortos

Mal de Espanha

Malmequer

O Vira

6 Semestre - 2012 - 2013