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RILDÉCIO MEDEIROS FILHO
USO DO MICROCRUSTÁCEO DO GÊNERO Tisbe (COPEPODA:
HARPACTICOIDA) EM BIOENSAIOS ECOTOXICOLÓGICOS: REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
NATAL
2016
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RILDÉCIO MEDEIROS FILHO
USO DO MICROCRUSTÁCEO DO GÊNERO Tisbe (COPEPODA:
HARPACTICOIDA) EM BIOENSAIOS ECOTOXICOLÓGICOS: REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
Trabalho apresentado para obtenção de
título de Bacharel em Ciências Biológicas,
na Universidade Federal do Rio Grande do
Norte.
Orientadora: Msc. Rosângela Gondim
D’Oliveira
NATAL
2016
3
AGRADECIMENTOS
A
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
pelo apoio durante todo o tempo que estive no
curso.
Prof.ª Rosângela Gondim D’Oliveira que
aceitou me orientar, estando presente sempre
que precisei de auxilio.
Prof. Guilherme Fulgêncio de Medeiros, pois
decidi trabalhar na área após estagiar em seu
laboratório.
Prof.ª Adriana Uchôa e Louisianny Guerra por
aceitarem com boa vontade em participar da
banca examinadora deste trabalho.
Minha tia Rildeci Medeiros, também professora
da UFRN, que me auxiliou na parte de
formatação.
Meus pais Paula Pires e Rildécio Medeiros,
namorada Julayane, e amigos Pedro Victor,
Brunno Inácio, Eline Costa, entre outros que
embora não estejam relacionados diretamente
com este trabalho, estavam indiretamente com
incentivos e desabafos.
4
TABELAS
Tabela 1. Citações encontradas nas buscas de bibliografia, com as espécies de Tisbe e as
substâncias analisadas.
5
SIGLAS
AgNO3: Nitrato de prata;
Ag-NPPVP: Nanopartículas de prata com polivinilpirrolidona;
CdCl2: Cloreto de cádmio;
CuCl2: Cloreto de cobre;
CuSO4: Sulfato de cobre;
K2Cr2O7: Dicromato de potássio;
LAS: Sulfonato de alquilbenzeno linear;
TBT: Tributilestanho.
6
RESUMO
Muitos organismos são usados em bioensaios, incluindo o microcrustáceo Tisbe. Tendo
em vista a importância ecológica do gênero Tisbe (Copepoda: Harpacticoida) e seu uso
nos bioensaios, o presente estudo objetivou compilar informações sobre a sensibilidade
de tal organismo a diversas substâncias, para observar se existe um padrão de tal
característica para o mesmo. O trabalho foi conduzido por meio de revisão bibliográfica
com publicações da ultima década obtidos de bases de dados internacionais utilizando
as palavras chaves “Tisbe” e “efeito”. Foram encontrados 8 artigos envolvendo as
espécies Tisbe biminiensis, T. battagliari e T. holoturiae, e uma espécie não foi
idenficada, sendo referenciada como Tisbe sp.. Todas as substâncias relatadas, com
exceto do flubenzadol e TBT, apresentaram alta toxicidade aos copépodes em suas
concentrações mais elevadas, provocando efeitos negativos para sobrevivência,
reprodução e desenvolvimento. Sulfato de cobre, dicromato de potássio e dióxido de
carbono causaram efeitos negativos na reprodução e no desenvolvimento em
concentrações mais altas, porém foram benéficos para produção naupliar e de
copepoditos em baixas concentrações. Segundo os dados publicados, nitrato de prata,
prata com polivinilpirrolidona, cloreto de cobre, cloreto de cádmio e dióxido de carbono
com cobre apresentaram aumento nos efeitos negativos à sobrevivência e reprodução
com o aumento das concentrações. Pode-se concluir que, segundo a literatura,
substâncias potencialmente tóxicas causam efeitos negativos sobre os copépodos do
gênero Tisbe; metais, apesar de tóxicos em altas concentrações, podem ser benéficos em
baixas concentrações, num efeito denominado “hormese”; a combinação de substâncias
tóxicas potencializa os efeitos negativos sobre Tisbe.
Palavras-chaves: Ecotoxicologia, toxicidade, bioindicador, acidificação.
7
ABSTRACT
Many organisms are used in bioassays, including microcrustacean Tisbe. Given the
ecological importance of genus Tisbe (Copepoda: Harpacticoida) and their use in
bioassays, this study aimed to compile information about the sensitivity of this organism
to different substances to see if there is a pattern of such a feature for it. This study was
conducted through literature review publications of the last decade from international
databases using the key words "Tisbe" and "effect." Was found 8 articles involving the
species T. biminiensis, T. battagliai and T. holoturiae, and a species was not identified,
being referred to as Tisbe sp. All related substances, except the flubenzadol and TBT
showed high toxicity to copepods in their higher concentrations, causing negative
effects on survival, reproduction and development. Copper sulfate, potassium
dichromate and carbon dioxide caused adverse effects on reproduction and development
in higher concentrations, but was beneficial for production and naupliar copepodites at
low concentrations. According to published data, silver nitrate, silver with
polyvinylpyrrolidone, copper chloride, cadmium chloride and carbon dioxide with
copper showed an increase in negative effects on the survival and reproduction with
increasing concentrations. It can be concluded that, according to the literature,
potentially toxic substances cause adverse effects on copepods of the genus Thisbe;
metals despite toxic at high concentrations may be beneficial in low concentrations, an
effect called "Hormesis"; the combination of toxic substances enhances the negative
effects on Thisbe.
Keywords: Ecotoxicology, toxicity, bioindicator, acidification.
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………….....9
2. OBJETIVOS………………………………………………………………………12
2.1. OBJETIVO GERAL...........................................................................................12
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS.............................................................................12
3. METODOLOGIA………………………………………………………………....13
4. RESULTADOS…………………………………………………………………...14
5. DISCUSSÃO……………………………………………………………………...17
6. CONCLUSÃO………………………………………………………………….....20
7. REFERÂNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……………………………………………21
9
1. INTRODUÇÃO
O crescimento acelerado da população humana trouxe consigo a ocupação das
zonas costeiras por moradias e indústrias. No Brasil, por exemplo, mais de 50% da
população reside na zona costeira, juntamente com a presença de indústrias, as quais
lançam materiais contaminantes direta ou indiretamente. Atividades humanas
decorrentes dessa ocupação, tais como dragagens, navegação, estradas, efluentes de
empresas, esgotos domésticos e águas de lavagem, são responsáveis pela contaminação
dos estuários e zonas costeiras, impondo uma elevada pressão ecológica no ambiente
marinho (FERNANDES, 1999; MARTINS, 2005).
Impactos gerados por acidentes com substâncias químicas possibilitou a
percepção de que o ambiente marinho não é um sítio de diluição infinita de
contaminantes (ZAGATTO; BERTOLETTI, 2008). É nesse contexto de contaminação
do ambiente aquático que surge a ecotoxicologia aquática, definida como a ciência que
estuda os diversos tipos de contaminação e seus contaminantes naturais ou sintéticos,
bem como seus mecanismos de ação em um conjunto de seres vivos (RAMADE 1977).
A ecotoxicologia aquática contempla conceitos da Ecologia, disciplina responsável pelo
entendimento das relações entre os seres vivos e o ambiente, e Toxicologia, a qual
estuda os diversos efeitos e o mecanismo de ação tóxica de uma substância em um
determinado organismo (ZAGATTO; BERTOLETTI, 2008). Assim, a ecotoxicologia
aquática pode prever possíveis impactos de uma contaminação a um determinado
ecossistema.
Para avaliação de contaminação ambiental, bioensaios de toxicidade aguda e
crônica são realizados. Os testes de toxicidade aguda são vantajosos em relação aos
crônicos por serem testes rápidos, que basicamente observam a mortalidade dos
organismos em um curto intervalo de tempo. Nestes testes geralmente, calcula-se a CL-
50, que é a concentração letal de uma determinada substância que mata 50% da
população (ZAGATTO; BERTOLETTI, 2008). Porém, a ideia de que a ação do
contaminante não é clara utilizando pontos críticos letais é amplamente aceita e,
portanto, é necessário o uso de testes crônicos para se observar os efeitos a longo prazo
em espécies ecologicamente importantes (HUTCHINSON et al., 1994). Analisar o ciclo
de vida, reprodução, crescimento, muda e desenvolvimento embrionário auxilia a
10
destrinchar o modo de ação dos poluentes em organismos e populações (BROWN et al.,
2003; SCARLETT et al., 2007; GREENSTEIN et al., 2008).
Os sedimentos são capazes de acumular de forma eficaz os poluentes químicos
hidrofóbicos, tais como metais pesados e os poluentes orgânicos, onde permanece por
um longo período de tempo devido a grande afinidade química dos mesmos pelo
carbono orgânico, em que tais contaminantes tornam-se um fator estressante para a
comunidade bentônica (ABESSA et al., 2006; MCCREADY et al., 2006;
ZABETOGLOU et al, 2002). Copépodes possuem grande importância ecológica no
fluxo de energia em cadeias alimentares no ambiente aquático, sendo os produtores
secundários dominantes do zooplâncton e sendo o elo entre os produtores primários e os
consumidores primários no ambiente aquático (HART, 1990; COULL, 1990). O
desenvolvimento dos copépodes consiste de seis estágios de náuplio (estágios larvais),
cinco estágios de copepodito (estágios juvenis) e o estágio adulto, os quais se
diferenciam com a segmentação, que ocorre com a sucessão de mudas (RUPPERT et
al., 2005), além de possuir dimorfismo sexual, em que as fêmeas se diferenciam pela
presença dos sacos de ovos (figura 1).
Figura 1: Ciclo de vida dos copépodes – I, II, III, VI, V: estágios naupliares; (B) I, II, III, VI, V:
estágios de copepoditos; e estágio adulto (macho e fêmea).
Fonte: http://biologiaprojeto.blogspot.com.br/
11
O gênero Tisbe (Subclasse Copepoda: Ordem Harpacticoida) possui ampla
distribuição geográfica, são altamente abundantes nos sedimentos, possui ciclo de vida
curto, tamanho reduzido, facilidade de cultivo e manipulação, além de serem
epibentônicos e bastante sensíveis a mudanças ambientais. Tais fatores, somados a sua
importância ecológica, tornam estes harpacticóides adequados para testes de
ecotoxicidade (POUNDS et al., 2002).
Tendo em vista a importância do microcrustáceo Tisbe para avaliação de
toxicidade ambiental da necessidade de melhorar cada vez mais a utilização de tal
gênero nos bioensaios, é importante que se tenha informações a respeito da
sensibilidade de tal organismo aos diversos poluentes, visando contribuir com
diagnósticos de qualidade ambiental utilizando Tisbe como bioindicador.
12
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral:
Compilar informações encontradas na literatura sobre a sensibilidade do gênero
Tisbe, com a finalidade de identificar as substâncias que causam efeitos letais ou
subletais a tais organismos, bem como verificar se os efeitos obedecem a um
determinado padrão.
2.2. Objetivos específicos:
Elencar as substâncias e os efeitos causados pelas mesmas;
Relacionar os efeitos causados com cada concentração testada.
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3. METODOLOGIA
O trabalho foi conduzido por meio de revisão bibliográfica, tendo como base a
metodologia adotada por Meiado (2014), com algumas adaptações.
Para encontrar substâncias que causem efeito sobre espécies do gênero Tisbe,
assim como encontrar padrões para os efeitos causados, foi consultada a literatura
publicada nos últimos dez anos que trabalhasse com testes de substâncias que poderia
causar algum efeito letal ou reprodutivo ao gênero em questão. (pesquisa usando tisbe e
efeito) (publicações)
A revisão compreendeu artigos publicados em periódicos, cuja busca pelos
mesmos foi realizada em banco de dados nacionais e internacionais, como “Web of
Knowledge”, “SciELO” e “Periódicos Capes”. As buscas foram realizadas utilizando as
palavras chaves “Tisbe” e “efeito” (no inglês: Tisbe = Tisbe; e efeito = effect”).
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4. RESULTADOS
As buscas nas três bases de dados totalizaram 8 artigos. Foram trabalhados
nesses artigos quatro espécies do gênero Tisbe, são elas: Tisbe battagliai (quatro
publicações), Tisbe biminiensis (duas publicações) e Tisbe holoturiae (uma publicação).
Um artigo não teve a espécie trabalhada identificada, sendo a mesma referenciada como
Tisbe sp.. Os estudos encontrados trabalharam com efeitos causados pelas seguintes
substâncias: dicromato de potássio (K2Cr2O7) e tributilestanho (TBT) para
T.biminiensis; nitrato de prata (AgNO3), nanopartículas de prata revestidas com
polivinilpirrolidona (Ag-NPPVP), sulfonato de alquilbenzeno linear (LAS), cádmio (na
forma de cloreto de cádmio), cobre (nas formas de sulfato de cobre e cloreto de cobre) e
dióxido de carbono combinado com cobre para T battagliai; dióxido de carbono para
Tisbe sp.; e o antiparasitário flubendazol para T. holoturiae (tabela 1).
Tabela 1. Citações encontradas nas buscas de bibliografia, com a espécie de Tisbe e a
substância analisada.
CITAÇÃO ESPÉCIE SUBSTÂNCIA CONCENTRAÇÃO EFEITO
Araújo-Castro et al. (2009) T. biminiensis Dicromato de potássio Todas > Mortalidade
Costa et al. (2014) T. biminiensis Tributilestanho Todas > Mortalidade
50 a 200 µg/L > fêmeas ovadas
Sulfato de cobre < produção naupliar
500 µg/L < produção naupliar
Diz et al. (2009) T. battagliai LAS 2000 µg/L < fêmeas ovadas
7,67 > produção naupliar
pH ácido 7,82 a 8,10 < produção naupliar
< produção naupliar
Fitzer et al. (2013) T. battagliai pH ácido + cobre Todas > crescimento corporal
Cloreto de cobre Todas > mortalidade
Macken et al. (2009) T. battagliai Cloreto de cádmio Todas > mortalidade
Nitrato de prata Todas > mortalidade
Macken et al. (2012) T. battagliai Prata com polivinilpirrolidona Todas > mortalidade
0,998 e 3,03 > nauplios e adultos
Moon et al. (2013) Tisbe sp. Dióxido de carbono 10,3 < população
Steelfeldt e Nielsen (2010) T. holoturiae Flubendazol 1 mg/L > população
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Experimentos encontrados na literatura com dióxido de carbono (nas
concentrações 0,998, 3,03, 10,3 e 30,1 mmol/ar) mostraram que o aumento na
concentração de tal composto acima de 10,3 mmol/ar (equivalente a pH 6,97) causou
declínio na população de Tisbe sp. para todos os estágios do ciclo de vida,
principalmente os copepoditos, porém para as concentrações abaixo da citada acima
houve um aumento populacional naupliar e de indivíduos adultos, embora não seja
significativo (MOON et al., 2013). Outro estudo, utilizando T. battagliai como modelo,
mostrou que ocorre um declínio gradativo na produção naupliar com a diminuição de
pH (testes realizados com pH 8,10, 7,95, 7,82 e 7,67), com um leve aumento nas
primeiras gerações a pH 7,67, e com adição de cobre houve declínio significativo na
produção naupliar em todas as faixas de pH em relação às amostras as quais não foi
acrescentado o cobre. O mesmo trabalho revelou que o tamanho corporal do organismo
em questão aumenta com o pH com adição de cobre, tendo o cobre gerado um impacto
positivo sobre T. battagliai (FITZER et al., 2013).
De acordo com a literatura, T. battagliai mostrou-se sensível a AgNO3 e Ag-
NPPVP (foram testadas as concentrações 1, 3,2, 5,6, 10, 32, 56 e 100 µ/L após 24 e 48
horas) sendo este tóxico em menores concentrações (10 µg/L), enquanto que o AgNO3
apresentou toxicidade apenas nas concentrações mais altas (32 µg/L) . Em ambos os
compostos houve aumento da mortalidade com o aumento da concentração, não
mostrando redução da mortalidade ou benefício (MACKEN et al., 2012).
O trabalho de Diz et al. (2009), avaliando o efeito do cobre na forma de CuSO4
(sulfato de cobre) e do LAS (sulfonato de alquilbenzeno linear) sobre T. battagliai,
revelou que para concentrações de CuSO4 de 50 a 200 µg/L houve um aumento na
porcentagem de fêmeas ovadas, e após 200 µg/L houve declínio nessa porcentagem,
enquanto que a produção naupliar e a fecundidade reduziram cada vez mais com o
aumento da concentração, mostrando um efeito significativamente negativo para ambos
os parâmetros. Para o LAS, o trabalho mostrou redução na porcentagem de fêmeas
ovadas a partir de 2000 µg/L, e redução da produção naupliar e da fecundidade em
concentração ainda menor (500 µ/L). Macken et al. (2009) testou a sensibilidade de T.
battagliai ao cloreto de cobre (CuCl2) e cloreto de cadmio (CdCl2) para as
concentrações 0,05, 0,1, 0,2, 0,4, 0,8 e 1 mg/L, utilizando a mortalidade como
parâmetro, e os resultados mostraram uma crescente mortalidade com o aumento da
concentração para ambos os reagentes.
16
Araújo-Castro et al. (2009) encontrou, para T.biminiensis uma Cl50-48,72,96h
(concentração letal média que causa mortalidade de metade da população em 48, 72 e
96 horas) para o dicromato de potássio igual a 22,22, 13,84 e 9,45 mg/L,
respectivamente. Costa et al. (2014) encontraram uma razão média para CL50-24h/48h
igual a 1,0 de tributilestanho (TBT) para T. biminiensis.
Estudos utilizando o flubenzadol nas concentrações de 0,1 (controle), 0,5, 1 e 5
mg/L em culturas de T.holoturiae como agente contra os rotíferos Brachionus plicatilis,
e nos experimentos não houve diferença significativa na população dos copépodes até o
décimo dia de tratamento, e após esse período a população dos mesmos aumentou
significativamente em relação ao controle, enquanto a população de rotíferos diminuiu
do terceiro dia em diante a partir da concentração 1 mg/L (STEENFELDT; NIELSEN,
2010) .
17
5. DISCUSSÃO
Todas as substâncias testadas, com exceção do flubenzadol e TBT, apresentaram
alta toxicidade aos copépodes em suas concentrações mais elevadas, provocando efeitos
deletérios, desde a mortalidade à redução da fecundidade. O flubendazol testado na
cultura de T. holoturiae como agente contra rotíferos gerou aumento na população do
copépode. Isso pode ser explicado pelo declínio que ocorreu na população de rotíferos,
uma vez que os mesmos competem por recursos com copépodes (MILES et al., 2001), e
sem rotíferos para competir, os recursos ficaram disponíveis para promover o
desenvolvimento dos Tisbe. Em uma situação hipotética de um ambiente aquático
natural, essa eliminação dos rotíferos do ambiente pode acabar gerando uma
superpopulação dos copépodes, o que poderia causar desequilíbrio no ecossistema em
questão. Resumindo, os copépodes se reproduziram pelo efeito causado no seu
competidor, e portanto, o flubendazol não causou efeito nos copépodes.
No caso do TBT, os autores do trabalho não mostram o que ocorreu em cada
concentração testada para os T. biminiensis, porém comparando a razão entre a
concentração letal média após 24 horas e após 48 horas igual a 1,0 com razão de outras
substâncias, como a amônia que equivale a 2,3 e o cromo igual a 1,6 (ARAUJO-
CASTRO et al., 2009), mostra que a toxicidade do TBT é baixa para o copépode T.
biminiensis.
Assim como no TBT, os autores não analisaram o que ocorreu com T.
biminiensis em cada concentração de K2Cr2O7. Tal copépode apresentou CL50-48h
(13,84 mg/L) maior comparado com as médias vistas na literatura para Tiburonella
viscana (11,21 mg/L) e Tisbe longicornis (10,0mg/L), e portanto mostrou-se mais
resistente ao dicromato de potássio em relação a essas duas espécies (LARRAIN, 1998;
ABESSA; SOUZA, 2003). Comparando o mesmo com Tisbe holoturiae (21,61 mg/L) e
Palaemon elegans (43,96 mg/L), T. biminiensis mostrou-se mais sensível (COULL;
CHANDLER, 1992; LORENZON et al., 2001). Tais dados mostram que as espécies,
incluindo o gênero Tisbe, variam quantos as taxas de mortalidade quando expostos ao
dicromato de potássio. Alguns trabalhos recentemente publicados na XIII Jornada de
Ensino, Pesquisa e Extensão em Dezembro de 2013 (Recife/Brasil) e no IX Simpósio
Internacional de Qualidade Ambiental em Maio de 2014 (Porto Alegre/Brasil) mostram
que o K2Cr2O7, mesmo em quantidades não letais, podem apresentar efeitos na
18
reprodução de T. biminiensis, como redução nas taxas de fecundidade e produção
naupliar, porém em quantidades mínimas podem causar efeitos positivos na população
desses copépodes (BEZERRA et al., 2013; MONTENEGRO et al., 2014).
Os dados encontrados na literatura informam que o cobre, na forma de sulfato de
cobre, aumentou a porcentagem de fêmeas ovadas (DIZ et al., 2009). Embora sejam
letais para copépodes, o cromo e o cobre apresentaram efeito positivo para Tisbe,
comprovando que, apesar de tóxicos em grandes concentrações, metais são essenciais
para a vida em baixas concentrações (RAINBOW, 1993). Esse efeito positivo causado
por essas substâncias é denominado “hormese”, conceito estudado desde a década de
1970, que afirma que substâncias potencialmente letais podem causar benefícios a um
organismo. O principio da hormese diz que células reagem a um estimulo negativo
gerado por uma substância maléfica quando entram em contado com a mesma, gerando
um mecanismo de resistência (COLAVITTI, 2007). A resposta hormética foi
relacionada por Luckey (1975) com o crescimento somático ou o estímulo de outros
processos biológicos. Crescimento somático ocorreu com a população de T. battagliai
expostas à acidificação com adição de cobre, em que os indivíduos realocam a energia
para o crescimento corporal, uma vez que o crescimento populacional está prejudicado
pela diminuição das taxas reprodutivas; isso quer dizer que T. battagliai é selecionado
pelo ambiente a sobreviver em tais condições, devido ao seu pool gênico determinar
esse mecanismo adaptativo de sobrevivência.
Cloreto de cobre e cloreto de cádmio se mostraram tóxicos em todas as
concentrações, apesar de serem metais, provavelmente por terem sido testados em
unidade de medida maior em relação às demais substâncias (mg/L em relação a µ/L). O
LAS, surfactante que vem sendo encontrado bastante em ecossistemas costeiros devido
as atividades urbanas e que são deletérios a microalgas, copépodes calanóides e
cladóceros (CHRISTOFFERSEN el al, 2003; DEBELIUS et al., 2008; SYBERG et al.,
2008), mostrou-se tóxico para T. battagliai, causando redução das fêmeas ovadas, da
produção naupliar e da fecundidade.
Segundo a literatura, o pH da água diminui com o aumento da concentração de
CO2 na água, podendo causar danos à vida marinha pelas mudanças que o mesmo
ocasiona na água (ZEEBE; WOLF-GLADROW, 2001). Isso é explicado pelo fato de
que o CO2 na presença de água forma o ácido carbônico (H2CO3), e o mesmo dissocia-
19
se em íons carbonato (CO32-
) e hidrogênio (H+), provocando a acidificação do meio
aquático (NELSON; COX, 2014). Os resultados de Moon (2013) e Fitzer (2013)
concordam com a afirmação de Zeeb e Wolf-Gladrow (2001) ao demonstrar que o
aumento gradativo na concentração de dióxido de carbono causou diminuição
significativa na população de náuplios, copepoditos e indivíduos adultos, com um leve
aumento na população naupliar e adulta com os menores níveis de acidificação
analisados. A acidificação dos oceanos tem grande capacidade de interação com
contaminantes e xenobióticos marinhos (NIKINMAA, 2013), o que potencializou a
toxicidade quando combinada com cobre nos experimentos de Fitzer (2013).
O fato de nanopartículas de prata com polivinilpirrolidona e a acidificação da
água com adição de cobre terem acentuado a mortalidade em relação à prata e a
acidificação isoladas, mostra que a combinação de substâncias potencialmente deletérias
aumenta a mortalidade dos Tisbe.
20
6. CONCLUSÃO
Os artigos analisados neste estudo apontam que substâncias em concentrações
elevadas, no geral, podem gerar um alto índice de mortalidade para o copépode marinho
Tisbe; e quando não ocorre mortalidade elevada, efeitos na reprodução podem ocorrer
gerando problemas para a população em longo prazo, podendo impactar também o
ecossistema como um todo. Além disso, a combinação de substâncias deletérias
potencializa os efeitos negativos na sobrevivência e na reprodução do gênero Tisbe.
Metais presentes em quantidades mínimas no ambiente aquático tornam-se um fator
positivo no tocante a reprodução e desenvolvimento, aumentando o número de fêmeas
ovadas, nauplios e copepoditos. Novos estudos de toxicidade devem ser realizados com
Tisbe para que se possa melhorar sua utilização nas avaliações de qualidade ambiental.
21
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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