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 Nota do autor

Este livro não é obra de investigação, mas de reflexão e divulgação.Não tem autoria de historiador, mas de cidadão. Não tem aspirações

científicas, mas cívicas. E não pretende defender nenhuma tese sobre omagno problema dos factores da formação de Portugal, nem tão-poucoretratar a história integral do País no século XII - mas apenas compreender, edar a conhecer melhor, a acção do principal protagonista da nossaindependência.

Por isso tem o carácter de biografia.Índice

Nota do autor...2Capítulo IA Europa no século XII...5

Capítulo IINascimento e infância de D. Afonso...10Capítulo III Juventude e formação do infante...14Capítulo IV

O infante arma-se cavaleiro...17Capítulo VO episódio de Egas Moniz...19Capítulo VIA revolta dos barões portucalenses...22

Capítulo VIIA batalha de S. Mamede...23Capítulo VIIIAs grandes opções do príncipe...26Capítulo IXPressões sobre a Galiza...29Capítulo XA "capital" em Coimbra e o caso do bispo negro...34Capítulo XIA batalha de Ourique...38

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francesa.Nasce bom e são, o príncipe D. Afonso? A lenda diz que não, sustentandoque veio à luz aleijado, e que só por um milagre de Nossa Senhora ficou sãoe escorreito:

"Veio a Raínha (D. Teresa) a parir um filho grande e formoso, que não podíaser uma mais bela criatura, salvo que nasce com as pernas tão encolhídas,que, pelo parecer dos médicos e de todos, julgavam que nunca podería sersão delas.Tanto que D. Egas Moniz soube que a Rainha paríra, cavalgou à pressa, e

veio a Guimarães, onde o Conde D. Henrique estava, e pedíu-lhe por mercêque lhe desse o fílho que lhe nascera para o poder criar, como lhe tínhaprometido.O Conde respondeu-lhe que não quisesse tomar tal encargo porque o filhoque Deus lhe dera nascera, pelos seus pecados, tolhido, de maneira que

todos acreditavam que nunca vingaria nem víría a ser homem.D. Egas, quando isto ouviu, sofreu muito e disse:- Senhor, antes cuido eu que por meus pecados aconteceu isto. Mas, já que aDeus aprouve de ser esse o meu destino dai-me mesmo assim o vosso fílho,seja qual for o seu estado.

E o Conde, embora tivesse grande relutância, pelo bem que a D. Egas Monízqueria, de o encarregar de semelhante tarefa, por causa do aleijão da criança,contudo deu-lha para lhe ser agradável.E quando D. Egas víu a críatura tão formosa e com tal aleijão, teve grandepena dela: e confíando em Deus, que lhe poderia dar saúde, tomou-a e fê-lacriar, sem menos ardor e cuidado que se fosse muito sã.E estando D. Egas deitado uma noite dormindo, tendo já o menino cincoanos, apareceu-lhe Nossa Senhora e dísse:- D. Egas, dormes? Ele, acordando com esta vísão e voz, respondeu:- Senhora, quem sois vós? Ela disse:- Eu sou a Vírgem María, que te mando que vás a um tal lugar (dando-lhelogo os sinais dele) e faz aí cavar, e acharás lá uma igreja, que noutro tempofoi começada em meu nome, e uma imagem minha. Faz reconstruir a igreja ea imagem feita à minha honra, e isto feito, farás aí vígília, pondo o meninoque crias sobre o altar: e sabe que se curará, e será são de todo. E não

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ser mestre de Aviz acabando Por professar em Alcobaça onde terá morrido

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ser mestre de Aviz, acabando Por professar em Alcobaça, onde terá morridoem 1169: não se encontra, porém, confirmação documental desta notícia.Faltam elementos que nos elucidem sobre o género de educação que aoinfante D. Afonso terá sido dada por Egas Moniz e por sua mulher, D. Teresa

Afonso. Mas sabendo-se que eram uma família nobre, portucalense, católica,não é difícil concluir que lhe ensinaram o «galaico -português» (língua queentão se falava no Condado Portucalense) e talvez um pouco de latim, quelhe deram as noções elementares da fé católica, ensinando-o a rezar a Deus eà Virgem, e que o procuraram adestrar na ginástica e na equitação.

Companheiros de brincadeira - que havia de incluir, por certo, verdadeiros«torneios medievais» em miniatura ou «a fin gir» -, se não eram as irmãs dopríncipe, eram com certeza os filhos de Egas Moniz, mais velhos os do seuprimeiro casamento, da mesma idade que Afonso os do segundo.É pouco verosímil que D. Afonso Henriques, aos três anos de idade, tenha

sido levado a Astorga, junto de León, que era ao tempo um senhorio do pai.D. Henrique encontrava-se nesse seu feudo em 24 de Abril de 1112, quandofaleceu. Diz a lenda que teve então, pouco antes de morrer, uma conversamuito séria com o seu único filho varão, por isso seu presumível sucessor,acerca da herança política que lhe deixava:

"Veio o Conde a adoecer, de maneira que bem conheceu não haver neleesperança de vida. pelo que, vendo-se em tal ponto chamou seu fílho D.Afonso Henriques, e fez-lhe uma fala mui de cavaleiro entendido eesforçado, e muito conveniente ao tempo e feitos em que deixava seu filho,dizendo desta maneira: - "Fílho, esta hora derradeira que Deus me ordenapara te haver de deixar com a vída deste mundo, faz-me que te veja e falecom redobrado amor e sentido do nosso afastamento: e por isso assenta noteu coração as mínhas palavras de pai, pois que após estas já não hás-deouvir outras.Deves, filho, saber que o poderio que o Senhor Deus neste mundo ordenoude alguns príncípais sobre outros submetidos a eles, foi dado de tal modoque os maus sejam constrangidos, e os bons vívam entre eles em paz esossego, porque a conservação dos bons é a punição dos maus: pelo que,filho, more sempre em teu coração a vontade de fazer justíça: vírtude é quedura para sempre na vontade e corações dos justos, e dá igualmente a cada

um o seu direito que é o maior louvor e merecimento que os príncipes no

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um o seu direito, que é o maior louvor e merecimento que os príncipes noseu governo podem alcançar, pois todo o governo e bem comum consisteprincipalmente em duas coisas, em prémio e em pena. E assim como os bonspela justiça se fazem melhores, recebendo prémio e galardão das suas boas

obras, assím os maus vêm a ser bons, ou ao menos a cessar os seus malescom receio da pena: e portanto, filho, faz sempre com que todos tenhamdireito, tanto os grandes como os Pequenos, e nunca por rogo nem cobíça,nem qualquer outra afeição, deixes de fazer justiça: pois no dia em que umsó palmo a deixares de fazer, logo no outro se arredará do teu coração uma

braçada.Aplíca-te muito em saberes se os que têm cargo de ti fazem justiça e direitocorrectamente, e se a fizerem, faz-lhes bem e mercês: mas se fizerem ocontrário, dá-lhes pena segundo o seu merecímento: nem consíntas em modoalgum que os teus homens sejam soberbos ou atrevidos em mal fazer, pois

perderás o teu valor e estima, se tais coisas não proíbires: mas segue semprea justíça, temendo e amando muito a Deus, para que sejas dos teus amado etemido. Tendo Deus em tua ajuda, terás as gentes em teu serviço; e sem elenão há poder nem saber que te aprovei te. De sua mão somos isso quesomos: e o que temos não teríamos, se da sua mão e vontade o não

tivéssemos: e portanto trata de conservar ao seu serviço o que tiveres.De toda esta terra que eu te deixo, daquí de Astorga até Leão, não percasdela um palmo, que eu a ganhei com grande fadíga e trabalho.Toma, filho, um pouco do meu coração, para que sejas esforçado e semmedo: dos fidalgos sê companheiro, e dá-lhes dos teus dinheiros; e aosconcelhos dá agasalho e trata-os bem. E chama agora estes de Astorga, emandarei que te façam logo homenagem da víla e do castelo, e desde que melevarem a enterrar, torna logo e não a percas, pois daqui conquístarás toda aoutra terra adíante. E manda-me com alguns vassalos meus e teus, que mevão a enterrar em Santa Maria de Braga, que eu povoei.Tudo isto, fílho, faz assim com a mínha benção, para que seJas como umfilho abençoado ao serviço de Deus, com muita honra e prosperidade."As concepções políticas e religiosas que inspiram este texto do século xvi nãosão muito diferentes daquelas que vigoravam em Portugal no século xii: aorigem divina do Poder, a responsabilidade dos reis perante Deus, a justiça

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conversão à doutrina da unidade da Galiza com Portugal - investiu Fernão

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gPeres na máxima autoridade político-administrativa em terras portuguesas.E o conde galego que já era o homem mais poderoso da Galiza («esteConde... era naquele tempo o maior homem da Espanha que rei não fosse).

- tornou-se também, rapidamente, no homem mais poderoso de Portugal.Podia ter usado todo este poder apenas para si e para D. Teresa, deixando osaltos postos da administração do Condado à nobreza portucalense, que osdetinha há várias gerações. Mas não foi essa a sua opção política: inspiradopelo modelo dos reis Garcia e Fernando Magno - que tinham sido reis da

Galiza e Portugal unificados -, Fernão Peres de Trava quis trabalhar para aunificação dos dois territórios e "galizificou" a administração portuguesa. Ouseja, começou de imediato a substituir, nos mais elevados cargos doCondado Portucalense, os portugueses pelos galegos.Logo em 112 1, foram afastadas as três principais famílias da nobreza de

Entre Douro e Minho: os senhores de Ribadouro, Maia, e de Sousa. Setivermos presente que o arcebispo de Braga, D. Paio Mendes, pertencia aossenhores da Maia, podem concluir que, de uma assentada, o fidalgo galegopôs contra si o alto clero e a nobreza principal do Condado Portucalense.E repare-se: não se tratava apenas de lhes retirar funções honoríficas: o queFernão Peres fez foi afastar as principais famílias da nobreza portuguesa decargos que significavam poder político-militar e elevados rendimentoseconómicos.Começou aqui o espírito de revolta do clero e da nobreza minhotos contra ahegemonia galega - e, portanto, também contra a rainha D. Teresa, que atudo dava cobertura.Deve ser por esta altura que o jovem Afonso Henriques, com perto de 12anos, e decerto vivendo já em Guimarães, é posto ao corrente dossentimentos do clero e da nobreza contra o conde galego: não se esqueça queum dos primeiros a ser atingidos pela purga» contra os portugueses foi D.Egas Moniz, aio e preceptor de D. Afonso Henriques. A queixa há-de ter sidoinstantânea - embora provavelmente feita só contra Fernão Peres de Trava,pois nos primeiros tempos ninguém se atreveria a murmurar contra aprópria mãe do infante.Conciliábulos, críticas, conspirações - deve ter havido bastantes,

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compreensivelmente, a indignação é geral e a preparação da revolta vaid i t id d

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crescer de intensidade.D. Afonso Henriques é aliciado para a conjura, mas - com prudência ehabilidade táctica - mantém-se formalmente boas relações com a mãe, com

quem continua a assinar documentos régios até 1127.A partir do Verão de 1127, dá-se uma separação física importante: D. AfonsoHenriques assume a autoridade do comando político-militar a norte doDouro, deixando a D. Teresa as terras entre o Douro e o Mondego. O filhoinstala-se em Guimarães, a mãe e o amante em Coimbra. E as duas cortes

vão conspirar abertamente uma contra a outra.Entretanto, Afonso VII de Leão havia começado a reinar em 1126, por mortede sua mãe, a rainha D. Urraca (irmã de D. Teresa e, portanto, tia de AfonsoHenriques). Sentindo necessidade de afirmar a sua autoridade sobre vassalosirrequietos e insubordinados, trata primeiro de resolver os problemas quetem em Leão e Aragão, e olha de seguida para os da Galiza. Para segurar atia, D. Teresa, e Fernão Peres de Trava, chama-os a um encontro conciliadorem Zamora, ainda em 1126 ou nos começos de 1127, do qual resulta oestabelecimento de tréguas. Mas estas, como é lógico, preocupam fortementeos barões portucalenses: não se estará a tramar uma aliança leonesa-galaico-portuguesa, a fim de consolidar definitivamente a hegemonia «estrangeira»sobre o Condado Portucalense?E não será muito mais difícil combater contra os Travas e contra Afonso VIIsimultaneamente, em vez de os atacar um de cada vez?O príncipe, já armado cavaleiro e nominalmente à frente dos revoltosos, éposto ao corrente das nuvens negras que se acumulam no horizonte.

Capítulo VO episódio de Egas Moniz

Da insubordinação latente dos portugueses chegam ecos a Afonso VII, quem

sabe se transmitidos mesmo pelo conde de Trava. O rei leonês sente que temde vir a Portugal impor a sua autoridade e exigir um acto de vassalagem a D.Afonso Henriques. Por isso se dirige a Guimarães e põe cerco ao castelo.D. Afonso Henriques, com 18 anos de idade, é apanhado de surpresa e não

está militarmente preparado para dar batalha ao primo e suserano, AfonsoVII de Leão e Castela Mas também não lhe quer ceder: recusa se a praticar

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VII de Leão e Castela. Mas também não lhe quer ceder: recusa-se a praticar,pessoalmente, um acto de vassalagem.Entra então em cena o seu aio e principal conselheiro político, Egas Moniz. O

episódio - não se sabe bem ao certo se é história, se é lenda - é narrado nascrónicas antigas desta forma:Ao cabo de pouco tempo, estando El-Rei D. Afonso de Castela, chamadoImperador, em Toledo, e sentindo muito o pouco caso que dele fazia oPríncípe D. Afonso Henriques, achando ele que toda a EsPanha lhe havía de

obedecer e respeitar o senhorio, determinou em conselho muito secretotornar a Portugal: e ajuntada muita gente o mais dissimuladamente quepôde, abalou para a Galíza e chegou de surpresa a Guimarães, onde cercou oPríncípe Dom Afonso, que dentro estava despercebido, nem a vila estavaabastecída, pelo que em Poucos dias a tomaría El-Rei de Castela se lhemantivesse o cerco.Sobre isto, vendo Dom Egas Moníz, aio do Príncipe, o grande perígo em queseu senhor estava, vestindo sua capa de pele, traje daquele tempo, cavalgousecretamente um dia pela manhã cedo sem levar ninguém consigo, e foi aoarraial dos inimigos.E deu o seguinte conselho a Afonso VII: - Senhor, não foste bem aconselhadoem vires aqui cercar esta vila, porque o Príncípe vosso primo é tal cavaleiro,como vós sabeis ... e tem consigo dentro tanta gente e tão boa, além da muitaque tem por essas terras, toda obediente ao seu querer e mandar, que grandeserá o esforço, e muito maior o risco, de quem o forçar para lhe tomar a víla.(... ) E quanto ao que dizeis, Senhor, que vosso primo vos respeite o senhorioe vá às vossas cortes, a mim parece-me certo e conforme à razão. E, Senhor,ainda me parece mais: que se vós partirdes daqui para vossa terra, de modoque não pareça que vosso primo vos obedece pela força ou pelo medo, euconseguirei convencê-lo a que vá às vossas cortes onde vós quiserdes: edisto, Senhor, vos farei preito e menagem.

Quando El-Rei de Castela ouviu isto, agradou-lhe muito de receber apromessa de D. Egas Moníz acerca do caso, e ficou de partír no outro dia.Até aqui, o narrador conta a iniciativa que, por sua conta e risco, semautorização superior, tomou D. Egas Moniz para livrar D. Afonso Henriques

do beco sem saída em que se encontrava, cercado no seu castelo por AfonsoVII

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VII.Vejamos agora como reagiu D. Afonso Henriques quando soube do que setinha passado: No día seguinte, El-Rei de Castela levantou o cerco e partíu

com toda a sua hoste, como dissera a D. Egas Moníz. E o Príncípe D. AfonsoHenriques viu partír El-Rei e, espantando-se muito, porque não sabia acausa, perguntou a Dom Egas que lhe parecía de tal levantamento e partidade El-Rei de Castela, por que motivos entendia que isso acontecera.Dom Egas, então, contou-lhe tudo como era e como a coisa se passara.

Ouvindo isto, o Príncipe sentíu grande pesar e fícou muito indignado,dízendo que antes escolheria ser morto do que fazer o que D. Egasprometera, ou ir às cortes de El-Rei de Castela.Esta passagem tem o maior interesse porque mostra D. Afonso Henriques,pela primeira vez, a não seguir um conselho do seu aio e preceptor EgasMoniz, de tão determinado que estava a não reconhecer a supremaciapolítica do rei de Leão e Castela.A cena que se segue - nesta descrição que mais parece uma peça de teatro emtrês actos - é bem conhecida, pois nos habituámos a ouví-la desde os bancosda escola primária: Vindo o termo do prazo em que o Príncípe D. AfonsoHenriques havia de ír às cortes que se faziam em Toledo, segundo apromessa que D. Egas fizera a El-Rei de Castela, D. Egas assumiu aresponsabilidade de tudo e partiu com sua mulher e filhos, e chegaram aToledo: foram descer ao Paço onde El-Rei estava. E ali se despiram de todosos panos, salvo os de línho; descalçaram-se todos, e puseram baraços nospescoços. E assim entraram pelo Paço, onde El-Rei estava com muitosfidalgos e cavaleiros: e aproximando-se de El-Rei, puseram-se todos de joelhos diante dele.Falou então D. Egas Moniz, e disse: - Senhor, estando vós em Guimarãessobre o Príncipe vosso primo e meu senhor, eu vos fiz a promessa que sabeis,a qual eu fíz por ver que a sua pessoa e honra naquele momento corria

grande risco de se perder ( ... ). E eu, porque o críei desde o seu nascimento,quando o vi em tamanho trabalho e perigo, tomei de mim aquela ideia de íraté vós e fazer o que fiz.Porém, e uma vez que D. Afonso Henriques não quis assumir o

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meu pai ma deu e deixou. Disse então o Conde D. Fernão a ela:- Não andemos mais neste debate: ou vós ireis comigo para a Galiza, ou

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g p ,deixareis a terra a vosso filho, se tiver mais poder que vós.Diz o cronista que no final desta conversa «se desafiaram para um dia certo,

e vieram juntar-se em Guimarães».Terá sido assim? Será que o dia foi marcado de comum acordo? E será que setratou, afinal, de uma espécie de torneio medieval, destinado a apurar quemtinha a sorte pelo seu lado ou, na linguagem de época, a averiguar de quelado estava a vontade de Deus?Não o sabemos ao certo. O que sabemos é que o confronto físico das duasfacções teve lugar no mês seguinte, no dia 24 de Junho de 1128, próximo docastelo de Guimarães: foi a batalha de S. Mamede.

Capítulo VIIA batalha de S. Mamede

Chamou-se de S. Mamede esta batalha porque, segundo a tradição, tevelugar nos campos da freguesia de S. Mamede de Aldão - que ainda hojeexiste e fica situada entre a freguesia de Guimarães (castelo) e a de S.Torcato.Alexandre Herculano, no seu romance histórico O Bobo, imagina como terásido, em Guimarães, a véspera da batalha. Só que ele inverte aí as posições:em vez de colocar Afonso Henriques dentro do castelo - como parece queterá sido -, instala lá D. Teresa e Fernão Peres de Trava, pondo o príncipe dolado de fora, a cair sobre Guimarães com as suas tropas, e a tentar fomentar

algumas traições dentro do castelo, que acaba por lhe abrir as portas, deforma sediciosa, logo depois da batalha.Contudo, na sua Históría de Portugal - neste aspecto, mais credível -, relata aversão tradicional, segundo a qual D. Teresa, «tendo marchado paraGuimarães com as tropas dos fidalgos galegos e dos portugueses seus

partidários, aí se encontrou com o exército do infante no campo de S.Mamede».Os cultores da história militar têm procurado fazer a reconstituição dabatalha, mas a verdade é que pouco ou nada têm conseguido descobrir de

verdadeiramente novo. Sabemos ao certo em que data ocorreu. Já quanto aolocal, as opiniões divergem. Para uns, o feito deu-se na localidade de

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p gSantidanhas, hoje impossível de identificar; para outros, terá tido lugar noCampo do Torneio, junto ao rio Celho; para um terceiro grupo, enfim, e de

acordo com uma tradição secular, a batalha deu-se em terrenos da freguesiade S. Mamede de Aldão, num local sugestivamente crismado pela populaçãocomo "Campo da Ataca. A Câmara Municipal de Guimarães assinalou olocal com uma placa e uma escultura alusiva ao acto.De onde vieram os contendores? Também pouco se sabe: a conjectura maiscredível propõe que as tropas lusitanas de D. Teresa viriam de Coimbra e ashostes galegas de Peres de Trava, da Galiza, tendo-se ambas reunido a nortede Guimarães, talvez na Póvoa de Lanhoso.Quanto ao número de soldados presentes na batalha, as estimativas variambastante, mas a mais consistente aponta para 300 homens do lado de D.Teresa e um máximo de 600 do lado de D. Afonso Henriques, dos quais 80 a100 cavaleiros, não mais.Do lado de D. Teresa sabemos que estavam: Fernão Peres de Trava, com todaa autoridade militar que lhe fora delegada; o irmão Bermudo, cunhado deAfonso Henriques (por ter casado com a irmã mais velha deste, D. Urraca);alguns fidalgos de Coimbra, do Porto e de Baião, relativamente poucos; eparte significativa da nobreza galega.Do lado de D. Afonso Henriques as hostes eram mais numerosas erepresentativas - estava o Entre Douro e Minho em peso: D. Egas Moniz eseus irmãos Ermígio Moniz e Mem Moniz, de Ribadouro; Soeiro e GonçaloMendes, de Sousa; Paio Soares e outros, da Maia; o já referido cunhado de D.

Afonso Henriques, casado com sua irmã Teresa Henriques, D. SanchoNunes, e quase todos os "saneados" de 1125, como os da Silva, os Ramirões,os de Lanhoso, os Guedões, os da Palmeira, os de Azevedo, os de Marnel, etantos outros.Sobre o modo como se desenrolou a batalha temos, pelomenos, duas versões. A primeira pode considerar-se lendária e é

dramatizada assim:A batalha foí bravamente pelejada, e o Príncipe D. Afonso lançado do campodesbaratado. E indo ele assim, a uma légua de Guímarães, encontrou-se comD. Egas Moniz, seu aio, que o vínha ajudar e estar com ele na batalha.

E, quando D. Egas o víu, disse: - Que é isto, Senhor? Como víndes vós assím?Respondeu o Príncípe: - Venho mui desbaratado porque me venceu o meu

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padrasto e a minha mãe, que estava com ele.Dísse então D. Egas: - Não fizestes bem nem com razão, dardes a batalha

sem mim. Mas tornai lá, e eu convosco, e espero em Deus que hojeprendamos vosso padrasto e vossa mãe. Recolhei a vós toda a vossa genteque vem fugindo, e voltemos a pelejar.E tornaram então outra vez à batalha, e venceram-na: e o Príncipe prendeualí o padrasto e a mãe.A segunda versão, menos dramática mas porventura mais verdadeira,considera que não houve duas fases de uma batalha, mas apenas, primeiro, oafugentamento de um grupo de vigilância do partido do Príncipe e, depois, aprópria batalha em si, de que o grupo de D. Afonso Henriques teria logosaído vitorioso.Terminada a batalha com a vitória de D. Afonso Henriques e da sua gente,outras duas versões disputam a narração do que se terá passado a seguir.Diz a lenda: O Príncípe D. Afonso pôs então a sua mãe em ferros. E ela,vendo-se assim presa, disse:- Dom Afonso, meu filho, prendeste-me e deserdaste-me da terra e honraque me deixou meu pai, e afastaste-me de meu marido. A Deus peço quepreso sejais vós, assím como eu me vejo agora. E porque pusestes em ferrosas mínhas pernas, que vos ajudaram a trazer e a criar com muitas dores domeu ventre e fora dele, com ferros sejam as vossas pernas quebradas, e prazaa Deus que assím seja.E depois aconteceu a este Príncipe D. Afonso, sendo já Rei, que se lhe

quebrou uma perna ao sair pela porta de Badajoz, e foi preso de El-Rei D.Fernando de Leão: e todos dizem que lhe isso aconteceu pela maldição quelhe lançou sua mãe.A versão dos historiadores modernos é no sentido de que nenhumdocumento permite provar que D. Afonso Henriques tenha colocado a mãe a

ferros ou a tenha mandado presa para qualquer castelo. Antes pelo contrário:o que se sabe é que D. Teresa e Fernão Peres de Trava foram expulsos doCondado Portucalense para a Galiza, onde D. Teresa recolheu a umconvento em que morreu dois anos depois, e onde o conde de Trava

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Tenho para mim que 1129 deve ter sido uma pausa para reflexão estratégica.Na realidade, o jovem Afonso Henriques viu-se de repente, aos 19 anos,investido numa posição de grande poder e responsabilidade: em menos de

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investido numa posição de grande poder e responsabilidade: em menos deum ano, recusara prestar vassalagem a seu primo, Afonso VII de Leão; foraescolhido e aceite como chefe da revolta dos barões portucalenses contra opoderio galego; derrotara militarmente Fernão Peres de Trava e a suacoligação galaico-coimbrã; e sucedeu no trono a sua mãe, a rainha D. Teresa.Não fora contestado nesta nova posição. E, para todos os efeitos, era agora oconde da terra portucalense, o chefe indisputado dos portugueses, ointerlocutor único com o Rei de Leão e os demais poderes da Ibéria.A pergunta que inevitavelmente lhe deve ter acudido ao espírito foi esta: quefazer? Que fazer, agora, com todo este poder que me caiu nas mãos?Pelos seus próprios conhecimentos e pela reflexão dos amigos e conselheirosmais próximos, dois pares de opções estavam naquele momento abertas, noplano estratégico, à livre decisão política de D. Afonso Henriques: por umlado, continuar, como seus pais, a respeitar fielmente os compromissosfeudais para com Afonso VII (reconhecendo-lhe supremacia, participando nasua cúria, aceitando-o como Imperador de toda a Espanha) ou, pelocontrário, tentar tudo para se libertar dessa situação e fazer de Portugal umreino independente? Por outro lado, encaminhar a acção político -militar do

Condado Portucalense para, na base da condição implícita com que ele foraconcedido, respeitar a fronteira norte no rio Minho e partir à conquista denovas terras para o sul, abaixo do Mondego, ou, pelo contrário, segurandocom firmeza a fronteira sul, tentar conquistar o Norte, alargando o Condadopela Galiza adentro?

Estas eram as grandes opções estratégicas que importava tomar.Quanto à primeira, o impulso já vinha de longe e tornara-se recentementedemasiado forte para que pudesse haver duas opiniões: Portugal não deviacontinuar, bem comportado, como condado integrado na monarquialeonesa, antes devia caminhar, com toda a firmeza, e à medida do possível,

para se tornar num reino independente.Quanto à segunda opção, as coisas não eram tão fáceis nem tão óbvias.Se era verdade que o Condado Portucalense fora entregue a D. Henrique eD. Teresa para combater os muçulmanos do Sul no quadro geral da

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sustentam Torquato de Sousa Soares e Veríssimo Serrão?Para mim, a resposta é simples: o pacto de Tui foi uma derrota política. Issoresulta claramente do texto do acordo, que só comporta obrigações para oinfante português e nenhumas impõe ao imperador de Leão Mas o mesmo

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infante português e nenhumas impõe ao imperador de Leão. Mas o mesmoresulta também do que na moderna teoria dos jogos se designa por "lógicada situação".De facto, qual era a situação de D. Afonso Henriques antes do pacto? Era ade senhor absoluto de todo o sul da Galiza, nomeadamente das provínciasde Toronho e Umia, e suserano dos condes galegos Gomes Nunes e RodrigoPeres; vencedor da batalha de Cerneja; possuidor do castelo de Celmes e demuitos outros que se haviam passado para ele; senhor da cidade de Tui - etudo isto sem contestação ou reacção imediata da parte de Afonso VII.E qual foi a situação em que ficou D. Afonso Henriques depois do pacto?Perdeu tudo o que tinha adquirido na Galiza, teve de devolver quantoconquistara, e foi forçado a prometer que nunca mais invadiria os territórios

do Imperador e que, se algum dos seus homens os invadisse, prontamenterestituiria tudo.Se isto não é uma derrota política, não vejo outro nome que se lhe possa dar.Alguns historiadores portugueses não querem admitir, talvez porpreconceito patriótico, que D. Afonso Henriques tenha sofrido qualquer

derrota: mas isso não é verdade. Sofreu algumas: só que conseguiu muitasmais vitórias, e nunca desanimou com as derrotas que teve: por isso chegouonde chegou.Uma das grandes qualidades de D. Afonso Henriques era não ficarparalisado pelos reveses da sorte, e, depois de completada uma operação,

saber avançar logo para o objectivo seguinte. Trotsky conta, nas suasMemórias, que o principal defeito de alguns dos seus camaradasrevolucionários era ficarem parados diante de uma dificuldade e nãosaberem what to do next. Pois bem: o infante português não padecia dessedefeito.

Perdida a Galiza, desfeito o sonho da conquista do norte, ele percebeu logoque era necessário partir à conquista do sul.Por isso, ao regressar de Tui com os seus homens, D. Afonso Henriques nãodevia vir triste e hesitante, mas forte e determinado. A sua palavra de

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Coimbra um bispo negro. Que significará isto?Segundo os especialistas, significa que se tratava de um sacerdote moçárabe,filho de pai árabe (Suleima é o mesmo que Sulimão ou Zoleiman) mas comnome próprio cristão (Martim ou Martinho). Os moçárabes eram, como se

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nome próprio cristão (Martim ou Martinho). Os moçárabes eram, como sesabe, os cristãos que viviam sob o domínio muçulmano e que, por isso, seadaptavam a algumas regras e práticas sarracenas.A referência à cor da pele - um negro - não significa que se tratasse de umpreto da África Central, mas apenas de um homem mais escuro do que osoutros, provavelmente descendente do cruzamento de sangue cristão comsangue mouro sudanês, ou semelhante. Coimbra tinha tido uma forte

componente moçárabe, a seguir à reconquista de 1064.D. Afonso Henriques impõe, portanto, um bispo negro, mas o fazê-lo à forçaleva o Papa a intervir. Vejamos, em terceiro lugar, como reage o monarcaportuguês à interferência de Roma nas suas decisões:Vindo já o Cardeal perto de Coimbra, onde El-Rei estava, vieram alguns

fidalgos a El-Rei e disseram-lhe:- Senhor, aqui vos vem um Cardeal de Roma, por estardes em conflito edescontentamento com o Papa, por este novo Bispo que fizestes.Disse El-Rei:- Aínda me não arrependo. E eles prosseguindo mais avante, disseram:

- Senhor, todos os reis por cujas terras ele vem, segundo se diz, lhe fazemquanta honra podem, e o provam beijando-lhe a mão.Disse então El-Rei:- Não sei de Cardeal nem Papa, que a Coímbra viesse e me estendesse a mãopara lha beijar, em minha casa, que eu não lhe cortasse o braço pelo cotovelo

com esta espada, e disto não podia ele escapar.Estas palavras soube-as o Cardeal ao chegar a Coimbra, e tomou grandereceio. Em chegando, foi logo direito à alcáçova onde El-Rei repousava. Alio recebeu El-Rei muito bem, e disse-lhe:- Pois, Cardeal, a que viestes a esta terra, que riquezas me trazeis de Roma

para estes combates que tão amíúde faço de día e de noite contra os mouros?Dom Cardeal amigo, se vós porventura me trazeis algo que me deis, dai-mo,- se me não trazeis nada, tornai-vos para donde viestes.- Senhor (disse o Cardeal), eu venho a vós da parte do Santo Padre para vos

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Capítulo XIA batalha de Ourique

Aprovado o pacto de Tui, em 1137, é a altura de D. Afonso Henriques se

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voltar definitivamente para a fronteira sul. Dois anos antes, em 1135,mandara construir o castelo de Leiria, que deslocava cerca de cemquilómetros mais para baixo a linha de fronteira do Condado Portucalensecom o Islão.Mas os muçulmanos não se deram por vencidos e, atacando o novo casteloem 1137, destruíram-no e arrasaram-no. D. Afonso Henriques firmou o

propósito de o recuperar e reconstruir, o que decidiu fazer na Primavera de1139.Encontrando-se em Maio deste ano em Coimbra, decidiu reunir tropassuficientes para o efeito nesse mês e no seguinte.Em fins de Junho ou começos de Julho, o príncipe português parte com as

suas tropas em direcção ao sul, com o propósito declarado de retomar ereerguer o castelo de Leiria.Em 2 5 de Julho de 1137 (dia de Santiago), dá-se uma importante batalha,num local que as fontes da época e posteriores denominam de Ourique(Aulic, Oric ou Ouric, conforme os textos), e consideram bem encravada no

coração do território sarraceno de então (tunc cor terrae sarracenorum).A batalha terá sido forte e renhida, forçando D. Afonso Henriques acombater contra cinco reis mouros - um deles expressamente nomeado,Ismar, e os outros apontados como tendo vindo de Sevilha, Badajoz, Évora eBeja. Ao que parece, Ismar (também denominado Esmar ou Ezamare) era

nada mais nada menos do que o governador militar, ou alcaide, de Santarém- que tinha a seu cargo a fronteira norte dos sarracenos e que já fora oresponsável pela destruição, dois anos antes, do nosso castelo de Leiria.Com os exageros da época, dizem as crónicas que os dois exércitosformavam multidões: para uma, 40 mil homens, para outra 10 mil, além de

muitas mulheres, lutando como amazonas». Não deve ter sido bem assim:quando muito, algumas centenas de cada lado.O resultado da contenda foi uma clara vitória para os portugueses, quemataram tantos infiéis e mostraram tal coragem e determinação que

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palavras bastante moderadas - o chamado «milagre de Ourique», e preferiuconsiderar a respectiva batalha como um episódio menor, secundário, semgrande importância na nossa história ou no próprio desenvolvimento doreinado de D. Afonso Henriques.'T t b t t l l t i d

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Tanto bastou para que contra ele se levantasse um vigoroso coro de

protestos, provenientes dos sectores católicos mais tradicionalistas, aos quaisHerculano respondeu indignado.O problema pode ser hoje colocado em termos de total serenidade: quemacreditar em milagres tem todo o direito de acreditar no "milagre deOurique"; quem não acreditar em milagres - ou não aceitar a ideia de uma

intervenção providencial na resolução de casos pontuais da vida humana -tem todo o direito de negar a existência do "milagre de Ourique". O queninguém poderá negar é que a crença no milagre de Ourique alimentou,durante pelo menos cinco séculos, o sentimento patriótico português: e isto éum facto histórico, não porque tenha necessariamente havido milagre, mas

porque o país em peso acreditou que houve.Outro ponto que também fez parte durante séculos da tradição lendáriaportuguesa sobre a batalha de Ourique foi a ideia de que D. AfonsoHenriques, no início do combate, terá sido aclamado Rei de Portugal pelosbarões e soldados ali presentes. Diz a crónica:

E quando os senhores e grandes que estavam com o Príncipe D. Afonsovíram as hostes dos mouros e a grande multidão deles sem conto, chegaramao Príncípe e disseram:- Senhor, nós vimos a vós para que nos façais uma mercê, a qual será umgrande bem e honra para os que aqui sobreviverem, e para os que morrerem,

e para todos os da geração deles.O Príncípe respondeu-lhes que dissessem o que queriam, que não haviacoisa que em seu poder fosse de fazer, que de boa vontade não fizesse.Eles disseram:- Senhor, o que toda esta vossa gente vos pede é que consintais que vos

façam Rei, e assím haverá mais ânimo para pelejar.Respondeu ele e disse:- Amigos, senhores, irmãos: eu tenho de vós suficíente honra e senhorio, porsempre ser de vós muito bem servido e guardado; e porque disso me

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a saber, D. Egas Moniz (*), D. Pero Pais, alferes-mor, D. Lourenço Viegas eD. Gonçalo de Sousa, os irmãos Martim Moniz e Mem Moniz, e D. DiogoGonçalves. Dois deles, pelo menos, morreram em combate: Mem Moniz eDiogo Gonçalves. Foram os primeiros heróis na gesta de Afonso Henriques àconquista do sul

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conquista do sul.

Nota: Duarte Galvão, conta que Egas Moniz morreu a caminho de Ourique,no meio do percurso: porém, a informação está errada, porque a batalha deOurique teve lugar em 1139 e a morte de Egas Moniz só ocorreu em 1146.Os historiadores não conseguem pôr-se de acordo sobre o local ondeefectivamente se travou a batalha de Ourique.

A opinião tradicional, que Alexandre Herculano perfilhou, é a de que oprélio teve lugar no actual concelho de Ourique, distrito de Beja.Mas esta opinião não resiste a uma reflexão aprofundada: primeiro, como éque as tropas de D. Afonso Henriques, que ainda estavam em Coimbra nofinal do mês de Junho, conseguem aparecer em 25 de Julho - isto é, apenas

três semanas depois - no sul do Alentejo, a mais de 300 quilómetros deCoimbra?Segundo, como é que D. Afonso Henriques vai encontrar no sul do Alentejo,como adversário principal, o rei Ismar, que era o alcaide de Santarém?Foram combinados, um de Coimbra e outro de Santarém, realizar um

torneio conjunto no Baixo Alentejo?Terceiro, como é que se aceita ser verosímil que D. Afonso Henriques tenhaconseguido chegar de Coimbra ao sul do Alentejo sem problemas oudificuldades - iludindo a vigilância e torneando a defesa dos mouros, queainda ocupavam na altura Santarém, Lisboa e arredores, Palmela, Alcácer do

Sal, Évora e Beja? Como se infiltraram as tropas portuguesas por entre todosestes pontos fortes do domínio muçulmano, que Afonso Henriques sóhaveria de conquistar - um a um - ao longo dos 20 anos seguintes?A hipótese não tem verosimilhança. Por isso, já desde 1900 o Prof. DavidLopes sustentou, com maior razoabilidade, que, dadas as posições militares

fixas de portugueses e muçulmanos à época, Ourique tinha necessariamentede situar-se a norte de Santarém (cidade e castelo dominados pelos árabes,tendo como governador ou alcaide o nosso já conhecido Ismar), e a sul dalinha Leiria-Ourém-Tomar (ocupada pelos portugueses).

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e do início do uso do título de Rei pelo pai - podemos seguramente concluirque Fernando Afonso não foi um filho enjeitado, qual fruto indesejado deum amor ilícito, mas antes um filho muito querido, cujo nascimento deve tersido um momento de rara felicidade para o pai. Veio a ser, aliás, educado nacorte.

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Ser rei e ser pai no mesmo ano - foi algo que D. Afonso Henriques não maisterá esquecido.Agora havia que trabalhar para obter o reconhecimento oficial dos doisfactos consumados - para obter o reconhecimento, por Afonso VII, do títulode Rei e, quiçá, para obter o reconhecimento, pela Igreja, da sua ligação

amorosa e do seu filho.

Capítulo XIIIValdevez e a Conferência de Zamora

D. Afonso Henriques saiu da vitória de Ourique e da assunção do título deRei, em 1139-40, reforçado na sua autoridade política e determinado a obtero reconhecimento, por Afonso VII, Imperador de Leão e Castela, da suadignidade régia.Qual a melhor táctica que devia utilizar para alcançar esse objectivo

estratégico? À sua escolha tinha duas tácticas possíveis.A primeira era a táctica da paz, da cooperação, do cumprimento escrupulosodo pacto de Tui: eventualmente, Afonso VII não deixaria de recompensar D.Afonso Henriques pelo alívio da pressão militar a noroeste da Península,num momento em que se achava envolvido em tantas outras frentes de luta.

A segunda táctica possível era a da guerra, da não cooperação, damanutenção e aumento da pressão militar na Galiza, ainda que em manifestaviolação do acordado em Tui: talvez Afonso VII, justamente por ter outraspreocupações mais fortes na sua acção governativa - quer com Navarra eAragão a leste, quer com os mouros a sul -, acabasse por querer pôr um

ponto final na desinquietação permanente que se vivia no noroestepeninsular, e concedesse a D. Afonso Henriques o ambicionadoreconhecimento. (Nos nossos dias, Yasser Arafat seguiu esta táctica guerreirapara obter de Israel o autogoverno da Palestina.)

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Ora, a verdade é que não só a subordinação através de Astorga impedia aindependência de Portugal, mas também o reconhecimento do título de reinão equivalia ao reconhecimento da independência do país.A dependência resultante do senhorio de Astorga afectava a autonomia dePortugal: porque ser vassalo obrigava a socorrer o suserano com forças

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militares, sempre que necessário, e essas forças - dada a pequenês de Astorga- só podia o rei português recrutá-las em Portugal. Era, pois, com o exércitoportuguês que D. Afonso Henriques respondia perante Afonso VII pelosseus deveres de senhor de Astorga: mantinha-se, assim, o «fio que o prendiaao senhor de toda a Espanha».

Por outro lado, o reconhecimento do título de rei não era equivalente aoreconhecimento da independência de Portugal, pois - como vimos - «rei» e«reino» não são sinónimos de independência política.Na prática, um imperador só o era verdadeiramente se tivesse na suadependência, como vassalos, vários reis: se dele só dependessem condes ou

duques, não era um imperador, mas um rei.Ora, Afonso VII era realmente, em 1143, suserano de dois reis - os reis deNavarra e de Aragão. Não custa a crer, portanto, que para ele fosse aceitável- ou até mesmo desejável - passar a ter mais um rei na sua alçada.Reconhecer ao conde de Portugal o título de rei não era nada de absurdo ou

de excessivo: era uma solução aceitável. E tinha precedentes na monarquialeonesa.Numa palavra: não me parece possível pretender extrair do reconhecimentodo título de rei a D. Afonso Henriques, obtido em Zamora em 1143, osignificado de um reconhecimento (explícito ou implícito) da independência

de Portugal. No contexto peninsular da época, e ponderados todos osinteresses em jogo, o reconhecimento do título de rei ao chefe do CondadoPortucalense só fazia sentido dentro do quadro do império hispânico, e comexpressa submissão ao respectivo imperador.D. Afonso Henriques passava, pois, a ser considerado Rei de Portugal - mas

Portugal, tal como Navarra e Aragão, continuava a ser um territórioincorporado no império leonês, e o seu rei continuava vassalo do Imperador.Sendo assim, a Conferência de Zamora não foi uma grande vitóriadiplomática de D. Afonso Henriques.

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e do Pontífice Romano», que toma como seu «padroeiro e advogado»- e,finalmente, solicita para si e para a sua terra «a defesa e auxílio da SéApostólica», em tudo o que respeite à «dignidade e honra» dessa terra,afirmando que pretende nunca mais ser «obrigado a admitir nela o poder dequalquer senhorio eclesiástico ou secular, senão o da Santa Sé e dos seus

legados

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legados».A carta é subscrita por D. Afonso Henriques, Rei dOs Portugueses, econfirmada por D. João Peculiar, arcebispo de Braga, D. Bernardo, bispo deCoimbra, e D. Pedro, bispo do Porto.Descontando as fórmulas puramente religiosas e notariais, verifica-se que

esta carta contém três elementos essenciais:- A prestação de vassalagem ao Papa;- A promessa de pagamento de um certo tributo anual em ouro;- O pedido de protecção directa da Santa Sé, especialmente para não ter deadmitir mais, na terra portuguesa, o poder de qualquer senhorio

«eclesiástico ou secular».É no terceiro elemento que consiste a mudança radical de política, por partede D. Afonso Henriques, em relação à monarquia leonesa. Na verdade, o Reide Portugal podia ter-se constituído vassalo da Santa Sé por meras razões decarácter religioso ou de política geral, sem pôr em causa a sua dependência

vassálica para com o Imperador de Leão.Mas não: é precisamente essa dependência que ele, com a Claves regni,pretende quebrar.De facto, o que o nosso monarca afirma ao Papa é que pretende, em troca dasua vassalagem a S. Pedro, a protecção da dignidade e honra» da terra

portuguesa e o apoio da Sé Apostólica para que ele nunca mais seja«obrigado a admitir nela o poder de qualquer senhorio eclesiástico ousecular».Não admitir mais, na terra portuguesa, qualquer senhorio secular - o que é ?É não admitir mais a suserania feudal do Imperador de Leão; é trocar a

vassalagem (temporal) ao Imperador Afonso VII pela vassalagem (espiritual)ao Papa.Deste modo, quando D. Afonso Henriques, em contrapartida da vassalagemprestada a Roma, solicita a protecção pontifícia contra o «poder de qualquer

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Afonso Henriques: em vez de o tratar por «rei», trata-o apenas por «ilustreduque portucalense»; chama a Portugal «terra», e não «reino»; não fala emindependência, nem promete expressamente a protecção requerida contra «opoder de qualquer senhorio secular».Mas a outra parte é bastante favorável: considera D. Afonso Henriques como

ovelha que Cristo recomendou à guarda de Pedro por se dedicar à luta

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ovelha que Cristo recomendou à guarda de Pedro, por se dedicar à lutacontra os pagãos; aceita a vassalagem prestada à Santa Sé e o tributo anualem ouro prometido ao Pontífice romano; e exprime o voto de que D. AfonsoHenriques e os seus sucessores permaneçam sempre «defendidos do assaltodos inimigos visíveis e invisíveis» e protegidos por S. Pedro «tanto nas almas

como nos corpos».Como interpretar esta carta do Papa Lúcio II? Para uns, como Carl Erdmann,ela não tem qualquer valor político, pois não responde positivamente anenhum dos pedidos feitos por D. Afonso Henriques.Para outros, como Luís Gonzaga de Azevedo, ela constitui uma enorme

vitória diplomática, que contém uma aceitação quase completa daspretensões do Rei de Portugal.Por mim, acho que nem oito nem oitenta: Lúcio II não concedeu tudo o quelhe fora pedido, mas também não se colocou na posição oposta de nadaconceder.

Com efeito, não é possível negar que a Devotionem tuam não reconhece aD.Afonso Henriques o título de rei - que no ano anterior já lhe forareconhecido em Zamora por Afonso VII -, nem chama reino a Portugal, nemaceita expressamente os vários pedidos feitos por D. Afonso Henriques aoPapa.

Mas, por outro lado, seria desadequado ignorar que Lúcio II aceita avassalagem de D. Afonso Henriques e, em troca, promete-lhe a protecçãoespecial de S. Pedro - não apenas nos assuntos espirituais («protecção dasalmas») mas também nos temporais «(protecção dos corpos»), e não sócontra as tentações do pecado «(defesa dos inimigos invisíveis») mas

também contra os perigos da vida política e militar («defesa dos inimigosvisíveis»).É, pois, razoável concluir que a Devotíonem tuam não constitui a derrotahumilhante de D. Afonso Henriques pretendida por Erdmann, embora tão-

pouco represente a vitória retumbante reivindicada por Gonzaga deAzevedo.O ponto essencial parece-me ser o seguinte. Da carta de Lúcio II resultaclaramente que a vassalagem prestada pelo Rei de Portugal ao Papa foiaceite. E o sinal visível, material, tangível, dessa vassalagem - o tributo anual

em ouro - também foi aceite

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em ouro também foi aceite.De modo que temos de concluir que, se o Papa aceitou para si os direitosdecorrentes da vassalagem, também aceitou os respectivos deveres.Seria contrário à moral e à justiça que Roma aceitasse os benefícios que lheeram oferecidos e, ao mesmo tempo, recusasse os correspondentes encargos.

Alguém de boa-fé pode pensar que o Papa quisesse receber o ouro masnegar a protecção que ele caucionava?Portanto, temos de chegar à conclusão inevitável de que, ao aceitar avassalagem a S. Pedro e o tributo em ouro ao Sumo Pontífice, Roma aceitoutambém as pretensões correlativas formuladas por D. Afonso Henriques.

Fê-lo implicitamente, por óbvias cautelas diplomáticas, mas fê-lo semqualquer dúvida. Roma aceitou, pois, o dever de protecção contra ainterferência em Portugal de qualquer poder temporal alheio. Leia-se: contraa interferência do Imperador de Leão. Roma aceitou, por conseguinte, aindaque implicitamente, a independência de Portugal face ao reino de Leão.

Declarada unilateralmente em Dezembro de 1143, e reconhecidaimplicitamente em Maio de 1144, é deste período que data, quanto a mim,sem margem para dúvidas, a independência de Portugal.A melhor prova de que a independência de Portugal não se deu em Zamora,em 114 3, mas no enfeudamento de Portugal ao Papa, em 1143-44, está nos

protestos vigorosos que Afonso VII de Leão apresentou em Roma contra acarta Devotionem tuam, de Lúcio 11, logo que teve conhecimento dela - oque só terá sucedido por volta de 114 7 -48.É fácil de perceber que, se em Zamora tivesse sido reconhecida aindependência de Portugal, Afonso VII não teria nada que se queixar por o

Papa a ter reconhecido também. Assim como não é difícil compreender que,se a Devotionem tuam não concedesse mais a Portugal do que Afonso VIIestava disposto a conceder, ele não teria tão-pouco quaisquer motivos paraprotestar.

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das cartas Claves regní e Devotíonem tuam - e, em qualquer caso, antes damorte de Afonso VII, em 1157, e da bula Manifestís probatum, de 1179.Portugal era, finalmente, um Estado independente, como tal aceite pelos trêspoderes que tinham sobre o assunto uma palavra a dizer - a nobreza galega,a monarquia leonesa, e a Santa Sé.

D. Afonso Henriques, aos 35 anos de idade, podia considerar-se um homemsatisfeito e feliz: Realizara o seu primeiro grande objectivo político

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q psatisfeito e feliz: Realizara o seu primeiro grande objectivo político.Conquistara a independência de Portugal. Mas ainda não tinha concluídotodo o seu projecto.

Capítulo XVAs pretensas Cortes de Lamego

Quando o monge de Alcobaça, Frei António Brandão publicou em Lisboa, noano de 1632 (sob o domínio filipino), a 3.ª parte da Monarquia Lusitana - a

primeira «História de Portugal» dos tempos modernos -, fez nela referência,no capítulo XIII da secção dedicada a D. Afonso Henriques, às «cortes que el-rei celebrou em Lamego depois que o Sumo Pontífice lhe mandou a bula daconfirmação do reino», o que teria acontecido em 1143 ou 1144 - portanto, aseguir à carta Devotionem tuam, de Lúcio II, que acabámos de analisar.

Durante três séculos, os principais historiadores e os portugueses em geralmantiveram a convicção da autenticidade das Cortes de Lamego. Porém,Alexandre Herculano impugnou frontalmente a sua veracidade.E, hoje em dia, a convicção generalizada é a de que a acta das Cortes deLamego constitui um documento forjado no período filipino, com o objectivo

de sustentar a ilegitimidade do domínio castelhano sobre Portugal.Seja como for, parece-me interessante relatar aqui o episódio, certamentefalso, no qual se acreditou piamente em Portugal durante séculos. Mais umadas muitas lendas que mitificaram D. Afonso Henriques e o seu reinado!Diz o cronista que ele próprio viu o traslado das Cortes de Lamego «em umcaderno que me veio à mão e compreende outras coisas do cartório deAlcobaça».O documento, primeiramente transcrito em latim e depois em português,começa assim: Em nome da santa e índivídua Trindade, Padre, Fílho e

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precisava do apoio da Santa Sé para consolidar a sua independência face àmonarquia leonesa: tinha, pois, de se assumir como um monarca católicobem comportado.Por outro lado já vimos que os principais conselheiros do Rei - em especial,Egas Moniz e D. João Peculiar - consideravam altamente inconveniente para

os superiores interesses de Portugal qualquer ligação oficial entre a Coroaportuguesa e a nobreza galega. Já a rainha D. Teresa causara os maiores

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p g g g Jproblemas com a sua relação amorosa com Fernão Peres de Trava: não seriaagora admissível que D. Afonso Henriques fosse repetir o mesmo erro,casando com uma sobrinha do grande magnata galego. Era abrir de novo

uma porta, que tanto custara a fechar, à penetração influente dos Travas - amais poderosa família da Galiza - na governação de Portugal. E quecomplicações não traria o facto de o futuro herdeiro da Coroa portuguesa serum neto do conde de Trava? Decididamente, a Igreja e a alta nobreza nãopodiam consentir no casamento do Rei com a sua amada. Mas D. Afonso

Henriques tinha de casar. Numa monarquia hereditária, é deverfundamental do monarca assegurar a sua descendência legítima paragarantir a continuidade e independência do reino.É fácil imaginar as conversas dos conselheiros e amigos mais íntimos do rei:«Senhor, é motivo da mais funda preocupação para os vossos súbditos ver

que el-rei, já com 35 anos de idade e sempre em guerras e perigos esforçados,ainda não deu um herdeiro ao trono»; «Senhor, já conseguistes o mais difícil,que era obter o reconhecimento de vosso primo, o Imperador Afonso VII, ede Sua Santidade o Papa, e desbaratar os mouros em Leiria e em Ourique.Agora é preciso assegurar, pela descendência legítima, a continuação do

reino de Portugal»; «Senhor, se acaso morrerdes sem filhos legítimos, oImperador de Leão retomará plenos poderes sobre Portugal e todo o vossoesforço terá sido em Vão».D. Afonso Henriques deve ter acabado relutantemente por aceder: tinha decasar, e tinha de casar com outra mulher.Mas com quem havia D. Afonso Henriques de casar? Ao contrário de muitosoutros exemplos na época, não foram os pais de D. Afonso que lhearranjaram o casamento - D. Henrique já tinha morrido há 34 anos e D.Teresa há 16. Aqui, a decisão foi do próprio Rei, naturalmente assessorado

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idade núbil - talvez entre os 16 e os 20 anos -, e que era tida como formosa eprendada. Devia ser também, como todas as princesas das casas reinantes naEuropa daquele tempo, uma pessoa de cuidada formação moral e religiosa.Mas não tinha bom feitio. Quem sabe se pela sua originária maneira de ser,ou pelos desgostos amorosos que o marido lhe terá causado, chegou até nós

a menção do seu mau génio, que foi ao ponto de provocar um conflito sériocom o prior da Igreja de Santa Cruz, S. Teotónio.

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Cumpriu exemplarmente a função maternal que dela se esperava: deu à luzsete filhos, em apenas 12 anos.Mas D. Mafalda foi bastante infeliz: não só porque veio encontrar um marido

que amava outra mulher e já tinha dela dois filhos, mas também porque viumorrer o filho mais velho, D. Henrique, com oito anos.Não consta que D. Mafalda tenha exercido qualquer influência no marido ouna Política do país - Ou por não ter jeito para tanto, Ou Por ser estranha aoclã galaico-português que dominava a corte.

Com D. Afonso Henriques sempre envolvido na governação geral do reino eem grandes batalhas - Santarém, Lisboa, Alcácer do Sal -, a rainha dedicou-se, para além da ed'ucação dos filhos, a algumas actividades religiosas e decaridade (mosteiro da Costa, em Guimarães, e Albergaria do Marco deCanaveses) bem como à construção de obras de utilidade Pública (barcas de

passagem, em Lamego, ponte de Barqueiros, em Mesão Frio, ponte sobre oTâmega).Durante oito anos, educou o filho mais velho, D. Henrique, como herdeirodo trono. Mas a morte deste transferiu a sucessão para o filho mais novo, D.Sancho, que só conviveu com a mãe durante um ano, não tendo sido, porconsequência, educado por ela.À medida que ia tendo filhos, D. Mafalda foi sofrendo partos cada vez maisdifíceis. Acabou por morrer, 12 anos depois de casada, das consequências doúltimo parto (o da infanta D. Sancha). Encontra-se sepultada, junto domarido, na Igreja de Santa Cruz, em Coimbra.

Capítulo XVIIOs filhos de D. Afonso Henriques

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objectivos. Porque, do lado árabe, a velha Scalabis desempenha uma duplafunção da maior importância: situada a meio caminho entre Leiria e Lisboa,por um lado, é de lá que partem os ataques mouros contra Leiria, e, poroutro, é lá que podem ser travados todos os ataques cristãos a Lisboa. Comoescreveu um autor, «enquanto Santarém estivesse na posse dos

muçulmanos, nem os cristãos podiam aventurar-se a transpô-la para fazeremconquistas mais ao sul, nem deixariam de partir dali forças que assaltavamterras já em posse dos portugueses», mais ao norte.

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terras já em posse dos portugueses , mais ao norte.Santarém era, pois, um pólo militar que lançava ataques para o norte, eimpedia ataques para o sul. Era simultaneamente uma mola e um tampão.

Por isso mesmo, Santarém incomodava duplamente D. Afonso Henriques:não lhe garantia a segurança de Leiria (e portanto de Coimbra), nem lhepermitia a conquista de Lisboa. O controlo mouro de Santarém era um alvoprioritário a abater. Mas como atacar Santarém? Duas tácticas militares eramde excluir à partida: a táctica do cerco ao castelo e a táctica da batalha em

campo aberto. A primeira, por Santarém ser muito rica e poder resistirindefinidamente; a segunda, por os exércitos muçulmanos concentrados emSantarém serem superiores ao exército português.D. Afonso Henriques reflectia nisto há anos:El-rei «havía muito tempo que tinha grande vontade e desejos de tomar avíla de Santarém - mas, «como quer que ele muitas vezes cuidasse em seupensamento se a poderia tomar pela força, ou por algum despercebimento[astúcía], aqueles a quem esta coisa comunicava apresentavam -lhe sempregrandes dúvídas de muito perigo e receios».O Rei de Portugal concebeu então uma terceira táctica: tomar Santarém desurpresa, pela calada da noite, à frente de um pequeno grupo de militares, ecom base num estratagema destinado a enganar o inimigo.A operação, levada a cabo por cerca de 120 homens,' na noite de 14 para 15de Março de 1147, foi um acto corajoso e bem executado, mas que em simesmo nada teve de especial: fizeram-se umas escadas, encostaram-nas àsmuralhas do castelo, os soldados subiram ao muro, eliminaram trêssentinelas, partiram por dentro os ferrolhos das portas, abriram-nas,entraram os soldados portugueses com o Rei à frente deles, e o exércitocristão realizou uma larga carnificina» cumprindo assim as prévias

instruções de D. Afonso Henriques:Vós a nenhuma pessoa não perdoeis, nem deis a vida a homem nem mulher,nem moços nem velhos, de qualquer idade e qualidade que sejam.O que se afigura mais interessante e digno de nota é que D. AfonsoHenriques envolveu esta operação num manto de grande segredo, para

assegurar o êxito do ataque de surpresa, e empregou técnicas requintadas deespionagem e ludíbrio do inimigo.Com efeito, o Rei português começou por mandar a Santarém um espião,

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, p g ç p p ,Mem Ramires, homem astuto, cauteloso e atraente, incumbido de examinarqual seria o sítio do castelo mais acessível de noite e qual o atalho mais

seguro para chegar ao pé dele. Depois, manteve o seu plano secreto, só odando a conhecer a três oficiais superiores - D. Lourenço Viegas, D. Gonçalode Sousa e D. Pero Pais, alferes-mor -, «mandando-lhes que o tivessem emmui grande segredo sob pena de morte». Enfim, as tropas portuguesassaíram de Coimbra sem conhecerem o seu destino: Então partiu El-Rei uma

segunda-feira, não sabendo ninguém para onde ia, salvo aqueles a quem ocomunicara; e levaram o camínho tão revesado e encoberto que os mourosnão tiveram novas deles.Boa táctica militar, como se vê, que qualquergeneral dos nossos dias adoptaria certamente.O que já não tem a ver com o comportamento de um militar, mas sim com aatitude de um político, foi o hábil estratagema concebido por D. AfonsoHenriques para enganar os mouros do castelo de Santarém.Dá-se o caso de que, por aquele tempo, haviam sido estabelecidas tréguasentre as tropas portuguesas e a guarnição de Santarém. Mandavam os usosda época que se não pudesse atacar, havendo tréguas, sem primeiro avisar oinimigo. Então D. Afonso Henriques, na terça-feira - segundo dia da marchade Coimbra para Santarém - enviou um tal Martim Mohab (provavelmentemoçárabe) comunicar aos ocupantes do castelo que as tréguas ficavam rotaspor três días. Os mouros aguardaram o ataque de quarta a sexta-feira; comoele não veio, no sábado descansaram as armas. Pois bem: D. AfonsoHenriques, contra o que se poderia esperar, atacou na noite de sábado paradomingo; e tão desprevenidos encontrou os seus inimigos que só havia duassentinelas nos muros do castelo.Alexandre Herculano considera que houve aqui, da parte do Rei de Portugal,

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navios das cruzadas aportassem ali, tratasse aquela gente o melhor possívele que, se alcançasse ajustar com os seus chefes servirem-no na guerra,concluísse um acordo sobre isso, dando todas as seguranças necessárias eembarcando com eles para a foz do Tejo».O bispo assim o tentou, e conseguiu: fez-lhes um discurso em latim, que logo

foi sendo traduzido para as várias línguas, e eles aceitaram a missãoespinhosa de ajudar o Rei português a conquistar Lisboa aos mouros. Sobreserva - é claro - de chegarem a acordo com ele, acerca do «preço» dos seus

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serviços.Estavam assim reunidas todas as condições para D. Afonso Henriques

montar e lançar a maior operação militar do seu reinado - a tomada deLisboa.O Rei de Portugal marchou com o seu exército, do Porto para Lisboa, emmeados de Junho de 1147; os cruzados, em cerca de 200 navios, estiveram noPorto de 16 a 24 de Junho (dia de S. João), e entraram no Tejo a 29 (dia de S.Pedro).Começaram então as negociações entre o nosso Rei e os cruzados europeus,as quais foram demoradas e difíceis, tendo estado várias vezes a ponto de seromperem. Mas finalmente conclui-se um acordo, bastante «caro» para olado português e muitíssimo vantajoso para os Cruzados: era D. AfonsoHenriques quem mais precisava de fechar o contrato, por isso foi ele quemmais cedeu. O Rei prometeu-lhes, no fim de contas, três coisas muito valiosas- que os bens do inimigo lhes pertenceriam; que o saque da cidade seria todopara eles; e que aqueles que quisessem depois ficar a viver em Portugalpoderiam guardar aqui as liberdades, foros, usos e costumes dos seus países,bem como gozar de imunidade de portagens e peagens para os seus navios emercadorias em todos os portos e estradas de Portugal. E teve de fazer aindaoutra promessa: jurar que não retiraria as suas tropas senão por motivomuito grave, e que não inventaria nenhum pretexto para faltar aocombinado. Esta promessa foi uma exigência de alguns cruzados, peladesconfiança que lhes provocara manobra idêntica aquando do primeiro

cerco a Lisboa, em 1142.Era, como se pode ver, um contrato leonino: imensamente vantajoso parauma das partes, pesado e muito custoso para a outra. Mas D. Afonso

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revelou afinal como «o decisivo instrumento da vitória». Era a modernizaçãotecnológica, trazida pela «Europa connosco»!Como se disse, os problemas principais que D. Afonso Henriques teve deenfrentar para a conquista de Lisboa não foram problemas militares, mas simproblemas políticos.

Tudo começou no plano político - contactos com Bernardo de Claraval,instruções escritas ao bispo do Porto, negociação do contrato com osCruzados em Lisboa.A d ã i d õ d t bé l

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Agora, a condução superior das operações do cerco também se revelavaessencialmente política.

Foi primeiro a decisão de dar uma chance aos mouros, antes do início dashostilidades, propondo-lhes uma «capitulação vantajosa.Houve tréguas de parte a parte; do lado português foram parlamentários osbispos de Braga e do Porto, juntamente com alguns capitães estrangeiros. Osárabes recusaram, dizendo: Fazei o que puderdes; nós faremos o que for dadivina vontade.Depois, houve que resolver o problema dos abastecimentos às tropas cristãs,felizmente facilitado por se terem ocupado logo no mês de Junho «cem milcargas de cereais e legumes», armazenados pelos muçulmanos.De Julho a Setembro, sempre que o considerou oportuno - em função decombates favoráveis aos sitiantes -, D. Afonso Henriques tomou a iniciativa,e assumiu a responsabilidade, de propor (mais de uma vez) uma«capitulação vantajosa» aos sitiados. Só a rejeição sistemática destaspropostas do lado muçulmano lançou o Rei português para a confrontaçãofísica final.Também interessante é um episódio que deve ter ocorrido em Julho ouAgosto, quando os mouros sitiados no castelo se começaram a sentir aflitos eantecipadamente derrotados: num pequeno barco que navegava aoanoitecer, de Lisboa para Palmela, abandonado pelos mouros quandoatacados pelos cristãos, apareceu uma carta escrita em árabe, dirigida aogovernador de Évora, Abu-Mohammed, na qual os sitiados pediam

desesperadamente reforços e auxílio, sob pena de ali morrerem todos e de seperder Lisboa para o Islão.Alguns dias mais tarde, aparece atada ao braço de um homem afogado a

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dos exércitos cristãos.Estava-se a 21 de Outubro. Parou o ataque do lado de fora. Foramdesignados para falar com os mouros o alferes-mor português, FernandoCativo, e o comandante inglês, Herven de Glanville. Estes concordaram como cessar-fogo, mas puseram duas condições - que os muçulmanos não

aproveitassem a noite para atacar os engenhos e máquinas dos cristãos, eque como garantia dessa promessa entregassem dois reféns.Os reféns árabes foram postos, pelos dois chefes citados, às ordens e sob aguarda do Rei de Portugal: era o reconhecimento explícito deste como

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guarda do Rei de Portugal: era o reconhecimento explícito deste comoverdadeiro comandante supremo daquela coligação de exércitos. Os

Cruzados, porém, receberam isto muito mal - e, com o argumento de quedeviam ter sido eles a guardar os reféns, porque temiam uma traição do Reiportuguês, entraram em desordem crescente durante a noite.Era um xeque ao Rei: a autoridade suprema de D. Afonso Henriques eraposta em causa pelos combatentes estrangeiros, nas vésperas da vitória final,e já com o inimigo de joelhos, oferecendo a sua rendição. Tudo podia serdeitado a perder. Foi o maior desafio à sua autoridade que D. AfonsoHenriques sofreu em toda a vida. Podemos imaginar como ele se terá sentidonaquele momento - irritado com a rebeldia, preocupado com o desfecho,incrédulo perante o incidente que assumia uma dimensão desproporcionadae absurda perante a iminência da vitória.O "perigo de anarquia" prolongou-se pelo dia 22, com os anglo-normandos aacusarem o seu comandante, Herven de Glanville, com gritos de: "Morra omalvado, abaixo o traidor."D. Afonso Henriques manteve-se sereno e não perdeu a calma: primeironegociou a rendição de Lisboa, depois tratou de restabelecer a ordem nocaos.A capitulação foi negociada nestes termos: «A cidade render-se-ia ao Rei,ficando o alcaide e um seu genro com tudo o que lhe pertencesse, e osdemais habitantes só com as vitualhas que tivessem.» Estes termos econdições eram mais vantajosos para os muçulmanos de Lisboa do que o que

ficara previsto no contrato inicial entre o Rei e os Cruzados, que estabeleciaum confisco geral.Por isso, estes recusaram o acordo e amotinaram-se de novo, acusando D.

Afonso Henriques de «parcialidade a favor dos sarracenos».Os agitadores eram agora sobretudo os alemães e os flamengos: e osrespectivos comandantes, Areschot e Gistell, não conseguiam discipliná-los.Em face do perigo para o Rei e da desordem geral, as tropas portuguesas«pegavam em armas e preparavam-se para repelir a violência».

D. Afonso Henriques não podia esperar mais. Tinham-se esgotado aspossibilidades da negociação e do consenso: chegara o momento de praticarum acto de autoridade. Era preciso meter os Cruzados na ordem.O Rei de Portugal assim fez: enquanto mandava preparar as tropas

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O Rei de Portugal assim fez: enquanto mandava preparar as tropasportuguesas para controlarem a parte rebelde dos Cruzados, chamou os

comandantes alemão e flamengo e exigiu-lhes garantias de que os seushomens seriam de imediato disciplinados; caso contrário - acrescentou, emtom de ameaça -, «se as coisas continuassem assim, abandonaria o assédio[cerco], porque preferia ao senhorio de Lisboa a própria honra».Os Cruzados sabiam bem, até pela experiência amarga de cinco anos antes, oque teria de catastrófico uma retirada súbita e em bloco do Rei de Portugal edo seu exército: seria com certeza a debandada geral do lado cristão, ou umaluta de morte com os mouros, em que não haveria vencedores.Esta solene ameaça do Rei português e a intervenção pessoal doscomandantes alemão e flamengo surtiram o efeito desejado. A noite foi boaconselheira: na manhã do dia 23 de Outubro, os Cruzados aceitaram oultimato de D. Afonso Henriques- restabeleceram a ordem e a disciplina, juraram ao rei «preito e lealdade»por todo o tempo que estivessem em Portugal, e aceitaram o acordo feito nodia anterior com os muçulmanos sobre as condições da capitulação deLisboa.

Ao fim de três dias de crise, D. Afonso Henriques podia suspirar de alívio:tinha conseguido uma grande vitória política. Restabelecera a suaautoridade. Lisboa ia ser sua.Novo acordo foi celebrado com os chefes mouros, sobre o modo de entradano castelo, repartição dos despojos e direitos de saque.

Em 24 de Outubro, uma guarda avançada de 300 homens penetrou nocastelo, recebeu o dinheiro e haveres dos habitantes, e revistou as casas.E em 25 de Outubro de 1147 precedido pelos chefes militares estrangeiros e

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tentativa: E sem nenhum ímpedímento nem dificuldade chegaram edesembarcaram no devido lugar, onde, postos em oração, pediram commuita vontade a Deus que lhes mostrasse onde jazia o corpo daquele seuglorioso mártir.Após isto, começaram a cavar, e aprouve a Nosso Senhor que o achassem; e

deram muitas graças e louvores, tomaram-no com muito prazer e devoção, epuseram-no dentro de uma barca. E assím o trouxeram com muito prazer asalvamento. O corvo veio sempre na barca com ele, e o acompanhou atéLisboa.

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Desta vez, como Lisboa já era cristã, o Santo deixou-se encontrar... e veiopara Lisboa. As suas relíquias foram depositadas na capela-mor da Sé. «El-Rei mandou escrever o dia e a hora em que o corpo deste glorioso mártirveio para Lisboa: e foi aos 20 dias de Setembro de 1173».D. Afonso Henriques tinha, assim, consigo um grande santo da IgrejaCatólica, porventura capaz de ombrear com Santiago de Compostela. E acidade de Lisboa ficava com um padroeiro oficial, adoptando mais tardecomo brasão municipal uma barca e dois corvos, em memória da trasladaçãomarítima de S. Vicente.

Capítulo XXIA conquista do Alentejo

Passaram quatro anos sobre a tomada de Lisboa aos mouros.D. Afonso Henriques descansa do esforço gigantesco, convive em Coimbracom a família e com os amigos, toma providências sobre a administração doreino.

De fins de 1147 a 1151 não há notícia de quaisquer feitos militares ou outrosde importância significativa: sinal evidente de que estamos perante o«repouso do guerreiro».Casado há pouco mais de um ano com D. Mafalda, é em 1147 que nasce oprimeiro filho legítimo, D. Henrique, e em 1148 a primeira filha, D. Urraca.

Entretanto, ia já nos seus sete ou oito anos o filho mais velho, FernandoAfonso, e era um pouco mais novo o segundo, Afonso, ambos tidos deFlâmula Gomes.

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- a ideia de um reino cristão alargado até ao sul- chamava por ele e impunha-lhe «novos e cristãos atrevimentos».Qual devia ser a estratégia a definir para os próximos 15 ou 20 anos?Abandonado o sonho da Galiza, firmado robustamente o poderio dosleoneses na fronteira leste de Portugal, tomados os pontos nevrálgicos de

Santarém e Lisboa aos mouros e principiada já, no rescaldo da conquista deLisboa, a descida para o sul do Tejo - com a posse de Almada, Palmela eSesimbra -, o caminho dali em diante só podia ser um: nem para o Norte,nem para o Leste, mas para o Sul. Havia que conquistar o Alentejo.

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Ora, no Alentejo, havia naquela altura três praças-fortes nas mãos dosmuçulmanos: Alcácer do Sal, Évora e Silves.Alcácer era uma «forte povoação»; Évora podia ser considerada como asegunda mais importante cidade da província de Badajoz; e Silves era o«empório das províncias do Gharb, opulenta rival de Lisboa em riqueza,navegação e comércio».De modo que a estratégia a definir por D. Afonso Henriques não podia darlugar a grandes dúvidas - havia que conquistar primeiro Alcácer, depoisÉvora (e Beja), e por fim Silves, alastrando daqui para todo o Algarve.O Rei português adoptou e seguiu essa estratégia até Beja, como vamos verde imediato. Saberemos mais adiante porque não foi até Silves.O primeiro objectivo era, pois, a partir de Lisboa, conquistar Alcácer do Sal -que fica a cerca de 100 quilómetros para sul.Não era tarefa fácil, porque o castelo de Alcácer estava muito bemdefendido.Os portugueses, com a ajuda de cruzados ingleses, investiram uma primeiravez em 1151, e foram rechaçados; D. Afonso Henriques ficou ferido numa

perna.O Rei volta a Coimbra e espera melhor oportunidade. Nascem as infantas D.Teresa(1151) e D. Mafalda (1153). Em 1154 nasce o segundo filho legítimo e varão: ébaptisado com o nome de Martinho, por ter nascido no dia do santo. Mas no

ano seguinte morre o primogénito Henrique, que já tinha oito anos. É muitogrande o desgosto dos pais. O Rei percebe que Martinho poderá vir a ser oherdeiro da coroa: por isso muda-lhe o nome para Sancho, que é um nome

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militar: os mouros, depois de derrotados, não são passados à espada, masautorizados a partir, com suas famílias, para os férteis terrenos do Sado.D. Afonso Henriques fica radiante e recupera totalmente a fé na sua boaestrela. Está aberto o caminho para o Alentejo profundo. Évora e Beja estão àvista. E o prestígio do Rei português, já enorme pela conquista de Lisboa,aumenta de novo significativamente por ter tomado Alcácer «sem auxílioestranho»: nesta altura, no dizer de Alexandre Herculano, «a reputaçãomilitar de Afonso I excedia a de todos os príncipes da Espanha cristã, pelobrilho das vitórias e pela rapidez das conquistas».Era preciso agora não deixar arrefecer os ânimos não quebrar o ímpeto dos

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Era preciso, agora, não deixar arrefecer os ânimos, não quebrar o ímpeto dosportugueses, e explorar o medo que se tinha apoderado dos mouros: e,assim, D. Afonso Henriques determinou que se avançasse de imediato paraleste e para sul: Évora foi conquistada em Abril de 1159 e Beja em Dezembrodo mesmo ano.Todo o Alentejo estava nas mãos dos portugueses, quando D. AfonsoHenriques completou os 50 anos de idade. O território português aumentaramais de metade em relação ao que era há dez anos, e estava no dobro do queo jovem príncipe recebera de seus pais. Os muçulmanos haviam sidorechaçados para o Algarve: do Minho a Beja, a Reconquista Cristã triunfaratotalmente.D. Afonso Henriques estava mais forte e prestigiado do que nunca: era a

altura de lidar com a ameaça político-militar dos seus primos, os reis de Leãoe de Castela.Havia duas maneiras de conter as ambições expansionistas dos reis vizinhose rivais: uma era pela diplomacia, outra era pela guerra. D. AfonsoHenriques, cada vez mais político até à medula dos ossos, optou pela

primeira; só se ela falhasse é que lançaria mão da segunda.Ao proceder assim, o Rei português não teve sequer de pedir nada aos seuscongéneres hispânicos: foram eles que tomaram a iniciativa e surgiram comodemandantes.«A glória adquirida por Afonso I fazia naturalmente desejar a sua aliança aos

outros príncipes da Espanha cristã»: foi assim que logo no ano seguinte aoda conquista de Évora e Beja, ou seja, em 1160, D. Afonso Henriques foiprocurado pelo conde de Barcelona, Raimundo Berenguer, que queria casar

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de zonas de influência: os dois monarcas não só terão prometido respeitar asfronteiras então existentes entre os dois reinos, como terão assumido ocompromisso de demarcar os limites futuros dos respectivos Estados, o que,nas circunstâncias de então, significava a renúncia pelo Rei de Portugal àeventual pretensão de «levar as suas armas até ao coração da Andaluzia,tomando assim o passo às conquistas dos leoneses e castelhanos». Afronteira do Guadiana ficava esboçada como linha de separação entre os doispaíses: já por aí se entrevia que Elvas ia pertencer a Portugal, mas Badajozseria zona a conquistar pelo Rei de Leão.Este acordo de fronteiras celebrado em Cellanova viria mais tarde em

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Este acordo de fronteiras celebrado em Cellanova viria mais tarde, emBadajoz, a ser invocado pelos leoneses contra D. Afonso Henriques.A selar este importante tratado político - em que, como não podia deixar deser, ambas as partes cederam alguma coisa e ganharam outro tanto, numateia complexa de direitos e deveres recíprocos e entrecruzados -, os dois reisvizinhos firmaram um contrato de casamento: D. Afonso Henriquesconcedia a mão da sua filha mais velha, D. Urraca, então com 12 anos, aopróprio Rei de Leão e da Galiza, Fernando II.Era uma decisão arriscada da parte do monarca português, que com elaignorava a doutrina de não casar infantas portuguesas com príncipes damonarquia leonesa. Já acima tentei explicar as razões da sua atitude.Firmadas estas duas alianças estratégicas de bastante significado político, a

de Tui e a de Cellanova - que «eram um testemunho evidente da altareputação do Rei de Portugal, bem como da sua grande habilidadediplomática -, D. Afonso Henriques podia legitimammente desejar algunsanos de descanso, antes de se lançar no que devia ser a última fase do seuprojecto político: a conquista de Silves e, a partir daí, de todo o Algarve.

Mas estava escrito que não havia de ser assim. As coisas complicaram-se noAlentejo, e o monarca português foi obrigado pelos muçulmanos a defendere, nalguns casos, a recuperar as possessões anteriormente adquiridas - antesde poder pensar em novos avanços.Abriu-se então um período agitado da nossa história político-militar: cinco

anos loucos, de constantes correrias, de vitórias e derrotas, e - pela primeiravez - de confusão e indisciplina na cadeia de comando portuguesa.Tudo começou com uma grande ofensiva dos almóadas em 1161 no Alentejo.

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perna, e acabou-lha de quebrar de todo, de maneira que os seus nãopuderam mais alevantá-lo, nem Pô-lo a cavalo.Os soldados de D. Fernando II deitaram-lhe a mão e fizeram-no prisioneiro:e, no dizer expressivo de Carlos Selvagem, «o vencedor de S. Mamede,Cerneja e Ourique, o herói de Santarém, de Lisboa, de Alcácer, oconquistador da Galiza, foi levado a coxear, à tenda do seu genro, comoprisioneiro de guerra.O caçador caía caçado nos próprios laços que armara».Durante dois meses, oRei de Portugal esteve prisioneiro do Rei de Leão: o seu erro colossalcolocou-o à mercê do genro e, se Fernando II tivesse o chamado killerí i d i b d li id d D Af H i

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ínstinct, poderia ter acabado ali com a vida de D. Afonso Henriques ou coma sua liberdade e, de uma maneira ou doutra, teria posto ponto final noprojecto político de um Portugal independente.Mas Fernando II tinha «carácter generoso» e «nobreza de alma»; porventuraamava sua mulher, a rainha D. Urraca, e respeitava o sogro; sentia uma certaafinidade galaico-portuguesa; e, de qualquer modo, interessavam-lhe mais

os assuntos castelhanos do que os assuntos portugueses - quer dizer,preferia vir a ser rei de Leão e Castela, sonhando reunificá-las, a tornar-se reide Leão e Portugal. Por isso, não se aproveitou da vitória e, como seu pai,Afonso VII, deixou D. Afonso Henriques ser Rei de Portugal, a quem terádito: «Restitui-me o que me tiraste e guarda o teu reino. Estava-se em Junho

de 1169.A contrapartida exigida foi, por conseguinte, apenas uma obrigação derestituição - restituição, de um lado, dos condados de Límia e Toronho, naGaliza, e, de outro, das terras da Extremadura espanhola, na margemesquerda do Guadiana, designadamente Cáceres. As fronteiras acordadas no

pacto de Cellanova eram assim reconfirmadas: Portugal poderia expandir-separa o sul de Évora e de Beja, mas não para o leste do Guadiana. «E amiragem da Galiza» ficou para sempre desfeita. Consta ainda que D. AfonsoHenriques terá tido de pagar ao genro um resgate em espécie - 20 cavalos debatalha e 15 mulas carregadas de ouro.

Os cronistas supersticiosos acharam que o desastre de Badajoz foi umamaldição que caiu sobre D. Afonso Henriques por ter posto a ferros sua mãe,no final da batalha de S. Mamede: E este seu quebramento da perna foi

sempre atríbuído ao que sua mãe lhe rogou, quando a pôs em prísão: «D.Afonso, fílho, prendêste-me e deserdaste-me: a Deus peço que preso sejaisvós, e porque pusestes minhas pernas em ferros, com ferros sejam as vossasquebradas»; e depois aconteceu a este príncipe D. Afonso, sendo já Rei, quese lhe quebrou uma perna em saíndo pela porta de Badajoz, e foi preso de el-Rei D. Fernando de Leão, dizendo todos que isso lhe acontecera por lhoassim maldizer sua mãe.A vida política do nosso primeiro Rei não terminou com o desastre deBadajoz: mas D. Afonso Henriques ficou fisicamente inválido, teve de cessarpor completo a sua actividade militar, e viu-se de repente confrontado, aos60 d id d bl d ã té li

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60 anos de idade, com o problema da sua sucessão, em que até ali - ao queconsta - nunca tinha pensado.

Capítulo XXIIIA crise da sucessão

Em Junho de 1169, D. Afonso Henriques volta de Badajoz para Portugal,enfermo e prostrado, e vai tratar-se para as Caldas de Lafões, no actualdistrito de Viseu.Qual a natureza precisa da enfermidade que assim oafectava, não sabemos ao certo. Estaria apenas ferido num joelho, comodizem uns, ou teria partido a anca, como outros sugerem?

A fazer fé na crónica de Duarte Galvão, o Rei começou por partir a pernacontra o ferrolho da porta de Badajoz e, mais adiante, o cavalo, que ia ferido,caiu sobre a mesma perna «e acabou-lha de quebrar de todo». Deve,portanto, ter sido a anca que ficou desfeita, e a perna paralisada.A verdade é que o Rei de Portugal nunca mais foi o mesmo e não pôde

voltar a andar a pé ou a cavalo: tinha de ser transportado num carro, «emanda, ou em colo de homens».Pelas decisões que logo tomou a seguir, e mais tarde, podemos concluir queD. Afonso Henriques não ficou atingido nas suas faculdades mentais, nemna sua capacidade política: mas, aos 60 anos de idade, deve ter sido bem

penoso para um homem como ele saber que tinha passado a ser fisicamenteinválido. O vencedor de S. Mamede, de Santarém e de Lisboa não podiavoltar a conduzir pessoalmente a guerra, nem ao norte, nem ao sul.

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modo infamante: era a primeira vez que um comandante operacional doexército português era destituído como punição por uma derrota militar.Quem estaria disposto a substituí-lo, agora que, com a invalidez do Rei, todopeso das responsabilidades militares cairia directamente sobre o novoalferes-mor?Dos amigos e companheiros de D. Afonso Henriques, nenhum quis aceitarou foi julgado capaz de desempenhar bem o cargo.Por outro lado, o mais velho dos filhos legítimos do Rei, D. Sancho, tinhaapenas 15 anos: era impensável confiar-lhe, nessa idade, o comando doexército e a defesa do reino.Então D Afonso Henriques resolve recorrer ao seu filho mais velho embora

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Então D. Afonso Henriques resolve recorrer ao seu filho mais velho, embora

ilegítimo - Fernando Afonso, nascido de Flâmula Gomes em 1140, e quetinha agora 29 anos de idade. Era de sangue real, merecia toda a confiançado pai, gozava do respeito da nobreza por ser quem era, e já devia por certoter dado provas de ser bom cavaleiro e destro nas armas, nomeadamente nasconquistas do Alentejo.

Sua mãe, Flâmula Gomes, 12 anos depois da morte da raínha D. Mafalda,terá tido alguma influência nesta escolha? É possível, se o Rei tivesse voltadoentretanto ao seu primeiro e grande amor.O facto é que, pela simples diferença de idades, D. Afonso Henriques nãopodia hesitar entre Fernando Afonso (quase nos 30, um homem feito) e

Sancho (15 anos apenas, um jovem adolescente).Fernando Afonso foi, pois, nomeado alferes-mor do reino, em Setembro de1169.Nota: Todas as datas de nomeações e exonerações de altos cargos militaresna corte portuguesa que mencionar daqui em diante foram-me confirmadas,

em carta de 27-2-99, do Sr. Prof. Doutor José Mattoso, que muitoreconhecidamente agradeço.O facto, que acabou por não ter grande significado militar - pois não houvenenhum combate efectivo enquanto durou a comissão de serviço -, veio a terimportantes consequências políticas.

Desde Alexandre Herculano até há poucos anos, ninguém detectou nosdocumentos da época qualquer sintoma de uma crise de sucessão em relaçãoao primeiro Rei de Portugal.

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união ilegítima cingisse a coroa de Portugal.Se é verdade que a Igreja ajudou muito - e decisivamente a independência doreino, não é menos verdade que também condicionou bastante - e mais deuma vez - as grandes opções do Rei de Portugal.Decerto em consequência da pressão irresistível da Igreja, em Setembro de1172 a situação finalmente clarifica-se, como se vê do documento em que oRei faz doação do Castelo e Vila de Monsanto (em Idanha-a-Nova, distritode Castelo Branco) à ordem de Santiago.Este documento é importante a mais de um título: primeiro, porque constituiprova de que na luta de influências entre a Ordem dos Templários e aOrdem de Santiago, esta começou a levar a melhor: com efeito, Monsanto

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g , ç ,

havia sido anteriormente doada pelo Rei aos Templários e, agora, é-lhesretirada e concedida à Ordem de Santiago; segundo, porque entre osconfirmantes do documento figuram o Rei Afonso, o filho Sancho e a filhaTeresa - dizendo-se desta que deverá ser obedecida «se vier a ter o meureino», o que significa que D. Afonso Henriques admitiu, neste documento,

que a filha (e não qualquer dos filhos) lhe viesse a suceder no trono; terceiro,porque é esta a primeira vez, desde há três anos, que Fernando Afonso nãofigura como alferes-mor do Rei, mas apenas como sígnifer (alferes) de D.Sancho.Isto quer dizer que Fernando Afonso perdeu a luta pela sucessão - e que esta

está agora, após três anos de indefinição, a ser encaminhada, de acordo coma posição da Igreja, para os únicos dois filhos legítimos do Rei, D. Sancho(com 18 anos) e D. Teresa (com 21).A autoridade régia e paternal de D. Afonso Henriques fez sentir todo o seupeso, não só enquanto arbitrou o conflito em favor da linha legítima da

sucessão, mas também na medida em que impôs a Fernando Afonso osacrifício supremo de aceitar ser despromovido de alferes-mor do reino parasígnifer do príncipe D. Sancho, seu irmão mais novo. Esta decisão não podedeixar de ter tido para o filho mais velho um carácter humilhante, e por issoa nova posição que lhe foi destinada durou pouco: algum tempo depois saiu

para Espanha e, mais tarde - já lançado na alta política internacional -, teráchegado a grão-mestre da Ordem do Hospital de S. João de Jerusalém(posteriormente designada Ordem de Malta).

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Sevilha.D. Sancho era agora, como se dizia em França, o dux exercitus e, mais ainda,o rex designatus.Todo o esquema arquitectado por D. Afonso Henriques desde a derrota deBadajoz - incluindo a escolha de um continuador e a resolução da luta pelasucessão - resultou em cheio: o monarca português, depois de cair

fisicamente inválido, conseguira, numa década - e como diríamos hoje -, dara volta por cima.

Capítulo XXIVOs anos do fim

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O período de cinco anos de tréguas decorrido entre 1173 e 1178, em que D.Afonso Henriques passou dos 64 aos 69 anos de idade, não foi um períodode inacção política, apesar da inactividade física: resolvida a crise dasucessão, o Rei de Portugal ocupou-se intensamente da política externa e da

administração interna do reino.Antes de mais, a política externa: D. João Peculiar, arcebispo de Braga,morreu em 1175. Foi um rude golpe para o monarca português - falecera oseu maior amigo e conselheiro político desde que a morte levara, há quase 30anos, Egas Moniz. A D. João Peculiar coube, entre várias outras coisas,

executar a política externa portuguesa, nomeadamente no plano das relaçõescom a Santa Sé: até ao fim, ele batalhou sem cessar pelo reconhecimentoexpresso e formal da realeza de D. Afonso Henriques e da independênciaplena do reino de Portugal. Deixou tudo bastante adiantado. Mas, agora queo Rei se submetera às condições da Igreja na designação do seu príncipe

herdeiro, era a altura de aumentar a pressão sobre Roma. O novo arcebispode Braga - D. Godinho, que tomou posse em 1176 - foi incumbido dessamissão e foi a Roma logo em 1177, tendo recebido instruções para aumentarsignificativamente (quadruplicar) o montante do tributo anual que Portugalestaria disposto a pagar à Santa Sé: dois marcos, em vez de quatro onças de

ouro.No campo da administração interna do reino, D. Afonso Henriquescontinuou a cuidar da situação das minorias estrangeiras, que desejava

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reconheceu-lhe a independência do reino, e alargou aos herdeiros domonarca português os direitos sobre os territórios conquistados ou aconquistar aos mouros, com exclusão de eventuais pretensões alheias sobreas mesmas terras.Não foi este, como alguns têm pensado, o momento em que Portugal setornou independente: como disse, a independência já vinha de 1143-44, do

acto de vassalagem ao Papa e da sua (implícita) aceitação pela bulaDevotionem tuam. Mas o que então fora apenas implícito tornava-se agorabem explícito; o que fora marcado pela prudência diplomática transformava-se em proclamação política; e o que havia 35 anos visara apenas a condiçãosubjectiva do chefe dos Portugueses face ao Imperador de Leão alargava-se

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agora à situação objectiva de Portugal na Península Ibérica, e tanto para oreinado do nosso primeiro Rei como para todos os seus sucessores.A Manifestis probatum não atribuíu a independência a Portugal, pois essaestava há muito conquistada «de facto» e unilateralmente declarada: masreconheceu «de jure» essa independência, no presente e para o futuro,

perante os Portugueses e perante terceiros. Não foi um acto fundamental deconcessão, mas foi uma importante declaração, de carácter pessoal,patrimonial e sucessório, dotada de relevantes efeitos jurídicos e políticos.Estava confirmada, ampliada e consolidada a Devotionem tuam. Romadissera a última palavra.

Tal documento - que ninguém contestou (ao que se sabe) do lado leonês oucastelhano - deve ter sido recebido com a maior alegria, gratidão e legítimoorgulho por D. Afonso Henriques: era o mais alto prémio a que podiaaspirar, e bem merecido por uma longa vida de acertada estratégia política ecorajosa actividade militar, aliás francamente bem sucedida.

Alguns sacrifícios, pessoais e financeiros, tinham sido necessários para obterda Santa Sé o reconhecimento oficial tão desejado: mas, para um ilustrecavaleiro medieval, que importavam o amor e o dinheiro perante os valoresmais altos da independência do reino e da Reconquista cristã?Com uma família bastante reduzida, e com os grandes amigos e

companheiros já quase todos falecidos, D. Afonso Henriques, retido no leitomas inteiramente lúcido, deve ter festejado os seus 70 anos em plena glória ecompleto júbilo - na companhia dos dois únicos filhos que restavam junto de

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Borgonha).

Regressada à Flandres, Teresa, ou Mahaut, reina com grande firmeza e à-vontade e, apesar de rainha-viúva, afirma-se como estadista consumadadurante quase 20 anos. Morre em 1216, da queda de um cavalo.D. Afonso Henriques, para sempre privado da filha predilecta, não chegoununca a saber como decorreu a vida dela no coração da Europa: mas, se o

soubesse, teria ficado orgulhoso de Teresa - que sobretudo como condessa-viúva da Flandres se revelou, na paz e na guerra, durante duas décadas,como uma grande mulher. Deixou tal fama atrás de si que ainda hoje, naprocissão do Santo Sangue de Cristo, levada a efeito todos os anos, em Maio,na cidade de Bruges, aparece sempre a cavalo, com o brasão e as Quinas de

P t l b fi d d M h t fi d

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Portugal, a nobre figura da «condessa Mahaut» - como ficou sendoconhecida naquelas paragens. Tal como a do pai, a sua fama chegou aos diasde hoje, lá onde viveu e deixou a sua marca.No ano de 1185, Portugal vivia em paz. A sua independência política estavareconhecida. O príncipe herdeiro achava-se designado, e já comandava com

êxito o exército. A única filha solteira do Rei que havia sobrevivido estavacasada, e bem casada, no centro nevrálgico da Europa. As relações com aIgreja portuguesa e com Roma não podiam ser melhores. O arcebispo deSantiago e o Rei de Leão e Castela respeitavam as fronteiras de Portugal eajudavam-no a combater o «infiel». Os muçulmanos estavam derrotados e

desmoralizados. Portugal estendia-se do rio Minho até Beja e mais do queduplicara em dimensão. A chefia militar do reino estava garantida e já foracomprovada na luta e engrandecida na vitória. Aos 76 anos de idade, oprimeiro Rei de Portugal podia, enfim, morrer descansado e sem receio dofuturo.

D. Afonso Henriques faleceu em 6 de Dezembro de 1185,' em Coimbra.Aí se encontra sepultado, na Igreja de Santa Cruz, no mesmo túmulo em queo acompanha sua mulher, a rainha D. Mafalda.No túmulo em frente desse, do lado oposto da capela-mor, repousam osrestos mortais de D. Sancho I, filho de ambos, que, assegurou a continuidade

do reino e transmitiu às futuras gerações o legado político de seu pai.

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construção da Sé Velha, Coimbra

1141 (32) - Recontro de Arcos de Valdevez, Os mouros recuperam Leiria1142(33) - Tentativa frustrada de conquista de Lisboa1143(34) - Conferência de Zamora, Acto de vassalagem ao Papa1144(35) - Bula papal Devotionem tuam1145(36) - Reconquista de Leiria

1146(37) - Casamento com D. Mafalda de Sabóia, Morte de Egas Moniz1147(38) - Tomada de Santarém, Tomada de Lisboa, Rendição de Sintra,Almada e Palmela, Fundação do Mosteiro de S. Vicente de Fora, em Lisboa,Nasce o infante D. Henrique1148(39)- Nasce a infanta D. Urraca

1151 (42)- Nasce a infanta D. Teresa, Primeira tentativa de tomada de Alcácerd S l

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( )do Sal1153 (44)- Nasce a infanta D. Mafalda, Fundação da Abadia de Alcobaça1154(45) - Nasce o infante D. Sancho1155 (46)- Morre o infante D. Henrique

1156(47) - Nasce o infante D. João, Afonso VII trata de igual para igual comD. Afonso Henriques1157 (48) - Morre o Imperador Afonso VII, Morre a rainha D. Mafalda,Nasce a infanta D. Sancha, Segunda tentativa de tomada de Alcácer do Sal1158(49) - Tomada de Alcácer do Sal, Acordo de Sahagun

1159(50) - Tomada de Évora e Beja1160(51) - Pactos de Tui e Cellanova1161 (52) - Perda de Alcácer do Sal, Évora e Beja1162(53) - Reconquista de Beja1165 (56) - Reconquista de Évora

1166(57) - Tomada de Serpa e de Moura1167 (58) - Tomada de Monsaraz1169(60)- Derrota de Badajoz, Prisão e libertação de D. Afonso Henriques,Fernando Afonso é nomeado alferes-mor, Concessão de terras no Alentejoaos Templários

1170(61)- D. Sancho é armado cavaleiro pelo pai, em Coimbra, D. AfonsoHenriques toma medidas de protecção em relação aos mouros de Lisboa earredores

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