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Nº 6 Out 2013 Boletim A Associação Alzheimer Açores - alza assinalou o Dia Mundial da Pessoa com doença de Alzheimer (DA) a 21 de Setembro. O calendário continuou a tarefa de marcar os dias e quase nem demos pelo tempo passar, com iniciati- vas tão marcantes para implementar. Assim, importa destacar a Exposição Fotográfica Lembra-me quem Sou, o Mural Solidário e o Jantar de convívio e partilha que envolveu clientes, cuida- dores, parceiros e colaboradores. Trabalhámos no sentido de dinamizar as actividades da alza e o facebook ultrapassou os setecentos e cinquenta gostos, destacando-se a dinamização de Posts sobre o cuidado à Pessoa com DA. Outro eixo de actuação foi a realização de três mini- -filmes, direccionados para televisão e facebook. Também, acreditando que actividades úteis e efica- zes necessitam de mecanismos e ferramentas ade- quadas, a Direcção da alza desenvolveu reuniões com a ACEESA. De resto, foram aceites mais regalias sociais para associados, famílias e colaboradores da alza, fruto de protocolos estabelecidos com a Habicuidados e a Lavandaria Paim. Certamente, as iniciativas ajudaram o calendário a passar, folha a folha, tão depressa, com a certeza de que o trabalho, esforço e convicção foram decisivos no respeitar e aceitar a diversidade para unir pes- soas e abarcar mudanças. Cada vez mais, todos temos que nos adaptar às necessidades da comunidade, encorajando a inova- ção. Neste sentido, Confúcio assegura: ”Se queres conhecer o passado, examina o presente que é resultado; se queres conhecer o futuro, exa- mina o presente que é a causa.” Berta Cabral do Couto Presidente da alza 1 Sumário Nota Editorial...................................................... pg. 1 Entrevista···························································· pg. 2 Notícias da alza ·················································· pg. 4 Retrospectiva······················································ pg. 4 Nós e o Tempo···················································· pg. 5 Vivendo com a Musicoterapia ···························· pg. 6 Um novo olharSegurança em casa ················· pg. 7 Livros em destaque ············································ pg. 8 Notas Breves······················································· pg. 8 Passatempo ························································ pg. 8 alza Lembra-me quem Sou Clientes do Centro de Dia da alza Nota Editorial

Boletim da Associação Alzheimer Açores n º6 out2013

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Boletim semestral da Associação Alzheimer Açores

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Page 1: Boletim da Associação Alzheimer Açores n º6 out2013

Nº 6 Out 2013

Boletim

A Associação Alzheimer Açores - alza assinalou o Dia Mundial da Pessoa com doença de Alzheimer (DA) a 21 de Setembro.

O calendário continuou a tarefa de marcar os dias e quase nem demos pelo tempo passar, com iniciati-vas tão marcantes para implementar.

Assim, importa destacar a Exposição Fotográfica Lembra-me quem Sou, o Mural Solidário e o Jantar de convívio e partilha que envolveu clientes, cuida-dores, parceiros e colaboradores.

Trabalhámos no sentido de dinamizar as actividades da alza e o facebook ultrapassou os setecentos e cinquenta gostos, destacando-se a dinamização de Posts sobre o cuidado à Pessoa com DA.

Outro eixo de actuação foi a realização de três mini- -filmes, direccionados para televisão e facebook.

Também, acreditando que actividades úteis e efica-zes necessitam de mecanismos e ferramentas ade-quadas, a Direcção da alza desenvolveu reuniões com a ACEESA.

De resto, foram aceites mais regalias sociais para associados, famílias e colaboradores da alza, fruto de protocolos estabelecidos com a Habicuidados e a Lavandaria Paim.

Certamente, as iniciativas ajudaram o calendário a passar, folha a folha, tão depressa, com a certeza de que o trabalho, esforço e convicção foram decisivos no respeitar e aceitar a diversidade para unir pes-soas e abarcar mudanças.

Cada vez mais, todos temos que nos adaptar às necessidades da comunidade, encorajando a inova-ção.

Neste sentido, Confúcio assegura:

”Se queres conhecer o passado, examina o presente que é resultado; se queres conhecer o futuro, exa-mina o presente que é a causa.”

Berta Cabral do Couto Presidente da alza

1

Sumário Nota Editorial...................................................... pg. 1

Entrevista ···························································· pg. 2 Notícias da alza ·················································· pg. 4

Retrospectiva ······················································ pg. 4

Nós e o Tempo···················································· pg. 5

Vivendo com a Musicoterapia ···························· pg. 6

Um novo olhar—Segurança em casa ················· pg. 7

Livros em destaque ············································ pg. 8 Notas Breves ······················································· pg. 8

Passatempo ························································ pg. 8

alza

Lembra-me quem Sou Clientes do Centro de Dia da alza

Nota Editorial

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Entrevista

Maria João Quintela é médica da carreira de Clinica Geral Medicina Familiar, com o

grau de Consultora. É Consultora da Direcção-Geral da Saúde, Vice-presidente da

Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia, Presidente da Associação Portu-

guesa de Psicogerontologia e Vogal da Direcção da União Distrital das IPSS—Lisboa,

da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima e da Federação das Instituições de Ter-

ceira Idade.

Tem o Mestrado de Gerontologia da Universidade de Ciências Sociais e Políticas de

Grenoble (França) e a Competência em Gestão dos Serviços de Saúde pela Ordem dos

Médicos.

Da coordenação, desenvolvimento e lançamento de programas e projectos nacionais

dirigidos à população idosa, destaca-se o dos conceitos de “Envelhecimento Activo” e

de “Cidades Amigas das pessoas Idosas” da Direcção Geral de Saúde e Organização

Mundial de Saúde. Da sua actividade profissional sobressai ainda o leccionamento do

Mestrado em Gerontologia Social, como professora convidada da Universidade Lusófo-

na. Prefaciou o “Manual de Envelhecimento Activo”. Foi–lhe atribuído o Prémio

«Nunes Correia Verdades de Faria» pelos trabalhos desenvolvidos na área do enve-

lhecimento e das pessoas idosas.

soas idosas, reformados, pensionistas, peso social e solidariedade entre as gerações, está instalada, pecando por redutora e injusta, com base em crité-rios arbitrários quase exclusivamente baseados no factor idade. O trabalho pela dignificação, respeito e valor dos mais velhos portugueses, por que muitos têm lutado nos últimos trinta anos, é hoje mais do que nunca uma emergência diária.

Que mais-valias estão associadas à idade avança-da?

As pessoas mais velhas são, em geral, mais expe-rientes, constituem a memória histórica e cultural das gerações e das sociedades, viajam, contribuem para as economias locais e regionais, cuidam dos netos e contribuem para a economia mais ou menos sustentável das famílias e participam com milhões de horas de trabalho para as comunidades.

No geral, as pessoas estão bem informadas sobre os problemas inerentes à idade avançada? Que conselhos daria a quem está, hoje, na faixa etária dos 50 aos 65 anos?

Ande a pé, beba mais água, coma mais fruta, vege-tais e peixe, faça atividade física regular, vá periodi-camente ao médico, cuide da sua saúde oral, visão e audição e vigie a sua tensão arterial, colesterol e glicémia. Cuide da sua saúde mental, não abuse das bebidas alcoólicas, não fume e não consuma subs-tâncias que interfiram na sua capacidade de deci-são. Previna os acidentes e as quedas e mantenha uma actividade participativa social, conviva, mante-nha ou crie novas amizades e cuide da sua família para que ela um dia queira cuidar de si.

No seu entender, quais as diferenças mais relevan-tes entre os idosos de há cerca de 20 anos e os ido-sos de hoje em dia?

As pessoas idosas de hoje estão mais informadas, vivem mais tempo com saúde e sem incapacidade, estão mais conscientes dos seus direitos como pes-soas, têm um papel de suporte familiar crescente e constituem redes de solidariedade e voluntariado imprescindíveis. São pilares sociais estruturais.

Como se envelhece, hoje, em Portugal?

No quadro português as pessoas idosas, nos últimos 20 anos, foram tendo uma visibilidade crescente, não só por si próprias, pelos dados demográficos em número como também pelo desenvolvimento de uma maior consciência social da sua importância, fruto do trabalho de múltiplas Instituições não governamen-tais, Universidades e alguns sectores da Saúde, Segu-rança Social, forças de Segurança, Media, entre outros.

Não obstante, conhecemos hoje mais realidades de que são vítimas as pessoas idosas, de mau trato e abuso, negligência e violência em muitas situações, de carácter psicológico, físico e financeiro, perpetra-dos por múltiplos agentes, habitualmente próximos conviventes ou prestadores de cuidados.

Quais os novos desafios com que se confrontam as pessoas idosas?

As pessoas idosas hoje em dia, fruto de um ambiente social e conjuntural mais adverso, estão mais vulne-ráveis à pobreza, à exclusão, à discriminação e ao desemprego. Cada vez se assiste mais à situação paradoxal de “novos demais para se reformar e velhos demais para trabalhar”. A confusão entre pes-

Dra. Maria João Quintela

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Desde quando se deve preparar a “velhice”?

Eu penso que o termo velhice tem significados dife-rentes consoante a época em que se considere. No meu entender eu não gostaria de falar de velhice como época de vida. O envelhecimento e a longevi-dade, deverão ser considerados como oportunidades para o desenvolvimento, empowerment, cidadania participativa, envelhecimento ativo. Não me parece que o termo velhice esteja hoje em dia adequado às novas gerações de pessoas idosas e ao respeito social que é desejável que não se perca quando a doença ou vulnerabilidade surge. E isso pode surgir em qualquer idade.

Quais as linhas de orientação por que se devem guiar os serviços que prestam apoio às pessoas de idade mais avançada, por muitos designada por “quarta idade”?

Competência, Respeito pela Individualidade, Integri-dade, Privacidade, Vontade própria e Participação, Informação e Apoio dos familiares ou mais diretos prestadores de cuidados. Intervenção multidiscipli-nar integrada e em rede, com prioridade à proximi-dade e à manutenção da pessoa no seu meio habi-tual de vida.

Como caracteriza os conceitos de geriatria e geron-tologia?

Geriatria é a especialidade médica que se ocupa da pessoa mais velha, doente. Ocupa-se da especifici-dade da apresentação das doenças num quadro de envelhecimento humano, individual e no seu contex-to socio familiar e ambiental. A geriatria é uma especialidade multi e interdisciplinar e de interven-ção cada vez mais preventiva e promotora da saúde ao longo da vida.

Gerontologia é a ciência que estuda o envelhecimen-to humano individual e demográfico, em todas as suas dimensões, sociais, económicas, geográficas, antropológicas, históricas, éticas, de saúde, cultu-rais, sociológicas, num contexto de múltiplos deter-minantes sociais, individuais e ambientais. A Geron-tologia é por inerência multidisciplinar e interdisci-plinar, sendo cada vez mais complementada pela investigação e por novas dimensões científicas.

Quais as informações relevantes a veicular à pes-soa que enfrenta um diagnóstico de DA? Ou de um familiar/pessoa significativa?

Não cuide sozinho. Informe-se junto da Associação de Alzheimer, conheça as ajudas familiares e perto

de si disponíveis. Peça e aceite ajuda psicológica ou outra, antes de se deprimir ou chegar à exaustão.

Em sua opinião, que vantagens advêm de um diag-nóstico precoce de doença de Alzheimer?

Uma melhor preparação da pessoa e dos seus fami-liares para uma estratégia de cuidados e apoio de longa duração.

Uma maior possibilidade de interferir do ponto de vista preventivo ou retardador de uma evolução mais rápida e dramática.

E quais os actores que intervêm no conhecimento do diagnóstico por parte da pessoa com DA?

A própria pessoa, a relação médico doente, a partici-pação e existência ou disponibilidade e capacidade relativa da família, os profissionais, voluntários e comunidade e os respetivos conhecimentos que têm sobre a doença e como agir.

Segundo a sua experiência, quais as atitudes mais indicadas no contacto com a pessoa com doença de Alzheimer?

Uma atitude respeitosa, carinhosa, cuidadosa, paciente, competente, positiva, estimuladora, capa-citadora, reabilitadora, preventiva e terapêutica. A pessoa com DA pode ter outras doenças, uma pneu-monia, uma doença cardio vascular, dores articula-res….É necessária uma visão e avaliação global, mul-tidisciplinar e interdisciplinar para um plano perso-nalizado de cuidados, apoio e intervenções dos múl-tiplos atores.

Quais as maiores dificuldades por que passam os familiares/cuidadores de pessoas com doença de Alzheimer?

Isolamento, solidão, depressão, exaustão, poucos contactos sociais, muitas horas seguidas de cuida-dos, insónia, pouca compreensão e aceitação pelos outros, alimentação deficiente, quebra da autoesti-ma e autonegligência ou impossibilidade de cuidar da sua própria saúde. Frequentemente adoecem e podem ficar incapazes de cuidar e de se cuidar.

Como visualiza a estimulação e reabilitação no pro-cesso evolutivo da DA?

Como para qualquer outra situação de deficiência ou incapacidade progressiva. Prevenir, cuidar, esti-mular, mobilizar, confortar, hidratar, apoiar, alimen-tar e respeitar até ao fim.

* Entrevista segundo o Novo Acordo Ortográfico

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Notícias da alza

Lembra-me quem Sou

Para assinalar o Dia da Pessoa com Alzheimer, a alza dinamizou a exposi-ção de fotografia Lembra-me quem Sou, interligando o passado e o pre-sente dos clientes do Centro de Dia. Esta exposição, com 10 fotografias de Andreia Luís, esteve patente de 19 a 29 de Setembro no C. C. Parque Atlântico.

Mural solidário

Para assinalar o Dia da Pessoa com Alzheimer a alza criou um Painel Solidário interactivo no C. C. Parque Atlântico, convidando os transeun-tes a partilhar uma memória.

Esta iniciativa pretendeu alertar, informar e sensibilizar para a doen-ça de Alzheimer.

2 – Fundação da Associação Alzheimer Açores –alza

(Continuação de Boletim n. º3)

“ O que eu sou é o que me faz viver…”

Perante os desafios colocados pela APFADA - Asso-ciação Portuguesa dos Familiares e Amigos dos Doentes de Alzheimer, hoje denominada Alzheimer Portugal e os Serviços da Secretaria Regional dos Assuntos Sociais, a Delegação da APFADA recém-criada nos Açores, foi confrontada com a necessida-de de se constituir como Associação de cariz regio-nal, com personalidade jurídica e autonomia, de modo a dar uma resposta social mais específica nos Açores.

Assim, para o efeito, no dia 30 de Junho de 2006, em reunião extraordinária da Assembleia-geral, foi constituída uma Comissão Instaladora.

Sem subestimar o interesse e a vontade da APFADA em dinamizar nos Açores, à semelhança da Madeira, o trabalho e conhecimento experienciados há mais de uma década no todo nacional, foi mais forte a determinação dos associados, ancorados no com-promisso do apoio por parte da Secretaria da tutela.

Assim, considerados e reconhecidos os apoios trans-mitidos e estabelecidos com a APFADA, o rumo foi o traçado e os esforços multiplicaram-se, seguindo as etapas programadas, para além das diligências efec-

tuadas junto dos Serviços da Direcção Regional da Solidariedade e Segurança Social, o principal parcei-ro na área económico-financeira.

Por conseguinte, após a constituição da Comissão Instaladora por Berta Cabral do Couto, Ana Tavares Simas, José Medeiros Carvalho, Luís Alberto Macha-do e João Ângelo Vasconcelos, foi possível elaborar os Estatutos e o Regulamento Interno e realizar a escritura pública no dia 18 de Outubro de 2006.

Deste modo, a finalidade primeira consistiu em pro-mover a divulgação da identidade social da associa-ção, tendo em vista a promoção global do seu papel activo na comunidade.

Retrospectiva

Berta Cabral do Couto Presidente da alza

Uma experiência de intervenção na comunidade

A Presidente da alza, Dra. Berta Cabral do Couto, participou no V Con-gresso Envelhecimento(s): A arte de viver na UAç com a apresentação “Associação Alzheimer Açores. Uma experiência de intervenção na comuni-dade”.

Apresentação da Presidente no V Congresso da UAç Envelhecimento(s)

Mural Solidário

Exposição de fotografia

Comissão Instaladora da alza

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Nós e o tempo

Ai a vida! A vida. Sei lá o que é a vida. É certamente um breve instante, o instante vivido no momento presente, de que falámos no número anterior (Em nós e o tempo).

A vida é um instante cósmico misterioso, muito estudado e pouco conhecido. Um pequeníssimo microcosmo que se junta ao nosso tempo e de que nos apercebemos que somos a partir dele, no puro presente, afinal a única dimensão em que se vive. Só se compreende a vida quan-do se visita o passado embora esta deva ser vivida olhan-do para a frente, para alguma coisa que não existe (Kierkegaard).

Esta vida do futuro é a que perspectivamos com esperan-ça, felicidade e alegria que desejamos para nós mas que sempre deveríamos compartilhar com os outros.

Quer seja passado, presente ou futuro, o tempo abarca a vida. Destes períodos, o presente tem uma preponderân-cia constante a cada instante que passa.

Reconhece-a albergando-a e amando-a como o teu tem-po, este tempo constante embora como um presente (dádiva) que te habita.

A vida é nascer, é morrer, é rir, é chorar, é amar, estar triste ou alegre. Estes comportamentos só se vivem num presente. Não são vividos conjuntamente. Vive-se um de cada vez. Questiona-a mas pouco. A única resposta que te poderá dar é a de que existes. Ou podemos até colabo-rar sem a questionar porque afinal não sabemos que é só a ela que devemos.

A certeza de que ela te compensou nunca saberás, mas basta que encontres um sentimento de satisfação para que reconheças agrado para com ela.

A vida, como disse Óscar Wilde, é muito importante para ser levada a sério. Insisto na ideia de que devemos olhá-la como algo que se pode transmitir aos que procuram ensinamentos para enriquecer as respostas procuradas para amenizar forças e fraquezas e façamos dela um objectivo, algo que possamos deixar aos que queiram melhorar o seu dia-a-dia e o dos que os rodeiam.

“Vive-a intensamente”. Bonito…, não é? Sim, mas enquanto o teu corpo te disser que há vida dentro dele. Aproveita-a como o lugar da tua residência. Se esta não for ocupada como ele deseja, isto é, com o que ela te ofe-recer, serás abandonado. Sentirás isso ainda que de for-ma vagarosa.

Mesmo quem teve uma vida em cheio, alguém que viveu intensamente, chega a altura em que a velhice é solitária.

Porque envelhecer é, para além da actividade física e intelectual perder muitos factores que assistiram até esse estado etário.

Na vida é fundamental, sermos um do outro. Ela e eu sentimos que fazemos parte um do outro. E assim senti-mos que fazemos parte dela, reconhecendo a sua presen-ça em nós. Isto significa cuidar dela como um bem cons-tante que nos foi outorgado e estabelecendo uma rela-

ção de respeito para com essa dádiva, até que perdure e para a qual muito depende de nós próprios. As dádivas, seja qual for a sua origem, têm que ser obrigatoriamente acarinhadas. Isto significa que devemos partilhar daquilo que a cada instante, no tempo, a vida nos oferece.

Ouvimos o lugar comum “a vida é bela”. E é, apesar de muitos contratempos vividos de vez em quando, para já não referir os momentos de grande felicidade com que ela nos gratifica e que demoramos a reconhecer, esque-cendo a sua magnitude.

Assim, impõe-se ouvi-la, dando-lhe esta oportunidade através de momentos de silêncio, de meditação e de ora-ção, ou interrogan-do-a do mesmo modo, para que ela, a vida e nós, nos sintamos um ao outro vivendo esses momentos e reco-nhecendo os seus benefícios.

Procure-se de forma constante dar senti-do à vida, isto é, viva-se experiências para que a sintamos. Com isto muda–se muito. Basta olhar para o que fizemos, o que fazemos e o que queremos fazer.

Muda-se porque começa a existir uma forma diferente de continuarmos a ser o mesmo, por exemplo, não ver como dantes, verificar o enrugar natural da pele, reavaliar a capacidade física. Associemos estas mudanças à nossa escala de valores. Esta muda constantemente com a evo-lução social e é certo que essa escala tem que mudar.

Se o nosso estado mental nos proporciona a capacidade de apreciar esta maravilha que é a vida, torna-se imperio-so que a vivamos intensamente. Para muitos pode não ser suficiente, mas o estado mental é o elemento mais forte para nos conduzir a uma realização total.

Na trajectória de um estado mental saudável nas nossas vidas, poderemos avaliar nas suas consequências o que possuímos, mudamos e valorizamos. Ao fazê-lo teremos indicadores representativos da vida que fomos vivendo. O que somos, quem somos.

É fundamental compreender a vida por aquilo que a limi-ta; o que ainda podia ser feito se muitos contratempos não trouxessem obstáculos (barreiras) para melhores vivências imaginadas como desejáveis.“. Falámos da vida. Da morte falaremos no próximo número.

“O perto é vivo,/ o longe é morto./a morte é na distância/ em nós, a vida.” Teixeira de Pascoaes

Mariano Alves Vogal da Assembleia Geral da alza

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Estimulação e Reabilitação

Vivendo com a Musicoterapia

Nos últimos anos tem-se verificado um interesse crescente na intervenção em musicoterapia, na rea-bilitação neurológica de pessoas com lesões cere-brais traumáticas, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e perturbações crónicas neurodegenerativas.

A realização de actividades musicais no processo terapêutico da pessoa com DA promove, então, o resgate da identidade, a estimulação das capacida-des reminiscentes, as habilidades perceptivas, cog-nitivas, motoras e funcionais, a organização do quo-tidiano e, por conseguinte, a manutenção da auto-nomia.

Todo o trabalho musicoterapêutico tem por base princípios psicoterapêuticos, actuando directamen-te em aspectos da relação e comunicação, da perso-nalidade, das necessidades emocionais e psicosso-ciais, com a diferença de utilizar a música como veí-culo para a mudança terapêutica.

Tal como é recorrente em todos os processos tera-pêuticos, as sessões de musicoterapia ocorrem de forma estruturada, com uma periodicidade semanal regular, concretizando os objectivos terapêuticos previamente delineados numa primeira avaliação musicoterapêutica. As sessões são, maioritariamen-te, de carácter individual, realizadas num ambiente calmo e confortável, minimizadas possíveis distrac-ções externas, dificultadoras da interacção.

Assim, em relação aos materiais, é necessária a dis-ponibilização de instrumentos musicais diversifica-dos, potenciadores de um envolvimento sonoro dinâmico e também da experimentação sensorial, promotora de competências de psicomotricidade fina. Da sala de Musicoterapia deverão ainda cons-tar instrumentos acompanhadores, como é o caso do piano e da guitarra, destinados a acompanhar musicalmente o cliente. É também útil a presença de pequenos instrumentos de percussão, como o tambor, a pandeireta, o triângulo e os pratos, os quais, por serem de fácil domínio psicomotor, per-mitem o envolvimento activo na produção musical. Assim, numa mesma sessão, com duração aproxi-mada de quarenta e cinco minutos, podem surgir actividades com objectivos distintos:

uma improvisação musical partilhada ao piano estimula a criatividade, melhora a capacidade de imitação de pequenos padrões melódico-rítmicos e auxilia a coordenação óculo-manual, bem como, permite a expressão de conteúdos emocionais. A música é favorável à expressão emocional, ao nível

da comunicação verbal e não-verbal, com a constru-ção de letras de canções alusivas a sentimentos;

a entoação de uma canção, com a qual o cliente se identifique, apoia a recuperação de memórias de vida e melhora a organização da linguagem e fluên-cia do discurso e a exploração do seu significado promove a organização do pensamento;

a proposta de actividades de música e movimento mantém ou melhora a coordenação motora e a capacidade de dissociação através da expressão cor-poral que ocorrem aquando da audição de música gravada e previamente seleccionada, de acordo com as características musicais adequadas aos movimen-tos corporais a realizar;

a utilização de canções adaptadas auxilia a com-preensão de indicações verbais, promovendo a organização do quotidiano. Por exemplo, se a pes-soa com DA se encontra num estádio caracterizado por dificuldades na compreensão de conceitos bási-cos, as canções adaptadas podem mencionar como parte integrante do texto: conteúdos alimentares, necessidades básicas (estou com fome, sede ou sono) ou estados de espírito (alegre, triste). A sua repetição com regularidade, leva à compreensão do significado das palavras.

Para que esta terapia complementar tenha uma efi-cácia comprovada, deverão criar-se registos escritos e/ou audiovisuais da participação nas sessões, para a realização de avaliações semestrais ou anuais periódicas.

O musicoterapeuta e todos os outros profissionais de saúde dão o seu contributo específico para a rea-bilitação da pessoa com DA, na tentativa de propor-cionar a melhor qualidade de vida possível.

Marisa Raposo

Sessão de Musicoterapia na alza

ALDRIDGE, D. (2000). Music Therapy in Dementia Care. Jessica Kingsley Publishers Ltd, USA., BUNT, L. & Hoskyns, S. (eds.). The

Handbook of Music Therapy. Hove: Brunner-Routledge, 2002. pp. 357, DARNLEY-SMITH, R. & Patey, H.M. (2003). Music Therapy.

London: Sage Publications Ltd., PURDIE, H., Hamilton, S. &Baldwin, S. (1997). Music Therapy: Facilitating behavioural and psychological

change in people with stroke – A pilot study. International Journal of Rehabilitation Research, 20 (!), 325-327, RIDDER, H. M. (2005). An

Overview of Therapeutic Initiatives when Working with People Suffering from Dementia. In: ALDRIDGE, D. Music Therapy and Neurological

Rehabilitation. Jessica Kingsley Publishers Ltd, USA., WIGRAM, T.; Pedersen, I N; & Bonde, L. O. (2002). A Comprehensive Guide to Music

Therapy: Theory, Clinical Practice, Research and Training. London, Philadelphia: Jessica Kingsley Publishers.

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Um novo Olhar

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Colocar etiquetas nas diversas gavetas e prate-leiras de vestuário com palavras ou desenhos;

Providenciar uma mesa de cabeceira 10 cm mais alta que a cama, com bordos arredonda-dos e fixada no chão ou parede;

Assegurar que a cama tem uma altura entre 45 e 50 cm para permitir o apoio dos pés quando sentado;

Remover trancas do lado de dentro das portas; Retirar tapetes dos lados da cama; Providenciar armários com portas leves, de fácil

acesso e com luz interna ao abrir a porta; Assegurar que as gavetas têm um travão de

segurança nos deslizantes; Certificar a posição do interruptor da ilumina-

ção junto à cama e de fácil acesso para quem está deitado.

Verificar se a televisão potencia a confusão mental;

Verificar as instalações eléctricas e eliminar fios soltos;

Todos os assentos devem ter uma altura de 45 a 50 cm;

Manter bolsas, carteiras, chaves, dinheiro, talões de cheques e outros itens importantes fora do alcance;

Manter a temperatura do aquecedor de água abaixo de 38ºC para evitar queimaduras;

Se possível, guardar objectos e bibelots desne-cessários, simplificando o ambiente;

Evitar a sobrecarga das tomadas elétricas; Colocar, junto ao telefone e de forma visível, o

número de telefone a contactar em caso de emergência.

Manter fogões e electrodomésticos em segu-rança;

Remover, cobrir os botões ou desligar o fogão, aquecedores e fornos de micro-ondas da toma-da quando não estiverem em uso;

Desligar ou deixar fora do alcance ferros eléctri-cos, torradeiras, liquidificadores, ferramentas e outros equipamentos eléctricos;

Não deixar ao alcance produtos tóxicos e medi-camentos;

Verificar regularmente se os alimentos armaze-nados nos armários e frigorífico se mantêm em bom estado de conservação.

Guardar em local seguro pequenos electrodo-mésticos como secadores de cabelo ou máqui-nas de barbear;

Manter a área da banheira fechada; Retirar do alcance lâminas, tesouras, objectos

cortantes, medicamentos e substâncias tóxicas; Certificar-se de que a chave da porta da casa de

banho não está colocada na fechadura; Instalar um termóstato na torneira da banheira,

para evitar queimaduras ; Ponderar a retirada de espelhos que podem

confundir a pessoa com DA, fazendo-a pensar que estão mais pessoas no local.

No quarto Na sala e zonas de passagem

Na cozinha

Segurança em casa

Quando se vive com uma pessoa com demência torna-se necessário olhar para a casa atentamente, identificando os possíveis riscos e actuando para a sua pre-venção. Convém ter especial atenção à cozinha e quarto de banho, onde existe maior risco de ocorrência de acidentes.

A criação de um ambiente seguro, para além de se tornar mais confortável, previne muitas situações complica-das. Assim, é importante a manutenção da rotina e da ordem, zelando por manter sempre a casa arrumada, pois a desordem, ou mesmo alterações na disposição do mobiliário, provocam desorientação e aumentam a possibilidade de acontecerem acidentes.

Para além da prevenção de quedas já tratada no Boletim nº 4, dá-se agora outras sugestões de manutenção da casa como um local seguro.

No quarto de banho

http://cuidadores-alzheimer.web.ua.pt/seguranca.html; http://www.saudevidaonline.com.br/artigo97.htm; www.casasegura.arq.br

Page 8: Boletim da Associação Alzheimer Açores n º6 out2013

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Ficha Técnica:

Boletim da Associação Alzheimer Açores – alza Ano 4 I Nº 6 I Outubro de 2013

Edição e Propriedade

Associação Alzheimer Açores – alza Coordenação Editorial alza

Edição e Texto Equipa Técnica e Direcção da alza:

Margarida Gomes Filipe, Marisa Pacheco, Cristiana dos Santos, João A. Vasconcelos e Berta Cabral do Couto

Tiragem 150 exemplares

Execução Gráfica Nova Gráfica, Lda.

Periodicidade Semestral

E-mail [email protected] Página de Internet www.facebook.com/alzheimer.acores

Rua Frei Manuel 20 R/C 9500-315 Ponta Delgada – S. Miguel Tel./Fax.: 296 653 073 Tlm.: 96 171 98 98

Livros em Destaque

Passatempo

Temos todo o gosto em recebê-lo no Núcleo de Documentação da alza, onde poderá consultar e requisitar livros e filmes. Deixamos aqui duas novas sugestões de leitura.

www.puzzles.about.com/od/opticalillusions/ig/OpticalIllusions/MagicJigsawPuzzle.htm

Rugas

Criado pelo espanhol Paco Roca, este livro de Banda desenhada pro-blematiza diversas situações do quotidiano das pessoas de idade avançada, de forma mordaz e desa-fiante, pondo muitas questões sobre a organização da sociedade, sem ter a veleidade de moralizar. Um olhar fresco sobre a idade avançada.

100 Exercícios para a Mente

Este livro organizado por Cláu-dia Zolini e Patrícia Paquete apresenta diversos exercícios cognitivos que, de forma lúdi-ca e criativa, estimulam os processo mentais envolvidos na aprendizagem e na manu-tenção da memória. Experi-mente. Vai ver que não custa nada!

Observe esta figura que representa diversos níveis da realidade e pode ilustrar o mundo inte-rior de uma pessoa com DA.

Reconheça as parcerias da alza. Faça-se associado!

Notas Breves

Lembra-te de quem és; Não te esqueças de mim; Não me deixes são três vídeos cria-dos pela Line-up com organi-zação da alza. Procure-os no YouTube!