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Nº 5 Abril 2013 Boletim Editorial A Associação Alzheimer Açores - alza tenta, por todos os meios ao seu alcance, colo- car a criatividade nos serviços solidários que presta, quer a nível interno, quer na criação de actividades de qualidade em prol da Pessoa com doença de Alzheimer (DA), cuidadores, famílias e parceiros. Deste modo, através de um conjunto diversificado de respostas, ao nível da estimulação e facilitação do desenvolvimento global da pessoa com DA, inevi- tavelmente, contribui para minimizar os encargos psicossociais das famílias, sem recorrer à institucio- nalização. Hoje, continuamos a alertar os cuidadores a recor- rerem, ao grupo de apoio sócio-familiar, psicológico e ao grupo de suporte, existentes na alza, consubs- tanciados na optimização do cuidado e minimização do sofrimento. Assim sendo, e considerando como prioritária a con- fortável e segura mobilidade de alguns clientes do Centro de Dia (CD), foi adquirido um elevador de transferência que em muito facilita os serviços de transporte. É de salientar, também, a implementação da musi- coterapia no CD, tão importante, como a música é vista, uma linguagem universal. Para além disso, com a criação da página da alza na rede Facebook, no passado mês de Outubro, ultra- passando já os 350 gostos, quisemos incentivar e mobilizar as famílias, rumo ao bem-estar e qualida- de de vida dos seus familiares e veicular informação de estudos recentes e modos de actuação na DA e noutras demências. Ainda, sem prejuízo do trabalho que é desenvolvido no CD da alza, a Equipa Técnica intervém, semanal- mente, no Lar “Residência Segura” em Ponta Delga- da, no âmbito de um protocolo estabelecido entre as duas Instituições, com o objectivo de conjugar sinergias. Para concluir, nunca é demais lembrar que “é pela vivência em sociedade que nos tornamos seres sociais”. Berta Cabral do Couto Presidente da alza Sumário Editorial .................................................... pg. 1 Entrevista·················································· pg. 2 Notícias da alza ........................................ pg. 4 Nós e o Tempo ......................................... pg. 5 Estimulação e Reabilitação....................... pg. 6 Um novo olhar .......................................... pg. 7 Livros em destaque .................................. pg. 8 Notas Breves............................................. pg. 8 Passatempo .............................................. pg. 8 1

Boletim da Associação Alzheimer Açores nº 5 Abril 2013

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Boletim Semestral da Associação Alzheimer Açores

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Page 1: Boletim da Associação Alzheimer Açores nº 5 Abril 2013

Nº 5 Abril 2013

Boletim

Editorial

A Associação Alzheimer Açores - alza tenta, por todos os meios ao seu alcance, colo-car a criatividade nos serviços solidários

que presta, quer a nível interno, quer na criação de actividades de qualidade em prol da Pessoa com doença de Alzheimer (DA), cuidadores, famílias e parceiros. Deste modo, através de um conjunto diversificado de respostas, ao nível da estimulação e facilitação do desenvolvimento global da pessoa com DA, inevi-tavelmente, contribui para minimizar os encargos psicossociais das famílias, sem recorrer à institucio-nalização. Hoje, continuamos a alertar os cuidadores a recor-rerem, ao grupo de apoio sócio-familiar, psicológico e ao grupo de suporte, existentes na alza, consubs-tanciados na optimização do cuidado e minimização do sofrimento. Assim sendo, e considerando como prioritária a con-fortável e segura mobilidade de alguns clientes do Centro de Dia (CD), foi adquirido um elevador de transferência que em muito facilita os serviços de transporte. É de salientar, também, a implementação da musi-coterapia no CD, tão importante, como a música é vista, uma linguagem universal. Para além disso, com a criação da página da alza na rede Facebook, no passado mês de Outubro, ultra-passando já os 350 gostos, quisemos incentivar e mobilizar as famílias, rumo ao bem-estar e qualida-de de vida dos seus familiares e veicular informação de estudos recentes e modos de actuação na DA e noutras demências. Ainda, sem prejuízo do trabalho que é desenvolvido no CD da alza, a Equipa Técnica intervém, semanal-mente, no Lar “Residência Segura” em Ponta Delga-da, no âmbito de um protocolo estabelecido entre as duas Instituições, com o objectivo de conjugar sinergias. Para concluir, nunca é demais lembrar que “é pela vivência em sociedade que nos tornamos seres sociais”.

Berta Cabral do Couto Presidente da alza

Sumário

Editorial .................................................... pg. 1 Entrevista ·················································· pg. 2 Notícias da alza ........................................ pg. 4 Nós e o Tempo ......................................... pg. 5 Estimulação e Reabilitação ....................... pg. 6 Um novo olhar .......................................... pg. 7 Livros em destaque .................................. pg. 8 Notas Breves ............................................. pg. 8 Passatempo .............................................. pg. 8

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Qual o suporte que o núcleo do qual é Coordenadora, o Núcleo de Apoio a Pessoas com Deficiência disponi-biliza às Instituições e aos técnicos que trabalham na área? O Instituto para o Desenvolvimento Social dos Açores através do Núcleo de Apoio a Pessoas com Deficiência (NAPD) tem pautado a sua intervenção técnica de uma forma Integrada, Sistémica e Territorializada, assente na parceria e cooperação partilhada com as Institui-ções Particulares de Solidariedade Social. Nesta metodologia de intervenção está subjacente a participação ativa das Instituições na promoção da qualidade dos serviços prestados. O NAPD tem desen-volvido um trabalho de apoio e acompanhamento téc-nico às Instituições com resposta social nesta área, privilegiando a cooperação, a operacionalização e a proximidade. Ao longo da intervenção institucional tem apostado no desenvolvimento de estratégias e em metodologias inovadoras, com vista a promover uma resposta adequada às pessoas com deficiência e inca-pacidade e suas famílias. Contudo, subsistem ainda algumas fragilidades no apoio técnico e no funciona-mento e organização destas respostas sociais que importam colmatar numa perspetiva de melhoria con-tínua. É sabido que, a atuação do NAPD não se limita apenas ao apoio e acompanhamento institucional. A sua área de intervenção compreende a avaliação de necessida-des individuais, familiares e comunitárias, bem como o atendimento e acompanhamento psicossocial a pes-soas com deficiência e suas famílias; a definição de normas e a uniformização de procedimentos de actua-ção dos técnicos no diagnóstico de problemáticas sociais; a definição, a implementação, o acompanha-

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mento e a avaliação de soluções, que envolvam as pessoas com deficiência. Promove, em articulação com as Divisões e os Núcleos de Apoio Social, estratégias de intervenção e preven-ção junto dos cuidadores de pessoas com deficiência e incapacidade. Que tipos de apoio são mais solicitados ao núcleo? Diariamente, o NAPD é confrontado com pedidos de apoio de vária ordem, nomeadamente avaliações na vertente psicológica, pedagógica e psicomotora; empréstimo de produtos de apoio, informações sobre acessibilidades, acompanhamento familiar a pessoas com deficiência e incapacidade; orientação e assesso-ria na organização e funcionamento das instituições; sinalização de maus tratos e ou negligência a pessoas com deficiência e incapacidade. Quais os técnicos que compõem o núcleo? O NAPD conta com uma equipa multidisciplinar com-posta por duas psicólogas, uma psicopedagoga e um técnico na área da reabilitação psicomotora possibili-tando assim, uma partilha entre vários saberes, traba-lhando em prol de um único objetivo. A integração de várias áreas do conhecimento para a resolução de problemas permite enriquecer os membros da equipa, no que concerne a estratégias e metodologias, com as quais podem construir uma resposta de intervenção cooperada e integrada aplicada a uma situação concreta, ao contrário de uma visão isolada em que cada um dos seus elementos tem um olhar para o problema de acordo com a sua experiência. É um dado adquirido a importância de proporcionar às pessoas com DA atividades de estimulação e rea-bilitação. Considera que as famílias que têm pessoas com DA reconhecem esta necessidade? No entanto, não posso deixar de reconhecer o traba-lho meritório e o espírito de solidariedade que o Cen-tro Dia de Estimulação e Reabilitação da Associação

Entrevista

Maria José Martins Silva é Coordenadora do Núcleo de Apoio a Pessoas com Deficiência do Instituto para o Desenvolvimento Social dos Açores. Licenciou-se em Pedagogia pela Faculdade de Pedagogia da Pontifícia Univer-sidade de Salamanca com especialidade em Educação Especial/Reabilitação. No âmbito das suas funções, lecionou a disciplina de Pedagogia, foi responsá-vel pelo Sector de Ensino Especial da Direção Regional da Orientação Pedagó-gica da Secretaria Regional da Educação e Cultura, Assistente Convidada na UAC, Vogal da Comissão Instaladora do Centro Integrado de Formação de Pro-fessores (CIFOP) da UAC, Coordenadora do Centro de Informação e Aconselha-mento Handynet do Centro de Educação Especial dos Açores e Vogal do Con-selho Administrativo dos Projetos cofinanciados pelo Fundo Social Europeu da Escola de Educação Especial de Ponta Delgada.

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(Continua na pág. 4)

Alzheimer Açores - alza vem desenvolvendo na melho-ria da qualidade de vida das pessoas com doença de Alzheimer e suas famílias. Este trabalho de reabilitar e estimular a pessoa com doença de Alzheimer tem sido tarefa da alza no sentido de ajudar as famílias a reco-nhecerem a importância destas terapias que, median-te estratégias compensatórias, possibilitam aos doen-tes e aos seus cuidadores lidarem com as consequên-cias que a doença de Alzheimer acarreta. Pode dizer-se, que as famílias das pessoas com doença de alzheimer têm uma maior perceção da importância das técnicas de estimulação cognitiva e de reabilita-ção psicomotora, que minimizam sintomas cognitivos

e comportamentais, que os técnicos da alza pro-porcionam não só ao doente com Alzhei-

mer mas também aos seus cuidadores.

Qual a importância da alza para as pessoas com DA e famílias

de S. Miguel? A importância que a

Associação Alzheimer Açores tem no contex-to social e familiar é a de representar e defender os interes-ses das pessoas com a doença de Alzhei-mer e as suas famí-lias. A par disso, o atendimento psicos-social e a interven-

ção junto das pessoas com a doença de

Alzheimer e dos seus familiares, conferem-lhes

competências para melhor compreenderem a doença e

lidar de forma mais adequada rumo a uma melhor qualidade de

vida.

Foi recentemente aberto o Centro de Recursos de Avaliação e Intervenção em Produtos de Apoio e Acessibilidade CRAIPAA. Como funciona este servi-ço? O Instituto para o Desenvolvimento Social dos Açores (IDSA, IPRA), na altura Instituto de Ação Social, ao abrigo do Programa de Cooperação Transnacional – Madeira-Açores-Canárias – 2007-2013, aceitou o desafio de desenvolver o Projeto TICa – Tecnologias de Informação e Comunicação Acessíveis, em cooperação com a Sociedad Insular para la Promoción de las Per-sonas con Discapacidad (SINPROMI) e o Instituto Tec-nológico y de Energías Renovables, S.A. (ITER). No

âmbito desta parceria transnacional, contando com a Associação Seara do Trigo como parceira associada, nasceu a intenção de se implementar na região uma estrutura especializada destinada a promover a infor-mação, a avaliação, a investigação e a intervenção em matéria de produtos de apoio e de acessibilidade. É no contexto de uma parceria regional entre o Institu-to para o Desenvolvimento Social dos Açores, a Asso-ciação Seara do Trigo, a Direção Regional de Ciência, Tecnologia e Comunicações, enquanto responsável pela execução do Plano Integrado para a Ciência, Tec-nologia e Inovação e a Associação Atlântica de Apoio aos Doentes do Machado-Joseph, enquanto anterior parceira num projeto da Iniciativa Comunitária INTER-REG IIIB, o Projeto SALAD – Novas Tecnologias ao Ser-viço das Pessoas Portadoras de Deficiência, que se concretiza a implementação do CRAIPAA – Centro de Recursos de Avaliação e Intervenção em Produtos de Apoio e Acessibilidade. Para a implementação do CRAIPAA foi reabilitado um espaço sito nas instalações da Associação Seara do Trigo. Participaram na reabilitação deste espaço pro-fissionais da equipa técnica do CRAIPAA e do Centro de Atividades Ocupacionais da Associação Seara do Trigo, bem como um grupo de pessoas com Deficiên-cia e Incapacidade, clientes deste mesmo Centro de Atividades Ocupacionais. O CRAIPAA é uma estrutura especializada, cuja finali-dade consiste em promover a informação, a avaliação, a investigação e a intervenção em matéria de produ-tos de apoio, acessibilidade e comunicação aumentati-va e alternativa, destinadas a pessoas com necessida-des especiais devido a deficiência e/ou incapacidade permanente ou temporária. Este Centro de Recursos de Avaliação e Intervenção em Produtos de Apoio, no âmbito da sua intervenção, integra o Serviço de Informação e Avaliação, no qual são realizadas as avaliações de necessidades, de inter-venção e acompanhamento. Presta igualmente servi-ços de consultadoria e de empréstimo de produtos de apoio; organiza exposições e demonstrações de produ-tos de apoio e de soluções de acessibilidade e de comunicação aumentativa e alternativa. O Serviço de Formação Especializada em produtos de apoio, tecno-logias de informação e comunicação, sistemas de comunicação aumentativa e soluções de acessibilida-de em contextos educativos, profissionais e vivenciais, interiores e ou exteriores, assim como ações de infor-mação e sensibilização. O Serviço de Desenho e Adap-tação executa propostas de soluções de acessibilidade

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Notícias da alza

Sessões de Musicoterapia Os clientes do Centro de Dia iniciaram sessões semanais de musi-coterapia, desenvolvidas pela Musicoterapeuta Marisa Raposo. Esta abordagem à reabilitação utiliza a música com fins terapêu-ticos, desenvolvendo as capacidades cognitivas, a comunicação, a expressão e a consciência de si próprio.

Intervenção técnica na Residência Segura As técnicas da alza iniciaram um Programa de Intervenção em demências com os clientes da Residência Segura Lar António Manuel dos Santos, no âmbito de uma parceria estabele-cida entre ambas as Instituições. O programa, iniciado em Fevereiro tem perio-dicidade bi-semanal e promove a estimula-ção/reabilitação dos clientes.

Projecto Con[viva]+ A Associação participou no Projec-to Con[viva]+ com uma sessão de esclarecimento no Centro de Con-vívio da Casa do Povo da Fajã de Baixo com as comunicações “Envelhecimento Activo, Conse-quências e desafios” e “Mente em forma”, dinamizados respectiva-mente pela Presidente e pela Coordenadora do Centro de Dia.

Visita da Secretária Regional da Soli-dariedade e Segurança Social No passado dia 21 de Dezembro, a Secre-tária Regional da Solidariedade e Segu-rança Social, Dra. Piedade Lalanda, acom-panhada pela Dra. Nélia Amaral, visitou a sede da associação e o Centro de Dia, onde teve oportunidade de conhecer a realidade da alza, e o trabalho desenvol-vido.

Entrevista (cont.) lamente espinhosos e floridos ao lado dessas pessoas, que estendiam as suas mãos frágeis e olhos nos olhos incitavam-me a caminhar. Um novo modo de viver e de entender o outro começava no interior de mim mesma. «Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos» (Antoine de Saint-Exupéry in O Principezinho). Perante essa realidade, o olhar dessas pessoas ecoava na minha mente, implorando que os ajudasse a com-preender o que não entendiam, a ver o que não viam, a ouvir para além dos seus sentidos e a caminhar na direção do horizonte. Entrevista segundo o Novo Acordo Ortográfico.

e de adaptação de produtos de apoio, privilegiando uma metodologia de investigação-ação. Gostaria de partilhar com o leitor alguma situação que tenha sido para si relevante, no âmbito da sua atividade profissional? Quando se trabalha com pessoas com deficiência, o horizonte da nossa vida abre-se ao impossível para tornar possível tudo aquilo que julgamos não ser possí-vel. De facto, não creio que uma determinada situação seja mais relevante do que outras, dado que as pes-soas com deficiência ensinaram-me a valorizar as pequenas coisas da vida. Ao longo da minha atividade profissional aprendi a ver para além do horizonte do definido e do indefinido, percorrendo caminhos parale-

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Fig. 3— Projecto na Residência Segura

Fig. 4—Projecto Con[viva]+

Fig. 5—Visita da Secretária Regional da Solidariedade e Segurança Social

Fig. 6—Sessões de musicoterapia

Imagem retirada de “O Principezinho ” de Antoi-ne de Saint-Exupéry. Editorial Presença. Lisboa: 2001.

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Nós e o tempo

O tema do tempo foi-me sugerido, quase imposto para este número do Boletim da alza. Pensei nele como um período, uma passagem pela vida, o que até poderia ser uma viagem. E cá estou de viagem de Ponta Delgada para Lisboa. E não deixei de pensar nele. Mas não sei defini-lo, delimitá-lo, quantificá-lo. E conti-nuo a não encontrar uma ordem para me debruçar sobre ele. Talvez esta seja a melhor maneira de o tratar, escrever sem uma preocupação ordenada, falar sobre o tempo ao sabor das ideias que com o tempo, embora curto para o efeito desta carta vão aparecendo. E assim umas são velhas, isto é, passadas, outras de agora, pre-sentes e outras para o que virá, isto é, futuras. O tempo é a mais valiosa comodidade que nos escapa à atenção porque não tem forma, não pode ser visto, e é, por isso, tão pouco valorizado. Não é visto como um valor como por exemplo vemos o trabalho, o dinheiro, presentes. Quem ou quantos de nós o vê como valor? É usado indiscriminadamente como se nada custasse. Numa coisa todos estão de acordo “O tempo passa tão depressa”. Na verdade diz-se que, perante o risco de morte, estamos dispostos a gastar tudo o que temos para poder viver, afinal, para termos mais tempo. Quere-mos tempo para viver. Quantos de nós poderão pensar que depois do seu poder e influência poderão parar um dia e deixar de lado a sua grandeza, o seu poder, e os seus planos de vida, de trabalho. A pessoa quer tempo para viver, embora o poeta tenha dito que “pequena é a parte da vida em que realmente se vive”. Tudo o que fica na nossa existência não é realmente vida mas meramente tempo. É isso: às vezes esquecemo-nos de que somos finitos. A propósito, advertiu-nos Séneca há quase dois mil anos de que devíamos passar uma vida inteira a aprender como viver, e para maior surpresa nossa, continua o filósofo, uma vida inteira a aprender como morrer. Tudo isto dentro do nosso tempo, do tempo da nossa vida. Meu caro leitor, que a vida se divide em três períodos todos sabemos: o que foi, o que é e o que será. Destes, o que gastamos é curto, o que usamos é desconhecido e o que usámos está fixo. Para o último a sorte ou o azar deixou de ter influência, isto é perdeu o controlo porque a pessoa que o usou perdeu o poder sobre ele. Ocupa-dos por outras coisas perdemos este, não temos tempo de rever o passado e mesmo que tivéssemos, a lembran-ça de qualquer coisa que devemos lamentar não nos traz prazer. Quem quer recordar horas mal passadas? Quem tem a coragem para o fazer, mesmo que elas contenham alguns momentos de prazer? Falemos do presente que é muito curto, na verdade tão curto que muitos pensam não existir porque está em movimento constante como a água que corre no rio. Tal como a corrente da cons-ciência, água que corre, continua no seu caminho mas o momento da sua passagem contínua é sempre o mesmo. O presente não existe, disseram Aristóteles e Santo Agostinho. O mais breve instante tem um antes e um

depois. O presente só pode ser concebido como um ins-tante. O instante em que vemos a água que passa. Se for possível marcar o ponto da incidência do presente pode-ríamos então falar de passado e futuro. É portanto indi-visível; é uma linha imaginária entre o passado e o futu-ro. Marco Aurélio que reflectiu sobre o presente na orientação dos filósofos acima citados afirmou que uma vida longa ou breve tem a mesma extensão. A dimensão do tempo é qualitativa, se fosse quantitativa poderíamos medir a nossa vivência no tempo. O presente somos nós que o vivemos. O tempo somos nós reconhecendo-nos agora no mundo. Sim, o passado e o futuro poderão existir quando os convoco, aqui e agora, neste momento presente. Há portanto momentos em que podemos conviver com o passado e projectar algo para o futuro, Mas não falare-mos deste. É sobretudo especulativo mas pode benefi-ciar do passado se o presente o permitir. Ninguém que não tenha exposto todas as suas acções à análise ou crítica da sua consciência, que nunca ficou desapontado, deseja dirigir os seus pensamentos para o passado. Só uma mente saudá-vel e serena poderá visitar todas as partes da sua vida; as mentes dos que estão ocupados com outras coisas como se estives-sem com um peso ou ameaça não podem voltar atrás olhar para o passado e aceitar a reali-dade. O arrogante, o usurpador sem impedimentos, e outros mais nessa linha devem ter medo de se lembrar do pas-sado e temer trazer essas memórias para o presente. E todavia o presente é parte do nosso que é sagrado, ultrapassando todos os acidentes humanos e não está jamais sujeito ao papel da sorte ou do azar, que tem o poder da pobreza, do nada, da doença e outras pertur-bações. O passado não nos pode ser perturbado e retirado. É uma possessão para todo o sempre e não traz preocupa-ções. Neste tempo, meu caro leitor mantenha-se ocupado com a tarefa de viver melhor, mas use a vida a preparar-se para a vida, organize os seus pensamentos com o futuro muito distante na sua mente. O grande desperdí-cio da vida consiste em ir deixando para amanhã, o que é o mesmo que fazer desaparecer cada novo dia que chega o que elimina o presente enquanto promete qual-quer coisa para fazer a seguir. Vive o tempo presente mesmo que tenhas que o perseguir. Contraria os que só existem e não vivem. Procura existir e viver.

Mariano Alves

Secretário da Assembleia Geral da alza

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Estimulação e Reabilitação

cionar da mesma forma no que diz respeito ao aspeto do treino cognitivo. Assim, em suma, a pessoa que participe em atividades de estimulação cognitiva de forma precoce e com frequência terá uma maior pro-babilidade de, mesmo em situação de doença neuro-nal, manter as suas faculdades cognitivas intactas durante muito mais tempo. No caso de pacientes com DA já instalada e diagnosti-cada as vantagens da estimulação e, claro, da reabilita-ção mantêm-se ainda que com algumas nuances. Comecemos por separar estimulação e reabilitação. A estimulação prende-se com tornar uma determinada capacidade cognitiva o mais eficiente possível e pode e deve ser realizada não só por doentes como também (e principalmente) por pessoas saudáveis. No caso da reabilitação podemos ter uma ou várias das seguintes situações: a reabilitação/recuperação de uma capacidade entretanto perdida ou severamente danificada; a substituição de uma capacidade irrecupe-rável por outra (ou conjunto de outras faculdades) que permita realizar a mesma atividade sem perda de qua-lidade; ou a compensação de uma capacidade deficitá-ria com outra que possa complementar funções da primeira. Seja qual for a situação de um paciente em concreto, todo o processo deve iniciar por uma avaliação neu-ropsicológica detalhada, realizada com recurso a ins-trumentos de avaliação atualizados e devidamente adaptados, por um profissional devidamente treinado para o efeito. Só assim se poderá delinear corretamen-te o perfil neuropsicológico do paciente, a partir do qual se delineia o programa de estimulação reabilita-ção, conforme seja necessário/possível. As estratégias de estimulação cognitiva são específicas da capacidade a estimular mas tão diversas (pode con-siderar-se que existem em número literalmente infini-to) que seria impossível enumera-las. Não obstante, pode apresentar-se uma categorização de acordo com as funções a reabilitar: Atenção/Concentração; Linguagem; Memória; Gno-sias; Praxias; Visuopercetivas; Cálculo; Funções execu-tivas Para estimular cada uma destas funções as opções são, como se refere acima, literalmente inúmeras. Assim, é de suma importância que a estimulação ocor-ra numa instituição competente onde existam técnicos com o treino e a experiência adequados para decidir sobre que exercícios são mais adequados para cada pessoa e problemática. De outra forma, estaremos apenas a fazer “qualquer coisa”. Artigo segundo o Novo Acordo Ortográfico.

João Morais Ribeira Neuropsicólogo

Considerada por muitos como a “Doença do Século XXI”, a doença de Alzheimer (DA) está cada vez mais presente em todos os meios de comunicação, forma-ção e informação. Hoje em dia, a grande questão sobre esta problemáti-ca (apesar de o diagnóstico ser fundamental e conti-nuarem a existir gravíssimas lacunas a este respeito) é “o que fazer com o paciente com Alzheimer?”. Fale-mos, então, de prevenção, estimulação e reabilitação do paciente com DA.

A prevenção da DA passa essencialmente por um diag-nóstico muito precoce da mesma. Só assim se pode intervir em tempo útil e travar, com ajuda de algumas substâncias, o avanço inexorável desta doença. A esti-mulação cognitiva tem aqui um papel preponderante. Entenda-se por estimulação o treino frequente e espe-cífico de determinadas capacidades cognitivas com o fim de tornar estas mesmas capacidades o mais ativas e eficazes possível. Através da estimulação contínua de faculdades que tendemos a tomar como garantias (a memória, a atenção, a concentração) bem como de capacidades mais complexas (executivas) como a capacidade de resolução de problemas e tomada de decisão, capacidade de inibição fazemos com que se hiperativem certos circuitos neuronais implicados nas funções acima referidas. Esta ativação provoca, por sua vez, um maior afluxo de sangue e nutrientes às zonas cerebrais utilizadas tornando-as mais saudáveis, ágeis e mais resistentes à deterioração. Ao mesmo tempo, o treino cognitivo torna as várias capacidades cada vez mais automáticas, eficientes e menos consu-midoras de recursos. Quer isto dizer que uma pessoa que tenha sido devidamente estimulada cognitiva-mente, ainda que sofra um envelhecimento cerebral avultado, poderá continuar a realizar as mesmas tare-fas sem problemas dado que as tarefas consomem menos recursos cognitivos. Podemos pensar no cérebro como no coração. Quanto mais corrermos e durante mais tempo, mais tempo vamos ser capazes de correr e melhor vai funcionar todo o nosso sistema circulatório e respiratório, durante mais tempo. Passa-se algo muito semelhante com o cérebro. Não sendo de forma alguma um músculo, acaba por fun-

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Marisa Pacheco Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação da alza

Um novo Olhar

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Preste atenção Observe as expressões faciais e a linguagem corpo-ral, verificando se a mensagem está a ser com-preendida ou se a pessoa está a ficar frustrada e/ou aborrecida. Repita a informação importante Se a mensagem não foi compreendida, repita-a utilizando as mesmas palavras. Se a pessoa conti-nuar sem perceber, reformule a mensagem utili-zando outras palavras. Fale e demonstre Use gestos para ajudar a transmitir a mensagem. Aponte para os objetos ou demonstre a ação que pretende que a pessoa realize. Por exemplo, na hora de dar um passeio, aponte para a porta ou traga o casaco da pessoa. Fale na positiva Evite utilizar frases na negativa. Por exemplo, em vez de dizer “Não vá lá fora”, diga, “Fique cá den-tro”. Use o humor sempre que possível, mas não à custa da pessoa. Transmita segurança Se a pessoa com doença de Alzheimer fizer repeti-damente a mesma pergunta, tenha presente que ela não se consegue lembrar da resposta que aca-bou de lhe dar. Em vez de continuar a responder à pergunta depois de uma segunda ou terceira repe-tição, tranquilize-a, dizendo-lhe que está tudo bem e que está ali para a ajudar.

Elimine distrações Certifique-se de que não existem distrações que possam interferir na comunicação (Ex. televisão, rádio, pessoas a falar alto ou outros ruídos). Capte a atenção Aborde a pessoa pela frente e de forma calma, chame-a pela nome e toque-lhe na mão ou braço para ajudá-la a focar a atenção. Espere até que a pessoa esteja preparada para ouvir. Mantenha o contacto visual Permaneça na frente da pessoa e mantenha o con-tacto visual, com os olhos ao mesmo nível, para que ela perceba quem está a falar e para ajudá-la a concentrar-se na mensagem. Fale calmamente Fale num tom calmo, pausado e seguro. Se a pes-soa tiver problemas de audição, baixe o timbre da voz. Segure as mãos da pessoa enquanto comuni-ca, para lhe transmitir segurança e afetividade. Transmita uma mensagem de cada vez Utilize palavras simples e frases curtas para tornar a mensagem mais clara. Mantenha uma conversa-ção com o mínimo de personagens, objetos ou factos. Divida as tarefas em passos simples e indi-que um de cada vez. Espere Dê o tempo necessário para a pessoa responder. Apressar ou interromper só trará maior confusão e pode desencorajar a comunicação.

Não é o que se diz, mas como se diz: Técnicas para facilitar a comunicação A doença de Alzheimer altera o modo como a pessoa comunica, prejudicando a capacidade desta utilizar e com-preender as palavras. Nas fases mais avançadas da doença, o recurso à comunicação não-verbal, linguagem cor-poral, tom de voz e expressões faciais pode ser uma mais-valia. Com a diminuição da capacidade para processar informações verbais, a forma como os cuidadores comunicam com o seu familiar torna-se determinante na interação.

http://alznet.org/caregiving/giving-support/communication/ em 10/04/2013

Artigo segundo o Novo Acordo Ortográfico.

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Ficha Técnica:

Boletim da Associação Alzheimer Açores – alza Ano 4 I Nº 5 I Abril de 2013

Edição e Propriedade Associação Alzheimer Açores – alza Coordenação Editorial alza

Edição e Texto Equipa Técnica e Direcção da alza: Margarida Gomes Filipe, Marisa Pacheco, Cristiana dos San-tos, João A. Vasconcelos e Berta Cabral do Couto Fotografias das págs. 1 e 6 Marisa Pacheco

Tiragem 150 exemplares

Execução Gráfica Nova Gráfica, Lda.

Periodicidade Semestral

E-mail [email protected] Página de Internet www.facebook.com/alzheimer.acores

Rua Frei Manuel 20 R/C 9500-315 Ponta Delgada – S. Miguel Tel./Fax.: 296 653 073 Tlm.: 96 171 98 98

O núcleo de documentação tem livros e documentos novos que poderá consultar na alza ou requisitar.

Avaliação e Intervenção Neuropsicológica realiza a avaliação de diversos estudos de caso partindo da abordagem da neurop-sicologia, detalhando o uso de instrumentos de avaliação.

Manual de Gerontologia oferece um conjunto de conheci-mentos sobre o envelhecer enquanto objecto de estudo e inter-venção específica nos seus aspectos biocomportamental, psico-lógico e social.

Cuidados Paliativos apresenta testemunhos de profissionais de saúde e dos próprios doentes sobre a importância destes cuida-dos no evitamento da dor.

A Neuropsicologia Clínica. Uma abordagem cognitiva, par-tindo da abordagem cognitiva apresenta casos práticos de diver-sas lesões cerebrais.

Livros em Destaque

Passatempo

Notas Breves

Coloque as tiras por ordem para compor o logotipo da alza

Solução:

6, 5, 1, 4, 2, 3

O passatempo na rede social Facebook, com o patrocínio do Coliseu Micaelense convidando os participantes a gostarem da página deixou- -nos

com a satisfação de fazer passar a mensagem a todos quantos possam utilizar a informação em prol de alguém que dela necessite. Passe a palavra!

V isite a barraquinha

da alza nas Festas do

Senhor Santo Cristo dos Milagres e prove a doça-ria confeccionada pelas associadas.

A Associação adquiriu um elevador de transferência para utilização com os clientes do Centro de dia com necessidades de apoio na locomoção. Este

produto de apoio permite as transferências dos clien-tes de forma mais cómoda e segura, assim como previ-ne o aparecimento de lesões em quem presta apoio.