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Ano 7 . nº 17 . Julho / Agosto / Setembro / 2012 René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio Brotto Patrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter Gustavo Scandelari . Murilo Varasquim . Rafael de Melo Vanessa Cani . Cícero Luvizotto . Mariana Guimarães Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães Alisson Nichel . Laís Bergstein . André Meerholz Renata Steiner . Diana Geara . Emilly Crepaldi Alienação por iniciativa particular pode ocorrer por preço inferior à avaliação Patrícia Nymberg A limitação da legitimidade para pleitear danos morais em razão de morte Vanessa Scheremeta Consolidação da posição do STF quanto a investigação pelo Ministério Público Rafael de Melo Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti Áreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral e Família Tribunal de Justiça do Paraná reconhece prerrogativa de foro em ação de improbidade administrativa Francisco Zardo Alimentos compensatórios Fernanda Pederneiras Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (artigo 2º) “O Advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor do Estado Democrático de Direito, da cidadania, da moralidade, pública, da justiça e da paz social, subordinando a atividade do seu ministério privado à elevada função pública que exerce”.

Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti · A importância da decisão quanto ao regime de bens ... antes da carta de Émile Zola, ... Ser advogado de empresa parece

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Ano 7 . nº 17 . Julho / Agosto / Setembro / 2012

René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio BrottoPatrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz

Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter

Gustavo Scandelari . Murilo Varasquim . Rafael de MeloVanessa Cani . Cícero Luvizotto . Mariana Guimarães

Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais GuimarãesAlisson Nichel . Laís Bergstein . André Meerholz

Renata Steiner . Diana Geara . Emilly Crepaldi

Alienação por iniciativa particular pode ocorrer

por preço inferior à avaliação

Patrícia Nymberg

A limitação da legitimidade para

pleitear danos morais em razão de morte

Vanessa Scheremeta

Consolidação da posição do STF quanto

a investigação pelo Ministério Público

Rafael de Melo

Boletim Trimestral do Escritório Professor René DottiÁreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral e Família

Tribunal de Justiça do Paraná reconhece prerrogativa

de foro em ação de improbidade administrativa

Francisco Zardo

Alimentos compensatórios

Fernanda Pederneiras

Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (artigo 2º)

“O Advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor do Estado Democrático

de Direito, da cidadania, da moralidade, pública, da justiça e da paz social,

subordinando a atividade do seu ministério privado à elevada função pública que exerce”.

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EDITORIAL

Cartas da Inglaterra (René Ariel Dotti) .............................................................................................................................................................. 3

ESPECIAL

Os 10 erros mais comuns dos escritórios de advocacia (Juliana Marques Kakimoto) ........................................................................... 4

LEGISLAÇÃO Mudanças relevantes .................................................................................................................................................................................... 5

DIREITO DE FAMÍLIA

Previdência privada: o direito à partilha (Rogéria Dotti) ............................................................................................................................ 5Alimentos compensatórios (Fernanda Pederneiras) ....................................................................................................................................... 6Aprimoramentos do Poder Judiciário Paranaense (Thais Guimarães) ................................................................................................... 6A importância da decisão quanto ao regime de bens (Diana Geara) ................................................................................................... 7

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Novidades na formação do instrumento em recurso de agravo (Julio Brotto) ................................................................................. 7Alienação por iniciativa particular pode ocorrer por preço inferior à avaliação (Patrícia Nymberg) ............................................ 8A limitação da legitimidade para pleitear danos morais em razão de morte (Vanessa Scheremeta) ............................................ 8A relativização da impenhorabilidade do bem de família (Cícero Luvizotto) ...................................................................................... 9

DIREITO CIVIL

A habilitação vencida do condutor e a indevida recusa do pagamento da apólice de seguro (José Roberto Trautwein) ................. 9Quitação de financiamento imobiliário no caso de morte e invalidez permanente (Fernando Welter) .................................. 10Atos ultra vires (III) (Murilo Varasquim) ............................................................................................................................................................. 10O termo de consentimento informado (Vanessa Cani) ........................................................................................................................... 11A cláusula de reversão das doações e o planejamento sucessório (Renata Steiner) ..................................................................... 11A ANATEL e a defesa dos consumidores (Laís Bergstein) ......................................................................................................................... 12Dano moral coletivo: a evolução de um paradigma (Emilly Crepaldi) ................................................................................................. 12

DIREITO ADMINISTRATIVO

Tribunal de Justiça do Paraná reconhece prerrogativa de foro em ação de improbidade administrativa (Francisco Zardo) .... 13O conteúdo dos atestados de capacidade técnica apresentados em licitações (Mariana Guimarães) ..................................... 13Eleições 2012: a reprovação das contas não impede automaticamente a candidatura (Alisson Nichel) ................................ 14A lei paranaense de parcerias público-privadas (André Meerholz) ....................................................................................................... 14

DIREITO CRIMINAL

A importância das atas notariais para a comprovação de crimes eletrônicos (Alexandre Knopfholz) ........................................ 15Novidades legislativas para áreas médico-hospitalar e de metodologia de apuração de crimes (Gustavo Scandelari) ..... 15Consolidação da posição do STF quanto a investigação pelo Ministério Público (Rafael de Melo) .......................................... 16Lei de acesso à informação: imunidades ao servidor denunciante e cautelas (Luis Otávio Sales) ............................................. 16A impossibilidade de tabelamento da continuidade delitiva (Guilherme Alonso) ........................................................................... 16

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

A importância da análise contratual nas relação de consumo (Victor S. S. Leal) .............................................................................. 17Um ano de vigência da Lei nº 12.403/11: nada mudou (Thuan Felipe Gritz dos Santos) ....................................................................... 17Criminalização do bullying (Scarlett Garutti Ferreira) .................................................................................................................................... 18Mãe arrependida consegue a guarda da filha com fundamento na nova lei de adoção (Luiz Fernando de Souza Higa) ......... 18Vício redibitório em bens imóveis e os caminhos para desfazer um mau negócio (Kellen Maria Correia Loureiro) .................... 19Ficha limpa: agora é lei (Douglas Rodrigues de Carvalho) ................................................................................................................................ 19

ÍNDICE

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Uma das peculiaridades do belo cenário arquitetônico de Londres, que revela a sensibilidade de um povo, de uma nação e de um Estado, é o registro, na parede externa de edifícios e casas, de que ali residiram figuras imortaliza-das por sua vida e obra. São inscrições contendo nomes, datas de nascimento e de morte, tempo da morada e as atividades de estadistas, políticos, cientis-tas, pintores, compositores, artistas e de uma vasta gama de outros benfeito-res da humanidade.

Nos museus de rua de Londres, a memória apresenta-se às pessoas quando andam nas calçadas, percorrem as lojas ou estão nas filas de ônibus. Foi a im-pressão que tive durante recente estadia na capital inglesa. Na rua Holland Park Gardens, 17, no frontispício de um formoso edifício branco de quatro andares, eu vi o nome de Ruy Barbosa (com o ípsilon que os deformadores da História substituíram) gravado em destacadas letras pretas sobre fundo azul, com a le-genda: “Anglo Brazilian Society. RUY BARBOSA (1849-1923) EMINENT BRAZILIAN STATESMAN AND JURIST lived here – 1895.” Os caracteres em caixa alta são ori-ginais da própria inscrição.

O imortal Águia de Haia voluntariamente exilou-se na terra de Shakespea-re diante da perseguição movida pelo despótico Presidente Floriano Peixoto (1839-1895). Era retaliação pela atividade libertária de Ruy Barbosa, como esta-dista, advogado, político, orador e jornalista, que denunciou o governo autori-tário (1889-1894) do Marechal de Ferro.

Foi naquele tempo que Ruy escreveu vários artigos para o Jornal do Comér-cio, do Rio de Janeiro, reunidos no livro Cartas da Inglaterra, com a primeira edição em 1896. E uma das mais importantes, de 7 de janeiro de 1895, denun-ciou as mazelas do processo contra o Capitão Dreyfus, honrado militar francês condenado injustamente pelo crime de traição em favor da Alemanha. Muito antes da carta de Émile Zola, J’accuse, que sensibilizou o país e abriu as portas para a revisão do malsinado erro judiciário.

RENÉ ARIEL DOTTI

CARTAS DA INGLATERRA

EDITORIAL

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Ser advogado de empresa parece fácil, mas não é. Cliente interno é um desafio em vários sentidos, além de entenderem de as-suntos que o advogado não domina. Tratar de advogado para advogado é moleza. Mas se fosse necessário resumir o que é neces-sário para ser um bom advogado interno, diria o seguinte: “conheça muito bem o ne-gócio da sua empresa e tenha um escritório bom como seu parceiro”.

Se você respeitar estas duas regrinhas será meio caminho andado para o sucesso. A primeira é fácil e só depende de você. A segunda, entretanto, está cada vez mais difícil. Empresa pequena, média, grande, não há Jurídico que esteja completamente satisfeito com os serviços prestados pelos escritórios (se você estiver, por favor, me mande o telefone deles!).

E em tese não deveríamos ter esta di-ficuldade, afinal de contas, a prestação de serviços é o core business do escritório, não é mesmo? Seria a mesma coisa que a Nes-tlé fazer chocolate ruim ou a Embraer fazer avião sem segurança. Não dá.

Então por que cada dia está mais difícil encontrar um parceiro estratégico? Será porque os escritórios não conhecem a reali-dade dos advogados internos?

Para tentar ajudá-los nesta missão, aqui vão os 10 erros mais comuns que os escritó-rios de advocacia cometem:

1. Chegar atrasado é um clássico. Todo mundo sabe que não pode, mas continua acontecendo. Não adianta colocar a culpa no trânsito, na portaria demorada, no esta-cionamento cheio. Na maioria das vezes é imperdoável, ainda mais quando pessoas de outras áreas também foram convocadas para a reunião. Aí temos que ficar inven-tando desculpas até o consultor chegar e a credibilidade dele foi para o ralo antes do começo da reunião. Quando ele começar a falar, ninguém mais presta atenção.

2. Por mais incrível que pareça, não enviar a fatura de honorários de forma ade-quada é um dos erros mais comuns. Nós te-mos um budget que precisamos gerenciar com cuidado e os atrasos das faturas preju-dicam todo o planejamento. Às vezes che-gamos a receber a cobrança mais de quatro meses depois que o serviço foi prestado. Quando muda o ano então, piorou tudo! Vai explicar a despesa de 2011 no ano de 2012. Cansa só de pensar.

OS 10 ERROS MAIS COMUNS DOS ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA JULIANA MARQUES KAKIMOTO

3. Não retornar as ligações ou os e-mails e não posicionar o cliente sobre o anda-mento do assunto é outro erro gritante. Vai demorar, tudo bem, mas precisamos estar cientes do quanto. Nós, advogados inter-nos, normalmente consultamos os escritó-rios para suporte ao business e precisamos de uma previsão sobre o tempo de resposta. Ter de ficar fazendo follow up com escritório externo é uma preocupação que definitiva-mente não deveríamos ter.

4. Outro erro é não deixar clara a siste-mática de cobrança – quantidade de horas que será utilizada para determinado traba-lho, valor de cada hora etc. Nada como um “isto é simples, então não se preocupe que não cobraremos nada” ao final da ligação. Ou então um “acho que vou utilizar umas duas horas para realizar esta pesquisa, tudo bem?” Novamente, o planejamento do bud-get é muito importante e não podemos receber uma cobrança de honorários ines-perada no valor da nossa previsão de gastos para o mês.

5. A rotina de um departamento jurídico é muito dinâmica e nossos maiores clientes internos são pessoas de negócios, finanças, marketing, etc. Quando precisamos de uma consultoria, não há necessidade de enviar um parecer para sustentação de uma tese no STF. Deixem isto para os nossos recursos, caso eventualmente tenhamos mesmo de chegar ao STF. Aqui a regra do “quanto mais, melhor” não vale. Questões pontuais do dia--a-dia precisam ser respondidas de forma clara, direta e objetiva.

6. Falta de pró-atividade. Você conhece o negócio do seu cliente? Sabe quais leis estão sendo publicadas que podem afetar o negócio? E quais decisões dos tribunais podem trazer um impacto, seja no campo regulatório, trabalhista ou de responsabi-lidade em geral? Esperamos este tipo de atitude em nossos escritórios parceiros. Os que fazem isto (e são poucos) com certeza possuem um diferencial.

7. Dizer que o sócio pessoalmente gos-taria de apresentar o escritório e no dia enviar um advogado que não entende o negócio da empresa, não sabe como o escri-tório pode apoiar o Jurídico e não consegue responder qualquer pergunta que não seja da sua área de atuação é pedir para não ser contratado. Também não vale mandar cinco advogados de uma vez, um de cada área.

Vai parecer um interrogatório e não uma reunião de apresentação.

8. Que os relatórios de auditoria são chatos todo mundo sabe. Mas padronizá--los a ponto de não atender as solicitações dos clientes ou ainda, enviar informações desatualizadas, não dá. Muitas vezes pre-cisamos de alguma informação adicional e é impossível fazer com que o escritório customize o relatório para atender ao nos-so pedido. Vai no padrão mesmo. E a gen-te que fique feliz. Depois temos que ficar ligando, confirmando o que foi reportado e perdendo tempo. Isto quando não rece-bemos informações equivocadas, valores não atualizados, percentuais de êxito que não correspondem à situação do processo. ... Por exemplo, não é o valor da causa para fins de custas que deve ser considerado para fins de provisão e sim o valor que efe-tivamente poderá ser desembolsado pelo cliente. Parece óbvio, não? Mas não é o que acontece. Nada como um relatório in-teligente para suportar nossas discussões com o Diretor Financeiro.

9. Tratar o cliente com arrogância ou impaciência é imperdoável. Não é porque você é filho do ministro, porque o seu es-critório patrocina o Eike Batista ou porque você está conversando com o estagiário da área que não deve tratar o cliente com gen-tileza. Cliente é cliente.

10. Nem precisamos dizer, mas é bom reforçar. É muito importante apresentar um trabalho de qualidade. Contratos mal analisados, sem observância às regras da empresa, pareceres sem matrizes de risco, recomendações considerando somente a fiel leitura da lei e não o que acontece na prática podem manchar a imagem de qual-quer escritório. As informações repassa-das por vocês, muitas vezes, são utilizadas como base para a prestação de serviços do Jurídico às demais áreas da empresa. E se o Jurídico perder, vocês perdem também. E ninguém quer ter a imagem abalada por-que o escritório não foi diligente, certo? Cuidado nunca é demais.

E se ao final deste texto você tiver se identificado com alguns destes “deslizes” e estiver disposto a rever a sua estratégia para melhorar os serviços prestados, parabéns. Tenho certeza que em breve o seu escritó-rio estará cheio de ligações de advogados de empresas querendo contratá-lo!

* JULIANA MARQUES KAKIMOTO é gerente jurídica regional da Givaudan do Brasil Ltda. e faz parte do grupo Jurídico de Saias. O artigo foi publicado originalmente no Informativo Migalhas de 26/04/2012.

ESPECIAL

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» LAVAGEM DE DINHEIROLei nº 12.683, de 9/7/2012 (Publica-da no DOU de 10/7/2012)

Visando “tornar mais eficiente a perse-cução penal dos crimes de lavagem de dinheiro”, a Lei nº 12.683/12 alterou a Lei nº 9.613/98, para, em especial, eli-minar o rol taxativo de crimes antece-dentes (qualquer infração penal pode fundamentar denúncias por lavagem de ativos); e punir quem “utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores provenien-tes de infração penal”.

» COPA DO MUNDOLei nº 12.663, de 5/6/2012 (Publica-da no DOU de 6/6/2012)

A Lei Geral da Copa estabelece regras específicas para a Copa do Mundo de

MUDANÇAS RELEVANTES

2014. Nela destaca-se: i) a criação de uma área exclusiva de comércio para a FIFA e seus patrocinadores em um perímetro de 2 km ao redor do local da partida; ii) a venda de “meia-entra-da”; iii) a punição para falsificação de qualquer símbolo oficial da FIFA; e iv) a suspensão temporária do Estatuto do Torcedor no tocante a venda de bebi-das alcoólicas no interior dos estádios.

» HOSPITAIS E CHEQUE CAUÇÃOLei nº 12.653, de 28/5/2012 (Publica-da no DOU de 29/5/2012)

A Lei tipifica o crime de condicionar atendimento médico-hospitalar emer-gencial à prestação de qualquer ga-rantia (cheque-caução, nota promissó-ria, etc.) ou ao preenchimento prévio de formulários administrativos. A pena

DIREITO DE FAMÍLIA

LEGISLAÇÃO

* O presente espaço foi criado por sugestão do advogado JOÃO CARLOS DE ALMEIDA

prevista é de detenção, de três meses a um ano, e multa, podendo ainda ser aumentada se a negativa de atendi-mento resulta em lesão corporal grave ou morte.

» CÓDIGO FLORESTALLei nº 12.651, de 25/5/2012 (Publica-da no DOU de 28/5/2012)

Novo Código Florestal. A Lei cria o Ca-dastro Ambiental Rural (CAR), nacional e obrigatório para todos os imóveis rurais e também o Programa de Re-gularização Ambiental (PRA), que sus-penderá as autuações e as sanções por infrações ambientais e a punibilidade de alguns crimes ambientais cometi-dos antes de 22/07/2008.

Cresce cada vez mais o número de pessoas que investem suas economias em planos de previdência privada. Gran-de parte desses depósitos é feito com o fim de investimento e não de simples pecúlio (aposentadoria). Isso porque em virtude de benefícios fiscais, tais fundos tornaram-se uma forma lucrativa de in-vestir no mercado financeiro. Tanto é assim que não é raro encontrar pessoas que fazem grandes aportes e, conse-quentemente, possuem valores signifi-cativos aplicados em um ou em vários fundos de previdência.

Nesse novo cenário, surge uma questão jurídica bastante polêmica: no regime da comunhão universal ou

parcial de bens, esse dinheiro deve ser partilhado por ocasião da separação ou morte de um dos cônjuges?

Em um primeiro momento, alguns julgados, baseando-se no art. 1659, VII do Código Civil concluíram tratar-se de renda semelhante às pensões, meio--soldos e montepios. Daí a exclusão des-ses valores da comunhão. Todavia, parte da doutrina e jurisprudência discordam. JOSÉ FERNANDO SIMÃO, Professor da USP, em recente artigo adverte: “Antes de se atingir a idade estabelecida no pla-no, a previdência privada não passa de aplicação financeira como qualquer ou-tra” (Comunhão parcial de bens e previ-dência privada: mear ou não mear, eis a

questão!, publicado em Carta Forense, www.cartaforense.com.br).Justamente por isso, vários tribunais do país vêm atualmente entendendo que, diante da natureza de aplicação finan-ceira, o dinheiro investido nos fundos que permitem o resgate antecipado não difere daquele aplicado em imóveis ou ações. E, se esses últimos bens são par-tilháveis, idêntico destino devem ter os primeiros sob pena de se gerar fraude ao regime da comunhão universal ou parcial de bens. Nesse sentido, vale citar as Apelações Cíveis nºs 543.261-4/5-00 do TJSP e 70035131507 do TJRS.

PREVIDÊNCIA PRIVADA: O DIREITO À PARTILHA

ROGÉRIA DOTTI

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APRIMORAMENTOS DO PODER JUDICIÁRIO PARANAENSETHAIS GUIMARÃES

Nos meses de junho e julho deste ano mais duas metas para o aprimoramento do Judiciário Paranaense foram cumpridas.

As Varas de Família da Capital, além da competência que já lhes era atribuí-da, como processar e julgar causas rela-tivas a casamento, separação judicial, di-vórcio, união estável, filiação, alimentos e poder familiar, passarão, após o mês de agosto, também a atender os feitos relacionados a Sucessões (arrolamentos e inventários).

Tal mudança foi aprovada no dia 25 de junho pelo Órgão Especial do TRIBU-NAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ. Até a apro-vação da Resolução nº 49, publicada no dia 6 de julho, os feitos sucessórios tra-mitavam perante as Varas Cíveis.

Além da inclusão da nova compe-tência, 4 (quatro) das 8 (oito) Varas de Família (5ª à 8ª Vara) também serão com-petentes para cumprimento de Cartas Precatórias dessa matéria.

A segunda novidade foi a criação do Fó-

rum Regional de San-ta Felicidade, inaugu-rado no dia 4 de julho. Com esta inovação, ocorrerá a descen-tralização do Judici-ário, como já ocorre nas grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro.

O  novo Fórum, localizado na Via Vêneto, 1490, com área construída de 2.046 m2, atenderá 14 bairros e bene-ficiará em torno de 155 mil pessoas, tendo competência para julgar, dentre as demais competências, causas relativas ao Direito de Família.

Através destas inovações o Poder Judiciário busca a eficácia de sua ativi-dade jurisdicional, como bem salientou a Magistrada ADRIANA DE LOURDES SI-

METTE, diretora do novo Fórum: “Com a inauguração deste valioso espaço para a comunidade, que só foi possível devido ao incansável trabalho desempenhado pela cúpula do TJ, cumprimos o princípio constitucional do livre acesso à Justiça, deixando-a mais próxima do cidadão”.

ALIMENTOS COMPENSATÓRIOSFERNANDA PEDERNEIRAS

O Código Civil de 2002, superando o ultrapassado modelo de estrutura fa-miliar, no qual o homem era o chefe e provedor do sustento, bem assimilou a garantia constitucional de igualdade en-tre os gêneros (art. 226, §5º, CF/88), de forma a estabelecer expressamente que a obrigação alimentar recai sobre qual-quer um dos cônjuges ou companhei-ros, independentemente da condição sexual (art. 1.694 do Código Civil).

O fim do casamento ou da união estável extingue o dever de mútua as-sistência, mas os princípios da solidarie-dade e da dignidade da pessoa humana projetam seus efeitos de modo a asse-

gurar ao ex-cônjuge ou ex-companheiro o direito a receber alimentos caso não tenha autonomia financeira.

Todavia, a isonomia entre os sexos, legalmente amparada, esbarra ainda na dificuldade de adaptação cultural do país. Portanto, a igualdade de condições no que tange aos alimentos devidos pela ruptura conjugal, deve ser cuidadosamente anali-sada de acordo com as peculiaridades de cada caso, levando-se em consideração o projeto de vida adotado pelo casal na constância do relacionamento e a forma como o papel da mulher foi exercido du-rante o tempo de convivência.

É exatamente diante desta visão que

a doutrina, agora acompanhada por de-cisões dos Tribunais, importando con-ceitos do direito comparado, passou a propagar a possibilidade dos alimentos compensatórios, que surgem em nosso ordenamento jurídico como forma de garantir o necessário equilíbrio do pa-drão de vida de ambos os cônjuges de-pois do fim da relação familiar.

A pensão alimentícia compensató-ria não visa a igualdade econômica do ex-casal, mas procura reduzir os efeitos negativos causados pelo rompimento da união, em razão da falta de recursos pes-soais próprios de um deles para manter o padrão de vida antes usufruído.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

NOVIDADES NA FORMAÇÃO DO INSTRUMENTO EM RECURSO DE AGRAVO

JULIO BROTTO

Dispõe o art. 525 do Código de Pro-cesso Civil que o agravo de instrumento deve ser instruído com as peças obriga-tórias (procurações, decisão agravada e certidão de intimação) podendo o agra-vante apresentar outras peças úteis ao seu recurso. A jurisprudência acertada-mente ampliou o rol das peças obrigató-rias previstas em lei para incluir qualquer outra peça sem a qual não seria possível a perfeita compreensão da controvérsia estabelecida no recurso.

O problema é que, por vezes, definir o que é imprescindível para o julgamen-to do recurso não constitui tarefa fácil.

Para quem recorre, determinadas peti-ções e documentos são suficientes. Já o julgador pode entender estarem ausen-tes outros elementos para a formação de sua convicção.

Preocupados em não terem seus recursos liminarmente indeferidos, os Advogados passaram a anexar aos seus recursos cópia integral dos autos. Mui-tas vezes, milhares de páginas absolu-tamente dispensáveis à controvérsia, gerando custos desnecessários ao recor-rente e atravancando os Tribunais com volumes e mais volumes de papéis. Isso, agora, deve mudar.

Em maio de 2012, a Corte Especial do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, em jul-gamento de recurso repetitivo, definiu que a ausência de peças facultativas no ato de interposição do agravo de instru-mento, ainda que consideradas neces-sárias à compreensão da controvérsia, não mais implica na rejeição sumária do recurso. Em casos como tais, orienta a Corte Superior que o agravante deverá ser previamente intimado a promover a juntada de tais peças e, apenas se não o fizer, aí sim o recurso não seria conhe-cido. (Recurso Especial nº 1.102.467- Rel. Min. MASSAMI UYEDA – j. 2/5/2012.).

DIANA GEARA

A IMPORTÂNCIA DA DECISÃO QUANTO AO REGIME DE BENS

O Código Civil prevê que os casais, ao constituírem família através do casamen-to ou da união estável, podem escolher o regime patrimonial que irá pautar a rela-ção familiar: comunhão parcial de bens, comunhão universal de bens, separação convencional de bens, participação final nos aquestos, ou ainda, um regime com características próprias.

No entanto, na prática, os casais habi-tualmente pouco refletem sobre o regime a ser escolhido, e adotam o regime patri-monial previsto como legal – da comu-nhão parcial de bens (vigente para a maio-ria dos casais, salvo as exceções em que há obrigatoriedade da separação de bens).

A ausência desta salutar discussão entre o casal pode gerar, além de des-

confortos durante a vigência e o fim do relacionamento, problemas na gestão patrimonial dos cônjuges/companhei-ros. Ressalvadas as devidas proporções, é como iniciar uma sociedade empresa-rial sem antes atribuir as cotas sociais de cada sócio e decidir a forma de ge-renciamento.

Desta forma, sem criti-car o regime legal, o qual inclusive é bastante com-patível com os princípios das relações familiares, a sugestão é que o casal an-tes da constituição fami-liar, ponderando as carac-terísticas dos patrimônios

particulares de cada um, das atividades profissionais que exercem, e até do que planejam para sucessão, escolha de for-ma consciente o regime de bens mais adequado à sua entidade familiar.

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PATRÍCIA NYMBERG

ALIENAÇÃO POR INICIATIVA PARTICULAR PODE OCORRER POR PREÇO INFERIOR À AVALIAÇÃO

No procedimento de execução por quantia certa, depois de efetivada a pe-nhora e avaliado o bem, a expropriação poderá ocorrer por adjudicação, aliena-ção por iniciativa particular, alienação em hasta pública ou usufruto. A dúvida que se coloca é: o preço mínimo da alienação por iniciativa particular tem que corresponder ao valor da alienação judicial do bem?

O CPC diz que o preço da adjudica-ção não pode ser inferior ao da avalia-ção (art. 685-A), mas não faz a mesma exigência com relação à alienação por iniciativa particular. Com efeito, o art. 685-C do CPC estabelece, no parágrafo primeiro, que “O juiz fixará o prazo em

que a alienação deve ser efetivada, a for-ma de publicidade, o preço mínimo (art. 680), as condições de pagamento e as ga-rantias, bem como, se for o caso, a comis-são de corretagem.”

Não há dúvida de que o valor da avaliação deve ser um referencial para a alienação, porém, se a lei diz “o juiz fixa-rá o preço mínimo”, deve-se interpretar que ele terá a autonomia para estabe-lecer valor inferior à avaliação, desde que não seja vil, tal qual se permite em segunda hasta pública.

Admitindo a venda por preço inferior ao da avaliação, o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, no julgamento do Agravo

de Instrumento nº 886.901-6, concluiu que a venda particular “por 60% (sessen-ta por cento) do valor da alienação não é considerada por preço vil, já que frus-tradas as tentativas de arrematação em praça anterior, além da anuência expressa das partes envolvidas na venda do bem em tal percentual”.

Realmente, tendo a alienação sucedi-do a hasta pública, evidente que o resul-tado também seria frustrado caso não se admitisse a venda na mesma condição apresentada na segunda praça. Além dis-so, havendo a concordância das partes, não há impedimento para que a alienação ocorra por preço inferior ao da avaliação.

A LIMITAÇÃO DA LEGITIMIDADE PARA PLEITEAR DANOS MORAIS EM RAZÃO DE MORTE

VANESSA SCHEREMETA

Recentemente a Quarta Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA decla-rou a ilegitimidade do noivo para reque-rer indenização por morte. No caso con-creto, os pais da moça falecida já haviam obtido a reparação respectiva.

Ante a ausência de regulamentação da matéria e utilizando a analogia, en-tendeu-se que somente a família direta, ou seja, aqueles que se revestem da con-dição legal de herdeiro, podem pleitear os danos morais. Como bem ressaltado no voto do Relator, “se a investigação pura e simples acerca do sofrimento ex-perimentado por alguém fosse suficiente

para conferir legitimidade à pretensão, a cadeia de legitimados para pedir a com-pensação de dor moral se estenderia ad infinitum, abarcando todos os parentes, amigos, vizinhos ou, até mesmo, admira-dores da vítima”.

O julgado também expôs que não se pode impor ao ofensor o dever de inde-nizar todos aqueles que tenham supor-tado a dor da perda de um ente querido, sob pena de tornar infinita a sua res-ponsabilidade. E nessa ordem de ideias, considerando que as indenizações de-vem ser arbitradas a favor da família e não membro a membro, a concessão de

legitimidade ampla a todos que expe-rimentaram o dano moral acabaria por pulverizar a reparação devida àqueles que realmente a ela fazem jus.

Assim, embora não se tenha negado os danos morais sofridos pelo noivo, con-cluiu-se que ele não teria legitimidade para pleitear a respectiva indenização. O STJ, entretanto, ressalvou a possibilidade de flexibilização desse entendimento, especialmente quando demonstrada a existência de relação equivalente àque-las do núcleo familiar (Recurso Especial nº 1076160/AM, Rel. Min. LUIS FELIPE SALO-MÃO, DJe 21/06/2012).

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JOSÉ ROBERTO TRAUTWEIN

A HABILITAÇÃO VENCIDA DO CONDUTOR E A INDEVIDA RECUSA DO PAGAMENTO DA APÓLICE DE SEGURO

As seguradoras têm reiteradamente recusado o pagamento do seguro de au-tomóveis sob a alegação de que o con-tratante (consumidor) teria agravado o risco do objeto do contrato (art. 768 do Código Civil) ao conduzir o veículo auto-motor com a habitação vencida.

O TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ vem reconhecendo a ilegalidade do ato. Com efeito, a orientação predominante é no sentido de que “só seria possível à escusa da seguradora ao pagamento do prêmio, se restasse comprovado que o fato do segurado estar com a carteira vencida, efetivamente contribuiu para o sinistro, associando-se à idéia de agravamento do risco” (Apelação Cível nº 781.428-0, 8ª Câ-mara Cível, Rel. Des. JURANDYR REIS JU-

NIOR, julgamento 18/08/2011).Extrai-se do v. Acórdão que “A falta

de habilitação, enquanto apenas ato for-mal, não é sinônimo de risco, sobretudo porque não se pode dizer que o motorista inabilitado queria deliberadamente se aci-dentar, apenas para que seus familiares recebam a presente indenização securitá-ria” (...) “Quem faz um seguro de vida, por exemplo, não fica torcendo para morrer só para que os seus dependentes recebam a indenização. Ele quer viver o máximo pos-sível (a menos que não esteja em são juí-zo), mas quer também ter a certeza de que se faltar os seus dependentes não ficarão ao desamparo”.

Trata-se, em síntese, de posiciona-mento tendente a proteger o consu-

midor e, principalmente, assegurar a finalidade do contrato de seguro, con-sistente na assunção de riscos futuros da seguradora, com a movimentação do automóvel.

Um dos preceitos mais caros do Di-reito Pátrio repousa sobre a inviolabilida-de do bem de família.

Tal princípio foi consagrado pela Lei nº 8.009/90 e visa, dentre outras coisas, garantir o mínimo de dignidade à pes-soa humana, impedindo que o imóvel no qual se estabelece a moradia seja utilizado como forma de pagamento em processos judiciais.

Importante ressaltar que a impenho-rabilidade do bem de família já compor-ta exceções legais.

O Legislador, fazendo a pondera-ção dos princípios, estabeleceu no art. 3º da sobredita Lei algumas situações na qual ela é oponível. Dentre as mais

destacadas estão “os créditos dos traba-lhadores da própria residência”, os crédi-tos originados por débitos relativos à pensão alimentícia e a obrigação de-corrente de fiança concedida em con-trato de locação.

Ocorre, todavia, que maliciosamente os devedores costumam esvaziar seu pa-trimônio pessoal, mantendo apenas um único bem para caracterizar a impenho-rabilidade, frustrando os seus credores.

Cioso de sua obrigação legal, o SU-PERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA vem com-batendo essas fraudes, relativizando o referido princípio.

Em recente julgado (Recurso Espe-cial nº 1299580) aquela corte afastou

A RELATIVIZAÇÃO DA IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA

CÍCERO LUVIZOTTO

a impenhorabilidade de suposto bem de família ao verificar que tal condição ocorreu graças a má-fé do devedor.

O ótimo voto da Ministra NANCY AN-DRIGHI foi assertivo: “Permitir que uma clara fraude seja perpetrada sob a sombra de uma disposição legal protetiva implica, ao mesmo tempo, promover injustiça na situação concreta e enfraquecer, de ma-neira global, o sistema de especial prote-ção objetivado pelo legislador”.

A formação da nova jurisprudência serve de alento àqueles que por muitos anos vêm lutando contra a má-fé de seus devedores, na medida em que ganham nova arma para alcançar seus créditos.

DIREITO CIVIL

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MURILO VARASQUIM

ATOS ULTRA VIRES (III)

Os últimos artigos publicados nesse espaço resumiram a complexa aplica-ção dos atos ultra vires no Direito. Além de explicar seu significado (limitação de responsabilidade da sociedade a partir do seu objeto social), foram elucidados os motivos que justificaram a sua criação (proteger os acionistas da companhia dos seus administradores), bem como as razões que levaram a sua completa abo-lição na Europa e EUA (o administrador sagaz contraía obrigações em nome da empresa que jamais seriam honradas sob a justificativa de que o objeto do negócio assumido era estranho à área de atuação da empresa segundo o contrato social).

Apesar do seu correto sepultamento universal, os legisladores brasileiros res-suscitaram-na no Código Civil vigente. De acordo com a redação do art. 1015, eventual excesso por parte dos adminis-tradores pode ser oposto a terceiros que adquiriram obrigações com a pessoa ju-rídica, nos seguintes casos: a) A limitação de poderes do administrador estiver ins-crita no registro da sociedade (de acordo com a redação do preceito presumir-se--á o conhecimento do terceiro sobre o fato); b) Provando-se que o terceiro sabia que o administrador agia sem o respaldo do contrato social; e c) Tratando-se de operação evidentemente estranha ao

objeto social da empresa.Como se vê, vigora no país uma dúplice

aplicação do conceito. Isso porque o insti-tuto pode ser invocado quando o negócio for estranho ao contrato social ou quando ele tiver sido firmado por um administrador que não possuía poderes para tanto. Ade-mais, a locução “operação evidentemente es-tranha aos negócios da sociedade” comporta interpretações de toda sorte, potencializan-do a insegurança jurídica.

Enquanto esses aspectos não forem sedimentados pela jurisprudência, resta ao empresário apenas agir com cautela para evitar imprevistos.

QUITAÇÃO DE FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO NO CASO DE MORTE E INVALIDEZ PERMANENTE

O artigo desta edição aborda um di-reito pouquíssimo conhecido: a quitação do contrato de financiamento imobiliá-rio no caso de morte ou invalidez perma-nente do mutuário.

O sistema de financiamento imobi-liário (SFI) é regido pela Lei nº 9.514/97, norma geral aplicável a todas as entida-des do sistema financeiro habitacional. A referida Lei, em seu art. 5º, prevê que as operações de financiamento de imóveis serão livremente pactuadas entre as par-tes, desde que, entretanto, observadas algumas condições essenciais.

Dentre essas condições essenciais, a

Lei inclui a contratação, pelos tomadores de financiamento, de seguros contra os riscos de morte e invalidez permanente. Trata-se, portanto de cláusula obrigató-ria e implícita a todos os contratos de financiamento imobiliário.

Significa que, quando adquire um imóvel financiado, o mutuário paga, com as prestações mensais, seguro destinado à quitação do imóvel no caso de invali-dez permanente ou morte. Se ocorrer um destes eventos na vigência do con-trato, isto é, após a assinatura, surgirá o direito à quitação do financiamento, liberando totalmente o mutuário do pa-

FERNANDO WELTER

gamento do contrato (no caso de invali-dez permanente) ou seus sucessores (no caso de morte).

No caso de invalidez permanente (por acidente ou doença) tem-se reco-nhecido, inclusive, que o mutuário tem o direito de ser reembolsado de eventuais parcelas pagas após a aposentadoria de-cretada pelo INSS.

Logo, confere a Lei um direito sub-jetivo que poderá ser exercido pelo mu-tuário ou seus herdeiros, desde que ve-rificadas as situações acima destacadas no curso do contrato de financiamento de imóvel.

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A CLÁUSULA DE REVERSÃO DAS DOAÇÕES E O PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO

O direito de dispor sobre o patri-mônio para depois da morte não é ilimitado, encontrando barreira na proteção à legítima. O termo designa a parte da herança que cabe aos chama-dos herdeiros necessários, ou seja, os ascendentes, descendentes e cônjuges (e, para grande parte da doutrina, os companheiros, por aplicação da igual-dade constitucional entre os diferentes arranjos familiares).

Abstraída a legítima, tem-se a cha-mada parte disponível, sobre a qual haverá possibilidade de se efetuar testamento ou de proceder à chama-

RENATA STEINER

da partilha em vida. Ou seja, o Direito brasileiro admite outras formas que não o testamento para o planejamento su-cessório, cuja relevância tem ganhado espaço nas discussões jurídicas atuais. Uma destas modalidades é o contrato de doação.

Importante instrumento de planeja-mento se encontra na chamada cláusu-la de reversão, inserta em contratos de doação. Por ela, o doador institui que, na hipótese de morte do donatário (quem recebe a doação) e sobrevivência do doador (aquele que confere bens em doação), o bem doado reverterá ao seu

patrimônio, como se a doação não hou-vesse ocorrido. Caso o doador venha a falecer antes do donatário, a doação é perfeita e definitiva; o donatário, por sua vez, exerce todos os direitos sobre o bem doado enquanto não ocorrida a circuns-tância que autoriza a reversão.

A cláusula demonstra a pessoalidade do intuito daquela doação que beneficia a figura específica do donatário e insti-tui segurança ao doador, na recompo-sição de seu patrimônio em caso de fa-lecimento do donatário (e consequente extinção da relação de pessoalidade que justificou a liberalidade).

O TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADOVANESSA CANI

A responsabilidade do médico pela integridade e restabelecimento da saú-de do seu paciente não se limita ao tra-tamento prescrito, estendendo-se, inclu-sive, ao pré e pós-operatório.

Em razão disso, benefícios, riscos e complicações oriundas do tratamento a que se submetem os pacientes devem ser previamente informados, de forma simples, clara e objetiva, visando elimi-nar todas as dúvidas existentes e garan-tir que houve, a certeza da compreensão, haja vista a existência de diversos fatores que alteram o entendimento e a valida-de do documento.

Essa obrigação, presente no art. 34 do Código de Ética que proíbe ao mé-dico “deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa provocar-lhe dano, devendo, nesse caso, fazer a comu-nicação a seu representante legal”, pro-

vém também do Código de Defesa do Consumidor (art. 6º, III).

O devido esclarecimento acerca do tratamento, intercorrências e consequên-cias, além de importar em um dever, pode contribuir para afastar eventual respon-sabilidade civil que possa ser imputada ao profissional médico, especialmente porque comprova a boa-fé na sua relação com o paciente, consoante entendimen-to do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, no Recurso Especial nº 1.180.815/MG.

Ao decidir acerca do pedido de inde-nização por danos morais decorrentes de conduta negligente que se pretendia imputar ao médico, entre outros funda-mentos pertinentes à lide em questão, ressaltou a Corte que “a conscientização da recorrente, portanto, é também de fun-damental importância para o deslinde da questão ora em debate, em especial diante do comando contido no art. 6º, III do CDC”.

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Recente notícia publicada no sítio eletrônico do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA veiculou inúmeros julgados da-quela Corte Superior admitindo a exis-tência do chamado dano moral coletivo. Ainda que extremamente polêmicas, as decisões favoráveis à indenização da co-letividade por danos morais significam verdadeira e necessária evolução do pa-radigma processual civil outrora firmado no individualismo.

Vale dizer, o reconhecimento de que é possível a lesão extrapatrimonial a um interesse difuso ou coletivo decorre da

DANO MORAL COLETIVO: A EVOLUÇÃO DE UM PARADIGMA

EMILLY CREPALDI

própria evolução estatal, que não mais se limita ao dogma liberalista de prote-ção do homem na sua individualidade, mas sim na qualidade de integrante de uma sociedade solidária. Por meio da valorização do coletivismo, almeja-se a asserção da própria dignidade da pessoa humana, como fundamento máximo do atual Estado Democrático de Direito.

Nas palavras do jurista ELTON VEN-TURI: “O modelo processual coletivo apre-senta-se, assim, como decorrência natural da revolução paradigmática referida, re-conhecendo-se sua vocação para garantir

não só a proteção como a efetiva atuação dos direitos fundamentais, encarados sob uma perspectiva transcendental”.

Quebra-se, portanto, o antigo para-digma de que para a caracterização do dano moral impõe-se a prova de abalo psicológico, dor ou angústia, passando--se a compreender a ofensa extrapatri-monial aos interesses metaindividuais como inerentes ao próprio sentimento de coletividade e solidariedade suprades-tacados (Recurso Especial nº 1057274).

LAÍS BERGSTEIN

A ANATEL E A DEFESA DOS CONSUMIDORES

A Agência Nacional de Telecomu-nicações (ANATEL) é o órgão regulador dos serviços de telecomunicação criado em 1997, em razão de expressa previsão constitucional (art. 21, XI). A Agência atua em prol do interesse público e, vi-sando ao desenvolvimento das teleco-municações brasileiras, tem autonomia para expedir normas e fiscalizar a pres-tação dos serviços nesta seara, inclusive aplicando sanções.

Exercendo a defesa dos consumido-res, a ANATEL proibiu a comercialização de serviços de telefonia (voz e dados), a partir das 00h00 do dia 23/07, pelas empresas CLARO, nos Estados de San-ta Catarina, Sergipe e São Paulo; OI, no Amapá, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Roraima e Rio Grande do Sul; e TIM, nos demais Estados da Federação e no Distri-to Federal.

Inconformada, a TIM impetrou um Mandado de Segurança opondo-se à ação da ANATEL. O Juiz Federal TALES KRAUSS QUEIROZ, titular da 4ª Vara Fe-

deral no DF, em judiciosa e lúci-da decisão, indeferiu o pedido liminar da TIM ponderando que: “A medida foi dura e auste-ra. Mas era necessária. Os planos de serviços da impetrante e das demais operadoras podem até ser infinitos e ilimitados, como expressam as frequentes e se-dutoras campanhas publicitá-rias das empresas. A paciência do consumidor, não.”. Afirmou ainda que há dois anos “é pú-blica e notória a piora da quali-dade dos serviços de telefonia celular do País.”. (Mandado de Segurança nº 36321-34.2012.4.01.3400).

Uma ação semelhante ocorreu em 2009 quando a empresa TELEFÔNICA foi obrigada pela ANATEL a suspender a co-mercialização do serviço de banda larga Speedy depois de uma pane no Estado de São Paulo que afetou a Secretaria de Segurança Pública, o Detran, a Receita Federal, o Tribunal de Justiça, uma agên-

cia do INSS e inúmeras residências.Importante destacar que os consumi-

dores têm direito ao abatimento propor-cional do valor da conta em relação aos períodos que não conseguirem utilizar os serviços de telecomunicação adequa-damente (art. 20, III, do Código de Defe-sa do Consumidor). Caso o usuário sofra prejuízos ainda maiores, poderá pleitear em Juízo a reparação integral dos danos materiais ou morais (art. 14, CDC).

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O CONTEÚDO DOS ATESTADOS DE CAPACIDADE TÉCNICA APRESENTADOS EM LICITAÇÕES

rar uma atividade pertinente e com-patível com o objeto, bem como quais as parcelas de maior relevância.

Caso não haja a discriminação, cabe aos potenciais participantes pedirem es-clarecimentos para que se explicite qual conteúdo deverá ter o atestado. Isso porque, a repetição da fórmula legal não permitirá formar uma base segura sobre o que deve ser considerado “pertinente e compatível” em cada caso concreto.

Se à Administração não é lícito se valer de forma genérica, por outro lado não poderá o licitante apresentar atesta-dos imprecisos, sob pena de desclassifi-

cação. O participante deve cercar-se de muita cautela para apresentar atestados que demonstrem, de forma inequívo-ca, que já executou atividades similares com o objeto da disputa. Os atestados apresentados devem ser “capazes de de-monstrar o atendimento a esse quesito de qualificação técnica”, eis que “a falta de aderência dos atestados de qualificação técnica apresentados por licitante às exi-gências delineadas em edital de pregão não pode, em avaliação preliminar, ser suprida por verificação presencial nas instalações da licitante” (TCU, Comuni-cação de Cautelar, TC 016.235/2012-6).

Os licitantes devem comprovar ca-pacidade técnica para executar o obje-to pretendido pela Administração por meio da apresentação de atestados que provem “aptidão para desempenho de ati-vidade pertinente e compatível em caracte-rísticas, quantidades e prazos com o objeto da licitação” (Lei nº 8.666/93, art. 30, II).

Entretanto, o instrumento convo-catório não poderá se limitar a repetir a expressão constante da lei, exigindo somente a apresentação de atestado de “atividade pertinente e compatível”. O edital deverá definir expressamente quais os parâmetros para se conside-

MARIANA GUIMARÃES

Em Acórdão publicado no dia 15 de maio de 2012, a 4ª Câmara Cível do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade, reconheceu a existência de prerrogativa de foro em ações por ato de improbidade propostas contra determinadas autoridades. Assim, a ação contra Deputado Estadual deverá ser julgada pelo Órgão Especial do TJPR, ain-da que o mandato não fosse exercido à época dos fatos e do seu ajuizamento. O critério para o deslocamento da compe-tência é a atualidade do mandato, razão pela qual ao final do seu exercício o pro-cesso retornará à primeira instância caso não tenha sido julgado.

Essa decisão acompanha a orienta-

ção majoritária do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL e do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, que, em diversas oportunida-des, reconheceram a prerrogativa de foro de Ministros, Deputados Federais, Governadores, Desembargadores e Se-cretários de Estado.

De acordo com o Min. TEORI ZAVASKI, do STJ, “estes e outros casos de prerrogativa de foro constituem uma garantia constitu-cional do acusado, estabelecida em fun-ção da relevância do seu cargo. Conforme observou o Ministro Victor Nunes Leal, em voto proferido no STF, ‘a jurisdição espe-cial, como prerrogativa de certas funções públicas, é, realmente, instituída, não no in-teresse pessoal do ocupante do cargo, mas

FRANCISCO ZARDO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ RECONHECE PRERROGATIVA DE FORO EM AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

no interesse público do seu bom exercício, isto é, do seu exercício com o alto grau de independência que resulta da certeza de que seus atos venham a ser julgados com plenas garantias e completa imparcialida-de. Presume o legislador que os tribunais de maior categoria tenham mais isenção para julgar os ocupantes de determinadas funções públicas, por sua capacidade de re-sistir, seja a eventual influência do próprio acusado, seja às influências que atuarem contra ele. A presumida independência do tribunal de superior hierarquia é, pois, uma garantia bilateral, garantia contra e a favor do acusado’ (Recl. 473, rel. Min. VICTOR NU-NES, j. 31.01.1962, DJ06.06.1962)” (Rcl nº 2.115, Dje. 16/12/2009).

DIREITO ADMINISTRATIVO

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A LEI PARANAENSE DE PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADASANDRÉ MEERHOLZ

Em vigor desde 12/01/2012, a Lei Estadual nº 17.046/2012 estabelece as diretrizes para a licitação e contratação sob o regime de Parceria Público-Priva-da pela Administração Pública Direta e Indireta do Poder Executivo Estadual, dos fundos especiais a ela ligados e às demais entidades controladas direta ou indiretamente pelo Estado do Paraná.

Assim como a Lei Federal de PPP’s nº 11.079/2004, o estatuto paranaense esta-belece duas modalidades de concessão: patrocinada e administrativa. A patroci-nada caracteriza-se como a “concessão de serviços públicos ou de obras públicas

de que trata a Lei Federal nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adi-cionalmente à tarifa cobrada dos usuários, contraprestação pecuniária do parceiro pú-blico ao parceiro privado” (art. 2º, §1º). Já a administrativa consiste no “contrato de prestação de serviços de que a Administra-ção Pública seja a usuária direta ou indire-ta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens” (art. 2º, §2º). A eleição da modalidade caberá à Administração Pública, considerando es-pecialmente as peculiaridades do objeto e a capacidade de alocação de recursos públicos na contratação.

A crescente demanda por bens e ser-viços pela sociedade e a incapacidade crônica do Poder Público em ofertá-los em nível compatível torna as contra-tações pelo regime de parcerias uma excelente alternativa para expansão da infraestrutura e atividades estatais. A edição de lei detalhando critérios para apresentação de projetos, contratação e, em especial, para remuneração do parti-cular, confere maior segurança ao futuro negócio, tornando-o mais atrativo aos potenciais interessados que desejem aportar recursos nas atividades a serem contratadas sob este regime.

ALISSON NICHEL

No início do ano, o TRIBUNAL SUPE-RIOR ELEITORAL editou a Resolução nº 23.376, na qual, alterando posiciona-mento adotado em eleições anteriores, estabeleceu que a desaprovação das contas de campanhas eleitorais impli-cará ao candidato “o impedimento de obter a certidão de quitação eleitoral” (art. 52, §2º). Em outras palavras, quem teve as contas desaprovadas pela Justi-ça Eleitoral em eleição anterior estaria impedido de ser candidato nas eleições municipais de 2012 (art. 11, §1º, VI, da Lei

nº 9.504/1997).Porém, nos dias 26 e 28 de junho, ao

apreciar pedido de reconsideração for-mulado por 14 partidos políticos, o TSE voltou atrás e decidiu que a reprovação das contas não impede automaticamen-te a candidatura. Segundo o Ministro DIAS TOFFOLI, em razão de o §7º, do art. 11, da Lei nº 9504/97, conter apenas a expressão “apresentação de contas de campanha eleitoral”, “o requisito para a obtenção da certidão eleitoral no que se refere à prestação de contas de campanha

ELEIÇÕES 2012: A REPROVAÇÃO DAS CONTAS NÃO IMPEDE AUTOMATICAMENTE A CANDIDATURA

deve ser o da apresentação de contas”, in-dependentemente de terem sido julga-das regulares ou irregulares/aprovadas ou desaprovadas.

Por outro lado, consigna que, depen-dendo da gravidade da irregularidade das contas, o candidato poderá ser réu em representação eleitoral, “o que pode causar a perda do diploma do candidato eleito e a sua inelegibilidade” (TSE, Re-consideração na Instrução nº 154264, J. 28/06/2012).

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Duas novas leis criminais trazem grandes inovações nas áreas médico--hospitalar e de investigação policial. A Lei nº 12.653, de 28.5.12, acresceu o art. 135-A ao Código Penal, para estabele-cer um novo crime: condicionar atendi-mento médico-hospitalar emergencial a qualquer garantia, como cheque-caução ou nota promissória. A pena é de 3 me-ses a 1 ano de detenção e multa – que pode ser aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resultar lesão corporal grave e até o triplo se resultar a morte. Além disso, o estabelecimento que realizar atendimento médico-hospi-

talar emergencial fica obrigado a afixar, em local visível, cartaz ou equivalente, com a seguinte informação: “constitui cri-me a exigência de cheque-caução, de nota promissória ou de qualquer garantia, bem como do preenchimento prévio de for-mulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial, nos termos do art. 135-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal” (art. 2º). Tal exigên-cia já está em vigor.

Veiculada na mesma data, a Lei nº 12.654 alterou as Leis nos  12.037/09 e 7.210/84 (Lei de Execução Penal), para

NOVIDADES LEGISLATIVAS PARA ÁREAS MÉDICO-HOSPITALAR E DE METODOLOGIA DE APURAÇÃO DE CRIMES

GUSTAVO SCANDELARI

prever a coleta de perfil genético como forma de identificação criminal. A coleta de material biológico para a obtenção do perfil genético passará a fazer parte dos métodos de apuração de crimes. Os dados relacionados à coleta do material deverão ser armazenados em banco de perfis genéticos, gerenciado por unida-de oficial de perícia criminal. Somente a determinação de gênero e genoma hu-mano poderão ser referenciados, sendo que todas essas informações terão cará-ter sigiloso. Uma vez prescrito o crime, elas serão eliminadas.

ALEXANDRE KNOPFHOLZ

A IMPORTÂNCIA DAS ATAS NOTARIAIS PARA A COMPROVAÇÃO DE CRIMES ELETRÔNICOS

A evolução tecnológica exige um constante aperfeiçoamento dos ope-radores jurídicos. Vive-se na era dos processos eletrônicos, das audiências gravadas em áudio e vídeo e dos in-terrogatórios e sustentações orais por videoconferência, apenas para citar al-guns exemplos.

Por outro lado, o mundo virtual abriu um novo campo de atuação criminosa. Antigos crimes são cometidos eletroni-camente: há delitos patrimoniais perpe-trados em sites de instituições financei-ras, crimes contra a honra praticados por e-mail e ameaças realizadas por mensa-gens enviadas por telefones celulares.

Não é simples a produção da prova da materialidade da infração em casos tais. Não é razoável, por óbvio, proce-der à juntada do próprio telefone celu-lar ou do computador da vítima para a comprovação dos crimes. Neste ponto surge a importância das atas notariais, como meio legítimo e idôneo capaz de demonstrar a prática criminosa por meio eletrônico.

Tal providência possui amparo no Código de Normas da CORREGEDORIA--GERAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, que dispõe: “11.10.1 - Ata notarial é a certifi-cação de fatos jurídicos, a requerimento da parte interessada e por constatação pessoal

do tabelião, substituto ou escrevente, cujo objeto não comporte a lavratura de escri-tura pública. Pode ser lavrada ata notarial, entre outros exemplos, para a captura de imagens e de conteúdo de sites de Internet, vistorias em objetos e lugares, bem como narração de situações fáticas, com o intuito de prevenir direitos e responsabilidades.”

Assim, nessas situações, é recomen-dável que o ofendido entre em contato com um Tabelionato de sua confiança, a fim de que o profissional responsável ateste, acessando a internet, e-mails ou mensagens de celular, a ocorrência do fato criminoso.

DIREITO CRIMINAL

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A Lei nº 12.527/11, em vigência des-de 16 de maio passado, conhecida como Lei de Acesso à Informação, obriga órgãos públicos federais, estaduais e municipais a fornecer informações relacionadas às suas atividades a qualquer cidadão inte-ressado (folhas de pagamento, custos de obras e contratos etc.). Dentre outras pre-visões, a lei introduziu o art. 126-A na Lei nº 8.112/90 (Lei dos Servidores Públicos), que estabelece: “nenhum servidor poderá ser responsabilizado civil, penal ou admi-nistrativamente por dar ciência à autori-

dade superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, a outra autoridade competente para apuração de informação concernente à prática de crimes ou impro-bidade de que tenha conhecimento, ainda que em decorrência do exercício de cargo, emprego ou função pública.”

Trata-se de notável estímulo à apura-ção de crimes ou de atos de improbidade no âmbito do funcionalismo público, dos quais o servidor tenha ciência em razão do cargo. O funcionário, doravante imu-nizado civil, penal e administrativamente,

LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO: IMUNIDADES AO SERVIDOR DENUNCIANTE E CAUTELAS LUIS OTÁVIO SALES

poderá, de forma republicana (ou seja, identificando-se e sem má-fé), contribuir com a lisura e moralização da administra-ção pública, fiscalizando seus pares, sem risco de retaliação institucional. A lei pro-vê proteção ao denunciante que divulgar “informação” para “apuração” de eventual crime ou infração, mas é preciso ter cui-dado com os crimes de calúnia e denun-ciação caluniosa. O serviço público não se aprimora com vendetas. Agora, a ética e o dever cívico têm um incentivo legal, sem espaço, porém, para leviandades.

CONSOLIDAÇÃO DA POSIÇÃO DO STF QUANTO A INVESTIGAÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO RAFAEL DE MELO

Está, mais uma vez, em pauta no SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL a dis-cussão da possibilidade ou não da re-alização de investigação criminal pelo Ministério Público.

Sucintamente a questão visa definir, com base nos preceitos constitucionais, se é permitido ou não ao Ministério Pú-blico realizar investigação criminal de forma concorrente à Autoridade Policial, não ficando dependente desta para a apuração de ilícitos penais.

Essa prática já foi muito adotada pela instituição, sendo utilizada, inclusive, em

casos de grande repercussão midiática no cenário nacional.

O tema que teve reconhecida a re-percussão geral, ganha ares de finaliza-ção, pois a decisão proferida pelo Ple-nário consolidará o entendimento do Tribunal Constitucional e será replicada aos casos submetidos ao Poder Judiciá-rio Brasileiro que tratem da matéria.

Até o momento, a discussão já foi con-templada com seis votos, dentre os quais, dois ministros se manifestaram contrá-rios e quatro favoráveis à possibilidade. Na sessão do dia 27 de junho o Ministro

FÉLIX FISCHER pediu vista dos autos fato que acabou suspendendo o julgamento.

Além de FÉLIX FISCHER, faltam profe-rir seus votos os Ministros MARCO AURÉ-LIO, DIAS TOFFOLI, LUIZ FUX e a Ministra ROSA WEBER. À exceção de Marco Aurélio que apesar de não ter votado, já externou seu entendimento em sentido contrário à permissão ao Ministério Público, a posi-ção dos demais ministros ainda é desco-nhecida e seus votos serão decisivos para a questão. A decisão final poderá ser um divisor de águas em matéria criminal den-tro do Poder Judiciário brasileiro.

A IMPOSSIBILIDADE DE TABELAMENTO DA CONTINUIDADE DELITIVA GUILHERME ALONSO

O crime continuado, disposto no art. 71 do Código Penal, é aquele em que o agente pratica duas ou mais ações/omis-sões delituosas da mesma natureza e em circunstâncias semelhantes de tempo, lu-gar, maneira de execução etc. Quando da sua configuração, dispõe a lei que se apli-cará a pena de uma só conduta, acresci-da de um sexto a dois terços, como regra geral e, em até o triplo, no caso de crimes dolosos com violência ou grave ameaça à pessoa, a critério do Magistrado.

O aumento genérico é objeto de polê-mica. Há muito tempo, tem prevalecido o entendimento, tanto na doutrina quanto

na jurisprudência, de que a fração de au-mento relativa ao crime continuado deve ser diretamente proporcional ao número de infrações praticadas. Assim, para dois crimes, aumenta-se a pena em um sexto; para três, em um quinto; para quatro, em um quarto; para cinco, em um terço; para seis, na metade; e para sete ou mais, em dois terços. Criou-se, portanto, uma tabe-la de aplicação de pena, que desconside-ra as especificidades do caso concreto e o princípio inscrito no art. 59, CP, de que a pena será aplicada “conforme seja neces-sário e suficiente para reprovação e pre-venção do crime”.

Recentemente, porém, o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ apresentou entendimento vanguardista (Apelação Criminal nº 821015-7), oportunidade em que afastou o critério do tabelamento e aplicou pena proporcional às circuns-tâncias de caso que, embora envolvesse mais de sete infrações, não justificaria o aumento máximo previsto no art. 71, CP. Trata-se de entendimento preciso e que deve, por sua proficiência técnica, orien-tar uma nova corrente dentro daquela Corte, sempre em atenção ao princípio constitucional da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF).

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UM ANO DE VIGÊNCIA DA LEI Nº 12.403/11: NADA MUDOU

THUAN FELIPE GRITZ DOS SANTOSAcadêmico do 4º ano da Pontifícia Universidade

Católica do Paraná

No dia 4 de julho de 2012, a Lei nº 12.403/11 completou um ano de vigên-cia sem que tenha atingido o seu objeti-vo: diminuir a densa população carcerária do país, que, corresponde a aproximada-mente meio milhão de presos.

Evidencia-se, neste sentido, que o art. 319 do Código de Processo Penal, alterado pela lei destacada, privilegiou a aplicação de medidas cautelares diver-sas da prisão, quando o crime comina pena de até quatro anos e o réu preen-cha determinados requisitos, como a primariedade. Dentre as medidas alter-nativas estão: o regular comparecimento

em juízo, proibição de aproximação, re-colhimento domiciliar, monitoramento eletrônico, a imposição de fiança, dentre outras, todas com o escopo de evitar o recolhimento preventivo do réu à prisão.

Contudo, diferentemente do seu in-tuito, a lei gerou, por vezes, decisões con-trárias à própria lógica. É o que se observa na notícia de 02/07/12 (Lei da nova fiança completa 1 ano, mas não reduz lotação de cadeia – g1.globo.com/brasil/notícia) onde se afere que o “Juiz mandou mora-dor de rua ficar em casa, à noite, em SP”.

Outro problema é a fiança. Valores astronômicos são impostos aos presos.

A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE CONTRATUAL NAS RELAÇÃO DE CONSUMO

VICTOR S. S. LEALAcadêmico do 4º ano da Faculdade de

Direito de Curitiba

negocial” (GRINOVER, Ada Pelegrini. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumi-dor. ed Forense Univ, 9ª ed., 2007).

Essa teoria permite que pessoas jurí-dicas sejam consideradas consumidoras em relação a alguns de seus fornecedo-res. Por outro lado, restringe a aplicabi-lidade do CDC com relação aos forne-cedores dos chamados bens de capital, dentre os quais estão compreendidos aqueles que serão transformados para serem repassados ao verdadeiro consu-midor final, bem como os necessários ao desenvolvimento da atividade econômi-ca, cuja aquisição esteja intrinsicamente relacionada com a atividade fim do ad-

A aplicabilidade, ou não, do Códi-go de Defesa do Consumidor nas re-lações comerciais é controvérsia pre-sente em diversas demandas e deve ser levada em conta pelas empresas no momento da contratação, a fim de se observar as disposições legais, evi-tando prejuízos futuros.

O CDC adotou a teoria finalista, es-tabelecendo como um dos requisitos para caracterizar a relação de consumo a intenção do consumidor ao adquirir o bem como destinatário final. Assim, ele deve agir “com vistas ao atendimento de uma necessidade própria e não para o desenvolvimento de uma outra atividade

quirente do produto.O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA já

se manifestou nesse sentido, afirmando que: “para que o consumidor seja conside-rado destinatário econômico final, o pro-duto ou serviço adquirido ou utilizado não pode guardar qualquer conexão, direta ou indireta, com a atividade econômica por ele desenvolvida (...)” (Recurso Especial nº 92519/SP Rel. Min. FERNANDO GONÇAL-VES, 2ª SEÇÃO, DJe 4/3/2009).

Portanto, a análise prévia pelo de-partamento jurídico da empresa forne-cedora ganha fundamental relevância para evitar futuros dissabores e deman-das judiciais.

Aliás, muitos dos reclusos, sob a égide das predileções anteriores à lei, seriam postos em liberdade independente-mente do pagamento da fiança. Hoje, por não auferirem verbas suficientes ao pagamento, são mantidos encarcerados: a lei perde sua força e o número de pre-sos só aumentam. Em tempo: a notícia supramencionada prescreve que o au-mento da população prisional decorre do equivocado manejo na utilização da “nova” lei: “É um jeitinho de manter a pri-são sem decretar a prisão”.

Após um ano de vigência, percebe--se que há muito trabalho pela frente.

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

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MÃE ARREPENDIDA CONSEGUE A GUARDA DA FILHA COM FUNDAMENTO NA NOVA LEI DE ADOÇÃO

LUIZ FERNANDO DE SOUZA HIGAAcadêmico do 5° ano da Pontifícia Universidade

Católica do Paraná

Em recente decisão, a Terceira Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Ha-beas Corpus n° 221594) determinou que uma menina levada a um abrigo para adoção deve ser devolvida à genitora.

Conforme relatado no processo, a menor foi entregue pela mãe a um casal para adoção informal – a chamada “ado-ção à brasileira”. A pedido do Ministério Público Estadual, a Justiça deu ordem de busca e apreensão da menor, para que ela fosse recolhida a um abrigo e coloca-da à adoção de acordo com os procedi-mentos legais.

A mãe concordou com a medida, mas se arrependeu nove dias após o abriga-mento da criança e tentou recuperá-la. O Tribunal Estadual negou Habeas Corpus impetrado pela genitora, sob o funda-mento de que houve consentimento espontâneo, não ilegalidade na busca e apreensão da menor.

A mãe então impetrou Habeas Cor-pus no STJ, alegando que se arrependera após o recolhimento da criança ao abri-go. A Relatora, a Min. NANCY ANDRIGHI, concedeu liminar para garantir a perma-nência da filha com a mãe.

Em seu voto, a Relatora resaltou que: “Inexistindo maus tratos ou negligência e havendo retratação quanto ao consen-timento para a adoção, deveria ter sido dada plena aplicação à regra que prioriza a permanência da criança com sua famí-lia natural”.

Como não há situação de risco para a criança, “A sua busca e apreensão com acolhimento institucional, no curso de qualquer ação em que se discuta a custó-dia física da infante, representa evidente afronta ao melhor interesse do menor”, disse a Ministra.

Mesmo diante da atitude da mãe, não se pode ignorar a literalidade da Lei

nº 12.010/09, a nova Lei de Adoção. O texto diz que a criança só não deve ficar com sua família natural em caso de “ab-soluta impossibilidade”.

CRIMINALIZAÇÃO DO BULLYING

SCARLETT GARUTTI FERREIRAAcadêmica do 2º ano da Universidade Positivo

A proposta de anteprojeto do Códi-go Penal, entregue ao Senado Federal pela comissão de juristas no último dia 27 de junho, teve incluída em seu texto a criminalização do “bullying”, tipificando--o no art. 148 do Código proposto, como intimidação vexatória.

Seu texto tipifica como crime as con-dutas de “intimidar, constranger, assediar sexualmente, ofender, castigar, agredir, segregar a criança ou o adolescente, de forma intencional e reiterada, direta ou in-diretamente, por qualquer meio, valendo--se de pretensa situação de superioridade

e causando sofrimento físico, psicológico ou dano patrimonial”. A pena a ser atribu-ída para essas condutas variarão de um a quatro anos.

Ao que tudo indica a intenção da comissão é reprimir a proliferação de atos desta natureza, em regra prati-cados no ambiente escolar, seja pelos alunos, uns contras os outros, ou ainda pelos professores em face de seus alu-nos, os quais muitas vezes assim agem de forma equivocada, mas com o obje-tivo de reforçar a educação dos jovens e crianças que formaram a nossa futura

sociedade. Independente do autor da conduta, indiscutível que sua realiza-ção produz resultados educacionais de-sastrosos, caracterizando-se, portanto, num absurdo, especialmente partindo de professores – educadores.

Assim, a proposta do novo código pe-nal pretende não deixar impune aqueles que praticam e ofendem a integridade física e moral, da criança e adolescente, tal ofensa fere os princípios fundamen-tais da Constituição Federal, bem como a dignidade humana de todos cidadãos.

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FICHA LIMPA: AGORA É LEI.

DOUGLAS RODRIGUES DE CARVALHOAcadêmico do 2º ano da UNIBRASIL

Em que pesem as imperfeições das normas vigentes na atualidade, a Justiça Eleitoral, de forma progressiva, conta com mecanismos cada vez mais evoluídos para o controle de abusos dos candidatos nas eleições. É de se ressaltar que, de to-das as proposições legais, nenhuma rece-beu maior impacto do que a publicação da Lei Complementar nº 135 de 04 de junho de 2010 – Lei da Ficha Limpa.

Relevância maior foi a convalidação do texto legal pela decisão do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, que decidiu pela

constitucionalidade da LC nº 135/2010, bem como pela sua aplicação já nas elei-ções de outubro de 2012.

Juntamente com a comentada de-cisão, explodiu pelos quatro cantos do país, uma avalanche de posicionamen-tos de juristas, cientistas políticos, órgãos de classe e instituições, que publicaram críticas severas sobre a insegurança ju-rídica como legado resultante do emba-te entre moralistas e constitucionalistas.

Sem nenhuma pretensão de estabe-lecer um debate com renomados juristas,

nem tampouco ousar questionar a auto-nomia, imparcialidade e competência do STF, pode-se dizer que “a sociedade está sendo ouvida”. De acordo com o rigor da LEI DA FICHA LIMPA, muitos candidatos tiveram seus registros de candidatura re-jeitados, devido a certas ilegalidades e pendências na justiça, propiciando aos eleitores um melhor elenco de candidatos. Portanto, a decisão do STF acenou ao povo brasileiro que nem tudo está perdido.

VÍCIO REDIBITÓRIO EM BENS IMÓVEIS E OS CAMINHOS PARA DESFAZER UM MAU NEGÓCIO

KELLEN MARIA CORREIA LOUREIROAcadêmica do 3º ano da Faculdade de

Direito de Curitiba

Muitas pessoas já se depararam com a seguinte situação: adquiriram um bem por meio de contrato, por exemplo, um contrato de compra e venda e, após al-gum tempo, descobriram que o objeto desse possuía defeito ou vício que o tor-nou impróprio para uso ou diminuiu-lhe o valor. Casos de vícios em imóveis ou em automóveis são bastante recorrentes.

Em decisão recente, a Quarta Tur-ma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA decidiu, ao julgar o Recurso Especial nº 738.071, que a Caixa Econômica Federal era parte legítima para responder, junta-

mente com a construtora, por vícios na construção de imóvel cuja obra foi por ela financiada com recursos do Sistema Financeiro de Habitação.

A CEF recorreu ao STJ argumen-tando que não teria responsabilidade solidária pelos vícios de construção existentes no imóvel, destinado a mora-dores de baixa renda.

O Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, relator do recurso, explicou que a legiti-midade passiva da instituição financeira não decorreria simplesmente do fato de haver financiado a obra, mas de ter

provido o empreendimento, elaborado o projeto com todas as especificações, escolhido a construtora e de ter negocia-do diretamente, dentro do programa de habitação popular.

Segundo entendimento majoritá-rio da Quarta Turma nesse julgamento, a responsabilidade da CEF em casos que envolvem vícios de construção em imóveis financiados por ela deve ser analisada caso a caso, a partir da regula-mentação aplicável a cada tipo de finan-ciamento e das obrigações assumidas pelas partes envolvidas.

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Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo 3° Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 6° Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8° Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10° Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Artigo 11° 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 15° 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo 16° 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. Artigo 17° 1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Artigo 20° 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Artigo 23° 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Artigo 25° 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bemestar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Artigo 26° 1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Artigo 27° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. Artigo 29° 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 30° Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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Julho / Agosto / Setembro / 2012Ano 7 | Número 17

Tiragem: 1.700 exemplares Foto da capa: Henrique Borges

Impressão e acabamento: Maxi Gráfica

Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti

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Jornalista Responsável: Taís Mainardes DRT-PR 6380

Publicação periódica de caráter informativo com circulação dirigida e gratuita.

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