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CABO VERDE Follow us: exclusivamente fiscais. componente de vendedores que se Assim, o novo Código do IRPC deslocam em viaturas da empresa). estabelece no seu artigo 89.º as Contudo, existe uma dificuldade taxas de tributação autónoma que clara na aferição de quem vão vigorar a partir de 1 de Janeiro realmente tira proveito da de 2015 sobre encargos em que os utilização de tais viaturas, se a sujeitos passivos incorram durante empresa ou o colaborador. Com a aprovação do novo o ano, relativamente a: Código do Imposto sobre o · Despesas não · Despesas de representação rendimento das Pessoas Colectivas documentadas, sem prejuízo da dedutíveis – 10% (IRPC), foram criadas diversas taxas sua não consideração como gasto A justificação desta tributação de tributação autónoma, apenas fiscal – 40% prende-se com o facto de as aplicáveis aos sujeitos passivos A desconsideração das despesas de representação enquadrados no regime de despesas não documentadas na estarem numa zona menos clara, contabilidade organizada. determinação do lucro tributável na medida em que se podem É importante ter presente que estabelecida no artigo 29º e a adequar a finalidades privadas ou nas tributações autónomas não posterior aplicação de uma taxa de empresariais. Facilmente se está em causa a tributação de um tributação autónoma, leva a que os percebe que é muito difícil rendimento gerado no fim do sujeitos passivos evitem distinguir aquilo que é do âmbito período tributário pela pessoa apresentar este tipo de despesas, negocial ou de lazer quando, por colectiva, mas antes a tributação assumindo, assim, uma finalidade exemplo, uma empresa organiza directa de determinadas despesas, de prevenção, bem como um jantar, mesmo que sejam consubstanciando cada despesa compensar a ausência de apontadas, à partida, razões de um facto tributário autónomo, a tributação na esfera do respetivo negócio. que o contribuinte fica sujeito, beneficiário. · Ajudas de custo e venha ou não a ter rendimento compensação pela deslocação em tributável no fim do período. · Encargos relacionados com viatura própria do trabalhador – O legislador terá visado viaturas ligeiras de passageiros ou 10% tributar, por esta via, despesas que mistas, motos e motociclos – 10% · Remunerações em espécie se encontram na zona de A incidência da tributação (sobre o valor real ou de mercado) intersecção da esfera pessoa e da autónoma sobre os encargos com 10% esfera empresarial, de modo a as viaturas ligeiras de passageiros A sujeição tributação dissuadir as sociedades a ou mistas, não deixa de ser uma autónoma destes dois tipos de apresenta-las com regularidade e medida controversa. despesa visa retrair a empresa ao de elevado montante, para evitar, É inegável que muitas as pagamento de importâncias que designadamente, que os sujeitos empresas necessitem de ter pode não ser sujeitas a tributação passivos de IRPC utilizem tais automóveis no seu activo para o na esfera dos seus trabalhadores. despesas para proceder a desenvolvimento da respectiva distribuição camuflada de lucros e actividade (como por exemplo, · Importâncias pagas ou evitar remunerações em espécie empresas de distribuição, devidas, a qualquer título, a mais atraentes por razões empresas comerciais com forte pessoas singulares ou a entidades 21 | 05 | 2015 MAIO 02 | 2015

BTOC News 02|2015 - IRPC Tributações Autónomas a partir de 2015

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Com a aprovação do novo Código do Imposto sobre o rendimento das Pessoas Colectivas (IRPC), foram criadas diversas taxas de tributação autónoma, aplicáveis aos sujeitos passivos enquadrados no regime de contabilidade organizada. O objetivo é a tributação directa de determinadas despesas, consubstanciando cada despesa um facto tributário autónomo, a que o contribuinte fica sujeito, venha ou não a ter rendimento tributável no fim do período. Palavras-chave: IRPC; Tributação autónoma; Despesas não documentadas; Encargos com viaturas ligeiras; Despesas de representação; Ajudas de custo; Remuneração em espécie;

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exclusivamente fiscais. componente de vendedores que se Assim, o novo Código do IRPC deslocam em viaturas da empresa).

estabelece no seu artigo 89.º as Contudo, existe uma dificuldade taxas de tributação autónoma que clara na aferição de quem vão vigorar a partir de 1 de Janeiro realmente t ira proveito da de 2015 sobre encargos em que os utilização de tais viaturas, se a sujeitos passivos incorram durante empresa ou o colaborador.

Com a aprovação do novo o ano, relativamente a:Código do Imposto sobre o · D e s p e s a s n ã o · Despesas de representação rendimento das Pessoas Colectivas documentadas, sem prejuízo da dedutíveis – 10%(IRPC), foram criadas diversas taxas sua não consideração como gasto A justificação desta tributação de tributação autónoma, apenas fiscal – 40% prende-se com o facto de as aplicáveis aos sujeitos passivos A descons ideração das despesas de representação enquadrados no regime de despesas não documentadas na estarem numa zona menos clara, contabilidade organizada. determinação do lucro tributável na medida em que se podem

É importante ter presente que estabelecida no artigo 29º e a adequar a finalidades privadas ou nas tributações autónomas não posterior aplicação de uma taxa de empresariais. Facilmente se está em causa a tributação de um tributação autónoma, leva a que os percebe que é muito difícil rendimento gerado no fim do s u j e i t o s p a s s i v o s e v i t e m distinguir aquilo que é do âmbito período tributário pela pessoa apresentar este tipo de despesas, negocial ou de lazer quando, por colectiva, mas antes a tributação assumindo, assim, uma finalidade exemplo, uma empresa organiza directa de determinadas despesas, d e p r e v e n ç ã o , b e m c o m o um jantar, mesmo que sejam consubstanciando cada despesa c o m p e n s a r a a u s ê n c i a d e apontadas, à partida, razões de um facto tributário autónomo, a tributação na esfera do respetivo negócio.que o contribuinte fica sujeito, beneficiário. · Ajudas de custo e venha ou não a ter rendimento compensação pela deslocação em tributável no fim do período. · Encargos relacionados com viatura própria do trabalhador –

O legislador terá visado viaturas ligeiras de passageiros ou 10%tributar, por esta via, despesas que mistas, motos e motociclos – 10% · Remunerações em espécie s e e n co nt ra m n a zo n a d e A incidência da tributação (sobre o valor real ou de mercado) intersecção da esfera pessoa e da autónoma sobre os encargos com – 10%esfera empresarial, de modo a as viaturas ligeiras de passageiros A s u j e i ç ã o t r i b u t a ç ã o d i s s u a d i r a s s o c i e d a d e s a ou mistas, não deixa de ser uma autónoma destes dois tipos de apresenta-las com regularidade e medida controversa. despesa visa retrair a empresa ao de elevado montante, para evitar, É inegável que muitas as pagamento de importâncias que designadamente, que os sujeitos empresas necessitem de ter pode não ser sujeitas a tributação passivos de IRPC utilizem tais automóveis no seu activo para o na esfera dos seus trabalhadores.d e s p e s a s p a ra p ro c e d e r a desenvolvimento da respectiva distribuição camuflada de lucros e actividade (como por exemplo, · Importâncias pagas ou evitar remunerações em espécie e m p re s a s d e d i s t r i b u i ç ã o, devidas, a qualquer título, a mais at raentes por razões empresas comerciais com forte pessoas singulares ou a entidades

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que beneficiem de regime de aplicadas a cada uma das despesas previstas. Além de que a aplicação da tributação privilegiada (conforme tributação autónoma a cada despesa incorrida, tem, por si só, subjacente o d e f i n i d o n o C ó d i g o G e ra l objetivo de prevenir ou compensar eventuais fugas de imposto.Tributário), salvo se o sujeito p a s s i vo p u d e r p rova r q u e Acresce ainda referir que relativamente às despesas de correspondem a operações representação, metade do respetivo valor não é aceite como gasto efetivamente realizadas e não têm fiscal. E sobre a restante metade do valor vai incidir a tributação um carácter anormal ou um autónoma à taxa de 10% (eventualmente acrescida de 10 pontos montante exagerado – 60%. percentuais).

A tr ibutação autónoma aplicável a este tipo de despesas São excluídos de tributação autónoma os encargos com viaturas poderá ser considerada como uma ligeiras de passageiros, motos e motociclos:forma de compensar eventuais · Quando tais veículos estejam afectos à exploração de serviço público formas de elisão fiscal. de transporte, destinados a serem alugados no exercício da actividade

No caso em que o sujeito normal do sujeito passivopassivo beneficie de regime de · Relativamente a sujeitos passivos que pelas características das suas tributação privilegiada ou que operações, demonstrem necessidades adicionais de uso de viaturas ligeiras apresente prejuízo fiscal no de passageiros ou mistas e disponham de uma frota superior a 50. período de tributação a que respeitem os encargos, as taxas de tributação são elevadas em 10 pontos percentuais.

Esta disposição terá em nosso entender os seguintes objetivos: (i) como parte do prejuízo apurado poderá ter sido fruto de gastos dedutíveis em que a empresa terá incorrido, de forma abusiva, com o intuito de pagar menos imposto, a tributação autónoma serviria como compensação da falta de receita; (ii) a tributação autónoma pode implicar uma penalização das sociedades que apresentem prejuízo fiscal no fim do período e, nessa medida, não deveria ter realizado despesas deste tipo; (iii) desencorajar a ocorrência de certas despesas que poderem contribuir para atingir prejuízo fiscal no final do período.

Ainda que estes objetivos possam ter o seu mérito, o agravamento de 10 ponto percentua i s é sem dúv ida excessivo, uma vez que já são bastante elevadas as taxas

NO QUADRO SEGUINTE SINTETIZAM-SE A NATUREZA DOS ENCARGOS SUJEITOS A TRIBUTAÇÃO AUTÓNOMA E AS RESPETIVAS TAXAS, NORMAL E AGRAVADA.

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Nesta situação, o valor das tributações autónomas

representa cerca de 12% do valor total de imposto a pagar, o

que não deixa de ser significativo.

No caso em que o sujeito passivo registe prejuízo fiscal no

período e por conseguinte não tem imposto sobre o

rendimento, o valor das tributações autónomas sobre o

mesmo valor de despesas vai subir para 130.000$00.

Assim, bem se vê que o impacto económico das

tributações autónomas nas empresas não é uma matéria

desprezável no efeito da carga fiscal a partir de 2015, pelo que

esta vai ser uma matéria de preocupação adicional para os

empresários.

PARA DEMONSTRAR O EFEITO DESTA TRIBUTAÇÃO ADICIONAL J U N TA - S E U M P EQ U E N O EXEMPLO DEMONSTRATIVO:

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