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Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um canal de denúncias da corrupção que afronta a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos representam interesses de grupos, e servem para encobrir o oportunismo político de bandidos. Só falamos contra safados, corruptos, estelionatários, e quejandos. Assim, replicamos os melhores comentários e análises críticas. E opiniões do Blog... LOROTAS POLÍTICAS & VERDADES EFÊMERAS terça-feira, 13 de maio de 2014 CACOS DA VELHA POTÈNCIA A elite branca, a maioria negra e a cidade falida Vinte e sete afrescos pintados nos anos 30 por Diego Rivera compõem a Indústria de Detroit , cenas de glória e pujança da principal fábrica da Ford, nos arredores da cidade. Veem-se máquinas em movimento, sofisticadas engrenagens, operários em ação, patrões à espreita, automóveis na intrincada linha de montagem. Os painéis adornam as paredes de mármore de um salão do Instituto de Artes de Detroit, um dos mais importantes museus dos Estados Unidos, cujo acervo corria o risco de ser vendido para ajudar a pagar a monumental dívida pública que levou a cidade a declarar falência no ano passado. Em uma noite gelada de fevereiro, o salão estava lotado. Emoldurados pelos murais do mexicano, um casal de cantores entoava trechos do musical O Fantasma da Ópera. Mulheres de vestidos brilhosos se equilibravam em saltos agulha empunhando máscaras com adereços reluzentes e penas coloridas. Homens de smoking, também mascarados, trançavam pelo ambiente – uma das mãos no bolso, a outra segurando um copo –, em meio a malabaristas que jogavam bolinhas para o alto. Os convivas eram brancos, bem de vida, moradores dos abastados subúrbios do entorno. A maioria, profissionais liberais e empreendedores. Com convites a 100 dólares, o baile

Cacos da Velha Potência

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A elite branca, a maioria negra e a cidade falida. Daniela Pinheiro, 13 de maio de 2014, Piauí, 92A historia da cidade de Detroit, Michigan, EUA

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Um painel poltico do momento histrico em que vivem o pas e o mundo. Pretende ser umcanal de denncias da corrupo que afronta a cidadania. Este no um blog partidrio, vistoque partidos representam interesses de grupos, e servem para encobrir o oportunismopoltico de bandidos. S falamos contra safados, corruptos, estelionatrios, e quejandos.Assim, replicamos os melhores comentrios e anlises crticas. E opinies do Blog...LOROTAS POLTICAS & VERDADESEFMERAStera-feira, 13 de maio de 2014CACOS DA VELHA POTNCIAA elite branca, a maioria negra e a cidade falida Vinte e sete afrescos pintados nos anos 30 por Diego Rivera compem a Indstria deDetroit, cenas de glria e pujana da principal fbrica da Ford, nos arredores da cidade.Veem-se mquinas em movimento, sofisticadas engrenagens, operrios em ao, patres espreita, automveis na intrincada linha de montagem. Os painis adornam as paredes demrmore de um salo do Instituto de Artes de Detroit, um dos mais importantes museus dosEstados Unidos, cujo acervo corria o risco de ser vendido para ajudar a pagar a monumentaldvida pblica que levou a cidade a declarar falncia no ano passado.Em uma noite gelada de fevereiro, o salo estava lotado. Emoldurados pelos murais domexicano, um casal de cantores entoava trechos do musical O Fantasma da pera.Mulheres de vestidos brilhosos se equilibravam em saltos agulha empunhando mscarascom adereos reluzentes e penas coloridas. Homens de smoking, tambm mascarados,tranavam pelo ambiente uma das mos no bolso, a outra segurando um copo , em meio amalabaristas que jogavam bolinhas para o alto.Os convivas eram brancos, bem de vida, moradores dos abastados subrbios do entorno. Amaioria, profissionais liberais e empreendedores. Com convites a 100 dlares, o bailepretendia levantar fundos para o museu, como parte do acordo com a prefeitura para salvara coleo de arte. O assunto era tema recorrente nas rodinhas de conversa da festa, assimcomo o que se dizia ser o renascimento de Detroit.Os sindicatos e os polticos destruram a cidade. Mas agora h luz no fim do tnel,comentou um empresrio do ramo imobilirio, cuja mulher estava fantasiada de colombina.Detroit nunca mais ser os carros, essa cena do Rivera ficou para trs, disse, apontandopara uma das paredes. O caminho tecnologia, criatividade e empreendedorismo. A seulado, um jovem advogado de gravata-borboleta e mscara do Zorro contava estar deixando osubrbio depois de ter desembolsado a pechincha de 50 mil dlares por um loft no Centro.Quase no se encontram mais imveis disponveis. H filas de espera para comprar,informou. Um xeque rabe de fato, um arquiteto loiro engrossou o coro. At aVogue est vindo fazer uma matria. Somos o novo Brooklyn, falou, referindo-se aobadalado bairro nova-iorquino. Detroit parecia a terra das oportunidades.Quando ouo a palavra Detroit ser pronunciada junto ao substantivo oportunidade, eusempre me pergunto: Oportunidade para quem?, comentou o professor George Galster,da Universidade Wayne State, autor do livro Driving Detroit, uma saga pica sobre odesmantelo local, durante um passeio de carro pela cidade. No vejo como reinventar umlugar ignorando as razes primordiais de como chegamos at aqui, disse.O at aqui era a distopia absoluta. Nenhuma outra cidade americana com exceo deNova Orleans, destroada pelo furaco Katrina em 2005 sofreu uma devastao do quilatede Detroit. No s a runa urbana, mas socioeconmica, financeira, fiscal. A rota do declniolevou cinquenta anos, mas foi cirrgica. Em funo da capacidade mxima de suas fbricas,Detroit j foi tida como a maior potncia industrial do mundo no comeo do sculo XX,protagonista por excelncia da indstria automobilstica mundial e quarta maior cidadeamericana. Hoje coleciona os piores indicadores de pas desenvolvido: criminalidadedescontrolada, decadncia industrial, falta de servios pblicos, fuga em massa da populao,descaso urbano.Em um intervalo de duas geraes, 60% dos moradores abandonaram a cidade. Dos quase 2milhes de habitantes, restaram 700 mil 85% deles negros e pobres, metade dos quais composta de analfabetos funcionais. A taxa real de desemprego de 50%, sete vezes a mdianacional; o sistema educacional o pior da regio; os ndices de homicdio so os mais altos dopas. At pouco tempo, era frequente empresrios de fora assinarem um documentoassumindo os riscos sobre a prpria integridade fsica quando visitavam a cidade a convite daprefeitura.No existe trem ou metr, a maioria das linhas de nibus foi cancelada. Uma das poucasopes de transporte pblico um monotrilho que d uma volta intil ligando o nada a lugarnenhum. Txis so raros. E sujos. A coleta de lixo incerta, os postes de luz funcionam meia-boca, a polcia ineficaz. Centros comerciais ou lojas de rua so inexistentes. Cinemas,s dois. H poucos meses, a cara rede de supermercado orgnico Whole Foods se instalounum imvel reformado graas a um vultoso pacote de subsdios estaduais. At ento,atravessava-se a ponte para o Canad ou rodava-se at os subrbios para abastecer ocarrinho.Por todo lado, o visitante se depara com restos de casas, edifcios, fbricas, bancos, farmcias,livrarias, restaurantes, escolas, hospitais, igrejas, sinagogas que, cobertos pela neve doinverno mais rigoroso dos ltimos vinte anos, tornavam a paisagem ainda mais melanclica. Em contraste com o cenrio de apocalipse ps-industrial, resplende a Detroit dasoportunidades. Ela se concentra em Downtown, no Centro, e Midtown, na parte leste,microrregies que formam uma letra T invertida no mapa e correspondem a apenas 7% darea da cidade. Ali, entre uma runa e outra, erguem-se os espiges em permanentereforma; os galpes convertidos em galerias de arte; os depsitos transformados emlofts residenciais disputados por gente que anda de terno; os restaurantes que servemcervejas artesanais e vinhos orgnicos; os hotis apinhados de executivos correndo atrs deum bom negcio na terra arrasada; os escritrios de empresas de tecnologia. tambm poronde circulam os hipsters a palavra que mais ouvi ao longo de trs semanas; a segunda foiabandonado. uma turma que gosta de culos de armao grossa, camisa xadrez e calaapertada, e exerce alguma profisso que demanda excelncia no computador ou no mundodas artes e letras. Homens usam barba e mulheres no se importam de ser gordinhas. EmDetroit, costumam ser brancos.Lanado com alarde h um ano, o Detroit Cidade do Futuro um plano de metas encampadopela prefeitura para reinventar a cidade nos prximos cinquenta anos. Foi elaborado por umgrupo de arquitetos, urbanistas, cientistas polticos e socilogos, financiados por fundaesprivadas. O trabalho consumiu dois anos e, segundo a equipe, foram ouvidos 30 mil cidadosem centenas de debates pblicos. O secretrio de Empregos e Desenvolvimento Econmicode Detroit, Tom Lewand, disse aos jornais que o plano era sua bblia.Pela proposta, Detroit vai se tornar um Vale do Silcio meio hippie, meio bomio, meiocabea. Um polo de empresas de tecnologia, atelis de artistas plsticos, reduto depromissores escritores rodeado por um paraso ecolgico e sustentvel. Ser um novoparadigma da vida nas cidades, comentou o diretor do projeto, Ken Cockrel um giganteque lembrava um jogador da liga de basquete na solenidade de inaugurao da nova sededa organizao, em fevereiro.Downtown e Midtown abrigaro escritrios, comrcio, boom imobilirio, praas, centros delazer e entretenimento. E os hipsters. No resto da cidade, pretende-se eliminar asconstrues desocupadas e fazer da pradaria aniquilada uma mquina de produo agrcola.Assim, terrenos baldios vo dar lugar a hortas comunitrias, estufas, parques, lagosartificiais. Haver florestas para combater a emisso de carbono das estradas e um sistemaavanado de poos artesianos de captao de gua da chuva. A ideia que os atuaismoradores negros e pobres sejam empregados nas fazendas urbanas, que produziro emgrande escala para abastecer toda a regio. Haver uma cadeia produtiva em todos osnveis, que vai absorver a mo de obra local e incrementar a economia, explicou KenCockrel.Uma das concluses do plano que alguns bairros hoje inviveis jamais sero recuperados.Por isso, a diretriz reza concentrar investimentos pblicos em reas de alta densidadepopulacional. No caso, na Detroit das oportunidades. Bairros com poucos ou nenhummorador tero reduzidos os servios essenciais. Ainda no fechamos como ser luz, gua elixo em cada bairro, comentou Cockrel. Os recursos para implantar o projeto, j que acidade est quebrada, so outra incgnita. Vamos esperar pelos termos da falncia e ver doque a cidade ir dispor, disse ele. Mas, pela primeira vez em dcadas, existe um planoprtico para salvar Detroit. Isso j um excelente motivo de comemorao. Vista do alto, Detroit tem o formato de um motor de carro. Capital do condado de Wayne, omais importante do estado do Michigan, ela um retngulo imenso, com uma ponta estreitana parte inferior. espalhada, pouco densa e predominantemente horizontal. Com uma reaequivalente a trs vezes o tamanho de Paris, direita banhada pelo rio Detroit, quedelimita a fronteira de menos de 4 quilmetros com o Canad. Pela esquerda e ao norte, estrodeada de gente branca. Ali se espraiam os suntuosos condados de Oakland e Macomb, emcujos subrbios moram 2 milhes de pessoas descendentes da segunda ou terceira geraode ex-moradores de Detroit.A base da economia local continua sendo a indstria automobilstica. Ainda a sede das TrsIrms: General Motors e Chrysler no Centro; Ford, em Dearborn, na regio metropolitana. Acidade, que j teve mais de mil fbricas de carros e autopeas, hoje conta com apenas duasque, juntas, so responsveis por menos de 4% da produo nacional. Por ano, Detroit recebe15 milhes de turistas interessados nas runas urbanas, na herana da gravadora Motown que j foi a lder no continente e no Salo do Automvel, considerado o maior evento dosetor no mundo.No faltam argumentos para explicar o que aconteceu em Detroit: a falncia da indstriaautomobilstica americana, a desindustrializao, a fuga dos brancos para o subrbio, acorrupo dos governantes, o inchao da mquina pblica, a ganncia dos sindicatos detrabalhadores. um caso muito especfico, disse Jos Alexandre Scheinkman um homemelegante, de forte sotaque carioca e olhos cor de piscina em sua sala, na UniversidadeColumbia, em Nova York. Na economia, como na queda de um avio, no h um s motivopara o desastre. a combinao deles que torna a situao nica. E s em Detroit poderiaacontecer o que aconteceu.Um dos mais respeitados economistas do mundo, Scheinkman defende a tese de que a quedalivre de Detroit tem origem, paradoxalmente, no pice econmico atingido pela cidade. Ariqueza das montadoras produziu um fenmeno nico junto populao: o desprezo pelaeducao e o enterro do empreendedorismo, afirmou. Para que preciso estudar se meurendimento me permite ter um bom nvel de vida? Por que abrir um negcio arriscado setenho um bom contracheque? Em 1970, por exemplo, os salrios em Detroit e em Cleveland que tambm tinha forte base industrial eram muito maiores que os de Boston ouMinneapolis, onde o nvel de escolaridade era superior. O resultado foi que, em menos dequatro dcadas, o sistema educacional ruiu. Atualmente, menos de 40% das crianas emidade escolar esto matriculadas. A gerao futura tem a cara do erro do passado. Detroit feznascer uma horda de desempregados sem formao, nem qualificao ou perspectivas,fadada ao desemprego.Aliado falncia educacional, o vazio de oportunidades de sustento econmico agravou ocenrio. S as Trs Irms juntas chegaram a empregar 60% da populao local. Quandodesembarcaram as fbricas japonesas e europeias com carros mais modernos, baratos eeconmicos, a concorrncia roubou os empregos e a cidade estancou. No havia outra fontede trabalho. Chicago e Pittsburgh, que passaram por situao semelhante, agarraram-se naslida estrutura bancria e educacional para se reinventar. Nova York, que j foi txtil,sobreviveu por diversificar, atuando em reas de tecnologia, medicina e educao.E havia ainda um terceiro aspecto de ordem social: o desaparecimento da classe mdianegra, que tambm fugiu da cidade em busca de melhores condies de vida. Um dosmaiores estudiosos da questo racial no pas, o socilogo americano William Julius Wilson, daUniversidade Harvard, pregava: quando uma minoria perde a referncia ou deixa de serrepresentada por uma elite intelectual, ela tende a desaparecer. O Harlem sempre foi muitosegregado, mas havia uma vibrante atividade intelectual, de artistas, escritores, quepreservaram a identidade e reafirmavam a presena deles na sociedade, comentouScheinkman.Em 1701, o oficial francs Antoine de la Mothe Cadillac desembarcou na regio dos GrandesLagos, no norte dos Estados Unidos, com a misso de impedir que os ingleses dominassem ovalorizado comrcio de peles na Nova Frana a colnia que inclua o Canad e se estendiaat a Louisiana. Num ponto privilegiado e de fcil acesso martimo, ele estabeleceu um fortee o batizou de Pontchartrain du Dtroit, aludindo a um estreito (dtroit em francs),inexistente, na baa.A localizao estratgica facilitava as trocas comerciais e, em pouco tempo, Cadillac passou atocar os negcios da Coroa como se estivesse no quintal de casa. Cobrava propina demercadores, obrigava-os a compartilhar os lucros, taxava todo tipo de atividade. Anosdepois, foi preso por comrcio ilegal de lcool e peles. O territrio se desenvolveurapidamente e afinal foi conquistado pelos britnicos. Foi s tempos depois da Guerra daIndependncia, em 1796, que Detroit se tornou parte dos Estados Unidos. Logo depois, umincndio de grandes propores destruiu a cidade. Veio da a divisa latina que estampa suabandeira: Speramus meliora, resurget cineribus (Esperamos por coisas melhores, renascerdas cinzas).Quem a escolheu tinha o dom da prescincia. De fato, a cidade renasceu e se tornou umimportante centro manufatureiro. Produzia peas de ferro e cobre minrios abundantes naregio , comercializava tabaco, trens, fornos e barcos. Perto da virada do sculo XIX para oXX dezenas de indstrias haviam se instalado na cidade e a populao majoritariamentebranca prosperava. Nessa mesma poca, um jovem chamado Henry Ford, aprendiz deuma fbrica de vages ferrovirios dotado de notvel habilidade para consertar motores avapor, tentava construir em casa uma engrenagem a gs. Finalmente, em 1896, eleapresentou ao mundo seu primeiro automvel: um quadriciclo movido a gasolina.Nos dez anos seguintes, Ford inaugurou sua primeira fbrica e revolucionou o mundo fabrilcom a inveno da linha de montagem com tempo cronometrado. William Durantestabeleceu a General Motors vieram os Dodge, os Chrysler, os Packard. A rpidaindustrializao requeria mo de obra, e foi esse o chamariz para a classe trabalhadora do suloprimida pelo desemprego, a falta de perspectiva e o racismo. Da Europa, vieram levas dealemes, poloneses, irlandeses, italianos, escoceses, gregos e belgas.Brancos e negros lotavam o cho das fbricas, a cidade se tornou uma potncia. Nos anos 20,Detroit tinha pleno emprego e a renda per capita mais alta do pas. Os espetaculares edifciosart dco, a maior loja de departamentos do mundo, a magnfica estao de trens. Umareportagem do New York Times, de julho de 1927, dizia: Os habitantes de Detroitcompem a mais prspera fatia da humanidade que existe ou jamais existiu.Com a Grande Depresso, metade dos empregados ficou ao deus-dar, mas a SegundaGuerra Mundial trouxe de volta a abastana. As fbricas quase inativas se tornaram asmaiores produtoras de armas e veculos militares dos Estados Unidos. Nas palavras do entopresidente Franklin Delano Roosevelt, Detroit era o Arsenal da Democracia. Novos postosde trabalho abrigaram mulheres, idosos, crianas e estimularam um novo fluxo migratrio.Surgiu uma ascendente classe mdia negra, de mdicos, advogados e professores. E quandose tem notcia dos primeiros dos muitos ataques da Ku Klux Klan e da Black Legion emDetroit, organizaes que defendiam a supremacia racial branca. quela altura, a cidadetinha 1,5 milho de habitantes, sendo apenas 4% negros. Criada em 1935, a UAW (United Automobile Workers) a central sindical que representa osoperrios da indstria automotiva. Mas no s. A mais poderosa liga de trabalhadores domundo hoje representa praticamente todo o mercado: professores, enfermeiros, servidorespblicos, jornalistas de diversas cidades do pas. Logo depois da guerra, liderando longevasgreves e pressionando os patres, conseguiu o que at hoje as montadoras entendem como arazo de seu endividamento e a perda da competitividade no mercado globalizado: opagamento de benefcios como auxlio-moradia, plano de sade e aposentadoria o que,segundo as empresas, gera pesados encargos trabalhistas que tornam a concorrnciainvivel.A UAW garantia a negros e brancos o mesmo salrio, mas o trabalho era diferente. Osprimeiros limpavam o cho ou lidavam com caldeiras e ao fervente; os outros estavamalocados em postos de comando ou na linha de montagem. Negros eram ensinados desde obero que no deveriam confiar nos brancos. E vice-versa. Em 1943, a namorada de ummarinheiro branco foi xingada por um operrio negro numa pacata manh de sol no ParqueBelle Isle. Deu-se o primeiro confronto racial grave, que deixou 34 mortos. Trs semanasantes, 25 mil operrios da montadora Packard entraram em greve quando negros foramcontratados para postos destinados aos brancos. Esses episdios constituram uma prvia domaior de todos os conflitos, ocorrido em julho de 1967, que teve incio com uma batida policialnum bar clandestino onde trabalhadores negros davam uma festa. A notcia da priso dosoperrios desencadeou um sangrento embate que durou cinco dias e teve um saldo deguerra: 43 mortos, 1 200 feridos, 7 mil presos e 2 mil prdios incendiados. Tropas federaisocuparam a cidade por meses. A tenso racial era evidente.A populao crescia e, com ela, a demanda por moradias. Negros tentavam morar em bairrosbrancos, em vo. quando surge uma das mais perversas polticas pblicas para manter osnegros afastados da vizinhana caucasiana: o redlining. Assim que o sistema nacional dehipotecas para compra de moradias foi lanado, a Federal Housing Administration umaespcie de Caixa Econmica Federal dividiu a cidade em zonas de risco de inadimplnciapara investimentos imobilirios. Como os negros moravam em guetos, era fcil identificarseus bairros. No mapa, as reas dos guetos foram marcadas em vermelho, da o nome. Apartir de ento, bancos e instituies financeiras negavam emprstimos argumentando nohaver linhas de crdito disponveispara moradores daquele setor. A cor da pele jamais era mencionada. Era uma polticapblica, explcita e direcionada para excluir os negros, comentouo professor carioca Bruno Carvalho, especialista em urbanismo e cultura, da UniversidadePrinceton, em uma manh em Nova York. E ainda havia a iniciativa de entes privados queatuavam livremente baseados nas polticas institucionais de segregao, disse.Era o caso de uma associao chamada Waterworks Park Improvement, formada porcorretores de imveis que se recusavam a mostrar casas a determinados clientes. E mais:procuravam proprietrios brancos dentro dos limites da cidade e os incentivavam a venderseus imveis antes da chegada dos vizinhos de cor, o que, segundo eles, desvalorizaria aregio. Na mesma conversa, ofereciam uma residncia no subrbio como alternativa. Umlevantamento do jornal Detroit Free Press revelou que, entre 1940 e 1960, apenas 1% dosemprstimos bancrios para a compra de casas foi destinado populao negra. Noimportava que demonstrassem renda compatvel com a linha de crdito. Sem alternativa, osmoradores se espremiam em quarteires com pssima infraestrutura no lado leste dacidade. Ironicamente, um dos guetos foi batizado de Paradise Valley. Brightmoor o bairro mais pobre e mais violento de Detroit. Com 12 mil moradores, demaioria negra, o rinco que concentra problemas de uso de drogas, gravidez adolescente eobesidade. A principal avenida de acesso ao bairro congrega todos os lugares que foramlargados prpria sorte: uma sucesso de igrejas evanglicas, lojas de bebida e fast-foods.Fundado no comeo dos anos 20 para abrigar operrios de uma das fbricas da Ford,Brightmoor consiste num conglomerado de casas de madeira com dois dormitrios, umapequena sala, banheiro e cozinha contgua. Cerca de 90% delas esto abandonadas. Portasescancaradas, janelas com os vidros quebrados, paredes pichadas. Em uma delas, umarvore crescia no que um dia foi uma sala de jantar.Das ruas residenciais emana um silncio sepulcral. De vez em quando, avista-se uma figurasaindo de uma casa abandonada provavelmente um ponto de comrcio de drogas. Foi aprimeira vez que tive a ideia precisa do que era a decrepitude de Detroit. Perto dali, o restoda cidade parecia Las Vegas. No plano Detroit Cidade do Futuro, Brightmoor vai dar lugar auma buclica rea verde com lagos, pontes, estufas de colheita orgnica.Em um comeo de tarde, encontrei-me com Joe Rashid, um barbudinho simptico de 32anos, funcionrio da Brightmoor Alliance, organizao sem fins lucrativos que atua na regio.Nosso trabalho engajar os moradores em atividades que gerem emprego, como a ideia deagricultura urbana, comentou. Mas, depois de tanto tempo de abandono, difcil mobilizargente.Logo aps o anncio do plano de reestruturao da cidade, o fantasma da realocao passou aassombrar os moradores. H dcadas, Detroit se vale de uma lei municipal para removerresidentes que ocupem reas destinadas a projetos de renovao urbana e desenvolvimentoeconmico. O conceito que anima o instrumento legal de remoo o propsito pblico. Nopassado, foi usado a contento dos governantes, de maneira indiscriminada. Eles estogarantindo que isso no vai acontecer, mas j vimos de tudo por aqui, ento..., disse Rashid.Segundo ele, o bairro ainda existia graas ao trabalho voluntrio e iniciativa de ONGs quecuidavam da destruio das casas abandonadas, da capacitao de moradores e da remoodos entulhos (a prefeitura pouco coleta lixo). Quando perguntei se j tinham tido algumproblema em derrubar uma casa sem autorizao da prefeitura, ele riu. Aqui voc pededesculpa por ter feito, no licena para fazer, disse.Seguimos para um encontro no centro comunitrio de Brightmoor. Na quadra de esportes,mesas compridas e bancos de ferro se alinhavam em frente a um balco onde estavamdispostas travessas de alumnio com frango frito, angu de milho, salada, bolo de chocolate,suco de uva. O jantar foi servido em seguida, cerca de trinta pessoas se deram as mos eformaram uma roda de orao. Havia mulheres obesas, homens sem dente, trabalhadorescom casacos surrados, senhoras de meia-idade carregando sacolas, mendigos e crianas.A funcionria de um banco popular tirava dvidas sobre emprstimos, financiamentoseducacionais e empregos. Em seguida, Riet Schumack, uma holandesa robusta que lembravaa missionria Dorothy Stang assassinada no Par, contou ter recebido 50 mil dlares daFundao Knight para seu projeto de hortas comunitrias. Por 20 dlares ao ano, osmoradores levavam 600 pacotes de sementes e poderiam vender a produo no EasternMarket, uma feira livre frequentada pelos hipsters nas manhs de sbado. Conheci umapessoa que s no ano passado teve uma renda de 12 mil dlares com essa atividade!,anunciou. A plateia atenta no fez perguntas.Foi a vez de Kirk Mayes, diretor da Brightmoor Alliance um negro alto, bem vestido e deculos de armao grossa. Durante anos, Brightmoor era a terra dos fracassados. Nuncaprestaram ateno em ns porque aqui no tem prdio bonito, de valor histrico, trovejou.Da plateia vinham gritos de Amm, palmas, assobios. Ele disse que o plano Detroit Cidadedo Futuro trazia uma esperana e que os moradores deviam se engajar. Depois, anunciouter sido nomeado para um cargo na prefeitura. L, eu irei lutar por Brightmoor! Essa aNOSSA Detroit! Ns somos a maioria!Na sada, muitos levavam quentinhas com os restos do jantar. Entre eles, Twana Brookins,de 42 anos, que mora na vizinhana, tem duas filhas, vive com 200 dlares por ms deauxlio do governo e est desempregada. Perguntei o que ela havia achado da palestra.tima, mas muita gente se incomoda com algumas dessas ideias. Samos h pouco tempo daescravido e eles nos sugerem plantar alface? At meados dos anos 40, as fbricas eram prdios altos, de cinco ou seis andares. Ento seteve a ideia de transform-las em galpes no rs do cho. Para constru-las era precisoespao livre, o que havia de sobra nos arrabaldes da cidade. A migrao das fbricas foi ogatilho para a desindustrializao local e tambm o motivo da fuga para os subrbios. Emmeados dos anos 50, as montadoras haviam inaugurado 25 novas fbricas em Michigan.Nenhuma delas em Detroit. S nessa dcada, 840 fbricas fecharam as portas na cidade,entre elas as icnicas Packard e Hudson.Nos anos 50, Detroit atingiu o pico populacional de 1,9 milho de habitantes, 83% brancos.Vivia-se o sonho americano: uma casa, um carro, um bom emprego. Mas, com odeslocamento das fbricas, o terror dos agentes imobilirios, o saco de bondade dosfinanciamentos bancrios destinados aos brancos, o caminho para os subrbios parecia semvolta. Era a promessa de vida encapsulada num captulo do seriado Mad Men: moradia maisampla, vizinhana branca. A populao negra continuava impedida de comprar casas embairros valorizados e ia ocupando as que os brancos deixavam. Nos guetos, as que ficavampara trs eram assumidas pelos imigrantes recm-chegados. Ali, a pobreza era endmica.O ento prefeito Albert Cobo, a voz dos brancos conservadores, dispensava programas deajuda financeira a bairros carentes, mas investia no projeto de construo de autoestradas,confortveis conexes da cidade aos subrbios. Bairros inteiros foram destrudos para abrirpassagem s pistas de alta velocidade. Um deles foi o gueto Paradise Valley, de onde osmoradores foram removidos fora pela lei do propsito pblico. Nas gestes seguintes, opadro se repetiu.Acreditando na bonana irrestrita e infinita, outro prefeito, Jerome Cavanagh, embarcou noplano federal de erguer cidades-modelo, proposto pelo ento presidente Lyndon Johnson,com aes de combate pobreza e modernizao urbana. Assim, passou a financiar aconstruo de arranha-cus, prdios, casas, sem levar em conta o declnio da populao, docomrcio e dos servios. Quanto s medidas a favor dos mais carentes, as benesses se deramnuma rea de imigrantes brancos. Mais uma vez, as veladas polticas de segregaofraturavam e endividavam a cidade.Os servios municipais tambm comeam a acusar os primeiros sinais da decadncia. Aprecariedade do transporte pblico foi atribuda a uma estratgia da General Motors:quando os bondes ainda eram os maiores concorrentes dos automveis, a GM, a Standard Oile a Firestone se aliaram e constituram uma empresa que comprou todas as linhas de bondede Detroit e de outras 44 cidades americanas. A ideia era substituir a frota por automveis,caminhes e nibus fabricados pela GM. A partir do momento em que o municpio entrou emdecadncia, j no interessava mais atualizar a frota.A cidade se desindustrializava, o desemprego aumentava, mas a prefeitura gastava sem d.Em 1959, Detroit j tinha uma dvida de 3 bilhes de dlares em caixa, em valoresatualizados. Entre 1960 e 1970, 344 mil pessoas deixaram a cidade. A Show me Detroit Tours uma das mais conhecidas empresas de turismo da cidade. Aproprietria, Kim Rusinow uma loira, magra, de culos de armao de tartaruga , dizatender 1 200 pessoas por ms, 60% estrangeiros que pagam at 250 dlares por umpasseio de trs horas. Na semana anterior, ela havia acompanhado um casal de paulistanos.As pessoas chegam aqui e baixam a voz para dizer: Quero ver as runas, como seestivessem falando um palavro. Querer ver s isso como querer ler meio livro, comentou.Eu mostro a Detroit que est dando certo porque isso que vivemos hoje. Se quiserem verescombros, procurem outras empresas que fazem isso, disse.Nascida em Detroit, Kim se mudou para os subrbios ainda na infncia. Durante quarentaanos, seu av foi gerente da Fischer Body, uma fbrica de autopeas que hoje pertence aGeneral Motors. Seu pai, o marido, os cunhados e os primos ainda conservam elos com aindstria automotiva. Ela me mostrou prdios reformados, uma fbrica de relgios quecustam 3 mil dlares e um restaurante orgnico, alm de mediar um encontro com umartista plstico que coloca esculturas em cima dos prdios. Quando estvamos no Ponyride um coletivo que abriga atelis de artistas e artesos, que trabalham ouvindo msicaeletrnica, bebericando latte macchiato com uma permanente expresso de enfado , quaseme vi em Copenhagen. Mas foi olhar pela janela e avistei os destroos da Michigan CentralStation, um monumento neoclssico com 900 janelas, todo pichado, de onde o ltimopassageiro desembarcou em 1988.Para Kim, Detroit uma sucesso de erros de gesto, ocorrida sobretudo nos ltimosquarenta anos. As mudanas benfazejas pelas quais a cidade vinha passando seriam, segundoela, decorrncia do mercado imobilirio, novo paraso de especuladores e de jovensdescapitalizados. Onde voc compra um prdio neoclssico de trinta andares por 3 milhesde dlares? Ou uma casa por mil?, perguntou.Para compreender Detroit, sustentou, era preciso entender o voluntariado e os grandesbenfeitores da cidade. Tudo mudou graas ao dinheiro deles, no foi o governo. Como umPlano Marshall privado, os bolses de revitalizao urbana so financiados por corporaes,empresas privadas, investidores bilionrios, fundaes e organizaes no governamentais.Eles pagam a demolio de prdios, a limpeza das ruas, a compra de carros de polcia eambulncias. Bancam generosas bolsas de trabalho e premiam iniciativas de planejamentourbano, empresariais e artsticas. Os empresrios apostam que so essas pessoas que vomudar a cara de Detroit e construir o que est sendo semeado aqui, disse-me dias depoisJames Martinez, diretor de Comunicaes da Cmara Regional de Detroit. Todo mundo saiganhando, comentou.Segundo Martinez, empresas e fundaes investiram 12 bilhes de dlares na cidade nosltimos oito anos. Um tero bancado pelo empresrio Dan Gilbert, dono da Quicken Loans, amaior empresa do pas de concesso de crdito imobilirio pela internet. Nos ltimos anos,Gilbert transferira seus negcios do subrbio para o Centro, comprara e reformara 45prdios abandonados , movimento que serviu para povoar a regio e foi seguido por outrasnoventa firmas, como Twitter e Google.Havia uma grande simbiose entre os investimentos privados e os projetos pblicos do DetroitCidade do Futuro. Todos os investimentos de Gilbert esto exatamente na rea em que oplano de revitalizao propunha ser a prioridade de verbas pblicas. Ainda que ele estejainvestindo pesado no Centro, em todos os projetos como a construo de um Veculo Levesobre Trilhos, o M-1, que vai passar na porta das firmas do grupo , o governo entra com aparte mais vultosa. O mesmo se passa com os outros investidores.O caso mais rumoroso foi o do milionrio Mike Ilitch, que arrematara 45 quarteires emMidtown por 1 dlar. Ele planejava erguer um complexo com uma arena de hquei no gelo(ele dono do principal time da regio), centros comerciais e residenciais. Com um detalhe:quase metade do projeto cerca de 300 milhes de dlares seria financiada pelo estado doMichigan.Ao volante, Kim enumerava as virtudes locais e a capacidade criativa da populao. Em umtrecho ermo de Midtown, estacionamos em frente a uma casa com parte do telhadodanificada, mas ainda habitada. Ao lado, havia um terreno livre coberto de neve. Isso aquiera uma horta maravilhosa. Voc precisava ver no vero!, comentou. Falamos sobre apercepo das mudanas em Detroit pela populao pobre. Os afro-americanos veem que acidade est mudando, mas no conseguem entender que no dinheiro do governo, investimento privado, disse Kim, sria. difcil fazer com que eles percebam que,melhorando aqui, necessariamente vai melhorar para eles tambm. Em 1974, o pesadelo da elite branca se tornou real. Coleman Young, um ex-operrio da Ford,foi eleito o primeiro prefeito negro de Detroit. Um de seus pilares de campanha era a questoracial, mas seu discurso de posse foi um choque. Ele culpou os brancos pela decadncia dacidade e os estimulou a ir embora. A crise do petrleo havia provocado mais demisses nasfbricas, os ndices de violncia haviam disparado, o crack era epidmico e o ocaso urbano jera visvel. Foi o auge das Devils Night, os incndios criminosos que varrem a cidade navspera do Dia das Bruxas. Com a memria dos tremores sociais de 1967 ainda fresca, apopulao branca engrossou o xodo urbano. Em um ano, 230 mil pessoas deixaram acidade. Com uma novidade: a classe mdia negra tambm fugiu para os subrbios atrs demelhor moradia e segurana. Coleman Young se manteve vinte anos no poder graas aosvotos do crescente eleitorado negro.No final dos anos 70, o valor dos imveis em Detroit havia cado 70% o que repercutiudiretamente na arrecadao de impostos. Quanto menor a arrecadao, piores os serviospblicos, e maior o xodo de Detroit (de gente que passava a pagar os tributos alhures). Eno era s a fuga dos moradores. Extinguiam-se lojas, restaurantes, farmcias, cinemas,escritrios. Apareciam os prdios-fantasmas, as estruturas ocas, as casas desabitadas. nesse momento que se inverte a proporo racial na cidade.Nas escolas pblicas, dois teros dos estudantes eram negros. O ento governador doMichigan, William Milliken, concluiu que a nica maneira de se chegar a um equilbrio racialera misturando os alunos. Pais dos subrbios alegavam ser absurda a obrigao de colocar osfilhos em escolas de pior qualidade. O caso foi parar na Suprema Corte dos Estados, queentendeu que as escolas no eram responsveis pela segregao e limitou o intercmbio dascrianas dentro dos limites da cidade. Ou seja: negros iriam se misturar com negros.Mesmo com as finanas no vermelho, a prefeitura continuava a contratar servidores e ainchar a mquina pblica. A certa altura, passou a distribuir bnus em forma de 13 salriocom vistas eleitorais. A cada vez que as verbas pareciam faltar, os prefeitos tinham umaideia brilhante: aumentar ou criar novos impostos. Com a mdia de um novo imposto pordcada, Detroit foi a cidade com a maior carga tributria do Michigan. Se uma empresa ouum cidado pudessem escapar dos tributos, eles o fariam sem pestanejar. E foi o queaconteceu.No bastasse, uma lei estadual proibira Detroit de anexar municpios vizinhos o quepoderia incrementar a arrecadao, j que os subrbios prosperavam. Mas houve um fortelobby das montadoras principalmente a Ford e a Dodge, que tinham fbricas na regiometropolitana e no queriam se submeter alta taxao da cidade.Cada vez que as fbricas ameaavam deixar Detroit, a cidade rebatia com subsdios efacilidades. Coleman Young autorizou a destruio de um bairro inteiro para acomodar umafbrica da Cadillac. Anos depois, o prefeito Dennis Archer conseguiu um incentivo federalpara a construo de uma unidade da Chrysler. Nos dois casos, os empregos prometidos novieram, mas o prejuzo caiu na conta do municpio.Era como se Detroit existisse para servir ao interesse das montadoras, sem que a recprocafosse verdadeira. Como escreveu o jornalista americano Joseph Kraft, num artigo da NewYorker, em 1980, sobre a primeira crise na Chrysler: As montadoras nunca foramconectadas com a cidade ou com seus moradores. Em Detroit, a indstria sempre falou com aindstria. O Painted Lady, em Hamtramck, a dez minutos do Centro de Detroit, o ponto de encontrodos jovens artistas da cidade. O bar consiste numa caixa de madeira com um enorme balco,fliperamas e uma iluminao que confere um tom avermelhado s pessoas e s paredes. Emuma noite de muita neve, a frequncia era de barbudos, moas com acessrios bizarros nacabea, motoqueiros, roqueiros mal-encarados, neoescritores e adictos. Era como estar numatela de Edward Hopper em clima de filme de Tarantino.H trs anos, o artista plstico Ryan C. Doyle, de 34 anos, trocou Minnesota por Detroitatrado pelas bolsas de apoio a artistas e pela facilidade de moradia. Em um ano, ele comproutrs casas uma delas transformada em um tipo de abrigo para artistas recm-chegados.Aqui a terra das oportunidades, ouvi novamente. Dentre sua produo, destaca-se umaobra coletiva, um barco construdo com lixo com o qual desembarcou na Bienal de Venezaem 2009 e, recentemente, um drago de metal de 6 metros de altura que se movimentasoltando fogo pela boca. Eu seria preso em qualquer outro lugar. Chamariam bombeiro,polcia. Mas aqui Detroit. Tudo permitido, disse.Com quase 2 metros de altura e cara de poucos amigos, Doyle que tem uma filha chamadaDynamite criticava o plano de reestruturao e os benfeitores privados da cidade. Eles soequivocados em tudo. S reformam loft porque acham que artista s mora em loft, e parans que eles querem vender, comentou virando um copo de cerveja. Essa cidade vai setransformar com o trabalho dos artistas, no com bilionrios que esto comprando tudo apreo de banana e criando um novo feudalismo, disse. No dia seguinte, ele viajaria paraNova York para organizar uma exposio de seu trabalho no Brooklyn.Outros jovens se juntaram ao grupo, que ocupava todo o balco do bar. Discorriam sobre asvantagens de viver com pouco dinheiro, de ter uma fora policial frouxa e runas urbanaspara intervenes artsticas. Algum comentou que havia apenas dois negros no bar. Noquer dizer nada. Na nossa gerao, essa questo do racismo est superada. Isso uma coisados nossos pais, que ainda tm problemas com esse assunto, disse o escultor StevenMcShane, que tambm tinha se tornado um latifundirio.Falou-se sobre como seria a vida em Detroit em quinze anos. Talvez, at l, com filhos,tenhamos que nos mudar porque aqui no h escolas, disse McShane. Ele foi interrompidopelo jornalista Michael Jackman, um sujeito grande, de cavanhaque cor de mel e tom de vozassertivo, editor do jornal alternativo Metro Times. Estamos criando nossa prpria maneirade viver aqui. Pode ser desde ensinar os filhos em casa, abolir as escolas, vai saber. Aquitemos uma autonomia temporria porque tudo to disfuncional que acabamos achandonossas prprias solues, disse. Se ele acreditava no renascimento de Detroit? Acho quevivemos uma Woodstock que deu certo. Vamos aproveitar at ver no que vai dar. Em meados dos anos 90, a prefeitura aprovou a abertura de cassinos e de novos estdios defutebol americano e beisebol, que incrementaram a receita municipal. Foi a primeira vez emdcadas que se teve esperana num renascimento financeiro. Mas, quando a cidade j tinhaperdido 1 milho de habitantes, Michigan deu uma rasteira. Reduziu em 50% os repasses deverbas estaduais para Detroit, como se fosse intil gastar numa terra desolada. Com odeclnio da receita tributria, a cidade passou a contrair emprstimos e vender ttulos dadvida pblica para pagar despesas operacionais.Apesar das pantanosas finanas da cidade, a Standard & Poors conferiu um grau moderadode risco de investimento para Detroit. A saber: considerou a cidade to arriscada a calotescomo o Brasil de hoje. Em 2005, o ento prefeito Kwame Kilpatrick pegou um emprstimode 1,4 bilho de dlares numa transao com derivativos de crdito para injetar nos fundosde penso.Quando a economia mundial derreteu, os bancos cobraram a conta. S esse emprstimocorresponde a um quinto da dvida do processo de falncia da cidade. No ano passado,Kilpatrick que renunciou antes do fim do mandato foi condenado a 28 anos de cadeia porum escndalo de sexo e corrupo.Sem emprego, crdito ou casa prpria, os moradores de Detroit tambm foram um dos alvospreferenciais dos emprstimos subprime, que deram origem bolha imobiliria americana.Como no conseguiam honrar as hipotecas, mais de 150 mil pessoas perderam suas casas, e aopo foi deixar a cidade. De 2000 a 2010, a populao caiu 25%. Cerca de 190 milmoradores negros deixaram Detroit. E, ainda que as estatsticas mostrem que os jovens,solteiros, brancos e de boa escolaridade estejam engrossando a populao, essa conta nofecha: sai muito mais gente do que entra.A prefeitura de Detroit ocupa o 11 andar do imponente edifcio Coleman Young. esquerda,fica o gabinete do prefeito, o democrata Mike Duggan, um advogado que recuperou asfinanas do falido Detroit Medical Center e foi o primeiro branco eleito em quarenta anos. Ainformao sobre sua cor costuma introduzir as conversas sobre o futuro da cidade. direita,concentra-se a equipe do gerente de emergncia, Kevyn Orr ex-advogado da Chrysler ,nomeado em maro do ano passado pelo governador republicano Rick Snyder para intervirnas contas municipais durante o processo de falncia. Desde que assumiu, Orr que no temcargo eletivo criticado pela prepotncia e pela relao dbia com o prefeito, que ficou semqualquer poder sobre o oramento municipal ou sobre a segurana pblica. E tambm porter contratado o mesmo escritrio em que fez carreira para cuidar do caso da falncia deDetroit, com honorrios de 18 milhes de dlares.Kevyn Orr privatizou a coleta de lixo, arrendou a terceiros o maior parque da cidade a ilhade Belle Isle , nomeou um interventor para cuidar da iluminao e trocou o chefe de polcia.Tambm prometeu acabar com os escombros urbanos e considerava vender o sistema degua e esgotos, mas os subrbios resistiram sob o argumento de que teriam que herdar oenorme passivo de contas atrasadas. Recentemente, Orr anunciou um corte nasaposentadorias dos servidores pblicos como forma de fazer caixa para a prefeitura sanarseus dbitos. A aposentadoria mdia de 1 200 dlares por ms, considerada uma das cincopiores dos Estados Unidos. O acordo com os bancos credores ainda era uma incgnita, mas asduas ofertas anteriores foram negadas pelo juiz que cuidava do caso, por achar que aproposta era muito favorvel s instituies.Durante anos, a receita da cidade foi canibalizada para pagar a folha de pagamento em vezde providenciar servios bsicos para a populao, disse o porta-voz de Orr, o publicitrioBill Nowling, um sujeito boa-praa, eficiente, e uma verso compacta do ator JamesGandolfini. Era uma bomba-relgio. At que demorou para explodir, comentou. Muitascidades americanas como Stockton, na Califrnia, e o condado de Suffolk, em Nova York foram abaladas pela crise mundial e pediram falncia. S em Michigan, doze cidades estavamsob a interveno de um gerente de emergncia. Mas a diferena que Detroit, alm desimblica, acumulou uma dvida inacreditvel, disse Nowling.A dvida de Detroit de 20 bilhes de dlares, metade dos quais consiste em obrigaes comaposentados, que so duas vezes mais numerosos do que os servidores na ativa. Temos deconsiderar que aqui h 700 mil pessoas e 22 mil aposentados. Um dos maiores desafios,disse, era estabelecer padres justos de cortes. Um aposentado de 80 anos no pode sofrero mesmo corte de um de 62, que ainda pode arrumar emprego, comentou. umacomplicao. Fora isso, so 100 mil credores, 52 bancos, uma centena de sindicatos. Temsindicato que representa uma pessoa s!Nowling sacou o celular do bolso e me mostrou um marcador de tempo em ordemdecrescente, que registrava dias, horas e minutos que faltavam para o fim do mandato deOrr. Sobre o futuro de Detroit, ele foi lacnico. Funcionamos como um cirurgio que extirpaum cncer: depois cabe ao doente parar de fumar, fazer exerccios, comer direito. A partir desetembro, no temos mais controle sobre nada, disse. No salo do museu, os mascarados haviam ocupado a pista de dana. O empresrio do ramoimobilirio seguia acusando os sindicatos das mazelas da cidade. At Viagra para osoperrios as empresas foram obrigadas a pagar! A meu lado, um patologista com um trajepaquistans disse ter atendido um paciente de 72 anos cuja aposentadoria seria cortadaquase pela metade pelos termos da falncia municipal. Como voc explica que pode reduziro salrio de um sujeito que trabalhou a vida toda, mas no pode vender um quadro? Vocfala que a arte eterna e ele no?, disse.H quinze anos, o ingls Graham W. J. Beal o diretor do Instituto de Artes de Detroit.Quando os boatos sobre a venda das obras de arte estimadas em mais de 1 bilho dedlares ganharam fora, ele chegou a ter que dar explicaes sobre o prprio salrio. Soubem remunerado, mas ganho infinitamente menos do que meus pares em qualquer outromuseu desse quilate, comentou num caf do trio do museu, em Mid-town. Botar meusalrio em questo fugir do debate, comentou.Aos 66 anos, Beal cordato, fala baixo, usa gravata-borboleta sem pedantismo e tem o cortede cabelo dos anos 80. O que eu acho curioso que aqui no museu somos bemadministrados e, de repente, temos que pagar pelo erro de outros, comentou. Contou que ocaso lhe havia sido apresentado como luta de classes. O Kevyn Orr falou na minha cara queera uma luta entre o museu rico e os pensionistas pobres, disse. fcil dizer que vaivender as obras de arte. Fica at bonito falar isso em pblico, mas essa situao poltica etem que ser resolvida como tal.Ele via com reservas os planos de reestruturao da cidade, ainda que notasse uma melhorasubstancial na rea em torno do museu. H dois anos, eu no recomendaria uma pessoaandar a p aqui. Hoje, durante o dia, d. Mas via com desconfiana a ideia de valorizarapenas alguns bairros. Ele citou o exemplo de So Francisco, onde os milionrios do Vale doSilcio ocuparam o Centro da cidade, fizeram o valor dos imveis disparar e criaram umasociedade parte, at mesmo com linhas de nibus particulares. A populao est jogandopedra nesses nibus, sabia? As pessoas veem o que acontece e se sentem muito mal,excludas. Perguntei se ele acreditava no renascimento de Detroit. Fez-se um longo silncio.No, respondeu.Em meados de 2009, a General Motors e a Chrysler pediram falncia. Atriburam aconcordata ao pesado pacote salarial imposto pelos sindicatos. Argumentavam pagar maissalrios em troca de cada vez menos trabalho. A GM, por exemplo, tinha o dobro deempregados aposentados do que na ativa. A hora trabalhada de um operrio de uma fbricasindicalizada chegava a custar o dobro de um mesmo trabalhador no Mxico.Com 82 bilhes de dlares, o governo americano salvou as empresas. As montadorasfecharam fbricas, demitiram funcionrios e renegociaram contratos de trabalho. Desdeento, novos operrios podem ser contratados por vencimentos mais baixos e sembenefcios, como plano de sade. O setor se recuperou e a expectativa vender mais at ofinal do ano. H 25 anos, George McGregor que um clone do pai dos Jackson 5 o presidente daLocal 22, o sindicato ligado a UAW que representa 2 500 trabalhadores, entre metalrgicos eenfermeiros. Numa manh recente, ele lia os jornais em sua sala, com as paredes enfeitadascom um sem-nmero de quadros, recortes de jornais emoldurados, fotos e bonequinhos. Amanchete do Detroit Free Press dizia respeito ao salrio da nova CEO da General Motors,Mary Barra. Olha aqui, 14 milhes de dlares por ano! E as montadoras gritam porque ogoverno ameaa aumentar o salrio mnimo para 10 dlares a hora, disse, rodando o anel debrilhantes do dedo mnimo.A adeso s centrais estava em queda em todo o pas. Em trinta anos, o percentual detrabalhadores sindicalizados passou de 35% para 7%. Naqueles dias, a UAW sofria uma desuas maiores derrotas: depois de meses brigando para entrar numa fbrica da Volkswagenno Tennessee, os empregados haviam votado para continuar longe dos sindicatos. Um dosargumentos era o que havia acontecido a Detroit. Eles esto conseguindo acabar com osindicalismo e convencer a populao que ter direito trabalhista nocivo. Mas, sem eles, essacidade nem sequer teria existido.No final de abril, descobriu-se que o governo do Tennessee havia oferecido 300 milhes dedlares em incentivos fiscais para que a Volkswagen abrisse mais uma fbrica no estado. Acontrapartida era votar contra a UAW o que ocorreu.Para McGregor, atribuir a falncia de Detroit s penses e aos benefcios pagos aostrabalhadores uma falcia. Tanto para os operrios das montadoras quanto para osservidores da prefeitura, os benefcios foram conseguidos com muito sacrifcio e luta. Sedependesse das empresas, ainda estaramos catando algodo, disse. Agora fcil botar aculpa nos sindicatos. Bom ser operrio na China, no ?, disse, s gargalhadas.Quando perguntei se era verdade a histria do Viagra para os operrios, ele apenas riu.Olha, as empresas no querem pagar nada, a prefeitura no quer pagar nada. Falar que noexiste dinheiro para pagar as penses dos aposentados mentira. Se tem para pagar jurosdos bancos credores, que paguem os salrios, disse em tom alterado. Mas sabe qual oproblema? que a merda sempre cai de cima para baixo, disse. E em Detroit isso semprefoi a regra.Dias depois do anncio do plano da Detroit Cidade do Futuro, 300 pessoas esperavam o incioda palestra do professor Peter Hammer, diretor do centro de direitos humanos Damon J.Keith Center, da Universidade Wayne State. Branco e ativista gay, ele uma das vozes maiscrticas contra as mudanas em curso na cidade. Esse plano pssimo para a populaocarente, disse na abertura de seu discurso.Segundo ele, o plano ignorava o que chamou de os trs erres: raa, regionalismo ereconciliao. O racismo, segundo ele, era o ponto nevrlgico de qualquer discusso sobreDetroit. So sessenta anos de preconceito explcito que dividiram e dividem essa cidade, eno h qualquer meno ou proposta para lidar com o assunto, disse Hammer. como se oproblema estivesse resolvido, comentou.Ele projetou slides de mapas coloridos mostrando os investimentos em cada parte da cidade.Em um deles, Detroit aparecia rodeada por um espao em branco. Onde esto os subrbios?Onde est a integrao regional? No h nada que possa nos ajudar aqui?, comentou.Segundo ele, a tendncia a encarar a cidade como uma ilha independente refora asegregao.Em janeiro, a revista The New Yorker publicou um perfil de L. Brooks Patterson, umboquirroto republicano de 75 anos, que h vinte o administrador de Oakland, o condadomais rico dos subrbios de Detroit. Sob o ttulo Caia morta, Detroit!, ele reclamava daproposta ventilada pelo gerente de emergncia, Kevyn Orr, de ratear com os subrbios oprejuzo do sistema de gua e esgoto municipal. Segundo Patterson, os subrbios notinham nada a ver com anos de corrupo em Detroit.L pelas tantas, orgulhoso, chegou a reproduzir para a reprter uma frase de sua lavra quejulgava espirituosa. Anos antes, previra que a sada de Detroit era se transformar numareserva indgena. Da a gente levanta uma cerca, joga por cima o milho e os cobertores... Arepercusso foi a pior possvel, mas ele manteve a declarao. O maior incmodo foi que, defato, sabe-se que Patterson deu voz ao pensamento de boa parte da elite branca que orbitaem volta da negra Detroit, disse-me o colunista Bill McGraw, do jornal Deadline Detroit.Do alto de um palanquezinho improvisado, Peter Hammer tambm salientou a ausncia depropostas para integrar brancos e negros, ricos e pobres o que poderia acabar com adiviso histrica da sociedade. No havia, por exemplo, previso de moradias acessveis nasreas que sero as mais valorizadas. Os empregos oferecidos eram para profissionaisqualificados, de alto nvel de escolaridade sobrando para o grosso da populao postossubqualificados nos projetos agrcolas.Em sua opinio, emulavam-se velhas prticas de segregao e privilgio para uma minoria.m.americo s 18:30 As linhas de transporte pblico no chegaro aos bairros mais distantes e carentes,comentou. E as estradas, mais uma vez, sero construdas cortando vizinhanasresidenciais, disse. A novidade, ele ironizou, era que, dessa vez, os moradores dossubrbios tero uma linda floresta para reduzir a emisso de carbono dos carros atchegarem cidade, afirmou. Segundo ele, era fcil identificar quem ganhava e quem perdiacom o plano. Eles falam que os moradores no sero realocados, mas ficar no meio do nada uma opo aceitvel?, indagou.Na sada da palestra, meu cicerone, o mdico iraniano Ali Moiin uma verso jovem do atorYul Brynner, membro do conselho do museu e da pera, uma locomotiva social de Detroit ,props um passeio. Eu quero te mostrar uma coisa, disse.Entramos no carro. Vinte minutos depois estvamos no entroncamento da rua Alter com aavenida Jefferson, no lado leste, que assinala os limites da cidadede Detroit com o subrbio de Grosse Pointe, um buclico conglomerado de casas vitorianas,onde mais de 90% dos moradores so brancos. O cruzamento conhecido pelos locais como oMuro invisvel de Berlim. Voc vai ver o que segregao de verdade, disse Moiin.Avanamos na longa avenida com ruas transversais de ambos os lados. esquerda, a caladaem frente aos charmosos sobrados estava limpa e a iluminao de rua era a de um shoppingcenter. direita, havia mais de meio metro de neve acumulada, restos de casas abandonadase um breu de dar medo. Um lado era o rico; o outro, o da pobreza total. Ambos eramseparados por uma nica rua.Seguimos em frente e ele se exaltou: Rua Goethe, fechada! Mack, fechada! Maryland,fechada! De sete ruas em menos de 1 quilmetro, quatro erguiam barreiras para impedir oacesso ao subrbio de quem est do lado de Detroit. Em uma havia um muro, noutra umacerca, duas depois, uma barricada de toras de cimento. Enquanto voc encontrar umasituao dessas em pleno sculo XXI, acho intil falar em renascimento de Detroit, afirmou.Em 2010, a queda da populao de Detroit atingiu o pice. De quarta maior cidade do pas,havia declinado para a 18 posio. Trs anos depois, Detroit se tornava a maior cidade dosEstados Unidos a declarar falncia. Por volta de uma da manh, com a temperatura beirando os 20 graus negativos, um enormeengarrafamento de carros de luxo que inclua trs Aston Martins, duas Maseratis edezenas de grandes utilitrios se formou em frente ao Instituto de Artes de Detroit.Dezenas de manobristas corriam de um lado para o outro, entregando as chaves aosproprietrios. Descendo as escadarias com as mscaras nas mos, eles entravam nos carros edeixavam a cidade rumo aos subrbios.13 de maio de 2014DANIELA PINHEIROPiau, 92Compartilhar 0Nenhum comentrio:Postar um comentrio IncioVisualizar verso para a webm.americoSou uma multido, como diria Ferreira Gullar.Visualizar meu perfil completoQuem sou euTecnologia do Blogger