19
88 Juntando cac uma reflexão sob classificação da Koriabo no Am

CABRAL, Mariana. Juntando Cacos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Pesquisa arqueológica sobre a descoberta recente da cerâmica Koriabo no Amapá, relacionada com o complexo já bem estudado nas Guianas e Suriname.

Citation preview

  • 88

    Juntando cacos: uma reflexo sobre a classificao da fase

    Koriabo no Amap

  • 89

    Juntando cacos: uma reflexo sobre a classificao da fase

    Koriabo no Amap

    Instituto de pesquisas cientficas e tecnolgicas do estado do amap, Macap, Brasil

    Juntando cacos: uma reflexo sobre aclassificao da fase

    Koriabo no Amap

    M A R I A N A P E T R Y C A B R A L

  • 90

    JUNTANDO CACOS: UMA REFLEXO SOBRE A CLASSIFICA-O DA FASE KORIABO NO AMAP

    ResumoAo ampliar a pesquisa arqueolgica no Amap, emergiram contex-tos inditos, exigindo reflexo sobre como classificar o material. A discusso que realizo aqui tem incio com uma investigao sobre a forma como a fase Koriabo tem sido utilizada em outras reas do Escudo Guianense. Os usos que tm sido feitos, na maior parte dos casos, do termo Koriabo na arqueologia da regio, como busco demonstrar, tm um carter generalizador. Como decorrncia, as semelhanas so ressaltadas e as diferenas negligenciadas, com uma forte tendncia homogeneizao. No entanto, escavaes recentes na Guiana Francesa e no Amap apontam para contextos diversos de deposio desta cermica caracterstica. A partir da, volto-me ao contexto no Amap, salientando o quanto escavaes amplas com informaes detalhadas oferecem novas bases para refletirmos sobre as classificaes, j que enriquecem nosso conhe-cimento sobre os contextos arqueolgicos de deposio. A partir da reflexo que apresento aqui, sugiro que, no contexto da arqueologia das Guianas, necessrio ampliar o foco em contextos particulares antes de nos voltarmos s classificaes generalistas, a fim de refi-nar dados e nossas interpretaes.

    Palavras-chave: fase Koriabo, arqueologia das Guianas, classificao.

    COLLECTING POTSHERDS: SOME THOUGHTS ON THE CLASSIFICATION OF THE KORIABO PHASE IN AMAP

    AbstractBy expanding the archaeological research in Amap, new contexts emerged, demanding thinking on how to classify the archaeologi-cal material. The argument I make here begins with an investiga-tion into how the Koriabo phase concept has been used in other areas of the Guyana Shield. In most cases, the term Koriabo has been widely generalized in the archeology of the region. As a result, the similarities and differences are neglected, with a strong tendency towards homogenization. However, recent excavations in French Guyana and Amap point to different contexts of pot-tery deposition. In Amap, detailed excavations over wide sur-

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Cabral, M. P.

  • 91

    faces have offered new basis for thinking about classifications, departing from the knowledge of depositional contexts. Based on argument here developed, I suggest that it is necessary to broaden the focus in particular contexts before we turn to the general clas-sifications, so we can to refine our data and interpretations.

    Keywords: Koriabo phase, archaeology of Guyanas, classifcation

    JUNTANDO TIESTOS: UNA REFLEXIN SOBRE LA CLASIFICACIN DE LA FASE KORIABO EN AMAP

    ResmenAl ampliar la investigacin arqueolgica en Amap, contextos inditos han surgido, lo que requiere reflexin sobre cmo cla-sificar el material. El argumento que hago aqu se inicia con una investigacin sobre cmo se ha utilizado la fase Koriabo en otras reas del Escudo de Guayana. Los usos que se han hecho, en la mayora de los casos, el trmino Koriabo en la arqueologa de la regin tienen un carcter generalizador. Como resultado, las similitudes y las diferencias se destacan, con una fuerte tendencia a la homogeneizacin. Sin embargo, las excavaciones recientes en la Guayana Francesa y Amap apuntan a diferentes contextos de deposicin de la cermica. A partir de ah, me dirijo al contexto en Amap, observando cmo las excavaciones de amplias superficies ofrecen una base nueva para reflexionar sobre las clasificaciones, una vez que enriquecen nuestro conocimiento sobre el contexto arqueolgico de la deposicin. De la discusin que aqu se pre-senta, sugiero que en el contexto de la arqueologa de Guyana, es necesario ampliar el foco en determinados contextos, antes de recurrir a las clasificaciones generales, con el fin de perfeccionar nuestros datos e interpretaciones.

    Palabras-clave: fase Koriabo, arqueologa de las Guianas, clasificacin.

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Juntando cacos

  • 92

    INTRODUO

    Na tradio arqueolgica brasileira, dois conceitos fundamentais so usa-dos para orientar a maneira como clas-sificamos, em um primeiro momento, o material arqueolgico. As fases e tradies arqueolgicas foram na sua maior parte estabelecidas no mbito do PRONAPA, nas dcadas de 1960-70, e buscavam orientar clas-sificaes voltadas construo de um grande quadro cronolgico e espacial de distribuio das culturas no passa-do pr-colonial (para snteses sobre o tema, ver Prous 1992 e Barreto 1998). Na Amaznia isto no foi diferente, ainda que este processo tenha iniciado um pouco antes1. Apesar de serem ter-mos cunhados para um contexto de pesquisa de meados do sculo XX, sua utilizao tem continuidade ainda hoje, com a criao de novas fases (por exem-plo, Lima et al 2006).

    De qualquer forma, o que discuto neste trabalho no o processo histrico (nem a fundamentao terica) da cria-o de fases e tradies na arqueologia brasileira2, nem exatamente as limitaes explicativas no uso destes termos (que tambm j foram discutidas, por exem-plo, em Dias 1994, Schaan 2007), mas sim as dificuldades que essa tradio de classificao traz, em especial em con-textos inditos. Isto decorre, certamente, de uma posio, seno crtica, ao menos desconfortvel com a manuteno deste esquema de classificao.

    As pesquisas das quais tenho participa-do e desenvolvido nos ltimos anos no Estado do Amap, em conjunto com o colega Joo Saldanha, permitiram a am-

    pliao significativa do conhecimento sobre o registro arqueolgico no Estado (snteses em Cabral & Saldanha 2010, e Saldanha & Cabral 2010). Um dos resul-tados destas pesquisas o aparecimento de uma srie de informaes inditas, que se referem tanto a um maior detalha-mento sobre conjuntos e contextos j descritos, quanto existncia de conjun-tos cermicos ainda no descritos, sendo alguns conhecidos para outras reas que no o Amap, e outros realmente nunca antes mencionados. Tal situao, se gera certamente muita excitao, tambm traz algumas angstias, em especial sobre a forma como estes novos dados devem (ou podem) ser classificados.

    Neste trabalho vou focar minha ateno para o contexto arqueolgico em reas florestadas no Estado do Amap em fun-o de interesses atuais de pesquisa, mas tambm por ser esta uma rea ainda bas-tante sub-pesquisada na regio.

    Ao observar um mapa de localizao de stios arqueolgicos no Estado do Amap sobre o mapa geral de vegetao, possvel observar algumas questes interessantes sobre as reas florestadas (Figura 1). Como pode ser observado, a maior parte dos stios arqueolgicos conhecidos atualmente no Estado est localizada em ambientes que no so de Floresta Tropical Densa (seguindo a classificao do Projeto RADAM 1974), ainda que este tipo de vegeta-o seja claramente predominante. Isto se deve, claramente, falha de amostragem, uma vez que as pesqui-sas tenderam a acompanhar as reas de acesso mais facilitado (junto s estradas) e de ocupao mais intensa (vale obser-

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Cabral, M. P.

  • 93

    var a relao dos stios conhecidos com a malha viria e com as sedes munici-pais) (Cabral & Saldanha 2010).

    No contexto de floresta densa no Amap, como pode ser observado no mapa, existe um conjunto de stios que no aparece em outros ambientes, que

    temos classificado como fase Koriabo (stios em vermelho na Figura 1). claro que a dimenso das reas flo-restadas no Estado contribui para esse padro, porm considerando o conhe-cimento mais refinado sobre a presen-a de stios nos outros ambientes a

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Juntando cacos

    Figura 1 - Mapa de vegetao do Estado do Amap com localizao de stios arqueolgicos. Note que a maior parte dos stios identificados est fora de ambiente de Floresta Densa (verde mais escuro). A colorao dos stios indica fases/estilo a que esto associados: ver-melho Koriabo; verde Mazago; azul Marac; laranja Caviana; rosa Arist; amarelo histrico; negro sem identificao. (Mapa elaborado pela autora sobre bases do Centro de Ordenamento Territorial/IEPA e do Ncleo de Pesquisa Arqueolgica/IEPA).

  • 94

    relevncia deste padro no pode ser minimizada.

    A discusso que realizo aqui tem incio com uma investigao sobre a forma como a fase Koriabo tem sido utilizada em outras regies. Esta primeira etapa visa oferecer uma base concreta para a reflexo fundante deste trabalho, que a forma como a classificao na fase Koriabo pode ajudar (ou no) na instru-mentalizao de novas abordagens de pesquisa na regio.

    CONTEXTUALIZANDO A FASE KORIABO

    Os primeiros conjuntos cermicos que originaram a criao desta fase foram descritos por Clifford Evans & Betty Meggers (1960). So colees esca-vadas pelos autores durante a dcada de 1950, na ento colnia da Guiana Britnica, atualmente Repblica da Guiana. A partir de seis cortes es-tratigrficos em quatro stios, localizados na bacia do Rio Barima, foram defini-dos cinco tipos cermicos: Barima sem decorao, Warapoco sem decorao, Koriabo sem decorao, Koriabo In-ciso e Koriabo Raspado (Evans & Meggers, 1960: 124-145). Artefatos lticos tambm foram descritos, com destaque para enxs, cinzel, choppers e artefatos sobre lasca (facas e lminas), porm careciam de caractersticas diag-nsticas (op. cit:128-130).

    As caractersticas consideradas por es-tes autores como diagnsticas da fase so: stios de aldeias com tamanhos en-tre 1800 e 7400 m2, com profundidade da camada no superior a 32cm, situa-

    dos sobre barrancos de rio; a cermica tem predomnio de areia como tempero (o uso de uma areia rica em mica pro-duz efeito brilhoso na cermica), com baixo uso de caraip; e decorao dis-tintiva: incises cuidadosas finas e lar-gas, associadas com decorao plstica (bolotinhas, linhas e pequenos rostos); a presena de incises nas bordas e pa-dres lobados tambm caracterizam es-tes conjuntos (op. cit:144-145).

    Evans & Meggers (1960:150) tambm observaram cacos desta fase em stios da Fase Mabaruma e cacos da fase Mabaruma em stios Koriabo, conclu-indo pela existncia de relaes de troca entre seus produtores. Posteriormente, tambm foram identificados cacos Ko-riabo em meio a stios das fases Barba-koeba (Suriname e Guiana Francesa), Kwatta (Suriname) e Thmire (Guiana Francesa) (Rostain 2009:48).

    Ao longo destes 50 anos, desde a publicao de Evans & Meggers (1960), a presena de stios da fase Koriabo ampliou-se bastante. Um levantamento publicado por Boomert (2004) h poucos anos, mostra a presena de stios classificados na fase Koriabo em todos os pases do escudo guianense: Venezuela, Surina-me, Guiana Francesa, Brasil, e claro a prpria Guiana (Figura 2).

    Esta disperso e delimitao nesta ampla rea (j que no h stios fora do escudo guianense) levou Rostain a afirmar recentemente que a cultura Koriabo nica porque o nico estilo cultural verdadeiramente das Guianas; no encontrado fora desta rea (Ros-tain 2009:47). De fato, como ressaltado por este autor, a homogeneidade nas

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Cabral, M. P.

  • 95

    formas e decorao destes conjuntos chama a ateno. A Figura 3 apre-senta trs vasilhas oriundas de s-tios no Suriname, Guiana Francesa e Amap, ilustrando esta recorrncia de estilo.

    As decoraes incisas associadas com pequenos apliques, seguidamente com uma impresso anelar no seu interior, alm de bordas lobadas, com decorao incisa e pequenos rostos, tambm se repetem por toda a regio nestes conjun-tos (Figura 4). Em uma ampla sntese so-bre a arqueologia no Suriname, Veersteg (2003) ao descrever a cermica Koriabo tambm se refere a um estilo nico (p.182), ressaltando a peculiaridade destas decoraes que chamavam ateno desde sua definio.

    Se as caractersticas gerais desta fase pare-cem ser um consenso entre os pesquisa-dores, sua cronologia e origem despertam alguns problemas. Nas pesquisas origi-nais de Evans e Meggers (1960), quando

    as dataes radiocarbnicas ainda no eram disponveis, sugeriu-se a entrada de seus produtores no Suriname por volta de 1200 AD, estimada a partir da relao de cermica Koriabo em stios da Fase Mabaruma, com uma cronologia seriada (o contato teria ocorrido ao final da se-quncia temporal da Fase Mabaruma). Estes autores, como salientado mais acima, indicaram ainda uma origem a leste. De fato, fazem referncia a um tra-balho anterior (Meggers & Evans 1957) para sugerir que a presena de bordas lobadas e decoraes incisas e raspadas semelhantes Koriabo, que alcanam o norte do Amap (Fase Arist), um ind-cio de uma rota de penetrao da foz do Amazonas para as Guianas, prxima ao litoral (Evans & Meggers 1960:151).

    Com o advento das dataes em C14, uma srie de stios com cermica Ko-riabo pode obter datas mais precisas. Boomert (2004) apresenta um quadro sinttico com dataes de 14 stios do Suriname, Guiana e Guiana Francesa,

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Juntando cacos

    Figura 2 Mapa de localizao de stios Koriabo (redesenhado pela autora sobre mapa de Boomert 2004).

  • 96 Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Cabral, M. P.

    Figura 3 Vasos com perfil piriforme so caractersticos da fase Koriabo. Trs exem-plares de reas afastadas entre si: 1- Guiana Francesa (ilustrao de Rostain 1994, 2008); 2-Suriname (figura de Veersteg 2003); 3-Amap (stio MMX 1, desenho e arte de Joo Saldanha/ IEPA).

    Figura 4 Detalhes da decorao com incises e apliques, em alguns casos sobre bordas lobadas (note a similaridade nos pequenos apliques circulares). (1) peas de stios do Su-riname (Veersteg 2003:182); (2) peas do stio Laranjal do Jari 1, Amap (acervo IEPA).

  • 97

    resumindo dados dispersos. Ele opta por no considerar algumas datas anti-gas, por indicao dos autores de risco de contaminao, assim como algumas datas mais recentes, pelo mesmo motivo. No texto o autor afirma: ns chegamos ao perodo total de cerca de 750 anos, en-tre cal 750 e 1500 AD, para o complexo Koriabo (op. cit.:256). Boomert ainda destaca o quanto esta cronologia mais antiga do que a prevista por Evans e Meggers (1960), e discorda de Veersteg por descartar todas as datas anteriores a 1150 AD (Boomert 2004:256). Seu quadro de dataes apresenta uma cro-nologia iniciando em 407-203 BC e alca-nando at 1489-1949AD (op. cit.:Table 1), o que amplia sua sequncia em pelo menos outros 750 anos, desconsiderados pelo autor pelo risco de contaminao das amostras.

    Quanto origem desta fase, Boomert (2004) partilha da sugesto de Evans e Meggers de uma relao entre a Fase Koriabo e os componentes antigos das Fases Mazago e Arist. Porm, o mes-mo autor afirma que os Amerndios Koriabo expandiram lentamente sua rea de habitao do interior de partes das Guianas para o litoral Atlntico (op. cit.:256), sugerindo um movimento dife-rente. Apesar desta sugesto, o autor de-fende uma origem comum para as fases Koriabo, Arist e Mazago, propondo in-clusive uma classificao deste conjunto em uma sub-srie Koriabiana, atrelada Tradio Policrmica, que o autor prefere chamar de Marajoaride (op. cit.:258). Seu argumento que os componentes antigos Arist e Mazago partilham com a fase Koriabo uma srie de caractersti-

    cas, da decorao forma das vasilhas (op.cit.). Alm disso, as trs sries pas-sam por uma modificao do tempero de areia e quartzo modo para caco modo e caraip; e Arist e Koriabo apresentam, mesmo no componente antigo, raros exemplares com pintura policrmica, que se tornaria predominante ao final da sequncia Arist.

    Afastando-se um pouco mais da pro-posta de origem e disperso de Evans e Meggers, Versteeg (2003) sugere outra rota. Ainda que este autor concorde em um incio da ocupao relacionada fase Koriabo por volta de 1200 AD, ele ob-serva nas dataes para o Suriname que os stios mais antigos esto no interior, no no litoral. Uma passagem atravs das savanas de Sipawilini, no interior do escudo guianense, poderia explicar um movimento com origem no sul, at alcan-ar o litoral atlntico (Versteeg 2003:186). Novamente, no entanto, uma origem no baixo Amazonas destacada: baseados em seu admirvel repertrio cermico, ns supomos que os Koriabo origina-ram-se ao longo do curso inferior do rio Amazonas (op.cit.:184).

    Outra rota de movimentao dos produtores desta cermica to carac-terstica foi proposta por Peter Hilbert (1982) para dar conta de explicar a pre-sena desta cermica em uma regio bem mais ao sul, no Rio Cumin (tam-bm chamado de Paru de Oeste ou Erepecuru), um afluente da margem esquerda do Amazonas, no estado do Par. Hilbert, que tinha disponvel ape-nas os dados de Evans e Meggers so-bre esta cermica, observou, na amostra do Rio Cumin, tambm a presena de

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Juntando cacos

  • 98 Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Cabral, M. P.

    fragmentos da Fase Mabaruma (Hilbert 1982:81), supondo a partir desta infor-mao que o movimento tinha a direo norte-sul, colocando o stio no Par em um contexto mais recente do que os da Guiana. Para ele, os povos da Fase Koriabo podem ter se refugiado para o interior sob presso do contato Euro-peu (op. cit.), seguindo uma rota pelo rio Essequibo para atravessar as mon-tanhas do Tumucumaque.

    Em uma sntese mais recente sobre o tema, Rostain (20094) reafirma o apare-cimento da fase Koriabo em torno de 1200 AD (o mesmo perodo que Evans e Meggers haviam sugerido em 1960). Ele segue a posio de Veersteg da maior antiguidade dos stios no interior (1200-1350AD), com os stios prximos ao litoral um pouco mais recentes (1350-1600AD), mantendo ainda uma cro-nologia relativamente curta, de cerca de quatro sculos. interessante destacar, no entanto, que Rostain mostra-se incer-to sobre a origem desta fase: pode ter surgido no mdio Amazonas ou mesmo no centro do escudo guianense (Rostain 2009:47), sendo o primeiro pesquisador a propor uma origem local e no conectada foz do Amazonas.

    A ampliao de pesquisas na regio, em especial na Guiana Francesa, onde o contexto da arqueologia preventiva muito rico, oferece algumas contri-buies importantes. Recentemente, resultados de uma escavao em rea ampla (2002 m2) no limite entre Gui-ana Francesa e Suriname ofereceram novas informaes sobre esta fase (Van den Bel 2010). A identificao de diver-sas estruturas, como buracos de poste,

    reas de refugo e poos funerrios le-vou interpretao da existncia de pelo menos duas casas, com alinhamentos de poste em ngulos (op. cit.:66-68). As dataes, entre 950-1350 AD, associa-das com a interpretao dos depsitos, levam o autor a propor uma ocupao contnua de aproximadamente 400 anos no local (op. cit.:86). Quanto crono-logia da fase, Van den Bel opta por um meio termo entre um incio mais antigo (750AD, cf. Boomert 2004) ou mais recente (1200 AD, cf. Veerteg 2003 e outros), propondo um perodo entre 900 e 1500 AD (Van den Bel 2010:87).

    Van den Bel, ao questionar-se sobre uma parte do conjunto cermico que no se encaixa nas sries conhecidas da fase Ko-riabo, coloca uma questo importante so-bre o problema da classificao:

    A cermica domstica ou lisa pouco conhecida e seguidamente negligenciada pelos pesquisadores. A maior parte dos stios so conhe-cidos atravs de poos-teste, coletas de superfcie e colees particulares (...). De fato, sua Koriabicidade [sic] s proclamada quando as decora-es tpicas Koriabo so observadas (...) (Van den Bel 2010: 88-89).

    Esta reflexo de Van de Bel extrema-mente importante por contextualizar talvez a maior falha das classificaes nestes conjuntos, que justamente a restrio das observaes. uma restrio no apenas das observaes que geraram as primeiras definies, mas tambm daquelas que ao aplicarem a classificao a partir de elementos diagnsticos as reforam.

    A observao detalhada de contextos arqueolgicos, como a apresentada por

  • 99

    Van den Bel, permite entender diferen-as deposicionais do material, o que essencial para a construo de explica-es mais densas sobre a variabilidade e a mudana cultural5. De fato, este autor chega a propor que a cermica Koriabo seja uma cermica de troca, utilizada em atividades sociais intergrupos (Van den Bel 2010:89). uma proposta bastante interessante que ajuda a explicar a pre-sena destes conjuntos em uma rea to grande, representando uma enorme esfera de interao social (op. cit.), ao mesmo tempo em que amplia a com-preenso deste conjunto para alm da representao de um grupo cultural, o que observamos nos demais autores.

    A partir deste levantamento, possvel observar algumas tendncias no uso desta classificao. Destaco inicialmente problemas na cronologia, com alguma insistncia em afirmar uma posio tardia para estes conjuntos (Meggers e Evans 1960; Veersteg 2003; Rostain 2008, 2009). O nico autor que assume uma maior antiguidade Boomert (2004), porm cautelosamente opta por no con-siderar todas as datas disponveis.

    Apresento abaixo o quadro de dataes de Boomert (2004), com algumas mod-ificaes (Quadro 1). Alm de inserir novas datas (Saldanha & Cabral 2010, Van den Bel 2010), colocando os stios em ordem cronolgica.

    Ao observar estes dados, totalizando 26 dataes para stios da fase Koriabo, chama a ateno a excluso das datas mais antigas, que representam conjuntos de trs reas distintas (Suriname, Gui-ana e Guiana Francesa), totalizando sete amostras (quase um tero do total). Tal

    freqncia requer ateno quanto ao in-cio da fase. A partir destes dados, fica cla-ro que a cronologia da fase certamente mais antiga que a proposta por Evans e Meggers (1960), e poderia durar at dez sculos, o que um perodo bastante am-plo para a manuteno e permanncia to acentuada de estilos. Porm, vale lembrar que a fase Marajoara como apresentado por Schaan (2004) tem uma cronolo-gia desta extenso. De qualquer maneira, as datas disponveis hoje para a fase Ko-riabo sugerem uma continuidade tempo-ral significativa, sendo a definio mais clara sobre seu incio uma questo a ser investigada.

    Outra observao interessante que este quadro permite quanto relao entre a cronologia e a distribuio dos stios nos diversos pases. A partir da organizao cronolgica que apresento na Tabela 1, fica claro que as datas no suportam a hiptese de uma migrao de leste para oeste, mais antiga na foz do Amazonas (Amap) e mais recente no Suriname. O que se v, nesta tabela, uma mistura de cronologias entre os vrios pases. Seria necessrio espacializar estas informaes para testar com mais cuidado a hiptese de uma expanso a partir do interior em direo ao litoral, o que poderia explicar cronologias semelhantes em pases diver-sos pela proximidade das fronteiras no interior da regio.

    JUNTANDO CACOS

    Como busquei demonstrar at aqui, a maneira como a classificao de stios arqueolgicos na fase Koriabo tem sido usada segue uma tendncia mais ampla

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Juntando cacos

  • 100 Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Cabral, M. P.

    Stio Pas Referncia Data calibrada

    Onverdacht Suriname Boomert 2004 407-203 BCWaiwiaru Market Guiana Boomert 2004 Ca. 200 BCPetit Saut, Site 230 East

    Guiana Francesa Boomert 2004 165 BC-79 AD

    Mazaruni 1/2 Guiana Boomert 2004 333 BC-127 ADMazaruni 1/2 Guiana Boomert 2004 25-230 ADPetit Saut, Site 260 Guiana Francesa Boomert 2004 407-595 ADPetit Saut, Site 260 Guiana Francesa Boomert 2004 433-619 ADMazaruni 1/2 Guiana Boomert 2004 405-767 ADCommetewane 1/2 Suriname Boomert 2004 645-851 ADMMX 11 Amap Saldanha e Cabral 2010 670-880 ADPetit Saut, Site 230 East

    Guiana Francesa Boomert 2004 671-881 AD

    Hanover Suriname Boomert 2004 781-995 ADCrique Sparouine Guiana Francesa Van den Bel 2010 977-1023 ADCrique Sparouine Guiana Francesa Van den Bel 2010 1037-1143 ADMoengo Boesmanhill Suriname Boomert 2004 901-1217 ADPetit Saut, Site 230 East

    Guiana Francesa Boomert 2004 1045-1277 AD

    Crique Sparouine Guiana Francesa Van den Bel 2010 1238-1295 ADCoeroeni Island Suriname Boomert 2004 1131-1297 ADCrique Sparouine Guiana Francesa Van den Bel 2010 1303-1368 ADBlauwgrond 2 Suriname Boomert 2004 1303-1453ADPetit Saut, Site 230 East

    Guiana Francesa Boomert 2004 1325-1451 AD

    Moricokreek Suriname Boomert 2004 1327-1635 ADCristiaankondre Suriname Boomert 2004 1405-1629 AD

    Bigiston Suriname Boomert 2004 1417-1637 AD

    Petit Saut, Site 230 East

    Guiana Francesa Boomert 2004 1251-1949 AD

    Saut Mapou Guiana Francesa Boomert 2004 1489-1951 AD

    Quadro 1. Quadro de dataes radiocarbnicas de stios Koriabo. Destaquei em cinza as datas que encaixam na cronologia proposta por Boomert (2004), sendo que o tom mais escuro reala as datas que se encaixam nas cronologias mais tardias (Evans e Meggers 1960; Veersteeg 2003; Rostain 2008, 2009). Refeito com modificaes a partir de Boomert (2004:257), com adio de dados de Saldanha e Cabral (2010) e Van den Bel (2010).

  • 101

    de engessar o registro arqueolgico em uma categoria homognea. Schaan (2007: 87) j alertava para esta situao no contexto da fase Marajoara:

    Ao tratar a fase como uma enti-dade homognea e no passvel de transformaes, fossilizamos o registro arqueolgico e deixamos de uti-lizar o estudo dos artefatos para entender processos de mudana cultural de longo termo, um dos objetivos maiores da arqueologia.

    Com exceo de Van den Bel (2010), os pesquisadores que se voltaram ao estudo de contextos associados fase Koriabo reforam em suas snteses uma compreenso normativa do ter-mo, e os nicos pontos de discusso referem-se cronologia e origem ou disperso, que so de fato os problemas de pesquisa levantados.

    Nos ltimos anos, com a ampliao de pesquisas no estado do Amap, nossa equipe se deparou tambm com con-juntos cermicos que apresentam as caractersticas tpicas Koriabo. Como apresentei nas Figuras 3 e 4, estes con-juntos, oriundos de diferentes stios e reas, partilham da decorao distintiva observada em stios espalhados por todo escudo guianense. Porm, o desconforto em classific-los nesta categoria, sem re-fletir sobre a carga que o termo Koriabo carrega atualmente, demanda a discusso que apresento aqui, sobre a utilidade (ou no) de aplic-lo nestes novos contextos. Para tanto, me volto aos contextos do Amap como foco de reflexo.

    Nossas primeiras observaes de carac-tersticas Koriabo em conjuntos cermi-cos no Amap foram realizadas em con-

    textos de arqueologia preventiva. Em um projeto de acompanhamento da insta-lao de uma mineradora de ferro no municpio de Pedra Branca do Amapari, desenvolvido entre 2007 e 2009, nossa equipe registrou 37 stios arqueolgicos, sendo que em dez stios foram realizadas atividades de pesquisa intensiva6 (coletas sistemticas de superfcie, sondagens e escavaes em rea ampla), totalizando mais de 24 mil peas, sendo 6% em mate-rial ltico e o restante cermico (Saldanha & Cabral 2009a:6).

    Escavaes em rea ampla, em decapa-gem mecnica, permitiram a identifi-cao de estruturas de habitao e fu-nerrias. Da mesma forma que descrito por Van den Bel (2010), a cermica com caractersticas tpicas Koriabo estava associada com um conjunto no iden-tificado de vasilhas domsticas e pouco decoradas. Em um dos stios (MMX 01), as peas Koriabo estavam em contexto funerrio, depositadas em uma fossa (Saldanha & Cabral 2010), claramente apartadas do restante do material.

    Posteriormente, em meados de 2009, uma ampla escavao realizada em Laranjal do Jari, limite sul do Estado, trouxe tona uma coleo singular de cermica e peas lticas. O stio Laranjal do Jari 1 tambm foi escavado em con-texto de arqueologia preventiva, para a construo do Campus de uma escola tcnica7. Este era um stio com extensa camada de terra preta (0,40 a 1,00m de espessura), com um dimetro de aproximadamente 200m. As escavaes alcanaram 4200 m2, e foram acom-panhadas de coletas de superfcie. Ao todo, foram identificadas mais de 300

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Juntando cacos

  • 102

    estruturas antrpicas, entre buracos de poste, estruturas de combusto, depsi-tos lticos e cermicos, fossas (com e sem deposies cermicas associadas) e estruturas funerrias (enterramentos secundrios em urna).

    As anlises do material ainda esto em processamento8, mas os dados prelimi-nares indicam novamente uma separao entre os conjuntos tpicos Koriabo (com muita decorao incisa e plstica, ver Figura 4) e um conjunto de vasilhas sem decorao. interessante destacar que, no caso deste stio, o material decorado Koriabo no est associado s estruturas funerrias, com exceo de um possvel enterramento cremado9. De fato, as es-truturas funerrias so compostas quase que inteiramente por vasilhas sem deco-rao completas, algumas com buracos de reparo em antigas rachaduras; enquan-to o material decorado est fragmentado em deposies esparsas.

    Um terceiro contexto em que cermica com decorao caracterstica Koriabo apareceu no Amap no interior da Terra Indgena Wajpi. Em 2009, a con-vite da Associao das Aldeias Wajpi, Apina, realizei a primeira expedio de pesquisa arqueolgica na Terra Ind-gena Wajpi, guiada pela famlia de um

    jovem pesquisador wajpi: Rosen e sua esposa Marinau, sua cunhada Anory, e duas crianas de colo. A regio onde est situada a TI Wajpi fica na parte central do estado, uma rea que nunca havia sido pesquisada previamente por arquelogos, como a maior parte do Estado e amplas regies da Amaznia.

    Esta primeira viagem permitiu o ma-peamento de uma srie de lugares com vestgios culturais, incluindo roas e al-deias abandonadas h poucos anos. Para a discusso deste trabalho, o importante a destacar so vestgios cermicos iden-tificados no entorno da aldeia Najaty. O cacique Waiwai, um dos depositrios da tradio na atualidade (Expresso 2006), me mostrou os cacos que encontra no entorno de sua casa afirmando que no eram potes wajpi, pois no reconhece os desenhos. Entre os fragmentos, ha-via trs com decorao incisa com mo-tivos peculiares, que repetem padres classificados como Koriabo (Figura 5).

    PARA FINALIZAR

    Ao rever estes trs contextos bastante distintos no Amap em que possvel identificar conjuntos que podem ser classificados na fase Koriabo, me per-

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Cabral, M. P.

    Figura 5 - Fragmentos cermicos com decorao incisa. (1) Fragmentos do Rio Cumin, PA, classificados como Koriabo por Hilbert (1982). (2) Fragmentos da aldeia Najaty, TI Wajpi (ilustraes da autora).

  • 103

    gunto por que isto no suficiente? Por que denomin-los em uma fase no re-solve minha angstia?

    Enquanto a classificao certamente necessria como forma de organizar os dados e torn-los compreensveis para uma audincia maior, o desconforto est na srie de suposies que tem sido adicionada ao termo ao longo dos seus 50 anos de existncia. Quando me re-firo a determinado conjunto cermico nomeando a fase a que est relacionado, minha inteno permitir compara-es, incentiv-las. Porm, quando este nome carrega junto um pacote de outras afirmaes que vo alm de uma descrio de caractersticas prprias do conjunto (formas, decoraes, tipos de pasta e queima), preciso cautela.

    Dos trs contextos no Amap, dois deles oferecem dados detalhados do registro arqueolgico. Os stios no en-torno de Pedra Branca do Amapari e o stio Laranjal do Jari 1, porm, parecem partilhar to somente a presena destes tipos de cermica, j que os contextos de deposio so bastante diversos.

    Enquanto no Laranjal do Jari 1 h pre-sena de terra preta, em Pedra Branca os solos antrpicos tm colorao mais clara e menos espessa. Alm disso, no primeiro a deposio de cermicas inteiras em fos-sas significativa, enquanto nos ltimos bastante rara. E a prpria associao da cermica caracterstica Koriabo distinta nos dois casos, ora claramente funerria, ora afastada destes contextos.

    Esta variao s possvel de ser ob-servada em funo das escavaes em rea ampla realizadas, com registro de-

    talhado. Refletindo sobre a crtica de Van den Bel (2010) a coletas bastante restritas, partilho com ele, with all the respect (op. cit.:91), da insatisfao com os dados atualmente disponveis. A construo sobre a fase Koriabo elaborada nas ltimas cinco dcadas, assim como para outras fases da regio, tem bases ainda instveis, pois os da-dos na sua maioria foram obtidos em pequenos cortes, com escassas in-formaes contextuais (Van den Bel 2010). Passados 50 anos, outros en-foques demandam esta reflexo.

    Os interesses recentes em investigar os processos de mudana cultural que se desenvolveram na regio Amaznica nos ltimos milnios (por exemplo, Heckenberger & Neves 2009; Erick-son 2010; e Schaan 2011), associado a preocupaes com a relevncia do conheci-mento produzido para a prpria regio e seus moradores (Heckenberger & Neves 2009; Erickson 2004) aponta para a necessidade de prestarmos aten-o nas nossas classificaes no sentido de utiliz-las para estes fins. Qual o sen-tido em agrupar sob um mesmo rtulo contextos arqueolgicos diferentes? Qual a fora de alguns atributos cermi-cos na definio de categorias classifi-catrias? E quais alternativas tomar?

    No atual momento, eu no vejo outro caminho que no o aprofundamento em contextos especficos. Ao pensar a arqueologia como antropologia, o equilbrio entre o particularismo e uni-versal tambm precisa ser dosado. Os usos que tm sido feitos na maior parte dos casos do termo Koriabo na arqueo-logia da regio, como busquei demon-

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Juntando cacos

  • 104

    strar aqui, tm um carter generalizador. Como decorrncia, as semelhanas so ressaltadas e as diferenas negligencia-das, com uma forte tendncia homo-geneizao.

    Como destacado por Van den Bel (2010), estudos pormenorizados ofe-recem uma base de dados qualitativa-mente superior, ampliando as possi-bilidades explicativas e criando novas questes, para alm da cronologia e da origem (que apesar de importantes no se sustentam sozinhas). preciso voltar ao particular, olhar cada contexto individualmente para ento buscar as comparaes. Se na antropologia con-tempornea existe certo mal-estar com tendncias particularizantes, que levam os antroplogos a reforar a importn-cia de enfoques comparativos (entre outros, Peirano 1997; Ingold 2008), no contexto da arqueologia das Guianas parece ocorrer o inverso.

    NOTAS1 Basta lembrar que os trabalhos pioneiros de Betty Meggers e Clifford Evans na Amaznia (Evans 1950, Meggers & Evans 1957, Evans & Meggers 1960) foram um exerccio dessas classificaes, depois normatizadas com a implementao do PRONAPA. 2 Para uma tima reviso sobre este tema, vale consultar Dias 1994.3 O termo cultura usado por pesquisa-dores nos pases vizinhos no mesmo sen-tido que o termo fase usado no Brasil. 4 Tambm disponvel em Rostain (2008). 5 Ver, por exemplo, Schaan (2004), que ao discutir dados detalhados de deposies em stios na Ilha do Maraj prope uma expli-

    cao sobre o desenvolvimento cultural na ilha com forte embasamento nos dados, colocando em discusso a histria cultural proposta anteriormente.6 importante salientar que as pesquisas na rea tiveram continuidade aps o encerra-mento do projeto atravs de outra equipe. 7 As informaes apresentadas aqui so em parte oriundas do relatrio de campo (Sal-danha & Cabral 2009b), dos registros de escavao (dirios e fichas) e do acompanha-mento das anlises em laboratrio. 8 O material cermico est sendo analisado pelos bolsistas de Iniciao Cientfica Jelly Juliane Lima e Francisco Luis Coutinho Jr., e pelo bolsista de extenso Fabrcio Fer-reira; o ltico est sendo analisado pelo bol-sista de Iniciao Cientfica Bruno Barreto.9 Como o material cremado ainda no foi analisado, no possvel afirmar se os vest-gios so humanos.

    REFERNCIAS

    Barreto, C. 1998. Brazilian Archaeology from a Brazilian Perspective. American An-tiquity 72:573-581.

    Boomert, A. & S. B. Kroonenberg. 1977. Manufacture and trade of stone artifacts in prehistoric Surinam., in Ex Horreo, I.P.P. 1951-1976 - Cingula IV. Editado por B. L. V. Beek, R. W. Brandt & W. Groenman-Van Waateringe. Amsterdam.

    Boomert, A. 2004. Koriabo and the Poly-chrome Tradition: the Late-Prehistoric Era between the Orinoco and Amazon mouths, in Late Ceramic Age Societies in the Eastern Ca-ribbean Monographs in American Archaeology 14..Editado por A. Delpuech & C. Hofman. Paris: BAR IS 1273.

    Cabral, M. P. & J. D. M. Saldanha. 2010. Ocupaes pr-coloniais no setor costeiro

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Cabral, M. P.

  • 105

    atlntico do Estado do Amap, in Arqueo-logia Amaznica Vol. 1, pp. 49-60. Editado por E. S. Pereira & V. Guapindaia. Belm: MPEG/ IPHAN/ SECULT.

    Dias, A. S. 1994. Repensando a Tradio Umbu a partir de um Estudo de Caso. Dissertao de Mestrado. Programa de Ps-Graduao em Histria, PUC-RS, Porto Alegre, Brasil.

    Erickson, C. 2004. Historical ecology and future explorations, in Amazonian Dark Earths, pp.455-500. Editado por J. Lehm-ann, D. C. Kern, B. Glaser & W.I. Woods. New York: Kluwer Academic Publisher.

    Erickson, C. 2010. The Transformation of Environment into Landscape: the His-torical Ecology of Monumental Earthwork Construction in the Bolivian Amazon. Di-versity 2(4): 618-652.

    Evans, C. & B. J. Meggers. 1960. Archaeo-logical Investigations in British Guyana. Bulletin of the Bureau of American Ethnology 177: 1-418.

    Heckenberger, M. & E. G. Neves. 2009. Amazonian Archaeology. Ann. Rev. An-thropol. 38: 251-266.

    Hilbert, P. P. 1982. Pottery from the Cumin River, Brazil, and its affiliation with the Ko-riabo Phase of Guyana. Journal of Archaeol-ogy and Anthropology 5(1-2): pp:75-82.

    Lima, H. P., E. G. Neves & J. B. Petersen. 2006. A fase Autuba: um novo complexo cermico na Amaznia central. Arqueologa Suramericana 2:26-52.

    IPHAN. Expresso grfica e oralidade entre os Wajpi do Amap. 2006. Dossi IPHAN 2. Rio de Janeiro: IPHAN.

    Meggers, B. J. & C. Evans. 1957. Archaeo-logical investigations at the mouth of the Amazon. Bulletin of the Bureau of American Ethnology 167. Washington DC: Smithsonian Institution.

    Projeto Radam. 1974. Folha NA/NB.22-Macap; geologia, geomorfologia, solos, vegetao e uso potencial da terra. Rio de Janeiro: Depar-tamento Nacional da Produo Mineral/ Brasil.

    Prous, A. 1992. Arqueologia Brasileira. Braslia: UnB.

    Rostain, S. 2008. The Archaeology of the Guianas: an Overview, in Handbook of South American Archaeology, pp. 279-302. Editado por H. Silverman & W. H. Isbell. New York: Springer.

    Rostain, S. 2009. Between Orinoco and Amazon: The Ceramic Age in the Guianas, in Anthropologies of Guayana: Cultural Spaces in Northeastern Amazonia, pp.36-54. Editado por N. L. Whitehead & S. W. Alemn. Tuc-son: University of Arizona Press.

    Saldanha, J. D. M. & M. P. Cabral. 2009a. Relatrio Final do Projeto de Levantamento e Resgate Arqueolgico na rea da Mina de Ferro do Projeto Ferro Amap (MMX). Relatrio de Projeto. Macap: Instituto de Pesquisas Cientficas e Tecnolgicas do Estado do Amap. Indito.

    Saldanha, J. D. M. & M. P. Cabral. 2009b. Relatrio de Resgate do Stio Arqueolgico Laran-jal do Jari 1. Relatrio de Campo. Macap: Instituto de Pesquisas Cientficas e Tec-nolgicas do Estado do Amap. Indito.

    Saldanha, J. D. M. & M. P. Cabral. 2010. A Ar-queologia do Amap: reavaliao e novas perspectivas, in Arqueologia Amaznica Vol. 1, pp. 95-112. Editado por E. S. Pereira & V. Gua-pindaia. Belm: MPEG/ IPHAN/ SECULT.

    Schaan, D.P. 2004. The Camutins Chiefdom: Rise and Development of Social Complexity on Marajo Island. Tese de Doutorado. Depar-tamento de Antropologia, Universidade de Pittsburgh, EUA.

    Schaan, D. P. 2007. Uma janela para a histria pr-colonial da Amaznia: olhando alm e apesar das fases e tradies. Bole-

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Juntando cacos

  • 106

    tim do MPEG - Cincias Humanas 2(1): 27-39.

    Schaan, D.P. 2011. Ponds, Lakes and Feasts: the Geography of Anthropogenic Soils, in Sacred Geographies of Ancient Amazonia. Wal-nut Creek: Left Coast Press.

    Van Den Bel, M. 2010. A Koriabo site on the Lower Maroni River: results of the pre-ventive archaeological excavation at Crique Sparouine, French Guiana, in Arqueologia Amaznica Vol.1, pp.61-93. Editado por E. S. Pereira & V. Guapindaia. Belm: MPEG/ IPHAN/ SECULT.

    Versteeg, A. H. 2003. Suriname before Columbus. Paramaribo: Stichting Surinaams Museum.

    Recebido em 03/04/2011.

    Aprovado em 30/06/2011.

    Amaznica 3 (1): 88-106, 2011

    Cabral, M. P.