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Pelo exposto, compreende-se que o professor se expresse, apresente, e se denuncie
pelos movimentos, representação esta, geradora de significações várias pelos alunos. A
marca da pessoalidade, originalidade e individualidade está bem patente na forma como
cada formando gere e compreende o espaço, que escolheu para palco das suas actuações.
4.2.5. Análise da quarta sessão formativa: movimento pessoal e relação interpessoal.
A importância do profissional reflexivo
A última sessão de formação estabeleceu como objectivo primordial a reflexão
sobre a acção e reflexão sobre a reflexão na acção, por forma a compreender este processo
ao nível da sua prática pedagógica.
Solicitei, então, que a partir texto (anexo 6) que enfatiza os aspectos não verbais da
comunicação na sala de aula: sinais gestuais, sorriso, olhar, franzir de sobrancelhas,
trejeitos, os formandos reflectissem na possibilidade, ou não, de melhorar a relação
pedagógica e didáctica pelo melhor entendimento da problemática da gestualidade e a
pertinência de factores atinentes.
Categoria 10 - Pertinência de aspectos não verbais da comunicação na sala de aula de
Matemática
Mafalda:
a) proximidade e confiança:
- “(…)sim, penso que é possível melhorar a relação pedagógica e didáctica com gestos,
pois os gestos que utilizo estabelecem proximidade com os alunos e quando acompanham a
exposição verbal de conteúdos matemáticos ajudam à sua compreensão e melhor assimilação. A
atitude, a expressão corporal aproxima ou não, os alunos e pode estabelecer uma relação de
confiança que se poderá tornar num convite à participação, ao debate de ideias e formas de
resolução dos problemas”.
175
Matilde:
a) motivação-melhores resultados:
- Matide crê ser possível melhorar a relação pedagógica e didáctica na
medida em que considera a “a linguagem não verbal como um factor importante e por
vezes condicionante da relação com os alunos, pedagógicas e didácticas. Um conteúdo
matemático transmitido sem qualquer expressão corporal (gesto, olhar) é muito menos
interessante, motivante, divertido do que o inverso. Neste aspecto, considero importante e
relevante melhorar a linguagem não verbal para alcançar melhores resultados a nível
pedagógico e didáctico”.
Martina:
a) aprendem e apreendem conteúdos:
- “(…) penso que sim, pos os alunos através dos gestos, olhares, movimentos,
aprendem e apreendem melhor os conteúdos da Matemática, ou seja, quando um professor
usa um gesto para explicitar um exercício, por exemplo, quando desenha um quadrado no
ar, o aluno assimila melhor a imagem à palavra. Assim sendo os gestos podem influenciar a
relação pedagógica e didáctica na Matemática”.
Esta preocupação é patente em Martina revelada pela observação das suas aulas.
Na globalidade, confiro a consciência reflexiva e a valorização da importância dos
movimentos do corpo; das mãos, da cabeça, expressão do rosto, do olhar, da face,
sobrancelhas, dos formandos assim como as consequências da sua gestualidade no
processo ensino e aprendizagem da Matemática.
A este propósito, Ponte (1994) considera que .
“a didáctica constitui uma área integradora transversal, articulando contributos da
psicologia, sociologia (…) do pensamento educacional, mobilizando-os para a
reflexão sobre a prática pedagógica do próprio professor. Ela pressupõe uma
análise de processos de construção dos saberes em cada área curricular (…)O
contributo do saber didáctico para o desenvolvimento profissional implica desde
logo a valorização da reflexão sobre o que é fazer Matemática(...)[assim como
implica] a dinâmica de sutuações de aprendizagem, onde sobressai a comunicação
e o discurspo na sala de aula(..). A didáctica desempenha um papel fundamental
como instrumento de orientação, ajudando a conceber as situações de
aprendizagem”. (s/p)
176
Interpretando o formando como um profissional em devir, coloquei mais uma
questão aos formandos no sentido de compreender as suas concepções, a partir dos textos
propostos de Isabel Alarcão sobre o que é ser um profissional reflexivo. Porquê perguntar-
se se é tempo de se ser reflexivo? O que é ser-se reflexivo?Quem deverá ser reflexivo?
Para quê ser-se reflexivo?Sobre quê ser-se reflexivo?Como ser-se reflexivo? É possível
ser-se reflexivo?É desejável ser-se reflexivo? Para onde vamos com a nossa reflexão?” e
agir segundo o pensamento de Donald Schön. (Q. 2. 1., anexo 6)
Mafalda entende que “é importante ser-se flexível e adaptarmo-nos de forma adarmos
aos nossos alunos o melhor acompanhamento possível; é sobre isto que devemos reflectir, sobre a
nossa postura e atitude é a mais adequada e favorável ao processo de aprendizagem. Esta reflexão
deve ser feita durante a prática de leccionação, em que no momento, decidimos sobre as atitudes e
as opções a fazer e, posteriormente, sobre a accção, sobre como agimos e se realmemte foi a opção
correcta. Só reflectindo, constantemente sobre as nossas acções chagamos ao profissional reflexivo
e construtor”.
Matilde concorda, igualmente, que o professor pautar-se pela ser reflexividade, não
só a nível pessoal, como também profissional, sobre o que fez, “um profissional deve colocar
todas as questões na sua prática profissional e até pessoal pois, somente é possível evoluir e
melhorar se paramos para pensar em atitudes, gestos, e posições para posteriormente reflectirmos
sobre as mesmas. Estas reflexões vão dar “frutos”no futuro, para um indivíduo, no aspecto pessoal
e profissional”.
Para Martina um professor deve “reflectir sobre todos os acontecimentos que passam,
tendo em atenção Donald Schön; os profissionais devem reflectir durante as suas acções e depois
reflectir sobre as acções que aconteceram. Só assim se consegue responder às perguntas anteriores
e tornar-se um bom profissional ”.
A auto-implicação é um factor de extrema relevância e marcante ao longo das
sessões de formação, não só, como em todos os encontros vividos nesta odisseia. A
formação recíproca dos formandos passa pelo respeito das suas individualidades, assente
numa dimensão humana, de modo a que ninguém fique, parafraseando Gomes, numa
situação constragedora de dar aquilo que não tem.
177
Em todos os momentos e encontros, desejei assumir o papel de supervisor
reflexivo, implicando um olhar observador da ecologia das situações, da pessoalidade de
cada um, dos dados disponíveis antes e após o desvendar do Poliedro, deixando
(ex)ímplicito a valorização dos percursos pessoais e únicos de cada formando, facilitando o
desenvolvimento autónomo de cada um, preocupada em manter e desenvolver interacções
e relações supervisivas que inflamassem a criatividade individual e conjunta, o espírito de
iniciativa, a reflexividade crítica e as dimensões individuais do profissional/pessoa em
formação.
Naturalmente os formandos surpreenderam-me com atitudes, acções e o seu próprio
evoluir, independentemente de posturas altruístas do seu supervisor, no sentido de ajudar a
descobrir as suas capacidades pessoais, que eventualmente, poderiam não estar a ser
reflectidas. Parece-me importantíssimo que os formandos desenvolvam reflexões
construtivas e fomentadoras de atitudes positivas face às suas acções, podendo ou não,
estas ser objectos de mudanças, mas, tendo sempre em conta, que as mutações acontecem
na reflexão durante a acção, na acção reflexão após o que se sucedeu, sobre a acção e
reflexão sobre a reflexão na acção. (Alarcão, 1991, p. 8)
4.3. Análise do primeiro e segundo encontro pós-observação das aulas videogravadas:
auto e heteroscopia
Mediante o campo perceptivo pessoal e único de cada formando, assente numa
história de vida pessoal e singular, o primeiro encontro pós-observação foi destinado à auto
e heteroscopia da primeira aula a aulas videogravada. À Mafalda, Matilde e Martina era
proposto que, observassem as faces das suas aulas, excertos portanto, a fim de se
posicionarem sobre aspectos formais da comunicação na sala de aula e sobre a sua
movimentação. Naturalmente, foram presentes alguns “eu?”, “pois é!”, “ahah?”, “olha, eu
faço isso”, “fazemso mais gestos do que imaginamos…”, “Já te tinha dito que ponhas
assim as mãos na cintura!”, em momentos de constatação de alguns aspectos que estiveram
presentes quer durante a autoscopia, quer ao longo da heteroscopia.
A minha função enquanto supervisor-investigador, assentou em não tomar partido
pela eficácia desta ou daquela atitude, mas apenas em dinamizar e incentivar as reflexões
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individuias e colectivas, crendo que é fundamental, também, que os colegas, em boa fé,
anunciem as suas percepções por forma a ajudar a construir conhecimento.
Felizmente, a relação estabelecida entre o grupo, nestes encontros pedagógicos, foi
a de partilha, diálogo, reflexão e, eventualmente, apontar e esclarecer dúvidas, no sentido
de estabilizar a confiança.
Observe-se o processo de autoscopia do primeiro encontro pós-observação no
quadro, onze, abaixo.
Quadro 11 - Conteúdos de reflexão autoscópica do primeiro encontro pós-observação
Descrição dos gestos com aluno e
trabalho, relevância, adequação,
variação, expressão
Descrição do olhar do
formando e sua direcção e
transmissão
Movimentação do formando,
ritmo, variedade, relevância
Mafalda “(…)utilizo bastantes gestos, gestos
deíticos, de expressão, de chamadas
de atenção, sendo muito expressiva
com os olhos, com as mãos que
acompanham sempre a expressão
verbal. Os gestos são adequados à
situação, pois cruzo os braços e
trinco o lábio se estou aborrecida,
aponto para relevar aspectos. São
muito variados os gestos utilizados;
exprimo os conteúdos com o corpo,
o olhar e utilizo expressões para
corroborar ou chamar a atenção do
aluno(…)”.
“(…)olho em direcção à turma,
fixo o olhar no aluno, centro
atenção com quem converso,
tento sempre ter contacto visual
com o aluno e com a turma e
comunico, através dele (…)”.
“(…)desloquei-me num circuito
em ângulo recto, em frente ao
quadro e pela lateral direita da
sala, com harmonia e
dinamismo atendendo às
necessidades dos alunos nos
lugares, tendo centrado a minha
atenção um pouco mais nas filas
da frente(…)” .
Matilde “(…)a minha expressão facial e
gestual é variada e bastante presente
no decorrer de toda a aula, os gestos
estão na maioria das vezes
adequados aos contextos em que
ocorrem, reforçando as ideias e
acções. Existe grande variedade de
gestos e de deslocamento
(movimentação)(…)”.
“(…) o meu olhar, no geral,
abrange a globalidade da sala de
aula, direccionando-o em quase
todas as direcções. A transmissão
de ideias, acções, ordens é em
grande parte pelo olhar (…)”.
“(…) na minha movimentação é
demonstrado um grande ritmo,
dinâmico e activo. Existe uma
grande necessidade de
movimentos relevância, dadas
as circunstãncias e acções em
que ocorrem (…)”.
179
Martina “(…) penso que os gestos ao longo
da aula estiveram adequados ao
contexto, no entanto, alguns deles
aconteceram inconscientemente. A
minha expressão variou dependendo
do momento, mas penso que estive
bastante sorridente e isso reflectiu-
se na motivação que consegui
imprimir na turma. Os meus
gestos(…)”.
“(…)o meu olhar foi direccionado
para todos os alunos e em
algumas ocasiões serviu para
chamar à atenção ou para reforçar
ideias.(…)”.
“(…)movimentei-me bastante
pela sala, não me mantive
estática. Esse movimento fez
com que estivesse atenta às
dificuldades dos alunos(…)”.
Pelo exposto, certifica-se que que os gestos e a direcção ou transmissão do olhar, a
movimentação pelo espaço são aspectos considerados relevantes no espaço da sala de aula
de Matemática.
Contudo, recordo Mafalda, aquando do preenchimento do primeiro inquérito por
questionário, referir não concordar nem discordar da afirmação “o corpo tem um papel
crucial em contexto educativo” (C.2.6.) e apresentar, no encontro autoscopia “exprimo os
conteúdos com o corpo, o olhar”, uma concepção revista e assente em reflexão sobre a sua
prória acção, assim como em, (C.3.5.) no que concerne à plurifuncionalidade dos sinais da
comunicação não verbal, considerar o nível um, não relevante, o facto de o gesto
“corroborar o conteúdo ou sentido de uma frase” e, na descrição dos gestos quanto à sua
relevância, adequação, variação e expressão, reconsidera que “(…)são muito variados os
gestos utilizados (…) o olhar e utilizo expressões para corroborar ou chamar a atenção do
aluno(…)”.
Em suma, qualquer reflexão sentida e genuína produz mudanças, percursos
evolutivos, se não for hoje, amanhã, tanto a nível de concepções como de acções.
No que diz respeito ao olhar, note-se que, à semelhança do exposto num outro
ponto, Matilde salienta que é pouco recomendável “focar a mesma pessoa, grupo de alunos ou
direcção” (C.5.3.), ao que acrescentam Mafalda e Martina ser “não recomendável” focar
sempre a mesma pessoa, grupo de alunos ou direcção.
Tadavia, Matilde revela consciência pelo que é desejado e considera-se que, na
prática, Matilde caminha nesse sentido, ou seja, o olhar transmite mensagens, positivas ou
negativas e varia segundo as atitudes do aluno e segundo as funções pedagógicas, “(…)o
meu olhar, no geral, abrange a globalidade da sala de aula, direccionando-o em quase todas as
direcções. A transmissão de ideias, acções, ordens é em grande parte pelo olhar (…)”. Funciona,
no dizer de Ferrão Tavares, como um canal e um sinal, na medida em que permite que o
180
locutor se aperceba da forma como o outro recebe a sua mensagem e marca também o fim
ou a continuação de um acto de fala. (cfr. 1999, p.159)
Mafalda, por seu turno, ainda revela alguma inconsciência, apesar de referir que
“(…) olho em direcção à turma, fixo o olhar no aluno, centro atenção com quem converso, tento
sempre ter contacto visual com o aluno e com a turma e comunico, através dele (…)”,
confirmando-se na prática que nem sempre acontece desta forma, nomeadamente em “(…) tento
sempre ter contacto visual com o aluno e com a turma e comunico, através dele(…)”.
Os dados obtidos sobre o olhar de Matide revelam à partida, uma certa
neutralidade, não querendo, com isto dizer, indiferença, desinteresse ou mesmo ausência,
mas tão somente a falta de assertividade que nele se denota e que se prende, talvez, com o
desejo de estabelecer um determinado tipo de relação, marcado, talvez, pela mesma
justificação em relação ao sorriso. Todavia, um olhar mais ausente, disperso ou distante
não cativa os interlocutores, como refere Salins «le regard est un premier signal
d’empathie». Salins (1992, p.162)
Martina, acredita que o seu olhar “(…) foi direccionado para todos os alunos e em
algumas ocasiões serviu para chamar à atenção ou para reforçar ideias.(…), assim como está
patenteado nas videogravações das suas aulas manifestando que a sua prática difere das
suas concepções iniciais (C.5.3)
Rememoro que a expressão do olhar, o contacto visual com os alunos, é forma
silenciosa de capital pertinência, dado que a sua ausência ou inexistência pode ser
entendida, pelo aluno, como sinal de desinteresse, ansiedade e falta de receptividade da
parte do professor. Uma visão significativa, efectuada pelo professor, constitui-se como um
veículo de emissão/transmissão de mensagens e emoções que as próprias palavras não
conseguem transmitir,assim como uma boa oportunidade para compreender e perceber as
das reacções dos alunos.
Salins (1992) refere que
«le regard attentif semble indispensable pour la bonne conduite d’une
conversation. Il contrôle et régule le fonctionnement correct de l’interaction face à
face. C’est dans le regard de l’autre que le «locuteur» évalue le degré de
compréhension ou le degré d’intérêt». (p. 162)
181
A título de exemplo e tomando em consideração as aulas videogravadas, constate-
se que as aulas de Matilde são carregadas de expressões de olhos arregalados, quando
organiza o pensamento, alerta, explicita, sanciona, reforça, corrobora, anui, entre outros.
No que remonta à movimentação do formando no espaço ao ritmo, variedade e
relevância importa referir que Mafalda considera deslocar-se em frente ao quadro e pela
lateral direita da sala, com harmonia e dinamismo atendendo às necessidades dos alunos
nos lugares, centrando a atenção um pouco mais nas filas da frente, o que efectivamente
não se revela pelas aulas videogravadas pois, Mafalda circula preferencialmente junto ao
quadro coloca-se junto à secretária ou próxima da primeira carteira da esquerda. Em
nenhuma aula circulou por todas as filas; na primeira, a movimentação junto da fila da
direita é inexistente; na segunda aula, movimentou-se, mas apenas dentro do U, junto às
carteiras da fila da direita centrando-se na verificação dos exercícios propostos aos alunos.
Nas duas aulas mantém-se estática frente ao quadro, sendo que na primeira é mais
evidente junto à secretária. Não se verifica que a Mafalda circule por todo o espaço de
aula, dando portanto a volta à sala.
Convém aqui reflectir, observar e compreender; três actos fundamentais, dada a
gestão do espaço, pois efectivamente, nem sempre é fácil gerir sentimentos face a
comportamentos que assumimos como absolutos. Acresce a Mafalda o facto de sentir-se
condicionada por algumas sugestões dadas em reflexões anteriores por um interveniente no
processo de formação.
182
Quadro 12 - Conteúdos de reflexão autoscópica do segundo encontro pós-observação
Descrição dos gestos com
aluno e trabalho,
relevância, adequação,
variação, expressão
Descrição do olhar do
formando e sua direcção e
transmissão
Movimentação do
formando, ritmo,
variedade, relevância
Evolução
do comportamento
não verbal, ao longo
das duas aulas
videogravadas
Mafalda -“(…)ao longo da segunda
aula mantive uma expressão
um pouco séria o que não
associava à minha postura,
pelo menos de uma forma tão
frisada. Os gestos estão
muito presentes, as mãos
esquematizam e esclarecem o
discurso, evidenciando,
corroborando, indicando, etc
(…)”.
-“(…) o olhar foi mais
generalizado, tinha um maior
campo visual. Continuo a
comunicar com o olhar e a
falar com os olhos mas
centrei-me e atentei mais à
turma(…)”.
-“(…) o campo de
movimentação alargou-
se, andei também pelo
meio da sala e nas mesas
de trás. É relevante que
me desloque ao lugar do
aluno quando este
solicita, por que é
naquele momento que
está a sentir a
dificuldade e também
quando circulo
visualizando o trabalho
dos alunos,
aconselhando e
atentando ao seu
trabalho(…)” .
“(…) o contacto visual
foi mais evidente,
assim como circulei
mais pela sala, sendo o
campo visual maior,
ajudando a controlar a
turma(…)”.
Matilde - “(…)a expressão facial e
gestual mantém-se,
igualmente, presentes e
variadas no decorrer da aula,
sorrindo em alguns
momentos. Os gestos quase
sempre são utilizados
inconscientemente, exemplo:
dizer 3, levantando uma mão
e mostrando quatro dedos.
Neste aspecto, penso que
nem sempre os gestos
estiveram adequados ao
contexto em que se
proporcionaram. A variação
do movimento, circular pela
sala de aula não foi muito,
mas a movimentação
corporal esteve bastante
presente e activa. Os
aspectos relacionados com a
relevância nem sempre
estiveram de acordo(…)”.
- “(…) o olhar nesta aula
abrangeu mais o meu campo
de visão, contudo não
descurei o restante espaço,
olhando sempre para a ponta
de trás da sala de aula(…)”.
-“(…)a movimentação
nesta aula foi mais
parada, contudo a
variedade de gestos
efectuados continua
sempre a ser uma marca
característica da minha
pessoa. Penso que a
relevância da
movimentação dos
gestos, por vezes é um
pouco excessiva e muito
variada (…)”.
“(…) penso que não
houve grande
alteração/evolução de
comportamentos não
verbais, bem como nas
atitudes. Os gestos,
movimento corporal,
expressão facial e
corporal são factores
característicos, muito
presentes na minha
pessoa(…)”.
183
Martina “(…) nesta segunda
observação da minha aula
tenho que referir o meu gesto
repetido de colocar a mão na
cintura, um gesto
inconsciente. Quando quero
chamara atenção para
alguma coisa ou apontar,
mexo repetidamente a mão.
Quando um aluno me solicita
para me dar a solução de um
problema, coloquei o dedo
no nariz (não me cheira
muito bem), como forma de
alertar que o exercício
deveria estar incorrecto. A
expressão facial estava mais
fechada, ou seja, não interagi
tanto através do meu
rosto(…)”.
“(…)tal como na primeira
aula o meu olhar esteve
direccionado para todos os
alunos. Em momentos
específicos quando ouvia um
aluno, olhava-o fixamente,
chegando mesmo a abrir
mais os olhos(…)”.
“(…) tal como na
primeira aula,
movimentei-me de
forma serena e atenta
pela sala de aula,
tentando passar por
todos os alunos(…)”.
“(…) na primeira aula
o meu comportamento
verbal foi mais
evidente, no entanto,
na segunda tive mais
gestos e expressões
para a explicitação dos
conteúdos(…)”.
Quanto a Mafalda, realçam alguns aspectos:
a consciência da expressão séria, da variedade, relevância, dinamismo e
adequação dos gestos, como também; a referência ao sorriso como incentivo, ainda
é um aspecto não mencionado
a evolução patente , substancial, ao nível da movimentação;
a importância da autoscopia em momentos de formação para a tomada de
consciência de aspectos inerentes à execução das práticas.
Quanto à evolução considera que o contacto visual foi mais evidente, assim como a
circulação pelo espaço, sendo o campo visual mais alargado.
No que diz respeito a Matilde, saliento que:
consciencialização da utilização de alguns gestos de forma inconsciente, a que
subjaz um apreciável processo de reflexão;
refere que a movimentação foi mais parada, contudo a variedade de gestos
efectuados continua sempre a ser uma marca característica pessoal;
pensa que a relevância da movimentação dos gestos, por vezes é um
pouco excessiva e muito variada.
184
Do exposto em Matilde salienta-se que não houve evolução de comportamentos
não verbais, bem como nas atitudes. Considera que os gestos, movimento corporal,
expressão facial e corporal são factores característicos, da sua pessoa.
Destaco em Martina:
a consciência da gesto repetido de colocar a mão na cintura, afirmando
agora ser um gesto inconsciente;
Note-se que em (C.6) os gestos são utilizados conscientemente, Martina respondeu
“uso ou não gestos conscientes, mediante o contexto”, contudo noutros contextos, referiu que
“(…)não tinha noção de que colocava assim as mãos na cintura(…)”
expressão facial estava mais fechada, não interagindo da mesma forma
com as expressões faciais;
manter o olhar direccionado pelo grupo turma, especificando, fixando
quando necessário:
manifesta em termos de movimentação a mesma forma serena e atenta pela
sala de aula, circulando por todos os alunos e circulando.
No que toca à movimentação, Martina considera que o seu comportamento verbal
foi mais evidente, no entanto, na segunda utilizou mais gestos e expressões para a
explicitação dos conteúdos.
Martina foi o formando o que mais teve de reflectir a questão da movimentação e
do olhar, apesar de que, por essência, é bastante expressivo e faz uso cuidado e evolutivo
de todo o espaço da sala de aula. De imediato, abaixo, atente-se nos dados do processo de
heteroscopia.
185
Quadro 13 - Conteúdos de reflexão heteroscópica do primeiro e segundo encontro pós-
observação
Conteúdos
Descrição dos gestos com
alunos e trabalho,
relevância, adequação,
variação, expressão
Descrição do olhar do
formando e sua direcção
e transmissão
Movimentação do
formando, ritmo,
variedade,
relevância
Evolução
do comportamento
não verbal, ao longo
das duas aulas
Formandos
Mafalda
Matilde
1ª aula
- muito expressiva, utiliza
muitos gestos e variados,
adequados às situações,
pois têm uma função
específica;
- comunica muito com os
alunos através do corpo;
- coloca muitas vezes as
mãos nos bolsos,
consistindo em posturas de
espera ou interrogação;
- olha para a turma, mais
para o fundo da sala,
transmitindo
expressivamente o que diz,
com o olhar;
- é muito comunicativa e
expressiva facialmente e
com o olhar.
- movimenta-se com
ritmo e dinamismo;
circula numa área em
frente ao quadro;
aproxima-se
fisicamente dos alunos
quando interage com
eles, o que é bastante
relevante.
- apresentou uma
movimentação
constante do seu corpo
e da sua face, utiliza
gestos para indicar e
clarificar ideias;
- na segunda aula
movimentou-se, mas
utilizou muitos
esquemas manuais
gestuais para
transmitir conteúdos.
- a evolução é o facto
de ter retirado as mãos
do bolso e utilizado
mais as mãos para
comunicar.
Matilde
2 ª aula
- gestos relevantes,
expressões muito variadas
e adequadas à ideia que
quer transmitir;
- aproxima-se dos alunos
com os gestos e o corpo
baixa-se para exprimir-se
pelo corpo.
- mantém um olhar muito
atento à turma, incidindo
em alunos a quem faz
chamadas de atenção,
utilizando, algumas vezes,
apenas o olhar.
- movimenta-se de
forma a conseguir uma
boa visualização dos
alunos;
é muito dinâmica, pelo
que se movimenta
com todo o seu corpo;
- a movimentação é
relevante, para estar
presente nos
momentos em que é
necessário intervir;
-circulou lateralmente,
nesta aula, deslocou-se
ao fundo da sala.
Martina
1ª aula
-realiza gestos que ajudam
os alunos, a reconhecer
pontos importantes;
- o gesto de pôr a mão na
cintura, inconsciente, não
tem uma função específica;
-sorridente;
- visualiza a turma no geral
e acompanha os alunos na
realização das tarefas.
- circula bastante pelos
alunos, aproximando-
se fisicamente deles.
- movimentou-se pelas
mesas, variando a
deslocação e as
paragens na sala de
aula.
-repetiu bastante
alguns gestos e
utilizou as mãos para
ajudar à compreensão
do discurso.
Na segunda aula
exprimiu-se mais com
as mãos e menos
186
Martina
2 ª aula
-menos expressões faciais;
-o braço flectido sobre a
cintura é igual, é a
imagem de marca;
- utiliza o dedo no nariz
para indicar ao aluno que
algo não lhe cheira bem,
algo está incorrecto.
-apresentou mais
movimentos com as mãos
que ajudaram a
compreender, apontando
para o quadro com o dedo
mindinho, o pensar
levantando a mão até à
cabeça.
- evidencia o olhar directo
quando se dirige aos
alunos.
- boa movimentação
pela sala, apoiando os
alunos nas suas
necessidades
- não foi tão dinâmica.
Os movimentos são
adequados e têm
relevância na
compreensão dos
conteúdos pelos
alunos.
expressões faciais;
- realizou com as
mãos movimentos
mais variados
Matilde
Mafalda
1 ª aula
- ao longo de toda a aula
demonstra uma expressão
séria, pouco sorriso;
- tendência para colocar-se
direita cruzando as mãos à
frente e morder ao de leve
o lábio;
- a maioria dos gestos
foram relevantes e
adequados aos conteúdos
leccionados a às acções;
- pouca dinâmica na aula e
parada junto ao quadro ou
ligeiramente à direita do
mesmo.
- olhar centrado no seu
campo de visão, olhando
em certos momentos mais
para o lado direito do que
para o esquerdo;
-corrobora com a direcção
do olhar.
- manteve-se a maioria
da aula sempre no
mesmo espaço;
- movimenta-se com
pouco ritmo mas
harmoniosa.
- não apresenta
alterações a nível da
expressão facial;
-variação do olhar, na
deslocação e mais
dinamismo na segunda
aula;
- os gestos estão
adequados e são
relevantes em ambas.
Mafalda
2 ª aula
- expressão séria e
enrugada;
-tendência para colocar à
frente do corpo as mãos
cruzadas e postura direita.
- variação de gestos
maior, acenou com a
cabeça, com as mãos com
mais frequência; mostrou
maior interactividade entre
a relevância e adequação
dos gestos.
- olhar mais dinâmico,
activo;
-abrange mais alunos.
- postura harmoniosa,
mas muito direita;
- teve um ritmo mais
dinâmico, activo,
percorrendo a sala;
-a relevância dos seus
movimentos foi mais
notória nesta aula.
Martina
1 ª aula
-grandes sorrisos;
simpatia; gestos com as
mãos variados e adequados
e de acordo com o
contexto em que se
manifesta; nem sempre são
conscientes.
- direcciona o olhar por
toda a sala, transmitindo
agrado/desagrado e
algumas ordens, assim
como para estabelecer
comunicação com os
alunos.
- movimenta-se de
forma activa e
dinâmica e,
normalmente, fá-lo
com relevância;
- os gestos reflectem
alguma variedade, mas
nem sempre relevantes
de acordo com o
contexto em que
decorrem.
- não exsite evolução,
ao nível das
expressões faciais e
corporais, estas foram
mais notórias na
primeira aula.
- ao nível do
movimento corporal,
deslicações, e
utilização das mãos
foram mais notórios
187
Martina
2 ª aula
- expressa-se com as mãos,
mas exprime-se menos
com as expressões faciais
(ao contrário da primeira
aula); mantém a maior
parte do tempo as mãos na
anca/cintura;
- quando necessita de
alertar, expressa-se
tocando no nariz. – os
movimentos e expressões
são adequados e
demonstram relevância.
- menos frequente o olhar,
contudo quando
necessário, mostrou
utilizá-lo de forma
adequada e perspicaz
- circula muito pela
sala de forma activa.
os movimentos das
mãos não estiveram
tão presentes,
- aproxima-se com
frequência das
crianças acercando-se
das mesmas.
na segunda aula.
- aproxima-se com
frequência parecida
das crianças
acercando-se das
mesmas.
Martina
Mafalda
1 ª aula
-gestos evidentes,
adequados;
- expressão séria, apesar de
ter momentos mais
descontraídos.
-direcciona o olhar para a
turma, em geral.
-circula mais frente ao
quadro de forma
harmoniosa;
-evolução ao nível da
movimentação pela
sala;
-na segunda aula, não
fixa o olhar numa só
direcção, tenta olhar a
turma
Mafalda
2 ª aula
-gestos mais variados;
-expressão um pouco séria.
- olhar amplo, ou seja, olha
em todas as direcções, olha
ou tenta olhar para todos
os alunos.
-movimenta-se mais
pela sala, não se
limitando à zona do
quadro e deu um apoio
mais próximo aos
alunos com
serenidade.
Matilde
1 ª aula
-gestos muito relevantes,
usa-os consciente ou
inconscientemente, para
reforçar, chamar a atenção;
-expressão muito explícita
do que quer, abre bastante
os olhos quando pretende
chamar a atenção para algo
importante;
- varia a expressão
conforme as situações, cara
séria quando espera, sorri
quando os alunos
correspondem ao pedido.
- direccionado para toda a
turma, em particular, para
um aluno quando este está
distraído.
- movimenta-se pela
sala de aula de uma
forma activa e
dinâmica, prestando
atenção a todos os
alunos.
-manteve um
comportamento não
verbal idêntico.
- a docente utiliza com
muita frequência
linguagem não verbal,
por vezes de forma
inconsciente,
Matilde
2 ª aula
-recorre a gestos para
reforçar conteúdos, por
exemplo, quando desenha
um pacote de farinha para
ajudar os alunos a perceber
e visualizar o seu tamanho
e peso;
- utiliza os gestos nos
momentos adequados,
aliado à sua expressão
facial para demonstrar
satisfação ou insatisfação.
- tal como na primeira
videogravação, direcciona
o seu olhar para todos os
alunos.
- tal como na primeira
aula, movimenta-se
pela sala de aula,
dando apoio aos
alunos.
188
Relativamente a Matilde note-se que a utilização dos gestos é considerada e o
formando muito expressivo, tendo repercussões em termos da aula, ao nível do dinamismo.
Acrescente-se que a expressão facial e o olhar são aspectos que Mafalda acentua,
revelando que Matilde é muito comunicativa e expressiva facialmente e com o olhar,
Manifesta, expressivamente, o que diz com o olhar.
Martina e Mafalda salientam que Matilde movimenta-se de forma a conseguir uma
boa visualização dos alunos; é muito dinâmica, pelo que se movimenta com todo o seu
corpo.
No que diz respeito a Martina, Mafalda e Matilde são unânimes em referir o facto
de colocar as mãos na cintura, realizar gestos que ajudam os alunos, a reconhecer pontos
importantes. Matilde apresenta ainda os sorrisos abertos, a simpatia; gestos com as mãos
variados e adequados e de acordo com o contexto em que se manifesta mas nem sempre
são conscientes. Matilde refere, ainda que Martina se movimenta de forma activa e
dinâmica e, normalmente, fá-lo com relevância, contudo os gestos reflectem alguma
variedade, mas nem sempre relevantes de acordo com o contexto em que decorrem.
Matilde salienta o descréscimo de actividade na segunda aula. Constatam ainda que
Martina se movimenta pelas mesas, variando a deslocação e as paragens na sala de aula.
Mafalda, por seu turno evidencia que os movimentos de Martina são adequados e
têm relevância na compreensão dos conteúdos pelos alunos.
Focando as informações acerca de Mafalda, constata-se que as opiniões de Matilde
e Martina sobre os diferentes itens a analisar são diferentes às da própria. Daqui ressalta a
dupla função de processos de heteroscopia. Por um lado, constituem um alerta, ajudam à
tomada de consciência de atitudes menos desejadas no processo educativo, a fim de serem
repensadas; por outro, favorecem mensagens de reforço positivo que motiva e entusiasma
o professor para o acto pedagógico.
Assim, Mafalda considera, que apenas na segunda aula apresentou uma expressão
mais séria, facto não corroborado por Matilde, quando refere que ao longo de toda a aula
demonstra uma expressão séria, pouco sorriso e, acrescentando que, na segunda aula,
apresentou a face enrugada assim como pouca dinâmica na aula e parada junto ao quadro.
Martina, por seu lado, salienta que Mafalda ostententa uma expressão um pouco séria,
acrescentando que na primeira também se verificou, contudo, variou com expressões mais
189
descontraídas. Matilde revela ainda, que Mafalda tem tendência para colocar, à frente do
corpo as mãos cruzadas, e postura direita.
Matilde considera que Mafalda não distribui o olhar por toda a turma,
especialmente na primeira aula, considerando que na segunda o olhar se ostentou mais
dinâmico. Martina não corrobora a opinião de Matilde, referindo que o olhar de Mafalda é
amplo, olhando em todas as direcções, olhando ou tentando olhar para todos os alunos.
Note-se que em sala de aula ou em qualquer situação social, emissor e receptor
devem provar a atenção, evitando olhares errantes. (cfr. Salins, op. cit., p. 162)
Em relação à movimentação pelo espaço, Matilde revela que Mafalda apresentou,
na segunda aula, uma postura harmoniosa, apesar de muito direita; manteve um ritmo mais
dinâmico, activo, percorrendo a sala e que a relevância dos seus movimentos foi mais
notória.
Ainda no que à postura diz respeito, Martina refere que na primeira aula, Mafalda
se circunscreveu mais ao espaço do quadro,de forma harmoniosa contudo, na segunda aula
movimentou-se mais pela sala, não se limitando à zona do quadro e deu um apoio mais
próximo aos alunos, com serenidade. Martina e Matilde são uniformes quanto à harmonia
estampada na movimentação do formando Mafalda.
Por hora e, em relação à descrição e interpretação dos comportamentos não
verbais, importa referir que, por vezes, devido à pobreza do vocabulário, se torna
complicadíssimo apresentar formas complexas de objectos. Daí, estar patente não tanto
uma diversidade de vocábulos, mas antes de gestos feitos com as mãos que se esforçam por
transmitir os contornos específicos daqueles sobressaindo, desde logo, o número de
atitudes que a esse nível e em via crescente se realizaram..
Estou convencida que os actos de consciencialização podem advir da auto ou da
hetero-observação, auto e heteróscopias e análise e, como sensatamente refere Gomes
(2002, p. 127)
“a formação recíproca dos formandos a este nível passa pelo respeito das opiniões
dos outros, aquando da heteroscopia que se segue ao visionamento da gravações;
passa pela forma inteligente, amiga e até certo ponto carinhosa com que cada
colega aprecia a actuação do colega visionado; passa pelo respeito mútuo do direito
à diferença que se traduz na calma da discussão que se deve estabelecer, na defesa
de princípios válidos de orientações metodológicas e não na defesa de opiniões
pessoais, sem justificações aparentemente plausíveis. Cabe ao formador incutir no
190
grupo esta mística de humanismo que perpassa quase imperceptivelmente por cada
um dos elementos, originando um treino de auto-controlo nas apreciações”.
Para poder fazer florescer destrezas e atitudes consentâneas com o referido em
Gomes, só um supervisor-formador, neste caso, investigador que, faça a sua própria prática
reflexiva.
4.4. - Resumindo
Que especificidades apresenta um professor reflexivo?
Um professor reflexivo emprega a perscrutação como forma de aprendizagem;
procura alternativas; mantem a mente aberta numa compreensão empática, presença
autêntica e confiante no Outro; compara e contrasta; questiona as concepções e
representações do Outro de forma honesta e interessada; estabelece paralelos construtivos
de concepções e uma relação calorosa adaptando-se à inconstância e à mudança; formula
hipóteses; sintetiza; analisa; toma decisões na prática da sua profissão e entre outras
atitudes, tem em conta as consequências, ou seja, têm cuidado com as palavras, sabe ouvir,
procura ser construtivo, diligente e estimulante, tentando não despertar no Outro alguma
reacção negativa e dispensável.
Todos temos reminiscências de professores de Matemática ditos “bons”, que não
eram calorosos e que nem por isso os deixávamos de admirar. Era o caso do professor que
se apresentava com ar sério, face enrugada, expressão facial rígida, que raramente sorria,
que solicitava a presença dos alunos no quadro, chamando-os pelo número mecanográfico,
mas que mantinha disponibilidade e interesse pelos conteúdos e pelos alunos. Talvez
Mafalda se encontre neste arquétipo, todavia, não dispensa afagar os alunos com um gesto
meigo e caloroso, de manifestação de emoções e expressão de agrado.
Também lembramos os professores ditos “calorosos”, os que nos cuidaram como
filhos, os que tinham um ar descontraído e sempre um sorriso nos lábios, os que criavam
desde logo um clima de boa disposição, os que nos faziam uma festa, os que bastava o
olhar para dar “vida” às aulas. Porventura se enquadram aqui Matilde e Martina, embora
também as características apontadas sejam mais evidentes em Matilde, mas não menos em
Martina, pelo factor maternidade em Matilde e pelas experiências de vida e personalidade
em Martina.
191
Creio que Matilde, singularmente, se situa entre os professores das nossas
memórias, designados por “bons e calorosos”, dado que com mestria Matilde medeia com
facilidade, os gestos ilustradores, reguladores, manifestadores de emoções, adaptadores,
assim como os emblemas.
Revisitamos na nossa lembrança os que sabem rir até ao que estão sempre com ar
pesado e expressão facial séria; ao de aspecto agradável, até ao mal disposto e zangado; ao
de expressão fechada, até ao de sorriso aberto; ao de semblante e expressão corporal
vincados e rígidos até ao que transmite afabilidade, em todos eles os sinais gestuais dão
forma e consonância à comunicação.
Importa corroborar que todos os sinais são marcados por valores culturais e pelas
situações com que os formandos de deparam.
Em conclusão e como afirma Mucchielli (1978, p. 45),
“tout message quel qu’il soit comporte, en dehors de son «corps principal
sémantique» qui est son contenu textuel, des messages non-verbaux qui
l’accompagnent nécessairement. […] La façon de dire, les intonations, les
mimiques, les regards, lui constituent un contexte immédiat, dans le cadre de cet
autre contexte que représentent le lieu, le moment, l’environnement ».
A captação da expressão facial do próximo é uma das necessidades comunicativas
do ser humano? Quantas palavras dirão menos que as acções?
Estas questões aplicam-se com toda a legitimidade aos gestos.
As diferentes expressões, olhares, sorrisos, trejeitos, meneios, movimentações,
posições que esboçamos e partilhamos, consciente ou inconscientemente, são muito
reveladoras do nosso estado e predisposição, embora tudo dependa da intencionalidade da
acção e do contexto onde ocorrem.
Em súmula, creio que a diversidade e riqueza impressa em cada face do Poliedro,
possibilitará a, Mafalda, Matilde e Martina, a reflexão desejada em todos os momentos e
etapas do trajecto profissional. Reunindo as faces do conhecimento, da aprendizagem, da
formação, do desenvolvimento pessoal e profissional e da reflexão, almejei que Mafalda,
Matilde e Martina moldassem o seu Poliedro, sem descurar, porém, a ecologia das
192
situações, mas tocando e sentido as suas arestas e vertíces, em consonância com os fins
didáctico-pedagógicos solicitados pelo processo de ensino e aprendizagem
193
CAPÍTULO V
AVALIAÇÃO DO PROJECTO DE
FORMAÇÃO/INVESTIGAÇÃO
Neste capítulo pretende-
se avaliar o processo de
formação na intersecção
das representações que
os formandos encerraram
antes da sua
implementação e após a
mesma.
194
A avaliação é, um instrumento de desenvolvimento pessoal e profissional, uma
necessidade e, por isso mesmo, uma realidade daqueles que, em circunstâncias diversas,
assumem papéis e responsabilidades que são inerentes à própria condição de seres
humanos, que integram projectos de natureza profissional, reforçando assim o significado
das suas acções numa perspectiiva de melhoria individual.
Colocada na perspectiva do professor como profissional reflexivo que mediante Alarcão “é
uma perspectiva interaccionista e sócio-construtivista, de aprendizagem experiencial, de
formação em situação de trabalho, de investigação-acção” (2001, p. 11) e num processo
contínuo de aprendizagem, dinâmico, crítico e criativo, a sua avaliação significa a
problematização do seu processo de desenvolvimento.
O presente projecto assentou na permissa assumida de profissionais em formação e
desenvolvimento, o que nos ajudou a retirar benefícios reais e efectivos das reflexões que
tentámos efectivar.
Mafalda, Matilde e Martina, desmontaram o seu Poliedro mostrando-nos como era,
como foi sendo, como interagiu com o conhecimento fora e dentro de si, (re)construindo,
(re)descobrindo e redescobrindo-se em cada face do Poliedro testemunhando as
tonalidades das mesmas, revisitanto outras, e perspectivando como pintar outras tantas.
Nesta (re)descoberta, foi necessário, repousar para avaliar, numa atitude atenta e
interventiva, pois esse acto constitui o impulso de um processo que se quer facilitador do
desenvolvimento pessoal, social e profissional.
Como sublinha Cró (1998), a avaliação do professor pressupõe a explicitação
daquilo que se espera dele, embuido em opiniões justificadas e na multiplicidade de
variáveis presentes.
É consistente admitir que, pela pessoalidade, originalidade, individualidade de cada
interveniente, enquanto profissional reflexivo, se verificam diferenças em pontos
essenciais. Felicito os intervenientes por tal! Talvez fosse de estranhar que os formandos
pensassem, reflectissem, sentissem, tocassem e agissem de forma rigorosamente idêntica.
Com base no apresentado, quero acreditar que se obtiveram resultados dignos de
apreciação e enriquecedores, ao nível do tema em investigação na área de Matemática.
Atente-se, de seguida, nas respostas de Mafalda, Matilde e Martina, a partir do
segundo inquérito por questionário que, em que se visava avaliar o processo de formação e
195
facultar a intersecção das representações que os formandos encerraram antes da sua
implementação e após a mesma.
5.1. Resultados do segundo inquérito por questionário: representações finais dos
formandos
Este instrumento, apresenta estrutura semelhante à do primeiro, todavia há
alterações de fundo nas últimas interrogações, devido à sua sua natureza.
A análise dos dados, far-se-á também a partir das categorias de análise que têm
vindo a acompanhar o estudo e dos indicadores respectivos.
Assim, solicitei a Mafalda, Matilde e Martina que expressassem o seu parecer sobre
o plano formativo e matéria atinente à problemática em investigação.
Os dados que os professores concederam harmonizam três categorias de análise, a
saber:
C.9 – No âmbito da formação pedagógico-didáctica de docentes do 1º CEB,
considera que deva existir uma área disciplinar que atente na temática da gestualidade. (Q.
9, Parte II)
C.9.1 – A expressão corporal constituirá uma valorização para a função docente.
(Q. 10, Parte II)
C.11 – Marcas de crescimento profissional ou mais valias para o seu processo de
formação - o profissional reflexivo.
196
Quadro 14 - Concepções sobre o corpo e relação linguagem corporal/actividade docente
Categorias Indicadores Níveis de consideração
por estagiário
Mafalda Matilde Martina
C.1.
Concepções
sobre o corpo.
(C.C.)
C.2.
Relação da
linguagem
corporal com a
prática
docente.
O corpo:
C.2.1. Expressão facial tem interferência na relação
professor-aluno.
C.2.2. Uma expressão facial séria poderá inibir os
alunos e as suas atitudes.
C.2.3. A gestualidade é importante no processo ensino
e aprendizagem.
C.2.4. As posturas na sala de aula podem ser um factor
de proximidade entre o professor e o aluno.
C.1.1. Através do corpo podemos mostrar o nosso
bem/mal estar. (C.C.)
C.2.5. O corpo é um meio fundamental na
comunicação do professor.
C.2.6. O corpo tem um papel crucial em contexto
educativo.
C. 1.4. O corpo é um espelho profundamente revelador
do inconsciente. (C.C.)
C.1.3. O corpo é o primeiro e o mais natural
instrumento que o Homem possui. (C.C.)
C.1.2. O corpo não pode ser compreendido unicamente
como um conjunto de órgãos. (C.C.)
C.2.7. A expressão corporal é uma ferramenta que o
docente utiliza para complementar a transmissão de
conteúdos programáticos.
C.2.8. O nível de desempenho do professor é também
mensurado através da gestualidade.
C.2.9. Comunicação: processo no qual participam os
aspectos verbal e o não verbal.
Níveis de consideração dos indicadores:
discordo plenamente concordo
discordo concordo plenamente
não discordo nem concordo
Pelo exposto constata-se que em relação (Q. 1., Parte II), constata-se que os
professores reviram as suas concepções, apresentando uma mudança conceptual, quando
comparados os resultados com o primeiro inquérito por questionário que fora, inicialmente,
preenchido. Portanto em concepções sobre o corpo C.1.1. Martina refere neste segundo
questionário concordar totalmente com a afirmação; em C.1.2. Mafalda, Matilde e Martina
passam a concordar plenamente com a asserção; em C. 1.4. “o corpo é um espelho
profundamente revelador do inconsciente” as alterações são ainda mais patentes, pois
197
Mafalda transita de “não concordo nem discordo” para “concordo plenamente”, assim
como Matilde para “concordo”, facto que pode dever-se à reflexão que fizeram na segunda
sessão de formação. Martina, contudo mantém a mesma opinião.
No que diz respeito à relação da linguagem corporal com a actividade docente (Q.
1., Parte II), as respostas afirmam um grau de concordância que vacila entre o concordar e
concordar plenamente. Fica patente que processos de consciencialização têm repercussões
na prática pedagógica, dado que há indicadores em todos os professores que do simples
“nem concordo nem discordo” ou “concordo” passam a “concordo plenamente”,
destacando-se os casos em que, inicialmente, havia total neutralidade. Trata-se dos
indicadores C.2.6., C.2.7. em Matilde e Martina; em Mafalda e Matide e C.2.8. em
Mafalda.
Curiosamente, Matilde, em C.2.4. “as posturas na sala de aula podem ser um factor
de proximidade entre o professor e o aluno”, altera a sua representação de “concordo
plenamente” para “concordo”. Dever-se-á a sua reflexão ao facto de, aquando da segunda
autoscopia, acreditar que “não houve grande alteração/evolução de comportamentos não verbais,
bem como nas atitudes. Os gestos, movimento corporal, expressão facial e corporal são factores
característicos, muito presentes na minha pessoa(…)” ?
Seguidamente e, no que à plurifuncionalidade dos sinais de comunicação não
verbais diz respeito, afira-se a importância dos encontros formativos no que a esta
categoria concerne.
198
Quadro 15 - Plurifuncionalidade dos sinais de comunicação não verbal
C.3.
Plurifunciona
lidade dos
sinais da
comunicação
não verbal
Mafalda Matilde Martina
C.3.1. Fomentar a proximidade entre o professor e o
aluno.
C.3.1.1. Potenciar as conversas simultâneas.
C.3.1.2 Suprimir as deficiências ou bloqueios verbais.
C.3.1.3. Contribuir para a regulação da interacção.
C.3.1.4. Encobrir o verdadeiro sentido da frase.
C.3.1.5. Funcionar como forma de comunicação
alternativa à linguagem verbal.
C.3.2. Contrariar o conteúdo ou sentido de uma frase.
C.3.3. Empobrecer o conteúdo ou sentido de uma frase.
C.3.4. Fortalecer o conteúdo ou sentido de uma frase.
C.3.5. Corroborar o conteúdo ou sentido de uma frase.
C.3.6. Adicionar informação ao conteúdo ou sentido de
uma frase.
Níveis de consideração dos indicadores:
não relevante
pouco relevante
relevante
muito relevante
Pela constatação do quadro quinze, verifica-se que formandos reconsideraram
algumas das funções apresentadas (Q. 2., Parte II). Ressaltam, de imediato, à vista, em
Mafalda, os indicadores C.3.1, C.3.1.3, C.3.1.5, C.3.2, C.3.3, sendo mais notório ainda em
C.3.1.5, dado que passa de “não relevante” para muito relevante.
Em Matilde também é de salientar e C.3.5 e C.3.6, que se apresentavam como pouco
relevantes, e no pelo exposto acima a sua percepção, remete-se para muito relevante.
199
Denote-se que em relação a C.3.1.5. “Funcionar como forma de comunicação alternativa à
linguagem verbal”, Martina atribuiu-lhe o grau de “muito relevante”, tendo, presentemente,
retirado o advérbio de intensidade. Algo idêntico se passou em C.3.1.1, C.3.3, e C.3.1.2,
considerar menos relevantes as funções, contrariando o que anteriormente, havia feito.
Convém referir, que estas afirmações, são talvez fruto de Martina ainda não se ter
deparado, conscientemente, com tal situação, em contexto de aula de Matemática.
Existem outras alterações significativas que deslizam do “pouco relevante” para o
“relevante”, nomeadamente, o indicador C.3.5 concepção que, aliás, vai ao encontro do
que esse foi referindo ao longo do percurso formativo
Pelos dados observados e analisados constata-se que os formandos são acometidos
por dúvidas e desafios que não têm soluções prodigiosas. Cada situação é singular e
particular, portanto cabe ao professor descobrir os seus problemas e anseios, a partir do
confronto com as situações e com a acção, num processo de reflexão crítica.
É pura evidência que o professor deve acumular saber na acção, começando pelas
suas práticas e costumes, mas não menos deveria parecer aquela que se reporta a ele como
gerador de saber que emerge de pensar nas suas práticas profissionais.
Atente-se nas soluções atribuídas à questão 5, Parte II do questionário e alusivas à
categoria C.4, “tipo de gestos habitualmente utilizados nas aulas de Matemática”.
Quadro 16 -Tipo de gestos habitualmente utilizados nas aulas de Matemática
C.4.
Tipo de gestos
habitualmente
utilizados nas
aulas de
Matemática
Para: Mafalda Matilde Martina
C.4.1. O gesto potencia a participação do aluno.
C.4.2. Uso o gesto para certificar o que digo
C.4.3. O gesto serve para reforçar o meu discurso.
C.4.4. Com o gesto asseguro-me de que existe contacto
corporal.
C.4.5. Utilizo o gesto para exprimir sentimentos.
C.4.6. Através do gesto realço o que digo.
C.4.7. O gesto auxilia a que o aluno não se mantenha
em silêncio.
Níveis de consideração dos indicadores:
nunca
pouco frequente
às vezes
frequentemente
200
Mediante os níveis de consideração atribuídos à categoria 4, constata-se que aos
indicadores já decididos com maior nível de frequência, ou seja, os C.4.3, C.4.5 e C.4.6, se
veio juntar o C.4.6, pois Matilde considera, utilizar, frequentemente, gestos para realçar a
participação do aluno.
Matide, por seu turmo, afirma-se desunânime em relação a duas das suas
representações iniciais, a saber: C.4.1. passando de frequentemente utilizo o gesto
potenciar a participação do aluno, para “às vezes” utilizo o gesto para potenciar a
participação do aluno; acontecendo o inverso em C.4.6. “Através do gesto realço o que
digo” que inicialmente teria sido apresentado como “às vezes” sucedendo
“frequentemente”.
Pelo constatado, as alterações em Mafalda são muito evidentes, excepto em C.4.4,
que Mafalda considerou “às vezes”, nas restantes asserções, deslizou da consideração “às
vezes” para “frequentemente”.
Martina, basicamente mantém as suas representações, expectuando quanto à
expressão de sentimentos e ao contacto corporal (C.4.5), se alterou de “frequente” para às
“vezes”.
Certamente que a consciencialização não é por si só suficiente para a mudança de
atitudes. As opiniões e alterações foram ténues em relação a Matilde e Martina, contudo
considero que foram autênticas e em conformidade com a forma de ser, de estar e olhar as
situações.
Uma outra questão, novamente, colocada aos três formandos, prende-se com a
organização do espaço/aula, questão 6, parte 2, da parte dois. Os resultados obtidos são os
que se apresentam na quadro que se segue.
201
Quadro 17 – Organização do espaço/aula
C.5. Posturas
na organização
do espaço/aula
Mafalda Matilde Martina
C.5.1. Acercar-se do aluno ou grupo de alunos.
C.5.2. Deslocar-se de forma harmoniosa pela sala de
aula.
C.5.3. Focar sempre a mesma pessoa, grupo de alunos
ou direcção.
C.5.4. Estar a maior parte do tempo sem sair do mesmo
lugar.
C.5.5. Dar a aula quase exclusivamente sentado.
C.5.6. Permanecer de pé, parado e estático.
Níveis de consideração dos indicadores:
não recomendável
pouco recomendável
recomendável
muito recomendável
No tocante a este ponto, denota-se que os formandos consideram que é “muito
recomendável” realizar uma gestão concertada e proporcional do espaço da sala de aula;
que a falta de movimentação é, “não recomendável” ou, eventualmente, “pouco
aconselhável”.
É de salientar que Mafalda alterou a sua compreensão, no tocante a C.5.1, do
segundo nível para o quarto, respectivamente. Creio dever-se, essencialmente, aos
processos de auto e heteroscopia e à terceira sessão formativa, não descurando que a
mudança parte de si mesmo e do percurso de reflexão em situação.
A mudança, no entanto, não foi notória em sala de aula, apesar de estar consciente
do grau de importância atribuído a esse factor, constata-se, todavia, que, é num facto que
se prende com o ser autêntico nos contextos de interacção.
Uma constatação pertinente, prende-se também com o facto de em C.5.3. “focar
sempre a mesma pessoa, grupo de alunos ou direcção”, Matilde e Martina apresentarem
repostas distintas desde a primeira aplicação do questionário, ou seja, .parecia a Matilde
“pouco recomendável” focar sempre a mesma pessoa, grupo de alunos ou direcção, mas
nesta análise, parece-lhe mesmo, “não recomendável”; em Martina verifica-se o contrário,
202
inicialmente parecia-lhe “não recomendável” e de momento, considera “pouco
recomendável” focar sempre a mesma pessoa, grupo de alunos ou direcção.
Constato que esta alteração de Martina pode dever-se ao facto de, em contexto
pedagógico, praticar esta asserção, portanto a sua reflexão, mantêm-se ainda em
maturação.
Pela visualização das ocorrências correspondentes ao quesito 3 da segunda parte do
questionário, denota-se que alteraram as suas concepções, em Matilde e Martina devido a
processos de reflexão e de confronto com situações da prática pedagógica, enquanto
Mafalda reitera a sua posição, a mesma que apresenta nas suas autoscopias. Contudo,
Mafalda, em outros encontros abandone “ahs” de surpresa por alguns gestos realizados.
Quadro 18 – O uso (in)consciente dos gestos
Categorias Mafalda Matilde Martina
C.6 Os gestos são utilizados
conscientemente.
Uso
inconscientemente.
Uso
inconscientemente.
Uso
inconscientemente.
Matilde alterou a sua concepção, da primeira aplicação do questionário, até à
primeira aula visualizada. Após a segunda aula, Matilde afirma na segundo encontro de
autoscopia “Os gestos quase sempre são utilizados inconscientemente, exemplo: dizer 3,
levantando uma mão e mostrando quatro dedos”, e no exposto nesta questão, Matilde revê
as suas representações, naturalmente assentes em reflexão fundamentada.
Ressalta ainda que Martina, nas suas sessões autoscópicas, revela a utilização
inconsciente dos seus gestos, assim como tal se apresenta em C. 6 na segunda aplicação do
questionário.
203
No que diz respeito à utilização dos gestos fora do circuito comunicativo, a
assertividade de Mafalda e Matilde mantêm-se, contudo Martina revela ter alterado a sua
concepção, facto que está intimamente ligado à questão anterior. Neste caso Matilde já
evidencia exemplos e Mafalda abarca dados de áreas não citadas anteriormente: o rosto, e
o corpo. Vejamos a seguinte figura que engloba as duas categorias.
Quadro 19 - Utilização dos gestos fora do circuito comunicativo
Categorias Mafalda Matilde Martina
C.7. Utilizam-se gestos fora do
circuito comunicativo.
Sim,
acariciar rosto;
arranjar o
cabelo;
lamber o lábio;
morder o lábio;
cruzar as mãos;
passar as mãos
pelo corpo.
Sim
utilizo os
gestos em todas
as situações do
dia a dia; é inato.
Sim
colocar os
braços na
cintura;
passar a mão
pelo cabelo.
Recostemo-nos para verificar o que deveras pensa Mafalda, Matilde e Martina
sobre as potencialidades do plano de formação (Q. 7, Parte II), partindo da observação dos
dados recolhidos, patentes abaixo.
204
Quadro 20 - Potencialidades do plano de formação
C.8.
Potencialidades
do Plano de
Formação
Mafalda Matilde Martina
C.8.1. permitiu uma reflexão crítica sobre a temática
proposta.
C.8.2. favoreceu a partilha de dúvidas e preocupações
de formação/ensino.
C.8.3. levou-me a reflectir sobre a minha actuação na
sala de aula e sobre as suas potencialidades.
C.8.4. sensibilizou-me para a importância da
investigação reflexiva como estratégia de formação.
Níveis de consideração dos indicadores:
discordo plenamente concordo
discordo concordo plenamente
não discordo nem concordo
Pelo que ilustra o quadro 20 é patente que os formandos concordam plenamente
com os diferentes indicadores, explicitandos-o na sua consideração máxima, expectuando
Martina que em relação, o plano de formação “favoreceu a partilha de dúvidas e
preocupações de formação/ensino” C.8.2., é assinalado em menor ponderação.
A autenticidade e honestidade pautaram este percurso, capturando a essência do
aprender a ensinar, em modelos vivos e complexos. Certo é, como há uns anos ouvi um
Professor dizer, “ninguém ensina nada a ninguém, a não ser que esse alguém queira
aprender”!
No quadro vinte e um, abaixo, centro as respostas de Mafalda, Matilde e Martina, à
questão, considera que deveria existir uma área disciplinar que abordasse os diferentes
aspectos relacionados com a temática da gestualidade.
205
Quadro 21 – No âmbito da formação pedagógico-didáctica de docentes do 1º CEB, considera
que deva existir uma área disciplinar que atente na temática da gestualidade
Pelo exposto, constata-se que Mafalda, Matilde e Martina declaram ser basilar a
intodução uma área disciplinar que aborde os diferentes aspectos relacionados com a
temática da gestualidade, assim como ajudasse os futuros professores à tomada de
consciência da sua Presença em contexto educativo.
C.9
No âmbito da formação
pedagógico-didáctica de
docentes do 1º CEB, considera
que deveria existir uma área
disciplinar que atente na
temática da gestualidade.
Mafalda Matilde Martina
-“Completamente. Este
trabalho deu-nos a
oportunidade de verificar que
o nosso corpo é o primeiro
instrumento comunicativo e
tão necessário sabermos
utilizá-lo, como aprender e
dominar os conteúdos
científicos, como ter uma
linguagem verbal adequada.
É essencial. Urge incidir na
formação de professores
sobre a temática da
gestualidade!”.
-“(…) considero necessária a
existência de uma área
disciplinar que abordasse a
temática em questão, pois é
necessário que as pessoas,
aprendam a reflectir sobre as
atiitudes e gestos. Seria
pertinenente elaborar um
trabalho, onde cada
indivíduo a possibilidade de
observar e reflectir
criticamente sobre esta
temática, pois poderiam
potencializar e canalizar
gestos e atitudes para
alcançar/reforçar
comportamentos num
contexto educativo, sem por
vezes constranger ou inibir
as crianças, e em especial na
Matemática. Seria uma
disciplina muito
construtiva.(…)”.
-“(…) penso que sim, uma
disciplina que abordasse a
temática da gestualidade iria
ajudar os futuros professores
a tomarem conciência da
importância da linguagem
não verbal no decorrer de
uma aula de
Matemática(…)”.
206
Segundo Matilde, “seria pertinente elaborar um trabalho, onde cada indivíduo a
possibilidade de observar e reflectir criticamente sobre esta temática., pois poderiam potencializar e
canalizar gestos e atitudes para alcançar/reforçar comportamentos num contexto educativo, sem por
vezes constranger ou inibir as crianças, e em especial na Matemática”.
Ao longo do plano de formação, deu-se ênfase, entre outros aspectos, ao papel da
expressão corporal na valorização da função docente. Por isso, atente-se nas sentires, nas
remeniscências e actos de (reconstrução) praticados no Poliedro.
Quadro 22 - Reminiscências - A expressão corporal estabelece uma valorização para a
função docente
Remetendo ao exposto, os formandos são unânimes em apreciar o experimentado,
sentido e realizado pois enfatizam a importância do percurso formativo sobre o tema, e a
consciencialização a partir da reflexão, assumida como parte integrante da evolução de um
profissional em construção constante. A descoberta introspectiva já acontece em “alto
mar”, portanto, sem se descurar a ecologia das situações, permita-se que cada formando
construa, por hora, o seu navegar, à sua maneira, munidos, creio, de justas ferramentas
apropriadas para um atento, ou “alerta”, no dizer de Martina, atravessar de ponte. Sá-
Chaves (2000) assevera, prudentemente, que
C.9.1
Reminiscências -
A expressão corporal
estabelece uma valorização
para a função docente.
Mafalda Matilde Martina
-o que mais me recordo é a
quantidade de gestos que
utilizo para falar;
- a inconsciência da maior
parte dos gestos realizados;
- ajudou a reflectir sobre a
minha linguagem não verbal;
- o confronto entre a ideia
que tenho da minha postura e
a verdade.
-mais gratificante e que fica
guardado foi o facto deste
projecto permitir
avaliar/apreciar, evoluir e
reflectir;
.- sinto-me mais atenta a
certos pormenores;
- a reflexão passou a fazer
parte integrante e obrigatória
da minha avaliação pessoal.
- a abordagem da expresssão
corporal ao longo do plano
de formação, contribuiu para
a tomada de consciência da
minha expressão corporal;
- aspectos inconscientes,
como as mãos na cintura,
tornaram-se conscientes;
- sinto que estou alerta.
207
“tal como num saber tão clássico que nos acompanha e que nos diz que nenhum rio
passa duas vezes sob a mesma ponte, também na formação é indispensável
perceber essa condição de transformabilidade constante como desafio à
(re)conceptualização de atitudes, de conhecimentos, de competências e de
práticas”. ( p. 45)
E, por último, solicitei aos formandos que gostaria tecessem um comentário final ao
processo no qual foram sujeito activo, procurando abordar, por exemplo, marcas de
crescimento profissional ou as mais-valias que este processo trouxe à sua formação
enquanto docente. Pondere-se sobre o apresentado.
Quadro 23 - Marcas de crescimento profissional ou mais valias para o seu processo de
formação-o profissional reflexivo.
Efectivamente, denotam-se marcas de crescimento profissional. Basta-nos, para
isso, reiterar as últimas palavras dos formandos.
Mafalda acentua os verbos “consciencializar”, “aprender”,“enfatizar”e “mediar”,
Matilde “conhecer”, “reflectir”e “ponderar” e Martina “despertar”e “influenciar”.
C.9.1
Marcas de crescimento
profissional ou mais
valias para o seu
processo de formação-
profissional reflexivo.
Mafalda Matilde Martina
-“(…)” adorei participar neste
trabalho, foi muito construtivo.
Daqui para a frente, agora mais
consciencializada desta temática,
vou tentar aprender a controlar e dar
mais ênfase aos meus gestos.
Tentarei mediar outros, de forma a
comunicar de forma mais explícita,
clara, objectiva possível, prendendo
a atenção dos alunos, mantendo-os
mais próximos de mim e dos
conteúdos que pretendo que
aprendam“(…)”.
-“(…)” este projecto foi uma
mais valia em relação à
formação enquanto docente,
mas também no campo
pessoal. Fiquei a conhecer-
me melhor, a nível da
linguagem não verbal, e
aprendi a reflectir quanto às
atitudes de uma forma crítica
e ponderada. Foi uma
experiência muito
gratificante e única“(…)”.
“(…)”este projecto fez-me
estar mais atenta a todos os
meus gestos e movimentos.
Despertou-me para coisas
que pareciam “banais”, por
exemplo: um olhar, um
mimo) e que têm grande
importância no decorrer de
uma aula, podendo
influenciar positiva ou
negativamente a
regulamentação da
turma“(…)”.
208
Admito que o plano de formação instituiu-se como incitador e fomentador da
reflexão sobre o acção da comunicação na sala de aula de Matemática.
A formação inscreve-se, numa prática metacognitiva num processo complexo, onde
as pessoas acertam e desacertam os seus toques nas faces, portanto descobrem e
redescobrem as suas acções, de modo a concretizar da melhor forma possível a sua prática
de ensino.
Acredito que o fim último desta incumbência do plano, seja alargar a visibilidade
do Poliedro, e mostrar ao mundo as suas faces, tão belas e coloridas, repletas de
compreensão e consciência, portanto, da sua capacidade de colocar o Poliedro ao serviço
em diferentes contextos. Denuncia-se que no projecto de investigação-acção e de formação
foi concretizado se oderecem mutações e maturações dignas de um sorriso aberto por
ambos os intervenientes deste projecto.
A reflexão aconteceu a partir de processos, empenhados, ponderados, críticos de
reflexão, inculcados ao nível do conhecimento pessoal e profissional.
“Aceitemos o desafio de crescer e o deslumbramento que ele comporta.[...] É o
jogo da autoformação reflexiva nos espaços da heteroformação partilhada”, tal como,
meigamente, declara Sá-Chaves (2000. pp. 21-22).
5.2. Limitações do estudo e recomendações
Tratando-se de um estudo onde se pretendia compreender aspectos da pessoa
humana, suas representações, observar, analisar, reflectir, interpretar os seus
comportamentos, uma das limitações desta investigação coloca-se ao nível das técnicas
para recolher informações. Apesar de ter recorrido a instrumentos diversificados e, desse
modo, prevenir alguns enviesamentos de interpretação, o risco de erro não é anulado.
A falta de experiência em investigação também é um aspecto a considerar, pois
uma experiência mais maturada, possibilitava, com certeza, maior acuidade para aprimorar
o processo de formação e investigação.
Convém referir que o registo e descodificação de comportamentos não verbais é um
actividade muito complexa e delicada.
Uma limitação sentida neste percurso e, também identificada por Guimarães
(2003), prende-se com o facto de que em muitos estudos sobre representações e práticas
209
dos professores é estudada a relação entre umas e outras, em muitos casos com o propósito
de identificar consistências ou contradições entre elas e que a prática é considerada como o
“fazer” (a aula videogravada, observada), e as representações são manifestadas no
discurso, ou seja, é o “dizer”. Algumas discrepâncias entre o “fazer” e o “dizer” podem não
significar inconsistências entre as práticas e as representações mas traduzir representações
de consideração diferente ou indicarem a presença de dilemas ou constrangimentos que são
exteriores aos professores. A possibilidade de subsistirem dilemas, dúvidas, incertezas, e
constrangimentos entre o “fazer” e o “dizer” é, particularmente, acentuada portanto maior
quando se observam e ouvem pessoas em contexto de avaliação, como foi o caso.
Reconheço que, mediante a amostra, há aspectos que não podem ser generalizáveis.
Contudo, isso não implica que se depaupere o contributo daquele, no âmbito da formação
de professores do 1º CEB, nomeadamente na área da Didáctica da Matemática, área, que
por sinal é descurada no plano de estudos, actual, deste Curso nesta Instiuição formadora.
Humildemente, recomendo outras possibilidades de investigação que também se
desejam alvo de debate a saber: a relação entre a linguagem gestual do professor de
Matemática e do discente e de como isso influencia a ideia que um faz do outro, da
aprendizagem, dos conteúdos matemáticos e da motivação, assim como da importância da
gestualidade nas relações pessoal e afectiva na área da Matemática.
Sendo a Matemática uma área sacrificada, ao longo dos tempos, por que não
repensar a comunicação não verbal, a comunicação do corpo e aspectos atinentes?
Para rematar sinto que devo um bem hajam, a Mafalda, Matilde e Martina, pelas
experiências vividas a vários níveis, que foram muito gratificantes e que reforçaram o meu
papel de supervisor. A dimensão cognitiva e afectiva foram as duas grandes instâncias
responsáveis do também, meu, processo de formação.
Como afirma Sá-Chaves (2000, pp. 21-22), “aceitemos o desafio de crescer e o
deslumbramento que ele comporta. [...] É o jogo da autoformação reflexiva nos espaços da
heteroformação partilhada”.
210
EPÍLOGO
As faces? Como são?
“Martina, não coloques as
mãos na cintura!”
Neste epílogo apresento
uma síntese das muitas
conclusões retiradas
deste estudo.
Não se pretendem
generalizações, apenas se
descreve aquilo que se
observou.
211
“Da semente germina uma raiz, depois um broto; do broto, as
folhas embrionadas; das folhas, o caule; ao redor do caule, os
ramos; no topo, a flor…Não podemos dizer que a semente ou o
solo causam o crescimento. Podemos dizer que as
potencialidades para o crescimento encontram-se no interior da
semente, no misterioso príncipio vital que, quando
convenientemente alimentado, assume determinadas formas”.
ADAPTADO de M.C. RICHARD (cfr. Patraglia, I., p. 1993)
(Re)criar(mos) outro broto e, outro renascer do interior da semente?
As faces do Poliedro, do silêncio, do sorriso, do meneio, do franzir da sobrancelha,
da mão erguida, do corpo direito, iluminaram e enlaçaram os nosso Mundo?
Acredito que sim. E foi tudo certo?
Se cada um tem uma vida única, percorrendo o seu caminho como nenhum outro o
faria, por que razão nos fragilizamos pela consciência do arquétipo “tudo certo”?
Sem dúvida que, em na sala de aula, são os professores e os alunos actores e autores
do seu próprio conhecimento e aprendizagem, portanto, nem tudo é certo! Se tudo
estivesse determinado pelos limites do certo, não estaria, com certeza, a sala de aula,
confinada a tantas investigações e reflexões.
A este propósito, e parafraseando Dewey (1933) o envolvimento do professor em
prática reflexiva, implica três atitudes: abertura de espírito, para entender possíveis
alternativas e admitir a existência de erros; a responsabilidade, que permite fazer uma
ponderação cuidadosa das consequências de determinada acção; e o empenhamento para
mobilizar as atitudes anteriores. Para ele a verdadeira prática reflexiva ocorre quando se
tem um problema real para resolver e, nesse caso, investiga-se no sentido de procurar a
solução. Essa é a efectiva busca de segurança profissional, em que o professor sabe buscar
na teoria a solução para as suas incertezas e dúdivas.
212
Este desdobrar de vida em vida, de sonho no sonho do outro, este corpo que não
mente e que devassa os segredos mais íntimos. Como disse, não adianta, mesmo que não
queiramos, o corpo fala e, às vezes, brada! Ele trai o que a palavra insiste muitas vezes em
esconder, ele tira os véus e desnuda o que realmente somos.
O trabalho desenvolvido assentou no facto de o ser humano, nas várias interacções,
emitir um conjunto de sinais visíveis, audíveis e, naturalmente, com diferentes intencões
justificáveis culturalmente.
Uma análise crítica ao papel do professor, à sua acção no seio profissional e na
actividade que desenvolve, como emissor de saber, tendo em conta o seu modo de
interacção, as relações interpessoais que estabelece e o modo como vivência todas as
actividades que propõe.
Os professores, na sala de aula (micro-sistema), na sua clínica, devem procurar
estratégias que permitam obter uma visão abrangente e reflexiva, por forma a assumirem-
se como autores activos e não como meros executores das regras propostas pelo exo ou
meso-sistema.
Zeichner (1993) propõem que cada professor atente no “processo de compreensão e
melhoria do seu ensino[dado que] deve começar pela reflexão sobre a sua própria
experiência e que o tipo de saber inteiramente tirado da experiência dos outros (mesmo de
outros professores) é, no melhor dos casos, pobre e, no pior, uma ilusão”. ( p. 17)
Tão importante quanto a linguagem verbal, são os movimentos anunciados pelo
corpo; a forma na forma como gesticula, como franze a sobrancelha, enruga a face, move
os dedos e as mãos, que caracterizam e definem, em sala de aula, o Ser professor.
Perante o exposto, declaro a pertinência da linguagem não verbal em contextos
matemáticos escolares, cuja relevânvia permite uma reflexão didáctico-pedagógica, numa
linha supervisiva.
Mediante o plano de formação implementado e vivenciado, foi possível estimar a
multiplicidade de dissertações, assim como, de atributos determinantes à problemática
investigativa, não obliterando os dados obtidos através da videogravação das aulas de
Mafalda, Matilde e Martina. (cfr. anexos 8 a 13)
A função de supervisor do desenvolvimento pessoal e profissional dos formandos,
circunscreveu-se, essencialmente, “na mesma estrutura subjacente a qualquer processo de
213
ensino/aprendizagem em que o desenvolvimento, o ensino e a aprendizagem emergem
como elementos inseparáveis”. Alarcão e Tavares (1987, p. 50)
A este propósito, tome-se ainda em linha de conta o parecer de Ângulo Rasco
(1999, p. 561), que aponta a supervisão como um “processo de mútuo reconhecimento e de
mútuo enriquecimento, onde os limites entre quem supervisiona e quem é supervisionado
se diluem até se tornarem indistintos”, e onde “não é sempre muito claro quem aprende de
quem e quem muda quem” . (op.cit., p. 574)
Neste pressuposto Alarcão e Tavares declaram, sob o lema da supervisão clínica,
que
“não se trata de uma supervisão de “receitas” a executar num processo de ensino-
aprendizagem vigiado por uma relação de “guerra fria” entre o supervisor e o
supervisado, mas numa autêntica relação de colaboração entre colegas que na
clínica da sala de aula procuram a interacção do processo de ensino-aprendizagem,
como objecto de reflexão e fonte de hipóteses de solução e de mudança”. (Idem,
1987, p.138).
Por hora, estou convicta, e pelo exposto ao longo deste trabalho, que a comunicação
verbal se articula de forma ímpar com a comunicação não verbal, possibilitando ao
professor melhorar o processo ensino e aprendizagem da Matemática. Para corroborar esta
premissa, centro-me, nos aspectos abordados e espreitados em todo o processo de
descoberta das faces do Poliedro, os sinais não verbais, nomeadamente, os gestuais que,
frequentemente, são ilustradores, reguladores, adaptadores, corroboradores e fiéis
acompanhantes dos comportamentos verbais.
Todavia, parece que são mais fáceis de controlar os últimos, daí os primeiros
falharem, por vezes, quando se pretende confirmar o que se comunica. Ou será,
eventualmente, ao contrário?
Principiando pela expressão facial, ao nível da comunicação/expressão, esta revela
importância no ensino e aprendizagem da Matemática, na medida em que denuncia e
anuncia os diversos estados emocionais, indica atitudes e intenções em relação aos
conteúdos, e aos alunos, modificando até o seu comportamento ou estado de espírito.
Mafalda, só com a sua expressão facial, evidencia aos alunos que não pretende que
continuem a resolver a situação problemática do Problema da Semana com ruído de fundo,
214
ou por outro lado, com a sua face enrugada demonstra que está atenta ao desenvolvimento
do raciocínio dos mesmos.
O olhar e seus movimentos, assumem especial preponderância em todos os
contextos sociais, ora, não é de estranhar que, na clínica particular dos nossos formandos, a
sala de aula, a direcção do olhar e sua intensidade, acusem a sua atenção ou preocupação
pelos alunos e suas aprendizagens, que anseiam ler nos olhos dos professores algo que as
motive e tranquilize para um bom desenvolvimento de competências matemáticas..
Constatei que os olhos bem abertos ou arregalados utilizam-se para chamar à atenção, para
alertar, sancionar, enfim, para estabelecer uma situação dominante. Mas, também é através
do olhar, que se enfatizam e frisam conteúdos, como é o caso de Matilde; expressam
sentimentos íntimos e, que por vezes, se pretendem camuflar os mesmos. Acredito que
Mafalda se inscreve neste parecer.
Parece-me que o rosto é, a manifestação mais explicita de alguns sentimentos,
como o agrado, preocupação, anuência, aprovação, ou os seus respectivos antónimos.
Convém referir ainda, que o sorriso, “o sorriso foi quem abriu a porta” , expresso
pelos movimentos faciais, pode ser interpretado em função do acima apresentado em
relação à expressão facial, ou seja, anunciando estados emotivos, sentimentos que se
detém, como uma atitude em relação aos alunos e em relação à própria Matemática, dado
que é também através desta manifestação que os alunos encontram motivação para
concretizar, com agrado, entusiasmo e envolvimento, as tarefas propostas. (cfr. capítulo
IV, ponto 4.2.2.)
De seguida, rumo até à parte do corpo mais útil e também bastante expressiva, as
mãos. É frequente assistir ao acompanhamento que os próprios movimentos fazem às
palavras, a comunicação verbal, articulada com a não verbal de forma única, como é o caso
de Matilde. Esta articulação permite que o professor desempenhe de forma mais autêntica e
completa a sua missão, quando, por exemplo, pretende indicar a metade, o quarteirão ou o
milhar, gesticula por forma a que os alunos acompanhem a explicitação do raciocínio e/ou
explicação, exploração de conteúdos matemáticos, e recapitular outros. Com as mãos o
professor encoraja os alunos a manifestarem as suas dúvidas e opiniões, tal como regulam
as oportunidades de intervenção, argumentação e justificação. É também através do bailar
das mãos que o professor, apresenta gestos didácticos e deícticos. Saliento ainda o facto
das mãos e os seus dedos, permitirem apontar, salientar, enfatizar, rodear, verificar os
215
registos mais significativos que são expostos no quadro, pelos alunos ou por ele próprio,
assim como, possibilitam que o professor, através deles explique/explicite, novamente um
determinado exercício ou raciocínio.
Desta forma, também (in)consciente, reforçamos, ilustramos, enfatizamos,
realçamos, explicitamos, concretizamos, os conteúdos matemáticos e/ou falamos, sim,
falamos por que em muitas circuntâncias são as mãos que falam e ilustram os conteúdos de
forma peculiar. A este nível, Matilde e Martina, confirmam o declarado.(cfr. anexos 8 a
13)
Os movimentos da cabeça, assumem também um papel preponderante em
contexto da sala de aula de Matemática. Basta um simples aceno de cabeça para permitir,
ou não, que um aluno continue a explicitar em voz alta o seu raciocínio, ou reforce a
continuidade dessa mesma explicitação, assim como, enfatize que o aluno não está a
raciocinar de forma mais adequada, ou a responder às questões em discussão ou debate de
forma adequada e disciplinada. Assim, as mãos colobaram com o professor enunciando
explícitas ou implicitamente as regras do contrato didáctico estabelecido. (cfr. capítulo IV,
ponto 4.2.4.)
Em súmula, refiro as posturas e movimentos espaciais, que frequentemente,
variam de cultura para cultura, e que são determinantes nas relações estabelecidas no
ambiente de aprendizagem e em contextos sociais, nomeadamente na sala de aula de
Matemática. As posturas e movimentos executados são de capital pertinência, na medida
em que, o tipo de comunicação que ocorre fomenta o desenvolvimento de relações
profícuas entre os alunos e os entes matemáticos, assim como marca compassos de apoio
individualizado, que os alunos de forma geral necessitam, quando por exemplo, o professor
solicita ao aluno que redija uma composição desenvolvendo a sua ideia ou faça um
relatório explicando como resolveu um problema, tal como acontece nas aulas
videogravadas de Martina. Assim, o modo como Martina, atentamente, apoiou os alunos,
deambulou pelo espaço, atentou com o olhar em todos os alunos e concentrou o seu apoio
em particular, nos alunos que mais careciam dessa atenção, permitiu que os mesmos
desenvolvessem as tarefas de forma activa, produtiva e com resultados de discussão e
soluções pertinentes. Naturalmente, estes moviments revelam a pessoalidade, a
criatividade, originalidade, marcam compassos de ansiedade ou insegurança, revelam
domínio dos conteúdos matemáticos e o estado emocional do professor. Cada deambular
216
pode carregar semente e germinar em frutos passíveis de serem colhidos pelos espíritos
sedentos que habitam em cada sala de aula. (cfr. capítulo IV, ponto 4.2.5.)
Efectivamente, os estados emocionais já mencionados são comunicados, por todos
os itens enunciados. Quem sabe a Matemática não possa conquistar sentimentos tranquilos
se o professor se detiver a reflectir sobre si e sobre a sua pessoa!
É muito pertinente que se experimente um clima de verdadeira franqueza entre
todos esses elementos: a expressão facial, os gestos, os movimentos da cabeça, a direcção
do olhar, as posturas, a proximidade, a orientação e as próprias palavras, durante um certo
período de tempo, (Argyle, op. cit., p. 145), assim como entre os intervenientes do
processo ensino e aprendizagem.
Não posso findar este trabalho sem salientar que os resultados só foram possíveis
devido a uma conjugação, julgo equilibrada, de estratégias de formação no processo de
supervisão, em permanente diálogo.
Creio que todos os actores deste desbravar de caminhos para vislumbrar as faces
coloridas do Poliedro, enriqueceram o seu saber, por via deste desafio..
Não há dúvida que a inovação e o conhecimento se obtém através de uma contínua
formação e reflexão, e só assim, é admissível almejar tocar outros níveis de conhecimento.
Como sublinha Sá-Chaves. (1988, p. 30) “ser é encontrar a projecção de tudo em si
e, de si, em quase tudo”,