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Bárbara Bäckström DEMOGRAFIA Caderno de Apoio Universidade Aberta 2007

Caderno de Apoio de Demografia

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Page 1: Caderno de Apoio de Demografia

Bárbara Bäckström

DEMOGRAFIACaderno de Apoio

Universidade Aberta2007

Page 2: Caderno de Apoio de Demografia

Copyright © UNIVERSIDADE ABERTA – 2007

Palácio Ceia • Rua da Escola Politécnica, 147

1269-001 Lisboa

ISBN: 978-972-674-356-9

Page 3: Caderno de Apoio de Demografia

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Apresentação do Caderno de Apoio

9 Livro Adoptado

9 Pressupostos e finalidades do Caderno de Apoio/ Objectivos do Curso

11 Programa da disciplina/Plano do curso e capítulos correspondentes nolivro recomendado

15 Organização das Unidades de aprendizagem/ Estrutura das unidades deformação

15 Contexto e Justificação

17 Plano de avaliação

I. A Ciência da População: A Progressiva Maturação daComplexidade do seu Objecto de Estudo

21 Objectivos do capítulo/Objectivos de aprendizagem

22 Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

33 Actividades propostas e questões para revisão

35 Indicações bibliográficas

II. A Explosão Demográfica: um Velho Problema com novasDimensões

39 Objectivos do capítulo/Objectivos de aprendizagem

40 Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

53 Actividades propostas e questões para revisão

54 Indicações bibliográficas

III. A Dinâmica Global da População. A Repartição Geográfica e aRepartição por Sexo e Idades

57 Objectivos do capítulo/Objectivos de aprendizagem

58 Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

72 Actividades propostas e questões para revisão

74 Indicações bibliográficas

DEMOGRAFIA

Page 4: Caderno de Apoio de Demografia

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IV. Fontes e Testes à Qualidade dos Dados

77 Objectivos do capítulo/Objectivos de aprendizagem

78 Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

88 Actividades propostas e questões para revisão

88 Indicações bibliográficas

V. Os Princípios de Análise Demográfica e o Diagrama de Lexis

91 Objectivos do capítulo/Objectivos de aprendizagem

92 Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

96 Actividades propostas e questões para revisão

97 Indicações bibliográficas

VI. Instrumentos de Análise da Mortalidade

101 Objectivos do capítulo/Objectivos de aprendizagem

102 Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

112 Actividades propostas e questões para revisão

113 Indicações bibliográficas

VII. Instrumentos de Análise da Natalidade, Fecundidade e Nupcialidade

117 Objectivos do capítulo/Objectivos de aprendizagem

118 Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

124 Actividades propostas e questões para revisão

125 Indicações bibliográficas

VIII. Instrumentos deAnálise dos Movimentos Migratórios

129 Objectivos do capítulo/Objectivos de aprendizagem

130 Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

134 Actividades propostas e questões para revisão

134 Indicações bibliográficas

Page 5: Caderno de Apoio de Demografia

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135 Glossário

143 Bibliografia Geral – Obras de referência

149 Anexos

Page 6: Caderno de Apoio de Demografia

Apresentação do Caderno de Apoio

Page 7: Caderno de Apoio de Demografia

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Livro adoptado

O presente caderno de apoio à disciplina Demografia tem como objectivoorientar e facilitar o trabalho do estudante na leitura e no estudo do livroadoptado para esta disciplina:

Joaquim Manuel Nazareth, Demografia – A Ciência da População, EditorialPresença, Colecção Fundamentos, Lisboa, 2004.

Pressupostos e finalidades do programa

O livro adoptado é já por si um precioso instrumento didáctico, no entanto, asua organização não foi adaptada às condições específicas de ensino adistância.

Uma vez que os destinatários preferenciais são justamente, estudantes emregime de auto-aprendizagem, serão os seguintes os objectivos prioritáriosdeste caderno de apoio:

a) Facultar ao estudante um acompanhamento na leitura do livroadoptado, por meio de síntese e esquematização de conteúdos,conceitos e problemáticas que nele são abordados;

b) Agregar às informações disponíveis no livro adoptado, informaçõescomplementares que contribuam para a continuidade lógica eepistemológica da sequência de aprendizagem proposta no programada disciplina;

c) Oferecer ao estudante pistas e instrumentos que lhe permitam oexercício, a consolidação e o aprofundamento da aprendizagem.

No final do curso, o estudante de Demografia deve ser capaz de:

• Enquadrar o papel da Demografia no contexto específico das ciênciassociais e sua importância numa articulação teórica com a Sociologia.A emergência de uma Sociologia da População para o entendimentodos fenómenos, tendências e práticas sociais;

• Utilizar de forma sistemática os principais instrumentos de recolha etratamento de dados estatísticos respeitantes à população, assim comoproceder ao enquadramento desses dados através das principaisvariáveis;

Page 8: Caderno de Apoio de Demografia

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• Interpretar os dados referidos, recorrendo à conciliação dasabordagens qualitativas e quantitativas, através da intersecção comas estruturas e práticas sociais mais alargadas.

• Compreender e enquadrar a situação demográfica mundial e europeia,possibilitando discernir vectores fundamentais de análise para acompreensão de novos cenários de desenvolvimento (com relevoespecial para o Terceiro Mundo), das relações internacionais e dasmigrações, das estruturas familiares, dos fenómenos de exclusãosocial, dos mundos rurais e urbanos e do Ambiente, articulando-oscom o futuro e o funcionamento dos ecossistemas.

• Analisar as estruturas demográficas e as estruturas sociais do cenárioportuguês, explorando as potencialidades da Demografia enquantociência social para enquadrar os principais problemas e desafios dasociedade portuguesa do presente século, em especial das últimastrês décadas.

• Compreender os principais fenómenos sócio-demográficos darealidade portuguesa das últimas décadas, nomeadamente aemigração, as disparidades regionais, a fragmentação territorial, ocrescimento natural e o desenvolvimento.

• Articular a situação demográfica mundial e europeia com as questõessociais essenciais do mundo contemporâneo, como a urbanização,educação, saúde, trabalho, feminização, ecologia e ambiente.

• Descrever a evolução demográfica recente da população;

• Aplicar técnicas adequadas de análise das variáveis do sistemademográfico: volumes populacionais, estruturas etárias, natalidade/fecundidade, mortalidade e mobilidade populacional;

• Explicar a ligação entre os comportamentos demográficos e a evoluçãodo estado da população;

• Identificar alguns efeitos da dinâmica do sistema demográfico sobrea organização e estruturação das sociedades contemporâneas.

Page 9: Caderno de Apoio de Demografia

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Programa da disciplina/Plano do curso e capítulos no livroadoptado

Para o desenvolvimento deste programa considera-se de consulta obrigatóriatodos os capítulos do livro adoptado Demografia – A ciência da populaçãode J. Manuel Nazareth.

O programa da disciplina Demografia corresponde à sequência de conteúdosapresentada no índice do Livro adoptado. Nem todos os conteúdos do livroserão alvo da matéria e do programa desta disciplina de Demografia da Univer-sidade Aberta.

Assim aconselha-se a seguir os tópicos deste programa organizadodesenvolvido com a seguinte estrutura, para cada capítulo do manualadoptado:

a) Identificação do Capítulo;

b) Enumeração dos pontos do capitulo abrangidos pelo programa dadisciplina de demografia e respectiva numeração desses pontos nomanual adoptado;

c) Objectivos pretendidos em cada capítulo;

d) Tabela em que se faz corresponder os pontos/conteúdos do programaàs respectivas páginas do livro e aos objectivos anteriormente anun-ciados.

I. A Ciência da população: a progressiva maturação da complexidadedo seu objecto de estudo

Introdução

1. (1.1.) As primeiras reflexões sobre a população

2. (1.2.) A questão da população no século XVIII e a emergência da Demo-grafia como ciência

3. (1.3.) A importância do pensamento de Malthus na emergência da ciênciada população

4. (1.4.) Malthusianismo, neomalthusianismo e as reacções ao pensamentomalthusiano

5. (1.5.) A Transição Demográfica

6. (1.6.) O objecto de estudo da Demografia

Page 10: Caderno de Apoio de Demografia

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7. (1.7.) Unidade e diversidade da Demografia

A Demografia histórica

Os Estudos de População ou Demografia Social

As políticas demográficas

A Ecologia Humana

8. (1.8.) A metodologia da Demografia

II. A Explosão demográfica: um velho problema com novas dimensões

Introdução

1. (2.1.) A população antes do aparecimento da escrita

2. (2.2.) Os primeiros dados numéricos de interesse demográfico

3. (2.3.) A Antiguidade: do crescimento ao primeiro «mundo cheio»

4. (2.4.) O Nascimento do Ocidente Medieval e o declínio da população

5. (2.5.) A recuperação demográfica do Ocidente Medieval e o aparecimentode um segundo «mundo cheio»

6. (2.6.) A peste negra

7. (2.7) O Modelo Demográfico do Antigo Regime

8. (2.8.) O crescimento da população na Europa Ocidental e o terceiro “mundocheio”

9. (2.9.) A evolução da População nas restantes partes do mundo

10.(2.10.) A explosão demográfica: um fenómeno novo ou um velho problemacom novas características ?

III. Aspectos Iniciais de uma investigação em análise demográfica: osritmos de crescimento e a análise das estruturas demográficas

Introdução

1. (3.1.) Volumes, ritmos de crescimento de uma população e densidades

1.º Trabalho Prático Resolvido

Page 11: Caderno de Apoio de Demografia

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2. (3.2.) As estruturas demográficas

As pirâmides de idades

As relações de masculinidade

Os grupos funcionais e os índices-resumo

O envelhecimento demográfico

2.º Trabalho prático resolvido

IV. Os sistemas de informação demográfica e a análise da qualidadedos dados

Introdução

1. (4.1.) Os sistemas de Informação demográfica

Os Recenseamentos da população

As Estatísticas demográficas de Estado Civil

Outros sistemas de informação demográfica

2. (4.2.) A análise da qualidade da informação

A Relação de Masculinidade dos nascimentos

O Índice de Whipple

O Índice de Irregularidade

O Índice Combinado das Nações Unidas (ICNU)

A equação de Concordância

3.º Trabalho prático resolvido

V. Os Princípios de Análise Demográfica e o Diagrama de Lexis

Introdução

1. (5.1.) O Diagrama de Lexis

2. (5.2.) Princípios Gerais de Análise Demográfica

3. (5.3.) Princípios de Análise Longitudinal

Page 12: Caderno de Apoio de Demografia

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4. (5.4.) Princípios de Análise em Transversal

4.º Trabalho prático resolvido

VI. Análise da Mortalidade

Introdução

1. (6.1.) As Taxas Brutas de Mortalidade enquanto medidas da mortalidadegeral

2. (6.3.) A medida de mortalidade em grupos específicos

As medidas de mortalidade infantil

A mortalidade por meses

A mortalidade por causas de morte

3. (6.4.) O princípio da translação: a construção das tábuas de mortalidade

5º Trabalho prático resolvido

VII. Análise da Natalidade, Fecundidade e Nupcialidade

Introdução

1. (7.1.) As Taxas Brutas enquanto medidas elementares de análise danatalidade e da fecundidade

2. (7.2.) Tipos particulares de natalidade e fecundidade

A fecundidade por idades e por grupos de idades

A fecundidade dentro do casamento

A fecundidade fora do casamento

A natalidade por meses

3. (7.4.) O princípio da translação

4. (7.5.) Análise da nupcialidade e do divórcio: as taxas brutas enquantomedidas elementares de análise

6º Trabalho prático resolvido

Page 13: Caderno de Apoio de Demografia

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VIII. Análise dos Movimentos Migratórios

Introdução

1. (8.1.) Os métodos directos de análise dos movimentos migratórios

2. (8.2.) Os métodos indirectos de análise dos movimentos migratórios

A equação de concordância

7.º Trabalho prático resolvido

Organização das Unidades de aprendizagem/Estrutura dasunidades de formação

O presente caderno de apoio organiza-se numa sequência de 8 unidades deaprendizagem, cada uma delas desenvolvendo-se de acordo com a seguinteestrutura:

a) Apresentação dos objectivos da aprendizagem, cuja consecução seestabelece com critério de aferição da aprendizagem e da respectivaavaliação;

b) Desenvolvimento sequencial dos Conteúdos programáticos e clarifi-cação de tópicos mais complexos da unidade;

c) Actividades propostas e questões para revisão com vista ao exercício,consolidação e aferição da aprendizagem. Estas actividades servemainda de exercício de revisão da matéria;

d) Indicações bibliográficas complementares. Propostas de leitura econsulta para a consolidação ou para o desenvolvimento deinformação que é também citada no livro adoptado.

Dentro de cada uma das unidades é feita referência a quadros e figuras queremetem para o livro adoptado. Nota: É aconselhável saber manusear asfunções da máquina de calcular.

Contexto e Justificação

O estudo da Demografia insere-se num contexto mais vasto - o das ciênciassociais – considerando-se uma ciência autónoma, diferente da sociologia ouda economia e exige que à partida haja uma clarificação dos principaisconceitos. No entanto, sabemos que não é possível traçar fronteiras entre as

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diversas ciências sociais, tendo todas o homem como objecto de estudo. Nestaóptica, a Demografia não difere das outras ciências sociais. O seu objecto deestudo também é o comportamento do homem em sociedade e tambémnecessita das informações das outras ciências sociais.

Numa primeira análise, a Demografia aparece-nos como uma respostacientífica a um conjunto de questões relacionadas com a descrição dapopulação humana. Para além disso, a Demografia estuda aspectosrelacionados com o ordenamento espacial da população, a alteração deestruturas familiares, as consequências do envelhecimento demográfico nofuturo da segurança social, a composição da população activa, as necessidadese a localização de equipamentos sociais. A Demografia contribui tambémpara a resolução de algumas questões importantes noutras áreas científicas.Temos, por exemplo, o planeamento dos recursos humanos, a questãoambiental, a saúde pública e as projecções demográficas.

A procura de um grande rigor na medição dos fenómenos demográficosdesenvolveu um vasto número de métodos e técnicas de análise, próprios daciência demográfica, o que veio reforçar ainda mais a construção do objectode estudo da Demografia.

A Demografia enquanto estudo de população está associada a um conjuntode aspectos relacionados com a população humana e, naturalmente, nosaspectos que dizem respeito à sua saúde. Como qualquer fenómeno social, oestudo da Demografia é de grande complexidade estando associado commúltiplos fenómenos que vão desde a saúde, à política, à cultura, aos aspectoseconómicos, educação, etc.

A Demografia, enquanto ciência que tem por objecto de estudo a populaçãohumana, assume assim, naturalmente, um papel fundamental nas ciênciassociais.

O fenómeno demográfico pode ser ilustrado da seguinte forma:

Natalidade/fecundidade(nados-vivos)

Mortalidade(óbitos)

Mobilidade populacional(migrações)

Evolução dosvolumes populacionais

Evolução daestrutura etária

Dinâmicanatural

Dinâmicamigratória

Variáveis “comportamentais” Variáveis de “estado”

à

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Destas cinco variáveis demográficas, duas tratam do estado (volumes eestrutura etária) e as outras três referem-se aos comportamentos que influemdirecta-mente sobre as alterações observadas no “estado” da população(mortalidade, natalidade/ fecundidade, mobilidade populacional).

Plano de avaliação

A disciplina inclui actividades de aprendizagem e questões para revisão etestes formativos os quais são devolvidos à Universidade Aberta para umaanálise de que resultará informação transmitida, depois, aos formandos.

O objectivo das questões para revisão é clarificar pontos de dúvidas e dedificuldade que o formando possa encontrar no texto-base que não estáadaptado ao sistema de ensino à distância. Tais questões não têm qualquerpropósito de classificação.

No final do curso, terá lugar uma prova de avaliação somativa presencial deque resultará a classificação do formando.

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I. A Ciência da População: a Progressiva Maturação da Complexidade do seu Objecto de Estudo

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Objectivos do capítulo

1. Identificar as principais fases da constituição da Demografia comociência;

2. Conhecer o pensamento dos primeiros demógrafos;

3. Conhecer as principais características do pensamento malthusiano;

4. Identificar as principais fases e a importância da teoria da transiçãodemográfica;

5. Identificar os aspectos fundamentais do objecto de estudo daDemografia;

6. Compreender a razão pela qual a Demografia actual é simultaneamenteuna e diversa;

7. Identificar as principais etapas da metodologia da Demografia.

Objectivos de aprendizagem

Depois de estudar esta unidade o aluno deve ser capaz de:

• Identificar as diferentes fases de evolução da ciência demográfica;

• Conhecer as principais características das teorias demográficas deMalthus;

• Descrever as fases da teoria da transição demográfica;

• Distinguir e definir as Demografias (histórica, social);

• Definir o objecto de estudo da Demografia.

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Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

Leia o capítulo do livro recomendado. Capítulo I, páginas 15-69

Conteúdos Páginas Objectivos

1.1. As primeiras reflexões sobre a demografia

16-22 Conhecer o pensamento dos primeiros demógrafos

1.2. A questão da população no século XVIII e a emergência da Demografia como ciência

22-26 Identificar as principais fases da constituição da Demografia como ciência

1.3. A importância do pensamento de Malthus na emergência da ciência da População 1.4. Malthusianismo, neomalthu- sianismo e as reacções ao pensa- mento malthusiano

26-34

34-40

Conhecer as principais caracte-rísticas do pensamento malthu-siano

1.5. A transição demográfica

40-43 Identificar as principais fases e a importância da teoria da transição demográfica

1.6. O objecto de estudo da Demografia

43-47 Identificar os aspectos funda-mentais do objecto de estudo da Demografia

1.7. Unidade e Diversidade da Demo- grafia

47-66 Compreender a razão pela qual a Demografia actual é simulta- neamente una e diversa

1.8. A metodologia da Demografia

66-69 Identificar as principais etapas da metodologia da Demografia

Page 19: Caderno de Apoio de Demografia

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Introdução

Nesta unidade, tentaremos explicar como foi evoluindo a Demografiarelativamente aos seus aspectos quantitativos da dinâmica populacional. Paraalém disso tentaremos perceber como se foi constituindo lentamente aDemografia como ciência. Durante os séculos XVII e XVIII a Demografiaemerge como ciência.

Nesta unidade iremos ver quem foram e o que disseram os homens quetransformaram em ciência a Demografia, qual é realmente o objecto de estudoda Demografia, quais são as grandes teorias e os grandes problemas daDemografia contemporânea e porque é que a Demografia é simultaneamenteuna e diversa e quais as grandes divisões da Demografia actual.

A lenta constituição da ciência demográfica

O ideal de Platão (428-348 a.C.) é o de uma população estacionária onde onúmero de fogos, por razões políticas e sociais, seria de 5040. Platão acreditaque é possível intervir no sentido de manter constante o volume da populaçãoda sua cidade ideal, através da fixação de uma idade mínima para o casamento(30 anos para os homens e 18 para as mulheres) e da limitação da idade daprocriação (apenas os 10 ou 14 anos de casamento); o risco de a populaçãodiminuir resolver-se-ia através de uma punição para os que não queriam terfilhos, os celibatários e os casais estéreis.

Aristóteles (384-322 a.C.) é mais realista do que o seu mestre Platão, aopensar sobretudo num número estável de habitantes. Esta procura deestabilidade não implica um número fixo de habitantes. Pelo contrário, aoaperceber-se que a natalidade e a mortalidade fazem variar o volumepopulacional, propõe uma “justa dimensão” da população.

Na idade Média, Santo Agostinho (345-430) e São Gregório (540-604)defendem que o casamento une marido e mulher para gerar filhos. Esta linhade pensamento é dominada pelo pensamento cristão, numa perspectivateológica e moral, enquanto que as duas anteriores formas (pertencentes àAntiguidade) foram analisadas numa perspectiva política e social.

Com o início dos tempos modernos, as ideias respeitantes à populaçãoseparam-se das questões morais e passam progressivamente a depender depreocupações políticas e económicas. É nesta linha de ideias e deacontecimentos que se deve interpretar o culto pelo ideal mercantilista dariqueza, associado à valorização do Estado. Neste contexto, as doutrinasmercantilistas são consideradas, no seu conjunto, explicitamente

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populacionistas. Este populacionismo permitiu acelerar o processo que iráconduzir ao aparecimento da Demografia como ciência.

No mercantilismo italiano dois pensadores merecem referência especial:Maquiavel (1467-1527) e Botero (1540-1617). Maquiavel não defende todasas ideias mercantilistas, nomeadamente no que diz respeito ao princípio queo Estado só é forte quando favorece o enriquecimento dos cidadãos mas, aodefender que uma população numerosa reforça o poder do Príncipe, adoptauma atitude populacionista. Para Botero, uma população numerosa deve sera primeira preocupação do Estado.

No mercantilismo francês existem duas correntes diferenciadas: a quedefende um populacionismo intransigente (Bodin e Montchrestien) e aque defende um populacionismo mais racional (Vauban). Jean Bodin(1530-1596) afirma que uma população numerosa permite a valorização deum país. Ficou conhecido com a frase “Não existe maior riqueza nem maiorforça do que os homens”. Montchrestien (1575-1621) também defende oponto de vista de que a grande riqueza da França é a inesgotável abundânciados seus homens.

Vauban (1633-1707) é populacionista ao defender que a falta de populaçãoé a maior desgraça que pode acontecer ao reino. Ficou conhecido na históriado pensamento demográfico pelas estimativas que faz e por chamar a atençãopara a utilidade dos recenseamentos da população.

Na Inglaterra, o mercantilismo é menos homogéneo do que em Itália e emFrança e evolui ao longo do tempo. Consequentemente, a atitude face àproblemática da população também evolui.

Nesta evolução aparecem duas correntes de pensamento distintas: noprincípio, a população é considerada uma variável entre tantas outras dosistema social; depois, a população aparece como interessante em si própria…são os primórdios da Demografia científica.

Na primeira corrente encontramos autores que procuram reflectir sobre omelhor equilíbrio entre a população e os recursos. Thomas More (1478--1535) ao estudar as causas da miséria do seu país, pensa que esta deve-se atrês factores: o luxo da nobreza, a existência de muitos domésticosimprodutivos e a extensão da criação de carneiros. Se existem autorespreocupados com esta questão do equilíbrio população-recursos, no séculoXVII , em Inglaterra, a Demografia começa a dar os seus primeiros passoscomo ciência e pensadores como William Petty, John Graunt, EdmundHalley começam a considerar que os problemas populacionais devem seranalisados e medidos independentemente das relações que possam tercom quaisquer outros problemas económicos, políticos e sociais.

Page 21: Caderno de Apoio de Demografia

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Teorias Demográficas

As teorias demográficas ou teorias da população são correntes de opiniãoque tentam explicar ou prever a evolução dos fenómenos demográficos, asinteracções entre estes e os fenómenos económicos, sociais, psicológicos,do ambiente e outros, tentando prever as consequências que possam levar àelaboração de uma política demográfica.

O Malthusianismo

Thomas Malthus, padre inglês que viveu no século XVIII (1766-1834),professor de História Moderna e Economia Política em Inglaterra, grandeobservador de fenómenos populacionais, estabeleceu o célebre paralelo entrea multiplicação do homem e a sua subsistência.

Em 1798, Malthus publica o Ensaio sobre o Princípio da População. O livrofaz escândalo devido a uma das suas teses: “a assistência aos pobres é inútilporque não serve senão para os multiplicar sem os consolar”. Também fazescândalo devido a um parágrafo: “um homem que nasce num mundoocupado, se não lhe é possível obter dos seus pais os meios de subsistência…e se a sociedade não tem necessidade do seu trabalho, não tem direito areclamar a mínima parte da alimentação e está a mais…”. A sua teoria baseia-se no facto de uma população ter um aumento constante e esse aumento sermais rápido do que os meios de subsistência, sendo o equilíbrio entre otamanho da população e o nível de subsistência mantido através do controledo crescimento da população.

O pensamento demográfico de Malthus pode ser sistematizado em torno detrês temas fundamentais: População e subsistências, obstáculos e remédios.Quanto ao primeiro tema população e subsistências – o autor distingueduas leis antagónicas: a lei da população que cresce em progressão geométrica(1, 2, 4, 8, 16…) e a das subsistências, que cresce em progressão aritmética(1,2, 3, 4, 5, 6,…). Para Malthus, quando uma população não é controlada,duplica todos os 25 anos.

Quanto ao segundo tema, os obstáculos ao crescimento da população, paraMalthus, existem dois tipos de obstáculos: os positivos (ou Regressivos),que serão todos os obstáculos que podem de algum modo diminuir a vidahumana (Ex: pobreza, epidemias, fomes, etc...) e os preventivos, que serãoos acontecimentos que levam à diminuição da fecundidade, isto é, casamentosadiados (criando condições para que os cônjuges casem mais tarde),abstinência antes do casamento (limitações morais), casamentos tardios dospobres ou até apelo ao celibato “A miséria deriva do crescimentoexcessivamente rápido da população”.

Page 22: Caderno de Apoio de Demografia

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Quanto ao terceiro eixo – os remédios, Malthus não hesita em afirmar que oúnico obstáculo que não prejudica nem a felicidade moral, nem a felicidadematerial é a obrigação moral.

Duas correntes alternativas surgem em paralelo – o neomalthusianismo eantimalthusianismo.

A primeira corrente aposta na limitação dos nascimentos, enquanto que asegunda relaciona o numero de habitantes com os “meios de existência”(produtos alimentares, vestuário, habitação, entre outros). O pensamentoliberal de tendência antimalthusiana é representada fundamentalmente porA.Dumont (1849-1902) e Durkheim (1858-1902). Dumont constata aexistência de uma oposição entre o crescimento demográfico e odesenvolvimento do indivíduo. Para Durkheim, um dos pilares da sociologia,a expansão demográfica é acompanhada de uma mudança qualitativa dasociedade.

O pensamento demográfico do século XX é particularmente enriquecido comas contribuições de A. Sauvy. Também é considerado um antimalthusiano eum natalista, mas a riqueza do seu pensamento merece alguma atenção. Emprimeiro lugar, devemos a Sauvy a elaboração da teoria do “óptimo dapopulação”, ou seja, qual deve ser o número de habitantes de um dadoterritório para que o nível de vida de cada um seja o mais elevado possível?

Se, para os neomalthusianos o único problema é o excesso da população,Sauvy considera que, se existem países que têm “gente a mais”, outros têmgente a menos. Mas, o nome deste autor está sobretudo ligado à explicaçãodo dilema com que todos os países do mundo são confrontados – crescer ouenvelhecer?

A Teoria de Transição Demográfica

A chamada teoria de transição demográfica foi descrita pela primeira veznos anos 40. Desde então tem sido modificada, acrescentada e rescrita. Adefinição clássica desta teoria foi descrita por Notestein (1945), Blacker(1947) e outros autores e define-se do seguinte modo: Existem uma série deestadios durante os quais a população se move de uma situação onde tanto amortalidade como a natalidade são altas, para uma posição onde tanto amortalidade como a natalidade são baixas. O crescimento de ambos osindicadores antes e depois da transição demográfica é muito baixo. Durantea transição, o crescimento da população é muito rápido devido essencialmenteao declínio da mortalidade ocorrer antes do declínio da fecundidade.

Page 23: Caderno de Apoio de Demografia

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Segundo a teoria da transição demográfica todos os países já passaram outerão de passar por quatro fases de evolução:

• Fase do “quase-equilíbrio” antigo (ou de pré-transição) entre umamortalidade elevada e uma fecundidade igualmente elevada o queimplica um crescimento natural da população reduzido;

• fase do declínio da mortalidade e da consequente aceleração docrescimento natural da população;

• fase do declínio da fecundidade; a mortalidade continua a declinarembora a um ritmo mais moderado e o crescimento natural dapopulação diminui de intensidade;

• fase do “quase-equilíbrio” moderno entre uma mortalidade com baixosníveis e uma fecundidade igualmente baixa; o crescimento naturalda população tende para zero.

Quase todos os países do mundo já passaram pela segunda fase (declínio damortalidade) e quase todos já chegaram à terceira fase (declínio dafecundidade). A transição demográfica começou nos países mais avançadosda Europa no século XVIII quando a mortalidade começou a declinar numaforma consistente e continuada. Chegando ao século XX, o declínio damortalidade expande-se a todos os países europeus e aos outros continentes.O aumento da população acelera. A tendência pesada da evolução dapopulação mundial aponta, actualmente para uma situação em que, a partirde meados deste século, se admite o início de um processo que conduzirá aum declínio progressivo da população mundial, através da diminuição donúmero total de nascimentos.

A ideia central da teoria da transição demográfica, que é a de provar aexistência dos efeitos da modernização nos comportamentos demográficos,parece estar mais do que demonstrada pelos factos. A revolução sanitária fezque no mundo, nos anos 90, não existissem países com uma esperança devida À nascença inferior a 50 anos. Os raros países que se encontravam nessasituação pertencem todos à África subsariana. A revolução contraceptiva feztambém generalizar a ideia que um baixo nível de fecundidade é um símbolode modernidade, seja à escala de um país seja à microescala dos indivíduose dos casais.

Aspectos fundamentais e objectivos da Demografia

Definir Demografia parece ser a primeira questão que se põe quandoabordamos esta área.

Page 24: Caderno de Apoio de Demografia

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Em sentido geral, uma população pode ser encarada como um conjunto deindivíduos ou de unidades que podem ser de natureza muito diversa. Numaperspectiva demográfica, as populações humanas são consideradas comcaracterísticas específicas, num espaço limitado e com um certo significadosocial.

No que respeita às características da população humana, as unidades deobservação que compõem a população de referência (ou de observação) devemser naturalmente, de seres humanos no seu sentido lato (homens ou mulheres).Neste contexto, o termo genérico “população” será utilizado designando uma“população humana”.

Relativamente à delimitação espacial, esta característica diz respeito aoterritório claramente identificável, isto é, o conjunto de indivíduos que vivemsobre um determinado espaço delimitado e constituem a populaçãoconsiderada.

No que diz respeito ao significado social, a população considerada deveráter um certo significado de coerência social.

Apesar da preocupação com os problemas da população remontar àAntiguidade, a Demografia como ciência apenas aparece na segunda metadedo século XVIII.

Os primeiros demógrafos

Foi Achille Guillard em 1855 (in Guillard, A. Élements de statistiquehumaine ou demographie comparé, 1855) que inventou o nome de“Demografia Comparada”. Este autor dá a seguinte definição de Demografia“Em sentido amplo, abrange a história natural e social da espécie humana;em sentido restrito, abrange o conhecimento matemático das populações,dos seus movimentos gerais, do seu estado físico, intelectual e moral”

Mas o desenvolvimento da Demografia, como ciência, fez com que nasúltimas décadas se multiplicasse o número de investigadores e de obraspublicadas. Mas o que é afinal a Demografia? É o estudo das populaçõeshumanas, claramente delimitadas no tempo e no espaço.

Vejamos algumas definições de Demografia que encontramos nos principaismanuais e dicionários especializados.

Segundo Henry, “Demografia é a ciência que tem por objecto o estudocientífico das populações humanas no que diz respeito à sua dimensão,estrutura, evolução e características gerais analisadas principalmente do ponto

Page 25: Caderno de Apoio de Demografia

29

de vista quantitativo” (Henry, L. Dictionaire demographique multilingue,1981).

No dicionário de Demografia de W. Petersen “ A Demografia pode serdefinida em sentido restrito e em sentido lato. A Demografia formal consistena colheita da análise estatística e na apresentação técnica dos dados dapopulação; baseia-se no ponto de vista de que o crescimento da população éum processo autoestruturado, com uma interligação mais ou menos fixa entrefecundidade, mortalidade e estrutura por idades”. (Petersen, W. Dictionaryof demography, 1986).

Para Ross “A Demografia é o estudo quantitativo das populações humanas edas mudanças nelas ocorridas devido à existência de nascimentos, óbitos emigrações. Quando se consideram as determinantes biológicas, sociais,económicas ou legais, esta disciplina toma o nome de estudos de população”.(Ross, J. International encyclopedia of population, 1982).

Landry, em 1945, no seu Tratado de Demografia (), é dos primeiros a tomarconsciência da questão da necessidade de um rigor quantitativo, o que tenhafeito com que a Demografia rapidamente se afirmasse como ciência.

Existe uma Demografia Quantitativa cujo objecto essencial é o estudo dosmovimentos que se produzem numa população, acompanhado dos resultadosdesses movimentos; mas também existe uma Demografia qualitativa quese ocupa das qualidades dos seres humanos e que diz respeito aos aspectosqualitativos do fenómeno social das populações e ainda à genéticademográfica ou biologia das populações, à biometria (estatística aplicada àinvestigação biológica).

Para G. Wunsch e M. Termote (1978) “Demografia é o estudo da população,do seu aumento através dos nascimentos e imigrantes, da sua diminuiçãoatravés dos óbitos e dos emigrantes”.

Em Shryock e J. Siegel (1976) encontramos a seguinte definição: “como namaior parte das ciências, a Demografia pode ser definida em sentido restritoe em sentido lato; o sentido restrito é a Demografia Formal, que se preocupacom questões como a dimensão, a distribuição, a estrutura e a mudança daspopulações; em sentido amplo, inclui outras características tais como asétnicas, as sociais e as económicas”.

Em Sauvy (1976) existem igualmente duas definições de Demografia: aDemografia pura ou análise demográfica, que é uma contabilidade dehomens… e a Demografia alargada, que estuda os homens nas suas atitudes,comportamentos e que se preocupa com as causas e as consequências dosfenómenos.

Page 26: Caderno de Apoio de Demografia

30

Em Poulalion (1984) encontramos a definição: “a ciência da população estudaas colectividades humanas enquanto tal; não considera apenas o aspectoestático e mensurável (Demografia quantitativa) mas também o aspecto causale relacional (Demografia qualitativa)”.

Com base em inúmeras definições, observamos que a Demografia tem porobjecto o estudo científico da população. Mas o que é exactamente “o estudocientífico da população”?

Uma definição aprofundada de Demografia comporta cinco elementosfundamentais:

Em primeiro lugar, é a análise de conjuntos de pessoas delimitadasespacialmente e com um certo significado social. Esta análise é feitaobservando, medindo e descrevendo a dimensão, a estrutura e a distribuiçãodesse conjunto de pessoas. A dimensão significa o volume da população (xmilhões de habitantes); a estrutura significa a sua repartição por subconjuntosespecíficos (x solteiros, y casados, z viúvos e divorciados); a distribuiçãodiz respeito à sua repartição no espaço. Ao conjunto destes três elementoschama-se o estado da população.

Em segundo lugar, este estudo científico preocupa-se em descrever o estadoda população num determinado momento no tempo (aspecto estático),mas também em saber quais as mudanças ocorridas e qual será a intensidadee a direcção dessas mudanças.

Em terceiro lugar, analisa os factores, ou as variáveis demográficas que sãoresponsáveis pelas variações ocorridas no estado da população: natalidade,mortalidade e migrações. Esta última variável microdemográfica abrangetrês situações distintas – emigração, imigração e migrações internas. Anupcialidade não é uma variável microdemográfica autêntica porque a suavariação não contribui directamente para a modificação do estado dapopulação, mas actua através da natalidade. Assim, o estado da populaçãotem uma determinada dimensão, estrutura e distribuição espacial porquenesse conjunto de pessoas acontecem nascimentos, óbitos e migrações.

Em quarto lugar, a Demografia também se ocupa dos efeitos que cada umadas variáveis microdemográficas tem nos aspectos globais e estruturais dapopulação, bem como o inverso (por exemplo, até que ponto um aumento danatalidade modifica estruturalmente a população ou em que medida umamudança estrutural da população se reflecte na modificação da evolução danatalidade).

Finalmente, a Demografia também se preocupa com questões relacionadascom as determinantes dos comportamentos demográficos e com asconsequências da evolução do estado da população.

Page 27: Caderno de Apoio de Demografia

31

Unidade e diversidade da Demografia

Embora a Demografia seja, classicamente, encarada como o estudoquantitativo da população humana esta ciência tem desenvolvido, ao longodo tempo, os seus métodos de trabalho e de análise que actualmente ultrapassao aspecto puramente descritivo.

Existe uma Demografia Formal ou Análise demográfica, onde se analisamapenas as variáveis demográficas dependentes (macrodemográficas) eindependentes (microdemográficas).

A Análise demográfica estuda os fenómenos demográficos observados empopulações concretas.

Um ramo da Demografia que rapidamente ganhou autonomia a partir do fimda Segunda Guerra Mundial foi a Demografia histórica: é o estudoretrospectivo das populações numa determinada época pertencente ao passadoe, particularmente daquela em que não existem estatísticas do tipo moderno(estatísticas demográficas ou recenseamentos), ou seja, cujos dadosdisponíveis não foram produzidos com fins demográficos. Neste contexto,utilizam-se normalmente registos paroquiais, listas nominativas,genealógicas, etc.

Landry publica em 1945, o seu Tratado de Demografia; A. Sauvy, em 1946,lança a revista Population. Mas o que verdadeiramente se passou de novo foio aparecimento do método científico baseado na reconstituição das famílias,inventado quase simultaneamente por P. Goubert e L. Henry.

A Demografia histórica, mais do que qualquer outra ciência social, tornou-se particularmente atenta à qualidade dos dados. A Demografia históricadeixou de ser uma ciência auxiliar, para passar a uma ciência autónoma commétodos e técnicas próprias, diferentes das outras ciências, inclusivé daprópria Demografia.

Quando se consideram as relações entre as variáveis demográficas e as outrasvariáveis económicas, sociais, culturais, biológicas, num determinadomomento do tempo surge a Demografia social: é o estudo das relaçõesentre o estado das populações ou movimento da população e a vivência dassociedades. A Demografia social faz uma interpenetração disciplinarpreocupando-se com as questões da população enquanto causas ouconsequências dos fenómenos da sociedade. Trata assim do sistemademográfico de uma forma abrangente encarando as relações com os outrossistemas (economia, política, saúde, educação, religião, etc...).

Page 28: Caderno de Apoio de Demografia

32

Assim, sem pretendermos ser exaustivos, podemos dizer que as grandespreocupações da Demografia Social nos dias de hoje são as seguintes:

• as causas e as consequências do declínio da natalidade

• os efeitos das migrações no sistema demográfico e social

• as consequências demográficas e sociais da luta contra a morte

• a desigualdade sexual e social face à morte

• progressos científicos, bioéticos e equilíbrios demográficos

• defesa, segurança e estratégia face às mutações demográficas

• desigualdades regionais e ordenamento do território

• as consequências do envelhecimento demográfico

• as consequências sociais da mutação das estruturas familiares

• a Demografia escolar

• a Demografia face ao processo de urbanização

Para além destes dois principais ramos da Demografia (histórica e social)existem outros dois domínios importantes nos quais a Demografia tem umpapel fundamental: as políticas demográficas e a ecologia humana.

O objectivo teórico das políticas demográficas consiste em actuar sobre osmodelos (ou sobre os efectivos) tendo em conta determinados objectivoseconómicos e sociais. A ideia de actuar sobre o movimento demográfico afim de que este se adapte a imperativos económicos e sociais é umapreocupação de muitos países. Mas até que ponto esta preocupação se traduziuna existência de autênticas políticas demográficas?

A ecologia humana parte do princípio que existem dois sistemas eminteracção constante: o sistema-homem (que recebe e descodifica ainformação) e o sistema ambiente que elabora uma acção de resposta. Apopulação, na perspectiva da ecologia humana, é um conjunto de indivíduosnum sistema interdependente de actividades. Cada actividade produz umoutput e os ingredientes utilizados na produção desses outputs são os inputsde outra actividade. Esta rede complexa que assim se estabelece é um processoespecífico da Ecologia em geral e da Ecologia Humana em particular: oecossistema.

A Demografia caminhou de uma unidade inicial, onde a sua problemáticaera formulada em termos simples, para uma crescente diversidade ecomplexidade.

Page 29: Caderno de Apoio de Demografia

33

Também a sua ligação com as outras ciências alargaram a sua problemática.A Demografia tem a vantagem de ser simultaneamente uma das ciênciassociais mais exactas e de ser o ponto de encontro das ciências sociais ehumanas com a biologia, o direito, a economia e as ciências políticas.

A Demografia utiliza métodos e técnicas de tratamento demográfico dosdados, com o objectivo de descrever e analisar de uma forma rigorosa oestado das populações, ou seja, os seus efectivos e a sua composição segundovários critérios (idade, sexo, localização geográfica); os diversos fenómenosque influem directamente sobre essa composição e evolução da população(natalidade, fecundidade, mortalidade, migrações); as relações recíprocas queexistem entre estado/evolução da população e os fenómenos demográficos.

Actividades propostas e questões para revisão

1. Faça corresponder o autor da coluna da esquerda com o pensamentodominante correspondente, na coluna da direita:

É possível intervir no sentido de manter constanteo volume da população da sua cidade ideal, atravésda fixação de uma idade mínima para o casamentoe da limitação da idade da procriação.

Procura sobretudo um número estável de habitantes.Esta procura de estabilidade não implica um númerofixo de habitantes. Pelo contrário, ao aperceber-seque a natalidade e a mortalidade fazem variar ovolume populacional, propõe uma “justa dimensão”da população.

Uma população numerosa deve ser a primeirapreocupação do Estado.

Afirma que uma população numerosa permite avalorização de um país. Ficou conhecido com a frase“Não existe maior riqueza nem maior força do queos homens”.

Defende que uma população numerosa reforça opoder do Príncipe, adopta uma atitude popula-cionista.

Defende o ponto de vista de que a grande riqueza daFrança é a inesgotável abundância dos seus homens.

Aristóteles (384-322 a.C.)

Botero (1540-1617)

Jean Bodin (1530-1596)

Platão (428-348 a.C.)

Montchrestien (1575-1621)

Maquiavel (1467-1527)

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34

2. Uma definição aprofundada de Demografia comporta cinco elementosfundamentais. Quais são?

1. ___________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

2. __________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

3. __________________________________________________________

____________________________________________________________

______________________________________________________________

____________________________________________________________

4. __________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

5. ___________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

3. Distinga os diferentes ramos da Demografia:

• A análise demográfica ____________________________________

• A demografia histórica ____________________________________

Page 31: Caderno de Apoio de Demografia

35

• A demografia social ______________________________________

________________________________________________________

• A ecologia humana ______________________________________

Indicações bibliográficas

AAVV

1995 Portugal Hoje, Lisboa, Instituto Nacional da Administração.

ALMEIDA, João Ferreira de, et. al.

1994 Exclusão Social - Factores e Tipos de Pobreza em Portugal, Lisboa,Celta Ed.

ARROTEIA, Jorge Carvalho

1987 A Evolução Demográfica Portuguesa, Lisboa, Ministério da Educa-ção, Biblioteca Breve.

BANDEIRA, Mário Leston

1996 Demografia Portuguesa, Lisboa, Cadernos do Público, n.º 6.

BARATA, Oscar Soares

1968 Introdução à Demografia. Instituto Superior de Ciências Sociais ePolíticas, Lisboa.

BARRETO, António (org.)

1996 A Situação Social em Portugal, 1960-1995, Lisboa, ICS.

FERRÃO, João

1996 A Demografia Portuguesa, Lisboa, Cadernos do Público, n.º 6.

NAZARETH, J. Manuel

1988 Portugal. Os próximos 20 anos. Unidade e diversidade da demo-grafia portuguesa no final do século XX, Lisboa, Fundação CalousteGulbenkian.

Page 32: Caderno de Apoio de Demografia

II. A Explosão Demográfica: um Velho Problema com Novas Dimensões

Page 33: Caderno de Apoio de Demografia

39

Objectivos do capítulo

1. Conhecer os principais dados quantificados da evolução da populaçãomundial;

2. Conhecer as principais características da evolução demográfica daEuropa;

3. Compreender o modo de funcionamento do modelo demográfico doAntigo Regime e as razões do seu desaparecimento;

4. Conhecer os grandes modelos de evolução da população;

5. Identificar as razões que fazem da “Explosão Demográfica” umproblema antigo com novas dimensões.

Objectivos de aprendizagem

Depois de estudar esta unidade o aluno deve ser capaz de:

• Descrever os traços gerais de evolução da população;

• Descrever os traços essenciais que caracterizam a evolução global dapopulação do continente europeu durante o Antigo Regime;

• Identificar quais as etapas do arranque demográfico da EuropaOcidental segundo o modelo de Dupâquier;

• Fazer o ponto da situação demográfica contemporânea a nível mundiale distinguir os países em desenvolvimento dos desenvolvidos.

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40

Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

Leia o capítulo do livro recomendado. Capítulo II, páginas 70-100

Conteúdos Pág. Objectivos

2.1. A população antes do apare-cimento da escrita 2.2. Os primeiros dados numéricos de interesse demográfico

71-73

73-75

Conhecer os principais dados quantificados da evolução da população mundial

2.3. A Antiguidade: do crescimento ao primeiro «mundo cheio» 2.4. O Nascimento do Ocidente Medieval e o declínio da população 2.5. A recuperação demográfica do Ocidente Medieval e o aparecimento de um segundo «mundo cheio» 2.6. A peste negra

75-78

78-79

80-84

85-86

Conhecer as principais caracte-rísticas da evolução demográfica da Europa

2.7. O Modelo Demográfico do Antigo Regime 2.8. O crescimento da população na Europa Ocidental e o terceiro “mundo cheio”

86-90

90-96

Compreender o modo de funcio-namento do modelo demográfico do Antigo Regime e as razões do seu desaparecimento

2.9. A evolução da População nas restantes partes do mundo 96-98 Conhecer os grandes modelos de evolução da população

96-98 Conhecer os grandes modelos de evolução da população

2.10. A explosão demográfica: um fenómeno novo ou um velho problema com novas características?

98-100

Identificar as razões que fazem da “Explosão Demográfica” um problema antigo com novas dimensões.

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41

A população mundial: traços gerais de evolução

Os primeiros dados numéricos de interesse demográfico

As primeiras civilizações de que dispomos algumas informações escritasrespeitantes à população, revelam-nos a existência de uma dinâmicapopulacional pouco conhecida, complexa e diversificada. Muito há a esperarainda das investigações em curso. Porém, apesar da sua diversidade, existemalguns elementos comuns: guerra, crises de mortalidade motivada pela fome,conhecimentos de contracepção, a existência de grandes migrações. È umaDemografia de povos migrantes cuja errância ritma a história, misturandopopulações, costumes e civilizações.

O Modelo Demográfico do Antigo Regime

Três traços essenciais caracterizam a evolução global da população docontinente europeu durante o Antigo Regime: o crescimento moderado dapopulação de 70 milhões no início do século XIV para 111 milhões em meadosdo século XVIII, as quebras de crescimento populacional ocasionado pelascrises de mortalidade e as crises de subsistência.

As crises de mortalidade têm duas fases: a fase da peste e a fase das epidemiassociais que se estende até ao início da época contemporânea. A mortalidadeera um factor regulador e um factor destruidor das populações desta época.Alguns historiadores da população têm uma visão mecanicista das sociedadeshumanas nesta época ao pensarem que o verdadeiro elemento regulador é amorte. Esta visão mecanicista não resistiu à vaga de investigações sobre osistema demográfico do Antigo Regime que caracteriza os nossos dias como desenvolvimento da Demografia Histórica. Dupâquier é o grande pioneirono final dos anos 70 ao levantar a seguinte questão: Como é que 18 milhõesde súbditos de Luís XIV mal alimentados, aumentaram num século para 27milhões vivendo numa relativa abundância e reagindo à oscilação de preços?(Dupâquier, 1979).

O crescimento da população na Europa Ocidental e o terceiro “mun-do cheio”

O crescimento da população na segunda metade do século XVIII é umfenómeno europeu que ultrapassa o quadro das regiões industrializadas eque não pode ser explicado por uma revolução agrícola.

Page 36: Caderno de Apoio de Demografia

42

Dupâquier esquematiza o arranque demográfico da Europa Ocidental daseguinte forma:

1.ª etapa (1650-1750): as populações submetidas a crises periódicasde mortalidade põem a funcionar em pleno o mecanismo auto-regulador; este mecanismo, ao fazer aumentar de intensidade anupcialidade, proporciona a existência de estruturas de idades muitojovens;

2.ª etapa (segunda metade do século XVIII): os acidentes sendomenos frequentes, diminuem a mortalidade e a população aumenta;mas, o mecanismo regulador, que tinha funcionado bem numadirecção, revelou-se ineficaz na direcção inversa; mais ainda, estemecanismo tem um peso desagradável nos destinos individuais –os quocientes de nupcialidade diminuem, a idade média docasamento aumenta, os jovens têm cada vez mais dificuldades emestabelecer-se; a indústria nascente passa a dispor de uma reservade mão-de-obra abundante e a baixo preço; as tensões sociaisaumentam e aparecem conflitos de gerações;

3.ª etapa (primeira metade do século XIX): a industrialização, aopermitir fazer baixar a idade no casamento, relança o crescimentodemográfico; a emigração para o outro lado do Atlântico vai-setornando cada vez mais importante;

4.ª etapa (segunda metade do século XIX): o recuo da mortalidade,associado a um grande progresso da medicina e das condições dehigiene e saúde, acaba de vez com o mecanismo auto-regulador;com o aumento da duração de vida dos pais, as jovens geraçõescamponesas perdem a esperança de se estabelecerem com uma idaderazoável; não lhes resta mais do que escolher entre o celibatodefinitivo ou o êxodo para sítios mais ou menos longínquos (comooperários, como funcionários, como militares ou como colonos).

A grande mutação não resultou de um modelo simplista que apenas consideraos efeitos directos e indirectos das condições de saúde (modelo simplificado),mas de um modelo mais complexo que integra diversas componentes (modeloDupâquier):

Page 37: Caderno de Apoio de Demografia

43

A destruição do modelo demográfico do Antigo regime e a Explosãodemográfica

Modelo de Dupâquier

A evolução da População nas restantes partes do mundo – SituaçãoDemográfica Contemporânea

O crescimento e a variação da população (variação dos efectivos) constituemo aspecto central da Demografia. Em 1987 a população mundial atinge umvalor de 5 milhares de milhão de pessoas quando em 1950 existiam apenas2,5 milhares de milhão de seres humanos. Isto significa que, em pouco maisde uma geração, a população mundial duplicou. Nos países maisdesenvolvidos a população passou de 830 para 1.190 milhões, aumentando40% e a dos países menos desenvolvidos passou de 1,7 para 3,8 biliões dehabitantes aumentando assim cerca de 120%.

Algum progresso técnico

Arranque industrial

Explosão demográfica

Outros factores

Declínio na idade médiado casamento

Progresso técnico e socialmelhoria das condições

de higienie e saúde

Aumento dos nascimentos Diminuição dos óbitos

Estruturas de populaçãocada vez mais jovens

Page 38: Caderno de Apoio de Demografia

44

O crescimento do conjunto dos países menos desenvolvidos ultrapassou,durante os anos sessenta, o ritmo de 2,5% por ano, e, ao mesmo tempo, o doconjunto dos países mais desenvolvidos decaiu abaixo de 1% sendo ocrescimento anual da população mundial mantido abaixo dos 2% durante asdécadas de sessenta e setenta.

Evolução da População Mundial (DC)

Fonte: Adaptado de Chesnais, J.C., La population du monde – De l’antiquité à 2050,Ed. Bordais, 1991, Paris.

As fontes e a qualidade dos dados da população mundial são diferentes deregião para região e de país para país.

Em muitos países, nomeadamente em alguns países de África, o primeirorecenseamento da população ocorreu nos anos 70, graças aos esforços nessedomínio por parte das Nações Unidas. Nestes países o recenseamento depara-se com enormes problemas: sub-administração, dificuldades de comunicação,analfabetismo das populações, ausência quase total de tradição na recolha etratamento dos dados da população. Contudo se os recenseamentos, muitorecentes em África, estão ainda longe de serem perfeitos, o demógrafo nãoestá por isso completamente desprovido de informação sobre a populaçãodessas zonas. Existem alguns meios para apreciar os erros, e em alguns casos,corrigi-los. Assim o que se passará com a população mundial? Uma formade a conhecer será fazendo o somatório das populações recenseadas ouestimadas para cada país. A estimativa global da população do mundodependerá, naturalmente, dos dados disponíveis e do seu valor ou rigor, ouem estimativas nacionais e/ou das correcções efectuadas. Contudo ainformação disponível relativa à população mundial estará longe de constituirum todo homogéneo, tanto em números absolutos como em rigor dainformação.

Datas

Ano 0

1650

1830

1930

1960

1980

População Mundial(Milhões)

250

500

1000

2000

3000

4000

Período de duplicação daPopulação Mundial (Anos)

------

650

180

100

75

50

Page 39: Caderno de Apoio de Demografia

45

A desigualdade de distribuição da população mundial é impressionante. AChina e a Índia agrupam só por si 37% da população mundial, e se juntarmosa população dos Estados Unidos da América, da Indonésia, do Brasil e daRússia, estes seis países reúnem 51% do total da população mundial. Osvinte países mais populosos reúnem 72% do total da população do planeta.

População por Continentes (em milhões)

Fonte: Adaptado de Chesnais, J.C., La population du monde – De l’antiquité à 2050,

Ed. Bordais, 1991, Paris.

Duas características interessam particularmente para compreender a dinâmicademográfica: são elas o sexo e a idade das populações. Na Ásia Meridional,na América Latina e sobretudo na África temos uma população jovem emque a pirâmide etária aparece com uma silhueta piramidal bastante acentuada,larga na base e estreita no topo. Por outro lado na Europa, na América doNorte, na União Soviética e na Oceânia podemos observar outro perfildiferente de pirâmide etária de população mais idosa, estando neste caso abase diminuída em relação à parte central. As razões desta situação serãoanalisadas mais adiante.

Em África, actualmente, mais de 45% da população tem menos de 15 anos esomente 52% tem entre 15 e 65 anos.

Região

1700 1800 1900 1950 1990

Europa

URSS

América do Norte

América Latina

Ásia

África

Oceânia

95

30

2 10

433

107

3

146

49

5 19

631

102

2

295

127

90

75

903

138

6

392

180

166

166

1377

222

13

498

289

276

448

3113

642

26

TOTAL 680 954 1634 2516 5292

Anos

Page 40: Caderno de Apoio de Demografia

46

Países mais populosos em 1990 e projecções para 2025 (em milhões)considerando o território existente em 1990

Fonte: Adaptado de Chesnais, J. C., La population du monde – De l’antiquité

à 2050, Ed. Bordais, 1991, Paris.

Fazer o ponto da situação demográfica em África, sobretudo, a SubSaariana,seria difícil até há somente quinze anos atrás. As informações disponíveisentão eram raras e de qualidade duvidosa, mas no conjunto a situação actualmelhorou. Com a excepção do Chade, todos os países têm um ou doisrecenseamentos já efectuados e um bom número de países já programa orecenseamento seguinte. Entre 1975-1982, cerca de uma dezena dos paísesda região Africana realizou “inquéritos nacionais de fecundidade” no quadrodo inquérito mundial de fecundidade. Por outro lado, cerca de quinze paísesefectuou, desde 1984, um inquérito “Demografia-saúde” e foram realizadosmais outros cinco inquéritos de mortalidade, de migrações e outros. Consi-derando que, embora a situação tenha melhorado, não é ainda uma situaçãoconfortável em termos de informação sobre a população. Assim, não se dispõede praticamente nenhuma série cronológica e a qualidade dos dados é porvezes duvidosa, a análise das informações e a difusão dos resultados é tambéminsuficiente.

Contudo, estes problemas não são só próprios de África, mas são aqui,particularmente graves. Apesar dos progressos reais, a África, na sua regiãosubsaariana, permanece estatisticamente como a região mais mal conhecidado mundo.

PAÍSES 1900 PAÍSES 2025

China

Índia

URSS

Estados Unidos

Indonésia

Brasil

Japão

Nigéria

Bangladesh

Paquistão

México

Alemanha

1140

853

290

251

189

150

124

119

115

115

89

79

China

Índia

URSS

Nigéria

Estados Unidos

Indonésia

Brasil

Bangladesh

Paquistão

México

Japão

Etiópia

1650

1420

367

338

313

255

246

219

213

154

128

112

Page 41: Caderno de Apoio de Demografia

47

Dentro dos países em desenvolvimento, a maioria dos países LatinoAmericanos já passou ou está a passar pela etapa transaccional de fecundidade(ver teoria da transição Demográfica, mais à frente) .

Os países africanos na sua maioria, ainda mantém níveis de fecundidadealtos, assim como alguns países asiáticos.

A taxa bruta de natalidade revela o impacto dos nascimentos no crescimentode uma população, mas não se refere ao número de filhos das mulheres. Paraisto necessitamos de analisar o índice sintético de fecundidade.

O índice sintético de fecundidade indica que as mulheres dos países menosdesenvolvidos quando completam o seu período reprodutivo (quando atingema menopausa, ao redor dos 50 anos) têm em média mais dois filhos e asafricanas mais quatro filhos do que as dos países mais desenvolvidos. Aincidência do desenvolvimento económico sobre a fecundidade e a natalidadeé muito complexa.

Se desenharmos o panorama das forças que animam o movimento natural dapopulação, fecundidade e mortalidade, encontramos uma grande diversidade.Durante a período 1990-95, a fecundidade do conjunto da população mundial,dava uma média de 3.2 filhos por mulher. Esta média cobre realidades bemdiferentes. Constatámos que nos países desenvolvidos esta média baixa para1.8 enquanto nos países em desenvolvimento aumenta para 3.6.

Fazendo o contraste com a homogeneidade dos países industrializados, ospaíses em desenvolvimento oferecem situações extremamente variadas. Àescala das grandes regiões, a heterogeneidade é também importante.

Enquanto na Ásia Oriental o número médio de filhos por mulher (1.9) não émais elevado do que na Europa, em África, este é três vezes maior (5.8),enquanto ocupa uma posição intermediária na Ásia Meridional (3.9) e naAmérica Latina (3.1).

Certos países, como Cuba, Singapura e Hong Kong, têm uma fecundidadecomparável com a da Europa Ocidental (o número de filhos por mulher éinferior a 2). Na outra extremidade da escala, certos países árabes ou africanosultrapassam os sete filhos por mulher: Yémen, Oman, por um lado, Etiópia,Somália, Uganda, Mali, Nigéria, Benin, Angola, Malawi, por outro. Certospaíses vivem ainda hoje, uma situação de fecundidade natural, com sete ouoito filhos por mulher. Neste contexto, só o celibato ou a esterilidade natural,o aleitamento materno ou os tabus contradizem a expressão de fecundidademáxima.

Os países em desenvolvimento são caracterizados por elevadas taxas defecundidade, observando em simultâneo um crescimento demográfico

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48

extremamente rápido, conduzindo, se nada mudar, a uma duplicação da suapopulação em 25 anos. O crescimento natural, entendido como a balançaentre a natalidade e a mortalidade, vai ainda aumentar durante uma dezenade anos. O equilíbrio tradicional que resultava de uma natalidade e de umamortalidade elevadas provocando crescimento lento rompeu-se: a mortalidadebaixou sensivelmente desde os anos 1950, mas, contrariamente ao que sepassou nos países desenvolvidos, a natalidade não se alterou. O resultadoaritmético é o aparecimento de um ritmo de crescimento populacionalacelerado.

Existem contudo diferenças profundas entre países, entre regiões dentro dospaíses ou entre grupos sociais. Por outras palavras, a transição demográfica(declínio da mortalidade seguido do da fecundidade) está mais ou menosavançada consoante as zonas ou os grupos de países considerados.

Centrando-nos apenas no contexto africano, verificamos que as desigualdades,em termos de mortalidade, são significativamente importantes, entre meiosde habitat (urbano e rural), entre grupos sociais ou consoante o nível deinstrução. As diferenças são claramente menos fortes em matéria defecundidade.

Deste rápido crescimento demográfico, resultam duas grandes consequênciasimediatas: a extrema juventude das populações africanas e as grandesdensidades populacionais em certas regiões.

Quatro grandes componentes conduzem à dinâmica de todo o sistemademográfico: a mortalidade, as migrações, a nupcialidade e a fecundidade.

Em África, como em todo o mundo, a mortalidade baixou sensivelmentedurante os últimos trinta anos: a esperança de vida média dos africanos (aosul do Saara) passou de 36 anos em 1950, para 50 nos dias de hoje.

As grandes causas de morte não se alteraram substancialmente e podemosencontrar ainda hoje no topo da lista, as doenças infecciosas nomeadamente,as doenças diarreicas, o sarampo, as infecções respiratórias agudas, o tétano,o paludismo, etc. A esta situação associa-se uma má nutrição crescente, cominúmeras consequências, e o aparecimento de novas doenças como é o casoda SIDA. Contudo a disponibilidade terapêutica e os meios de luta contraestas doenças poderiam reduzir substancialmente o número de óbitos porestas causas, sem contudo termos uma situação controlada pois existem emassociação as questões sócio económicas e outras de âmbito complexo.

Outro aspecto são as migrações que ocupam desde há muito tempo um lugarcentral na vida das comunidades africanas. Estas migrações, constituem,talvez, a primeira componente das estratégias de sobrevivência comunitárias

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49

ou familiares. As migrações internas, que são essencialmente movimentosdo meio rural para o meio urbano e a capital, conduzem a uma aceleração doritmo de urbanização de África, para além de trazerem problemas complexosno que respeita à saúde das populações.

Em África o casamento é considerado como um fenómeno social importante,tendo uma ocorrência bastante precoce sendo quase universal, sendo comoconsequência fundamental a fecundidade: em geral as mulheres casadas muitonovas, permanecem casadas até ao fim do período fecundo, desempenhandoassim um papel fundamental na natalidade. O divórcio e a viuvez são, emgeral, frequentes, mas enquanto a mulher estiver em idade fecunda, sãoseguidos rapidamente de um novo casamento. Neste contexto a forçareprodutora é usada na sua função quase-máxima. Apesar destascaracterísticas em África podem encontrar-se ainda variadas formas decasamento e de constituição de família.

Contudo é da evolução da natalidade/fecundidade que depende o futurodemográfico na região. A nível mundial, a África distingue-se por umafecundidade extremamente elevada. Praticamente em toda a região, tem-seainda mais de seis filhos por mulher. Três factores explicam este nível aindaelevado das fecundidades africanas do sul do Saara: A precocidade euniversalidade do casamento, uma fraca prática da contracepção moderna euma diminuição quase geral das durações de aleitamento materno e deabstinência sexual pós-parto. Com a ausência de uma compensação pelacontracepção, isto poderá mesmo conduzir a uma subida da fecundidade.

Hoje em dia, no caso particular dos países com elevados níveis de fecundidadee de mortalidade, a evolução do crescimento populacional, e a sua estruturapor sexos e idades, são comandados pela fecundidade.

A fecundidade é a variável responsável por uma parte do processo de evoluçãodas populações. A fecundidade varia no tempo, no espaço, de uma formaainda não suficientemente esclarecida em função de variáveis ainda nãocompletamente identificadas.

Nos últimos 30 anos, os países em desenvolvimento colheram benefíciossignificativos do facto de terem dispensado melhores e mais amplos cuidadosde saúde de base, dos quais resultou uma descida das taxas de natalidade emortalidade, um aumento da esperança de vida e uma redução da mortalidadeinfantil. Todavia, continuam a existir grandes diferenças entre os países e asregiões do mundo. Para muitos demógrafos, a taxa de crescimento rápido dapopulação dos países em desenvolvimento é um facto preocupante e limitativodo desenvolvimento desses países.

É certo que as forças “negativas” que tradicionalmente determinaram adimensão elevada das famílias nas sociedades como as africanas, mantêm-

Page 44: Caderno de Apoio de Demografia

50

-se muito influentes: as mulheres têm muitos filhos devido à taxa elevada demortalidade infantil (quanto mais filhos têm, maior é o número de filhossobreviventes), os filhos são uma fonte de riqueza (constituem uma mão-de-obra para trabalhar no campo, enriquecendo assim a sua família), os filhossão vistos como uma segurança para a velhice dos pais; são também umsímbolo de “status”; as mulheres são condicionadas pelo marido ou pelo clãfamiliar para terem muitos filhos e desejam filhos do sexo masculino, porquea sociedade ou o marido o exigem, e por vezes têm de ter muitos filhos atéconseguirem ter um rapaz. Não é, portanto, unicamente a mulher que decidea dimensão da sua família, mas igualmente o sistema de valores ou a culturadas sociedades em que elas vivem.

Relativamente aos países mais desenvolvidos a situação da mulher nocasamento e consequentemente a sua relação com o número de filhos édiferente. Desde a década de 60/70 que se tem observado uma reduçãoacentuada no número de filhos por casal; devido à opção da entrada sistemáticada mulher no mercado de trabalho, da necessidade da sua projecçãoprofissional e ainda devido aos avanços da ciência no que diz respeito aosmeios contraceptivos e acessibilidade dos serviços de saúde. Tudo isto levoua mulher a ter outras expectativas relativas ao número de filhos econsequentemente ao desempenho do seu papel no seio da família.

Actualmente, em grande parte dos países europeus assiste-se a uma situaçãoem que o crescimento da população é quase zero não havendo a substituiçãodas gerações. Esta situação levou a que alguns governos adoptassem umapolítica de incentivo à natalidade.

Alguns dados sobre a População Mundial

Os dados sobre a população mundial são publicados com alguma regularidadeatravés das diversas organizações, nomeadamente: Divisão da População dasNações Unidas, Banco Mundial, União Europeia, Conselho da Europa,Serviços Nacionais de Estatística entre outros.

Os dados são traduzidos por onze indicadores: a superfície, população 1995,taxa de natalidade, taxa de mortalidade, projecção para 2025, taxa demortalidade infantil, índice sintético de fecundidade, proporção de indivíduoscom menos de 15 anos e mais de 65 anos, esperança de vida dos homens edas mulheres, produto nacional bruto por habitante e o produto interno brutopor habitante.

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51

*Ver legenda na página seguinte

País ou Região 1* 2* 3* 4* 5* 6* 7* 8* 9* 10* 11*

MUNDO 130 300 5 702 24 9 8 312 62 3,1 32/6 64/68 4 500 6 050

África 29 629 720 41 13 1 510 90 5,8 45/3 53/56 660 1 867

África Setentrional 8 378 162 32 8 279 63 4,4 41/3 63/65 1 040 3 535

África Ocidental 6 056 199 45 14 467 86 6,4 46/3 52/55 370 1 412

África Oriental 6 051 226 46 15 491 106 6,4 47/3 48/52 210 890

África Central 6 487 83 46 16 191 107 6,3 46/3 47/51 — 1 022

África Austral 2 657 50 31 8 83 49 4,2 38/4 62/67 2 720 4 165

América 38 446 774 22 7 1 081 34 2,7 29/8 69/74 7 040 — América Setentrional 18 380 293 15 9 375 8 2,0 22/13 72/79 24 340 25 087

América Central 2 417 126 29 5 196 37 3,5 37/4 68/74 3 090 6 839

América do Sul 17 421 319 25 7 460 47 3,0 33/5 65/71 3 020 6 141

Caraíbas 228 36 23 8 50 39 2,9 31/7 67/72 — 4 043

Ásia (s/ Rússia) 30 987 3 451 24 8 4 939 62 2,9 33/5 64/67 1980 (3 926)

Ásia Ocidental 4 707 168 31 7 329 51 4,3 39/4 65/69 — 6 381

Ásia CentroSul 10 401 1 355 31 10 2 138 79 3,8 38/4 60/61 420 1 547

Ásia Sudoeste 4 358 485 24 8 704 53 3,2 37/4 62/64 1 070 4 071

Ásia Oriental 11 521 1 442 17 6 1 768 40 1,8 26/7 68/72 3 570 5 829

Rússia (Federação) 17 068 147 9 16 153 19 1,4 2/11 59/72 2 350 5 000

Europa (s/Rússia) 5 712 581 11 11 590 10 1,5 19/14 70/77 13 881 (14 900)

Europa Setentrional

Dinamarca

Estónia

Filândia

Irlanda

Islândia

Letónia

Lituânia

Noruega

Reino Unido

Suécia

1 650

42

45

304

69

100

64

65

307

241

411

94

5,2

1,5

5,1

3,6

0,3

2,5

3,7

4,3

58,6

8,9

13

13

9 13

14

17

10

13

14

13

13

11

12

14

10

9 7 15

12

11

11

12

99

5,3

1,4

5,2

3,5

0,3

2,4

3,9

5,0

62,1

9,6

7 6 16

4 6 5 16

16

6 7 5

1,8

1,8

1,3

1,8

2,0

2,2

1,5

1,7

1,9

1,8

1,9

20/15

17/55

21/13

19/14

26/11

25/11

21/13

22/12

19/16

19/16

19/18

73/79

73/78

64/75

72/79

73/78

77/81

62/74

65/76

74/80

74/79

76/81

18 020

26 510

3 040

18 970

12 580

23 620

2 030

1 310

26 340

17 970

24 830

18 356

21 215

— 16 452

14 421

19 222

— —

20 613

18 294

18 639

Europa Ocidental

Alemanha

Áustria

Bélgica

França

Lichstein

Luxemburgo

Países Baixos

Suíça

1 049

349

83

30

550

0,1

3 34

40

181

81,7

8,1

10,2

58,1

0,03

0,4

15,5

7,0

11

10

12

12

12

12

13

13

12

10

11

10

11

9 6 10

9 9

184

76,1

8,3

10,5

63,6

0,04

0,4

17,6

7,5

6 6 6 8 6 11

6 6 6

1,5

1,3

1,4

1,6

1,7

1,4

1,7

1,6

1,5

18/15

10/15

18/15

18/16

20/15

19/10

18/14

18/13

16/15

73/80

73/79

73/80

73/80

74/82

— 73/79

74

23 310

23 560

23 120

21 210

22 360

— 35 850

20 710

36 410

19 468

18 979

19 350

19 242

19 867

— 26 864

18 959

22 972

Europa Oriental

Bielorússia

Bulgária

Hungria

Moldávia

Polónia

República Checa

Roménia

Eslovénia

Ucrânia

1 713

208

111

92

37

304

79

230

49

603

162

10,3

8,5

10,2

4,3

38,6

10,4

22,7

5,4

52,0

11

11

10

12

15

12

12

11

14

11

12

13

13

14

12

10

11

12

10

14

167

11,3

7,5

9,3

5,1

41,7

10,7

21,6

6,0

54,0

15

13

16

12

22

14

9 23

16

15

1,6

1,5

1,4

1,7

2,1

1,8

1,7

1,4

1,9

1,6

22/12

22/12

19/14

19/14

28/9

24/11

21/10

22/11

25/11

21/13

65/73

64/74

68/74

65/74

64/72

67/76

69/77

66/73

67/75

64/74

— 2 840

1 160

3 330

1 180

2 270

2 730

1 120

1 900

1 910

5 267

4 800

3 747

6 238

3 400

5 768

(7 500)

3 004

(7 500)

3 700

Page 46: Caderno de Apoio de Demografia

52

Legenda:

1 - Superfície/Milhares km2.

2 - 1995 - População no meio do ano.

3 - Taxa de natalidade/1000 habitantes.

4 - Taxa de mortalidade/1000 habitantes.

5 - Projecção da população para o ano 2025/1000 habitantes.

6 - Taxa de mortalidade infantil/1000 nados vivos.

7 - Índice sintético de fecundidade (crianças/mulheres).

8 - População < 15 anos e > 65 anos/1000 habitantes.

9 - Esperança de vida Homens/Mulheres em anos.

10 - Produto Nacional Bruto/habitante em 1993 US$.

11 - Produto Interno Bruto/habitante em 1994 US$.

A explosão demográfica: um fenómeno novo ou um velho problema comnovas características?

A preocupação com o “excessivo número de habitantes” não é um fenómenoexclusivo da época contemporânea, nem tão pouco a explosão demográficaobservada nos dias de hoje é um fenómeno inteiramente novo.

Em dois momentos anteriores à época contemporânea, acreditou-se que o“mundo estava cheio” e que não havia lugar para tanta gente à superfície daterra. Quais são as características diferentes que este fenómeno apresentanos dias de hoje?

A primeira grande diferença reside no facto de, globalmente, a humanidadenos aparecer no século XX dividida em dois blocos: o dos países emdesenvolvimento onde se concentra 80 % da população mundial, com umcrescimento anual médio que chega quase aos 2 %, uma mortalidade infantilelevada, elevadas percentagens de jovens, baixas percentagens de idosos, eum PNB per capita que raramente ultrapassa os 1000 dólares.

No bloco dos países desenvolvidos temos 20 % da população mundial, umcrescimento natural praticamente igual a zero, uma mortalidade infantil

Page 47: Caderno de Apoio de Demografia

53

reduzida, baixas percentagens de jovens, elevadas percentagens de idosos eum PNB per capita que é quase vinte vezes superior.

Se a primeira grande característica deste novo “mundo cheio” é a divisão domundo em dois grandes blocos, a segunda é a unidade de contagem: noprimeiro “mundo cheio” era o milhão, no segundo as dezenas de milhão, noterceiro a unidade de contagem passou a ser o milhar de milhão.

A terceira característica consiste nas unidades de tempo utilizadas nacontagem: no início da nossa era, a população mundial é estimada em 252milhões de habitantes e em 1600 é de 578 milhões, ou seja, foi preciso esperardezassete séculos para que a população mundial duplicasse; nos dias dehoje a população mundial duplica cada 40 a 50 anos.

Finalmente, a quarta e última dimensão é a capacidade de previsão. A ciênciaDemográfica, ao ter desenvolvidos as técnicas de projecção, consegueextrapolar tendências.

Actividades propostas e questões para revisão

1. Observe as figuras n.os 2, 3, 6, e 10 e quadro n.º 1 e n.º 2 do livroadoptado. Faça uma descrição sumária dos quatro gráficos em termoscomparativos quer por regiões, quer por evolução dos números ao longodos anos.

2. Reflicta acerca das quatro grandes dimensões que caracterizam asdiferença entre a “antiga” e a “nova” explosão demográfica. Quais poderãoser as consequências da situação actual num futuro próximo?

Page 48: Caderno de Apoio de Demografia

54

Indicações bibliográficas

BARRETO, António; Preto, Clara Valadas

1996 Indicadores da evolução social, in A situação social em Portugal,1960-1995, Lisboa , Instituto de Ciencias Sociais da U. L.

BARRETO, António

1996 Três décadas de mudança social, in A situação social em Portugal,1960-1995, Lisboa , Instituto de Ciencias Sociais da U. L.

BARRETO, António (org. de)

2000 A situação social em Portugal, 1960-1999. Indicadores sociais emPortugal e na União Europeia, Lisboa , Imprensa de Ciências Soci-ais/IC, v. 2 , 643 p.

FERREIRA, Eduardo de Sousa; Rato, Helena (coord. de)

1995 Portugal hoje, Lisboa) , Instituto Nacional de Administração, 393,4 p.

FERRÃO, João

1996 Três décadas de consolidação do Portugal demográfico “Moder-no”, in A situação social em Portugal, 1960-1995, Lisboa , Institutode Ciencias Sociais da UL, (pp.165-190)

FNUAP

1993 A situação da população mundial. Nova Iorque.

1994 A situação da população mundial. 1994, Nova Iorque.

GASPAR, Jorge, Portugal

1987 Os próximos 20 anos. Ocupação e organização do espaço, Lisboa,Fundação Calouste Gulbenkian.

Page 49: Caderno de Apoio de Demografia

III. A Dinâmica Global da População. A Repartição Geográficae a Repartição por Sexo e Idades

Page 50: Caderno de Apoio de Demografia

57

Objectivos do capítulo

1. Conhecer as diversas formas de calcular o ritmo de crescimento deuma população;

2. Elaborar análises regressivas e prospectivas com dados agregados;

3. Conhecer as diversas técnicas de análise das estruturas demográficas;

4. Saber o que se entende por envelhecimento demográfico;

5. Aplicar os conhecimentos adquiridos à resolução de problemasconcretos.

Objectivos de aprendizagem

Depois de estudar esta unidade o aluno deve ser capaz de:

• Saber definir os seguintes conceitos: Volume populacional, tipos decrescimento , tempo de duplicação em anos;

• Distinguir e definir os diferentes tipos de população;

• Definir os conceitos de crescimento populacional, distinguindo asseguintes situações: crescimento positivo/negativo, ritmos decrescimento;

• Distinguir os três tipos de crescimento da população;

• Descrever a evolução dos volumes populacionais de uma população,com base no cálculo de medidas de variação desses volumes: taxasde variação, taxas de crescimento anual médio e tempo de duplicaçãoem anos;

• Saber definir os seguintes conceitos: estrutura etária, envelhecimentona “base”, no “topo”;

• Descrever a evolução da estrutura etária portuguesa;

• Determinar a composição da população, segundo a idade e o sexo;

• Construir e interpretar uma Pirâmide etária e distinguir os Tipos dePirâmide de idades;

• Perceber a importância das Relações de masculinidade para explicaras Pirâmides de Idades;

• Definir grupos funcionais e calcular Índices Resumo.

Page 51: Caderno de Apoio de Demografia

58

Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

Leia o capítulo do livro recomendado. Capítulo III, páginas 101-125

Conteúdos Página Objectivos

3.1. Volumes, ritmos de crescimento de uma população e densidades

1.º Trabalho prático resolvido

102-105

105-108

Conhecer as diversas formas de calcular o ritmo de crescimento de uma população;

Elaborar análises regressivas e prospectivas com dados agrega-dos;

Aplicar os conhecimentos adqui-ridos à resolução de problemas concretos.

3.2. As estruturas demográficas

2.º Trabalho prático resolvido

108-118

118-121

121-125

Conhecer as diversas técnicas de análise das estruturas demo-gráficas;

Saber o que se entende por enve-lhecimento demográfico;

Aplicar os conhecimentos adqui-ridos à resolução de problemas concretos.

Page 52: Caderno de Apoio de Demografia

59

Os dados em Demografia são principalmente gerados pelas actividades dosgovernos centrais e suas agências ou por organizações internacionais. Aquantidade e a qualidade dos dados que se obtêm dependem, em parte, daexistência de boas organizações e ainda dos seus objectivos, embora tambémdependam das atitudes sociais em relação à recolha desses mesmos dados.

As estatísticas usadas para manusear os dados são em geral taxas, razões eproporções. Elas constituem os maiores instrumentos básicos da Demografiaformal. Elas permitem fundamentalmente comparações eliminando diferençasdevido a tamanhos diferentes de população.

As taxas são o instrumento de medida mais usado em análise demográfica.Por definição, uma taxa mede a frequência de um fenómeno numa populaçãodurante um período de tempo determinado. Qualquer que seja a duração doperíodo, uma taxa tem sempre uma dimensão anual.

Uma taxa é simplesmente qualquer número dividido por qualquer outronúmero.

Exemplo: a taxa de mulheres é a relação da população total de mulheres(numa dada população) a dividir pelo total da população. Geralmente afórmula é mulheres/população total x 100. Outro exemplo: a taxa de mulheresem relação aos homens será o número de mulheres a dividir pelo número dehomens numa dada população. Geralmente a fórmula é mulheres/homens x100.

Na perspectiva do estabelecimento do balanço demográfico anual, oinstrumento de medida utilizado é a taxa bruta. A taxa bruta de mortalidade,por exemplo, mede a frequência anual da mortalidade, a qual exprime tambémo risco médio anual de morte para cada mil habitantes. Qualquer taxa brutaresulta do quociente entre o número de acontecimentos (nascimentos, óbitos,migrações, casamentos) produzidos durante um determinado período e apopulação média desse mesmo período. Como todas as taxas, a taxa brutatem uma dimensão anual, o que significa que os acontecimentos, mesmoquando relativos a períodos inferiores ou superiores a um ano – devem sempreser reduzidos a essa unidade temporal.

Uma razão é usada livremente em Demografia, como em outras situaçõessimilares, e pode causar alguma confusão. Em sentido estrito o numeradorda razão é o número de acontecimentos, tais como nascimentos ou óbitos,que ocorrem num determinado período de tempo. Aqui o denominador é onúmero de “pessoas ano expostas ao fenómeno considerado” durante operíodo em causa. O aspecto mais importante a considerar é que o períodode tempo tem que ser aqui especificado. As razões em Demografia são usadas

Page 53: Caderno de Apoio de Demografia

60

a maior parte das vezes por períodos de um ano. Isto significa que o númerode pessoas/ano expostas ao fenómeno pode geralmente ser aproximado àpopulação existente no meio do ano. Por exemplo, considerando a razãoanual de mortalidade, cada pessoa que sobrevive num ano completo,contribuirá um ano para o número total de anos expostos ao fenómeno,enquanto que aquelas pessoas que morrem durante o ano, só contribuirãopara uma fracção desse mesmo ano. Esta fracção será, em média, metade doano se as pessoas morrerem ao longo do tempo. O número total de anosexpostos ao fenómeno será o somatório destas fracções que são o contributodaqueles que sobrevivem, ou seja, a média da população total durante umano que contribui para o total da exposição ao fenómeno durante um ano.

Assim a média da população será normalmente aproximada à populaçãototal no meio do ano. Isto explica porque é que as estatísticas que os serviçosproduzem anualmente são calculadas em relação ao meio do ano em vez doinício do ano.

Devemos ainda chamar à atenção que muitas medidas que são comumentedesignadas de fracções em Demografia são estritamente taxas, proporçõesou outros índices. Ex: “fracção de literação” será a proporção da populaçãoque é literata enquanto que a “taxa bruta de nascimento” é realmente umataxa porque inclui no seu denominador os idosos, as crianças e homens,nenhum deles em risco de dar à luz uma criança.

Uma proporção será um tipo especial de taxa na qual o numerador estáincluído no denominador isto é : Proporção = (x/x+y). Por exemplo aproporção da população do sexo feminino será o número de mulheres divididopelo total de homens e mulheres em conjunto. A proporção pode variar entre0,0 e 1,0. Esta medida é, em geral, expressa em percentagem que se obtémmultiplicando o valor obtido por cem.

Tipos de População

Tipo Progressivo - que apresenta um número crescente de nascimentosano a ano.

Tipo Regressivo - que apresenta um número decrescente de nascimentosano a ano.

Tipo Estável - que apresenta leis invariáveis de mortalidade efecundidade, segundo a idade, o que traduz uma taxa denascimento constante e uma estrutura por idades invariável.

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Tipo Estacionário - que apresenta uma taxa de crescimento nulo.

População Fechada - quando a estrutura é mantida ou alterada apenaspelos nascimentos e óbitos, isto é, não afectada por migraçõesexteriores. Neste caso as modificações são de três tipos: aumentoatravés dos nascimentos, diminuição através dos óbitos, eenvelhecimento de todos os sobreviventes.

A estas modificações, acrescem, no caso de uma População Aberta (quandoestá sujeita a fenómenos migratórios): as entradas de indivíduos de diferentesidades, as saídas de indivíduos de diferentes idades.

Os ritmos de crescimento

Ao longo do tempo o número de habitantes de um determinado espaçomodifica-se.

O número de pessoas que estão presentes num determinado espaço territorialdefine-se como volume populacional. Uma população não tem sempre omesmo número de habitantes, evoluí a um determinado ritmo (que pode serdiferente consoante os períodos):

• Se o crescimento for positivo (crescimento positivo): a populaçãoestá a aumentar

• Se o crescimento for negativo (crescimento negativo): a populaçãoestá a diminuir

• Se o crescimento for nulo (crescimento zero): a população está namesma.

A dinâmica da população está dependente de três acontecimentos relevantes:nascimentos, óbitos e mobilização da população. A alteração do volumepopulacional é resultado do efeito combinado de dois factores: saldo natural(diferença entre nascimentos e mortes) e o saldo migratório (diferença entreo número de pessoas que entraram e saíram do espaço territorial em análise)

A taxa de crescimento anual médio (TCAM) e o tempo de duplicação emanos da população estão dependentes destes fenómenos e principalmentedos dois primeiros.

Suponhamos uma população que num momento 0 é P0, num momento 1 éP1, num momento 2 é P2… num momento n é Pn e que cresce a uma taxa a.Para se medir o ritmo de crescimento de uma população existemfundamentalmente três processos: o contínuo, o aritmético e o geométrico.

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62

Se o crescimento for contínuo temos:

Pn = P0 e an (e = 2,718282)

Ln (Pn/P0) = an ou a = (ln (Pn/P0))/ n

Se o crescimento for aritmético temos:

a = (Pn - P0) / (P0 x n)

Se o crescimento for constante ou geométrico temos:

Pn = P0(1+a)n onde a = ritmo de crescimento que é o que queroconhecer:

Log(1+a) n

nLog(1+a)

Pn = P0(1+a) n

Pn/P0 = (1+a) n

Log Pn/P0 = Log (1+a) n

Log Pn/P0 = nLog (1+a)

Nota: O Log pode ser facilmente calculado na máquina de calcular, bastandoaccionar a função Log.

O resultado a lê-se “Em média por ano cresceu x”. Se multiplicarmos a por100, a*100, lê-se “Por ano, por cada 100 indivíduos aumentou (ou diminuiuou manteve-se) x, em média anual entre P0 e P1”.

Tempo de duplicação em anos

Com base na lógica do cálculo da taxa de crescimento geométrica podemoscalcular o tempo de duplicação em anos. Se a taxa a é uma taxa de crescimentoconstante, ao fim de quantos anos n duplicará a população? Assim temos

n = log 2/log (1+a)

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Análise das Estruturas Demográficas

Uma população é composta por um conjunto de pessoas, as quais não sedistribuem de forma idêntica pelas várias características. Isto significa que,o número de homens não é igual ao número de mulheres, que o número depessoas com estado civil de casados, solteiros, viúvos ou divorciados édiferente, que o número de pessoas nas idades jovens, activas ou idosas nãoé semelhante, etc.

Em termos demográficos existe um traço particularmente importante desseperfil, que é a composição da população segundo a idade ou tambémdesignado por estrutura etária.

Os efectivos de uma população são o número de indivíduos que compõemessa população. Esses efectivos são identificados nos recenseamentos.

A densidade populacional

A distribuição geográfica pode ser avaliada pelo conhecimento de densidadede população, isto é, o número de habitantes por Km2 (Hab/Km2). Estevalor, porém, tomado em relação ao total da área estudada, pode não traduzira verdadeira distribuição da população, pois esta encontra-se mais aglomeradaem certas zonas e mais dispersa noutras. Esta situação é traduzida pelocoeficiente de localização.

Para estudar a densidade populacional é conveniente dividir o território emzonas mais pequenas - no caso de um país, podem adaptar-se as divisõesadministrativas, no caso de uma cidade, podem considerar-se os bairros, etc.

A população pode ainda distribuir-se por aglomerados rurais e urbanos. Aprimeira reside isolada no campo ou em pequenos núcleos. A segunda vivenas cidades ou em povoações de certa importância. Geralmente estes doisgrupos comportam hábitos, profissões, exigências e atitudes diferentes.

Sob o ponto de vista estatístico é necessário distinguir os aglomerados urbanose rurais.

Centro urbano – é designada uma localidade, qualquer que seja a categorialegal (cidade, vila, etc.) que, na sua área urbana demarcada pela CâmaraMunicipal respectiva conta com 10 000 ou mais habitantes.

A Densidade é a População por quilómetros quadrados (KM 2). Calcula-se:n.º de habitantes/Km2.

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A repartição por sexo e idades (Pirâmide de idades, Relações deMasculinidade, Grupos Funcionais e Medidas Resumo)

Os recenseamentos dão a conhecer o estado de uma população numdeterminado momento do tempo. Conhecer o estado da população remetepara a sua caracterização, segundo diferentes critérios, como sejam o estadocivil, a actividade económica, o grau de instrução, o lugar de residência, etc.A consideração e qualquer um desses critérios conduz à definição de diferentessub-populações da população: população casada, população activa, populaçãoanalfabeta, população urbana, etc.

Mas as categorias primordiais de qualquer população são rigorosamente duas:a idade e o sexo. A bi-polarização entre população masculina e popu-lação feminina traduz diferenças de género essenciais do ponto de vistademográfico, que decorrem de clivagens incontornáveis não apenas bioló-gicas – em particular, no que concerne à procriação – mas também sociais eculturais.

Quanto à importância da idade, ela decorre essencialmente de dois aspectos:

1) a acção permanente do tempo provoca mudanças das característicasdos indivíduos e da população, que condicionam as suas aptidões ecapacidades (efeito de idade).

2) Os comportamentos e o significado sócio-demográfico de cada classeetária variam consoante as épocas (efeito de geração).

As Pirâmides de idades

Trata-se de um duplo histograma, formado por uma ordenada comum(vertical)- que representa as idades (aniversários) – e duas abcissas, querepresentam os efectivos, respectivamente do sexo masculino (à esquerda) edo sexo feminino (à direita).

Existem três grandes tipos de pirâmides de idade:

1. Em Acento Circunflexo – populações jovens

Esta Pirâmide tem uma base larga, que diminui rapidamente conforme seavança para idades mais avançadas. É uma pirâmide típica de países comuma forte natalidade e mortalidade – descreve, sobretudo, populações depaíses em vias de desenvolvimento.

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2. Em Urna – muita população a meio da pirâmide

Neste caso tratam-se de populações onde se assiste a uma progressiva quebrada fecundidade. Nestes casos, a base da pirâmide mantém-se como a partemais reduzida do gráfico, embora apresente um retraimento em relação aevoluções anteriores. Nestes casos, a pirâmide toma o formato de uma urnae é típica dos países desenvolvidos durante os primeiros anos de uma baixapouco significativa da fecundidade.

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3. Em Ás de Espadas - população envelhecida

Este gráfico assume a forma de um às de espadas ou maçã, pois a parte maislarga da pirâmide corresponde às idades intermédias. Face À diminuição dafecundidade, a natalidade acaba por cair para valores muito baixos e a baseda pirâmide diminui – a representatividade dos idosos na população torna-sesuperior À dos jovens. Nestes casos, os níveis de natalidade já estão muitobaixos e, por isso, a base da pirâmide é alimentada com menos indivíduos, oque provoca o seu estreitamento – trata-se do envelhecimento na base dapirâmide.

Por outro lado, a mortalidade também é baixa o que causa o alongamentodas classes correspondentes aos idosos – trata-se do envelhecimento notopo da pirâmide.

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Estrutura Etária da população

A distribuição da população por sexo e idade é registada na altura dosrecenseamentos da população. Os efectivos da população masculina efeminina, são dados por cada ano de idade, constituindo uma informaçãoexaustiva de base.

Como não é prático trabalhar a informação assim apresentada, convencionou-se agrupar as idades em classes, para facilitar a leitura e a análise dos dados.

A OMS recomenda os seguintes agrupamentos para fins gerais:

< 1 ano, de ano a ano até aos 4 anos inclusivé, por grupos de cinco anos,desde os 5 anos aos 84 anos, de 85 e mais.

O efectivo de cada grupo de idades (absoluto ou relativo) é representado porum rectângulo cuja área é proporcional ao efectivo respectivo. Quando adistribuição por idades é dada por classes de igual intervalo, a construção dográfico não oferece dúvida, pois as bases do rectângulo correspondem àamplitude das classes e o comprimento aos efectivos correspondentes.

Sempre que a distribuição por idades é feita em grupos etários de diferentesamplitudes, torna-se necessário reduzir os efectivos a uma unidade comum.

Exemplo:

Idades Efectivos masculinos Efectivos femininos

0 X Y

1 - 4 X + 1 Y +1

5 - 9 X + 2 Y + 2

10 - 14 X + 3 Y + 3

Assim temos:

A altura ou base do rectângulo que corresponde ao número de anos ou dogrupo de idade considerado.

O comprimento do rectângulo que corresponde ao efectivo E do grupo deidade considerado dividido pelo intervalo de classe, isto é, E/N. A área dorectângulo é igual ao produto do comprimento pela altura.

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Deve-se sempre complementar uma pirâmide de idades com o cálculo dasrelações de masculinidade por grupos de idade.

Para se comparar 2 pirâmides de idades ou 2 populações deve-se:

• comparar no tempo

• comparar no espaço

A construção das pirâmides de idades tem como base os grupos de idadesconsideradas e os sexos correspondendo aos rectângulos referidos.Convencionou-se que os efectivos do sexo masculino figuram à esquerda doeixo e os efectivos do sexo feminino à direita do eixo do gráfico.

PIRÂMIDES DE IDADE (estruturas relativas e grupos de idadesquinquenal)

1.º – Calcula-se a estrutura etária relativa – sexos separados:

Divide-se a população (sexos separados) de cada grupo de idades pelo totalda população (sexos reunidos) e multiplica-se cada resultado por 100.

No caso do último grupo de idade (aberto), se os seus valores foremsuperiores aos do grupo fechado anterior dividem-se esses valores por 2 atése obterem valores dificilmente representáveis.

Objectivo: não deformar o topo da pirâmide.

Grupos de Idade Homens Mulheres Homens (%) Mulheres (%)

0 – 4 30 25 2,0 1,7 5 – 9 25 22 1,7 1,5

..

..

75 – 79 10 14 0,7 0,9 80 + 15 25 1,0 1,7

Total 1500 100 100

Grupos de idades (Anos) Homens (%) Mulheres (%)

80 -84 0,5 0,9

85 - 89 0,3 0,4

90+ 0,2 0,4

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2.º Conta-se o número de G.I que se vão considerar(no caso: do GI de 0 - 4 ao GI de 90 e mais anos existem 19 GI )

3.º Verifica-se qual a percentagem (%) máxima obtida(por hipótese 6%)

4.º O eixo das abcissas (horizontal) é constituído por dois sub-eixos: àesquerda (sexo masculino), à direita (sexo feminino)(cada sub-eixo vai variar de 0% a 6%)e fixa-se uma medida a atribuir a cada variação de 1% (por exemplo 1cm)

5.º Traça-se a base, deixando um espaço para o corredor central (ondese irão colocar os Grupos de Idade).

6.º A altura da pirâmide deve ser encontrada após a aplicação do seguinteprincípio: altura = 2/3 da base. (altura = 2/3 *12 cm ou seja = 8 cm)

7.º Determina-se a escala a atribuir a cada grupo de idades dividindo-sea altura total pelo número de grupos de idade considerados.

(8 cm/19 GI = 0,4 cm - Se se considerar 0,5 cm para cada GI a altura total dapirâmide (9,5 cm) continuará menor que a largura da base).

8.º Por fim, traça-se o eixo vertical e representa-se, para cada GI (sexosseparados), as % correspondentes, sendo o comprimento de cada rectân-gulo proporcional a essas percentagens.

Pirâmides Etárias

Os Gráficos seguintes mostram as pirâmides de etárias do Algarve e doContinente, nos Recenseamentos de 1981 e 1991.

Como se pode observar através da largura da base das pirâmides, o Continenteapresenta uma população mais jovem do que o Algarve. As pirâmides doAlgarve, apresentam uma forma mais quadrada, denotando uma populaçãoem envelhecimento. Pelo contrário, a forma de acento circunflexo, indiciauma população em crescimento.

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Em ambos os casos, a diminuição das taxas de natalidade é evidente noafunilamento das pirâmides, em 1991, nas classes dos 0 aos 15 anos.

Os Gráficos seguintes mostram as pirâmides etárias do Algarve nosrecenseamentos de 1981 e 1991.

Fonte: INE – Recenseamento geral da população

Os Gráficos seguintes mostram as pirâmides etárias de Portugal Continentalpara 1981 e 1991.

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Em análise demográfica, quando se quer ter uma visão rápida da evoluçãoou da diversidade das estruturas, opta-se por compactar a informação segundodeterminados critérios. O mais importante é o da idade, ou seja, concentra-se num reduzido número de grupos a totalidade da informação, tornandomais funcional a análise: são os grupos funcionais.

A população passa a estar dividida em três grandes grupos etários, sexosseparados ou reunidos:

No grupo de menos de 15 anos, existe um escasso potencial produtivo, egrande consumo de bens.

No grupo dos 15 aos 64 anos, grupo considerado economicamente activo emque geralmente a sua produção excede o consumo.

O grupo dos 65 e mais anos, com uma produtividade reduzida, mas aindacom um menos índice de consumo comparado com o 1.º grupo.

A importância relativa do primeiro grupo, mede o grau de envelhecimentoda população.

Uma vez decomposta uma estrutura demográfica em grupos funcionais, torna--se necessário proceder à sua manipulação no sentido de os transformar emindicadores que resumam a informação existente numa repartição por sexose idades: são os índices-resumo.

Índices Resumo

• Percentagem de jovens: (pop. 0-14 anos/ população total) x 100

• Percentagem de “potencialmente activos”: (pop. 15-64 anos/população total) x 100

• Percentagem de idosos: (pop. 65 e + anos/ população total) x 100

Jovens J 0 -19 ou 0 - 14

Activos A 20 - 59 ou 15 - 64

Idosos I 60+ ou 65+

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• Índice de Juventude: (pop. 0-14 anos/ população 65 e + anos) x 100

• Índice de Envelhecimento: (pop. 65 e + anos/ pop. 0-14 anos) x 100

• Índice de Dependência de Jovens : (pop. 0-14 anos/ população 15-64anos) x 100

• Índice de Dependência de “Idosos” : (pop. 65 e + anos/ população15-64 anos) x 100

• Índice de Dependência Total: (pop. 0-14 anos e 65 e + anos/população15-64 anos) x 100

Na análise da estrutura etária das populações devem calcular-se certas relaçõesentre efectivos, não só para observar a sua evolução ao longo dos anos, mastambém para avaliar certas implicações sócio-económicas.

Actividades propostas e questões para revisão

1. Diga o que entende por “crescimento” da população.

2. No final do ano de 1981 a população portuguesa cifrou-se em9.833.000 indivíduos e, dez anos depois, em 1991, esse valor foi de 9862.540 indivíduos. Com base nestes dados, calcule:

a) A taxa de crescimento anual média, para a década de oitenta.Inte o resultado obtido.

b) O tempo de duplicação em anos. Interprete o resultado obtido.

1. Com base nos dados apresentados no quadro seguinte (populaçãoportuguesa, distribuída por grupos etários quinquenais, para 1991 –sexos separados e reunidos):

a) Preencha a coluna do efectivo de mulheres.

b) Calcule a percentagem de jovens, de pessoas em idade activa eidosos (sexos reunidos)

c) Calcule, para os sexos reunidos, o índice de envelhecimento, arelação de dependência total, a relação de jovens. Interpretecada um dos resultados obtidos.

d) Construa a pirâmide de idades e o gráfico das relações demasculinidade. Comente as figuras obtidas.

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73

2. Observe o seguinte quadro:

a) Comente a evolução destes índices na década de oitenta.

Grupos etários Homens Mulheres HM

0-4 278679 544309

5-9 331337 646161

10-14 398620 781933

15-19 428240 845588

20-24 386651 765248

25-29 359556 726628

30-34 340986 694606

35-39 321775 661076

40-44 307655 634519

45-49 271665 569623

50-54 265623 559346

55-59 263265 562041

60-64 245150 533325

65-69 211990 470049

70-74 149226 344747

75-79 109813 271089

80 + 86544 256859

Total 4 756 775 9 867 147

Índices 1981 1991

% de Jovens 25,5 20,0

% pop. Idosa Activa 63,0 66,4

% de Idosos 11,4 13,6

Índice de Envelhecimento- IE (%) 44,9 68,1

Relação de Dependência dos Jovens – RDJ (%) 40,5 30,1

Relação de Dependência dos Idosos – RDI (%) 18,2 20,5

Relação de Dependência Total – RDT (%) 58,6 50,6

Page 67: Caderno de Apoio de Demografia

74

Indicações bibliográficas

NAZARETH, J. Manuel

1985 A demografia portuguesa no século XX: principais linhas de evo-lução e transformação. Análise Social, 21 (87-88-89).

1988 Princípios e Métodos de Análise da Demografia Portuguesa. Lis-boa, Editorial Presença.

PRESSAT, R.

1967 Pratique de la demographie. Dunod, Paris, 1967.

TORRES, A.

1996 Demografia e desenvolvimento: elementos básicos. Colecção Tra-jectos Portugueses, Editora gradiva, Lisboa.

INE

1981 Recenseamento Geral da População. 1981.

INE

1981 Recenseamento Geral da População.

1991 Recenseamento Geral da População.

NUNES, A. B.

1991 A evolução da estrutura por sexos, da população activa em Por-tugal – um indicador do crescimento económico. Análise Social,vol. XXVI (112-113).

Page 68: Caderno de Apoio de Demografia

IV. Fontes e Testes à Qualidade dos Dados

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Objectivos do capítulo

1. Conhecer as características fundamentais e o conteúdo dos principaissistemas de informação existentes em Portugal, na Europa e nomundo;

2. Identificar as vantagens e os inconvenientes de cada um dos sistemasde informação demográfica, tendo em consideração as necessidadesde dados de uma investigação em análise demográfica;

3. Conhecer as principais técnicas de análise da qualidade dos dadosdemográficos, e aprender a escolher essas técnicas em função dossistemas de informação utilizados;

4. Aplicar os conhecimentos adquiridos à resolução de alguns problemasconcretos.

Objectivos de aprendizagem

Depois de estudar esta unidade o aluno deve ser capaz de:

• Enumerar as várias fontes de dados em Demografia;

• Distinguir os recenseamentos das Estatísticas demográficas;

• Testar a qualidade dos dados.

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Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

Leia o capítulo do livro recomendado. Capítulo 4: páginas 126-159

Conteúdos Página Objectivos

4.1. Os sistemas de Informação demográfica

128-138 Conhecer as características funda-mentais e o conteúdo dos principais sistemas de informação existentes em Portugal, na Europa e no mundo;

Identificar as vantagens e os incon- venientes de cada um dos sistemas de informação demográfica, tendo em consideração as necessidades de dados de uma investigação em análise demográfica;

4.2. A análise da qualidade da informação

3. Trabalho prático resolvido

138-145

149-159

Conhecer as principais técnicas de análise da qualidade dos dados demográficos, e aprender a esco- lher essas técnicas em função dos sistemas de informação utilizados;

Aplicar os conhecimentos adqui- ridos à resolução de alguns proble- mas concretos.

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Fontes – Tipos de dados em Demografia

Os elementos brutos da Demografia são os dados recolhidos nos censos, emestudos, nos registos dos vários sistemas, etc.

Estes dados podem ser apresentados de muita maneira, mas sobretudo, emduas formas fundamentais.

Em primeiro lugar temos os dados recolhidos dos censos da população ouinquéritos semelhantes ao censo. O censo produz o registo das pessoas numdado momento, ou seja, produz uma informação “fotográfica” transversal dapopulação existente, o seu tamanho, a sua estrutura, como ela é observadano momento do censo. As comparações dentro de um censo, ou entre censos,envolvem em geral, quer números absolutos quer o cálculo de proporções.

Segundo, existem dados normalmente recolhidos pelos registos dos diferentessistemas. Os dados produzidos são o registo dos acontecimentos durante umdeterminado intervalo de tempo, em geral um ano. Os dados sãoessencialmente dinâmicos na sua natureza, porque fornecem informação nodecorrer do tempo.

Devido a que o número de nascimentos, óbitos, movimentos da população,ou outros acontecimentos, ocorrem durante um período, são afectados pelonúmero de pessoas “em risco”, de ser “um nascimento”, um “óbito”, uma“migração”, etc. Sendo comum, nesse contexto, serem calculadas taxas deocorrências, permitindo comparações de níveis de mortalidade, fertilidade,mobilidade, etc. em vez de somente o número de nascimentos, de óbitos oude migrações.

Tendo em conta que alguns desses dados podem conduzir a enviezamentos,a recolha de dados demográficos têm que ser hierarquizados e explicitadospois eles influenciarão os modos de análise restringindo as possibilidades dealgumas análises.

Introdução

Poucos são os dados que são recolhidos principalmente com finsdemográficos. A maior parte deles são produzidos para, ou como, produtode actividades administrativas levadas a cabo ou controladas pelos governosou agências internacionais e onde os demógrafos têm pouco controle do modopreciso como eles são recolhidos, agregados ou apresentados. Contudo estesdados são utilizados pois geralmente são os que estão disponíveis.

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A origem dos dados para análise demográfica são os registos vitais, os censos,os controles de migração, as campanhas de saúde pública, os programas decontrolo da população, os inquéritos especiais, entre outros.

Os Recenseamentos

O recenseamento é um conjunto de operações baseadas em registosindividuais, que permitem conhecer todo (universalidade) o efectivopopulacional de um território numa data precisa (simultaneidade), comdetalhes sobre a repartição dessa população por unidades administrativas esegundo um número mais ou menos vasto de características (sexo, idade,residência, profissão).

Devem respeitar uma determinada periodicidade (de 10 em 10 anos no casode Portugal).

Os censos existem fundamentalmente para ajudar o planeamento,especialmente o aprovisionamento e regulamentação dos serviços básicos(água, vias de comunicação e outros serviços, por exemplo). Na maior partedos países democráticos a distribuição da população, dada pelo censo, tambémdetermina o nível de representação eleitoral e a possibilidade do padrão derecursos do governo central. Muitas das intervenções do governo, no campoda saúde e da segurança social, produzem dados demográficos, que em geralresultam de dados do programa de avaliação dessas intervenções.

Determinados inquéritos muitas vezes orientados com um objectivo bemdeterminado, também são fonte de dados demográficos que são, mais oumenos, independentes do sistema convencional.

As principais características de um censo, e que o diferencia de um inquérito,é que em primeiro lugar ele é um registo global do total da população dentrode uma determinada área geográfica definida. Em segundo lugar, como nãoenvolve amostragem, cada pessoa é enumerada separadamente. Em terceirolugar, ele não é um exercício voluntário e tem que ter uma base legal para otornar compulsório e ser incluída e providenciada a informação pretendida.Finalmente, é obrigatório ser relacionado com um dado momento no tempoe não num período.

Um censo é uma recolha de dados sobre a população levada a cabo de umasó vez num dado país e envolve: formulação de um questionário, planeamentoe organização de uma equipa, processamento e análise dos dados e divulgaçãodos resultados.

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As Nações Unidas recomendam que os censos se realizem de 10 em 10 anos,de preferência nos anos terminados em 0 e 1. O objectivo é, em primeirolugar, obter informação em intervalos regulares a fim de facilitar comparaçõesao longo do tempo e, em segundo lugar, tentar sincronizar os censos de modoa poder comparar a informação obtida para diferentes países. Nesse contexto,os dados devem ser publicados no período mais curto possível após a recolha,em geral no máximo 2 anos.

A informação recolhida pelos censos pode ser variada. Deve ser suficientepara atingir os seus objectivos de recolha de informação sobre a população enão ser muito exaustivo para ser exequível. Contudo, o mínimo geralmenteexigido é: o nome, idade, sexo, relação com o chefe de família, estado civil,raça, religião, grupo étnico, educação, ocupação, situação no trabalho,migração, habitação. A qualidade da informação está geralmente relacionadacom a extensão dos questionários e com a clareza das perguntas, embora oscensos envolvam uma grande complexidade logística e técnica. A maiorpreocupação logística dos censos deverá ser a minimização dos erros narecolha de informação.

Os principais erros dos censos são: cobertura incompleta da população (ossem abrigo, nómadas, estudantes, crianças), a falta de qualidade em vez dequantidade.

(Ver anexo 1 – recenseamento 1991)

As Estatísticas demográficas de Estado Civil

São o conjunto de informações sobre os nascimentos, óbitos, casamentos,divórcios e separações judiciais, saídas ou entradas, ocorridas num territóriodurante um determinado período (normalmente um ano), baseadas nosboletins de registo civil desses acontecimentos, com detalhes sobre a suarepartição por unidade administrativa e segundo um número mais ou menosvasto de características (sexo, idade, etc.).

O sistema de registos vitais e os controlos de migração existem acima detudo por questões legais: a produção de certificados de nascimento e de óbito,passaportes, cartões de identidade, certificados de autorização de trabalho,autorização de residência e de cidadania, etc.

Na maioria dos países desenvolvidos o sistema de registo dos acontecimentosvitais fornece a maior parte da informação dos nascimentos, casamentos,óbitos e por vezes os dados de migração. Nos países em desenvolvimento,

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82

estes sistemas de recolha de informação são na maior parte das vezesincompletos e por vezes nem existem, nem são explorados com finsdemográficos. Isto explica que os objectivos do registo desta informação sãoessencialmente administrativos e legais e não demográficos.

(Ver anexo 2 – estatísticas demográficas 1990 e 1991)

Outras Fontes Demográficas

Os Inquéritos demográficos são inquéritos por amostragem baseando-se narecolha de informações, com base numa amostra representativa do universoda população em análise, visando aprofundar o estudo sobre uma questãodemográfica particular (ex: Inquérito português à fecundidade, que incluivariáveis como “o uso de métodos contraceptivos, o número de filhosdesejado, local de residência na infância, etc.).

Os inquéritos por amostragens usados em Demografia podem ter umavariedade de aspectos, mas o aspecto essencial é que ele envolve uma amostrada população. A vantagem da amostra é que ela reduz o esforço referido epor consequência o custo, quando comparado com um censo tipo completo.No entanto, podem surgir erros de medição. Se a amostra tiver uma baseadequada, este erro pode ser medido e assim minimizado.

Os inquéritos por amostras são contudo fontes importantes de dadosdemográficos frente aos problemas acima mencionados do censo e do registoda informação - por ex: a impossibilidade de fazer muitas perguntas ouperguntas complexas e, especialmente nos países em desenvolvimento a pobrequalidade dos dados que produzem. As vantagens dos inquéritos por amostras,para além de serem mais económicos, é que podem ser organizados eexecutados de forma relativamente rápida e podem recolher muito maisdetalhes que um censo, incluindo informação de comportamentos para osquais os entrevistadores podem ser treinados.

A sua principal desvantagem é a introdução de erros de amostragem. Istosignifica que são necessários grandes números para produzir resultadosfiáveis. Do ponto de vista dos inquéritos demográficos, a unidade deobservação é o domicílio, não o indivíduo, e esta ajuda a reduzir custos eespecialmente complexidade administrativa.

Existem vários tipos de inquéritos por amostragem em Demografia:

Primeiro existem informações dos censos tipo, o que talvez substitua umcenso completo ou simplesmente o existente, fazendo uma ampla distribuição

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83

de questões numa amostra da população envolvida. Os inquéritos designadospara investigar alguns tópicos particulares, como o uso de contraceptivos,emprego das mulheres, ou causas e consequências da migração também caiemnesta categoria de exemplos.

Segundo, existem inquéritos retrospectivos, assim designados pois fazemperguntas acerca de acontecimentos que aconteceram no passado. Nos paísesem desenvolvimento inicialmente utilizados para reunir informação que ossistemas normalmente fornecem.

O nível das perguntas retrospectivas, grosseiramente usadas pelos demógrafos,são por ordem de importância: número total de crianças que nasceram vivas,número de crianças que vivem em casa, nº de crianças que saíram e morreram(usado para conferir o número e para fazer uma estimativa da mortalidadeinfantil), tempo decorrido desde o último nascimento (usado principalmentepara determinar os nascimentos no último ano), se a mãe é viva, se o pai évivo, se o primeiro marido é vivo.

Existem ainda uma larga gama de técnicas indirectas sofisticadas, que podemservir para a recolha de dados sobre questões específicas que deverão serformuladas e utilizadas de acordo com o objectivo e o grau de precisão quese pretende obter.

Outras fontes a salientar são as estatísticas de saúde e os anuários estatísticos.

Em conclusão, poderemos dizer que existem três grandes fontes para a recolhade dados em Demografia (informação dos censos tipo, inquéritos poramostragem, técnicas indirectas de perguntas por questões específicas) quenão são alternativas umas das outras, embora uma possa, eventualmente, serusada na ausência ou deficiência da outra.

Um censo é mais ou menos essencial para fornecer uma base de dados sem oqual o sistema de registo ou um inquérito por amostra é menos útil. Nospaíses em desenvolvimento, os inquéritos por amostragem podem investigardeterminados aspectos deficientes nos censos e dar mais fiabilidade àinformação disponibilizada pela má qualidade fornecida por esses censos.

Os censos, ou inquéritos dos censos tipo, geralmente produzem informaçãoda população existente num determinado momento no tempo; enquanto queos sistemas de registos vitais produzem informação em fluxos, números ouacontecimentos que ocorrem ao longo do tempo. Estes últimos podem tambémser obtidos indirectamente através de perguntas retrospectivas em inquéritose censos ou por inquéritos prospectivos. Ambos os tipos de dados sãolargamente usados, frequentemente em combinação e em análise demográfica.

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84

Qualidade dos dados – testes elementares à qualidade dos dados

A Relação de Masculinidade dos nascimentos

Depois de termos analisado as principais fontes demográficas vejamos agoraa questão da qualidade dos dados.

A relação de masculinidade dos nascimentos permite testar a qualidade dasestatísticas de estado civil. Inicialmente concebido para avaliar a qualidadede registo dos nascimentos, este teste revelou-se um bom indicador daqualidade global dos dados estatísticos demográficos.

Este indicador relaciona o número de nascimentos masculinos por cada 100nascimentos femininos, ou seja

(nascimentos masculinos/ nascimentos femininos) x 100

É a relação dos nascidos vivos masculinos com os nascidos vivos femininosrealizados num determinado período. Permite ver se existem ou não erros aonível dos registos dos nascimentos (desequilíbrios ao nível dos registos dossexos).

Como funciona este teste? Sabemos que nos países com boa qualidade deestatísticas demográficas a relação de masculinidade dos nascimentos andaà volta de 105 (ou seja, por cada 100 raparigas nascem 105 rapazes).

A existência de desvios acentuados, em relação a este valor, não pode sersenão a consequência directa das flutuações aleatórias, mesmo no caso deestarmos em presença de uma observação perfeita. Não podemos concluirlogo que a qualidade dos dados é má. Existem as flutuações que têm a vercom o número de ocorrência.

É necessário ver se deve à dimensão da população ou à má qualidade dosdados.

Em função do número de nascimentos observados é, no entanto, possívelprecisar o intervalo de variação deste erro, que é devido à existência depopulações pouco numerosas. Para tal existe uma fórmula, para se encontraro intervalo de confiança dentro do qual os nascimentos masculinos podemvariar:

Para um total de 1000 nascimentos temos, em teoria, 512 nascimentosmasculinos e 488 nascimentos femininos, ou seja, uma proporção de 0,512.

Page 77: Caderno de Apoio de Demografia

85

Os limites do intervalo de confiança a 95% são determinados pela fórmula

0,512 + - 1,96 √ (0,512 x 0,488) / n , onde n é onúmero total de nascimentos

depois calcula-se x / (1- x) × 100 e y / (1- y) × 100, para encontrar oslimites do intervalo de confiança. Se o valor encontrado no cálculo das relaçõesde masculinidade dos nascimentos estiver incluído no intervalo de confiança,podemos afirmar que a qualidade de registo de nascimentos é boa. Se o valorencontrado no cálculo das relações de masculinidade dos nascimentos nãoestiver incluído no intervalo de confiança pode dever-se a:

• má qualidade dos dados

• sobreregisto de nascimentos masculinos

• subregisto de nascimentos femininos

A preocupação de rigor, que caracteriza a Demografia e o uso frequente deestatísticas de qualidade muito duvidosa, faz com que o demógrafo sinta aobrigação constante, antes de iniciar qualquer análise demográfica, de testara qualidade dos dados que vai trabalhar e se possível, corrigi-los.

Os métodos para testar dados incompletos e incorrectos são inúmeros, sendoos mais importantes, divididos em duas categorias:

Índice de Irregularidade das idades

Se o método anterior se destina a analisar a qualidade dos dados das estatísticasde estado civil, este tem por fim analisar a qualidade dos dados dos recensea-mentos.

Este teste serve para provar se existe ou não concentração em determinadasidades.

Trabalha-se com sexos separados

A sua elaboração é bastante simples:

• Colocam-se os efectivos das idades cuja atracção se pretende medirem numerador (por exemplo, se pretendemos medir a atracção pelo 6

Page 78: Caderno de Apoio de Demografia

86

os numeradores serão efectivos com 6, 16, 26, 36, 46, 56, 66,76,…anos);

• No denominador, colocam-se as médias aritméticas dos efectivos dos5 anos que enquadram essas idades. (por exemplo, no caso dos 6anos, soma-se a população com 4, 5, 6, 7, 8 anos e divide-se porcinco, no caso dos 16 anos, soma-se a população com 14, 15, 16, 17,18 e divide-se por cinco, e assim sucessivamente);

• Partindo do princípio que as idades centrais correspondem à médiados efectivos de 5 anos que enquadram essas idades, divide-se onumerador pelo denominador em cada caso e multiplica-se o resultadopor 100;

• Obtêm-se assim diversos índices (no exemplo dado I6, I16, …) quesão representados graficamente; quando os índices obtidos têm umvalor superior a 100 existe atracção; quando os índices obtidos têmum valor inferior a 100 existe repulsão.

A relação entre o efectivo real e o efectivo teórico fornece-nos um índice,que à medida que se afasta da unidade (ou de 100 se multiplicarmos por estenúmero) demonstra a força do arredondamento.

Exemplo: seleccionar todas as idades terminadas em 6 e aplicar a fórmula:

⇒ Numerador- todos os indivíduos que declararam ter idades termi-nadas em 6 e de um dos sexos.

⇒ Denominador para a idade 36 = vou buscar 2 idades antes (34, 35)e 2 depois (37, 38), vou adicionar todas e dividir por 5.

Resultados possíveis:

Atracção máxima – se todos dizem que têm 36 (total de 500).

Repulsa máxima – se ninguém tem 36 (dá-nos um total de 0).

Se os valores andarem à volta de 100 podemos assumir que a qualidadeé boa.

Existe ainda o Índice de Whipple que também pode ser utilizado para testara qualidade dos recenseamentos (para mais detalhes veja as páginas 108-109do livro adoptado).

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O Índice Combinado das Nações Unidas (ICNU)

Este indicador, em vez de medir a atracção por determinadas idades, mede aqualidade global de um recenseamento. Trata-se de um instrumento muitocómodo de calcular e que possibilita a realização de comparações interessantesno tempo e no espaço.

Em termos práticos, o ICNU calcula-se da seguinte forma:

• Preparam-se os dados de modo a termos uma distribuição dapopulação por sexos e grupos de idades quinquenais (não convémultrapassar os 80 anos de idade);

• Calculam-se as relações de masculinidade em cada grupo de idadesdividindo os efectivos masculinos pelos efectivos femininos e multipli-cando o resultado por 100; fazem-se as diferenças sucessivas entre asdiversas relações de masculinidade obtidas, somam-se em módulo ecalcula- se a diferença média para se obter o índice de regularidadedos sexos;

• Para cada sexo calcula-se um índice de regularidade das idades; esteíndice constrói-se calculando, em primeiro lugar, as relações deregularidade dividindo cada grupo de idades pela média aritméticados dois grupos que o enquadram; posteriormente fazem-se asdiferenças a 100 e faz-se a média das diferenças absolutas;

• O ICNU obtém-se dando um coeficiente 3 ao obter o índice de regula-ridade dos sexos e um coeficiente 1 aos dois índices de regularidadedas idades.

De forma a facilitar a interpretação as Nações Unidas, sugerem uma grelhaclassificativa:

< 20 – Bom

20-40 – Mau

> 40 – Muito Mau

A Equação de Concordância

A Equação de Concordância irá ser vista em detalhe na análise dosmovimentos migratórios. (Páginas 143-145 do livro adoptado).

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Actividades propostas e questões para revisão

1. Veja, em anexo (anexo 2), os dados das estatísticas demográficas para1990/91 e do recenseamento de 1991 (anexo1).

a) Aprecie a qualidade dos dados das estatísticas demográficas.

b) Calcule o Índice Combinado das Nações Unidas no ano de 1991.Como considera estes dados?

Indicações bibliográficas

LESTON, Bandeira M.

1996 Demografia e modernidade. Família e transição demográfica emPortugal. Análise Social, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lis-boa.

NAZARETH, J. Manuel

1985 A demografia portuguesa no século XX: principais linhas de evo-lução e transformação. Análise Social, 21 (87-88-89).

1988 Princípios e Métodos de Análise da Demografia Portuguesa, Lis-boa, Editorial Presença.

SERRÃO, J.

1973 Fontes da demografia portuguesa, Livros Horizonte, Lisboa.

TORRES, A.

1996 Demografia e desenvolvimento: elementos básicos. Colecção Tra-jectos Portugueses, Editora Gradiva, Lisboa.

Page 81: Caderno de Apoio de Demografia

V. Os Princípios de Análise Demográfica e o Diagrama de Lexis

Page 82: Caderno de Apoio de Demografia

91

Objectivos do capítulo

1. Compreender o funcionamento do diagrama de Léxis;

2. Identificar os Princípios Gerais de Análise Demográfica;

3. Aplicar os Princípios Fundamentais de Análise Longitudinal;

4. Aplicar os Princípios Fundamentais de Análise Transversal;

5. Aplicar os conhecimentos adquiridos à resolução de alguns problemasconcretos.

Objectivos de aprendizagem

Depois de estudar esta unidade o aluno deve ser capaz de:

• Distinguir as noções de acontecimento e de fenómeno;

• Conhecer e descrever os princípios gerais da análise demográfica;

• Compreender a utilidade e as funções de um diagrama de lexis;

• Representar os efectivos no diagrama de lexis.

Page 83: Caderno de Apoio de Demografia

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Conteúdos Pág. Objectivos

5.1. O diagrama de Lexis

161-163 Compreender o funcionamento do diagrama de Lexis

5.2. Princípios Gerais de Análise Demográfica

163-165 Identificar os Princípios Gerais de Análise Demográfica

5.3. Princípios de análise longi- tudinal

165-171 Aplicar os Princípios Funda- mentais de Análise Longitudinal

5.4. Princípios de análise em transversal 4º Trabalho prático resolvido

171-178

179-187

Aplicar os Princípios Funda- mentais de Análise Transversal Aplicar os conhecimentos adqui- ridos à resolução de alguns proble- mas concretos

Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

Leia o capítulo do livro recomendado. Capítulo V, páginas 160-187

Page 84: Caderno de Apoio de Demografia

93

Princípios Gerais de Análise Demográfica

Vamos ver quais são os princípios de análise demográfica: os princípios geraisda análise demográfica são seis (análise longitudinal, análise transversal,“estado puro”, “estado perturbado”, acontecimentos renováveis eacontecimentos não renováveis).

A Demografia, ao analisar fenómenos e ao recolher acontecimentos pode serdefinida como a ciência que estuda determinados fenómenos a partir dosacontecimentos.

O “estado puro” e o “estado perturbado“

Em termos de observação temos 2 tipos:

1. Observação em estado puro: Só o acontecimento aliado do resto.Por exemplo, só a mortalidade, isolada dos outros fenómenos.

2. Observação em estado perturbado: Combina as variáveis, morta-lidade, migrações.

Acontecimentos renováveis e acontecimentos não renováveis

Acontecimentos renováveis: podem transformar-se em não renováveis.

Exemplos: casamento – 1.º casamento, nascimentos – 1.º filho

Acontecimentos não renováveis. Exemplo: morte

Efectivos: Número de indivíduos que fazem parte de um mesmoacontecimento.

Coortes: Conjunto de indivíduos submetidos ao mesmo acontecimento deorigem durante um mesmo período de tempo.

Acontecimentos Fenómenos

Nascimentos Natalidade

Óbitos Mortalidade

Migrações/Migrantes Movimentos Migratórios

Casamentos Nupcialidade

Page 85: Caderno de Apoio de Demografia

94

Uma geração é uma coorte de nascimentos, conjunto de pessoas que nasceramno mesmo período. Uma coorte de casamentos é uma “promoção”.

Análise transversal e análise longitudinal

Análise Longitudinal ou por coortes: Se tivermos uma coorte, acompanha--se durante um longo período, apanhando vários momentos do tempo.

Significa observar os acontecimentos ao longo da vida dos indivíduos, o queenvolve necessariamente vários anos de calendário.

Análise Transversal ou análise do momento: Um período/momento dotempo (normalmente um ano civil). Caracteriza-se um momento do tempoque contém múltiplas coortes.

A análise transversal permite transformar a informação de acontecimentosem fenómenos. Por exemplo: taxa “x” = acontecimentos/população média(pop.1 + pop.2/2)*100

Idade exacta e anos completos: Unidades de tempo e em fracções. Porexemplo: 26 anos, 1 mês e 3 dias.

Uma criança que tem 3 anos e 6 meses tem 3 anos completos, o que significaestar entre 3 e 4 anos exactos.

O Diagrama de Lexis

Este diagrama, inventado pelo estatístico alemão Lexis, é um instrumento detrabalho imprescindível em análise demográfica. A sua descrição permitir--nos-á exemplificar os conceitos atrás expostos, isto é, as definições de idade,de ano de observação, de coorte, de análise transversal e de análiselongitudinal.

O diagrama de Lexis é um precioso instrumento de análise demográfica, namedida em que permite repartir os acontecimentos demográficos por anosde observação e geração. Permite visualizar os acontecimentos e osefectivos.

Este diagrama constitui-se do seguinte modo:

1. eixo das idades: em ordenada;

2. eixo do tempo (anos de observação): em abcissa;

3. eixo das gerações (linhas de vida): em diagonal;

Page 86: Caderno de Apoio de Demografia

95

4. superfícies (quadrados e triângulos): onde devem ser inscritos osacontecimentos;

5. linhas: onde devem ser inscritos os efectivos observados num dadomomento;

6. momentos de observação (instantânea, continua, retrospectiva) nocruzamento dos três.

Conforme se pode observar na figura (figura n.º 13, página 162 do livroadoptado), trata-se de um diagrama onde no eixo OX (abcissas) se marcamos anos civis (1940, 1941, 1942, ...) e no eixo OY (ordenadas), se marcam asidades dos indivíduos.

Em seguida, no eixo OX, levantam-se linhas verticais nos pontos que marcamsimultaneamente o terminus de um ano civil e o início do próximo - são asrectas do 31 de Dezembro ou do 1º de Janeiro; depois no eixo OY, a partirdos pontos que marcam as idades 0 (o momento do nascimento), 1(1.º aniversário), etc., traçam-se paralelas ao eixo OX, que são as rectas dasidades exactas.

Obtém-se assim uma figura com uma espécie de quadrados iguais onde aslinhas horizontais são as rectas das idades exactas e as verticais são os 31 deDezembro ou os 1.º de Janeiro.

ANÁLISE L

ONGITUDIN

AL

ANÁLISE TRANSVERSAL

Page 87: Caderno de Apoio de Demografia

96

Como podemos verificar, temos dois tipos de leituras, em anos exactos eanos completos:

• Se estamos a observar os acontecimentos numa geração, durante umano civil, temos sempre 2 anos completos.

• Se estamos a observar os acontecimentos durante um ano completoe durante um ano civil, tal implica a existência de duas gerações.

• Se estamos a observar os acontecimentos numa geração, durante umano completo, implica ser necessário a observação durante 2 anoscivis.

Actividades propostas e questões para revisão

1. Coloque no diagrama de Lexis que está disponível em anexo 3, a seguinteinformação:

• Pessoas nascidas em 1960: 4 000

• Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1960, aos 0 anos completos:200

• Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1961, aos 0 anos completos:100

• Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1961, ao 1 ano completo: 40

• Pessoas nascidas em 1959, falecidas em 1961, ao 1 ano completo: 30

• Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1962, ao 1 ano completo: 25

• Pessoas nascidas em 1961, falecidas em 1962, ao 1 ano completo: 20

• Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1962, aos 2 anos completos: 28

• Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1963, aos 2 anos completos: 25

• Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1963, aos 3 anos completos: 17

• Pessoas nascidas em 1960, falecidas em 1964, aos 3 anos completos: 16

• Pessoas nascidas em 1961, falecidas em 1961, aos 0 anos completos:210

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97

• Pessoas nascidas em 1961: 4200

• Pessoas nascidas em 1961, falecidas em 1962, aos 0 anos completos:105

E responda às seguintes questões:

a) Qual será a população com 0 anos completos, na geração de 1960,em 31 de Dezembro de 1960?

b) Qual será a população com 1 ano completo, na geração de 1960, em31 de Dezembro de 1961?

c) Quantos são os sobreviventes da geração de 1960 no 1.º ano exacto?

d) A que gerações pertencem as pessoas falecidas ao 1 ano completoem 1961?

e) A que gerações pertencem as pessoas falecidas aos 45 anos completosem 1962?

f) A que gerações pertencem as pessoas falecidas em 1965 no grupo0-4 anos completos ? E no grupo 5-9 anos completos?

g) A que gerações pertencem as pessoas falecidas em 1962, 1963, 1964e 1965 pertencentes ao grupo 0-1 anos completos?

h) A que gerações pertencem as pessoas falecidas em 1962, 1963 e 1964pertencentes ao grupo 50-54 anos completos?

Indicações bibliográficas

NAZARETH, J. Manuel

1985 A demografia portuguesa no século XX: principais linhas deevolução e transformação. Análise Social, 21 (87-88-89).

1988 Princípios e Métodos de Análise da Demografia Portuguesa,Lisboa, Editorial Presença.

TORRES, A.

1996 Demografia e desenvolvimento: elementos básicos. ColecçãoTrajectos Portugueses, Editora Gradiva, Lisboa.

Page 89: Caderno de Apoio de Demografia

VI. Instrumentos de Análise da Mortalidade

Page 90: Caderno de Apoio de Demografia

101

Objectivos do capítulo

1. Conhecer a lógica e o processo de cálculo das taxas Brutas deMortalidade enquanto medida elementar da mortalidade geral ecompreender as razões das suas limitações enquanto instrumento deanálise;

2. Conhecer as precauções a ter em conta na utilização dos sistemas deinformação demográfica disponíveis em Portugal e na Europa;

3. Conhecer e saber calcular as medidas de mortalidade infantil,mortalidade por meses e por causas;

4. Saber construir as tábuas de mortalidade e analisar o significado dasdiversas funções que integram este instrumento de medida damortalidade geral;

5. Aplicar os conhecimentos adquiridos à resolução de alguns problemasconcretos.

Objectivos de aprendizagem

Depois de estudar esta unidade o aluno deve ser capaz de:

• Analisar a evolução global no número de óbitos e do contributo dasvárias causas para esse valor total;

• Distinguir modelos e estruturas;

• Relatar a evolução recente da mortalidade em Portugal;

•· Calcular adequadamente medidas de determinação dos níveis demortalidade (geral, infantil);

• Interpretar as relações entre os níveis de mortalidade e as idades;

• Construir uma tábua de mortalidade e interpretar os valores obtidospara cada uma das funções da tábua.

Page 91: Caderno de Apoio de Demografia

102

Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais comple-xos

Leia o capítulo do livro recomendado. Análise da mortalidade – cap. VI,pp. 188-221

Conteúdos Pág. Objectivos

6.1. As Taxas Brutas de Morta-lidade enquanto medidas da mortalidade geral

190-194

Conhecer a lógica e o processo de cálculo das taxas Brutas de Mortalidade enquanto medida ele-mentar da mortalidade geral e compreender as razões das suas limitações enquanto instrumento de análise;

Conhecer as precauções a ter em conta na utilização dos sistemas de informação demográfica dispo-níveis em Portugal e na Europa.

6.3. A medida de mortalidade em grupos específicos

197-203

Conhecer e saber calcular as me-didas de mortalidade infantil, mor-talidade por meses e por causas.

6.4. O princípio da translação: a construção das tábuas de mortalidade

5.º Trabalho prático resolvido

203-210

214-221

Saber construir as tábuas de mortalidade e analisar o signifi-cado das diversas funções que integram este instrumento de me-dida da mortalidade geral;

Aplicar os conhecimentos adquiri-dos à resolução de alguns proble-mas concretos.

Page 92: Caderno de Apoio de Demografia

103

A Mortalidade

A sua característica principal durante o século XX foi o seu declínio. Masesse declínio não se fez observar em todos os países ao mesmo tempo, e nospaíses em que isso aconteceu não declinou com a mesma velocidade nosdiversos tipos de grupos que integram as estruturas sócio-demográficas.

Na realidade podemos afirmar que anteriormente à época contemporânea, amortalidade era bastante elevada por seis razões principais: fomes,subnutrição, guerras, epidemias, pestes e ausência de condições sanitárias.

A identificação destes factores permitiu uma imediata explicitação dasprincipais causas do declínio da mortalidade:

• Factores educacionais

• Factores sanitários

• Factores médicos

• Factores económicos

• Factores sociais

Estes factores contribuíram para que a mortalidade declinasse de tal formaque a esperança de vida mais do que duplicou. Mas esse declínio não foiigual em todo o mundo. Daí a diversidade de situações que encontramos. Arazão dessa divergência deriva do facto de nos países desenvolvidos todos osfactores enunciados anteriormente terem concorrido para o declínio damortalidade, ao passo que na maior parte dos países não desenvolvidos odeclínio observado tem sido devido a factores médicos e sanitários.

A mortalidade não é democrática. Existe uma enorme desigualdade perantea morte. Mas a evolução tem sido muito positiva, sobretudo ao nível dodeclínio da mortalidade infantil.

As Taxas Brutas de Mortalidade enquanto medidas elementaresda mortalidade geral

São medidas muito elementares: consiste em dividir o total de óbitos numdeterminado período (um ano) pela população média existente nesse mesmoperíodo.

Page 93: Caderno de Apoio de Demografia

104

A Taxa Bruta de Mortalidade é um instrumento grosseiro que isola muitorudimentarmente os efeitos de estrutura, ou seja, não tem em conta a estruturaetária da população. Apesar de ser rudimentar devemos ter em conta algumasprecauções: fazer coincidir a população média com a população de umrecenseamento.

Os dois factores intervenientes nas taxas brutas são o modelo e as estruturas.A taxa bruta é a soma de produtos das estruturas relativas de cada idadepelas taxas nessas mesmas idades. Como ao conjunto das taxas por idade sechama o modelo do fenómeno, a taxa bruta pode ser redefinida como umaresultante da interacção entre o modelo e a estrutura. Em linguagem deanálise demográfica temos: TBM (1990) = Σ Px(1990) * tx (1990)

As diferenças em Portugal no período 1950-90 tanto pode provir dos tx(modelos) como dos Px (estruturas). Variações entre modelos significa aexistência de diferentes riscos de mortalidade; diferenças entre estruturas(maior ou menos envelhecimento demográfico) são alheias à análise damortalidade.

Actividade : Temos duas taxas brutas de mortalidade

TBM (1950) = 102 915/8 441 315*1000 = 12,19 por mil

TBM (1990) = 103 115/9 883 400 *1000 = 10,43 por mil

Segundo estes dois resultados, tivemos em 40 anos, um declínio de apenas 14 %.

Comente este resultado e explique porque o resultado foi este.

Agora observe, os quadros n.os 4 e 5 (página 134) e comente as diferençasobservadas.

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105

Observe a figura n.º 16 (página 135) e comente a forma em “U”.

A mortalidade por idades e por grupos de idades

Dividem-se os acontecimentos observados entre as idades exactas pelapopulação média existente entre essas mesmas idades.

A Taxa de Mortalidade Infantil Clássica

A taxa de mortalidade infantil está relacionada com os óbitos com menos de1 ano de vida. Esta taxa é um bom indicador de saúde das populações,conseguindo transmitir qual o nível de desenvolvimento global de umapopulação.

A taxa de mortalidade infantil clássica são os

Exemplo:

Portugal – 1972 e 1973

Nascimentos para 1972 - 174 685

Nascimentos para 1973 – 172 324

Óbitos com menos de 1 ano para 1973 – 7726

População a ½ do ano de 1973 com menos de 1 ano – 165 300

Taxa/quociente : 7726/165 300 X 1000 = 46, 74 0/00

Taxa de Mortalidade Infantil Clássica : 7726/172 324 X 1000 = 44, 83 0/00

Podemos classificar as causas que originaram a mortalidade infantil em duasgrandes categorias: endógenas e exógenas.

De factores exógenos, que são os meios exteriores e as condições gerais dapopulação (doenças infecciosas, alimentação insuficiente, cuidadoshospitalares insuficientes, acidentes diversos, etc) e de factores endógenos,que têm a ver com as características dos próprios indivíduos (deformações

91/90 T.M.I.C.1000*1991/2)(1990 médios snascimento

1991/2)(1990 ano 1 de menoscom médios óbitos =

+

+

Page 95: Caderno de Apoio de Demografia

106

congénitas, traumatismos causados pelo parto, etc.). Por vezes é difícildistinguir se foi por um factor ou por outro. Existem métodos indirectos parasaber se se deveu mais a factores exógenos ou endógenos:

Mortalidade no 1.º mês – factores endógenos

Mortalidade após o 1.º mês – os factores exógenos têm também umaimportância decisiva.

Taxa de Mortalidade Infantil Néo-Natal- (com menos de 28 dias) e Taxade Mortalidade Infantil Pós Néo-Natal (de 28 a 365 dias)

Em populações com níveis de mortalidade infantil baixas a mortalidadeinfantil néo-natal tem maior peso do que a mortalidade infantil pós néo-natal. Nessas populações, a mortalidade infantil néo-natal explica a quasetotalidade da mortalidade infantil (do 1.º ano de vida). A mortalidade pósnéo-natal está intimamente associada às condições de vida.

Exemplo:

Portugal – 1972 e 1973

Nascimentos para 1972 – 174 685

Nascimentos para 1973 – 172 324

Óbitos com menos de 1 ano para 1973 – 7726

Óbitos com menos de 28 dias para 1973 – 3647

Óbitos com 28-365 dias para 1973 – 4079

População a ½ do ano de 1973 com menos de 1 ano – 165 300

Taxa de Mortalidade Infantil Néo-natal: 3647/172324 X 1000 = 21,16 0/00

Taxa de Mortalidade Infantil Pós Néo-natal: 4079/172 324 X 1000 = 23, 67 0/00

Tábua de Mortalidade A Esperança de Vida

A esperança de vida à nascença (idade 0) é um indicador importantíssimo demortalidade.

Exemplo: Esperança de vida à nascença de 70 anos é o número médio deanos que um indivíduo nascido num determinado momento do tempo pode

Page 96: Caderno de Apoio de Demografia

107

viver se as condições de saúde observadas nesse momento não se alteraremao longo do tempo.

Se as condições se alterarem, a esperança de vida não coincide com aesperança de vida numa determinada idade ou mortalidade média.

Diz respeito a um determinado momento do tempo, mas em relação a umfuturo.

É um indicador de mortalidade global - Índice de síntese. É a partir de umatábua de mortalidade que se encontra a esperança de vida.

A tábua vai transformar a informação na transversal para uma informaçãona longitudinal, ou seja a transformação do que se observa num determinadomomento do tempo para uma coorte fictícia.

O Princípio da Translação: a construção das tábuas de mortalidade

Se acompanharmos a tábua de mortalidade de Portugal, sexos reunidos, noperíodo 1980/81, as funções de uma tábua de mortalidade são as seguintes(quadro n.º 8, página 209 do livro adoptado e anexo 4.a, 4.b e 4.c):

1. A primeira coluna é a das idades: as idades são apresentadas não soba forma de grupos etários mas nos terminais das idades exactas (0, 1,5, 10, 20, 25,…);

2. a segunda coluna é a função nmx; são as taxas de mortalidade entre aidade x e x + n

3. Na terceira coluna temos a função nqx; são os quocientes demortalidade, isto é, a probabilidade de morte (nqx), entre a idadeexacta x e a idade exacta x + n, onde n é a amplitude dos grupos deidade.

4. Na quarta coluna temos a função nPx: Probabilidade de sobrevivênciaentre as idades exactas x e x + n e que é igual a nPx = 1-nqx

5. Na quinta coluna temos lx: os sobreviventes em cada idade exacta x.Para tornar possível as comparações temporais e espaciais, aplica-sea um mesmo efectivo (normalmente a raiz da tábua l0 =100.000) alei da mortalidade definida pelos nqx ou de sobrevivência definidapelos nPx. Obtém-se assim os sobreviventes em cada idade exacta xatravés da seguinte relação:

6. Na sexta coluna temos ndx: é a distribuição dos óbitos (tendo emconta o efectivo inicial de 100.000) por idades ou grupos de idades,entre um grupo etário e outro, por idades exactas: ndx = lx-lx+n

Page 97: Caderno de Apoio de Demografia

108

7. Na sétima coluna temos nLx: é o número de anos vividos pelos sobre-viventes lx entre as idades exactas x e x + n, ou seja entre duas idadesou sobreviventes em anos completos. Obtém-se multiplicando osefectivos médios entre idades exactas pelo número de anos.

8. Na oitava coluna temos Px: é a probabilidade de sobrevivência entredois anos completos ou entre dois grupos de anos completos.

9. Na coluna nove temos Tx: É uma função anos de vida intermédia.Começa-se pelo fim da tábua, soma-se de baixo para cima. È o totalde anos vividos pela coorte (fictícia) depois da idade x. Como nLx éo número de anos vividos entre as idades exactas x e x + n, para obtero total de anos vividos basta somar os nLx.

10. A coluna dez é a esperança de vida ex : É a esperança de vida naidade x, ou seja o número médio de anos que resta viver às pessoasque atingiram a idade x. Quando x = 0, temos a esperança de vida ànascença, ou seja, o número total de anos vividos desde o nascimento,dividido pelo efectivo inicial

Vamos agora construir uma tábua de mortalidade:

O ponto de partida de uma tábua de mortalidade é o cálculo das taxas demortalidade por grupos etários e sexos separados.

É necessária a informação sobre óbitos por grupos etários, efectivos por sexosseparados.

1.º Calcula-se as taxas de mortalidade por grupos de idade (nTx)mantendo 5 casas decimais - é o ponto de partida da tábua demortalidade.

2.º nqx. Quocientes de mortalidade, isto é, a probabilidade de morte (nqx),entre a idade exacta x e a idade exacta x+n; no seu cálculo utiliza-sea seguinte fórmula:

onde n é a amplitude dos grupos de idade.

1xTxex seja, ou ,

10T0e0 ==

nTx*n2nTx*2nnqx

+=

Page 98: Caderno de Apoio de Demografia

109

Exemplos:

O 1q0 é a verdadeira Taxa de Mortalidade Infantil.

Isto, se a taxa de mortalidade do grupo etário 1- 4 for 206(204 + 208/2)/223244 (população do censo de 91) = 0.00092.

Isto, se a taxa de mortalidade do grupo etário 5 - 10 (5T5) for 0.00048

No caso do último grupo de idades, nqx é igual à unidade, uma vez que todasas pessoas terão necessariamente que desaparecer.

3.º nPx

Probabilidade de sobrevivência entre as idades exactas x e x + n e que éigual a nPx = 1-nqx

No caso do último grupo de idades, nPx é igual a 0, visto que ninguém irásobreviver.

4º lx

Sobreviventes em cada idade exacta x. Para tornar possível as comparaçõestemporais e espaciais, aplica-se a um mesmo efectivo (normalmente a raizda tábua l0 = 100000) a lei da mortalidade definida pelos nqx ou desobrevivência definida pelos nPx.

Obtém-se assim os sobreviventes em cada idade exacta x através da seguinterelação:

lx + n=1x*nPx

l0 = 100000

4l1 = lx + n = lx*nPx

0.00092*420.00092*4*24q1

+=

0024.0==+

=2.00240.0048

0.00048*520.00048*5*25q5

90/91 snascimento90/91 1anoóbitosT.M.I.C.1q0 −==

Page 99: Caderno de Apoio de Demografia

110

5º ndx

É a distribuição dos óbitos (tendo em conta o efectivo inicial de 100000) poridades ou grupos de idades, entre um grupo etário e outro, por idades exactas:ndx=lx-lx+n

6.º nLx

É o número de anos vividos pelos sobreviventes lx entre as idades exactas xe x+n, ou seja entre duas idades ou sobreviventes em anos completos. Obtém-se multiplicando os efectivos médios entre idades exactas pelo número deanos.

Exemplo:

Se tivermos 20 alunos no inicio do ano lectivo e no final do ano, osmesmos 20 alunos, viveram-se 20 anos:

201*2

(chegada)) 20(partida) (20=

+

Se forem 5 anos, foram vividos 100 anos.

Se partirem 20 e chegarem 10, ao fim de um ano = 20 + 10/2=15*1 = 15

Ao nível dos primeiros anos de vida não se verifica a linearidade da funçãode sobrevivência, obtendo-se uma aproximação mais exacta através dasseguintes expressões:

1L0=K’’ l0 + K’ l14L1=K’’ l1 + K’ l5 , onde K’’= 0.05 e K’= 0.95

Para as restantes idades, exceptuando a 1.ª e a 2.ª (0-1 e 1-4), se eutenho L5 e L10 e se quero saber o n.º médio de anos vividos calculo

Os diversos nLx ao serem considerados como o número de anos vividospelos sobreviventes entre as idades x e x + n, podem também ser consideradoscomo os sobreviventes em anos completos.

Quanto ao último nLx (l80 + ) obtém-se através da seguinte expressão:

Lk + = Tk, L80+ = l80/T80 +

2

( ) )(amplitude n*2

nlxlxnLx ++=

Page 100: Caderno de Apoio de Demografia

111

7.º Px

É a probabilidade de sobrevivência entre dois anos completos ou entre doisgrupos de anos completos:

No primeiro grupo de idade teremos

O último não se calcula e o penúltimo (75-79) = T80 + / T75

8º Tx

É uma função anos de vida intermédia. Começa-se pelo fim da tábua, soma-se de baixo para cima.

È o total de anos vividos pela coorte (fictícia) depois da idade x. Como nLxé o número de anos vividos entre as idades exactas x e x+n, para obter o totalde anos vividos basta somar os nLx.

Assim temos

∑=w

xnLxTx O último Tx (ou Tk), que é igual a Lk+, obtém-se através

da seguinte expressão:

onde mk + é a taxa de mortalidade do último grupo de idades

9º ex

É a esperança de vida na idade x, ou seja o número médio de anos que restaviver às pessoas que atingiram a idade x. Quando x = 0, temos a esperança

+=

mklkTk

nLxnnLxPx +

=

100000*54L11L0

10*55L0Pb +

=

4L11L05L55P5+

=

Page 101: Caderno de Apoio de Demografia

112

de vida à nascença, ou seja, o número total de anos vividos desde onascimento, dividido pelo efectivo inicial

Obtém-se assim o número médio de anos vividos desde o nascimento.

Actividades propostas e questões para revisão

1. Observe os seguintes dados para Portugal:

Nota: 1949/52: Nascimentos 1949 =208712, Nascimentos 1952= 205163

1959/62: Nascimentos 1959 =213062, Nascimentos 1962= 213895

Grupos deidades

1

1-4

5-9

10-14

15-19

20-24

25-29

30-34

35-39

40-44

45-49

50-54

55-59

60-64

65-69

70 +

Total

Óbitos1949/52

19277

9426

1528

928

1551

2279

2256

1905

2301

2721

3148

3628

4412

5985

7408

34162

102915

Óbitos1959/62

18106

5956

1012

599

691

920

1102

1324

1593

1734

2585

3584

4649

5984

7949

40056

97844

Grupos deidades

1

1-4

5-9

10-14

15-19

20-24

25-29

30-34

35-39

40-44

45-49

50-54

55-59

60-64

65-69

70 +

Total

População1950

174855

714859

798678

799693

810964

761703

681256

541099

567333

524737

460041

390566

331777

294239

229976

359539

8 441315

População1960

187739

713671

851145

839400

747225

705209

673194

637452

591184

499411

510724

481429

409026

334019

264150

444419

8889397

1xTxex seja, ou ,

10T0e0 ==

Page 102: Caderno de Apoio de Demografia

113

a) Aprecie a evolução da mortalidade através das TBM no período1950-1960.

b) Calcule a taxa de mortalidade infantil em 1950 e 1960.

2. Observe o quadro n.º 8 (página 209).

a) Interprete a tábua de mortalidade

b) Descreve as seguintes colunas: nqx, lx, nPx

c) Comente a esperança de vida ex

Indicações bibliográficas

O progresso das nações.

1994 New York , UNICEF , 54 p.

CARRILHO, Maria José

1980 Tábuas abreviadas de mortalidade, 1941-1975, Lisboa , InstitutoNacional de Estatística , 1980 , 124 p. (Estudos; 56).

MICHALOWSKI, Margaret

1990 Mortality patterns of immigrants. Can they measure the adaptation,Ottawa (Canada) , Ed. A., 22, 9 p.

PINTO, Maria Luís Rocha

1993 Crises de mortalidade e dinâmica populacional nos séculos XVIIIe XIX na Região de Castelo Branco. Anexos , Lisboa , s. n., v. 1 e v.2.

RODRIGUES, Teresa Maria Ferreira

1993 Lisboa no século XIX. Dinâmica populacional e crises de morta-lidade. Anexos , Lisboa , Faculdade Ciencias S. Humanas da U.N.L.

Page 103: Caderno de Apoio de Demografia

VII. Instrumentos de Análise da Natalidade, Fecundidade e da Nupcialidade

Page 104: Caderno de Apoio de Demografia

117

Objectivos do capítulo

1. Conhecer a lógica do cálculo das taxas Brutas de Natalidade, enquantomedidas elementares de análise;

2. Conhecer as precauções a ter em conta no cálculo das taxas brutas denatalidade, bem como as limitações deste instrumento de medida;

3. Aplicar o conceito de taxa às Taxas de Fecundidade Geral;

4. Conhecer alguns tipos particulares de fecundidade;

5. Saber aplicar as principais técnicas de análise da fecundidade: aDescendência Média, a Taxa Bruta de Reprodução, a Idade Média deFecundidade e a variância;

6. Saber aplicar as técnicas de análise da nupcialidade;

7. Aplicar os conhecimentos adquiridos à resolução de alguns problemasconcretos.

Objectivos de aprendizagem

Depois de estudar esta unidade o aluno deve ser capaz de:

• Definir os conceitos de Natalidade, Fecundidade, Fertilidade;

• Relatar a recente evolução dos nados-vivos e dos níveis globais denatalidade e de fecundidade em Portugal e calcular os respectivosindicadores;

• Determinar os níveis de procriação através do cálculo do ÍndiceSintético de Fecundidade e da Taxa Bruta de Reprodução;

• Interpretar as relações entre níveis de fecundidade e idades.

Page 105: Caderno de Apoio de Demografia

118

Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

Leia o capítulo do livro recomendado. Capítulo VII, páginas 222-252

Conteúdos Pág. Objectivos

7.1. As Taxas Brutas enquanto medidas elementares de análise da natalidade e da fecundidade

223-229

Conhecer a lógica do cálculo das taxas Brutas de Natalidade, enquanto medidas elementares de análise; Conhecer as precauções a ter em conta no cálculo das taxas brutas de natalidade, bem como as limitações deste instrumento de medida; Aplicar o conceito de taxa às Taxas de Fecundidade Geral

7.2. Tipos particulares de natalidade e fecundidade

229-231 Conhecer alguns tipos particulares de fecundidade

7.4. O princípio da translação

237-238

Saber aplicar as principais técnicas de análise da fecundi-dade: a Descendência Média, a Taxa Bruta de Reprodução, a Idade Média de Fecundidade e a variância

7.5. Análise da nupcialidade e do divórcio: as taxas brutas enquanto medidas elementares de análise 6º Trabalho prático resolvido

238-241

246-252

Saber aplicar as técnicas de análise da nupcialidade; Aplicar os conhecimentos adquiridos à resolução de alguns problemas concretos.

Page 106: Caderno de Apoio de Demografia

119

A Natalidade/fecundidade

Tal como acontece com a mortalidade, a característica principal da natalidadeno século XX é o seu declínio, declínio esse que é em geral posterior ao damortalidade. Em muitos países não desenvolvidos esse declínio ainda nãoocorreu ou está ainda no início do processo.

Nos países não desenvolvidos, o declínio, quando já ocorreu, é relativamenterecente. A África, no conjunto do continente, tem os níveis mais elevados oque nos indica que na maior parte dos países africanos o declínio da natalidadeainda não ocorreu.

Ao observarmos as diferenças entre as regiões, facilmente nos damos contade que existe uma grande diversidade de situações; nos restantes continentes,além de valores globais bastante mais baixos, as diferenças deixam de sertão acentuadas.

Como consequência, desenvolveram-se estudos para procurar as causas dodeclínio da natalidade. Mas a procura dessas causas não é tão simples comono caso da mortalidade. Se nesta última podemos encontrar uma variávelglobal - as condições gerais de saúde - com diferentes variáveis específicas,o mesmo não acontece com a natalidade, onde existem vários factores bastantediferenciados responsáveis pela sua evolução: factores biológicos, relaçõessexuais, leis e costumes, divórcio, viuvez e abstinência, contracepção e aborto,factores económicos, factores sociais, factores culturais, urbanismo eescolaridade.

A fecundidade não é alheia ao meio. Existem determinantes directos eindirectos que influem na fecundidade. A educação/escolaridade é umdeterminante indirecto da fecundidade enquanto que os métodoscontraceptivos são determinantes directos.

Taxa bruta de natalidade

Exemplo:

Nascimentos População total: 9 862 540

1990 1991

116 383 116 415

1990/91 em 11,8‰1000*9862540

116415)(116383T.B.N. =+

=

1000*(média) total população

snascimentoTBN =

Page 107: Caderno de Apoio de Demografia

120

Actividade: Temos duas taxas brutas de natalidade

TBN (País A- desenvolvido) = 778 526/61 283 600 *1000= 12,70 por mil

TBM (País B- não desenvolvido) = 54 043/1 428 082 *1000= 37,84 por mil

Segundo estes dois resultados, poderíamos dizer que a diferença de nívelentre os dois países seria de 198 %. Comente este resultado e explique porqueo resultado foi este.

Taxa de fecundidade geral

Relaciona-se com a parcela da população de mulheres dos 15 aos 49 anos:

Exemplo:

Nascimentos População feminina dos 15-49: 2 479 494

1990 1991

116 383 116 415

Apesar da Taxa Bruta de Natalidade e a Taxa de Fecundidade Geral seremambas índices rudimentares, devemos ter sempre em conta as mesmasprecauções que tivemos no cálculo da Taxa Bruta de Natalidade: sempre quepossível fazer coincidir a população média com o recenseamento e calcularas taxas em números pares de anos.

1990/91 em 46,9‰1000*2479494

116415/2116383TFG =+

=

1000*5915 mulheressnascimento T.F.G.seja, ou−

=

Page 108: Caderno de Apoio de Demografia

121

Actividade:

TFG (País A - desenvolvido) = 778 526/14 309 800 *1000 = 54,41 por mil

TFG (País B - não desenvolvido) = 54 043/319 084 *1000 = 169,37 por mil

Segundo estes dois resultados, poderíamos dizer que a diferença de nívelentre os dois países seria de 211% em vez de 198%. Compare as diferençasde nível entre os dois países e entre os dois tipos de taxas.

Se utilizarmos a TBN estamos a subestimar a diferença em 13%. A que sedeve esta diferença?

Agora observe, os quadros n.os 12 e 13 (páginas 165 e 166 do livro adoptado)e comente as diferenças observadas.

Observe as figuras n.os 25 e 26 (página 167 do livro adoptado) e comente aforma dos gráficos em “chapéu”.

A taxa de fecundidade geral como resultante da interacção entre o modelodo fenómeno e a estrutura por idades.

Podemos decompor a T.F.G. nos seus elementos constitutivos. Podemosredefini-la como sendo uma soma dos produtos das estruturas relativas, emcada idade (ou grupos de idades), do período fértil das mulheres, pelas taxasnessas mesmas idades (ou grupos de idades). A T.F.G. pode ser assimredefinida como resultante da interacção entre estrutura e modelo:

Exemplo:

Nota: Px é o modo como as mulheres estão distribuídas por grupos de idades.tx são os modelos e Px as estruturas.

Grupos de idade tx * 1000 Px Px * tx

15-19 140.3 0.1387 19.46

20-24 277.6 0.1694 47.03

25-29 253.2 0.1490 37.73

30-34 182.8 0.1372 25.08

35-39 119.8 0.1371 16.42

40-44 45.6 0.1358 6.19

45-49 8.7 0.1329 1.16

Total - 1.0001 153.07 = T.F.G.

Page 109: Caderno de Apoio de Demografia

122

Quer calculando a T.F.G. pelo processo mais simples, quer por esta formamais complexa, o resultado é o mesmo.

Índice sintético de fecundidade

Taxa de Fecundidade Geral * 5 anos = Índice Sintético de Fecundidadeou seja, T.F.G. *5 = I.S.F.

1.º Calcula-se a média dos nascimentos (t0+t1/2), em cada um dosgrupos etários

2.º Dividem-se pela população feminina em cada um dos gruposetários

3.º Multiplica-se o somatório das T.F.G. por grupos de idades por 5que corresponde à amplitude de cada grupo etário

Se o I.S.F. for 3 significa que, se as mulheres que entrarem no períodofértil adoptarem os comportamentos que existiam em t0/t1 terão 3 filhos.

Taxa bruta de reprodução e Taxa líquida de reprodução

A Taxa Bruta de reprodução é o número médio de filhas:

Taxa Bruta de Reprodução (TBR) = I.S.F. * 0.488

A Taxa líquida de reprodução entra em conta com a mortalidade, ou seja semultiplicarmos as taxas de fecundidade geral pelas probabilidades desobrevivência e procedermos da mesma forma que procedemos para calculara T.B.R., obtemos a Taxa Líquida de Reprodução:

T.L.R. = Σ (T.F.G * npx)* 5*0.488

Idade média de fecundidade

Grupos de idade: 15-19 15 + 19/2 = 17.5 * Taxa

…. ….

45-49 45 + 49/2 = 47.5 * Taxa

Σ = IMF

IMF= Σ (Pontos médios * ntx)/ Σntx

Page 110: Caderno de Apoio de Demografia

123

Actividade:

Observe os quadros n.º 9, 10, 11 e 12 (páginas 225 e 228 do livro adoptado).Comente e compare as Taxas obtidas no país A e país B.

Nupcialidade e Divórcio: medidas elementares de análise

A nupcialidade não é uma variável microdemográfica autêntica na medidaem que o seu aumento ou a sua diminuição não afectam directamente adinâmica populacional. Esta variável intervém na dinâmica populacionalindirectamente através da fecundidade, se bem que, neste princípio de milénio,é cada vez mais forte a tendência para a separação entre os comportamentosda nupcialidade e da fecundidade. O processo mais simples que existe paramedirmos o nível da nupcialidade consiste em dividir o total de casamentosobservados pela população média.

Taxa bruta de nupcialidade

Exemplo:

Casamentos: 72330 População total média: 9 675 573

T.B.Nup. = 72330/9675573 * 1000 = 7,48 %0

Outras Taxas de Nupcialidade:

• Taxa de Nupcialidade geral: casamentos/pop. com + 15 anos * 1000

• Taxa de Nupcialidade geral dos solteiros: casamentos/pop. Solteiracom + 15 anos * 1000

• Taxa de Nupcialidade por idades ou grupos de idades e sexos:exemplo: casamentos H (25-29 anos) / população H (25-29 anos)*1000

• Taxa de Nupcialidade por ordem: casamento de ordem 1/ solteiroscom + 15 anos * 1000 ou, casamentos solteiros com 20-24 anos/solteiros com 20-24 anos * 1000

• Taxa de segundos casamentos: casamentos de ordem 2/ viúvosdivorciados * 1000

• Taxa Bruta de Divórcio: Divórcios/ população * 1000

• Taxa Bruta de Viuvez: Viúvos / população * 1000

Page 111: Caderno de Apoio de Demografia

124

Actividades propostas e questões para revisão

1. Defina os conceitos de Natalidade e de Fecundidade

2. Com base nos dados quadro seguinte relativos à população a meio doano de 1991 e aos nados vivos de 1991, calcule:

a) A Taxa de Fecundidade Geral. Interprete.

b) As taxas de fecundidade por grupos de idade. Interprete os dados.

c) O Índice Sintético de Fecundidade e a Taxa Bruta de Reprodução.Interprete cada um dos resultados

3. Observe os dados respeitantes à População Francesa em 1960:

População total média: 46 997 703

Idade das mães População Feminina Nascimentos

15-19 12888 102

20-24 19392 1099

25-29 22465 2695

30-34 22367 2047

35-39 16802 654

40-44 10904 61

45-49 5954 3

Total 110772 6662

Idade das mães População Feminina Nascimentos npx

15-19 1 700 913 37 366 0,92015

20-24 1 339 837 225 183 0,91715

25-29 1 492 444 268 780 0,91291

30-34 1 633 472 175 269 0,90786

35-39 1 636 435 87 394 0,90190

40-44 1 421 557 26 719 0,89470

45-49 1 132 994 1 344 0,88487

Total 10 357 652 822 055

Page 112: Caderno de Apoio de Demografia

125

a) Calcule a Taxa Bruta de Natalidade

b) Calcule a Taxa de Fecundidade Geral

c) Calcule as Taxas de Fecundidade Geral por Grupos de Idades

d) Calcule o Índice Sintético de Fecundidade e a Taxa Bruta de Repro-dução. Interprete os resultados obtidos

e) Calcule a Idade Média de Fecundidade.

Indicações bibliográficas

INE

1980 Inquérito Português à Fecundidade. Relatório principal, vol. I esumário dos resultados, INE, Centro de Estudos Demográficos, Lis-boa, Julho de 1980.

MENDES, Maria Filomena Ferreira

1992 Análise Demográfica do declínio da fecundidade da população por-tuguesa na década de 80. Dissertação de doutoramento, vol. I, Uni-versidade de Évora, Évora, 1992.

NAZARETH, J. Manuel

1977 Análise regional do declínio da fecundidade da população portu-guesa (1930-70), Análise Social, volume XXIII (52), 4.º, Lisboa.

Page 113: Caderno de Apoio de Demografia

VIII. Instrumentos de Análise dos Movimentos Migratórios

Page 114: Caderno de Apoio de Demografia

129

Objectivos do capítulo

1. Identificar a especificidade dos movimentos migratórios enquantoelemento fundamental da dinâmica de crescimento das sociedadescontemporâneas;

2. Conhecer e aplicar os métodos directos de análise dos movimentosmigratórios;

3. Conhecer e aplicar os métodos indirectos de análise dos movimentosmigratórios;

4. Aplicar os conhecimentos adquiridos à resolução de alguns problemasconcretos.

Objectivos de aprendizagem

Depois de estudar esta unidade o aluno deve ser capaz de:

• Definir migrantes e migrações;

• Distinguir emigrantes de imigrantes e os diferentes tipos de migrações;

• Calcular e interpretar algumas medidas frequentes sobre fluxospopulacionais;

• Determinar a composição da população migrante segundo váriosatributos.

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130

Conteúdos programáticos e clarificação de tópicos mais complexos

Leia o capítulo do livro recomendado. Capítulo VIII, páginas 253-267

Conteúdos Pág. Objectivos

8.1. Os métodos directos de análise dos movimentos migratórios

255-257

Identificar a especificidade dos movimentos migratórios en- quanto elemento fundamental da dinâmica de crescimento das sociedades contemporâneas; Conhecer e aplicar os métodos directos de análise dos movimentos migratórios

8.2. Os métodos indirectos de análise dos movimentos migratórios

7º Trabalho prático resolvido

257-260

262-267

Conhecer e aplicar os métodos indirectos de análise dos movi- mentos migratórios; Aplicar os conhecimentos adqui-ridos à resolução de alguns pró- blemas concretos.

Page 116: Caderno de Apoio de Demografia

131

Os Movimentos Migratórios

Até ao presente analisámos as duas variáveis micro demográficas responsáveispelo movimento natural da população. Os movimentos migratórios são denatureza diferente.

Em primeiro lugar, abrangem três situações distintas: a emigração, a imigraçãoe as migrações internas.

Em segundo lugar, as suas variações no tempo e no espaço dependem defactores sócio-económicos complexos internos e externos.

Os movimentos migratórios não respeitam tendências, é difícil de controlar.

Se a população só evoluísse com os que nascem e os que morrem, a evoluçãoseria mais lenta. O saldo natural ou dinâmica natural, é um indicador da taxade crescimento que só entra em consideração com estas duas variáveis.

A Dinâmica populacional

Considerando também os movimentos migratórios, temos a dinâmica total(dinâmica natural + dinâmica migratória), e a taxa de crescimento anual médiototal/global.

As taxas de crescimento

Taxa de Crescimento Anual Média = Taxa de crescimento Anual MédioNatural (saldo natural) + Taxa de crescimento Anual Médio Migratória (saldomigratório)

O saldo migratório é a diferença entre as saídas – emigração e as entradas –imigração. Se a diferença for de 0, pode significar que saiu muita gente, mastambém entrou muita gente.

Taxa de crescimento anual médio total

Taxa de crescimento anual médio natural

a)(1 log nP0Pn log +==

a)(1 log nP0

O-NP0 log +=+

=

Page 117: Caderno de Apoio de Demografia

132

Se for 1 década n = 10.

Multiplicamos a por 100 e lê-se “ Por ano a população se apenas tivesse sidofruto nessa década desta situação, teria aumentado ou diminuído x.”

• Taxa de crescimento migratório (Imigração - Emigração):

• Taxa de crescimento anual médio total = Taxa de crescimento anualmédio natural + Taxa de crescimento migratório

• Taxa de crescimento anual médio total – Taxa de crescimento anualmédio natural = Taxa de crescimento migratório

Os Métodos directos de análise dos movimentos migratórios

São os que utilizam directamente os dados disponíveis. São as taxas brutas.

Taxa Bruta de Emigração = Emigrantes/ população * 1000

Taxa Bruta de Imigração = Imigrantes/ população * 1000

Taxa Bruta Migração Total= (Emigrantes + Imigrantes)/ população * 1000

O problema do estudo dos movimentos migratórios são os dados estatísticosque são muito incompletos. A informação que existe ao nível das migraçõesinternas são muito pobres e há falta de registos oficiais. Por vezes recorre-sea métodos indirectos (por exemplo através dos recenseamentos eleitorais).Ao nível interno, existem muitas assimetrias num mesmo espaço, e dicotomiasentre os meios (rural/urbano). As pessoas não se deslocam ao acaso: procuramtrabalho num espaço específico.

O nível das migrações externas, por exemplo na década de 80, 50 % dosemigrantes eram clandestinos. Há falta de um maior controlo legal e muitagente escapa a esse controlo. Por vezes existe um choque de povos e culturas.Na década de 90 o governo português restringiu a imigração.

a)nlog(1P0

E-IP0log ++

Page 118: Caderno de Apoio de Demografia

133

Os métodos indirectos de análise dos movimentos migratórios

Os métodos indirectos, servem para estimar a intensidade e a direcção dosmovimentos migratórios que não são possíveis medir directamente. O maisconhecido trata-se do método da equação de concordância.

A equação de concordância

Vejamos a lógica deste instrumento de análise:

Px + n= Px+ N- O + I –E

Px+n = Px + Crescimento Natural + Crescimento Migratório

Px+n- Px=N-O+I-E

Exemplo:

Px = 276 895

Px+n =205 197

Px+n- Px=71698

N 60/70= 41 053

O 60/70= 25 760

N 60/70 – O 60/70 = + 15 293

Saldos Migratórios = - 86 991

Emigrantes Oficiais = 9 009

Imigrantes Oficiais = 18

I-E Oficiais = - 8 991

P1 = P0 + (N-O) + (I-E), onde (N-O) é o saldo natural e (I-E) o saldomigratório.

(P1 - P0) - (N-O) = (I-E) = Saldo migratório total

Se (P1 - P0) - (N-O) = (I-E) = - 300, significa que nesta década saíram amais do que entraram 300 indivíduos.

Page 119: Caderno de Apoio de Demografia

134

Para ver qual é o saldo migratório anual, põe-se no denominador a populaçãoa meio de P0 e P1.

A Taxa Bruta de Migração Total liquida aplica-se a uma região: 5/(500 + 600/2)*1000 = 9

Em termos nacionais, de um país inteiro temos a Taxa Bruta de MigraçãoExterna Líquida.

Actividades propostas e questões para revisão

1. Num determinado país desenvolvido a população no período 60 /70passou de 56 180 000 para 60 650 599 habitantes. Houve no período1961-70, 8 936 332 nascimentos, 6 226 565 óbitos, 316 950emigrantes e 2 043 882 imigrantes. Calcule a Equação deConcordância.

Indicações bibliográficas

Actas do Colóquio Internacional sobre emigração e imigração em Portugal, sécu-los XIX e XX

1993 Emigração, Imigração em Portugal. Editorial Fragmentos, Lisboa.

ARROTEIA, Jorge Carvalho

1983 A Emigração Portuguesa – suas origens e distribuição, Lisboa, Mi-nistério da Educação, Biblioteca Breve.

BASTOS, J. e BASTOS, S.

1999 Portugal Multicultural . Edições Antropológica, Fim de Século, Lis-boa, 1999.

LEE, E.

1966 A theory of migration. Demography, n.º 3, pp. 47-67, Cambridge.

ROCHA-TRINDADE, M. B.

1995 Sociologia das Migrações, Universidade Aberta, Lisboa, 1995.

SERRÃO, Joel

1982 A Emigração Portuguesa, Lisboa, Livros Horizonte.

Page 120: Caderno de Apoio de Demografia

Glossário

Page 121: Caderno de Apoio de Demografia

137

Acontecimento: Facto que se refere a um indivíduoe afectando directamente a estrutura das populaçõese a sua evolução. Os nascimentos, casamentos,divórcios, óbitos e migrações são reconhecidosclaramente como acontecimentos demográficos.

Acontecimentos não renováveis: Acontecimentoque não é vivido mais do que uma vez pelo mesmoindivíduo da coorte, como por exemplo, a morte, umprimeiro casamento.

Acontecimentos renováveis: Acontecimentosusceptível de ser vivido mais do que uma vez pelomesmo indivíduo de uma coorte, como umnascimento para uma mulher, uma migração para ummembro de uma determinada geração.

Análise Longitudinal: Se tivermos uma coorte,acompanha-se durante um longo período, apanhandovários momentos do tempo. Significa observar osacontecimentos ao longo da vida dos indivíduos, oque envolve necessariamente vários anos decalendário.

Análise Transversal: Análise aplicada amanifestações de um fenómeno durante um dadoperíodo, geralmente o ano civil. Caracteriza-se ummomento do tempo que contém múltiplas coortes. Aanálise transversal permite transformar a informaçãode acontecimentos em fenómenos. Por exemplo: taxa“x” = acontecimentos/população média(pop.1+pop.2/2)*100

Anos completos: Uma criança que tem 3 anos e 6meses tem 3 anos completos, o que significa estarentre 3 e 4 anos exactos.

Categorias Endógenas e exógenas: podemosclassificar as causas que originaram a mortalidadeinfantil em duas grandes categorias: Endógenas eExógenas. De factores exógenos, que são os meiosexteriores e as condições gerais da população(doenças infecciosas, alimentação insuficiente,cuidados hospitalares insuficientes, acidentesdiversos, etc) e de factores endógenos, que têm a vercom as características dos próprios indivíduos(deformações congénitas, traumatismos causados

pelo parto, etc). Por vezes é difícil distinguir se foipor um factor ou por outro. Existem métodosindirectos para saber se se deveu mais a factoresexógenos ou endógenos: Mortalidade no 1º mês -factores endógenos; Mortalidade após o 1º mês - osfactores exógenos têm também uma importânciadecisiva.

Coortes: Conjunto de indivíduos submetidos aomesmo acontecimento de origem durante um mesmoperíodo de tempo. Uma geração é uma coorte denascimentos, conjunto de pessoas que nasceram nomesmo período. Uma coorte de casamentos é uma“promoção”.

Densidade populacional: A distribuição geográficapode ser avaliada pelo conhecimento de densidadede população, isto é, o número de habitantes por Km2(Hab/Km2). Este valor, porém, tomado em relaçãoao total da área estudada, pode não traduzir averdadeira distribuição da população, pois estaencontra-se mais aglomerada em certas zonas e maisdispersa noutras. Esta situação é traduzida pelocoeficiente de localização. A Densidade é aPopulação por quilómetros quadrados (KM 2).Calcula-se: nº de habitantes / Km2.

Diagrama de Lexis: É um suporte gráfico quepermite estabelecer uma correspondência entre datasde observação e as antiguidades das coortes nessasdatas. Permite repartir os acontecimentosdemográficos por anos de observação e geração epermite visualizar os acontecimentos e os efectivos.Este diagrama constitui-se do seguinte modo: eixodas idades: em ordenada; eixo do tempo (anos deobservação): em abcissa; eixo das gerações (linhasde vida): em diagonal; superfícies (quadrados etriângulos): onde devem ser inscritos osacontecimentos; linhas: onde devem ser ins-critos os efectivos observados num dado momento;momentos de observação (instantânea, contínua,retrospectiva) no cruzamento dos três.

Dinâmica populacional: Considerando também osmovimentos migratórios, temos a dinâmica total(dinâmica natural + dinâmica migratória), e a taxade crescimento anual médio total/global.

Page 122: Caderno de Apoio de Demografia

138

Efectivos : Número de indivíduos que fazem partede um mesmo acontecimento. Os efectivos de umapopulação são o número de indivíduos que compõemessa população. Esses efectivos são identificados nosrecenseamentos.

Emigração: Significa a saída de uma pessoa de umterritório para o seu exterior.

Esperança de vida à nascença: A esperança de vidaà nascença (idade 0) é um indicador importantíssimode mortalidade. Exemplo: Esperança de vida ànascença de 70 anos é o número médio de anos queum indivíduo nascido num determinado momentodo tempo pode viver se as condições de saúdeobservadas nesse momento não se alterarem ao longodo tempo. Se as condições se alterarem, a esperançade vida não coincide com a esperança de vida numadeterminada idade ou mortalidade média. Dizrespeito a um determinado momento do tempo, masem relação a um futuro. É um indicador demortalidade global – Índice de síntese. É a partir deuma tábua de mortalidade que se encontra aesperança de vida.

Esperança de vida na idade x: Segundo a tábua demortalidade é o número médio de anos restantes devida para uma pessoa que atinge a idade x.

Estado perturbado: Fenómeno que interfere nasmanifestações de um outro fenómeno, objectoprincipal de estudo. Combina as variáveis,mortalidade, migrações.

Estado puro: Só o acontecimento aliado do resto.Por exemplo, só a mortalidade, isolada dos outrosfenómenos.

Estatísticas demográficas de Estado Civil : São oconjunto de informações sobre os nascimentos,óbitos, casamentos, divórcios e separações judiciais,saídas ou entradas, ocorridas num território duranteum determinado período (normalmente um ano),baseadas nos boletins de registo civil dessesacontecimentos, com detalhes sobre a sua repartiçãopor unidade administrativa e segundo um númeromais ou menos vasto de características (sexo, idade,etc.). O sistema de registos vitais e os controles de

migração existem acima de tudo por questões legais:a produção de certificados de nascimento e de óbito,passaportes, cartões de identidade, certificados deautorização de trabalho, autorização de residência ede cidadania, etc.

Estruturas: Os dois factores intervenientes nas taxasbrutas são o modelo e as estruturas. A taxa bruta é asoma de produtos das estruturas relativas de cadaidade pelas taxas nessas mesmas idades. Como aoconjunto das taxas por idade se chama o modelo dofenómeno, a taxa bruta pode ser redefinida como umaresultante da interacção entre o modelo e a estrutura.Em linguagem de análise demográfica temos: TBM(1990) = SPx(1990) * tx (1990). As diferenças emPortugal no período 1950-90 tanto pode provir dostx (modelos) como dos Px (estruturas). Variaçõesentre modelos significa a existência de diferentesriscos de mortalidade; diferenças entre estruturas(maior ou menos envelhecimento demográfico) sãoalheias à análise da mortalidade.

Explosão demográfica: preocupação com o“excessivo número de habitantes”. Em doismomentos anteriores à época contemporânea,acreditou-se que o “mundo estava cheio” e que nãohavia lugar para tanta gente à superfície da terra.Quais são as características diferentes que estefenómeno apresenta nos dias de hoje ? A primeiragrande diferença reside no facto de, globalmente, ahumanidade nos aparecer no século XX dividida emdois blocos: o dos países em desenvolvimento ondese concentra 80 % da população mundial, com umcrescimento anual médio que chega quase aos 2 %,uma mortalidade infantil elevada, elevadaspercentagens de jovens, baixas percentagens deidosos, e um PNB per capita que raramente ultrapassaos 1000 dólares. No bloco dos países desenvolvidostemos 20 % da população mundial, um crescimentonatural praticamente igual a zero, uma mortalidadeinfantil reduzida, baixas percentagens de jovens,elevadas percentagens de idosos e um PNB per capitaque é quase vinte vezes superior.

Fecundidade: fenómeno relacionado com osnascimentos vivos considerados do ponto de vistada mulher ou do casal.

Page 123: Caderno de Apoio de Demografia

139

Fecundidade natural: manifestação da fecun-didadeno casamento na ausência de contracepção e deaborto provocado.

Fenómenos: Aparecimento de acontecimentos deuma dada categoria. Assim, ao acontecimento óbitos,corresponde o fenómeno mortalidade, aoscasamentos a nupcialidade, aos nascimentos anatalidade e a fecundidade, às mudanças deresidência a migração.

Fertilidade: aptidão para procriar. O seu contrário éa esterilidade.

Geração: coorte particular constituída pelo conjuntodas pessoas nascidas durante um dado período,geralmente um ano civil.

Idade exacta: Idade determinada calculando adiferença entre a data onde é calculada e a data denascimento do indivíduo. Um indivíduo nas-cido no dia 1 de Junho de 1923, terá no dia 1 deNovembro de 1978, 55 anos e 5 meses.

Idade média de fecundidade: Idade média das mãesaquando dos nascimentos vivos segundo uma tábuade fecundidade geral, o que significa, na ausênciade mortalidade.

IMF = Σ (Pontos médios * ntx)/ Σntx

Índice sintético de fecundidade: Soma das taxasde fecundidade geral por idade durante um período.Índice sintético de fecundidade:

T.F.G. *5 = I.S.F.

1.º Calcula-se a média dos nascimentos (t0+t1/2),em cada um dos grupos etários, 2.º dividem-se pelapopulação feminina em cada um dos grupos etários,3.º multiplica-se o somatório das T.F.G. por gruposde idades por 5 que corresponde à amplitude de cadagrupo etário. Se o I.S.F. for 3 significa que, se asmulheres que entrarem noperíodo fértil adoptaremos comportamentos que existiam em t0/t1 terão 3filhos.

Migrações: significa a deslocação de pessoas e demobilidade de indivíduos. Modelo de Dupâquier.

Modelos: construção que pretende representar osfenómenos demográficos. As tábuas tipo de

atracção exercidos respectivamente pelas zonas departida e de chegada do migrante e a distância quesepara estas duas zonas.

O objectivo teórico das políticas demográficasconsiste em actuar sobre os modelos (ou sobre osefectivos) tendo em conta determinados objectivoseconómicos e sociais.

Mortalidade infantil: mortalidade das crianças demenos de um ano.

Mortalidade no 1.º mês - factores endógenos:mortalidade que se deve a circunstâncias do parto,defeitos de constituição interna e envelhecimento doorganismo. No caso da mortalidade exógena, estadeve-se sobretudo a factores do meio exterior.

Mortalidade: fenómeno relacionado com os óbitos(acontecimento).

n = log 2/log (1+a)

Nascimento: Acontecimento relacionado com anatalidade.

Natalidade: fenómeno relacionado com osnascimentos.

Nupcialidade: fenómeno relacionado com oscasamentos. A nupcialidade não é uma variávelmicrodemográfica autêntica na medida em que o seuaumento ou a sua diminuição não afectamdirectamente a dinâmica populacional. Esta variávelintervém na dinâmica populacional indirectamenteatravés da fecundidade, se bem que, neste princípiode milénio, é cada vez mais forte a tendência para aseparação entre os comportamentos da nupcialidadee da fecundidade. O processo mais simples que existepara medirmos o nível da nupcialidade consiste emdividir o total de casamentos observados pelapopulação média.

Pirâmide de idades: Duplo histograma que dá umarepresentação da população pelo sexo e as idades.

População estacionária: população estável com taxade crescimento nulo.

Princípio da Translação: a construção das tábuasde mortalidade. Este princípio serve para designar

Page 124: Caderno de Apoio de Demografia

140

os modelos e fórmulas permitindo estabelecer asrelações entre medidas longitudinais e medidastransversais dos fenómenos.

Projecção demográfica: perspectiva demográ-fica onde a ideia de previsão está geralmente ausente.

Recenseamento: Conjunto das operações quepermitem conhecer o efectivo da população de umterritório num determinado momento, com osdetalhes sobre a repartição dessa população porunidade administrativa e segundo uma gama maisou menos extensa de características.

Relações de Masculinidade: relação, numapopulação, entre o efectivo masculino e o efectivofeminino. Numa geração, sem trocas migratórias,devido à sobremortalidade masculina, esta relação ésempre decrescente passando de 1,05 à nascença paraum valor na ordem de 0,30 aos 100 anos.

Relação de Masculinidade dos nascimentos:relação entre os nascidos vivos masculinos e osnascidos vivos femininos durante um período. Estarelação, o mais frequentemente vizinha de 1,05apresenta ligeiras variações consoante os gruposraciais. A sua estabilidade no tempo e no espaço éno entanto suficiente para que as diferençasimportantes face aos valores normais possam seratribuídas a falhas de registo dos nascimentos esugerir meios de correcção.

Tábua de Mortalidade: Tábua que descreve,segundo uma escala de idades, o surgimento dosóbitos numa geração.

Taxa Bruta de Mortalidade: relação dos óbitos deum ano com a população média desse ano e maisfrequentemente, a relação entre os óbitos de umperíodo e o número correspondente de pessoas-anodurante o período.

Taxa Bruta de Natalidade: relação dos nascidosvivos de um ano com a população média desse ano emais frequentemente, a relação entre os óbitos deum período e o número correspondente de pessoas-ano durante o período.

Taxa Bruta de Reprodução: Descendência final,reduzida às raparigas, numa geração femininadenotada R. É a relação entre os efectivos à nascençado sexo feminino saídas de uma geração feminina.Taxa Bruta de reprodução : é o número médio defilhas: T.B.R. = I.S.F. * 0.488

Taxa de Crescimento Anual Média: Taxa decrescimento Anual Médio Natural (saldo natural) +Taxa de crescimento Anual Médio Migratória (saldomigratório). O saldo migratório é a diferença entreas saídas - emigração e as entradas - imigração. Se adiferença for de 0, pode significar que saiu muitagente, mas também entrou muita gente.

Taxa de fecundidade geral: Relação entre osnascidos vivos durante um período e o efectivoconveniente de mulheres ou de casamentos.Relaciona-se com a parcela da população demulheres dos 15 aos 49 anos: ou seja, T.F.G. =nascimentos / mulheres 15-49 * 1000. Podemosdecompor a Taxa de fecundidade geral nos seuselementos constitutivos. Podemos redefini-la comosendo uma soma dos produtos das estruturasrelativas, em cada idade (ou grupos de idades), doperíodo fértil das mulheres, pelas taxas nessasmesmas idades (ou grupos de idades). A T.F.G. podeser assim redefinida como resultante da interacçãoentre estrutura e modelo.

Taxa de fecundidade por idade ou grupos deidade: Relação entre os nascidos vivos de mulheresde uma certa idade durante um ano e o efectivo médioda população feminina com essa idade ou grupo deidade.

Taxa de Migração Total: Relação entre a migraçãototal de um ano e a população média desse ano emais frequentemente, a relação entre a migração totalde um período e o número correspondente depessoas-ano durante esse período.

Taxa de Mortalidade Infantil Néo-Natal (commenos de 28 dias): relação entre os óbitos néo-natais(durante o primeiro mês ou as primeiras quatrosemanas) durante um ano civil e os nascidos vivosdurante esse ano.

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141

Taxa de Mortalidade Infantil Pós Néo-Natal (de28 a 365 dias): relação entre os óbitos pós néo-natais(durante o primeiro ano de vida, excepto o primeiromês ou as primeiras quatro semanas) durante um anocivil e os nascidos vivos durante esse ano.

Taxa de mortalidade infantil: relação entre osóbitos de crianças de menos de um ano durante umano civil e os nascidos vivos desse mesmo ano civil.

Taxa de mortalidade por idade ou grupos deidade: Relação entre os óbitos de uma certa idadeou grupo de idades durante um ano e o efectivo médioda população com essa idade ou grupo de idade.

Taxa de mortalidade: Quando não existem factoresperturbadores, é sinónimo de taxa bruta demortalidade.

Taxa de natalidade: sinónimo de taxa bruta denatalidade.

Taxa líquida de reprodução: entra em conta com amortalidade, ou seja se multiplicarmos as taxas defecundidade geral pelas probabilidades desobrevivência e procedermos da mesma forma queprocedemos para calcular a T.B.R., obtemos a TaxaLíquida de Reprodução: T.L.R. = S (T.F.G * npx)*5*0.488.

Taxa: Relação dos acontecimentos que surgem numapopulação durante um período, com a populaçãomédia durante esse período.

Taxas de crescimento: Relação entre o crescimentode uma população durante um ano e a populaçãomédia desse ano e mais frequentemente, a relaçãoentre o crescimento durante um período e o númerocorrespondente de pessoas ano durante esse período.

Tempo de duplicação em anos: Com base na lógicado cálculo da taxa de crescimento geométricapodemos calcular o tempo de duplicação em anos.Se a taxa a é uma taxa de crescimento constante, aofim de quantos anos n duplicará a população?

Teoria da Transição demográfica: diz-se dasituação de uma população em que a natalidade e amortalidade, ou pelo menos um desses doisfenómenos, abandonaram nos seus níveis tradicionaispara se encaminharem para baixos níveis associadosa uma fecundidade mais controlada e à utilização demeios modernos de luta contra a mortalidade.

Teorias Demográficas: são correntes de opinião quetentam explicar ou prever a evolução dos fenómenosdemográficos, as interacções entre estes e osfenómenos económicos, sociais, psicológicos, doambiente e outros, tentando prever as consequênciasque possam levar à elaboração de uma políticademográfica.

Page 126: Caderno de Apoio de Demografia

Bibliografia Geral – Obras de Referência

Page 127: Caderno de Apoio de Demografia

145

AAVV

1995 Portugal Hoje, Lisboa, Instituto Nacional da Administração.

Actas do Colóquio Internacional sobre emigração e imigração em Portugal, séculosXIX e XX.

1993 Emigração, Imigração em Portugal. Editorial Fragmentos, Lisboa.

ALMEIDA, João Ferreira de, et. al.,

1994 Exclusão Social – Factores e Tipos de Pobreza em Portugal, Lisboa,Celta Ed.

ARROTEIA, Jorge Carvalho,

1987 A Evolução Demográfica Portuguesa, Lisboa, Ministério da Educa-ção, Biblioteca Breve.

A situação da população mundial.

1993 Nova Iorque, FNUAP.

1994 Nova Iorque, FNUAP.

BANDEIRA, Mário Leston

1996 Demografia Portuguesa, Lisboa, Cadernos do Público, n.º 6.

1996 Demografia e modernidade. Família e transição demográfica emPortugal, Análise Social, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lis-boa.

2004 Demografia Objecto, teorias e métodos, Escolar Editora, Lisboa.

BARATA, Oscar Soares.

1968 Introdução à Demografia. Instituto Superior de Ciências Sociais ePolíticas, Lisboa, 1968.

BARRETO, António; Preto, Clara Valadas

1996 Indicadores da evolução social, in A situação social em Portugal,1960-1995 , Lisboa, Instituto de Ciências Sociais da U. L.

BARRETO, António

1996 Três décadas de mudança social, in A situação social em Por-tugal, 1960-1995 , Lisboa , Instituto de Ciências Sociais da U. L.

BARRETO, António (org.)

1996 A Situação Social em Portugal, 1960-1995, Lisboa, ICS.

Page 128: Caderno de Apoio de Demografia

146

BASTOS, J. e BASTOS, S.

1999 Portugal Multicultural . Edições Antropológica , Fim de Século, Lis-boa.

CARRILHO, Maria José

1980 Tábuas abreviadas de mortalidade, 1941-1975, Lisboa , Instituto Na-cional de Estatística, 124 p. (Estudos; 56).

FERREIRA, Eduardo de Sousa; RATO, Helena (coord. de)

1955 Portugal hoje, Lisboa, Instituto Nacional de Administração, 393, 4 p.

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Anexo 1

Dados do recenseamento de 1991

Page 132: Caderno de Apoio de Demografia

151

Page 133: Caderno de Apoio de Demografia

152

Page 134: Caderno de Apoio de Demografia

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Anexo 2

Dados das estatísticas demográficas 90/91

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157

Nascimentos em 1990

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158

Nascimentos em 1991

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159

Óbitos em 1991 (1/2)

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160

(cont. 2/2)

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Anexo 3

Diagrama de Lexis

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Anexo 4

Tábua de mortalidade

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