CAIMI, Flávia Eloisa -História Escolar e Memória Coletiva- Como se ensina- Como se aprende-

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  • Capitulo 3Historia escolar e~memoriacoletiva:como se ensina? Como se aprende?

    As sociedades, os sistemas de ensino, as escolas e umverSicl.uks enfreIluln, _

    ,- em nossos dias, I10vas e complexas demandas furmativas, em bce qas exi-

    gencias postuladas pelo crescente volume de redes informacionais e de

    diversifica~ao cultural a que as pessoas sac su~metidas- em seus coticlianos~

    Estudos recentes sobre os processos do pensar e do ~prendet, em sua!; di-

    versas vertentes, ~centuam 0 pape! ati~o. dos slijeiyis;alunos em seus. per-

    --- cursos de aprendizagem e 0 prougomsmo do rofessor na promo~ao de

    situa

  • 66 !orienta as Diretrizes curriaJlares nadonois pam a.f:mnafDD de proftssores d4 educao3 b4sit:a, em nive1 supaior, curso dt l:ia!tu:iatum, tit ~ plena e est1belece treso~-1.-f: indiCitivOS de compromisso do professor com a prOblem2rica da aprendiza-g ..../' 'gem, a S2ber: oriei:ltar e tnediar 0 eosino para a apreDdizagem des alunos; i"1 "

    ~ W .. '::.comprome~-se com 0 sucesso da apreDdizagem des ahmos; assumir e sabero .~ :.:. lidu com a diversidade existente entre os alunos.1:::1 ,"

    ~ -_.~.. . No ambito das discuss5es sobre 0 ensino cia hist6ria, preocupa~oes< " " dessa natureza estao se fuendo cad.a vez m.ais presentes e pattem de uma

    import~te.deini~ao sobre asfinalidades de ensinar e aprender hist6ria

    na edud.~ao buica. as quaU se distinguenl. em a1gum.a medida. d:l.s 6-

    nalidades de ensinar e aprender hist6ria na fornu~o de professores, em.

    cursosde gradua~ao plena. Em estudo recente, Bittencourt (2004:47)

    demomtra que "a d,isciplina academica visa fOrmar um profusional:

    cientista, professor, administndor, tccnico etc .ao passo que "a disci-

    plina ou materia escolar visa formar um cidadao' comum que necessita

    de ferramentas inteleetuaisvariad:l.s para situar-se IU sociedadee com-

    preedde:o, ~llrido'ffiico e social em que vive". Com tal pressuposto~ a

    a.u.tonnao estipostt1l~do'que a primeira possua nmstatus mais eleVa;..

    do, que tequeitamais rigor cientifico, tampouco que os conhecimentos

    escolares 'possam prescindir das ciencias de referenda on que scjam men

    simpliica~ao dos conhecimentos ditos acaderirico-ciendficos. 0 que

    esti em discussao e a especiicidade da hist6ria escolar e as suas finalida-

    des nos processos formativos das crian~ e joveris que frequentaIiJ. a

    escola bisica.

    -j Nesse contexto, D~ desafios que se colocam pan os profissionais dahist6ria que amam nos niveis iniciais de eScola.rlz2fio - ensino funda-

    mental e medio - sao giganteseos e podein ser traduzidos na seguinte

    id.eia: temm de trabalhar para a s:upera~ao da tra~o verbalist2 da his-

    toria escolar. cuja enwe reC2.i,inv:u:iavelmente. U:l aquisi.;:io cumulativo.

    de informa~oes factuais sobre 0 passido que podem tomar-se m2.is ou

    menos atrativas na medida em que sejam "adomadas" com determina-I dos elementos de ordem metodo16gica e/ou tematica. A renovaao do

    "''''.:,':'''',.J. :.,.,

    ensino da historia ocone. em muitas situa~6es escolares que temos

    acompanhado, tao somente pda incorpora~ao' superficial de teenicas e

    recurs os pedag6gicos como 0 use de imagens. filmes, musicas, ou pelo

    apelo a elementos culturais manifestados em curiosidades e fatos pitores-

    cos da vida cotidiana das sociedades estudadas. Contudo, nio se deses-

    trutura a perspectivo. cronol6gico-linear, verbalista, memoristica, de.

    verdades prontas e~acabadas que tem sido caracteristica central d.a his to- .'

    ria ensinada.

    Na esteira de transform~oes que permeiam os estudos hist6ricos. mui-

    tos historiadores, profcssores e estudiosos de hist6ria tem procundo en-

    coottar respostas para a mtrigante questao: para que serve a hist6ria? Um dos

    mais celebres, Marc ,Bloch (1997), afirmou que a hist6ria serve. antes de

    tudo, para divertir, para a deleite. para a frui~ao do prazer. Da escola me-

    todica temos a indica~i6 de que ahist6ria se;-ve para estudar 0 pass;i.do,~compreender 0 presente e projetar 0 futuro, como se aos historiadores

    fosse concedido 0 dom de azer profecias. prevendo os acontecimentos

    .. futuros. Por sua vez. da tradi~io escolar vem a idei~.de que a hist6ria serve

    para desenvolver 0 espirito dvico e constituir um-a identid.ade naciOI!al

    indivisa. Georges Duby (1999) i.\;).dag;!.ao mesmo tempo em que r~sp_onde:

    "para qu.e serve a hist6ria senio p;i.ra aji.tda,r seus contempQ~e.ps a ter

    confi.an~a em seu futuro e a abordar com mais recursos 'as dific;.uldades que

    des encontram cotidianamente?" .,.;;

    A despeito das muitas respostas que tem sido dadas a questaO, nenhumconsenso pode ser apontado. uma vez que cad;!. historiadoriprofessor tern

    . - 1de procurar responder a si mesmo. confonrte seu contextp dea.tua~.ao pro-

    fissional. Procurarei, nos limites deste cipitulo. af!..ontar.indicadores qu-;-\. . . \

    justifiquem a manuten~ao da hist6ria como disciplina escolar no cenirio I; .. '

    contemporaneo e apresentar possiveis elementos para a supera~:io dos de- t"',safios que emergem dos processos de ensin.o e aprendizagem. da hist6ria ; ..

    em contenos escolares.Jtendo como tela de [undo a indaga.;:io ;!.pontada

    no titulo. qual seja: "hist6ria escolar e mem6ria coletiva: como se eosina? .I

    Como se aprende?"

  • Linhas de investigac:;ao no campoda aprendizagem historica

    Diversas teorias oferecem hoje um amplo leque de possibilidades explica-

    tivas sobre 0 fenomeno da aprendizagl;m. podendo-se extrair-lhes como

    caracteristica central 0 seu carater reconstrutivo. E consenso entre as ten-dencias conrempoclneas a compreensao de que 0 aprender implica um

    processo construtivo/reconstrutivo do sujeito, dado que 0 conhecimento

    nao se copia nem se transrnite, mas se estrutura progressivamente nas inte-

    rayoes qualificadas entre 0 sujeito e 0 meio fisico, social, simb6lico. Du-

    rante anOs, por urna leitura superficial e equivocadados estudos de Jean

    Piaget, propagou-se a ideia de que a aprendizagem dependia. incondicio-

    nalmente, do desenvolvimento biologico, razao pela qual se postulava a

    ideia de que as crianvas nao tinham condivoes maturacionais para a apren-

    dizagem de cOIJ.ceitoshist6ricos e de novoes temporaisantes dos 11 ou 12

    anos, quando iniciavam a passagem do pensamento operatorio-concreto

    para 0 petIsamento formal ou hipotetico-dedutivo.

    Entretartto, os estudos contempocineos - e refiro-me especialmente

    aos que tratarn cia aprendizagem historica - tem demonstrado a superayao

    desse equivoco, aportando as investigayoes em situavoes concretas de en-

    sino-aprendizagem na educayao bilsica e procurando demonstrar as poten-

    cialidades das interayoes em sala de aula para a construyao d'Oconhecimen-

    to historico. Em 1inhas gerais, as pesquisas ap'ontam duas princip:lis

    tendencias interpretativas para a compreensao do fenomeno ciaaprendiza-

    gem historica que podem ser traduzidas em: estudos ciaccgniyao; e educa-

    yao historica;

    Os chamados "estudos da cogniyao" refulem um conjunto de pesquis:lS

    qu~"-e~d~~i~'p;e-;;~~pa~~o com' 0.desdivolvimento das nOyoes espayo-

    tempofais das cri~nyas e jovens. com a construyao de conceitos historic-os e

    a aprendizagem da causalidade e da causalidade historica. Tais estudos sac

    encontrados predorninantemente sob 0 fortnato de dissertayoes e teses, in-

    corporando-se muito timidamente ao mercado editorial, e estao focalizados

    no diilogo entre dois campos analiticos: um proveniente das teoM cia his-

    toria e outro, da psicologia cognitiva da aprendizagem e do desenvolvimen-

    to. Nesse diilogo, oS'pesquisadores buscam responder a questoes fulcrais7

    :.{ acerc~~os processos de ensinar/aprender hist6ria. como por exemplo: como;

    .' se cia, .no desenvolvimento cognitivo, a compreensiio das relayc5es.~tre 0 :"}

    tempo'Vividoe 0 tempo historico (ou, dito de outro modo, ~tre. a memo- (

    ria e ahist6ria)? Que recurs os cognitivos estio i.mplic~s; bo~xnod6s de.

    . r petIsar historicamente? Em que medida as noyoes de temporalidadee cau'-

    saliciade histOrica estio relacjonadas ao desenvolvimento do pensamentoIlogico? QUlll. a relcvanela das aquisi~oes de reversibilidade, reciprocidide e {

    .,. descentrayiio para a aprendizagem des fenomenos hist6ricos? ~

    Ao buscar responder a tais questionamentos. os pesquisadores' propug-

    nam que a sala de aula se constitua num espayo rico de possibilidades de

    interayoes entre os estudantes, as 'quais favoreyam a tOinada de"co~ciencia 2de sua propria historicidade. rdacionada a historia do outro e das coletivi-

    :, dades. Desse modo, a~_ogamq~~~.!!:C;I:l~.ag~~ ~~~:~ .e.pos~!~ja nos anos iniciais de escolarizayio, desde que as interveriyoes pedag6gi,?s

    s~fay~ apariir' "da mem6ria que as'crian?S ~ da sua propria

    exist;naa eda J:+lemorla .~()da1deseus gropos de referenda, para bus~ar,

    a~ves dessas, promover as relaye5es c6main~moriahistorica de s~a socie-

    dade. em outros tempos.e 11l~es"~3 Tambem. no diilogoentre 0 campo

    da ktoria e 0 .da psicologia cognitiva. admitem que os aspectos sociocul-turais constituem intervenientes importantes para 0 desenvolvimento de

    nOyoes e conceitos historicos, cabendo a escola oportunizar situayc5es deaprendizagem em nlveis crescentes de complexidade, incorporando 0 co-

    nhecimento patico dos sujeitos e as suas experienelas de intera?o e co-

    .;":municayio social ao estudo des objetos de conhecimento hist6rico.

    A vertente denominada edUC/tfAo hiStQrial e funcb.ment3da.predominan-

    :;:tertl~~i:~:~;'~ef~~:s da episteino~a ~~.t6ria, mas matitem.dillo-.'., 1, .:il ..

    , Piaget, 1978., Siman, 2005:124.

  • go com a metodologia de invest:igaf20 em cienci~ sociais. Especialmente

    apoiada em autores como Jom Rii.sen, Isabel Barca, Peter Lee, Rosalyn

    Ashby, Joaquin Prats, Maria Auxiliadora Schmidt, entre outros, busca re-

    conhecer ~ ideias historicas de alunos e professores, centrando a aten~ao

    "nos princlpios, fontes, tipologias e estrategias de aprendizagem em

    historia". Tais estudos mo procuram de!vend2r os processos universa.is da

    cogni~o, nem ~belecer padroes gerais de funciOIWDeIlto e regu1a~ao

    do pensamento historico, mas sim foalizar, prioribriamente, ~ ideiashis_.

    t6ricas que os sujeitos constroem a partir ~ su~ ~Oes sociais, 0 que'

    leva os pesquisado~ a ressaltar a ~ situada dessa COlUtru~o e a

    relrnncia do contexto social nos percunos de aprendizagem. N~ palavr.u

    de Barca (2005:'18), "0 meio &miliar, a comnnjdade local, os media, espe_

    cialmente a televisio, constimem fomes import:mtes para 0 conhecimento

    hist6rico dos jovens que a escola nio deve ignor.u nem menosprezar"; A

    autora vai al&n, afirmando que "e a partir da de~ destas ideias - que

    se manifestam ao nivei do senso comum, e de fOrma muiw vezes fng-

    mentada e desorganizada - que 0 professor poderi contribuir para ~

    modificar' e tamar mais elabo~".

    Seguiildo 'os ~~tos ate aqui e:xpostos, pode-se dize;' grtllSO modit, que,

    essas duu'vertentes iDvestigativas sabre a aprendizagem hirt6rica possuem

    muitoS ~~to~deconBuencii e, no minimo, duas diferen~, quaiS sejam:,os estudos da cogni~o, ~ se situem em zona fronteiri~ entre a epis-

    temologia ciahist6ria e a psico1ogia cognit::iva. tendem mais para a seguncla,

    ao passe que a eduea.po his,t6rica dialoga m2is estremmente com os refe-

    renciai.s da epiJtemologia da b.ist6rtt; e, ao investirem mais fortemente nos

    fundamentos da psicologia cogr;Utm - apoiados em autores como Piaget,

    Vygotsky, Bruner5 -, os estudos da cogniPo ac2bam por dar maior en&-

    se aos processos de constnwao do conhecimento em detrimento dos con-

    teudos da :l.prendizagem. A educayao hist6rica, em contraposiyao, fociliza

    prioritariamente suas investigayoes nos produtos da aprendizagem escolar,

    bus cando compreender ~ ideias substantivas dos estudantes sobre 0 conhe-

    cimento e a conceituayao hist6rica ..

    Consiclerando-se 0 caciter ainda lacunar das pesquisas no campo cia

    aprendizagem historica; em virtude de haver poucos pesquisadores debru-

    s;ados sobre ele~ acredito que as duas vertentes sac fundamentais e se com-

    plementam na tarefa de explicitar os meandros do pensamento hist6rico

    das criany:lS e jovens que frequentam a educa~ao bisica.

    Ensinar e aprender hist6ria na contemporaneidade:quais sao os desafios?

    Conheyo urn sabio proverbio que diz: "p;ua ensinar hist6ria a Joaoe pre-

    ciso entender de ensinar, de hist6ria e de Joao". Hi algumas d.ecacias se

    pens,ava que para ensinar hist6ria b:l$taria enteilder de hist6ria, pois 0 en-

    sino dessa disciplina consistia num processo de transmissao de conheci-

    men~os hist6ricos protagonizados pelo professor, e, cQnquanto eS,teutili-

    zasse tecni~ e recunos adequados, a aprendizagem '''de ]oao" seria uma

    consequencia natural. Ha que se considerar, no entanto, que nos proces,sos

    de ensmar e aprender hist6ria esuo implicados tres elementos indissocia-

    veis, quais sejam:a natureza da hist6ria que se escolhe ensinar, com seus

    conceitos, dinamicas, operayoes, campos explicativos; as op~oes e decisoes

    sobre :lSpeetos de natureza metodo16gica, a transposiyao didatica ou 0

    "como erisinar"; e a especificidade da aprendizagem hist6rica, que pressu-

    poe 0 desenvolvimento de estrategias cognitivas, de noyoes e conceitos

    pr6prios dessa area de conhecimento com vistas a construs;ao do pensa-menta hist6rico por crians;as, jovens e adultos.

    Desde que se admitiu, em assuntos pedag6gicos, que 0 cQnh.ecimento

    n~() e uma cooia da realidade e que para conhecer urn objeto nao basta

    Barca, 2005:15.s 0 sul,o Jean Puget (1896-1980), 0 russo Lev S. Vygotsky (1896-1934) e 0 norte-amenCl.no Jerome Bruner (1915) re::Ui= os man impo~ estudos do s~cu1oXXno campo da 1ptendiz:lgem e desenvotvimento co~tivo" constituindo as base, do que

  • sirnplesrnente olha-Io e dele fazer urna imagem mental, a tareta de ensinar

    - emina'r historia, em especial - tomou~se uma das mais complexas 'e

    desafiadoras da nossa epoca. Compreende-se hoje que, para conhecer urn

    objeto, e necessario agir sobre ele, pressupondo a a~ao nao apenas como

    a~ao motora/manipula~ao, mas tambem como atividade mental interiori-

    zada e reversivel, a qual Piaget (1976) caracterizou como opera~ao. 0 que

    entra em jogo num processo de aprendizagem e a transformarrao de algo

    que vem de fora em algo reconstruido por dentro, uma vez que conhecer

    consiste em modificar, transformar para si 0 objeto, cOrnpreender como ele

    e construido eo processo de sua transformarrao. Nesse cenmo ganharn

    centralidade discussoes pautadas em temas como relarrao entre hist6ria e

    memoria, entre conteudo e metodo, entre historia narrativa e historia-

    problema, sobre os quais nos debru~aremos na sequencia do texto.

    Em estudo recentemente divulgado, Carretero e colaboradores (2007)

    procuram estabelecer diferen

  • 74 "unu metodologia que oferep ws alunos os instrumentos de conhe~-

    mento precisos pan enfu:nb.r seu p~ente e sea futuro. Uma metadolqgia

    de tnhalho que prepan ptt.t a reflexio. pan a anilise, pan a duvida e para

    a valori~ dosa.rgumentos .

    Outra aspeeto.relevante nos debates contep1porineos acerca da aprendi-zagem e' doeti.su,.~ da hist6ria escolar diz respcito i ~ entre co.nteu~oe metodo. Frequentemente, essa ~ e \l,presentada em termos ()post~s;

    defendendo""Se ora a prim2zia dps conte6dos. ora a primazia dos metodos,

    como se estes dois dememos pudessem set"dissociados nos processos'peda-

    g6gicos. Na cr.get6ria da disrip1ina escolar idenrificamos momentos em

    que os conte6dos foram concebidos como fins em si mennoS, cujo prop6-

    site era a memo~ de grandes acontecimentos com vist:I..si erudi~o

    ou i foIlIl2fio civico-patri6tica dos jovens. Noutros momentos, em espe-

    cial nas decadas de 19M> 'e 1950, os m!todos ganharam destaque nos deba-

    tes acadCmicos, consolidando-se os cham:idos cnrricnlos cientfficos, de

    inspira~ao norte-americana, nos quais se defendia a necessidade de neutra-

    lidade e de objetividade mediante a ntiliza~ de mecodos adequados.

    A despeito dessa perspectiva, muitas experiencias de renova~ao metodo-

    1000ca que postulzvam uma nova arti~o e'ntre conteudo e metodo

    foram implementadas na decada de 1960 em diversas regiCies do pais. res-

    tabdecendOia.ftin+ao social e poMtica da hist6ri.a escolar. Priticas autorici-

    rias do regime milieu' de$articularam tais experiencias, contnbnindo pan

    transformar as discnssOes rebtivas ao m&odo em ttenicas de ensino; num

    cenirio em que predominou 0 tecnicismo edncacional Em cerra medi&,

    tamoo-se difIcil &Jar em renovaf6es metodol6gicas na decadade 1980.

    ... Ji em virtnde dessa ~ teQlicista. Atualmente advoga-se a ~o2;' ~conte6do-m&odo': enamdendo-se 0 prim.eiro Colno "conteUdo significati-

    vo", e 0 segundo, como "metodo investigative!", ou seja, sele~ao d.e coilteu-

    dos e defini~6es metodo16gicas consticuem a base do trahalho do professor'

    e escio associadas a dive:rsas sicua~6es. que vao desde a apropria~ao das ten-

    dendas te6rico-historiogr:ificas - nao esquecendo 0 6bvio: lU sem,pre urna

    epistemologia por dems do metodo - ate a especificidade. dos contextos

    escolares e as con.di~oes de aprendizagem all existentes. Nesse s.entido. rei-. -,tenmQS que a produ~o sabre a ensino de hist6ria precisa incorporar as \

    escudos recentes acerca des modos de aprende. r e ensiruu:. asswnindo que a

    Jorganiz.a~o e a constru~o do conhecimento pressup6em 0 desenvolvi-menta do pensamento. 0 que, por sua vez, pressupoe metodos e procedi-mentos sistemiticos do pensar.

    No bojo dessa diseussio conteodo-metodo coloca-se ta,mbem a quescio

    entre a hist6ria-narrativa e a hist6ria-problema. Critica-se, atualmente.

    uma forma de narrativa que se configurou nos livros dici5,ticos a partir de

    enredos quase ficcionais, nos quais. segundo Bittencourt (2004:144),

    Q$ acomecimentos sao apresentac:iosde forma mais amena e ClIlot;iVJl,

    com personagens diVididos entre b.ons e maus. herois. vitimas e car-

    rascos, que se movimentam em uma hist6ria maniqueista, com lin-

    guagem criada para facilitar a memoriza~o do conteudo. mas nlio

    para se tomar ob.jeto de interpreta~io, de questionamentos e in

  • fica, todavia, a O1orte cia narrativa, pois "a hist6ria oscilara provavelmente

    se01pre entre a arte cia narrativa, a inteligencia do conceito e 0 rigor das

    provas". No e'ntanto, afirrila esse autor, "se essas provas forem mais seguras,

    os conceitos tnais explicitados, 0 conhecimento ganhm com isso e a arte

    da narrativa nacia perdera".'O

    Diriamos que tarnb&n no ensino de historia, nao obstante a perspectiva

    de trabalhar com a hist6ria-problema, como mecanismo para desprender-

    se do eosino factual ememoristico e para a construyao de conceitos inte-

    grados numa rede de significayoes, a boa narrativa, a narrattva contextua-

    lizada, constitui 0 cerne da pr.i:tica historiografica e contribui

    essencialrneilte para a conceitualizayao; afinal, conceitos se constroem so-

    bre conteudos e experiencias, nao sobre 0 vario. Entao, problematizar a

    historia consiste em mobilizar conteudos que nao tenham carater escitico,

    desvinculados no tempo e no espayo, 'como fins em si mesmos, mas que

    perrnitam aos estudantes compararem as situayoes hist6ricas em seus as-

    pectos espayo-te01porais e conceituais, promovendo diversos tipos de rela-

    yoes pe!as quais seja possive! estabe!ecerem diferenyas e semeIhanyas entre

    os contextos, identificarem rupturas e continuidades no movimento histo-

    rico e, principalrnente, situarem-se como sujeitos da historia, porque a

    compreendem e ne!a iiltervem.

    Ensiilar e aprender hist6ria na contemporaneidade:algumas potencialidades formativas

    Como ja dissemos, novas demancias de aprendizagem nos sao colocadas

    pelas especificidades do nosso tempo. Vivemos nurna sociedade com rit-

    mos de mudanya muito.acelerados e que requer conhecimentos e habilida-

    des em multiplos dominios, exigindo dos professores e estudantes uma

    capacidade de integrayao e relativizayao de conhecimentos que vai muito

    alem da mera assimilayao mecanica de informayoes.Ora, Ilessc.,contexto,

    tanto evolui 0 que temos d,eaprender quanto aforma como temos de apren-

    der, 0 que significa dizer que precisamos "nao apenas aprender mais do

    qU:enunca, mas, principalmente, de uma formadiferente cia tradicional

    aprendizagem reprodutiva ou memoristica".u

    Se 6s processos de aprendizageIh, de qualquer natureza, contem dificul-

    ciades que lhes Sad inerentes, pode-se dizer que, no'que tange a aprendiza~gem da hist6ria, existem diticuldades especificas que to~nam 0 trabalho

    aindamais complexo .. Prats (2006:201-204)12 sumariza tais dlficuldades',---

    0 estudo da hist6ria pressupoe altos niveis de pensamento abstrato e

    formal, bem como a compfeensao de variiveis e relayoes que Dio po:"

    den'1 ser isoladas de uma totalidade social dinamica;

    a impossibilidade de reproduzir os fatos do passado exige que 0 conhe-

    cimentohist6rico se efetive por metodos de investigayao, 0 .que~ressu-

    . poe'um ti:abalho de anilise, critica e rela~o queenvolve.certa especia-

    lizayao tecnica; '. " ..

    naoexiste um consenso sobre a natureza da disciplina como ciencia

    social, tampouco um vocabul:irio conceitual Unico e-leis gerais de apro-

    xiIIUc;:io ao campo 'empirico;

    a percepc;:ao dos alunos em relayao ao estudo da hist6ria, enteodida

    como materia que se aprende por memorizayao;

    a instrumentalizayao da hist6ria pdos govemos, interessados em confi-

    . gurar determinada consciencia hist6rica em cadi epoca;

    por tim, h:i 0 proprio trabalho dos profess ores de hist6ria, 0 quai nio

    raro coirobora tais concepyoes ao apresentar a hist6ria como urn COD-

    junto de informa~5es prontas.

    .11 Pozo,.2002:18.12 Joaquin I'zats, "Ensinar hist6ria no contexto das cienew soci.ais:principiosbisi.cos",Eduazr em &vista, n. especial,Curitiba. UFPR, 2006, p. 201-204.

  • U= altep1ativa para a enfrentmle,llto.de tais dificu1dades e que vem

    sendo defendida pdos pe3quisadores interessados no =po da aprendiz;i-

    gem ~~~ diz respeito a intto~ do m&odo hist6rico na sala deaula, contemplando a tnbalho com uma divcrsidadc de fonte3. TaJ prop 0-

    siyio se justifica pelo argumento de que '~eimprescindivd que a hist6riaseja traballwia nas aulas incorporando toda sua coettncia intema e ofUe-

    cendo cluves para 0.3Cesso 3 sua e3trutura como conhecimento cientifico

    .do pas$~o":L' Oo,ainda, pdo argwnento de que 0 uso de docwnentos

    pode faVorecero desenvolvi,mento do pensamento hist6rico, permitindo

    compreoendei os'processos de prodll~ do conhecimento hist6rico "pelo.

    entendimento de que os ve3tigios do passado se encoutram em diferentes

    lugare3. f.uem parte da memeria social e.precisam ser prescrvados como

    patrimOnio da humanidade".14

    Aptendera historiar 00 aprender a oficio do historiador nao significa

    a1mejar que 0 estudante se tome om pequeno historiador, ate porque as

    finalidade3 do trabalho do histori2dor ao produzir conhecimento histbrico

    sao distintas lias finalidade3 do trabalho do professor ao ensinar hist6ria. 0

    historiador toIIU as funtes como IIUtCria-priIIU~ desenvolver 0 seu

    0000 e, como especiafuta, reconhece todo 0 contexto de prod~o antes

    mesmo de delimiti-las para 0 seu estudo, ao IWSO que "os jovem e as

    crian~ estio aprendendo hist6ria e nao dominam 0 cont=to hist6rico

    em que a documento fOiproduzidO".1SA.uim, ensinar ooHcio do historia-

    dor consistiria em constrnir com os a1unos uma b:igagem conceitual e

    metodolOgica que lhe3 pecnitisse compreendcr (e utilizar, em certo nlvel

    de compImdade) ,osinstromentos e proeedimeritos biricos da produPo

    do conhecimento histbrico.

    Em Joaquin Prats encanttamos 3 fonnalizapo de unu proposta meta-

    dol6gica para a hist6ria escolar que vai ao encontro das apect:ativas de

    romper com a verbalismo das aulas c~.da3 no professor, orientando-se

    u Prats, 2006:204. Bittencourt, 2004 :333.15 Ibid. .p. 329

    para a pecspectiva de forma