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    LINHA DO TEMPO: A HISTRIA DA HIGIENE E DO EMBELEZAMENTO

    Camila PcoloSchtz1Murilo MalucheSchaefer2

    Ana Julia Von Borell Du Vernay Frana3

    Resumo:Cosmtico tudo aquilo que relativo higiene e beleza humana.So preparaes constitudas por substncias naturais ou sintticas, de usoexterno nas diversas partes do corpo humano pele, sistema capilar,rgosgenitais externos, unhas, lbios, com o objetivo exclusivo ou principal de limp-las, perfum-las, alterar sua aparncia, corrigir odores corporais, proteg-las oumant-las em bom estado, alm de embelezar. O homem, em sua histria,utiliza e adapta seus hbitos para com tais produtos conforme as sociedadesabsorvem diferentes conhecimentos: por exemplo, gregos e romanos antigosveneravam o banho, em contraponto aos medievais que condenavam ahigiene. Os cuidados com o corpo, assim como a percepo do mesmo, soparte essencial de toda cultura e dizem muito sobre como uma sociedade seporta a partir do que comum ou proibido quando o assunto o adornocorporal. O objetivo do trabalho montar uma linha do tempo da sociedadehumana aos olhos da histria ocidental utilizando-se de uma revisobibliogrfica de livros, artigos, peridicos impressos e eletrnicos com o fimde esclarecer a relao do homem com a higiene e de como evoluiu junto comos cosmticos e hbitos de asseio.

    Palavras chaves: Histria. Higiene. Esttica. Cosmticos. Embelezamento.

    1 INTRODUO

    O termo cosmtico foi criado no sculo XVI a partir do

    grego kosmticos, que significa relativo ao adorno, sendo a raiz da

    palavra kosmos= ordem. Talvez tenha sido o monge humanista Erasmo

    (1469 1536) quem a tenha forjado, quando fala em seu Elogio da Loucura

    desses adornos, desses disfarces, desses banhos, desses crespos, desses

    perfumes, desses odores e, enfim, de todos esses preparados cosmticos, que

    servem para embelezar, para pintar ou para disfarar o rosto, os olhos e a pele

    (PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT, 1998).J a palavra higiene surgiu do nome

    1Acadmica do Curso de Cosmetologia e Esttica da Universidade do Vale do Itaja UNIVALI, Balnerio Cambori, Santa Catarina. E-mail: [email protected] Acadmico do Curso de Cosmetologia e Esttica da Universidade do Vale do Itaja

    UNIVALI, Balnerio Cambori, Santa Catarina. E-mail:[email protected], Professora do Curso de Cosmetologia e Esttica da Universidade do Vale doItaja UNIVALI, Balnerio Cambori, Santa Catarina. E-mail:[email protected]

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    da deusa grega Higia, responsvel pela conservao da sade. Na Grcia

    antiga o banho tinha a funo de proporcionar conforto e era um ato necessrio

    para as preces e libaes (FRANQUILINO, 2009).

    Antes do surgimento de tais palavras, homens j utilizavam artifcios de

    beleza e higiene. Nos primrdios de nossos hbitos existiam rituais

    relacionando asseio corporal com pureza espiritual. Ao longo da histria, a

    concepo de limpeza se transformou conforme o contexto social, o clima, a

    religiosidade e os costumes de cada poca. Os produtos de higiene foram se

    incorporando ao cotidiano conforme a evoluo histrica dos hbitos de asseio

    (FRANQUILINO, 2009).

    importante destacar como o homem utiliza os produtos de beleza com

    relao espiritualidade, seduo e sade. Outro ponto de destaque a

    forma que o ser humano percebe e lida com o prprio corpo, tendo em vista

    que a limpeza ponto chave nos cuidados corporais e em como as pessoas

    endeusam ou abominam o ato de embelezar-se. Vale ressaltar tambm a

    evoluo dos produtos e dos cosmticos bem como a cosmetologia. O artigo

    presente visa quebrar algumas ideias contemporneas de que outras

    sociedades eram sujas e mal cheirosas, j que a concepo de limpo, saudvel

    e esteticamente agradvel muda constantemente; um longo caminho foi e

    continua sendo percorrido at chegarmos ao conceito atual de higiene que

    provavelmente ser curioso e estranho quando futuramente tambm

    passarmos a ser objeto de estudo de historiadores.

    O objetivo principal do artigo presente desenvolver uma reviso

    histrica desde a Pr-histria Era Contempornea onde se destaca a

    relao do homem com a higiene corporal e purificao espiritual utilizando-se

    da gua, dos cosmticos e objetos de limpeza.

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 Pr-histria: O homem se descobre

    comum que se considere pr-histria todo o perodo que vai desde o

    surgimento do homem, em torno de 150 mil anos segundo as estimativas

    atuais, at o aparecimento da escrita, datado de 3200 a.C.). Reconhece-seuma civilizao pr-histrica pelo fato de no possuir documentos escritos e

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    apenas restos materiais, artefatos, desenhos rupestres e fsseis. A pr-histria,

    na verdade, mais estudada por paleontlogos, arquelogos e antroplogos

    (KOSHIBA; PEREIRA, 2004).

    A histria da higiene corporal est intimamente ligada ao papel e ao

    valor simblico da gua atravs das pocas e das civilizaes. O culto ao belo

    sempre esteve ligado histria do homem. Os cosmticos fazem parte dessa

    histria, pois so conhecidos registros pr-histricos que apontam o uso de

    pigmentos extrados de frutas, como, por exemplo, a amora, que embelezavam

    as mulheres da poca. H achados anteriores a Era da Escrita denunciando o

    uso de um leo roxo para, hipoteticamente, cobrir defuntos (SOUZA, 2005).

    O prprio conceito de povos da pr-histria sociedade e/ou espcies

    homindeas extintas e sem registros escritos (KOSHIBA; PEREIRA, 2004)

    no permite um grande aprofundamento sobre sua utilizao dos cosmticos.

    Maiores estudos se do a partir do surgimento da escrita, ou como se

    convenciona, o incio da Antiguidade.

    2.2 Antiguidade Egito, Grcia e Roma: sade, adorao e prazer

    A histria define comumente a Antiguidade como sendo o perodo entre

    o aparecimento das primeiras civilizaes do oriente e o surgimento da escrita

    silbica (4000 a.C a 3200 a.C) at a queda do Imprio Romano do Ocidente,

    em 476 d.C. Pode ser dividida entre Oriental e Clssica, onde a primeira inclui,

    entre outras civilizaes, o Egito, a Mesopotmia e a China e a segunda inclui

    Grcia e Roma (PEDRO; CCERES, 1984).

    Essas civilizaes mais antigas deixaram rastros sobre os cuidados com

    a higiene pessoal e com a sade. Foram achados artefatos arqueolgicos daMesopotmia como placas de argila usadas por sacerdotes como tratados

    mdicos que ressaltavam a importncia do asseio corporal (FRANQUILINO,

    2009). O sabo datado de 2800 a.C. e foi descoberto em escavaes na

    Babilnia, produzido com gordura animal e cinzas (ASHENBURG, 2007).

    Os egpcios e seus hbitos merecem ateno pontuada, devido a sua

    influncia sobre outras civilizaes. Mesmo num perodo to antigo, a

    populao j se lavava em torno de trs vezes ao dia e mantinham costumes eprodutos para manter a limpeza e beleza do corpo para enfrentar o clima

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    arenoso e quente. O sabo egpcio continha at mesmo leos vegetais

    (FRANQUILINO, 2009).

    Os faras j empregavam mscaras de beleza. A crena Egpcia de

    reviver aps a morte, mostrou o interesse que os faras tinham com cuidados

    para permanecerem belos depois de morrer. No sarcfago de Tutancmon

    (1400 a.C.) e outras tumbas encontradas, continham em seu interior: cremes,

    incensos e potes de azeite usados na decorao e no tratamento do corpo

    (FAANHA, 2003; EVELINE, 2004). Clepatra, rainha do Egito, ainda hoje

    smbolo da cosmetologia, devido a seus cuidados de beleza. Ela utilizava leite

    azedo para manter a pele suave e limpa e lamas do rio Nilo para melhorar o

    vio da pele. Os argumentos anteriores indicam um dos primrdios da

    utilizao de esfoliantes; a pele de Clepatra suavizava devido ao do leite

    azedo, provavelmente pela concentrao de cido ltico e a lama

    possivelmente tinha ao adstringente (PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT,

    1998).

    O sol forte e a areia queimavam e ressecavam a pele a ponto de

    surgirem enfermidades. Para proteo do corpo e dos cabelos mesmo os

    soldados durante guerras untavam-se diariamente com gorduras e leos, que

    tambm eram utilizados como base para cremes e pomadas. Essas misturas

    com alta aderncia eram complementadas com fortes aromas e se

    popularizaram em todo o Mediterrneo. Era comum e elegante em eventos

    sociais utilizar um cone com essa pomada perfumada por baixo da peruca: com

    o tempo e o calor a mistura derretia e escorria pelo corpo, exalando perfume

    (FRANQUILINO, 2009).

    Nas casas egpcias das classes mais altas existiam salas de banho onde

    escravos lavavam seus mestres utilizando-se de bacias as banheiras sforam incorporadas aos hbitos aps a dominao romana. Relata-se que os

    egpcios utilizavam misturas perfumadas base de cinza e argila, assim como

    poes com leo vegetal, gordura animal e sais alcalinos para limpeza e

    tratamento de doenas cutneas. A elite egpcia tambm mostrava seus

    hbitos de higiene na produo de artefatos, como vasos e caixas de toalete

    para armazenar cosmticos e produtos de higiene pessoal. Essas peas,

    assim como desenhos de cenas em toaletes, esto espalhados em museuspelo mundo e so os maiores vestgios dos costumes egpcios de asseio

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    pessoal. Os menos favorecidos banhavam-se em rios e canais, de forma

    cotidiana (FRANQUILINO, 2009).

    A maquiagem tambm era cotidiana no Egito Antigo, entre homens e

    mulheres. A pintura tradicional dos olhos era feita com uma pasta base de

    cristais de malaquita para a cor esverdeada ao redor dos olhos e para proteger

    contra insetos, infeces, os raios solares e de tempestades de areia;

    alongava-se o olhar com o khl pasta preta de gordura animal e sulfeto de

    chumbo natural. Os faras e suas esposas pintavam o rosto, tingiam as

    perucas. Utilizavam extratos vegetais e compostos metlicos para tingir barba,

    plos e cabelos do vermelho ao negro conhecidos como hena, que um

    dos cosmticos mais antigos que conhecemos. As egpcias utilizavam nos

    lbios uma tintura a base de ocre vermelho aplicada com um pincel e as gregas

    usavam uma substncia semelhante ao leo de girassol (PEYREFITTE;

    MARTINI; CHIVOT, 1998; FRANQUILINO, 2011).

    Gregos do sculo VIII a.C. lavavam-se antes de preces, libaes,

    sacrifcios, antes de viagens e ao chegar ao destino, o anfitrio da casa

    oferecia gua para lavar as mos ou mesmo um banho. Em A Odissia,

    Homero enfatiza o poder transformador do banho, onde um jovem tem poder

    de transformar-se em quase um deus. Apesar de todo o exagero literrio, o

    livro descreve a importncia da higiene entre gregos: semelhante ao sculo

    XXI, os gregos banhavam-se para ficar mais atraentes, confortveis; a

    diferena se dava na relao que os antigos tinham com os banhos e os

    deuses(ASHENBURG, 2007).

    A Odisseia de Homero deixa claro que o banho se fazia necessrio

    antes de ritos religiosos.Segundo Katherine Ashenburg (2007, p. 22), autora do

    livro Passando a limpo O banho: da Roma antiga at hoje:

    Os santurios normalmente tinham fontes de gua em suaentrada no que a comunicao com os deuses demandasseuma limpeza maior do que aquela estabelecida entre humanos,mas os gregos acreditavam que qualquer relacionamentorespeitoso exigia asseio e limpeza.

    Um gregode classe privilegiada normalmente possuauma sala de banho

    junto cozinha. Servos pegavam gua de cisternas ou poos prximos e tais

    salas possuam lavatrio para banhos em pe/ou uma banheira de terracota

    influncia direta de Creta,onde a mais antiga foi descoberta dentro do Palcio

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    de Knossos, datada de 1700 a.C.Creta dispunha tambm de gua corrente,

    encanamentos, esgotos (ASHENBURG, 2007).

    Um ateniense pobre banhava-se em poos prximos casa e visitava as

    casas de banho de tempos em tempos. Tais locais eram pblicos, mantidos

    pelo governo e por iniciativa privada a entrada era grtis ou bastante

    acessvel. Nos locais mais equipados, existiam salas separadas para banhos

    frios e quentes. Esses locais de socializao dispunham banheiras individuais,

    porm mais de trinta em um mesmo local. O banho pblico dispunha de

    substncias de limpeza como cinzas de madeira e um tipo de argila. O local

    oferecia vinho e alguns petiscos. O Ginsio literalmente lugar nu no grego

    era uma terceira opo para o banho, que era um complemento para os

    exerccios fsicos praticados nesses locais. Despidos, os atletas passavam leo

    e cobriam-se de areia. Aps as prticas, essas substncias eram retiradas com

    o estrigil esptula de metal curva seguia-se ento para um banho em p,

    em bacias, duchas ou banheiras. O banho do Ginsio era frio, pois segundo os

    atenienses, o banho quente era feminilizante (ASHENBURG, 2007).

    Na Grcia Antiga, utilizava-se argila ou terra da ilha de Lmnos para

    limpeza facial. A argila grega possivelmente a branca com ao suave e

    hidratante pois Plnio, o Antigo, em sua Histria Natural descreve a

    utilizao de uma terra muito branca e fcil de dissolver encontrada na ilhas de

    Chio e Selinonte, ento cidade grega na costa da Siclia.Pelas caractersticas,

    a terra ou argila de Lmnostem ao de esfoliante fsico ou

    hidratante(PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT, 1998).

    Em busca de uma pele mais viosa e driblando os poucos recursos da

    poca, as damas das antigas sociedades greco-romanas chegavam a utilizar

    frmulas excntricas como excremento de crocodilo misturado com gua deflores, pomadas compostas com gordura de pato, ungento rosado e aranha

    amassada, e ainda mscaras de sopa de po com leite de burra e pombo

    triturado com prolas em p, mel e canfora (EVELINE, 2004).

    O giz era utilizado em Creta para cobrir o corpo de mulheres de altas

    posies sociais, demonstrando status. Ps base de chumbo e outros metais

    pesados eram utilizados por mulheres da Grcia, mas, sobretudo na Roma

    Antiga (PEYREFITTE; MARTINI;CHIVOT, 1998).

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    Hipcrates, grego e pai da medicina, em seus tratados, j propunha

    regras de higiene e o uso de produtos para o tratamento do corpo. O banho de

    sol, o banho e o ar puro fazem parte desse tratamento. Na Grcia e na Roma

    Antiga a gua significava noo de bem-estar, utilizada nas termas romanas,

    associada higiene e distraes diversas: nesses espaos haviam salas de

    leitura, conferncia, exerccio fsico, jogos. Os banhos romanos utilizavam chs

    de ervas aromticos, como alecrim, a camomila e a lavanda francesa. O

    frequentador podia escolher o tipo de leo a ser usado em sua massagem: o

    alecrim para aumentar a circulao e estimular ou leo base de lavanda

    francesa com funo calmante (PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT 1998;

    SOUZA; 2004).

    Na conquista do Mediterrneo, os Romanos incorporaram a cultura e os

    hbitos gregos e aliou os hbitos de higiene medicina e s normas sanitrias.

    Desenvolveram sistemas de abastecimento caracterizado por um fantstico

    conjunto de aquedutos, datado primeiramente em 321 a. C., por pio Crasso.

    Havia distribuio em propriedades particulares, casas de banho e fontes

    pblicas a ltima mais utilizada pela classe baixa para cozinhar, lavar e

    limpar. A limpeza era uma virtude e de extrema elegncia entre os Romanos

    (FRANQUILINO, 2009).

    Os gregos gostavam do banho; os romanos o adoravam. A frase:

    Banhos, vinho e sexo causam a destruio de nossos corpos, mas so a

    essncia da vida banhos, vinho e sexo um provrbio romano e pode ser

    encontrada no tmulo de Tito Cludio Segundo, sculo I d.C. Os exerccios

    eram um complemento ao ato de banhar-se opondo-se aos gregos. Os

    hbitos de untar-se com leos e poeira foram agregados cultura romana,

    assim como o estrigil. Passavam por uma srie de temperaturas fria(frigidrio), morna (tepidrio) e quente (caldrio) onde a ltima etapa era de

    banho frio. Esta etapa aplicava-se leo, massagem e outra raspagem com a

    esptula curva, substituindo o sabo que nunca mencionado como artigo

    para o corpo, apenas para objetos. Roma era abastecida por 9 aquedutos para

    suprir a demanda de 1100 litros de gua por habitante os banhos romanos

    duravam em torno de 2 ou 3 horas. Estes locais eramfrequentados por

    prostitutas, curandeiros e esteticistas. Assim, a populao se utilizava dos

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    banhos para fazer sexo, tratamentos medicinais e cortes de cabelo, s vezes

    todos em uma mesma visita(ASHENBURG, 2007).

    O poeta Ovdio descreveu em Arte de Amar datado de 1 D.C.

    espcies de mscaras feitas com l impregnada de vrias sustncias: mel,

    ovos, bulbos de narcisos, p de chifre de vacas, excremento de pssaros

    marinhos. A farinha de favas citada por Ovdio como p muito fino para

    branquear a pele temporariamente. Acredita-se que Popia, mulher preferida

    de Nero, tenha inventado a mscara para conservar a delicadeza de sua pele

    contra o sol (PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT, 1998). Esses seriam os

    primeiros indcios do uso de filtros solares para a proteo cutnea, apesar de

    que o khl, utilizado no Egito, protegia contra o forte sol da regio.

    No declnio do Imprio Romano, por volta de 537 d.C., foram destrudos

    os aquedutos que abasteciam a cidade de Roma. A ascenso da doutrina

    crist fez os hbitos de higiene, outrora comuns, declinassem tambm, j que

    entre outros motivos a nica cura para males do corpo era por interveno

    divina (FRANQUILINO, 2009). A queda do Imprio Romano, a indiferena de

    Cristo com relao aos rituais de purificao tocava em mortos, leprosos,

    mulheres menstruadas e no lavava as mos antes de comer (na Bblia:

    MARCOS7: 1-23) acabaram por influenciar todas as geraes seguintes

    (ASHENBURG, 2007).

    Toda a glria do culto beleza e sade da cultura dos povos da

    Antiguidade sofre com um perodo de mudanas polticas e religiosas descritas

    na Idade Mdia.

    2.3 Idade Mdia Europa: as proibies e a redescoberta da gua

    Convenciona-se como Era Medieval Europeia o perodo entre os sculos

    V (476 d.C.) e XV (1453 d.C.), respectivamente a Queda do Imprio Romano

    Ocidental e a Queda da Constantinopla, capital do Imprio Bizantino.

    Caracteriza-se como um perodo onde a sociedade regida por uma forte

    moral crist e a Igreja Catlica se fazia presente em todos os setores da

    sociedade (PEDRO; CCERES, 1984), detendo todo o conhecimento e poder,

    definindo leis e proibies atravs da Bblia.

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    Oriente.Tais banhos duraram em torno de 500 anos, entretanto, durou pouco:

    as epidemias de peste negra generalizadas impuseram medo na populao e

    no sculo XV mdicos determinaram que os europeus s tomariam um ou dois

    banhos ao ano (FRANQUILINO, 2009).

    Entre os sculos XIII e XVII, o dito Renascimento trouxe consigo o

    desejo de se embelezar, de mostrar o corpo das mulheres, de recuperar em

    estilo e forma tudo o que a Alta Idade Mdia encobriu. A Gioconda, de

    Leonardo da Vinci, a representao de beleza da Baixa Idade Mdia e incio

    da Idade Moderna. As italianas da Renascena clareavam os cabelos expondo-

    os ao sol, umedecidos com decoces de cinzas; o resultado era um loiro

    prximo ao ruivo. Nessa poca as condies de saneamento e higiene pessoal

    no acompanhavam a evoluo da esttica, pois o banho era desaconselhado

    e como consequncia surgem os perfumistas para atender a demanda das

    cortes europeias; o odor representava status e condio social (PEYREFITTE;

    MARTINI; CHIVOT, 1998; SOUZA, 2005).

    importante ressaltar que o perodo de restries beleza parte do

    que se chama Alta Idade Mdia. Na Baixa Idade Mdia h revolues culturais,

    o surgimento do forte poder dos Reis e descentralizao do poder do Clero, o

    surgimento de universidades (PEDRO; CCERES, 1984), e como

    consequncia deste ltimo, a Medicina como forma de estudo.

    2.4 Idade Moderna Europa: a era da sujeira e dos perfumes

    Com o desenvolvimento da tecnologia, do advento do capitalismo, da

    descentralizao de poder da Igreja e o auge das grandes navegaes, surge

    de forma simblica a Idade Moderna. Perodo convencionado entre o fim dosculo XV quando o Imprio Otomano toma Constantinopla e finaliza no sculo

    XVIII, na Revoluo Francesa(PEDRO; CCERES, 1984).

    Com a moral catlica menos forte, a medicina se fortalece, a culpa de se

    embelezar diminui, a moda toma seus primeiros passos. Mesmo assim, a

    mudana de hbitos medievais s teve mudanas a partir do sculo XIX, com

    gua encanada e esgotos. Apesar de ter havido um perodo em que os

    medievais se banhavam, o medo do retorno da peste era forte e presente naEra Moderna e os hbitos de higiene eram to secundrios quanto na Alta

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    Idade Mdia. O hbito de lavar-se era to raro que, as poucas vezes que

    alguns nobres lavavam o rosto era motivo de relatos espantados em

    correspondncias entre nobres(PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT, 1998;

    FRANQUILINO, 2009).

    As cortes francesas mantinham praticamente um cerimonial

    coreografado para vestir-se e os aristocratas perfumavam-se para no sentir o

    odor uns dos outros. O banho era prescrio em casos absolutamente

    necessrios, porque segundo a crena vigente, abria os poros e facilitava o

    contgio da peste (ASHENBURG, 2007).

    A Idade Moderna traz o uso de perucas e rostos com excesso de

    empoamento. Paris era o grande produtor de leos, depilatrios, guas

    aromticas (SOUZA; 2004). J dito anteriormente, o avano da indstria de

    produtos aromticos devia-se aos pssimos hbitos de higiene da populao.

    De acordo com Ashenburg (2007, p. 88 - 89):

    O sculo XVI no foi notavelmente exigente quanto a limpeza,mesmo nos mais altos nveis sociais: Elizabeth I da Inglaterrabanhava-se uma vez por ms, como ela dizia: quer eu preciseou no. Mas no sculo XVII foi muito pior: espetacularmentesujo, at mesmo desafiadoramente sujo. O sucessor deElizabeth, James I, declarava abertamente que lavava apenasos dedos das mos.

    Diferente dos hbitos de higiene, a maquiagem e o embelezamento

    estavam em voga. A farinha de trigo utilizada como p facial desde a

    decadncia do Imprio Romano, no Medievo e na Renascena. Sob a corte de

    Lus XIV, a pele deve ser plida com grossa camada de farinha e colorao

    avermelhada nas bochechas. As sombras atualmente chamadas de bases

    eram utilizadas como mscaras para fixao do p e compostas por lanolina,

    cera de abelha, leo de oliva e especialmente sebo animal. Indiferente de sexo

    ou idade, tudo se empoa: corpo, rosto, cabelos, peruca (PEYREFITTE;MARTINI; CHIVOT, 1998).

    Os ingleses contemporneos de Elizabeth I procuravam colorir de ruivo

    os cabelos com a ajuda de alume e decoco de ruibarbo, com o fim de imitar

    sua rainha (PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT, 1998). Esses indcios mostram

    uma tendncia a populao moderna a transformar pessoas conhecidas em

    cones e referncias de moda.

    Segundo a lgica de Jean Liebault autor de um trabalho sobre oembelezamento corporal de 1582 e 1632 a cabea e os cabelos deveriam ser

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    lavados com cautela e recomendava, em vez da lavagem, que antes de deitar

    o cabelo fosse esfregado com trigo ou talco e removido ao

    acordar(ASHENBURG, 2007).

    O medo da gua continuava, e um ensasta ingls chamado Francis

    Bacon (1561 1626) inventou um banho de 26 horas, que segundo ele

    limitava a penetrao da gua que segundo a crena da poca, causava

    doenas dos nervos e ligamentos. Esse banho consistia em proteger o corpo

    com leo e pomadas antes de imergir o corpo na gua por duas horas. Aps

    esse perodo o corpo do banhista era envolvido por um pano com rezina,

    aafro e mirra o objetivo da mistura era fechar os poros e endurecer o

    corpo, teoricamente mais mole por causa da gua. Aps 24 horas, a pessoa

    removia a mistura e aplicava sal, leo e aafro pelo corpo (ASHENBURG,

    2007).

    O banho praticado em casa pouco descrito na literatura, com exceo

    dos nobres, que descreviam em suas memrias de viagens fatos incomuns

    com relao higiene. No sculo XVII pouco se mencionava sobre o sabo e a

    gua. Limpar-se por completo era extremamente desaconselhado e a higiene

    corporal segundo as regras mdicas e de etiqueta vigentes se resumia em

    usar roupas limpas de linho. O linho era o substituto do banho no sculo XVII,

    especialmente entre nobres. Em vez de lavarem-se, trocavam de camisa at

    trs vezes ao dia ou mais. Essa prtica era considerada mais segura.Louis

    Savot, arquiteto da poca, deixou de construir banheiros em casa, pois os

    considerava secundrios. Savot dizia que os antigos no entendiam as

    propriedades do linho e por isso utilizavam o banho a vapor(ASHENBURG,

    2007).

    Os spas surgem na Frana, Inglaterra, Itlia e Sua e tm a funo detratar enfermidades e tambm de lazer, j que os banhos em casa so temidos.

    Os mdicos passam a ganhar dinheiro com tais locais: diziam que os minerais

    das nascentes bloqueavam os poros, por isso o banho no spa era benfico

    (FRANQUILINO, 2009).

    Assim como o controle dos spas, em 1779 ecom maior poder de

    deciso, a Real Academia de Medicina detm o controle das sombras devido

    sua toxicidade, ligada ao uso de minerais como o sulfato de mercrio, eespecialmente a cerusa, um carbonato de chumbo, conhecida por branco de

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    prata. Nos sculos XVIII e XIX avanam os estudos relacionados aos efeitos

    colaterais causados por materiais txicos utilizados para pintura dos olhos: a

    maquiagem torna-se rara, os quadros da poca indicam isso (PEYREFITTE;

    MARTINI; CHIVOT, 1998).

    A partir do sculo XVIII a gua passa a ser reutilizada em banhos, mas

    apenas no sculo XIX a higiene enaltecida e o uso do sabonete passa se

    desenvolver consideravelmente. O uso de xampu, por chineses, descrito na

    literatura no sculo XVIII (PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT, 1998).

    O pudor com o corpo fez com que os banhos por imerso adotassem

    uma estratgia: para deixar a gua turva, dissolvia-se farelo, amndoa em p

    ou resina em aguardente de vinho, mas o mais comum era usar uma roupa de

    banho ou as roupas intimas. Maria Antonieta banhava-se todos os dias de

    manh, mostrando mudanas dentro da realeza do final da Idade Moderna

    (ASHENBURG, 2007).

    Na metade do sculo XVIII ensaios sobre o uso externo da gua j falam

    sobre as condies insalubres sobre os spas, alegando que a gua coletiva

    no era benfica e que as crenas vigentes de que os poros devem

    permanecer oclusos est ultrapassada, j que novos estudos sobre a

    transpirao comeam a ser publicados. Assim, o banho dirio ganha fora

    (ASHENBURG, 2007).

    A relao da humanidade com a higiene muito deve seu atual estado ao

    fim da Idade Moderna e desenvolvimento de tecnologias definida no prximo

    tpico.

    2.5 Idade Contempornea Europa, Amricas: o santurio da higiene

    cientfica

    O desenvolver do pensamento cientifico, o triunfo do Iluminismo, da

    razo e do ceticismo, condies de vida mais dignas, o declnio de monarquias

    e simbolicamente a Revoluo Francesa em 1789 d.C no sculo XVIII marcam

    o que classicamente se chama de Era Contempornea (PEDRO; CCERES,

    1984).

    A evoluo da cincia e da indstria a maior contribuio para oscosmticos. O estudo a respeito de princpios ativos torna-se fundamental. Na

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    era da razo, cai em desuso matrias primas toxicas; a sade e a produo em

    larga escala torna os cosmticos um dos mercados mais lucrativos do mundo.

    Salienta-se que devido ao conhecimento cientifico, no final da Idade Moderna e

    incio da Contempornea houve certo desuso de cosmticos pela falta de

    conhecimento sobre compostos no nocivos. Apenas no sculo XIX as

    mscaras aparecem quase em sua concepo atual, com o largo uso de argila,

    casena, caulim e outros (PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT, 1998).

    A mudana de pensamento da Idade Contempornea fica evidente nos

    hbitos de Napoleo e Josefina, que adoravam banhos quentes e aromticos e

    possuam sala de banho em casa, algo raro em 1795 (FRANQUILINO, 2009).

    No sculo XIX as pessoas ainda voltavam a experimentar o banho

    gradativamente. Esperavam instalaes de canos e gradativamente criavam

    coragem para um hbito por tanto tempo condenado. No geral, a limpeza

    continuava sendo feita por bacias e jarros para os ps, ou banheiras rasas e

    esponjas para o corpo. O banho completo, para muitos europeus, apenas se

    deu no sculo XX e antes disso era muito comum que manuais de higiene

    fossem distribudos. O sculo XIX o inicio de como vemos o banho hoje em

    dia (ASHENBURG, 2007)

    Estudos da metade do sculo XIX mostram a funo respiratria da pele.

    Testes em animais, que consistiam em cobrir a pele com substncias como o

    alcatro foram feitos. Embora se saiba atualmente que a morte dos mesmos

    no seja por asfixia cutnea, como se conclua, e sim por disfunes trmicas,

    os fisiologistas da poca se convenceram que os banhos deveriam ser quentes

    e frequentes para manuteno da sade. Oposto aos Modernos, a cincia dizia

    que os poros deveriam ser abertos (FRANQUILINO, 2009).

    Uma lei criada em 1851 para encorajar a criao de estabelecimentosde banho e desenvolvimento de redes de gua corrente. Em 1880 surgem os

    primeiros imveis com salas de banho, em Paris. Deduz-se, assim, que devido

    banalizao dos banheiros, a venda de produtos cosmticos para higiene

    pessoal aumentou gradativamente (PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT, 1998).

    A insalubridadetrouxe a tona discusses sobre a higiene. A crena de

    que cmodos sem ventilao e com acmulo de lixo fizeram com que os

    Contemporneos da Revoluo Industrial adotassem a limpeza no lar e umaumento nas casas de banho. Na Inglaterra se promulga uma lei para casas de

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    banho e lavanderias em 1846, onde esses locais deveriam oferecer entradas

    de baixo custo. Os ingleses da Revoluo Industrial influenciaram o Continente

    Europeu e as casas de banho se popularizaram (ASHENBURG, 2007).

    Na Alemanha, a preocupao com lavar-se na prpria sujeira, fazendo

    referncia aos banhos por imerso utilizados por trabalhadores braais, alm

    do alto custo que as casas populares de banho traziam, fez com que Oscar

    Lassar mdico e sanitarista criasse o que chamamos de chuveiro hoje em

    dia, um box individual com gua corrente na cabea (ASHENBURG, 2007).

    Reformistas franceses tentaram desacreditar crenas de que a sujeira

    era benfica, no sculo XIX, atravs de campanhas pblicas de educao: as

    medidas consistiam em distribuir folhetos, publicaes em jornais, e aulas de

    higiene em escolas. Em 1855 um manual de como tomar banho foi publicado:

    descrevia equipamentos banheira, esponjas para limpar o cho (sem sabo),

    bacia de gua fria, chaleira de gua quente e uma flanela. Recomendava-se

    esfregar o corpo com o pano e logo em seguida esfregar o corpo inteiro com as

    esponjas molhadas (FRANQUILINO, 2009).

    Os Estados Unidos foi piv no desenvolvimento da indstria da higiene e

    ressaltou uma nova etapa em emergncia: a valorizao do banho e

    popularizao dos produtos de higiene pessoal, como o sabo, considerado

    por muito tempo um artigo de luxo. Mesmo com essas mudanas, no princpio

    do sculo XX as crendices a respeito da limpeza ainda persistiam na Europa e

    o banho de corpo inteiro ainda era pouco praticado, em partes, pelo

    puritanismo religioso (FRANQUILINO, 2009).

    Vale lembrar que dessa poca tambm a evoluo da maquiagem. Por

    volta de 1890 os batons eram pouco utilizados, pois do ponto de vista dasmulheres, achavam que homens no as olhariam de lbios tingidos.

    S por volta de 1915 que se inicia o sucesso dos batons devido uma

    independncia financeira feminina e quebra de tabus (PEYREFITTE; MARTINI;

    CHIVOT, 1998).No ps-guerra h uma crescente preocupao com a beleza,

    com mulheres mais liberais e financeiramente autnomas. Em 1910, Helena

    Rubinstein abre, em Londres, o primeiro salo de beleza do mundo. Onze anos

    depois pela primeira vez o batom embalado num tubo e vendido em cartuchopara as consumidoras (COSMTICOS, 2001).

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    Antes da guerra civil, os americanos pecavam na higiene, assim como

    os europeus: entre ricos dos dois continentes era apenas um passatempo da

    moda. Ao fim do sculo XIX o pas americano tinha condies de assumir a

    liderana da higiene pelo fato de que instalaes hidrulicas so mais fceis de

    serem instaladas em cidades novas os lares americanos, mais espaosa que

    os apartamentos europeus, j dispunham de banheiros desde sua projeo,

    alm de um pensamento progressista que inclua o uso de sabo e da

    hidroterapia. As casas de banho tiveram pouca popularidade, pois as banheiras

    individuais se popularizaram de forma que em 1930 89% dos lares possua

    uma. Alm disso, a cultura americana dava preferncia s duchas, por terem

    carter mais rpido e prtico(ASHENBURG, 2007).

    Na Frana, desde 1975, existe uma lei que regulamentou a fabricao

    de produtos cosmticos onde se limita a manipulao em locais limpos e por

    profissionais com formao qumica (PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT, 1998).

    O sabo passou a ser reutilizado no fim do sculo XIX, pois a evoluo

    tecnolgica permitiu que ficassem menos irritantes, com melhor aparncia e

    mais baratos, pois substituiu-se o uso de p de madeira por p de soda. A

    gordura animal foi sendo substituda por leo de oliva, de coco, de algodo e

    de palmeira. O banho, passou tambm a ter carter social ter mal cheiro era

    de pssima reputao, independente da classe social (FRANQUILINO, 2009).

    A unio entre o fato de que pessoas mal cheirosas comumente no

    sabem do prprio odor, a expanso de propagandas de sabo, cosmticos

    bucais, desodorantes e variaes de cosmticos transformou o sculo XX no

    sculo da limpeza. Desde o fim do sculo XIX, as propagandas diziam que

    limpeza trazia beleza. Tal argumento era afetado pelo fato de que o batom, oruge e a maquiagem produziam efeito mais eficiente que o sabo

    (ASHENBURG, 2007).

    O arroz introduzido na Europa ao fim do sculo XIX e o p no se

    destina mais tanto a branquear a tez, mas torn-la fosca. Ps mais finos so

    utilizados graas ao aumento da tecnologia para diminuir os gros

    (PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT, 1998).

    Assim, nas dcadas de 30 e 40 a maquiagem tem uma explosocomercial, Max Factor d novo status s sombras (bases) com a inveno do

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    dos pancakes, muito utilizado para disfarce de pele no, ento, novo cinema

    em cores. Os batons tm cores claras, sobretudo rosa

    (PEYREFITTE;MARTINI; CHIVOT, 1998).

    Nos anos 50 a poltica de incentivos trs para o Brasil gigantes como a

    Avon e a LOral. Essas empresas lanam novidades como venda direta e

    produtos para homens. A maquiagem bsica compunha-se de p-de-arroz e

    batom. Um creme para as mos foi o primeiro lanamento de um produto

    cosmtico com silicone, pela Avon(COSMTICOS, 2001).

    Nos anos 60 fazem-se bases mais fludas, depois bases creme, que

    sejam ao mesmo tempo mais leves, menos brilhantes e com mais cobertura.

    Nos anos 70 surgem a base-creme colorida, o bronzeado entrou em alta e os

    ps claros sofreram leve afastamento, retornando a partir dos anos 80 em

    diversas tonalidades. As cores de maquiagem tornam-se variadas ao

    acompanhar os matizes das colees de alta-costura italiana, francesa e

    inglesa (PEYREFITTE; MARTINI; CHIVOT, 1998).

    Os filtros solares se popularizam no Brasil. Aparelhos a laser e os cidos

    retinico e gliclico comeam a ser empregados no tratamento de rugas e

    manchas. Nos anos 90 o tempo entre a aplicao do cosmtico e o

    aparecimento do efeito diminui de trinta dias menos de um. Surgem os

    cosmticos multifuncionais, como batons com protetor solar e hidratantes que

    previnem o envelhecimento. Chega ao Brasil a tecnologia dos lipossomas, que

    prometiam verdadeiros melhorias aos manipuladores e consumidores

    (COSMTICOS, 2001; SOUZA,2005).

    Com o surgimento do cinema, televiso e meios de comunicao

    expandiram-se os avanos tecnolgicos do sculo XX e hoje no sculo XXI

    vemos o triunfar da Cosmetologia (SOUZA, 2005).No Sculo XXI os alfa-hidroxicidostendem a ser substitudos por

    enzimas, mais eficazes. Outra tendncia o estudo de diversas matrias

    primas. As pesquisas avanam na direo da manipulao gentica para

    melhorar a esttica (COSMTICOS, 2001).

    O incentivo limpeza, por parte de educadores e de publicitrios, criou

    um clima de obrigatoriedade de que toda casa, apartamento ou quarto de hotel

    deveria ter um banheiro ou mais. A ideia de individualidade faz com que nemmesmo marido e mulher dividam o mesmo banheiro, quando h condies

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    financeiras. O santurio criado dentro de casa para a higiene pessoal cresce,

    os produtos oferecidos se multiplicam entre cosmticos, toalhas, guas

    aromticas, rituais de banho, maquiagem, enxaguantes bucais e outros. Cresce

    no mesmo ritmo o exagero com a limpeza, a busca obsessiva por unir higiene e

    beleza, h uma negao ao cheiro e aparncia natural do corpo, e

    consequentemente maior utilizao de artifcios como a cirurgia, cosmticos

    com o fim de branquear diversas partes do corpo e mascarar parte da

    naturalidade humana (ASHENBURG, 2007).

    A arte de parecer tem assim atravessado todas as pocas sem

    obstruo. Mas hoje, diante do sucesso crescente dos cosmticos e da

    multiplicidade dos produtos oferecidos, todos os pases ocidentais editaram leis

    para garantir a inocuidade desses produtos, deixando sobre responsabilidade

    dos pesquisadores a avaliao cientifica de sua eficcia (PEYREFITTE;

    MARTINI; CHIVOT, 1998).

    3 METODOLOGIA

    O estudo em questo uma pesquisa bibliogrfica de carter qualitativo,

    organizado de forma cronolgica tendo como ponto de partida a historiografia

    ocidental e europeia. Segundo Silva e Menezes (2001) a pesquisa qualitativa

    [...] no requer o uso de mtodos e tcnicas estatsticas.

    Esta pesquisa caracteriza-se pela utilizao de pesquisa bibliogrfica em

    livros, sites, e peridicos com contedo sobre cosmticos, higiene e

    embelezamento.

    4 CONSIDERAES FINAIS

    A pesquisa em questodestacou as principais mudanas da relao do

    homem com a higiene corporal, pureza espiritual e utilizao de cosmticos e

    objetos com funo de limpar e embelezar o corpo. Como linhas de destaque,

    temos trs: a espiritual, a cientfica e o bem estar, onde na primeira o corpo

    um artefato da essncia divina que buscamos em diferentes crenas as

    variaes das mesmas nos afastam ou aproximam do que chamamos devaidade e de como isso permitido ou pecaminoso. Em contraponto temos o

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    ponto de vista cientfico que guia alguns hbitos cotidianos do ser humano,

    como a noo de higiene como motivo de sade. mutvel, conforme o

    desenvolvimento de tecnologias que botam em voga; confirmam ou derrubam

    crenas populares. As duas linhas citadas ficam claras em duas pocas

    distintas da histria: parte da Idade Mdia abomina os banhos e a beleza por

    nos distanciar de Deus; parte da Idade Moderna condena os banhos por serem

    malficos a sade. Como ltima linha de destaque, temos a noo de bem

    estar, ela une e repele alguns pontos entre o espirito e a sade fsica. Na

    Antiguidade, os banhos greco-romanos eram verdadeiros santurios para

    alguns deuses, e verdadeiros locais de relaxamento para os homens; na Era

    Contempornea o pensamento cientfico pe o espirito em plano distinto e

    incentiva banhos dirios para promoo de sade. Conclui-se ento que a

    forma como lidamos com nossa sade e asseio evidencia que nossa

    preocupao constante, mesmo que em diferentes linhas de pensamento e

    pontos de vista. Somos contemporneos de uma poca onde a beleza e a

    higiene se tornou cincia, bem estar, espiritualidade e tecnolgica. Seremos,

    em outras pocas, uma sociedade com exageros de limpeza, talvez

    libertinagem, ou mesmo suja; isso s depender de como nos

    desenvolveremos em todos os mbitos de nossa complexa sociedade.

    REFERNCIAS

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