30
1. Introdução 8-3 2. As pesquisas de inovação no contexto dos indicadores de inovação tecnológica 8-4 3. Resultados do processo de inovação: empresas inovadoras na indústria paulista 8-7 3.1 Empresas inovadoras em relação ao mercado 8-12 4. Fontes de inovação utilizadas pelas empresas e cooperação tecnológica 8-13 4.1 Densidade dos vínculos externos de cooperação tecnológica 8-18 5. Atividades inovativas e dispêndios nas empresas inovadoras 8-19 5.1 Características estruturais do dispêndio em P&D 8-25 6. Como as empresas inovadoras avaliam os benefícios econômicos da inovação 8-27 7. Conclusões 8-29 Referências bibliográficas 8-30 Capítulo 8 Inovação Tecnológica na Indústria Paulista: uma análise com base nos resultados da pesquisa Pintec Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 1

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1. Introdução 8-3

2. As pesquisas de inovação no contexto dos indicadores de inovação tecnológica 8-4

3. Resultados do processo de inovação: empresas inovadoras na indústria paulista 8-7

3.1 Empresas inovadoras em relação ao mercado 8-12

4. Fontes de inovação utilizadas pelas empresas e cooperação tecnológica 8-13

4.1 Densidade dos vínculos externos de cooperação tecnológica 8-18

5. Atividades inovativas e dispêndios nas empresas inovadoras 8-19

5.1 Características estruturais do dispêndio em P&D 8-25

6. Como as empresas inovadoras avaliam os benefícios econômicos da inovação 8-27

7. Conclusões 8-29

Referências bibliográficas 8-30

Capítulo 8

Inovação Tecnológica na Indústria Paulista:

uma análise com base nos resultados da pesquisa Pintec

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8 – 2 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

Figuras e Gráficos

Figura 8.1Processo de inovação tecnológica (Manual de Oslo) 8-6

Gráfico 8.1Taxas de inovação na indústria: empresas inovadoras (% do conjunto de empresas investigadas) – Estado de São Paulo, países e regiões selecionados, 1998-2000 8-7

Gráfico 8.2Empresas inovadoras, por tipo de inovacão (% do total) – Estado de São Paulo,1998-2000 8-8

Gráfico 8.3Empresas inovadoras por tipo de inovação e segundo a faixa de pessoal ocupado (% do total de empresas investigadas) – Estado de São Paulo,1998-2000 8-9

Gráfico 8.4Empresas inovadoras, por setor industrial (% do total de empresas investigadas) – Estado de São Paulo e Brasil, 1998-2000 8-10

Gráfico 8.5Fontes de informação para a inovação (% das empresas inovadoras indicando alta importância) – Estado de São Paulo e Brasil, 1998-2000 8-14

Gráfico 8.6Participação do exterior nas fontes de informação externas à empresa, por origem do capital controlador (em %) – Estado de São Paulo,1998-2000 8-17

Gráfico 8.7Cooperação para a inovação, segundo a faixa de pessoal ocupado das empresasinvestigadas (% das empresas inovadoras indicando alta importância) – Estado de São Paulo e Brasil, 1998-2000 8-19

Gráfico 8.8Intensidade do esforço inovativo das empresas inovadoras, por setor industrial (em %) – Estado de São Paulo e Brasil, 2000 8-21

Gráfico 8.9Composição dos dispêndios das empresas inovadoras em atividades inovativas, por tipo de atividade (em %) – Estado de São Paulo, 2000 8-22

Gráfico 8.10Composição dos dispêndios das empresas inovadoras em atividades inovativas, por faixa de pessoal ocupado das empresas (em %) – Estado de São Paulo, 2000 8-23

Gráfico 8.11Composição dos dispêndios das empresas inovadoras em atividades inovativas, por setor industrial (em %) – Estado de São Paulo, 2000 8-24

Gráfico 8.12Impactos econômicos da inovação (% das empresas inovadoras indicando alta importância) – Estado de São Paulo, 1998-2000 8-28

Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 2

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1. Introdução

Este capítulo apresenta e analisa indicadores deinovação tecnológica na indústria paulista e bra-sileira, construídos com base na Pesquisa

Industrial – Inovação Tecnológica 2000 (Pintec 2000),do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IB-GE) (IBGE 2002). Seu objetivo é aprofundar, por meiodesses indicadores, o entendimento de algumas carac-terísticas conhecidas da indústria paulista, bem comoexplorar evidências novas, relacionadas com suas ati-vidades tecnológicas e os resultados delas decorrentes.

A inovação tecnológica na empresa produtiva é te-ma com presença crescente no debate público e na ela-boração de políticas para o desenvolvimento econômi-co no Brasil. Em linha com o que tem acontecido nospaíses mais industrializados, a importância da inova-ção para a economia do país – num mundo cada vez maisinternacionalizado – e a necessidade de incrementar acapacidade de inovação das empresas são assuntos pormeio dos quais ciência e tecnologia (C&T) têm deixa-do de ser de interesse restrito de cientistas e engenhei-ros para ganhar a atenção do mundo dos negócios.

Isso torna crítica a construção de indicadores deinovação que sejam capazes de captar de maneira am-pla, mas ao mesmo tempo aguda, os esforços feitospelas empresas para inovar, como eles se relacionamcom suas estratégias e os resultados de seu processode inovação. A busca de indicadores mais abrangen-tes e analiticamente mais poderosos tem feito evoluirrapidamente os conceitos e as metodologias para amensuração da inovação tecnológica. O foco restritonas medidas de pesquisa e desenvolvimento (P&D),como insumo, e da atividade patentária, como resul-tado do processo de inovação, tem sido percebido nacomunidade de pesquisadores e produtores de esta-tísticas como insuficiente para compreender as diver-sas facetas importantes desse processo. Isso é aindamais verdadeiro nos países em desenvolvimento, emque as atividades organizadas de P&D estão concen-tradas em um número restrito de empresas, não obs-tante um conjunto bem maior delas efetivamente seesforce e se engaje em atividades diversas para intro-duzir inovações tecnológicas em seus produtos e pro-cessos, com repercussões importantes para sua pro-dutividade e competitividade.

Nesse quadro, um avanço importante, que datados anos 1990, foi a proposição e o desenvolvimento pos-terior de uma metodologia, com um enfoque mais abran-gente, para a coleta por meio de surveys específicos deinformações sobre um amplo conjunto de variáveis queafetam, subsidiam e caracterizam o processo de inova-ção nas empresas produtivas, bem como as relaçõesque elas estabelecem com outros atores e seus resulta-dos. O debate sobre a metodologia dos surveys de ino-vação tem sido fomentado pela Organização para Coope-ração e Desenvolvimento Econômico (OCDE), comapoio dos ministérios de C&T e das agências de produ-ção e difusão de estatísticas dos países membros, e pe-lo Statistical Office of the European Union (Eurostat),que se encarregaram de consolidá-lo em um conjuntode diretrizes conhecido como Manual de Oslo (OCDE,1997). Na União Européia, as pesquisas realizadas sobessa inspiração já passaram por três rodadas, as quaissuscitaram críticas e trouxeram contribuições para seuaperfeiçoamento. O Manual de Oslo encontra-se, nestemomento, em seu terceiro processo de revisão.

No Brasil, o IBGE levou a campo, em 2001, a pri-meira experiência de survey de inovação completo, es-pecífico e nacional da indústria brasileira (a Pintec2000), nos termos da metodologia proposta pela OC-DE/Eurostat, tendo como referência o período 1998-2000, com apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia(MCT) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)1.A Pintec 2000 tem representatividade estatística paraas grandes regiões geográficas do Brasil e para o Esta-do de São Paulo. Este capítulo se baseia em tabulaçõesespeciais da Pintec 2000 para o Estado de São Paulo epara o conjunto da indústria brasileira, elaboradas pe-lo IBGE. Nesse sentido, o capítulo se diferencia dos de-mais deste volume por não ser baseado em séries es-tatísticas homogêneas, e sim numa pesquisa especiala qual, por ser a primeira, não permite uma análise in-tertemporal dos indicadores escolhidos.

Não obstante, como se verá, a riqueza e a varieda-de de informações da Pintec 2000, e a possibilidade dese trabalhar dados desagregados para o Estado, criamoportunidade para vários tipos de análises comparati-vas, entre São Paulo e Brasil e entre setores industriaise grupos de tamanho de empresas. Além disso, comoa metodologia segue padrão internacional, a compara-ção com outros países, que também é realizada siste-maticamente no capítulo, contextualiza e torna mais pre-ciso o significado dos indicadores. Por outro lado, o fato

CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 3

1. Uma experiência parcial e anterior de aplicação dessa metodologia foi liderada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), com apoio daFAPESP e de um conjunto de instituições acadêmicas do Estado de São Paulo, no âmbito de uma pesquisa industrial mais ampla, a Pesquisa da Atividade EconômicaPaulista (Paep), tendo como referência o período 1996/1998. Os resultados da Paep foram analisados no volume Indicadores de Ciência,Tecnologia e Inovação em SãoPaulo – 2001 (FAPESP 2002). Para mais informações sobre a Paep e seus resultados, ver Quadros et al. (2001).

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de a metodologia ter como referência o padrão de atua-ção empresarial e de inovação dos países mais indus-trializados requer do analista que leve em considera-ção, na análise quantitativa dos indicadores, a diferençaqualitativa dos contextos correspondentes.

O capítulo está organizado em sete seções, contan-do esta introdução. A segunda seção apresenta ao lei-tor, em maior extensão, a discussão que foi acima sin-tetizada em torno dos problemas, das limitações e daevolução dos indicadores de inovação e tecnologia. Aítambém são sumarizadas as características metodoló-gicas mais importantes da Pintec 2000. A construçãoe a análise de indicadores com base na Pintec 2000 sãoorganizadas em quatro conjuntos, que correspondemàs seções subseqüentes.

A seção 3 apresenta e analisa os indicadores de re-sultado do processo de inovação, com foco na imple-mentação pelas empresas de inovações tecnológicas deproduto e/ou processo. Trabalham-se dois conceitos detaxa de inovação, isto é, um conceito abrangente, quetem como referência a própria experiência anterior daempresa (inovação nova para a empresa), e outro maisrestrito, com referência ao mercado da empresa (ino-vação nova para o mercado nacional). A seção 4 discu-te os indicadores relativos às fontes internas e exter-nas de que se utilizam as empresas para inovar, o quepermite avaliar as capacidades setoriais e por gruposde tamanho de empresas para combinar distintas fon-tes de informação tecnológica, o peso do departamen-to de P&D interno no processo de inovação e os tiposde relações externas valorizadas pelas empresas. Essequadro é completado com uma análise dos indicado-res de laços efetivos de cooperação externa estabeleci-dos pelas empresas, inclusive com universidades e ins-tituições públicas de pesquisa.

A quinta seção contém a análise das atividadestecnológicas da indústria paulista, a partir de indicado-res setoriais e por grupos de tamanho das empresas,que são comparados com os indicadores brasileiros einternacionais. Em relação às informações de outras fon-tes de dados disponíveis no Brasil até então, esta épossivelmente a contribuição mais importante ou ino-vadora da Pintec 2000, pois permite um exame deta-lhado da natureza e do volume dos dispêndios feito pe-las empresas nas várias atividades necessárias ao seuprocesso de inovação. A análise baseia-se em dois in-dicadores principais: o de intensidade do dispêndio eminovação e o de composição do dispêndio por tipo deatividade. Além de dar números precisos e contextua-lizados a certas características já conhecidas da indús-tria no Brasil, como sua baixa intensidade em ativida-des de P&D, esses indicadores permitem aprofundar aanálise, trazendo à luz diferenças setoriais de compor-tamento inovativo muito claras e que constituem sub-sídio importante na avaliação e formulação de políti-

cas industriais e tecnológicas. A subseção 5.1 analisatraços básicos da P&D industrial no Brasil, mostrandosua concentração e aprofundando a discussão sobresua baixa intensidade no plano setorial.

Segue-se a seção 6, que aborda os impactos eco-nômicos da inovação, ou seja, a percepção das empre-sas inovadoras sobre os benefícios que a introdução deinovações de produto e/ou processo trouxe para seu de-sempenho de mercado e eficiência produtiva. Um su-mário dos principais pontos examinados e sugestões so-bre linhas de pesquisa voltadas para o aperfeiçoamentodos chamados indicadores de inovação são apresenta-dos como conclusão.

2. As pesquisas de inovaçãono contexto dos indicadores

de inovação tecnológica

Desde os trabalhos pioneiros de Erber, Dahlmane Katz (Katz,1987), até os mais recentes comoos de Figueiredo (2001), estudos de caso e pes-

quisas setoriais têm sido importantes para caracterizara natureza incremental, cumulativa e variada em esco-po da capacitação tecnológica das empresas industriaisna América Latina. No entanto, esses estudos se refe-rem a um número limitado de empresas e setores. Essalimitação, além de tornar mais precárias as generaliza-ções, não facilita o entendimento abrangente da distri-buição setorial dessas competências. O conhecimentodos processos de inovação tecnológica, seus determi-nantes e seus impactos econômicos requerem a cons-trução de indicadores capazes de apontar tendências napopulação de empresas, indicadores que se refiram àeconomia como um todo. É isso que torna necessáriaa abordagem estatística na produção de informações sobre inovação e atividades tecnológicas. Os estudosde caso, embora úteis para o entendimento da nature-za da inovação em setores específicos, não dão contade compreender a criação e a difusão de tecnologias noconjunto dos setores e de sua relação com variáveis crí-ticas para o crescimento, como o investimento e a pro-dutividade (Smith, 2000).

Mas estatísticas sobre atividades tecnológicas dasempresas constituem terreno relativamente novo echeio de problemas, em comparação com as demais es-tatísticas econômicas. Nos países mais industrializados,com boa experiência no assunto, pesquisadores e res-ponsáveis por políticas consideram insatisfatório o de-senvolvimento da produção dessas estatísticas. As fon-tes mais consolidadas e confiáveis – informações sobre

8 – 4 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

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atividades de P&D e patentes – são também as mais cri-ticadas. A P&D representa uma das atividades de cria-ção de conhecimento nas empresas, certamente uma dasmais importantes, mas não única. Embora sua nature-za de resolução de problemas a coloque como insumocrítico da inovação, a P&D não tem a mesma impor-tância em todos os setores. Além disso, as estatísticasde P&D nada dizem sobre os resultados tecnológicose econômicos do processo de inovação (Arundel et al.,1998; Smith, 2000). A insuficiência do uso de bancosde patentes como fonte para estudos sobre inovação tec-nológica é bem assentada na literatura. A propensão pa-ra patentear varia muito entre os setores (Pavitt, 1984).Além disso, as estatísticas de patentes podem ser subs-tancialmente enviesadas pelo fato de que, com a inter-nacionalização da P&D de empresas multinacionais, opaís de localização da subsidiária (ou matriz) que de-posita a patente pode não coincidir com o local em queo conhecimento foi criado.

Na década de 1990, a busca por indicadores maisabrangentes, influenciada pela evolução do debate teó-rico, levou à iniciativa da OCDE e do Eurostat de esta-belecer um conjunto de diretrizes metodológicas parao desenho e a implementação de pesquisas de inova-ção, após algumas experiências práticas em poucos paí-ses. Esse conjunto de orientações metodológicas foi or-ganizado no Manual de Oslo (OCDE, 1997)2. Asestatísticas de inovação com base nessa metodologia re-presentaram um passo importante na tentativa de su-perar as limitações das fontes existentes acima comen-tadas. O principal avanço foi a introdução de questõesque dessem conta do fato de que o processo de inova-ção é interativo, em que se envolvem várias funções eatores, dentro e fora da empresa, em oposição a uma com-preensão seqüencial ou linear, que vê a P&D como a eta-pa que “origina” a inovação (Smith, 2000; Archibugi etal., 1995)3. Dessa forma, essa metodologia propõe a pro-dução de um leque mais abrangente de indicadores pa-ra medir o esforço das várias atividades ou funções daempresa que contribuem com insumos ao processo deinovação: além da P&D interna e externa, a aquisiçãode direitos de propriedade de conhecimento codificado,a engenharia de projeto, a produção de ferramental e a

produção experimental, o marketing de novos produtose a aquisição de equipamentos e demais despesas de in-vestimento requeridas na implementação de inovaçõesde produto ou processo. O aspecto sistêmico do proces-so também foi enfatizado, com a investigação das fon-tes de informação para a inovação e das formas de coo-peração tecnológica que as empresas estabelecem comoutras instituições. Além disso, a metodologia propõea investigação daquilo que parece ser o mais importan-te do ponto de vista da sociedade: os resultados tecno-lógicos e impactos econômicos da inovação (figura 8.1).

A metodologia das pesquisas de inovação encon-tra-se em desenvolvimento e ainda enfrenta um con-junto de limitações difíceis de serem contornadas. Porexemplo, a medida de desempenho inovador na popu-lação das empresas com base em sua declaração de terou não introduzido inovações tecnológicas, de produ-to e/ou processo, no período investigado, é útil para omapeamento do comportamento inovador de diferen-tes segmentos da população, mas não revela aspectosqualitativos da inovação – o grau de inovação em rela-ção ao mix de produtos ou aos processos anteriormen-te adotados e o conteúdo de conhecimento novo que aproduziu. Esse ponto é retomado na discussão dos in-dicadores de desempenho inovador, na seção 3.

No caso brasileiro, a precariedade das fontes exis-tentes até o final da década passada, com relação à re-presentatividade e confiabilidade das informações so-bre atividades tecnológicas das empresas, apresentavaum duplo desafio às agências produtoras de estatísti-cas. Ao mesmo tempo que se colocava o desafio de pro-duzir novos tipos de indicadores do processo de ino-vação, em linha com a compreensão atualizada de suadinâmica e impactos, exigia-se o acerto de contas coma produção dos indicadores tradicionais. Entre esses,era crítica a necessidade de informações confiáveis so-bre P&D nas empresas, informação imprescindível pa-ra a consolidação dos dispêndios nacionais em P&D.A metodologia baseada no Manual de Oslo e na CommunityInnovation Survey (CIS) parece ser a melhor resposta dis-ponível para enfrentar as duas questões. Primeiramente,porque o foco mais amplo no processo de inovação pa-rece ser o mais adequado para economias em desenvol-

CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 5

2. A evolução dessa metodologia está estreitamente relacionada com a implementação da Community Innovation Survey (CIS), financiada pela Comissão Européiae supervisionada pelo Eurostat e OCDE. As diretrizes da primeira edição do Manual de Oslo, de 1992, foram implementadas em larga escala, pela primeira vez, naCIS-I, de 1993. Essa pesquisa teve como referência, para coleta de informações, o período 1990-1992 e foi realizada na maioria dos países da União Européia, alémdo Canadá e da Austrália, cobrindo apenas o setor industrial. Essa experiência levou à revisão do questionário adotado na CIS–II, que levantou informações sobreas atividades inovativas de mais de 100.000 empresas industriais e de serviços, com referência ao período 1994-1996. Ao mesmo tempo, a experiência acumula-da até então levou à revisão das diretrizes metodológicas, consolidadas na segunda edição do Manual, de 1997. Nova revisão do questionário ocorreu para a CIS-III, que foi a campo em 2001, tendo como referência o período 1998-2000 (Guellec; Pattinson, 2002). Não há publicação disponível com o conjunto dos resulta-dos da CIS–III, apenas publicações referentes a países individualmente, algumas das quais são comentadas neste capítulo. O Manual de Oslo encontra-se novamenteem processo de revisão.

3. Essa afirmação tem sido reiterada na literatura teórica sobre inovação. No entanto, ela é freqüentemente esquecida, na prática de pesquisa, quando se tomamos indicadores de P&D como a principal, senão única, medida de criação de conhecimento, ou geração de inovação, nas empresas. Como lembra oportunamenteSmith (2000), subjacente à sobrevalorização da função P&D está um entendimento do processo de inovação como sendo essencialmente de descoberta (e não deaprendizado), que teria na P&D sua fase ou etapa primordial.

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vimento, em que as atividades de P&D e o movimen-to de patenteamento são bastante restritos, tanto emvolume como em porcentagem das empresas que os pra-ticam (Bastos et al., 2003). Em segundo lugar, porque,com os devidos cuidados na interpretação dos resulta-dos, as pesquisas de inovação parecem oferecer respos-ta à maior parte das necessidades de informação refe-rentes a características do processo de inovação emeconomias periféricas, entre eles o papel saliente de em-presas multinacionais, o foco das atividades inovativasda maior parte das empresas na aquisição de bens decapital e a natureza muitas vezes informal da P&D4.

A Pintec 2000 seguiu as orientações do Manual deOslo e tomou o questionário da CIS-III como base pa-ra a elaboração do seu; algumas adaptações de concei-tos foram feitas para melhor adequá-los ao contexto bra-sileiro. A pesquisa compreendeu as empresas industriaisdo cadastro do IBGE – indústria extrativa e indústriade transformação. O ponto de corte foi de dez pessoasocupadas. Utilizou-se um desenho amostral estratifi-cado, parcialmente intencional, para compensar o fatode que a inovação não é um fenômeno que se verificana maioria das empresas. O plano amostral levou em

conta critérios de representatividade por setor indus-trial (a 2 dígitos da Classificação Nacional de AtividadesEconômicas – CNAE), por região econômica (para asgrandes regiões e o Estado de São Paulo) e para dife-rentes tamanhos de empresa. Isso levou a uma amos-tra final de cerca de 11.000 empresas.

Neste capítulo, trabalhou-se com uma tabulaçãoespecial fornecida pelo IBGE, com desagregações seto-riais (a 2 dígitos), desagregações para distintos tama-nhos de empresas e para diferentes tipos de capitalcontrolador (nacional, estrangeiro e misto). Os limitesda representatividade da amostra no Estado implicaramalgumas dificuldades na desagregação dos dados. Umadas mais importantes foi a impossibilidade de desagre-gação da divisão (a 2 dígitos) da indústria produtorade máquinas e equipamentos de informática. Esta, jun-tamente com outros setores de menor importância, foiagregada em “outros setores”. Uma outra limitação, tam-bém decorrente das características da amostra, foi a im-possibilidade de desagregações com base em atributoscruzados. Os procedimentos metodológicos utilizadosna Pintec e neste capítulo são comentados com maiordetalhe nos anexos metodológicos.

8 – 6 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

Impactos econômicos

Inovação Tecnológica

P&D

COMERCIALIZAÇÃO

MANUFATURA

Produto Processo

Empresa

Política tecnológica

Custo da InovaçãoP&D, Licenciamento, Investimento produtivo, Marketing

Figura 8.1Processo de inovação tecnológica (Manual de Oslo)

Fontes de informação e cooperação tecnológica:

- Clientes- Fornecedores- Universidades- Concorrentes - Institutos públicos de pesquisa

Fonte: OCDE/Eurostat, 1997

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

4. Sobre esses pontos, ver a discussão de Bastos et al. (2003) sobre os limites das objeções colocadas por alguns analistas latino-americanos à utilização da me-todologia do Manual de Oslo.

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3. Resultados do processo deinovação: empresas inovadoras

na indústria paulista

APintec 2000 identificou 8.664 empresas indus-triais inovadoras no Estado de São Paulo5. Sãoempresas que introduziram pelo menos uma

inovação tecnológica de produto e/ou processo6, entre1998 e 2000. Isso corresponde à taxa de inovação de32,6%, que representa o porcentual das empresas ino-vadoras no conjunto investigado de empresas paulis-tas, que compõem 37% do universo da pesquisa. A ta-xa de inovação é a medida mais utilizada como indicadorde resultado do processo de inovação das empresasnos países que realizaram pesquisas semelhantes.

Esta seção tem como objetivo decompor e anali-sar essa taxa, seja considerando os tipos de inovaçãoaí compreendidos, seja desagregando a taxa por crité-rios relacionados a atributos econômicos que guardamrelação com o desempenho inovador das empresas, es-pecialmente o tamanho da empresa e o setor (divisão)industrial a que pertence. Ao longo da análise, apresen-tam-se diferenças em relação à taxa de inovação brasi-leira, sempre que significativas.

A taxa de inovação do Estado está muito próximada taxa para o Brasil (31,5%), que inclui São Paulo, e am-bas estão cerca de 25% abaixo da média européia apu-rada na CIS-III (gráfico 8.1 e tabela anexa 8.1). Em com-paração com países conhecidos pela liderança tecnológicaem certos setores, como a Alemanha, ou países de in-dustrialização recente mais dinâmicos, como Taiwan, adistância da taxa brasileira é substancialmente maior.

CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 7

5. A Pintec incluiu 11.044 empresas em sua amostra, sendo 6.386 com apenas um endereço, outras 903 empresas com diferentes endereços na mesma unidadeda Federação e as 3.039 restantes com presença em mais de uma unidade da Federação. A estimativa do número de empresas inovadoras, no Estado de São Paulo,sofre variações pouco expressivas de acordo com o critério adotado para a distribuição das atividades de P&D entre as unidades locais das empresas com mais deum endereço. As alternativas de distribuição de tais atividades são: 1) concentrá-las na sede da empresa; 2) concentrá-las na unidade produtiva que gera o maiorvalor de transformação industrial da empresa; e 3) distribuí-las de acordo com a localização das unidades locais que realizam atividades de P&D. A primeira hipótesefoi selecionada como a mais adequada para este capítulo e para o capítulo 2 do volume. Já nos capítulos 4 e 9, optou-se pela hipótese 3. As discrepâncias entre osrespectivos totais de empresas inovadoras obtidas com esses critérios, reafirme-se, são mínimas.

6. No conceito adotado pela Pintec, inovação tecnológica corresponde à implementação pela empresa de produto e/ou processo tecnologicamente novo ou subs-tancialmente aprimorado (IBGE, 2002).

0 10 20 30 40 50 60 70

Alemanha

Taiwan

Reino Unido

União Européia

França

São Paulo

Brasil

Espanha

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

Fontes: Brasil e Estado de São Paulo: Pintec 2000/IBGE (2002), Alemanha: Janz et al. (2001), Taiwan: Hsien-Ta et al. (2003), Reino Unido: Stochdale (2001), União Européia: Larsson (2004), França: Lhomme (2002), Espanha: INE (2003)

Ver tabela anexa 8.1

Gráfico 8.1Taxas de inovação na indústria: empresas inovadoras (% do conjunto de empresas investigadas) – Estado de São Paulo, países e regiões selecionados, 1998-2000

%

Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 7

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Entre outras razões – entre as quais não se pode subes-timar a conjuntura econômica difícil do triênio 1998-2000no Brasil –, há duas de ordem estrutural, cuja influên-cia na determinação de taxas mais baixas de inovação nopaís precisa ser melhor investigada. Em primeiro lugar,nas estruturas industriais de países como Taiwan eAlemanha, o peso de setores intensivos em tecnologia,pela classificação da OCDE (OCDE, 1996), é bem supe-rior do que no Brasil ou no Estado de São Paulo. E sãoesses os setores que apresentam ciclos de produto maiscurtos e taxas de inovação mais elevadas. Isso ajuda aexplicar, por outro lado, a maior proximidade da taxa bra-sileira com a espanhola (esta referente ao período 2000-2002). Em segundo lugar, nos países europeus mais in-dustrializados, as empresas são, na média, maiores doque as brasileiras, na maior parte dos setores. Como severá, a propensão a inovar cresce com o tamanho das em-presas. Além disso, são empresas mais experientes, commaior maturidade e acumulação de aprendizado.

Quando decomposta por tipo de inovação, a taxade inovação do Estado também está próxima da brasi-leira: 7,5% das empresas industriais paulistas implemen-taram somente inovações de produto (6,3% no Brasil),13,2% somente de processo (13,9% no Brasil), ao pas-so que 11,8% das empresas paulistas introduziram ino-vações de produto e processo (11,3% no Brasil) no pe-ríodo considerado (gráfico 8.2 e tabela anexa 8.2).Somadas as taxas das empresas que fizeram somente ino-vação de produto com as taxas das empresas que ino-varam em produto e processo, o melhor desempenhoda indústria paulista em inovação de produto (19,3%)

em relação ao conjunto do Brasil (17,6%) é mais expres-sivo. Como se verá adiante com mais detalhe, isso de-corre do fato de que, na maior parte dos setores de al-ta e média intensidade tecnológica, nos quais a incidênciade inovações de produto é mais elevada do que de pro-cesso, a indústria paulista concentra maior número deempresas inovadoras do que a média nacional. Outra ra-zão é que o peso das empresas de menor porte é maiorno Brasil do que em São Paulo e essas empresas fazemmais inovações de processo do que de produto.

Trabalhos anteriores indicaram o tamanho da em-presa como o atributo mais significativo na determina-ção de sua propensão a inovar e da intensidade de suasatividades tecnológicas, não apenas no Brasil (Quadroset al., 2001; Franco; Quadros, 2003) como na maior par-te dos países da OCDE (Guellec; Pattinson, 2002). Osresultados da Pintec para o Estado de São Paulo con-firmam que a taxa de inovação cresce em linha com otamanho da empresa: enquanto 28,9% das pequenas em-presas (de 10 a 99 ocupados) são inovadoras, o porcen-tual sobe para 76,5% no grupo das empresas com 500ou mais ocupados (gráfico 8.3 e tabela anexa 8.2). Osnúmeros para o Brasil são semelhantes nos dois extre-mos, mas as médias empresas paulistas apresentam ta-xas de inovação mais elevadas, especialmente no gru-po das médias-grandes: 61,2% no Estado, contra 56,7%no Brasil (IBGE, 2002).

As grandes empresas destacam-se não apenas pe-la taxa substancialmente superior, mas também porapresentar um padrão mais completo de tipos de ino-vação: 54,5% das grandes empresas paulistas (mais de

8 – 8 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

Gráfico 8.2Empresas inovadoras por tipo de inovação (% do total) – Estado de São Paulo, 1998-2000

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Empresas inovadoras só de produto

Empresas inovadoras só de processo

Empresas inovadoras de produto e processo

Total de empresas inovadoras

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

Fonte: Pintec 2000/IBGE

Ver tabela anexa 8.2

13,2

11,8

32,6

7,5

%

Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 8

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2/3 no grupo das grandes empresas inovadoras) intro-duziram inovações de produto e processo. Nos doisgrupos de médias empresas, o número das inovadorasem produto e processo equivale ao das que fizeram so-mente um dos dois tipos de inovação. Já no grupo daspequenas empresas, o maior conjunto é o das empre-sas que fizeram apenas inovações de processo (12,6%),enquanto as empresas que introduziram novos produ-tos e processos representam menos de 1/3 das peque-nas inovadoras (gráfico 8.3 e tabela anexa 8.2). Uma boahipótese para explicar o foco das pequenas e médias em-presas primordialmente em inovações de processo é ofato de que, em sua maioria, essas empresas ou concor-rem em mercados maduros, em que o principal atribu-to da concorrência é custo e preço (e não a diferencia-ção de produto), ou estão integradas em cadeias lideradaspor grandes empresas, como fornecedoras de partes ecomponentes, em que o projeto de produto é realizadopelo seu cliente. A orientação das pequenas empresaspara nichos de mercado é exceção. Dessa forma, elas es-tão menos orientadas para inovações de produto, e simpara a introdução de inovações de processo que redu-

zam o custo e melhorem a qualidade da produção. Daítambém decorre seu menor dispêndio em P&D, da qualdepende a inovação de produto, e maior concentraçãode seu esforço de inovação em gastos com aquisição demáquinas e equipamentos, em comparação com a gran-de empresa, como se verá na seção 5.

O setor industrial a que pertence a empresa é ou-tro atributo com significativo poder explicativo sobre ati-vidades tecnológicas e desempenho inovador das empre-sas (Pavitt, 1984; Archibugi et al., 1995). As taxas deinovação setoriais na indústria paulista distribuem-se, emgeral, numa classificação similar à brasileira, mas comalgumas diferenças importantes (gráfico 8.4 e tabelaanexa 8.3). Em conjunto, os setores com maiores opor-tunidades tecnológicas, notadamente as indústrias pro-dutoras de bens e serviços de tecnologias de informaçãoe comunicações (TICs), são aqueles com maior porcen-tual de empresas que implementaram inovações: os se-tores fabricantes de equipamentos de Instrumentação,médico-hospitalares e de automação (68,3% no Estado)e os setores produtores de Material eletrônico e comu-nicações (60,35% no Estado)7. Esse substancial dife-

CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 9

Gráfico 8.3Empresas inovadoras por tipo de inovação e segundo a faixa de pessoal ocupado (% do total de empresas investigadas) – Estado de São Paulo, 1998-2000

10 a 99

100 a 249

250 a 499

500 e mais

Faix

a de

pes

soal

ocu

pad

o

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

Fonte: Pintec 2000/IBGE

Ver tabela anexa 8.2

Total de empresasinovadoras

Empresas inovadoras de produto e processo

Empresas inovadoras só de processo

Empresas inovadoras só de produto

%

7. No Brasil, o setor de fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática é o que apresenta a mais alta taxa de inovação, de 67,9% (IBGE,2002). Para efeito de comparação com o Estado de São Paulo, este setor foi considerado como parte de outras indústrias. Como já foi mencionado, nas tabulaçõesespeciais da Pintec, este setor não pôde ser desagregado para o Estado.

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8 – 10 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

Gráfico 8.4Empresas inovadoras, por setor industrial (% do total de empresas investigadas) – Estado de São Paulo e Brasil, 1998-2000

0 10 20 30 40 50 60 70

%

Instrumentação

Material eletrônico e de comunicações

Outros equipamentos de transporte

Máquinas e materiais elétricos

Química

Borracha e plástico

Máquinas e equipamentos

Veículos automotores

Produtos de metal

Refino de petróleo e álcool

Edição e gráfica

Metalurgia básica

Alimentos e bebidas

Couros e calçados

Têxtil

Móveis e indústrias diversas

Papel e celulose

Vestuário

Minerais não-metálicos

Outros

Total

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

Fonte: Pintec 2000/IBGE

Ver tabela anexa 8.3

São Paulo

Brasil

Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 10

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rencial entre primeiro e segundo colocados no Estado nãose verifica no nível nacional. Com efeito, concentram-seem São Paulo, particularmente na capital e nas regiõesde Campinas, Ribeirão Preto e São Carlos, a maior par-te das empresas líderes nas indústrias de Instrumenta-ção8. Destaca-se ainda no Estado, em terceiro lugar, comtaxa de inovação mais de 10 pontos acima da taxa na-cional, o setor de Outros equipamentos de transporte(54,2%), cujo comportamento inovativo é “puxado” pe-la indústria aeronáutica, a qual tem participação eleva-da no valor da transformação industrial (VTI) do Esta-do e, como os demais setores comentados acima, éconsiderada, pela classificação da OCDE, intensiva emtecnologia. As taxas de inovação mais elevadas nos se-tores produtores de TICs decorrem de duas caracterís-ticas complementares dos mesmos: seus produtos e tec-nologias têm, tipicamente, ciclos de vida mais curtos; maisimportante, são setores nos quais emergem com maiorfreqüência tecnologias disruptivas, das quais se originamnovos mercados e negócios.

Ainda acima da média do Estado estão as taxas deinovação de um grupo de setores de média-alta inten-sidade tecnológica (gráfico 8.4 e tabela anexa 8.3): fabricação de Máquinas e materiais elétricos (51,5%),produtos Químicos (48,7%)9, produtos de Borracha eplástico (39,5%), Máquinas e equipamentos mecânicos(38,7%) e Veículos automotores (38,6%). Esse grupocompreende alguns dos setores com maior participa-ção no VTI paulista, como as indústrias química e au-tomobilística. Nas indústrias Química, Automobilísti-ca e de Material elétrico, o desempenho inovador dasempresas paulistas é de 2 a 3 pontos porcentuais aci-ma da média nacional. Chama a atenção, contudo, o fa-to de que a taxa de inovação da indústria de Máquinase equipamentos mecânicos no Estado encontra-se qua-se 6 pontos abaixo da taxa nacional.

Um terceiro grupo, com taxas de inovação próximasda média da indústria no Estado (2 a 3 pontos acima ouabaixo), compreende setores de insumos básicos (Me-talurgia básica e Refino de álcool e petróleo) e os seto-res de Produtos de metal e Edição e gráfica (gráfico 8.4).Em sua maior parte, são indústrias de média-baixa in-tensidade tecnológica, pela classificação da OCDE.Também em termos nacionais, esses setores se encon-tram poucos pontos acima ou abaixo da média da indús-tria. No entanto, o grupo de setores com desempenhoinovador próximo da média, no Brasil, inclui um núme-ro bem maior de setores, quando comparado com o Es-

tado de São Paulo. Isso é decorrência do pior desempe-nho inovador das indústrias de menor intensidade tec-nológica em São Paulo, em comparação com o Brasil.

São nos grupos de menor intensidade tecnológicaque se encontram as maiores diferenças no posiciona-mento das indústrias paulistas na classificação setorialde taxas de inovação, em relação às suas contrapartesnacionais. As indústrias paulistas de baixa intensidadetecnológica – Alimentos e bebidas, Couro e calçados, Têx-til e Móveis – situam-se abaixo do grupo intermediário,com taxas de inovação entre 27,5% e 28,6%. No Brasil,as taxas desses setores são significativamente e siste-maticamente superiores às paulistas, variando entre29,5%, para a indústria de alimentos, a 34,4%, no casodo setor de móveis. Essa diferença coloca esses setoresno grupo daqueles com taxas de inovação próximas damédia, em termos nacionais, sendo que os de Couro ecalçados e Móveis estão acima da média da indústria bra-sileira (gráfico 8.4). Portanto, a maior concentração deempresas inovadoras, nesses setores, se dá fora do Es-tado de São Paulo. No caso das indústrias de Calçadose Móveis, as razões que explicariam essa diferença pa-recem estar associadas ao desenvolvimento de clustersindustriais inovadores e exportadores em outros Esta-dos10. Finalmente, as indústrias de Minerais não-me-tálicos e de Vestuário são as que apresentam as maisbaixas taxas de inovação no Estado. Chama também aten-ção o fato de a taxa de inovação da indústria de Vestuá-rio brasileira estar cerca de sete pontos porcentuais aci-ma da taxa paulista.

Em suma, as diferenças setoriais nas taxas de ino-vação da indústria paulista, em comparação com as ta-xas para o Brasil, apontam duas grandes tendências. Emprimeiro lugar, nos setores de alta e média-alta tecno-logia, a indústria paulista tem desempenho inovadoracima da média brasileira, com a notável exceção dos se-tores produtores de Máquinas e equipamentos e Mate-rial eletrônico e telecomunicações. Em segundo lugar, atendência inversa ocorre nos setores de baixa intensida-de tecnológica. Conseqüentemente, a dispersão setorialdas taxas de inovação no Estado de São Paulo é maiordo que no Brasil. Essa maior dispersão no Estado podeser compreendida sob a perspectiva da hipótese de umamaior especialização regional na localização espacial daindústria brasileira. De um lado, o sucesso dos clustersindustriais de Calçados e Móveis, inclusive com relaçãoao seu desempenho exportador, pode ter estimulado odesenvolvimento de novos pólos modernos, nesses se-

CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 11

8. Sobre as competências de inovação nessas regiões, ver o capítulo 9 deste volume.9. O setor de fabricação de produtos químicos, na classificação a dois dígitos da CNAE, compreende a indústria farmacêutica, que é considerada de alta inten-

sidade tecnológica pelos critérios da OCDE. Não foi possível desagregá-la para o Estado de São Paulo. No entanto, a taxa de inovação da indústria farmacêuticano Brasil (46,7%) não está muito acima da taxa dos demais segmentos da indústria química (46%).

10. Sobre o desenvolvimento de agrupamentos industriais exportadores de móveis em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, ver trabalho realizado peloInstituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT, 2002).

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tores, fora de São Paulo. Além disso, a progressiva bus-ca de regiões com menor custo do trabalho na implemen-tação de novas fábricas de grandes empresas têxteis e dealimentos também pode contribuir para a maior moder-nização das indústrias de menor intensidade tecnológi-ca fora do Estado. Por outro lado, as vantagens compa-rativas do Estado em termos de oferta de mão-de-obraqualificada, especialmente de nível superior (como mos-ta o capítulo 4 deste volume), e proximidade com o mer-cado consumidor continuam atuando no sentido damaior concentração em São Paulo das indústrias maisintensivas em tecnologia, com a exceção de Material ele-trônico e comunicações e Máquinas e equipamentos.No caso da primeira exceção, a explicação deve-se à con-solidação da indústria eletrônica em Manaus, apoiada pe-la continuidade de uma política regional específica.

No entanto, quando se trabalha com um concei-to mais restrito de inovação, o cenário é bem distintoe a maior dispersão no Estado de São Paulo é substi-tuída pela concentração ainda maior de empresas ino-vadoras no Estado. Esse aspecto é discutido na sub-seção 3.1 a seguir.

3.1 Empresas inovadoras em relação ao mercado

Como se argumentou na seção 2 acima, os indica-dores provenientes de surveys de inovação baseados na me-todologia da OCDE apresentam limitações estruturais,até certo ponto inevitáveis, que decorrem de sua aborda-gem baseada em conceitos genéricos e na ampla utiliza-ção de questões categóricas, impostos pela abrangênciaextensa e setorialmente heterogênea do universo da pes-quisa. Possivelmente a limitação mais sentida, e critica-da11, é a que se refere ao conceito de empresa inovadorae taxa de inovação no sentido que se adotou na seção an-terior, que corresponde à medida mais utilizada e divul-gada. Trata-se do conceito mais amplo da metodologia,que considera como inovadora aquela empresa que im-plementou produto e/ou processo tecnologicamente no-vo ou substancialmente modificado, em comparação comas práticas anteriores da própria empresa. Em outros ter-mos, a referência para o grau de abrangência da inova-ção é a empresa. Nesse sentido, a taxa de inovação é umamedida da dinâmica de difusão tecnológica entre as em-presas de um determinado grupo (setor, região ou país).

Essa medida apresenta duas limitações. Primeira-mente, ela nada diz sobre o grau e a qualidade de no-vidade da inovação implementada. Em segundo lugar,

o conceito amplo não permite separar as empresas lí-deres, ou seja, aquelas que introduzem uma inovaçãopela primeira vez no mercado, das demais empresas ino-vadoras, aquelas que são seguidoras. Em relação à pri-meira limitação, pouco se avançou no âmbito dessametodologia, ainda que os questionários da Pintec e daCIS-III tenham solicitado às empresas a descrição daprincipal inovação, com a intenção primordial de tor-nar mais rigorosa a verificação de consistência das res-postas. Ainda assim, parece difícil avaliar o grau de rup-tura ou de novidade de uma inovação sem recorrer àutilização de estudos descritivos e analíticos em pro-fundidade. Em relação ao segundo ponto, a inclusão pe-la Pintec 2000 de questões que buscam verificar se ainovação de produto e/ou processo introduzida pela em-presa é nova para o mercado nacional12 criou a possi-bilidade de construir indicadores mais precisos, que iden-tificam o peso das empresas que lideram o processo deinovação em seus respectivos mercados e setores.

Se, no conceito amplo, a propensão a inovar do con-junto da indústria no Estado é apenas marginalmentesuperior à da indústria brasileira, o desempenho da in-dústria paulista está bem acima da média nacionalquando se considera a primeira introdução de um pro-duto no mercado brasileiro. Em São Paulo, 6,1% dasempresas são líderes nacionais em inovação de produ-to, indicador que é cerca de 50% superior à média na-cional (tabela anexa 8.4). Dessa forma, enquanto 38%das empresas inovadoras brasileiras se concentram emSão Paulo, o que está próximo da participação paulis-ta no universo da pesquisa, cerca de 55% do total dasempresas que introduziram pela primeira vez produtoinovador no mercado brasileiro, entre 1998 e 2000,têm sua sede no Estado.

É interessante observar que a liderança das empre-sas industriais paulistas na introdução de novos pro-dutos se verifica na esmagadora maioria dos setores in-dustriais, com exceção de Material eletrônico e decomunicações, Máquinas e equipamentos e Metalurgiabásica. As maiores diferenças entre São Paulo e Brasilocorrem nos setores de alta e média-alta intensidadetecnológica e são mais reduzidas nos setores menos in-tensivos em tecnologia. No caso de setores como Mó-veis, Couro e calçados e Têxtil, em que, como se viu,a taxa de inovação nacional é superior à paulista, os in-dicadores permitem levantar a hipótese de que, embo-ra a difusão de inovações em outros Estados seja su-perior à que ocorre em São Paulo, boa parte dasinovações de produto tem origem em empresas lídereslocalizadas no Estado (tabela anexa 8.4).

8 – 12 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

11. Ver Costa (2003).12. Em relação à inovação de produto, a Pintec 2000 perguntou se a empresa implementou inovação nova para o mercado nacional; em relação a processo, foi

indagado se a inovação era nova para o setor no Brasil.

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É útil também ressaltar que, nesse conceito mais res-trito de empresa inovadora, a distância do Brasil e de SãoPaulo em relação aos países da OCDE torna-se signifi-cativamente maior. Por exemplo, a porcentagem de em-presas da indústria de transformação alemã que intro-duziram produtos novos em seus mercados foi de 29%,em 2000, ou seja, mais de quatro vezes superior à pro-porção de empresas líderes em São Paulo (Janz et al.,2002)13. Na França, esse porcentual cai para 16,8%, ain-da assim mais do que o dobro da taxa de empresas líde-res em produto na indústria paulista (Lhomme, 2002).

Em relação à introdução de processos novos na in-dústria, a diferença das empresas do Estado não é tãosignificativamente superior; apenas 3,5% das empre-sas industriais paulistas implementaram processosconsiderados novos em seus setores, em âmbito na-cional, contra 2,8% das empresas brasileiras (tabela ane-xa 8.4). Além disso, a concentração de empresas líde-res no Estado é menos acentuada, ou melhor, se dá numconjunto mais limitado de setores. Aqui, a distribui-ção da liderança setorial segue próxima do desempe-nho inovador por setores que foi apresentado no grá-fico 8.4. Na maior parte dos setores de alta e média-altaintensidade tecnológica, a concentração de empresaspaulistas que introduziram novos processos em seusrespectivos setores no âmbito nacional é superior à por-centagem do grupo equivalente na indústria brasilei-ra. No entanto, é na capacidade de introduzir inova-ções de processo nos setores em que atuam que maisse pode aferir o fosso em competências tecnológicasentre as empresas brasileiras e as de países mais in-dustrializados. No país com melhor desempenho ino-vador na União Européia, ou seja, a Alemanha, a par-ticipação de empresas líderes em inovação de processona indústria é de 25%, quase dez vezes superior ao gru-po equivalente no Brasil.

4. Fontes de inovação utilizadas pelas empresas e

cooperação tecnológica

Na seção anterior, viu-se que o comportamentodas empresas inovadoras paulistas, no conjun-to, se assemelha ao do conjunto nacional, em-

bora os indicadores apontem diferenças setoriais im-portantes e uma posição de liderança das primeiras.

Nesta seção, a comparação estende-se às estatísticasde fontes de informação, que permitem identificarqual agente está na origem da geração do novo produ-to ou processo e mensurar qual é a sua importânciano fluxo de informações que origina o processo deinovação. Esses insumos têm composição variada e di-ficilmente se limitam a uma única fonte. Como evi-denciado adiante, quanto maior a capacitação das em-presas, maior a importância e a variedade de fontes.Na segunda parte da seção, a análise se estende paraa questão dos laços efetivos, entre a empresa e atoresexternos, de cooperação tecnológica para a inova-ção(subseção 4.1).

A Pintec 2000 verificou a prioridade atribuída pe-las empresas inovadoras a uma grande variedade de fon-tes de informação. Elas podem ser organizadas emquatro grupos, seguindo-se parcialmente a sugestão doEurostat (2001): 1) o grupo das fontes internas à em-presa ou ao grupo a que pertence a empresa; 2) o dasfontes relacionadas aos mercados de insumos e pro-dutos em que as empresas operam; 3) o grupo das fon-tes de domínio público; e 4) um grupo de fontes variadas, cujas transações com as empresas são es-sencialmente de informações e conhecimento, sendoalgumas predominantemente públicas (universidades,institutos de pesquisa e centros de capacitação) e ou-tras privadas (como empresas de consultoria e de li-cenciamento de patentes e aquisição de know-how).Considerando-se esses quatro grupos, as fontes rela-cionadas com os mercados de insumos e produtos –fornecedores, clientes e concorrentes – parecem ser asmais importantes, tanto para as empresas brasileirascomo para as paulistas, porque apresentam um con-junto mais equilibrado de respostas indicando alta im-portância da fonte, sendo as duas primeiras com maisde 30% das respostas e a terceira com cerca de 20%(gráfico 8.5 e tabela anexa 8.5). Segue-se o grupo dasfontes internas, em que se encontra a fonte indivi-dualmente classificada em primeiro lugar (outras áreasda empresa), com mais de 40% de respostas, mas compontuação bem mais baixa para as demais fontes, in-clusive o departamento de P&D interno. As fontespúblicas de informação apresentam resultado interme-diário, entre 10% e 20% das respostas, com exceçãode feiras e exposições, acima de 30%. Finalmente, asfontes do quarto grupo apresentam um porcentual derespostas, na maior parte, abaixo de 5%, revelando que,no conjunto, tanto as empresas paulistas como as bra-sileiras são pouco propensas a contar com as univer-sidades e os institutos de pesquisa para apoiar seuprocesso de inovação.

CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 13

13. Há ainda uma dimensão qualitativa muito importante neste ponto, decorrente do fato de que o questionário da CIS-III se referiu à inovação para o merca-do em que opera a empresa. O conceito de mercado para uma empresa alemã compreende não apenas o mercado nacional, como é o caso para as empresas brasi-leiras, mas o mercado europeu e, em muitos casos, outros mercados internacionais em que comercializa seus produtos.

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A ordem de prioridade entre esses grupos não di-fere muito na experiência internacional em comparaçãocom a brasileira; as diferenças mais significativas en-contram-se nas prioridades internas a cada grupo e napontuação atribuída a algumas fontes individuais. Porexemplo, no caso de Taiwan (Hsien-Ta et al., 2003), aordem entre os grupos é exatamente a mesma do Brasil,com clientes e consumidores se destacando como fon-te mais indicada, com 73% de respostas. Destaca-seainda, na experiência taiwanesa, o fato de que os insti-tutos governamentais de pesquisa e as universidades,embora classificados em quarto lugar, são considerados

fontes de alta importância para a inovação por cerca de20% das empresas, muito acima da importância atribuí-da a essas fontes no Brasil. No caso do conjunto dos paí-ses europeus que participaram do CIS-II (Eurostat,2001), com referência ao período 1996-1998, o grupodas fontes internas à empresa está à frente dos demais.No entanto, os resultados apresentados na publicaçãonão separam o departamento de P&D das demais áreasda empresa, como se faz aqui para Brasil e São Paulo.

São as outras áreas da empresa a principal fonte in-dividual de informação para inovação tanto para as em-presas paulistas como para o conjunto do país. Essas ou-

8 – 14 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

Gráfico 8.5Fontes de informação para a inovação (% das empresas inovadoras indicando alta importância) – Estado de São Paulo e Brasil, 1998-2000

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

Licenças e patentes

Consultoria

Universidades e instit. de pesquisa

Centros de capacitação

Outra empresa do grupo

Instituições de testes

Conferências e publicações

Departamento de P&D

Redes informatizadas

Concorrentes

Fornecedores

Feiras e exposições

Clientes ou consumidores

Outras áreas

% de respostas indicando importância alta

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

Fonte: Pintec 2000/IBGE

Ver tabela anexa 8.5

São Paulo

Brasil

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tras áreas incluem tanto atividades de P&D não-rotini-zadas, dispersas em departamentos ou setores cujas ati-vidades são primordialmente de engenharia rotineira deprodução e qualidade, como os setores de compras e re-lações com fornecedores e, finalmente, os setores encar-regados do marketing. O departamento interno de P&Daparece bem depois (sétimo lugar, em São Paulo). Essefato é compreensível pela ausência, na maioria das em-presas inovadoras, de atividades contínuas de P&D, co-mo se verá adiante neste capítulo. Não obstante, comomostra o gráfico 8.5, em São Paulo, existe uma impor-tância relativamente maior do departamento de P&D co-mo fonte da inovação (13,1% das empresas inovadoras)do que na média nacional (9,4%), o que é consistente coma liderança das empresas paulistas na inovação de pro-duto para o mercado nacional.

As fontes de informação do mercado consideradascomo mais importantes pelo conjunto nacional diferemdaquelas consideradas como mais importantes pelasempresas paulistas. Na média brasileira, as empresasapóiam-se mais nos fornecedores de materiais, compo-nentes e equipamentos, seguidos de clientes/consumi-dores e de concorrentes. Já as empresas paulistas dão bemmenos importância aos fornecedores do que aos seusclientes como fonte principal, entre as fontes do merca-do de bens. Essa diferença reflete a maior participação,na estrutura industrial paulista, de produtores de bensde capital e de bens intermediários, comparativamenteà média nacional. No caso desses setores, freqüente-mente, o desenvolvimento de produtos compreende a bus-ca de soluções para a melhora do processo produtivo declientes corporativos, o que faz deles o ponto de parti-da do processo de inovação. No entanto, o comportamen-to das empresas paulistas, no que tange à busca de in-sumos de conhecimento, varia consideravelmentesegundo o tamanho, a origem do capital e o setor.

Como foi discutido na seção 3, o tamanho é um dosprincipais fatores que explicam a maior propensão das em-presas em inovar. Isso se reflete na maior intensidade nouso de fontes diversificadas, à medida que aumenta o ta-manho da empresa (tabela anexa 8.5). No grupo dasgrandes empresas paulistas, há um salto na inclinação daempresa em lançar mão da P&D estruturada, levando odepartamento de P&D a ser a fonte de conhecimento maisvalorizada no grupo (46,8%). Em contraste, nas demaisclasses de tamanho de empresas do Estado, o peso maiorfica do lado das outras áreas da empresa. Também a im-portância das fontes cujas relações com empresas são fo-cadas em transferência de conhecimento tende a aumen-tar substancialmente, à medida que cresce o porte daempresa, com destaque para o grupo das grandes empre-sas paulistas. Nesse grupo, o recurso às universidades,aos institutos de pesquisa, às instituições de teste, às em-presas de consultoria e de aquisição de licenças, paten-tes e know-how é considerado de alta importância numa

proporção de duas a três vezes superior à média para oEstado. Esses dados revelam que, quanto maior o tama-nho da empresa, maior sua capacidade em acessar infor-mações úteis provenientes dessas instituições para usá-las no processo de inovação. Já os centros de capacitaçãoprofissional são priorizados de forma mais homogêneaentre os diversos grupos de tamanho, o que revela maiorvocação dessas instituições para alcançar as pequenas emédias empresas. Da mesma forma, as fontes de infor-mação de domínio público, que alcançam um maior nú-mero de empresas, têm priorização mais equilibrada en-tre os diferentes grupos de tamanho destas.

A importância relativa das fontes varia muito de acor-do com o setor da indústria a que pertencem as empre-sas. A análise da importância atribuída às diferentes fon-tes de conhecimento para a inovação por setor da indústriapaulista revela, em primeiro lugar, que estão entre os se-tores mais inovadores da indústria (mais elevadas taxasde inovação) aqueles que se utilizam de uma maior va-riedade de fontes, às quais atribuem importância alta aci-ma da média paulista. As indústrias de Instrumentação,Química e Automotiva priorizaram oito fontes acima damédia estadual, enquanto o setor de Máquinas e mate-riais elétricos indicou sete fontes como de alta impor-tância acima da média estadual (tabela anexa 8.6). O se-tor Automotivo, entre todos, é o que contabiliza maiorimportância atribuída aos centros de capacitação profis-sional (16,1%) e às instituições de testes, ensaios e cer-tificações (19,3%). Isso sugere que esses setores dispõemde mais recursos e capacitação para mobilizar um espec-tro mais amplo de fontes de conhecimento, o que é con-sistente com sua posição de liderança nacional. No ou-tro extremo, os setores fabricantes de produtos deBorracha e plástico, Produtos de metal e Têxtil são osque apresentam menor incidência (entre uma e duas) defontes com priorização acima da média.

Na avaliação dos padrões internos de priorizaçãodas fontes, por setor, observa-se que as fontes internasrelacionadas com outras áreas da empresa que não a deP&D são as mais importantes para a maior parte dossetores da indústria paulista. Porém, existe um amploconjunto de setores em que as fontes externas lideram.Aqui há claramente dois grupos distintos. De um lado,os setores mais intensivos em tecnologia (Outros equi-pamentos de transporte, Instrumentação e Material ele-trônico e de telecomunicações) têm nos clientes suasfontes de inovação mais importantes (tabela anexa 8.6).Considerando que esses setores estão na liderança na-cional, isso evidencia como é central para o seu proces-so de inovação a interação com usuários de seus pro-dutos e serviços. Também no setor de Couro e calçados,os clientes são considerados a fonte mais importante doprocesso de inovação. Nesse caso, como indica a litera-tura, a fonte do elemento mais importante para a com-petitividade – o design – é em geral fornecida por com-

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pradores corporativos. De outro lado, as empresas dossetores Têxtil, Vestuário e de Papel e celulose apóiam-se nos fornecedores como fontes principais de informa-ção, sendo que, para os dois primeiros, as feiras e ex-posições têm grande importância, por serem o tipo deindústria onde o design e o conteúdo artístico e culturalsão componentes importantes da inovação.

A importância dos laboratórios internos de P&D va-ria bastante segundo o setor. Os setores para os quaisessa fonte é priorizada acima da média do Estado são,primeiramente, os de alta tecnologia (Outros equipa-mentos de transporte e Instrumentação), seguidos dealguns setores de média intensidade tecnológica, tais co-mo Química, Máquinas e equipamentos, Máquinas e ma-terial elétrico (tabela anexa 8.6). A atividade organiza-da de P&D é um elemento importante para o processode inovação nesses setores. Como se verá na próximaseção, eles estão na liderança em termos de participa-ção da atividade de P&D no conjunto dos dispêndios rea-lizados pelas empresas em atividades inovativas. Asuniversidades e os institutos de pesquisa (IP) não sãofontes expressivas no processo de inovação para a gran-de maioria dos setores industriais paulistas. Porém, empoucos setores essas organizações desempenham um pa-pel importante, com mais de 10% das empresas inova-doras priorizando as universidades e os IPs: Instrumen-tação, Química e Metalurgia básica (tabela anexa 8.6).Os dois primeiros também estão entre os que atribuemmaior prioridade à P&D. É interessante notar o baixopeso que essas instituições têm para o setor de Mate-rial eletrônico e de comunicações, o qual é, no entan-to, contemplado com incentivos fiscais que apóiam ex-plicitamente a contratação externa de P&D acadêmica.

Para completar o quadro da análise setorial por fon-te, elaborou-se uma matriz de correlações das variaçõesdos fatores intersetoriais, identificando-se as correla-ções mais significativas (tabela anexa 8.7). O fator queapresenta maior grau de correlação com as demais va-riáveis é a importância relativa do departamento deP&D. Isso caracteriza a estratégia dos setores em queas empresas se apóiam mais fortemente no departamen-to de P&D e, concomitantemente, se utilizam mais in-tensivamente de suas relações com clientes, outras em-presas do grupo e universidades e institutos de pesquisa,além de se valerem mais fortemente de fontes de co-nhecimentos externos codificados de conferências epublicações. Em contraste, uma outra estratégia é a dossetores mais dependentes de fornecedores, concorren-tes e feiras e exposições, em relação aos quais a fonteinterna de P&D possui uma significativa correlaçãonegativa. A expressiva correlação entre fornecedores econcorrentes confirma esse fato. A significativa corre-lação entre outras áreas da empresa e fornecedores re-vela que o tipo de esforço interno dessa categoria deempresa se localiza fora do departamento de P&D.

A origem do capital controlador da empresa tam-bém exerce forte influência sobre o comportamento ino-vativo e a busca e seleção de informações qualificadaspor parte das empresas paulistas (Quadros et al., 2001).O Estado de São Paulo abriga mais de 60% das empre-sas do universo da Pintec 2000 integralmente contro-ladas por capitais estrangeiros. Em sua maior parte, sãosubsidiárias de empresas multinacionais. Isso justificao exame do comportamento inovador das empresasagrupadas por origem do capital controlador. No en-tanto, dado o fato de que a maior parte das subsidiá-rias de multinacionais é de médio-grande ou de gran-de porte e que a grande massa das empresas pequenase médias é nacional, o exame das empresas classifica-das apenas por origem de capital é pouco revelador, jáque há forte superposição nas desagregações por tama-nho e por origem do capital controlador.

Não obstante, no que se refere ao tema desta se-ção, a Pintec revela um aspecto saliente das empresasestrangeiras: o predomínio de “outra empresa do gru-po”, com 62% de indicações, como fonte de informa-ção relevante mais citada por todos (tabela anexa 8.8).Isso aponta a importância da inserção da filial dentrode uma rede de conhecimento constituída pela corpo-ração transnacional. Essa inserção constitui um dosprincipais diferenciais da empresa de capital estrangei-ro em relação à nacional. A empresa nacional dispõede um acesso muito mais limitado a uma rede de trans-ferência internacional de tecnologia. É interessante no-tar que a filial recorre muito mais à transferência in-ternacional de tecnologia que se realiza por meio dasrelações com a matriz ou outras subsidiárias do que àcontratação formal de tecnologia por meio de licencia-mento de patentes e de know-how. No entanto, as em-presas estrangeiras priorizam esta última fonte bem aci-ma da média para o Estado.

A empresa estrangeira também se apóia fortemen-te em fontes de informação internas à empresa (outrasáreas e departamento de P&D). Existe uma certa com-plementaridade entre as fontes internas e externas deinformação. O relacionamento com as fontes de maisfácil acesso é mais limitado, tais como feiras e exposi-ções, concorrentes e centros de capacitação profissional.Em compensação, o peso é maior das universidades edos institutos de pesquisa, das redes informatizadas ede instituições de teste, que recebem priorização acimada média. Essas fontes revelam uma maior liderança tec-nológica da filial de empresa multinacional que se rela-ciona mais com instituições associadas à geração doque à difusão tecnológica.

As fontes de informação estrangeiras são muitoimportantes para as empresas industriais do Estadode São Paulo, principalmente para as filiais de empre-sas multinacionais e, também, para as empresas de ca-pital misto (gráfico 8.6 e tabela anexa 8.9). Cerca de

8 – 16 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

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CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 17

Gráfico 8.6Participação do exterior na localização das fontes de informação externas à empresa, por origem do capital controlador (em %) – Estado de São Paulo, 1998-2000

Outra empresa do grupo

Fornecedores

Clientes ou consumidores

Concorrentes

Consultoria

Universidades e institutosde pesquisa

Centros de capacitação

Instituições de testes

Licenças e patentes

Conferências e publicações

Feiras e exposições

Redes informatizadas

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

Fonte: Pintec 2000/IBGE

Ver tabela anexa 8.9

%

Nacional e estrangeiro

Estrangeiro

Nacional

Total São Paulo

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92% das empresas estrangeiras inovadoras declaramque, em relação a outras empresas do grupo, recor-rem ao exterior, ou seja, a suas matrizes ou outras sub-sidiárias. Para as empresas de capital compartilhadoentre controladores estrangeiros e brasileiros, esseindicador também é elevado. As filiais de multinacio-nais e as empresas de capital misto apóiam-se muitoem fontes estrangeiras, inclusive no que diz respeitoa contratos de aquisição de tecnologia (patentes eknow-how) e de domínio público (conferências, feirase redes informatizadas). Destaca-se ainda sua fortepriorização das relações com fornecedores estrangei-ros, o que é consistente com sua participação signifi-cativa na importação de bens de capital (De Negri;Laplane, 2003). No que diz respeito às relações comclientes e concorrentes estrangeiros, elas são muitomenos significativas.

4.1 Densidade dos vínculos externos de cooperação tecnológica

A crescente complexidade tecnológica associada àampliação dos custos, dos riscos e das pressões por re-sultados concretos dos gastos de P&D constituem fa-tores indutores de arranjos cooperativos para a inova-ção, inclusive da articulação universidade-indústria. Acooperação permite alavancar recursos, dividir riscos,definir padrões, realizar pesquisas e joint ventures.

Nesta subseção observa-se o envolvimento dasempresas industriais inovadoras em relações de coo-peração com outras organizações. A Pintec 2000 con-ceituou a cooperação para a inovação como a parti-cipação ativa da empresa em projetos conjuntos deP&D e outros projetos de inovação com outra orga-nização (empresa ou instituição), não implicando,necessariamente, que as partes envolvidas obtenhambenefícios comerciais imediatos. Mas a mera contra-tação de serviços de outras organizações, sem a suacolaboração ativa, não é considerada cooperação(Bastos et al., 2003). As perguntas relativas à “coo-peração para a inovação” da pesquisa buscaram iden-tificar o grau de importância atribuído pelas empre-sas aos diversos tipos de parceiros, procurando, dessaforma, mapear as relações entre um amplo espectrode agentes que atuam juntamente com as empresasno processo de inovação.

O primeiro ponto que se destaca quando são exa-minadas as informações agregadas sobre atribuição, pe-

las empresas inovadoras, de importância alta a parcei-ros de cooperação tecnológica é sua expressão incipien-te, mesmo em relação àqueles parceiros com quem asempresas também têm relação de mercado, como clien-tes e consumidores. Nesses dois casos, apenas 3,7% e4,5% das empresas inovadoras, respectivamente, indi-caram que consideram de alta importância essa parce-ria. Somente 1,5% das empresas inovadoras, isto é, ape-nas 132 empresas industriais no Estado de São Pauloconsideram importante as relações de cooperação comuniversidades e institutos de pesquisa (tabela anexa8.10). A desagregação das informações por grupo de ta-manho (faixa de pessoal ocupado) das empresas tornao quadro um pouco mais contrastado. Na verdade, háalguma expressão de freqüência (densidade) na impor-tância que as grandes empresas atribuem, pela ordem,a suas relações de cooperação para a inovação com clien-tes (17,7%), fornecedores (14%) e outras empresas deseu grupo (14%) (gráfico 8.7 e tabela anexa 8.10).

O foco nas relações com o mercado e outras em-presas do grupo é consistente com o que foi visto naprimeira parte desta seção. Essas são as fontes exter-nas mais valorizadas pelas grandes empresas (tabelasanexas 8.5 e 8.10). No entanto, observe-se que a ex-pressão dessas relações como fontes é mais do que odobro de sua expressão como parceiros. A enorme dis-tância na atribuição de importância às relações com es-ses parceiros, em comparação com as relações comparceiros institucionais, deve-se, em grande medida, àprópria natureza das atividades de inovação realizadaspelas empresas no Brasil. Como se verá adiante, parao tipo de inovação que prevalece no país, de adaptaçãoe absorção de tecnologias já testadas, as relações comclientes e fornecedores são mesmo mais importantes.Sendo o desenvolvimento experimental e a engenha-ria não-rotineira a principal expressão dessa atividade,é de se esperar que o papel das instituições de pesqui-sa seja limitado. No caso das pequenas empresas, a li-mitação é ainda muito maior.

Não obstante, há uma inflexão setorial claramen-te observável nessa tendência geral. Os setores de Ins-trumentação e Químico, além de valorizarem a parce-ria com clientes e fornecedores, são os únicos queefetivamente atribuem algum valor a suas relações comas universidades e os institutos de pesquisa, especial-mente o primeiro (tabela anexa 8.11). Esses são tam-bém os setores que apresentaram índices mais altos deimportância atribuída a essas instituições como fontesde informação para a inovação.

8 – 18 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

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5. Atividades inovativas e dispêndios

Como se viu na introdução deste capítulo, a prin-cipal novidade e avanço metodológico da Pintec2000, em relação às enquetes de inovação rea-

lizadas pela Pesquisa da Atividade Econômica Paulista(Paep) e pela Pesquisa da Atividade Econômica Regional(Paer)14, foi a inclusão de questões sobre a ocorrênciae importância das atividades inovativas nas empresasinovadoras e a mensuração dos dispêndios nessas ati-vidades. A abordagem adotada na Pintec 2000 permi-te uma avaliação ampla dos esforços tecnológicos rea-lizados pelas empresas em atividades necessárias em

seu processo de inovação. Assim, além da mensuraçãodos dispêndios em P&D interna e externa, a pesquisamede os custos da inovação em outras cinco ativida-des inovativas: 1) aquisição de outros conhecimentosexternos; 2) aquisição de máquinas e equipamentos pa-ra a implementação de inovações; 3) treinamento pa-ra a inovação; 4) marketing de introdução de inovaçõestecnológicas; e 5) projeto industrial e outras prepara-ções técnicas. Esta seção enfoca o volume, a intensida-de e a composição do esforço ou dispêndio total feitopelas empresas para inovar, ou seja, o foco é no con-junto dessas atividades inovativas e não apenas naP&D15. Essa abordagem permite uma análise mais cri-teriosa e ampla do esforço tecnológico das empresas,uma vez que a importância da P&D para a inovação ébastante diferenciada entre os setores industriais (Smith,

CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 19

Gráfico 8.7Cooperação para a inovação, segundo a faixa de pessoal ocupado das empresas investigadas(% das empresas inovadoras indicando alta importância) – Estado de São Paulo, 1998-2000

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Clientes

Fornecedores

Concorrentes

Outra empresa do grupo

Empresas de consultoria

Universidades einstitutos de pesquisa

Centros de capacitação

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

Fonte: Pintec 2000/IBGE

Ver tabela anexa 8.10

%

acima de 500

100 a 249

250 a 499

10 a 99

Faixa de pessoal ocupado

14. Pesquisas financiadas pela Fundação Seade. Ver nota 1 à página 8-3.15. Certamente, a medida dos dispêndios em P&D das empresas industriais inovadoras, por si mesma, representou um enorme avanço no panorama das estatísti-

cas de P&D e C&T brasileiras. O potencial analítico de indicadores baseados nessa medida, objeto do capítulo 2 deste volume, é explorado na próxima subseção.

Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 19

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2002). Alguns setores costumam realizar mais esfor-ços internos, ao passo que outros recebem parte subs-tancial dos conhecimentos e demais insumos deman-dados pelo processo de inovação de fontes externas.

Para analisar a intensidade com que diferentes es-forços são empregados no processo de inovação, utili-za-se um indicador que relaciona o custo de inovação dasempresas inovadoras com a receita líquida de vendas dosetor a que pertencem. No conjunto, 7.229 empresas ino-vadoras paulistas realizaram, em 2000, dispêndio de R$11,6 bilhões em atividades inovativas, correspondendoa 4,2% de sua receita líquida. Embora a intensidade des-se esforço não esteja muito acima da média brasileira,de 3,8% (IBGE, 2002), o valor dos seus desembolsos cor-responde a 52% dos gastos em atividades inovativas naindústria brasileira. Diferentemente do que se viu em re-lação às taxas de inovação, em que os resultados brasi-leiro e paulista se encontram aquém do desempenho ino-vador dos países mais industrializados da União Européia(gráfico 8.1 e tabela anexa 8.4, seção 3), o indicador deintensidade do dispêndio em inovação das empresas in-dustriais brasileiras está muito próximo da média euro-péia (3,7%) obtida com base na CIS-II, para o período1996-1998 (Eurostat, 2001), enquanto o indicador pa-ra o Estado de São Paulo se aproxima da intensidade cal-culada para a indústria alemã em 2000, de 4,4%, umadas mais elevadas da UE (Janz et al., 2002).

Essa discrepância, à primeira vista, sugere duas coi-sas. Primeiramente, que é substancial o dispêndio queas empresas brasileiras realizam para inovar, em rela-ção ao valor de seus negócios. Em segundo lugar, osindicadores sugerem que, no conjunto, a produtivida-de do dispêndio inovativo da indústria naqueles paísesé maior, ou seja, para cada unidade monetária despen-dida em atividades de inovação, os países europeusobtêm mais resultados em termos de implementaçãode inovações pelas empresas.

As distintas estruturas industriais, como se veráadiante nesta seção, explicam em boa medida esse di-ferencial. No Brasil, é comparativamente mais baixo opeso econômico dos setores intensivos em tecnologia(alta tecnologia), que, embora tenham elevada inten-sidade de dispêndios em inovação, também apresentamtaxas de inovação mais elevadas. São os setores de mé-dia-alta tecnologia os que concentram, no Brasil e noEstado de São Paulo, a maior parcela do volume totalde dispêndios em atividades inovativas.

Outro fator importante, que será visto em detalhe,relaciona-se com a composição dos custos da inovação.Nos países líderes europeus, a participação da P&D in-

terna no total dos dispêndios é substancialmente maior,o que explica a taxa muito superior de empresas queintroduzem novos produtos no mercado; no Brasil, amaior concentração do esforço em gastos de capital éconsistente com o padrão de inovação mais imitativodo que criativo. Finalmente, nos países mais industria-lizados as empresas têm maior conhecimento acumu-lado, em decorrência de sua mais longa experiência deaprendizado, o que também contribui para a maiorprodutividade no processo de inovação.

Há considerável variação intersetorial nos índicesde intensidade do dispêndio em São Paulo (gráfico 8.8e tabela anexa 8.12). Entre o setor de Outros equipa-mentos de transporte, que inclui o aeronáutico e é lí-der em intensidade, com 7,5%, e o setor de Refino depetróleo e produção de álcool, de menor intensidadeentre todos, há uma diferença de quase dez vezes. Avariação foi menor entre os países da UE que respon-deram ao CIS-II(Eurostat, 2001), mas com piso e tetomais elevados, estendendo-se entre 2%, para os seto-res de Alimentos, bebidas e fumo, até 9%, para Mate-rial elétrico, eletrônico e óptico, voltado para a produ-ção de novas tecnologias16.

Chama a atenção, no caso de São Paulo, o fato deque os setores produtores das TICs, Material eletrôni-co e de telecomunicações e Instrumentação apresentamintensidade de esforço inovador abaixo de setores co-mo Máquinas e material elétrico e da indústria Auto-mobilística, que são de média-alta tecnologia. A varia-ção intersetorial para o Brasil não é muito distinta dapaulista, mas nela o setor Automobilístico lidera e ossetores das TICs ficam também abaixo da Metalurgia bá-sica (aço e alumínio). A diferença observada entre o Brasile a UE, em termos de setores líderes na intensidade deesforço inovador, é evidência adicional do padrão imi-tativo do processo de inovação no Brasil, uma vez quea liderança de setores de média intensidade tecnológi-ca na indústria brasileira decorre da combinação de umalto volume de gastos de capital, que tipicamente carac-teriza aqueles setores, e um baixo volume relativo deP&D realizado pelas empresas inovadoras.

Não foram obtidas informações que pudessem ava-liar a variação da intensidade de dispêndios em inova-ção para diferentes tamanhos de empresas no Estadode São Paulo. Os dados para o Brasil (IBGE, 2002), con-tudo, indicam um fenômeno interessante e que contras-ta com a variação da intensidade tecnológica (P&D/re-ceita) por tamanho de empresa. Neste último caso, háclaramente um salto na intensidade tecnológica, de0,43% para 0,77% quando se passa das pequenas e

8 – 20 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

16. É interessante observar que a diferença de amplitude na variação setorial é completamente distinta quando se comparam os indicadores de intensidade tec-nológica baseada na relação P&D/VTI do Brasil e dos países mais industrializados. Nesses, a diferença de intensidade tecnológica entre os setores de alta tecno-logia e os de baixa tecnologia pode alcançar o fator da centena, enquanto no Brasil permanece aproximadamente no fator de uma dezena. Esse tema é visto em de-talhe na subseção 5.1.

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CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 21

Gráfico 8.8Intensidade do esforço inovativo das empresas inovadoras, por setor industrial (em %) – Estado de São Paulo e Brasil, 2000

0 1 2 3 4 5 6 7 8

Total

Refino de petróleo e álcool

Couros e calçados

Vestuário

Alimentos e bebidas

Edição e gráfica

Produtos de metal

Têxtil

Química

Máquinas e equipamentos

Papel e celulose

Instrumentação

Móveis e indústrias diversas

Borracha e plástico

Minerais não-metálicos

Metalurgia básica

Material eletrônico e de comunicações

Veículos automotores

Máquinas e materiais elétricos

Outros equipamentos de transporte

Dispêndio em inovação/receita líquida (%)

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

Fonte: Pintec 2000/IBGE

Ver tabela anexa 8.12

São Paulo

Brasil

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médias para as grandes empresas, o que revela que, efe-tivamente, a escala de empresa é crítica para a realiza-ção de P&D estruturada e contínua. No entanto, quan-do se considera a razão do total dos dispêndios eminovação pela receita, a intensidade mais elevada estáno grupo das empresas de menor tamanho, de 10 a 99empregados, com 5,1%, bem acima da média brasilei-ra, enquanto a intensidade das empresas com 500 em-pregados e mais se aproxima da média (IBGE, 2002, ta-bela 14). Como se viu na seção 3 (gráfico 8.3 e tabelaanexa 8.2), as inovações introduzidas pelas pequenasempresas são, com maior freqüência, inovações de pro-cesso; como demandam investimento em novas máqui-nas e equipamentos, são mudanças de maturação maislonga, o que explica sua taxa mais baixa de introduçãode inovações. Isso também se reflete, como se veráadiante, na participação acima da média dos gastos decapital na composição de custos da inovação para as pe-quenas empresas. Dessa forma, esse grupo tem de in-vestir relativamente mais para alcançar a implementa-ção de inovações tecnológicas. Esse é um fenômeno quese verificou também em alguns países que participaramda CIS-II, notadamente Áustria, Dinamarca e ReinoUnido; no entanto, na média européia, a intensidadedo esforço inovador das grandes empresas (4,2%) foisubstancialmente superior à intensidade das peque-nas empresas (2,5%) (Eurostat, 2001). Portanto, emcomparação com as grandes empresas européias, o es-forço inovador das suas contrapartes brasileiras é tími-do. A diferença parece estar no volume da P&D, comose verá a seguir.

O exame da composição dos custos da inovação dasempresas paulistas inovadoras, por atividade inovati-

va, ajuda a compreender boa parte das diferenças aci-ma comentadas. No Estado de São Paulo, 48,4% dosdispêndios em atividades inovativas referem-se à aqui-sição de máquinas e equipamentos necessários para aimplementação das inovações, seguindo-se os dispên-dios com P&D interna (18%), os gastos com projetoindustrial e outras preparações técnicas (16%), e as de-mais atividades absorvendo o restante (gráfico 8.9 e ta-bela anexa 8.13). No conjunto da indústria brasileira,a distribuição é muito próxima à de São Paulo, com osdispêndios em máquinas e equipamentos absorvendo52% do total, e a P&D interna, 17% (IBGE, 2002).

Essa composição é muito distinta daquela que vig-ora nos países mais industrializados. Elas são simetri-camente opostas em relação aos dois primeiros itens decustos. De acordo com os resultados da CIS-II, no con-junto dos países europeus, em 1996, a P&D interna foio maior componente dos gastos com inovação na indús-tria, com cerca de 52%, seguida da aquisição de máqui-nas e equipamentos, com 22%, e da contratação exter-na de P&D, com cerca de 10%. Portanto, o total dosgastos em pesquisa e desenvolvimento experimental, in-terno e externo, na média dos países europeus, repre-sentou 62% do total dos dispêndios com atividades deinovação, contra 22% no Estado de São Paulo. Essa di-ferença também se reflete no engajamento das empre-sas na atividade de P&D. Cerca de 58% das empresasinovadoras européias realizavam atividades de P&D,em 1996, em contraste com 39% das empresas indus-triais paulistas, em 2000. Não obstante, em países co-mo Dinamarca, Itália e Reino Unido, os dispêndios decapital para implementar inovações foram superiores aosgastos com P&D, em 1996.

8 – 22 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

Gráfico 8.9Composição dos dispêndios das empresas inovadoras em atividades inovativas, por tipo de atividade(em %) – Estado de São Paulo, 2000

18%

Atividades internas de P&D

4%

Aquisição externa de P&D

6%

Aquisição de outros conhecimentos externos

48%

Aquisição de máquinas e equipamentos

2%

Treinamento

6%

Introdução das inovaçõestecnológicas no mercado

16%

Projeto industrial e outraspreparações técnicas

Fonte: Pintec 2000/IBGE

Ver tabela anexa 8.13

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 22

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O exame da composição dos custos da inovação portamanho da empresa confirma uma característica daP&D industrial no Brasil que já foi discutida em outrotrabalho (Quadros et al., 2001), com base nos resulta-dos da Paep e da Paer. A participação da P&D no es-forço tecnológico das empresas é fortemente influen-ciada pelo tamanho das mesmas. Com exceção de partedas empresas de base tecnológica, as pequenas e mé-dias empresas no Brasil não são propensas a se enga-jar em atividades sistemáticas de P&D. Assim, o com-ponente médio de P&D nos custos de inovação daspequenas empresas paulistas é de apenas 10% (gráfi-co 8.10 e tabela anexa 8.13), contra 20% de suas con-trapartes européias (Eurostat, 2001).

A atividade de P&D industrial no Brasil concen-tra-se nas grandes empresas: em São Paulo, quase 80%dos dispêndios em P&D são realizados por 350 empre-sas (ver capítulo 2 deste volume); mas sabe-se que, den-tro deste grupo, a atividade de P&D é ainda mais con-

centrada em um número menor de empresas. Apesardessa concentração, o componente médio de P&D nosdispêndios em inovação das grandes empresas paulis-tas, de 21%, encontra-se substancialmente abaixo dos60% apurados para a grande empresa européia, em1996. Outro ponto de contraste é o peso da P&D ex-terna no esforço empresarial de inovação. Em São Paulo,onde a contratação externa de P&D pelas empresas ésuperior à média nacional, ela está pouco acima de 5%no grupo das grandes empresas, o que, como vimos, es-tá muito aquém da média dos países mais industriali-zados. Esse ponto é consistente com a pouca priorida-de atribuída pelas empresas inovadoras a instituiçõesde pesquisa e empresas de consultoria, seja como fon-tes de informação, seja como parceiros para coopera-ção tecnológica, como visto acima.

A variação setorial da composição dos dispêndiosem inovação revela diversos elementos que ajudam acompletar a caracterização e o entendimento do padrão

CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 23

Gráfico 8.10Composição dos dispêndios das empresas inovadoras em atividades inovativas, por faixa de pessoalocupado das empresas (em %) – Estado de São Paulo, 2000

São Paulo 10 a 99 100 a 249 250 a 499 500 e mais

Faixa de pessoal ocupado

0

20

40

60

80

100%

Atividades internas de P&D

Aquisição externa de P&D

Aquisição de outrosconhecimentos externos

Aquisição de máquinase equipamentos

Treinamento

Introdução das inovaçõestecnológicas no mercado

Projeto industrial e outraspreparações técnicas

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

Fonte: Pintec 2000/IBGE

Ver tabela anexa 8.13

Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 23

Page 24: Cap 08.Indicadores FAPESP 8P - FAPESP :: Fundação de ... · 8 – 2 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004 Figuras e Gráficos Figura 8.1 Processo

8 – 24 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

Gráfico 8.11Composição dos dispêndios das empresas inovadoras em atividades inovativas, por setor industrial(em %) – Estado de São Paulo, 2000

0 20 40 60 80 100

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

Fonte: Pintec 2000/IBGE

Ver tabela anexa 8.14

Têxtil

Outros

Total Brasil

Total São Paulo

Edição e gráfica

Refino de petróleo e álcool

Minerais não-metálicos

Móveis e indústrias diversas

Borracha e plástico

Produtos de metal

Papel e celulose

Alimentos e bebidas

Metalurgia básica

Vestuário

Veículos automotores

Couros e calçados

Química

Máquinas e equipamentos

Instrumentação

Máquinas e materiais elétricos

Material eletrônico e de comunicações

Outros equipamentos de transporte

Atividades internas de P&D

Treinamento

Aquisição externa de P&D

Introdução das inovaçõestecnológicas no mercado

Aquisição de outrosconhecimentos externos

Projeto industrial e outraspreparações técnicas

Aquisição de máquinase equipamentos

%

de atividades inovativas na indústria brasileira (gráfi-co 8.11 e tabela anexa 8.14). Em primeiro lugar, a dis-tribuição do tamanho do componente de P&D no to-tal de dispêndios em inovação segue o esperado, nosentido de que os setores mais intensivos em tecnolo-gia (e mais inovadores) são os que apresentam as par-ticipações mais elevadas. No entanto, há uma grande

diferença entre o primeiro colocado (o setor de Outrosequipamentos de transporte) e os demais setores de al-ta tecnologia (Material eletrônico e de telecomunica-ções e Instrumentação), que se situam em terceiro equarto lugares. Outros equipamentos de transporte éo único setor a ter participação da P&D acima de 50%do total dos gastos com inovação, sendo quase o do-

Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 24

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bro dos outros dois. Dessa forma, a participação, bai-xa para padrões internacionais, da P&D nos setores deMaterial eletrônico e, principalmente, de Instrumenta-ção ajuda a compreender o fato de não se colocarem nasprimeiras posições em termos de intensidade do esfor-ço de inovação total (gráfico 8.8).

Em segundo lugar, um ponto que certamente cha-mará a atenção do policy-maker é a alta participação dacontratação de P&D externa pelo setor de Material ele-trônico, que é de quase 20% e única significativa entretodos os setores, sendo grandemente apoiada com re-cursos de incentivos; ela é claramente contraditóriacom a baixíssima importância que as empresas do se-tor atribuem à cooperação tecnológica e a instituiçõesde pesquisa externas como fonte para a inovação.

Em terceiro lugar, uma evidência que sugere a ne-cessidade de um esforço de pesquisa adicional é o fa-to de que os gastos com licenciamentos de patentes,aquisição de know-how e outras formas de conhecimen-tos desincorporados e codificados são bastante salien-tes nos setores Automobilístico e de Móveis. Finalmente,nos setores intermediários e/ou de menor intensidadetecnológica, como Papel e celulose, Refino de petróleo,Metalurgia básica e Minerais não-metálicos, Edição egráfica e Têxtil, o peso dos gastos de capital é sempresuperior a 70%.

Com a finalidade de completar o quadro analíti-co acima apresentado, conclui-se esta seção com umabreve discussão dos indicadores referentes à distribui-ção do valor total dos dispêndios da indústria paulis-ta em atividades de inovação. Eles permitem obser-var que a concentração do esforço inovativo nas grandesempresas paulistas, que são responsáveis por 66% dogasto total com inovação no Estado (tabela anexa8.15), é maior do que a verificada em relação às gran-des empresas no conjunto da indústria brasileira, de 62% (IBGE, 2002, tabela 14). Por outro lado, nadistribuição setorial do valor total dos gastos cominovação, pode-se encontrar a mesma influência do pe-so econômico dos setores de média-alta tecnologia naestrutura industrial brasileira, que explica a compo-sição setorial da taxa de inovação da indústria (ver seção 3). Os setores Automobilístico, Químico, de Má-quinas e material elétrico e de Máquinas e equipamen-tos são responsáveis por 47% do total do esforço ino-vador na indústria paulista (tabela anexa 8.16).Também a indústria de Alimentos, com grande pesono VTI paulista, é responsável por parcela significa-tiva da P&D industrial. Os setores de alta tecnologia,por seu lado, respondem por pouco mais de 11% des-se total. Isso é determinado, primordialmente, pelo seutamanho relativamente pequeno no Brasil e, secun-dariamente, pelo seu esforço tecnológico menor emcomparação com aqueles feitos pelos mesmos seto-res nos países mais industrializados.

5.1 Características estruturais do dispêndio em P&D

Nesta subseção, procura-se aprofundar a análise so-bre o relativamente baixo esforço em P&D feito pelasempresas industriais brasileiras, já comentado ante-riormente. O principal objetivo é caracterizar esse fe-nômeno, por meio da comparação da sistemática da es-trutura setorial da P&D industrial brasileira e paulistacom as estruturas de outros países. O indicador ado-tado como medida do esforço realizado pelas empre-sas em atividades internas de P&D é o indicador de in-tensidade tecnológica, com base na relação dispêndioem P&D/valor da transformação industrial. Esse indi-cador possibilita comparações com as estatísticas da OC-DE (2002). Nesse sentido, selecionou-se um conjun-to de dez países da OCDE, no qual se encontram asprincipais economias desse bloco. Os indicadores des-ses países são comparados com os das indústrias bra-sileira e paulista. Para o caso brasileiro, utilizaram-seinformações da Pesquisa Industrial Anual (PIA 2000)compatíveis com as informações da Pintec 2000.

A intensidade tecnológica da indústria paulista(1,7%) é marginalmente superior à da indústria bra-sileira (1,5%), ambas bem inferiores às de todos os paí-ses do grupo (tabela anexa 8.17). O grupo de paísesda OCDE pode ser subdividido em quatro subconjun-tos: um subgrupo de países líderes com intensidade su-perior a 8% (Japão e Estados Unidos); um outro de paí-ses europeus próximos aos líderes, com intensidadeentre 6% e 7% (Alemanha, França e Reino Unido); umterceiro subconjunto de países num patamar interme-diário, em torno de 4% (Coréia, Noruega e Canadá);e, finalmente, um subgrupo de países que se encon-tram bem atrás, com intensidade próxima de 2% (Itáliae Espanha). O Brasil e o Estado de São Paulo estão empatamar próximo ao do sul do Mediterrâneo, emboraem um nível ainda inferior (tabela anexa 8.17).

As diferenças de intensidade entre países são in-fluenciadas pelas estruturas industriais distintas, comojá se argumentou. Porém, o que é mais importante, elasdecorrem das disparidades de intensidade entre osmesmos setores de países diferentes. Pode-se atribuirtanto o primeiro tipo de diferença como o segundo àespecialização produtiva e a diferentes formas de inser-ção produtiva na divisão internacional do trabalho.Esta subseção enfoca, principalmente, as diferenças deintensidade setoriais entre países e no interior de umamesma economia.

Ao enfocar a heterogeneidade entre países perce-be-se que as maiores diferenças ocorrem em alguns setores de média-alta e alta intensidade tecnológica(Farmacêutico, Instrumentação, Computação, Auto-mobilístico), que podem ser atribuídas à especializa-ção produtiva. A maior intensidade tecnológica indica

CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 25

Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 25

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a existência de uma sólida indústria que se apóia emimportantes grupos industriais locais. O caso contrá-rio indica uma indústria local menos forte e, em cer-tos casos, com forte presença de filiais de empresas mul-tinacionais. Esse segundo aspecto fica mais nítido parao caso da indústria automobilística, onde países comforte implantação de multinacionais (Brasil, Canadá eEspanha; o Estado de São Paulo também segue esse ali-nhamento) apresentam intensidade muito abaixo da depaíses com importantes grupos nacionais (Alemanha,Estados Unidos, Japão e França).

A heterogeneidade mais importante para os pro-pósitos deste capítulo ocorre intersetorialmente, den-tro de cada país. Medindo-se a diferença entre inten-sidades tecnológicas setoriais extremas, tem-se umapercepção da heterogeneidade de esforços relativos em-pregados em P&D. Assim, nos Estados Unidos, a in-tensidade do setor de Instrumentação (29,9%) é apro-ximadamente 60 vezes superior à do setor Têxtil(0,5%) (tabela anexa 8.17). No caso japonês, a dis-persão da intensidade tecnológica é medida por umfator de 47, que representa a relação entre as duas in-tensidades extremas: os setores de Equipamentos deinformática e de Refino de petróleo e outros. Na Ale-manha, a dispersão alcança 120 (Eletrônica/Madeira,Papel e celulose), e, no caso francês, 133 vezes (Ae-ronáutica/Madeira, Papel e celulose). Mesmo em paí-ses em situação intermediária, como a Coréia, encon-tra-se uma dispersão de 35 (Eletrônica/Madeira, Papele celulose). Até em um país com intensidade tecno-lógica relativamente baixa, como a Itália, a dispersãoé notável. Essas diferenças revelam que, em geral, osesforços tecnológicos dos países industrializados ten-dem a se concentrar em alguns setores de alta e mé-dia-alta tecnologia, nos quais foram construídas van-tagens competitivas internas.

Isso é sensivelmente diferente em um país perifé-rico como o Brasil, onde a diferença máxima de inten-sidade tecnológica entre setores chega a ser de dez vezes (Outros materiais de transporte/Minerais não-metálicos). Se as diferenças de intensidade tecnológi-ca intersetoriais são relativamente menores do que nospaíses desenvolvidos, isso não significa de nenhummodo que o Brasil tenha um maior nível de desenvol-vimento industrial. Pelo contrário, aqui a homogenei-dade das intensidades setoriais revela o inverso da he-terogeneidade da produtividade (esta sim, alta noBrasil). Ela revela, na verdade, a fraqueza dos setoresde alta tecnologia e a falta de especialização dinâmicado sistema produtivo brasileiro.

Esse aspecto fica ainda mais nítido quando é fei-ta a comparação, entre países, dos setores classificadospela OCDE como sendo de alta tecnologia. Enquantono setor Farmacêutico a intensidade tecnológica doReino Unido, país que destacadamente detém umasensível vantagem competitiva nesse setor, ultrapassaa barreira dos 50%, ela é apenas de 1,5% no Brasil (ta-bela anexa 8.17). No setor de Equipamentos de infor-mática, a intensidade no Brasil é muito inferior à dosEstados Unidos e do Japão. No setor de Instrumenta-ção, ela também fica muito aquém desses dois países.Na aeronáutica (Outros equipamentos de transporte),essa comparação não pode ser plenamente feita por cau-sa de problemas de agregação, mas observam-se sen-síveis desníveis entre o Brasil e outros países que de-têm fortes posições nessa indústria, como EstadosUnidos, Canadá, França, Itália e Reino Unido. Nessecaso, a diferença em relação a São Paulo é bem menor,já que a indústria aeronáutica é a que apresenta a maiorintensidade tecnológica na indústria paulista, cerca dequatro vezes superior à brasileira.

Embora nem sempre os países desenvolvidosapresentem intensidades altas em setores de alta oumédia-alta intensidade tecnológica, esse coeficientetende a ser mais elevado em pelo menos um dessessetores, onde o país detém vantagem competitiva tec-nológica. Assim, embora a intensidade tecnológicada indústria da Itália seja relativamente baixa, esse coe-ficiente é elevado para o setor Farmacêutico (10,7%),de Informática (9,3%), Eletrônico (22,3%), Automo-bilístico (9,7%) e de Outros equipamentos de trans-porte aeroespacial (13,7%).

Já para setores de baixa intensidade tecnológica(Alimentos, Têxtil, Madeira, Refino, Minerais não-metálicos, Metalurgia básica) e média-baixa intensida-de (Maquinaria, Borracha e plástico), a situação é mui-to mais favorável para o Brasil. As diferenças com ospaíses ricos, quando existem, são menos acentuadas.Esse aspecto contribui para entender por que é nes-ses setores que o Brasil acumula suas vantagens com-petitivas. As empresas têm escala e apresentam níveisde atualização tecnológica e de produtividade maispróximos aos da fronteira tecnológica internacional(Katz; Stumpo, 2001).

Os dados da estrutura do dispêndio por setor (ta-bela anexa 8.18) confirmam as informações de intensi-dade tecnológica. Os setores de alta tecnologia17 possuemuma importância relativamente menor no dispêndio deP&D das indústrias brasileira e paulista, em compara-ção com os países da OCDE. O setor de alta tecnologia

8 – 26 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

17. Farmacêutico, Eletrônico e comunicações, Informática, Instrumentação e Aeroespacial.

Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 26

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ocupa 27,9% do dispêndio da indústria brasileira, aopasso que essa proporção é de 80% no Canadá, 61,6%nos Estados Unidos, 62,7% no Reino Unido, 54,4% naFrança, 60,9% na Coréia, 53,7% na Itália e 44,3% no Japão.Apenas a Alemanha, com 34%, se aproxima do Brasil (ta-bela anexa 8.18). A Alemanha e o Japão são países quepossuem fortes posições competitivas nos setores demédia-alta tecnologia. No caso de São Paulo, a impos-sibilidade de desagregar os dados para captar a intensi-dade tecnológica da indústria farmacêutica impede umatotalização equivalente. Mas a diferença em relação aoBrasil deve apontar concentração maior da P&D em in-dústrias de alta tecnologia no Estado, sobretudo por in-fluência da indústria aeronáutica.

A situação do Brasil e do Estado de São Paulo é pro-porcionalmente mais favorável nos setores de menorintensidade tecnológica. Nos setores de média-alta in-tensidade tecnológica, pela classificação da OCDE18, aproporção de dispêndio interno da indústria brasileiraé significativamente maior (38,4%) e fica aquém ape-nas de países como Alemanha (58%) e Japão (41,7%),igualando-se à da Itália (38,8%). Setores como Quími-co, Automobilístico, de Máquinas e material elétrico ede Máquinas e equipamentos representam a principalparcela do dispêndio de P&D da indústria brasileira.Note-se também que o peso da P&D automobilísticaé consideravelmente maior em São Paulo, em compa-ração com o Brasil (tabela anexa 8.18).

No entanto, nos setores de média-baixa (Refino eoutros, Borracha e plástico, Minerais não-metálicos, Me-talurgia básica e Produtos de metal) e baixa intensida-de tecnológica (Alimentos, Têxtil, Madeira e papel e Mó-veis) a proporção de gastos das empresas brasileirastende a ser substancialmente superior à dos países de-senvolvidos. A diferença mais notável a favor do Brasilfica por conta do setor de Refino, cuja participação éde 11,5%, mas que nos demais países desenvolvidos nãoalcança os 3%. Aqui o peso da Petrobras explica indu-bitavelmente essa maior expressão do gasto de um se-tor que, normalmente, ocupa uma pequena parcela emum país desenvolvido. Mesmo na Noruega e no ReinoUnido, países dotados de indústrias do petróleo demaior envergadura do que a brasileira, o gasto dessesetor é relativamente menor do que o dos setores in-tensivos em tecnologia (tabela anexa 8.18). É tambémo investimento da Petrobras que explica o fato de quereside nesse setor a principal diferença entre Brasil eSão Paulo em termos de alocação setorial dos dispên-dios em P&D.

6. Como as empresas inovadoras avaliam os benefícios econômicos

da inovação

Os ganhos de competitividade e rentabilidadeempresarial originários de fatores como o cres-cimento de novos negócios ou do market-share

e o aumento da produtividade e da flexibilidade, que aimplementação de produtos e processos tecnologicamen-te novos ou substancialmente aprimorados pode gerar,são estímulos críticos ao desenvolvimento da inovaçãonas empresas. A Pintec 2000 incluiu no seu questioná-rio duas questões e um conjunto de 16 variáveis que per-mitem mensurar a intensidade dos impactos das ino-vações e seus efeitos sobre o desempenho competitivodas empresas. O primeiro conjunto de variáveis buscaidentificar os impactos das inovações associados: aos pro-cessos de desenvolvimento de produto (melhorar a qua-lidade ou ampliar a gama de produtos ofertados); ao mer-cado (manter ou ampliar a participação da empresa nomercado, abrir novos mercados); ao processo (aumen-tar a flexibilidade ou a capacidade produtiva, reduzir cus-tos); aos aspectos relacionados ao meio ambiente, àsaúde e segurança; e ao enquadramento em regulaçõese normas. O segundo conjunto refere-se aos impactosda inovação sobre as receitas de vendas das empresas.Ambos são examinados nesta seção, com foco na per-cepção (avaliação) da indústria paulista.

De maneira geral, a percepção que as empresas têmdos benefícios das inovações não deixa de refletir sua es-tratégia no sentido de estratégia efetiva, realizada, não ne-cessariamente planejada (Mintzberg et al., 2000). Nessesentido, é interessante observar que a maior freqüênciana atribuição de importância alta recaiu primordialmen-te em impactos que estão antes relacionados com a de-fesa de posições de mercado – melhora da qualidade dosprodutos (55%), manutenção de market-share (52%) – ouainda relacionados com objetivos de eliminação de gar-galos, como aumento da capacidade (41,7%) e da flexi-bilidade (36,4%) (gráfico 8.12 e tabela anexa 8.19). Osimpactos mais relacionados com o crescimento do negó-cio, seja em novos mercados, seja sobre a concorrência,aparecem em posição inferior. Isso pode estar relaciona-do a aspectos conjunturais (como já se disse, foi um triê-nio difícil para a indústria), mas também estruturais.

CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 27

18. Automobilístico, Químico, Máquinas, Material elétrico e Outros equipamentos de transporte sem Aeroespacial.

Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 27

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Esses impactos observados parecem estar em linha comoutras variáveis que foram examinadas ao longo deste ca-pítulo: a predominância da inovação de produto sobre ainovação de processo; a ênfase nas atividades relaciona-das com a aquisição de tecnologia incorporada, e menosna P&D ou aquisição externa de tecnologia desincorpo-rada; a pouca ênfase em laços e vínculos institucionais,e assim por diante. A busca de novos mercados e/ou aampliação de market-share freqüentemente exigem postu-ra competitiva mais agressiva, a busca de inovações ba-seadas mais na descontinuidade tecnológica do que emuma política de incremento, o que por sua vez exigiriamais investimentos de risco. Esse quadro não se diferen-cia muito quando se consideram as diferenças de tama-nho das empresas, a não ser no sentido de que, no casodas pequenas empresas, esses limites são ainda mais cla-ros (tabela anexa 8.19). Observe-se ainda que são maisrestritas as menções aos impactos relacionados ao meioambiente e segurança, ou ainda à adequação a regulaçõesde mercado interno ou externo. Neste último caso, a dis-tância entre as grandes e as pequenas e médias empre-sas é enorme, já que a participação das últimas no fluxode exportações é marginal.

Analisando os resultados econômicos da inovação apartir da participação porcentual dos produtos tecnolo-gicamente novos ou substancialmente aprimorados no to-tal das vendas internas das empresas paulistas obser-vam-se freqüências consideradas como de alta importânciamodestamente superiores às identificadas para as empre-sas brasileiras. Para cerca de 25,6% das empresas, as ino-vações de produto pesam 10% ou menos. Para a grandeparte das empresas paulistas (50,7%), o produto novo ad-vindo da inovação representa entre 10% e 40% da recei-ta. Por fim, nota-se que, para 23,7% das empresas pau-listas, o novo produto responde por mais de 40% dareceitas geradas pelas vendas internas (tabela anexa 8.20).

Em relação ao comportamento setorial, observa-se que os segmentos de fabricação de Máquinas, apa-relhos e materiais elétricos e Outros equipamentos detransporte têm suas dinâmicas de negócios fortemen-te atreladas a produtos inovadores, que participam commais de 40% das vendas internas. No caso do setor deOutros equipamentos de transporte, esse desempenhopode ser explicado pela cadeia aeronáutica, que tem co-mo empresa líder a Embraer, localizada no municípiode São José dos Campos.

8 – 28 INDICADORES DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO EM SÃO PAULO – 2004

Gráfico 8.12Impactos econômicos da inovação (% das empresas inovadoras indicando alta importância) –Estado de São Paulo, 1998-2000

0 10 20 30 40 50 60

Redução do consumo de energia

Redução do consumo de matéria-prima

Atendimento regulação mercado externo

Abertura de novos mercados

Redução de custos do trabalho

Atendimento regulação mercado interno

Menor impacto ambiente/saúde/segurança

Ampliação da oferta

Aumento de market-share

Aumento da flexibilidade

Aumento da capacidade

Manutenção de market-share

Melhora da qualidade

Indicadores de CT&I em São Paulo – 2004, FAPESP

Fonte: Pintec 2000/IBGE

Ver tabela anexa 8.19

%

Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 28

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7. Conclusões

A análise dos indicadores de inovação tecnológi-ca para o Estado de São Paulo, baseada naPintec 2000 e apresentada neste capítulo, per-

mitiu uma avaliação sistemática de várias dimensõesimportantes das atividades de inovação das empresasindustriais paulistas e de algumas competências a elasassociadas. Algumas dessas características já são co-nhecidas amplamente e, em relação a elas, uma fonteabrangente como a Pintec tem o mérito de oferecer me-didas mais precisas para caracterizá-las. Por exemplo,sabe-se que o esforço em P&D das empresas brasilei-ras é tímido em relação ao grau de desenvolvimentoda indústria. A Pintec permite a construção de indica-dores de intensidade tecnológica com mais rigor, apartir dos quais se pode comparar e contextualizar aexperiência brasileira.

Outras dimensões, embora não sejam surpreenden-tes, somente podem vir à luz como resultado de pes-quisas abrangentes como a Pintec e as análises queelas possibilitam. Assim, o capítulo mostrou evidênciasde que o desempenho inovador em São Paulo mostrauma dispersão intersetorial mais pronunciada do quea média nacional, com ênfase no fato de que as taxasde inovação para setores de menor intensidade, noEstado, estão associadas a taxas de inovação significa-tivamente mais baixas. Em compensação, uma outra ca-racterística importante, que reforça a percepção de SãoPaulo como o centro dinâmico da indústria brasileira,é a grande concentração no Estado das empresas ino-vadoras em produtos que são novidade para o merca-do brasileiro. É por meio desse indicador, também,que se apreende de forma mais precisa o fosso, em ter-mos de resultados da inovação, entre a economia bra-sileira e as economias mais industrializadas.

Da mesma forma, sabe-se, no Brasil, que os laçosda indústria com instituições de pesquisa e universi-dades são frágeis. Mas não deixa de ser um resultadode alta significância para a política tecnológica o fatode que, no Estado de São Paulo, principal base da pes-quisa científica no Brasil, um reduzido número de 132empresas considera importante os laços de cooperaçãocom a universidade. Some-se a isso o fato de que um

dos setores que mais recebem subsídios para fomen-tar tal cooperação – Material eletrônico e de telecomu-nicações – está entre os que menos prioridade atri-buem a essa cooperação. Por outro lado, setores querecorrem mais intensivamente à P&D interna, especial-mente a indústria Química e de Instrumentação, sãoos que mais reconhecem a contribuição da cooperaçãocom instituições de pesquisa. Outra dimensão impor-tante, considerando o peso das empresas multinacio-nais na economia paulista, é o fato de que, embora es-sas empresas tenham nas relações com suas matrizese outras subsidiárias no exterior a principal fonte de co-nhecimento para a inovação, elas também são respon-sáveis por mais da metade do dispêndio total em ati-vidades inovativas feito na indústria paulista.

Em relação às atividades inovativas, há muitas evi-dências novas que ajudam a tornar mais clara a agen-da de pesquisa. Nesse sentido, é muito significativo ofato de que a intensidade do dispêndio total em ativi-dades inovativas, no Brasil e em São Paulo, esteja pró-xima do nível de países europeus mais industrializados,em que pesem a menor intensidade tecnológica e o maisbaixo desempenho inovador brasileiro. Uma mudançaque incremente a composição das atividades inovati-vas no Brasil pode gerar ganhos significativos em de-sempenho inovador.

Olhando para o futuro e considerando o aperfeiçoa-mento da metodologia das pesquisas de inovação, acre-dita-se que um ponto mereceria atenção imediata. É necessário que tais pesquisas incorporem um númeromaior de indicadores capazes de retratar a natureza (pa-ra além do tamanho) do esforço inovativo feito pelas em-presas e relacioná-lo a seu desempenho inovador. Nessesentido, acredita-se que, do lado das empresas que es-tão engajadas em atividades de P&D organizadas, umaquestão que permitisse entender melhor de qual P&Dse está tratando (pesquisa ou desenvolvimento experi-mental? Em que proporção?) permitiria construir umquadro mais preciso de diferenças de competências se-toriais e entre grupos de empresas. Para aquelas que nãofazem P&D formal, uma maneira adicional de medir oesforço relacionado com a implementação de inovaçõesseria medir o número de engenheiros, cientistas e ou-tros profissionais envolvidos com atividades de “enge-nharia não-rotineira”.

CAPÍTULO 8 – INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA PAULISTA... 8 – 29

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Cap 08•Indicadores FAPESP 8P 4/18/05 2:47 PM Page 30