Saúde mental e psicologia do trabalho - 8p

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    s f i o ~ w l ' e r s p e c t i v aVOLUME 1 7 1 NQ2 J ABR-JUN f 2003 REVISTA DA FUNDA9Ao SEADE

    SUMARIO

    SA ll DE E TRABALHADOR -I I

    Seguranca e Saade no T r a b a lh o: uma ques tso ma l c omp re e n d i d a 3lotio C a n d i d o d e O l i ve ir a

    T ra ba lh o e S a nd e n a I nd u s tr ia T e xt il d e Am ia n to 1 3V a n d a D ' A c r i

    N e g oc ia c a o C o le t iv a em S a n d e d o T r a ba lh a d or :s eg u r an c a e m m a q u in a s in je to ra s d e p la s tic o 2 3L e o n a rd o M e l l o e S il v a

    o T ra ba lh o e a S a n de d o T r a ba lh ad o r n a I nd u s tr ia d e C a lc a d os 3 2V e ra L u c i a N a v a rr o

    A Pop u la ~ o T r a ba lh a d or a P a u lis ta e o s A c i d e n te s d o T r a ba lh o F a ta is 4 2B e rn a de t t e C u n ha W a l dv o ge l

    Morb i dade D e c l a r a d a e C on d i cd e s d e T r a ba l ho :o c a so d o s mot or is ta s d e S a o P a u lo e B e lo H or iz on te S 4

    L e t i c i a B . C o s t a ! M i ui A y a k o H a ra K o ya m a ! E la in e G a r c ia M i nu c i lF r id a M a r i l l a F i s c h e r

    Ac i d e n t e s c om Mo t or is t a s n o T r a n s p or t e Ro do vi a ri od e P rod u tos P er ig os os 68

    C a r l o s E u g e n i o d e C a r v a lh o F e r re i r aAc id e n t es d o T r a ba l ho R u r a l n o I n te r io r P a u lis ta 8 1

    M O l l i c a L a P o r t e T e ix e i r a ! R o s a M a r ia V i e ir a d e F r e i ta so P e so d o T r a ba lh o " L e ve " F em in in o IiSai ide 91

    W i ll e r B a u m g a r t e m M a r c o n d e s / L U c ia R o t en b er g / L u c i a n a F e rn a nd e sP o r t e la ! C l a u d ia R o b e r ta d e C a s tr o M o r e l loS a n d e M e n t al e P s ic o lo g ia d o T r a ba lh o 10 2

    J o se R o b er to H e lo a n i l C l a u d io G a r c i a C a p it ti oF am il ia e P r ot e ca o S oc ia l 10 9

    I / l a i d M a r ia M o r e ir a d e C a r v a lh o / P a u lo H e n ri q u e d e A l m e id aRe l a r ao Fanu l i a -T r ab a lho:r e e s t r u t u r a c a o p ro d u tiv a e d e s empr e g o 1 23

    L i li a Mo l l ta l i

    NOTA DO EDITOR

    Por m eio d e u m n ovo r e cor te , e ste m im ero d a Sao P a u l o emPerspectiva da continuidade a o tema Saiide e Trabalhador,o mimero a n te rior e n foc ou a s questces d o pon to d e vis t a d aabrangencia teorico-metodologica, localizando o s d i fe r e n t e sa spe ctos d o le ma n a a mplitu de n ac ion al. N es te n um er o s aod is po nibiliza d os a o le i tor a rtig os q u e d e ta lha m ea pr ofu n d am os pr oble ma s e xis te n te s e os a va n ce s oc or rid osn as a re as d a s a ud e e d o tr aba lho.I n t ro duz i ndo 0 te ma s ob e ste e n foq u e, q u e d e lim ita d ive rs id a de sd e a spe ctos e d e pr oble m as , 0 pr im eir o a rtig o a n alis a o sprog ra ma s d e s eg ura nc a e s aiid e d o tra ba lha dor , d e a cor do c oma s c on c epc d es c u ltu ra is pr es en te s n a s e rn pr es as b ra sile ir as .C on sid e ra n do a m old u ra s oc ioe con om ic a, os tr es a rtig oss e g u in t e s d is c u tem 0 te ma n o in te rior d os m ec an is mos d apr od uc ao in d us t r ia l, a na lis an d o a s itu ac so d a sa iid e d ostr aba lha d or es n os s etor es in d us tr ia ls (te xt il d e a m ia n to,m aq u in as in je tor as d e pla stic o e d e calcados), E m se gu id a, u rnbloc o d e q u atro a rt ig os a bor da a s e spe cific id ad es d os fa tore s q uel ev am a s oc or re n cia s d e a cid e nte s d e t ra ba lho , s is te rn a tiza n do osc as os fa ta is e n tr e m otor is ta s q u e t ra n spor ta rn pr od u tos pe rig os ose os a cid en te s vin cu la dos a o tr aba lho ru ra l.A pr ox im an d o d im en sa o m a cr oe con om ic a e c ar ac te rfs tic as d a sin d ivid u alid a de s, e ste n u me ro ta m be m ofe re ce u rn m in u cios oe stu do s obre t ra ba lha dore s d o tu rn o n otu rn o, le va nd o-se e mc on ta a d ivis ao se xu al d o tr aba lho, e u ma fu nd am en ta da a na lis es oc io ps ic ol6g ic a, a pa rtir d a for ma c om o 0 t ra ba lh o s e o rg a n iz an a s oc ie d ad e c a pit alis ta . F in a liz an d o, d ois a rt ig o s a n a lis a rn 0s ig n ific ad o d a fa milia n o in te rior d o te ma , c om o m ec an is mo d eprote ca o s oc ia l e m ic le o q u e s ofre os im pa ctos or ig in ad os n ae st ru tu r ac a o d a s a tiv id a d e s p ro d ut iv as .A t e n t o s a te nd en cia d a u nive rs aliza ca o d o a ce sso a os s ervic es d es aiid e e a n ec es sid ad e d e s e e ste nd er 0 d ir eito d a s au de a tod os ,os a rtig os d es t e m im er o e d o a nte rior ofe re ce m re cu rsos te 6r ic ose e mpfr ic os r etir ad os d a r ea lid a de b ra sile ir a, q u e a u xilia m a sr efle xoe s e a 90 es sobre u ma a re a d e e xtre ma r ele va nc ia s oc ia l,n a q ua l s e e ntre cru za rn sa ud e e tra ba lho.

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    SA O PAULO EMPER$PECTIVA. 1 7(2 ): 1 02 -1 08 , 2 00 3

    SAUDE MENTAL E PSICOLOGIADOTRABALHO

    JOSE ROBERTO HELOANICLAUDIO GARCIA CAP1TAO

    Resume: Este artigo objetiva. mediante algumas incursoes teoricas e de uma analise sociopsicologica, discutira forma como 0 trabalho estd organizado em nossa sociedade, bern como as repercussoes psfquicas provocadaspelo trabalho sem sentido, As condicoes e as exigencias do rnercado de trabalho na atualidade rotinizam eamortecem 0 sentido da vida, deixando no corpo as rnarcas do sofrirnento, que se rnanifestam nas mais varia-das doencas classificadas como ocupacionais, alem de atentar contra a saude mental.Palavras-cliave: psicodinarnica; trabalho; saude mental.Abstract: The objective of this paper is to discuss. trhough some theoretical incursions and a socio-psycologicalanalysis. the way labor is organized in our society and the psychic repercussions ctiated by the non-senselabors. Conditions and requirements imposed by the current work market make life a matter of routine anddeaden its sense. leaving scares of sufferings on bodies which are manifested by various diseases taken asoccupational ones and constitute an attack to mental health.Key words: psychodynamic: labor: mental health.

    Urn dos objetivos mais recentes da saude mentalnao se restringe apenas a cura das doencas ou asua prevencao, mas envidar esforcos para aimplernentacao de recursos que tenham como resultadomelhores condicoes de saude para a populacao.Na visao de Bleger (1984), nao interessa apenas a au-

    sencia de doencas, mas 0 desenvolvirnento integral daspessoas e da comunidade. A enfase, entao, na saude men-tal, desloca-se da doenca a saude e a observacao de comoos seres humanos vivern em seu cotidiano.Para Dejours (1994), a psicopatologia tradicional esta

    alicercada no modelo classico da fisiopatologia das doen-cas que afetam 0 corpo. Dedica-se, exclusivamente, aodiagnostico das doencas mentais, dos transtornos mentaisorganicos, da esquizofrenia, dos transtornos do humor edos iruimeros transtornos de personalidade. 0debate, po-rem, que este artigo pretende explorar abrange as condi-croes de milhares de pessoas sem irnunidade que. emborasuportern as pressoes, conseguem, de algurna forma. es-capar de urn transtorno psicotico severo. mas que se man-tern, por assim dizer. no campo da norrnalidade.Nao e raro encontrar pessoas que. por urna condicao

    de sua psicodinarnica interna, possuern a propensao a Ira-

    balhar em excesso e a divertir-se muito pouco; outras, pelocontrario, passam os dias a divertirern-se; outras ainda naoconseguem fazer nem uma coisa nem outra. Sabe-se hojeque tanto 0 trabalho, quanta a diversao em proporcoessatisfatorias sao criterios para avaliar um funcionamentopsfquico saudavel,Na realidade, ao contrario do que muitos possam su-

    por, a organizacao do trabalho nao cria doencas mentaisespecfficas. Os surtos psicoticos e a formacao das neuro-ses dependem da estrutura da personalidade que a pessoadesenvolve desde 0 inicio da sua vida, chegando a certaconfiguracao relativamente estavel, apes 0 perfodo deebulicao da adolescencia - quando as condicoes sociaissao relativarnente favoraveis -. antes mesmo da pessoaentrar no processo produti yo. No entanto, "0 defeito cro-nico de uma vida mental sem salda mantido pela organi-zayao do trabalho, tern provavelmente urn efeito que fa-vorece as descornpensacoes psiconeuroticas' (Dejours.1992:122).Atualrnente. observa-se urna pressao constante contra

    a grande r n a s s a de t ra ba lh ad o re s e xis te n te em q u a s e todoo mundo. Uma ameay3 com objetivo certeiro faz com quemilhares de pessoas sintarn-se sobressaltadas, pois a uni-

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    ca ferramenta de que dispoern. sua forca de trabalho. podeser dispensada a qualquer momento.o desprezo assola 0 universe do trabalho e traz conse-q u e nc ia s d r as tic a s para todos as que t e r n em seu t r aba lhosua unica forma de sobrevivencia,Contudo, a forca de trabalho exigida precisa de espe-cial qualificacao, mesmo que seja, como antigarnente. para

    apertar um simples botao, Assirn, para a rnaior parte dasatividades, exige-se um trabalhador complexo, que saibamuito mais alern do que seria precise para a execucao dedeterminada tarefa,Acornpanhando a tecnicidade do mundo, vai-se, pau-

    latinamente, necessitando de um trabalhador com maio-res habilidades, agil, que saiba lidar com uma nova repre-sentacao de mundo, mesmo que seja para ocupar urn cargosimples como a de telefonista. Essa pessoa tem de domi-nar sua lingua, em alguns casas outro idioma, tem de terrapidez tanto manual, como na voz e na mente, alern deurna bagagem de inforrnacao disponfvel enquanto recur-so pessoal para, ante qualquer dificuldade, utiliza-la,Assim,o mundo do trabalho torna-se, de forma rapida e

    surpreendente, urn complexo monstruoso, que sepor urn ladopoderia ajudar, auxiliar 0homem em sua qualidade de vida,por outro Indo - patrocinado pelos que mantern 0 controledo capital, da ferramenta diaria que movimenta a escolha deprioridades -, avassala 0 homem em todos os seus aspectos.Alguns sao absorvidos, exigi dos, sugados. Outros alcados apostos de poder e de lideranca que reproduzem 0capital vir-tual. Outros, por assim dizer, alguns milhoes, sao jogadoscomo a esc6ria cuja agua benta do emprego, da possibilida-de do trabalho, nao veio a salvar.Esse princfpio de realidade adentra e fere 0 psiquismo

    humano, fazendo com que as pessoas sintam-se exigidas;o sentimento de impotencia e de desvalorizacao, que levaas pessoas pouco resistentes a degenerar-se rapidamente,avilta de si qualquer potencial humane que pudesse sesomar as conquistas da civilizacao,PARADOXOS DO TRABALHOA barbarie do capital instaura na contemporaneidade a

    desumanidade das relacoes human as, que se desqualificamquase total mente, surpreendendo com a forma e a fdrmana qual 0 homem atual vai colocando-se.o capital, por meio do trabalho, organiza e estrutura 0mundo. S6 que hoje ele nao tem mais nornes, expressa-sepor Fundos. As ernpresas sao gerenciadas por executives,nao mais por seus donos. Podem mudar de cidade, de

    nome. de pars, de ramo de atividade, deixando seus traba-lhadores em pieno mar de incertezas e retirando-Ihes aidentificacao com sua pratica diaria e com a empresa paraa qual trabalharn.No pensamento e analise precisos e pontuais de Ianni

    (2000), e principalmente no neoliberalismo que se da adissociacao entre 0 Estado e a sociedade civil, adquirin-do 0 primeiro caracterfsticas de urn aparelho adrninistra-tivo das classes e grupos que detern 0 poder, configuran-do-se como blocos dominantes em escala mundial. 0quese observa e urn Estado comprometido com a possibil ida-de de facilitacao da producao e dos mercados, tendo emseu bojo a f1uidez do capital produtivo e especulativo, daalta tecnologia, da informatica. etc. No entanto, sempreem sintonia com as polfticas geradas pelo Fundo Moneta-rio Internacional (FMI), Banco Mundial (Bird), Organi-zacao Mundial do Cornercio (OMC), Grupo dos 7,Organizacao para a Cooperacao e DesenvolvimentoEconornico (OCDE) comprometidas em facilitar eincrementar a producao, com praticamente nenhum cui-dado em relacao aos resultados de suas polfticas, suarepercussao social au consequencias diretas na vida demilhoes de pessoas.Se 0 homem passa a maior parte de seu tempo traba-

    lhando, suas relacoes pessoais fora de casa deveriam terurn valor afetivo de extrema importancia. No entanto, asrelacoes de companheirismo e de amizade no trabalho naose concretizam, pois elas sao passageiras, imediatas, com-petitivas e as ligacoes afetivas, os vinculos nao podemestabelecer-se, ja que com cada alteracao rompem-se oslaces, perdem-se as pessoas e dai, alem do castigo do de-semprego, hi a solidao, a perda irreparavel,Fala-se em corrosao do carater porque ninguem, nem

    os que teriam todas as razoes para estarem satisfeitos como sistema ja que representam seu proprio ideal, encara seuemprego num horizonte a longo prazo. 0comportamentode curto prazo, como Sennett (1998) observou, distorceuqualquer senso de realidade, confianca e comprometimentormituo. As empresas descartam seus funcionarios e os quepodem fazem 0 mesmo. As pessoas parecem nao maisestarem preocupadas com 0 significado do seu trabalhoou com a oportunidade de vivencia e troca coletiva. Apreocupacao volta-se para a acumulacao de um valor detroca, como se todos se convertessem em uma ac;:liode mer-cado, cujo preco e julgado por outrem. A verdadeira iden-tificacao com 0 trabalho parece viver de urn objetivo quenao chega a concretizar-se: acumula-se aprendizado, di-nheiro, experiencia, aumentam-se as paginas do currfcu-

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    10, tudo para 0 proximo processo seletivo ja que 0 traba-lho atual sera apenas mornentaneo.No presente, ao contrario da classe de mineiros descri-

    ta em Germinal, por Zola, 0 que encontra-se sao pessoasisoladas, esquizoides, que olharn 0 col ega como alguemnao confiavel, nao so pelo fato do que 0 outro realmentee, mas, muito mais, peIo que representa: sofrimento e dor.No universo pos-rnodemo "sao muitos os que colocam emplano muito secundario, ou simplesmente esquecern, 0povo, as classes, os grupos e os rnovimentos sociais, as-sim como as correntes de opiniao publica e os jogos dasforcas sociais [ ... ] Em especial, esquecem as forrnas deorganizacao social e tecnica do trabalho, compreendendoas condicoes sob as quais se desenvolvem e realizam aproducao, distribuicao, troca e con sumo, processos comos quais se funda uma parte fundamental da 'fabrica' dasociedade, em escala nacional e mundial" (Ianni, 2000).Retrocedendo na Historia, assirn como sugere Marx

    (1996), mais dependente aparece 0 indivfduo, e, conse-qlientemente tambern 0 indivfduo produtor e 0 conjuntoao qual pertence. De inicio, esse aparece de urn modo aindabastante natural, no seio da familia e da tribe, esta umafamilia ampliada. Mais tarde, surge nas iruirneras formasde comunidade resultantes do antagonismo e da fusao dastribos. Somente no seculo XVIII, na "sociedade burgue-sa", e que as diversas formas do conjunto social passarama apresentar-se ao individuo como simples meio de reali-zar seus fins privados, como necessidade exterior. Toda-via, a epoca que produz esse ponto de vista, 0 do indivi-duo isolado, e precisamente aquela na qual as relacoessociais (e, desse ponto de vista, gerais) alcancaram 0maisalto grau de desenvolvirnento.Nao pretende-se nesse breve artigo sobrepor 0 homem

    atual aquele encontrado no seculo XVIII, no que se refere,por exemplo, ao trabalho e a forma como ele se organiza.Mas, ao contrario, esclarecer algumas das deterrninacoeshist6ricas que fizeram com que 0 trabalho fosse e tivesse aforma atual e porque a relacao com 0 trabalho deve ser desofrimento, de pena a ser cumprida, de trabalho forcado enao algoego-sintonico, motivado e prazeroso. Seriarn ape-nas as relacoes de propriedade e de exploracao? Ou a pr6-pria producao cria aquele que consorne, que, por sinal, criaa propria Producao,Para Marx (1996:31), "3producao e tarnbem irnediata-

    mente consume. Consumo duplo, subjetivo e objetivo. 0indivfduo. que ao produzir desenvolve suas faculdades. tam-bern as gasta, as consome. no ato da producao, exatamentecomo a reproducao natural e urn consumo de forcas vitais".

    Se a producao coincide com 0con sumo dos meios queobrigatoriarnente forarn utilizados e gastos para que elaocorresse, 0 proprio ate de producao vai ser, como se vera,em todos os seus momentos, tambem ato de consumo. 0resultado, em sfntese, e que a producao e consurno, e que,imediatamente, e producao. "Cada qual e imediatamenteseu contrario, Mas, ao mesmo tempo, opera-se urn rnovi-rnento mediador entre ambos'. A producao e mediadorado consumo, cujos materiais cria e sem os quais nao teraobjeto. Mas 0 consumo e tarnbem mediador da producaoao criar para os produtos 0sujeito, para 0 qual sao os pro-dutos" (Marx, 1996:32).Para entender quais as determinacoes historicas da re-

    lacao hornem x trabalho na modernidade, tem-se de pene-trar na "maquina' que tece sua trama nevralgica, a produ-q 5 0 0 que cria seu produtor e consumidor, com base nomomenta em que foi gerada.Entao, 0 trabalho configura-se como 0 representante

    da forca dos impulsos que 0homem emprega para executa-10 , para poder ou nao consumir 0 que foi por ele produzi-do, abrindo possibilidades de constituicao de subjetivi-dades, correspondentes a cada epoca historica, que tern,por dominic, uma forma de producao,Sujeito, trabalho, produto, consumo, lucro. Elementos

    constitutivos de urn intrigante eixo gravitacional, em queconsumidor e produto mantem uma relacao equidistante.Para Adorno e Horkheimer (apud Rouanet, 1983:147) "aatrofia da imaginacao e da espontaneidade do consumi-dor cultural moderno nao precisa ser reconduzida a me-canismos psicologicos. Os produtos mesmos, a partir domais tipico, 0 filme falado, paralisam aquelas faculdadespor sua pr6pria constituicao objetiva, Sao feitos de talforma que sua compreensao adequada exige rapidez dereflexos, dotes de observacao, cornpetencia especffica, mastambem a absoluta suspensao da atividade mental do es-pectador, se este nao quer perder os fatos que se desenro-lam diante de seus olhos ... 0 espectador nao deve traba-lhar com a pr6pria cabeca: 0 produto prescreve todas asreacoes: nao por seu contexto objeti vo - este se esvai nomomento em que e subrnetido ao pensamento - mas atra-ves de sinais. Toda conexao logica, que exija esforco in-telectual, e escrupulosarnente evitada",o produto posiciona 0 consumidor na mesma situacaode uma linha de montagem e nao se restringe apenas a fil-mes, mas a amplo universo de necessidades criadas.consumidas sem qualquer reflexao, como se os efeitos daparalisia mental sofrida na producao fosse transferida emgenero. mimero e grau. para aquele que () adquire.

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    SAGDE MENTAL E I'SICOLOGIA 00 TRABALHO

    No que se refere a producao, e por que nao dizer 0mesmo para 0 consume. a situacao que se encontra na atua-l idade niio surgiu por geracao espontfinea, mas ocorrerarnmarcos no capitalisrno, que. para melhor rendirnento emaier producao, desen volveu rnetodos, muitos dos quais,aperfeicoados em diversas versoes,Taylor (apud Heloani, 1994) formulou urna forma deorganizacao do trabalho caracterizada pelo amplo funcio-namento das tarefas e concornitante 0monitoramento dosmovirnentos dos trabalhadores. Tal forma rigida de con-trole objetivava a eficiencia como meta e princtpio. 0modelo de Taylor, por seu lado. foi aperfeicoado por HenryFord, que desenvolveu a concepcao de linha de montagem.o trabalho, entao, e dividido de tal forma que a trabalha-dor possa a ser abastecido de pecas e componentes atravesde esteiras, sem precisar, desse modo, movimentar-se. A ad-ministracao do tempo passa a se dar de forma coletiva, pelaadaptacao do conjunto dos trabalhadores ao ritmo irnpostopela esteira. 0 fordismo nao se limitara apenas 11questaodisciplinar no interior da fabrica. Ele incorporara, tal comoo taylorismo, urn projeto social de "melhoria das condicoesde vida do trabalhador". 0 projeto social fordista revela-seurn projeto politico que objetivava assimilar 0 saber e a per-cepcao polftica do trabalhador para a organizacao.Ate a crise do paradigma taylorista-fordista de produ-

    C;5. 0 , 0 modelo de Recursos Humanos e a pr6pria concep-~ao de adrninistracao estiveram articulados com concep-~ees oriundas da engenharia, especial mente com a deproducao, como tambem, com a 16gica militar, expressatao bern pela utilizacao de vocabulos pertencentes a ca-serna, tais como: logfstica, tatica, estrategia, etc.Em consequencia das transformacoes sociais e das OCOr-

    ridas no cerne do capitalismo, a abordagem da engenhariafoi perdendo espaco e comecou a ser questionada 11medi-da que 0modelo fordista de desen volvimento entra em crise- perde sua eficacia - em fins dos anos 60 e corneco dos70. Tal mudanca nao foi produto simples e acabado de umavisao mais humanista ou de urn longo e bem-cuidado pro-cesso de conscientizacao, mas consequencia de uma ne-cessidade premente de responder a uma nova estruturaecon6mica e a urn novo modo de regulamentacao social;em suma, a uma nova realidade que se apresentava e queexigia respostas rapidas por parte do capitaLQUALIDADE DE VIDAHoje, 0discurso manifesto encontrado nos folhetins que

    tratam das relacoes do trabalho parece demonstrar insis-

    tente preocupacao com a rnelhori a da qualidade de vidados que trabalharn. Todavia. encontra-se urna politicamundial de ajuste de custos que leva governos e empresasa minguarem as conquistas sociais alcancadas no ultimoseculo pel a classe trabalhadora.Embora nao exista uma definicao consensual sobre aexpressao "Qualidade de Vida no Trabalho (QVT),. 0

    termo vern sendo utilizado com diferentes conteudos e sig-nificados - sua origem, segundo Trist (1981), concerne auma conferencia internacional sediada em Arden House,em 1972, cujo terna principal versava sobre os "SistemasSociotecnicos". Nao obstante.ja no final da decada de 50,quando 0 capital americano promove uma recessao paraorganizar 0 seu parque industrial, observa-se certa preo-cupacao com esse assunto nos paises que ditavam a pelf-tica do capitalismo. Nao teria portanto 0 "movimento" deQVT sua verdadeira origem nas consequencias sociais daprimeira retracao econ6mica significativa apes a Segun-da Guerra Mundial nos EUA? E 0 que parece, ainda quetais mazelas s6 possam ser conhecidas e sentidas em suareal magnitude na crise do model a de desenvolvirnentofordista dos anos 60 e 70.o que se constata e que a qualidade de vida do traba-lhador, especialmente dos que vivern no terceiro mundo,vern-se degradando dia ap6s dia. Doencas ate' entaoinexistentes au restritas a certos nichos ernpresariais, comoa LERlDort tornaram-se comuns a todos, e espalharam-secomo doencas infecto-contagiosas, tornando impossibili-tados, para 0 trabalho, milhares de trabalhadores. As Le-sees par Esforcos Repetitivos (LER) ou DistiirbiosOsteomusculares (Dort) relacionados ao trabalho sao no-menclaturas utilizadas para designar imimeras doencas,entre as quais tenossinovites e tendinites, ou seja, infla-macoes que se manifestam nos tend6es e nas bainhas ner-vosas que os recobrem; sao afeccoes que podem acome-ter musculos, tendoes, nerves e ligamentos de formaisolada ou associ ada, com ou sem a degeneracao de teci-dos, e que pode ocasionar a invalidez permanente. Emgeral, nao sao faciImente diagnosticadas - 0 que prejudi-ca 0 processo de tratamento - e afetarn sobretudo traba-Ihadores do sexo feminine, das mais variadas atividades,com maior incidencia entre os dezoito e trinta e cinco anos.Parece ate que, pelo encolhimento do mercado de traba-lho, as lutas dos trabalhadores restringem-se apenas 11so-brevivencia, assim como 0 quadro historico encontradono inicio do seculo passado, em que a luta era para naomorrer, nao importando 0 preco que teria de ser pago ...viver como um estado apenas emergencial.

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    No entanto, se a qualidade de vida do trabalhador evista, pelo menos como uma polftica de relacoes publi-cas, ou como uma meta guase recorrente, deve-se pergun-tar 0 gue no trabalho pode ser apontado como fonte espe-cffica de nocividade para a vida mental. A trama em queessa questao esta envolta e quase evidente: a luta pel asobrevivencia leva a uma jornada excessiva de trabalho,e as condicoes em que 0 trabalho se realiza repercutemdiretamente na fisiologia do corpo.o rompimento de vinculos de relacoes fundamentaispara rnanutencao e fortalecimento da subjetividade humanaatua de certa forma que pode desencadear 0 assedio mo-ral, 0 qual tern sido cornpreendido, atualmente, como aexposicao dos trabalhadores a situacoes humilhantes econstrangedoras, repetiti vas e prolongadas durante a jor-nada de trabalho; e pass am a ser mais desestabilizadoras,Mesmo assim, logo as relacoes ficam mais desumanas eaeticas, nas quais predominam os desmandos, a manipu-la~ao do medo, a competitividade desenfreada e as pro-gramas de qualidade total associados a produtividade edissociados da QVT. A qualidade total sem qualidade devida nao e integral, mas parcial.o trabalho como regulador social e fundamental paraa subjetividade humana, e essa condicao mantem a vidado sujeito; quando a produtividade exclui 0 sujeito po-dem ocorrer as seguintes situacoes: reatualizacao e disse-minacao das praticas agressivas nas relacoes entre os pa-res, gerando indiferenca ao sofrimento do outro enaturalizacao dos desmandos administrativos; pouca dis-posicao psfquica para enfrentar as hurnilhacoes; fragmen-tacao dos lacos afetivos; aumento do individualismo e ins-tauracao do pacto do silenc io coletivo; sensacao deinutilidade, acompanhada de progressi va deterioracaoidentiraria; falta de prazer; demissao forcada; e sensacaode esvaziarnento,As condicoes laborais, bern como as relacoes diretas

    entre os trabalhadores, influenciam diretamente a quali-dade de vida. Essa, portanto, torna-se, nessa perspecti va,estrategica para a sobrevivencia e desenvolvimento futu-ros das organizacoes.Como a producao estimula 0 consume e ao mesmo tem-

    po inventa 0 sujeito para 0 qual ela se destina, deve, en-tao. esse sujeito. receber os impactos diretos da organiza-C;aodo trabalho. Resta, entao, deduzir que. em grande parte,o sofrimento mental do trabalhador e consequencia diretadessa organizacao. isto e . da divisao do trabalho, do con-tetido da tarefa, do sistema hierarquico. das modalidadesde cornando. das relacoes de poder. etc.: de todo urn apa-

    rate que modula a percepcao, 0controle dos impulsos, aspossibilidades de apreensao e a reflexao do que produz eque tambem se consorne nas tarefas que executa.o SO FR IM EN TO DO TRABA LHODejours (1992) afirma que executar uma tarefa sem

    envolvirnento material ou afetivo exige esforco de vonta-de que em outras circunstancias e suportado pelo jogo damotivacao e do desejo. A vivencia depressiva em relacaoao trabalho e a si mesmo alimenta-se da sensacao deadormecimento intelectual, de esclerose mental, de para-lisia da fantasia e da irnaginacao; na verdade, marca dealguma forma 0 triunfo do condicionamento em relacaoao comportamento produtivo e criativo. Para esse pensa-dor, no que diz respeito a relacao do homem com 0 con-teudo significative do trabalho, e possfvel considerar,esquematicamente, dois componentes: 0 conteudo signi-ficativo em relacao ao sujeito eo conteudo significative,pode-se assim dizer, em relacao ao objeto. Quando 0pro-gresso e 0 avanco dessa relacao sao bloqueados por al-gum motivo ou circunstancia, observa-se a incidencia dosofrimento.o sofrimento, por seu turno, e desdobrado: 0 ponto deincidencia proveniente das acoes mecanicas, conteudoergonornico da tarefa, e 0 corpo e nao 0 aparelho mental;esse ultimo sera afetado pel a insatisfacao propiciada peloconteudo significativo da tarefa a ser executada, transfer-mando em sofrimento bern particular, cujo alvo, antes detudo, e a subjetividade, ou seja, a mente.Freud (1987 a), ao descrever 0desenvolvimento psfqu i -co. relata que uma crianca recem-nascida ainda nao dife-rencia seu ego do mundo externo como origem das imi-rneras sensacoes que sao vivenciadas por ela; apenas, como passar do tempo, e progressivamente, vai aprendendo afazer tal diferenciacao, reagindo de modo adequado aosestirnulos correspondentes. Por seu lade, 0 ego, movidopelo principle do prazer, tenta afastar as sensacoesdesprazerosas, denotanto urna tendencia a isolar e a proje-tar para fora de si tudo 0 que pode ser fonte de desprazer.Num estagio de maior integracao, 0 ego, com a aC;aodeli-berada das ati vidades sensorias e da aciio muscular corres-pendente, consegue diferenciar entre 0 que e interno e 0que origina-se do mundo externo, estabelecendo dessa for-ma as condicoes para a introducao do principio de realida-de. POl' meio desse ultimo. 0 ego pode localizar 0 sofri-mento surgindo de tres direcoes: de nosso proprio corpo,do mundo externo e da nossa relacao com asoutras pessoas.

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    Esses desdobramentos na evitacao do sofrirnento parparte do ego pod ern ta rn be rn ocorrer em relacao a o trabu-lho, tanto do ponto de vista fisico quanto mental. 0 traba-lho. nao s6 como uma condicao externa, pode propiciarsofrimento insuper.ivel para 0 ego. ernpobrecendo-o e res-tringindo sua acao a mecanismos defensives repetitivos eineficazes, niio the possibilitando aferir. de acordo comsuas ati vidades. a satisfaciio de deterrninadas pulsoes, que,nao satisfeitas, tensionariam 0 aparelho psiquico, geran-do angustia, estados depressives. ansied ade, medosinespecificos, sintornas somaticos. como sinais marcantesde sofrirnento mental, com 0 agravante de que urn egodebilitado e fragil nao consegue diferenciar, pela sua con-dicao, a origem de seu sofrirnento.Dejours (1994) distingue dois tipos de sofrimento: 0

    sofrimento criador e 0 sofrimento patogenico. Este ulti-mo surge quando todas as possibilidades de transforma-cao, aperfeicoamento e gestae da forma de organizar 0trabalho ja foram tentadas, ou melhor, quando somentepressoes fixas, rigidas, repetitivas e frustrantes, configu-ram uma sensacao generalizada de incapacidade.Todavia, quando as acoes no trabalho sao criativas,

    possibilitam a modificacao do sofrimento, contribuindopara uma estruturacao positiva da identidade, aumentan-do a resistencia da pessoa as varias formas de desequi-Ifbrios psiquicos e corporais. Dessa forma, 0 trabalho podeser 0 mediador entre a saude e a doenca e 0 sofrimento,criador ou patogenico .. Assirn, prazer e sofrimento originam-se de uma dina-

    mica intern a das situacoes e da organizacao do trabalho.Sao decorrencias das atitudes e dos comportamentos fran-queados pelo desenho organizacional, cuja tela de fundoconstitui-se de relacoes subjetivas e de poder.Pela condicao de funcionamento mental estabelecida,

    o sujeito perde sua autonomia e, por consequencia de urnego debilitado, nao tem forcas para realizar 0 trabalho dereflexao em que esta envol vida toda sua existencia, pois"as variaveis de personalidade mais relevantes na deter-minacao da objetividade e racionalidade da ideoJogia saoas pertencentes ao Ego, a parte da personalidade que ava-lia a realidade, integra as demais instancias, e opera daforma rnais consciente. Eo ego que percebe as forcas nao-racionais que atuam na personalidade, e se responsabilizapor elas" (Adorno; Horkheirner, apud Rouanet, 1 98 3 ; 1 70 ).Nesse sentido, abre-se ao psicologo, e aos dernais pro-

    fissionais de saiide mental, urn campo enorme de estudo,nao apenas de denuncia. As condicoes e as exigencias domercado de trabalho na atualidade rotinizam e amortecem

    o sentido da vida, deixando no corpo as marcas do sofri-mente. que se rnanifestam nas rnais variadas doencas di-tas ocupacionai s, alem de atentar contra a saude mental,em especial quando 0 p s i qu i s r no anquilosado em sua mo-bilidade faz com que a mente seja absorvida em forrnasde evitacao do sofrimento.No entanto. as organizacoes cobrarn de seus psicolo-

    gos e das escolas que os formam urn nipido ajustarnentode suas metodologias e de suus estrategias de a950. Issotern feito com que grande parte dos psicologos organiza-cionais abracern novamente (sern nenhuma critica, compouquissima reflexao) ideias, princfpios e pressupostosvindos das teorias administrativas, tais como as chama-das "Teorias da Qualidade", verdadeiro fetiche pos-rno-demo, pois nada mais sao do que a reatualizacao de al-guns princfpios da decada de 30, bern untados COmumaeficiente metodologia quantitativa desenvolvida na deca-da de 50 , aproveitada nos anos 70 e aperfeicoada na de-cada de 80.Na realidade, com 0 esvaziarnento da area de Recur-

    sos Humanos, em razao das reengenharias, processos dedownsizing e congeneres, alguns psicologos estao-se trans-forrnando em consultores internes, assessorando treina-mento e selecao e passando da posicao de linha para a destaff, que alem de ser, no compute geral, menos custosa,possui a vantagem do riao envolvimento direto com os tra-balhadores.Como nas organizacoes pos-fordistas houve uma rna-

    quiagem noque concerne ao controle, Agora 0psic6logo naoregula 0processo, 0controle e por resultados, 0compromis-so e com a qualidade e esse profissional deve voltar sua aten-

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    S AO P AU LO E M PERSPECTIVA . 17(2) 2003

    projeto neoliberal a sementeira do individualismo e dabarbaric.CONCLUSAO

    Pelos problemas a q u i abordados, as quest6es que en-volvern a psicodinamica do trabalho tornam-se pontosfundarnentais de preocupacao para os que lidam com SaiidePublica, sobretudo quando se sabe que a separacao entremente e corpo e apenas uma questao sernantica, didatica,e que 0 conceito de saude vai muito alern do que a meraausencia sintomatica de doencas.Quanto a psicologia, concorda-se com Freud (1987b:61)

    quando assinala que "urn psic61ogo que nao se ilude sa-bre a dificuldade de descobrir a propria orientacao nestemundo, efetua urn esforco para avaliar 0 desenvolvimen-to do hornem, a luz da pequena porcao de conhecimentosque obteve atraves de urn estudo dos processos menta isde individuos durante seu desenvolvimento de crianca aadulto". Nao se pode ser fiador de futuras ilus6es para agrande massa de trabalhadores, que sofre com 0 trabalhoou com a sua falta.o trabalho nao pode ser uma negatividade da vida, mas,muito pelo contrario, sua expressao, coisa que 0 capita-lisrno, em suas mais variadas versoes apresentadas nodecorrer da historia, nao permitiu que ocorresse. Eis aEsfinge que cabe ao homem conternporaneo decifrar, paranao ser definitivamente devorado por ela.

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    JOSE ROBERTO HELOANI: Professor e Pesquisador da UniversidadeEstadual de Campinas I! no FGV-SP ([email protected]).CLAUD10 GARC[A CAPITAO: Ps ic o logo C l iu i co . Professor e Pesquisadoren Psicologia 11 0 Universidade Sa o Francisco ([email protected]).

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