Cap 4_EST10_2013

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    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.1

    4

    EQUAES CONSTITUTIVAS

    Neste captulo veremos o terceiro aspecto fundamental na Mecnica dos Slidos, ou

    seja, o comportamento resistivo do material atravs das equaes constitutivas, as

    quais relacionam as tenses com as deformaes num ponto do slido. So essas

    equaes que nos permitem levar em considerao na anlise de um problema

    estrutural o comportamento resistivo do material que constitui a estrutura analisada.

    intuitivo, por exemplo, que uma barra feita de ao e uma barra, geometricamente igual,

    feita de borracha, ambas sujeitas ao mesmo carregamento, devam se deformar de

    maneira diferente.

    At agora, temos a seguinte situao:

    Esttica: trs equaes de equilbrio e seis incgnitas (componentes de tenses)

    Cinemtica da deformao: seis equaes e nove incgnitas (seis componentes

    de deformaes e trs componentes de deslocamentos).

    Portanto, precisamos de mais seis equaes para que o nosso problema de

    Mecnica dos Slidos seja possvel e determinado. A considerao do comportamento

    resistivo do material nos fornecer as seis equaes que esto faltando, ou seja, as

    equaes constitutivas na verdade so seis equaes que relacionam as componentes

    de tenses com as componentes de deformao, atravs de quantidades que

    caracterizam o comportamento do material, as quais so tambm conhecidas como

    propriedades mecnicas.

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    4.1 CONSIDERAES PRELIMINARES

    Como nesse curso maior nfase dada a materiais metlicos homogneos e

    isotrpicos, apresentamos a seguir a definio desses termos.

    Homogeneidade

    O termo homogneo usado para descrever algo que possua uniformidade. Um

    corpo material homogneo se cada poro similar possui os mesmos atributos fsicos

    e propriedades.

    Os materiais usados na engenharia no so verdadeiramente homogneos

    devido sua constituio cristalina e a falhas entre os cristais, porm, quando

    examinamos pores maiores as pequenas irregularidades nas vrias pores se

    tornam sem importncia por causas da distribuio e orientao aleatrias dos

    pequenos constituintes. A falta de homogeneidade significativa somente numa escala

    muito pequena ou microscpica.

    Isotropia

    Um material que no exibe nenhuma orientao estrutural nem propriedades

    dependentes de direes dentro do material definido como isotrpico. Ou seja, num

    material isotrpico, num ponto as suas propriedades sero as mesmas em qualquer

    direo.

    Quando as propriedades do material dependem das direes consideradas ele denominado anisotrpico.Um caso especial encontrado na Mecnica dos Slidos o

    de materiais ortotrpicos, os quais so materiais que possuem trs direes

    mutuamente ortogonais, as quais definem trs planos de simetria elstica, segundo as

    quais so definidas as suas propriedades mecnicas. Os materiais compsitos se

    enquadram nessa definio e sero estudados em cursos dedicados.

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    Devemos ter sempre em mente que isotropia no significa homogeneidade. Um

    material pode ser isotrpico em cada ponto, mas ter as suas propriedades mecnicasvariando com a posio do ponto dentro do slido, ou seja, no ser homogneo.

    4.2 ENSAIOS DE TRAO, COMPRESSO E CISALHAMENTO

    As caractersticas essenciais do comportamento do material so obtidas por meio de

    simples experimentos. O mais comum deles envolve a aplicao de cargas estticas

    temperatura ambiente. As cargas e deformaes devem ser medidas e registradas.

    Essa a natureza dos simples ensaios de trao, compresso e cisalhamento.

    Ensaio de trao

    Esse ensaio consiste da aplicao lenta e gradual de uma fora axial para

    estender uma barra prismtica de dimenses padronizadas, denominada corpo-de-

    prova. A seo transversal do corpo-de-prova uniforme e de forma circular ou

    retangular. Os dados importantes registrados durante o ensaio so: a fora axial e ocorrespondente comprimento e largura da barra. A figura 4.1 ilustra uma montagem de

    um ensaio de trao

    Figura 4.1 Montagem de um ensaio de trao.

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    No corpo-de-prova marcam-se dois pontos Q e R ao longo do seu

    comprimento e registra-se a distncia entre eles. Esse ser o comprimento dereferncia 0L . Os pontos Q e R esto situados longe o bastante das

    extremidades onde so aplicadas as cargas, para no serem afetadas pela

    distribuio local.

    Por exemplo, consideremos um corpo-de-prova de seo circular com um

    dimetro original 0d . Em intervalos regulares, durante a extenso da barra,

    registra-se o comprimento deformado *L entre *Q e *R , o dimetro *d e a carga

    axial P nesse instante. Mesmo um pequeno alongamento da barra acompanhado por uma reduo no seu dimetro.

    Como o nosso objetivo descrever o comportamento do material, sem

    referncia a um corpo particular, ento, dividimos a carga Ppela rea da seo

    transversal original0A , o alongamento

    *

    0e L L pelo comprimento original

    0L e

    a reduo do dimetro * 0e d d pelo dimetro original 0d .

    Assim, consideramos como variveis do ensaio: a tenso normal mdia

    0

    P

    A , (4.1)

    a deformao axial mdia

    *

    0

    0 0

    L Le

    L L

    (4.2)

    e a deformao transversal mdia

    *

    0

    0 0

    d de

    d d

    . (4.3)

    Com os valores dessas variveis obtidas durante o ensaio, podemos traar um

    grfico como o da figura 4.2. Esse um grfico de tenso-deformaotpico.

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    Figura 4.2 Curva tenso-deformaotpica.

    A partir do ensaio de trao e do grfico da figura 4.2, podemos estabelecer asseguintes definies:

    a) Mdulo de Elasticidade

    A poro inicial OAda curva aproximadamente uma linha reta, a qual pode ser

    expressa pela equao

    E , (4.4)

    onde E, uma constante de proporcionalidade, a tangente do ngulo de inclinao da

    reta AO em relao ao eixo . A constante E uma propriedade do material e

    denominada de mdulo de elasticidadedo material.

    A equao (4.4) tambm conhecida como Lei de Hooke, em homenagem a

    Robert Hooke, pelo seu trabalho sobre proporcionalidade entre a carga e a deformao

    de molas, em 1676. O mdulo de elasticidade E tambm conhecido como mdulo de

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    Young, em homenagem a Thomas Young que publicou em 1807 uma explicao da Lei

    de Hooke. As unidades de Eso as mesmas das tenses, ou seja, fora/unidade rea.

    b) Coeficiente de Poisson

    Observa-se do ensaio de trao que na regio da reta AOa contrao * 0e d d do

    dimetro da barra proporcional ao alongamento *0

    e L L . Portanto 0e d

    relacionado deformao 0e L atravs da equao

    , (4.5)

    onde uma constante positiva, denominada de coeficiente de Poisson. Essa

    constante adimensional e para a maioria dos slidos o seu valor varia entre 1/4 e 1/3.

    c) Limite de Proporcionalidade

    Quando a tenso atinge certo valorL , a curva se afasta da linha reta AO.

    Este desvio da relao linear, equao (4.4), marcado no grfico da figura 4.2 pelo

    pontoA.

    Essa tensoL denominada de limite de proporcionalidade.

    d) Limite Elstico

    Quando o corpo-de-prova retorna configurao inicial indeformada, aps a retirada do

    carregamento, dizemos que o seu comportamento elstico. Ele ser elstico linear se

    a relao E se aplicar e poder ser elstico no linear (como no caso da

    borracha, por exemplo) se a relao entre a tenso e a deformao for no linear.

    No grfico da figura 4.2 esse ponto no est assinalado, mas em geral ele

    muito prximo do pontoA, tanto que para fins prticos considera-seE L , onde E

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    a tenso a partir da qual o material, ao ser descarregado, apresentar uma deformao

    residual permanente. Esse ponto no grfico muito difcil de determinar com preciso.Para as ligas de alumnio, por exemplo, define-se um ponto a partir do qual se

    considera que o material tenha escoado, ou seja, apresente uma deformao

    permanente. Ele considerado elstico at essa tenso Esse ponto a interseco de

    uma reta traada a partir da deformao 0,002 (0,2%) e paralela reta do trecho da

    curva em que o material elstico linear, com a curva do material. Veja a figura 4.3.

    Figura 4.3 Curva tenso-deformao tpica de uma liga d e alumnio

    e) Comportamento Elstico e Plstico

    Consideremos a figura 4.4, onde o grfico da figura 4.2 foi redesenhado com mais

    alguns detalhes.

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    Figura 4.4 Comportamento elstico e plstico do material

    O ponto Hdefine o ponto a partir do qual se considera que o material apresenta

    uma deformao permanente. Como j vimos para o alumnio, a deformao OO

    definida como 0,2%. Na realidade o ponto H muito prximo do ponto A, ou seja,

    E L .

    Quando a tenso atinge o valor correspondente ao ponto B da curva, odescarregamento percorre a reta

    PBO e da deformao total correspondente , uma

    parte recuperada ( E ), a qual a deformao elstica e uma parte permanece ( P ),

    a qual a deformao plstica. Se, agora, quisermos carregar o corpo-de-prova

    novamente, a curva de carga tomar o caminho retoPO B e o novo limite elstico ou de

    proporcionalidade ser o ponto B. Esse aumento de tenso limite ou de escoamento

    devido ao endurecimento por deformao do material. O mdulo de elasticidade E

    continua o mesmo, porque a reta PO B paralela retaAO.

    f) Resistncia ao escoamento

    Como a tenso onde se inicia o escoamento no bem definida com preciso no

    ensaio, o valor definido pela deformao de referncia OO na figura 4.4, tomado

    pelos engenheiros como a tenso de resistncia ao escoamento do material.

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    g) Resistncia final

    o valoru correspondente ao ponto Cda curva tenso-deformao da figura 4.4. A

    partir dessa tenso espera-se ocorrer falha por ruptura do corpo-de-prova.

    Ensaio de Compresso

    O ensaio de compresso feito da mesma maneira que o ensaio de trao,

    exceto que a carga aplicada de compresso. Define-se a mesmas variveis , e

    como no ensaio de trao. As curvas obtidas so semelhantes do ensaio de

    trao. Quando a deformao comea a ficar grande, as duas curvas podem ser muito

    diferentes.

    Os manuais de propriedades mecnicas dos materiais recomendam usar para os

    materiais dteis o mesmo valor deu do ensaio de trao, para a compresso.

    Ensaio de Cisalhamento

    Este ensaio realizado com um tubo de parede fina sujeito a um binrio de

    toro. O corpo-de-prova padronizado. A figura 4.5, mostra uma ilustrao de um

    corpo-de-prova tpico

    Figura 4.5 Corpo-de-prova para ensaio de cisalhamento

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    A tenso mdia de cisalhamento dada por

    22

    T

    R t

    , (4.6)

    onde R o raio mdio do tubo e t a espessura da parede do tubo. A deformao

    mdia por cisalhamento ou deformao mdia angular dada por

    arctanR

    L

    , (4.7)

    Onde o ngulo de toro de uma extremidade do tubo em relao outra e L o

    comprimento do tubo, conforme a figura 4.6.

    Figura 4.6 (a)ngulo de toro do corpo-de-prova; (b) Deformao angular.

    Com esses valores de e podemos traar um grfico semelhante ao do teste

    de trao, como na figura 4.7

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    Figura 4.7 Curva tpica.

    Como o tubo fino, podemos supor que a deformao a mesma em

    qualquer ponto do corpo. Considerando-se um material tpico usado em estruturas, a

    poroAOda curva da figura 4.7 aproximadamente uma reta, como no ensaio

    de trao. Podemos ento escrever

    G , (4.8)

    Onde G a constante de proporcionalidade denominada de mdulo de elasticidade emcisalhamento. uma propriedade do material e a sua unidade a mesma da tenso.

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    4.3 SUPERPOSIO DE DEFORMAES

    Uma importante conseqncia da hiptese de pequenas deformaes que sucessivas

    deformaes podem ser adicionadas algebricamente.

    Seja por exemplo, um pequeno segmento x sujeito a uma deformao normal

    x , tal que o seu comprimento deformado escreve-se

    * (1 )xx x . (4.9)

    Se esse elemento, agora com o comprimento *x , deformado novamente com uma

    deformao adicionalx , o seu novo comprimento escreve-se

    ** *(1 ) (1 ) (1 )x x xx x x . (4.10)

    Efetuando-se as multiplicaes indicadas na equao (4.10) e considerando-se

    que as deformaes x e x so pequenas comparadas com a unidade, apenas ostermos de primeira ordem so significativos, ou seja,

    ** (1 )x xx x . (4.11)

    Podemos ento escrever, pela definio de deformao normal dada em (3.1)

    **

    0limx x xx

    x x

    x

    . (4.12)

    O mesmo argumento se aplica s deformaes angulares, e podemos escrever

    xy xy xy . (4.13)

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    Assim, podemos obter um estado de deformao resultante de deformaes

    sucessivas num ponto do slido, considerando que elas sejam pequenas comparadascom a unidade.

    Ento, as reas consideradas no clculo das tenses tambm se alteram com a

    deformao do slido, de modo que se acrescentarmos novas cargas as novas reas

    sero, a rigor, diferentes das originais. Mas se as deformaes so pequenas, ento as

    reas tambm podero se consideradas como aproximadamente iguais quela

    indeformada. Assim, podemos superpor tambm as tenses, do mesmo modo que as

    deformaes, mas desde que as deformaes sejam pequenas.

    4.4 MATERIAL ELSTICO LINEAR E ISOTRPICO

    Um material elstico linear tambm denominado de material hookeano. A maioria dos

    materiais usados na engenharia satisfaz essa condio alm de serem tambm

    isotrpicos.Nesse caso, vamos considerar o seguinte problema: um bloco retangular

    carregado como na figura 4.8.

    Figura 4.8 Bloco carregado na direo x.

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    Pela lei de Hooke, podemos escrever

    xx x x

    EE

    . (4.14)

    As deformaes transversais so

    xy z x

    E

    . (4.15)

    O mdulo de elasticidade E e o mdulo de elasticidade em cisalhamento Gso obtidos

    atravs de ensaio, mas o coeficiente de Poisson, , obtido a partir de uma relao

    entre Ge E, como veremos a seguir.

    Agora, supomos que o mesmo bloco seja carregado apenas com uma tenso

    uniformey

    . Como o material elstico linear e isotrpico, podemos escrever

    y

    y E

    (4.16)

    y

    x z yE

    . (4.17)

    Se o carregarmos apenas comz , escrevemos

    z

    z E

    (4.18)

    zx y z

    E

    . (4.19)

    Devido linearidade dessas relaes e s deformaes serem pequenas

    comparadas com a unidade, podemos aplicar a superposio apresentada na seo 4.3

    e escrever

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    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.15

    1( )

    x x x x x x y zE

    (4.20)

    1( )y y y y y y x z

    E (4.21)

    1( )z z z z z z x y

    E . (4.22)

    Consideramos at aqui as relaes entre as tenses normais e as deformaes

    longitudinais associadas com as direes perpendiculares x, y, z. No caso de materialisotrpico, o bloco da figura 4.8 sob ao das tenses normais , ,x y z permanece

    retangular. Essas tenses no causam nenhuma deformao angular. Isso uma

    conseqncia da isotropia, o que implica que as direes principais de tenso (onde o

    cisalhamento nulo) so tambm direes principais de deformao e vice-versa.

    Vamos considerar agora, o estado de tenso representado na figura 4.9.

    Figura 4.9 (a) Tenses principais; (b) Estado de cisalhamento puro.

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    Aplicando-se as equaes (4.20) (4.22) ao estado de tenso representado nafigura 4.9(a), escrevemos

    1 (1 )

    ( 0)x x

    E E

    (4.23)

    1 (1 )

    ( 0)y yE E

    (4.24)

    1

    0 0z z x y x z y zE

    . (4.25)

    Fazendo-se uma rotao horria de 45 no sistema xyz, em torno do eixo z,

    obtemos o sistema xyzda figura 4.9(b). Aplicando-se as equaes (3.47), obtemos

    ,

    1 1 1 11 1 0cos 2( 45 ) 2( 45 )

    2 2 2

    o o

    x y senE E E E

    .

    1 11 02( 45 ) cos 2( 45 )

    2 2 2

    xy o osen

    E E

    .

    Simplificando, escrevemos

    ,2(1 )0x y xy

    E . (4.26)

    Em resumo, os resultados dessa mudana de coordenadas, considerando-se que

    xy , so os seguintes:

    2(1 )0x y z xz yz xy xy

    E

    . (4.27)

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    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.17

    De (4.27) podemos inferir ento, que um simples estado de cisalhamento puro

    xy , como na figura 4.9(b) causa somente a de formao de cisalhamento xy . Essaconcluso suportada por experimentos em materiais elsticos lineares e isotrpicos.

    Mas desses experimentos obtemos apenas o mdulo de elasticidade em cisalhamento,

    G, tal que

    xy xyG . (4.28)

    Das equaes (4.27) e (4.28) definimos

    2(1 )

    EG

    . (4.29)

    Os mdulos Ee Gso obtidos por ensaios e o coeficiente obtido da relao

    (4.29), para materiais isotrpicos.

    Podemos aplicar o mesmo raciocnio acima para os outros componentes de

    tenso xz e yz . Ento, escrevemos na forma matricial

    10 0 0

    10 0 0

    10 0 0

    1

    0 0 0 0 0

    10 0 0 0 0

    10 0 0 0 0

    x x

    y y

    z z

    xy xy

    xz xz

    yz yz

    E E E

    E E E

    E E E

    G

    G

    G

    . (4.30)

    Devemos ter sempre em mente que para definirmos um material isotrpico

    precisamos apenas de duas constantes, porque das trs que aparecem na equao

    (4.30), uma pode ser obtida a partir das outras duas atravs da relao (4.29). Para

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    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.18

    materiais ortotrpicos necessita-se de nove constantes elsticas para a sua definio

    completa.Muitas vezes necessrio calcular os componentes de tenses a partir de

    valores conhecidos dos componentes de deformaes, por exemplo, medidas obtidas

    em ensaio. Da, a importncia das seguintes equaes, obtidas a partir da equao

    matricial (4.30):

    1

    1 2 1x x y z

    E

    1

    1 2 1y y x zE

    1

    1 2 1z z x y

    E

    xy xyG

    xz xzG

    yz yzG , (4.31)

    ou escrita na forma matricial

    10 0 0

    1 2 1 1 2 1 1 2 1

    10 0 0

    1 2 1 1 2 1 1 2 1

    10 0 0

    1 2 1 1 2 1 1 2 1

    0 0 0 0 0

    0 0 0 0 0

    0 0 0 0 0

    x x

    y y

    z z

    xy xy

    xz xz

    yz yz

    E E E

    EE E

    EE E

    G

    G

    G

    . (4.32)

    As equaes (4.31) ou (4.32) so tambm conhecidas como lei de Hooke

    generalizadapara materiais elstico linear (hookeano) isotrpico.

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    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.19

    4.5 COMENTRIO SOBRE O COEFICIENTE DE POISSON

    Como j vimos, a dilatao ou contrao volumtrica para um bloco que tenha sofrido

    pequenas deformaes comparadas com a unidade, pode ser escrita como a seguir.

    vol vol x y z

    Ve e

    V

    . (4.33)

    Para um material elstico linear isotrpico podemos aplicar a equao (4.30) e

    escrever

    1( )

    x x y zE

    1( )y y x z

    E

    1( )

    z z x yE

    . (4.34)

    Substituindo (4.34) em (4.33) obtemos

    3 1 2 13 3

    x y z x y z

    vole

    E K

    (4.35)

    O fator 3x y z tambm denominado de parcela hidrostticado estado

    de tenso.

    O termo 3 1 2K E , tambm conhecido como mdulo de elasticidade

    volumtrico, indica que se o coeficiente de Poisson do material for igual a 1 2no

    ocorrer nenhuma deformao volumtrica no corpo. Como E e so positivos e o

    coeficiente Ktambm deve ser positivo, ento

    10

    2 . (4.36)

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    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.20

    O coeficiente K deve ser positivo porque se ele for negativo contraria o

    comportamento natural do material sob uma compresso hidrosttica(

    x y z p ) pois assim ele apresentaria uma expanso volumtrica em vez de

    uma contrao volumtrica que seria o natural.

    A maioria dos metais e alguns outros materiais no metlicos o coeficiente de

    Poisson situa-se entre 0,25 e 0,35. A cortia um exemplo de material com coeficiente

    de Posson praticamente nulo.

    Quando 1 2 o material elstico linear e isotrpico dito incompressvel (no

    experimenta nenhuma variao no seu volume). A borracha apresenta coeficiente dePoisson muito prximo de 0,5. Este limite do coeficiente de Poisson para materiais

    isotrpicos. Para materiais ortotrpicos, pode ser maior que 1 2 .

    Exemplo 4.1

    Considere um estado de tenso de um elemento tal que a tensox exercida

    na direo x, a contrao lateral livre para ocorrer na direo z, mas completamente

    restrita na direo y. Ache a relao entre a tenso na direo xe a deformao nessadireo. Ache tambm a razo entre a deformao na direo z e a deformao na

    direo x.

    Soluo

    Livre na direo z 0 0z z

    Restrita na direo y 0 0y y

    Pela lei de Hooke generalizada, escrevemos

    1 1( ) ( 0) x

    x x y z x y x yE E E E

    (a)

    1 1( ) ( 0) 0

    y y x z y x y xE E

    (b)

  • 7/24/2019 Cap 4_EST10_2013

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    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.21

    1 1( ) 0 ( ) ( )z z x y x y z x yE E E

    (c)

    Substituindo (b) em (a) escrevemos

    2

    21

    1

    x x xx y x x x x

    E

    E E E E E

    Substituindo (b) em (c) escrevemos

    ( ) 1xz x y x x zE E E

    Substituindo na expresso acima o valor encontrado parax , escrevemos

    2

    1 1 11 1 11

    xz x x z x

    E E

    E E E

    Denomina-se a quantidade 21E de mdulo efetivo de elasticidade e a

    razo 1 de coeficiente efetivo de Poisson.

    A tensoy produzida pelo vnculo de restrio obtida de (b), como a seguir.

    2 21 1y x x y x

    E E

  • 7/24/2019 Cap 4_EST10_2013

    22/32

    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.22

    Exemplo 4.2

    Considere um bloco elementar sujeito a um carregamento uniaxial, como nafigura abaixo. Derive uma expresso aproximada para a variao de volume por

    unidade de volume devido a esse carregamento.

    Soluo

    Deformao normal na direo x: x

    Deformao nas direes y,z: y z x (devido ao efeito Poisson)

    Comprimento das arestas indeformadas: , ,dx dy dz

    Comprimento das arestas deformadas:

    * 1 xdx dx

    * 1 1y xdy dy dy

    * 1 1z xdz dy dz

    Volume do elemento antes da deformao:

    V dx dy dz

    Volume do elemento aps a deformao:

    * * * * 1 1 1x x xV dx dy dz dx dy dz

    2 2 2 2 31 2 2x x x x x dxdydz .

  • 7/24/2019 Cap 4_EST10_2013

    23/32

    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.23

    Para pequenas deformaes, 1x podemos desprezar os produtos de x na

    expresso acima e escrever

    * 1 2x xV dxdydx .

    A variao de volume por unidade volume para o elemento dada por

    * 1 21 2

    x x

    vol vol x

    dxdydz dxdydzV V V V e e

    V V dxdydz V

    Comentrios:

    O resultado obtido paraV

    V

    o mesmo que obteramos a partir da equao

    (4.35) com 0y z e levando em conta que x xE no nosso caso.

    Podemos observar tambm que a rea da seo onde a tensox atua varia

    muito pouco em relao rea indeformada, ou seja:

    A dydz

    2* * * *1 1 1x x xA dy dz dy dz A dydz

    Assim, escrevemos

    2 2* 2 21 1 1 2x x x xA dydz A A

    Para pequenas deformaes, 1x , podemos desprezar o termo com2

    x na

    expresso acima, e escrevemos

    *

    * 1 21 2 2x

    x xA AA A A AA A

    A A A A

    Para 1x e como 1 , ento 0A . Portanto a rea deformada

    aproximadamente igual rea indeformada.

  • 7/24/2019 Cap 4_EST10_2013

    24/32

    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.24

    Exemplo 4.3

    Um bloco R de borracha rgida que obedece a lei de Hooke para pequenasdeformaes confinado entre paredes planas e paralelas de um bloco de ao S. Uma

    presso uniformemente distribuda 0p aplicada no topo do bloco de borracha por uma

    fora F.

    (a) Derive uma frmula para a presso lateral pentre a borracha e o bloco

    de ao (despreze o atrito entre a borracha e o ao a assuma que o

    bloco de ao perfeitamente rgido comparado ao de borracha);

    (b) Derive uma frmula para a dilatao volumtrica e da borracha

    considerando que as deformaes so pequenas comparadas com a

    unidade.

    Soluo

  • 7/24/2019 Cap 4_EST10_2013

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    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.25

    a) Frmula para clculo da presso lateral:

    0zF pA

    0 0x x

    0y y p

    00x z p

    0

    1 1( ) 0 ( )x x y z y p

    E E (1)

    01 1( ) (0 ) 0y y x z y pE E

    (2)

    0

    1 1( ) (0 )z z x y yp

    E E (3)

    De (2) escrevemos

    0 0 0

    1(0 ) 0 0

    y y yp p p

    E

    Ento, a presso lateral pser dada por

    0 0y p p p p

    b) Frmula para a dilatao volumtrica:

    x y z

    Ve

    V

    (pequenas deformaes) (4)

    0 00 0 0( )1

    0 ( ) 1y

    x y

    p pp p p

    E E E E

    0y

    200 01

    (0 ) 1zp

    p pE E

  • 7/24/2019 Cap 4_EST10_2013

    26/32

    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.26

    Substituindo os valores encontrados paras as deformaes em (4), obtemos

    2 2 20 0 0 0 0 01

    1 0 1p p

    e p p p pE E E

    2 200 01

    2 1 2 1p

    e p p eE E

    Comentrio:

    Para 1 2 (a borracha apresenta o coeficiente de Poisson muito prximo

    desse valor) temos:

    2

    0 1 12 1 02 2

    pe

    E

    4.6 EFEITOS DA TEMPERATURA

    Quase todos os materiais tendem a se expandir quando aquecido. O aumento de

    volume que acompanha um aumento de temperatura denominado expanso trmica.

    Se o material isotrpico e livre para expandir, todos os segmentos de reta no

    corpo experimentam a mesma deformao longitudinal quando a temperatura varia.

    Esse material expandindo-se livremente no experimenta nenhuma deformao angularou por cisalhamento. A mais simples relao entre essas deformaes normais e a

    variao de temperatura que as produzem so as relaes lineares

    x y z T , (4.37)

    onde uma constante, denominada de coeficiente de expanso trmica e uma

    propriedade do material e T a variao de temperatura.

  • 7/24/2019 Cap 4_EST10_2013

    27/32

    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.27

    As deformaes trmicas (4.37) podem ser adicionadas s deformaes

    mecnicas (produzidas pelas tenses) das equaes (4.30) e escrevemos, para ummaterial elstico linear e isotrpico, as deformaes totais como

    1( )x x y z T

    E

    1( )y y x z T

    E

    1( )z z x y T

    E

    1 1 1xy xy xz xz yz yz

    G G G . (4.38)

    Exemplo 4.4

    Seja uma barra reta conforme a figura 4.10 , com uma extremidade fixa e a outra

    livre, sob efeito de uma variao de temperatura T . Se o material da barra tem um

    coeficiente de expanso trmica , determinar o seu alongamento e a tenso normal

    longitudinal desenvolvida na barra.

    Figura 4.10 Exemplo 4.4

    Soluo

  • 7/24/2019 Cap 4_EST10_2013

    28/32

    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.28

    No caso das barras a deformao que nos interessa no sentido longitudinal e a

    nica componente de tenso a ser considerada na sua direo longitudinal, ou seja,da primeira equao (4.38) escrevemos

    xx

    TE

    (a)

    Da equao acima obtemos

    x xE T (b)

    A equao (a) nos d a deformao especfica longitudinal total, ou seja, uma

    parcela devida ao de foras (deformao mecnica) e uma parcela devida

    variao de temperatura (efeito trmico) e assim, definimos

    x

    mec T

    TE

    (c)

    Ento, podemos escrever

    x mec T (d)

    No nosso problema temos

    0mec T T (e)

    A parcela de deformao mecnica nula porque no tem nenhuma fora atuando

    sobre a barra, apenas uma variao de temperatura T . Portanto, da equao (d),

    escrevemos

    0x x

    T T (f)

    O alongamento da barra, ou o deslocamento da sua extremidade livre em

    relao fixa, dado pela equao (3.8) e considerando (f), escrevemos

  • 7/24/2019 Cap 4_EST10_2013

    29/32

    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.29

    * 0 0 0L L

    x TL L dx T dx TL ,

    ondeT o alongamento da barra devido ao efeito trmico.

    Se substituirmos (f) em (b) escrevemos

    0x xE T T

    Portanto, nesse caso, houve deformao da barra, mas sem o desenvolvimento de

    tenso sobre os seus pontos.

    Exemplo 4.5

    Consideremos agora, a barra do exemplo anterior com as duas extremidades

    fixas, conforme a figura 4.11(a) e sujeita a uma variao de temperatura T .

    Figura 4.11Exemplo 4.5

    Determine a tenso normal desenvolvida na direo longitudinal da barra, devido ao

    efeito trmico.

  • 7/24/2019 Cap 4_EST10_2013

    30/32

    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.30

    Soluo

    Da figura 4.11(a) vemos que os deslocamentos das extremidades da barras so nulos,

    portanto, o seu alongamento longitudinal tambm ser nulo. Assim, escrevemos

    00x x

    L L

    (a)

    Substituindo (a) em x xE T ,obtemos

    0x xE T E T

    Ento, nesse caso, ocorre o desenvolvimento de uma tenso normal de compresso na

    direo longitudinal da barra.

    Comentrios:

    Em geral, na literatura, essa tenso que se originou devido ao efeito trmico

    denominada de tenso trmica, mas esse termo no apropriado, porque na verdade

    ela ocorre devido fora de reao do vnculo que fixa as extremidades da barra.

    Portanto, essa tenso o resultado da ao de uma fora (no caso uma reao de

    apoio), o que coerente com o conceito de tenso.

    Poderamos fazer o seguinte raciocnio com a barra mostrada na figura 4.11(b):

    imaginemos que a extremidade A seja liberada para se deslocar, como no exemplo

    anterior. Ento, a partir da equao (3.8), devido ao efeito trmico, temos,

    *0 0

    0L L

    x TL L dx T dx TL (b)

    Da figura 4.11(c) podemos imaginar que a reao de apoioAR produza um

    deslocamentomec no sentido oposto ao de T da figura 4.11(b) a fim de manter o

    deslocamento resultante em A nulo, como na figura 4.11(a), pois esse um suporte

    fixo. Assim, escrevemos

  • 7/24/2019 Cap 4_EST10_2013

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    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.31

    mec x A Amec mec

    R A R L

    L E E EA

    (c)

    Como o deslocamento total nulo, temos

    0mec T mec T (d)

    Substituindo (b) e (c) em (d) obtemos

    A AR L RTL E T

    EA A

    (e)

    Comparandox

    E T com(e), escrevemos

    Ax

    RE T

    A ,

    o que nos mostra que a tenso normalx

    , de compresso nesse caso, deve-se ao

    da fora de reao do apoio, mas originada do efeito trmico.

    4.7 CONCLUSO

    Como vimos, os trs aspectos fundamentais nos fornece o conjunto de equaes

    necessrio para a soluo de qualquer problema na Mecnica dos Slidos, ou seja

    Dinmica (esttica):Equaes de equilbrio (3)

    Incgnitas (6)

    Cinemtica das deformaes:relaes deformao-deslocamento (6)

    Incgnitas (9)

    Comportamento resistivo de material:relaes constitutivas (6)

    Assim, temos quinze equaes e quinze incgnitas, portanto, um problema possvel e

    determinado.

    Mas como a soluo desses problemas exige a resoluo de sistemas de

    equaes diferenciais parciais, em geral s ser possvel atravs de mtodos

    numricos, com algumas excees quando o slido de geometria simples e tambm o

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    EST-10 Mecnica dos Slidos ITA-2013 4.32

    carregamento aplicado de modo bem simples. Portanto, a soluo analtica s

    obtida para algumas situaes bem especficas.Nos prximos captulos veremos algumas dessas situaes, onde se explora um

    dos mais poderosos argumentos da cincia, o argumento da simetria. Desse modo,

    consegue-se descrever a deformao de uma maneira muito simples, o que resulta em

    teorias que conduzem a resultados muito satisfatrios do ponto de vista de engenharia

    e muitas vezes at muito prximos daqueles obtidos por teorias mais avanadas.

    REFERNCIAS

    1. Donaldson, B. K., Analysis of Aircraft Structures An Introduction, McGraw-Hill

    Inc., NY, 1993

    2. Lucena Neto, E., Fundamentos de Elasticidade e Plasticidade, Notas de Aulas do

    curso IG-209, ITA, 2006

    3. Hibbeler, R. C., Resistncia dos Materiais, Pearson Education do Brasil, SP, 5edio, 2006

    4. Malvern, L. E., Introduction to the Mechanics of a Continuous Medium, Prentice-

    Hall, Inc., Upper Saddle River, NJ, 1969

    5. Wempner, G., Mechanics of Solids, PWS Publishing Company, Boston, MA, 1995