Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literárias

  • Upload
    arp

  • View
    227

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    1/20

    7. Relacoes da literatura com outras artes

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    2/20

    OBJECTIVQSDepois do estudo deste capitulo, 0 aluno devera estar apto a:

    explicar as relacoes da literatura com outras artes, nomeadamente apintura, a musica eo cinema.

    16 1

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    3/20

    7.1 Ut picture poesis

    Segundo Plutarco (De gloria Atheniensium, Ill, 346f-347c), Simonides de Ceos,'fa. que viveu entre os seculos VIeVa. c., C0aurar do diro

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    4/20

    !Traducao deMaria Helenada Rocha Pereira, Helade ,p.34.

    164

    e e a unica a quem nao coube tomar banho no Oceano.Forjou tarnbern duas cidades de homem falantes,mui belas. Numa havia bodas e festins:ao luar dos archotes, levam pela cidade as noivassaidas do talamo; elevam-se no ar muitos cantos nupciais,Rodopiam os [ovens na danca e, no rneio deles,flautas e charas erguem a sua melodia, I

    o paralelo mais famoso, e mais influente pelos seculos adiante, da poesia e dapintura encontra-se na Epistola ad Pisones (vv. 361-364) de Horacio:

    Ut pictura poesis; erit quae, si propius stes,te capiat magis, et quaedarn, si longius abstes;haec amat obscurum, nolet haec sub luce nideri,indicis argutum quae non formidat acumen.

    [Traducao deR.M. Rosado Fernandes, na sua edicao bilingue de Horacio,Poetica, Lisboa, s.d., pp. 109-110: "Como a pintura e a poesia: coisas M que deperto mais te agradam e outras, se a distancia estiveres. Esta quer ser vista naobscuridade e aquela a viva luz, por nao recear 0 olhar penetrante dos seuscriticos; esta, so uma vez agradou, aquela, dez vezes vista, sernpre agradara].A formula ut pictura poesis nao possui, naArte poetica de Horacio, urn sentidode ordem cntologica, como se estabelecesse uma comparacao estrutural entreas duas artes, pois que se limita a significar que alguns poemas sao lidos comagrado uma so vez, mas que outros podem seT lidos com agrado rnuitas vezes,tal como acontece com obras de pintura; que alguns poem as devern ser lidos eapreciados nas suas rninudencias, mas que outros ganharn em ser lidos eapreciados no seu significado global, tal como acontece com obras de pintura.A analogia entre a poesia e a pintura foi Iorrnulada por varios autores ao longoda Idade Media, mas foi desde a Renascimento ate cerca de meados doseculo XVIII que 0 simile horaciano e 0 aforismo de Sirnonides de Ceosadquirirarn uma importancia de prirneiro plano, tanto no dominic da teoriacomo no dominio da pratica artistica, tendo passado a ser abusivarnenteinterpretados como significando a existencia de semelhancas estruturais entrea poesia e a pintura, A mimese era considerada como a matriz comum das duasartes irrnas e, por conseguinte, segundo as palavras de Leonardo da Vinci, apintura e uma poesia que e vista e nao ouvida e a pcesia e uma pintura que eouvida, mas nao vista. Em term os analogos, Carnoes refere-se a poesia comoapintura que fala (cf, Os Lusiadas, canto VIII, est. 41) e a pintura como a mudapoesia (cf. Os Lusiadas, canto VII, est. 76).No Renascimento, 0 aforismo de Sirnonides e 0 simile de Horacia foramutilizados para igualar em valor e prestigio a poesia e a pintura - convernlembrar que nem a antiguidade grega Hem a antiguidade romana conheciamMusas da pintura e da escultura, 0que e bem elucidative acerca do reduzido

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    5/20

    prestigio intelectual e social destas artes - e ate, como no caso de Leonardo daVinci, para afirmar a superioridade da pintura em relacao it poesia.Par outro lado, desde 0 Renascimento ate ao Neoclassicisrno, 0 simile hora-ciano contribuiu para sublinhar a relevancia do conceito retorico de enargeiae, portanto, para defender e difundir uma concepcao pictorialista da poesia.Esta concepcao pictorialista encontrou a sua realizacao consumada na poesiadescritiva que foi copiosamente eultivada nas literaturas europeias da pri-rneira metade do seculo XVIII e cuja expressao modelar se encontra em Thes ea so ns ( As e sta co es ) de James Thomson (1700-1748).As estreitas relacoes estabelecidas entre a poesia e a pintura explicam afrequencia com que os pintores, desde 0Renascimento ate ao Neoclassicisrno,escolheram para tern a dos seus quadros figuras e cenas extraidas de obraspoeticas e a voga de que usufruiu, sobretudo no Barroco, a poesia ecfrastica,isto e, como ficou dito, a poesia que descreve, recria, comenta, exalt a uma obrade arte (pintura, escultura, etc.). Quer nurn caso, quer noutro, trata-se de urnfenorneno de transposicao intersemiotica: 0 texto poetico e construido comsignos e com uma grarnatica que dependem de urn sistema semi6tico diferentedaquele de que dependem os signos e a gramatica do texto pictorico.Uma manifestacao importante da conjugacao da poesia e da pintura, noRenascimento e no Barroco, e constituida pelo emblema. 0 primeiro liVID deemblemas, 0Emblematum libellus, do hurnanista Italiano Andrea Alciato foipublicado em 1531 e conheceu urn exito estrondoso, tendo dado origem, nasdiversas literaturas europeias, a muitos outros livros de natureza analoga,alem de ter conhecido mais de cento e cinquenta edicoes, A palavra 'emblerna',tanto em grego como em latim, possuia urn significado relacionado commosaicos e azulejos e com a diversidade de cores num pavimento. Os emble-mas de Alciato sao, na verdade, uma especie de mosaico, sao urn textocornposito em que coexistem urn texto pictorico e urn texto verbal. 0 emblem ae constituido par uma gravura - 0 texto pictorico -, por urn lema ou mote ouin sc rip tio - urn enunciado que encima a gravura e que condensa 0significadosimbolico au aleg6rico desta - e pO T urn epigrama ou sascriptio - um textobreve, quase sempre em verso e rnuitas vezes em latirn, que explica e comenta agravura, realcando a sua licao moral e didactica. Veja-se, como exemplo, 0emblerna LXIV de Alciato, numa traducao em castelhano editada em 1548:

    165

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    6/20

    166

    Cria of cuervo, sacarte ha e! ala.

    El pastor inocente me flo imp elidaQue erie al lobo can fa leche mia,El qual despues que fuere bien crecidoMamando de mis tetas a porfia,Se ha de bolver a mi, que la malicialamas can buena obra se desquicia.

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    7/20

    ;;} 'tra ta do L es b ea ux a rts red uits a u n m em e p rin cip e (1746) do Abbe Batteuxconstitui a elaboracao teorica amadureeida da tradicao renaseentista e bar-roea sobre as relacoes rmituas entre a poesia e a pintura. Batteux estende 0principia, de raiz aristotelica e boraciana, da imitacao da bela natureza atodas as belas artes: a musica, a poesia, a pintura, a escultura e a danca.As relacoes entre a poesia e a pintura cornecaram a ser pastas em causa eabertamente contestadas por diversos autores, ao longo da segunda metade doseculo XVIII. Edmund Burke, no seu livro intitulado A ph il os ophi ca l e nqu ir yinto the origin of our ideas of the sublim e and beautiful (Indagactio filosoficasabre a origem das nossa s ideias sabre a sublim e eo bela, 1757), escreve que riarealidade, a poesia e a retorica nao fazem uma descricao exacta das coisas taoperfeita como a pintura; a sua rnissao consiste em tocar-nos mais atraves dasimpatia do que da irnitacao; antes emmostrar 0efeito das coisas na mente dequem fala, ou na mente dos outros, do que dar uma ideia clara dessas mesmascoisas. Segundo Burke, a sublime e uma categoria estetica nao apenas distintada beleza, mas contraria a esta, tal como 0 preto se contrap6e ao branco e 0sofrimento ao prazer. 0 sublime nao e conciliavel com a clareza das ideias, coma representacao clara da natureza: 0sublime exige a obscuridade, 0 terror, 0sofrimento, a grandeza. Uma ideia clara, afirma Burke, H e outra designacaopara uma pequena ideia, S6 a linguagern verbal, so a poesia e a eloquenciapodem gerar a experiencia do sublime, porque so elas podem despertar e agitarpoderosamente as paixoes. A pintura e admirada e amada com frieza, emcontraste com 0 calor e a forca arrebatadora das paixoes que a poesiadesencadeia.Em 1776, Gotthold Efraim Lessing publicou a sua famosa obra intituladaL ao koo n: oder tiber die G ren zen der M alerei u nd P oesie (L ao coon te: ou sa bre o slim ites da pintura e da poesia), na qual advoga a existencia de profundasdiferencas entre as duas artes: os simbolos usados pela pintura sao as figuras eas cores existentes no espaco, ao passo que as simbolos usados pela poesia saoos sons articulados no tempo; os simbolos ciapintura sao naturals, enquantoque os sirnbolos usados pela poesia sao arbitrarios; a pintura pode representarobjectos que existem simultaneamente no espaco, ao passo que a poesia poderepresentar objectos que se sucedem no tempo; a pintura, em contraste com apoesia, e incapaz de contar historias e de articular e exprimir ideias universais.Em suma, para Lessing a pintura e uma arte do espaco, da accao imobilizada,da stasis; a poesia e uma arte do tempo, do movimento e da accao.Tanto Burke como Lessing, ao diferenciarem a poesia e a pintura, elaboraramcorrelativamente uma hierarquia das artes: a poesia e , para ambos, uma artesuperior a pintura.oRomantismo, ao deriegar a irnitacao da natureza como 0principio constitu-tivo da arte, rejeita a matriz aristotelico-horaciana em que sefundara, desdc 0Renascimento, a cornparacao da poesia com a pintura e que permitira valorara pintura como arte superior a poesia. 0 Romantismo, ao considerar aexpressao da subjectividade como principio gerador da arte, ao exaltar a

    167

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    8/20

    ICf. Victor Cousm.Dn Vrai,du Beau et du Bien, Par is,1836, p. 290.

    'Cf. Charles Baudelaire,Les[leurs dumal, Paris. Garnier,1959, pp. 15-16.

    rApud David Scott, Pictoria-listpoetics, Cambridge, 1988,p.93.

    168

    criaejln em contraste com a irnitacao, tende a privilegiar a rnusica - a arte maisre fractaria ao m ode lo m irne tico - com o a arte g e rn ea d a poesia: ut musicapoesis. Expressao par excelencia do genio e da imaginacao, discurso e cantoinextricavelmente ligados a videncia e a profecia, a poesia e para as rorndnti-cos, como Hegel afirmou, a arte mais elevada, rnais rica e mais completa.Tal nao significa, todavia, que as relacces entre a Iiteratura e a pintura,durante e apos a epcca rornantica, nao tenham continuado a ter importancia,quer no plano da reflexao e da teo ria esteticas, quer no plano das praticasartisticas. a filosofo frances Victor Cousin (1792-1867) fundarnenta-se exac-tamente na capacidade de inter-relacionarnento da poesia com as restantesartes para proclarnar a Ingar cirneiro que aquela cabe na hierarquia das artes:Se as artes devem respeitar a forma uma das outras, existe uma, todavia, queparece aproveitar dos recursos de todas - e essa e ainda a pcesia, Com apalavra, a poesia consegue pintar e esculpir; constroi edificios como a arqui-tectura; imita ate certo ponto a melodia da rmisica. Ela e , par assirn dizer, 0centro onde se reunern todas as artes: e a arte par excelencia; e a faculdade detudo exprimir, com urn sirnbolo universal. 1Bastara mencionar, como exemplo bern elucidative, 0caso de Baudelaire, urnpoeta que, como critico de pintura, esereveu paginas fundamentals do pensa-mente estetico moderno e que, na sua poesia, bastantes vezes escolheu temas emotivos proporeionados par pintores como BruegheI, Goya au Delacroix.Veja-se como, no poerua Lesphares, Baudelaire reeria poetieamente a atmos-fera galante, erotica e frivola, da pintura de Watteau:

    Watteau, ce carnaval a u bien des coeurs illustresComme des papillons, errent en flamboyant,Decors frais et legers eclaires par des lustresQui versent la folie a ce bal tournoyant.

    AU como caracteriza, atraves da simbolica das cores e de uma anotacaomusical, 0 universo doloroso e desolado de Delacroix:

    Delacroix, lac de sang hante des mauvais anges,Ombrage par un bois de sapins toujours vert,Ou, sous un ciel chagrin, des fanfares etrangesPassent, comme un soupir etouffe de Weber.2

    A aproximacao entre a Iiteratura e a poesia acentuou-se com as poeticas doRealismo e do Parnasianisrno. Leconte de Lisle, urn dos mestres da poetica eda poesia parnasianas, sublinha que 0 primeiro euidado daquele que escreveern verso au em prosa deve ser por em relevo lado pitoresco das coisasexteriores.' Com efeito, 0 Realismo e 0 Parnasianismo , em contraste com apoetica do Romantismo, valorizam a representacao do mundo exterior, pres-tando acurada atencao a s formas, aos volumes e as cores e cultivando gosto-samente as descricoes minudentes, exactas, coloridas e pitorescas. Veja-se

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    9/20

    J Cf. Cesario Verde , Obracomplet a, Lisboa , 1964,p. JJ5.

    como Cesario Verde, no seu poema De tarde, narra e descreve uma cenacampestre que, nas palavras do proprio poeta, dava uma aguarela:

    Naquele pic-nic de burguesas,Houve uma coisa sirnplesrnente bela,E que, sern ter hist6ria nem grandezas,Em todo 0 caso dava uma aguarela,Foi quando tu, descendo do burrieo,Foste colher, sern imposturas tolas,A urn granzoal azul de grao-de-bicoUrn ramalhete rubro de papoulas.Poueo depois, em cirna duns penhascos,N6s acamparnos, inda 0 Sol se via;E houve talhadas de rnelao, damascos,E pao de 16molhado em malvasia,Mas, todo purpura a sair da rendaDos teus dais seios como duas rolas,Era 0 supremo encanto da merendao ramalhete rubro das papoulas! I

    A poesia parnasiana enfatiza os valores phisticos do discurso Iiterario, tendoautores como Banville e Heredia explorado com frequencia e muita engenho-sidade os efeitos espaciais, opticos e ic6nicos, das estruturas prosodicas eestroficas do poema - rimas, dimensao do verso, formate das estrofes.As relacoes entre a literatura e as artes plasticas, em geral, e a pintura, emparticular, torriaram-se ainda mais intimas e relevantes com 0Modernismo esobretudo com as chamadas Vanguardas historicas (Futurismo, Cubismo,Surrealisrno, Expressionismo), 0 texto 'poetico, gracas ao aproveitarnentovisual da materialidade dos seus grafernas e a disposicao tipografica dos seussignificantes no espaco da pagina, espacializa-se, adquire caracteristicas estru-turais que 0 fazem funcionar semioticamente de modo sernelhante ao textopictorico.Mallarrne, com 0seu poerna Un coup de des jamais n'abolira Ie hasard (1897),foi 0 primeiro poeta da modernidade a conceber 0 poema como urn objectopictorico-verbal: osversos estao tipograficamente cornpostos emtipos de letradiferentes, ocupam 0 espaco da pagina de modos distintos, originando confi-guracoes iconicas, de modo que os proprios espacos vazios, as brancosmarginais e intersticiais da pagina, se convertem em signos textuais, emsignificantes e significados silenciosos. 0 poema tern de ser lido e de ser visto.Emmuitos poemas futuristas, aos grafemas pictograficarnente configurados edispostos no espaco da pagina associam-se grafismos heterogeneos, por vezesdeclaradamente iconicos, e colagens que reforcam a natureza pictorica dotexto. Nestas condicoes, 0 signo poetico deixa de coincidir obviamente comestruturas verbais, Por exemplo, os caligramas de Apollinaire, retomando erenovando experiencias que remontarn a poesia da epoca helenistica e dos

    169

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    10/20

    periodos maneirista e barroco, comunicam em primeiro Iugar visualmenteeeo leitor-espectador, exigindo que este combine a Ieitura linear com uma lejR:;,:~multidireccional e com a visao das formas plasticas construidas pelas sequea-cias grafematicas e pelos grafismos nao verbals do texto. Veja-se, por exemplc ..o caligrama Coeur couronne et miroir, constituido par configuracoes verbaisque produzem ideograficamente significados de natureza esoterica (0 leitor--espectador deve ler ever no caligrama 0percurso purificador que vai do arnorsensivel, passando pelo poder, ate a santidade):

    IN N""t,, 0C11 ~ttM aw uM RA PL Ar 1\I: t

    NU L. .

    QL R U M RES 015 EU ENTTOOR A TouRREHAISSENT " ' U cotUR OE$ POETS

    D " N Snns ct:

    J o I Ius ...0111

    1I0NT Jf.~111$

    COM Gui l laumeApollinaire

    CLOS

    V ITOE S

    ANLt S

    N! COMGI

    lolA ON

    A pictorializacao do texto poetico alcancou a seu desenvolvimento extremacom os quadros de palavras em liberdade prcduzidos par autores futuristas:nestas cornposicoes, e abolida a linearidade do texto e a sintaxe fica reduzida aarticulacoes minimas entre elementos sintagrnaticos disserninados no meio degrafismos nao verbais e de elementos pict6ricos. Veja-se 0 famoso dipinto

    170

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    11/20

    parolibero de F.T. Marinetti, intitulado Le soil', couchee dans son lit, elle relisaitfa lettre de son artilleur au front:

    Sem aquele titulo tao extenso e de teor narrative, 0 leitor/espectador teriamuita dificuldade em construir um significado coerente do texto marinettiano.

    17 1

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    12/20

    ~ ..

    A espacializacao e a pictorializacao do texto poetico conhecerarn novas mani-Iestacoes, apoiadas em metalinguagens frequentemente influenciadas pelacibernetica e pelas tecnologias cornunicacionais electronicas, na segundametade do seculo xx, com os movimentos da poesia conereta.Como se conclui de quanto ficou exposto, desde hit rnais de vinte seculos que,no Ocidente, tern side teorizadas, cultivadas e exploradas as inter-relacoesentre a poesia - sublinhe-se que ternos quase scmpre falado de 'pcesia' - eapintura.Estas mter-relacces nao suscitarn duvidas nem controversias quando se ins-crevem no ambito de codigos semantico-pragrnaticos que sao independentesdos recursos emeios proprios da serniose poetica e da serniose pictorica, isto e ,quando os textos poeticos e os textos pict6ricos representarn, par exemplo,temas oriundos da mitologia, da religiao, da historia guerreira, etc.As inter-relacoes sao tarnbem relativamente isentas de controversia quandoum texto pictorico representa urn terna extraido de urn texto poetico ouquando urn texto poetico, como acontece na poesia ecfrastica, descreve,comenta e eventualmente julga urn texto pictorico.As inter-relacoes tornam-se mais complexas, problematicas e controversasquando se procura alcancar urn nivel de semelhancas, analogias ou isornorfiasde ordem estrutural e tecnico-formal, ou seja, quando se ultrapassa 0 planoestritamente sernantico e se entra do dominic das equivalencias, correspon-dencias e analogias entre os signos, as convencoes e as regras sintacticas queperrnitem combinar os signos, os padrces macroestruturais, etc.As distincoes estabelecidas por Lessingentre artes do tempo e artes do espacosao demasiado rigidas, pois que, por urn lado, a percepcao visual de urnquadro nao e urn fenorneno instantaneo, mas urn processo que conglobapercepcoes ternporalmente sucessivas, e que, par outra parte, 0conhecimentode urn texto poetico culmina, no espirito do leitor, numa sintese final em que osseus elementos constitutivos de certo modo coexistem simultaneamente,Todavia, as analises de Lessing tern indubitavelmente uma fundamentacaopertinente, A leitura de um texto literario processa-se obrigatoriamente emconformidade com determinadas regras: 0 texto tern urn principio e urn fimtopografica e temporalmente demarcados, devendo 0 leitor iniciar a 1eitura naprimeira linha e acabar na ultima, da esquerda para a direita e de cima parabaixo. 0 processo desta leitura pode ser temporalmente muito dilatado, comoacontece com a leitura de urn romance, de um poema epico, etc. A leitura deurn texto pictorico, ernbora possa SCI orientada espacial e temporalmente porccnvencoes que irnpoem uma hierarquia entre os elementos representados,exime-se a urn proeessamento pre-determinado, visto que, em rigor, 0 textopictorico, embora topografieamente delirnitado, nao tem urn principio nemurn fim: 0 olhar do espectador move-se com uma liberdade muito grande equase de tipo idiossincrasico,

    172

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    13/20

    Quando 0 leitor, ao concluir a leitura de urn texto literario que nao se reduz arneia duzia de linhas ou ao terrninar a audicao de qualquer texto literario,constroi a sua sintese final, so a memoria suporta 0 processamento do actocognitivo. Quando 0 espectador constroi a sua sintese final de urn textopictorico, mesmo se se tratar de urn gigantesco quadro de Rubens, a textoperrnanece materialmente presente, como urn todo, ao seu olhar,o texto literario, gracas aos recursos da serniose Iiteraria, tanto pode descreverestados de coisas como narrar, na sua sequencialidade, na sua causalidade e noseu circunstancialisrno, eventos. 0 espectador, se conhecer a historia da qualesta representado urn episodic, pode reconstituir os eventos anteriores e oseventos posteriores, mas a texto pictorico nao lhe oferece a leitura de toda ahistoria. E certo que, em certos casos, os textos pictoricos narram umahistoria, como pode acontecer num poliptico, nurna serie de vitrais ou numunico quadro no qual estao representadas sequeneialmente, da esquerda paraa direita, diversos episodios da mesma historia (por exernplo, A historia dePsique de Jaeopo del Sellaio), Todavia, mesmo nestes casos, os textos pictori-cos apenas multiplicam e fazem sueeder representacoes estaticas de cenas deuma historia cuja temporalidade e cuja causalidade s o fragmentariamente saocaptadas.Os caligramas de Apollinaire, as quadros das palavras em Iiberdade dosfuturistas, os textos da poesia concreta operaram uma revolucao nas relacoesentre a poesia e a pintura, criandonovos mecanismos semi6ticos na constru-cao dos textos poeticos e obrigando 0 lei tor a adoptar novas estrategias enovos processos de leitura. A espacializacao e a iccnicidade optica destestextos alcancararn tal relevancia que se torna irnpossivel a sua leitura em vozalta. Alias, em muitos textos futurist as e concretistas, os elementos verbaisdesernpenham apenas uma reduzida funcao (naIguns casas, pura e simples-mente nao existern), Pensamos que, nestes casos, se pode falar Iiteralrnente demorte da literatura.

    7.2 Ut tnusics poesisA palavra grega mousike possui um significado muito amplo e complexo:designa toda a actividade espiritual inspirada e guiada pelas Musas, masdesign a, em particular, a rnusica propriamente dita, a poesia e a danca, No seusignificado ample, 0 termo mousike, como se Ie na Republica (376 e 5S.) dePlatao, abrange a poesia.A poesia e a rmisica eram artes que, na antiga Grecia, usnfruiam de urnestatuto espiritual e cultural superior: originavam estados de extase e provo-cavam a rapto da mente, ao inves de artes como a escultura e a pintura, sobreas quais, significativarnente, as Musas nao estendiam a sua proteccao, Orfeu, 0rmisico e 0 poeta que, com 0 seu canto, amansava as feras, animava as pedras,fazia mover as arvores e pacificava os homens, e 0 simbolo rnitico destaprofunda uniao das duas artes. Como escreveu Shelley (prometheus Unbound,

    17 3

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    14/20

    IV, 415-418), toda a Iinguagem poetica e um canto orfico que instaura aharmonia universal:

    Language is a perpetual Orphic song,Which rules with Daedal harmony a throngOf thoughts and forms, which elseshapeless and senseless were.

    Na Grecia, a poesia melica au lirica era acompanhada por instrumentosmusicais diversos (lira, citara, flauta) e cantada par uma s6 pessoa (Iiricamonodtca) au por Urn Cora (lirica coral),A poesia medieval trovadoresca, na Provence, na Franca do Norte, na Galiza,em Portugal. na Alemanha, era igualmente indissociavel da rmisica e, muitasvezes, da danca. Como as proprias palavras indicam, a cantiga de amigo, acantiga de amor, a canso provencal eram composicoes trovadorescas destina-das a set acornpanhadas de rmisica e a set cantadas, Em provencal, a palavrasonet significa melodia, texto com rnelodia. A ballata dos poetas italianosdo dolce stil nuovo deriva da balada ou dansa da poesia provencal, isto e , umacomposicao pcetica que era dancada, 0 trovador medieval compunha 0 textopoetico e a respectiva musica.Durante 0 Renascimento e 0 Barraco, a associacao entre a poesia e a musicafoi ainda frequente, querem generos liricos como 0madrigal ou a cantata quer,sobretudo, em generos dramaticos e em espectaculos teatrais como 0 melo-drama, a drama lirico e a opera. A intima relacao da poesia com a musica,porern, comecou a declinar ja no seculo xv. No Cancionero de Baena, parexemplo, uma importante colectanea de poesia castelhana constituida nosegundo quartel daquele seculo, aparecem muitas composicoes classificadascomo decires, isto e , poemas de certa extensao que se destinavam a leitura eque assirn se distinguiam das cantigas.Com efeito, a diferenciacao entre 0 texto poetico e 0 texto musical, entre alexiseo melos, iniciou-se com a ernergencia da poesia escrita eo correlative declinioda poesia oralmente cornunicada. A diferenciacao intensificou-se com a difu-sao da poesia atraves do livro impressa. Desde as prirneiras decadas doseculo XVI, as obras poeticas circulam em cancioneiros manuscritos ou emletra impressa, isto e, dirigem-se a leitores que realizarn a sua Ieitura como urnacto privado. A nova e revolucionaria tecnologia de cornunicacao que e aimprensa privilegia a visao e nao 0 ouvido e origina profu ndas alteracoes naproducao, na transmissao e na recepcao dos textos. Por autro lado, as poetasdo Renascimento veicularn muitas vezes, nas suas obras, doutrinas morais,filos6ficas e religiosas, preocupando-se de tal modo com 0 significado racionaldos seus textos que, nalguns casos, procuram rnesmo eliminar as efeitosmusicais, como a rima, que poderiam, em seu entender, prejudicar aquelesignificado racional.Esta sobrevalorizacao dos significados denotativos e racionais do texto litera-rio e a consequente desconfianca perante as seus elementos f6nicos, ritmicos e

    17 4

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    15/20

    musicals, alcancaram 0seu apogeu com a poetics do Neoclassicismo, ao longodo seculo XVIII - esse seculo rico em filosofos e criticos, mas tao pobre empoetas ...Todavia, com 0Rornantismo e, depois, com 0Simboliszno e 0Modernismo, arelacao da poesia com a rmisica voltou a ser muito profunda, tendo mesmo amusica aicancado 0 estatuto de arte par excelencia: a musica e a arte queexprime 0 inexprimivel, que diz 0 inefavel, a voz primordial do homern. Tantoa intimidade do eu como a infinitude do universo se exprimem na musica comoem nenhuma outra arte. Paul Verlaine, no seu poemaArt poetique, condensouem dois celebres versos esta ideia de que a rrnisica e a arte suprema e a matriz dapoesia: de fa musique avant toute chose I de fa musique encore et toujours. Poetascomo Mallarme e Valery, que elaboraram uma poetics e escreveram umapoesia tao rigorosamente intelectualistas, pensaram a poesia como indissocia-vel da musica, isto e, como sonoridade e ritrno, como harmonia pura, comomelodia evanescente. Wallace Stevens, em The neces sa ry ange l', afirma que apoesia e palavras e que as palavras, na poesia, acima de tudo, sao sons.No texto Iiterario, as sons, na sua materialidade, com 0 seu timbre, a suaintensidade, a sua harmonia, as suas cornbinacoes e repeticoes, originamfenornenos que podem ser apropriadamente caracterizados como sendofenomenos de fono-estesia e que se assernelham rnuito a fenornenos musicais.Veja-se, por exemplo, como nos tercetos do soneto de Jorge de Sena cujoincipit e Marinha pousa a nevoa iluminada (do livre As evidenciasi, asaliteracoes, com a reiteracao de fonemas sibilantes e dentais surd os e com aacumulacao da mesma vogal no ultimo verso, produzem efeitos fono-estesicosque nao reforcam apenas as valores semanticos dos vocabulos e dos sintag-mas, mas que geram rnatizes semicos peculiares:

    Ao pe de mim respiras. No teu seio,como nas grutas Frias e sombriasos animais pintados adormecem,sereno seca urn amoroso veio.Urn ap6s outro hac-de secar-se os diasna teia tenue que das eras tecern.

    o ritmo constitui urn aspecto fundamental do texto literario e representa urndos factores que mais aproximam a literatura da miisica. 0 ritrno e , segundo adefinicao de Platao, a forma do movimento, urna relacao estruturaI que seestabelece entre uma serie de elementos, originando a sua repeticao e a suadistribuicao no tempo e marcando a sua duracao e a sua enfase. No textoliterario,o ritmo manifesta-se como ritmo f6nico, isto e , como urn fenomenode combinacao e repeticao de elementos da textura fonica, mas manifesta-setambern como ritmo de pensamento, au seja, como a recorrencia no discurso deelementos lexicais, sintacticos e semanticos. 0 ritmo de pensamento manifesta--se em fenomenos discursivos como 0 paralelismo, a refrao, 0 quiasmo, aanafora", a anadiplose, 0 leitmotiv, etc.

    1New York, 1951, p. 32

    , Utilizarnos aqui este terrnona accpcso que tern na rete-rica: repeticao da rncsmapalavra no inlcio de urnenunciado ou de urn versosucessivos. Na linguis tica dotcxto , 0 termo anafor adesigna urn deterrninado tipode referencia,

    17 5 u

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    16/20

    o poerna de Eugenio de Castro intitulado Quando a Morte vier. (Horas)possui urn ritrno de Iitania angustiosa, rnarcado pela reiteracao obsidiante deurn verso:

    Quando a Marte vier,Sera par uma madrugada palida ,..Quando a morte vier,Quero que estejas junto de rnim, medrosa e palida,Quando a Morte vier ...E serao bern comovidos nossos adeuses,Quando a Morte vier ...

    o ritmo do poema Litania Heroica (Poemas de Deus e do Diabo) de JoseRegie caracteriza-se por urn movimento de febril e dramatica exaltacao,funcionando as reiteracces e as acumulacoes como mecanismos configurado-res de urn discurso torrencialmente confessional, implorativo e autoflagelante:

    Entrem, entrem, os ventos, as chuveiros, as estreias,No palacio inabitadoSem tclnado, sem vidracas nas janelas '"Entrem as aves nocturnas,Os animais sem dono, as feras brutas,Os fantasmas peregrinos,E as lunaticos, as parias, os ladroes, as assassinos,Que t e rn olhos como furnas,Bocas mudas como grutas ...

    o ritmo da prosa de Herculano e profundamente distinto do ritmo da pros a deGarret. 0 ritrno da prosa de Raul Brandao e radicalmente diverso do ritmo daprosa de Aquilino Ribeiro. 0 ritmo e uma especie de respiracao do discurso,uma rmisica interior materializada na cadencia, no movimento, nas pausas enas inflexoes do disCUISO.As profundas relacoes entre a literatura e a musica manifestarn-se em muitostermos e conceitos da metalinguagem Iiteraria. Veja-se, por exemplo, a pala-vra canto, utilizada para designar a poesia em geral, 0 discurso poetico ou urnpoema concreto. N'Os Lusfadas, Camoes pede a s Tagides que the deem igualcanto aos feitos da famosa Igente vossa; diz a D. Sebastiao: dareis materia anunca ouvido canto; propoe-se cantar 0 peito ilustre lusitano, Fala-se damodulacao de urn tema e de variacoes sobre urn tema, 0 termo leitmotiv, quedesigna urn motivo que se reitera, com significado especial, num texto ou naobra total de urn escritor, provem da Iinguagern da musica. Era urn termoutilizado na Alemanha, no seculo XIX, para designar marcas caracteristicas damusica de Weber e, sobretudo, da musica de Wagner: areiteracao de uma fraseque sugere uma ideia, urn sentimento ou urn estado de alma, que identifiesurna personagem, que pressagia urn acontecimento, etc.Tanto a literatura como a musica sao artes temporais, isto e , artes cujos textostern urna existencia temporal, quer enquanto artefactos, enquanto sequencias

    17 6

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    17/20

    _~~\'"\(J,", ~'\\)

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    18/20

    mas cujas dissonancias eram a imagem tremulantedaquelas Iendas tenues que na vida,na minha e na dos outros, ou havia au faltavarn.Submersa catedral inacessivell Como perdoareiaquele memento em que do radio vieste,solene e vaga e grave, de sob as aguas quemarinhas me seriam meu destine perdido?Os acordes perpassam cristalinos sob urn fundo surdoque docemente ecoa .6 catedral de sons e de agual 6 musicasombria e luminosa! 6 vacua solidaotranquila! 6 agonia doce e calculada!

    7.3 Literatura e CinemaEntre a cinema -a setima arte surgida no final do seculo XIX - e aIiteratura existem relacoes multiplas e importantes.Tal como muitos textos pictoricos e musicais tern sido inspirados por textosIiterarios, assim tarnbem numerosos filmes tern sido extraidos ou adaptados detextos Iiterarios - sobretudo de romances, novelas e contos, mas tambem detragedias, comedias e dramas. 0 texto filrnico narra frequentemente umahistoria, uma sequencia de eventos ocorridos a determinadas personagensnum determinado espaco e nurn determinado tempo, e par isso mesmo 6 taofrequente e congenial a sua relacao intersemiotica com textos literarios nosquais tambern se narra ou se representa uma hist6ria. 0 cinema, tal como aliteratura e ao inves da pintura, e uma arte temporal e par isso mesmo apta aconstruir e comunicar historias, no seu fluir e nas suas transformacoes e naoapenas numa das suas situacoes au Dum dos seus estadios,Existem tambem, todavia, ligacoes muito interessantes do cinema com apoesia. 0 Surrealismo, por exemplo, expJorou as potencialidades oniricas,fantasticas e desrealizantes do texto filmico, desqualificando em contrapartidaa sua capacidade mimetico-realista de contar uma historia ou de reproduzirimageticamente a realidade quotidiana. Himes de Luis Bfinuel como Un chienandalou e L' ag e d'or constituem significativos exemplos da capacidade desugestao e irradiacao poeticas que 0 texto filmico possui.As relacoes entre 0cinema e a literatura nao se reduzem, porern, a derivacao detextos filmicos a partir de textos literarios. Pode ocorrer 0 fenorneno inverso,isto e , a producao de urn romance, de uma novela ou de urn conto porderivacao de urn filrne, como aconteceu corn a adaptacao a romance do filmede Godard intitulado A baut de souffle. Outras vezes, tern sido publicado 0guiao do filme, como texto para ser lido e fruido par um leitor. Algunsescritores tern cultivado um subgenero narrativo que se pcdera designar por

    178

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    19/20

    cine-romance e que se caracteriza por ccnstruir as persona gens, as situacoes eas eventos narratives ern conformidade com a gramatica do cinema, de talmodo que os seus textos se configuram como que pre-organizados para a suatranscodlficacao fllrnica. L ' annee der ni er e a Marienbad de Alain Robbe-Grillerconstitui Urn perfeito exernplo de cine-romance.Particularmente relevantes e dignas de rnencao sao as influencias que a tecnicae a gramatica do texto filmico tern exercido no texto narrative literario, Noromance dos anos trinta e quarenta do nosso seculo - aquele periodo queClaude-Edmonde Magny designou, no titulo de urn seu estudo bern con he-cido, como L'age du roman americain, (Paris, 1948) -, essa influenciarnanifestou-se na rejeicao da analise psicologica introspectiva das personagense na recusa de urn narrador omnisciente ao qual e conferida a capacidade detudo conhecer e de tudo explicar, desde a subjectividade das personagens e amotivacao psicologica e moral dos seus actos e cornportamentos ate aosmecanismos que regulam a vida social. A camara cinematografica ensinou aescritor de textos narratives a converter a Iocalizacao em estrita objectividadevisual. Tal como a carnara cinernatografica recolhe e fixa, se m comentarios einterpretacoes, os objectos, as coisas, a exterioridade, os movimentos e osaetas das personagens, assim Hemingway, por exemplo, em The Killers,constroi uma narrativa como que nao-narrada, uma narrativa como queentretecida e ordenada pela visao neutral de uma camara de filmar

  • 8/3/2019 Cap_7_-_Teoria_e_Metodologia_Literrias

    20/20

    \

    BIBLIOGRAFIA ACONSELHADA

    BOHN, Willard, The aesthetics of visual poetry; 1914-1928, Cambridge, CambridgeUniversity Press, 1986.

    BROWN, Calvin S.,Music and literature. A comparaison of the arts, Hanover- Londo n,University Press of New England, 2]987.

    eRA TMAN, Seymour, Story and discourse: Narrative structure infiction andfilm,Ithaca-London, Cornell University Press, 1978.

    GARCiA BERRIO, Antonio e Teresa Hernandez Fernandez, VI pictura poesis.Poe tic a d e! a rte visual, Madrid, Ed. Tecnos, 1988.

    GAUDREA ULT, Andre, Du Iitte ra ire a u filmique. Systeme du recit, Paris, MeridiensKlincksieck, 1988.

    HA GSTR UM, Jean H., The sister arts. The tradition of literary ptctorialtsm and englishpoetry from Dryden to Gray, Chicago-London, The University of ChicagoPress, 11987.

    JOST, Francois, L'oeil-camera. Entre film et roman, Lyon, Presses Universitaires deLyon, 1987.

    KRAMER, Lawrence, Music and poetry. The nineteenth century and after, Berkeley- Los Angeles - London, University of California Press, 1984.MITCHELL, W. J. T., Iconology. Image, text, ideology, Chicago-London, The Uni-

    versity of Chicago Press, 1986.MORRISSETTE, Bruce, Novel andfilm. Essays intwo genres, Chicago-London, The

    University of Chicago Press, 1985.POZZI, Giovanni, La parola dipinta, Milano, Adelphi, 1981.PRAZ, Mario, Mnemo sin e. P ara lle lo tra fa le tte ra tu ra e le a rti v isive , Milano, Monda-

    dori, 1971.SCOTT, David, Pictorialist poetics. Poetry and the visual arts in nineteenth-century

    France, Cambridge, Cambridge University Press, 1988.

    VANOYE, Francis, Recti ecrtt, recit filmique, Paris, CEDIC, 1979.

    STEINER, Wendy, The colors of rhetoric. Problems in the relations between modernliterature and painting, Chicago-London, The University of Chicago Press,1982.

    180