20
NEGóCIOS DOS FILHOS DOS RICOS Os descendentes de empresários e gestores bem sucedidos não dormem à sombra dos pais. Dentro ou fora dos impérios familiares, conheça os trilhos seguidos pela nova geração de 15 famílias: os Amorim, Azevedo, Soares dos Santos, Espírito Santo Salgado, Mello, Guedes, Champalimaud, Roquette,Silva Matos, Rebelo de Almeida, Fesht, Santo Amaro, Fino, Alves RIbeiro e Gaspar Texto Adriano Nobre, João F. Palma Ferreira, Margarida Cardoso, Sónia M. Lourenço e Helena C. Peralta / Fotos Nuno Fox CAPA 28 / Exame / março 2014

capa negócios dos filhos dos ricosforeigners.textovirtual.com/empresas-familiares/62/128419/artigo... · negócios dos filhos dos ricos Os descendentes de empresários e gestores

Embed Size (px)

Citation preview

negócios dos filhos dos ricos

Os descendentes de empresários e gestores bem sucedidos não dormem à sombra dos pais. Dentro ou fora dos impérios familiares, conheça os trilhos seguidos pela nova geração de 15 famílias: os Amorim, Azevedo, Soares dos Santos, Espírito Santo Salgado, Mello, Guedes, Champalimaud, Roquette,Silva Matos, Rebelo de Almeida, Fesht, Santo Amaro, Fino, Alves RIbeiro e GasparTexto Adriano Nobre, João F. Palma Ferreira, Margarida Cardoso, Sónia M. Lourenço e Helena C. Peralta / Fotos Nuno Fox

capa

28/Exame/março 2014

Foto

ge

tt

y im

ag

es

março 2014/Exame/29

Durante anos os negócios familiares eram, erradamente, vistos como sinónimo de má gestão, pouco profissionalismo e até nepo-tismo. Sobressaía em especial este último aspeto, já que os filhos dos empresários que iam trabalhar nos negócios paternos eram, muitas vezes, catalogados como uns incompetentes. Felizmente, aos poucos, a opinião pública começou a ver estas em-presas com outros olhos. Maria da Glória Ribeiro, fundadora e managing partner da firma de executive search Amrop, re-fere que “ os temos ‘má gestão’ e ‘à beira do desaparecimento’ já não se aplicam às empresas familiares. “Algumas das maio-res companhias do mundo são familiares e até podem ser cotadas, mantendo um núcleo duro de acionistas da família”, diz. Há estudos que mostram que estas sociedades, que representam 60% das empresas europeias e 40% a 60% do PIB dos Estados Unidos, têm inúmeras van-tagens. Demonstram estabilidade na ges-tão, pensam a longo prazo, os executivos estão mais próximos da tomada de decisão e preocupam-se em deixar um legado para as gerações vindouras.

Ora, para Maria da Glória Ribeiro, estes descendentes nem sempre têm as mesmas características genéticas dos pais, que fo-ram selfmade men, mas que, como são preparados para isso, têm a obrigação de corresponder às exigências. Esta especia-lista fala em dois modelos de famílias: as que preparam os descendentes para serem empresários empreendedores e as que os preparam para gestores das suas empre-sas ou fortunas, sendo representantes dos investidores. Em qualquer dos casos os fi-lhos têm de dar provase isso está a mudar a imagem dos “filhos do patrão”.

Marina Sá Borges, secretária-geral da Associação das Empresas Familiares, de-fende que “nas famílias patrimoniais – in-felizmente não em todas – as pessoas são educadas com maior grau de exigência”. Claro que há excepções. Mas hoje “os clãs têm todo o interesse em ir buscar talento e já nada passa para os filhos de mão-bei-jada”, diz. Contudo, há ainda que distin-guir a dimensão das sociedades: até aos 100 funcionários a atitude do proprietário é ainda muito omnipresente e omnipo-tente, não abrindo mão do poder absoluto.

OO mito de que a primeira geração constrói, a segunda mantêm e a terceira destrói, parece estar a cair por terra. Sangue novo, com mais qualificação, mais viajado e criativo está a procurar rejuvenescer os negócios dos seus antecessores. Herdar não significa gastar, mas tentar engrandecer. Esta é, pelo menos, a visão de alguns descendentes de empresários nacionais bem-sucedidos.

capa

30/Exame/março 2014

A partir deste patamar já há mais espaço para delegar, entrando sangue novo e com ele novas ideias. “Há já empresas familia-res que criam fundos para a educação dos seus descendentes”, refere.

Algumas preocupam-se em estabe-lecer protocolos familiares e a exigir um mínimo de cinco anos de experiência profissional externa para ingressar na empresa dos pais ou tios, como é o caso da Aveleda. Experiência internacional é também cada vez mais valorizada pelas empresas familiares. Conheça a seguir quais os descendentes que optaram por ficar nas sociedades dos pais e os que se-guiram caminhos autónomos.

Paula, empresária globalÉ uma das filhas do homem mais rico de Portugal. Na noite de 22 de janeiro, Paula Amorim – a primogénita –, foi a única re-presentante de uma sociedade detida por portugueses a ser premiada em Londres, na gala da IRF - International Financing Review. Promovida pela Thomson Reu-ters, a entrega dos prémios IFR de 2013 reuniu 1200 quadros de topo da banca de investimento na maior sala londrina, na Grosvenor House, em Park Lane. O galar-dão da IFR foi atribuído à holding Amorim Energia pela emissão de 400 milhões de euros de obrigações permutáveis em ações da Galp Energia. Como vice-presidente do Grupo Américo Amorim (GAA), Paula Amorim representou o acionista maioritá-rio da Amorim Energia, que, por sua vez, detém 38,34% da Galp Energia.

Longe vai o ano de 1992, em que Paula Amorim deu os seus primeiros passos no GAA, a “cabeça” dos negócios

Família AmorimPaula A partir da Fashion Clinic (na foto) ergueu um império na moda. É é vice-presidente do Grupo Américo Amorim (GAA)

Luísa Tem assento no GAA e é a única filha a integrar a administração da Corticeira Amorim

Marta Tem cargos no GAA e desempenha funções em outras empresas detidas pela família

Z

Foto

tia

go

mir

an

da

março 2014/Exame/31

individuais de Américo Amorim. Hoje, volvidos 22 anos, tem experiência firmada em seis áreas – da energia à cortiça, pas-sando pela floresta, sector financeiro, imobiliário e, sobretudo, pelo negócio dos bens de luxo. Tem o curso de Gestão Imobiliária, da ESAI - Escola Superior de Atividades Imobiliárias, mas foi ganhando experiência em cada área do GAA, embora a sua maior vocação seja a moda.

Marta está nos negócios da famíliaEmbora as suas duas irmãs, Marta e Luísa, também tenham cargos no GAA e desem-penhem funções em outras empresas de-tidas pela família, Paula destaca-se no número de negócios que acompanha. Ao todo tem 37 cargos de alta administração, dos quais seis vice-presidências, 26 cargos de administradora, três administrações únicas e duas gerências.

Conhece alguns dos maiores empre-sários mundiais, e move-se perfeitamente em mercados como o angolano e o brasi-leiro, sendo reconhecida pelos principais gestores da finança internacional. Aos poucos, quase sem ter dado por isso, foi entrando no mundo dos negócios e dei-xou de ser só uma das filhas de Amorim. Recusa abordar o tema da sucessão porque é uma questão que não é sequer falada na família. O seu pai, será sempre o patriarca, e quem decide os seus negócios. Paula participa na gestão do GAA, mas tem vida própria. Está divorciada e a sua máxima prioridade são os dois filhos, seguindo-se o apoio à família (aos pais) e os negócios.

Na moda, descreve com entusiasmo os projetos que quer desenvolver na Fashion Clinic – “alguns já amadureceram, outros estão a ser negociados e permanecem no segredo dos deuses, porque, em negócios, nunca se fala em nada antes de estar con-cretizado”, diz. No entanto reconhece que “tal como os espanhóis já mostraram que conseguiam erguer marcas fortes, os por-tugueses, com tradição no setor têxtil e na boa confeção, também podem criar mar-cas com produção própria, de prestígio, com bom design, a preços competitivos”, adianta. Falando à margem da Gala da IFR em Londres, a empresária deixa em aberto a possibilidade da sua marca Fashion Cli-nic vir a ter produção própria. Pela evo-lução deste negócio – tem duas lojas em

Lisboa, ambas na avenida da Liberdade, e uma no Porto, na avenida da Boavista – admite que a Fashion Clinic “está madura para um novo crescimento, e esse passo deverá ser dado em breve”.

Outro negócio de moda em que inves-tiu com entusiasmo foi a marca Tom Ford. Ele próprio foi o principal diretor criativo da Gucci. Trata-se de um projeto onde Paula controla 25% do capital, deixando ao ex-CEO da Gucci, Domenico De Sole uma participação de 11,25% e 63,75% à posição que o próprio Tom Ford conseguiu finan-ciar. A primeira loja de moda masculina de luxo da Tom Ford foi inaugurada em 2007, no número 845 da avenida Madison, em Nova Iorque. Em 2011 diversificou para a alta costura feminina e em 2013 a Tom Ford tinha o objetivo ter manter uma rede global com mais de 200 lojas em todo o mundo, com destaque para Hong Kong, Xangai e Pequim, Tóquio, Nova Deli, Seoul, Sidney, Dubai, Istambul, Moscovo, Berlim e Munique, Zurique, Milão e Roma, Monte-Carlo, Madrid e Marbella, Paris, Amesterdão, Londres, Los Angeles, Dal-las, Las Vegas, Toronto e Cidade do México.

No mesmo sentido, Paula apostou numa loja Gucci – para a qual firmou um contrato semelhante ao franchise – que “já se revelou um êxito em Lisboa”, diz. “Sabia que a marca Gucci tinha uma no-toriedade forte, mas não imaginava que a loja de Lisboa viria a ser a mais rentável de todas, segundo os parâmetros que a marca utiliza para as operações em franchising”, comentou, admitindo que “esse êxito deve--se ao crescimento do turismo em Lisboa,

um segmento que constitui parte signifi-cativa dos seus clientes”.

Luisa , a executiva apaixonada pelo DouroÉ a filha mais nova de Américo Amorim. Trabalhadora, empenhada, “muito fron-tal”, “uma verdadeira guerreira”, diz quem trabalha com ela, Luísa continua a ser uma “ilustre desconhecida” entre a população de Covas do Douro, onde a família com-prou, em 1999, a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. Mas não terá hesitado em mobilizar conhecimentos para mate-rializar a ideia de apoiar uma região que as estatísticas europeias colocam entre as 15 mais pobres da Europa, com “o índice médio do poder de compra 32 vezes infe-rior à média nacional”, como refere a apre-sentação da Bagos d´Ouro, instituição que criou para apoiar crianças carenciadas no percurso escolar, naquela região.

Aos 40 anos, é a única filha de Amé-rico Amorim a integrar a administração da Corticeira Amorim, onde entrou como vogal em 2013 depois de somar, desde 1998, passagens por todas as empresas do negócio familiar da cortiça. “Até fiz rolhas e escolhi cortiça na prancha”, disse ao Ex-presso, em 2010, quando apresentou no currículo um curso de Hotelaria e Mar-keting e alguma experiência internacional antes de encontrar no Douro “uma paixão” para a vida e assumir a direção geral da Quinta Nova, “de alma e coração”.

No mundo dos negócios, a Quinta, onde entrou em 2005, é o seu cartão de visita. São 120 hectares, 85 dos quais valorizados por vinhas da letra A, uma casa senhorial oitocentista transformada em hotel vínico, uma adega que a revista da companhia aérea American Airlines considerou “uma das nove adegas im-perdíveis do mundo” e um portfólio que abarca vinhos, tisanas, doces de fruta, mel e azeite. A produção anual de 300 mil garrafas gera um volume de negó-cios de dois milhões de euros, 50% do qual relativo à exportação para 25 países. Soma vários galardões internacionais na área do turismo e nos vinhos. O último foi a seleção dos tintos grandes reservas Mirabilis, Referência e Clássico de 2011 entre os “Best of 2013” da revista Wine Advocate, do conceituado crítico norte-americano Robert Parker.

Paula, Marta e Luísa estão na gestão do império Amorim. Paula é quem se move melhor em mercados como o angolano e o brasileiro

Z

Z

capa

32/Exame/março 2014

Descendentes de Belmiro têm poderDuarte Paulo, Maria Cláudia e Nuno Mi-guel são os filhos de Belmiro de Azevedo, quarto mais rico de Portugal, segundo a Exame, com fortuna de 1,2 mil milhões de euros. Herdeiros de um grupo que elegeu a cultura do mérito como imagem de marca, estudaram no estrangeiro, aprenderam com o pai a lição do rigor financeiro e ti-verem liberdade para escolher o caminho. Nem todos estão na Sonae.

Paulo é o homem Sonae, o mais co-nhecido. Na juventude, Paulo foi barman para ganhar uns trocos. Aos 16 anos geria o seu orçamento e nunca sentiu o impacto de ser herdeiro de um dos homens mais ri-cos do país. Numa entrevista ao Expresso, admitiu, no entanto, que “teve grande im-portância ser filho do maior empresário de Portugal. Tenho muitas dúvidas de que tivesse acabado gestor se não fosse filho dele, porque via a importância e o impacto das coisas que fazia”.

Detesta desperdícios, tal como o pai. Na vida privada, viveu dois anos sem televisão depois de mudar de casa e re-cusa fazer esqui na Suíça por considerar demasiado caro. Nos negócios, o filho do meio de Belmiro revolucionou a estratégia

da Sonae de forma a internacionalizar e expandir o grupo com capital light, sem grandes investimentos.

Para muitos, na Sonae, é visto como humilde, discreto, intuitivo, afável, traba-lhador, estratego, inteligente, ambicioso, competente, capaz de liderar equipas. Ele admite ter a estrutura de pensamento do pai. Aprendeu com ele a frugalidade, mas diz ter sido a mãe quem o tornou uma pes-soa relativamente tolerante.

Casado com uma alemã que conhe-ceu na Suíça, aos 47 anos, gosta de des-portos radicais, ténis e futebol. Coautor do livro “Reformar Portugal”, é membro do conselho geral da AEP, do Conselho de Fundadores da Casa da Música e do grupo “Compromisso Portugal”.

Construiu um sólido currículo acadé-mico entre Portugal, um colégio interno em Inglaterra e a Suíça, onde se licenciou em Engenharia Química na Escola Politéc-nica Federal de Lausana. O MBA foi feito na Escola de Gestão do Porto. Acumulou formação executiva em Harvard e Stan-ford. Aos 21 anos quis fazer uma televi-são. A opção por uma carreira de gestão na Sonae só foi tomada perto dos 30 anos e antes de suceder a Belmiro de Azevedo

na presidência do grupo foi analista e di-retor de projetos de investimento na Sonae Tecnologias de Informação, fundou a Op-timus, desempenhou funções executivas na Sonae Indústria, Modelo Continente e Sonae SGPS, presidiu à SonaeCom.

Na liderança do grupo Sonae, começou por estranhar o facto de ter de decidir o que era o seu próprio trabalho, mas rapi-damente passou a apreciar a oportunidade de ter tempo para refletir, pensar o futuro da empresa, a estratégia corporativa, pro-curando, sempre, o equilíbrio entre a ati-vidade de decisão, a prática e a atividade intelectual.

A irmã Claúdia, aluna exemplar, andou indecisa entre a biotecnologia e a gestão. Acabou por seguir o caminho que a podia levar aos negócios da família. Licenciou-se em gestão de empresas pela Universidade Católica Portuguesa, fez um MBA no IN-SEAD, em Fontainebleau, e iniciou a car-reira aos 24 anos, como gestora de produto do Banco Universo.

Desde então, percebeu que para um herdeiro conseguir um cargo nas empre-sas do grupo precisava de ter 25 % mais de mérito, mas foi subindo na hierarquia da Sonae. Administradora da SonaeCom

Foto

ru

i du

ar

te

sil

va

Foto

su

sa

na

ro

dr

igu

es

/ex

pr

es

so

34/Exame/março 2014

capa

e da ZonOptimus, foi chamada a suce-der ao pai na liderança da Sonae Capital. Tem ainda no currículo, a administração e reorganização do Público, um dos negó-cios mais problemáticas do grupo.

Tímida, “sorri pouco”, “não gosta de ouvir um não”, “é fã do humor dos Monty Phython”, diz quem a conhece. É a mais parecida com o pai “na fisionomia e no feitio”, repetem colegas. “Muito ligada à fa-mília”, revelou-se “uma rapariga comum, sem grandes rebeldias, que sente pelo pai uma enorme afeição”, disse Magalhães Pinto, biógrafo de Belmiro de Azevedo.

“Cláudia é, talvez, a mais parecida comigo, a que tem mais killer instinct”, admitiu o empresário num comentário so-bre os filhos publicado no livro “O Homem Sonae”.“Pelo menos, tento ser tão frontal como o meu pai. Acho que é uma virtude”, confessou Cláudia à Caras em 2010, no dia em que o jornal Público celebrou 20 anos.

No caso do filho mais velho, Nuno, o envolvimento com a Sonae durou 10 anos, mas mesmo fora do grupo Nuno tem se-guido o famoso “percurso em ziguezague”, defendido pelo pai. A prova-lo, está o ca-minho escolhido depois de deixar, há um ano, o cargo de Administrador Delegado

da Fundação Casa da Música: optou por um período sabático durante o qual se interessou pela história do monarquismo ibérico nos séculos XI e XII, é presidente do júri do prémio Partis da Gulbenkian, e está a colaborar na assessoria ao programa 25 anos do IPATIMUP.

Aos 14 anos foi para Inglaterra, onde acabou o secundário. Antes de ir para a Universidade Católica de Louvaine, onde se licenciou em Ciências Políticas e Rela-ções Internacionais, tirou um ano sabá-tico em que andou pela Alemanha, tra-balhou numa fábrica de máquinas e usou parte do primeiro salário para comprar uma estereofonia No regresso a Portugal, foi jornalista no Diário de Lisboa, então dirigido por Mário Mesquita, de quem tinha ficado amigo na Bélgica. A expe-riência durou um ano, tempo suficiente para Nuno se tornar o único jornalista português a cobrir a libertação de Nel-son Mandela da cadeia de Robben Island, após 28 anos de reclusão.

Seguiu-se o período Sonae. Foi diretor comercial da Modelo Continente, adminis-trador da Sonae SGPS, da Sonae Indústria e da Sonae Imobiliária, mas hoje mantém, apenas, uma ligação aos negócios da fa-

mília através da administração da Efanor. Paralelamente, soma ligações a institui-ções públicas de índole cultural e social, da Sociedade Porto 2001, à Fundação de Serralves e à Fundação Portugal - África. Envolveu-se em projetos no sector da edu-cação e do desenvolvimento territorial em Moçambique.

Aos 49 anos, acredita que uma socie-dade não se pode construir só com boas empresas e a cultura é um importante para ultrapassar a crise. Gosta de viajar, faz ciclismo, joga e vê futebol. Na Casa da Música fazia questão de ser um dos pri-meiros a chegar e cumprimentava todos.Quem trabalhou com ele diz que defende ao limite as suas posições, é curioso, in-terventivo, perfeccionista, profissional em tudo, mas também sabe divertir-se.

Na hora da saída, mostrou saber ser frontal, tal como o pai. Ao Expresso, disse na altura que dialogar com o Governo sobre a Casa da Música “foi pior do que embater num muro, porque é um muro que não quer ver a evidência do que está a ser colocado à frente” e “muitas das de-cisões tomadas em Portugal não são ver-dadeiramente pensadas, resultam de uma obediência cega aos ditames europeus”.

Clã AzevedoPaulo No cartão de cidadão é Duarte Paulo Teixeira de Azevedo, nasceu em 1965, casado, três filhos, intuitivo e frugal. É o presidente executivo do universo Sonae

Cláudia É casada com Miguel Barros, duas filhas. Nasceu em 1970. Administradora da SonaeCom e ZonOptimus foi chamada a liderar a Sonae Capital e é administradora do jornal Público

Nuno Nasceu em 1964, tem dois filhos e é um apaixonado pela história da Idade Média. Trabalhou dentro e fora do grupo, foi administrador delegado da Fundação Casa da Música. Vive agora um periodo sabático

Foto

Fil

ipe

pa

iva

/vis

ão

março 2014/Exame/35

Os Soares dos Santos unidos na sucessãoNa sucessão na liderança da Jerónimo Martins (JM), anunciada em 2013, a es-colha do filho Pedro Soares dos Santos para a presidência já era antecipada pelo mercado e pela família como natural.A opção foi consensual. A família de Ale-xandre Soares dos Santos (pai) apoiou de forma unânime a escolha de Pedro como representante da sociedade familiar – a Sociedade Francisco Manuel dos Santos (SFMS) – para presidir ao Conselho de Administração da JM. E os investidores e analistas sabiam que a anterior nomeação de Pedro, em 2010, para o cargo de admi-nistrador-delegado da empresa já tinha sido o preâmbulo deste desfecho.

Mas a tranquilidade deste processo não ocorreu por geração espontânea. Foi pre-parada. Dos sete filhos de Alexandre, Pe-dro, com 54 anos, foi aquele que na última década assumiu maior protagonismo, en-quanto rosto do sucesso da JM na Polónia, onde é líder de mercado com a Biedronka e de onde já provêm mais de 60% das re-ceitas globais da empresa portuguesa.

Foi depois dessa ‘aventura’ – que o levou a viver dois anos na Polónia e a aprender polaco – que o próprio Pedro assumiu o interesse em suceder ao pai na liderança da JM. Algo em que, diz, nunca tinha pensado desde que iniciou funções na empresa em 1983, na direção de ope-rações do Pingo Doce.

Para o pai, Alexandre, a solução foi a mais natural. O patriarca assume que ele e Pedro são “muito pouco diferentes” e que “mérito” foi essencial na escolha. “Nunca houve nesta empresa a discussão sobre ‘quem é que na família vai liderar’ a JM. Numa empresa desta dimensão, cotada em bolsa e com atividades em Portugal, na Polónia e na Colômbia, nem podia ser de outra maneira”, explicou à Exame em 2013, a propósito da escolha de Pedro para administrador-delegado.

Entre os filhos de Alexandre há mais dois com funções de topo em órgãos so-ciais da JM. José Soares dos Santos, nas-cido em 1962 e dois anos mais novo do que Pedro é, entre outros cargos, membro do Conselho de Administração e da Comissão de Governo da Sociedade e de Responsa-bilidade Corporativa. O filho mais velho, Francisco Soares dos Santos, nascido em

1958, é presidente da sub-holding JM – Restauração e Serviços. Ambos integram ainda o Conselho de Administração da SFMS, com a maioria de capital da JM.

Sobre os restantes filhos, a informação é quase inexistente. Rita, Teresa, Henrique e Maria não constam da documentação oficial da JM ou da Sociedade Francisco Manuel dos Santos como tendo cargos de topo. Sabe-se só, porque o próprio Alexan-dre Soares dos Santos já o revelou publica-mente, que todos os filhos passaram pelo IMD para se formarem no Global Family Business Center. E que decisões funda-mentais sobre o futuro da JM e sobre inves-timentos da sociedade familiar são objeto de discussão e ponderação entre todos.

Exemplo disso foi a reunião que Ale-xandre promoveu em 2013, em Vila Viçosa, para anunciar a decisão de deixar a presi-dência. Juntou toda a família, 80 pessoas, da sua geração até ao neto mais novo, de 15

Família Soares dos SantosPedro 54 anos, depois de ter sido o rosto da operação da Jerónimo Martins na Polónia, tornou-se o sucessor natural no império

José Dois anos mais novo do que Pedro, integra o Conselho de Administração e a Comissão de Governo da Sociedade e de Responsabilidade Corporativa

Francisco É o mais velho e é presidente da sub-holding JM – Restauração e Serviços

Foto

alb

er

to F

ria

s

caPa

36/Exame/março 2014

anos, para anunciar a decisão, apresentar a evolução da JM durante a sua liderança de 46 anos e debater o futuro. “Uma coisa que me agradou muito foi a ideia de que a JM não é para vender. Nunca será ven-dida”, disse ao Expresso, convicto de que o seu afastamento da liderança não poderá originar fissuras na coesão familiar.

“Nunca se pode dizer que não há. Mas neste momento não há. A preparação para a minha saída já vinha de alguns anos e foi feita com calma. O que é preciso é que a família continue a encontrar-se e que a informação circule. Esse é um problema comum em muitas famílias, mas que aqui está contemplado. Também foi debatido que o nome de uma casa se constrói todos os dias. E se destrói num dia. Há exemplos recentes noutras famílias”, disse.

O que fazem os filhos de Ricardo Salgado?Descendem de uma linhagem de ban-queiros, a família Espírito Santo. Cata-rina Amon Salgado, 43 anos, Ricardo do Espírito Santo Bastos Salgado, 41 anos, e José Ricardo Espírito Santo Bastos Salgado, 30 anos, os três filhos de Ricardo Salgado, presidente executivo do BES têm a finança no sangue. Tal como o negócio da família. Sinal disso, os três trabalham na área fi-nanceira do Grupo Espírito Santo. E há ou-tros pontos em comum: todos estudaram Ciências Económicas e começaram a car-reira em instituições financeiras globais.Catarina tinha quatro anos quando saiu de Portugal com a família, após a nacio-nalização da banca, em 1975. O destino foi o Brasil. Segue-se a Suíça, em 1982, onde prossegue a escola. É neste país que estuda ciências económicas (módulo gestão de empresas, com especialização em finan-ças), na prestigiada Ecole des Hautes Etu-des Commerciales (HEC), da Universidade de Lausanne. Em 1997 começa a trabalhar na UBS, na divisão de banca privada, e três anos mais tarde ingressa na Banque Privée Espírito Santo, que se dedica à gestão de fortunas. Desde 2008 faz parte do conse-lho de administração desta instituição do GES. É casada com o empresário Philippe Amon, cuja empresa de família, a Sicpa, fornece tintas de segurança para 90% das notas do mundo. Residem na Suíça, onde Catarina estuda piano no Conservatório de Lausanne, e têm três filhos: Alma, de sete

anos, Benjamin, de seis, e Clara, de três.O seu irmão, Ricardo estuda Economia, na Universidade de Charlottesville, na Virgi-nia, Estados Unidos. Em 1997 começa a trabalhar na Merrill Lynch, em Londres, no Reino Unido, como analista no Finan-cial Institutions Group. Um ano depois regressa a Lisboa e ingressa no Banco Es-pírito Santo. Começa por baixo, como téc-nico administrativo no departamento de grandes empresas, após estagiar no balcão da Praça de Londres. Depois, foi subindo: foi subdiretor da sala de mercados; dire-tor do centro de empresas de Setúbal; e diretor do centro de empresas do Salda-nha. Desde 2008 é diretor-coordenador do departamento de corporate banking e da Unidade Internacional Premium, sendo responsável por grandes empresas e multinacionais e apoio à internacionali-zação das empresas lusas. Casado com Rita Bustorff de Sousa Tavares, filha do escritor Miguel Sousa Tavares, tem três filhos.José Ricardo é o mais novo. Estudou eco-nomia, na Universidade Nova de Lisboa, fazendo um ano na HEC, Suíça, através do programa Erasmus. Em 2006 ingressou na JP Morgan, começando a trabalhar na banca de investimento. Dividiu-se entre o escritório de Londres e Madrid até 2009, quando voltou a Lisboa e entrou na ESAF – Espírito Santo Ativos Financeiros (GES). Desde 2012 está na equipa de banca pri-vada do BES, em Madrid. Praticou Muay Thai (arte marcial) e adora velejar desde os 14 anos, chegando aos campeonatos nacionais e ibéricos em 2002 e 2009, na classe Dragão. É casado, sem filhos.

Herdeiros Mello seguem vida própriaA geração mais nova da família Guimarães José de Mello segue caminhos que não se cruzam com as empresas do seu grupo. Até à data, os quatro filhos de Vasco de Mello não mostraram apetência por traba-lhar na Brisa (onde o grupo controla 52,8% do capital), nem na química da CUF, nos hospitais e residências de terceira idade da José de Mello Saúde, no setor da energia da Efacec, e tão pouco na área imobiliá-ria. Mas isso não significa que no futuro não venham a encarar essa hipótese. Se tomarem essa decisão, sabem que terão de enfrentar desafios, sobretudo se algum dos quatro quiser seguir o rumo paterno, “concorrendo” à liderança do Grupo do José de Mello, hoje presidido por Vasco de Mello. Ainda no tempo do patriarca José Manuel de Mello, pai de Vasco, foi criado um modelo de organização transparente que facilitará a sucessão dentro da famí-lia. Este modelo segue as regras de um Protocolo Familiar, cujo cumprimento é acompanhado no âmbito do Conselho da Família José de Mello. Desta forma, todos os membros da família estão vinculados às mesmas regras – que explicitaram inclu-sive os procedimentos mais elementares. Por exemplo, até para seguirem uma car-reira profissional dentro do grupo serão submetidos a uma triagem e só podem assumir cargos se tiverem mérito e se hou-ver lugar vago. Mas antes de entrarem no grupo, todos terão de preencher requisitos básicos onde figuram a formação acadé-mica, uma experiência profissional mí-nima de cinco anos fora do grupo – com “bom desempenho” – e, ainda ter mais de 27 anos. Pela idade, apenas um dos quatro filhos de Vasco está fora destes critérios: Martim, que ainda só tem 23 anos e estuda Engenharia no Instituto Superior Técnico, pratica ténis e é um fiel sportinguista. A terceira filha, Diana, seguiu a carreira da comunicação e pertence aos quadros da Portugal Telecom, dedicando o tempo livre ao hipismo. A segunda filha, Teresa Maria vive no Rio de Janeiro, onde o marido, Mi-guel Garcia, desempenha o cargo de “nú-mero dois” na gestão do Hotel Copacabana Palace. Quanto à filha primogénita, Ma-falda, é casada com Rui Guerreiro Pereira, segue a sua carreira na Cruz Vermelha, sendo licenciada em Gestão.

Os Espírito Santo SalgadoCatarina, Ricardo e José Ricardo Os três trabalham na área financeira do Grupo Espírito Santo

Clã Guimarães José de MelloMartim, Diana, Teresa e Mafalda seguem trilhos fora do império familiar, mas só Martim ainda não tem 27 anos, a idade exigida para poder entrar no grupo

março 2014/Exame/37

Na Aveleda Vinhos SA não entra quem quer, apenas porque é da família. Há um protocolo a seguir, importante para de-fender os interesses da companhia, logo de todo o clã. Na mão da mesma estirpe desde 1870, a quinta geração está já a en-trar nos negócios. A holding Fernando e Irmãos SGPS, que detém a Aveleda SA e o Zoo Santo Inácio, é propriedade de Fer-nando, Luís, António, Maria Isabel, Maria Helena e Roberto, bisnetos do fundador, Manuel Pedro Guedes da Silva Fonseca. Apesar de serem 14 os filhos dos proprie-tários, apenas quatro estão a trabalhar nos negócios da holding e a sua entrada não foi facilitada.

António Azevedo Guedes, 36 anos, fi-lho de António Guedes, 76 anos, atual CEO, é administrador com o pelouro das áreas

de viticultura, enologia, produção e pe-cuária. São quatro os filhos do presidente, mas apenas este trabalha ao lado do pai. Licenciado em Engenharia Agrícola pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, não sabia muito bem o que pretendia seguir quando terminou o estágio. Acabou por ir para fora do país, em 1998. Estudou e trabalhou em Montpel-lier, onde fez uma pós-graduação em viti-cultura e enologia, tendo logo de seguida estagiado quatro meses em Bordéus. Em 2000 ingressa na Aveleda para um estágio entre Janeiro e Agosto e regressa à cidade francesa após esta experiência para apro-fundar os conhecimentos na área indus-trial. “Queria aprender mais sobre como fazer vinhos de qualidade”, diz. Entrou na Aveleda em 2002, ao abrigo do Z

Família GuedesMartim Tem 35 anos e é administrador financeiro, comercial e marketing na Aveleda Vinhos. É filho de Roberto Guedes, que gere o grupo com António Guedes (ao meio na foto).

Teresa Engenheira Zootécnica, lidera o Zoo Santo Inácio. Tem 31 anos e é irmã de Martim. Na foto recebe o abraço do tio, António, 76 anos, CEO na Aveleda Vinhos

Francisco 32 anos, filho de Maria Helena, ingressou no grupo em 2006 para o marketing, após ganhar experiência fora do grupo

António 36 anos, filho de António, é administrador com o pelouro da viticultura, enologia e pecuária

38/Exame/março 2014

cApA

protocolo familiar, já com a devida ex-periência profissional e pronto a contribuir com inovação na sua área. “Antes de vir, falei com o pai, tios e irmãos sobre a mi-nha entrada e gostei de ouvir o que toda a família tinha a dizer. Comecei como res-ponsável pela área de viticultura e passei depois a administrador”, relembra. Sente que a geração mais jovem contribui com novas ideias, uma linguagem mais mo-derna, sempre num sentido construtivo, devido à educação que tiveram. “Somos de uma família tradicional, onde nos foram passados bons valores. O dinheiro não era central, era apenas uma ferramenta para lutarmos”, afirma. Vive no Porto e trabalha na Quinta da Aveleda, em Penafiel, e diz adorar o que faz. “Sou muito irrequieto, gosto de melhorar continuamente. Somos uma boa equipa e queremos deixar esta empresa melhor”, remata.

Já Martim Guedes, 35 anos, filho de Roberto Guedes, que gere a empresa com António, soube sempre muito bem o que queria ser. “Iniciei o meu primeiro negó-cio aos nove anos, com um sócio, e juntos vendíamos brigadeiros na escola”, graceja. Seguiu Gestão e Finanças, no ISCEF do

Porto, sentindo-se sempre inclinado para mercados financeiros. O seu primeiro emprego, após acabar o curso, em 2000, foi na banca. Esteve dois anos no Central Banco de Investimento, na área de acon-selhamento financeiro e comercial, e em 2002 fez as malas para Lisboa e abraçou novo desafio profissional no BPI Fundos. Saiu em 2006 para entrar nos negócios da família. A sua chegada à Aveleda foi pre-parada com antecedência, tendo iniciado as conversas com o pai e o tio quase um ano antes. Tudo foi bastante planeado:

apresentou as suas intenções ao conselho familiar e optou por ir estudar um ano para Barcelona. “Tirei um MBA em Mar-keting, pois era a área mais necessitada, e redirecionei a minha carreira. Hoje iden-tifico-me completamente com este negó-cio”, explica. Foi exigente, confessa, mas também foi sendo preparado para esse grau de exigência. Martim é agora admi-nistrador com responsabilidade nas áreas de controlo de gestão, administrativa e fi-nanceira, marketing e comercial.

A sua irmã mais nova, Teresa, tem ape-nas 31 anos mas já tem responsabilidades a seu cargo. Desde que nasceu convive com a terra e a natureza, e optou por seguir en-genharia zootécnica. A família do lado Van Zeller tinha uma quinta em Avintes, Vila Nova de Gaia, e foi assim que surgiu, em 2000, o Zoo Santo Inácio, o maior parque zoológico da zona norte, data que coincide com a sua entrada na universidade. Em 2006, Teresa aventura-se no negócio da família, cheia de sonhos. Um deles era fa-zer crescer o projeto, que conta atualmente com mais de 110 mil visitantes que procu-ram conhecer os cerca de 1000 animais, de 300 espécies, e usufruir de uma área de

Z Os novos ChampalimaudDuarte Tem 37 anos e, tal como Ana e Tomás (na foto) estão juntos no negócio do pai, Manuel Champalimaud, a holding Gestmin.

Ana Foi a mais resistente aos negócios do pai, casada, 35 anos. Ex-designer gráfica, rendeu-se

Tomás Tem 32 anos, é solteiro e queria ser polícia, mas acabou por se licenciar em Direiro e sonha ser empresário por conta própria

40/Exame/março 2014

cApA

sete hectares de jardins e bosque. “O meu pai era diretor do zoo e eu entrei como diretora-adjunta. Era ainda uma miúda, mas o apoio do meu pai foi fundamental. Acredito que ainda posso contribuir muito para o crescimento do zoo”, diz.

Francisco Guedes de Almeida, 32 anos, filho de Maria Helena, é o mais viajado dos quatro primos. Com um pai diplomata, habitou-se a viver um pouco por todo o mundo, onde aprendeu cinco idiomas. Em Portugal estudou no Liceu Francês, em Lisboa, e fez uma licenciatura em Co-municação Social, na Universidade Cató-lica. Fez Erasmus em Roma e um estágio na Rádio Vaticano. Quando voltou fez um estágio na agência de publicidade Ogilvy mas o mundo dos vinhos atraía-o. “Desde os 16 anos que participava ativamente nas reuniões familiares em que se discutia a gestão da Quinta da Aveleda, e aos 23 anos já desejava fazer parte da empresa”, relembra. Porém, o protocolo familiar era exigente, obrigava a uma experiência fora e teria de haver vaga para isso. Decidiu então aprofundar conhecimentos nesta área e foi fazer um mestrado em Gestão Vitivinícola, o Wine Management da OIV – Organização

Internacional do Vinho e da Vinha, o que lhe permitiu visitar mais de 20 países pro-dutores de vinho. Dois anos de mestrado e dois meses de estágio na famosa adega italiana Zonin, valeram-lhe um bilhete de entrada na Aveleda. Apresentou as suas ideias à família e ingressou, em janeiro de 2006, para a área do marketing. Rebran-ding, representações em feiras, aposta no mercado americano, onde viveu durante um ano, tudo passou pela sua mão. Hoje tem a seu cargo a área turística, pois a aposta no enoturismo é fundamental.

“Recebemos cerca de 12 mil visitantes por ano. Temos jardins fabulosos, com as suas famosas estátuas, as follies, plantas raras – temos grupos especializados para virem visitar a nossa flora – e hectares de vinha”, refere Francisco.

A descendência de ChampalimaudDuarte, 37 anos, é filho de Manuel Cham-palimaud, 67 anos, e é talvez um dos ne-tos mais empreendedores do conceituado empresário nacional, António Champali-maud, falecido em 2004. São seis os des-cendentes do terceiro filho do bilionário português, mas apenas três estão ligados ao negócio do pai, a holding Gestmin, que controla a Oni, a Oz Energia, o Porto de Leixões e gere a participação na REN.

Apesar de ser filho de um dos homens mais ricos do país - os pais eram divor-ciados e sempre viveu com a mãe – a sua existência era bastante simples. Ele e os dois irmãos, Ana e Tomás, estudaram em escolas públicas e habituaram-se a uma vida austera. “Nunca nos faltou nada, mas tudo o que tínhamos era uma conquista nossa. Um dos maiores ensinamentos do nosso pai foi não nos ter estragado Z

A união dos RoquetteRita Rendeu-se à cultura do vinho graças ao pai, Jorge (na foto), dono da Quinta do Crasto. Hoje Ana lidera o projecto Roquette & Cazes

Tomás 43 anos, confessa que “ há vantagens e desvantagens em trabalhar com o pai”, mas “é uma grande escola”.

março 2014/Exame/41

financeiramente”, refere Duarte. Sabia que para entrar nos negócios da família teria de ter formação superior e ter expe-riência internacional. Por isso, aos 18 anos partiu para a Universidade de Kingston em Londres onde fez o curso de Engenharia Mecânica. Passados cinco anos, pediu ao avô para o receber como estagiário numa das suas fábricas de cimentos e aí se aguentou um ano, sem nunca ter grande proximidade com o avô. Casou aos 24 anos com uma espanhola, e como o casal não tinha grandes ligações ao país, pegam na bagagem e rumam a Barcelona. Não ti-nha emprego mas conseguiu instalar-se numa empresa de barcos de luxo, onde reiniciou o seu percurso profissional. Regressou três anos depois a Portugal, quando o pai o convidou a fazer parte do negócio familiar, onde esteve como executivo entre 2005 e 2010. Em 2009 sofreu um grave acidente de mota e pas-sou imenso tempo no hospital, o que o fez parar para pensar que gostaria de ter um negócio seu. Foi em busca de felicidade, como diz, que avançou com um projeto ligado à área da saúde, o ConsultaClick. “Como doente, senti a necessidade de um serviço que permitisse conciliar marca-ção de consultas, exames, tratamentos. Surgiu assim a ideia”, explica. Trata-se de um sistema informático, baseado na Internet, que torna mais eficiente, aces-sível e rápido o processo de encontrar e marcar uma consulta médica. Abdicou da estabilidade financeira, hipotecou a casa e financiou o projeto, onde entrou como sócio maioritário. A plataforma dispõe de dois mil médicos e tem mais de 12 mil pacientes registados. “Depois de ter saído da empresa do pai, senti maior respeito e maior confiança da parte dele”, afirma.

Tomás Champalimaud, de apenas 32 anos, solteiro, queria ser polícia. “Con-tinuo com um fascínio, sobretudo por aqueles que fazem a investigação de cri-mes de ‘colarinho branco’”, relembra. Mas estudou Direito na Universidade Lusíada e Direito Financeiro e Fiscal na Faculdade de Direito de Lisboa. Diz que foi educado para escolher o caminho que entendesse, com total liberdade para seguir a sua vocação, que acabou por encontrar na advocacia. “Ao contrário do que se possa pensar, não cresci com disponibilidade financeira. O

meu pai e a minha mãe asseguravam que não me faltava nada, mas nunca me pro-porcionaram extravagâncias. Tudo o resto foi através da ‘meritocracia’”, revela. Está ligado aos negócios do pai, mas, tal como o irmão, sonha criar um negócio seu. “Te-nho essa vontade, mas não sei se tenho veia; não sou iluminado como alguns jovens que vendem ideias brilhantes por milhões”, graceja. Para já, no horizonte está a realização de um MBA e adquirir a experiência necessária para que mais tarde se lance noutros voos.

Ana, 35 anos, casada e com dois filhos, foi talvez a mais resistente aos negócios do pai. Tirou o curso de Designer Gráfica em Barcelona e trabalhou nessa área, em Lisboa, durante seis anos. Desejava criar, ser puramente designer, mas acabava por ter mais funções de gestão, na direção de projetos, do que na área criativa. Com o intuito de incutir mais responsabilidade aos seus filhos, o pai começou, aos poucos, a envolvê-la nos negócios, como acionista. E, em 2010, pediu-lhe para representar a família junto da Silos de Leixões, uma das empresas da holding, como gerente não executiva. Seguiu então para o Porto e acabou por gostar bastante do negócio. “Apesar de ser um mundo muito mascu-lino, nunca senti o ambiente hostil. De início percebia pouco do assunto, mas, como sou curiosa e nunca me coibi de fa-zer perguntas, fui aprendendo”, refere Ana Champalimaud. Os três irmãos sentem-se bastante ligados aos negócios do pai.

Roquettes unidos na produção de vinhoA Quinta do Crasto, onde são produzidos vinhos de mesa, vinhos do Porto e azeite, é propriedade da família de Leonor e Jorge Roquette há mais de um século. Situada na margem direita do rio Douro, entre a Ré-gua e Pinhão, a propriedade de 130 hectares tem cerca de 70 deles ocupados por vinhas. No negócio familiar estão já os filhos de Ro-quette: Rita, 49 anos, Miguel, 46 e Tomás, 43. Eram ainda crianças, entre os 5 e os 11 anos, quando, após o 25 de Abril, a família embarcou para o Brasil, tal como o tio José Roquette, também ele atualmente dono de uma marca de vinhos conceituada, o Esporão.

Tomás Roquette recorda que o pai re-gressou a Portugal em 1981, para fundar o BPI com Artur Santos Silva. Nessa altura não exploravam ainda a quinta de uma forma profissional, embora todos gos-tassem de lá passar algum tempo. Jorge Roquette e Leonor começaram, então, a comprar gradualmente as participações da família mais dispersa, detendo hoje cerca de 90% da propriedade da sociedade agrícola. Tomás, atualmente seu adminis-trador, tirou uma licenciatura em Marke-ting na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, e seguiu para Oxford com o objetivo de aprender inglês, onde reforçou a sua formação com outro curso na sua área. “Quando regressei, e comecei a trabalhar na quinta, disseram-me: o menino não se aguenta cá seis meses. Foi muito duro, mas aguentei até hoje”, graceja. Afirma que foi um percurso com altos e baixos, mas feito com o coração e hoje não se imagina a trabalhar em outra área que não

Z

Z

No negócio familiar dos Roquette estão já os filhos Rita, de 49 anos, Miguel, de 46, e Tomás, de 43. A Quinta do Crasto é propriedade da família há mais de um século

Os Silva MatosPedro Tem 40 anos. Na foto, ao lado esquerdo da mãe Edite, e do pai Adelino, reunidos na metalomecânica A. Silva Matos em Sever do Vouga. É CEO da ASM Equipments, que integra o grupo

Cláudia Licenciada em Engenharia e Gestão industrial, 42 anos, é responsável na ASM Metal, empresa do grupo familiar

Adelino 31 anos e é o responsável pela área de energias renováveis

CAPA

42/Exame/março 2014

financeiramente”, refere Duarte. Sabia que para entrar nos negócios da família teria de ter formação superior e ter expe-riência internacional. Por isso, aos 18 anos partiu para a Universidade de Kingston em Londres onde fez o curso de Engenharia Mecânica. Passados cinco anos, pediu ao avô para o receber como estagiário numa das suas fábricas de cimentos e aí se aguentou um ano, sem nunca ter grande proximidade com o avô. Casou aos 24 anos com uma espanhola, e como o casal não tinha grandes ligações ao país, pegam na bagagem e rumam a Barcelona. Não ti-nha emprego mas conseguiu instalar-se numa empresa de barcos de luxo, onde reiniciou o seu percurso profissional. Regressou três anos depois a Portugal, quando o pai o convidou a fazer parte do negócio familiar, onde esteve como executivo entre 2005 e 2010. Em 2009 sofreu um grave acidente de mota e pas-sou imenso tempo no hospital, o que o fez parar para pensar que gostaria de ter um negócio seu. Foi em busca de felicidade, como diz, que avançou com um projeto ligado à área da saúde, o ConsultaClick. “Como doente, senti a necessidade de um serviço que permitisse conciliar marca-ção de consultas, exames, tratamentos. Surgiu assim a ideia”, explica. Trata-se de um sistema informático, baseado na Internet, que torna mais eficiente, aces-sível e rápido o processo de encontrar e marcar uma consulta médica. Abdicou da estabilidade financeira, hipotecou a casa e financiou o projeto, onde entrou como sócio maioritário. A plataforma dispõe de dois mil médicos e tem mais de 12 mil pacientes registados. “Depois de ter saído da empresa do pai, senti maior respeito e maior confiança da parte dele”, afirma.

Tomás Champalimaud, de apenas 32 anos, solteiro, queria ser polícia. “Con-tinuo com um fascínio, sobretudo por aqueles que fazem a investigação de cri-mes de ‘colarinho branco’”, relembra. Mas estudou Direito na Universidade Lusíada e Direito Financeiro e Fiscal na Faculdade de Direito de Lisboa. Diz que foi educado para escolher o caminho que entendesse, com total liberdade para seguir a sua vocação, que acabou por encontrar na advocacia. “Ao contrário do que se possa pensar, não cresci com disponibilidade financeira. O

meu pai e a minha mãe asseguravam que não me faltava nada, mas nunca me pro-porcionaram extravagâncias. Tudo o resto foi através da ‘meritocracia’”, revela. Está ligado aos negócios do pai, mas, tal como o irmão, sonha criar um negócio seu. “Te-nho essa vontade, mas não sei se tenho veia; não sou iluminado como alguns jovens que vendem ideias brilhantes por milhões”, graceja. Para já, no horizonte está a realização de um MBA e adquirir a experiência necessária para que mais tarde se lance noutros voos.

Ana, 35 anos, casada e com dois filhos, foi talvez a mais resistente aos negócios do pai. Tirou o curso de Designer Gráfica em Barcelona e trabalhou nessa área, em Lisboa, durante seis anos. Desejava criar, ser puramente designer, mas acabava por ter mais funções de gestão, na direção de projetos, do que na área criativa. Com o intuito de incutir mais responsabilidade aos seus filhos, o pai começou, aos poucos, a envolvê-la nos negócios, como acionista. E, em 2010, pediu-lhe para representar a família junto da Silos de Leixões, uma das empresas da holding, como gerente não executiva. Seguiu então para o Porto e acabou por gostar bastante do negócio. “Apesar de ser um mundo muito mascu-lino, nunca senti o ambiente hostil. De início percebia pouco do assunto, mas, como sou curiosa e nunca me coibi de fa-zer perguntas, fui aprendendo”, refere Ana Champalimaud. Os três irmãos sentem-se bastante ligados aos negócios do pai.

Roquettes unidos na produção de vinhoA Quinta do Crasto, onde são produzidos vinhos de mesa, vinhos do Porto e azeite, é propriedade da família de Leonor e Jorge Roquette há mais de um século. Situada na margem direita do rio Douro, entre a Ré-gua e Pinhão, a propriedade de 130 hectares tem cerca de 70 deles ocupados por vinhas. No negócio familiar estão já os filhos de Ro-quette: Rita, 49 anos, Miguel, 46 e Tomás, 43. Eram ainda crianças, entre os 5 e os 11 anos, quando, após o 25 de Abril, a família embarcou para o Brasil, tal como o tio José Roquette, também ele atualmente dono de uma marca de vinhos conceituada, o Esporão.

Tomás Roquette recorda que o pai re-gressou a Portugal em 1981, para fundar o BPI com Artur Santos Silva. Nessa altura não exploravam ainda a quinta de uma forma profissional, embora todos gos-tassem de lá passar algum tempo. Jorge Roquette e Leonor começaram, então, a comprar gradualmente as participações da família mais dispersa, detendo hoje cerca de 90% da propriedade da sociedade agrícola. Tomás, atualmente seu adminis-trador, tirou uma licenciatura em Marke-ting na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, e seguiu para Oxford com o objetivo de aprender inglês, onde reforçou a sua formação com outro curso na sua área. “Quando regressei, e comecei a trabalhar na quinta, disseram-me: o menino não se aguenta cá seis meses. Foi muito duro, mas aguentei até hoje”, graceja. Afirma que foi um percurso com altos e baixos, mas feito com o coração e hoje não se imagina a trabalhar em outra área que não

Z

Z

No negócio familiar dos Roquette estão já os filhos Rita, de 49 anos, Miguel, de 46, e Tomás, de 43. A Quinta do Crasto é propriedade da família há mais de um século

Os Silva MatosPedro Tem 40 anos. Na foto, ao lado esquerdo da mãe Edite, e do pai Adelino, reunidos na metalomecânica A. Silva Matos em Sever do Vouga. É CEO da ASM Equipments, que integra o grupo

Cláudia Licenciada em Engenharia e Gestão industrial, 42 anos, é responsável na ASM Metal, empresa do grupo familiar

Adelino 31 anos e é o responsável pela área de energias renováveis

CAPA

42/Exame/março 2014

março 2014/Exame/43

esta. “Há vantagens e desvantagens em trabalhar com o pai, é uma grande escola. Vejo no meu pai o meu mentor”, conclui.

Já Miguel Roquette passou por outras experiências profissionais, na área viní-cola, antes de ingressar nos negócios pa-ternos. Estudou marketing e estagiou du-rante 10 meses na Sogrape, onde trabalhou com a Casa Ferreirinha e depois com os vinhos verdes. Seguiu-se um estágio na Quinta do Noval, onde trabalhava com Cristiano Van Zeller. Quando a quinta foi vendida a uma seguradora francesa saiu e foi para a Califórnia onde fez um curso de pós-graduação em Comunicação e Mar-keting. Entrou, como diz, pacificamente no negócio familiar, instalando-se na área do marketing. “Nunca senti pressão para trabalhar com o meu pai, mas o Douro es-tá-me no sangue, pelo que não foi difícil tomar essa decisão.”, diz.

Rita tinha 18 anos quando o pai re-gressou a Portugal e foi um choque muito grande deixar o Brasil para trás. Por isso, contrariada, optou por seguir para Ingla-terra à aventura, onde ainda esteve dois anos. Foi aí que conheceu o marido. De volta ao Porto, fez um curso de Adminis-tração e Turismo, mas dedicou-se à cozi-nha. Abriu, com mais duas sócias, um take away - pronto a comer e congelado – na zona da Foz, que ainda hoje existe. Foram 18 anos dedicados a esta sua paixão, com muito trabalho à mistura, até que chegou o momento de mudar. “Estava muito ligada ao restaurante, mas quando o meu pai me convidou para o projeto Roquette & Cazes, uma união entre a Quinta do Crasto e Jean Michel Cazes, do Chateau Lynch-Bages, achei que ia gostar do desafio. Vendemos o espaço e hoje estou muito contente com o que faço”, diz Rita Roquette.

Clã Silva Matos optou por trabalhar com o paiTambém na família de Edite e Adelino Silva Matos, de Sever do Vouga, distrito de Aveiro, todos os descendentes optaram por seguir o caminho dos negócios familia-res. Adelino confessa mesmo que chegou a pensar ter um parceiro exterior, ou até mesmo vender as empresas, caso os filhos não lhe dessem continuidade. “Hoje peço a Deus que os ilumine, para se manterem juntos, aproveitando as sinergias de cada um”. A metalomecânica A. Silva Matos

nasceu com o foco nas indústrias alimen-tar, química e farmacêutica, mas foi à bo-leia do sector energético que mais cresceu além-fronteiras, onde já realiza cerca de 55% do seu volume de negócios. É com-posta por seis empresas industriais, que se dividem em três unidades de negócio. Fabricam essencialmente três produtos-estrela: tanques de gás, sendo líder euro-peu neste segmento, cisternas rodoviárias e torres eólicas.

São três os descendentes deste clã: Cláudia, 42 anos, Pedro, 40 e Adelino, 31, todos a trabalhar no grupo de empresas A. Silva Matos. Adelino Silva Matos explica como os filhos se foram integrando nos negócios: “Cláudia fazia, voluntariamente

as férias da telefonista e outros trabalhos administrativos; Pedro aprendeu a sol-dar, a trabalhar com várias máquinas e até fazia porta-lápis em aço inoxidável, que depois vendia. O Adelino, uns anos mais novo, já nasceu com a obra em mo-vimento, com outra visão, mas sempre o imaginei a trabalhar connosco”.

Cláudia Matos Pinheiro, a mais ve-lha, licenciou-se em Engenharia e Gestão Industrial na Universidade de Aveiro e realizou posteriormente um MBA em En-genharia Comercial e de Gestão. É atual-mente responsável pela área mais tradi-cional do grupo, a ASM Metal. Afirma que foi um caminho que escolheu de forma independente, por gosto pessoal e não por influência familiar. “Desde pequena que trabalhava na empresa durante as férias. Quando estava no último ano da universidade, decorreu um grande pro-jeto de reengenharia numa das empresas e os meus pais convidaram-me para par-ticipar. Deste modo, fui-me envolvendo no grupo, pelo que, quando terminei o curso, a continuidade foi natural”, afirma. Relembra que os avós esforçaram-se muito para pagarem um curso superior aos seus pais e que eles sempre valorizaram este facto, dizendo-lhe que este era o maior legado que lhe poderia deixar. “Fui edu-cada com a premissa de que sem trabalho nada acontece e é essa a máxima que tento também passar aos meus filhos”.

Pedro Matos, 40 anos, desde criança que se ajeitava para reparar os eletrodo-mésticos lá de casa. Foi, talvez por isso, que achou que o curso de Engenharia Mecânica, na Faculdade de Engenharia do Porto, seria o mais acertado para o seu futuro profissional. Um MBA em Finanças veio completar a sua formação, ajudand-o-o a ser mais forte nas áreas de gestão de topo, que hoje ocupa, como CEO da ASM Equipments. “Entrar nos negócios da família foi juntar o útil ao agradável. Eu já tinha jeito, gostava de construção mecâ-nica e felizmente os negócios da família eram nesta área. Mas existiu sempre, ao longo dos meus estudos, quer direta quer indiretamente, a influência da família e dos seus negócios, pois procurei desen-volver projetos práticos tendo por base os produtos fabricados nas empresas do grupo”. Define-se como tendo um espirito

Z

A dupla Rebelo de AlmeidaJoana Não faz carreira no grupo Vila Galé, do pai Jorge Rebelo de Almeida. É médica e tem 32 anos

Gonçalo Trabalha com o pai desde os 14 anos. Aos 39 anos é líder da área de marketing e vendas

Capa

44/Exame/março 2014

empreendedor, com capacidade, predis-posição e dedicação para gerir o risco as-sociado. “Já criei quatro novas empresas dentro do grupo, todas elas dedicadas às construções metálicas - duas em Portugal e duas no estrangeiro”, conta. Apesar de ter começado a trabalhar num negócio fa-miliar, sabe que tem de a conhecer muito bem, dar valor às pessoas e crescer com ela. “Durante os dois primeiros anos de trabalho, passei pelas mais diversas áreas na empresa. Comecei por compreender o manual de qualidade, receber as infor-mações de acolhimento para os novos funcionários, e passei pelo cálculo de projetos, aprovações e stocks. Por fim, estive na área da produção e comercial, o que me permitiu conhecer a dinâmica das empresas”.

Adelino Costa Matos, o mais novo, entrou mais tarde no grupo mas já é o responsável pela área das Energias Re-nováveis. Em pequeno sonhava ter uma companhia aérea – até desenhou, aos 10 anos, o logotipo da mesma – mas acabou por seguir também Engenharia e Gestão Industrial. Passados três anos, optou por mudar de curso e seguiu Gestão. “A fre-quência nos dois cursos foi extremamente útil, pois apesar de ter terminado gestão, tenho uma base de Engenharia que se torna muito importante”, refere, a pro-pósito. Nunca sentiu alguma pressão para seguir as pisadas do pai, mas quando se nasce ao mesmo tempo do que a empresa é natural que se sinta parte dela. Entrou para estagiar mesmo antes de terminar os estudos e acabou por nunca trabalhar fora do universo familiar. “É fundamental exis-tir uma grande frieza para se distinguir o que é família e o que é negócio. Só correrá mal se gerimos o negócio baseado em sen-timentos familiares e não no pragmatismo empresarial necessário. Felizmente, julgo que temos uma visão idêntica e uma exce-lente relação e as coisas acabam por fluir naturalmente”, explica. Com a entrada da segunda geração, Adelino Silva Matos admite que se sentiu na empresa uma ten-dência para mudar métodos de trabalho, adaptação da visão e missão das empre-sas, mas não a filosofia da mesma. “Claro que noto uma diferente na criatividade, na utilização maior de novas tecnologias, em suma, numa modernização da gestão

das empresas, o que acho muito bem. Também a sua formação pós-universitá-ria lhes confere ferramentas que no meu tempo não eram utilizadas”, considera.

Vila Galé atrai apenas um descendente Há famílias, porém, em que nem todos os descendentes querem seguir as pisa-das dos pais. No caso dos filhos de Jorge Rebelo de Almeida, sócio da rede hoteleira Vila Galé, apenas um dos filhos foi cati-vado pelo negócio familiar. A rede, que nasceu em 1986 com a abertura de um hotel na Praia da Galé, no Algarve, pela mão de Jorge Rebelo de Almeida, então advogado na área de turismo e projetos imobiliários, e de mais um sócio, conta

hoje com 24 unidades hoteleiras, 18 em Portugal e seis no Brasil.

Gonçalo Rebelo de Almeida, 39 anos, tinha apenas 14 quando o pai se lançou no sector do turismo, e atualmente é diretor de marketing e vendas do grupo hoteleiro. Quando acabou o liceu decidiu, tal como pai, seguir o curso de Direito, que frequen-tou na Universidade Lusíada, entre 1992 e 1997. “Queria ser advogado e apesar de dar algum apoio administrativo à empresa do meu pai ainda estagiei numa sociedade de advocacia até 2000. Depois achei que era difícil conciliar os dois projetos e acabei por deixar o escritório onde estava”, conta Gonçalo. Nessa altura, a cadeia estava em plena expansão, com a abertura de um hotel no Brasil e mais três em Portugal e o seu apoio na área jurídica era fundamen-tal. Foi ainda necessário fazer toda uma reestruturação no marketing e nas vendas e desde 2002 que é a área que acompanha no dia-a-dia. “Desde a minha entrada no grupo que este já triplicou de dimensão, e por isso também o vejo como um projeto meu. Não houve nenhum megaplano para transformar a empresa num grupo de su-cesso, isto foi acontecendo com os Z

A força das FeshtKathy 33 anos, na foto com a mãe, Valdicea. É a única de dois irmãos que ficou nos negócios da família, em Braga. Lidera uma empresa de automação do grupo familiar, a Siroco, que detém ainda unidades de componentes e de domótica

março 2014/Exame/45

pés bem assentes na terra, a um ritmo sustentável”, explica Gonçalo Rebelo de Almeida. Pai de três filhos, e apesar de já os levar ao trabalho, afirma que lhe dará li-berdade para fazerem as suas opções, sem qualquer obrigatoriedade em seguirem os negócios da família.

Liberdade de escolha também teve a sua irmã Joana, que, aos 32 anos segue o seu sonho na área da medicina. Sempre gostou muito de ciências e apesar de, a certa altura, ter tido uma inclinação para arquitetura, entrou na Faculdade de Ciên-cias Médicas e seguiu a especialidade de Radiologia. Trabalha atualmente no Hos-pital Curry Cabral e considera-se muito sa-tisfeita com a opção que seguiu. Apesar de não ser prioritário, não põe de parte a hi-pótese de vir a trabalhar um dia com o pai. “Começa a haver hotéis que já se dedicam à saúde, por isso há sempre a hipótese de vir a trabalhar no grupo nesta área, sobretudo no check up de doenças femininas”, refere.

Genes empreendedores da família FeshtTambém na família de Fesht há dois ir-mãos, mas apenas Kathy seguiu as pisadas do pai. O progenitor, Hatto Fesht, é ale-

mão e sempre foi apologista de viajar pelo mundo. Veio parar a Portugal em 1981, como funcionário da Grundig, em Braga, mas sempre teve o desejo de ter um negó-cio seu. Essa oportunidade surgiu em 1995 quando, através de um processo de Ma-nagement Buy Out (MBO), com mais três diretores, fundou a Fesht Componentes, que manteve o mesmo core business: o fa-brico de componentes de injeção plástica e estampagem para auto rádios. Entretanto, os sócios foram vendendo as suas quotas e, em 2000, Hatto torna-se o único pro-prietário da empresa. Atualmente, com 86 colaboradores, fatura 15 milhões de euros e exporta praticamente toda a sua produ-ção para a Alemanha.

Foi na sua procura de diversificação de atividade e verticalização – tinham já aberto uma empresa, a Enacer, com a marca Only, para o desenvolvimento de produtos de vanguarda na área tecnoló-gica, na área da domótica – que surgiu a possibilidade de adquirir a Siroco, empresa de automação, hoje dirigida por Katy Fesht, de 33 anos. Henning e Kathy ainda nas-ceram na Alemanha, mas viveram desde pequenos em Portugal. Kathy estudou no Colégio Alemão, no Porto, e ao terminar o 12º ano foi estudar Gestão Empresarial para o país germânico. “O meu pai nunca me impôs o negócio da família, porém eu sabia que era um desejo dele. Sempre tive costela artística, gostaria de ser designer ou arquiteta, mas como também gostava de gestão, concordei com o seu conselho”, refere Kathy Fesht.

Como tinha o coração em Portugal, apenas aguentou um ano na Alemanha e quando regressou fez o curso de Filosofia e Desenvolvimento da Empresa, onde se vincava muito o fator humano. Quando completou o curso já acompanhava o pai nas viagens a clientes e recebia alguns dos visitantes que vinham a Braga. Aos

Z Gestão Santo AmaroMiguel 24 anos, é o novo rosto do clã portuense que, tal como o pai Luis (na foto) - que é dono da Adriparte - tem veia de empreendedor e criou a Uniplaces

46/Exame/março 2014

capa

poucos começou a ser educada nos negó-cios da família, ainda que sem qualquer pressão. Foram cinco anos a percorrer departamentos, a conhecer os cantos à casa. Em 2007, o pai tornou-a gerente da Fesht e, como recorda, “era uma mulher a trabalhar numa indústria masculina”. Desde então tem feito imensa formação, acompanhou a criação de um gabinete na Alemanha, viaja imenso pelo mundo em visitas a clientes, e fez um MBA na Escola de Negócios Nova Galicia. Em finais de 2010 concretizou-se a compra da Siroco e hoje conduz os destinos desta empresa fundada em 1988, que se dedica a fornecer equipamentos e ferramentas de precisão para a indústria. Casada e com um filho ainda bébe, sente-se, assim, mais perto da costela criativa que diz ter.

O irmão, Henning Fesht, que tal como Kathy também foi estudar para a Alema-nha, onde fez Gestão Empresarial, trabalha atualmente naquele país, na multinacional Bosh. Casado e com dois filhos, não pre-tende deixar, para já, a sua carreira e entrar nos negócios do pai, mas, como diz a sua irmã, nada está fora de questão.

O que move os Santo Amaro e os GasparNo mundo dos negócios há ainda famílias que educam os seus descendentes no sen-tido do empreendedorismo. E criar o seu próprio negócio é quase uma obrigação. Foi o caso de Miguel Santo Amaro, filho de Luís Santo Amaro, dono da Adriaparte e de Paulo Gaspar, filho de Avelino Gas-par, fundador da Lusiaves. O primeiro tem apenas 24 anos e já se dedicou de corpo a um projeto próprio. É filho de um dos fundadores da construtora MonteAdriano, que entretanto vendeu a sua participação à família Monte, e que hoje se dedica aos investimentos imobiliários. Desde cedo Miguel percebeu que gostaria de fundar as suas próprias empresas – apesar de ter passado por uma fase de querer ser fute-bolista e nadador –, e ficar pelo negócio da família nunca foi opção. “Ponderei entre uma carreira na área da consultadoria ou começar o meu próprio negócio, mas o mestrado em empreendedorismo incen-tivou-me a experimentar e concretizar alguns dos conceitos que tinha estudado. Não queria ser mais um especialista em empreendedorismo; queria antes

Filhos e netos de peixe sabem nadarDescendentes de empresários de topo, dão cartas na publicidade. Querem abrir no Brasil e em Angola

A Oneway Group é uma agência de publicidade que atua em new media, 3D e audiovisuais. Surgiu pela mão de três amigos, dois deles são primos, todos filhos e netos de empresários de topo.

Tiago Alves Ribeiro, 37 anos, neto do empresário António Mota, do lado da mãe, e com ligações à Alves Ribeiro, do lado do pai, fez o curso de Comunicação Empresarial no ISCEM, passou pelo marketing da Sony e da Ogilvy, em Nova Iorque e Young&Rubicam, em Portugal. Fez quatro anos em Direito, na Católica, mas percebeu que não era esse o seu caminho. Amigo dos primos Francisco, 32 anos, e Frederico Fino, 33 anos, netos do empresário Manuel Fino, juntaram-se, em 2004, para criar a OneWay Group. “Todos tínhamos passado por agências tradicionais, tínhamos pouca experiência

nestas soluções alternativas”, relembra. Arrancaram sem clientes, só tinham três produtos: projeções Pani, 3D e projeções aéreas. “Fomos bater à porta das várias empresas com projeções em grandes formatos, em prédios, por exemplo, fizemos uma no mosteiro dos Jerónimos”, conta Frederico Fino. O grande projeto foi, logo no primeiro ano, umas projeções no palco do festival da TMN, Sudoeste.Fez o Euro 2004 e o Rock in Rio. Evoluíram para outros produtos e dois anos depois lançaram soluções interativas, hologramas, realidades virtuais - criando para o efeito a Gema, com três sócios do Porto (Luís Agrellos, Martim Pessanha e Diogo Pinto Barbosa). Cerca de 50% dos clientes são agências de meios e publicidade, e 50% são clientes diretos.Z

Os Fino e o Alves Ribeiro Francisco Fino, Frederico Fino e Tiago Alves Ribeiro

março 2014/Exame/47

ser um empreendedor”. Assim acon-teceu. Fez uma licenciatura em Finanças e Gestão, na Universidade de Nottingham e um mestrado em empreendedorismo na Babson College, nos Estados Unidos. Foi nos tempos de estudante que percebeu a dificuldade que os mesmos têm em en-contrar alojamento. Foi assim que surgiu a Uniplaces, uma plataforma online que põe em contacto senhorios e estudantes de todo o mundo facilitando a reserva de quartos, a operar atualmente em Lisboa e Londres. Os senhorios são criteriosamente selecionados para segurança dos estudan-tes que recorrem ao serviço. “Os meus pais sempre apoiaram a minha decisão e até ajudaram com espaço para trabalharmos nos primeiros três meses. Tenho várias outras ideias, no turismo, imobiliário e trading, mas neste momento o meu obje-tivo profissional é o sucesso da Uniplaces.

O seu irmão mais novo, Pedro, de 22 anos, está a terminar o doutoramento em Distribuição e Energia, em Inglaterra, e entrar no negócio do pai também não está no seu horizonte. “Eu e o meu irmão optámos por seguir um caminho indepen-dente da empresa familiar, e nisso temos o apoio dos nossos pais”, explica Miguel Santo Amaro.

Trilhar o próprio caminho.. até um diaPaulo Gaspar partilha a mesma visão. Fi-lho de Avelino Gaspar, empresário de Lei-ria, fundador da Lusiaves, empresa de pro-dução de aves, detida a cem por cento pela família, sempre foi uma pessoa de vários interesses. Quis ser astronauta, presidente da República, hacker informático e gestor. Com apenas 25 anos já fundou vários pro-jetos, desde os tempos de estudante. Aos 17 anos foi estudar Gestão na Uni-versidade Nova e fundou uma empresa de eventos com um amigo. “Fazíamos um evento por ano, chamado Heineken Made.Out, em Alcobaça, que cresceu até ter mais de seis mil pessoas. Ao longo de cinco anos, organizámos vários, sendo que no último ano, em 2011, produzimos três eventos para mais de 16 mil pessoas”, recorda. Pelo meio, tirou um MBA Execu-tivo, em Marketing e Gestão de Eventos, na Universidade Autónoma, e ainda consegui fundar uma agência de publicidade não convencional, chamada de Funnyhow.

Ao mesmo tempo, terminou em Lon-dres um mestrado em empreendedorismo. “Considero a experiência internacional um requisito mínimo para qualquer bom profissional, pelo que tive que percorrer esse caminho também”, afirma.

Entende que há vantagens em traba-lhar na empresa familiar, mas para já tem a sua própria sociedade para gerir. “Não tenho nenhuma pressão para ir trabalhar de imediato para a Lusiaves. No entanto, algumas decisões, como comunicação e marketing, já passam por mim. Só vou ingressar na empresa familiar quando

sentir que estou preparado, quando trou-xer mais-valias e por ambição própria”. Paulo Gaspar tem dois irmãos mais novos, Mariana, de 21 anos e Francisco de 13, mas que estão ainda a estudar.

Nos últimos anos Paulo fez cursos intensivos que serviram para lançar um novo projecto, a start up que trabalha num sistema de controlo de fluxos de dinheiros para PME, chamada Katchiing.

Seja qual for o caminho seguido pe-los descendentes dos empresários de sucesso, uma coisa é certa: a aposta na educação e na formação é sempre feita em grande. Os selfmade men, que nem sempre conseguiram atingir as suas am-bições pessoais na área da educação, dão às gerações seguintes todas as ferramentas possíveis para ficarem bem munidos para a selva económica e serem bem-sucedi-dos. “O mais importante é que os filhos dos empresários sejam educados no amor e no respeito pelo próximo, e se tiverem alguma experiência internacional, tanto melhor”, conclui Marina Sá Borges. E

Z

Aliança GasparPaulo Aos 25 anos não é empregado do pai, Avelino (na foto), dono da Lusiaves, mas já vai dando uma ajuda no marketing e comunicação da empresa familiar. Para já prefere apelidar-se de ‘empreendedor por conta própria’

48/Exame/março 2014

caPa