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Capítulo 11

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Capítulo 11

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Leonardo Buso * Sanzio Marques * Paulo Fernando de Carvalho * José Carlos Romanini

Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

N o conceito da Grécia antiga de Platão (428 a.C.), a beleza é entendida como

mescla de bondade e verdade, revelando a mais alta expressão do espírito hu-

mano. Essa influência filosófica ainda norteia a sociedade moderna na busca

pela beleza, acrescida do espírito utilitário e de de-

senvolvimento cientifico, permitindo-lhe transcen-

der a arte da escultura e da pintura como meio de

expressar o belo, e ousar promover o bem-estar e a

saúde oral do seu semelhante, esculpindo sorrisos.

Os padrões de beleza estão sendo definidos diariamente pela mídia, que a todo instante mos-

tra nos meios de comunicação pessoas próximas da perfeição física, com qualidade de vida

invejável. Esta qualidade de vida está sempre associada ao padrão estético, com corpos bem

esculpidos e aparência jovem, os quais são obtidos através do uso frequente de produtos e

suplementos alimentares auxiliares na revitalização, no rejuvenescimento e na manutenção da

saúde, além da realização diária de ginástica em academias de última geração e tratamentos,

cirúrgicos ou não, capazes de corrigir pequenos defeitos1.

“O sorriso é a manifestação dos lábios quando os olhos encontram o que o coração procura... e os olhos

dizem o que a boca não consegue exprimir...” (Francisco)

“A feiúra e a discórdia e os movimentos desarmônicos são praticamente aliados das palavras e da natureza doentes, como a graça e a harmonia são irmãs gêmeas da bondade e da virtude e sustentam sua semelhança” (Platão, República III).

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previsibilidade e longevidadeREABILITAÇÃO ORAL

cap. 113

Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

O sorriso ganhou espaço na nova busca pela perfeição. Percebe-se que os pacientes estão pro-

curando por tratamento odontológico com o objetivo principal de resolver problemas estéticos

que, de alguma forma, não estão agradando. Neste período da busca pela perfeição e pelo belo,

dentes alinhados e claros é o desejo, o que implica no impulso de prazer, naturalidade e apa-

rência juvenil2,3. Com todas estas necessidades, nossa meta no tratamento estético deveria ser

construir o melhor sorriso, alterando a composição dental. Porém, mantendo a aparência natural

na tentativa de atingir a NATURALIDADE, associada a um EQUILÍBRIO do conjunto.

Textos com conceitos estéticos são encontrados em grande número em nossa literatura4,5, todos

eles descrevendo como devemos seguir os parâmetros preestabelecidos. Regras são fornecidas,

fórmulas são passadas, medidas disponibilizadas, porém, o que é de suma importância para se

atingir o resultado estético é a associação dos requisitos biológicos e funcionais, que pode ser de-

finido sucintamente por meio da tríade: saúde, função e estética. É importante notar a hierarquia

dessa tríade: a obtenção da saúde, seguida pela função e, então, pela estética. Podemos alcançar

a saúde sem que haja função ou estética, assim como saúde e função são possíveis sem que haja

estética. No entanto, a estética não é viável se as duas primeiras não estiverem presentes6.

Neste capítulo do livro, descreveremos a resolução de um caso clínico utilizando as chaves prin-

cipais na avaliação estética do sorriso na clínica diária. Como dissemos anteriormente, nossa

literatura está repleta de livros que, com certeza, aprofundarão os conhecimentos e detalhes

para o desenho de um sorriso natural. Durante a descrição do caso, também daremos atenção

especial, explicando e enumerando os pontos principais na avaliação.

CASO CLÍNICO

Paciente do sexo feminino, insatisfeita com seus dentes, procurou tratamento para modificar

seu sorriso. O exame clínico e a anamnese foram feitos normalmente; é nesta fase que se pode

cometer um erro: passar um diagnóstico e um planejamento estético sem ter em mãos modelos

(preferencialmente montados em articulador semiajustável - ASA) e fotografias extra e intraorais.

Por isso, na primeira consulta, devem ser feitas moldagens usando preferencialmente mate-

riais de precisão, como siliconas de adição, porém, nada impede o uso de silicona de conden-

sação ou bons alginatos, desde que a técnica correta e os cuidados que os materiais exigem

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Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

cap. 114

sejam observados. O uso de gessos adequados é fundamental, respeitando-se as proporções,

fazendo-se a espatulação a vácuo e utilizando-se um vibrador para vazar o modelo.

O passo seguinte é a realização de fotografias extra e intraorais. As seguintes fotos extraorais

devem ser feitas:

Frontal: face, 1/3 médio e inferior (nariz-mento), boca (comissuras labiais). Para cada situa-ção, tira-se uma sequência de quatro fotos: lábios serrados, lábios em repouso, sorriso mé-dio e sorriso total (total de 16 fotografias).

Lateral: face, 1/3 médio e inferior (nariz-mento), boca (comissuras labiais). Para cada situa-ção, tira-se uma sequência de quatro fotos: lábios serrados, lábios em repouso, sorriso mé-dio e sorriso total (total de 16 fotografias).

Para as fotografias intraorais, o protocolo utilizado é o seguinte (usar afastador e fundo preto):

Oclusão: de toda a arcada, lateral direita e lateral esquerda, canino-canino.

Movimentos excursivos: protrusão, lateralidade direita e lateralidade esquerda (fotografias frontal e lateral).

Canino-canino superior: usando fundo preto.

Central-canino superior direito e esquerdo: usando fundo preto.

Para a realização dessas fotografias, é necessário utilizar máquinas fotográficas, espelhos e fundo

preto adequados, bem como utilizar técnicas e princípios corretos de fotografia. Atenção na

inclinação da máquina para que as linhas de referência não transmitam as informações errôneas

ao planejamento virtual.

As imagens são enviadas para programas de computador (Power Point ou Key Note) para serem

analisadas e avaliadas com a devida atenção. Linhas horizontais e verticais que servirão de orien-

tação estética são traçadas e o planejamento estético começa a se desenvolver.

A primeira avaliação é a análise facial. Linhas referenciais horizontais e verticais são usadas para

se obter o paralelismo entre as estruturas. Visualmente, uma relação agradável é obtida quando

se alcança este paralelismo. As fotos extraorais são usadas neste momento da análise facial. É

importante uma visão frontal da face do paciente, pois qualquer desvio pode causar erro na

análise, motivo pelo qual as fotografias devem ser todas padronizadas.

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cap. 115

Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

Dentro dos parâmetros, as principais linhas horizontais e verticais são:

1. Linha interpupilar (passa pelas duas pupilas);

2. Linha comissura labial (passa pelas comissuras labiais);

3. Linha ofríaca (passa pelas duas sobrancelhas);

4. Linha média (centro do lábio superior).

Essas linhas são importantes para analisar, traçar e definir o plano incisal, o plano oclusal e o

contorno gengival. Na análise da Figura 01 A,B, em que as linhas horizontais e verticais foram

traçadas, podemos perceber que a paciente possui um discreto desvio de linha média e uma

pequena alteração do plano oclusal. Com o uso do articulador semiajustável, a inclinação do

plano oclusal fica mais evidente. Notamos que estas linhas são paralelas entre si, com exceção

do plano incisal, que está desviado devido aos desgastes dentários existentes.

01A 01B

Fig.01 A,B ›› Avaliação facial – linhas horizontais e verticais traçadas para de!nir planos incisal, oclusal e gengival.

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cap. 116

Ainda com a fotografia frontal da paciente e o lábio em repouso (Figura 02) é feita uma análise den-

tolabial e percebe-se que uma faixa estreita dos dentes é exibida, em torno de 1mm. Esta caracte-

rística envelhece a face e dá a sensação de idade avançada. Observa-se também que a quantidade

de estrutura exposta não é uniforme devido ao padrão oclusal da paciente, o que pode levar a

prováveis modificações nos dentes inferiores ao final da reabilitação. Em média, pacientes do sexo

feminino mostram até 4mm da estrutura dental, ao passo que os do sexo masculino exibem até

2mm; quanto mais jovem, mais evidente são os dentes anteriores7. Note que estes números são

valores médios, ou seja, a análise deve ser individualizada para cada paciente após enceramento e

ensaio restaurador. Em diferentes livros-textos, maneiras de individualização de tamanho e forma

são encontradas e devem ser usadas nesta fase.

PROBLEMA: Lábio em repouso mostra pouca quantidade de dente.

SOLUÇÃO: Aumento incisal dos dentes, seguindo padrões de média e, depois, individualizando

o tamanho para cada paciente. Usar métodos científicos para esta individualização (métodos

fonético, métrico e visual).

Quando a paciente sorri frontalmente (Figura 03 A,B), nota-se que os dentes anteriores possuem

grande desgaste, causando uma curva reta ou quase invertida do sorriso. Esta alteração gera

desarmonia e, novamente, a sensação de um sorriso envelhecido. Além disso, o plano incisal

está um pouco inclinado quando comparado com as linhas horizontais de referência. Nota-se

também que a quantidade de tecido gengival exposta nos lados direito e esquerdo não são se-

melhantes, sendo os dentes do lado direito mais curtos, o que causa maior exposição gengival.

PROBLEMA: Desgaste incisal, plano incisal inclinado e assimetria no contorno gengival.

SOLUÇÃO: Reposicionar a borda incisal no comprimento adequado, alinhando com as linhas de

referência horizontais e a realização de plástica gengival para harmonizar o contorno gengival.

Fig.02 ›› Análise do lábio em repouso – sorriso envelhecido pela pouca exposição dentária.

Fig.03 A,B ›› Plano incisal reto, não acompanhando a curvatura do sorriso devido ao desgaste dentário.

02 03A 03B

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cap. 117

Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

Se observarmos a paciente em vista lateral e sorrindo, no-

vamente pode-se notar que há uma diferença na quanti-

dade de tecido gengival exposto (Figura 04) e que o seu

contorno é descendente em relação ao plano oclusal e à

linha do lábio inferior.

PROBLEMA: Contorno gengival desarmônico e dentes curtos.

SOLUÇÃO: Cirurgia plástica gengival corrigindo contorno

gengival e aumento do tamanho dos dentes.

Inicialmente, os problemas de alinhamento são observa-

dos com as fotos extraorais, pois, como mencionado pre-

viamente, as linhas de referência horizontais são as utiliza-

das para este fim.

Neste momento, as fotografias intraorais permitirão reali-

zar uma análise mais detalhada do contorno gengival e da

característica individual de cada elemento dental.

O contorno gengival harmônico é fundamental para se al-

cançar o resultado estético agradável. Na Figura 03, observa-

se que o contorno gengival do lado esquerdo está mais agra-

dável quando comparado ao lado oposto, diferença que já

havia sido notada quando analisou-se o sorriso frontal.

04A

04C 04D

04B

Fig.04 A-D ›› O contorno gengival está divergente em relação à curvatura do lábio superior. A correção gengival será feita para que este contorno seja paralelo à curvatura do lábio su-perior e para melhorar a proporção entre altura e largura dos dentes posteriores.

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cap. 118

Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

A Figura 05 permite observar que os zênites gengivais

não estão corretos. Este ponto refere-se à parte mais

alta do contorno gengival, com pequeno deslocamen-

to para distal no incisivo central e no canino, bem como

na região central no incisivo lateral. É importante ob-

servar que já foi programado um aumento incisal dos

dentes anteriores e, dessa forma, deve-se ter o cuidado

para definir o aumento cervical apropriado, mantendo-

se uma proporção adequada entre altura e largura.

PROBLEMA: Parábolas gengivais mal posicionadas,

modificando a inclinação visual dos dentes.

SOLUÇÃO: Cirurgia plástica gengival corrigindo a po-

sição do zênite e melhorando as parábolas gengivais.

Primeiro determina-se o aumento incisal para depois

decidir pelo aumento gengival.

Com os desgastes dentários, houve alteração no pa-

drão de oclusão e desoclusão da paciente. As guias

anteriores foram perdidas (Figura 06) e devem ser res-

tabelecidas. Deve-se decidir por qual esquema de de-

soclusão será realizado o trabalho. Neste caso clínico,

a guia anterior foi restabelecida desocluindo pelos in-

cisivos centrais e nos movimentos de lateralidade, decidiu-se

restabelecer o guia canino.

PROBLEMA: Alteração funcional da paciente.

SOLUÇÃO: Restabelecer forma dental adequada utilizando

restaurações diretas (compósitos) ou indiretas (compósitos ou

cerâmicas). Neste caso clínico, foi utilizada cerâmica.

Nesta fase do planejamento, algumas decisões já foram tomadas:

aumento do comprimento incisal, aumento cervical com cirurgia

plástica gengival e padrão de desoclusão. Com estas três corre-

ções, a harmonia do sorriso da paciente já será restabelecida, pois

as linhas horizontais de referências estarão de acordo com os

dentes e a gengiva. O passo seguinte é transmitir estas informa-

ções ao laboratório para iniciar o enceramento de diagnóstico.

Diferentes estratégias podem ser usadas nesta fase:

1. Desenhar no modelo o novo contorno gengival e enviar ao laboratório os valores numéricos dos tamanhos dos dentes.

2. Realizar no computador o desenho virtual destas alte-rações e encaminhar a imagem ao técnico em prótese dentária.

3. O próprio dentista pode realizar o contorno principal do enceramento a ser finalizado no laboratório.

05 06A 06B

Fig.05 ›› Observar que o contorno gengival não está simétri-co e os zênites gengivais estão mal posicionados.

Fig.06 A,B ›› Desgaste acentuado dos dentes alterando o padrão oclusal da paciente. Com as novas restaurações cerâ-micas, um novo esquema de desoclusão será estabelecido.

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cap. 119

Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

Optamos por utilizar a primeira forma de troca de infor-

mação. O contorno foi delimitado com lápis no gesso e

o valor numérico da altura incisal foi escrito em papel e

enviado ao laboratório. Com as informações enviadas,

o laboratório realiza o enceramento de diagnóstico (Fi-

gura 07 A,B) e, sobre este enceramento, confecciona-se

uma muralha de silicona (adição ou condensação*) para

a realização do ensaio restaurador (mock up).

* Silicona de condensação: Zetalabor (Zhermack)

Importante: Deve-se usar gesso e cera de cores claras, pois

isso facilita a visualização por parte do paciente, diferente-

mente de quando são usados materiais com cores fortes.

As informações contidas no enceramento devem ser agora

avaliadas diretamente no paciente (ensaio restaurador ou

mock up), ou seja, deve-se avaliar se tamanho, forma e arranjo

dental estão harmônicos em relação à face da paciente8.

Importante: Este procedimento somente pode ser realiza-

do quando houver acréscimo de material, ou seja, quando

o tamanho e o volume dental forem ampliados. Caso haja

necessidade de diminuir o tamanho dental, este procedi-

mento não é possível. Clinicamente, em situações como

esta, pode-se realizar o desgaste do excedente dental para

realizar o mock up, ou realizar os preparos dentais e fazer a

avaliação no provisório.

A realização do ensaio restaurador é feita com uma re-

sina chamada de bisacrílica. A muralha de silicona é re-

cortada na porção cervical, acompanhando o contorno

gengival (Figura 08). No momento da inserção do mate-

rial na muralha, é fundamental que a ponta da seringa

esteja na região incisal; o material é inserido em toda

porção incisal (para evitar bolhas) para posterior preen-

chimento total. O conjunto é levado em boca, posicio-

nado e, após a polimerização, remove-se os excessos e

a muralha em seguida.

Fig.07 A,B ›› Enceramento de diagnóstico, corrigindo os comprimentos dos dentes e o novo contorno gengival.

Fig.08 ›› Preenchimento da muralha com resina bisacrílica, tomando-se o cuidado de não incorporar bolhas. É impor-tante fazer o recorte acompanhando o contorno gengival.

07A

07B 08

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cap. 1110

Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

Avaliam-se todas as características desejadas com calma e,

novamente, é importante que se realize as mesmas sequên-

cias de fotografias. Nas Figuras 09, 10 e 11, pode-se notar que:

1. Em repouso, a exposição dental está adequada.

2. No sorriso frontal, os planos incisal e oclusal, o contor-

no gengival e a posição do zênite estão corrigidos. Apesar

de não serem vistos na imagem, estão de acordo com as

linhas horizontais de referência.

3. No sorriso lateral, o tamanho dental foi corrigido, me-

lhorando o contorno gengival.

Alguns cuidados são necessários neste momento. Como

há aumento de todos os dentes, é comum que o pacien-

te estranhe o novo projeto. Por isso, não deixe que ele

observe apenas os dentes, eles parecerão ainda maiores.

O paciente deve visualizar toda a face para observar o

conjunto, a harmonia e o equilíbrio. Se mesmo assim o

paciente não se sentir confiante, deixe que vá embora

com o ensaio restaurador. O uso por algumas horas altera

a percepção do novo sorriso. Outro cuidado: permita que

o paciente visualize o ensaio restaurador após o dentista

ter aprovado e concordado ou após realizar as alterações

que achar pertinente.

A partir da aprovação do paciente e do dentista, os tra-

balhos clínicos podem ser iniciados. O primeiro passo é a

realização da cirurgia plástica gengival para corrigir con-

torno, zênite e exposição gengival. Para o cirurgião perio-

dontista, realizar o procedimento cirúrgico sem nenhuma

referência o torna mais difícil e passível de erros. Pode-se

confeccionar um guia para que, durante a cirurgia, ele seja

contornado com bisturi, delimitando o contorno gengival

(Figura 12). Laboratorialmente, o guia pode ser feito em

acetato ou acrílico após duplicação do modelo encerado.

09 10

11 12

Fig.09 ›› Com o ensaio restaurador, as proporções dentais são restabelecidas. Em repouso, uma maior quantidade de estrutura dental é mostrada; aspecto de jovialidade.

Fig.10 ›› O novo sorriso planejado !cou adequado para a pa-ciente, com proporções corretas e curvas paralelas entre as linhas de referências e estruturas dentais e gengivais.

Fig.11 ›› Visualização da correção da exposição gengival e melhor harmonia.

Fig.12 ›› O uso do guia orienta e facilita o periodontista no desenho do contorno gengival. A marcação com bisturi !ca precisa e, na maioria das vezes, não há necessidade de reto-ques posteriores.

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cap. 1111

Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

Com o guia em posição, o contorno é feito com bisturi (Fi-

gura 13) e, após esta delimitação, o guia é removido e a

cirurgia continua de acordo com os conceitos cirúrgicos

da técnica selecionada9 (Figura 14). Se o guia está correta-

mente confeccionado, o contorno ficará da mesma forma

que o enceramento. Na Figura 15, o pós-operatório de 40

dias mostra a reparação tecidual, com simetria entre os la-

dos direito e esquerdo no contorno gengival. Como era

desejo da paciente, um clareamento caseiro (Opalescence

10% - Ultradent) foi realizado até atingir a cor desejada.

A seleção da cor dos dentes (Figura 16) é feita após pelo

menos 20 dias do final do clareamento, ou previamente

aos desgastes dentários, utilizando-se a escala do ma-

terial cerâmico com o qual serão confeccionadas as res-

taurações. Os preparos são realizados utilizando-se guias

de silicone do enceramento para avaliar a quantidade de

desgaste e seguir uma importante premissa: preservar a

estrutura dental. Neste caso, foram feitos mínimos desgas-

tes, modificando a técnica convencional de preparo para

lentes de contato (Figura 17 A,B).

Fig.13 ›› Seguir corretamente o contorno do guia signi-fica transferir o planejado no enceramento para a boca da paciente.

Fig.14 ›› Realização da osteotomia e da adequação óssea, seguindo a técnica recomendada para cada caso clínico e de!nida previamente à cirurgia.

Fig.15 ›› Simetria do contorno gengival, zênites corre-tamente posicionados e tecido gengival em fase final de cicatrização.

Fig.16 ›› Seleção de cor dos dentes. Fotogra!as são impres-cindíveis na comunicação com o laboratório.

Fig.17 A,B ›› Mínimo desgaste dos dentes. Uso de discos de lixa (A) para arredondar ângulos e irregularidades do esmal-te e ponta diamantada esférica para confecção de um sulco (B) contornando o perímetro do preparo para evitar sobre-contorno da restauração.

13 14

15 16

17A 17B

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cap. 1112

Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

A silicona de adição é indispensável para transferir com

precisão os preparos dentais para o técnico em prótese

dentária. A preferência nas moldagens para facetas lami-

nadas é a técnica simultânea. Nesta técnica, um fio de

calibre mais fino (Ultrapack – Ultradent) é inserido total-

mente dentro sulco e um segundo fio, de maior calibre, é

inserido sobre o primeiro. Metade do diâmetro do segun-

do fio fica dentro e a outra metade fora do sulco gengival,

deixando uma das extremidades para fora. O segundo fio

é removido e o material fluído é aplicado no sulco gengi-

val seguido por um leve jato de ar para espalhar o mate-

rial (Figura 18 A,B). A moldeira carregada com o material

denso é inserida em boca e, após a reação de presa da

silicona, o conjunto é removido e analisado (Figura 19).

Provisórios são confeccionados com os mesmos mate-

riais do ensaio restaurador, porém, a fixação deve ser feita

com um ponto de ácido na vestibular do dente, aplica-

ção de adesivo e polimerização (Figura 20).

18A

18B

19 20

Fig.18 A,B ›› Moldagem com silicona de adição para se obter uma melhor cópia dos preparos. Aplicar a pasta "uída em todo o sulco gengival (A) tomando-se o cuidado de não incorporar bolhas, e um leve jato de ar (B) é aplicado para espalhar melhor o material.

Fig.19 ›› No resultado obtido, não devem existir bolhas e rasgos nas áreas de preparo (término); copiar além da ter-minação do preparo.

Fig.20 ›› Provisório realizado. O resultado estético obtido está harmônico com a paciente.

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cap. 1113

Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

Quanto mais informação o técnico tiver, mais fácil será seu trabalho. Molde, enceramento, registro oclu-

sal e fotografias são enviados ao laboratório para dar início aos procedimentos laboratoriais. Antes de

iniciar os desgastes dentais, é tomada a decisão de qual material será usado. Neste caso, foi utilizada

uma cerâmica à base de dissilicato de lítio e.max press – Ivoclar Vivadent (Figura 21 e Figura 22).

Provas funcionais e estéticas são realizadas ao receber as restaurações, em uma sequência lógica

de prova: seca e úmida. Na seca, não deve haver nenhum tipo de material entre a restauração e

o dente. Provar isoladamente cada restauração e, depois, prová-las de forma pareada, iniciando

do centro para as extremidades (Figura 23). Na prova úmida, utiliza-se um gel hidrossolúvel à

base de glicerina para teste da cor do cimento (Variolink Veneer Try In – Ivoclar Vivadent).

Com as restaurações provadas, ajustadas e a cor do cimento escolhida, a cimentação adesiva

será iniciada. O ideal é usar isolamento absoluto modificado para impedir contaminação com

saliva. Novamente, a cimentação deve seguir uma sequência lógica: centrais, lateral-canino di-

reito e lateral-canino esquerdo.

21

22 23

Fig.21 ›› Laminados cerâmicos posicionados em modelo de tra-balho. Avaliar a adaptação nos troquéis antes de levar em boca.

Fig.22 ›› Detalhes da anatomia e da textura obtidos na res-tauração !nal, restabelecendo volume, forma e contorno corretos do dentes.

Fig.23 ›› Iniciar a prova seca individualmente e depois pareá-los com todo o conjunto (caso seja necessário realizar ajustes proximais), seguido pela prova úmida com gel hidrossolúvel à base de glicerina.

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cap. 1114

Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

O preparo dos dentes pilares (Figura 24A -D) segue

o protocolo estabelecido na literatura: profilaxia com

pedra-pomes e água, proteção dos dentes vizinhos

com matriz de teflon, condicionamento com ácido

fosfórico (15’’ dentina e 30’’ esmalte), aplicação do sis-

tema adesivo (pode ou não polimerizar). Para as res-

taurações10, o protocolo sugerido é: condicionamento

com ácido hidrofluorídrico (20 segundos – pelo tipo

de material cerâmico), eliminação dos precipitados

ácidos com banho em cuba sônica (água destilada ou

álcool 70° por cinco minutos), silano (60 segundos, se-

guido pelo aquecimento com calor e total secagem),

sistema adesivo (não polimerizar) e cimento resinoso

fotoativado (Figura 25 A-D).

24A 24B 24C

24D 25A 25B

25C 25D

Fig.24 A-D ›› Um campo isolado e limpo é fundamental para o sucesso da adesão. Pro!laxia (A), condicionamento das estruturas dentais (B), aplicação do adesivo (C) e re-moção dos excessos (D), sequência do protocolo clínico. Realizar este procedimento apenas no momento da ci-mentação da restauração.

Fig.25 A-D ›› Cada material cerâmico possui um tempo de condicionamento. Ácido hidro"uorídrico (A), silano (B), adesivo (C) e cimento (D), sequência do protocolo clínico. Não se esquecer de realizar a remoção dos precipitados ácidos e aquecimento do silano.

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cap. 1115

Levar os dois dentes centrais em posição, verificar a adaptação e aplicar a fonte de luz por cinco

segundos. Remover excessos de cimento com cuidado e finalizar a polimerização com uso de

gel bloqueador de oxigênio (Figura 26 A,B). Partir para a cimentação do incisivo lateral e do

canino de um lado, e depois do lado oposto seguindo os mesmos procedimentos. Fio dental,

lâmina de bisturi no 12 e tiras de lixas são usados para dar acabamento. É expressamente proi-

bido utilizar pontas diamantadas nas margens cervicais Não se esquecer de checar e ajustar a

oclusão. Um novo controle dever ser feito uma semana depois e, se for necessário, um dispositi-

vo interoclusal deve ser instalado e ajustado.

Passados os períodos de recuperação e adaptação tecidual, nota-se a integração do tecido

gengival à restauração, evidenciando saúde e naturalidade. A literatura mostra que este tipo

de tratamento possui alto índice de sucesso, satisfazendo os pacientes por períodos superio-

res a dez anos, o que deixa confortável sua realização na clínica diária.

Neste caso, com acompanhamento de dois meses, nota-se que com as novas modificações pro-

postas e realizadas, o resultado obtido foi de naturalidade e equilíbrio, restabelecendo a tríade

saúde, função e estética. (Figura 27, 28, 29, 30, 31 e 32).

A ideia de descrever o caso clínico como forma de avaliar um sorriso na clínica foi motivado

para mostrar que não há dificuldade em realizá-lo, sendo possível para todos os clínicos, pois

exige materiais e técnicas disponíveis no mercado, porém, exige uma sequência de avaliação,

com critério e cuidado, lançando mão da tecnologia de imagens com fotografias digitais e

programas simples de computadores além, é claro, do conhecimento dos princípios estéticos.

26A 26B

Fig.26 A-B ›› Não é necessário muito cimento, pois o espaço é pequeno. Importante é que haja extravasamento em todas as margens. Avaliar o correto assentamento das restaurações com sonda exploradora antes de polimerizar.

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Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

27 28

29

30 31

Fig.27 ›› Jovialidade e sensualidade são obtidos quando há exposição dental com lábios em repouso, mantendo as pro-porções para cada paciente.

Fig.28 ›› Forma, contorno e textura devolvidos ao sorriso, integrando-se com os tecidos moles.

Fig.29 ›› Harmonia do contorno gengival, lábio superior e dentes.

Fig.30 ›› Equilíbrio do sorriso !nal respeitando a tríade saúde, função e estética.

Fig.31 ›› Paralelismo entre as estruturas reforça a naturalida-de e a harmonia ao sorriso.

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previsibilidade e longevidadeREABILITAÇÃO ORAL

cap. 1117

Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

Fig.32 ›› Todo conjunto – face. Equilíbrio entre as estruturas e linhas de referências. A melhora da autocon!ança é sig-ni!cativa ao !nal do tratamento, com o paciente se sentido mais apto a realizar as tarefas do dia a dia.

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Avaliação estética do sorriso do paciente na clínica restauradora

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10. Blatz MB, Sadan A, Kern M. Resin-ceramic bonding: a review of the literature. J Prosthet Dent. 2003; 89(3): p. 268-74.

Agradecimento: Ao cirurgião dentista e fotógrafo Dr. Cristiano Xavier (Belo Hori-

zonte – MG) (www.cristianoxavier.com / www.fotografianaodontologia.com.br)

pela realização das fotos artísticas finais em estúdio.