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59 5.1. Métodos Convencionais A bananeira (Musa spp.) propaga-se por semente e por muda, sendo mais usual e eficiente a propagação por muda. Uma bananeira pode produzir tantas mudas quantas forem as folhas emitidas (38 ± 2) até o surgimento do cacho, quando cessa essa atividade. Contudo, a variedade, o porte da bananeira e a idade da planta-mãe são fatores importantes na determinação do número de rebentos emitidos até o surgimento do cacho, o que tem reduzido o potencial para aproximadamente 25% do total ou seja, na realidade uma bananeira produz apenas nove a dez mudas, em período geralmente superior a 12 meses, em condições de campo, e nem todas são de boa qualidade. Objetivando aproveitar ao máximo a potencialidade da bananeira de produzir gemas vegetativas, têm-se aplicado diversas metodologias para a propagação da cultura, cujo princípio fundamental é o de induzir a brotação das gemas e acelerar seu processo de desenvolvimento. Capítulo V Propagação Élio José Alves Marcelo Bezerra Lima Janay Almeida dos Santos-Serejo Aldo Vilar Trindade

Capítulo V Propagação

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5.1. Métodos Convencionais

A bananeira (Musa spp.) propaga-se por semente epor muda, sendo mais usual e eficiente a propagação pormuda.

Uma bananeira pode produzir tantas mudas quantasforem as folhas emitidas (38 ± 2) até o surgimento do cacho,quando cessa essa atividade. Contudo, a variedade, o porteda bananeira e a idade da planta-mãe são fatores importantesna determinação do número de rebentos emitidos até osurgimento do cacho, o que tem reduzido o potencial paraaproximadamente 25% do total ou seja, na realidade umabananeira produz apenas nove a dez mudas, em períodogeralmente superior a 12 meses, em condições de campo, enem todas são de boa qualidade.

Objetivando aproveitar ao máximo a potencialidade dabananeira de produzir gemas vegetativas, têm-se aplicadodiversas metodologias para a propagação da cultura, cujoprincípio fundamental é o de induzir a brotação das gemas eacelerar seu processo de desenvolvimento.

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Élio José AlvesMarcelo Bezerra Lima

Janay Almeida dos Santos-SerejoAldo Vilar Trindade

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5.1.1. Métodos de propagaçãoA reprodução da bananeira é vegetativa ou clonal, por meio

da separação de brotos e filhos da planta-mãe os quais, porreplantio, perpetuam a espécie.

Dentre os métodos mais utilizados para a obtenção demudas de bananeira, que estão ao alcance dos produtores,destacam-se: a) o próprio bananal; e b) viveiros.

5.1.1.1. O próprio bananal

Não se deve utilizar indiscriminadamente o bananal para aobtenção de mudas. É possível utilizá-lo adequadamente, paraesse fim, especialmente para atendimento a pequenosprodutores, que representam, provavelmente, mais de 90% douniverso dos bananicultores brasileiros.

Quando se dispõe de um cultivo comercial bemestabelecido, que não tenha pragas que possam propagar-se eque a idade do rizoma não seja superior a três anos, pode-seobter mudas dos filhos que não foram selecionados para darcontinuidade à unidade de produção (touceira). Nesse caso, osfilhos para mudas são selecionados e marcados com uma fitaplástica colorida, não devendo selecionar-se mais de um filhopor touceira. A escolha deve ocorrer quando a planta-mãe jáestá bem desenvolvida (8 a 10 meses de idade) e o filho medindo30 a 50 cm de altura. Este se desenvolve ao lado da mãe atéque esta seja colhida, sem alterar a composição da nova unidadede produção (mãe, filho e neto ou mãe e dois filhos), como ilustraa Fig. 5.1; nesse momento, o filho selecionado para muda podeser retirado.

Por nenhuma razão deve extrair-se a muda de uma mãeantes da colheita, já que os riscos de tombamento e perda daunidade são muito altos.

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Esse procedimento não afeta o bananal em produção,pois, ao retirar-se a muda de uma bananeira já colhida, osestragos provocados em suas raízes e rizoma não interferemno desenvolvimento das plantas componentes da touceira, asquais devem estar opostas à muda a ser retirada, como mostraa Fig. 5.2.

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Fig. 5.1. Filho deixado para muda natouceira.

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Dentre os principais tipos de mudas a serem obtidas dobananal, podem-se destacar:

a) Chifre: muda com altura entre 30 a 60 cm,apresentando folhas lanceoladas e um grande diâmetro na basedo seu rizoma. Pesa entre 2,0 a 4,0 kg, que se reduzem para 1,5a 2,5 kg quando o pseudocaule é rebaixado para 10 a 15 cmsobre a base do rizoma. Esse tipo de muda tem um excelentepegamento e um desenvolvimento uniforme, apresentando umciclo médio de produção e, dependendo da época de plantio,tratos culturais e das condições climáticas, pode produzir umcacho grande com frutos de primeira qualidade.

Fig. 5.2. Posição da muda chifrão a ser retirada datouceira.

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b) Chifrão: é o tipo ideal de muda, com altura entre 60 a150 cm, apresentando uma mistura de folhas lanceoladas comfolhas semi-largas, tendendo para adultas, um grande diâmetrona base do seu rizoma e um pequeno diâmetro na parte aérea(Fig. 5.2). Pesa entre 3,0 a 5,0 kg, quando o pseudocaule érebaixado para 10 a 15 cm da base do rizoma. É muito usado noestabelecimento de bananal comercial, apresentando umaelevada porcentagem de pegamento, um rápido crescimento e,quando se realiza o seu plantio em área com condições de climae solo favoráveis, na época indicada e adotam-se os tratosculturais recomendados para a bananeira, normalmente elaproduz cachos uniformes, grandes, com frutos de excelentequalidade. Esse material reprodutivo, como o anterior, é o maisaconselhado por seu vigor, facilidade de transporte e manejo.

Geralmente, por serem jovens, esses tipos de mudas nãoapresentam problemas fitossanitários relativos ao ataque dabroca-do-rizoma e de nematóides, ou quando os apresentam éem escala reduzida. Além disso, produzem bons cachos. Apóso arranquio, devem ser preparadas, descorticando-se o seurizoma, com a eliminação das raízes e solo aderido ao mesmo.Apresentando vestígios do ataque da broca-do-rizoma e/ou denematóides, as mudas devem ser tratadas com produtosinseticidas/nematicidas, sendo recomendados aqueles à basede carbofuram como o Furadan 350 SC e Furadan 350 TS, nadose de 400 mL do produto para 100 litros de água, com imersãoda muda na calda do inseticida/nematicida por 15 minutos. Casoa muda não apresente vestígios do ataque da broca-do-rizomae/ou nematóides, a recomendação é plantá-la em cova tratadacom produto à base de terbufós, como Countner 150 G, ouCountner 50 G nas doses de 13-20 g/cova ou 40-60 g/cova,respectivamente.

As mudas que, após o seu preparo, apresentarem galeriasprovocadas pela broca-do-rizoma e lesões devidas a nematóidesdevem ser descartadas e queimadas.

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5.1.1.2. Viveiros

As principais etapas descritas para propagação demudas de bananeira em viveiro são: escolha da área, tipo eorigem do material propagativo, variedades, instalação econdução do viveiro.

a) Escolha da área

O viveiro deve ser estabelecido em local o mais próximopossível do futuro plantio, e que esteja bem servido porestradas, cabos aéreos ou outros sistemas de transporte quepermitam mobilizar a muda de forma rápida, eficiente e a baixocusto. O solo deve ser de textura média a ligeiramentearenosa, permitindo a fácil extração da muda; deve serprofundo, bem drenado e fértil, tendo-se o cuidado de queseja o mais livre possível de nematóides ou outras pragas dabananeira que poderiam, a partir do viveiro, propagar-se parao plantio a ser estabelecido. A área deve ser de fácil acesso,com estrada que permita o trânsito de veículos durante o ano;não deve conter espécies de difícil erradicação como a tiririca;não deve ser próxima a bananais; em regiões onde ocorrembaixas temperaturas, as áreas de baixadas, com possibilidadede geada, devem ser evitadas; não se deve usar terrenos ondese tenha detectado vestígios de doenças de importânciaeconômica para a bananeira, com principal ênfase ao mal-do-Panamá, cujo agente causal - o Fusarium - permanece nosolo por muitos anos. Portanto, um levantamento fitossanitárioda área do viveiro é imprescindível para o seu sucesso.

A área do viveiro deve ser, também, levementeinclinada, para facilitar o escoamento do excesso de águadas chuvas, além de apresentar uma boa exposição ao sol,condições necessárias para que o viveiro tenha um bomdesenvolvimento.

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b) Tipo e origem do material propagativo

Uma vez definida a quantidade de mudas a reproduzir epreparado o terreno convenientemente, procede-se a seleçãodas mudas que serão propagadas. Aqui, deve-se ser muitorigoroso, não se podendo permitir mudas diferentes da variedadedesejada; para estar seguro disto, e para evitar mudas infestadas,mesmo de forma leve, por pragas e doenças que possamdisseminar-se no viveiro, é indispensável fazer uma inspeçãominuciosa no plantio do qual se vai retirar as mudas; e, paracumprir com esses requisitos desejados, é conveniente que sesupervisione a retirada das mudas. É preferível pagar-se duasa três vezes o valor de mercado por uma muda sadia, do quedisseminar pragas de alto custo de controle na nova plantação.

Diversos trabalhos mostram que a muda de maior peso- até 5 kg - produz filhos mais vigorosos. Vale ressaltar, porém,que a muda tipo chifrão geralmente apresenta boa sanidadee gemas entumecidas. Contudo, deve sofrer um processo desaneamento e seleção para posteriormente ser plantada.

O ideal é que a muda para estabelecimento do viveiroseja de boa procedência, destacando-se as originárias detécnicas de multiplicação in vitro (Fig. 5.3), em laboratóriosde comprovada idoneidade. Essas matrizes são multiplicadasem campo pelos viveiristas, com o objetivo de fornecer mudasde boa qualidade aos produtores e por preços mais em contado que os da muda micropropagada, cujo processo deprodução requer estruturas e insumos caros.

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As mudas multiplicadas in vitro são aclimatadas pelopróprio laboratório, em estufas especiais, e assim podem serplantadas diretamente no viveiro, o que parece mais interessantepara o viveirista do que criar estrutura especial, na propriedade,com essa finalidade.

Embora o custo de instalação de um viveiro com mudasmicropropagadas seja mais elevado, devido ao maior preço damuda em relação à muda convencional, esse custo dilui-sesignificativamente por não precisar tratá-la, pelo seu índice depegamento ser de praticamente 100% e pelo seu desempenhono campo ser, muitas vezes, superior.

Fig. 5.3. Muda originária de multiplicaçãoin vitro (micropropagada), própria paraestabelecimento de viveiro.

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c) Variedades

Somente aquelas com maior possibilidade de mercadosão objeto de constante procura de mudas pelos produtores,destacando-se a ‘Prata-Anã’, ‘Pacovan’, ‘Nanicão’, ‘GrandeNaine’, ‘Maçã’, ‘Nanica’, ‘Terra’, ‘Terrinha’, ‘D’Angola’ e ‘PrataComum’, cada uma com suas características dedesenvolvimento, rendimento e preferência pelos consumidores,as quais têm de ser levadas em consideração ao definir-se asua propagação. A demanda por mudas das variedades Ouro,Figo, Mysore, Caipira e Nam tem sido menores

d) Instalação do viveiro

A iniciativa a ser tomada, após a definição do local parainstalação do viveiro, é a retirada de amostras de solo para veri-ficar a acidez (pH), os teores de alumínio e de manganês, asaturação por bases, os teores de matéria orgânica e de fósfo-ro e textura do solo, com base em sua análise química e físicaem laboratório credenciado, bem como verificar a presença ounão de nematóides, também em laboratório especializado, pormeio de levantamento específico.

As etapas de instalação do viveiro constam de: preparoda área, espaçamento, sulcamento e/ou coveamento, preparoe adubação das covas, seleção, arranquio e preparo da muda eplantio.

d.1) Preparo da área

O preparo da área deve constar das seguintes subetapas:limpeza, conservação do solo, aração, calagem, gradagem edrenagem, que são praticamente as mesmas preconizadas paraos sistemas de produção da cultura da bananeira.

No que concerne à limpeza, o solo deve estar limpo, afim de permitir a realização das etapas subseqüentes relativas

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à sua conservação, aração, calagem, gradagem e drenagem; aconservação do solo justifica-se pela necessidade de protegê-lo contra os impactos das gotas de chuva e de manter níveis dematéria orgânica que permitam uma boa permeabilidade, ca-paz de uma suficiente retenção de água no solo. Se necessá-rio, práticas conservacionistas como curvas de nível e cordõesem contorno devem ser adotadas. A aração normalmente só érecomendada para terrenos cuja topografia permite o trabalhode máquinas e cuja textura do solo é mais pesada e compactada,sendo sua função incorporar a vegetação da superfície e/ou osrestos culturais, além de “quebrar” a estrutura do solo e permitirmaior aeração. A calagem é uma prática necessária, quando oresultado da análise de solo indicar baixos teores de Ca e Mg,índice de saturação por bases inferior a 60% e pH abaixo de 5,5,devendo-se utilizar o calcário dolomítico, por conter esses nu-trientes em níveis adequados, sendo aplicado após a aração eantes da gradagem. A gradagem, como prática decomplementação do preparo do solo, destina-se a destorroarmelhor a terra e auxiliar na incorporação do calcário e de restosculturais, sendo recomendável, próximo ao plantio, fazer umanova gradagem para eliminar as plantas infestantes. A drena-gem ou o escoamento das águas de chuva e de irrigação é ou-tro fator que deve ser considerado na produção de mudas debananeira de boa qualidade. Assim, em terrenos planos a ondu-lados, de difícil escoamento, com presença de lençol freáticosuperficial, faz-se necessária a abertura de canais de drena-gem com 1% a 3% de declividade. O fator drenagem é muitoimportante pelo fato de ser a bananeira uma planta que não to-lera excesso de água, principalmente no estádio de implanta-ção e desenvolvimento vegetativo. Uma das piores conseqüên-cias da falta de drenagem no solo para a bananeira é o constan-te apodrecimento de rizomas, com reais prejuízos para oviveirista.

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d.2) Espaçamento

Os arranjos mais recomendados são o triangular e emfileiras duplas, que permitem melhor aproveitamento da luz; oúltimo permite introduzir mecanização no cultivo, com diminuiçãodos custos de manutenção e retirada das mudas.

As populações recomendadas variam de 2.500 a 5.000plantas por hectare, dependendo da variedade e das condiçõesecológicas. As distâncias mais freqüentes em triângulo são de2,0 x 2,0 x 2,0 m e 2,0 x 2,0 m x 1,0 m.

O sistema em fileiras duplas, para variedades de portemédio a baixo como o ‘Grande Naine’, poderia ter a distância de1,0 m entre as duas fileiras, 1,5 m entre as plantas nas fileiras e3,0 m entre as fileiras duplas; a população seria de 3.300 plantaspor hectare, (Fig. 5.4), podendo ser reduzida para 2.500 se adistância entre touceiras na fileira for aumentada para 2,0 m.

Fig. 5.4. Sistema de plantio de viveiros em fileiras duplas, com 3.300 plantas/ha.

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1,5

1,0

3,0

Como se trata de produção de mudas, o espaçamentodeve ser o mais reduzido possível, a fim de possibilitar uma maiordensidade e melhor aproveitamento da área.

Tem sido recomendado que as covas sejam marcadasnos sulcos com 30 cm de profundidade, num espaçamento de2,0 m entre linhas por 1,0 m entre plantas.

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d.3) Sulcamento e/ou coveamento

Em terrenos que permitam a fácil movimentação demáquinas, recomenda-se abrir sulcos de 30 a 40 cm deprofundidade, com base no tamanho da muda, observando-sea distância entre as linhas de plantio. Em solos argilosos, ascovas devem ser feitas nas dimensões de 40 x 40 x 40 cm,separando-se a camada dos primeiros 20 cm para um lado eos 20 cm seguintes para o outro. Se o solo for friável ou solto,as dimensões podem ser reduzidas para 30 x 30 x 30 cm. Aseparação das camadas do solo na abertura da cova é de sumaimportância no seu enchimento, como será visto a seguir.

d.4) Preparo e adubação das covas

Devem ser realizados com uma antecedência mínimade, pelo menos, 30 dias do plantio, enchendo-se as covas atéo nível do solo com os primeiros 20 cm de terra originários desua abertura, misturados com esterco de galinha (2 a 5 kg) oude curral (10 a 20 kg), ou de outra fonte de matéria orgânica,em quantidade equivalente, mais 150 a 250 g de superfosfatosimples e 200 a 300 g de fosfato natural, ou, de preferência,seguindo as dosagens recomendadas pela análise química dosolo.

d.5) Seleção, arranquio e preparo da muda

Com a facilidade cada vez maior para adquirir-se mudasmicropropagadas e, pelas inúmeras vantagens especialmentede ordem fitossanitária que elas apresentam, não seriarecomendável a aquisição de mudas convencionais para ainstalação do viveiro. Embora o preço das mudasmicropropagadas seja mais alto, o fato de serem isentas depragas e doenças importantes que afetam a bananeira justificaa sua aquisição/utilização. Poder-se-ia, também, utilizar mudas

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provenientes de viveiristas, com registro de procedênciacredenciada e com certificado fitossanitário de origem.

No caso de utilizar-se mudas provenientes de bananais,é imprescindível que o material propagativo seja de procedênciacredenciada, ou seja, de instituições de pesquisa ou deprodutores com certificado fitossanitário de origem. As ideaissão as dos tipos chifrão. No bananal, devem ser selecionadasas touceiras que apresentam melhor vigor vegetativo, quetenham produzido cachos de bom peso e com frutos de bomtamanho, para retirada das mudas. No próprio local de obtençãodas mudas procede-se também o descorticamento do rizoma,retirando-se as partes necrosadas e as partículas de solo a elasaderidas, até o rizoma ficar inteiramente branco.

d.6) Plantio

Quando se utiliza mudas micropropagadas, com 30 cmde altura e que, portanto, já passaram pelo processo deaclimatação, elas são plantadas com o torrão ou substrato quea acompanha, de modo que o colo da planta fique a 5-10 cmabaixo da superfície do solo. Após o plantio, deve-se cobrir amuda com capim seco, sem, entretanto, abafá-la. A adoçãodesta prática objetiva reduzir um pouco a incidência direta deraios solares sobre as folhas ainda um pouco tenras.

Uma das grandes vantagens desse tipo de muda sobreo convencional, na fase de estabelecimento do viveiro, é que oseu índice de pegamento é de praticamente 100%.

As mudas tipo chifrão, devidamente preparadas (prontaspara plantio), são colocadas nas covas adubadas, a umaprofundidade tal que o rizoma fique totalmente coberto (até aregião do colo) com o solo proveniente dos 15-20 primeiroscentímetros da abertura da cova, misturado com o esterco e oadubo fosfatado previstos. Durante o plantio deve-se compactar

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bem a terra ao redor da muda. Se, após o seu plantio, não houverchuvas suficientes nem se instalou previamente um sistemade irrigação para garantir um bom pegamento das mudas, éconveniente fazer uma bacia ao redor de cada muda plantada,colocar 8 a 10 litros de água e cobrir parcialmente com capimseco, para conservar a umidade.

e) Condução do viveiro

O viveiro de mudas, devidamente instalado, exige umasérie de operações que visa a garantir o potencial debrotações com o vigor e sanidade desejável, para que omaterial propagativo seja de boa qualidade, podendo-sedestacar a capina, fertilização, irrigação, desbaste e limpezadas folhas, inspeção e tratamento fitossanitário e arranquioe limpeza das mudas.

e.1) Capina

A bananeira, nos seus primeiros meses pós-plantio, ébastante afetada pela concorrência de plantas infestantesem água, luz e nutrientes, principalmente nos períodos deescassez de chuvas. Portanto, faz-se necessário manter oviveiro sempre no limpo.

e.2) Fertilização

Estabelecido o viveiro, para conseguir-se um rápidodesenvolvimento da muda, acompanhado do surgimento debrotações laterais (novas mudas), faz-se necessária aaplicação de nitrogênio. Não sendo grande a demanda demudas, pode-se buscar um crescimento mais lento e de maisbaixo custo.

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A fert i l ização deve ser real izada obedecendorigorosamente o que recomenda a análise química do solo doviveiro, tanto no que se refere à dosagem quanto à época elocal de sua aplicação dos adubos.

e.3) Irrigação

Como bem já foi enfatizado, a maior eficiência do usoda irrigação obtém-se quando é feita no solo a reposição de60% a 70% da água evaporada no tanque classe A. Por outrolado, para efeito de irrigação do viveiro, deve-se considerarcomo medida a profundidade do solo explorada pelas raízesda bananeira até 60-80 cm, a qual deve ser umedecida emcada rega. O método de irrigação a ser utilizado depende dotipo de solo, da quantidade e qualidade da água disponível eda topografia.

e.4) Desbaste e limpeza de folhas

A operação de desbaste torna-se, portanto, praticamentedispensável nos primeiros quatro a quatro e meio meses doestabelecimento do viveiro, quando o número de filhos normaisnão exceder de cinco. Excedendo, deve proceder-se odesbaste, para deixar os cinco melhores f i lhos, quetransformar-se-ão em mudas nos próximos meses. Os filhosprensados ou mal formados, com desenvolvimento ecrescimento atrasados, são eliminados. Já a limpeza de folhasmais velhas é uma prática cultural de grande importância parao bom desenvolvimento das bananeiras e do seus brotos. Elase faz necessária porque essas folhas deixam-se dobrar juntoao seu pseudocaule, interferindo no desenvolvimento dasbrotações e, com a sua eliminação, também se expõem novasgemas laterais de brotação (Fig. 5.5).

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No que concerne à planta-mãe, por nenhuma razão deve-se cortá-la enquanto seus filhos não estiverem aptos para retiradae plantio. Se, antes disso, emitir a inflorescência, esta deve ser,então, eliminada, para que seus nutrientes sejam transferidos paraos filhos (mudas) em desenvolvimento, bem como para evitar queo seu peso provoque envergamento da bananeira.

e.5) Inspeção e tratamento fitossanitário

Embora destinado exclusivamente à propagação de mu-das, o viveiro deve merecer atenção especial no que concerne àinspeção e tratamento fitossanitário. Assim, o monitoramentocontra o ataque da broca, de nematóides e de doençasvasculares deve ser realizado no mínimo a cada seis meses após

Fig. 5.5. Exposição de novas gemas laterais dorizoma, pela eliminação de bainhas até a suabase.

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o plantio, sempre com base nas medidas cabíveis em cadasituação. Não pode haver descuido com os tratamentosfitossanitários que se fizerem necessários, pois isso poderá resultarem total descrédito do viveiro e, conseqüentemente, do viveirista.

e.6) Arranquio e limpeza das mudas

Uma das formas para o arranquio das mudas ocorre quan-do os brotos atingem 50 cm de altura, sendo eles consideradosmudas comerciais. Nesse sistema, as mudas devem ser retira-das cuidadosamente, com o auxílio de um cavador afiado e/ouenxadão, sem danificar o rizoma da planta-mãe ou mesmo a re-cém-formada gema do broto da muda extraída.

Há Estados do Brasil que já dispõem de Normas e Pa-drões para a produção de mudas certificadas e fiscalizadas debananeira.

5.2. Micropropagação

A grande maioria dos plantios de bananeira é realizadautilizando mudas provenientes de brotos laterais de plantasadultas (mudas convencionais). No entanto, esse processoapresenta baixa taxa de multiplicação, desuniformidade naprodução de mudas, dificultando o manejo do pomar, e aindapode constituir-se em um mecanismo de disseminação de pragase doenças como mal-do-Panamá, broca, nematóides, vírus, mokoe podridão mole.

Outros métodos de propagação vêm sendo desenvolvidose aperfeiçoados, de modo a elevar a taxa de multiplicação eincrementar a produção de mudas de melhor qualidade. Entreesses métodos, destacam-se o fracionamento de rizoma, a mul-

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tiplicação rápida, que embora apresentem uma eficiência umpouco maior não são muito efetivos quanto à sanidade euniformidade, e a micropropagação ou propagação in vitro.

A micropropagação, mediante a cultura de ápicescaulinares in vitro, tem sido adotada em muitos países para aprodução de mudas de bananeira. No Brasil, esse método vemsendo utilizado de maneira crescente nos últimos anos, com ainstalação de diversos laboratórios comerciais em diferentesregiões do País, permitindo, assim, um acesso mais rápido dosagricultores a mudas de melhor qualidade, especialmente dasvariedades tradicionais e dos novos híbridos desenvolvidos pelosprogramas de melhoramento genético. A técnica geralmenteenvolve o desenvolvimento in vitro de brotos a partir de gemas(ápices caulinares ou florais), nos quais é induzida a formaçãode novas gemas, em condições controladas de cultivo.

5.2.1. Vantagens da micropropagaçãoComparando-se os diferentes métodos de propagação

vegetativa com relação ao número de mudas obtidas e ao tempogasto na produção das mesmas, verifica-se que a micropropagaçãoé muito superior aos demais processos (Tabela 5.1). Enquanto noprocesso natural são necessários 12 meses para obtenção de 20 a30 mudas, cerca de dez vezes mais mudas são obtidas em quasemetade desse tempo mediante a micropropagação.

Tabela 5.1. Comparação entre o número de mudas e períodonecessário para obtenção de plantas a partir de diferentes métodosde propagação vegetativa.Método Número de mudas Período

(meses)Natural 20 a 30 mudas / planta 12

Fracionamento do rizoma 4 a 12 mudas / rizoma 4-6

Propagação rápida in vivo 20 a 50 mudas / rizoma 5-7

Propagação in vitro (micropropagação) 150 a 300 mudas / matriz 6-8

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Além da produção de mudas em grande escala, em qual-quer época do ano e com economia de tempo e espaço, as prin-cipais vantagens da micropropagação incluem a uniformidade nodesenvolvimento das mudas, o que permite a uniformização doplantio e sincronização da colheita, e a obtenção de plantas comcaracterísticas genéticas idênticas à matriz e sadias, evitandoassim a disseminação de pragas e doenças.

Uma outra grande vantagem é que as mudas multiplicadasin vitro produzem 30% a mais do que as convencionais, por seremobtidas a partir de plantas selecionadas e estar isentas dedoenças sistêmicas. Além disso, apresentam maior precocidadeno primeiro ciclo de produção, em relação às mudasconvencionais, florescendo até quatro meses antes das plantasconvencionais. Também são mais precoces na emissão de filhose produzem mais filhos por ano.

As plantas micropropagadas sobrevivem mais no campoe crescem mais rapidamente nos primeiros estádios dedesenvolvimento, do que as mudas convencionais. Apresentamuniformidade de produção e proporcionam colheitas superioresàs das plantas oriundas de propagação convencional.

5.2.2. Limitações da micropropagaçãoA grande limitação da micropropagação é a ocorrência

de variação somaclonal, ou seja, aparecimento de plantasanormais durante o processo de multiplicação, principalmenterelacionada à estatura, cor, forma e arquitetura das folhas e máformação dos cachos. Estas alterações, principalmente asrelacionadas com a produção, podem causar prejuízos para oprodutor.

O conhecimento dos mecanismos que causam a variaçãosomaclonal e, conseqüentemente, dos procedimentosadequados para evitar sua ocorrência, bem como odesenvolvimento de métodos de detecção precoce, são fatores

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importantes para a produção de mudas micropropagadas comqualidade e segurança. Entre os métodos utilizados para detectarvariações somaclonais estão o acompanhamento visual duranteo desenvolvimento das plantas, a análise citogenética e omonitoramento mediante o uso de marcadores moleculares.

5.2.3. Etapas da micropropagação

5.2.3.1. Escolha do material vegetal para retirada domeristema

A escolha do explante, ou seja, do segmento da planta queserá utilizado para o estabelecimento da cultura in vitro, éfundamental para o sucesso na micropropagação. Várias fontesde explantes têm sido utilizadas, tais como ápices caulinares,gemas laterais e gemas florais. Apesar de as gemas floraisapresentarem algumas vantagens em relação aos meristemasapicais, pois podem ser manipuladas com maior facilidade e nãointerferem na produção convencional de mudas, são utilizadascom menor freqüência, e muitos dos protocolos sugeridos nemsempre são suficientemente detalhados e adequados adeterminadas variedades, de modo a que possam ser aplicadosrotineiramente.

A micropropagação por ápices caulinares tem sido a maisutilizada, tanto para a bananeira como para diversas outrasespécies. O ápice caulinar consiste num segmento compostopelo meristema apical, associado a dois ou três primórdiosfoliares.

O protocolo descrito a seguir refere-se à multiplicação apartir de ápices caulinares obtidos de mudas de bananeira, depreferência do tipo chifrinho com 20 a 30 cm de altura. As mudassão retiradas de plantas selecionadas, que apresentam bomestado de sanidade.

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5.2.3.2. Preparo do material e desinfestação

Inicialmente, são retiradas as raízes e o excesso de terra, eé realizada uma lavagem em água corrente. Em seguida, as bainhasmais externas são retiradas e o rizoma é cortado, reduzindo-se otamanho do explante a 6 cm de comprimento (4 cm de pseudocaulee 2 cm de rizoma) por 2 a 3 cm de diâmetro (Fig. 5.6a).

A desinfestação dos explantes é um fator bastanteimportante na introdução da cultura in vitro. Se esta etapa não forrealizada adequadamente, todo o processo fica comprometidopela ocorrência de contaminações por fungos e/ou bactérias.

O procedimento utilizado varia com o tipo de explante, masdeve ser realizado em ambiente asséptico, em câmara de fluxolaminar. No caso dos meristemas de bananeira, a desinfestação érealizada mediante a imersão do explante em álcool comercial a70% por cinco minutos, seguida de imersão em solução dehipoclorito de sódio (20 mL de cloro ativo/L), ou seja, uma soluçãode hipoclorito de sódio e água deionizada esterilizada na proporção1:1 ou 1:3 com duas gotas por litro de Tween 20, durante 30 minutos,e lavagem em água esterilizada por duas vezes (Fig. 5.6b e c).

5.2.3.3. Isolamento do meristema e estabelecimento da cultura

Os explantes passam por sucessivas reduções mediantea retirada de bainhas e corte do rizoma, com o auxílio de pinçase bisturis, sobre papel esterilizado, até atingirem cerca de 1 cm,incluindo o rizoma que deve ficar com 1-2 mm de espessura.

Após o isolamento, os explantes são inoculados no meiode cultura de estabelecimento, o qual contêm as soluções salinas(macro e micronutrientes) do meio MS, suplementado comvitaminas e 30 g de sacarose/L, na ausência de reguladores decrescimento. O meio é solidificado com 8 g de agar/L ou 2,2 g dePhytagel/L e o pH é corrigido para 5,8 antes da autoclavagem a 1atm por 20 a 30 minutos (Fig. 5.6d).

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O período de estabelecimento é variável de um laboratóriopara outro, podendo ser de 20 a 30 dias. Tanto nesta como nasetapas subseqüentes in vitro, as condições de cultivoempregadas serão: temperatura de 27±1°C, intensidade luminosade 22 µEm-2s-1 e fotoperíodo de 16 horas.

Durante essa fase são detectados e descartados osexplantes contaminados por fungos e bactérias ou mortos devidoà oxidação.

Fig. 5.6. Estabelecimento in vitro de meristemas de bananeira: muda tipochifrinho após limpeza inicial (20 x 10 cm), em comparação com o tamanhodo explante reduzido (5 x 2 cm), pronto para o processo de desinfestação (a);desinfestação em álcool 70% (b) e hipoclorito de sódio (c); e meristemainoculado em meio de cultura (d).

a b c d

5.2.3.4. Proliferação de brotos

Nesta etapa é induzida a formação de brotos ao redor doexplante, mediante a utilização de reguladores de crescimento.A citocinina benzilaminopurina (BAP) é a mais eficiente namicropropagação da bananeira. As doses utilizadas variam entreos laboratórios, podendo ser de 1,0 até 15 mg/L, sendo maiscomumente utilizada a de 4 mg/L.

Recomenda-se a eliminação dos tecidos escurecidos dabase dos explantes, para controlar a liberação de polifenóis queinterferem na proliferação, seccionando-os longitudinalmente emduas partes e incubando-as em separado em 20 mL do meio deproliferação.

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Os subcultivos podem ser realizados em intervalos de 20a 30 dias. Os brotos podem ser separados em condiçõesassépticas em segmentos contendo 1 a 2 gemas, aumentandoem cerca de cinco vezes o número de brotos formados a cadasubcultivo.

O número de subcultivos, além de outros fatores como ogenótipo, tipo de explante e componentes do meio de cultivoutilizado, tem influência sobre a estabilidade genética das plantasregeneradas. Quanto maior o número de subcultivos maior aprobabilidade de ocorrência de plantas com alterações genéticas,ou seja, de variantes somaclonais. A realização de até cincosubcultivos é considerada uma margem segura de multiplicação.

5.2.3.5. Enraizamento in vitro

Ao final dos cinco subcultivos, deve-se separar os brotosque apresentarem 2-3 folhas bem desenvolvidas e transferi-lospara 15 mL do meio de enraizamento, com ou sem reguladores.Nessa etapa podem ser utilizados tubos de ensaio de 25 x 150mm, contendo 10 mL de meio de cultura, sendo cultivada umaplanta por tubo (Fig. 5.7).

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Fig. 5.7. Proliferação dos brotos (a) e enraizamento in vitro (b) de bananeiras.

a b

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5.2.3.6. Aclimatação em casa de vegetação

As plantas que, após 30 dias, apresentarem boaformação de raízes são transferidas para copos plásticos outubetes e aclimatadas em casa de vegetação por 30-45 dias(Fig. 5.8), para atingirem desenvolvimento adequado (cercade 25 a 30 cm de altura e 5 a 6 folhas). As mudas são entãotransferidas para telado a 50% de luz, por um período decerca de 60 dias, após o que estarão completamenteformadas (Fig. 5.9). Durante este período, a irrigação é feitapor nebulização automática (5 segundos a cada 10-15minutos em dias quentes e a cada 30 minutos em dias comtemperaturas mais amenas) e complementada por irrigaçãomanual.

Fig. 5.8. Aclimatação de mudas de bananeiraem copos plásticos (a) e em tubetes (b).

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Fig. 5.9. Tempo médio para obtenção demudas micropropagadas de bananeira.

Estabelecimento

Subcultivo 1

Subcultivo 3

Subcultivo 2

Subcultivo 4

Subcultivo 5

Campo

Aclimatação

20-30 dias

20-30 dias

20-30 dias

20-30 dias

20-30 dias

20-30 dias

Enraizamento

20-30 dias

30-45 dias

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5.2.4. Inoculação de microrganismos benéficosAs plantas de banana que saem da etapa in vitro estarão

isentas de patógenos, mas também de microrganismosbenéficos, principalmente os fungos micorrízicos arbusculares(FMA) e as bactérias diazotróficas. Por esta característica e pelafacilidade de manuseio da planta, as mudas produzidas pormicropropagação estão aptas a receberem o inóculo de isoladosdesses microrganismos benéficos, previamente selecionados.Os FMAs estão presentes em diversas condições de solo,colonizando a grande maioria das plantas, formando associaçõesbenéficas, as micorrizas. A existência dessa simbiose trazbenefícios para as plantas, na forma de maior absorção denutrientes, principalmente o fósforo, equilíbrio hídrico e hormonal,tolerância a estresse salino e maior resistência/tolerância adoenças. As bactérias diazotróficas do gênero Azospirilum e dotipo Herbaspirillum e Burkholderia têm sido isoladas de diferentesespécies vegetais (raízes e parte aérea), incluindo a bananeira.Estes microrganismos podem estimular o desenvolvimento dasplantas, pela produção de substâncias reguladoras decrescimento, controle de doenças de raízes e fixação denitrogênio atmosférico (N2).

A inoculação pode ser feita na fase in vitro, particularmentepara as bactérias, ou na fase de aclimatação, e os efeitos naplanta apresentar-se-ão na forma de melhor crescimento na fasede muda, podendo estender-se para o campo e contribuir para aprodução e superar estresses abióticos e bióticos, como acondição de solos salinos/salinizados e a ocorrência depatógenos (Fig. 5.10). No caso dos FMAs, as mudasapresentarão, ao final de seis semanas, colonização radicularem torno de 80%. A inoculação desses fungos pode ser feitacom a planta de banana ainda em estádio intermediário deenraizamento, saindo, portanto, mais rápido da fase in vitro,reduzindo o tempo de produção da muda e, conseqüentemente,os custos. A tecnologia de produção do inóculo desses

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microrganismos está, no momento, sob domínio de instituiçõesde pesquisa, que podem fornecer o processo aos interessados.Com a busca de sistemas de cultivo menos agressivos ao solo,à água e ao homem, esse recurso biológico natural é umimportante componente de um manejo integrado do solo e dacultura. Para que a inoculação seja uma prática viável, deve-seajustar o substrato de crescimento das mudas, de forma quenão apresente quantidades excessivas de nutrientes.

Fig. 5.10. Ocorrência de fusariose em plantas debananeira submetidas e não à inoculação de fungosmicorrízicos arbusculares: plantas com três meses decultivo em vasos e bactérias diazotróficas (a) e plantascom sete meses e meio de cultivo no campo (b).

0

5

10

15

20

25

Área 1 Área 2 Média

Pla

nta

sco

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(%)

Controle

Inoculado

(b)

0

10

20

30

40

50

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70

80

0 2000 4000 6000 8000 10000 12000

Inóculo de FOC (cn/mL)

Índic

ede

doença

(%)

controle

inoculado

(a)

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5.2.5. Substratos para mudas micropropagadasNa fase de aclimatação, é importante a definição do

substrato onde as plantas serão repicadas, o qual deverá forneceros nutrientes requeridos pela planta, mas não apresentarconcentração elevada de sais, ao ponto de causar dificuldadesna absorção de água pelas raízes. Ao mesmo tempo, deverá terboa capacidade de retenção de umidade, mas sersuficientemente poroso para permitir as trocas gasosas. Um únicomaterial não apresentará todas estas características, sendonecessário a mistura de diferentes componentes. Atualmente,empresas comerciais desenvolvem substratos à base de cascade pinus, casca de arroz carbonizada, turfa, vermicomposto evermiculita. Normalmente, recebem uma complementaçãomineral com calcário, nitrogênio, fósforo e micronutrientes.Entretanto, para uma boa taxa de sobrevivência e crescimentoinicial das mudas, pode ser necessária a diluição deste substratocom um componente, usando-se vermiculita de granulometriamédia ou grossa.

Por meio da combinação entre uso de um substratoadequado e inoculação com fungos MA e bactérias diazotróficas,obtém-se mudas sadias, aptas ao plantio. O uso de substrato àbase de turfa, vermiculita e 5% de esterco (base volume), permitea colonização micorrízica e formação de mudas sadias. Por setratar de um recurso natural não renovável, outros materiaisorgânicos podem ser testados para substituir a turfa, como acasca de árvore compostada, casca de arroz carbonizada e póde casca de coco.