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 Referencia deste texto:  NUTTI, J. Z. e REALI, A. M. M. R. Professores, especialistas e alunos diante do fracasso escola r: um estudo no cenário das “Classes de Ace ler açã o”. In: MARTINS, J. P.; CASTELLANO, E. G. (Orgs.) Educação para a cidadania. São Carlos: EDUFScar: Rima, 2003 PROFESSORES, ESPECIALIS TAS E ALUNOS DIANTE DO FRACASSO ESCOLAR: UM ESTUDO NO CENÁRIO DAS “CLASSES DE ACELERAÇÃO” Juliana Zantut Nutti 1 Aline Maria de Medeiros Rodrigues Reali 2  Professora, lembra quando eu ficava ali no cantinho, no começo do ano, e eu não queria sentar junto com ninguém e na hora em que todo mundo mexia a boca, eu também mexia?  Eu morria de vergonha porque eu não sabia ler e eu não aceitava isso. Se não fosse a senhora insistir tanto... Agora eu  sinto o maior orgulho de mim mesmo, porque agora, sim, eu  sou gente. Agora eu sou gente... (Depoimento de um aluno de Classe de Aceleração à sua professora). O objetivo deste capítulo é relatar e discutir alguns dos achados da pesquisa realizada por uma das autoras como uma das exigências para a obtenção do título de Doutora em Educação 3 , intitula da “Professo res e Especial istas diante do Fracasso Escolar: um estudo no cenário das Classes de Aceleração” (NUTTI, 2001), de modo a contribuir para a discussão sobre os efeitos das políticas ou projetos educacionais que visam a superação do fracasso escolar, persistente problema socioeducacional que tem impedido que uma grande  parcela da população se aproprie de conhecimentos essenciais para o pleno exercício da cidadania. 1 Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos. Docente do curso de Pedagogia e coordenadora do curso de especialização em Psicopedagogia da ASSER/UNICEP de São Carlos. 2 Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo. Docente do Departamento de Metodologia de Ensino e do Programa de Pós - Graduação da Universidade Federal de São Carlos. 3 Pesquisa realizada como uma das exigências para a obtenção do título de Doutora em Educação junto ao Programa de Pós - Graduação em Educação, área de concentração em Metodologia de Ensino, da Universidade Federal de São Carlos. Orientadora: Profa. Dra. Aline Maria de Medeiros Rodrigues Reali.

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Referencia deste texto:

 NUTTI, J. Z. e REALI, A. M. M. R. Professores, especialistas e alunos diante do fracassoescolar: um estudo no cenário das “Classes de Aceleração”. In: MARTINS, J. P.;

CASTELLANO, E. G. (Orgs.) Educação para a cidadania. São Carlos: EDUFScar: Rima,2003

PROFESSORES, ESPECIALISTAS E ALUNOS DIANTE DO FRACASSO

ESCOLAR: UM ESTUDO NO CENÁRIO DAS “CLASSES DE ACELERAÇÃO”

Juliana Zantut Nutti1

Aline Maria de Medeiros Rodrigues Reali2

  Professora, lembra quando eu ficava ali no cantinho, nocomeço do ano, e eu não queria sentar junto com ninguém ena hora em que todo mundo mexia a boca, eu também mexia? Eu morria de vergonha porque eu não sabia ler e eu nãoaceitava isso. Se não fosse a senhora insistir tanto... Agora eu sinto o maior orgulho de mim mesmo, porque agora, sim, eu sou gente. Agora eu sou gente... (Depoimento de um aluno deClasse de Aceleração à sua professora).

O objetivo deste capítulo é relatar e discutir alguns dos achados da pesquisa

realizada por uma das autoras como uma das exigências para a obtenção do título de Doutora

em Educação3, intitulada “Professores e Especialistas diante do Fracasso Escolar: um estudo

no cenário das Classes de Aceleração” (NUTTI, 2001), de modo a contribuir para a

discussão sobre os efeitos das políticas ou projetos educacionais que visam a superação do

fracasso escolar, persistente problema socioeducacional que tem impedido que uma grande

 parcela da população se aproprie de conhecimentos essenciais para o pleno exercício da

cidadania.

1

Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos. Docente do curso de Pedagogia e coordenadorado curso de especialização em Psicopedagogia da ASSER/UNICEP de São Carlos.2 Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo. Docente do Departamento de Metodologia de Ensino edo Programa de Pós - Graduação da Universidade Federal de São Carlos.3 Pesquisa realizada como uma das exigências para a obtenção do título de Doutora em Educação junto ao

Programa de Pós - Graduação em Educação, área de concentração em Metodologia de Ensino, da UniversidadeFederal de São Carlos. Orientadora: Profa. Dra. Aline Maria de Medeiros Rodrigues Reali.

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Breve panorama do fracasso escolar

Primeiramente, faz-se necessário situar o leitor acerca do que se entende

atualmente como fracasso escolar, mediante a apresentação de um breve panorama sobre as

definições e teorias explicativas que vêm sendo atribuídas a esse fenômeno, o qual desafia o

sistema educacional e a sociedade brasileira há, pelo menos, cinco décadas.

RIBEIRO (1993) coloca que o fracasso escolar pode ser entendido como as

sucessivas repetências, excessiva permanência e o posterior abandono da escola pelo aluno

  pertencente, em sua maioria   mas não exclusivamente   , às classes economicamente

desfavorecidas da população.

DANI & ISAÍA (1997) refletem sobre uma concepção de fracasso escolar que não

se relaciona somente à questão da repetência ou reprovação do aluno, mas à situação na qual o

aluno, em seu cotidiano escolar, não pensa a partir de suas próprias elaborações mentais e não

se sente autorizado a expressar o seu próprio pensamento. Em termos pedagógicos, essa

situação se reflete, por exemplo, nas dificuldades que o aluno apresenta para escrever com

autonomia, levando-o a apenas registrar ou copiar o pensamento dos outros, principalmente o

de seu professor. Entretanto, o aluno é visto como bem - sucedido, justamente por se

comportar da forma como o professor espera que um “bom” aluno se comporte.

Mais recentemente, o fracasso escolar tem sido representado pela seguinte

situação: o aluno freqüenta normalmente a escola, é promovido de uma série para outra,

concluindo cada um dos ciclos escolares porém, ao concluir a escolarização, não possui um

domínio adequado dos conteúdos escolares.

Com relação às teorias explicativas sobre o fracasso escolar tem-se a visão de

VIAL (1987), a qual afirma que esse fenômeno pode ser explicado por uma ideologia que

encara o sucesso e o insucesso como uma questão do aluno possuir ou não o dom para

aprender. Para essa ideologia dos “dotes”, o problema reside na existência de indivíduos mais

ou menos dotados para aprender. Na escola, essa ideologia permearia a concepção de que

sempre existiram “bons” e “maus” alunos e, sendo assim, é absolutamente desnecessário

 buscar-se explicações pedagógicas, científicas ou políticas para justificar essa situação.

PATTO (1993), por sua vez, acredita que o fracasso escolar é um fenômeno

 produzido no interior da própria escola e que o fracasso da escola seria o resultado de uma

situação perversa na qual o sistema educacional criaria os obstáculos à realização de seus

 próprios objetivos. Assim, as relações hierárquicas de poder, a segmentação e burocratização

do trabalho pedagógico criariam as condições no interior da instituição escolar para a adesão

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dos professores a uma prática direcionada a interesses particulares e ao descompromisso

social.

CARRAHER, CARRAHER & SCHILEMANN (1995) igualmente direcionam o

foco da atribuição do fracasso escolar para a própria escola. Para esses autores, o fracasso

escolar seria o fracasso da escola. A estrutura e organização escolar predisporiam ao fracasso

do aluno, na medida em que não são valorizados os saberes informais que os escolares trazem

 para a escola e o tipo de raciocínio que utilizam para solucionar os problemas do cotidiano.

PERRENOUD (1996) considera o sucesso, o fracasso e as desigualdades entre os

alunos como realidades construídas pelo próprio sistema educacional. Esboça uma sociologia

da avaliação escolar, dos procedimentos e normas mediante as quais a escola elabora suas

hierarquias de excelência e decidem o fracasso ou o sucesso escolar e suas conseqüências.

Segundo o autor, na busca de respostas sobre as possíveis causas da existência de bons e maus

alunos, a sociologia da educação analisa os mecanismos que transformam as diferenças

culturais em desigualdades escolares, as quais são reais, no que diz respeito ao saber e saber 

fazer que se valoriza na escola, mas que não teriam a mesma importância simbólica, nem as

mesmas conseqüências práticas, caso a avaliação escolar não as traduzisse em hierarquias

explícitas.

O autor faz uma analogia da construção do fracasso escolar com a construção da

loucura e da delinqüência juvenil e, apesar de relativizar o impacto do julgamento da

excelência escolar em relação ao diagnóstico psiquiátrico ou ao processo penal, acredita que

determinados tipos de inadaptação escolar poderiam ocasionar problemas psiquiátricos ou

 penais. Em dimensões um pouco menos dramáticas, o poder da escola também é capaz de se

impor aos escolares com o mesmo peso de um diagnóstico psiquiátrico ou de um veredicto

 pois, por meio das hierarquias de excelência, tem força de lei.

Apesar da existência de diferentes definições e teorias explicativas sobre o

fracasso escolar, é consensual a opinião de que esse fenômeno tem trazido conseqüências

extremamente danosas aos escolares e suas famílias, às escolas e à sociedade, na medida em

que interfere negativamente no desenvolvimento psicológico e social dos alunos e que impõe

limites rigorosos ao processo de apropriação dos conteúdos pedagógicos e das habilidades

acadêmicas necessárias para a inserção social e o exercício da cidadania.

As Classes de Aceleração no contexto das políticas educacionais de superação

do fracasso escolar

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  No contexto das políticas educacionais que objetivam o combate ao fracasso

escolar, projetos de aceleração de aprendizagem vêm sendo implementados na rede pública de

ensino de vários Estados brasileiros. Tais projetos procuram, de modo geral, corrigir o fluxo

escolar, recolocando os alunos multirrepetentes (conseqüentemente, com grande defasagem

série/idade) de volta às suas séries originais.

Esse é o caso da “Reorganização da Trajetória Escolar no Ensino Fundamental:

Classes de Aceleração”, projeto educacional implementado em 1997 na rede de ensino

estadual paulista que, através de uma proposta de aceleração da aprendizagem realizada nas

chamadas Classes de Aceleração, buscou a recuperação da trajetória dos alunos em situação

de defasagem série/idade e sua reintegração ao percurso escolar regular (SÃO PAULO -

Estado, 1997a).

A concepção de fracasso escolar que permeia a proposta das Classes de

Aceleração atribui a origem do fracasso à escola devido, dentre outros fatores, à inadequação

da metodologia de ensino em relação à clientela escolar atendida.

A marca fundamental das Classes de Aceleração é o oferecimento de um ensino

adequado à clientela de alunos com altos índices de defasagem série/idade. Adequar a

 proposta pedagógica à realidade do educando, entretanto, não significa o rebaixamento das

expectativas escolares, mas a elaboração de uma abordagem que parta das necessidades reais

dos alunos. Também é necessário que sejam criadas condições favoráveis de ensino e

aprendizagem e que se utilize um processo de avaliação do trabalho pedagógico que considere

mais do que a simples verificação da quantidade de informações memorizadas.

O ponto de partida para a realização da proposta pedagógica de Classes de

Aceleração é um claro entendimento a respeito do fracasso escolar, das conseqüências da

defasagem série/idade e do processo de aceleração da aprendizagem, além da necessidade de

observação cuidadosa das crianças que compõem as classes. Torna-se imperativo que se

minimize os efeitos dos rótulos que os alunos carregam, através da compreensão social e

 pedagógica de suas dificuldades de aprendizagem.

Em linhas gerais, as premissas básicas das Classes de Aceleração relacionam-se

ao compromisso da escola com o processo ensino - aprendizagem dos alunos que estão

estacionados no percurso acadêmico, de maneira que os mesmos adquiram os instrumentos

(via conteúdos pedagógicos) que a escola oferece e que podem contribuir para a inserção

adequada no seu tempo e na sua realidade, e à crença na idéia de que “todo professor é capaz

e que todo aluno é capaz de aprender” (SÃO PAULO - Estado, 1997b).

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De acordo com a proposta das Classes de Aceleração, o professor é o principal

responsável pela identificação das necessidades dos alunos e pelo desenvolvimento de um

trabalho flexível, porém norteado por claros referenciais teórico - metodológicos.

A pesquisa realizada

Colocou-se anteriormente que a pesquisa que deu origem a este capítulo utilizou

como cenário de investigação o projeto “Reorganização da Trajetória Escolar no Ensino

Fundamental: Classes de Aceleração”.

O objetivo geral da pesquisa realizada foi analisar como as políticas ou projetos

de superação do fracasso escolar estão sendo traduzidos para a prática pedagógica, sob a ótica

de professores e especialistas educacionais inseridos nesse contexto. Os objetivos específicos

relacionam-se à identificação e análise de aspectos do pensamento de professores que atuam

em situação de fracasso escolar, assim como dos fatores que podem estar relacionados ao

sucesso desses professores na tradução de políticas ou projetos educacionais de superação do

fracasso escolar para a prática pedagógica.

O papel dos professores no processo de implementação de políticas educacionais

que almejam a superação do fracasso escolar tem sido fundamental, especialmente devido ao

fato de que esses profissionais são considerados os grandes responsáveis pela concretização

dos objetivos almejados pelas reformas educativas.

  No entanto, partindo-se da suposição de que os professores possuem as suas

 próprias teorias sobre o ensino, as quais influenciam intensamente a sua prática pedagógica e

que são construídas ao longo de sua trajetória acadêmica e profissional, torna-se relevante

compreender-se de que maneira esses profissionais traduzem as políticas educacionais para a

sua própria prática.

 Nessa perspectiva, o eixo teórico que fundamentou a pesquisa está voltado para as

recentes tendências na pesquisa educacional sobre o  pensamento do professor  (PÉREZ

GÓMEZ, 1995; SCHÖN, 1995; GARCÍA, 1995; PERRENOUD, 1997) e para o estudo das

crenças de professores e suas relações com a ações pedagógicas (KNOWLES, COLE &

PRESSWOOD, 1994; STUART & THURLOW, 2000). Apesar da diversidade teórica e

conceitual existente, essas tendências procuram valorizar o conhecimento do pensamento, das

crenças e dos valores dos professores sobre o ensino, por acreditarem que esses elementos

têm uma forte influência nas ações e decisões tomadas pelos docentes em sala de aula.

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Estudos e pesquisas específicas sobre o projeto Classes de Aceleração (SOUZA,

VIÉGAS & BONADIO, 1999; PLACCO, ANDRÉ & ALMEIDA, 1999) também foram

importantes referenciais para a realização da investigação.

Participaram da pesquisa, de tipo qualitativo, sete professoras de Classes de

Aceleração de duas escolas, a coordenadora pedagógica de uma dessas escolas, além de duas

especialistas educacionais da Diretoria Regional de Ensino, que foram as principais

responsáveis pela implementação e acompanhamento das Classes de Aceleração em escolas

de São Carlos e da região.

Os procedimentos de coleta de dados utilizados foram a entrevista individual e em

grupo, a observação de aulas, o questionário e a análise documental.

Julgou-se oportuno incluir-se, na análise dos dados, as respostas de sessenta e um

alunos egressos de Classes de Aceleração a um questionário elaborado pela Diretoria

Regional de Ensino, localizada no município de São Carlos. Essas respostas foram analisadas

 para se ter a dimensão de como esses alunos avaliam a sua experiência nessas classes, o seu

reingresso nas séries regulares e a sua situação acadêmica atual.

Com relação à avaliação das professoras e especialistas sobre o projeto Classes de

Aceleração, esse foi considerado positivo e bem - sucedido. As professoras e especialistas

mencionaram os seguintes fatores de sucesso: a proposta pedagógica, considerada desafiadora

 para o professor e o aluno; o material didático, considerado adequado às necessidades dos

alunos; a redução do número de alunos por classe; o oferecimento de uma formação

continuada considerada de alta qualidade.

As dificuldades citadas pelas professoras sobre a tradução do projeto Classes de

Aceleração para a prática estão relacionadas: à falta de interesse e de participação dos alunos;

à mudança do paradigma teórico - metodológico; à falta de tempo dos professores para

assimilar as informações recebidas nas capacitações, para a pesquisa e o planejamento das

atividades a serem realizadas; à composição das turmas com alunos que já poderiam estar 

cursando séries mais avançadas.

A ausência de uma figura de apoio consistente na escola, seja o diretor ou o

coordenador pedagógico foi considerada, por uma das professoras, como um dos

dificultadores da tradução do projeto educacional para a prática docente.

As especialistas educacionais consideraram que um dos principais obstáculos à

tradução do projeto para a prática pedagógica foi o processo de seleção dos professores para

as Classes de Aceleração, o que causou a falta de envolvimento de alguns professores com otrabalho pedagógico a ser desenvolvido.

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Com relação ao processo de seleção docente, é importante ressaltar que os

diretores das escolas deveriam destinar as Classes de Aceleração para professores interessados

em atuar no projeto e com experiência em alfabetização. No entanto, segundo as especialistas,

isso não aconteceu em todas as escolas participantes, pois muitos professores com motivação

e experiência aquém do recomendado assumiram aulas em Classes de Aceleração.

 Na avaliação das especialistas, esse desvirtuamento do processo de seleção de

 professores trouxe dificuldades tanto para a adequação do projeto nas escolas como para o

trabalho de supervisão e capacitação docente; o fato das Classes de Aceleração entrarem no

 processo de atribuição geral de classes, sem uma diferenciação específica, fez com que muitos

  professores as escolhessem por não terem outra alternativa de trabalho e não pela

identificação com os seus pressupostos teórico - metodológicos do projeto, como seria o mais

adequado.

Quanto aos alunos, a grande maioria atribuiu às Classes de Aceleração um

sentimento altamente positivo, destacando a atuação da professora e a interação com os

colegas:

 Eu me senti muito bem porque se não fosse a professora eu não era nada sem ela, porque ela me ensinou muito;

 Eu senti que lá era muito bom de estudar. Eu gostava muito de lá, a professoratinha muita paciência com a gente. Todos nós gostamos de lá;

 Eu me senti na Classe de Aceleração que as coisas era de uma forma que era uma professora só e que ela ensinava e ia na carteira ensinar;

 Eu me senti muito bem, apesar da bagunça a professora explicava muito bemconosco. Eu adorei a Aceleração porque a professora trabalhava diferenteconosco;

 A Classe de Aceleração foi muito bom, crianças educadas, nós gostamos muito da professora, ela era muito boa com a gente.

Outros alunos valorizaram as Classes de Aceleração pela possibilidade de

superarem a defasagem idade/série e de se apropriarem de conteúdos ou habilidades escolares

específicas:

Me senti muito bem e muito feliz por ter tido uma chance de passar para a 5 a sériemais rápido;

Muito bem, porque lá eu aprendi muitas coisas que se eu não tivesse feitoaceleração não poderia aprender e os professores são muito legais;

 Eu me senti muito bem. Porque se eu não fosse para a Aceleração eu não tinhaaprendido a ler e escrever;

 Eu me senti muito bem por poder recuperar os anos que eu perdi na escola;

 Eu senti que lá eu estava aprendendo mais coisas.

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Houve, ainda, alunos que destacaram o quanto a sua experiência nas Classes de

Aceleração beneficiou o aumento de sua auto - estima e de seu autoconceito:

 Eu me senti uma pessoa importante;

 Eu me sentia um aluno muito importante porque só nós estudamos naquela classe

naquela escola; Eu me senti uma pessoa inteligente na sala. Eu aprendi muitas coisas novas. Eu gostei muito e eu era muito comportado com os amigos.

Quanto às diferenças percebidas entre as Classes de Aceleração e as séries

regulares que estão freqüentando, os alunos identificaram diferenças que, à primeira vista,

 podem estar relacionadas às características das séries regulares:

 Agora é tudo mais puxado. É tudo mais rigoroso;

 Eu sinto que agora as matérias estão mais difíceis;

 As lições, as contas e as classes, as professoras e os alunos;

 Eu percebo que as professoras não pode ensinar todos ao mesmo tempo porque temmuito aluno.

Ainda com relação às diferenças, um grupo de alunos percebeu que houve uma

melhora em seu rendimento escolar ou em seu comportamento, após a passagem pelas Classes

de Aceleração: eu estou aprendendo melhor as lições; porque eu sei muito mais do que antes;

agora que eu posso ler mudou tudo para mim.

Alguns alunos atribuíram as diferenças percebidas às característicasespecíficas da experiência nas Classes de Aceleração:

 As diferenças que eu percebi foi que a Aceleração foi muito bom para mim;

Quando nós entramos na escola nós tomávamos leite com bolacha e aqui não dáleite e é muito chato, nós chegamos no frio e não tem nada para comer;

 As diferenças é que trabalhávamos muito com livros. Durante o ano todo estudamos só com livros, fazíamos muitas pesquisas etc. Na classe não havia tanta bagunça,como é agora;

 As diferenças que eu percebo foi o jeito de estudar porque antes eu aprendia mais,agora eu não aprendo quase nada.

Entretanto, dois alunos atribuíram as diferenças percebidas atualmente nas séries

regulares às possíveis deficiências das Classes de Aceleração:

Muitas, porque eu acho que a Classe de Aceleração não ensina muito bem;

 Na Aceleração nós fazíamos o livro que não tinha quase nada de Português. Aminha dificuldade é de Português.

De modo geral, as diferenças entre as Classes de Aceleração e as séries regulares

 percebidas parecem residir, com maior freqüência, no aumento do número de professores edisciplinas nessas séries, na metodologia de trabalho do professores, assim como no tipo de

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relação existente entre os professores e os alunos, expresso pela  falta de paciência dos atuais

docentes.

Como foi comentado anteriormente, algumas dessa diferenças parecem ser 

inerentes à transição entre a 4a e a 5a série do Ensino Fundamental, situação que vem sido

apontada por alguns autores (SILVA, 1992) como um período escolar muito complexo, tanto

 para alunos como para professores, o qual que pode vir a trazer conseqüências desastrosas,

como por exemplo, o aumento da evasão escolar.

Em contraposição, alguns alunos atribuíram as diferenças a supostas deficiências

das Classes de Aceleração, o que pode significar que não houve, por parte desses alunos, a

apropriação do conhecimento escolar adequada para que pudessem retomar as séries regulares

com segurança.

De modo geral, as dificuldades sentidas pelos alunos no decorrer das séries

regulares foram atribuídas à problemas de aprendizagem ou à falta de pré - requisitos para o

acompanhamento das disciplinas atuais. A esse respeito, acredita-se que seriam necessárias

novas investigações a fim de avaliar a verdadeira origem dessa falta de pré - requisitos, ou

seja, se estão relacionadas à problemas de aprendizagem individuais ou à deficiências

específicas das Classes de Aceleração em oferecer um ensino de qualidade a esses alunos.

  No tocante às dificuldades, os alunos apontaram com maior freqüência a

Matemática, seguido da Língua Portuguesa, História e Inglês, seja pela complexidade do

conteúdo específico ou pela falta de paciência do professor em ensiná-los. Também

atribuíram as suas dificuldades ao clima de trabalho existente nas séries atuais (barulheira,

 bagunça), que impediria a concentração e o raciocínio.

Deve-se ressaltar que os alunos, por meio das respostas fornecidas ao

questionário, sinalizaram claramente o que parece facilitar ou dificultar o seu aprendizado e

aproveitamento escolar, além de apontarem os conteúdos ou habilidades escolares que mais

valorizam, como por exemplo, a leitura.

A tradução de um projeto educacional de superação do fracasso escolar para

a prática docente

Com relação ao processo de tradução do projeto educacional de superação do

fracasso escolar para a prática docente, objetivo geral da pesquisa realizada, os resultados

obtidos permitem afirmar que, na situação investigada, ocorreram diferentes níveis de

tradução.

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Tomando-se como parâmetro básico para a tradução os pressupostos teórico -

metodológicos do projeto Classes de Aceleração, pode-se perceber a existência, por um lado,

de um nível de tradução mais aproximado e, por outro, um nível de tradução mais distanciado

da projeto para a prática docente.

Tal diferenciação nos níveis de tradução parece estar relacionada aos diferentes

momentos ou níveis de aprendizagem e desenvolvimento profissional em que as professoras e

especialistas educacionais se encontravam no decorrer do processo de implementação do

 projeto Classes de Aceleração.

Em uma das escolas pôde-se perceber que a tradução do projeto educacional para

a prática docente ocorreu de forma mais aproximada dos pressupostos teórico - metodológicos

do projeto de Aceleração, principalmente devido ao fato das professoras terem aderido e

adotado esses princípios básicos em suas práticas pedagógicas.

Assim, essas professoras, além de acreditarem na premissa de que “todo professor 

é capaz de ensinar e que todo aluno é capaz de aprender”, parecem ter acreditado na sua

capacidade em aprender a ensinar de uma maneira diferente.

  Nessa perspectiva, os resultados obtidos possibilitam que se teçam algumas

considerações específicas sobre o perfil pessoal e profissional das professoras consideradas

 bem - sucedidas por terem realizado uma tradução mais aproximada dos pressupostos do

 projeto para a prática pedagógica.

Em primeiro lugar, foi possível perceber que essas professoras acreditaram no

 projeto educacional e procuraram compreender os seus pressupostos teórico - metodológicos,

 buscando atuar de acordo com os mesmos, mas não se deixando prender em demasia às

amarras das prescrições e recomendações contidas em tal proposta.

Portanto, mesmo atuando de acordo com esses pressupostos, as professoras bem -

sucedidas não abriram mão dos conhecimentos originados em suas experiências profissionais

anteriores, nem de sua capacidade de improvisação. A respeito da improvisação,

PERRENOUD (1997) coloca que os professores improvisam na medida em que se deparam

com um problema ou uma situação imprevista, ambígua ou complexa, necessitando transpor,

diferenciar, ajustar os esquemas disponíveis ou coordená-los de uma maneira original.

Um outro aspecto a ser mencionado é que essas professoras parecem ter aceitado

com muita naturalidade os desafios impostos pelo trabalho, enfrentando os dilemas da prática

como oportunidades para crescerem profissionalmente.

A esse respeito, deve-se salientar que a busca por novos desafios e maior comprometimento profissional de professores remete a algumas das características indicadas

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 por COOPER (1982) como parte do estágio de diversificação da carreira docente (analisados

 por HUBERMAN, 1995).

A utilização dos conhecimentos adquiridos ao longo da trajetória profissional, a

capacidade de improvisação e a atitude positiva diante dos dilemas e desafios da prática,

 parecem reforçar a idéia de que essas professoras encontravam-se em um momento de

desenvolvimento profissional mais avançado do que as professoras que realizaram uma

tradução mais distanciada do projeto para a prática.

As professoras bem - sucedidas parecem ter compartilhado de uma visão crítica

sobre o fracasso escolar, não compactuando com a concepção de que o fracasso escolar é

causado por fatores individuais. Posicionaram-se contrariamente à discriminação e à exclusão

do aluno, atuando de forma a favorecer o processo de inclusão escolar, mas não se

comportando de maneira onipotente em relação às dificuldades dos alunos.

Dessa forma, pautaram a sua atuação em uma cultura escolar que valoriza o

sucesso do aluno e não naquela que perpetua uma concepção de ensino que sempre espera

 pelo fracasso. Na mesma perspectiva, foi possível perceber que a criação e a manutenção de

um bom vínculo afetivo com o grupo de alunos, expresso por gestos e palavras, foi uma

 preocupação constante das professoras bem - sucedidas, devido à crença de que a existência

desse vínculo positivo seria crucial para o sucesso do processo ensino - aprendizagem.

Também houve, por parte dessas professoras, a valorização do trabalho em equipe,

através de uma atuação colaborativa com as outras professoras de Classes de Aceleração e, até

mesmo, com as professoras de séries regulares.

Essas mesmas professoras também valorizaram o processo de formação

continuada oferecido no decorrer do projeto, o que foi expresso pelo envolvimento das

mesmas no momento das capacitações.

A análise dos dados indica ainda que, assim como a professora bem - sucedida do

estudo de SOUZA, VIÉGAS & BONADIO (1999), as professoras que já possuíam uma

  predileção pessoal pelo trabalho pedagógico junto a alunos com história de sucessivos

fracassos escolares, manifestaram uma atitude mais positiva em relação ao seu próprio

sucesso e ao de seus alunos no processo ensino - aprendizagem.

Entretanto, aquelas que, aparentemente, possuíam uma concepção mais

conservadora do fracasso não parecem ter modificado as suas crenças em relação ao fracasso

dos alunos as quais, ao contrário, podem ter sido reforçadas, mesmo após a experiência nas

Classes de Aceleração.

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Ambas as situações parecem confirmar a idéia de MARRERO (1986, citado por 

SADALLA, 1998) de que, assim como as crenças que os professores possuem sobre os alunos

influenciam as suas escolhas pedagógicas, as práticas cotidianas acabam por influenciar essas

mesmas crenças, o que possibilita ao professor elaborar e construir continuamente o seu

conhecimento prático e a sua visão pessoal e contextualizada sobre o ensino.

Concluindo-se o delineamento do perfil pessoal e profissional das professoras bem

- sucedidas, pode-se dizer que os aspectos identificados até o momento se incorporam à

definição de professor ideal para atuar no projeto Classes de Aceleração, na visão das

especialistas educacionais: um professor que seja pesquisador de sua própria prática, capaz de

acreditar e confiar no potencial de sucesso de seu trabalho.

Além disso, acredita-se que os dados revelam, de forma mais clara no caso das

  professoras bem - sucedidas no processo de tradução, que o sucesso não parece estar 

relacionado apenas aos fatores identificados até o momento, mas também no nível de

desenvolvimento profissional dessas professoras.

Dessa forma, o fato de ter cursado ou de estar cursando um curso de nível superior 

 parece indicar que possuem uma necessidade de formação continuada e de aprimoramento

 pessoal e profissional. Nessa perspectiva, tem-se o exemplo de uma das professoras que, na

época da coleta de dados, participava do processo de seleção para ingressar em um curso de

 pós - graduação strito sensu, em nível de mestrado.

 Não se pode considerar o perfil pessoal e profissional dessas professoras de forma

isolada, mas também como um produto da cultura escolar a que pertencem. Portanto, além da

dimensão pessoal do processo de tradução, deve-se compreender como a cultura escolar 

recebe as mudanças propostas e as traduz, de forma que as inovações se incorporem às

concepções e aos valores já existentes na instituição.

Segundo PATTO (1998), as escolas não podem ser consideradas tábulas rasas ou

 folhas em branco, onde as exigências e prescrições das políticas educacionais podem ser 

impostas com a garantia de que serão seguidas à risca. Ao serem traduzidas para as salas de

aula, as políticas educacionais muito provavelmente serão ressignificadas para poderem se

adequar às características das culturas escolares.

Ainda segundo PATTO, a tendência de muitas escolas públicas, depois de

décadas expostas a uma série de políticas e reformas educacionais, é possuir uma dinâmica

institucional perversa, a qual acaba por desvirtuar os reais objetivos da educação, atingindo

negativamente a todos os atores envolvidos no processo ensino - aprendizagem, principalmente, os alunos e suas famílias.

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Apesar das instituições escolares estarem há muito tempo descrentes quanto ao

 potencial das políticas educacionais públicas em transformar a realidade escolar, podem-se

ainda encontrar escolas onde os profissionais compartilham efetivamente do desejo de

melhorar a qualidade do ensino numa perspectiva ética e que buscam transpor essa intenção

 para a prática cotidiana, através de sua competência ou de seu talento artístico profissional,

expressão cunhada  por SCHÖN (2000) para se referir aos tipos de competência que os

 profissionais demostram em certas situações da prática que são únicas, incertas e conflituosas.

À guisa de conclusão e reflexão

A pesquisa realizada mostrou que a tradução das políticas ou projetos

educacionais de superação do fracasso escolar para a prática docente não é uma tarefa fácil,

 pois envolve desafios e apostas pessoais dos professores e a articulação de crenças que os

mesmos possuem sobre diversos aspectos da prática profissional (alunos, conteúdo curricular,

 processo ensino - aprendizagem) com os pressupostos contidos na proposta pedagógica dessas

 políticas, reforçando a idéia de não é possível esperar que os professores modifiquem as suas

 práticas apenas porque foi decretado que, a partir de um determinado momento, elas deveriam

ser modificadas.

Portanto, diante da complexidade do processo de tradução das políticas ou

 projetos de superação do fracasso escolar para a prática, não se pode acreditar que a simples

implementação das políticas irá garantir que essas sejam interpretadas e colocadas em prática

 pelo professor da maneira como são previstas pelos órgãos decisórios.

 Nesse processo de tradução têm-se, de um lado, os aspectos relacionados ao um

nível pessoal e específico do professor, como as suas crenças ou teorias pessoais, sua

formação acadêmica e trajetória profissional e, de outro, aspectos relacionados a um nível

institucional, como as concepções e valores que a cultura escolar possui sobre o processo

ensino - aprendizagem de alunos com história de fracasso escolar, o apoio dado ao trabalho

docente realizado com os alunos multirrepentes, o investimento que é feito na formação

continuada do corpo docente e a valorização do professor enquanto profissional.

Acredita-se que novas pesquisas sobre os efeitos das Classes de Aceleração

devam ser realizadas, pois apesar da impressão imediata que esse projeto possibilitou uma

melhoria no nível de auto - estima e de motivação dos alunos para aprender, é urgente

verificar como os alunos egressos estão se adaptando às séries regulares e se o conjunto de

conhecimentos, habilidades e valores adquiridos no decorrer de sua passagem por essas

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classes foi o suficiente para que venham a obter efetivo sucesso em suas vidas acadêmicas e

no exercício de sua cidadania.

Em outras palavras, apesar dos inegáveis benefícios trazidos pelas Classes de

Aceleração para os professores e os alunos participantes, especialmente no que diz respeito às

condições de trabalho pedagógico (as quais, na opinião das autoras, deveriam ser a regra em

todas as salas de aula) e à adoção de uma concepção de fracasso escolar que procura não

culpabilizar o aluno, é necessário que se investigue mais profundamente em que medida o

  projeto Classes de Aceleração efetivamente contribuiu para que os alunos que delas

 participaram se apropriassem dos conteúdos escolares.

A preocupação com a realização desse tipo de pesquisas advém do fato de que,

em linhas gerais, o projeto Reorganização da Trajetória Escolar no Ensino Fundamental -

Classes de Aceleração, enquanto projeto educacional, teve como objetivo maior a correção do

fluxo escolar o que, certamente, implica a alteração das estatísticas e indicadores educacionais

mas, não necessariamente, propicia o oferecimento de um ensino de qualidade ou subsidia a

realização de mudanças estruturais no sistema educacional que venham contribuir para a real

superação do fracasso escolar neste País.

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