46
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO CENTRO MULTIDISCIPLINAR DE ANGICOS CMA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS CURSO DE BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL CLEITON MEDEIROS DE ARAÚJO CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE CASO DA PONTE DA PEDRA LAVRADA ANGICOS-RN 2020

CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO CENTRO MULTIDISCIPLINAR DE ANGICOS – CMA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS

CURSO DE BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL

CLEITON MEDEIROS DE ARAÚJO

CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO

DE CASO DA PONTE DA PEDRA LAVRADA

ANGICOS-RN

2020

Page 2: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

CLEITON MEDEIROS DE ARAÚJO

CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO

DE CASO DA PONTE DA PEDRA LAVRADA

Monografia apresentada ao

Departamento de Engenharias da

Universidade Federal Rural do Semi-

Árido, campus Angicos, para obtenção do

título de Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Prof(a) Ma. Janaina Salustio

da Silva

ANGICOS-RN

2019

Page 3: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …
Page 4: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

CLEITON MEDEIROS DE ARAÚJO

Page 5: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

Dedico esse trabalho a meu anjo da

guarda, que ao lado de Deus, cuida de

minha vida e me acompanha em minha

caminhada, minha saudosa mãe, Maria

Neli.

Page 6: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por sempre me dar forças durante toda minha jornada na UFERSA,

mesmo nos momentos mais difíceis, me deu confiança e nunca me deixou desistir.

A minha mãe, Maria Neli, por sempre está presente em meus pensamentos, à forma e

conforto que me passa, mesmo depois de tantos anos de sua partida, é simplesmente

divino e inexplicável.

Ao meu pai, Jose Alves, pelas lições e conselhos, não só em meu período de graduação,

mas em toda minha vida.

Agradeço ao meu irmão, Clécio Medeiros, por sempre poder contar com você, agradeço

aos meus irmãos, Clebson, Cleomar e Douglas, e as minhas irmãs Nubia e Nívea, minha

família sempre vai ser o que tenho de mais precioso.

A verdadeiros mentores, que Deus colocou em minha vida, Rita Alves minha saudosa tia

e segunda mãe, Fatima Melo pelos puxões de orelha quando mereci e por sempre confiar

em mim, a Maria Da Paz por sempre ser exemplo de dedicação e simplicidade, A Priscila

Melo por me mostrar o quanto posso ser forte.

Agradeço a minha orientadora, Janaina Salustio, pela paciência e compreensão com

minhas falhas, não só durante a realização desse trabalho, mas em todas as disciplinas

onde tive o prazer de ser seu aluno.

Agradeço a essa instituição, UFERSA Campus Angicos, por ter me recebido como um

membro de sua bela comunidade, sou UFERSA hoje e serei pelo resto de meus dias e

tenho um orgulho enorme de poder falar isso, agradeço a cada um que faz parte dessa

universidade, alunos, a Adna Lúcia e em seu nome a todo corpo técnico, aos terceirizados,

motoristas e as meninas da limpeza, tenho um carinho enorme por cada um de vocês.

Agradeço ao professor Edcarlos Leite e em seu nome a todos os professores, hoje deixam

de serem meus mestres de sala de aula, mas serão para sempre meus amigos.

Por fim, agradeço a todos os meus amigos, sempre foram minha válvula de escape, em

especial a Alexandre Brito, Ciro Igor, Kenny Araújo, Moacir, Rodrigo, Paulo Junior,

Pedro Candido, Sirleno, Dhiêgo Abenner e Socorro do Potencia.

Page 7: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

RESUMO

A história de uma civilização ou comunidade não está limitada a ser transmitida apenas

em livros ou relatos, o patrimônio arquitetônico histórico de uma região relata fielmente

a cultura de seus antepassados, e como uma herança com valores emocionais e econômica

que perpetua entre as gerações. As argamassas de revestimento desses patrimônios têm a

importante missão de proteger suas estruturas da agressividade do meio e, com isso,

normalmente, são as primeiras a sofrerem deterioração. Diante disso, o presente trabalho

tem como objetivo caracterizar as argamassas da Ponte da Pedra Lavrada, situada no

município de Jardim do Seridó, no interior do Rio Grande do Norte, sendo o mais

importante ponto turístico da cidade. Foram feitas coletas de amostras dessas argamassas

e realizado ensaios laboratoriais para reconstituição do traço, análise granulométrica e

taxa de absorção. Os resultados obtidos revelaram uma proporção de 1:8 na relação

aglomerante a base de cal e demais constituintes e taxas de absorção relativamente

pequenas, sugerindo que na argamassa contenha outro tipo de aglomerante ou material

com características de pozolanicidade.

Palavras chave: Patrimônio arquitetônico. Revestimento. Ataque químico.

Reconstituição do traço.

Sumário

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 13

Page 8: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

2. OBJETIVOS ............................................................................................................. 15

2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 15

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS. .............................................................................. 15

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................... 16

3.1 HISTÓRICO DA PONTE DA PEDRA LAVADA ............................................. 16

3.2 A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO. .. 19

3.3 SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS ARGAMASSAS. ....................................... 19

3.4 PRINCIPAIS FUNÇÕES DAS ARGAMASSAS DE REVESTIMENTO .......... 21

3.5 IMPORTÂNCIA DA CARACTERIZAÇÃO DAS ARGAMASSAS

HISTÓRICAS ............................................................................................................. 23

3.5.1 MÉTODOS PARA A CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSA HISTÓRICA

.................................................................................................................................... 24

3.6 INTERVENÇÕES EM EDIFICAÇÕES ANTIGAS ........................................... 27

4. METODOLOGIA ..................................................................................................... 30

4.1 ANÁLISE VISUAL DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA PONTE DA

PEDRA LAVRADA .................................................................................................. 31

4.2 COLETA E PREPARO DAS AMOSTRAS ........................................................ 32

4.3 ATAQUE ÁCIDO/ ANALISE QUÍMICA .......................................................... 34

4.4. ANÁLISE GRANULOMÉTRICA...................................................................... 36

4.5. ENSAIO DE ABSORÇÃO ................................................................................. 37

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 37

5.1 CARACTERIZAÇÃO DAS ARGAMASSAS HISTÓRICAS DA PONTE DA

PEDRA LAVRADA .................................................................................................. 38

5.1.1 ANÁLISE VISUAL .......................................................................................... 38

5.1.2 ANÁLISE QUÍMICA POR MEIO DE ATAQUE ÁCIDO .............................. 40

5.1.3 ENSAIO DE GRANULOMETRIA .................................................................. 40

5.1.4 ENSAIO DE ABSORÇÃO ............................................................................... 43

6. CONSIDERAÇÕES FI NAIS .................................................................................. 45

Page 9: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 46

Page 10: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

13

1. INTRODUÇÃO

Na maioria dos pontos turísticos do mundo o patrimônio histórico arquitetônico

se destaca e chama a atenção dos visitantes, são os prédios ou as construções que trazem

pistas sobre a economia, hábitos de vida e cultura de cada civilização. Alguns autores

comparam esse novo tipo de turismo com os pacotes de “turismo de massa dos anos

sessenta e setenta, de praia, coqueiros e sol” (APOSTOLAKIS, 2003).

Na visão de alguns historiadores como Jacques Le Goff (1990), Michael Pollak

(1989) e (1992) e Pedro Paulo Funari (2009), A importância da preservação do patrimônio

histórico pode ser associada à memória coletiva e individual, pois é através da memória

que nos orientamos para compreender o passado, o comportamento de um determinado

grupo social, cidade e nação.

As argamassas de revestimento, presentes na grande maioria dessas edificações,

como é o caso da Ponte em questão, tem a função de criar uma camada superficial que

reveste e protege os paramentos, realizando um acabamento regular e garantindo as

funções higiênicas, estéticas e de proteção ao ambiente. Em geral, os requisitos da

argamassa são diferentes para os rebocos externos e os internos. Para os revestimentos

externos é preponderante a função protetora, embora continue significativa a função

decorativa. Para a formação dos rebocos para exterior, preferem-se cimento e/ou cal

hidráulica como ligante, pelo menos nas primeiras camadas do reboco. (BERTOLINI,

2010).

As argamassas à base apenas de cal aérea, graças às propriedades de baixa

absorção e de rápida restituição da agua, são às vezes utilizadas para a formação de

argamassas para exteriores; é muito importante garantir que a área permaneça seca nos

primeiros meses depois da colocação, (BERTOLINE, 2010).

Entender as edificações históricas significa também compreender materiais que

perduram durante décadas e como os novos materiais de reconstrução se comportam nas

obras, é o passo inicial para as intervenções de conservação e restauração terem sucesso

(KANAN, 2008). A busca de uma boa compatibilidade dos materiais novos com o

substrato antigo torna o estudo das argamassas antigas de suma importância para a

engenharia, já que essas construções são à base da cultura das civilizações modernas, e

buscar a sua preservação é tão quanto importante como investir em novas estruturas.

Page 11: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

14

Sendo assim, a busca pela preservação do patrimônio cultural nacional deve ser

elaborada de forma sistemática para não correr o risco de perder a sua identidade histórica

e cultural (SOUSA, 2014).

Depois da exposição desses fatos, o presente trabalho tem como objeto de estudo

a ponte da Pedra Lavrada, situada no município de Jardim do Seridó RN, sendo o mais

importante ponto turístico da cidade seridoense. É fundamental saber quais foram às

propriedades das argamassas utilizadas em sua construção, proporção agregados e

aglomerantes de suas argamassas, como foi dado seu processo construtivo e as técnicas

construtivas utilizadas. Bem como avaliar qual a maneira mais adequada de fazer uma

restauração em suas estruturas sem perder suas propriedades originais.

Tais questionamentos listados no texto, são necessários a serem respondidos para

que assim possibilite a viabilização de uma restauração com sua devida importância,

através da caracterização dos materiais utilizados na construção, que no caso do trabalho

proposto, as argamassas de reboco.

Page 12: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

15

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

O estudo tem como pretensão a caracterizar os materiais utilizados na confecção

da argamassa da ponte da Pedra Lavrada.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.

Realizar uma análise visual das amostras de argamassas, analisando sua

coloração, textura e resistência a pressão dos dedos;

Realizar uma reconstituição do traço empregado na produção da

argamassa do revestimento por meio da técnica de ataque químico com

ácido clorídrico;

Caracterizar o agregado utilizado por meio de análise granulométrica;

Analisar os índices de absorção das argamassas usadas;

Page 13: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

16

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 HISTÓRICO DA PONTE DA PEDRA LAVADA

A Ponte da Pedra Lavrada (Ponte de Zé de Bastos) é uma estrutura construída a

cerca de 4 km da cidade de Jardim do Seridó. Teve sua construção iniciada no ano de

1924, para solucionar o problema das grandes enchentes. A cidade de Jardim fica entre

os rios Seridó e Cobra, os primeiros anos da década de vinte foram de grandes invernos,

fazendo esses dois rios transbordarem deixando a cidade ilhada. Tal fato atrapalhava o

escoamento do algodão da região para a cidade de Campina Grande na Paraíba, principal

cultivo e renda comercial daquela época no Seridó (AZEVEDO, 1988).

Foi então que surgiu a necessidade de se construir a ponte. A ponte ligava o

município seridoense à cidade paraibana de Santa Luzia, e foi construída nas terras do Sr.

Chico Seráfio na gestão do senhor prefeito Heráclio Pires. A obra ficou estimada em 60

contos de réis, equivalente a sete milhões de reais aproximadamente, sendo trinta contos

por parte do município, que assumiu a responsabilidade pela mão de obra, e trinta contos

por parte do estado, que foi utilizado para compra de materiais destinados a construção.

A ponte de Zé de Bastos, como é conhecida, foi um empreendimento que utilizou um

minucioso trabalho de engenharia e um grande numero de operários, devido a sua

dimensão e material utilizado, já que sua estrutura é toda de cimento armado e aço.

(AZEVEDO, 1988)

A Figura 1, é de uma fotografia tirada logo após sua construção.

Figura 1: Ponte da Pedra Lavrada

Fonte: Acervo José Modesto, (1927).

Page 14: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

17

No dia 26 de agosto 2019, o Ministério do Turismo, divulgou no Diário Oficial da

União (DOU), O Novo Mapa do Turismo Brasileiro 2019-2021. Totalizando 2.694

cidades de 333 regiões turísticas do país que, foram validadas e incluídas na atualização

da plataforma. Treze municípios potiguares passaram a fazer parte desse seleto mapa,

entre eles, a cidade de Jardim do Seridó, que tem como seu principal ponto turístico a

Ponte da Pedra Lavrada, já muito visitada e conhecida na região. À tendência é que depois

dessa inclusão, o número de visitantes, passe a crescer gradativamente todos os anos

(PORTAL B2B, 2019).

Nas Figuras 2 e 3, podemos ver toda a exuberância da ponte em tempos de cheias.

Fonte: Openbrasil (2016).

Fonte: Openbrasil (2016)

Figura 2: Ponte da Pedra Lavrada, vista de frente.

Figura 3: Ponte da Pedra Lavrada, vista aérea.

Page 15: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

18

O atual estado da ponte é preocupante, são varias as manifestações patológicas em

sua estrutura. Devido sua importância, principalmente no momento que a cidade de

Jardim ganha destaque nacional no âmbito do turismo. É extremamente necessária uma

reforma na ponte, e essa, tem quer ser feita de tal maneira que mantenha suas

características históricas. Esse fato viabiliza esse trabalho além de torná-lo de grande

relevância econômica para aquele município.

Nas imagens a seguir (Figuras 4 e 5), podemos ver o real estado da ponte nos dias

de hoje.

Figura 4: Poças de água em cima da Ponte da Pedra Lavrada

Fonte: Autoria própria (2019).

Figura 5: Desplacamento na estrutura da Ponte da Pedra Lavrada

Fonte: Autoria Própria (2019).

Page 16: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

19

3.2 A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO.

O patrimônio histórico representa os bens materiais ou naturais que possuem

importância na história de determinada sociedade ou comunidade. Em sua maioria, tem

relevante importância para a economia de suas localidades por serem pontos turísticos

(CHOAY, 2001).

Pode ser qualquer edificação que represente parte da história local de uma cidade

ou município. A primeira coisa que se destaca quando se faz uma visita a algum lugar,

são os prédios históricos ou as construções que de alguma forma representem ou trazem

em suas características pistas sobre a história da localidade visitada e de seus habitantes.

Quando se falava em preservação de patrimônio histórico, somos direcionados a um

conceito e indenidade, segundo o historiador francês Jacques Le Goff (1990), a memória

acaba por estabelecer um vinculo entre as gerações humanas e o tempo histórico que as

acompanha.

Segundo o site do conselho de Arquitetura do Brasil (2016), pode-se dizer que

Patrimônio é o conjunto de bens materiais e/ou imateriais que contam a história de um

povo e sua relação com o meio ambiente. É o legado que se herda do passado e que

transmitimos a gerações futuras. O Patrimônio pode ser classificado em Histórico,

Cultural e Ambiental. Hoje há uma preocupação mundial em preservá-los, através de leis

de proteção e restaurações que possibilitam a manutenção das características originais.

A importância da preservação desse patrimônio histórico se dá porque esses bens

foram ao longo do tempo construídos ou desenvolvidos pelas sociedades. Estão

intimamente relacionados com a identidade do local e representam uma importante fonte

de pesquisa atual. Através do patrimônio histórico pode-se, portanto, conhecer a história

e tudo que a envolve. Por exemplo, a arte, as tradições, os saberes e a cultura de

determinado povo (FUNARI, 2009).

3.3 SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS ARGAMASSAS.

Page 17: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

20

Segundo a norma a NBR 13281(2005), argamassa é uma mistura de cimento,

agregado miúdo (areias naturais ou de britagem) e água, podendo ainda ser constituídas

por polímeros.

As argamassas acompanham a evolução humana das primeiras civilizações, citado

como um dos materiais mais antigos do mundo, a cal provavelmente só não teria sido

utilizada antes pela pedra, barro, terra e madeira. As primeiras utilizações de argamassas

de cal desde vem desde a descoberta do fogo, portanto desde o Paleolítico, segundo

(MALINOWISKY, 1991).

O trabalho com argamassas e o conhecimento de seu poder construtivo, espalha-se

pelo mundo antigo e por varias civilizações. Indícios arqueológicos apontam para a

utilização da cal em algumas zonas da atual Turquia que remontam a um período entre

12000 a 5000 a.C (Miller, 1999; Elsen,2006). Boynton (1980) e Zacharopoulou (1998),

referem casos concretos de utilização da cal que datam de 4000 a.C.. A presença de cal

em revestimentos presentes nas câmaras e nas juntas de blocos calcários em algumas

pirâmides egípcias aponta também para a sua utilização e para o conhecimento do sua

fabricação (COWAN, 1977).

Vitrúvio elogia na sua conhecida obra “Tratado de Arquitetura” as argamassas feitas

pelos Gregos: “nem a água as dissolvia, nem as ondas as quebravam” (ALVAREZ, 2007).

As primeiras grandes aplicações da cal, no atual conceito de geotécnica, remontam à

civilização Romana, nomeadamente com o objetivo de estabilizar os terrenos sobre os

quais se aplicaria um ligante de fixação das lajes às plataformas por onde passavam

algumas das suas vias(COELHO et al, 2009).

No desenvolvimento dos ligantes, o uso de certas rochas vulcânicas que eram

adicionadas à argamassa, permitiu a descoberta que aquelas lhe conferiam propriedades

hidráulicas. Vitrúvio (séc. I a. C.) e Plínio (séc. I d. C.) atestaram, na sua altura, a

utilização de argamassas com aquelas características. A atividade vulcânica do Vesúvio

contribuiu fortemente para a utilização de pozolanas naturais para a fabricação de

argamassas romanas. Contudo os Romanos já conheciam a influência das pozolanas

artificiais, não estando por isso as suas obras condicionadas à abundância local de

pozolanas naturais. Vitrúvio refere a este propósito: “a utilização de cerâmica cozida em

forno, moída e passada em crivo”, no sentido da obtenção de argamassas resistentes e

duráveis (MARGALHA, 2008; COELHO et al., 2009).

Page 18: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

21

Com o fim do Império Romano e durante a Idade Média o uso de argamassas à base

de cal espalhou-se pelo mundo. Com o domínio árabe na Península Ibérica assistiu-se à

introdução de argamassas à base de gesso, o que permitiu, em conjunto com a cal, reduzir

a retração associada à cal e aumentar o baixo tempo de presa associada ao gesso. Também

eram utilizados nas argamassas aditivos à base de gorduras animais e vegetais

(ALVAREZ et al., 2005)

A necessidade de construir em espaços próximos ao mar e em ambientes fluviais

promoveu várias experiências realizadas por diversos pesquisadores que resultaram na

descoberta de novos ligantes hidráulicos. No séc. XVIII, o engenheiro britânico John

Smeaton (1756-1790), responsável pela construção de uma estrutura sólida para o Farol

Eddystone na costa da Cornualha, em Inglaterra, desenvolveu inúmeras experiências com

argamassas em água doce e salgada, tendo descoberto um cimento à base de calcário, que,

com uma determinada proporção de argila, endurecia debaixo de água. Na verdade não

passava de uma argamassa romana melhorada. Seguiu-se Parker (1796), que fabricou um

produto obtido pela cozedura a temperatura moderada de cais provenientes de calcários

com elevado teor em argila, muito ricas em sílica e alumina (TÉBAR, 1998). No entanto,

o desconhecimento das causas de hidraulicidade das argamassas perdurou até ao séc.

XIX.

Em 1830, o inglês Joseph Aspdin regista a patente do processo de fabrico de um

ligante hidráulica intitulada “uma melhoria nos modos de produção de uma pedra

artificial”, cujo método consistia em juntar proporções bem definidas de calcário e argila,

efetuando a sua cozedura a temperaturas elevadas. A este material chamou-se cimento

Portland. O nome deriva da ilha britânica de Portland, cujas rochas apresentavam uma

coloração semelhante ao produto resultante depois de moído (COELHO et al., 2009).

3.4 PRINCIPAIS FUNÇÕES DAS ARGAMASSAS DE REVESTIMENTO

As argamassas têm funções primordiais nas edificações, é uma parte fundamental

das construções, tanto na proteção como na arquitetura das obras. As argamassas a base

de cal possuem boa plasticidade, elasticidade e condições favoráveis de endurecimento,

além da facilitar o acabamento, dando condições para que fique plano e regular

(FIORITO, 1994).

Page 19: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

22

De acordo com o manual do revestimento, desenvolvido pela comunidade da

construção, a argamassa de revestimento pode ser entendida como a proteção de uma

superfície porosa com uma ou mais camadas superpostas, com espessura normalmente

uniforme, resultando em uma superfície apta a receber de maneira adequada uma

decoração final (ABCP, 2005).

Dentro das argamassas de revestimento existe o chapisco, que é uma argamassa

com consistência mole e aplicada energicamente sobre paredes de alvenaria ou rolado nas

faces de pilares, para melhorar a aderência da alvenaria com a parede erguida depois.

Após a aplicação de chapisco, a argamassa seguinte é o emboço. Ele é mais consistente e

dá o formato da parede, devidamente em plano vertical, com o uso de taliscas, mestras e

o preenchimento. Se não há revestimento cerâmico a aplicar, ainda há a camada de

argamassa, aplicada após o emboço, chamada reboco, que corrige as imperfeições. A

rugosidade do emboço só é útil para aderir a argamassa colante e ancorar as peças

cerâmicas, se elas forem usadas (FIORITO, 1994). Suas principais funções são:

Proteger os elementos de vedação da edificação da ação direta dos

agentes agressivos;

Auxiliar das vedações nas suas funções de isolamento térmico e

acústico, estanqueidade à água e gases;

Regularizar a superfície dos elementos de vedação, servindo de

base regular para outro revestimento ou constituir-se no acabamento final;

Contribuir para a estética de vedações e fachadas.

No que diz respeito às argamassas históricas, elas desempenham um papel ainda

maior, pois além das funções anteriormente citadas, elas também desempenham um papel

fundamental de proteção, uma vez que a argamassa acaba por sofrer deterioração perante

a estrutura, atuando assim como uma camada de proteção a mesma, que se sacrifica em

detrimento da alvenaria. As argamassas também são responsáveis por atenuar inúmeras

solicitações impostas pelo meio à edificação, como por exemplo, o ataque da umidade a

alvenaria, o que seria extremamente prejudicial em virtude da mesma possuir uma alta

taxa de porosidade, o que causaria sua deterioração e desagregação com o tempo

(KANAN, 2008).

Page 20: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

23

3.5 IMPORTÂNCIA DA CARACTERIZAÇÃO DAS ARGAMASSAS HISTÓRICAS

É cada vez mais forte a preocupação com a preservação e recuperação de

construções antigas, um fenômeno recente na historia brasileira, mas em países europeus

como Portugal e Espanha, por exemplo, já vem de muitos anos esse cuidado com a

historia arquitetônica das civilizações passadas (CHOAY2001).

Segundo Souza (2014), o estudo da caracterização das argamassas antigas,

começou a ganhar importância quando a necessidade de preservação do patrimônio

cultural que essas edificações representam começou a ganhar importância, já que para

uma intervenção benéfica na edificação é preciso o conhecimento profundo dos materiais

em sua composição.

Preservar e conservar o patrimônio construído, é permitir que as gerações futuras

possam aproveitar da diversidade cultural. Visto isso, o conhecimento quanto aos

materiais e técnicas tradicionais utilizadas é uma questão importante para que se

obtenham um critério de seleção (MENEZES, 2019).

Com isso, vem à importância da caracterização das argamassas históricas, já que

além de suas funções químicas e físicas na conservação das construções, tem grande

importância também na estética, e quando se fala em restauração, o conhecimento dos

materiais utilizados na sua confecção é de grande relevância. Essa caracterização também

nos permite a avaliação do estado de degradação da argamassa e a elaboração de uma

argamassa de reparo compatível, produção só se torna possível com o conhecimento dos

agregados e do aglomerante, (FIORITO, 1994).

A caracterização também é responsável por fornecer informações importantes, as

tecnologias de construção utilizadas no passado, características dos materiais e as fases

de construção, questões de procedência, avaliação do traço (relação

aglomerante/agregado), entre outros aspectos que podem ser identificados (MENEZES,

2019). Além disso, é preciso compreender também toda a composição e mineralogia, a

textura, a microestrutura e a distribuição do tamanho dos grãos, para chegar a um produto

final.

As argamassas passam por transformações no decorrer do tempo dificultando o

processo de caracterização, é uma espécie de evolução dos materiais, principalmente no

que diz respeito ao seu processo de cristalização, deterioração e recristalização, sofrendo

Page 21: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

24

assim um desgaste e a deterioração dos seus componentes, o que torna mais difícil

determinar, o aglomerante utilizado (GODINHO, 2014).

Por isso sua caracterização é feita por um conjunto de testes, começando por

observação a olho nu e chegando a ensaios como difração de raios-X, análise

termogravimétrica, microscopia óptica e eletrônica de varredura, análise química e física,

absorção, entre outros (MENEZES, 2019).

3.5.1 MÉTODOS PARA A CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSA HISTÓRICA

Com o efeito do tempo e das intempéries as construções sofrem degradações. Isso

ocorre principalmente nas que não são mais utilizadas por algum motivo, mas a

importância cultural e histórica dessas edificações só aumenta ao passar dos anos,

preserva-las e fazer intervenções reparatórias significa resguardar uma parte da historia

das civilizações e entender o processo da evolução humana em determinada região. São

muitos os monumentos espalhados pelo mundo, alguns com milhares de anos de sua

construção, que são importantes historicamente e economicamente para o local onde

foram construídas, podemos citar como exemplos as Pirâmides do Egito e a muralha da

China (CHOAY, 2006).

Para que essas intervenções sejam feitas de maneira correta e sem causar danos às

configurações originais das construções antigas, é preciso conhecer não só os materiais

utilizados, mas como as técnicas construtivas implementadas nessas edificações, por isso,

foram desenvolvidos inúmeros meios de caracterizar as argamassas históricas, a fim de

conhecer suas estruturas físicas e químicas, para melhor preservação e reparo sem que as

mesmas percam suas características originais, (KANAN, 2008).

Fazer uma inspeção visual na argamassa estudada é o primeiro passo, essa

inspeção pode ser visual ou com a utilização de instrumentos simples, como lupa, a fim

de buscar informações complementares referentes às amostras. Essa etapa serve para uma

avaliação preliminar da conservação e origem das argamassas da edificação analisada

(MENEZES, 2019; KANAN, 2008).

A próxima etapa é mais trabalhosa e importante, se dá por meio de uma análise

mais detalhada da amostra para determinar suas características físicas, microestrutura,

Page 22: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

25

distribuição dos poros, características mineralógicas e químicas com a identificação dos

componentes da argamassa para assim obter resultados completos (KANAN, 2008).

Um conjunto de ensaios é utilizado para melhor caracterizar as argamassas, são

ensaios produzidos em laboratório e por isso precisa da extração de amostras da

edificação estudada, são eles:

I- Análise através da observação no Microscópio Ótico (MO): sua finalidade

detectar fibras de materiais, camadas diferentes e aspecto do agregado.

II- Difração de Raios – X (DRX): determinação das fases cristalinas.

III- Análise térmica termogravimétrica (TG), e térmica diferencial (DTG e DTA),

para determinar o tipo e teor da cal por Fluorescência de raio- x.

IV- Análise química, ataque ácido em ácido clorídrico (HCl): responsável por

determinar o teor de areia e a reconstituição do traço. É uma das análises mais

utilizadas devido a sua facilidade, tem como objetivo a determinação das

proporções dos componentes da argamassa, agregado e aglomerante. A amostra

de argamassa é submetida a uma solução ácida, com isso transforma-se em duas

soluções, uma solúvel o aglomerante e outra insolúvel que são os agregados, dessa

forma, é possível descobrir a relação dos materiais (MOTTA, 2004).

V- Microscopia eletrônica de varredura (MEV): atrelado com EDS para verificar

a estrutura dos constituintes e detectar processos de deterioração microestruturas;

VI- Espectroscopia no infravermelho: para reconhecer compostos de natureza

orgânica;

VII- Distribuição granulométrica da areia para conhecer sua granulometria: essa

análise granulométrica dos agregados proporciona a distribuição das partículas de

uma amostra pelos respectivos tamanhos dos grãos, podendo-se medir as frações

equivalentes a cada tamanho. A análise de suas dimensões permite deduzir sobre

algumas de suas características, como a sua origem, o transporte, resistência das

partículas e sua composição (DIAS, 2004).

VIII- Análise de Absorção de água por imersão: regido pela NBR 9778, esse

ensaio busca determinar a absorção de água pela argamassa, determina também o

índice de vazios e massa específica, que tem por finalidade descobrir a quantidade

de água que será absorvida pelas amostras por meio de seus poros.(ABNT, 2005).

Page 23: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

26

A análise química, mesmo sendo um método muito utilizado, tem suas

desvantagens. Kanan (2008), afirma que uma das desvantagens do método é que todo

carbonato presente na amostra é dissolvido com o ataque ácido e na formação de alguns

agregados pode-se conter uma parcela solúvel, por exemplos os que possuem conchas,

assim podendo influenciar no resultado. A solução de ácido clorídrico HCl a 14% dissolve

o carbonato de cálcio ou magnésio (CaCO3 ou MgCaO3) presentes na argamassa deixando

apenas o agregado, parte insolúvel, quando o HCl entra em contato com o CaCO3 reage

liberando CaCl2CO2 e água, já o agregado permanece integro. A proporção do agregado

e aglomerante é definida através da diferença entre a massa inicial e a massa final da

amostra mais os finos (ALMEIDA, 2019).

Já a análise da distribuição granulométrica, segundo Godinho (2014), se apresenta

como uma importante análise e, por isso, é muito utilizada na caracterização de

argamassas históricas e em obras de restauro. O fato de se utilizar mais essa técnica é

devido à capacidade de oferecer diversas informações acerca dos agregados como

percentual dos diâmetros dos grãos na distribuição analítica dos agregados.

É um método considerado simples, mas a existência de vários métodos pode ser

um problema na escolha de qual deles utilizar, outra preocupação é a quantidade da

amostra a ser ensaiada, deve-se considerar o número das partículas ou o peso. Essa

quantidade de material pode influenciar nos estudos de argamassas antigas porque há uma

limitação quanto a quantidade de material ser a mínima possível, devido a extração das

amostras em edificações antigas serem limitadas delas (DIAS, 2004).

Com relação a método que analisa a taxa de absorção, o mesmo é importante

porque influencia o desempenho efetivo dos constituintes que a compõem que podem

interferir nas condições de aplicação, influenciando também quanto à escolha da

argamassa buscando facilitar a aplicação e garantindo mais durabilidade do material

(RODRIGUES, 2004).

A boa capacidade de absorção de agua por parte da cal viabiliza a realização desse

ensaio em argamassas antigas. Segundo Rodrigues (2013), essa grande capacidade de

retenção de água das argamassas, concentra um aumento no volume de agua em seu

interior, podendo interferir na sua resistência as tensões que forem submetidas.

Page 24: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

27

3.6 INTERVENÇÕES EM EDIFICAÇÕES ANTIGAS

As intervenções em edificações antigas tem configuração diferente das

tradicionais, pois além da buscar a recuperação de um patrimônio histórico, precisam

atender especificamente algumas solicitações baseadas em um tripé, os valores sociais,

ambientais e econômicos (SILVA, 2017).

Essas intervenções só são viáveis de serem realizadas em casos que sejam a ultima

opção, buscar a preservação e a manutenção dessas edificações sempre é primordial para

garantir que mantenham suas características construtivas intactas, por isso, é importante

o conhecimento de todo e qualquer material e técnicas construtivas utilizadas. Em relação

as argamassa, é primordial o conhecimento profundo de suas propriedades físicas e

químicas, para que posse ser produzida e utilizada uma argamassa com as mesmas

características (KANAN, 2008).

O grau de intervenção depende diretamente das condições de degradação que as

argamassas se encontram, o Quadro 1 mostra critérios gerais para cada uma delas

Quadro 1: Critérios gerais de para intervenção

Page 25: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

28

Fonte: Fonseca (2016).

O cuidado para manter o máximo do revestimento original tem que ser prioridade

nessas intervenções, sendo feita a reposição apenas em locais que a argamassa já tenha

perdido suas propriedades e não consiga exercer suas funções, devendo buscar sempre

reparos pontuais e de consolidação. Se for preciso a substituição completo ou parcial

dessa argamassa, e importante que a de substituição mantenha as características da antiga

a fim de evitar possíveis patologias, (VENEZA, 1964).

Alguns fatores são importantes e tem que ser levados em conta na elaboração das

argamassas utilizadas nessas edificações, buscando a adaptação para cada tipo de

edificação e situação que serão submetidas, a época de construção, clima da região e

exposição à intempereis mais agressivas e mão de obra qualificada são alguns desses

fatores (BRANDI, (2004).

É através da análise no local e ensaios laboratoriais, que é possível determinar as

características das argamassas antigas e viabilizar a confecção da nova argamassa

Page 26: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

29

utilizada na restauração. Ensaio em amostras desenvolvidas em laboratório permite se

conhecer as propriedades e o comportamento da argamassa, proporcionando a produção

de uma argamassa para intervenções com características similares a argamassa original

(KANAN, 2008).

Vale ressaltar que todos esses cuidados devem ser considerados para que se tenha

uma intervenção eficaz e de sucesso, ainda é comum a utilização de argamassas em

restauração sem as devidas analises cientificas, o cuidado e o conhecimento são

primordiais quando o assunto é patrimônio histórico e cultural e essas intervenções devem

ser cada vez mais elaboradas (DELPHIM, 1999).

Page 27: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

30

4. METODOLOGIA

Objetivando realizar a caracterização de argamassas históricas, procurou-se

encontrar uma edificação que atendesse as exigências desse tipo de trabalho. Nesse

sentido, foi decidido que a ponte da Pedra Lavada seria uma ótima escolha uma vez que,

além de sua relevância histórica, ela também tem importante relevância econômica para

o município de Jardim do Seridó, em razão de seu potencial turístico.

Escolhido o tipo de edificação, a presente pesquisa visa caracterizar a argamassa

da Ponte da Pedra Lavrada, identificar as configurações de seus agregados e

aglomerantes, assim como mensurar o traço utilizado, para isso, a pesquisa foi

desenvolvida em duas etapas importantes.

A primeira foi uma visita no local para avaliar o estado de conservação da ponte

devidamente registrado em fotografias digitais, nessa etapa também foram recolhidas

amostras dessas argamassas presentes no revestimento dos pilares, base do pilar, arco e

passeio.

A segunda etapa consistiu da parte laboratorial que, com o intuito de caracterizar

as amostras de argamassas, foram feitos analise visual, ensaio de ataque ácido,

granulometria dos agregados e absorção de agua por imersão das amostras de argamassa.

O laboratório utilizado para a realização dos ensaios foi o laboratório de materiais de

construção civil da UFERSA – Campus Angicos.

Todos os ensaios foram realizados seguindo as orientações normativas vigentes.

Foram observadas a NBR NM 248/03 - agregados – determinação da composição

granulométrica e a NBR 9778/05 - argamassa e concreto endurecidos – determinação da

absorção de água índice de vazios e massa específica. Para realização do ataque ácido não

existe procedimento normativo, tendo sido utilizada orientações contidas em outros

trabalhos que já se utilizaram da técnica (ABNT, 2005).

A Figura 6 trás um fluxograma ilustrando as etapas realizadas para execução do

trabalho.

Page 28: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

31

Figura 6: Fluxograma da metodologia de pesquisa

Fonte: Autoria própria (2020)

4.1 ANÁLISE VISUAL DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA PONTE DA PEDRA

LAVRADA

Nessa etapa foi feito uma visita in loco com duração de quatro horas (4 h), foi

observada toda a estrutura da ponte e das argamassas que a reveste e seus estados de

conservação, assim como as condições que a edificação se encontra em relação às

intempéries, já que se trata de uma ponte sobre um rio intermitente e tem contado

periódico com água. Foi feito também um registro fotográfico para melhor análise do

estado da obra e das patologias já existentes e visíveis a olho nu, além disso, na mesma

visita foram coletadas cinco amostras das argamassas em pontos diferentes.

Page 29: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

32

Com o intuído de ter mais proveito na analise visual, uma pesquisa preliminar

foi realizada, buscando informações da data de construção da ponte, os motivos que se

atribui a sua construção, o valor gasto na obra na moeda vigente na época, o tipo de

material utilizado e a importância da construção para a cidade de Jardim do Seridó. Todas

as informações obtidas foram relatadas anteriormente no item Histórico da Ponte na

fundamentação teórica.

4.2 COLETA E PREPARO DAS AMOSTRAS

Foi feita levando como base a metodologia de Kannan (2008), que orienta que se

extraiam amostras representativas, com o mínimo de danos tanto para a estrutura da

amostra quando para ao patrimônio histórico. A coleta foi realizada na parte inferior da

ponte, pilares e base, que tem mais contato com a agua, bem como na parte superior.

Para a retirada das amostras das argamassas, usou-se uma talhadeira e um martelo,

depois de coletadas, foram armazenadas em recipientes limpos e secos devidamente

identificados. O transporte foi feito de maneira cuidadosa para evitar choques mecânicos,

assim preservando a integridade de cada uma delas. Na Figura 7 podemos observar os

cinco pontos, (Pilar 1, Pilar 2, Base do Pilar1, Arco e Passeio), da retirada das amostras

no local.

Figura7:Pontos de retirada das amostras

Fonte: autoria própria (2020).

Page 30: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

33

No Quadro a seguir, tem-se a nomenclatura utilizada e local de extração das

amostras.

Quadro 2: Nomenclatura e local de Extração

Fonte: Autoria própria (2020).

Já nas instalações do laboratório, a amostras foram limpas com uma lixa, para

retirada de possíveis pigmentos de tinta e poeira. Todas as amostras foram destorroadas

individualmente com o auxílio de uma bandeja e um marreta de borracha e colocadas em

copos de plástico e devidamente identificadas.

Na sequência, foram pesadas 200 gramas de cada amostra e colocadas na estufa

por 24h à temperatura de 100° C, depois desses procedimentos estavam prontas para os

ensaios. A ilustração a seguir mostra cada passo dessa etapa.

Figura 6: Ilustração de preparo de amostras

Fonte: Medeiros (2019).

Page 31: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

34

4.3 ATAQUE ÁCIDO/ ANALISE QUÍMICA

Para este ensaio foi utilizado o ácido clorídrico HCL(14%), que ao entrar em

contato com a argamassa dissolve o aglomerante, parte solúvel da amostra, separando do

agregado que não reage ao ataque, essa técnica esta descrita na fundamentação teórica.

Foi separado 100g de cada amostra, depois 100 ml do acido clorídrico, colocados

em um recipiente de vidro e misturados com uma palheta de acrílico para facilitar a

solubilização pela agitação das partículas. Deixou-se a mistura em repouso ate que de

maneira visual, não nota-se mais efervescência, sinalizando que a reação tinha sido

completamente finalizada. Esse processo dura aproximadamente 24h. Essas etapas

podem ser vistas na Figura 9 a seguir.

Figura 9: Ataque Ácido – (a) argamassa destorroada; (b) mistura de argamassa com ácido

Fonte: Autoria própria (2019).

Após esse processo, foi feito uma filtração na mistura, utilizando um filtro de

papel com peso de 2g para impedir a passagem dos finos, e depois uma lavagem com

água em temperatura ambiente, para a retirada do ácido ainda presente. A água foi sendo

acrescentada ao filtro até que o líquido que saísse pelo funil fosse totalmente transparente

e sem resquícios de HCL. O processo de filtragem pode ser visualizado na Figura 10.

Figura 10: Processo de filtragem para eliminação do ácido clorídrico da amostra

(a) (b)

Page 32: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

35

Fonte: Autoria própria (2019).

Dando sequência ao ensaio, após a filtragem, as amostras, junto aos filtros de

papel, retornam aos recipientes de vidro, foi levada a estufa por 24h a uma temperatura

média de 100ºC para que decorresse a secagem completa das amostras.

Passadas as 24 horas, foi realizada a pesagem final de cada amostra que sofreu o

ataque químico, sendo este o último processo que resultará na obtenção das proporções

dos materiais usados na argamassa que constituía o revestimento da edificação. Para

obtenção da massa, em gramas, do aglomerante, foi usada a fórmula apresentada:

𝑁𝑥 = 𝑁𝑖 − (𝑁𝑎 − 𝑁𝑓𝑖) Equ.( 1)

Sabendo que:

Nx = massa do aglomerante (g);

Ni = massa inicial da amostra destorroada e seca em estufa (g);

Nfi = massa do papel filtro (g);

Na = massa do agregado que restou após o processo de filtragem do ácido e seco

em estufa (g).

Após a pesagem do material eles foram transferidos para um recipiente e

encaminhados para realização do ensaio de análise granulométrica.

Page 33: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

36

4.4. ANÁLISE GRANULOMÉTRICA

Como já citado no trabalho, granulométrica dos agregados proporciona a

classificação das partículas de uma amostra a partir do tamanho dos seus grãos, podendo-

se medir as frações correspondentes a cada tamanho. É possível representar essa

distribuição através de uma curva, possibilitando a determinação das características

físicas, como módulo de finura e diâmetro máximo.

O ensaio foi realizado baseado na NBR 248/03: Agregados – determinação da

composição granulométrica, após a determinação e separação do aglomerante por ataque

ácido. Para o ensaio foi utilizado um conjunto de peneiras com aberturas de malhas igual

a 4,75, 2,36, 1,18, 0,60, 0,30 e 0,15 mm.

O procedimento de ensaio seguiu as seguintes etapas:

1. Primeiramente foi determinada a massa inicial do agregado, que foi levado a

estufa após o ensaio de ataque ácido;

2. Em seguida a amostra foi colocada na peneira superior e acionado o agitador

mecânico durante 1 minuto, para que houvesse a separação dos grãos;

3. Posteriormente, o material retido em cada peneira foi removido para um

recipiente e pesado para determinação do total retido em cada peneira.

O material retido por peneira é determinado a partir da Equação.

%𝑅𝐸𝑇 =𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑟𝑒𝑡𝑖𝑑𝑎 𝑝/𝑝𝑒𝑛𝑒𝑖𝑟𝑎

massa total inicial𝑥100 Equ. (2)

Com esse ensaio é possível determinar o módulo de finura (Mf) do agregado que

permite identificar a espessura deste, ou seja, quanto menor o Mf, mais fino será o

agregado. A partir do Mf é possível determinar a zona que se encontra o agregado e assim

classifica-lo.

É determinado também a dimensão máxima (Dm) característica dos grãos.

Segundo a NBR 7211/09: Agregados para concreto – Especificação, o Dm é uma

grandeza característica associada à distribuição granulométrica do agregado,

correspondente á abertura nominal, em milímetros, da malha da peneira da série normal

ou intermediária na qual o agregado apresenta uma porcentagem retida acumulada igual

ou inferior a 5% em massa(ABNT, 2009).

Page 34: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

37

4.5. ENSAIO DE ABSORÇÃO

Este ensaio foi adaptado a partir da NBR 9778/05: Argamassa e concreto

endurecidos – Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica

que tem como objetivo determinar o comportamento da argamassa quanto ao volume de

poros permeáveis.

A absorção de água por imersão é procedimento pelo qual tende a conduzir a água

para os poros permeáveis de determinado corpo poroso com intuito de preenchê-los.

O procedimento de ensaio consiste primeiramente na limpeza das amostras, onde

são removidas as partículas de tinta, em seguida elas são levadas a estufa por 24 horas

para secagem. Posteriormente, as amostras foram pesadas em uma balança de precisão e

imersas em água. As mesmas foram mantidas na água por 72 horas. Por fim, enxugou-se

a superfície das amostras e foi determinada a massa saturada.

A taxa de absorção (A), em porcentagem, é calculada de acordo com a equação.

𝐴 =𝑚𝑠𝑎𝑡−𝑚𝑠

msx 100 Equ. (3)

Onde:

Msat= massa saturada em água após imersão (g)

Ms=massa da amostra seca (g).

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Page 35: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

38

5.1 CARACTERIZAÇÃO DAS ARGAMASSAS HISTÓRICAS DA PONTE DA

PEDRA LAVRADA

Foram realizada uma serie de analises com o objetivo de caracterizar as argamassas

da Ponte da Pedra Lavrada.

5.1.1 ANÁLISE VISUAL

Os resultados obtidos a seguir foram da observação visual das argamassas coletadas

da Ponte da Pedra Lavrada antes delas serem degradadas. De modo geral, tanto amostras

de revestimentos extraídas da parte inferior, pilares e base, como as extraídas da parte

superior, arco e passeio, possuíam uma boa aderência ao substrato, dificultando a

extração, todas possuíam nódulos de carbonato de cálcio.

Também foi detectado que elas apresentavam ainda um aspecto homogêneo e

possuíam agregados com grãos pequenos e médios. A amostra do arco tinha uma camada

de revestimento de tinta de cor amarelada. Em nenhum das amostras foi observado

vestígio de uso de fibra animal ou vegetal. A Figura 11 traz as amostras da parte superior

da ponte, passeio e arco respectivamente.

Figura11: Amostras Utilizadas para analise visual do Passeio e Arco.

Fonte: Autoria própria (2020).

Page 36: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

39

A amostra da parte do passeio da ponte tem como característica uma cor escuro,

já a amostra do arco tem uma cor mais clara, em ambas foram observados pequenos

nódulos de carbonato de cálcio.

As amostras a seguir foram coletadas dos pilares 1 e 2, respectivamente. Pode-se

observá-las na Figura 12.

Figura 12: Amostras utilizadas para análise visual, Pilar 1 e 2.

Fonte: Autoria própria (2020).

Essas amostras têm características semelhantes, possuem agregados pequenos e

médios, uma cor clara, alta resistência à desagregação e presença de pequenos nódulos de

carbonato de cálcio.

A próxima e última amostra, apresentada na Figura 13, foi retirada da base do

pilar 1, tem características semelhantes as dos pilares, a única diferença é a cor um pouco

mais escura, possuia alta resistência a desagregação e nódulos de carbonato de cálcio.

Figura 13: Amostra da Base do pilar 1

Fonte: Autoria própria (2029)

Page 37: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

40

5.1.2 ANÁLISE QUÍMICA POR MEIO DE ATAQUE ÁCIDO

Como já foi citado no trabalho, o ataque ácido tem como objetivo determinar à

quantidade de aglomerante e agregado nas amostras de argamassa a base cal. Quando a

amostra é submetida ao ataque, a parte advinda do aglomerante (CaCO3) dissolve e, para

descobrir essa proporção, é preciso fazer a diferença da massa da amostra antes e depois

do ataque ácido.

A Tabela 1 trás a relação aglomerante e agregada em cada amostra, encontradas

depois do ataque ácido.

Quadro 3: Relação aglomerante/agregado das amostras

AMOSTRAS AGLOMERAN

TE

(g)

AGREGADOS

(g)

TRAÇO

EQUIVALENTE

PILAR1 11,1 88,9 1:8

PILAR2 11 89 1:8

BASE PILAR1 10,5 89,5 1:8

ARCO 11,8 88,2 1:7

PASSEIO 11,6 88,4 1:8

Fonte: Autoria própria (2020).

Com base nos resultados encontrados, podemos observar que foram determinados

apenas dois traços, 1:8 e 1:7, são traços costumeiramente encontrados para argamassas

históricas, com também observados nos trabalhos já desenvolvidos nessa área por

Medeiros (2019), Santos (2019) e Almeida (2019).

5.1.3 ENSAIO DE GRANULOMETRIA

Através do ensaio de granulometria foi possível identificar os agregados presentes nas

amostras, isso porque nessa analise foi determinado à porcentagem de massa retida em

cada peneira, como podemos ver na Tabela 2 a seguir.

Quadro 4: Massa retida por peneira

PENEIRAS

(mm)

PILAR 1

%RETIDA

PILAR 2

%RETIDA

B/PILAR1

%RETIDA

ARCO

%RETIDA

PASSEIO

%RETIDA

Page 38: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

41

4,75 4,5 4,8 4,3 3,8 4,5

2,36 27,6 29,6 28 25,5 27,5

1,18 23,8 20 20,3 23,8 24,5

0,6 12,3 11,8 15,1 16,3 12,3

0,3 12,2 12 11,5 11,8 11,7

0,15 9,5 13,5 13 9 8,5

FUNDO 10,1 8,3 7,8 9,8 11

Fonte: Autoria própria (2020).

Com base nos resultados encontrados das porcentagens retidas de cada amostra

foi possível calcular os valores de percentuais retidos acumulados, como podemos ver na

Tabela 3.

Quadro 5: Valores de percentuais retidos acumulados

PENEIRAS

(mm)

PILAR1

%R/ACU

PILAR2

%R/ACU

B/PILAR1

%R/ACU

ARCO

%R/ACU

PASSEIO

%R/ACU

4,75 4,5 4,8 4,3 3,8 4,5

2,36 32,1 34,4 32,3 29,3 32

1,18 55,9 54,4 52,6 53,1 56,5

0,6 68,2 66,2 67,7 69,4 68,8

0,3 80,4 78,2 79,2 81,2 80,5

0,15 89,9 91,7 92,2 90,2 89

FUNDO 100 100 100 100 100

Fonte: Autoria própria(2020)

Através da análise dos resultados da granulometria, pode-se afirmar que a

argamassa é composta predominantemente por agregados miúdos, já que em todas as

amostras, o material retido ficou na casa dos 5% na peneira 4,75, tendo passante quase

que totalmente a porção analisada. Há uma semelhança nos valores retidos em cada

peneira das diferentes amostras, indicando que o mesmo agregado miúdo foi utilizado

para compor a argamassa utilizada nas diversas partes da ponte. A Figura 13 apresenta a

curva granulométrica das amostras.

Page 39: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

42

Figura 14: Curva granulométrica das amostras

Fonte: Autoria própria (2020).

Analisando as curvas granulométricas das amostras observou-se uma similaridade

entre elas, assim é plausível afirmar que apresentam basicamente a mesma distribuição

granulométrica e com uma boa distribuição entre grãos maiores e menores. É um

indicativo que o material utilizado durante a construção da ponte teve sua extração de

uma mesma mina ou bem próximas.

A NBR 7211 traz em sua segunda tabela, os limites de distribuição granulométrica

aceitáveis para o agregado miúdo. Foi então realizada uma média a partir dos valores de

todas as amostras ensaiadas e comparados com os limites superiores e inferiores

utilizáveis. O resultado está apresentado na Figura 15.

Figura 15: Limites superiores e inferiores utilizáveis

Fonte: Autoria própria (2020)

A média dos agregados ficou fora dos limites superiores utilizáveis, sugeridos pela

norma, nas peneiras de 2,36 e 1,18 mm, com isso podemos afirmar que a distribuição de

Page 40: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

43

seus grãos não atende os requisitos atualmente observados para emprego de areia em

argamassas e concretos.

Através da análise das propriedades físicas dos agregados, pode-se averiguar o

módulo de finura e o diâmetro máximo, apresentados na Tabela 4.

Quadro 6: Propriedades físicas dos agregados

AMOSTRAS DE

AGREGADOS

(miúdos)

MODULO DE

FINURA

DIÂMETRO

MÁXIMO

(mm)

PILAR 1 3,31 4,75

PILAR 2 3,30 4,75

BASE PILAR1 3,28 4,75

ARCO 3,27 4,75

PASSEIO 3,31 4,75

Fonte: Autoria própria (2020).

O cálculo do modulo de finura e diâmetro máximo teve como parâmetro a norma

NBR 7211, (2009). Para todas as amostras o diâmetro máximo foi de 4,75 mm, já o

módulo de finura variou entre 3,27 e 3,31 enquadrando o agregado utilizado como areia

grossa, pois seu módulo de finura situa-se entre 2,9 e 3,5, recebendo a classificação

adotada.

5.1.4 ENSAIO DE ABSORÇÃO

Esse ensaio tem como finalidade analisar qualitativamente a quantidade de poros

existentes na argamassa e mensurar o quanto de água a argamassa absorve. Os resultados

obtidos nas amostras estão expostos na Tabela5.

Quadro 7: Resultado do ensaio de absorção (%).

AMOSTRA DE

ARGAMASSA

MASSA

SATURADA (g)

MASSA SECA

(g)

ABSORÇÃO

PILAR 1 720,6 675,4 6,69%

PILAR 2 465,3 428,6 8,56%

B/PILAR 1 537,8 498 7,99%

ARCO 281,8 265,2 6,26%

PASSEIO 441,7 418,4 5,57%

Page 41: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

44

Fonte: Autoria própria (2020).

O resultado do teste de absorção nos mostra que a argamassa de revestimento da

ponte tem uma baixa porosidade, quando comparado aos valores de taxa de absorção

observados em outras argamassas históricas que provavelmente continham somente cal

hidratada como único aglomerante. Nos trabalhos desenvolvidos por Medeiros (2019),

Santos (2019) e Almeida (2019), os valores de absorção variaram entre 12% a até 22%.

Este fato sozinho não nos permite afirmar que a argamassa, possivelmente,

contenha outro tipo de aglomerante ou material com características de pozolanicidade,

seria necessário para tanto, realizar estudos com análises capazes de fazer essa

identificação para se chegar a um diagnóstico preciso.

Page 42: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

45

6. CONSIDERAÇÕES FI NAIS

Por meio das análises no local e laboratorial e dos resultados apresentados e

discutidos no trabalho, podemos concluir os seguintes pontos:

Na extração das amostras foi observado que tinha uma grande resistência de

aderência ao substrato;

Na analise visual, constatou-se que eram compostas de agregados miúdos,

com características semelhantes.

Na analise química, os traços encontrados foram o traço 1:8 e 1:7, indicando

uniformidade no preparo das argamassas e certo controle nas quantidades de

materiais usados na produção.

Na analise granulométrica constatou-se que o agregado utilizado em todas as

amostras era semelhante, provavelmente extraído de um mesmo local ou de

locais próximos, e classificados com areia grossa;

Na analise de absorção, foi constatado que se tratava de uma argamassa de

pouca porosidade, isso ajuda a entender sua alta resistência.

Diante disso, conhecendo a importância da preservação e manutenção do

patrimônio histérico e as características das argamassas de revestimento que compõem a

Ponte da Pedra Lavrada, como da importância histórica e econômica da ponte, não só

para o município de Jardim do Seridó, mas pra toda região seridoense, deixo como

sugestão um estudo mais direcionado para detectar a presença e caracterizar materiais

pozolânicos que possam vim a compor essa argamassa. Da ênfase também a importância

de conhecer mais a fundo a historia de uma região rica culturalmente e de grandes acervos

em construções antigas e importantes que é o Seridó rio-grandense.

Page 43: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

46

7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABCP, 2002 A Associação Brasileira de Cimento Portland. MANUAL DE

REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA. 1. ed. São Paulo, Associação Brasileira de

Cimento Portland (ABCP).2002 Pg 05.

ALMEIDA, José Carlos Gomes de. Caracterização de argamassas históricas: estudo

de caso do mercado público de Jardim de Piranhas/RN. 2019. 51 f. TCC (Graduação)

- Curso de Engenharia Civil, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Angicos, 2019.

ALVAREZ, J.; Sequeira, C.; Costa, M. (2005). Ensinamentos a retirar do passado

histórico das argamassas. 1º Congresso Nacional de Argamassas de Construção,

APFAC, Lisboa.

ALVAREZ, J.A.S. (2007) Alvenarias e argamasass anteriores ao Império Romano.

2º Congresso Nacional de Argamassas de Construção, APFAC, Lisboa.

APOSTOKALIS, A. The convergence process in heritage tourism. Annals of tourism

research, 30 (4), 795-812, 2003.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13281 Argamassa

para Assentamento e Revestimento de paredes e tetos. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9778: argamassa e

concreto endurecidos – determinação da absorção de água índice de vazios e massa

específica. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 248/03

Agregados - Determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro: ABNT,

2003.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7211: Agregados

para concreto – Especificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2009.

AZEVEDO, Jose Nilton de. Um Passo a Mais na Historia de Jardim do Seridó.

Brasília: Centro Grafico do Senado Federal 1988.

BERTOLINO, M. T. Gerenciamento da Qualidade na Indústria Alimentícia: Ênfase

na Segurança dos Alimentos. Porto Alegre: Artmed, 2010.

BRANDI,Cesare. Teoria da Restauração. São Paulo, Ateliê Editorial, 2004, pp 146.

Page 44: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

47

BOYTON, Robert S.- Chemistry and technology of lime and limestone, 2ª edição,

New York, Chichester, Brisbone, Toronto, John Wiley & Sons, Inc., 1980.

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Ed. Unesp, 2001, pp 828.

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. 3.ª ed. São Paulo: Estação Liberdade,

UNESP, 2006, p. 95.

COELHO, A. Z. G.; Torgal, F. P. e Jalali, S., "A Cal na Construção", 1ª ed.,

Universidade do Minho, Guimarães, 2009.

COWAN, H. (1977) The Master Builders: a history of structural and environmental

design from ancient Egypt to the Ninetennth Century. John Wiley and Sons, New

York.

DELPHIM, C.F.M. Manual de Intervenção em Jardins Históricos. São Paulo: EDUSP,

1999.

DIAS, J. Alveirinho. A análise sedimentar e o conhecimentos dos sistemas marinhos.

São Paulo: Brasiliense, 2004. 18 p.

ELSEN, J. (2006) Microscopy of historic mortars – A review. Cement and Concrete

Research, Vol. 36, pp. 1416-1424.

FIORITO A.J.S. Manual de Argamassas e Revestimento: Estudo e procedimentos de

Execução. São Paulo. PINI, 1994.p 98.

FUNARI, P. P.; PELEGRINI, S. C. A. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

FONSECA, Vanessa Rafaela de Sousa. Estudo das principais argamassas utilizadas

na reabilitação de edifícios antigos. 2016. 176 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de

Engenharia Civil, Instituto Superior de Engenharia do Porto, Porto, 2016.

GODINHO, Vera Mónica Ferreira. Caracterização das argamassas em edifícios

antigos de Viseu. 2014. 143 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil,

Instituto Politécnico de Viseu, Viseu, 2014.

LE GOFF, Jacques, 1924 História e memória / Jacques Le Goff; tradução Bernardo

Leitão ...-- Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990..

Page 45: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

48

KANAN, M. I. C.. Manual de Conservação e Intervenção em Argamassas e

Revestimentos a Base de Cal. Cadernos Técnicos 8. IPHAN/Programa Monumenta,

Brasília, 2008.p 176.

MALINOWSKI, R.- R. Ancient mortars and concrets: Aspects of their durability, in

Histoire of Technology, 7th Annual Volume, Mansell U.K., 1991. p.89-101.

MARGALHA, Maria Goreti- Lime Renders in Southern Portugal, in «Proceedings in

British Masonry Society», Nº8, Londres, 2008. p.125-130.

MEDEIROS, Baraklein. caracterização de argamassas históricas: estudo de caso de

uma residência localizada na palma - município de caicó/rn. 2019. Trabalho de

Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) - Universidade Federal Rural do

Semi-Árido,2019.

MOTTA, E. V. Caracterização de argamassas de edificações históricas de Santa

Catarina. 2004. 114 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em

Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.

MENEZES, Adna Lúcia Rodrigues de. Usina Ilha Bela em Ceará Mirim/RN: estudo de

caso sobre a caracterização da argamassa existente e elaboração de uma argamassa

de restauro. 2019. 96 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2019.

MILLER, M. (1999) Lime. U.S Geological Survey Minerals Yearbook.

NORTE, Portal B2b do Turismo do Rio Grande do (Org.). Treze novos municípios do

RN passam a integrar o Mapa do Turismo Brasileiro. Disponível em:

<https://tradeturisticorn.fecomerciorn.com.br/index.php/2019/09/02/treze-novos-

municipios-do-rn-passam-a-integrar-o-mapa-do-turismo-brasileiro/>. Acesso em: 13

dez. 2019.

RODRIGUES, Paula Nader. Caracterização das Argamassas Históricas da Ruína de

São Miguel Arcanjo/rs. 2013. 142 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-graduação

em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS, 2013.

SANTOS, Rafaela Cavalcante dos. Caracterização de Argamassas Históricas: Estudo

de caso de uma residência histórica no municipio de Campo Redondo/rn. 2019.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) - Universidade

Federal Rural do Semi-Árido, 2019.

Page 46: CARACTERIZAÇÃO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: ESTUDO DE …

49

SOUSA, Adla Kellen Dionisio. Argamassa do Grupo escolar Augusto Severo/RN:

caracterização e incidência de manifestações patológicas. 2014. 142 f. Dissertação

(Mestrado) - Curso de Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

Natal, 2014.

POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. In: Estudos Históricos. Rio de

Janeiro, vol. 5.n. 10,. 1992, p. 200-212.

TÉBAR, Demetrio Gaspar- Evolution de los materiales de construcción (cales, yesos

y cementos) através de la história, Tallares 98: Materia y Conservación, Santiago de

Compostela, 1998.

VENEZA.CartadeVeneza,disponívelem:http://www.patrimoniocultural.pt/media/uploa

ds/cc/CartadeVeneza.pdf, acesso em: 2020/01/15.1964.

ZACHAROPOULOU, G. (1998) The renascence of lime based mortar technology. An

appraisal of a bibliographical study. Materials for protection of European Cultural

Heritage, Athens.