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Promenino Fundação Telefônica + Crianças estudando - Crianças trabalhando = É da Nossa Conta! [Cartilha Gestor] Apoio cartilha_gestor_geral.indd 1 01/08/14 16:59

Cartilha Gestor Geral Final

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Cartilha Gestor Geral Final sobre trabalho infantil

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  • 1PromeninoFundao Telefnica

    + Crianas estudando - Crianas trabalhando = da Nossa Conta! [Cartilha Gestor]

    Apoio

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    A Campanha da Nossa Conta!, uma iniciativa da Fundao Telefnica, acredita que nossas crianas tm que estudar, brincar, ter amigos e serem cuidadas por suas famlias e pela comunidade.

    Sem trabalho infantil e com acesso escola, sero adultos com mais oportunidades na vida.

    Voc j parou para pensar que isso pode melhorar a vida do seu municpio e do futuro do Brasil?

    + gestores protegendo+ crianas estudando

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    O direito a viver a infncia e a adolescncia em plenitude foi acordado pelos pases membros das Naes Unidas em 1989 pela Conveno dos Direitos da Infncia, que estabelece a infncia como o perodo de crescimento do ser humano, compreendendo do nascimento at os 18 anos de idade.

    No Brasil, a Lei n 8.069, o Estatuto da Criana e do Adolescente ou, simplismente, ECA, estabelece normas que garantam o desenvolvimento da identidade individual de crianas e adolescentes, bem como a capacidade de viver coletivamente, a partir dos princpios de justia social e da garantia dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, definidos na Carta das Naes Unidas.

    TRABALHO INFANTOJUVENILO trabalho infantil sempre ilegal. Segundo a legislao em vigor no Brasil, o trabalho infantil uma atividade econmica e/ou de sobrevivncia, com ou sem finalidade de lucro, remunerada ou no, exercida por criana ou adolescente menor de 16 anos. A Emenda Constitucional n 20 de 1998 e depois a Lei da Aprendizagem (Lei n 10.097/ 2000) salvaguardaram o direto ao trabalho na condio de aprendiz, que pode ser realizado a partir dos 14 anos.

    A legislao define tambm como ilegal todo trabalho realizado por adolescentes de 16 a 17 anos que seja caracterizado como perigoso, insalubre, penoso, prejudicial moralidade, noturno, realizado em locais e horrios que prejudiquem a frequncia escola, ou que tenha possibilidade de provo-car prejuzos ao seu desenvolvimento fsico e psicolgico.

    Efeitos negativos do trabalho infantil: Exposio a riscos derivados da falta de ex-perincia no trabalho, da falta de superviso ou da realizao de tarefas perigosas;

    Exposio a situaes ou conflitos pre-judiciais ao desenvolvimento intelectual,

    emocional e social, para os quais crianas e adolescentes tm pouco preparo;

    Comprometimento no desenvolvimento psicossocial por deixar de vivenciar de forma limitada experincias fundamentais;

    Dificuldade para conciliar o trabalho com a aprendizagem escolar, o lazer e o convvio familiar, trazendo consequncias para o desenvolvimento;

    Competio entre trabalho e escola, resultando em deficincias no desempenho escolar, na baixa frequncia ou no abandono precoce da escola.

    Na zona rural, famlias em que os adultos trabalham sob condies precrias ou vivem da prpria produo em pequenos pedaos de terra de sua propriedade, onde os mecanismos de controle estatal so frgeis ou inexis-tentes, tendero a fazer com que seus filhos trabalhem mais;

    Na zona urbana, famlias pobres cujos membros adultos tenham empre-gos precrios e informais ou estejam desempregados, ter, particularmente, mais propenso a manter seus filhos em trabalho ilegal, em especial, em situaes de crise econmica.

    Dados sobre o trabalho infantojuvenil no Brasil

    relativamente comum encontrar trabalho infantil e adolescente em famlias com propriedades de terras de mdio porte e com boas condies de produo. A razo principal no est associada pobreza, mas produtividade da mo de obra familiar

    A economia mais aquecida favorece a ocorrncia de trabalho infantojuvenil, tanto quanto, ou talvez at mais, que o fator pobreza.

    Dois fatores principais explicam o trabalho infantil no Brasil:1) Aceitao cultural: em diferentes cama-das da sociedade h uma aceitao cultural do trabalho infantil como algo natural na vida da populao pobre e como recurso do qual essa populao pode dispor para garan-tir sua sobrevivncia.

    2) Interesses econmicos: muitos setores da economia acabam usando o trabalho de crianas e adolescentes como mo de obra de baixo custo.

    A relao entre trabalho precoce e baixa escolaridade foi evidenciada na pesquisa Impactos econmicos e os desafios para a insero de jovens no mercado, que desta-cou ainda a existncia de um crculo vicioso do trabalho infanto-juvenil:

    Ao trabalhar na infncia, a criana prejudica a sua educao. Indivduos com menos anos de escola tendem a receber menores salrios

    na vida adulta. Seus filhos passam a apresen-tar maior necessidade de completar a renda familiar, trabalhando quando so crianas ou adolescentes e o crculo vicioso continua.

    Resumindo: 1) Trabalho Infantojuvenil a ser erradicado: o trabalho infantojuvenil a ser erradicado composto pelo trabalho infantil (que, como visto no primeiro captulo, sempre ilegal at os 14 anos) e pelo trabalho realizado por adolescentes de 14 a 15 anos sob condies incompatveis com as regras estabelecidas na Lei da Aprendizagem, ou ainda, realizado por jovens de 16 a 17 anos sob condies de desproteo.

    2) Trabalho adolescente protegido: o trabalho adolescente protegido aquele que realizado a partir dos 14 anos nas condies compatveis com as regras estabelecidas na Lei da Aprendizagem, na CLT e nas normas sobre trabalho educativo estabelecidas no ECA.

    + informao circulando + crianas estudando

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    TRABALHO DOMSTICO X AFAZER DOMSTICOO trabalho domstico envolve ocupaes realizadas por crianas e adolescentes de forma ilegal e sob condies de risco, devendo, portanto ser erradicado.O afazer domstico est associado a dinmicas familiares que podem incluir desde atividades que so prejudiciais ao desenvolvimento infantojuvenil e que se configuram como violaes de direitos, at ajuda solidria em famlia, integradas ao processo de convivncia familiar e de carter socializador, que so efetuadas sob superviso de um adulto.

    A dedicao aos afazeres domsticos considerada prejudicial quando supera quinze horas semanais e especialmente quando alcana trinta horas ou mais, mesmo sob condies no perigosas ou no insalubres, porque passa a concorrer com a vida escolar e impede a realizao de outras atividades importantes para o desenvolvimento pessoal das crianas e dos adolescentes. Crianas e adolescentes no podem ficar impedidas de realizar atividades dentro e fora do mbito domstico que so necessrias para seu desenvolvimento integral e que possibilitam o desenvolvimento de habilidades prticas para a vida e de capacidades de autocuidado, autonomia e responsabilidade. Essas atividades no devem ser consideradas como violao de direitos

    o que acontece no semirido: durante a escassez de chuvas, a economia desaquece, no havendo oportunidades de trabalho sequer para os adultos e a economia e a ocorrncia de trabalho infantojuvenil tambm tende a ser menor.

    A legislao brasileira tambm define como ilegal, o trabalho domstico de crianas e adolescentes, na casa de terceiros ou na prpria residncia, sem a superviso de um adulto, com ou sem remunerao. No entanto, fundamental destacar a distino entre trabalho domstico e afazer domstico.

    Para melhor compreender as diferenas entre essas duas modalidades preciso identificar a quantidade de horas dedicadas a ela, e qualitativos, como a natureza da atividade e a escuta dos membros da famlia sobre como ela realizada.

    Por que, apesar da existncia de leis exemplares, ainda to difcil atuar na erradicao do trabalho infantil e na proteo do adolescente trabalhador? Para responder a essa pergunta preciso perceber que o trabalho infantojuvenil no homogneo. Vejamos:

    As piores formas de trabalho infantojuvenil atividades laborais em diferentes reas da indstria, comrcio e servios, que trazem riscos sade e integridade fsica, mental e moral de crianas e adolescentes;

    todas as formas de escravido ou prticas anlogas, tais como venda ou trfico, cativeiro ou sujeio por dvida, servido, trabalho forado ou obrigatrio;

    utilizao, demanda, oferta, trfico ou aliciamento para fins de explorao sexual comercial, produo de pornografia ou atuaes pornogrficas;

    utilizao, recrutamento e oferta de adolescente para outras atividades ilcitas, particularmente para a produo e trfico de drogas;

    recrutamento forado ou compulsrio de adolescente para ser utilizado em conflitos armados.

    Nem sempre os agressores, as vtimas e os demais membros da comunidade percebem a natureza, o significado e as implicaes da violncia.

    A violncia sexual se manifesta tambm como relao de poder em que uma pessoa ou organizao exerce domnio sobre outra pessoa, nesse caso, criana ou adolescente, ignorando sua capacidade de discernimento e de deciso.

    Ao invs de representar fator de explorao, o trabalho deve contribuir para o desenvolvimento de capacidades e para o fortalecimento da autoestima e da autonomia dos adolescentes.A proteo do adolescente trabalhador e os caminhos para sua incluso sustentvel no mundo do trabalho, se d a partir do conceito de trabalho educativo.

    Essas atividades, que podem acontecer dentro e fora do mbito domstico, so, por exemplo: o brincar; a prtica de esportes e o acesso cultura e ao lazer, que so considerados direitos fundamentais das crianas e dos adolescentes e possibilitam o desenvolvimento de habilidades prticas para a vida e de capacidades de autocuidado, autonomia e responsabilidade.

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    LEI DA APRENDIZAGEMO trabalho exercido por adolescente nem sempre ilegal. Conforme definido na Lei 10.097/2000, que altera dispositivos da Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), e confirmado pelo Decreto Presidencial 5.598/2005, que estabeleceu a Lei da Aprendizagem, o adolescente com idade entre 14 e 16 anos pode trabalhar desde que sejam cumpridos integralmente os requisitos legais firmados na legislao 1.

    1 Mais informaes sobre a Lei da Aprendizagem no item 2.3.3. Lei da Aprendizagem (Lei n 5.598, de 1 de dezembro de 2005).

    Pelo contrato de aprendizagem, o adolescente aprendiz tem assegurados direitos trabalhistas e previdencirios especficos, referentes remunerao, jornada de trabalho, fundo de garantia por tempo de servio, frias, vale-transporte, alm do direito formao profissional durante a vigncia do contrato.

    A lei define que a contratao de aprendizes dever atender, prioritariamente, aos adolescentes entre quatorze e dezoito anos. Exceo a essa regra se coloca apenas nos casos em que as atividades sujeitarem os aprendizes insalubridade ou periculosidade; quando a lei exigir, para o desempenho das atividades prticas, licena ou autorizao vedada a menores de 18 anos; ou quando a natureza das atividades prticas for incompatvel com o desenvolvimento fsico, psicolgico e moral dos adolescentes aprendizes.

    Podem contratar adolescentes na condio de aprendizes estabelecimentos privados de qualquer natureza e as entidades sem fins lucrativos que tenham por objetivos a assistncia ao adolescente e a educao profissional, e que estejam registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criana e do Adolescente.

    A contratao do adolescente por entidade sem fins lucrativos pressupe a celebrao de contrato entre a entidade e a empresa na qual o adolescente ter a experincia prtica de formao tcnico-profissional.

    A contratao de aprendizes por empresas pblicas e sociedades de economia mista tambm possvel, mas deve ocorrer de forma direta, sem a mediao de entidade sem fins lucrativos voltada formao profissional de adolescentes ou jovens.

    A durao do trabalho do aprendiz no deve exceder seis horas dirias, podendo ser estendida para oito horas para aprendizes que j tenham concludo o ensino fundamental, se nelas forem computadas as horas destinadas aprendizagem terica.

    necessrio intensificar mobilizaes e buscar caminhos para que os princpios estabelecidos na Lei da Aprendizagem possam se concretizar nas vrias regies do pas e garantir assim aos adolescentes e jovens o direito profissionalizao.

    Uma avaliao mais aprofundada, realizada caso a caso, essencial para a orientao das aes dos agentes de ateno e proteo dos direitos de crianas e adolescentes.

    Acesse o site do Placar Aprendiz em www.placardoaprendiz.org.br

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    + gestores somando+ crianas estudandoComo estruturar estratgias de ao que possam ser efetivas para erradicar o trabalho infantil e garantir condies de proteo aos adolescentes trabalhadores?

    preciso que os municpios estruturem aes eficazes para o enfrentamento do trabalho infantil e do trabalho ilegal de adolescentes.

    Embora a lei seja geral, a compreenso e a forma de agir frente aos diversos casos precisa considerar as motivaes e o que o trabalho representa para a comunidade e para a famlia.

    Isso vai permitir a construo de um diagnstico qualitativo. Com ele, possvel evitar incompreenses entre as famlias e os agentes da rede de proteo. Alm de contribuir para a elaborao de polticas pblicas mais eficazes para o enfrentamento do problema.

    O que o trabalho significa para as comunidades?Os casos relatados de trabalho infantojuvenil so distintos, para que o profissional atue de forma eficaz no atendimento criana e ao adolescente em situao de trabalho ilegal, ser necessrio realizar uma escuta inicial cuidadosa e sem julgamento.

    Essa escuta deve permitir ao profissional levantar junto famlia, s crianas e adolescentes envolvidos, as motivaes que os levaram ao trabalho e os valores que atribuem a ele.

    A diversidade de ocupaes e trabalhos executados, de concepes e objetivos relacionados ao trabalho escolhido devem ser levadas em conta para o estabelecimento de polticas pblicas de ateno s crianas e adolescentes.

    Uma importante forma de fazer uma anlise mais aprofundada da situao realizando um exame minucioso dos dados sobre a posio na ocupao e a categoria de emprego do Censo do IBGE, que permite a identificao da populao de 10 a 17 anos que trabalha sob o regime de contrato formal de trabalho, com carteira de trabalho assinada.

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    POSIO NA OCUPAO (PNAD IBGE)A PNAD desdobra em oito as posies na ocupao, sendo elas: 1. Empregado: pessoa que trabalha para um empregador (pessoa fsica ou jurdica), geralmente obrigando-se ao cumprimento de uma jornada de trabalho e recebendo em contrapartida uma remunerao em dinheiro, mercadorias, produtos ou benefcios (moradia, comida, roupas, etc.)2; 2. Trabalhador Domstico: pessoa que trabalhava prestando servio domstico remunerado em dinheiro ou benefcios, em uma ou mais unidades domiciliares; 3. Conta-prpria: pessoa que trabalha explorando o seu prprio empreendimento, sozinha ou com scio, sem ter empregado e contando, ou no, com a ajuda de trabalhador no-remunerado; 4. Empregador: pessoa que trabalha explorando o seu prprio empreendimento, com pelo menos um empregado; 5. Trabalhador no-remunerado membro da unidade domiciliar: pessoa que trabalha sem remunerao, durante pelo menos uma hora na semana, em ajuda a membro da unidade domiciliar, que era empregado na produo de bens primrios ou mineral, caa, pesca e piscicultura), conta-prpria ou empregador; 6. Outro trabalhador no-remunerado: pessoa que trabalha sem remunerao, durante pelo menos uma hora na semana, como aprendiz ou estagirio ou em ajuda a instituio religiosa, beneficente ou de cooperativismo; 7. Trabalhador na produo para o prprio consumo: pessoa que trabalha, durante pelo menos uma hora na semana, na produo de bens do ramo, que compreende as atividades da agricultura, silvicultura, pecuria, extrao vegetal, pesca e piscicultura, para a prpria alimentao de pelo menos um membro da unidade domiciliar;8. Trabalhador na construo para o prprio uso: pessoa que trabalha, durante pelo menos uma hora na semana, na construo de edificaes, estradas privativas, poos e outras benfeitorias (exceto as obras destinadas unicamente reforma) para o prprio uso de pelo menos um membro da unidade domiciliar.

    2 Nessa categoria incluiu-se a pessoa que prestava o servio militar obrigatrio e, tambm, o sacerdote, ministro de igreja, pastor, rabino, frade, freira e outros clrigos;

    Fatores ligados s representaes sociais tm influncia relevante na busca pelo trabalho e na resistncia em abandon-lo.As representaes sociais positivas sobre o trabalho infantojuvenil que aparecem no mbito familiar, em especial de famlias cujos filhos, crianas ou adolescentes, trabalham, podem ser ainda mais fortes e frequentes. Elas so modos de conhecimento popular, baseados em prticas e experincias diretas e coletivas, que se somam a vises antigas e tambm populares sobre o trabalho infantojuvenil e sobre conceitos e significados mais amplos que o trabalho assume na vida humana.

    As representaes sociais sobre o trabalho infantojuvenil no so iguais para todos os grupos. Os especialistas e acadmicos veem esse tipo de trabalho de uma maneira; os profissionais que atuam na rea, de outra; e os envolvidos crianas, adolescentes e familiares podem enxergar o trabalho de forma diferente das demais.

    Nem sempre os profissionais que atuam em contato direto com o pblico nos sistemas de garantia de direitos ou nos programas voltados erradicao do trabalho infantil so portadores dos mesmos conhecimentos.

    No raro encontrar profissionais da rede de proteo que tendem a admitir a ocorrncia do trabalho infantil, desde que sob certas modalidades e nas condies de proteo de familiares ou responsveis.

    No caso de adolescentes trabalhadores, muitos profissionais referem-se a experincias pessoais prprias para justificar o trabalho adolescente como algo que pode trazer uma contribuio positiva para o desenvolvimento de capacidades e para a formao de conceitos e atitudes como responsabilidade, respeito, organizao, entre outros.

    Por isso, importante e necessrio realizar a escuta personalizada das famlias, da escola e dos professores, das crianas e adolescentes envolvidos e at mesmo dos empregadores para compreender e traar estratgias mais eficazes em cada caso.

    A realizao de um bom diagnstico requer ao profissional considerar as muitas vozes, ideias e sentidos para a compreenso do trabalho infantojuvenil.

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    A existncia de polticas que aumentem a renda dos trabalhadores adultos e diminuam o desemprego condio fundamental para reduzir o trabalho infantil e aumentar as chances das crianas permanecerem na escola. preciso garantir aos adolescentes a realizao de um trabalho que seja educativo e criativo, e que esteja associado ampliao de capacidades e autorrealizaes pessoais, e no um trabalho que agrida ou prejudique seu desenvolvimento.

    As representaes sociais das famlias que tm crianas ou adolescentes trabalhando e que se mostram, muitas vezes, a favor do trabalho infantojuvenil, podem atribuir ao trabalho o carter de atividade necessria, inevitvel e digna, ou valoriz-lo como forma de tirar a criana dos perigos da rua ligados, principalmente, criminalidade ou ao uso de drogas, ou ainda como antdoto aos perigos decorrentes da ociosidade.

    As famlias podem tambm reconhecer o trabalho infantojuvenil como meio positivo de promover o desenvolvimento da responsabilidade e da autonomia nas crianas, e de auxili-las a amadurecer e a se fortalecer para realizar tarefas necessrias vida. Essas ideias se expressam por:

    O que transparece nessas falas no uma opinio isolada ou particular de uma ou outra famlia, mas posies frequentes, predominantes em certos grupos sociais, e que so acompanhadas de outras representaes positivas sobre trabalho infantojuvenil.

    O profissional que atua no combate ao trabalho infantojuvenil deve dialogar em torno das mltiplas representaes sobre o trabalho infantojuvenil. possvel, por exemplo, questionar os motivos e as necessidades que conformam a base real dessas famlias; os valores morais envolvidos no trabalho precoce, que muitas vezes no esto claramente visveis; e estimular a famlia, crianas e adolescentes a refletirem sobre esse trabalho.

    Melhor trabalhar que ficar na rua.Cabea vazia oficina do diabo.O trabalho enobrece o homem, e a criana tambm!Eu sempre trabalhei, e isso me fez crescer e ser responsvel.Meus filhos gostam de ajudar em casa.

    Qualquer poltica, programa ou campanha que tenha como objetivo combater o trabalho infantojuvenil ter que aprender a identificar essas representaes, dialogar com as populaes que as tm internalizadas como crenas e convices, e no simplesmente neg-las.A escolha da famlia em colocar seus filhos no trabalho precoce, quando a possibilidade de escolha de fato existe, motivada, muitas vezes, pela necessidade econmica, mas frequentemente se reveste de uma razo extraeconmica.

    Tal razo formada por representaes diversas que, como dissemos, so verdades para quem as tm e devem ser consideradas seriamente pelos programas de erradicao do trabalho infantojuvenil. Isso requer escuta qualificada e um esforo para colocar-se no lugar do outro e tentar compreender suas razes e motivaes.

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    Crianas e adolescentes entre 12 e 14 anos de idade tm autonomia intelectual e moral para fazer escolhas por si mesmas, exercer protagonismo em suas prprias vidas e tomar decises sobre seus prprios destinos?O avano na erradicao do trabalho infantil e na proteo do adolescente trabalhador nos municpios brasileiros depende de vrios fatores. Mas a ausncia de diagnsticos mais completos e detalhados sobre a incidncia do problema, que fundamentem a formulao de polticas consistentes, ou seja, que tenham um carter mais qualitativo sobre as causas, os valores e as representaes sobre o trabalho esto certamente entre os mais importantes.

    O trabalho realizado pelo adolescente frequentemente valorizado por toda a comunidade ao seu redor, incluindo colegas de escola, professores, vizinhos e empregadores. Isso acontece porque a sociedade cultiva representaes positivas sobre os adolescentes que trabalham, enxergando o trabalho como atividade dignificante.

    Por outro lado, quando as famlias apontam o trabalho como dignificante ou positivo para o desenvolvimento de crianas e adolescentes, elas esto contrapondo essa condio, que reflete uma viso de que o trabalho infantojuvenil pode proteger crianas e adolescentes de males maiores, a uma carncia de atividades alternativas e de polticas pblicas que deveriam ser oferecidas a seus filhos. Em outras palavras, o trabalho acaba sendo visto como necessrio quando evidenciada a ausncia do Estado em promover aes de carter protetivo.

    Quantas crianas e adolescentes esto em situao de trabalho infantil no municpio? Desses, quantos so meninas e quantos so meninos? Entre os adolescentes, quantos esto em trabalho protegido e quantos ainda carecem dessa proteo? Qual a demanda por projetos voltados aprendizagem profissional?

    Para consultar as ferramentas disponveis no IBGE acesse www.ibge.gov.br e para consultar os dados do Sistema de Recuperao de Dados (SIDRA) acesse www.sidra.ibge.gov.br.

    O primeiro passo ser a formulao de questes sobre a incidncia de trabalho infantojuvenil no municpio, que possam ser respondidas por meio da consulta aos dados que o IBGE disponibiliza em nvel municipal. Um exemplo de pergunta a ser realizada : Quantas crianas e adolescentes esto trabalhando ou querendo trabalhar?. Olhando para os dados fornecidos pelo IBGE, possvel identificar e responder a essa questo.

    O passo seguinte ser a organizao e anlise dos dados censitrios municipais, que igualmente podem ser obtidos no endereo eletrnico do IBGE a partir da insero, no banco de dados, das categorias que o municpio pretende pesquisar. Os Censos de 2000 e 2010 apresentam dados sobre trabalho entre pessoas de 10 anos ou mais idade. Caso o municpio queira acessar os dados dos adolescentes que trabalham, por exemplo, o gestor poder inserir as faixas etrias de 10 a 17 anos e cruz-la com a populao economicamente ativa ocupada na regio.

    A partir da comparao entre a situao do municpio de interesse e a situao de um grupo de municpios de estrutura socioeconmica similar, que ser o grupo de referncia, cada municpio poder formular suas metas de enfrentamento e preveno do trabalho infantojuvenil ilegal e de proteo dos adolescentes trabalhadores.

    Ao percorrer os passos sugeridos, os municpios podero, tambm, identificar a necessidade de realizar um levantamento de dados primrios em seu prprio territrio, ou seja, de desenvolver uma pesquisa focada em sua regio e contexto.

    Isso ajudar o municpio a conhecer aspectos da realidade local que no so revelados pelos dados censitrios. No entanto, para que essa pesquisa local seja realizada, recomenda-se executar primeiro a anlise dos dados dos Censos e da PNAD disponibilizados pelo IBGE, pois a partir desse diagnstico preliminar que ser possvel levantar hipteses orientadoras para a realizao do mapeamento local.

    Usando os dados censitrios para mapear o trabalho infantojuvenil De acordo com a recomendao do Frum Nacional para a Preveno e Eliminao do Trabalho Infantil (FNPETI), cada municpio deve fazer um exerccio de anlise de dados censitrios para identificar a incidncia do trabalho infantojuvenil em seu territrio, mapear as reas de atividade e as cadeias produtivas (formais ou informais) em que os trabalhos acontecem e definir metas locais de erradicao e proteo.

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    A promoo da proteo integral e do desenvolvimento municipal depende do avano do conhecimento e de como o poder pblico lida com os desequilbrios registrados no decorrer do tempo. preciso investigar outros fatores que levam crianas e adolescentes a no frequentar a escola, mesmo que no estejam trabalhando. Esses problemas, combinados com o volume de trabalho ilegal ou desprotegido, precisam ser enfrentados de forma integrada pelo municpio.

    Integrao dos servios de atendimento da rede de ateno e proteoO trabalho infantojuvenil um fenmeno complexo que carece de diferentes abordagens para que seja enfrentado de forma eficaz. Para dar conta de um problema dessa natureza, as instituies e programas que, em cada municpio ou estado, integram o Sistema de Garantia dos Direitos das Crianas e Adolescentes (SGDCA) devem atuar de forma articulada e desenvolver capacidades de trabalho em rede.

    O conceito de Sistema de Garantia essencial para a efetivao de polticas de proteo e promoo de direitos de crianas e adolescentes. Assim, o SGDCA no s o sistema de atendimento imediato da criana que demanda proteo pontual especfica, tais como abrigo, medidas socioeducativas ou atendimento no Conselho Tutelar; mas composto por uma teia muito mais ampla e complexa de servios que devem estar disponveis a esses sujeitos.

    Ao realizar esse diagnstico, os conselhos de direitos estaro dialogando com os agentes do SGDCA, que so seus parceiros naturais: o Conselho Tutelar, as Polcias Militar e Civil, o Ministrio Pblico, o Poder Judicirio, as Secretarias Municipais, as organizaes no governamentais e o Poder Legislativo. Cada um desses agentes tem atribuies que so essenciais para que os direitos possam ser garantidos.

    No caso do trabalho infantojuvenil, a experincia tem demonstrado que melhores resultados podem ser alcanados quando o atendimento centrado na famlia. Alguns autores enfatizam que as violaes de direitos sofridas por crianas e adolescentes so quase sempre sintoma de vulnerabilidades familiares.

    A centralidade da famlia como elemento orientador das aes socioassistenciais foi reafirmada no Plano Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direito de Crianas e Adolescentes Convivncia Familiar e Comunitria, institudo pelo Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS).

    O fluxo operacional desencadeado a partir da identificao dos casos de trabalho infantojuvenil, que pode ser feita por diferentes agentes ou por denncias da sociedade.

    SISTEMAS DE FLUXOSOs fluxos operacionais tm como base o estudo publicado pela Associao Brasileira dos Magistrados, Promotores de Justia e Defensores Pblicos da Infncia e da Juventude (ABMP), que sistematiza os fluxos operacionais de enfrentamento de diferentes violaes dos direitos das crianas e adolescentes. O estudo se fundamenta na legislao do setor e est assentado no pressuposto de que as instituies e os agentes do SGDCA devem atuar como uma rede articulada.

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    Como estruturar um fluxo operacional em seu municpio?Os fluxos operacionais para a erradicao do trabalho infantil e a proteo do adolescente trabalhador devem oferecer aos gestores e operadores do SGDCA subsdios para o acompanhamento das aes, o monitoramento dos casos atendidos e a avaliao dos resultados. Nesse sentido, no devem ser apenas documentos formais, mas instrumentos vivos e dinmicos de controle da qualidade das aes em rede.

    Essa articulao deve potencializar os recursos disponveis e maximizar os resultados. Para tanto, no pode ser uma ao voluntria ou informal, mas sim institucionalizada, estruturada a partir de responsabilidades definidas e de mecanismos de monitoramento e avaliao.

    A avaliao dos fluxos operacionais em cada municpio deve ser feita a partir de algumas questes fundamentais:

    Os Centros de Defesa da Criana e do Adolescente (Cedeca) organizaes no governamentais existentes em alguns municpios brasileiros, dedicadas a enfrentar violaes de direitos tais como o trabalho infantil.

    As Unidades Bsicas de Sade (UBSs) e as escolas pblicas e privadas tambm podem notificar casos de trabalho infantil que tenham sido reconhecidos por profissionais de sade ou educadores no dia a dia de suas atividades.

    O Servio Especializado de Abordagem Social (SEAS), cuja funo especfica identificar pblicos em situao de direitos violados, entre os quais, a violao que caracterizada pelo trabalho infantil.

    Efetuado o diagnstico dos casos pelas equipes do CREAS e do CRAS, o atendimento das crianas, adolescentes e famlias deve ser efetuado por meio das aes do trip formado por SCFV-PETI, PBF e PAIF/PAEFI, em integrao com aes das demais polticas setoriais e com o apoio de empresas e da sociedade civil.

    O fluxo operacional desencadeado a partir da identificao dos adolescentes

    em situao de trabalho e das condies em que esses adolescentes esto inseridos no mundo do trabalho. Essas condies podem: a) estar em conformidade com as determinaes legais do direito ao trabalho educativo previsto no ECA, da Lei da Aprendizagem e da CLT; b) configurarem como condies de desproteo ou de violao de direitos do adolescente.

    As informaes sobre as condies de trabalho do adolescente devem ser obtidas junto s organizaes pblicas responsveis pelo controle das relaes de trabalho, tais como a SRTE e o MPT. rgos e associaes que representam as empresas e as categorias profissionais e, ainda, escolas e centros de formao de adolescentes e jovens para o mundo do trabalho, que muitas vezes fazem a mediao da incluso produtiva desse pblico, tambm so obrigados a fornecer essas informaes.

    Vale destacar que a avaliao dos casos poder contar com o apoio da equipe responsvel no municpio pela rea de trabalho e renda do Programa Nacional de Promoo do Acesso ao Mundo do Trabalho ACESSUAS-TRABALHO, caso esse exista no municpio.

    O fluxo operacional capaz de atender de forma qualificada as demandas de denncias, encaminhamento e acompanhamento do trabalho infantil e do trabalho adolescente desprotegido oferecendo subsdios para o diagnstico entre as instituies, servios ou programas em cada municpio.

    Alguns agentes tm a funo de identificar, registrar ou apurar casos, tais como o Conselho Tutelar (CT), a Superintendncia Regional do Trabalho e Emprego (SRTE), o Ministrio Pblico do Trabalho (MPT) e as delegacias de polcia. Outros agentes ou instituies que podem realizar denncias so:

    - Dentre os servios e programas, quais deles apresentam mais potencialidades?

    - Quais so os mais frgeis? - Quais as dificuldades encontradas para estabelecer

    uma relao cooperativa? - Os procedimentos que empregam esto alinhados

    s polticas nacionais? - Em que medida esses procedimentos esto

    integrados? - Existem lacunas ou pontos de estrangulamento na

    comunicao entre os agentes? - Como superar as lacunas existentes na

    comunicao?- Na falta de um servio essencial, quem

    desenvolveria a sua funo? - Quais atores precisariam fazer uma reavaliao/

    atualizao de sua atuao?

    As respostas a essas questes podero ajudar a mediar conflitos, superar bloqueios e reconhecer foras existentes no municpio que possam ser potencializadas.

    Os fluxos de erradicao do trabalho infantil e de proteo do adolescente trabalhador podem ser sintetizados em quatro grandes etapas:

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    O acolhimento e o atendimento de crianas e adolescentes devero ser planejados e operados de forma intersetorial e interdisciplinar. Para isto, preciso investir em estratgias de preveno primria, secundria e terciria.

    Preveno Primria:

    Preveno Secundria:

    A. Identificao da ocorrncia de trabalho infantojuvenil

    B. Diagnstico personalizado e formulao de um plano de atendimento

    C. Encaminhamento para os servios de atendimento e aplicao das providncias adequadas

    D. Monitoramento

    Acesse o site: www.sipia.gov.br.

    A) fortalecer a capacidade de autodefesa e protagonismo de crianas e adolescentes por meio da educao, especialmente quando em situaes de vulnerabilidade;

    B) responsabilizar os abusadores e exploradores e criar meios para sua reeducao e tratamento, quando forem identificados problemas psquicos.

    A) desencadear um processo de sensibilizao das famlias, instituies, lideranas comunitrias e profissionais, buscando alterar paradigmas que justificam a cultura de violncia no campo das relaes pessoais e sociais;

    B) investir na formao das equipes e dos profissionais que atuam nas redes de atendimento para que estes estejam mais bem preparados para lidar com este tipo especfico de violncia, a sexual;

    Preveno Terciria: A) conscientizar empresas e corporaes pblicas e

    privadas, de mbito nacional e internacional, por meio de campanhas esclarecedoras sobre abuso e explorao sexual comercial de crianas e adolescentes;

    B) incidir nas pautas da mdia e das organizaes que promovem a cultura, o cinema, o teatro e a dana para que os mesmos atuem de forma a esclarecer sobre o problema;

    C) incidir sobre agncias e organismos governamentais nacionais e internacionais;

    D) buscar influenciar e construir parcerias com o Poder Legislativo municipal, estadual e federal;

    E) construir parcerias junto ao Poder Judicirio para o enfrentamento do problema.

    C) articular as entidades de atendimento, comunidades, sindicatos, grmios estudantis e organizaes de defesa para a discusso, visando ampliar aes de combate violncia e explorao sexual comercial.

    Em funo das condies existentes em cada localidade, as articulaes entre os agentes da rede de atendimento podero se configurar de maneiras diferentes.

    Em municpios com forte caracterstica rural, a participao da secretaria ou departamento de agricultura poder ajudar no planejamento e execuo de aes voltadas erradicao das formas de trabalho infantil ligadas ao trabalho agrcola.

    Alm da reduo da pobreza e do alcance de metas de incluso e desempenho de crianas e adolescentes nas escolas, preciso que a sociedade e os gestores estejam organizados e estruturados para a denncia, a apurao e o acompanhamento dos casos de forma integrada.

    Para isso, conte com a Fundao Telefnica e seus 15 anos de atuao, acesse o site do Promenino e saiba mais.

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    Venha somar com a Fundao Telefnica nessa campanha em parceria com a OIT e o UNICEFContamos com voc!

    www.fundacaotelefonica.org.br/promeninowww.facebook.com/redepromenino@promenino #trabalhoinfantil

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