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CARTOGRAFIA TEMÁTICA APLICADA: CARTA SÍNTESE DE POLUIÇÃO AMBIENTAL DA ÁREA CENTRAL DE BIRIGUI - SP
Márcio Fernando Gomes Universidade Estadual de Maringá-Paraná – Mestrando em Geografia
Deise Regina Elias Queiroz Universidade Estadual de Maringá-Paraná – Professora Doutora
Rafael Marques dos Santos Universidade Estadual de Maringá-Paraná – Graduando em Geografia/Bolsista
Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/FA-UEM [email protected]
Resumo A partir da segunda metade do século XX o Brasil passa por um intenso e acelerado processo de urbanização. Esse processo de urbanização se deu de forma repentina e do ponto de vista social as cidades não estavam preparadas para se tornar o espaço de vida da maior parte da sociedade brasileira. A expansão urbana e falta de planejamento adequado geram uma degradação na cidade, com impactos sociais e ambientais que interferem diretamente na qualidade de vida dos citadinos. A partir desta questão, o presente estudo faz uma análise da poluição ambiental na área central da cidade de Birigui – SP. Para realização do trabalho foi utilizado o método de pesquisa cartográfica (SIMIELLI, 1981) e a metodologia proposta por Nucci (2001). Esta metodologia permite avaliar a poluição ambiental no espaço urbano, identificando, espacializando e cruzando os elementos que a caracteriza, o que posteriormente possibilitará a realização de uma análise sistêmica e a elaboração de uma carta síntese de poluição ambiental. A carta síntese de poluição ambiental revelou que existem inúmeras fontes poluidoras na área central de Birigui, determinantes para queda da qualidade ambiental no local. O presente estudo busca servir como subsídios para o planejamento urbano e implementação de políticas públicas que visem uma cidade sustentável. Palavras – Chave: Poluição Ambiental, Cartografia Temática, Carta Síntese, Birigui-SP. Abstract From the second half of the twentieth century Brazil is going through an intense and accelerated process of urbanization. This process of urbanization was so sudden and social point of view the cities were not prepared to become the area of life most of the Brazilian society. Urban sprawl and lack of adequate planning cause a deterioration in the city, with social and environmental impacts that directly affect the quality of life of the city. From this question, this study is an analysis of environmental pollution in the central area of the city of Birigui - SP. To carry out the work we used the method of research mapping (SIMIELLI, 1981) and the methodology proposed by Nucci (2001). This methodology to assess environmental pollution in urban areas, identifying, and spatializing crossing the elements that characterized, which will subsequently conducting a systemic analysis and a summary letter of environmental pollution. The letter synthesis of environmental pollution has shown that there are many pollution sources in the central area of Birigui, determinants of environmental quality to fall in place. This study was used as subsidies for the urban planning and implementation of public policies aimed at sustainable city. Keywords: Environmental Pollution, Thematic Mapping, Synthesis Map, Birigui-SP.
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Introdução
A partir da segunda metade do século XX o Brasil passa por um intenso e acelerado processo
de urbanização. Esse processo de urbanização se deu de forma repentina e do ponto de vista social as
cidades não estavam preparadas para se tornar o espaço de vida da maior parte da sociedade brasileira.
A expansão urbana e falta de planejamento adequado geram uma degradação na cidade, com impactos
sociais e ambientais que interferem diretamente na qualidade de vida dos citadinos.
Uma das conseqüências da urbanização é a proliferação de atividades potencialmente
poluidoras. Diversas são as formas de poluição urbana, entre as quais se destacam a poluição sonora,
atmosférica, visual e hídrica. A intensa poluição das áreas urbanas faz desse local um ambiente cada
vez mais desagradável para viver.
A poluição do ar nas áreas urbanas está associada principalmente as atividades industriais e aos
meios de transporte. A poluição do ar nos centros urbanos afeta diretamente a saúde da população. "O
aumento dos níveis da poluição do ar tem sido associado com o aumento da morbidade e da mortalidade e
com um aumento de incidência de doenças respiratórias e cardiovasculares" (ONU, 1993).
Os ruídos promovidos pelas atividades urbanas representam outra fonte de poluição. A
poluição sonora afeta o desempenho físico e mental, provoca stress, perturba o sono, além de agravar
problemas cardíacos e hipertensão. Segundo Nucci (2001, p. 57):
A poluição acústica é outra conseqüência da urbanização que afeta a qualidade ambiental, e as principais fontes de ruídos em um meio urbano são: os meios de transporte terrestres, os aeroportos, as obras de construção civil, as atividades industriais, os aparelhos eletrodomésticos e o próprio comportamento humano.
Poluição visual é outro problema urbano, “ela faz parte de uma cidade sem critérios para a
disposição de anúncios e cartazes e outras formas de propaganda que acabam causando tensões,
angústias e efeitos correlatos sobre o ser humano urbano” (NUCCI, 2001, p. 59).
Na avaliação da poluição ambiental urbana a cartografia aparece como uma ferramenta valiosa.
Para analisar o espaço geográfico em suas mais variadas vertentes pode-se utilizar a cartografia
temática como um instrumento primordial de compreensão espacial e, por excelência, para o
desenvolvimento do conhecimento geográfico.
Segundo Ramos (2005, p. 19) a cartografia temática é o ramo da cartografia que se preocupa
com a representação espacial dos fenômenos. Assim, no estudo em questão, onde é necessária a
espacialização de indicadores de qualidade ambiental, torna-se importante o estudo com mapas
temáticos.
Oliveira (1993, p. 32) define mapas temáticos como sendo os “documentos em quaisquer
escala, em que, sobre um fundo geográfico básico, são representados os fenômenos geográficos,
geológicos, demográficos, econômicos, agrícolas, etc., visando ao estudo, à análise e à pesquisa dos
temas, no seu aspecto espacial”.
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Os mapas nos permitem ter domínio espacial e fazer a síntese dos fenômenos que ocorrem num
determinado espaço (SIMIELLI, 1999). De acordo com Genovez et al (2007) o mapa síntese constitui
um produto final destinado ao diagnóstico de variáveis determinantes, podendo resultar em
contribuições importantes na identificação de desigualdades territoriais.
Segundo Genovez et al (2007, p. 70):
O mapa – síntese pode ser utilizado como instrumento para a gestão urbana, aplicado na cidade como um todo, ou em áreas específicas, auxiliando no planejamento de políticas públicas e usando, como fonte de dados, as variáveis determinantes para o fenômeno, segundo o modelo estatístico utilizado.
O levantamento de indicadores que repercutem na poluição ambiental, sua representação
espacial e a sobreposição de cartas temáticas permite a confecção de uma carta síntese das zonas de
poluição ambiental.
Diante do contexto exposto, o presente trabalho utiliza a cartografia temática no diagnóstico da
poluição ambiental na Área Central da cidade de Birigui – SP. Essa avaliação é fundamental para o
planejamento urbano e a formulação de políticas públicas.
Área de Estudo
O município de Birigui está localizado na região noroeste do estado de São Paulo, entre as
latitudes 21° 03' 32,09" S e 21° 28' 01,53" S, e longitudes 50° 14' 29,01" O e 50° 27' 57,29" O (figura
1). Possui uma população de 103.349 habitantes distribuída em uma área de 531 Km² (IBGE, 2007).
O município foi fundado em 1911, sua colonização se deu no contexto do avanço na frente
pioneira no Estado de São Paulo, com a da expansão da cafeicultura e instalação da rede ferroviária. A
partir da década de 1970 o município apresenta uma expansão urbana e industrial, com o crescimento
espacial e demográfico da cidade, e a proliferação de indústrias de calçadistas.
Á área central de Birigui é a principal zona comercial e de serviços da cidade. É caracterizada
pela presença de fluxo intenso de pessoas e veículos. Segundo Corrêa (1994) as áreas centrais das
cidades se caracterizam por concentrar-se “as principais atividades comerciais, de serviços, da gestão
pública e privada, e os terminais de transportes inter-regionais e intra-urbanos”. Assim, são áreas
propícias a presença de fontes de poluição.
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Figura 1: Localização da Área Central de Birigui – SP.
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Materiais e Métodos
A realização dessa pesquisa foi fundamentada na metodologia proposta por Simielli (1981), ela
adota três níveis de pesquisa por meio cartográfico:
- cartas de análise, onde os fenômenos são distribuídos e analisados isoladamente
- carta de correlação, permite a combinação de duas ou mais cartas de análise
- carta síntese, mostra as relações entre as cartas de análise, apresentando uma síntese.
Para avaliação da poluição ambiental foram utilizadas as variáveis adotadas por Nucci (2001),
onde são considerados os principais usos causadores de poluição atmosférica, hídrica, visual e sonora,
e o cruzamento desses mapas para chegar-se ao zoneamento das fontes poluidoras.
Essas metodologias permitem avaliar a poluição ambiental no espaço urbano, identificando,
espacializando e cruzando os elementos que a caracteriza, o que posteriormente possibilita elaboração
de uma carta síntese das zonas de poluição ambiental.
O desenvolvimento do trabalho seguiu as seguintes etapas:
- Organização de base cartográfica (Mapa Urbano – Prefeitura Municipal de Birigui, 2003).
- Definição das variáveis escolhidas como fontes de poluição ambiental.
-Levantamento das fontes de poluição ambiental em trabalho de campo (depósitos,
estacionamentos, funilarias, indústrias, locais de venda de veículos, locais de venda de peças e
acessórios para automóveis, mecânicas, postos de gasolina, serralherias, transportadoras e vias de
tráfego intenso).
- Definição dos modos de representação espacial dos dados.
- Elaboração das cartas de análise.
- Elaboração das cartas de correlação.
- Elaboração da Carta Síntese de Poluição Ambiental.
Para confecção das cartas temáticas foram utilizados os softwares Global Mapper 7,
CorelDRAW X3, e adotada a teoria proposta por Bertin (1978), fundamentada nos princípios da
Semiologia Gráfica.
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Resultados e Discussões
De acordo com Nucci (2001, p. 140) “não é preciso muito esforço para comprovar que as
serralherias, mecânicas, funilarias e postos de gasolina são usos altamente poluidores”, pois essas
atividades trabalham diretamente com automóveis, motos, ônibus e caminhões, atraindo elevado fluxo
de veículos, o que consequentemente contribui para poluição atmosférica e sonora dessas áreas.
Ao longo da área de estudo existem nove mecânicas (figura 2), destaca-se a Rua Tupi no setor
norte do mapa, com a concentração de três estabelecimentos; e uma funilaria (figura 2). Há seis postos
de combustíveis bem distribuídos na área central de Birigui (figura 4). Esses locais favorecem a
concentração de automóveis, tal fato gera uma intensa poluição sonora e atmosférica, reduzindo a
qualidade do ambiente.
A presença de serralherias na área é muito baixa, se restringe a duas unidades (figura 3). “As
serralherias apresentam como principal incômodo à geração de ruídos, mas também ocorre um
aumento do movimento de veículos e a utilização das calçadas para os serviços.” (NUCCI, 2001,
p.140).
Os estabelecimentos de venda de veículos, acessórios e peças também são considerados fontes
de poluição, estando relacionadas novamente com a atração de automóveis e caminhões. No centro de
Birigui essas atividades aparecem em quantidade elevada, são dez estabelecimentos de venda
automóveis e vinte e cinco relacionados à venda de acessórios e peças para veículos. Esses
estabelecimentos apresentam um padrão de distribuição que se concentram do centro em direção aos
limites da área (figura 5). Cabe destacar as Ruas Saudades e Barão do Rio Branco (região sul do
mapa) com a maior densidade de estabelecimentos.
Nucci (2001) aponta ainda os estacionamentos abertos e as vias de tráfego intenso como fontes
poluidoras. Nesses locais há intensa poluição sonora e atmosférica. Os estacionamentos abertos e as
vias de tráfego intenso deixam extravasar ruídos e geram poluição sonora, além da poluição
atmosférica. Na área central de Birigui existe uma estreita relação entre os estacionamentos (figura 6) e
as vias de tráfego intenso (figura 7), ambas se localizam no núcleo central, este local é caracterizado
pela concentração das atividades comerciais do município, assim é um ponto de atração de veículos e
consequentemente para instalação de estacionamentos.
Foram registradas vinte e duas indústrias no local, destacam-se as de calçados e componentes
para calçados, o que reflete a economia local, assentada nas atividades ligada à indústria calçadista. A
localização das indústrias ocorre de forma concentrada, no entorno do núcleo central (figura 8). Nem
todas as indústrias causam poluição pelo simples funcionamento, porem elas atrai fluxo de veículos,
como caminhões e ônibus, assim também indicam áreas poluídas (NUCCI, 2001).
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Figura 2: Espacialização das oficinas mecânicas e funilarias na Área Central de Birigui - SP.
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Figura 3: Espacialização das serralherias na Área Central de Birigui - SP
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Figura 4: Espacialização dos postos de combustíveis na Área Central de Birigui - SP
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Figura 5: Espacialização dos locais de venda de automóveis, acessórios e peças para automóveis na Área Central de Birigui - SP
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Figura 6: Espacialização dos estacionamentos na Área Central de Birigui - SP
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Figura 7: Espacialização das vias de tráfego intenso na Área Central de Birigui - SP
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Figura 8: Espacialização das indústrias na Área Central de Birigui - SP
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O cruzamento das cartas temáticas permite a elaboração de uma carta síntese com o
zoneamento das áreas mais poluídas na Área Central de Birigui (figura 9). Na carta síntese o
zoneamento está ligado à intensidade da presença de fontes de poluição.
Foram delimitadas três zonas:
- Zona com alta concentração de fontes de poluição: são caracterizadas por concentrarem
mais de uma atividade poluidora. Contam com a presença de vias de tráfego intenso e outra fontes de
poluição simultaneamente. Destacam-se o núcleo central, onde a circulação de veículos é intensa e há
inúmeros estacionamentos; o setor norte com áreas que apresentam vias de tráfego intenso, mecânicas,
autopeças e indústrias; o setor sul com vias de tráfego intenso, autopeças, locais de venda de veículos,
postos de combustível e algumas indústrias.
- Zona com presença de fontes de poluição: são áreas com presença de fontes de poluição de
forma isolada. Geralmente associadas a presença de vias de tráfego intenso ou presença pontual de
locais de venda de veículos e/ou peças e acessórios para veículos, mecânicas e postos de gasolina.
- Zona com ausência de fontes de poluição: trata-se de áreas predominantemente residenciais.
Estão localizadas principalmente nos limites da área de estudo.
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Figura 9: Carta Síntese – Zonas de Poluição Ambiental, Área Central de Birigui-SP.
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Conclusões
A utilização da cartografia temática como forma de análise da poluição ambiental se mostrou
eficaz. A representação das fontes de poluição ambiental através de mapas temáticos permitiu o
cruzamento de informações, contribuindo para a análise espacial e o diagnóstico de zonas de poluição.
A carta síntese de poluição ambiental revelou que existem inúmeras fontes poluidoras na área
central de Birigui, determinantes para queda da qualidade ambiental no local. O presente estudo busca
servir como subsídios para o planejamento urbano e implementação de políticas públicas que visem
uma cidade sustentável.
Referências
BERTIN, J. Theory of communication and theory of the graphic. International Yearbook of Cartography, 18, p. 118 – 126, 1978. CORRÊA, R. L. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1994. GENOVEZ, P. C. et al. Indicadores territoriais de exclusão/inclusão social: Geoinformação como suporte ao planejamento de políticas sociais. In: ALMEIDA, C. M. de; CÂMARA, G.; MONTEIRO, A. M. V. (Org.). Geoinformação em urbanismo: cidade real x cidade virtual. São Paulo: Oficina de Texto, 2007, p. 64 – 85. IBGE MARTINELLI, M. Curso de Cartografia temática. São Paulo: Contexto, 1991. NUCCI, J. C. Qualidade Ambiental & Adensamento Urbano: um estudo de ecologia e planejamento da paisagem aplicado ao distrito de Santa Cecília (MSP). São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2001. ONU – Population, growth and policies in mega-cities: São Paulo. Nova York, ST/ESA/SER. R/122, 1993, 36p. RAMOS, C. da S. Visualização cartografia multimídia: conceitos e tecnologias. São Paulo: Ed. da UNESP, 2005. OLIVEIRA, C. de. Dicionário cartográfico. 4 ed. – Rio de Janeiro: IBGE, 1993 SIMIELLI, M. H. R. Variação espacial da capacidade de uso da terra: Um ensaio metodológico de cartografia temática, aplicado ao município de Jundiaí-SP. São Paulo: IGEOG – USP, 1981 (Série Teses e Monografias – N° 41) SIMIELLI, M. H. R. Cartografia no ensino fundamental e médio. A Geografia na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 1999.
