cartografia_cajumanguinhos

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    1/36

    CARTOGRAFIA

    SOCIAL URBANA:IMPACTOS DO DESENVOLVIMENTO

    E DA VIOLNCIA INSTITUCIONAL NA VIDA

    DAS MULHERES MORADORAS DO CAJU

    E DE MANGUINHOS / RIO DE JANEIRO

    REALIZAO:APOIO:

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    2/36

    CARTOGRAFIA SOCIAL URBANA:IMPACTOS DO DESENVOLVIMENTOE DA VIOLNCIA INSTITUCIONAL NA VIDADAS MULHERES MORADORAS DO CAJUE DE MANGUINHOS/RIO DE JANEIRO

    Rio de Janeiro 20151 edio

    ISBN 978-85-86471-83-4

    ORGANIZAO DAS OFICINAS:Anelise GutterresElziane Dourado (Ziza D)Leilah LandimJoana BarrosJuliana FariasMnica PontesRachel Barros

    ORGANIZAO DA PUBLICAO:Aercio OliveiraAnelise GuterresJoana BarrosRachel Barros

    TEXTOS:Aercio OliveiraAnelise GutterresJuliana FariasRachel Barros

    FOTOGRAFIAS:Ana Paula Epiphanio LopesElziane Dourado (Ziza D)Joana BarrosJuliana FariasRachel Barros

    PROJETO GRFICO:Mrula Oficina de Ideias

    IMPRESSO:Global Print Grficae Editora Eireli EPP

    TIRAGEM

    1000 exemplares

    PRODUO DOS MAPAS:MANGUINHOS

    Ana Paula Epiphanio LopesAna Paula Gomes de OliveiraElenice PessoaFtima dos Santos Pinho de MenezesJane Maria Silva CamiloMaria de Ftima F. LourenoMonique de Carvalho Cruz

    CAJU

    Clarisse WerneckDaniela da Silva Pereira

    Eliane Leandro de OliveiraLilia Leandro de OliveiraLuciana SoaresMrcia Rodrigues GalvoMarilene Paulino da Silva

    REALIZAO:

    PARCERIA:

    PARTICIPAO:Laboratrio de ImagemSERVIOSOCIAL(UERJ)

    NASPSERVIOSOCIAL(UFRJ)

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    3/36

    Esta publicao o resultado do trabalho de moradoras dos Com-

    plexos de Favelas do Caju e de Manguinhos, de educadoras popu-

    lares, militantes e pesquisadoras de organizaes acadmicas ede defesa dos direitos humanos que se reuniram ao longo de 2014

    para debater, analisar e buscar meios para combater a violncia institucio-

    nal cometida contra as mulheres.

    Ns, envolvidas na mobilizao para produzir conhecimento e fortalecer

    a luta, como vocs podero conferir na leitura, alimentamos nossas prti-

    cas com uma anlise crtica da realidade, contribuindo com a organizao

    daquelas que tm seus direitos violados. Com esses princpios comuns, de-

    senvolvemos um processo coletivo de dilogo, anlise e escuta, a partir da

    aplicao da metodologia da autocartografia, com destaque s narrativas

    e percepes das mulheres que moram nesses locais de conflito e sofrem

    diferentes formas de violaes de direitos.

    Os objetivos desta publicao so ao menos dois: aproximar leitoras e

    leitores dessa experincia que mobilizou mulheres com perspectivas, vidas

    e saberes to distintos, mas que olham para a mesma questo a luta pela

    garantia de direitos; e estimular outras mulheres, que passam por situa-

    es semelhantes, a se mobilizarem, a difundirem criticamente suas vivn-

    cias e se juntarem para reverter opresses.

    O nosso esforo o de tentar descrever como foi a elaborao da auto-

    cartografia, a dinmica das oficinas, os contedos expostos, as falas, osprincipais conflitos, a dor e a violncia que resultam dessa forma de produ-

    o das cidades, que tem eliminado o interesse pblico para dar lugar aos

    interesses privados de grupos econmicos.

    Vale ressaltar o quanto desafiador abarcar sentimentos, reflexes e

    narrativas, expostas durante as atividades da autocartografia, de pessoas

    de diferentes espacialidades e vises de mundo, mas que se indignam pelas

    mesmas questes. H o olhar daquelas que vivem nas favelas e sofrem no

    corpo e na alma as marcas da violncia institucional. E h o olhar daquelas

    que no moram em favelas, mas que tambm se deparam com a violnciainstitucional no cotidiano ou como pesquisadoras e militantes defensoras

    dos direitos humanos. So perspectivas que se cruzam e se complementam

    para dar fora mobilizao contra a violncia que se expressa muitas ve-

    zes tragicamente nos territrios, sobre as nossas vidas e na vida de tantas

    outras mulheres.

    Uma boa leitura e que ela possa suscitar boas reflexes, novas lutas e

    muitas vitrias!

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    4/36

    EXPERINCIAS NARRADAS,TERRITRIOS EM DISPUTA

    AS CARTOGRAFIAS SOCIAIS E O QUE FOI SE CON-FIGURANDO COMO MAPEAMENTO PARTICIPA-TIVO, OU SEJA, AQUELE QUE RECONHECE OCONHECIMENTO ESPACIAL E AMBIENTAL DE PO-PULAES LOCAIS E OS INSERE EM MODELOSMAIS CONVENCIONAIS DE CONHECIMENTO1TMSE MULTIPLICADO DESDE A DCADA DE 90 EM DI-VERSAS LOCALIDADES DO MUNDO, INCLUINDO

    O BRASIL.2 MUITO DO QUE NOS MOVEU E NOSINSPIROU NA PRODUO DESSA CARTOGRAFIACOMO TCNICA COMPLEMENTAR DE EMPODERA-MENTO E AO POLTICA NAS REGIES DEMAN-GUINHOS E CAJU, PARTEM DESSAS EXPERINCIASE DE SUAS METODOLOGIAS.

    Dentro desse contexto, portanto, consideramos

    que as cartografias devem ser, como j o fizeram

    outros projetos, reapropriadas. Com esse objetivo,

    desde o princpio a ao buscou reunir o debate

    acadmico sobre o tema impactos do desenvol-

    vimento e da violncia institucional na vida das

    mulheres, de maneira a no o sobrepor ao relato

    e as experincias cotidianas de violncias e cons-

    trangimentos vividos pelas autoras. Antes de ini-ciarmos o processo das oficinas, houve um grande

    debate sobre o tema que reuniu elementos para a

    produo da proposta, que seria construda coleti-

    vamente, durantes as seis oficinas com as mulheres

    de Manguinhos e do Caju. importante ressaltar

    que fomos construindo a cada oficina as etapas das

    prximas e isso s pode ser feito porque houve um

    engajamento das mulheres dos dois locais na cons-

    truo do instrumento aqui apresentando. A ideiaque orienta essa publicao que ela seja fruto

    de uma relao social especfica entre os tcnicos,

    apoiadores, pesquisadores, integrantes da equipe

    da FASE e as mulheres de Caju e Manguinhos.

    A proposta de reunir bairros que possuem pro-

    ximidade geogrfica, mas experincias distintas

    foi revelando aproximaes e tambm discordn-

    1. Ver Cartografias sociais e territriode Henri Acselrad e LusColi , publicado em 2008.

    2.Em nosso pas, as experincias mais relevantes desses

    processos esto na regio amaznica, junto ao Projeto Nova

    Cartografia Social da Amaznia (PNCSA). A Fundao Viver

    Produzir e Preservar (FVPP) que surgia do MPST - Movimento

    Pela Sobrevivncia da Transamaznica, atuou com afinco na

    regio no incio dos anos 2000 e tambm realizou processos

    de mapeamento como forma de empoderamento de morado-

    res ribeirinhos e a beira da rodovia.

    4

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    5/36

    cias, como veremos ao longo das pginas. impor-

    tante destacar, todavia, que esse ambiente de debate

    e de dissenso proporcionou trocas, reconhecimentos,

    interaes e aproximaes que foram relevantes para

    estas mulheres enxergarem a si mesmas como parte

    de um mesmo grupo: moradoras de favelas, habitan-

    tes da cidade do Rio de Janeiro que sofrem violncia

    institucional em seu cotidiano. No temos pretenses

    de construir uma macronarrativa histrica ou mesmoum instrumento que demonstre controle do territrio

    relatado. Ao fecharmos juntas o formato e o conte-

    do dessa publicao ficou evidente o quo especfico

    tinha se tornado o material produzido durante os seis

    meses do ano de 2014, sob papis pardos, com canetas

    coloridas, criou-se a matria de uma memria. O deba-

    te sobre o desenvolvimento urbano, as violncias e os

    impactos na vida cotidiana das autoras desse mapa

    expresso a partir dos seus percursos, falas, afetos elgrimas; compondo um material que consideram ca-

    paz de promover uma disputa sobre a representao

    do seu espao de convivncia e moradia.

    A insurgncia que se expressa na disputa pela

    narrativa de seus territrios, vivida com empenho

    pelas autoras desta cartografia, mostrou-se uma

    forma de narrar a reao, em especial dessas mu-

    lheres, s violncias sofridas, para alm de uma

    noo de que elas seriam somente vtimas desses

    processos. Pelo contrrio, empenharam-se em ma-

    nifestar seu descontentamento com a narrativa que

    est por trs da histria oficial do seu local de mo-

    radia, no raro contada por quem no vive ali. A

    cartografia no hegemnica e nem homognea,

    tambm no tem pretenses de totalizar uma con-

    tra-histria oficial para a regio.Desde o princpio elas sabiam que quando cons-

    truram os mapas eram as suas experincias parti-

    culares (mas no menos coletivas) que iriam narrar

    aquele espao, e isso inicialmente lhes trouxe es-

    tranhamento e hesitao, mas depois culminou em

    uma progressiva apropriao do processo e tam-

    bm do produto dele: os mapas.

    Cartografar os cotidianos, os percursos que re-

    sistem e constroem especificidades aos moradoresque tecem o ir em frente aps perdas to duras,

    - da casa, mas principalmente dos familiares - uma

    tentativa de colocar no espao a experincia de viver

    nesses locais. Apresent-la como narrativa contra

    hegemnica, e principalmente como uma disputa

    constante na legitimao da experincia dessas mu-

    lheres na cidade.

    5

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    6/36

    OS TERRITRIOSCARTOGRAFADOS

    MANGUINHOS

    Localizado na Zona Norte da cidade, o bairro tem incio no

    ano de 1900. Hoje considerado um complexo de favelas e

    possui mais de 50.000 habitantes. Seu territrio faz limite com

    os bairros de Higienpolis, Bonsucesso, Benfica e o Conjunto

    de Favelas da Mar. Situado entre linhas de trens, rios e impor-tantes vias da cidade, a regio onde Manguinhos fica situado

    passou por uma grande desindustrializao aps os anos 80 e

    possui dezenas de comunidades em seu territrio. Muitas mo-

    radias foram construdas junto aos terrenos desocupados pela

    empresas, bem como no entorno dos rios e crregos que cortam

    a regio. Desde a instalao da Unidade de Polcia Pacificadora

    (UPP) em outubro de 2013, Manguinhos j teve sei execues de

    moradores realizadas por policiais dessa unidade (Mateus Oli-

    veira Cas, Paulo Roberto Pinho de Menezes, Jos Joaquim deSantana, Johnatha de Oliveira Lima, Christian Soares Andrade

    e Afonso Maurcio Linhares). A relao estabelecida com as

    moradoras foi intermediada pelo Frum Social de Manguinhos3

    e a Organizao Mulheres de Atitude.

    3. https://www.facebook.com/forumsocialdemanguinhos

    6

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    7/36

    CAJU

    Localizado na regio Central da cidade, o bairro faz limite

    com os bairros de So Cristvo, Benfica, Mar, Santo Cristo e

    Barreira do Vasco, e conta com pouco mais de 20 mil habitan-

    tes. O local lembrado na histria oficial da cidade por pos-

    suir prdios da poca imperial, porm no considerado umbairro histrico. O bairro se tornou um local de despejo de lixo

    desde a primeira metade do sculo XIX, possui atividades in-

    dustriais altamente poluentes e tambm extensa rea porturia,

    com amplos ptios para guarda de contineres. Dentre as viola-

    es mais graves, no Caju ocorre intensa contaminao do solo

    por conta do chorume proveniente dos depsitos de lixo e dos

    6 cemitrios existentes na regio - verticais, horizontais, forno

    crematrio alm da intensa poluio do ar. Nos primeiros 6

    meses de 2013 o Caju s teve 7 dias de ar considerado bom, peloProjeto MonitorAr-Rio. A relao com as moradoras se estabele-

    ceu atravs do coletivo Carcar e tambm da Associao de Mo-

    radores Vila dos Sonhos e Terra Abenoada, que ocupa o antigo

    hospital So Sebastio de infectologia.

    AQUI FAZEMOS UMA BREVE APROXIMAO DOS TERRI-TRIOS DE MANGUINHOS E CAJU PARA AQUELAS E AQUELESQUE NO CONHECEM ESSES LUGARES. REUNIMOS ALGUMASINFORMAES HISTRICAS DE FORMAO DOS BAIRROS,SUA TRAJETRIA DE TRANSFORMAO E OS IMPACTOS DELAPARA AS MORADORAS. OS ITENS DESTACADOS J SINALIZAMPARA AQUILO QUE FOI DESENHADO NO MAPA E FALADODURANTE AS OFICINAS.

    7

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    8/36

    AUTOCARTOGRAFIA

    O PROCESSO DE AUTOCARTOGRAFIA TEVE INCIO EM ABRIL DE 2014COM UM DEBATE TERICO SOBRE OS CONCEITOS DE VIOLNCIA,MULHERES E CIDADE, O QUE FOI FUNDAMENTAL PARA ORIENTARO INCIO E O DESENVOLVIMENTO DAS OFICINAS. NO ENCONTROSEGUINTE, EM JUNHO DE 2014, FIZEMOS A PRIMEIRA OFICINA, COMO INTUITO DE APRESENTAR A PERSPECTIVA METODOLGICA DAAO E APROXIMAR AS MULHERES DOS TERRITRIOS ENVOLVIDOS.

    Em julho deste ano iniciamos uma rodada de relatos

    autobiogrficos, compartilhando as vivncias e os con-

    flitos existentes em cada localidade, alm de comear o

    trabalho de autocartografia em papel pardo, demarcan-

    do situaes e processos relevantes. Esta atividade re-

    sultou na construo de dois mapas autorais que foram

    debatidos e problematizados no encontro em agosto

    de 2014. No encontro seguinte, em outubro de 2014, asmarcaes e os cones construdos na autocartografia

    foram transpostos para plantas adquiridas no Instituto

    Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP) que fo-

    ram coladas uma na outra, evidenciando a proximida-

    de geogrfica das duas favelas, pela primeira vez visu-

    alizadas em um mapa nico. As duas ltimas oficinas

    de 2014, que ocorreram em novembro, foram espaos

    de reflexo sobre os eixos temticos que orientaram as

    oficinas - mulher, cidade, violncia, desenvolvimento

    urbano. Tambm foram nelas que avaliamos as ativida-

    des ocorridas durante o ano e pactuamos sobre as in-

    formaes e dados que fariam parte desta publicao.

    Nesse ms tambm realizamos o segundo debate am-

    pliado da ao, que teve a participao de pesquisado-

    ras, militantes e das mulheres de Caju e Manguinhos,criando assim um rico espao de troca sobre os princi-

    pais temas debatidos nas oficinas.

    Os temas e assuntos mais relevantes e os pontos

    mais valorizados nesta construo coletiva esto re-

    tratados nos relatos que seguem, fruto de um pro-

    cesso coletivo de reconhecimento e autoperceo de

    suas vivncias individuais e coletivas.

    8

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    9/36

    1OFICINA

    O QUE VIVER COM A PACIFICAONO CAJU E EM MANGUINHOS?

    Debate pontuado por algumas reflexes propos-

    tas pela equipe, aps assistirmos trechos dos fil-

    mesNarradores de Jave tambm do filmeJanela

    da Alma.

    Foi montado um varal com fotos das comunida-

    des de Caju, Providncia e Manguinhos, expres-

    sando descaso, degradao, remoes nos

    territrios pacificados.

    2OFICINAO QUE VIVER COM A PACIFICAONO CAJU E EM MANGUINHOS?

    Relatos mostraram proximidades e distancia-

    mentos em relao a experincia de vida e aos

    impactos da militarizao das favelas. Por exem-plo, a relao das mulheres do Caju com a UPP

    dessa localidade era considerada boa, enquan-

    to que a relao das mulheres que moravam em

    Manguinhos com a UPP era pssima: elas repu-

    diavam a atuao violenta da polcia com os mo-

    radores e moradoras, atuao que gerara execu-

    es de jovens.

    9

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    10/36

    Nesse dia iniciamos, portanto, o primeiro

    esboo de autocartografia. Foram entre-

    gues folhas grandes de papel pardo (Kraft)

    para cada um dos 2 grupos - um composto

    por moradoras de Manguinhos e outro por

    moradoras do Caju. Cada folha foi apoia-

    da em uma grande mesa para que todas

    pudessem colaborar com o desenho ao

    mesmo tempo que debatiam sobre as re-

    ferncias que produziam: em marcaes,

    cones, cores, e traados diferentes. Ten-do como suporte o papel as moradoras

    iniciaram os desenhos a partir das suas

    vivncias cotidianas nos territrios e suas

    representaes do espao.

    Na regio do Caju houve um grande

    desafio em ultrapassar a narrativa his-

    trica-oficial, que era perseguida por

    algumas integrantes do grupo como

    estratgia de valorizao do passado

    mais nobre do Bairro, no princpio

    do Imprio. O Caju era considerado um

    lugar esquecido, abandonado, que

    tinha virado um depsito de entulho.

    Bairro que s era conhecido quando al-

    gum morria, fazendo aluso aos cemi-

    trios existentes no Caju.

    Houve momentos de solidariedade s

    duas mulheres de Manguinhos que per-

    deram seus jovens filhos, executados porpoliciais da UPP. A brutalidade expressa

    nos relatos das mes reforou o elo entre

    as mulheres dos dois territrios, e tambm

    entre a equipe, promovendo um processo

    de auto reconhecimento e fortalecimento

    nas narrativas que seriam produzidas a

    partir da construo dos mapas.

    3OFICINA

    APRESENTAO DASAUTOCARTOGRAFIAS

    10

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    11/36

    4OFICINA

    DISPUTAS FAZENDO DO VIVIDOUMA NARRATIVA OFICIAL?

    Consolidao da cartografia enquanto

    disputa e como uma das possibilidades

    de expresso da resistncia.

    O objetivo na produo desse novo mapa

    era promover uma disputa por territrio

    a partir do prprio suporte no qual ele

    oficialmente construdo: os mapas ofi-

    ciais da cidade do Rio de Janeiro.

    Os percursos regulares dos moradores

    foram, portanto apresentados e redese-

    nhados, e com isso diferentes dimensesda violncia institucional foram explici-

    tadas e posteriormente questionadas pe-

    las moradoras: a dimenso do descaso

    com a moradia, da presena da violn-

    cia policial, da condio particular de

    ser mulher na cidade, da dificuldade do

    acesso aos direitos civis amplos.

    O tempo foi algo debatido diversas vezes - a fbrica de ci-

    garro a cidade da polcia, o quartel o DESUP, sempre

    algo que , era narrado como algo que foi, mostrando a di-

    nmica da regio e tambm as referncias que os moradores

    tinham com esses espaos e empresas at a atualidade.

    As referncias j apontadas na autocartografia, foram

    sendo achadas na base oficial e repensadas na forma

    de cones e legendas: a igreja vai ser azul ou a igreja vai

    ser verde se perguntavam. A definio das legendas e or-

    ganizao das classificaes de instituies, espaos de

    sociabilidade e espaos de conflito foram fundamentais

    para construo da narrativa do mapa, que reunia: esco-

    las de samba, igrejas, praas, pontos de encontro, pon-

    tos de conflito armado, pontos de emboscada da polcia,

    e tambm pontos pretos onde alguns moradores forammortos pela polcia, no caso do mapa elaborado pelas mo-

    radoras de Manguinhos.

    5E6 OFICINASACORDOS PARA A PUBLICAODA CARTOGRAFIA

    11

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    12/36

    NARRATIVASE PERCEPES CRUZADAS

    SENSAO DE ABANDONO

    NS SOMOS MORADORAS DA VILA DOS SO-NHOS. A VILA DOS SONHOS TEM DOIS ANOS.

    NO ANTIGO HOSPITAL SO SEBASTIO, QUE ERA

    UM HOSPITAL DE INFECTOLOGIA, ENTO ELE FOI

    DESATIVADO E VIROU MORADIA. APESAR DO PRE-

    SIDENTE DA ASSOCIAO TER BRIGADO MUITO

    POR ESSE ESPAO, PARA QUE ELE NO VIRASSE

    MORADIA, POR QUE O HOSPITAL ERA MUITO BOM,

    NO TEVE JEITO, VIROU MORADIA

    EU COSTUMO DIZER QUE O CAJU RICO. PO-

    BRE POR QUE EST EM ABANDONO, MAS MUITO

    RICO. TEM DE UM TUDO NO CAJU, TUDO QUE VOC

    POSSA IMAGINAR. S QUE NADA FUNCIONA. TEM

    UMA TIMA REA DE LAZER, MAS EST L, EM TO-

    TAL ABANDONO

    A VITRINE DO GOVERNO

    OS PROJETOS NO SE VOLTAM PARA TODOCAJU, AS REUNIES ACONTECEM DIA DE SEMANA

    PELA MANH E NADA SAI DO PAPEL. OS PROJETOS

    DEBATIDOS PELOS QUE PARTICIPAM DAS REUNI-

    ES, NO SO PARA TODO O CAJU FICAM ISOLA-

    DOS NA REA DA VILA OLMPICA E NO ENTRAM

    NA COMUNIDADE

    POR QUE QUE ESSES PROJETOS NO SOCOLOCADOS AQUI, NO CENTRO DA NOSSA CO-

    MUNIDADE? AS CRIANAS BRINCAM NOS BECOS,

    NO TEM UMA CONTAO DE HISTRIA, NO TEM

    NADA. A NICA COISA QUE TEM ESSE CAMPO DE

    FUTEBOL, ONDE GERALMENTE ESTO AS CRIAN-

    AS, OS JOVENS, E , TAMBM, ONDE ACONTE-

    CESSEM OS CONFRONTOS

    12

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    13/36

    CAD OS PROJETOS? POR QUE QUE ESSES PRO-JETOS NO SO TRAZIDOS PARA C? AQUI PARA O

    MEIO, ONDE ACONTECESSEM OS CONFRONTOS?

    OS PROJETOS FICAM AQUI, PRXIMOS A AVENIDA

    SUBURBANA, ONDE PRATICAMENTE A VITRINE DO

    GOVERNO. VRIAS COISAS ACONTECEM AQUI EM

    MANGUINHOS QUE QUEM EST FORA DESSA VITRI-

    NE NO SABE, POR QUE NO DIVULGADO

    NO INTERESSEDO GOVERNO QUEA FAVELA TENHAMEMRIA

    AS AUTORIDADES DESLEGITIMAM O CONHECI-MENTO DE QUEM MORADOR

    COMO MORADORA EU VIM A TER CONHECIMEN-TO DA HISTRIA DO BAIRRO NA FACULDADE, OS

    JOVENS DO BAIRRO NO CONHECEM A HISTRIA

    DELE. E COMO UM BAIRRO FORMADO POR FAVE-

    LAS NO TEM INTERESSE PBLICO NENHUM EM IN-

    VESTIR NISSO, NO HISTRICO DO BAIRRO

    AS OBRAS VEM, MAS ELAS NO MODIFICAM AQUALIDADE DE VIDA DOS MORADORES

    MULHERES

    AS MULHERES SO MAIS CORAJOSAS, NO SA-BEM FICAR CALADAS. OS HOMENS SO FROUXOS,

    QUER SER CALMO NA RUA E BRIGAR EM CASA

    A INSEGURANA MAIOR COM A UPP SOBRE AABORDAGEM COM AS MULHERES

    INSEGURANA

    A LEOPOLDO BULHES CAMINHO PARA MUI-TA GENTE IR PARA CIDADE. O CAJU TEM A BRASIL,

    CAMINHO. A MAR CAMINHO. ELES PRECISAM

    DIZER PARA QUEM NO MORA EM COMUNIDADE,

    PARA QUEM VEM PARA OS MEGAEVENTOS QUE

    A FAVELA EST CONTROLADA, PRECISAM ESTAR

    CONTROLADAS

    AS FACES RIVAIS IMPEDEM A CIRCULAODOS MORADORES

    QUERIAM LEVAR OS MORADORES PARA TRIA-GEM. MEU MARIDO DISSE ISSO NO VAI DAR

    CERTO, POR QUE O MORADOR NO VAI SE SENTIR

    SEGURO

    13

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    14/36

    CAJUMAPA PRODUZIDO

    NAS OFICINAS

    14

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    15/36

    15

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    16/36

    NARRATIVASE PERCEPES

    ESPECFICAS

    CAJU A VILA DOS SONHOS, A TERRA ABENOADA, O CAJU INTEIRO,O BAIRRO TODO ABANDONADO

    DEPSITO DE CARRETAS E DE CONTINERES

    AS CARRETAS L SO UM PROBLEMA SRIO. POR QUE A RUA ENORME, BEM LARGA, S QUE FICA MUITA GENTE NA RUA. SE

    EU SAIR DA VILA DOS SONHOS DE CARRO O RISCO DE SOFRER UM

    ACIDENTE GRANDE, POR QUE AS CARRETAS ESTO TAMPANDO

    A VISO DE QUEM EST ENTRANDO NA RUA. AS PESSOAS TM

    QUE ANDAR NA RUA POR QUE ELAS (AS CARRETAS) SOBEM NAS

    CALADAS, E QUANDO NO CARRETA, CONTINERO QUE MAIS TEM NO CAJU SUJEIRA

    16

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    17/36

    O PROBLEMA DO LIXO QUE ENCALHA NO CAJU QUE ELE VEM DOSDEMAIS CANAIS DAS FAVELAS PRXIMAS DA BAA DE GUANABARA E

    FICA REPRESADO

    VOC SABE QUE CHEGOU NO CAJU PELO CHEIRO

    PROMESSAS

    O GOVERNO DO ESTADO ESTEVE L, DESTRUIU AS CASAS DASPESSOAS QUE TINHAM CONSTRUDO, GASTARAM MUITO DINHEIRO

    NESSAS CASAS, E DEIXARAM A PROMESSA DE CONSTRUREM NESTEMESMO LOCAL, QUE ENORME. CASAS E MORADIAS DO MINHA CASA

    MINHA VIDA. H DOIS ANOS. AT HOJE ISSO NO SAIU. AGORA O GO-

    VERNO APARECEU DIZENDO QUE IA FAZER NA PARTE DE BAIXO UMA

    FAETEC E UMA ESCOLA DE ENSINO MDIO. ACONTECE QUE A PARTE DE

    BAIXO A PARTE MAIS INTERESSADA AO GOVERNO, PORQUE A PARTE

    DE BAIXO EST NA RUA, NA BEIRA DA PISTA

    17

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    18/36

    UPP

    A UPP AGE NO SAPATINHO, NO MATA, VAI PRESO. TEMPOLICIAIS ABUSADOS SIM, SINCERAMENTE EU NO CONFIO NA

    POLCIA NA CHEGADA DA FACULDADE CANSEI DE PEGAR TIROTEIO, RUABLOQUEADA E ISSO MELHOROU, ACABOU

    ELES CHEGAM DE QUALQUER JEITO E RUIM MESMO

    PERMANECE O TRFICO, SEM ARMAMENTO

    A MILITARIZAO EU NOVOU GENERALIZAR PORQUESEI O QUE ACONTECE, MASEU PARTICULARMENTE NOTENHO O QUE RECLAMAR

    NASCI EM SO JOO DE MERITI E DEPOIS MEUS PAIS FORAMPARA SO CRISTVO E DE L FORAM PARA O CAJU, PARA MORAR

    EM UNS BARRACOS. COMO ERA A POCA DE CONSTRUO DA LI-

    NHA VERMELHA, FICARAM MUITO POUCO NOS BARRACOS, E POR

    CAUSA DA OBRA RECEBERAM UMA CASA NESSA VILA TIRADENTES

    QUE ONDE ELES MORAM AT HOJE, ONDE ANTES FUNCIONAVA

    UM DEPSITO DE CARROS USADOS DO DETRAN. ESSA REMOO

    NO FOI RUIM, POIS MORAVAM EM BECOS E VIELAS SEM LUZ,

    NEM GUA, E FORAM PARA UMA CASA QUE TINHA POSSIBILIDA-

    DE DE CONSTRUIR, TINHA VARANDA. HOJE MEUS PAIS TEM UMA

    CASA MAIOR E, ENTO, A REMOO PARA ELES VEIO DE UM LADO

    FAVORVEL, E EM RELAO A MORADIA NESSE ESPAO, COM A

    UPP, FOI POSITIVO

    18

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    19/36

    A MAJOR EST SEMPRE TENTANDO AJUDAR A COMUNIDADE NA COMUNIDADE, O QUE ATRAPALHA O TRABALHO DA UPP VIR

    POLICIAS DE FORA, POLICIAIS ABUSADOS QUE NO CONHECEMOS MORADORES

    ENTO A GENTE TEM UPP,MAS NO TEM ESTADO,L O ESTADO NO SE FAZPRESENTE

    ENTO A VILA DOS SONHOS HOJE UMA COMUNIDADE QUEELA NO EXISTE NO MAPA, ELA NO EXISTE. SE VOC FOR L

    VER VOC V QUE EXISTE, SENO VOC NO SABE QUE EXISTE.

    RECENTEMENTE A GENTE ESTEVE COM A CEDAE EM UMA REUNIO

    E ELA DISSE QUE A GENTE NO EXISTE, ENTO SE NO EXISTE O

    QUE EU ESTOU FAZENDO AQUI?

    DIFERENTE L DE MANGUINHOS E FOI TIMO, NA REUNIO AGENTE DISCUTIU MAIS SOBRE ISSO, A RELAO L COM A UPP LEM MANGUINHOS UMA, A RELAO NOSSA NO BAIRRO COM A

    UPP J OUTRA, BEM DIFERENTE

    A GENTE TEM UMA REALIDADE DIFERENTE COM RELAO UPP.MAS MESMO ASSIM, VENDO ESSES CASOS, EU NO CONFIO

    DIALOGO AT EXISTE MAS NO EXISTE ENTENDIMENTO DEUMA PARTE E DA OUTRA

    AT O PRESENTE MOMENTO A UPP NO GEROU PROBLEMA. MASA 500m DE UMA BASE DA UPP TEVE UM BAR QUE FOI ASSALTADO,

    COM DONOS E FUNCIONRIOS PRESOS DENTRO DE UM FRIGOBAR

    19

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    20/36

    MANGUINHOSMAPA PRODUZIDO

    NAS OFICINAS

    20

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    21/36

    21

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    22/36

    NARRATIVAS E

    PERCEPES CRUZADAS

    MANGUINHOS H CASO DE FORJAREM DROGAS EM JOVENS DA COMUNIDADE, HCASO AMEAA DE ESTUPRO DE MENINAS EM MANGUINHOS, OS POLI-CIAIS MEXEM COM AS MENINAS E QUANDO RECLAMAMOS, O CAPITO

    DA UPP DISSE: ENGRAADO, QUANDO ERA BANDIDO, MEXIA, NINGUM

    FALAVA NADA

    OS POLICIAIS DA UPP MATAM, ROUBAM, ESCULACHAM O MORADOR...POR ISSO A IMPORTNCIA DE SE MANIFESTAR, PRA DIVULGAR AS VIOLA-

    ES.

    SE A GENTE NO SAI PRA RUA, MAIS UM CORPO ESTENDIDO NO CHO,POR QUE A MDIA NO VEM. NO SO OS POLICIAIS NOVOS OU ANTIGOS

    QUE GERAM PROBLEMAS. OS POLICIAIS SO TREINADOS PARA AGIR DES-

    SA FORMA. MUITOS ACREDITARAM QUE A VIDA MELHORARIA COM UPP

    ALI NA AVENIDA DOS DEMOCRTICOS A ESQUINA DO MEDO, NA LEO-POLDO BULHES A FAIXA DE GAZA. AS RUAS QUE ANTES ERAM FECHA-

    DAS PELOS CONFRONTOS ENTRE TRAFICANTES E POLICIAIS AGORA SO

    FECHADAS PARA PROTESTAR CONTRA OS ABUSOS POLICIAIS NOSSOS FILHOS NO TEMLIBERDADE DE CIRCULAR

    22

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    23/36

    QUEM EST ARMADO L DENTRO SO OS POLI-CIAIS, A UPP, AQUELES QUE ELES COLOCARAM L PRANOS DEFENDER, PRA DAR SEGURANA

    QUEM BATIZOU DE FAIXA DE GAZA FOI O GARO-TINHO, QUANDO COMPROU OS CAVEIRES, POIS TI-

    NHA CAVEIRO NA LEOPOLDO BULHES TODO DIA.

    O CAVEIRO PARAVA AQUI E VINHA DANDO TIRO PRA

    DENTRO

    HOJE EM DIA ESSAS VIAS SO FECHADAS PORQUEM? POR NS, MORADORES, DESESPERADOS.

    POR QUE A GENTE FECHA NO INTUITO DE FAZER PRO-

    TESTOS, CHAMAR ATENO. EU NO ESTOU SENDO

    HIPCRITA, EU NO VEJO BANDIDO ARMADO

    PORQUE A INTERVENO DO GOVERNO NA COMU-

    NIDADE S TEM FEITO MUITO MAL PARA MIM E PARA

    MINHA FAMLIA, DESDE QUE COMEARAM AS REMO-

    ES, EU E MINHA FAMLIA TEMOS SOFRIDO MUITO,

    A GENTE TEM SOFRIDO MUITA PRESSO PSICOLGI-

    CA, TEM RECEBIDO LIGAO, NO VOCS TM QUE

    IR EMBORA, VOCS TEM QUE VER UM LUGAR PARA

    FICAR, E H UNS TRS ANOS QUE A GENTE VEM SO-

    FRENDO ESSA PRESSO PSICOLGICA. E VOC VER

    OS VIZINHOS INDO EMBORA E NO CONSEGUINDOENCONTRAR UMA NOVA MORADIA, PORQUE DES-

    DE ENTO OS PREOS DAS CASAS FORAM AUMEN-

    TANDO ABSURDAMENTE, E AQUELE DESESPERO, EU

    MORO, MORAVA EM MANGUINHOS NA MESMA RUA,

    PORQUE A MINHA AV J VINHA DE UMA REMOO,

    NO CAJU

    23

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    24/36

    O CENTRO DE MANGUINHOS ONDE TEM CAMPO DE FUTEBOL,A LAN HOUSE, ONDE SE CONCENTRAM A MAIORIA DOS JOVENS

    POR QUE OS PROJETOS NO ESTO ONDE ACONTECEM OS CON-

    FRONTOS? OS PROJETOS ESTO NA VITRINE DO GOVERNO

    E CAD ESSA SEGURANA,POR QUE A GENTE NOTEM, EU NO VEJO APARTIR DO MOMENTO QUEASSASSINAM PESSOAS

    INDEFESAS, INOCENTES

    SE VOC ANDAR NA RUA DE NOITE, E ELES (OS POLICIAIS) ACHA-REM QUE VOC EST MEXENDO COM ELES, ELES MATAM. ENTO

    A COMUNIDADE TEM QUE SAIR PRA FORA. POR QUE SENO QUEM

    MORA NO CAJU NUNCA IA DESCOBRIR QUE O FILHO DELA, QUE

    O JOHNATHA, MORREU, QUE O FILHO DA MINHA SOGRA, QUE O

    PAULO ROBERTO, MORREU. SE A GENTE NO SAI PRA FORA, A M-

    DIA NO VEM, MAIS UM CORPO ESTICADO NO CHO QUEM BOTAR A CABEA DO LADO DE FORA EU VOU D TIRO,DISSE O POLICIAL S 20H DA NOITE

    EU CHAMEI A DEFESA CIVIL NA MINHA CASA E O ENGENHEI-RO FALOU SENHORA, ISSO NO CAI NO. EU FALEI MOO, O

    TREM PASSA EM CIMA NA ESTAO, SE VOC ESTIVER SENTADO

    NO VASO DA MINHA CASA, TREME E ELE SENHORA, NO CAI. T

    TIMO. ASSINOU O PAPEL E FOI EMBORA

    24

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    25/36

    COM 20 ANOS J SOFRI REMOO, J MUDEI 3 VEZES, PORCAUSA DO PAC VOU ME MUDAR A 4

    A DEFESA CIVIL QUER QUE A GENTE MORRA MANGUINHOS FOGOE GUA

    ENCHE AT O PESCOO

    ELES FIZERAM UMA COBERTURA QUE SIMPLESMENTE SE VIERUMA CHUVA A A GUA NO VAI DAR VAZO, POR QUE ELA VAI TTAMPADA AQUI EM CIMA E ELA VAI TRANSBORDAR. A GENTE VAI

    TER QUE APRENDER A NADAR

    E ASSIM, QUAIS SO OS NOSSOS REPRESENTANTES, QUAISSO AS PESSOAS QUE TEMOS AQUI PRA GENTE CHEGAR E FAZER

    RECLAMAO? SIMPLESMENTE VO CHEGAR E VO FALAR ASSIM

    VOC TEM O CREA? VOC ENGENHEIRA? ISSO QUE VO RES-PONDER PRA GENTE

    EU MORO EM MANGUINHOS H CINQUENTA ANOS, HOUVE V-RIOS CASOS DE INCNDIO. ANTIGAMENTE ERA BARRACO, A GENTE

    MORAVA NA BEIRA DA LINHA, NA RUA 06, E EM 76 FOI O PRIMEI-

    RO INCNDIO QUE HOUVE L, FORAM UNS 80 BARRACOS. FOI NO

    DIA 21 DE DEZEMBRO, VSPERA DE NATAL, A GENTE PERDEU TUDO

    QUE SE POSSA IMAGINAR, E DEPOIS DISSO TEVE AINDA MAIS UNSTRS OU QUATRO INCNDIOS, POR QUE ERAM TAMBM BARRA-

    COS. AT AGORA RECENTE, EM MAIO. A GUA, ENCHENTE, PE-

    GUEI TANTAS ENCHENTES, QUE OS BARRACOS TINHAM QUE SER

    DE DOIS ANDARES. OBRIGATRIO SER DE DOIS ANDARES J SE

    PREVENINDO PRA QUANDO VIESSE A ENCHENTE A GENTE SUBIS-

    SE PRA PARTE DE CIMA

    25

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    26/36

    INSCRIESDA VIOLNCIA MILITARIZADA

    EM TERRITRIOS E CORPOS

    26

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    27/36

    NESTA SEO SERO DESTACADAS AS MARCAES RELACIONADAS PRESENA ARMADA DE AGENTES DE ESTADO E FORMAS DE OCUPAOGOVERNAMENTAL MILITARIZADA EM MANGUINHOS E CAJU.

    No mapa do Caju, inscrio da

    Rua Carlos Seixas seguiu-se a anotao

    Antigo CAIC/Desativado/Sede UPP,

    realizada entre as marcaes da Vila Ti-

    radentes e da Vila Olmpica do Parque

    Boa Esperana: estava marcada com

    em hidrocores roxo e preto a presena

    da mais atual forma de ocupao mili-

    tarizada dos territrios. Mas aos demais

    edifcios, equipamentos e espaos cer-

    cados que se sucediam na composio

    do mapa, tambm merece destaque a

    anotao Campo de Tiro/Polcia Civil

    feita em hidrocor preto, alocada no pa-

    pel em trecho prximo marcao cor-

    respondente usina de lixo, ao depsito

    de entulhos e ao Parque Conquista.

    Aps algumas conversas sobre como e

    porque algumas marcaes seriam impor-

    tantes de aparecer naquele mapa, a verso

    final de Manguinhos no papel pardo trazia

    a anotao Cidade da Polcia/faz nada.

    com/s mata.com.br, em hidrocor preto,

    de forma isolada de todas as demais inscri-

    es realizadas. Acompanhando a Cidade

    da Polcia na lista das presenas de Estado

    militarizadas naquele territrio, aparecia

    tambm uma anotao UPP bem peque-

    na, na regio correspondente sede da pri-

    meira unidade instalada em Manguinhos.

    27

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    28/36

    DE QUANDO RUAS E BECOS

    REVELAM OUTRAS MARCAESDE VIOLNCIA

    Quando foi levado para as oficinas um

    mapa oficial, cujas folhas brancas fo-

    ram montadas como quebra cabeas, for-

    mando um retngulo que tomava conta

    de quase a sala toda, as ruas, os becos e

    as esquinas pautaram em grande medi-

    da o movimento de intervenes naquelaoutra plataforma de registro. Em funo

    das justificativas e narrativas que acom-

    panharam as intervenes no mapa de

    Manguinhos, esta segunda parte do texto

    tem como foco alguns pontos destacados

    pelas moradoras desta favela durante o

    processo em questo.

    Uma das primeiras anotaes foi rea-

    lizada na via pblica Leopoldo Bulhes,que recebeu a anotao Faixa de Gaza.

    Para algumas mulheres, a antiga faixa

    de gaza, enquanto outras se referem

    atualidade daquela nomeao. Uma das

    mulheres disse que quem batizou a via

    assim foi Garotinho, quando comprou os

    caveires, pois tinha caveiro na Leopoldo

    Bulhes todo dia. Uma anotao de lpis

    (que posteriormente seria reforada comhidrocor roxo) marca esquina do medo

    e vem acompanhada da frase: O caveiro

    parava aqui e vinha dando tiro pra dentro.

    Uma das participantes pergunta: Qual

    o nome da rua onde Mateus morreu?, e

    outra responde: Foi bem pertinho da As-

    sociao da Vila Turismo. E a busca no

    28

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    29/36

    mapa comea a ser feita, at que os dedos

    apontam a Praa Amrico Junior (Campoda Esperana) e, aps a confirmao da

    me de Johnatha, a cruzinha que indicaria

    o local da morte de Mateus desenhada

    no papel. Depois apontam o local onde o

    senhor Jos Joaquim havia sido executado:

    e outra cruz inscrita com hidrocor preto.

    Enquanto o mapa oficial recebe as

    intervenes, as mulheres vo recordan-

    do episdios vividos naquelas ruas. Umadelas narra o dia em que o caveiro es-

    tava numa regio prxima ao Mandela e

    um policial saiu do veculo dando ordem

    para que ela sentasse na rua at o trajeto

    do blindado ser concludo cena que ela

    qualifica como castigo. Encerrou o relato

    lembrando que naquele dia moradores

    foram mortos por policiais a facadas. O

    mesmo blindado que promove o barulhodas mensagens de ameaa e dos tiros

    tambm transporta agentes que rotini-

    zam a violncia institucional em silncio.

    A partir da localizao das ruas, di-

    ferentes regies de confronto armado

    foram marcadas: pontos onde trocas de

    tiros entre traficantes e policiais eram

    recorrentes; divisas entre localidades

    que, ainda que fossem dominadas pelamesma faco, sofriam com as disputas

    internas por gerncias de bocas de fumo

    e conflitos gerados por outros motivos.

    Memrias de perodos de maior acirra-

    mento dos confrontos so atualizadas

    em traados invisveis feitos pelos de-

    dos que indicam a multiplicidade de

    ENQUANTO O MAPA OFICIAL RECEBE ASINTERVENES, AS MULHERES VO RECORDANDOEPISDIOS VIVIDOS NAQUELAS RUAS

    29

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    30/36

    rotas de invases utilizadas tanto por traficantes, quanto por po-

    liciais marcas que mesmo no sendo registradas integralmente

    no mapa, compem o quadro de referncia acionado para a feitura

    de inscries definitivas no papel e para a elaborao das marcas

    dessas violncias nos corpos e nas lembranas.

    Trajetos do Arar para o Mandela, com a indicao da proximi-

    dade da regio dos Correios e a necessidade de se passar pelo Ca-

    nal do Cunha para chegar Manguinhos so percorridos mais de

    uma vez enquanto construda a explicao da forma atual de divi-

    so da ocupao militarizada naquele territrio: denominada pela

    Secretaria de Segurana Pblica do governo estadual como UPP

    Manguinhos, a primeira unidade de polcia pacificadora instalada

    na regio foi inaugurada em janeiro de 2013 e abrangia as localida-

    des de Manguinhos, Vila Turismo, Parque Joo Goulart, Varginha

    MEMRIAS DE PERODOS DE MAIOR ACIRRAMENTODOS CONFRONTOS SO ATUALIZADAS EM TRAADOS

    INVISVEIS FEITOS PELOS DEDOS QUE INDICAM AMULTIPLICIDADE DE ROTAS DE INVASES UTILIZADAS

    TANTO POR TRAFICANTES, QUANTO POR POLICIAIS

    30

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    31/36

    (ou Parque Carlos Chagas), Amorim (ou

    Parque Oswaldo Cruz), CHP2 (ou Vila

    Unio), Nelson Mandela, Higienpolis,

    Vila So Pedro, Cobal (ou Vitria de Man-

    guinhos) e Arar; no entanto, no ms de

    setembro do mesmo, uma outra unidade

    denominada UPP Arar/Mandela foi

    instalada e seu efetivo est responsvel

    pelo policiamento especfico do Arar e

    do Mandela. Da vem a explicao de que

    quando a UPP pacificou Manguinhos,

    pacificou o Arar tambm, como foi dito

    por uma moradora durante uma das ofi-

    cinas de confeco dos mapas.

    Vale destacar que as inscries atre-ladas ao formato UPP de ocupao dos

    territrios se articulam tambm s uni-

    dades instaladas em regies prximas,

    em especial as regies conhecidas como

    Complexo da Penha e Complexo do Ale-

    mo. Nas conversas sobre UPPs que

    acompanhavam as marcaes no mapa

    branco e cinza surgiu a informao de

    que no dia em que foram assassinados

    um mototaxista que morava no Alemo

    e o comandante da UPP Nova Braslia,

    os agentes da UPP instalada em Man-

    guinhos deram ordem para que todos os

    estabelecimentos comerciais e de lazer

    fossem fechados: show j comeados

    foram interrompidos e, ainda que no

    haja registro de efetuao de disparos de

    arma de fogo, para fazer valer o toque de

    recolher, os agentes passavam pelos es-

    tabelecimentos com pedao de pau pra

    bater naqueles que desobedecessem suaordem. A interpretao predominante na

    conversa acionava o toque de recolher

    ordenado pelos policiais da UPP de Man-

    guinhos enquanto marca da extenso do

    luto da corporao pela morte do coman-

    dante da UPP vizinha.

    31

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    32/36

    DATAS IMPORTANTES

    1938 Prdio da Casa de Banho de Joo VI tombado pelo IPHAN;

    1960 Inaugurao da Igreja So Daniel Profeta;

    1976 21 de dezembro, 1 incndio em Manguinhos. Aps esse ocorreram trs ou quatroincndios em sequncia;

    1990 Ampliao do Terminal de Conteiners (TECONT) do Porto do Rio para o Cajue So Cristvo;

    1992 Inaugurao da Linha Vermelha e da Vila Tiradentes, no Caju;

    1994-1995 Ocupao Mandela de Pedra em parte do terreno da Embratel;

    1996 Prdio da Casa de Banho de Joo VI restaurado pela COMLURB para abrigaro Museu da Limpeza Urbana;

    2000 Incndio no Sem Terra, no Campo Esperana perto da Vila Turismo,em Manguinhos;

    19 : incndio no Mandela de Pedra, atrs da Igreja So Miguel Arcanjo;

    2002 Ocupao dos galpes abandonados da Companhia Nacional de Abastecimento(CONAB), em frente sede da Empresa Brasileira de Correios e Telgrafos,criando a comunidade Vitria de Manguinhos ou COBAL;

    2007 Incio das obras do PAC em Manguinhos;

    2008-2009 Perodo das remoes na comunidade Joo Goulart, especialmente na Beira-rio;

    32

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    33/36

    23 : sano da lei que cria a Operao Urbana Consorciada 2009 da Regio do Porto do Rio e a rea de Especial Interesse Urbanstico

    na mesma regio;

    26 : assinada a PPP entre a CDURP e a Porto Novo S/A para 2010controle da rea do Porto do Rio, que no inclui o bairro do Caju;

    Incio da ocupao Vila dos Sonhos no antigo Hospital So Sebastio, Caju; 2012 Destruio de 110 casas na Vila dos Sonhos, parte de baixo do Hospital

    Demolio da CCPL para construo de loteamento para habitao popular;

    Dezembro: enchente em Manguinhos as obras no levam em considerao 2013que os becos so mais baixos que o nvel da rua, gerando enchente;

    16 : Instalao da UPP em Manguinhos;

    12 : Instalao da UPP no Caju;

    Cadastro de 105 famlias da Vila dos Sonhos no programa Aluguel Social pela

    Secretaria de Estado de Assistncia Social e Direitos Humanos (SEASDH);

    17 : morre Mateus Oliveira Cas executado por policiais que atuam

    na Unidade de Polcia Pacificadora de Manguinhos;

    17 : morre Paulo Roberto Pinho de Menezes executado por

    policiais que atuam nas Unidades de Polcia Pacificadora de Manguinhos;

    12 : morre Jos Joaquim de Santana executado por policiais que

    atuam nas Unidades de Polcia Pacificadora de Manguinhos;

    14 : morre Johnatha de Oliveira Lima executado por policiais que 2014

    atuam nas Unidades de Polcia Pacificadora de Manguinhos; 18 : morre Afonso Maurcio Linhares executado por policiais que

    atuam nas Unidades de Polcia Pacificadora de Manguinhos;

    Remoo da COBAL.

    8 : morre Christian Soares Andrade executado por policiais 2015que atuam nas Unidades de Polcia Pacificadora de Manguinhos.

    33

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    34/36

    PARTICIPANTES DOS ENCONTROS E OFICINAS

    Adriana Vianna(/) Aercio Oliveira() Alessandra Lins da Silva Marinho () Amanda Giordano

    ( ) Amanda Gomes Abreu() Ana Paula Epiphanio Lopes() Ana Paula

    Gomes de Oliveira() Anelise Gutterres() Aurinia Enedina da Silva(/) Beatriz de

    Almeida() Carla de Castro Gomes(/ / ) Carla Mattos(/) Carly Machado

    () Clarisse Werneck ( /) Claudia Fernandes Sanches ( / ) Daniela da Silva Pereira

    ( / ) Darclia Alves(/) Deize Silva de Carvalho () Edileuza Elias dos Santos

    () Elenice Pessoa Barbosa() Eliane Leandro de Oliveira() Elziane Dourado () Ftima

    dos Santos Pinho de Menezes( ) Fransergio Goulart ( )

    Glucia Marinho ( ) Iara Amora dos Santos () Isabel Cardoso(/) Ivanildo Queiroz

    ( /) Jane Maria Silva Camilo( ) Joana Barros() Juliana Nascimento

    () Juliana Farias () Ladissa S. Silva() Leilah Landim () Lina Soares () Lilia Leandro de

    Oliveira() Luana Marfim Bezerra() Luciana Soares() Lucimar Francisca Avelino() Luciana Soares

    () Luiz Antnio Machado da Silva(/) Marcos Vinicius da Costa Lima(

    ) Mrcia Rodrigues Galvo () Maria de Ftima Loureno

    ( ) Marielle Franco(/ ) Marilene de Paula( )

    Marilene Paulino da Silva() Marina Ribeiro () Mnica Ponte() Monique de Carvalho Cruz(

    ) Natlia Damazio Pinto Ferreira( ) Nem Queiroz (/ ) Nilma Faria

    de Aguiar() Nilton Gonalves (Carcar) Norma Maria de Souza(/ ) Paloma da Silva

    Gomes() Paulo Victor Leite Lopes(/) Rachel Barros() Ricardo Costa Sousa(/)

    Rossana Tavares Brando ( ) Silvia Aguio(/) Suellen Ferreira

    Guarniento() Tatiana Dahmer(/) Valquiria Castilho() Viviane Pereira da Silva ( )

    34

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    35/36

  • 7/25/2019 cartografia_cajumanguinhos

    36/36