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Museu de Arte e de Cultura Popular Centro Cultural - UFMT Av. Fernando Correa da Costa, 2367 - Boa Esperança Cuiabá, Mato Grosso Período da Exposição: 17 de março a 16 de abril de 2011 EXPOSIÇÃO PATRIMÔNIO IMATERIAL - MATO GROSSENSE

CATÁLOGO PATRIMÔNIO IMATERIAL

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Page 1: CATÁLOGO PATRIMÔNIO IMATERIAL

Museu de Arte e de Cultura PopularCentro Cultural - UFMT

Av. Fernando Correa da Costa, 2367 - Boa EsperançaCuiabá, Mato Grosso

Período da Exposição: 17 de março a 16 de abril de 2011

EXPO

SIÇÃO

PATRIMÔNIOIMATERIAL

-MATO GROSSENSE

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Aexposição intitulada “Patrimônio Imaterial de Mato Grosso” se constitui na segunda etapa do projeto de pesquisa “Inventário do Patrimônio Imaterial Mato-Grossense” realizado pelo Museu Rondon / Departamento de Antropologia da UFMT, em parceria com a Fundação UNISELVA e o Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Para se chegar aos resultados expostos nesta exposição, a equipe de pesquisa inventariou, em nove acervos mato-grossenses (situados em Cuiabá), os bens culturais que, estando inscritos em documentos, se constituem atualmente em patrimônio imaterial do Estado de Mato Grosso.

Foram pesquisados documentos como manuscritos dos séculos XVIII, XIX, XX, XXI, jornais e periódicos do século XIX e XX, monografias, dissertações e teses, livros, documentários em Fita K-7 e DVD, fotografias e artes plásticas (óleo sobre tela).

Após três meses de capacitação e oito meses de pesquisa em acervos, a equipe analisou os dados, disponibilizando-os em um DVD, que abriga todas as informações referentes aos documentos inventariados (estado de conservação e conteúdo), aos acervos pesquisados (dados gerais, infraestrutura e condições de acondicionamento), e as 536 referências culturais, que foram inventariadas como patrimônio imaterial mato-grossense. Além disso, o DVD disponibiliza os contatos dos profissionais responsáveis pelos acervos e dos pesquisadores envolvidos em diversas etapas da pesquisa.

Os acervos pesquisados, grandes parceiros desta pesquisa foram: Arquivo Público de Mato-Grosso, Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, Academia Mato-grossense de Letras, Operação Amazônia Nativa (OPAN), Missão Anchieta (MIA), e os seguintes acervos abrigados na UFMT: Núcleo de Documenta-ção e Informação Histórica Regional (NDIHR), Museu Rondon (ICHS), Museu de Arte e Cultura Popular e Bibli-oteca Central (Coleção Amidicis Tocantins e Hemeroteca).

A exposição é fruto desse trabalho acima descrito. Assim, uma vez inventariados 404 documentos, sele-cionamos aqueles que consideramos mais paradigmáticos do patrimônio regional. Nesse sentido, vários foram os critérios para a seleção: a associação entre ancianidade do documento e riqueza do relato; a associação entre raridade de relatos sobre aquele bem cultural e potencial patrimonial do mesmo; a impor-tância histórica do documento, assim como do bem cultural nele inscrito, dentre outros.

Acreditamos que uma das contribuições desse projeto de pesquisa é a indicação de novas leituras e interpretações dos documentos e dos fundos aos quais eles estão vinculados, por parte de outros pesquisa-dores, além da divulgação desses documentos para a comunidade de maneira geral. A possibilidade de compartilhar com mato-grossenses, de diversas faixas-etárias e graus de escolaridade, as informações ins-critas em documentos que são verdadeiros patrimônios nacionais, é um dos objetivos dessa exposição.

Em caso de documentos muito antigos, visamos revelar ao público a importância de algumas referênci-as culturais, que já foram observadas e descritas por viajantes e permanecem sendo praticadas com gran-de participação popular, como é o caso da Viola-de-Cocho, do Siriri e do Cururu e da Festança de Vila Bela e tantas outras festividades de santos nas comunidades ribeirinhas como a de São Gonçalo, a celebração a

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APRESENTAÇÃO

Patrimônio Imaterial Mato-grossenseMuseu de Arte e de Cultura Popular17 de março a 16 de abril de 2011

Curadoria:

Universidade Federal de Mato GrossoAv. Fernando Correa da Costa, nº 2367

Boa Esperança78060-900 - Cuiabá-MT

Tel: (65) 3615-8301 - Fax: (65) 3628-1219www.ufmt.br - [email protected]

Heloisa Afonso ArianoIzabela Tamaso

José Serafim BertolotoThereza Martha Borges Presotti

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Maria Lúcia Cavalli NederReitora

Francisco José Dutra SoutoVice-Reitor

Luís Fabrício Cirilo de CarvalhoPró-reitor de Cultura, Extensão e Vivência

Maria Helena CoradiniCoordenadora de Cultura

José Serafim BertolotoSupervisor do MACP

Supervisora do Museu RondonHeloisa Afonso Ariano

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São Benedito e ao Divino Espírito Santo. Estritamente vinculadas a essas festas, estão as não menos impor-tantes iguarias da cultura alimentar, com destaque para a ventretcha de pacu, modjica de pintado, bolo de arroz e de queijo. Salientem-se também os diversos artefatos indígenas associados aos inumeráveis rituais como o complexo Funeral Bororo, os trançados em seus mais usos, configurando uma riqueza incomensurá-vel de saberes e práticas culturais construídas em diálogo com a diversidade da paisagem natural – Panta-nal, Cerrado e Amazônia mato-grossense – o que nos permite reconhecer a expressão viva de uma sociobi-odiversidade de grande beleza.

Para que pudessem ser cedidos os documentos para essa exposição, contamos com a valiosa e impres-cindível colaboração tanto dos responsáveis pelos acervos, quanto dos pesquisadores dessas instituições de salvaguarda que nos auxiliaram sobremaneira em todas as etapas: pré-seleção dos fundos a serem pes-quisados, leitura e preenchimentos das fichas, revisão e seleção dos documentos para essa exposição.

Além dos documentos, contamos com outra valiosa parceria com dois fotógrafos, que têm importantes acervos imagéticos sobre o Estado de Mato Grosso. A partir do Banco de Imagens de Mario Friedlander e Laercio Miranda selecionamos aquelas que trazem retratados os bens culturais inventariados em nossa pes-quisa, sendo estes patrimônios considerados como importantes referências culturais para a identidade mato-grossense. As fotos são outros verdadeiros documentos que revelam tanto a sensibilidade e qualida-de artísticas de Mário Friedlander e Laércio Miranda, quanto a grandeza do patrimônio do qual Mato Grosso é guardião.

Selecionamos também alguns artefatos culturais, como a rede cuiabana, a viola-de-cocho, a cerâmi-ca de S. Gonçalo a rede Bakairi, abanico, gravata Xavante e outros que colaboram para comunicar ao público alguns dos mais importantes patrimônios do Estado. Nesse sentido, os objetos servem para materiali-zar aquilo que é apenas uma etapa do processo cultural em que se constituem os referidos patrimônios. Os objetos são resultados de técnicas elaboradas, trabalho coletivo, rituais, tempo despendido, memória ges-tual. O objeto é então a prova material dos ofícios e modos de fazer, de celebrações e de formas de expres-são que são patrimônios incontestáveis deste Estado, muitos deles necessitando de projetos de salvaguarda para que continuem a existir.

Objetivamos igualmente sensibilizar os visitantes a observarem com mais acuro os bens culturais à sua volta, refletirem sobre eles, sobre sua importância para os grupos envolvidos e para a identidade dos cida-dãos mato-grossenses. Além dos objetos, música e filmes também colaboram para com o projeto expográ-fico.elaboradas, trabalho coletivo, rituais, tempo despendido, memória gestual. O objeto é então a prova material dos ofícios e modos de fazer, de celebrações e de formas de expressão que são patrimônios incon-testáveis deste Estado, muitos deles necessitando de projetos de salvaguarda para que continuem a existir.

Objetivamos igualmente sensibilizar os visitantes a observarem com mais acuro os bens culturais à sua volta, refletirem sobre eles, sobre sua importância para os grupos envolvidos e para a identidade dos cida-dãos mato-grossenses. Além dos objetos, música e filmes também colaboram para com o projeto expo-gráfico.

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Heloisa Afonso Ariano, Izabela Tamaso e Thereza Martha Borges Presotti

INSTITUIÇÕES E ACERVOS INVENTARIADOS

UFMT

Museu RondonBiblioteca Central - Hemeroteca e Coleção Amidicis TocantinsMACP- Museu de Arte e Cultura PopularNDIHR- Nucleo de Documentação e Informação Histórica Regional

APMTArquivo Público de Mato Grosso

Casa Barão de MelgaçoInstituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e Academia Mato-grossense de Letras

OPANOperação Amazônia Nativa

MIAMissão AnchietaCBFJ- Centro Burnier, Fé e Justiça

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REFERÊNCIAS CULTURAIS

LUGARES E EDIFICAÇÕES: Mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e se reproduzem práticas culturais coletivas

CELEBRAÇÕES: Rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social.

FORMAS DE EXPRESSÃO: Manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas.

OFÍCIOS E MODOS DE FAZER: Conhecimentos e modos de

fazer enraizados no cotidiano das comunidades.

Gervane- Acervo MACP

Laércio Miranda Mario Friedlander

Mario Friedlander

RESULTADOS DO INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO IMATERIAL Gráficos do Banco de Dados (DVD)

CATEGORIAS: Das referências culturais inventariadas, percebe-se grande presença das Formas de Expressão e Saberes e Modos de Fazer. E, incluin-do as Celebrações, dentre as mais referidas estão: Cururu, Siriri, Viola-de- Cocho, Festa de São Benedito, Falar Cuiabano, Festa do Divino, Funeral Bororo, Festas do Milho (Bakairi e Xavante e outras etnias), Rede Cuiabana e Bakairi, Cerâmicas de São Gonçalo, Cestarias, Arte Plumária Indígena, Rasqueado, Dança de São Gonçalo, Congadas/Dança do Congo, Car-naval Cuiabano. Os Lugares de práticas sociais mais citados são: o rio Cuiabá, o Bairro do Porto em Cuiabá, Pantanal de Mimoso, Praça Alen-castro, Chafariz do Mundéu, Ponte de Pedra (Paresi), Praça da Matriz de Cáceres, entre outros.

ÉPOCA

A informação da época em que a referência cultural acontece, se realiza ou é praticada indicou maior número de referências que acontecem continuamente, seguida pela ocorrência sazonal. Há tam-bém coerência entre a grande presença de referências culturais indígenas e a época sazonal, uma vez que grande parte das Formas de Expressão, dos Saberes e Modos de Fazer têm nessas sociedades relação estre-ita com as estações do ano.

CONDIÇÃO ATUAL

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FESTA DE SÃO BENEDITO

FESTANÇA DE VILA BELA

É uma das celebrações mais antigas em Cuiabá, realizada pelos devotos de São Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Começa com a escolha dos festeiros, e segue-se com a peregrinação da imagem, chamada de Bandeira de São Benedi-to. Por fim, o levantamento do mastro demarca o início da festa que em tempos antigos contava com a realização de touradas e conga-das. Durante esta festa há o consumo de iguarias da alimentação tradicional cuiabana como os bolos de arroz e de queijo, - o popular “tchá com bolo”. Ocorre também em por quase toda região panta-neira de ocupação mais antiga como Livramento, Poconé e tam-bém em Vila Bela, Diamantino e outras cidades do Estado.

Esta Festança, união de várias festas de santos, que anteriormente ocorriam em datas próprias, é a maior cele-bração religiosa da cidade de Vila Bela da Santíssima Trin-dade, às margens do rio Guaporé, noroeste de MT. De fortes simbologias católicas marcadas por heranças cultu-rais africanas e ameríndias, tem a expressiva participação dos moradores da cidade e comunidades quilombolas nos rituais e na produção das roupas, indumentárias, ali-mentos e bebidas (biscoitos de vários formatos, canjinjin e outros.) Consiste em celebrações da Festa do Divino Espíri-to Santo, a Peregrinação da Esmola do Divino, a Festa do Glorioso São Benedito, o Congo, o Chorado e a Festa das Três Pessoas da Santíssima Trindade. São marcantes carac-terísticas da Festança: fervor religioso e a devoção aos santos, obediência e sujeição as regras das irmanda-des, solidariedade a alegria e a oportunidade de reconciliação entre os membros das comunidades.

CELEBRAÇÕES

Festa de São Benedito – Cuiabá MTFoto: Mario Friedlander

Festança de Vila Bela – Foto: Mario Friedlander

OS FOTÓGRAFOS

MARIO FRIEDLANDER

Mario Friedlander, fotógrafo que ilustra com belas e expressivas imagens esta Exposição “Patrimônio Imaterial Mato-Grossense”, vive em Mato Grosso desde o início da década de 1980. Tornou-se fotógrafo sensibilizado pelas paisagens que viu e pelas pessoas que conheceu por aqui. Dedicou-se a conhecer e documentar a natureza e seus elementos, as populações e seus costumes, e assim reuniu um acervo precio-so com muitas imagens dos modos de vida da gente mato-grossense, patrimônio material e imaterial em diversos tons. Através desta exposição quer compartilhar alguns destes fragmentos do patrimônio cultural imaterial de Mato Grosso, sua gente e suas crenças, as manifestações culturais e artes de fazer diversas em Cuiabá, Poconé, Livramento, Chapada dos Guimarães, Vila Bela e tantos outros lugares de Mato Grosso como o Parque do Xingu e aldeias do povo Bororo. Realizou o primeiro trabalho sobre o Patrimônio Imaterial em Mato Grosso para o IPHAN (2001) descrevendo a Celebração da Festança de Vila Bela da Santíssima Trindade. Pode-se dizer que Mario Friedlander é especializado em documentações de Natureza, Arte Rupestre, Arqueologia, Espeleologia e Povos Tradicionais. Mario Friedlander é fotógrafo profissional autôno-mo e vive de sua arte desde 1985, realiza produções e fornece fotos através de seu Banco de Imagens "Ma-rio Friedlander Imagens". Contato: [email protected]

LAERCIO MIRANDA

Laercio Santos Miranda, fotógrafo que participa com suas belas imagens nesta Exposição Patrimônio Imaterial Mato-Grossense nasceu em São Paulo há 60 anos. Em São Paulo, trabalhou para a imprensa dos grandes sindicatos e em vários jornais e revistas: Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Revista Visão e Gazeta Mercantil. Viveu em Londres e trabalhou para o semanário londrino The Journal. Já teve muitas fotos suas publicadas na Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Peru e México.

Vive em Cuiabá desde 1990 e tem fotografado Mato Grosso, onde fez fotos de natureza para campa-nhas de divulgação do turismo no estado. Nos últimos 10 anos tem se dedicado principalmente a projetos ambientais e de desenvolvimento social, fazendo além de fotografia, roteiros e direção de vídeos docu-mentários. Trabalhou para programas do PNUD e da Petrobras Ambiental no noroeste de Mato Grosso. Fez vídeos e fotografias para a campanha de recuperação das cabeceiras do rio Xingu. Atualmente trabalha registrando em imagens o projeto "Poço de Carbono Juruena" com patrocínio da Petrobras Ambiental. É autor de um livro de fotografia sobre a cidade de Cuiabá e se prepara para lançar, no começo de 2011, uma publicação de fotografia sobre Mato Grosso. Tem participação como fotógrafo em vários livros de geografia de Mato Grosso e de culinária tradicional. Participou de várias exposições coletivas e individuais. É um apaixonado por Mato Grosso, por seus grandes rios e sua população tradicional.

Contato: [email protected]

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CAVALHADA DE POCONÉ

FESTA DE SANT´ANACHAPADA DOS GUIMARÃES

O espetáculo da Cavalhada ocorre desde a época colonial por influência dos portugueses. Sua ocorrência esta registrada nas festas de São Benedito e Divino Espírito Santo quando envolve toda a comunidade de Poconé. Há registros da presença da festa também em Porto Esperidião e Cáceres. Trata-se de uma representação do conflito entre mouros e cristãos, divididos pelas cores azul e vermelho. Formam 12 pares de cava-leiros com papéis distintos: o mantenedor, o embaixador e dez soldados. Ao final da batalha os vencedores são sempre os cristãos. Associa-das a esta festividade, pode-se ver a Dança dos Mascarados, homens ornamentados com colori-das chitas e máscaras. Também ornamentam estas festividades os suportes construídos de taquara, ( que se vê na foto), que sustentam as velas e garantem maior beleza visual.

Sant´Ana está presente desde a fundação da Missão de Santana pelos jesuítas em 1752, passando a padroeira da cidade de Chapada dos Guimarães. Sua festa ocorre em 26 de julho, no espaço da Igreja no centro da cidade. A ima-gem sacra encontra-se na Igreja colonial, primei-ro bem patrimonial tombado pelo IPHAN no esta-do. A festa é precedida pela bandeira que sai três meses antes, com a função de arrecadar donativos. Depois da missa, segue-se uma procis-são iluminada por velas, levantamento de mas-tros coloridos de fitas pelos festeiros e duas ou três rodas de São Gonçalo.

Cavalhada em Poconé – Foto: Mario Friedlander

Festa de Sant`Ana – Chapada dos Guimarães/MT - Foto: Mario Friedlander

EQUIPE TÉCNICA

CURADORES

HELOISA AFONSO ARIANO

Mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR-2000) . Professora do Departamento de Antropologia na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Atual Diretora do Museu Rondon e Coordenadora do Projeto Inventário do Patrimônio Imaterial Mato-Grossense na UFMT/Propeq.

IZABELA TAMASO

Doutorado em Antropologia pela Universidade de Brasília (2007). Coordenadora do Projeto Inventário do Patrimônio Imaterial Mato-Grossense (IPHAN/UFMT/UNISELVA). Atualmente é Professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), coordenadora da Área de Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais e Coor-denadora do GT de Patrimônios e Museus da ABA (Associação Brasileira de Antropologia).

JOSÉ SERAFIM BERTOLOTO

Doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP (2003). Diretor do MACP - Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT. Professor-Orientador no Programa de Mestrado em Estudo de Cultura Contempo-rânea ECCO/UFMT. Professor na Universidade de Cuiabá (UNIC). Da equipe do Projeto Inventário do Patri-mônio Imaterial Mato-Grossense.

THEREZA MARTHA BORGES PRESOTTI

Doutorado em História Social pela Universidade de Brasília (2008). Professora de História de Mato Grosso no Departamento de História da UFMT. Da equipe do Projeto Inventário do Patrimônio Imaterial Mato-Grossense e dos Grupos de Pesquisa "História Ambiental: territórios e fronteiras" (UFMT) e "Dinâmica e Dimen-são de uma região fronteira-mineira: Mato Grosso, 1719-1822" (UFGD/MS).

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FUNERAL BORORO

CORRIDA DE TORA DE BURITI - XAVANTE

O Funeral Bororo começa com o procedimento de enfeitar o doente agonizante, quando os parentes se lastimam e se autoflage-lam cortando o corpo com conchas ou dentes de piranha. São reci-tados cânticos. No dia seguinte, com o nascer do sol, o corpo é depo-sitado em cova rasa, coberto com folhas de palmeira e diariamente irrigado ritualmente com água para facilitar a decomposição. Ação que é acompanhada de danças. Segue-se uma caçada em benefí-cio dos parentes do morto. Os Bororo acreditam que a morte é causa-da por um mau espírito que deve reparar os parentes do morto entre-gando-lhes uma fera. Todos os objetos do morto são queimados. Após cerca de noventa dias, retira-se o corpo da cova para a segun-da fase do sepultamento, quando os ossos são lavados, pintados, adornados e acomodados em uma cesta e depositados no fundo de um rio ou lagoa.

Os homens da aldeia formam dois grupos etários e na véspera da corrida, saem para cortar duas toras de buriti de 70 a 90 quilos cada uma. O tronco é carregado no ombro do atleta por um percurso de mais ou menos oito quilômetros. Vence o grupo que chegar prime-iro. As mulheres também realizam sua própria corrida com toras menores com cerca de 40 a 50 quilos. Ao final, as toras são colocadas à frente das casas como troféus e bancos impro-visados. Esta celebração promove grande animação e sociabilidade, valorizando a força e resistência dos jovens guerreiros Xavante.

Funeral Bororo - Foto: Mario Friedlander

Salto da Ponte de Pedra - Álbum Gráfico de Mato Grosso. Acervo NDIHR/UFMT

Corrida de Tora de BuritiFoto: Mario Friedlander

inúmeras lendas sobre esses lugares, tal como a do Minhocão. Na Baía de Chacororé, por exemplo, rela-tam-se casos de barcos que viraram com as ondas das águas por causa das pessoas que estavam no barco não faziam silêncio.

Sakuriuwinã ou Ponte de Pedra é lugar de um conjunto de formações naturais na Chapada dos Paresi, com fortes elementos associados à cosmo-logia dos Halíti, conhecidos hoje gene-ricamente como os índios Paresi. Por-tanto, uma paisagem identificada como uma área de grande valor cul-tural, pois é aí que estes indígenas localizam suas origens ancestrais. Segundo o mito, foi de um buraco de pedra que o criador Enorê (herói mito-lógico) fez surgir o primeiro casal. Deste casal nasceram dois casais gêmeos. A este mito estão associadas narrativas de aspectos que caracteri-zam as diferenças entre o mundo dos índios e não-índios. Também deste lugar o herói fundador Wazáre distribu-iu os grupos Halíti pelas nascentes dos tributários dos rios Juruena, Arinos, Sepotuba e Guaporé. De acordo com os estudos antropológicos é possí-vel reconhecer que territorialidade e consciência de origem mítica comum são fundamentais no modo de ser Halíti. Além da relevância para a memória.

SAKURIUWINÃ OU PONTE DE PEDRA

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SIRIRI E CURURU

O SIRIRI é um dos folguedos mais populares do estado de Mato Grosso, praticado geralmente na Baixada Cuiabana, fazendo parte da maioria das festas tradicionais realizadas em louvor aos santos. Não se sabe ao certo a origem do Siriri. Alguns docu-mentos informam que foi introduzido pelos bandei-rantes paulistas e portugueses, nos princípios da conquista colonial. Outros indicam traços da cultura africana da região Banto e ainda de indígenas da região. A origem da palavra “Siriri” é imprecisa. Para uns, vem da palavra “otiriri” que significa extremes do século XVIII em Portugal e, para outros, significa um tipo de formigão com asas (um cupim de asas que se movimenta coreograficamente lembrando o folguedo). É um folguedo do qual participam homens, mulheres e crianças em roda ou fileiras, formadas por pares que se movimentam ao som da viola de cocho, ganzá, mocho, viola de pinho, san-fona, tamboril. O siriri é composto de cantos em ver-sos simples que falam do dia-a-dia e de suas cren-ças, muitas vezes improvisados pelos tiradores que se aproveitam dos fatos da atualidade para criticar, exaltar ou até mesmo para saudar alguém. É tam-bém conhecido como dança mensagem, pois é pura expressão corporal e coreografia, que procura transmitir respeito e culto à amizade.

O CURURU ou Função, quase sempre associado ao Siriri é um divertimento típico e popular dos mais antigos de Cuiabá e de algumas outras cidades de Mato Grosso. Como uma roda de cantoria e dança, é realizada tanto em festas religiosas como profa-nas. A origem correta não pode ser confirmada, mas

FORMAS DE EXPRESSÃO

Siriri - Festival em CuiabáFoto: Mario Friedlander

Cururu - Festival em CuiabáFoto: Mario Friedlander

Foto: Mario Friedlander

MORRO DE SANTO ANTONIO

BAÍAS DE CHACORORÉE DE SIÁ MARIANA

O Morro de Santo Antônio encontra-se elevado na região de Santo Antonio do Leverger entre os pantanais remanescentes. O Morro é lendário, muitos dizem que ele gira em torno do seu próprio eixo. Os habitantes de suas vizinhanças afirmam ouvir urros e sussurros entre suas cavernas. Outros afirmam que monstros vivem em sua base. O mito de origem dos índios Bororo remete a recor-dação de uma inundação geral, da qual sobreviveu um único índio, “Meriri-Poro”. Este sobrevivente ficou ilhado no cume de um morro. Ali acende um fogo, aquecendo pedras que passa a jogar nas águas. O calor das pedras provoca a evaporação e faz com que as águas retornem ao seu nível normal. Meriri-Poro então encontra um “gua-çuetê” fêmea (cerva) e com ela procria. Os primeiros filhos nascem com as características da mãe e são sacrifi-cados. Os que passam a nascer semelhantes ao pai sobrevivem e dão nova origem ao povo Bororo. Este lugar

é o morro de Santo Antônio localizado próximo a Cuiabá e está inscrito no Brasão da capital. É um monu-mento do patrimônio natural tombado pelo poder municipal.

As Baías de Chacororé e Sinhá ou Siá Mariana formadas pelo rio Cuiabá no conhe-cido Pantanal de Mimoso, município de Barão de Melgaço, destacam-se como luga-res de práticas sociais de comunidades ribei-rinhas pantaneiras. Além das festividades religiosas, destacam-se as práticas e saberes dos modos curar pela medicina das ervas, de construir suas moradas e do manejo do gado associadas ao movimento das águas com as cheias e vazantes do ambiente natural. Há

(PINTURA do Gervane- Acervo MACP)

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especula-se que pode ser originada na dança do “Bacururu” dos índios Bororos, com influências da dança “Catira”, manifestando ritmos africanos e espanhóis. Consiste de no mínimo dois cantadores, sempre do sexo masculino: um tocando viola de cocho e outro ganzá, ou os dois tocando viola. Pode ser praticado também em forma de “porfia” (desafio), sendo que um cantador faz pergunta a outro companheiro, desa-fiando seus conhecimentos em algum tema. A temática dos cururueiros é sobre casos do dia-a-dia da vida popular, sátiras, louvação a santos ou declaração. Os cururueiros dançam rodando no sentido horário, a passos simples mudando e encostando o pé esquerdo ao direito, que fica atrás, e assim sucessivamente. Atravessam a noite com sapateios e, acompanhado da cachaça e uma outra bebida sob nome de “aluá”, feita de arroz ou de milho em fermentação. Alguns cururueiros são os próprios artesãos dos instrumentos utilizados no cururu. Possuem sabedoria acerca das melhores madeiras para a viola. Nem todo cururueiro é artesão da viola de cocho, mas todo artesão da viola de cocho é exímio cururueiro. Ambas as manifesta-ções musicais, o Cururu e o Siriri chegaram a ser proibidas por estarem associados aos negros e aos pobres, sendo praticada em Cuiabá principalmente após a abolição da escravatura em fisn do séc. XIX.

De origem africana, a Dança do Congo representa a luta simbólica entre os reinados Congo e Bamba. O rei de Bamba exige que seja cumprida a promessa de casamento com a princesa do Congo, que, descontente com a reivindicação do rei de Bamba, pren-de-o e ordena a guerra. Esta dança compõe-se de oitenta personagens formados em dois grupos: dos Fidalgos da Casa Imperial e dos Congos, cujo chefe recebe título de embaixa-dor. Os componentes da Casa Imperial apre-sentam-se com belíssimas fantasias; enquanto os fidalgos de calças brancas, casacos cetim vermelho, chapéus de feltro quebrados a frente com laços de fitas vermelhas e espada na cintura. Os congos se vestem de penas enfeitadas de pequenos espelhos e machadinhos. A luta é trava-da com a invasão do reinado pelos Congos quando entram em ação os dois grupos armados de espada e machadinha terminando com a morte do embaixador. Tudo isso é realizado durante a luta, finalizando com os Congos balançando os corpos, dançando e cantando. Em Mato Grosso, essa manifestação ocorre nas cidades de Vila Bela da Santíssima Trindade (julho) e de Nossa Senhora do Livramento, (maio) na época das Festas de São Benedito e da Festa do Senhor Divino Espírito Santo. São usados instrumentos como marimba, tamborete e ganzá, e predomina a figura masculina.

DANÇA DO CONGO

Congo na Festa de São Benedito – Livramento/MT - Foto: Mario Friedlander

ou riacho das estrelas) deságua no rio Cuiabá, era o Ikuia-pá, - lugar de pesca com flecha arpão. Serviu por longo tempo como único meio de comunicação com o resto do país. De seu Porto em Cuiabá as embar-cações partiam seguindo os rios Paraguai e Prata até Buenos Aires. Importante eixo de transporte para importação e exportação de produtos. Suas margens foram cenário das primeiras roças e várias usinas de açúcar. Local de festividades, pescarias, fornecendo o sustento para grande parte da população ribeiri-nha. Inspira e povoa o imaginário mato-grossense. Pode ser considerado um símbolo identitário e iconográ-fico dos cuiabanos e várzea-grandenses e de outras cidades onde passa: Rosário Oeste, Santo Antonio do Leverger e Barão de Melgaço. Muito referenciado na arte e cultura através da literatura, pinturas e outras manifestações artísticas como os cantos do cururu e musicas regionais. Este rio é um elemento chave do patrimônio imaterial Mato Grosso.

Desde o perío-do colonial, quando era a Vila Maria do Paraguai, hoje cida-de de Cáceres, a Praça da Matr iz t i nha um pape l importante, pois ali aconteciam as Fes-tas da Cavalhada e as Procissões no Largo da Matriz. Em frente a esta Praça, uma baía do rio Para-guai constava como porto, e movimentou a c i d a d e p e l a s embarcações e pelos apitos dos vapores que ali chegavam e partiam com passageiros e mercadorias no século XIX e primeira metade do XX. Atualmente, a Praça da Matriz ainda exerce importância para a socie-dade local de Cáceres, onde está instalado o Marco do Jauru, um dos marcos de demarcação do Tratado de Madrid de 1750 entre as coroas de Espanha e Portugal. Na Praça de Igreja Matriz ainda se mantém rema-nescentes do casario antigo no seu entorno, bares e restaurantes, o cais do porto e as formosas praias. Um ponto de referência de práticas sociais e culturais das pessoas que habitam e visitam a cidade, como o Festival Internacional de Pesca que acontece anualmente.

PRAÇA DA MATRIZ EM CÁCERES

São Luiz de Cáceres, Praça da Matriz - Álbum Gráfico de Mato Grosso. Acervo NDIHR/UFMT

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DANÇA DOS MASCARADOSEM POCONÉ

MITO DO MINHOCÃO

A Dança dos Mascarados é uma manifesta-ção cultural que ocorre durante as Festas de São Benedito, do Divino Espírito Santo e de Nossa Senhora do Rosário no município de Poconé desde o século XVIII. Atualmente apresentam também em eventos culturais. Somente homens participam desta dança, mas parte deles se veste de mulheres “dama” e a outra parte de homens “galã”. Utilizam máscaras e roupas de chita. A dança compreende doze pares assim denominados: entradas ou cavalinhos, primeira, segunda, carango, lundu, vilão e retirada. Há também a figura do baliza que fica ao centro e carrega um mastro. Associadas a esta festivida-de estão a Cavalhada de Poconé e os suportes de taquara, algo como grandes castiçais, rica-mente iluminados com velas.

O Minhocão é considerado um mito ou uma lenda, parte do imaginário de pescadores ribeirinhos dos Pantanal mato-grossense que o descrevem como um monstro em forma de ser-pente. Dizem ser gigantesco, com aproximada-mente três metros e meio de largura e de trezen-tos a quinhentos metros de comprimento. É um ser encantado que vive no fundo dos rios, princi-palmente no Cuiabá e nas baías de Chacororé e siá Mariana. Surge geralmente na época da vazante, provocando ondas enormes, naufraga embarcações, amedronta os pescadores, ou

Dança dos Mascarado na Festa de São Benedito – Livramento/MTFoto: Mario Friedlander

Minhocão – Foto: Mario Friedlander

LUGARES

am o fio, além de plantarem e colherem o algodão. Para a confecção são utilizados teares verticais onde as artesãs fazem as redes com motivos de rosas ou brasão bordado nas laterais. Sentada no chão ou em um banquinho, a arte-sã começa a urdir de baixo para cima, seguindo a tradição indígena. A cada fio recém tramado, a artesã usa a bate-deira (espécie de régua grossa feita de buriti), cuja finalida-de é dar mais resistência ao tecido. Quando já teceu uns cinco centímetros, ela prende a espichadeira, que é feita de taquara e serve para manter a rede bem estendida. Para tecer uma rede, com uma média de cinco horas por dia, pode-se demorar até um mês. As artesãs redeiras mais tradicionais são de famílias das comunidades ribeirinhas de Bom Sucesso, Limpo Grande, Capão Grande e Souza Lima no atual município de Várzea Grande.

Redeiras do Limpo Grande- Várzea Grande/MT - Foto: Mario Friedlander

RIO CUIABÁ

O Rio Cuiabá tem grande importân-cia histórica para Mato Grosso, dando nome à sua capital. Nos Anais do Senado da Câmara da Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá (APMT), o cronista Barbo-sa de Sá [1775] diz ser a origem de seu nome alusivo às plantações de cabaças ou cuias em suas margens. O sertanista Pires de Campos (1718) informou habitar em suas cabeceiras os índios cuiabases. Para os mais antigos moradores Bororo o local onde o córrego do Prainha (Ikuiêbo

Rio Cuiabá – Foto Laércio Miranda

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até mesmo mata estes pescadores. O Minhocão é um ser d`água, de cor preta, que possui um odor forte. É muito temido pelos pescadores de Mato Grosso que, quando pressentem sua presença, fogem aterroriza-dos. Alguns ribeirinhos mato-grossenses relatam a existência de Minhocões com 20 metros de comprimento. Como disseram tê-lo visto na região ribeirinha do Ribeirão do Pari, muitos o conhecem também por Minho-cão do Pari.

Trata-se de um jogo no qual só se toca a bola com a cabeça. Roosevelt em sua viagem com Rondon no ano de 1913, o denominou head ball. A bola empregada neste jogo é feita pelos próprios índios paresi, feita com a queima da película de borracha ( seringa) e cheia de ar. Patrimônio imaterial dos mais representativos do modo de fazer indígena Paresi, expressão de sociabilidade durante os jogos nas comunidades.

A pintura corporal Xavante separa o cotidi-ano da vida pública e cerimonial. A ornamenta-ção corporal permite distinguir indivíduos ou grupos, sendo utilizada em rituais para expressar a categorização social dos indivíduos. Seus signi-ficados estão vinculados a cosmologia Xavante. Os desenhos são feitos no tronco, braços, meta-de das coxas e pernas. As cores que mais utilizam são o preto e o vermelho com tinturas do urucum e jenipapo.

FUTEBOL DE CABEÇA PARESI(COM BOLA DE SERINGA)

PINTURA CORPORAL XAVANTE

Futebol de Cabeça Paresi ( bola de Seringa)Foto: Laércio Miranda

um pouquinho de água e mexe-se até formar uma pasta, adiciona-se mais um pouquinho de água até encher o copinho. É apreciado em pequenos goles. Essa bebida é servida antes do trabalho matinal e após o descanso do almoço, e também quando se recebe visitas em casa. Esse ritual ultrapassou gerações e está presente até hoje no cotidiano do mato-grossense tradicional.

A Arte Plumária na sociedade indígena Rikbatsa é uma atividade masculina. Os homens caçam as aves, coletam as penas e as guardam separadas por tipo, tamanho e cor. Esta arte está ligada á formação do Rikbatsa, e é através dela que se expressa a sua identidade de guerreiro, caçador e artesão. Produzem elaborados cocares como o Myhara (cocar de guerra), que implica na coleta de milhares de penas e no conhecimento e poderes ligado a sua confecção. Essa é uma tarefa para homens maduros, casados e com filhos, conhece-dores da tradição. Ao fazer o Myhara não se pode demorar demais, nem restar penas. O que sobrar deve ser utilizado em outros cocares. Crêem que se não respeitarem essas regras, o Myhara começa a produzir malefícios ao indivíduo e sua famí-lia. Os Rikbatsa têm suas terras no norte de MT, próximos do rio Juruena, e vivem em aldeias nas fronteiras dos municípios de Juara, Brasnorte e Cotriguaçu.

A Rede Cuiabana tem como diferencial das outras redes do país a beleza do tecido bordado, além de sua durabilida-de. Os bordados são feitos em pequenas proporções, com suas respectivas cores, sendo usadas mais tarde como amos-tras, que são passadas de geração em geração, conservan-do em família os padrões característicos. A Rede Cuiabana (também chamada de rede lavrada) é encontrada em duas

tipologias: trepadeira (com bordados florais, com desenhos que vão de um lado a outro) e a meeiro (os desenhos são formados no centro do leito da rede). A habilidade no manuseio do tear parece ter sido her-dada das índias Guanás, que desde muito tempo atrás, assim como as mais antigas tecelãs, fiavam e tingi-

ARTE PLUMÁRIA RIKBATSA

REDE CUIABANA

Pintura Corporal XavanteFoto: Laércio Miranda

Rikbatsa com Cocar Myhara - Foto: Laércio Miranda

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VIOLA DE COCHO

CERÂMICA DE SÃO GONÇALO

A Viola de Cocho é um instrumento musi-cal já reconhecido como patrimônio imateri-al, típico do Pantanal Mato-Grossense nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e intrinsecamente associado ao Cururu e Siriri. Fabricado artesanalmente a partir da madei-ra de diferentes espécies da flora regional como sarã de leite, sarã d`água, pau de abó-bora, embiriçu, urucuana e algumas outras. O artesão, em geral o seu mesmo tocador, o cururueiro, utiliza um molde para riscar a madeira. O tronco é escavado como um cocho até as paredes ficarem lisas e finas. O braço é curto, possui uma paleta inclinada, com ângulo acentuado. É composta de dife-rentes partes: cavalete, pestana, cravelhas, cordas e os pontos de barbante encerado. A maioria das violas possui cinco cordas, mas pode variar de acordo com o artesão. O orifí-cio no tampão também é um aspecto variá-vel. As cordas eram produzidas de vísceras de animais, mas hoje incorporam as linhas de nylon e até de metal.

Eespecialistas na arte de moldar o barro, os ceramistas de São Gonçalo começaram a modelar utensílios domésticos para o consu-mo próprio como potes, jarras, panelas de barro, castiçais e outros utensílios para casa e

MODOS DE FAZER decoração. Há registros de que desde o século XIX trocavam o excedente da produção com outras comunidades pantaneiras. A tradição do modo de fazer a cerâmica de São Gonçalo mantém-se onde hoje se localiza o bairro de São Gonçalo Beira Rio, - local de incidência da argila apropriada; e é passado de mãe para filha, conforme registro do relato da moradora do bairro São Gonçalo Beira Rio, Sra. Dalvete: “(...) o barro vem do rio, após seco, é quebrado, e peneirado, assim o barro é misturado com outro barro queimado, obtendo-se a massa a ser trabalhada. Este barro queimado vem de pedaços das próprias peças prontas que quebram e são reaproveitadas. Depois soca a massa até esfarinhar, assim com essa massa já maleável pode ser moldada conforme desenho desejado. As peças depois de secas recebem o brilho e aguardam mais um tempo de secagem, após irem ao forno por doze horas”. Atualmente com abertura do mercado turístico atende a demanda dos consumidores locais e externos, com uma produ-ção maior vasilhas e enfeites variados que retratam animais (a galinha, o peixe pacu, etc), frutas (o caju) e até mesmo costumes, como o pescador em sua canoa e o tocadores de cururu com suas violas de cocho. Há artistas locais que recriaram a forma de desenhar o barro, e se dedicam na criação de peças de cunho religioso com imagens de santos ( ex: São Gonçalo) e presépios, mas tentam manter os valores da cerâmica da região.

Com os índios mawês (do Pará) os mato-grossenses, - principalmente o cuiabano e outros pantaneiros da região de Cáceres e Poconé, aprenderam o uso do Guaraná Ralado que adoçavam com mel. O pantaneiro desenvolveu sua maneira própria de prepará-lo. Primeiramente é colhido, torra-do e moído e forma-se um Pau de Guaraná juntamente com o cacau e farinha de mandioca. Aprecia-se tomá-lo logo ao despertar na madrugada, em jejum; e o som característico do ralar, faz parte do processo de despertar, como também o som da colherinha mexendo o pó no copo, como um badalo de sininho, também compõe este ritual da manhã do panta-neiro. Os amazonenses utilizam a língua do peixe pirarucu para ralar o Guaraná, mas como no Pantanal não se encontra este peixe, os pantaneiros utilizam uma grosa de aço, para o con-sumo. Usa-se também um couro de animal para aparar o pó durante o processo de ralar. O pantaneiro coloca de três a quatro colherinhas de açúcar e duas colherinhas do pó de Guaraná dentro de um copinho de cristal; e antes de adicio-nar a água gelada, o pó é misturado ao açúcar, coloca-se

GUARANÁ RALADO

Guaranazinho Pantaneiro - Foto: Mario Friedlander

Cerâmica de São Gonçalo - Foto: Mario Friedlander

Viola de Cocho - Foto: Mario Friedlander