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www.uniaoanarquista.org/ [email protected] Causa do Povo A vitória da Dilma/PT nas eleições presidenciais de 2010 vai condicionar, em parte, os cenários da luta de classes no Brasil nos próximos anos - Pag. 4 Jornal da União Popular Anarquista - UNIPA As revoltas no Norte da África Depois de quatro meses de intensas rebeliões no norte da África, uma análise crítica sobre os rumos do movimento é necessária - Pag.5 Manifestante sobe em tanque durante protestos feitos no Egito Dia Internacional da Mulher Trabalhadora: dia de luta e de luto/ pag. 2 A construção da usina de Belo Monte e o neodesenvolvimentismo/ pág.2 A Política de Segregação da Classe Dominante Desabriga e Mata os Trabalhadores/ pag.8 A Construção Internacional do Anarquismo Revolucionário/ pag.8 O cenário da luta de classes no Brasil Agronegócio e a superexploração dos trabalhadores/ pag. 6 Aumento salarial dos parlamentares: privilégios aos burocratas, miséria aos trabalhadores/ pag. 7 do Povo 8 anos anos 8 Causa N° 58 - Março / Abril de 2011 Precarização e insegurança na Petrobrás/ pag. 3 Ofensiva neoliberal e hegemonia do governismo/ pag.3

Causa do Povo nº58 - WordPress.comparte, os cenários da luta de classes no Brasil nos próximos anos. Outro fator cen-tral são os efeitos restritivos da crise eco-nômica mundial

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Jornal da União Popular Anarquista - UNIPA - nº58 - 1

www.uniaoanarquista.org/ [email protected]

Causa do Povo

A vitória da Dilma/PT nas eleições presidenciaisde 2010 vai condicionar, em parte, os cenários da

luta de classes no Brasil nos próximos anos -Pag. 4

Jornal da União Popular Anarquista - UNIPA

As revoltas no Norte da África

Depois de quatro meses deintensas rebeliões no norte da

África, uma análise crítica sobreos rumos do movimento é

necessária - Pag.5Manifestante sobe em tanque duranteprotestos feitos no Egito

Dia Internacional da MulherTrabalhadora:dia de luta e de luto/ pag. 2

A construção da usina de BeloMonte e o neodesenvolvimentismo/pág.2

A Política de Segregação daClasse Dominante Desabriga eMata os Trabalhadores/ pag.8

A Construção Internacional doAnarquismo Revolucionário/ pag.8

O cenário da luta declasses no Brasil

Agronegócio e a superexploraçãodos trabalhadores/ pag. 6

Aumento salarial dosparlamentares: privilégios aosburocratas, miséria aostrabalhadores/ pag. 7

do Povo

8anosanos8Causa

N° 58 - Março / Abril de 2011

Precarização e insegurançana Petrobrás/ pag. 3

Ofensiva neoliberal ehegemonia do governismo/pag.3

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2 - - - - - Causa do Povo ----- nº58 - Março/Abril de 2011

A construção da usina de Belo Monte e oneodesenvolvimentismo

A construção da Usina Hidrelétri-ca de Belo Monte, no Rio Xingu, no Es-tado do Pará é umas das principaisobras do Programa de Aceleração doCrescimento (PAC) lançado pelo Gover-no Lula (2003-2010), que teve comoprincipal coordenadora a atualpresidenta da república Dima Roussef(PT). A usina, bem como o PAC em suatotalidade, representa a política econô-mica do anterior e atual governo defavorecimento ao acúmulo de capitaispelos grupos econômicos empresariais,principalmente de origem nacional.

Neste sentido, o governo do PT/PMDB retoma as políticas econômicasda ditadura civil-militar, inclusive com aretomada da construção de Belo Mon-te, obra projetada em 1980 sob o nomede Usina Kararaô. O governo Sarneytentou reaver o projeto, mas a resistên-cia ao projeto e o momento econômicodesfavorável impediram sua construção.

Agora, o Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social(BNDES) financiará 80% da obra ao gru-po Norte Energia que é formado por em-

presas do Grupo Eletrobras (Eletrobras,Chesf e Eletronorte), Entidades de Pre-vidência Complementar (Petro,Funcef), Fundo de Investimento emParticipações (Caixa FIP Cevix), So-ciedade de Propósito Específico

O mês de março é dedicado atodas as lutadoras de povo, pois odia 08 de março é o Dia Internacio-nal da Mulher desde 1922.

Março é emblemático para asmulheres porque marca importantesepisódios da luta das trabalhadorascontra a exploração. São exemploshistóricos: o incêndio que ocorreu nodia 25 de março de 1911, nos EUA,na Triangle Shirtwaist Company,numa fábrica têxtil que vitimou 125mulheres e 21 homens, e a greve de08 de março das tecelãs e costurei-ras que explodiu em 1917, emPetrogrado, na Rússia.

A burguesia e os reformistasse esforçam para que esses e ou-tros exemplos de lutas das mulhe-res sejam esquecidos. Em especial,nesse ano no Brasil, burgueses e re-formistas se utilizam a vitória eleito-ral de Dilma Rousseff/PT como sím-bolo das conquistas das mulheres.Entretanto, o sangue derramado detantas lutadoras não foi com o objeti-

Dia Internacional da Mulher Trabalhadora:dia de luta e de luto

vo de eleger uma mulher que reprodu-zisse a opressão e a exploração so-bre o conjunto da classe trabalhadora.

As lutas históricas das mulhe-res foram contra o capitalismo e emnome do socialismo. A memória des-sas lutas não deve ser perdida, massim recuperada e convertida em estí-mulo para novas batalhas contra a ex-ploração e dominação burguesas.

Passado quase um século daslutas que inspiraram o 08 de março,as desigualdades sociais que atingemtanto homens quanto mulheres se per-petuam. No Brasil, a exploração sobreos trabalhadores, especialmente àsmulheres, se intensifica no contexto daofensiva neoliberal. As mulheres, es-pecialmente as negras, constituem osegmento da sociedade brasileira quese encontra mais precarizada, ocu-pando as atividades maisdesqualificadas socialmente e commenores rendimentos.

Segundo a OIT, a taxa de de-semprego entre as mulheres

negras alcançou 10,8%, em 2008,8,3% entre as mulheres brancas, 5,7%entre os homens negros e 4,5% entreos homens brancos. Estudos recen-tes do DIESSE apontam que, na re-gião metropolitana de São Paulo (cen-tro da economia brasileira), as mulhe-res ganham 75,7% do valor pago aoshomens para o desempenho das mes-mas funções.

Como se vê, as desigualdadesde gênero, da mesma forma que asdesigualdades étnico/raciais, são ins-trumentos da burguesia parasuperexplorar determinados segmen-tos da classe trabalhadora.

Portanto, o 08 de março não é odia de qualquer mulher, principalmen-te daquela que a mídia burguesa apre-senta como referência de modo a ga-rantir a reprodução de um padrão debeleza e comportamento impostos àsmulheres como parte de uma políticamachista de controle produzida pelasociedade. A referência para este 08de março não deve ser o liberalismo

burguês, mas as lutas combativas demilhares de mulheres que como naRússia revolucionária saíram às ruasem greve por uma sociedade justa,igualitária e socialista.

Greve das operárias russas emfevereiro de 1917.

(Bozano Participações),Autoprodutoras (Sinobras e Gaia) eConstrutoras (Queiroz Galvão, OAS,Cetenco, Contern, Camargo Correa,Odebrecht, Galvão Engenharia, Men-des Junior e Serveng).

Assim, o governo Dilma com suapolítica “desenvolvimentista” levará a di-minuição de investimento público nasáreas sociais, ampliando os projetosneoliberais de Organizações Sociais, earrocho salarial para favorecer essesgrupos econômicos. A construção deBelo Monte é considerada por especia-listas das universidades brasileiras umgrande atentado à biodiversidade da re-gião do Rio Xingu, já bastante afetadaem sua nascente pela ocupação de la-tifúndios estimulados pela ditadura. Alémdisso, a obra afetará camponeses, ribei-rinhos, pescadores, extrativistas e aosdiversos povos indigenas que vivem em19 terras indigenas e 10 unidades deconservação.

Por fim o Estado brasileiro des-respeita a convenção 169 da OIT,ratificada em 2002. A única saída paraevitar a construção de Belo Monte éação direta dos povos atingidos como aocupação de prédios, ameaça das au-toridades, como feita pela indígenaKayapo Tuíra em 1989, e sabotagemdas obras.

Tuíra na audiência pública realizada em Brasília no ano de 2009

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Jornal da União Popular Anarquista - UNIPA - nº58 - 3

Precarização e insegurança na Petrobrás

A intensa precarização do traba-lho e a política de corte de “custos”(como salários e segurança industri-al), praticada pela administração pa-tronal da Petrobrás nas últimas duasdécadas, é responsáveis pela perdade vidas de diversos trabalhadores epor danos irreparáveis ao meio-ambi-ente.

Após oito anos de governo Lula,os trabalhadores petroleiros agora de-monstram grande insatisfação com ainércia das lutas. E, diante do quadrode abandono da integridade das ins-talações, que rapidamente transforma-se em risco de morte para os traba-lhadores, diversos manifestos denun-ciando a grave situação de inseguran-ça e exploração a que os trabalhado-res vêm sendo submetidos surgemnas plataformas de petróleo do NorteFluminense, principal região produto-ra do país.

Uma das intenções dessas de-núncias é contrapor ideologicamente o dis-curso da administração patronal que apre-senta o lucro crescente como sinal de qua-lidade da empresa. Mostrando que esselucro se baseia na superexploração dostrabalhadores, estes buscam se armarcontra a ofensiva ideológica da adminis-tração patronal que tenta cooptar o prole-tariado para contribuir com a sua própriaexploração.

Porém, devido à hegemonia petista/

governista no movimento, estas denúnci-as não têm conseguido dar o salto quali-tativo do legalismo reformista para oclassismo proletário. Com referência ain-da na direção política do Sindipetro-NF,os trabalhadores vêm enfrentando a ad-ministração patronal apenas para ver adireção sindical apelar para a interferên-cia de órgãos estatais subordinados aogoverno que, não coincidentemente, é o“patrão” dos trabalhadores da Petrobrás e

está nas mãos dopartido dos dire-tores sindicais.Ou seja, ao invésde confiar na ca-pacidade políticados trabalhado-res, a direção sin-dical apela aosrepresentantesdo patrão para“mediar” oenfrentamento.

Ao que tudoindica, a atuaçãoda direção sindi-cal é orientada por

Resultados da superexploraçãoe hegemonia do governismo

objetivos políticos burgueses e burocráti-cos, garimpando cargos para membros doPT dentro da administração patronal e fa-zendo propaganda política nas vésperasda eleição sindical.

A militância da UNIPA no movimen-to petroleiro tem se esforçado para impul-sionar a luta dos trabalhadores do setor.Porém, também tem procurado alertarpara os limites da ação meramentelegalista, que não levará o proletariadopara além de umaderrota em médioprazo. Assim, incen-tivamos os compa-nheiros do setor aromperem com olegalismo e com ocorporativismo e daro salto de qualidaderumo à lutaclassista.

É tarefa dosp e t r o l e i r o scombativos constru-írem as oposiçõessindicais classistas.E o papel dessas

oposições deve ser impulsionar e unir aslutas da categoria, mobilizando os funcio-nários diretos e terceirizados e confiandona capacidade dos trabalhadores de con-quistar seus direitos através da ação di-reta de classe, com greves, paradas deprodução, atos de rua, etc. e não atravésde apelos àos órgãos do Estado/Gover-no, que tem atuação reformista efêmera eanti-operária.

Outra tarefa da organização autôno-ma dos trabalhadores é preparar a defesacontra as retaliações, que cedo ou tardesurgem com o objetivo de minar a confi-ança e o poder dos trabalhadores organi-zados.

Para cumprir com estas tarefas com-pomos o Grupo de Luta dos Petroleiros,que representa uma proposta de organi-zação classista pela base no movimentopetroleiro do Norte Fluminense.

Conclamamos todos os trabalha-dores petroleiros, diretos eterceirizados, a romperem com ogovernismo e para-governismopelegos, que atuam para frear as lutasdos trabalhadores em função dos inte-resses eleitoreiros e burocráticos deseus partidos, e optarem pela açãoclassista, a única que pode dar a vitó-ria à classe operária. Para tanto, é pre-ciso formar organizações por local detrabalho e buscar construir e fortaleceroposições em suas regiões.

Romper com o governismo e o para-governismo pelegos!Trabalhador petroleiro, lute!

Trabalhadores terceirizados em greve no Espírito Santo

Gráfico da evolução do efetivo daPetrobrás controladora

P-36 afundando (2001 - Governo FHC)

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4 - - - - - Causa do Povo ----- nº58 - Março/Abril de 2011

O cenário da luta de classe nos próximos anos:o governo Dilma/PT e o Brasil

A vitória da Dilma/PT nas eleiçõespresidenciais de 2010 vai condicionar, emparte, os cenários da luta de classes noBrasil nos próximos anos. Outro fator cen-tral são os efeitos restritivos da crise eco-nômica mundial. As tendências (como jáestamos apontando em nossas análisesdesde o nosso IV Congresso) é que oaprofundamento da crise diminua a mar-gem de manobra do Governo Dilma/PT,criando mais elementos de choque coma classe trabalhadora.

O início do ano de 2011 tem mos-trado exatamente isso. A disputa em ter-mos da fixação do irrisório “salário” míni-mo, combinado com o anúncio da restri-ção dos gastos com funcionalismo públi-co indicam a tendência geral de conten-ção dos salários e do consumo. O arro-cho salarial, praticado em termos globaiscom a restrição do salário mínimo e noplano setorial com a restrição do gastocom o funcionalismo público, é uma ferra-menta histórica da burguesia.

Em outro plano, a emblemáticaaprovação do início das obras da Usinade Belo Monte indica a prioridade aos pro-jetos “desenvolvimentistas” – de expan-são da política energética subordinada aosinteresses do agronegócio e do capital in-dustrial e financeiro. Além do caso de BeloMonte, devemos lembrar ainda da Trans-posição do rio São Francisco. Ou seja, osgastos do Estado tenderão a se manternaquilo que eles forem imprescindíveis àacumulação de capital. Mas esse perío-do inicial do Governo Dilma anuncia al-guns dos fatores potenciais para o des-gaste do bloco histórico dirigido pelo PT,que se fortaleceu desde 2007.

A crise mundial está se manifes-tando em termos globais com a inflação,especialmente a inflação de alimentos. Nocaso do Brasil, a política de arrocho sala-rial se combina com os projetosdesenvolvimentistas que irão absorvergrande parte dos recursos do Estado. Poroutro lado, esses projetos, voltados paraum modelo de política energética e eco-nômica que destroem as bases da produ-ção de subsistência no campo, favorecen-do a agricultura comercial, tendem a pres-sionar no nível interno a inflação que jácomeça a se intensificar.

Dessa maneira, as opções econô-micas do Governo Lula, que permitiramque ele manobrasse bem as contradiçõesdentro do movimento sindical e popular,através da CUT, CTB e outras organiza-ções, tendem a diminuir significativamenteno Governo Dilma. Um cenário possível éexatamente o agravamento da crise eco-

nômica e a redução dos instrumentos deconcessão aos trabalhadores e suacooptação. Com a redução dessa margemde manobra estrutural, as organizaçõesgovernistas e pelegas tendem a ficar cadavez mais no meio do fogo cruzado dasdemandas econômicas e sociais das ba-ses contra sua política de desmobilização.

Mas como fazer com que a classetrabalhadora, ao invés de vítima dessacontradição, se torne ativa na luta pelosseus interesses econômicos e políticos?Isso porque a mera contradição estruturalentre a política econômica de arrochocombinada com os efeitos da crise, pormais que desgaste o governo e as dire-ções pelegas, não resolvem o problemada desmobilização e falta de organizaçãoda classe trabalhadora.

O problema é que toda a políticados setores dirigentes da classe trabalha-dora no Brasil (CUT, CTB, Confederaçõese demais entidades secundárias) restrin-ge a política dos trabalhadores à pequenapolítica. O que é a pequena política? Apequena política é aquela restrita aos mar-cos delimitados pela dominação histori-camente constituída, que se resume à lutapelo controle do Governo e dos cargoslegislativos, executivos e administrativosde Estado ou associações secundárias,ou ainda aspectos de política econômicaou demais políticas públicas.

A “grande política” é a política quevisa confrontar os fundamentos reais depoder e as relações de desigualdade declasses. Ou seja, é uma políticadirecionada para mudar não a política eco-

nômica, mas os fundamentos do podereconômico. Não os cargos do Governo,mas a forma de governo e quem exerce opoder.

A política reformista praticada noBrasil está toda ela dentro da “pequenapolítica”. E como estes setores dirigemas organizações da classe trabalhadora,

esta classe é arrastada à pequena políti-ca. A política reformista é ao mesmo tem-po uma pequena política praticada emescala nacional. E é por isso que ela sem-pre é derrotada quando se defronta com agrande política burguesa. Na realidade, apequena política reformista é usada paraos fins determinados para a grande políti-ca burguesa.

E o que é a política revolucionária?A política revolucionária necessariamen-te é também a grande política. Mas noquadro do Brasil em que a classe traba-lhadora e sua ação política nacional sãodominadas – ou tragadas – pela pequenapolítica, temos a curiosa situação em quenecessariamente a grande política – doponto de vista revolucionário – é uma políti-ca “local”. Local no sentido em que elahoje é praticada em pequena escala.

A grande política dos revolucioná-rios no cenário dos próximos anos seráfeita no plano micro, local. A pequena po-lítica da burguesia e dos reformistas é fei-ta em nível nacional, mas sempre restrin-gindo a política a pequenas disputas semimportância. E a grande política da bur-guesia é feita por uma minoria em todosos níveis, nacional e internacional. É essagrande política burguesa que precisa ser

combatida, e ela se manifesta em quasetodos os conflitos locais. Dois componen-tes são fundamentais dessa política: a re-dução da massa salarial global, para ga-rantir a taxa de lucro; a desarticulaçãodirigida da organização dos trabalhadores,sua tutela, para impedir que a luta de classeocorra em escala nacional e internacio-nal.

Qual a tarefa dos revolucionários?Transformar e enfrentar toda questão lo-cal (de salários, de direitos, de acesso aterra, moradia e etc.) como uma questãode grande política As grandes questõesda classe trabalhadora devem ser assimcolocadas nas questões locais. A táticados revolucionários deve seguir a máxi-ma do grande general Vietnamita (que der-rotou os japoneses, os franceses e osnorte-americanos), Nguyen Giap: “trans-formar as múltiplas pequenas vitóriasnuma grande vitória”.

A tática no atual cenário, dedesmobilização da classe, deve ser a demultiplicar as lutas de tipo grande-políticano plano local, ou seja, retomar as lutassalariais e econômicas dos trabalhadorese a greve geral como mecanismo de pa-ralisar a política macroeconômicahegemônica. Retirar a tutela organizativaburguesa e sua hegemonia ideológica. Aspequenas vitórias locais (no campo e nacidade, nas fábricas e universidades eetc.) multiplicando-se tenderão a prepararas grandes vitórias.

O cenário da luta de classes as-sim é contraditório. Há um Governo Dilma/PT que saiu relativamente fortalecido daseleições presidenciais (relativamente por-que as abstenções e votos nulos mostra-ram a falta de credibilidade do sistemapolítico). Ao mesmo tempo temos um ce-nário econômico não tão favorável, masque por si só não implica no desmonte dahegemonia da direção reformista-pelegano movimento de massas. E por fim, umaumento das pressões objetivas sobre aclasse trabalhadora, que só tendem a au-mentar.

Assim, nos resta a tarefa: nem ca-pitulação, nem imobilismo. Fazer um, dois,três, muitos focos de resistência de mas-sas, construir e fortalecer um fórum naci-onal de oposições sindicais, estudantis epopulares. Fazer as lutas locais visando àpreparação das greves gerais e a cons-trução de uma corrente classista einternacionalista, embrião da reconstru-ção da Associação Internacional dos Tra-balhadores.

Dilma com centrais sindicais pelegas e governistas paranegociação do valor do novo salário mínimo

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Jornal da União Popular Anarquista - UNIPA - nº58 - 5

Norte da África:entre a luta de massas e as suas contradições

Viva a Luta do Povo Árabe contra o Imperialismo,a burguesia árabe e o Estado!

Abaixo a Conciliação! Construir o Sindicalismo Revolucionário!Pela Revolução Socialista e Proletária!

Nos últimos quatro meses o Norte daÁfrica foi tomado por uma onda de rebeliõespopulares em diversos países, que tiveramcomo principais campos de batalha a Tunísia,o Egito e agora uma guerra civil na Líbia. Taisrevoltas de oposição aos regimes ditatoriaisdestes países tiveram como pano de fundo apiora das condições de vida da classe traba-lhadora, caracterizada pelo aumento do de-semprego, alta no preço dos alimentos e bensde consumo, e a superexploração do traba-lho realizado pela burguesia árabe e interna-cional, elementos potencializados pela criseeconômica mundial.

Apesar da UNIPA considerar extrema-mente importante os processos demobilização na África, como parte da inten-sificação global da luta de classes, não po-demos nos furtar de fazer uma analise críti-ca de tais processos.

1. O histórico das revoltasRecapitulemos então os aconteci-

mentos recentes. A Tunísia, epicentro doslevantes, foi governada durante 23 anos peloditador Ben Ali, que assumiu o poder em umgolpe de Estado alinhado com o imperialis-mo. Após um mês de protestos de rua, BenAli cai no dia 14 de janeiro, e é substituídopor Fued Mabazza, membro até então dopartido do ditador (RCD). Mabazza sai do RCDde forma oportunista após a deposição deAli, para fundar o "governo de unidade nacio-nal" com setores da oposição burguesa, dasFFAA, membros do antigo governo e a UGTT(União Geral Tunisiana do Trabalho).

Já o Egito, país estratégico na ÁfricaSaariana e no Oriente Médio, também é umantigo aliado do imperialismo Norte America-no na região. O país foi governado durante 30anos pelo regime ditatorial de Hosni Mubarack,que, após mobilizações de massas e grevesgerais que se iniciam no dia 25 de janeiro, éderrubado no dia 11 de fevereiro. A partir dodia 18 de fevereiro país passa a ser governa-do por uma Junta Militar, espinha dorsal doimperialismo no Egito, que vem impondo es-tado do sítio no país.

Por último, a Líbia, que na década de70 passou por um processo burguês-nacio-nalista de derrubada da monarquia do Rei Idris,

de estatização de alguns setores da econo-mia (como o petróleo) e oposição aos EUA.Essa "revolução burguesa" se erigiu em umanova ditadura sobre o povo líbio na pessoa deMuamar Kadaffi e nas últimas duas décadasreabriu negociações com o imperialismo eu-ropeu e norte americano.

Atualmente a Líbia, que passa por umaguerra civil, está dividida em três setores: a)

os setores da burguesia e da burocracia líbialigados a Kadaffi; b) os setores da oposiçãoburguesa pró-restauração monárquica eimperilialista; c) e os trabalhadores na luta pormelhores condições de vida, que, por não pos-suírem programa socialista, caminham paraa conciliação e capitulação com os setoresburgueses.

2. A caracterização reformista e a caracte-rização revolucionária.

A caracterização teórica correta des-ses processos é fundamental, exatamenteporque as caracterizações de processos "ex-ternos" expressam também a posição políti-ca para os processos "internos" - antecipan-do assim os posicionamentos políticos para

possíveis situações de desenvolvimento daluta de classes no Brasil.

Dessa maneira, nós temos dois pólosde caracterização: o senso comum democrá-tico-burguês, que acompanha a política im-perialista, e considera a derrubada dos dita-dores como parte "da democratização" dassociedades não-ocidentais; e as caracteriza-ções marxistas (nas suas variações stalinista

e trotskista), que saudando também esse pro-cesso de luta de classes como uma "revolu-ção democrática" - e convergindo assim, como próprio discurso burguês.

Portanto, é preciso ter uma análise crí-tica, fundamentada no estudo da realidadeconcreta e orientada por uma teoria revolucio-nária, que supere essas caracterizações equi-vocas.

Por isso, entendemos que é um des-vio e uma deformação tomar as mobilizaçõesde massa como um fim em si mesmo. Asrevoltas que ocorreram e ocorrem no Norteda África mostram que grandes mobiliza-ções populares por si só não conseguemgerar o desenlace revolucionário, apesarde criar as condições propícias.

No caso da Tunísia, o que testemu-nhamos foi uma circulação das elites. Um an-tigo membro da base do Governo se voltacontra ele e assume o poder graças ao movi-mento de oposição. No caso do Egito, a dita-dura individual de Mubarak foi substituída peladitadura coletiva da Junta Militar, com a dis-solução dos protestos pelo exército e umapromessa ainda não cumprida de "eleições".No caso da Líbia, temos um processo maiscomplexo. A guerra civil saudada como umaluta contra a "tirania" - tem na realidade comoexpressão a revitalização de antigos setoresmonarquistas ligados ao colonialismo, e umaconvergência com interesses imperialistasatuais, especialmente dos EUA, que tem res-trições ao governo Kadaffi. Então, longe derevoluções democráticas o que estamostestemunhando, mais uma vez, é oimpasse e o limite do movimento de mas-sas quando se desenvolve sem um setorrevolucionário e socialista.

Mas o mais importante é que a proje-ção da "revolução democrática" do marxis-mo brasileiro mostra o seu projeto nacional einternacional. As caracterizações stalinistase trotskistas que saúdam a "revolução demo-crática" na África projetam o seu modelofrentista de alianças com as burguesias naci-onais e a defesa do desenvolvimento capita-lista. Essa política engendra a contra-revolu-ção, seja pela incapacidade das massas emter uma política independente, seja como naLíbia, o resultado da degeneração no longoprazo da própria revolução burguesa.

O processo na África deve ser sau-dado pelas mobilizações populares, quesinalizam a possibilidade cada vez maiorde uma organização internacional dos tra-balhadores de acordo com o modelo dosindicalismo revolucionário, mas deve sercompreendido criticamente. As greves elutas econômicas são o estopim dessesprocessos, mas para que elas resultem emvitórias efetivas para a classe trabalhadoradevem ser direcionadas por objetivos so-cialistas, para isso se faz necessário a cons-trução de organizações anarquista-bakuninistas a nível internacional e de umacorrente classista internacionalista para re-organizar o sindicalismo revolucionário.

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6 - - - - - Causa do Povo ----- nº58 - Março/Abril de 2011

A eleição do Lula (PT) em 2002foi possível devido a aliançaestabelecida com setores da burgue-sia de origem nacional. Assim, cons-truiu acordo com a burguesia rural,principalmente com União da Indús-tria de Cana-de-Açúcar (UNICA). Nãopor acaso, o Ministro da Agricultura foiRoberto Rodrigues, dirigente da enti-dade. Esta aliança foi estratégica paramanutenção do atual governo. Alémdisso, o crescimento econômico bra-sileiro sustentado pela alta dascommodities favoreceu esta aliança,uma vez que o agronegócio tem re-cebido cada vez mais apoio governa-mental.

Do outro lado, temos observa-do um aumento da exploração do tra-balho sobre os trabalhadores rurais.È importante notar que o governo Lulae a sua sucessora não avançaram emnada na reforma agrária, pelo contrá-rio tem favorecido cada vez mais a bur-guesia rural com a expansão rumo aAmazônia, bem como o projeto detransposição do Rio São Francisco quebeneficiará os exportadores de frutas.

Por sua vez, as principais orga-nizações dos trabalhadores rurais ecamponeses estão hegemonizadospelo governismo como o Movimentodos Trabalhadores Rurais Sem Terra(MST) e a Confederação Nacional dosTrabalhadores na Agricultura(CONTAG). As duas entidadesimplementam uma política de colabo-ração com o governo. A CONTAG sedesfiliou da CUT e está sob forte influ-ência da Central dos Trabalhadores eTrabalhadoras do Brasil (CTB), ligadaao PCdoB, também governista. O pre-sidente da entidade é dirigente da Fe-deração dos Trabalhadores na Agricul-tura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS),entidade que é filiada à central dos “co-munistas governistas”. Por sua vez, o

Agronegócio e asuperexploração dos

trabalhadoressecretário geral é vice-presiden-te da CTB.

Entretanto, a situação demiséria, pobreza esuperexploração do trabalho nocampo tem levado sindicato dostrabalhadores rurais (STR) e ou-tros movimentos de campone-ses, como a Liga Sindical Ope-rária e Camponesa (LSOC), dointerior de São Paulo, a fazer uma

luta combativa por melhores condi-ções de trabalho e de ocupação deterras para pressionar a política de as-sentamento. Estes sindicatos e movi-mentos estão em conflitos com asprincipais empresas do agronegócio,que financiam campanhas e apóiamo atual governo da presidenta DilmaRousseff/PT.

Esta política combativa destessetores do campesinato e dos traba-lhadores rurais tem, no entanto, en-frentado a política hegemônica docampo governista. A direção do MSTtem como política o desgaste de go-vernos estaduais vinculados aos par-tidos da oposição (PSDB, DEM), le-vando em alguns casos a derrota deocupações. A política da CONTAG,CUT e CTB para o campo, tem sido amesma para os trabalhadores urba-nos, negociação e pressões fragmen-tadas.

O setor do governismo atuacom indicação e distribuição de car-gos para dirigentes sindicais e dos mo-vimentos sociais no INCRA e no Mi-nistério do Desenvolvimento Agrário.Passa então a uma mera disputainstitucional para programas como oPronaf (Programa Nacional de Forta-lecimento da Agricultura Familiar), quetem beneficiado muito pouco a mas-sa de camponeses e trabalhadoresrurais.

Assim, é mais do que necessá-rio os trabalhadores do campo rom-perem com as políticascolaboracionistas da CUT, CTB e dosSTR governistas e agirem de formacombativa como alguns sindicatos ru-rais e a Liga Sindical Operária e Cam-ponesa. A independência da classetrabalhadora e a construção de umsindicalismo revolucionário são funda-mentais para melhoria da condição devida do povo.

Ofensiva neoliberal ehegemonia do governismo:o início do governo Dilma Rousseff/PTO governo Dilma/PT começa como

terminou o governo Lula/PT: de um ladoa ofensiva do capital, do outro os traba-lhadores desorganizados por causa dahegemonia governista no interior do mo-vimento sindical e popular.

A aprovação do aumento de 35 re-ais para o salário mínimo em 2011, cer-ca de 6,8% de reajuste, e o corte demais de 50 bilhões do orçamento geralda união para este ano, deixam explíci-tas as principais políticas do “novo go-verno”: arrocho salarial e atendimentodas demandas do capital monopolista.

1. Predomínio da política de arrochosalarial

Tendo ampla maioria na Câmarados Deputados Federais, o governo apro-vou com facilidade o reajuste do saláriomínimo para 545 reais. Um reajuste in-significante de apenas 0,37% acima dainflação, que foi de 6,47% em 2010. Sefor levada em consideração a inflaçãoda cesta básica o reajuste mais insigni-ficante ainda, uma vez que o aumentodos preços dos alimentos superou os10% na maioria das capitais brasileiras.

A atuação das centrais sindicaisgovernistas, CUT, CTB, Força Sindical,etc., foi lamentável, reivindicado timida-mente um reajuste para 580 reais, quan-do a bandeira histórica do movimento éo piso estabelecido pelos cálculos doDIEESE, que em janeiro de 2011 foi es-tipulado em R$ 2.194,76.

A política de arrocho salarial é pre-dominante no Brasil há mais e quatrodécadas. O diferencial do atual momen-to é a cumplicidade do movimento sin-dical e popular governista com essapolítica.

2. A falácia da unidade pregada pelosgovernistas

Para os trabalhadores do serviçopúblico a política salarial é a mesma:arrocho dos salários. Mesmo antes daposse do novo governo, os ministros deestado, especialmente o ministro GuidoMantega, já anunciavam que não seri-am concedidos reajustes aos servido-res. O corte no orçamento de mais de50 bilhões apenas confirmou essa polí-tica.

No corte orçamentário se destacama redução de 3,5 bilhões nas despeçasobrigatórias, isto é, com a folha de pa-gamento. Essa medida atinge especial-mente os concursos públicos, mas nãodeixa dúvidas sobre o congelamento dossalários dos servidores.

Nessa conjuntura desfavorável, osservidores públicos federais, lideradospelas entidades governistas, CUT,CONDSEF, CTB, FASUBRA, e com aparticipação dos setores de oposição,SINASEFE, ANDES e CSP-CONLUTAS, realizaram ato de lança-mento da campanha salarial unificadade 2011. O ato contou com cerca de 5mil participantes.

Sob o comando dos governistas oato foi extremamente rebaixado, marca-do pela presença significativa de parla-mentares e ausência de uma linha clarade reivindicação. Efetivamente não exis-te nada de concreto que possa apontarpara a unidade de fato das lutas, umavez que foi lançada uma campanha sa-larial que não possui índice de reajustea ser reivindicado.

Tudo indica que os governistas irãorepedir a tática das lutas isoladas e dasbandeiras rebaixadas que utilizaram du-rante os últimos oito anos. Por sua vez,os setores de oposição continuam a re-boque dos governistas.

3. Pela construção de um movimentounificado

A unidade dos trabalhadores sópode ser construída a partir de bandei-ras concretas. As reivindicações econô-micas que permitem a melhoria das con-dições de salário e de trabalho. As lutasdevem superar a fragmentação impostapelo capital e pela tática governista.

As estratégias do sindicalismo re-volucionário nesse contexto são: re-construir o movimento pelo trabalhode base; organização das oposiçõesao governismo no interior do movi-mento; articulação de lutas conjuntas;superação das práticas e ideologiascorporativistas; articulação das lutasunificadas em torno de reivindicaçõeseconômicas; adoção da ação diretacomo estratégia privilegiada.

Romper como o governismo!Pela construção de um

sindicalismo revolucionário!

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Jornal da União Popular Anarquista - UNIPA - nº58 - 7

Dia 15 de dezembro, os par-lamentares da câmara dos depu-tados resolveram conceder a simesmos um aumento salarial quetrabalhador nenhum até hoje tevedireito. A votação desta medidadecidiu por aumentar os saláriosde deputados e senadores em61,8%, de presidente da repúbli-ca e seu vice em 133,9% e de mi-nistros em 149%. Assim, todos osburocratas do Estado igualamseus recebimentos em R$27 mil.Este salário, no entanto, é apenasa ponta do iceberg que denuncia,por um lado, os privilégios econô-micos da classe política brasilei-ra, uma vez que seus benefíciose auxílios (moradia, telefone, via-

jem, gasolina, 13º, 14º, 15º salá-rio e etc.) ultrapassamexorbitantemente o já alto salário;e denuncia, por outro lado, seusprivilégios da centralização polí-tica, inerentes ao exercício parla-mentar do Estado, cujo resultadoé a exclusão da classe trabalha-dora do poder de decisão na po-lítica brasileira.

A situação piora quandocontrastamos esta realidade coma vida da classe trabalhadora denosso país. As recentes enchen-

tes, deslizamentos de terra esoterramentos na região serranado Rio de Janeiro, que matarammais de 800 vidas, em sua maio-ria trabalhadores, aposentados edonas de casa, receberam umatendimento emergencial do Go-verno Federal de apenas780 milhões. Para se teruma idéia, somente o custoanual dos 81 senadores seaproxima dos 3 BILHÕESDE REAIS retirados dos co-fres públicos1.

O aumento irrisório dosalário mínimo dos traba-lhadores também é exem-plar. A proposta do Gover-no Federal-PT/PMDB,

Dilma Rousseff, já aprovada pelocongresso concede um aumentomiserável de R$35 aos trabalha-dores (545 reais). Enquanto os par-lamentares se dão aumento na or-dem dos 10 mil, este aumento demenos de 7% aos trabalhadoressupera apenas simbolicamente ameta da inflação para 2011. Deacordo com o IBGE, vivem hoje noBrasil cerca de 50 milhões de pes-soas com apenas um salário mí-nimo, entre trabalhadores, apo-sentados e pensionistas. Para nos-

so povo, com o aumento do custode vida, sentido diariamente nopreço dos alimentos nos super-mercados, estes 35 reais sequerrepresentam aumento do poderde compra real. Enquanto o Go-verno Dilma prevê corte de 50 BI-

LHÕES do orçamento para 2011e reserva outros BILHÕES parapagamento da dívida pública. Àclasse trabalhadora sobram ape-nas as migalhas tendo, nós mes-mos, que pagar as contas da cri-se e negociatas dos capitalistas.

Diante destas injustiças, es-tudantes e trabalhadores realiza-ram cerca de 4 manifestações emBrasília. No dia 1º de fevereiro,quando da volta das férias dosparlamentares ao congresso, cer-ca de 250 manifestantes ocupa-ram o prédio do Ministério do Tra-balho. A reivindicação passou aser, além da revogação imediatado aumento salarial dos congres-sistas, aumento de 62% ao salá-rio mínimo dos trabalhadores eaumento da destinação do PIB em10% para a educação pública. Aação combativa dos companhei-ros aponta o caminho acertadopara a classe trabalhadora brasi-leira: o enfrentamento direto dasmassas e sem os conchavos daslideranças sindicais governistascom os burocratas do Estado.

Aumento salarial dos parlamentares: privilégios aosburocratas, miséria aos trabalhadores

Apesar das aclamações derepúdio ao aumento questiona-rem a falta de ética dos deputa-dos, esta prática não deve serentendida no âmbito moral ou pes-soal. O parlamento, em sua estru-tura e legislação, permite que os

próprios parlamen-tares aumentemseus salários. Querdizer, eles não fize-ram nada mais doque o uso de suasatribuições legais.É preciso compre-ender isto para nãocairmos no erro deque a solução seria“votar em deputa-dos mais éticos,limpos ou hones-tos” (sic) para alte-rar as regras legais

deste jogo pelas próprias vias“imundas” e viciadas das eleições. Alterar as regras legais do Esta-do é uma medida de cunho refor-mista que visa maquiar as conse-qüências do problema e desviar-nos da solução definitiva de suasverdadeiras causas. Ela retira acentralidade do movimento dostrabalhadores de resolverem seusproblemas pela luta substituindopela ação de partidos eleitorais. O Estado trabalha nos limites de-terminados pelo sistema econômi-co capitalista, que o faz ser agen-te produtor e reprodutor da acu-mulação de capital e, portanto,das desigualdades de classe. Oscapitalistas sustentam o Estado eo Estado sustenta os capitalistas.O Estado, então, é também umagente responsável pela explora-ção dos trabalhadores, impossívelde ser moralizado.

_______________1- Segundo levantamento

da ONG Transparência Brasil.

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8 - - - - - Causa do Povo ----- nº58 - Março/Abril de 2011

Desde o ano de 2007, a União Po-pular Anarquista (UNIPA) em seu III Con-gresso tinha apontado para duas tarefasde médio-longo prazo: a reconstrução deuma organização política tipo-Aliança euma organização de massas tipo-AIT. Es-sas duas organizações se diferenciamde todas as atuais pelo seu caráter in-ternacional, em termos de estrutura epela interpretação específica que dá aointernacionalismo, na teoria e ação.

Visando dar encaminhamentoconcreto, a UNIPA e a OPAR (Organiza-ção Popular Anarquista Revolucionária,do México) iniciaram ainda em 2009 umdebate político que ganhou contornosmais precisos no ano de 2010. O acordoinicial, e ainda em vigor, indica a neces-sidade de começar um trabalho de pro-paganda e agitação internacional quevise à realização desses objetivosorganizativos.

Esse processo de construção in-ternacional, de médio-longo prazo, pas-sa por duas tarefas básicas: 1º a cons-

trução de uma plataforma internacional queaponte os fundamentos teóricos,programáticos e estratégicos para orientara ação política; 2º) o trabalho de constru-ção nacional em cada país, de organiza-ções anarquistas revolucionárias e de nú-cleos de uma corrente classista einternacionalista de trabalhadores.

Essas tarefas mostram toda sua ur-gência na atual conjuntura internacional. Aexperiência recente tem mostrado que aluta de classes tem continuado e seaprofundado em todo o mundo. Na Améri-ca Latina, no período 1999-2007, váriasjornadas de luta, com um grande movimen-to de massas se deram na Argentina,Equador e Bolívia só para citar os casosmais destacados. Hoje, depois da crise de2008, as grandes mobilizações na Gréciae França apontam para retomada eradicalização das lutas. No inicio de 2011,as lutas na Tunísia e Egito contra as auto-cracias reacionárias mostram a força dasmobilizações populares.

Ou seja, o movimento de

reestruturação global do capital, com seusdeslocamentos de ofensivas e crises, pro-voca reações no centro e nas periferias docapitalismo. A questão é que enquanto ocapital tem aprofundado seu processo deinternacionalização, as lutas dos trabalha-dores não rompem o modelo dosindicalismo social-democrata ecorporativista, nem do fetiche da “revolu-ção democrático-burguesa”, circunscritosao espaço nacional.

As atuais lutas no Egito e Tunísiamostram o entusiasmo das lutas popula-res. Mas essas lutas encontrarão os mes-mo limites que as lutas da década prece-dente na América Latina: a ausência deum programa e uma estratégia socialistarevolucionária, e de organizações que amaterializem. As lutas latino-americanasforam dissolvidas dentro dos governos na-cionais burgueses que começam a mos-trar sua decomposição enquanto alternati-vas para as massas.

Por isso, é fundamental a recons-

trução das organizações revolucionáriase classistas-internacionalistas em esca-la internacional. E essa reconstrução pas-sa pela convocação imediata da cons-trução de uma rede de organizaçõesplataformistas-bakuninistas e pela cons-trução de núcleos de uma correnteclassista-internacionalista dos trabalha-dores. A rede e a corrente seriam embri-ões da futura Aliança e futura AIT.

A função da rede anarquista seriaarticular essa luta internacional, nos paí-ses do centro e periferia, com a constru-ção de grupos políticos nacionais doanarquismo revolucionário. A rede por suavez começaria a organizar a construçãoda corrente classista e internacionalista,como forma de luta política contra a dire-ção reformista e burguesa das organiza-ções dos trabalhadores.

É nesse sentido que a UNIPA e aOPAR vem enfrentando o desafio de ela-borar uma proposta de construção inter-nacional. E essa proposta, esperamos,será concretizada em breve.

A União Popular Anarquista(UNIPA), assim como os trabalhadores ea população pobre da Região Serrana doEstado do Rio de Janeiro está de luto. Nes-se momento declaramos que os mortossão nossos mortos, os desabrigados sãonossos desabrigados. São mortos da clas-se trabalhadora. Vitimados não pelas “for-ças da natureza”, mas pelas seguidas po-líticas segregacionistas da classe domi-nante e do Estado. Assim assumimos umadupla responsabilidade: solidarizarmo-noscom a população trabalhadora vitimada edenunciamos a responsabilidade do Esta-do.

O temporal de verão que atingiu aregião serrana do Rio de Janeiro não é ne-nhuma novidade, assim como a morte detrabalhadores. Em Nova Friburgo, em 2008,também em janeiro, houve mortes edesabrigados. Em 2009, as chuvas inun-daram a região de Itajaí, em SantaCatarina, e mataram 135 pessoas. Maisde 35 mil catarinenses ficaram desaloja-dos. Em janeiro de 2010, 53 morreram emAngra dos Reis e Ilha Grande. Três mesesdepois, o estado do Rio de Janeiro amar-gou a morte de mais 257 pessoas, 168delas na cidade de Niterói.(Veja o Comu-nicado Nº 30 – abril 2010)

A Culpabilização dos Pobres,descriminação e segregação

O histórico processo de urbaniza-ção, segregação e especulação imobiliá-ria são fundamentais para explicar as ca-racterísticas da tragédia e sua relação como conflito de classes e a acumulação decapital.

O processo de urbanização impôsa segregação sócio-espacial. Os baixos sa-lários pagos aos trabalhadores e a reservade áreas nobres para a especulação imo-biliária levaram o povo a ocupar áreas emcondições precárias. Na grande maioria dasvezes já degradas ambientalmente. Assim,passaram a viver em condições precári-as, sem transporte, saúde, creche, edu-cação e saneamento. Ao mesmo tempo,os trabalhadores que são super-explora-dos, com baixíssimos salários, sãoculpabilizados pelas tragédias e pela de-gradação ambiental. Portanto, os baixossalários (que não garantem uma moradiadigna) garantem um maior lucro para osempresários, o estado não se responsabi-liza pelas condições de moradia e aindareserva áreas para os empresários da es-peculação lucrarem cada vez mais.

Com a culpabilização do povo tam-

bém temos o velho argumento de que adas “forças da natureza”, fruto do aqueci-mento global, causara essa situação. Em-presários e Estado lavam as mãos. Oreacionarismo dos políticos locais e doPMDB estadual, na figura do vice-gover-nador Pezão logo apareceu. Na cidade deNova Friburgo, implementado o Estado deEmergência e terminada as primeiras bus-cas, iniciou-se a demolição das residênci-as dos trabalhadores nos bairros mais po-bres, sem que o mesmo acontecesse nohotel do teleférico. Dias depois, colocou-se em prática a política de segregaçãosócio-espacial com o anuncio de criaçãode um conjunto de casas populares emuma fazenda da região.

As centenas de mortos e milharesde desabrigados têm responsável: o Esta-do e os empresários. Por isso é precisoretomar o Programa Popular de emergên-cia que anunciamos na ocasião do desa-bamento do Morro do Bumba em Niterói.Isto significa que é necessário organizar eagir concretamente em conjunto com asmassas, especialmente as vítimas, fazen-do assim da ação direta de classe o princi-pal elemento de combate as tragédias eseus efeitos.

Apresentamos três propostas como

elemento emergencial, para que se cons-tituam as mobilizações populares pelo di-reito à moradia: desapropriação de Imóveisabandonados à especulação imobiliária degrandes empresários e capitalistas paraassentamento de famílias dosdesabrigados; indexação dos alugueis eprestação de imóveis, com a fixação deum aluguel simbólico para as famílias dasvítimas que seria revertido a um fundo con-trolado pelos trabalhadores para re-inves-timento em auxílios sociais; e destinaçãode 50% dos royalties do petróleo para aconstrução ou recuperação de habitaçõespopulares dignas, de maneira que toda atagarelice feita sobre tal tema fosse supe-rada.

Nesse sentido, é preciso que asentidades sindicais, de moradores e estu-dantis construam Comitês de Luta contraa Segregação Urbana e DiscriminaçãoAmbiental. É preciso também que os pró-prios trabalhadores dos locais atingidos edesabrigados organizem Comissões Popu-lares de Base, para organizar a luta peloprograma emergencial acima apresentado.Essas comissões devem promover a ocu-pação imediata dos imóveis desabitadosdestinados à especulação.

A política de segregação da classe dominantedesabriga e mata os trabalhadores

A Construção Internacional do AnarquismoRevolucionário