CENÁRIOS PROSPECTIVOS: ESTUDO BIBLIOMÉTRICO DE … · 2016-08-11 · palavras da Figura 2. A nuvem de palavras foi formada a partir do uso do programa Wordle, o qual permite a visualização

CENÁRIOS PROSPECTIVOS: ESTUDO

BIBLIOMÉTRICO DE ARTIGOS INDEXADOS NA

BASE SCOPUS

Fernanda de Carvalho Pereira (UFF)

[email protected]

MARTA DUARTE DE BARROS (UFF)

[email protected]

ALTINA SILVA OLIVEIRA (UFF)

[email protected]

Carlos Francisco Simoes Gomes (UFF)

[email protected]

Helder Gomes Costa (UFF)

[email protected]

A utilização de cenários prospectivos tem sido objeto de discussão por

empresas de diferentes setores. O presente artigo tem como objetivo

apresentar uma compilação das informações sobre prospecção de cenários

na literatura. Foi realizada uma pesquisa bibliométrica na base Scopus,

acessada a partir do Portal de Periódicos da Capes, em abril de 2015, de

forma a identificar quais anos, autores, instituições, periódicos, áreas e

países têm obtido destaque no que tange o assunto cenários prospectivos.

Foram encontrados 60 artigos indexados na Scopus sobre o tema, dos quais

apenas 9 eram do Brasil. Deste modo, espera-se que esse trabalho contribua

para a construção de uma visão global da literatura existente sobre cenários

prospectivos, de forma a estimular que mais pesquisadores brasileiros se

interessem pelo tema.

Palavras-chave: Cenários prospectivos, Pesquisa bibliométrica, Scopus

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.




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1. Introdução

A aplicação de técnicas prospectivas à formulação de estratégia e definição de prioridades tem

aumentado de maneira drástica ao longo dos últimos dez anos (JOHNSTON, 2000), visto que

grandes transformações têm ocorrido desde a virada do século XX. Isso tem marcado o

contexto socioeconômico atual e de décadas futuras, tornando uma difícil tarefa acompanhar

os processos transformadores proporcionados pelos avanços da ciência e da revolução

tecnológica, e aumentando a complexidade na definição de estratégias que garantam a

sobrevivência das organizações no ambiente competitivo (OLIVEIRA; FORTE, 2010).

A atividade prospectiva define-se como um processo mediante o qual se chega a uma

compreensão maior das forças que moldam o futuro de longo prazo e que devem ser levadas

em conta na formulação de políticas, no planejamento e na tomada de decisões. Dessa forma,

a atividade prospectiva está estreitamente vinculada ao planejamento (COATES, 1985).

Para Moritz et al. (2010) planejar através do estudo de cenários prospectivos significa

formular estratégias que vão ajudar a definir a vida das organizações no seu futuro.

O planejamento de cenários também admite a existência de uma incerteza. Isso, inserido na

cultura organizacional, proporciona aos gestores um diferencial estratégico que, além de

diminuir os riscos na tomada de decisão e elevar a probabilidade de acerto considerando essas

mudanças inevitáveis, permite conduzir a empresa com maior assertividade na manutenção do

seu negócio, pois oferece melhores condições de competitividade e de adaptação

(RODRIGUES; ROJO; BERTOLINI, 2013).

Para Schwartz (2000) os cenários são plataformas para conversações estratégicas que levam à

aprendizagem organizacional continuada a respeito de decisões-chave e prioridades.

As organizações devem compreender que o planejamento baseado em tendências (imaginar

que o passado se repetirá em algum momento do futuro) já se torna pouco efetivo, já que

descontinuidades nos ambientes organizacionais são cada vez mais emergenciais (JUNIOR;

OLIVEIRA; KILIMNIK, 2010).

Marcial (1999) afirma que, em um ambiente turbulento, a definição de estratégias torna-se




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uma tarefa árdua para uma empresa que não dispuser de ferramentas adequadas, já que os

métodos antigos baseados em tendências não se aplicam a esse novo contexto.

Diante deste cenário, surge o seguinte questionamento: Quais são os autores, anos,

instituições, áreas, periódicos e países com maior número de publicações referentes ao

termo cenários prospectivos?

O presente artigo tem como objetivo apresentar uma compilação das informações sobre

prospecção de cenários encontrada na literatura, fornecendo diferentes tipos de análises

comparativas e aplicações deste modelo, conforme apresentado no item 4. Deste modo,

espera-se como contribuição deste trabalho estabelecer um referencial bibliográfico,

formando um núcleo inicial, que possibilite uma visão global das aplicações dos cenários

prospectivos existentes no âmbito das organizações empresariais, uma vez que a seleção do

modelo de cenários prospectivos tem sido objeto de discussão por empresas de diferentes

áreas de negócio, assim como motivação de estudo de pesquisadores atuantes no meio

acadêmico.

O presente trabalho justifica-se por apresentar um tema atual, visto que a adoção de modelos

eficazes contribui para tomada de decisão nas organizações e, consequentemente, contribui

para qualidade e resultados da organização.

Na seção 2, é descrito conceito e um breve histórico de cenários prospectivos a ser utilizado

neste artigo. A seção 3 descreve o método de pesquisa aplicado nesta revisão; a seção 4

apresenta os resultados obtidos na pesquisa bibliométrica; e a seção 5 encerra com a

conclusão.

2. Cenários prospectivos

O estudo de cenários pode ser definido como uma forma de acontecimentos que venham a

ocorrer no futuro, pautado em uma lista limitada e estruturada com as possíveis situações

futuras. Segundo Carvalho (2009), esta metodologia permite à organização entender o

ambiente e como a mesma se desenvolve ao longo do tempo, preparando-se previamente para

um cenário que venha se tornar real.

Modelar cenários futuros tornou-se uma ferramenta de uso das agências de inteligência, civil




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e militar, dos governos que utilizam de planejamento estratégico, das grandes empresas, além

das inúmeras aplicações científicas nos mais diferenciados campos, como meteorologia,

astronomia, ciências ambientais, economia, marketing, finanças e demografia (POLESI,

2006). Quem prospecta o futuro e age proativamente possui maiores chances de sucesso que

seus concorrentes (STURARI, 2008).

Deste modo, ao planejar utilizando o estudo de cenários prospectivos, estratégias são

elaboradas com intuito de ajudar os gestores a definir a vida das organizações, através das

mais diferentes metodologias, e com isso definirem melhor as incertezas do ambiente, a fim

de construir um futuro melhor (MORITZ et al., 2010).

De acordo com Johnston (2000) o destaque dos analistas de gestão ocorre no fato de que

transformações qualitativas estão acontecendo nas estruturas e atitudes, visto que o passado

não apresenta nenhuma direção para o futuro e há necessidade de as empresas desenvolverem

modelos voltados ao planejamento e operação diferentes para superar essa incerteza e a

mudança.

Para Godet (2000) não existe um único método quando se desenvolve cenários, mas infinitos

métodos que propiciam sua construção, sendo alguns mais simples e outros mais elaborados.

Contudo, esse autor afirma que existe consenso na aplicação do método de cenários apenas

para uma abordagem que contenha um número de etapas específicas inter-relacionadas —

análise de sistemas, retrospectiva, estratégia dos atores e elaboração de cenários.

Shoemaker (1995) afirma que através do planejamento de cenários há uma ampliação na

forma de vir às possibilidades, dividindo o conhecimento em duas áreas: (1) situações que o

gestor acredita que conhece e (2) elementos considerados incertos ou desconhecidos.

Santos et al. (2004) apresenta duas categorias de cenários: os cenários exploratórios que

mostram as tendências passadas e presentes, e o desenvolvimento em tendências futuras e os

cenários antecipatórios, também conhecidos como normativos, cenários construídos com base

em possíveis visões de futuros, indicando cenários desejáveis e cenários que devem evitar.

Para Sturari (2008) é importante enfatizar que cenários são elaborados com a finalidade de

reduzir as incertezas e orientar as decisões dos gestores estratégicos sobre como construir o




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melhor futuro possível. Portanto, ninguém deve fazer cenários com o intuito de adivinhar,

predizer ou prever o futuro.

Segundo Machado, Souza e Valverde (2010) se o objetivo das organizações é baseado na

lucratividade, no crescimento e na sobrevivência, projetar cenários futuros torna-se um

estímulo estratégico, visto que a antecedência em superar as barreiras, propicia às

organizações alcançarem seus objetivos.

É importante ao elaborar cenário fazer descrições consistentes e possíveis de situações

futuras, e não predizer algo, conhecendo a situação real e cada cenário futuro, destacando os

fatores relevantes às decisões que precisam ser tomadas (WRIGHT & SPERS, 2006;

SHOEMAKER; 1995). Definir cenários para um país é mapear futuros prováveis, identificar

tendências e incertezas, e antecipar oportunidades e ameaças (WRIGHT; SILVA; SPERS,

2010).

De acordo com Shoemaker (1995) o processo de desenvolvimento de cenários divide-se em

dez etapas: definir o Escopo; identificar os principais stakeholders; identificar tendências

básicas; identificar principais incertezas; construir temas cenário inicial; verificar se há

coerência e a plausibilidade; desenvolver cenários de aprendizagem; identificar necessidades

de pesquisa; desenvolver modelos quantitativos; e evoluir para decisão de cenários.

Wright e Spers (2006) descrevem sete etapas: definição do escopo e dos objetivos dos

cenários; identificação das variáveis, tendências e eventos fundamentais; estruturação das

variáveis dos cenários; projeção dos estados futuros das variáveis e sua probabilidade de

ocorrência; identificação de temas motrizes dos cenários; montagem de uma matriz

morfológica para cada cenário; redação e validação dos cenários. O ponto crucial dessa

abordagem é de que os cenários devem ser elaborados para melhorar a base de informações e

a compreensão sobre decisões que precisam ser tomadas no presente para assegurar objetivos

futuros e estratégias robustas (WRIGHT E SPERS, 2006).

3. Metodologia

O trabalho bibliométrico em questão é descritivo e exploratório com abordagem quantitativa,

a partir do uso de ferramentas da Estatística Descritiva.




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Este estudo foi estruturado em duas etapas:

1. Revisão bibliográfica: foi realizada a partir de pesquisas realizadas em periódicos acessados

através do Portal de Periódicos da Capes.

2. Levantamento Bibliométrico: foi realizada uma pesquisa bibliométrica na base Scopus,

acessada a partir do Portal de Periódicos da Capes em abril de 2015, com a expressão

―prospective scenarios‖ por article title, abstract e keywords, e tipo de documento article.

O objetivo do levantamento bibliométrico foi fazer uma análise dos artigos que abordam o

tema cenários prospectivos, a partir dos seguintes tópicos:

a) Quantitativo de artigos por ano;

b) Análise das palavras-chave;

c) Análise do país de origem;

d) Instituições mais representativas;

e) Autores com maior número de publicações;

f) Periódicos com maior número de publicações;

g) Áreas do conhecimento em destaque.

4. Resultados

A pesquisa bibliométrica realizada na base Scopus considerou a expressão ―prospective

scenarios" por article title, abstract e keywords, e tipo de documento article, gerando 60

registros.

4.1. Quantitativo de artigos por ano

De acordo coma Figura 1, os artigos presentes na área de cenários prospectivos tiveram início

em 1989, porém só a partir de 2002 tornaram-se mais frequentes, tendo seu ápice em 2013

com 11 artigos. Como a pesquisa foi realizada em abril de 2015, foram identificados apenas 3

artigos para o ano de 2015, mas comparando os anos de 2013 e 2014 pode-se perceber um

decréscimo de 28% no número de publicações nesse assunto.

Figura 1 – Número de artigos publicados por ano




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Fonte: Dados da Scopus. Elaborado pelos autores

4.2. Análise das palavras-chave

As palavras-chave dos periódicos resultantes da pesquisa, podem ser observadas na nuvem de

palavras da Figura 2. A nuvem de palavras foi formada a partir do uso do programa Wordle, o

qual permite a visualização das palavras em tamanho proporcional a frequência em que as

mesmas aparecem na pesquisa.

De acordo com a nuvem observada na Figura 2, pode-se concluir que os artigos, em sua

maioria, tratam de cenários prospectivos atrelados a elaboração de modelos, passíveis de

aplicação em diferentes setores, principalmente, o de Energia, com propostas visando o

desenvolvimento de inovações. Vale salientar, que 7 artigos dos 60, não possuíam palavras-

chave, e por isso, não foram considerados na pesquisa.

Figura 2 – Nuvem de palavras-chave dos artigos da pesquisa




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Fonte: Wordle (http://www.wordle.net/create).

4.3. Análise do país de origem

A Figura 3 apresenta o quantitativo de artigos por país resultantes da pesquisa. A França

apresenta 26 artigos, se destacando perante os demais, e o Brasil aparece em segundo lugar

com apenas 9 artigos.

Figura 3 – Número de artigos por país

http://www.wordle.net/create




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4.4. Instituições mais representativas

As instituições com mais de 1 artigo indexado na Base Scopus abordando cenários

prospectivos podem ser observadas na Figura 4. O Centro Nacional da Pesquisa Científica

(França) possui 3 publicações com a utilização de cenários prospectivos. As demais

instituições da Figura 4, possuem 2 publicações cada, sendo a maioria delas localizadas

também na França. Uma das poucas exceções é a Universidade Nova de Lisboa, localizada

em Portugal.




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Figura 4 – Instituições mais representativas na área


4.5. Autores com maior número de publicações

Segundo a Figura 5, os artigos apontados pela pesquisa são de diferentes autores, não

havendo, aparentemente, uma grande referência na área, tendo sido destacados apenas os

autores com mais de 1 publicação, são eles: Chakareski, J., Demicheli, L., Even, S., Billen,

G., Garnier, J., Barredo, J.I., Blanc, S., Paffoni, C., Poulin, M. e Ruelland, D.




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Figura 5 – Autores com maior número de publicações na área


4.6. Periódicos com maior número de publicações

A Revista Energy Policy se destaca dentre os periódicos que abordam cenários em suas

pesquisas, junto a Agricultural Systems com 3 publicações cada. De forma geral, não há uma

maior preferência por um journal em particular, estando as publicações em periódicos

diversos (Figura 6).




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Figura 6 – Número de publicações por periódico




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4.7. Áreas do conhecimento em destaque

De acordo com a Figura 7, que aborda o percentual de artigos por área do conhecimento, a

área Environmental Science engloba 24% dos artigos, seguida da Social Sciences (17%),

Energy (10%) e Agricultural and biological Sciences (9%).

Figura 7 – Artigos por área do conhecimento

Fonte: Dados da Scopus (2015). Elaborado pelos autores

5. Conclusão

O planejamento de cenários tem sido cada vez mais utilizado como instrumento para testar e

melhorar o desempenho das organizações em ambientes dinâmicos. Com a revisão

bibliográfica, percebeu-se que cenários prospectivos é uma técnica utilizada por muitas




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organizações ao prever o futuro, visto que o planejamento tornou um fator determinante para

a sobrevivência das mesmas.

A partir da bibliometria realizada neste trabalho, um núcleo de partida para a pesquisa

cenários prospectivos foi gerado, abrangendo artigos distribuídos por diferentes anos da

produção científica do termo pesquisado, a fim de obter uma cobertura mais consistente e

ampla.

A partir das 255 palavras-chave encontradas na amostra, observa-se que uma grande

quantidade de palavras contribui para a seleção e identificação dos trabalhos, isso pode ser

observado na Figura 2, que apresenta palavras como prospective, scenarios, model, energy,

innovation, dentre outras.

Os resultados obtidos possibilitam inferir que há indícios de um número ainda bastante

incipiente de publicações no tema Cenários Prospectivos no Brasil (9 artigos), principalmente,

quando comparado a França, com 26 artigos.

Dessa forma, o presente artigo atendeu ao objetivo proposto de apresentar um estudo

bibliométrico compilando quais anos, autores, instituições, áreas e países têm obtido destaque

no que tange o assunto cenários prospectivos, segundo as informações extraídas na base

Scopus.

Como sugestões para trabalhos futuros, um estudo semelhante incluindo outras bases como

Science Direct, ISI (Web of Science), pode fornecer outras informações e ampliar o

conhecimento sobre a utilização de ferramentas para prospectar os cenários.

Como limitação do estudo percebe-se que não foi possível obter uma classificação geral em

relação a outras bases, visto que a bibliometria considerou apenas uma base de dados

(Scopus).

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http://www.wordle.net/create

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