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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FEI GENIVAL FRANCISCO DA SILVA JUNIOR MARCELO CERVANTES DEL RIO BAPTISTA MARIANA GONÇALVES SPANGHERO PROJETO E GESTÃO ESTRATÉGICA COM FOCO EM QUALIDADE DO SERVIÇO: um estudo de caso no terceiro setor São Bernardo do Campo 2011

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FEI

GENIVAL FRANCISCO DA SILVA JUNIOR

MARCELO CERVANTES DEL RIO BAPTISTA

MARIANA GONÇALVES SPANGHERO

PROJETO E GESTÃO ESTRATÉGICA COM FOCO EM QUALIDADE DO

SERVIÇO: um estudo de caso no terceiro setor

São Bernardo do Campo

2011

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GENIVAL FRANCISCO DA SILVA JUNIOR

MARCELO CERVANTES DEL RIO BAPTISTA

MARIANA GONÇALVES SPANGHERO

PROJETO E GESTÃO ESTRATÉGICA COM FOCO EM QUALIDADE DO

SERVIÇO: um estudo de caso no terceiro setor

Trabalho de Conclusão de Curso,

apresentado ao Centro Universitário

da FEI, como parte dos requisitos

necessários para obtenção do título

de Bacharel em Engenharia de

Produção, orientado pela Profª.

Susana Salomão

São Bernardo do Campo

2011

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GENIVAL FRANCISCO DA SILVA JUNIOR

MARCELO CERVANTES DEL RIO BAPTISTA

MARIANA GONÇALVES SPANGHERO

PROJETO E GESTÃO ESTRATÉGICA COM FOCO EM QUALIDADE DO

SERVIÇO: um estudo de caso no terceiro setor

Trabalho de Conclusão de Curso I – Centro Universitário da FEI

Comissão julgadora

______________________________________

Orientador e Presidente

______________________________________

Examinador

______________________________________

Examinador

São Bernardo do Campo

2011

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AGRADECIMENTOS

Às nossas famílias, pelo apoio, incentivo e amor incondicional que colaboraram

para chegarmos até o final do curso de Engenharia de Produção.

À Profª Susana Salomão, pelas horas dedicadas nas orientações e pela

preocupação em transmitir todo o conhecimento necessário para a elaboração deste

trabalho, com um companheirismo que foi além da relação professor-alunos.

Ao Profº Sanfo, pelas aulas e pela orientação dadas que muito colaboraram para

a elaboração deste trabalho.

À FEI, por nos proporcionar um curso de excelente qualidade e sólida formação,

que nos possibilita enfrentar e vencer os desafios que esta profissão apresenta.

À ONG Rede Interação, por permitir que nós a estudássemos e pela atenção

dada desde os primeiros encontros, em todos os detalhes.

Às moradoras da Vila Real Eli Santana e Priogênita, por nos acompanharem

com toda a boa vontade durante todo o dia em que fizemos as entrevistas com os

moradores da comunidade.

À Dayane, pela paciência e carinho durante todo o período que durou a

elaboração deste trabalho.

Aos amigos Fábio Damasceno e Renata Madona pela providencial ajuda nos

momentos finais de formatação e impressão deste trabalho.

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RESUMO

O terceiro setor surgiu como consequência de algumas deficiências do Estado

em cumprir suas obrigações sociais. Entretanto, apesar do aumento significativo da

demanda destas questões, este setor ainda carece de ferramentas específicas de gestão.

Tal cenário traduz-se em um campo de oportunidades para a Engenharia de Produção,

que detém conceitos de engenharia organizacional que podem ser adaptados em

modelos de análise. Conceitos como qualidades em serviços com resultados ulteriores,

gestão de projetos, gestão de mudanças e redes organizacionais são traduzidos em dois

modelos de análise: um modelo de maturação e um modelo de indicadores agrupados

em seis dimensões da qualidade, adaptado do método dos incidentes críticos de Hayes,

utilizado em um trabalho de Heckert (2001). O teste destes modelos na ONG Rede

Interação permite um estudo de caso amplo, em que são identificadas aplicações de

Engenharia de Produção na gestão do terceiro setor. A ONG trabalha com projetos de

regularização fundiária em comunidades de baixa renda, por meio da organização destas

em torno de uma metodologia de cunho internacional. Tal missão se trata de uma das

formas mais nobres de atuação no terceiro setor: a promoção de organização social.

Palavras chave: Terceiro Setor, Qualidade em Serviços, Desenvolvimento Social

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ABSTRACT

The third sector has emerged as a result of some shortcomings of the state to

fulfill its social obligations. However, despite the significant increase in demand of

these issues, this sector still lacks specific management tools. This scenario translates

into a range of opportunities for Production Engineering, which owns organizational

engineering concepts that can be adapted in analysis models. Concepts such as quality

of services with further results, project management, change management and

organizational networks are translated into two analysis models: a maturity model and

an indicator model grouped into six dimensions of quality, adapted from the method of

critical incidents from Hayes, used in a research by Heckert (2001). The tests of these

models in the "NGO Rede Integração" allows a comprehensive case of study, which

identifies applications of Industrial Engineering in the management of the third sector.

The NGO works with land regularization projects in low-income communities through

the organization of these around a methodology of international nature. This mission it

is one of the highest forms of performance in the third sector: the promotion of social

organization.

Keywords: Third Sector, Quality Services, Social Development

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Processos em serviços. ...................................................................... 17

Figura 2 – Sequência de recursos em uma organização ..................................... 23

Figura 3 – Casas da comunidade da Vila Real ................................................... 39

Figura 4 – Ruas de terra na comunidade da Vila Real........................................ 41

Figura 5 – Modelo de implementação e maturidade de projetos ........................ 43

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Indicadores quantitativos da dimensão infra-estrutura ...................... 51

Tabela 2 - Indicadores quantitativos da dimensão social ................................... 52

Tabela 3 - Indicadores quantitativos da dimensão política ................................. 53

Tabela 4 - Indicadores quantitativos da dimensão cultural................................. 54

Tabela 5 – Indicadores quantitativos da dimensão econômica ........................... 55

Tabela 6 - Indicadores quantitativos da dimensão legal ..................................... 56

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Literatura sobre Operações de Serviços, Dimensões da Qualidade e

Redes Organizacionais. .................................................................................................. 24

Quadro 2 - Parâmetros de qualidade envolvidas. ............................................... 33

Quadro 3 - Parâmetros de qualidade envolvidos ................................................ 34

Quadro 4 - Parâmetros analisados através de entrevistas. .................................. 35

Quadro 5 - Indicadores qualitativos da dimensão Infraestrutura. ....................... 57

Quadro 6 - Indicadores qualitativos da dimensão Político. ................................ 58

Quadro 7 - Indicadores qualitativos da dimensão Econômico. .......................... 58

Quadro 8 - Indicadores qualitativos da dimensão Legal..................................... 58

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7

1.1 Justificativa do trabalho ........................................................................................ 9

1.2 Delimitação do tema ............................................................................................. 10

1.3 Objeto de estudo .................................................................................................... 11

1.4 Objetivo principal ................................................................................................. 11

1.5 Objetivos secundários ........................................................................................... 12

1.6 Questões de pesquisa ............................................................................................ 12

1.7 Plano do trabalho .................................................................................................. 12

2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................. 13

2.1 Histórico das ONGs no Brasil ............................................................................. 13

2.2 As operações de serviço ........................................................................................ 15

2.2.1 As operações de serviço em organizações com fins lucrativos ............. 17

2.2.2 As operações de serviço em organizações sem fins lucrativos .............. 18

2.3 Redes organizacionais no terceiro setor ............................................................ 19

2.4 Qualidade nas organizações do terceiro setor .................................................. 20

2.5 Gestão de Projetos ................................................................................................. 25

2.6 Contexto nacional do cenário habitacional ....................................................... 27

2.7 Regularização fundiária no Brasil ..................................................................... 27

3 METODOLOGIA DE TRABALHO .................................................................... 29

3.1 Seleção da unidade de pesquisa .......................................................................... 29

3.2 Metodologia de pesquisa ...................................................................................... 29

3.3 Metodologia para coleta de dados ...................................................................... 31

4 A SDI – REDE INTERAÇÃO ............................................................................... 35

4.1 Histórico.................................................................................................................. 35

4.2 Missão...................................................................................................................... 36

4.3 Metodologia usada pela Interação...................................................................... 36

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4.3.1 Poupança comunitária ................................................................................ 36

4.3.2 Auto-recenseamento .................................................................................... 37

4.3.3 Intercâmbio ................................................................................................... 38

4.4 Campo de atuação ................................................................................................. 38

4.4.1 Regularização fundiária ............................................................................. 38

4.4.2 Segurança fundiária .................................................................................... 39

4.4.3 Urbanização .................................................................................................. 40

4.4.4 Mediação de conflitos .................................................................................. 41

4.5 Modelo Conceitual de Maturidade ..................................................................... 42

4.6 Explanação de estudo de caso: bairro Vila Real .............................................. 44

4.7 Etapas do estudo de caso ...................................................................................... 46

4.7.1 Indicadores quantitativos ........................................................................... 50

4.7.2 Indicadores qualitativos ............................................................................. 56

5 CONCLUSÃO......................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 67

APÊNDICES .................................................................................................................. 71

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O presente trabalho aborda um campo de pesquisa recente e que vem ganhando forte

destaque no mundo acadêmico, incluindo entre pesquisadores da Engenharia de Produção: a

gestão do terceiro setor.

Heckert (2008) atribui a ascensão do terceiro setor ao movimento político e social

ocorrido no mundo durante a década de 1990, conhecido como liberalização econômica ou

neoliberalismo. Esta corrente pregava que a participação dos estados nas economias deveria

ser reduzida a um papel regulador, deixando todo e qualquer empreendimento aos cuidados da

iniciativa privada. O ideal do Estado mínimo assumia que este deveria apenas prover os

ambientes organizacional, físico e jurídico para que estes empreendimentos ocorressem.

Assim, descreve Heckert (2008), surgiram muitas organizações privadas classificadas

como sendo de mercado, pois buscavam explorar aquelas atividades que ofereciam a

possibilidade de lucro ou de um aumento de valor no patrimônio das próprias organizações. O

Estado, por sua vez, não abriu mão completamente de sua participação na economia e

organizações públicas surgiram – normalmente para explorar setores de indústria de base,

com grande intensidade de capital fixo, como extração de petróleo, de minérios e produção de

aço, por exemplo. Dois exemplos de sucesso no Brasil são a Petrobrás e a antiga Vale do Rio

Doce. Esse tipo de organização também atuava em setores de regulação, como financiadores

de projetos, por exemplo. No Brasil, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social) e os fundos de pensão estatais ilustram esta espécie de entidade. A

principal semelhança entre os dois tipos de organizações descritos é que suas atividades

existem para produzir lucro, sendo este o principal objetivo que devem alcançar.

No entanto, havia outros tipos de demanda que não ofereciam uma taxa de retorno

financeiro considerável. Necessidades sociais comuns a todos, como moradia, saneamento

básico, educação e assistência médica precisavam ser entendidas, organizadas e supridas.

Legalmente, estas são funções do Estado; no entanto, o ideal neoliberal exige um corte

substancial nos gastos públicos, com o intuito de manter uma carga tributária reduzida e assim

incentivar a economia privada. Esta redução, por vezes, pode comprometer a capacidade do

Estado de atender a essas necessidades. Tal modelo é duramente criticado por Ramos (2005),

que argumenta que as pessoas com menos capacidade de suprir as próprias necessidades

ficam, afinal, prejudicadas.

1 INTRODUÇÃO

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Como resposta a este cenário, surgiram as chamadas organizações sem fins lucrativos,

com o intuito de desenvolver essas atividades (MELLO, 2005). Estas organizações atuam em

diversos campos, como proteção ao meio ambiente, assistência ao idoso, assistência à mulher,

assistência às crianças, assistência a pessoas com diversos tipos de deficiência, educação

infantil, entre muitos outros. Essas organizações normalmente trabalham com voluntários e

financiam suas atividades por meio de doações e/ou de empresas próprias. Dentro deste

grupo, estão as organizações não-governamentais, ou ONGs.

O surgimento de um nicho de organizações para absorver funções que

fundamentalmente pertencem ao Estado é motivo de muita controvérsia entre os estudiosos do

assunto. O pioneiro nestes estudos foi o economista Burton Weisbrod. Em sua obra, ―The

Nonprofit Economy‖, de 1988, Weisbrod apoia a existência dessas organizações defendendo

que o fato delas atuarem sem buscar o lucro permite um foco verdadeiro na qualidade do

serviço prestado. Como exemplo, o autor compara um asilo que aplica sedativo nos idosos,

por ser uma solução de baixo custo, e uma organização que de fato promove a qualidade de

vida de seus internos. Este raciocínio vai ao encontro do ideal neoliberal, pois se sustenta

através da articulação de iniciativas privadas, que são responsáveis pela obtenção de seus

próprios recursos.

Já Ramos (2005), como dito anteriormente, se posiciona contrariamente a este modelo.

O autor argumenta que esta isenção do Estado de suas responsabilidades é pressionada por

grupos econômicos poderosos a fim de evitar a incidência de impostos em seus negócios –

que seriam necessários à promoção do bem comum. Agindo assim, tais grupos estariam

preservando seus capitais à custa de uma maioria mais pobre das populações.

Moyo (2009) critica a mensuração da qualidade dos resultados deste tipo de trabalho

quando denuncia a falácia do assistencialismo. Em pesquisa realizada na África, a autora

verificou muitos casos em que a ajuda social prestada apenas sanou as necessidades básicas

dos ajudados, o que criou nestes uma perigosa dependência em relação a esta ajuda: muitos já

nem pensavam em ter uma profissão, pois já haviam se habituado a sobreviver com a ajuda

externa. Assim, a autora se posiciona a favor da existência do terceiro setor, mas enfatiza que

tal existência só se justifica se as atividades abrangidas promoverem o desenvolvimento e

capacitação dos beneficiados, a fim de que, um dia, estes consigam se emancipar desta ajuda e

contribuam com o desenvolvimento do próprio país na medida em que se inserem na

sociedade e prosperam.

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Polêmica à parte, este trabalho de conclusão de curso é escrito sob duas premissas: a

de que o terceiro setor existe e a de que a Engenharia de Produção pode contribuir com sua

promoção e com seu desenvolvimento. Heckert (2008) faz uma observação bastante assertiva

quando afirma que, com exceção de algumas organizações específicas, estes

empreendimentos ocorrem de forma um tanto amadora, descentralizadas em pequenas

iniciativas e sem uma gestão profissional adequada. O autor aponta ainda a falta de literatura

específica sobre gestão do terceiro setor e discorre sobre a dificuldade presente neste setor de

atrair e reter profissionais altamente qualificados, por não poder concorrer com as

organizações públicas e de mercado em termos de altos salários e carreiras promissoras.

Com base em seus argumentos, explanados no tópico anterior, Heckert (2008) alerta

para a necessidade de profissionalização do terceiro setor. Afirma ainda que a rápida

expansão das demandas que este setor atende no Brasil exigirá uma estrutura mais robusta das

organizações que o compõem, que pode ser obtida por meio do projeto dos processos, área-

chave da Engenharia de Produção.

Ainda segundo Heckert (2008), há uma particularidade no trabalho de muitas ONGs

que é a atuação em redes. O estudo de redes organizacionais tem ganhado destaque na

Engenharia de Produção por ser um modelo recente, derivado do advento da Internet no

mundo atual.

Outro aspecto relevante presente nas atividades do terceiro setor é a mensuração e a

própria gestão da qualidade. Os resultados providos por estas organizações são de caráter

ulterior, pois devem promover a capacitação e o desenvolvimento dos beneficiados, conforme

cita Moyo (2009). Medir a qualidade destes serviços extremamente intangíveis, portanto,

permite a aplicação de indicadores baseados em variáveis latentes e o uso de modelos

conceituais, como os 5 GAPs e os Momentos da verdade, por exemplo.

De todo modo, conforme citado por Heckert (2008), ainda não se atingiu um volume

maduro de material bibliográfico a respeito de gestão do terceiro setor e há necessidade de se

desenvolver conceitos e ferramentas mais aderentes às suas particularidades.

A principal destas particularidades é descrita por Kotler (1994): trata-se da falta de

receitas oriundas das atividades. Em uma lógica impensável no mundo de mercados, o

1.1 Justificativa do trabalho

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crescimento da atividade de uma ONG incrementaria somente seus custos, que então teriam

de ser compensados com outros recursos financeiros externos, como doações ou receitas de

empresas da própria ONG. Este modelo de empreendimento exige mais eficiência financeira,

controle fiscal e transparência. Na verdade, novos modelos de financiamento e capitalização

para tais atividades poderiam ser propostos.

Com base neste raciocínio, acredita-se que exista um campo fértil para a pesquisa e

para a aplicação da Engenharia de Produção terceiro setor, ideal que consiste no cerne deste

trabalho de conclusão de curso.

A área da Engenharia de Produção abordada é a engenharia organizacional. O estudo

de caso apresentado mais adiante possui uma natureza tão diversa que permitiu a exploração

de muitos tópicos relacionados a esta área: fala-se de gestão do desempenho organizacional

com foco em qualidade em serviços, especialmente serviços com resultados ulteriores, como é

o caso da promoção de organização social, parte da missão da ONG estudada neste estudo de

caso; fala-se de redes organizacionais e de sua influência na qualidade de tais serviços,

especialmente neste caso, da articulação com agentes do poder público, o que traz uma certa

entonação política ao trabalho; fala-se de gestão de projetos, pois a ONG estudada trabalha no

desenvolvimento de diferentes comunidades por meio de projetos de regularização e

segurança fundiária por tempo determinado com um entregável muito claro: organização

social autossustentada. Este trabalho envolve um amplo esforço de educação das pessoas, o

que permeia os campos de modelos de maturação de processos e gestão de mudanças.

O estudo de caso utilizado pede também que sejam discutidas questões sociais

relevantes, tais como: regularização fundiária no Brasil; histórico e papel das ONGs e do

terceiro setor no país; importância da promoção de organização social como forma de

conscientização política e de exercício da cidadania; e, por fim, busca-se apresentar

aplicações da Engenharia de Produção neste setor tão complexo.

Foi um grande desafio para os elaboradores deste trabalho de conclusão de curso a

organização de tantas informações diferentes em uma estrutura coerente e, o mais importante,

encontrar um ponto de convergência entre elas. A ampla discussão promovida por este

trabalho busca consolidar ferramentas e conceitos desenvolvidos por vários expoentes da

1.2 Delimitação do tema

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Engenharia de Produção para se chegar a um início de um modelo para medir a qualidade dos

serviços prestados pela ONG estudada, cujos resultados, conforme já dito, só são efetivos se

forem sustentáveis no longo prazo, pois se tratam de componentes de organização político-

social, que precisam ser mantidos pelos beneficiados mesmo após a saída da ONG. Ainda

assim, espera-se que o debate promovido em sua riqueza de detalhes, conectando as

características do terceiro setor no Brasil, do próprio estudo de caso e da Engenharia de

Produção desperte a curiosidade de pesquisadores e profissionais desta área do conhecimento

a explorar melhor a questão do terceiro setor no Brasil, em suas diversas dimensões e em seus

vários campos de atuação.

O objeto de estudo deste projeto é o trabalho de regularização fundiária e

desenvolvimento de pessoas realizado na comunidade do bairro de Vila Real desde 2004, na

cidade de Várzea Paulista pela ONG Rede Interação. A organização é a subsidiária no Brasil

da Slum Dwellers International (SDI), uma rede internacional independente sediada na África

do Sul e com bases em 32 países da África, Ásia e América Latina. O trabalho desta rede, que

consiste no desenvolvimento de comunidades carentes por meio de projetos de regularização

fundiária, urbanização e mediação de conflitos, é fundamentado em três bases: poupança

comunitária, autorrescenceamento e intercâmbio de experiências. Trabalhos como detecção e

desenvolvimento de lideranças nas comunidades, intermediações junto a negociações com o

poder público e gestão de conflitos sobre posse das terras são alguns dos serviços prestados

por esta rede às comunidades nas quais atuam.

O objetivo do trabalho é identificar conceitos oriundos da Engenharia de Produção que

possam ser utilizados para avaliar, de forma sistêmica, a qualidade dos serviços prestados pela

ONG Rede Interação à comunidade de Vila Real.

1.3 Objeto de estudo

1.4 Objetivo principal

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São objetivos também deste trabalho criar um modelo-piloto por meio da adaptação

dos conceitos estudados e testar este modelo na comunidade de Vila Real. Também se deseja

iniciar um debate amplo sobre o terceiro setor no Brasil e sobre algumas possíveis aplicações

da Engenharia de Produção neste setor.

Ao final do trabalho, busca-se responder as seguintes questões: Que conceitos da

Engenharia de Produção podem ser explorados para medir a qualidade do serviço prestado à

comunidade de Vila Real pela Rede Interação? Como estes conceitos podem fazê-lo?

O presente trabalho mostra um estudo bem amplo sobre gestão de serviços em

organizações de mercado, bem como em organizações do terceiro setor.

No capítulo dois, é abordada toda a literatura de serviços e a evolução histórica das

organizações do terceiro setor no Brasil, além das teorias pertinentes à Engenharia de

Produção utilizadas no trabalho. Neste capítulo, são discutidas as primeiras teorias que

comentam o surgimento do terceiro setor, qual é o papel das organizações e quais são as

tendências para os próximos anos.

No capitulo três, é abordada a unidade de pesquisa e a metodologia de pesquisa

utilizada.

No capítulo quatro, é descrito o estudo de caso escolhido, sua metodologia de trabalho

e o projeto desenvolvido.

Por fim, no capítulo cinco está a conclusão do trabalho e o fechamento dos objetivos.

1.5 Objetivos secundários

1.6 Questões de pesquisa

1.7 Plano do trabalho

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Na revisão da literatura, foi abordada a evolução histórica das organizações do terceiro

setor no Brasil, considerando-se inclusive o ponto de vista governamental. Foram pontuados

alguns dos mais conceituados autores em qualidade de serviços em organizações de mercado

e foi desenvolvida uma análise para entender como adaptar estes conceitos às particularidades

das organizações do terceiro setor. Também foram abordados os temas de regularização

fundiária no Brasil, e como os três eixos que nortearam este trabalho são importantes no

desenvolvimento e continuidade do trabalho oferecido pelas ONGs. São eles: replicabilidade,

sustentabilidade e efetividade. Redes organizacionais, gestão da qualidade e gerenciamento de

projetos também são descritos em sua teoria para que seja possível o adequado entendimento

do modelo de maturidade desenvolvido e seu objetivo.

As instituições de caridade no Brasil datam do século XVI. Nada tinham da

complexidade que existe atualmente para que existisse uma estrutura consolidada que pudesse

ser chamada de terceiro setor. Este segmento desenvolveu-se fortemente durante a década de

1990 e possui atualmente invejáveis taxas anuais de crescimento. O último levantamento

realizado pelo IBGE sobre qual se tem acesso data de 2005. Segundo o mesmo, naquela época

havia 338,2 mil fundações privadas e associações sem fins lucrativos (FASFIL) em território

brasileiro. Estas entidades representavam cerca de 5,6% do total de entidades públicas e

privadas de todo o país, empregavam cerca de 5,3% dos trabalhadores brasileiros – o

correspondente a aproximadamente 1,7 milhões de pessoas, pagando uma média salarial de

R$ 1.094,44 mensais por pessoa.

De 1996 a 2005, o número de unidades FASFIL aumentou 215%, sendo as entidades

de meio ambiente e proteção animal as que tiveram maior destaque, com 61% ante os 22,6%

da média nacional. Estes números demonstram a expressividade e a alavancada taxa de

crescimento recente do terceiro setor no Brasil.

A principal causa deste significativo crescimento se encontra no modelo econômico

adotado pelo Estado brasileiro. Este modelo mantém ainda algumas características do antigo

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Histórico das ONGs no Brasil

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paternalismo estatal da era Vargas, mas em muitos aspectos segue a doutrina neoliberal,

explanada na introdução. Um destes aspectos é justamente uma busca contínua de contenção

dos gastos públicos, o que limita sua ação social. É emitindo, deste modo, um clamor por

articulações de iniciativa privada neste campo.

Segundo uma das diretoras da Rede Interação, no Brasil há ainda outros fatores

limitantes da ação social do Estado e que são muito difíceis de sanar, devido às suas naturezas

estruturais. A principal delas consiste justamente em ineficiências organizacionais presentes

no próprio Estado, que mantém umas das mais altas cargas tributárias do mundo, mas que tem

fortes dificuldades de reverter adequadamente estas receitas em projetos de ação social no

âmbito no cenário brasileiro. Há ineficiências também no que tange à atuação dos três

poderes, no sentido de se ter agilidade na execução de processos, execução adequada de

sanções jurídicas quando necessário e até mesmo na fiscalização do cumprimento das leis.

Somam-se estes fatores à heterogeneidade política, social e cultural da base populacional

brasileira e à desigualdade social herdada da longa história de exploração predatória no país e

percebe-se que, de um ponto de vista pragmático, faz-se necessária a articulação de um

terceiro setor organizado junto à atuação do poder público para se trabalhar as questões

sociais.

Tal articulação no Brasil tem fundamento jurídico nas leis do voluntariado1 e na lei

que institui a OSCIP2 (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Estes

instrumentos legais respaldam a criação de instituições filantrópicas – organizações do

terceiro setor – dentro do território brasileiro. Neste contexto, percebe-se uma efervescência

na criação de novas organizações privadas de fins públicos (MELLO, 2005, p. 10), coerente

com o crescimento deste setor no Brasil, apontado anteriormente.

Há ainda um amplo arcabouço teórico que sustenta esta tese. Falconer (1999) e

Salamon, (1995), por exemplo, evidenciam algumas teorias aceitas ultimamente para explicar

a existência do terceiro setor:

Market failure / government failure: defende que as organizações privadas e os

governos cometem falhas ao fornecer serviços coletivos, devido à preocupação com a

viabilidade econômica (lucros ou arrecadação de impostos) destes empreendimentos. O

governo pode ter um interesse estratégico de alcançar o público eleitoral, e a empresa de

investir em sua reputação, mas a questão econômica é sempre um diretor polarizador nas

decisões destes agentes. Este fator tende a comprometer a qualidade destes serviços, uma vez

que a própria questão social é deixada em segundo plano.

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Contract failure: argumenta que o terceiro setor surgiu para fornecer produtos e

serviços onde o consumidor é diferente do comprador (crianças, idosos, portador de algum

tipo de deficiência), ou melhor, aonde este consumidor é incapaz ou impedido de tomar

decisões de compra. Assim, se torna necessário a atuação de um comprador externo que

garanta a qualidade destes serviços e bens ao consumidor, defendendo seus interesses frente à

sociedade.

Voluntary Failure: sustenta que o terceiro setor agiu primeiro que o governo em

desenvolver ações sociais. O governo apareceu posteriormente, a fim de complementar

algumas áreas não preenchidas. Não é este o caso do Brasil, mas o princípio de

complementaridade entre terceiro setor e poder público é válido da mesma forma.

Por fim, Salamon (1995) defende que o terceiro setor se desenvolveu cobrindo falhas

do Estado, afirmação esta que fica bem próxima à realidade brasileira.

Este arcabouço teórico além de justificar a existência do terceiro setor, trabalha também

a questão da formatação e da qualidade dos serviços prestados por estas organizações. O

desenvolvimento desta parte da tese segue no próximo tópico.

De acordo com Corrêa e Caon (2002), os serviços vêm ocupando posição de destaque

na economia do Brasil e do mundo. No caso do Brasil, chegam a representar cerca de 60% do

PIB. Os autores introduzem o conceito de pacote de valor, que consiste na composição ótima

dos componentes do serviço, que podem incluir serviços, bens físicos ou bens físicos com

serviços agregados. Segundo os autores, a sinergia destes componentes agrega valor quando

atende ou quando supera as expectativas dos consumidores de dado serviço.

Carolina (2009) utiliza este conceito quando descreve o serviço como uma produção

de valor, em que o processo é tão importante como o produto final. Esta característica é

predominante nos tipos de serviço em que o consumidor possui alto grau de participação no

processo (CORRÊA E CAON, 2002), situação frequente em tipos de serviços mais

intangíveis ou de resultados ulteriores, como o caso de muitos trabalhos do terceiro setor.

No projeto do pacote de valor a ser oferecido em um ciclo de serviço, sequência de

atividades de produção do mesmo, é necessário conhecer a natureza do contato que se

pretende que o consumidor tenha. Corrêa e Caon (2002) citam uma ferramenta bastante

2.2 As operações de serviço

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difundida atualmente que satisfaz bem esta necessidade: os momentos da verdade, instantes

do tempo em que o consumidor entra em contato com alguma etapa do ciclo do serviço e pode

assim formar um percepção a respeito daquela parcela de valor apresentada. O somatório

destas parcelas resulta na percepção de valor para o consumidor, podendo esta percepção ser

menor, maior ou igual à sua expectativa inicial. Quando o nível de interação deste consumidor

com o serviço é muito alto, como é o caso das atividades do terceiro setor, a qualidade deste

serviço é seriamente afetada pelos momentos da verdade. No caso ainda de serviços que

produzem resultados ulteriores, como promoção do bem comum, ou de organização social,

por exemplo, é necessária uma educação planejada destes consumidores para capacitá-los a

compreender o valor ofertado e aproveitá-lo de maneira correta (NOEL, 2007), o que influi

também na qualidade dos serviços prestados.

Grau de interação é definido pelo volume e riqueza de informações trocados entre a

fonte de serviços e o cliente e pelo tempo de exposição do contato. Quanto maior for o

volume de informações oriundas do cliente nesta troca, maior a participação do cliente no

processo. Corrêa e Caon (2002) apresentam duas classificações possíveis para os elementos

de um ciclo de serviço segundo o grau de interação: elementos que possuem alto grau de

duração e de interação com os clientes, ou Front Office e elementos que possuem baixo grau

de duração e de interação com o cliente, ou Back Office. Os elementos de um Front Office são

altamente afetados por critérios subjetivos dos clientes, que muitas vezes participam de seu

processo de produção; já os elementos de um Back Office não interferem diretamente com os

consumidores, mas fornecem suporte e recursos para os elementos de Front Office, tendo

também vital importância no alcance da satisfação dos clientes.

Os autores ainda listam duas outras propriedades específicas de serviços que

influenciam em sua gestão:

Não estocabilidade: não é possível estocar um serviço, este é consumido

simultaneamente à sua produção. Esta propriedade gera duas consequências principais:

primeiro, o planejamento de capacidade torna-se mais complexo. Segundo, o controle de

qualidade tem de ser feito no processo e não há margens para erro. Quanto maior for o grau de

interação do consumidor, menor é a estocabilidade do serviço.

Intangibilidade: definida por quão objetiváveis são os critérios de desempenho de

qualidade ou por quanto este desempenho depende da percepção do cliente. Serviços

prestados por organizações do terceiro setor tendem a ser bastante intangíveis, o que leva à

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necessidade de medir indiretamente o desempenho. Esta conclusão é tratada ao longo do

trabalho e largamente aplicada ao estudo de caso.

Fundamentados neste conceito de serviço, os tópicos a seguir diferenciam os serviços

em organizações com fins lucrativos dos serviços em organizações do terceiro setor.

Corrêa e Caon (2002) propõem um modelo conceitual para explicar a composição do

pacote de valor de um serviço em organizações com fins lucrativos. Este modelo reúne

elementos da estratégia da organização, do ambiente externo, dos recursos da organização e

das expectativas do cliente. Segue abaixo sua ilustração:

Figura 1 – Processos em serviços.

Fonte: CORRÊA & CAON, 2002

A lucratividade operacional é colocada como resultado principal a ser alcançado, daí a

especificidade dada para as organizações com fins lucrativos. Tal resultado é atingido através

da combinação eficiente entre a receita – produto entre preço de venda e market share – e os

custos das operações.

2.2.1 As operações de serviço em organizações com fins lucrativos

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As receitas são obtidas através da venda do serviço. Os autores enfatizam a

importância da superação das expectativas dos consumidores para o processo de retenção e

fidelização dos mesmos, garantindo fontes constantes de receitas.

Já os custos são gerados pela utilização dos recursos da organização para produzir e

entregar o serviço, e podem ser otimizados por meio da utilização eficiente e produtiva dos

mesmos.

Tanto os recursos de uma organização quanto o valor final de seus serviços são

suportados pelas competências organizacionais (Instalações, Recursos Humanos, Redes de

Suprimentos e Sistemas de Informação).

A principal diferença entre os serviços prestados por organizações com fins lucrativos

e organizações do terceiro setor é justamente a questão do lucro. Mesmo assim, os elementos

presentes neste modelo estão também presentes nas atividades sem fins lucrativos, sendo

possível fazer uma extrapolação, se for tomado o devido cuidado quanto à diferenciação dos

objetivos dos dois tipos de organização. Este trabalho de conclusão de curso aborda as

organizações do terceiro setor, em especial o estudo de caso apresentado como um sistema de

recursos e relacionamentos que, adequadamente geridos, promovem a qualidade. O modelo

conceitual ilustrado acima oferece as bases de sustentação para esta perspectiva de

abordagem.

A principal característica destes serviços é a busca de soluções para problemas reais da

população, de forma a contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas como

objetivo central. Não sendo o lucro a meta destas organizações, uma conseqüência muito

importante para a gestão delas entra em questão: a separação entre o fluxo financeiro de

entrada e a atividade-fim da organização. Esta conseqüência implica, conforme já citado na

introdução, que a expansão das atividades da organização incrementa somente seus custos

(HUDSON,1999). Assim, surge a necessidade de se criar e manter estruturas de captação de

recursos financeiros (microempresas, doações), a fim de sustentar as operações e garantir o

cumprimento da missão da ONG. Neste cenário, a eficiência financeira e a capacidade de

demonstrá-la a seus financiadores de forma transparente tornam-se fatores críticos de sucesso.

2.2.2 As operações de serviço em organizações sem fins lucrativos

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Outro aspecto importante nas atividades do terceiro setor é a existência da figura do

voluntário. As relações de troca entre eles e as organizações são bastante únicas: doam seu

tempo e trabalho em troca de gratidão, reconhecimento e satisfação de suas necessidades

psicológicas (RITCHIE et al, 1999; HECKERT, 2001). A difusão de uma consciência social é

muito importante para o sucesso da missão fundamental do terceiro setor.

Na verdade, estas atividades devem trazer benefícios para todos os envolvidos e

manter sempre coerência com os princípios que lhe deram origem e finalidade. Segundo

Herman e Renz (1999) e enfatizado por Heckert e Silva (2001), os resultados alcançados, por

si só, não servem como medida do sucesso da organização do terceiro setor, uma vez que a

existência dele se justifica somente se promover a difusão de valores, de desenvolvimento e

de mobilização social.

Há ainda outras diferenças entre as organizações do terceiro setor e as demais. Por

exemplo, O’Neill (1998) levanta questões de governança nas organizações do terceiro setor.

Comenta que os relacionamentos tendem a ser mais estreitos que nas organizações de

mercado e do Estado, pela própria natureza das atividades deste setor.

Outra característica do trabalho destas organizações é a articulação em redes

(HECKERT,2008). Atuando como promotoras do bem comum, estas organizações precisam

entrar em sinergia com outros setores da sociedade, em especial com o poder público. O

tópico a seguir discute um pouco da teoria de redes organizacionais, que pode ser aplicada a

este contexto.

As organizações do terceiro setor que pretendem atuar em sua missão de forma séria

não podem mais se posicionar de forma isolada, devendo seguir a tendência de articulação em

redes. Segundo Fernandes (2004), as redes organizacionais, além de trocar informações sobre

os trabalhos realizados isoladamente em um grupo, permitem realizar ações conjuntamente de

forma concreta, atuando de forma flexível e compartilhando valores, ultrapassando assim

fronteiras políticas, sociais, hierárquicas e geográficas.

Atuar em redes potencializa o impacto social destas organizações, amplia seus

resultados sociais através da reunião de diversos agentes em torno de uma mesma causa,

direcionando seus recursos individuais e coordenando-os de forma eficiente.

2.3 Redes organizacionais no terceiro setor

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Trata-se de uma estrutura flexível baseada em atuações colaborativas e sustentada pela

união e vontade de seus integrantes. A base para a formação destas redes é o

compartilhamento de informações. Este intercâmbio contribui também para a melhoria da

qualidade dos serviços, além de gerar maior visibilidade para estas organizações.

Segundo Heckert (2008), para a aplicação do conceito de qualidade de serviços no

terceiro setor é preciso observar três aspectos: definir quem são os clientes, identificar as

expectativas e percepções dos clientes e definir os objetos de avaliação da qualidade.

Um fator que influencia a busca por melhorias significativas em gestão da qualidade é

a relação oferta e demanda. Em mercados equilibrados, onde muitos fornecedores de um

determinado bem concorrem entre si em um ambiente de preços saturados, a preocupação

com a oferta de qualidade tende a ser maior. Bennet e Barkensjo (2005) afirmam que há três

ou quatro décadas a super oferta chegou também ao terceiro setor, impulsionando as

organizações para a melhoria da qualidade dos serviços.

De fato, há um recente cenário de concorrência entre as ONGs por beneficiários de

instituições semelhantes (BENNET E BARKENSJO, 2005). Oferecendo maior qualidade em

seus serviços, existe maior possibilidade de obter a preferência dos beneficiários, voluntários

e contribuintes.

Outra tendência cada vez mais comum e necessária é a união para ação conjunta entre

as forças pública, empresariais e não-governamentais, a fim de solucionar os problemas

públicos. Organizações do terceiro setor atuando isoladamente esbarram em leis, burocracias

fiscais, falta de patrocínio, o que prejudica o cumprimento dos seus objetivos. A gestão do

terceiro setor, segundo Falconer (1999), deverá ser mesclada entre a visão de negócio da

administração de empresas, gestão de serviços públicos da administração pública, o campo de

políticas públicas justificado pelos objetivos públicos e não exclusivamente organizacionais.

Neste contexto, a gestão da qualidade torna-se ainda mais crítica, pois a ONG está imersa em

uma rede de relacionamentos e instituições, que precisam ser articuladas juntamente aos

recursos da organização.

Coelho (2000) corrobora com este ponto de vista quando afirma que as organizações

―são criadas como parte de sistemas sustentáveis de desenvolvimento, nos quais o

2.4 Qualidade nas organizações do terceiro setor

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desenvolvimento próprio depende de sistemas que unem organizações públicas e privadas,

integrando iniciativas locais num ambiente de apoio para o desenvolvimento.‖

Em suma, a integração das ONGs com o restante da sociedade, bem como o sucesso

de suas missões, depende bastante de seus sistemas de gestão da qualidade dos serviços

ofertados e de sua capacidade de prestação de contas. Estas são, portanto, questões críticas a

serem resolvidas.

De acordo com Hudson (1999), a solução está em buscar informações sobre as

melhores práticas de administração, realizar muito planejamento e mapear o fluxo que se

inicia com uma revisão externa e interna, para a partir daí definir a posição estratégica, missão

e objetivos.

Já Queiroz (1998), enfatizou uma abordagem estratégica às atividades do terceiro

setor, preocupando-se com os processos de planejamento que lidam com questões de ―alto

nível‖ e com alcance de longo prazo. Cita processos como a revisão da missão, uma reflexão

sobre o que ela representa; o entendimento das necessidades atuais e futuras dos seus

stakeholders-clientes; os resultados que a organização pretende alcançar; a definição de sua

linha de atuação e programas; o posicionamento que a organização deverá ter perante seus

principais desafios (a questão da sustentação de longo prazo, por exemplo); a discussão das

competências necessárias para que a organização obtenha sucesso, e a maneira como pretende

desenvolvê-las (internamente ou através de parceiros) e o desenvolvimento da própria

organização – objetivos para o desenvolvimento da equipe interna, a definição geral de seus

processos de gestão e operação.

Outro assunto de extrema importância quando se fala em projeto de serviços focado

em qualidade e eficiência em ONGs é a necessidade de clareza dos objetivos da organização.

Saber quais resultados se deseja obter é a primeira entrada para qualquer projeto.

O estudo de caso apresentado por Heckert e Silva (2001) sobre a AACD fornece um

exemplo de compromisso com o objetivo de desenvolvimento social, que excede o mero

assistencialismo. É possível observar o cuidado com a reintegração dos beneficiários na

declaração de missão da empresa: ―(...) um amplo serviço de assistência médica, pedagógica e

social aos menores com defeitos físicos ortopédicos visando, após a recuperação do defeito

físico, o seu reajustamento social‖. A clareza do objetivo na declaração de missão norteia

todas as decisões da associação e a auxilia a se manter em seu alinhamento estratégico, a

efetivamente desempenhar seu papel de agente social.

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O trabalho desenvolvido pelos autores propõe medir a qualidade dos serviços

prestados pela AACD. Eles perceberam a presença de vários agentes com a função de cliente

dentro da rede da AACD: beneficiados, famílias de beneficiados, funcionários, voluntários e

financiadores. Cada um dos grupos, denominados stakeholders-clientes, possuía interesses

distintos e, portanto, teriam diferentes percepções da qualidade dos serviços prestados pela

organização. O trecho a seguir, retirado do trabalho de Heckert e Silva (2001), ilustra este

pensamento:

―A análise dos incidentes críticos levantados pelos grupos de stakeholders-clientes mostra que os itens

de satisfação mais valorizados em cada segmento não são necessariamente os mesmos. Enquanto alguns itens de

satisfação e dimensões da qualidade são comuns a elementos de diferentes públicos, outros são específicos de

um ou dois deles‖.

Para mapear estes critérios de desempenho, os autores utilizaram o Método dos

Incidentes Críticos de Hayes (1992). Tal método consiste em ir a campo entrevistar e levantar

os incidentes críticos, que são na verdade percepções dos momentos da verdade vividas pelos

entrevistados. Após esta coleta, os incidentes críticos podem ser organizados em níveis de

satisfação, que por sua vez podem ser agrupados em dimensões da qualidade. Uma vez

mapeadas estas dimensões, pode-se entender o que os consumidores do serviço valorizam e

como medir a qualidade deste.

Este método tem grande influência no estudo de caso desenvolvido mais adiante, em

que são definidas seis dimensões da qualidade para se analisar o objeto de estudo.

O modelo de avaliação da qualidade por indicadores permite que sejam feitas análises

da situação atual de um sistema e então sejam tomadas as ações necessárias para modificar a

situação identificada. Entendendo o serviço como um processo em que a produção e o

consumo são simultâneos (CORRÊA E CAON, 2002), conclui-se que os indicadores devem

estar focados às saídas deste processo, de modo a se aproximar melhor da percepção do

consumidor. A figura a seguir ilustra esta questão:

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Figura 2 – Sequência de recursos em uma organização

Fonte: Adaptado pelos autores com base na revisão bibliográfica

No caso de serviços com resultados ulteriores, os indicadores devem ainda permitir

medir a efetividade dos resultados alcançados (NOEL, 2007).

Quando se fala em serviços, o levantamento das dimensões da qualidade varia, pois

leva em conta a interação entre o cliente e o fornecedor. Esta interação gera constante

avaliação por parte do consumidor. Gianesi e Corrêa (1994) citam em sua obra nove

dimensões para avaliação dos serviços: consistência, velocidade do atendimento,

competência, atendimento/atmosfera, custos, flexibilidade, credibilidade/segurança e acesso.

Estas dimensões englobam as principais características do serviço e a importância de cada

uma delas pode variar de acordo com o tipo do serviço prestado.

Para levantar as dimensões pertinentes a um serviço prestado por uma organização do

terceiro setor, o primeiro passo é identificar o público-alvo e o que é mais representativo para

ele. A partir, daí outras dimensões serão levantadas. Em seguida, para analisar a efetividade

de cada uma dessas dimensões, utiliza-se indicadores que podem ser mensurados de diversas

formas.

Surge assim um campo fértil para a aplicação dos conhecimentos e ferramentas da

Engenharia de Produção. Segue uma relação de alguns trabalhos de pesquisa existentes a

respeito do terceiro setor:

REQUISITOS

DE

QUALIDADE

Busca pela

eficácia

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Quadro 1 - Literatura sobre Operações de Serviços, Dimensões da Qualidade e Redes Organizacionais.

Autor/Ano Descrição da pesquisa Método Resultado

Heckert

e Silva

2008

Mapeou os stakeholders-clientes e as

dimensões da qualidade da instituição

AACD

Estudo de caso A pesquisa de campo

mostrou que a

identificação dos

stakeholders –

clientes e de seus

requisitos, e a

avaliação de sua

satisfação podem

trazer grandes

benefícios para as

organizações do

terceiro setor

Mello

2005

Desenvolveu estudos de viabilidade de

expansão de serviços de educação

especial através de franquias sociais

Estudo de caso Aponta as vantagens

e desvantagens da

formatação dos

negócios em cada

ONG pesquisada no

estudo de caso

Santos

et all

2004

Propuseram um modelo conceitual

para a estratégia de operações de

serviços levando em consideração as

características específicas de cada

serviço e as tendências atuais na área

de estratégia de operações

Revisão da

literatura

Criação de um

modelo de estratégia

de operações que

promove uma

abordagem que

confronta os

paradigmas atuais

Falconer

1999

Explica o surgimento, crescimento e

as primeiras formas de organização do

terceiro setor e as variáveis que

influenciam na sua gestão.

Investiga se o terceiro setor promete

Revisão da

literatura

Identifica os quatro

aspectos a serem

desenvolvidos na

gestão do terceiro

setor –

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ser um campo de oportunidades para a

área da administração

accountability,

qualidade de

serviços,

sustentabilidade e

capacidade de

articulação

institucional

Silva

2007

Estudou a participação de uma

comunidade no projeto de

regularização fundiária e o papel da

ONG Rede Interação como

intermediadora do processo de

comunicação

Estudo de caso Evidenciou a

importância da

organização da

comunidade e

aprimorou a presença

do grupo em termos

de sujeitos sociais

ativos

Fonte: Elaborada pelos autores a partir das referências bibliográficas

2.5 Gestão de Projetos

Um projeto, diferentemente de operações regulares, é uma iniciativa para criar um

resultado exclusivo. Outra característica para identificar um projeto é que este deve possuir

data de término bem definida. Todas as etapas compreendidas entre o início e fim de um

projeto devem ser gerenciadas através de técnicas e melhores práticas a fim de minimizar os

riscos e aumentar a probabilidade de atingir os objetivos traçados no início do projeto.

Maximiano (1997) contribuiu significativamente para a compreensão das dimensões de

um projeto. Ele define as dimensões de complexidade e incerteza que, quando combinados,

categorizam de forma bastante distinta os projetos:

Complexidade: número de variáveis na condução de um projeto, que quanto maior,

maior a complexidade da situação.

Incerteza: grau de desconhecimento dos resultados do projeto ou da forma de atingi-

los.

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Tomar decisões, realizar ações de planejamento, organização e controle, concentrando

esforços de forma otimizada e viabilizando o alcance dos objetivos são os principais

significados do gerenciamento de projetos, possibilitando assim o desenvolvimento do ciclo.

D'Ávila (2010) afirma com base no PMBOK que o ―escopo, tempo, custos e qualidade

são os principais determinantes para o objetivo de um projeto: entregar um resultado de

acordo com o escopo, no prazo e no custo definidos, com qualidade adequada.‖ D’Ávila

também afirma que ―recursos humanos e aquisições são os insumos para produzir o trabalho

do projeto. Comunicações e riscos devem ser continuamente abordados para manter as

expectativas e as incertezas sob controle, assim como o projeto no rumo certo‖. A

implantação de projetos envolvendo o terceiro setor possui algumas particularidades, já que as

etapas não possuem o início e fim bem definidos, e pelo fato do início e fim de algumas

etapas do projeto se basearem em percepções subjetivas.

Para a implantação total de um projeto, alcançando de modo eficaz a mudança

proposta, se faz necessário que os responsáveis por sua condução tenham conhecimentos e

habilidades em duas áreas:

Diagnóstico: habilidade de diagnosticar a necessidade, oportunidade e abrangência da

mudança;

Implantação: habilidade de obter os resultados através de metas e planos de ação,

aplicando estratégias e procedimentos voltados à mudança (HERSEY e BLANCHARD,

1982).

Hersey e Blanchard (1982) classificam as mudanças de acordo com quatro níveis:

Mudança de conhecimento: adquirir o conhecimento, referente ao campo do ―saber‖;

Mudança de atitude: envolvem a estrutura emocional e valores do indivíduo,

referente ao campo do ―querer‖. A mudança de conhecimento é um facilitador para a

mudança de atitude;

Mudança de comportamento individual: o indivíduo deve ir além do saber e do

querer, deve ter oportunidade, condições ou estímulos para praticar o novo comportamento.

Caracteriza-se pelo ―agir‖.

Mudança de comportamento grupal: refere-se à modificação em usos, costumes ou

tradições. Alguns hábitos podem estar enraizados e algumas mudanças implicam em uma

nova dimensão cultural, ocasionando em grande complexidade para efetivar a mudança.

Levando esses aspectos para o ambiente do terceiro setor, onde as mudanças geram

consequências no cotidiano das pessoas e da comunidade, é necessário refletir sobre a

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necessidade de se planejar as mudanças a fim de avaliar estratégias para otimizar o tempo de

implantação. Devemos levar em conta três momentos principais:

Descongelamento: etapa onde ocorre a motivação e preparação do indivíduo e da

comunidade para a mudança. Nesta etapa, constam os primeiros contatos da Rede Interação

com a comunidade, onde é apresentada a metodologia do SDI e os ganhos da comunidade.

Este está relacionado ao estágio de maturidade da aproximação.

Mudança: está relacionado ao estágio da execução. Neste momento, inicia-se a

prática da mudança, onde os indivíduos experimentam os novos comportamentos. Muitas

alternativas surgem nesta etapa e devem ser avaliadas. No capítulo sobre metodologia, muitas

delas são citadas, principalmente por se tratar de um tema onde as particularidades de cada

comunidade geram mudanças no escopo do projeto. Os agentes da mudança exercem um

papel ativo e preponderante no apoio e orientação. Dentro da comunidade, este papel é

exercido pelos multiplicadores de cidadania, tesoureiros, e líderes da comunidade.

Recongelamento: é a etapa que ocorre a sedimentação e consolidação da mudança;

está relacionado ao estágio da sustentação e delegação.

De acordo com o IBGE, cerca de 7 milhões de pessoas não possuem moradia e outras

15 milhões vivem em moradias inadequadas. Este déficit se intensificou a partir de 1940

devido intensa urbanização com concentração populacional principalmente nas grandes

cidades, sem um prévio planejamento da infraestrutura urbana necessária.

Dentre as necessidades mais básicas do ser humano está a moradia. Ela é essencial

para os indivíduos se desenvolverem e se integrarem socialmente. De acordo com Bacelete

(2009), a moradia assegura ao cidadão sua dignidade, melhores condições de saúde,

cidadania, inserção social, identidade, conhecimento e trabalho. O déficit habitacional gira em

torno de 5 milhões de domicílios, segundo os últimos dados censitários disponíveis.

2.6 Contexto nacional do cenário habitacional

2.7 Regularização fundiária no Brasil

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O crescimento urbano concentrado e desordenado em determinadas regiões provocou

um ambiente de exclusão política e segregação sócio-espacial. A segmentação e as tentativas

em vão de gestão democrática e participativa geram um ambiente excludente e desigual,

apoiado pela falta de regulamentação, em que a única saída é a autoconstrução, com déficit

nos sistemas de saneamento e drenagem, sem o suporte de locais de educação, saúde e lazer.

De acordo com a Emenda Constitucional n. 26, de 14/02/2000, que alterou o artigo 6°

da Constituição da República de 1998, o direito à moradia é um direito fundamental. Este

direito pressupõe a ação do Estado, que não pode se isentar das responsabilidades e

obrigações. Para efetivar a proteção ao direito à moradia, o poder público utiliza de

instrumentos de regularização fundiária que, de acordo com Alfonsin (1997), possui a

seguinte descrição:

―Regularização fundiária é o processo de intervenção pública, sob os aspectos jurídico, físico e social,

que objetiva legalizar a permanência de populações moradoras de áreas urbanas ocupadas em

desconformidade com a lei para fins de habitação, implicando acessoriamente melhorias no ambiente

urbano do assentamento, no resgate da cidadania e da qualidade de vida da população beneficiária.‖

Um meio para alcançar a regularização fundiária é a usucapião, onde a aquisição do

direito de propriedade é assegurada para aqueles que utilizam por cinco anos uma área urbana

de até 250 metros quadrados, ininterruptamente, utilizando-a para moradia, desde que não

possua outro imóvel.

De acordo com o estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Administração

Municipal – IBAM (2002), o foco do serviço de urbanização de favelas é descrito da seguinte

forma:

―A provisão das redes e serviços de infraestrutura é um dos principais componentes dos programas de

urbanização de favelas e o que representa maior volume de investimentos públicos. A carência de serviços, as

dificuldades de acesso às moradias e de circulação de pedestres e veículos são, de fato, alguns dos critérios

adotados para a caracterização desses assentamentos.‖

Bacelete (2009) defende que o Estado existe em função da pessoa, onde o homem é a

finalidade precípua. Todos os homens, titulares de direitos, devem ser respeitados em virtude

da sua condição biológica, sem levar em conta as diferenças de idade, cor, religião, etc.

Os estados não podem se isentar das responsabilidades e obrigações, pois estariam

descumprindo os compromissos registrados na legislação. Estes têm, por obrigação,

estabelecer as medidas necessárias para que todos consigam efetivar o seu direito, através de

políticas públicas que garanta acesso de todos ao mercado habitacional, priorizando as classes

menos favorecidas. Porém, conforme já dito anteriormente, sabe-se que os mesmos não

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conseguem garantir todas as necessidades de seus governados e, por isso, o espaço para

atuação das instituições do terceiro setor.

Utiliza-se a instituição Rede Interação como estudo de caso, pois esta ONG possui

uma missão que vai ao encontro da necessidade de muitos brasileiros – ela não apenas é

provedora de mudanças físicas, mas também de mudança no comportamento e modo de

pensar dos públicos interessados – moradores da comunidade. Três critérios permearam esta

decisão: simplicidade de se mapear as dimensões da qualidade, os agentes envolvidos e os

processos; facilidade de acesso e maior possibilidade de generalização para uma dada região

geográfica.

O objeto de pesquisa e o referencial teórico são fatores determinantes para a escolha

do método utilizado para a pesquisa. Alguns estudos requerem as ferramentas de modelagem

computacional, muito usados pela pesquisa operacional e remetendo o pesquisador a análises

mais quantitativas. Por outro lado, áreas ligadas às ciências sociais adotam métodos mais

qualitativos para o tratamento dos dados, principalmente quando se tem em mão pequenas

amostras que são usadas para estudos exploratórios e/ou construção de teorias.

A gestão de organizações do terceiro setor é um assunto relativamente novo, portanto,

pouco explorado. As poucas publicações divulgadas no meio científico podem ser

encontradas em artigos nos periódicos internacionais.

Neste trabalho, optou-se por adotar um estudo de cunho exploratório com o intuito de

recuperar informações disponíveis por meio do estudo de caso de uma organização do terceiro

setor.

3 METODOLOGIA DE TRABALHO

3.1 Seleção da unidade de pesquisa

3.2 Metodologia de pesquisa

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Segundo Yin (2005) ―utiliza-se o estudo de caso em muitas situações, para contribuir

com o conhecimento que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais, políticos

e de grupo, além de outros fenômenos relacionados‖.

A pesquisa foi iniciada no segundo semestre do ano de 2010 com revisão bibliográfica

que abordava o terceiro setor por vários aspectos, como, por exemplo, social, econômico e

político.

Já nos primeiros meses do ano de 2011, foi estabelecido contato com uma instituição

do terceiro setor para início das reuniões, com o objetivo de conhecer e explorar a entidade.

Como essa etapa é bastante complexa, foram realizados diversos encontros para entender a

rotina de trabalho e ganhar massa crítica suficiente para produzir os questionários que

serviram de apoio à exploração dos dados.

Além de estabelecer contato com a entidade, os autores sentiram necessidade de visitar

a comunidade que é atendida por esta instituição, a fim de enriquecer ainda mais o

conhecimento sobre a missão e todo o trabalho já realizado. Toda esta etapa se estendeu até a

metade do ano de 2011.

A metodologia adotada neste presente trabalho teve como influência o trabalho de

Heckert (2001), já citado anteriormente, em que por meio do método dos incidentes críticos

de Hayes, os itens de satisfação mais valorizados pelos stakeholders foram levantados para

que, em seguida, as dimensões da qualidade pudessem ser identificadas.

Na tentativa de traduzir o estudo de Heckert para a ONG Rede Interação, cujo foco

não é prestar um serviço que o poder público não consegue atender, e sim oferecer suporte

técnico a comunidades carentes, contribuindo na conquista de seus direitos de cidadania e

moradia, seria impraticável levantar os itens de satisfação para conseguir, enfim, identificar as

dimensões da qualidade, como é feito no método dos incidentes críticos.

A Rede Interação provê a evolução da qualidade de vida da comunidade utilizando

como ferramentas, basicamente, organização e conhecimento, e não fornecendo algum serviço

de assistencialismo. Daí a impossibilidade de replicar o método de Hayes. Sendo assim, o

grupo, juntamente, com a professora orientadora, analisou a situação mais profundamente e

notou-se a possibilidade de adaptar o método para a realidade da pesquisa fazendo o caminho

contrário – ou seja, através das dimensões da qualidade seriam descobertos os indicadores

pertinentes a cada dimensão.

A identificação das dimensões se deu de forma indutiva, analisando os campos de

atuação da organização, e através de entrevistas com a diretora da ONG, a fim de identificar

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detalhadamente os processos envolvidos em cada uma das atividades de suporte oferecidos.

Chegou-se às seguintes dimensões:

Infraestrutura: a organização tem como objetivo principal o desenvolvimento das

comunidades através da urbanização e regularização fundiária. Analisar a evolução desta

dimensão é um fator chave para analisar a qualidade das operações da organização.

Social: outro campo de atuação é a mediação de conflitos, nos casos em que a

comunidade moradora de um assentamento não chega a um acordo sobre algum aspecto

importante na vida da comunidade.

Cultural: mensurar quanto o ideal do desenvolvimento coletivo na comunidade está

enraizado, ou seja, o grau de envolvimento das pessoas nos processos da ONG, do auto-

recenseamento e da poupança comunitária.

Econômico: importante para identificar o poder econômico da comunidade, o alcance

da poupança comunitária e a melhora no seu poder aquisitivo.

Legal: importante para medir o campo de atuação da regularização fundiária, a

evolução no número de registros e de processos junto ao poder público.

Após identificar as dimensões associadas ao trabalho realizado pela Rede Interação, os

indicadores de segundo e terceiro níveis foram desmembrados a partir dessas seis já

explicitadas, de forma lógica e intuitiva, chegando aos indicadores que serão apresentados

mais adiante como forma de gerenciar a qualidade das operações através de uma estrutura de

gerência de maturidade em todas as etapas do projeto.

Para a coleta dos dados primários foram feitas uma série de visitas à sede da

instituição, o que possibilitou apresentar a ideia de usar a ONG como o estudo de caso do

trabalho de conclusão de curso aos profissionais do corpo diretor da Rede Interação que,

prontamente, forneceram informações durante os encontros que possibilitaram conhecer a

fundo o trabalho realizado por eles.

Com base na experiência dos autores sobre processos, foi possível criar elementos

para adaptar um modelo de maturidade de processos (figura 5).

Após o entendimento da rotina, foi entregue aos profissionais da ONG um

questionário (apêndice A) que define quais aspectos são abordados desde o primeiro contato

3.3 Metodologia para coleta de dados

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da comunidade com a ONG até o momento em que a comunidade, organizada, passa a se

auto-gerenciar.

O questionário foi criado com base nas proposições teóricas levantadas no objetivo do

trabalho. Segundo Yin (2005, p. 140), as proposições dariam forma ao plano da coleta de

dados e, por conseguinte, estabeleceriam a prioridade às estratégias analíticas relevantes.

Dessa maneira, o questionário foi dividido em quatro partes para organizar a obtenção

dos dados de forma sucinta e clara.

A primeira parte do questionário refere-se a informações da entidade Rede Interação,

onde se procura descobrir os Dados gerais da organização e a Estrutura administrativa e

Organização do trabalho.

A segunda parte, procura descobrir o perfil da comunidade através dos Critérios

gerais para avaliação das comunidades.

O perfil da comunidade pode ser determinado analisando as dimensões que estão

diretamente associadas à comunidade, como infraestrutura, social, político, cultural,

econômico e legal.

A terceira parte identifica quais são os Públicos Interessados - PIs que estão ligados

ao processo, bem como o grau de interesse de cada um.

Nesse contexto, há envolvimento de Moradores da Comunidade, Órgão do Poder

Público, Agentes da Rede Interação, Outras ONGs e Entidades Sociais e Instituições

financeiras.

A quarta e última parte do questionário busca entender como esse processo todo é

administrado e qual é a participação de cada PI. Para isso, procura-se entender os

Movimentos de aproximação, Qual a política e metodologia de acompanhamento das

etapas dos trabalhos de implementação e encerramento.

Após entrevista de 58 minutos de duração, o questionário foi completamente

respondido, no qual foi possível encontrar todos os aspectos relacionados ao assunto.

Para o aprofundamento da compreensão da pesquisa, fez-se necessário explorar com

mais riqueza de detalhes cada dimensão encontrada, de modo que se elencou as ramificações

pertinentes às dimensões - citadas no quadro 1 deste trabalho como ―Dimensões nível 2‖ - e,

com isso, foi produzido um segundo questionário (apêndice B) que permite o acesso a

informações possíveis de serem gerenciadas.

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Os moradores da Vila Real possuem um controle rigoroso do censo do bairro. Eles

próprios o fizeram, visitando os moradores de casa em casa, e o monitoram em um software

que pode ser acessado remotamente via internet através de usuário e senha.

Foi permitido acessar o software para coletar as informações necessárias para

responder o questionário.

Os parâmetros retirados do software estão demonstrados no quadro 2:

.

Quadro 2 - Parâmetros de qualidade envolvidas.

Tempo de moradia

Pessoas com necessidades especiais

Infraestrutura Esgoto

Infraestrutura água

Participação em Programas Sociais

Infraestrutura Lixo

Propriedade

Tipo de casa

Infraestrutura Luz

Escolaridade

Renda

Emprego

Fonte: Adaptada pelos autores com base nos questionários

Para a obtenção dos parâmetros citados no quadro 2, foram analisados 2.828 famílias

(cadastros) de moradores da Vila Real.

Com os dados tabulados, os autores notaram a necessidade de explorar com mais

detalhes os aspectos habitacionais para obtenção de mais informação sobre o perfil da

comunidade e moradores. Para isso foi realizado uma análise a partir de uma amostra de 10%

dos cadastros através da técnica amostral probabilística sistemática. A equação abaixo mostra

como os dados secundários foram tratados.

Onde:

N = Espaço amostral (cadastros);

n = Número de amostras.

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I = Intervalo entre uma amostra e outra.

Com essa amostra, foram identificados outros parâmetros da qualidade mostrados no

quadro 3 abaixo.

Muitas informações contidas no censo puderam responder os aspectos comentados no

segundo questionário, porém não todas. Por esse motivo foi preciso visitar a comunidade e

entrevistar alguns moradores para completar a pesquisa.

Quadro 3 - Parâmetros de qualidade envolvidos

n° comodos

Área do imóvel

habitantes

m²/hab

documento

Iluminação pública

Situação loteamento

Fonte: Adaptada pelos autores com base nos questionários

Para as entrevistas, os autores, junto com dois líderes da comunidade e um morador

que era parente de um dos líderes, se separaram para percorrerem as ruas e vielas da Vila Real

para visitar os moradores e entrevistá-los.

Foi feita uma entrevista por rua, pois as mesmas eram curtas e as casas não

apresentavam diferenças significativas com relação a área, formato e material de construção.

Por esse motivo, adotou-se que uma casa representaria a rua.

Em duas ocasiões foram entrevistadas pessoas que estavam passando na rua no

momento em que os autores se transladavam de uma rua para outra.

Os parâmetros analisados nas entrevistas são mostrados no quadro 4 abaixo:

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Quadro 4 - Parâmetros analisados através de entrevistas.

Condições de habitação

Grau de prosperidade

Grau de integração social

Grau de inclusão social

Grau de consientização

politico social

Difusão e enraizamento de

conhecimentoPoder econômico da

comunidade

Fonte: Adaptada pelos autores com base nas entrevistas com moradores

A Rede Internacional de Ação Comunitária (Interação) é uma associação de direito

privado, pessoa jurídica, sem fins econômicos, qualificada como Organização da Sociedade

Civil de Interesse Público / OSCIP, nos termos da Lei 9.790/99.

Foi fundada em dezembro de 2004 em São Paulo. Localiza-se na Rua Marquês de Itú,

58 – Vila Buarque – SP. A Rede Interação é a representante da Slums Dwellers International

– SDI, sediada na África do Sul, cuja rede é composta atualmente por 32 países na África,

Ásia e América Latina. Esta organização internacional é formada por uma rede independente

de entidades da sociedade civil e iniciativas populares estruturadas a partir da autogestão.

O trabalho da Interação consiste em oferecer suporte técnico a comunidades carentes

ou assentamentos precários com o objetivo de que os próprios moradores estabeleçam e

conquistem suas metas para o desenvolvimento a partir de iniciativas que garantam melhoria

nas condições de habitação, educação financeira, preservação ambiental, geração de renda e

cidadania.

A metodologia do SDI, organização internacional na qual o trabalho da Interação se

baseia, surgiu na Índia, em meados de 1980, quando um grupo de mulheres indianas foi

4 A SDI – REDE INTERAÇÃO

4.1 Histórico

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despejado de suas moradias e decidiu se unir para transformar suas realidades. (ONG Rede

Interação, Histórico, 2011).

Esta iniciativa desenvolveu-se com sucesso e originou a criação do Slum/Shack

Dwellers International (SDI), que foi formado pela união de três organizações

indianas: National Slum Dwellers Federation, Mahila Milan e Society for the Promotion of

Area Resource Centers (SPARC), todas lideradas por grupos de mulheres.

A estruturação de pensamentos e experiências destes grupos de mulheres originou a

metodologia do SDI constituída pelo tripé – poupança comunitária, auto-

recenseamento e intercâmbio de experiências entre comunidades. Esta metodologia é

implantada por todas as entidades representantes do SDI ao redor do mundo.

A implementação desta metodologia no Brasil foi iniciada na comunidade Portal do

Campo em Osasco/SP no ano de 2005 e se estendeu pelas comunidades de Vila Real em

Várzea Paulista/SP, Sapopemba em São Paulo/SP, Monte Cristo em Suzano/SP, Santos/SP e

Sorocaba/SP. Destaca-se a intensa participação dos grupos de poupança de Osasco e Várzea

Paulista na consolidação e formação de novos grupos em comunidades interessadas e

municípios parceiros, bem como atuação direta frente ao poder público em negociações para

melhorias da comunidade.

―Contribuir para que as comunidades em assentamentos precários, no Brasil e América

Latina, conquistem seus direitos de cidadania e moradia, através da organização comunitária e

reconhecimento de seu potencial transformador e multiplicador‖.

4.2 Missão

4.3 Metodologia usada pela Interação

4.3.1 Poupança comunitária

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A poupança comunitária é a pedra fundamental da estratégia de mobilização do SDI-

Slum Dweller´s International, e constitui um fundo formado e mantido por moradores de

assentamentos precários e favelas, organizados em grupos de poupança.

Cada grupo de poupança tem um número variável de poupadores e conta com três

tesoureiros da comunidade. Os membros dos grupos se encontram periodicamente, mas não

há valores pré-estipulados ou frequência mandatória para poupar, variando de grupo para

grupo. Esses grupos são baseados primordialmente em relações de confiança, fomentando o

fortalecimento e a criação de novos vínculos.

Na verdade, a coleta diária supera a questão financeira. Com a organização proveniente

dos grupos, os poupadores passam a antecipar dificuldades e oportunidades, bem como

discutir questões de gastos e gestão de recursos, que frequentemente evoluem para assuntos

como planejamento, estratégias de atuação e negociações com o poder público, assim como

possíveis parceiros. A poupança é um instrumento de fortalecimento que possibilita aos

poupadores negociarem e lutarem por suas demandas.

O auto-recenseamento é um censo feito pelos próprios moradores de uma área. Ele

inclui desde informações tradicionalmente presentes em cadastros municipais, tais como

dados demográficos e perfil socioeconômico, bem como dados que a própria comunidade

escolhe incluir, como, por exemplo, a quantidade de pessoas com necessidades especiais,

idosos com dificuldade de locomoção, entre outros. Desde que deliberado pela própria

comunidade, tanto dados quantitativos quanto qualitativos podem fazer parte deste censo.

A comunidade decide o que fará parte do formulário e também executa a coleta e

atualização de dados, com o suporte da Interação. Ela deve ser a maior detentora do

conhecimento adquirido, garantindo a formação de um banco de dados comunitário, que

geralmente é compartilhado com o poder público.

O auto-recenseamento tem se mostrado bastante eficaz na aproximação das pessoas e

na formação de conhecimento coletivo. Este conhecimento é essencial para o fomento de

ações democráticas, tanto com o poder público, como com outros agentes. Os moradores têm,

dessa forma, a oportunidade de reconhecer e identificar suas necessidades e prioridades, assim

como utilizar a informação obtida para se aproximar de representantes públicos e privados

para diálogos mais qualificados e negociações melhor instrumentalizadas.

4.3.2 Auto-recenseamento

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O melhor veículo de disseminação das metodologias e práticas do SDI - Slum

Dweller´s International é o intercâmbio de comunidades, gerando troca de informações,

experiências e técnicas diretamente entre moradores de assentamentos precários.

O papel das mulheres é fundamental neste processo, induzindo dessa forma mudanças

culturais nas comunidades. Muitas mulheres têm pela primeira vez uma oportunidade de

afastar-se de suas famílias, conhecer outras localidades e interagir com pessoas em situações

similares.

O intercâmbio pode ocorrer dentro de uma cidade, entre cidades ou mesmo entre

países. Hoje em dia, integrantes de federações populares na Ásia, África e América Latina,

em 32 países, compartilham suas experiências com o apoio do SDI.

A ideia básica do intercâmbio é fortalecer o conhecimento do próprio ambiente para os

membros das federações populares. Ao transmitir seus conhecimentos e experiências fora de

suas comunidades, as pessoas vêem sua própria realidade com outro olhar e ampliam a

compreensão sobre sua própria situação.

O intercâmbio também proporciona o reconhecimento da existência de desafios comuns

entre assentamentos precários, nacional e internacionalmente, e a busca de soluções coletivas,

além de possibilitar a formação de uma rede de ação, que tem um alto poder de fortalecimento

das iniciativas particulares de cada comunidade, cidade, estado, região e país.

Consiste na integração dos assentamentos precários à cidade e a garantia de uma

moradia digna para seus moradores somente é possível com a concretização da regularização

fundiária. Para isto, é fundamental enfrentar questões diretamente ligadas à regularização

fundiária, como o reconhecimento da posse de terra, a garantia do direito à moradia digna, o

4.3.3 Intercâmbio

4.4 Campo de atuação

4.4.1 Regularização fundiária

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controle do uso do solo, a operação e manutenção dos serviços urbanos, bem como a

consolidação da existência jurídica e administrativa da habitação.

A regularização fundiária é trabalhada pela Interação com base na metodologia do

SDI, que é por meio de um processo participativo e horizontal que envolve ativamente os

moradores de assentamentos informais e outros agentes envolvidos com o tema.

Figura 3 – Casas da comunidade da Vila Real

Fonte: Foto tirada pelos próprios autores

Um dos objetivos mais importantes do trabalho do SDI é demonstrar às comunidades,

técnicos, representantes do governo e políticos que podem existir alternativas negociáveis

antes de tomar a decisão dos despejos forçados.

Ao longo dos anos, as comunidades do SDI desenvolveram, adaptaram e sofisticaram

o instrumental e as estratégias para suprimir processos de despejo e transformar cidades, da

demolição ao desenvolvimento. Esses instrumentos incluem o auto-recenseamento,

4.4.2 Segurança fundiária

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mapeamento, pesquisa de áreas disponíveis, planejamento, disseminação de tecnologias

construtivas e construção de redes através de intercâmbio.

A rede constituída pelas organizações vinculadas ao SDI conta com um número

crescente de exemplos em diversas cidades em várias partes do mundo, onde as comunidades

negociaram a segurança na posse de forma bem sucedida, tendo posteriormente iniciado

processos de desenvolvimento em largas escalas.

Com a prática usual por parte do poder público de remover famílias residentes em

assentamentos informais, houve um aprofundamento na segregação sócio-espacial brasileira,

além dos crescentes conflitos urbanos. Diante deste quadro e na busca pelo direito de

moradia, a Interação tem como um de seus princípios fundamentais a atuação nestas áreas,

para que se possa fixar e manter essa população nos espaços em que sempre viveram,

buscando também suprir a localidade com a urbanização necessária.

A urbanização de determinada área é realizada através de melhorias habitacionais, tais

como acesso à infra-estrutura necessária, pavimentação de ruas, implantação de redes de água

e esgoto e de espaços para equipamentos sociais e de lazer, além da segurança de posse.

A Interação, com a metodologia do SDI, permite a criação e fortalecimento de canais

de comunicação entre o poder público e a comunidade, fazendo com que as políticas públicas

sejam formuladas e operadas de maneira mais efetiva. Dessa forma, é possível o acesso a

melhores condições de habitação aos moradores de assentamentos informais, promovendo a

integração destes com a cidade.

4.4.3 Urbanização

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Figura 4 – Ruas de terra na comunidade da Vila Real

Fonte: Foto tirada pelos próprios autores

Em casos em que a comunidade moradora de um assentamento precário ou favela e

um segundo ator – o poder público, o proprietário do terreno, uma empresa, etc – não chegam

a um acordo sobre um determinado assunto pertinente e importante à vida da comunidade,

pode-se recorrer à mediação como um método consolidado e válido para resolução do

conflito.

A mediação representa uma forma consensual de resolução de controvérsias, na qual

as partes, por meio de diálogo franco e pacífico, têm a possibilidade, elas próprias, de

solucionarem seu conflito, contando com a figura do mediador, terceiro imparcial que

facilitará a conversação entre elas.

4.4.4 Mediação de conflitos

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Comunidades vinculadas ou não à Interação podem contar com o apoio dela para

realizar uma mediação de conflitos, visto que a organização possui ampla experiência neste

tipo de atividade.

4.5 Modelo Conceitual de Maturidade

Modelos de maturação são utilizados na Engenharia de Produção para a implantação

de processos que requerem um alto grau de treinamento inicial. A metodologia surgiu com o

CMM (capability maturity model) utilizado na área de informática para o desenvolvimento de

softwares. O objetivo era antecipar as possíveis falhas e também educar os usuários com

relação ao uso das ferramentas.

Entretanto, esta ferramenta é aplicável também a muitas áreas do comportamento

humano, que requerem um processo de aprendizado inicial. Em comportamento

organizacional, a gestão de equipes, por exemplo, é feita de acordo com a maturidade de seus

membros.

A metodologia do SDI e o trabalho da Rede Interação utilizam uma doutrina

semelhante. Através da educação das pessoas na comunidade, busca-se um amadurecimento

político e social. Sendo assim, é possível adaptar os conceitos de Engenharia de Produção em

um modelo que explique esta evolução e possibilite, assim, controlá-la. A figura a seguir

sintetiza este raciocínio:

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Figura 5 – Modelo de implementação e maturidade de projetos

Fonte: Adaptado pelos autores com base na metodologia da ONG

4.5.1 Explicação do Modelo

Etapas do processo: Conjuntos de atividades pertinentes ao processo, orientados de

forma lógica com um propósito definido.

Estágios de maturidade: Conjunto de características do sistema trabalhado, que

evoluem e se modificam sob ação direta ou influência do processo, evoluindo para outro

conjunto de características de forma gradual, até a formatação final.

A transição gradual entre estágios de maturidade está representada na figura 5 pela

transição entre cores. Foram definidos os seguintes estágios de maturidade gerais:

Aproximação: refere-se à construção de relações iniciais e confiança; Preparação: refere-se à

reunião de recursos, organização de equipes, estabelecimento de metas e consolidação de

conhecimento inicial; Implementação: refere-se ao firmamento das bases do trabalho e

modificações efetivas e consistentes no sistema; e Sustentação: refere-se à legação e a

transcendência do trabalho ao sistema, que passa a executá-lo, gerenciá-lo, mensurá-lo e

melhorá-lo.

Dimensões da Qualidade: Conjuntos de semelhantes critérios de percepção de valor

sobre determinado serviço, definidos por seus consumidores, produtores, meio e natureza dos

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recursos (adaptado de Hayes 1992). Neste modelo, estas dimensões estão relacionadas ao grau

de desenvolvimento dos estágios de maturidade.

Indicadores: qualitativos e/ou quantitativos, tem o objetivo de verificar se as

dimensões da qualidade estão sendo preenchidas.

O bairro de Vila Real está localizado no município de Várzea Paulista, cidade

localizada na área urbana de Jundiaí. A história da cidade remete a 1867, quando era rota da

ferrovia Santos-Jundiaí para escoamento de café, e passa por diversos momentos até sua

emancipação, em 1965. A estrutura administrativa da Prefeitura foi concluída em 1972.

O IDH da cidade era 0,795 em 2000. O número de habitantes em 2009 era de 107.211

pessoas e a produção total em 2008 foi R$ 1.048.702.338,00. As principais atividades

econômicas equilibram-se na prestação de serviços, comércio, indústrias e agropecuária.

(HISTÓRICO DE VÁRZEA PAULISTA, 2011).

O bairro de Vila Real localiza-se na região noroeste da cidade. Sua ocupação tem

início na década de 70, inicialmente com posseiros e arrendatários e, posteriormente, com

parcelamento irregular e ocupação desorganizada. A área total ocupada possui cerca de

650.000 m², abrigando mais de 4.000 moradias, cujas famílias, em sua maioria, ganham até

pouco mais de três salários mínimos (SILVA, 2008).

Em 2005, com a ação conjunta do poder público, da comunidade de Vila Real da Rede

Interação, foi realizado o início da implantação em Vila Real da Ação Apoio a Projetos de

Regularização Fundiária Sustentável de Assentos Informais em Áreas Urbanas, inserida no

Programa Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários. O repasse de

recursos foi feito pela Caixa, através da assinatura de contrato com a Prefeitura de Várzea

Paulista (SILVA, 2008). O investimento obtido foi de R$ 230.000,00, sendo R$ 183.300,00

oriundos do Orçamento Geral da União e R$ 46.700,00 da Prefeitura de Várzea Paulista.

O objetivo do programa, além da regularização fundiária, que tinha como premissa a

emissão de títulos de propriedade ou concessões de uso, era também a participação ativa da

comunidade instalada no local e a fixação das pessoas à terra, o que só poderia ser obtido

através da geração de fontes de emprego e renda e através da segurança jurídica de posse.

Para este fim, atividades de mapeamento geográfico da região, cadastro sócio-econômico,

4.6 Explanação de estudo de caso: bairro Vila Real

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sensibilização e conscientização das pessoas e diversos estudos e projetos auxiliares deveriam

ser conduzidas com eficiência (SILVA,2008).

Assim, em outubro de 2005, a Prefeitura de Várzea Paulista firmou um termo de

parceria junto à Rede Interação, com o intuito de agregar a competência técnica da ONG

recém criada ao trabalho.

A metodologia aplicada pela ONG seguiu-se em 8 etapas cronológicas (SILVA,2008):

1. Auto-cadastramento: formação de um banco de dados dinâmico, gerido pelos

próprios moradores.

2. Contagem das casas: envolvimento da comunidade na elaboração dos critérios de

divisão dos setores e de enumeração das casas.

3. Mapeamento: identificação de estruturas, serviços existentes, áreas de risco e pontos

de acesso.

4. Enumeração: conciliação dos números das casas com os serviços e estruturas

identificados e registro deste trabalho em um mapa, que fica em poder da comunidade.

5. Pesquisa e cadastramento domiciliar: os próprios moradores coletam, checam e

monitoram as informações sobre a estrutura fundiária, econômica e social da

comunidade.

6. Perfil do assentamento: possibilita à comunidade participar ativamente da

atualização cadastral e do planejamento local, com base na reflexão sobre as

informações obtidas.

7. Fórum de acompanhamento: composto pelos participantes do processo, incluindo a

comunidade, o poder público e os membros da Rede Interação.

8. Intercâmbio: visitas a comunidades com projetos semelhantes de regularização

fundiária, para o compartilhamento de experiências e potencialidades dos grupos.

Neste projeto, a comunidade participou de intercâmbios nos municípios de Santo

André, Santos e Diadema, e uma moradora participou de um intercâmbio na África.

9. Poupança Comunitária: formação de grupos de poupança dos quais são coletados

valores financeiros sem a exigência de uma quantia mínima, que são então depositados

em um fundo de reserva comunitário cujas finalidades devem ser deliberadas em

conjunto pelos membros do grupo. Além de ser uma fonte de recursos financeiros de

custo baixo para os projetos, o próprio processo de coleta, de organização de reuniões

deliberativas e da gestão financeira coletiva ajuda a consolidar as redes sociais e

fortalece os vínculos comunitários.

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Para a condução da contagem de casas, a área de Vila Real foi dividida em 13 setores

(A a M). Em cada setor, são eleitos 3 representantes, que formam cada um seus respectivos

grupos de coleta e de cadastro. Cada grupo enumera as casas conforme os critérios pré-

estabelecidos, realiza o censo e dá andamento às coletas. Reuniões de acompanhamento são

realizadas periodicamente para se avaliar a evolução do trabalho. Os cadastros são atualizados

e revisados e então apresentados ao poder público. Atualmente, a Prefeitura de Várzea

reconhece o cadastro realizado pela comunidade como oficial e estas informações são

utilizadas como base nas negociações com o governo e na elaboração dos projetos futuros.

4.7 Etapas do estudo de caso

A primeira etapa do estudo de caso foi uma reunião de primeiro contato, que ocorreu

em fevereiro de 2011, em que o grupo conheceu a direção e o corpo administrativo da ONG,

além de dois líderes de comunidades: a líder do grupo Multiplicadores de Cidadania de Vila

Real, Várzea Paulista e um líder de outra comunidade em Osasco. A partir das informações

colhidas a respeito da organização e de sugestões de materiais de leitura, como os folhetos de

Vila Real, cartilhas de trabalho do SDI e indicação do artigo ―O terceiro setor no limite da

economia neoclássica: uma crítica a Burton Weisbrod‖, de L.C. Ramos, se pôde trabalhar o

detalhamento do projeto de pesquisa e organizar os passos do trabalho.

A segunda etapa foi uma reunião para apresentar o projeto ao Conselho Diretor da

ONG. Esta reunião ainda tinha um caráter de contato, estando o trabalho ainda em um estágio

incipiente.

Então se pôde dar andamento à terceira etapa: o detalhamento do projeto. Adaptou-se

o método dos incidentes críticos de Hayes (1992) às informações presentes no site da ONG e

no material cedido para se definir as seis dimensões da qualidade; adaptou-se também o

processo de organização das comunidades às teorias de gestão de projetos e de modelos de

maturação de capabilidade (CMM) para se desenhar o modelo conceitual de maturidade

utilizado; por fim, estratificaram-se as dimensões da qualidade em uma matriz de níveis de

variáveis para se definir indicadores objetivos do trabalho da ONG na comunidade e buscou-

se testar esta matriz. As etapas deste trabalho estão descritas no tópico que trata da

metodologia. O terceiro contato com a ONG se deu em uma entrevista de 58 minutos com a

Diretora-Presidente da ONG, onde foram detalhadas as dimensões da qualidade em variáveis

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de medição e também discutir alguns itens interessantes ao valor do trabalho. Entre muitos

exemplos, foi citado um caso em que um membro de uma comunidade reclamou de um

projeto de criar uma área verde em um terreno baldio na comunidade. O problema levantado

por este membro foi que uma área verde, apesar de melhorar a estética do lugar, atrairia o

tráfico de drogas. Ao invés disso, o melhor seria uma área de capacitação para a comunidade,

levantou. O fato ilustra a importância da participação da comunidade nos projetos urbanísticos

junto à Prefeitura.

Outro assunto abordado com grande destaque foi a questão da obrigação do Estado e

da capacidade do cumprimento desta obrigação. Legalmente, o Estado tem a obrigação de

prover moradia, saneamento básico, educação e outros bens sociais. Entretanto, segundo a

Diretora, no Brasil, devido principalmente às ineficiências do Estado, não é possível prover

estes serviços em qualidade e abundância necessários. Este fato explica o surgimento do

terceiro setor no território nacional. Na verdade, o Brasil seria um misto do modelo

americano, de Estado mínimo com o modelo europeu, de Estado extremamente

assistencialista. Neste contexto, o papel da Rede Interação é muito importante, na medida em

que promove a organização da comunidade para que esta auxilie o Estado em suas obrigações,

como definir prioridades em decisões de alocação de recursos de orçamento, por exemplo.

Estes exemplos puderam ser verificados pelos pesquisadores quando se participou de

uma reunião de intercâmbio entre a comunidade de Vila Real com a comunidade de Osasco,

às nove horas da manhã do dia 22 de maio de 2011. Os líderes da comunidade de Osasco

visitaram os líderes da comunidade de Vila Real, com os objetivos de compartilhar

experiências, de estudar as causas de sucesso do projeto em Vila Real, uma vez que a

regularização desta comunidade de Osasco passa por dificuldades, e de se conectar à Rede

Interação, obtendo seu apoio técnico e sua intermediação no processo.

Participaram desta reunião a líder do grupo Multiplicadores de Cidadania, além de

outras líderes de grupos de Vila Real, membros da comunidade de Osasco e seus líderes, um

Diretor Executivo da Rede Interação e este grupo de TCC. A reunião ocorreu na casa de uma

moradora de Vila Real, também líder da comunidade. Houve uma confraternização inicial,

conduzida com uma oração seguida de um farto café da manhã e de apresentações. Então

tiveram início os debates:

―Trabalhar contra o governo é complicado‖, afirmou um líder da comunidade de

Osasco em certo momento. ―Percebemos isto, então achamos formas de trabalhar com o

governo‖, respondeu outra líder, da comunidade de Vila Real. O conceito de parceria é

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fundamental para a aplicação da metodologia do SDI e vai ao encontro da necessidade de

qualidade da articulação de redes organizacionais, citada na revisão da literatura. Os líderes da

comunidade de Vila Real a representam frequentemente em reuniões com a Secretaria

Municipal e, quando ocorre um impasse, o próprio prefeito participa da conversa. Um dia

antes da reunião, houve um evento de inauguração de uma rua do bairro, a Rua Felicidade, em

que este compareceu para prestigiar a conquista da comunidade. Todo o projeto de

urbanização do bairro tem o aval da Prefeitura, sendo a negociação feita com os membros da

comunidade.

Um caso exemplifica bem esta atuação: na época da reunião, havia uma negociação de

um grupo de empresas da região para construir uma ponte entre duas localidades. Para tal,

uma parte da verba destinada à Vila Real deveria ser realocada. A comunidade logo se

posicionou e o projeto foi embargado. ―Se eles estiverem dispostos a conversar, podem

formar um grupo e falamos todos em uma mesa de reunião. Assim, sem falar conosco, não‖,

disse uma líder da comunidade.

Outra forma de participação política bastante utilizada é o orçamento participativo.

Periodicamente, a Prefeitura organiza reuniões com os cidadãos de Várzea Paulista para

decidir em conjunto a aplicação de algum excedente de verba. A comunidade de Vila Real já

adquiriu o hábito de frequentar as reuniões. ―As pessoas não têm o hábito de participar e a

Prefeitura acaba decidindo a aplicação do dinheiro‖, diz a anfitriã. Segundo a líder do grupo

Multiplicadores de Cidadania, ainda quando ocorre participação, esta pode ser prejudicial ao

invés de ajudar, caso os participantes não conheçam o próprio grupo. ―Participamos de uma

reunião onde um grupo queria alocar a verba em um projeto já previsto no orçamento comum

e tivemos de intervir‖, diz. Um pilar fundamental para o sucesso da articulação da rede é o

conhecimento de causa da comunidade sobre seus problemas, o que só pode ser obtido com

intensiva educação. O trabalho da Rede Interação neste sentido é muito importante, pois

reforça o exercício da cidadania através da capacitação de pessoas, o que produz um resultado

sustentável por vários anos.

―Aprendemos a usar o poder público assim como eles nos usavam‖, disse uma das

líderes da comunidade de Vila Real, em um interessante comentário. A líder do grupo

Multiplicadores de Cidadania descreveu uma ocasião em que um projeto dependia da

aprovação de um projeto de Lei na Câmara de Várzea Paulista. O grupo Multiplicadores de

Cidadania foi assistir à votação e a líder, em uma conversa informal com um deputado,

explicou o motivo da sala ocupada: ―A presença organizada é muito importante, quando a

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comunidade se posiciona de forma organizada, o efeito é muito maior. Hoje, muitas vezes eles

que vêm nos procurar para conversar‖

A comunidade de Osasco explanou suas dificuldades conseguiu absorver os exemplos

de Vila Real. Foi interessante constatar como os problemas eram parecidos: desconfiança das

pessoas, crime organizado, políticos interesseiros, complexidade jurídica, ações de má fé por

parte de alguns moradores, entre outros casos. Em um dos tópicos abordados, foi apontada

uma ocasião em que a Prefeitura de Várzea Paulista vendeu títulos de propriedade aos

moradores sem a possibilidade de execução jurídica. Convencer as pessoas de um projeto

sério após um evento assim é bastante difícil. Atualizações de cadastro também são motivos

de conflitos. O autocadastramento realizado pela comunidade de Várzea Paulista é aceito

como oficial pela Prefeitura e qualquer processo de adjudicação exige uma alteração neste

cadastro, que tem de ser feita na Prefeitura, o que nem sempre é cumprido. Dados como

oscilações demográficas, como casais que têm filho, morte de pessoas ou mudanças do local

também ocorrem em uma velocidade maior do que é possível atualizar no cadastro.

A comunidade receptora contou como superou as dificuldades. Reiterou a importância

do auto-rescenceamento, da contagem das casas e das famílias e do envolvimento das pessoas.

―Em reuniões para falar de futebol e cerveja, a audiência é enorme. Mas mesmo se você

chegar a falar para o cara que a casa dele vai cair se ele não ajudar, ainda assim é difícil aderir

todo mundo‖, comentou um dos líderes da comunidade de Osasco, lamentando a dificuldade

de adesão com todos os moradores. ―Comece pelos interessados, os outros cedo ou tarde, à

medida que o projeto vai crescendo, vão se envolvendo‖ argumentou o diretor da ONG. O

conceito de uso amplo do diálogo, da paciência é predominante na metodologia do SDI. A

qualidade dos resultados oriundos dos serviços prestados pela ONG são de natureza ulterior e

deve-se levar este fato em consideração na mensuração desta qualidade.

O intercâmbio, na prática consiste em uma rede de aprendizagem, em que o

conhecimento é transferido e então pode ser replicado, melhorado e então transferido

novamente. O efeito exponencial deste modelo é o que sustenta o crescimento da atuação da

ONG e garante a replicabilidade de sua metodologia. O próprio objetivo deste trabalho de

conclusão de curso de propor e testar um modelo para medir a qualidade do trabalho da ONG

tem como pano de fundo uma ambição de iniciar uma pesquisa no âmbito da Engenharia de

Produção para viabilizar a multiplicação deste trabalho em escala.

Houve ainda uma excursão pelos setores M, F, K e L da comunidade, um treinamento

sobre o auto-rescenceamento e uma confraternização de despedida. A comunidade de Osasco

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levou um amplo aprendizado para compartilhar entre seus membros, o apoio da comunidade

de Vila Real e a promessa da Rede Interação de auxiliar no processo de regularização

fundiária. ―A experiência nos mostra que quando nos juntamos, ficamos fortes. Associados à

Rede Interação, vocês terão acesso a uma rede internacional de comunidades, além de contar

com nosso apoio técnico quando for necessário‖, diz o diretor da ONG.

Após esta experiência, foi possível dar continuidade a um dos questionários de

pesquisa pela comunidade. Foram entrevistados moradores das seções M, F, K e L para

complementar as informações obtidas no cadastro da ONG, conforme está explicado no

tópico que fala da metodologia. Fazer a entrevista, além de fornecer os dados para o trabalho,

deu a oportunidade ao grupo de experimentar as dificuldades e satisfações sentidas pelos

líderes da comunidade e por seus grupos.

Os dados tabulados permitiram a elaboração dos indicadores e serão apresentados nos

próximos tópicos. Para melhor explorá-los, os indicadores analisados foram classificados em

dois tipos: quantitativos e qualitativos.

Os quantitativos foram obtidos por meio da análise de amostras dentro do cadastro

mantido pela Rede Interação.

Já os qualitativos foram obtidos por meio das entrevistas realizadas na comunidade.

4.7.1 Indicadores quantitativos

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Tabela 1 - Indicadores quantitativos da dimensão infra-estrutura

1 a 3 4 ou 5 6 ou mais

47,2% 38,9% 13,9%

0 a 35 35 a 71 71 a 106 106 a 141 141 a 176 > 176

26,4% 39,9% 16,3% 8,0% 1,4% 8,0%

Madeira Mista Alvenaria

2,0% 1,0% 97,0%

Clandestina Vizinho Outros Regularizada

3% 12% 1% 84%

Poço/Sisterna Outros Rede oficial

22% 2% 76%

Sem iluminação Outros Com iluminação

9% 1% 90%

Outros Fossa sanitária Rede pública

13% 50% 37%

INF

RA

ES

TR

UT

UR

A

Saneamento

Metro quadrado do lote por habitante

Rede elétrica

Número de cômodos

Material de construção

Rede hidráulica

Iluminação Pública

Fonte: Elaborada pelos autores

Através dos indicadores pertinentes à dimensão de infra-estrutura, pode-se analisar a

situação atual da comunidade no âmbito da qualidade de habitação e dos requisitos básicos de

infra-estrutura pública. É possível identificar que, apesar de grande parte das moradias serem

fabricadas de alvenaria, possuírem iluminação pública e rede elétrica regularizada, por outro

lado pode-se visualizar um ponto crítico de atenção para o número de casas com fossa

sanitária. Esse número representa um risco à saúde da comunidade e, quando associado ao

número de casas com rede hidráulica proveniente de poços ou cisternas, o risco tende a ser

multiplicado, devido as chances de contaminação dessa água.

Quase metade das casas analisadas possuem de 1 a 3 cômodos. Este indicador pode

gerar diversas interpretações:

- uma casa de apenas um cômodo não pode ser classificada da mesma forma que uma

casa de três cômodos, já que esta passa a apresentar uma divisão adequada dos cômodos

(geralmente dividido entre quarto, sala e cozinha).

- também não podemos tirar muitas conclusões se uma casa de três cômodos atende de

forma eficiente as necessidades de uma família sem levar em conta quantos integrantes essa

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família possui. Três cômodos podem atender de forma satisfatória uma família de duas

pessoas, porém não proporcionará nenhum conforto a uma família de seis pessoas.

O grupo concluiu que este indicador não foi avaliado da melhor forma durante o auto-

recenseamento realizado pela comunidade. Daí, pode-se associar este exemplo à importância

de se planejar o questionário antes de iniciar o censo com a comunidade, a fim de que os

dados coletados realmente resultem em análises de qualidade sobre a situação da comunidade.

Tabela 2 - Indicadores quantitativos da dimensão social

até R$ 350,00 R$ 350,00 a R$ 750,00 > R$ 750,00

23% 55% 22%

Fundamental Ensino médio Ensino superior

82% 17% 1%

Desempregado Informal Formal

12% 24% 64%

Nenhum 1 a 3 4 a 6 7 a 10 11 a 15 16 a 20 >20

4% 7% 0% 4% 4% 0% 81%

< 1 ano 1 a 5 anos 6 a 9 anos > 10 anos

10% 23% 16% 51%

Diariamente Semanalmente Quinzenalmente mensalmente Nunca

22% 33% 4% 7% 22%

Sim Não

2% 98%

Nunca Uma vez por mês

89% 11%

Sim Não

96% 4%

SO

CIA

L

Frequencia de encontros informais com os amigos

Portadores de necessidades especiais

Frequência de visitas a locais públicos

Participação nas eleições

Quantidade de amigos na comunidade

Tempo de moradia na comunidade

Renda

Escolaridade

Emprego

Fonte: Elaborada pelos próprios autores

Os indicadores da dimensão social são de grande importância para que o poder público

consiga dimensionar o número de escolas, número de pessoas que atendem aos pré-requisitos

do nível de escolaridade mínimo para participar de concursos públicos e número de

analfabetismo, dentre outros.

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A situação atual do nível de escolaridade dos habitantes de Vila Real ainda é crítica,

visto que a maior parte da população possui somente ensino fundamental, impactando

diretamente no indicador de renda média e também no número de emprego formal.

Foi possível identificar também a inexatidão do indicador de renda média, pois este é

calculado por família, e não por pessoa, sendo assim uma renda média de R$ 500,00 para uma

família pequena proporcionará melhores condições do que a mesma renda dividida para uma

família com muitos membros.

O indicador de tempo em que se mora na comunidade é muito importante por duas

razões. A primeira é que através deste indicador podemos concluir que, após o término do

censo à aproximadamente um ano, a comunidade mudou relativamente pouco (cerca de 10%).

Sendo assim é possível afirmar que a base traduz a realidade da comunidade. Outro fator que

justifica a importância deste indicador é a possibilidade de analisar o tempo médio de

convivência dos moradores na comunidade de Vila Real, podendo acompanhar quantos

moradores vivenciaram as mudanças e os ganhos já alcançados pelo projeto. Este número

também influencia diretamente aos indicadores de convívio social, já que moradores mais

antigos tendem a ter mais ―conhecidos‖ e amigos no bairro do que os moradores mais

recentes.

É preocupante o número levantado de freqüência de visita a locais públicos, pois

apesar de ser considerado pela comunidade como algo ―supérfluo‖ quando comparado as

necessidades básicas da população, indica que a integração dessas pessoas com a sociedade

está comprometida. Este problema social pode ser comprovado através do seguinte

comentário de um morador: ―Não quero ter uma casa chique, só quero ter um endereço pra

poder receber uma carta e preencher uma ficha de emprego.‖

Tabela 3 - Indicadores quantitativos da dimensão política

Sempre Quase sempre Eventual Raramente Nunca

20% 20% 27% 20% 13%

PO

LÍT

IC

O Participação nas reuniões do grupo de poupança

Fonte: Elaborada pelos próprios autores

Na dimensão política ocorre uma variação bastante interessante. Percebe-se um grande

percentual de participantes nas primeiras reuniões para a demonstração da evolução da

poupança comunitária. Isso se deve ao fato de que as pessoas que aderiram à poupança

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comunitária ainda carregam consigo certa desconfiança com relação à gestão do investimento

feito e, por isso, acompanham minuciosamente através das reuniões como o dinheiro

conseguido com muito esforço está sendo tratado. Com o tempo, essa desconfiança vai

perdendo força e os moradores que colaboram com a poupança não sentem tanta necessidade

de acompanhar assiduamente a evolução do dinheiro através das reuniões, porque confiam

nos responsáveis pelos grupos de poupança.

Quando o valor da poupança começa a ficar expressivo, as pessoas começam a

―enxergar‖ que realmente estão no caminho certo e começam a discutir onde e quando gastá-

lo. Neste ponto, as reuniões começam a ter um índice de presença maior.

Um morador, quando foi abordado pela primeira vez por representantes africanos do

SDI, disse: ―Esse negócio de dar dinheiro pra eles é golpe, eu tô fora‖. Hoje, após se interar

do que realmente falavam os representantes do SDI, esse mesmo homem é um dos líderes da

mobilização para organizar os moradores de uma comunidade em Osasco.

Tabela 4 - Indicadores quantitativos da dimensão cultural

Diariamente 1 a 2 vezes por semana Quinzenalmente Mensalmente Nunca

11% 30% 7% 4% 48%

Diariamente 1 a 2 vezes por semana Quinzenalmente Mensalmente Nunca

59% 22% 0% 0% 19%

Diariamente 1 a 2 vezes por semana Quinzenalmente Mensalmente Nunca

48% 15% 0% 11% 26%

Diariamente 1 a 2 vezes por semana Quinzenalmente Mensalmente Nunca

33% 26% 0% 19% 22%

Diariamente 1 a 2 vezes por semana Quinzenalmente Mensalmente Nunca

Esporte 4% 0% 0% 0% 96%

Cinema 0% 0% 7% 0% 93%

Teatro 0% 0% 4% 0% 96%

Shows musicais 0% 0% 4% 7% 89%

Circo 0% 0% 0% 0% 100%

Parques de diversões 0% 0% 4% 4% 93%

Leitura 7% 0% 4% 0% 89%

Jogo de cartas 0% 4% 0% 0% 96%

11% 11% 0% 0% 78%

CU

LT

UR

AL Frequência com que discute assuntos da comunidade

Frequência com que discute atualidades

Com que frequência se dispõe ao lazer

Frequência de leitura de jornais

Frequência que assiste à telejornais

Internet para fins de lazer

Fonte: Elaborada pelos próprios autores

Os indicadores de dimensão cultural apresentam um cenário que quando comparado as

demais dimensões dá a impressão de estar defasado. A análise desses indicadores requer uma

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visão mais subjetiva que os demais. A frequência de leitura é pequena, que vai ao encontro do

nível de escolaridade já analisado na dimensão social. Porém, a comunicação verbal, através

de conversas com vizinhos, aparece com valores representativos, assim como a frequência de

acompanhamento de telejornais.

O interesse sobre os assuntos da comunidade também aparece de forma intensa através

dos indicadores. Este interesse se dá por conta das mudanças bruscas que estão ocorrendo na

comunidade devido à evolução do projeto de urbanização junto à Prefeitura. Essa evolução

acelerada do processo de urbanização da comunidade motiva os habitantes a conversarem a

respeito do trabalho que está sendo realizado, ampliando esta ―onda‖ de transferência de

informação, divulgando ainda mais a metodologia e ampliando os resultados do projeto.

Muitos moradores se convenceram que pagar os impostos, contas de água e luz

(consequência da urbanização para os moradores) trará aos habitantes seus benefícios de

cidadãos.

Novamente, é possível identificar que o lazer para esta comunidade quase não é

considerado. Esta preocupação foi levantada no projeto de urbanização da comunidade, onde

a construção de uma praça consta no planejamento do orçamento. Por conseqüência o

indicador econômico também estará representando este cenário, conforme pode ser visto no

gráfico abaixo:

Tabela 5 – Indicadores quantitativos da dimensão econômica

até 50 de 50 a 100 de 100 a 200 de 200 a 300 NADA

11% 22% 7% 4% 56%EC

ON

ÔM

IC

O

Faxia de gastos com atividades não básicas como lazer e viagens

Fonte: Elaborada pelos próprios autores

Na dimensão econômica, o indicador que mede os gastos com atividades não básicas

também não sofre alterações em função do alcance da maturidade dos processos. Assim como

na dimensão cultural, esse indicador tem relação direta com o orçamento e hábitos de

consumo de cada família.

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Tabela 6 - Indicadores quantitativos da dimensão legal

Contrato de

compra e

venda

Contrato de

locação Não possui

Recibo de compra

e venda Outros

Concessão

de direitos

63% 2% 21% 7% 5% 2%

Ocupou o lote

e construiu

Ocupou o

domicílio

domicílio

emprestado

Comprou da

prefeitura e não

pagou

Comprou de

terceiro e pagou Alugado

Troca /

Permuta Outros

3% 6% 1% 1% 68% 0% 1% 20%

Próprio Alugado Emprestado Ocupou

82% 4% 5% 9%

LE

GA

LSituação da Documentação de Posse

Situação do Loteamento

Situação do imóvel

Fonte: Elaborada pelos próprios autores

Esse indicador representa o tamanho do desafio que a comunidade terá de enfrentar no

seu processo de regularização fundiária.

4.7.2 Indicadores qualitativos

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Quadro 5 - Indicadores qualitativos da dimensão Infraestrutura.

Péssimo Regular Bom Ótimo Excelente

x

Péssimo Regular Bom Ótimo Excelente

x

Péssimo Regular Bom Ótimo Excelente

Creches x

Educação infantil x

Ensino fundamental x

Ensino médio x

Superior

Não há Há, porém não regularizada Há e é regularizada

x

Não há Há, porém não regularizada Há e é regularizada

x

Não há Há, porém não regularizada Há e é regularizada

x

INF

RA

ES

TR

UT

UR

ATransporte

Saúde

Educação

Rede de telefone

Rede de televisão

Rede de Internet

Fonte: Elaborada pelos próprios autores

Os indicadores qualitativos contemplados na dimensão de infraestrutura foram

justificados da seguinte forma pelos líderes da comunidade:

Transporte: somente uma empresa de transporte público opera as linhas que cruzam a

Vila Real. Sendo assim, a comunidade fica à mercê desta companhia, sofrendo as

consequências em caso de greves e aumentos abusivos de tarifas, dentre outras, pois não

existe uma segunda opção de transporte público.

Saúde: Foi considerada ótima por conta da ampla gama de especialidades que

atendem no posto de saúde próximo à Vila Real. Os agendamentos costumam acontecer

dentro de prazos razoáveis quando comparados com outros hospitais públicos. O motivo da

não-excelência é porque estes especialistas atendem somente em consultas com hora marcada,

sendo que no pronto socorro não existe nenhuma especialidade disponível.

Educação: todos os tipos de instituições foram classificadas como bom, com exceção

do ensino superior, pois não existe nenhuma instituição deste tipo próxima à comunidade.

Rede de telefone, televisão e internet foram classificadas como regularizadas, porém a

incidência de pessoas que utilizam esse serviço na comunidade é pequena.

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Quadro 6 - Indicadores qualitativos da dimensão Político.

56%

Ótima

Semanal

PO

LÍT

ICO

% de participantes nas reuniões

Qualidade das pautas

Nº de reuniões aos Órgãos do Poder Público

Fonte: Elaborada pelos próprios autores

Dentro da dimensão política, os indicadores mostram que a comunidade pode ser

considerada participativa nas reuniões da comunidade, propondo melhorias e questionando os

resultados do projeto. Este interesse por parte da população também pôde ser percebido nos

indicadores quantitativos, conforme já foi citado anteriormente.

Quadro 7 - Indicadores qualitativos da dimensão Econômico.

Interesse das empresas nos projetos

EC

ON

ÔM

ICO

Não foram a procura de interessados

Volume de capital externo público investido por projeto

Interesse dos Órgãos Públicos nos projetos

Fonte: Elaborada pelos próprios autores

Controlar a dimensão econômica com indicadores qualitativos permite à comunidade

estreitar relacionamentos com as entidades privadas e públicas de acordo com o interesse no

planejamento, projeto e execução dos serviços necessários durante a regularização fundiária.

Ele permite verificar através do interesse dessas entidades, a integração entre poder

público, comunidade e entidades privadas e públicas.

Quadro 8 - Indicadores qualitativos da dimensão Legal.

Péssimo

Eficiência na execução dos Processos JurídicosLEGAL

Fonte: Elaborada pelos próprios autores

O processo de regularização fundiária requer a emissão de muitos documentos por

parte de cartórios e prefeitura do município. Devido à enorme burocracia instalada nos órgãos

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que regulam os aspectos habitacionais, a eficiência na execução dos processos jurídicos é

bastante lenta, incorrendo em dificuldades para o andamento dos projetos.

É interessante medir essa dimensão com ferramentas qualitativas para verificar a

aderência das ações dos órgãos públicos em prol da diminuição da burocracia nos processos

de regularização fundiária.

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Os próximos parágrafos listam as principais conclusões deste trabalho:

Primeiramente, identificou-se a necessidade de existir uma articulação social de

organizações específicas no Brasil cuja finalidade seja atender a demandas sociais que o

Estado não consegue atender por completo, devido tanto a suas próprias ineficiências de

gestão, quanto à heterogeneidade da população brasileira, de enormes dimensões e grande

variedade. A tal articulação social se dá o nome de terceiro setor, pois seu propósito não

consiste em obter lucro de suas atividades, como as organizações de mercado, nem obter

arrecadações para o Estado, como as organizações públicas. Observou-se que a existência de

tal setor é razão de controvérsias entre os estudiosos do assunto; o economista Burton

Weisbrod, de 1988, defende a importância das organizações sem fins lucrativos para a

economia norte-americana, pois estas amenizam a necessidade de atuação do Estado nestas

questões sociais. Já Ramos (2005) é contra a existência de tal setor, pois crê que as questões

sociais são obrigações exclusivas do Estado e isentá-lo delas é de interesse apenas de uma

minoria mais rica da sociedade, que pratica um lobby para a prática do Estado Mínimo com o

objetivo de enxugar os gastos públicos para barrar a incidência de impostos sobre seus

negócios e fortunas.

Entrementes, admitindo-se a existência do terceiro setor e sua importância, faz-se

necessário tratá-lo de maneira profissional, através da aplicação de conceitos e ferramentas

que lhe garantam eficácia, eficiência e qualidade. Cristiano Heckert, em sua tese de doutorado

em 2008, verificou que as iniciativas oriundas deste segmento são usualmente

descentralizadas, pequenas e amadoras. Sete anos antes, em sua tese de mestrado, o autor

conduziu um estudo de caso na AACD em que buscou identificar os principais clientes da

instituição e, dentro da teoria de gestão de serviços, amplamente desenvolvida por Corrêa e

Caon (2002), mapear suas expectativas e capturar suas percepções a respeito delas, medindo,

assim, o nível de qualidade do serviço prestado por aquela organização. O método escolhido

pelo autor foi o Método dos Incidentes Críticos, proposto por Hayes (1992). Este método

consiste em levantar em campo os chamados incidentes críticos: percepções verbalizadas por

uma amostra de clientes da organização. Então se faz um exercício de agrupamento destes

incidentes em itens de satisfação e então outro exercício de agrupamento, desta vez dos itens

de satisfação em dimensões da qualidade. Estas dimensões consistem no conjunto de outputs

5 CONCLUSÃO

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que a organização deve garantir a seus atendidos para que se assuma que existe um nível de

qualidade alcançado.

O pioneirismo desta tese de mestrado influenciou bastante a iniciativa dos

elaboradores deste trabalho de conclusão de curso do Centro Universitário da FEI. O desafio

de trazer conceitos de Engenharia de Produção para um ramo de atividades tão complexo e

único é motivo de imensa satisfação e honra.

No entanto, de forma a complementar o rol de trabalhos acadêmicos publicados nesta

área, o estudo de caso desenvolvido neste trabalho tem uma natureza completamente diferente

da AACD. A Rede Interação, ONG conhecida por este grupo por meio de um noticiário da

rede Bandeirantes, possui uma missão bastante distinta: ―Contribuir para que as comunidades

em assentamentos precários, no Brasil e América Latina, conquistem seus direitos de

cidadania e moradia, através da organização comunitária e reconhecimento de seu potencial

transformador e multiplicador‖. A organização, fundada em 2004, trabalha com projetos de

educação e organização social, um serviço muito mais complexo do que aqueles prestados por

organizações puramente assistencialistas ou filantrópicas.

Na pesquisa apresentada por Dambisa Moyo, em 2005, a autora comprovou os efeitos

nefastos do puro assistencialismo. A principal consequência é o estabelecimento de uma

relação de dependência entre os beneficiados e a ajuda prestada pelas ONGs, o que termina

por agravar a exclusão social sofrida pelos ajudados.

A Rede Interação, dentro deste contexto, se torna um interessante objeto de estudo,

pois sua ação ocorre no sentido de educar e organizar as comunidades, de modo a evitar esta

relação de dependência. Na verdade, a comunidade de Vila Real, projeto da ONG investigado

neste trabalho, se posiciona hoje como um poderoso agente político, conhecedor de seus

problemas e de seus direitos ante o poder público. Tal agente conquistou o respeito da

Prefeitura de Várzea Paulista e de outras comunidades, que buscam aprender com seu

sucesso. O exemplo verificado na visita da comunidade de Osasco à Vila Real comprova este

fato, pois além do compartilhamento de experiências úteis à situação da comunidade visitante,

esta obteve acesso ao suporte da Rede Interação, o que se acredita que irá catalisar o processo

de regularização deste grupo.

O intercâmbio de experiências é um dos três pilares que sustentam a metodologia

disseminada pela ONG. Os outros dois são o auto-recenseamento, atividade em que a própria

comunidade tem a oportunidade de se organizar e a formação de grupos de poupança

comunitária, atividade derivada da organização social, em que a comunidade monta uma

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poupança com recursos arrecadados de seus membros. A aplicação desta metodologia tende a

criar um compartilhamento e retenção de informação e de experiências dentro da comunidade

que viabilizam sua futura ascensão política e social.

A metodologia é oriunda do Slum Dwellers International (SDI), organização

internacional da qual a Rede Interação é subsidiária no Brasil. O SDI tem outras filiais na

África e na América Latina e a metodologia é aplicada em todas elas. É interessante que o

intercâmbio de experiências ocorre também entre comunidades de outros países, mostrando o

alcance desta rede.

A origem do SDI e de sua consagrada metodologia está em uma comunidade de

mulheres na Índia, que após serem despejadas, formaram grupos organizados que contavam

seus membros, contribuíam coletivamente com as finanças e se reuniam frequentemente para

a troca de experiências. O papel da mulher também é bastante valorizado nesta metodologia,

que tomou corpo com o SDI e se expandiu mundialmente. A comunidade de Vila Real,

juntamente com outras comunidades ao longo do mundo, é um exemplo notório de bons

resultados.

A identificação de conceitos de Engenharia de Produção adequados ao complexo

trabalho da ONG envolveu um amplo trabalho de análise do trabalho em Vila Real e de

revisão literária sobre Engenharia de Produção. Foi constatado um enorme acervo teórico

disponível que se encaixa no perfil de atividade da organização: entendendo-se a ONG em

estudo como um centro de produção de serviços, conforme proposto por Heckert e Silva

(2001), é aplicável a teoria de gestão de serviços proposta por Corrêa e Caon (2002). O

serviço é visto como uma produção de valor, caracterizado pela alta participação do cliente

em seu processo de produção, pela simultaneidade de produção e consumo e pela alta

influência da comparação entre as expectativas do cliente e sua percepção do resultado

entregue na qualidade do serviço. Esta percepção é formada pelo somatório dos Momentos da

Verdade que este cliente tem ao longo do ciclo de serviço vivido por ele.

Há ainda que se considerar as particularidades do serviço prestado pela ONG: tanto a

regularização fundiária em si quanto a organização social são resultados obtidos após certo

tempo de trabalho. Segundo Noel (2007), este tipo de resultado é denominado ulterior e sua

qualidade somente pode ser atestada se for comprovada sua sustentação no longo prazo. Para

tanto, o trabalho de educação é essencial, pois capacita o usuário do serviço, no caso os

integrantes da comunidade, a compreender e a administrar o valor oferecido. Sendo assim, a

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qualidade do serviço depende do uso que o beneficiado faz dos resultados no longo prazo, o

que torna mais complexa a medição.

Outro aspecto importante é a relação de trocas diferenciadas entre o prestador do

serviço e o usuário. No âmbito mais geral do terceiro setor, surge a figura do voluntário:

indivíduo que oferece seu trabalho às ONGs em troca de reconhecimento, gratidão ou

satisfação de suas necessidades psicológicas (RITCHIE et al, 1999; HECKERT, 2001). No

estudo de caso em questão, os moradores da comunidade de Vila Real estabelecem com a

ONG uma relação de absorção de conhecimento e de ferramentas de organização, além de

suporte técnico junto ao poder público em negociações e nos projetos de regularização

fundiária, em troca da difusão da metodologia do SDI e da participação na rede internacional

desta organização. A qualidade do serviço prestado depende muito da fluidez destas relações,

fator que deve ser considerado no projeto deste serviço.

Hudson (2009) reiterou ainda o fato de não haver receita advindas da atividade das

ONGs como fatores críticos de gestão. A AACD, por exemplo, obtém receitas de doações e

de empresas próprias. O caso da Rede Interação é diferenciado, pois a expansão de sua

atividade não aumenta tanto seus custos, pois o princípio de sua missão está fundamentado

em uma articulação de recursos em rede, em que a organização funciona como intermediador,

e não como agente ativo. Assim, há uma significativa redução da necessidade de manutenção

de estruturas de custos fixos.

Este fator implica em outra característica importante do trabalho da Rede Interação: a

necessidade de articulação em redes. As Redes Organizacionais são um objeto de estudo

recente da Engenharia de Produção e teve de ser explorado neste estudo de caso, pois a

habilidade da ONG de educar a comunidade, de intermediar conflitos com órgãos do Poder

Público, de administrar os contatos com organizações privadas, universidades e a mídia e de

explorar os intercâmbios entre as comunidades faz da atuação em rede um elemento de grande

peso na Qualidade do serviço prestado. Importante ressaltar que a comunidade de Vila Real,

quando conseguiu de organizar e desenvolver uma massa crítica de conhecimento sobre si,

pôde trabalhar por si só esta articulação com o poder público e participar das decisões com

ele, como o orçamento participativo e negociação de verbas em obras na comunidade. Esta

atuação é um indicador expressivo sobre a qualidade do serviço prestado a esta comunidade

pela ONG.

Entretanto, o elemento central que caracteriza a atuação da ONG em Vila Real é a

natureza de uma atividade de projeto. O trabalho de organização social e de regularização

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fundiária possui diversos elementos de um projeto: existência de um escopo definido, prazo

ideal de duração que, apesar de não formalizado, consiste em atividades não-repetitivas, como

o auto-recenseamento (apesar de periodicamente este ter de ser atualizado) e critérios de

qualidade voltados a um entregável não-contínuo, embora intangível, como a regularização do

local e a mudança na estrutura social e política da própria comunidade.

Também é importante entender que o trabalho de desenvolvimento da comunidade

ocorre em uma sucessão de momentos transitórios, em que a maturidade dos conceitos é

explorada e inculcada na cultura da população continuamente no tempo. Sendo assim, o

projeto em questão deve envolver a teoria de gestão de mudanças, em que as etapas de

descongelamento, mudança e recongelamento, são desenvolvidas juntamente com o professor

Borsoi. As mudanças de atitude e de conhecimento (HERSEY E BLANCHARD, 1982)

também são alcançadas gradualmente na comunidade, à medida que o trabalho com a ONG é

desenvolvido.

Estes conceitos foram agregados em torno de um modelo de maturidade adaptado

pelos elaboradores desta pesquisa, que explica a maturação da comunidade ao longo do

tempo. O modelo é composto de cinco estágios: Aproximação, Preparação, Implantação,

Sustentação e Delegação. De acordo também com os modelos de maturação de capabilidade

de processos utilizados na informática (CMM), a estrutura consiste em uma estratégia de

aproximação adequada, em uma atuação para implantar os conceitos, no caso específico, a

organização social, a regularização e a metodologia do SDI - o auto-recenseamento, a

poupança comunitária e o intercâmbio entre comunidades – e uma delegação gradual das

responsabilidades à comunidade à medida que esta se torna mais madura. Constatou-se que a

comunidade de Vila Real se encontra no estágio de delegação; já trabalha há cinco anos com a

Rede Interação e atualmente atua como parceira desta. Enfim, a gestão adequada desta

transição influencia também na qualidade do serviço prestado.

Em vista de todas estas forças interagindo na qualidade do serviço prestado pela Rede

Interação, constatou-se que não seria possível aplicar puramente o método dos Incidentes

Críticos (HAYES, 1992). Entretanto, seria possível adaptar o conceito de Dimensões da

Qualidade, se houvesse um conhecimento prévio construído sobre o projeto em Vila Real.

O conhecimento existia no site e no estatuto da Rede Interação, além do conhecimento

tácito presente no conselho de direção da ONG e nos líderes e moradores da comunidade.

Através de uma entrevista com a diretora-presidente da Rede Interação, foi possível validar

seis dimensões da qualidade envolvidas na missão da ONG e na comunidade de Vila Real:

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Infra-estrutura, referente à urbanização em si; Social, referente à qualidade dos

relacionamentos dentro da comunidade; Político, referente à atuação organizada da

comunidade junto ao Poder Publico; Cultural, referente ao quanto a comunidade conhece a si

própria e a seus problemas e potenciais; Econômico, referente ao poder econômico da

comunidade no contexto da poupança comunitária; e Legal, referente à regularização e

concessões de uso da terra.

Utilizando estas mesmas informações, foi possível detalhar cada dimensão em

variáveis específicas que funcionam como indicadores. Para alimentar estes indicadores,

dados foram coletados do cadastro eletrônico de Vila Real, presente no site da Rede Interação,

e através de aplicação de um questionário aos líderes e aos moradores. As entrevistas

ocorreram em 22 de maio de 2011, data do intercâmbio com a comunidade de Osasco

prospectada para mais um projeto. Nesta ocasião, os elaboradores deste trabalho de conclusão

de curso puderam vivenciar o trabalho da ONG, experiência marcante para estes estudantes.

No cadastro eletrônico da ONG constam cerca de dois mil cadastros de todos os

setores. Na data das entrevistas, 28 moradores dos setores M, L, F e K, os mais próximos da

equipe, foram entrevistados. Os dados foram compilados, cruzados e analisados e foi possível

verificar que a comunidade de Vila Real encontra-se em uma situação de urbanização já

bastante avançada, embora ainda haja muitos projetos para serem finalizados e perceba-se

uma diferença entre os setores. Infelizmente, devido à carência de dados do início deste

projeto da ONG em 2005, não é possível fazer uma comparação precisa. Mesmo assim, fica

testada a matriz de indicadores, que fica disponibilizada para a construção de um histórico a

partir da agora.

Este trabalho de conclusão de curso buscou demonstrar as possíveis interfaces entre

terceiro setor e Engenharia de Produção, identificando diversos conceitos da ciência em

questão em uma organização do segmento estudado. Verificou-se uma área de dimensões

bastante complexas, com possibilidades enormes de desenvolvimento.

Concluiu-se que a complexidade de tal atividade dificulta bastante tanto a

compreensão quanto a mensuração da qualidade oriunda destes serviços. Somente a aplicação

conjunta destes diversos conceitos pode levar à visão mais sistêmica desta qualidade, o que

permite, então, medi-la e alcançá-la.

O estudo de caso demonstrou também a possibilidade de amenizar e até mesmo

resolver problemas sociais crônicos, como o déficit habitacional, através de articulações

sociais bem direcionadas. Os resultados foram ainda maiores, tornaram a comunidade

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beneficiada em uma organização extremamente envolvida nos próprios problemas e capaz de

guiar seu próprio destino e inserir-se à sociedade. Há grande potencial de pesquisa para a

Engenharia de Produção em encontrar formas viáveis de reproduzir este sistema produtivo.

Por fim, espera-se que este trabalho venha a motivar outros profissionais, estudantes e

pesquisadores de Engenharia de Produção a adotar um olhar mais crítico quanto às suas

potencialidades de atuação no terceiro setor.

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APENDICE A – QUESTIONARIO - POPULAÇÃO

Nome: ___________________________________ Quantidade de pessoas: ____

Infra-estrutura Condições de Habitação

1 - Número de equipamentos eletrônicos

1 2 3 mais

Televisão

Aparelho de som

Computador

Celular

DVD

Câmera digital

Outros

2 - Possui eletrodomésticos

Sim Não

Microondas

Máquina de lavar

Fogão

Geladeira

Secadora de roupas

Lavadora de louças

Grau de Prosperidade

3 – Está matriculado ou cursando algum curso

Ensino fundamental

Ensino médio

Ensino superior

Curso técnico

Curso profissionalizante

Línguas

Outros

APÊNDICES

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Grau de Integração Social

4 - Número estimado de amigos

( ) nenhum ( ) 1 a 3 ( ) 4 a 6 ( ) 7 a 10 ( ) 11 a 15 ( ) 16 a 20 ( ) >20

5 - Frequência de reuniões com amigos para lazer

Diariamente

2 a 3 vezes por semana

uma vez por semana

Quinzenalmente

Mensalmente

Grau de Inclusão Social

6 – Número de visitas mensais a locais públicos

1 2 3 4 5 >5

Parques

Museus

Praças

Quadras

Outros

7 – Participa das eleições

( ) sim ( ) não

8 – No caso da NÃO participação, justifica o voto?

( ) sim ( ) não

Cultural

Grau de Conscientização Político-Social

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9 – Preferências e frequências de leitura

Diariamente 1 a 2 vezes / semana Quinzenalmente Mensalmente

Jornais / notícias

Jornais esportivos Revistas científicas

Revistas de fofocas

Quadrinhos

Livros religiosos

Romances

Dramas

Suspense

Outros

10 - Frequência que assiste a telejornais

Diariamente

1 a 2 vezes / semana

Quinzenalmente

Mensalmente

11 - Frequência com que discute atualidades

Diariamente

1 a 2 vezes por semana

Quinzenalmente

Mensalmente

Difusão e Enraizamento de Conhecimento

12 - ucom que discute as informações da comunidade

Diariamente

1 a 2 vezes / semana

Quinzenalmente

Mensalmente

Envolvimento em atividades científicas e culturais

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13 – Número de vezes que praticam esportes ou artes

Diariamente 1 a 2 vezes / semana Quinzenalmente Mensalmente

Esporte

Cinema

Teatro

Shows musicais

Circo

Parques de diversões

Leitura

Jogo de cartas

Internet para fins de lazer

Outros

Econômico

Poder Econômico da Comunidade

14 - Renda gasta em atividades não-básicas, como lazer e turismo

até R$ 50,00

de R$ 50,00 a R$ 100,00

de R$ 100,00 a R$ 200,00

de R$ 200,00 a R$ 300,00

de R$ 300,00 a R$ 400,00

de R$ 400,00 a R$ 500,00

> R$ 500,00

Risco de Investimentos Financeiros

15 - Frequência média de contribuição na poupança comunitária

Diariamente

2 a 3 vezes / semana

Uma vez por semana

Quinzenalmente

Mensalmente

16 – Valor médio mensal de contribuição na poupança comunitária

___________________________________________________________________________

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17 - Frequência nas reuniões

( ) sempre presente ( ) quase sempre ( ) eventual ( ) raramente ( ) nunca

18 - Grau de aprovação do mandato

( ) péssimo ( ) ruim ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo ( ) excelente

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APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO – LÍDERES DA COMUNIDADE E REPRESENTADES

DA ONG REDE INTERAÇÃO

Condições dos Serviços Públicos

1 – Transporte público

Péssimo Regular Bom Ótimo Excelente

Ônibus

Metrô

Trem

Van

Trólebus

Outros

2 – Existe algum tipo de posto de saúde na região

( ) sim ( ) não

3 – Se sim, qual a qualidade do atendimento?

( ) péssimo ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo ( ) excelente

4 – Existem escolas e centros educacionais na região

Péssimo Regular Bom Ótimo Excelente

Creches

Educação infantil

Ensino fundamental

Ensino médio

Superior

5 – Existem bases comunitárias, posto policial ou delegacias na região?

___________________________________________________________________________

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6 – É frequente o monitoramento das ruas através de rondas?

( ) raramente ( ) as vezes ( ) frequentes ( ) várias vezes ao dia

7 – No bairro existem locais de lazer

Péssimo Regular Bom Ótimo Excelente

Quadras

Parques

Praças

Espaços culturais

Shoppings

Outros

Condições dos serviços de Telecomunicações

8 - Rede de telefone

( ) não ( ) sim É regularizada? ( ) sim ( ) não

9 - Rede de televisão

( ) não ( ) sim É regularizada? ( ) sim ( ) não

10 - Rede de Internet

( ) não ( ) sim É regularizada? ( ) sim ( ) não

Grau de Criminalidade

11 - Presença de crime organizado

( ) não ( ) sim que tipo?__________________________________________

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Grau de Integração Social

12 - Frequência de eventos comunitários

Diariamente

Semanal

Quinzenalmente

Mensalmente

Outros

Grau de Organização & Mobilização

13 - % de participantes nas reuniões

___________________________________________________________________________

14 - % de participantes ativos nas reuniões

___________________________________________________________________________

15 - Frequência nas reuniões

___________________________________________________________________________

16 - Qualidade das pautas

___________________________________________________________________________

17 - Nº de Conflitos não resolvidos

___________________________________________________________________________

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Grau de Institucionalização

18 - Rotatividade nos postos

___________________________________________________________________________

19 - Efetividade das ações tomadas? Qual o volume das ações? Quantas são efetivadas?

Qualidade das ações implementadas?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Qualidade de Interação com o Poder Público

20 - Nº de reuniões aos Órgãos do Poder Público

___________________________________________________________________________

21 - Efetividade dos resultados dos projetos? Qual o volume das ações? Quantas são

efetivadas? Como é feito a prioridade das tarefas?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Qualidade de Interação com o Setor Privado

22 - Número de organizações privadas envolvidas. Quantos projetos com organizações

privadas existem?

___________________________________________________________________________

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Difusão e Enraizamento de Conhecimento

23 - Número de pessoas que se informam a respeito dos números levantados

___________________________________________________________________________

Grau de acesso ao capital privado

24 - Volume de capital externo privado investido por projeto

___________________________________________________________________________

25 - Interesse das empresas nos projetos

___________________________________________________________________________

Grau de acesso ao capital público

26 - Volume de capital externo público investido por projeto

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

27 - Interesse dos Órgãos Públicos nos projetos

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Grau de Regularização Legal

28 - Risco de alienação da propriedade

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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Eficácia na execução dos Processos

29 - Eficiência na execução dos Processos Jurídicos? Criação de novas leis?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

30 - Possui informações dos registros dos processos de registro dos imóveis na vara?

___________________________________________________________________________

Perguntas voltadas ao tesoureiro da comunidade:

31 - Volume de passivo / Entrada média de investimento na poupança comunitária

___________________________________________________________________________

32 - % de inadimplência dos empréstimos

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APENDICE B – ROTEIRO PARA ENTREVISTAS COM DIRIGENTES DA

INSTITUIÇÃO

1. Dados gerais da organização

Origem – fundadores

Histórico

Missão

Serviços prestados

Recursos financeiros

2. Estrutura administrativa e organização do trabalho

Conselho, assembléias - funções

9 sócios – 7 fundadores -> especialistas em habitação

Organograma

Número de empregados

Número de voluntários

Critérios para seleção de empregados e voluntários

Formas de supervisão

Critérios de avaliação do trabalho dos empregados

Critérios de avaliação do trabalho dos voluntários

O que motiva os voluntários a trabalharem na instituição?

Realiza alguma campanha para atração de voluntários?

3. Critérios gerais para avaliação das comunidades.

Quais critérios seriam utilizados para a avaliação das comunidades, segundo as

dimensões abaixo?

a) Infra-estrutura

Condições de habitação

Condições dos serviços públicos (transporte, eletricidade, água, saúde, educação, segurança, saneamento básico)

Condições dos serviços de telecomunicações

b) Social

Taxa de criminalidade

Grau de prosperidade

Grau de integração social

Grau de inclusão social

(Pesquisar indicadores sociais)

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c) Político

Grau de organização & mobilização

Grau de institucionalização

Qualidade de interação com o poder público

Qualidade de representação

d) Cultural

Grau de conscientização político-social

Desenvolvimento de conhecimento

Difusão e enraizamento de conhecimento

Envolvimento em atividades científicas e culturais

e) Econômico

Poder econômico da comunidade

Risco de investimentos financeiros

Grau de acesso ao capital privado

Grau ao capital público

f) Legal

Grau de regularização legal

Risco de alienação da propriedade

Racionalidade na execução dos processos

4. Públicos Interessados – PIs

De forma geral, é possível classificar os PIs dentro do agrupamento abaixo para os

projetos? Quais são as expectativas e responsabilidades de cada um em cada uma das

dimensões de qualidade acima?

a) Moradores da Comunidade -> interesses políticos e de propriedade; Poder

catalisador de engajamento

b) Órgãos do Poder Público -> Poder legal da Prefeitura e repasse de recursos do

governo do Estado e da União; possibilidade de atuação do governo do Estado em

políticas de Segurança Pública

c) Agentes da Rede Interação -> intermediação, orientação técnica em habitação e

desenvolvimento de conhecimento

d) Outras ONGs e Entidades Sociais -> repasse de recursos da matriz do SDI

e) Instituições Financeiras - > menos interessados; interesses puramente econômicos

f) Há outros? -> Presença do CDHU em São Paulo

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5. Movimentos de aproximação.

Qual é a política de abordagem e negociações iniciais com cada um dos PIs abaixo?

Quais são as evoluções de resultados esperadas?

a) Moradores da Comunidade;

b) Agentes da Rede Interação;

c) Órgãos do Poder Público;

d) Outras ONGs e Entidades Sociais;

e) Instituições Financeiras;

f) Há outros?

6. Qual a política e metodologia de acompanhamento das etapas dos trabalhos de

implementação? Existem documentos? Utilizar os critérios abaixo:

a) ESCOPO: Se todo o trabalho previsto está sendo executado e se é necessário incluir

novas atividades ao projeto

b) QUALIDADE: Se os requisitos definidos estão sendo atingidos

c) CUSTO: Se os recursos financeiros estão sendo bem administrados

d) TEMPO: Acompanhamento dos prazos de entrega e dos tempos de evolução

e) PESSOAL: Adesão, Retenção, Motivação e Capacitação de Pessoas-Chave para o

projeto – Fortalecimento dos Grupos Comunitários

f) COMUNICAÇÃO: Desenvolvimento, Retenção, Aplicação e Utilização de

Conhecimentos importantes ao projeto

g) AQUISIÇÕES: Desenvolvimento de políticas de administração de recursos materiais

h) INTEGRAÇÃO: Sinergias entre PIs

i) RISCO: Potenciais ameaças e Riscos ao projeto

j) MUDANÇA: Absorção e Difusão dos novos modelos pelo sistema social

k) Há outros?

7. Qual a política e metodologia de acompanhamento das etapas dos trabalhos de

encerramento? Existem documentos? Quais as mudanças efetivas que se espera

enraizar na comunidade e nos PIs definidos na questão 4, em termos das

dimensões da questão 3? Como isso é acompanhado após o projeto?

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APENDICE C – Fotos do dia da visita à comunidade.

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