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CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ - USJ CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA CLEIDE GRANDMAISON MENEGAZ PROCESSO DE INCLUSÃO DO ALUNO DEFICIENTE VISUAL São José 2013

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ - USJ CURSO … · vida melhor e mais significativa para o seu futuro. Diante disso, estamos propondo um estudo de caso sobre uma criança

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CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ - USJ

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

CLEIDE GRANDMAISON MENEGAZ

PROCESSO DE INCLUSÃO DO ALUNO

DEFICIENTE VISUAL

São José

2013

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CLEIDE GRANDMAISON MENEGAZ

PROCESSO DE INCLUSÃO DO ALUNO DEFICIENTE VISUAL

Trabalho elaborado para a

disciplina de TCC Il do curso de

Pedagogia do Centro

Universitário Municipal de São

José – USJ.

Prof.ª Dra. Izabel Cristina Feijó de

Andrade

São José

2013

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CLEIDE GRANDMAISON MENEGAZ

O PROCESSO DE INCLUSÃO DO ALUNO DEFICIENTE VISUAL

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito final para aprovação no

Curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ.

Avaliado em 25 de junho de 2013 por:

_________________________________

Prof.ª Dra. Izabel Cristina Feijó de Andrade – Orientadora

_________________________________

Prof.º Me.Raul Staub

__________________________________

Prof.º Me. Marcos Aurélio Amorim

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AGRADECIMENTOS

Devo agradecer primeiramente a DEUS criador de céu e da Terra,

depois agradecer aos meus pais Maurício M. V. Grandmaison (in memória) e

Zilda Saraiva Grandmaison (in memória), que me deram a vida nessa difícil

jornada de me criar, amar e educar. Agradeço aos meus filhos Leandro, João e

Josiane e amigos que sempre permaneceram unidos, ajudando nas horas

fáceis e também difíceis.

Quero agradecer aos mestres e minha orientadora Dra. Izabel Cristina

Feijó de Andrade, que sempre acreditaram no meu potencial, contra tudo e

todos que sempre me estiveram orientando. Quero agradecer a vida que me

deu a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas, com grandes histórias

que vão me marcar para sempre.

Quero agradecer as pessoas que colaboram com o trabalho de meu

TCC, especialmente ao meu namorado Lauro L. de Melo que teve paciência e

dedicação; quero agradecer a mim mesma pela luta e persistência, por chegar

aonde cheguei, acreditando que era possível concluir o meu TCC.

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DEFICIENTE VISUAL

As gotas de orvalho logo de manhã

Cheia de frescor e prazer

Quem conseguir ver tocando-as.

Fez com que eu pudesse

Despertar escutando os cantos dos pássaros.

Em minha inocência passei a criar

E acredito em mim mesmo.

No entanto deixei de ouvir

A voz atormentada da minh´alma.

Mesmo eu estando no escuro profundo

Minhas concepções sobre a vida mudaram.

E no fundo do meu coração

Uma grande massa de tristeza

Deixei fora do meu cotidiano.

Pude expressar com linda

Palavras de amor.

Algo que me fortalece dentro de mim

Fazendo a razão de viver

E amar todos vocês.

João Cavalcante Gomes

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RESUMO

Esta pesquisa teve o propósito de conhecer a história de vida da criança cega, percebendo seus significados e resultados oriundos do processo de inclusão, trazendo uma breve história sobre a cegueira. São apresentados, os dados de um estudo de caso realizado com uma criança cega inserida na educação infantil. Foi feita uma pesquisa qualitativa, aplicando questionário e observações participativas, foram realizados registro escritos, fotográficos e entrevistas com a professora envolvida com a criança e com a mãe. Percebemos que a criança tem deficiência visual, mas com grande capacidade de aprendizagem, enquanto acompanhado pelo professor especializado. No Período em que fiz as minhas observações nada note de desenvolvimento na aprendizagem. O colégio não dá oportunidade ao aluno cego, alegando que ele não tem necessidade do segundo professor e por isso o aluno ficava sempre isolado dos de mais, assim ficando seu desenvolvimento intelectual comprometido.

Palavras-chave: Criança cega; inclusão.

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SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO...........................................................................8

1.1-OBJETIVO GERAL..................................................................................9

1.1.1- OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................9

1.2- PERGUNTA DA PESQUISA...................................................................9

1.3- PRESSUPOSTO.....................................................................................9

1.4- VIVÊNCIA DA PESQUISA....................................................................10

2- METODOLOGIA.....................................................................10

2.1 SUJEITO DA PESQUISA.......................................................................12

2.2-INSTRUMENTO COLETA DE DADOS..................................................12

3- A CRIANÇA CEGA: HISTÓRIA ,CONQUISTA E

DESAFIOS..................................................................................13

3.1- CEGUEIRA: O SENTIDO DA VISÃO....................................................14

3.2- HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO CEGO................................................17

3.3 A EDUCAÇÃO INFANTIL: EDUCAÇÃO PRECOCE , PROCESSO DE

INCLUSÃO EM CRECHE......................................................................20

4- ANÁLISE E TRATAMENTOS DE DADOS............................23

4.1- ADAPTAÇÕES CURRICULARES.......................................................32

4.2- ADAPTAÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO...................................33

5- ALFABETIZAÇÃO DO BRAILLE...........................................34

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................36

7- REFERÊNCIAS......................................................................37

7- ANEXO ................................................................................39

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1 INTRODUÇÃO

Tendo em vista a inclusão de alunos com necessidades especiais em

salas de aula do ensino regular, aparentemente com a falta de preparo e

interesse dos profissionais nesta área, senti a necessidade de iniciar um curso

de formação continuada que me aproximou muito da temática dessa pesquisa:

deficiência visual. Buscando entender a deficiência visual eu percebi que é de

fundamental importância uma educação de qualidade.

Partimos do princípio de que a criança cega necessita interagir com o

máximo de pessoas possível, por isso a sua inclusão é necessária. Para isso

deve contar com o apoio de profissionais capacitados, recursos pedagógicos

adequados e ambientes adaptados, o que define uma educação de qualidade.

É certo que a ausência da visão traz prejuízos significativos para a

criança, no entanto, quando mãos e cérebro se unem, numa harmonia é

possível compreender o mundo mesmo sem visão. A percepção visual acaba

atrofiando nos videntes os outros sentidos. Nesse caso, o cego, amplia todos

os sentidos, pois sua visão está prejudicada.

Como vivemos em uma sociedade feita para quem enxerga, assim

encontramos estímulos visuais a todos os momentos e utilizamos

principalmente a visão como agente de informação e conhecimento. O cego,

no entanto, compreende o mundo por meio de todos os seus sentidos como: o

olfato, tato, paladar, audição e com esse conjunto de sentidos. O uso da fala é

muito importante para que o cego possa compreender o seu mundo ao seu

redor. Por isso a importância de os adultos firmarem contatos orais com a

criança cega.

Nessa pesquisa abordo questões sobre a cegueira, tendo em vista que

tive dificuldades de bibliografia sobre o assunto. Pretendo ainda, sobressair à

importância deste estudo como forma de cooperar para o aumento do

conhecimento referente à cegueira. Principalmente para os educadores da

séries iniciais que atuam com criança com cegas, tendo possibilidade de

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entender um pouco mais o mundo destas crianças, para que elas tenham uma

vida melhor e mais significativa para o seu futuro. Diante disso, estamos

propondo um estudo de caso sobre uma criança cega incluída na rede regular

de ensino que representa sua condição de ser, estar e conviver no ambiente

escolar. Assim, esse trabalho se torna relevante.

1.1 OBJETIVO GERAL

Conhecer a história de vida da criança cega, percebendo seus

significados e resultados oriundos do processo de inclusão.

1.1.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Identificar a criança cega nos anos iniciais do município de Palhoça..

Verificar o processo educativo da criança cega, desenvolvimento a

capacidade intelectual.

Enumerar aspecto fundamental da história de vida da criança cega.

1.2 . PERGUNTA DA PESQUISA

Quais os aspectos fundamentais da história de vida da criança cega, que

podem interferir em seu desenvolvimento?

1.3 PRESSUPOSTOS

Diante das observações participantes realizadas em sala de aula com a

criança cega, antes do início dessa pesquisa foi possível perceber que alguns

aspectos interferem no desenvolvimento da mesma, o qual eu destaco: a falta

de informação ou formação dos profissionais que trabalham com inclusão de

criança cega, que consciente ou inconscientemente, pouca influência tem na

aprendizagem delas; outro ponto a ser destacado é o isolamento em sala de

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aula da criança cega, que fica sem mediador durante as aulas. Diante desses

dois fatores temos claro que algo necessita ser feito para que a criança cega

seja agente e que tenha voz e vez no ambiente em sala de aula.

1.4. VIVÊNCIA DA PESQUISA

Este trabalho se constitui de cinco partes essenciais e complementares

que mostram na totalidade de vivência da pesquisa. Na primeira parte

revelamos nossas intenções, dando destaque aos objetivos propostos e a

própria justificativos da pesquisa.

Na segunda parte, destacamos a metodologia utilizada como forma de

apresentar ao leitor, quase que imediatamente, onde e como a pesquisa foi

feita e quem participou. Na terceira parte do trabalho destacamos a

fundamentação teórica, como o coração desse trabalho de conclusão de curso,

que foi o foco de minha dedicação, estudo e pesquisa e que se constitui a base

para as análises posteriores.

Na quarta parte apresentamos as análises e tratamentos de dados

sempre com o respaldo teórico dos autores estudados nas referências da

pesquisa. Por fim, na quinta parte abordamos as considerações finais em que

evidenciamos se os objetivos do trabalho foram validados ou refutados, se o

pressuposto foi referenciado.

2. METODOLOGIA

A pesquisa qualitativa é utilizada como uma técnica de dados como:

observações, entrevista, história de vida, e outros. COLLIS, HUSSEY (apud

SILVA/URBANESKI, 2009, p.49).

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Considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento chave. (GIL apud SILVA/URBANESKI, 2009, p.49).

Dentre as pesquisas de cunho qualitativo, optou-se pelo estudo de caso

por ele se aproximar muito da própria prática pedagógica realizada por mim,

como a professora de classe com uma criança cega incluída.

O estudo de caso pode abranger análise de exame de registros, observação de acontecimentos, entrevistas estruturadas e não estruturadas ou qualquer outra técnica de pesquisa. Seu objeto pode ser um indivíduo, um grupo, uma organização, um conjunto de organizações ou, até mesmo, uma situação. (DENCKER apud SILVA/URBANESKI,2009, p.51).

O Estudo do Caso envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou

poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado

conhecimento. (GIL, 1999).

A maior utilidade do estudo do caso é verificada nas pesquisas exploratórias. Por sua flexibilidade é sugerido nas fases iniciais da pesquisa de temas complexos para a construção de hipóteses ou reformulação do problema. A coleta de dados geralmente é feita por mais de um procedimento. Entre os mais usados estão: a observação, a análise de documentos, a entrevista e a história de vida. (GIL apud SILVA/URBANESKI, 2009, p.51).

Por isso nessa pesquisa vamos também optar em fazer uma entrevista

com a professora da sala – primeira professora; uma entrevista com a mãe da

criança para colher dados sobre a história de vida da criança; observações

participantes porque estou e estarei em contato diariamente com esse aluno e

faremos análise de documentos e avaliações descritivas feitas pelos

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educadores e orientadores da escola em questão para também colher dados

que poderiam validar os objetivos traçados;

2.1.SUJEITOS DE PESQUISA

O foco na instituição é a inclusão de um menino com deficiência visual,

de 9 anos, nasceu aos 09/01/2005. A criança está no terceiro ano das séries

iniciais no período vespertino. É acompanhado pela professora da classe e um

professor de educação especial que não fica com ele.

Ele estuda no Grupo Escolar Municipal Frei Damião situado em Palhoça-

sc em que a maioria dos moradores é de baixa renda, sendo muitas delas

oriundas de outras regiões do Estado, tendo ocorrido nos últimos anos uma

aceleração de crescimento populacional, cujo planejamento urbano não

acompanhou. Devido a este aumento acentuado da população local, houve a

necessidade de construção de uma instituição educacional pública que

atendesse às crianças do bairro.

2.2. INSTRUMENTO COLETA DE DADOS

Entrevista – Compõe-se de perguntas abertas, direcionadas aos

professores e aos pais.

Diário de campo - Para registrar as observações participantes.

Fotografia- realizada para ilustrar as observações

A criação desta unidade de ensino deu-se por meio da Lei Municipal n°

1.258/2001, de 24 de agosto de 2001, sancionada pelo então Prefeito Paulo

Roberto Vidal. A construção do prédio foi inaugurada em 23 de abril de 2002

com apoio financeiro do Governo Estadual, numa parceria entre município e

estado. A equipe técnica administrativa é composta por uma diretora, uma

secretária e um coordenador, quatro merendeiras, dois auxiliares de serviços

gerais. A direção é responsável pela coordenação do trabalho desenvolvido por

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todos os funcionários e pelo corpo descente da escola, bem como pela

convocação de reuniões e Conselho de Classe, cabendo a esta direcionar

todas as ações realizadas pela comunidade escolar em conjunto com as

auxiliares.

As secretárias são responsáveis pelas atividades administrativas em

geral, como emissão de documentos, efetuação de matrículas, repasse de

documentos para a Secretaria Municipal de Educação, entre outras. As

merendeiras e auxiliares de serviço gerais zelam pela alimentação dos alunos,

limpeza e higiene de todas as dependências da escola. O corpo docente é

composto por 25 educadores do ensino fundamental e dois da educação de

jovens e adultos. O prédio da escola pode ser considerado médio, sendo

formado por dois pisos, um inferior e outro superior, possuindo várias

dependências.

Na parte inferior do prédio está localizada a sala da direção, cozinha,

depósito de alimento e de materiais de limpeza, um banheiro de educadores e

dois de alunos e cinco salas de aula. Na parte superior do prédio, com acesso

via escada e rampa, estão localizadas a sala dos professores, biblioteca, sala

de informática, quatro salas de aula e dois banheiros para alunos.

3. A CRIANÇA CEGA: HISTÓRIA, CONQUISTAS E DESAFIOS

Todos os casais esperam com ansiedade o nascimento de seus filhos,

desejando que sejam perfeitos. Quando ocorre da criança nascer cega ou fica

após o nascimento, os pais ficam apavorados, pois não sabem lidar com a

situação, uma vez que nunca tiveram convívio com pessoas cegas.

A dificuldade dos pais é outro fato que influencia o desenvolvimento da criança. O impacto ao constatarem que o filho apresenta deficiência visual quase sempre dificulta a interação (...) e prejudica os primeiros aprendizados sociais da criança. Pondera que esse evento impede a compreensão real do caso, paralisa os pais, impele-os, na maior parte das vezes, a negar o fato ou a buscarem alternativas que acreditam serem capazes

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de restituir a "boa saúde" ao filho. Esses comportamentos podem trazer graves consequências à criança e à família, pois dificultam a adaptação de todos à nova realidade. (NOGUEIRA, 2002 p.450

A criança cega não tem as mesmas facilidades de comunicação e

interação de uma criança que tem a visão normal, pois a visão permite a

mobilidade e a localização do ambiente. A criança cega fica comprometida de

correr, pular, paticipar de jogos e atividades lúdicas pela não noção do

movimento do seu corpo no espaço e a possibilidade de controle do ambiente.

A criança com deficiência visual também pode apresentar déficits quando brinca ou joga, pois precisa reconhecer a atividade, avaliar sua competência para participar e convencer os colegas a aceitá-la. Além disso, comportamentos deficitários durante a brincadeira podem acarretar dificuldades na interação, gerando críticas e isolamento, o que, por sua vez, pode restringir várias áreas de desenvolvimento, incluindo habilidades motoras, de linguagem e sociais (RETTIG, 1994; WARREN, 1994, p.56).

A criança com cega tem dificuldade de identficar sons, vozes, ruídos e

outro estímulo natural. É preciso provocar o interesse e a curiosidade na

criança cega para que ela passe a conhecer a função das coisas. Usar o tato,

para ela, permite identificar tamanho, peso, temperatura, textura e conhecer o

uso e a função dos objetos que está em sua volta no dia a dia.

3.1 CEGUEIRA: O SENTIDO DA VISÃO

A cegueira é a falta do sentido da visão. A cegueira pode ser total ou

parcial. Existem vários tipos de cegueira dependendo do grau e tipo de perda

de visão em que a criança está inserida, como a visão reduzida, cegueira

parcial ou total. Na cegueira parcial, o indivíduo consegue contar os dedos a

pouca distância, existem tipos de cegueira que os indivíduos percebem apenas

vultos. Existem cegos que só têm percepção e projeção luminosas, que é

capacidade de identificar a direção de onde provém a luz.

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Quando a cegueira é total a visão é nula, no jorgão oftalmológico, usa-se

a expressão “visão zero”. É aquela que ocorre no momento que nasce ou

período imediato a ele. A criança portadora de cegueira congênita não sofre

tanto com a doença, por não conhecer a visão. Quando ainda é bebê não conta

com os estímulos visuais para motivá-lo a levantar a cabeça e o controle da

mesma e assim todos os movimentos, de uma criança normal.

A criança quando nasce com problema de visão não encontra aceitação

de sua família. Quando os pais percebem que a criança é cega nos primeiros

dias ou meses de vida, ocorre da mãe romper o vínculo afetivo, que é essencial

para estabelecer a relação da mãe com seu filho. Assim a sua primeira

exclusão ocorre na família, onde é a base principal na qual a criança vai

evoluir. Os familiares ficam aflitos e tensos com a presença de uma criança

cega, e principalmente a mãe que tem de criar uma boa relação com seu filho,

tão diferente do esperado.

Muitas vezes a não integração dos pais devido à depressão ou á falta de

consciência do problema, impedirá e dificultará o desenvolvimento da criança.

A criança cega é dependente de seus pais, para todas as suas necessidades e

para geração de estímulo, com isto contribui para uma super proteção por parte

deles. A atitude dos pais é de encorajar a independência de seu filho cego, isto

deve ocorrer quando a criança começa explorar o seu ambiente. Mas, para isso

necessitam de informações claras e precisas de como devem agir.

A primeira atitude de um profissional educador é saber se uma criança

nasceu com um problema de cegueira ou o adquiriu no decorrer de sua vida

devido a fatores diversos como, por exemplo: acidentes de trânsito, glaucoma,

diabetes e tantos outros. O educador deverá dar atenção especial a estes

portadores de necessidade especial em todo o seu contexto, tal como ensinar a

ler e escrever, e no decorrer de sua vida orientá-lo como se locomover em sua

casa, nas ruas e ter conhecimento da escrita braille.

Como a criança que têm deficiência visual faz do tato um de seus

principais aliados, tal como tocar no rosto e nos cabelos de outras crianças,

assim eles fazem o reconhecimento, em seguida vão identificando as vozes

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dos amigos, e com o decorrer do tempo os educadores vão ensinando a

transcrição do baille e convertem para a escrita regular.

As crianças cegas devem ser orientadas para entender que geralmente não está na sociedade a causa de sua deficiência, que não adianta agredir os outros, porque isto não lhe trará benefício algum e que, finalmente, a visão não é o mais importante órgão para o desenvolvimento mental. Sem a visão, é possível ainda a pessoa assimilar palavras que lhe permitirão raciocinar normalmente. (LANNOY,1978, p..151;152).

Além das questões pedagógicas é essencial que os profissionais fiquem

atentos aos termos pejorativos ou mesmo preconceituosos que poderão surgir

no contexto educacional, como a expressão “ceguinho”, muito utilizada em

nossa sociedade. “Ceguinho” é uma expressão pejorativa e que não pode ser

mais utilizada pelos profissionais da área da educação ou pela sociedade. O

termo correto é cego, pessoa cega ou com deficiência visual. Diante desse

exclarecimento, afirmamos que o caminho necessário é a informação clara e

precisa sobre o assunto.

A escola só ensina a todos quando fica atenta à necessidade de

respeitar o ritmo e observar as capacidades de cada um, em vez de enfatizar

as limitações. Quem tem dificuldades em matemática pode se sair bem em

linguaguem. É importante também ouvir do aluno com deficiência o que ele

considera válido para o seu bom desempenho na escola, pois ele sabe de sua

condição e pode dar contribuições valiosas.

E, é preciso para ouví-lo, estar aberto a suas formas de comunicação,

mesmo que seja por escrito, em desenhos, em braille, pelo computador ou

pelas mãos que se movem dizendo. “Tenho direito a aprender”. Por isso, rever

práticas e conceitos é necessário. Como fazer uma formação avaliativa.

Quanto aos adolescentes temos que avaliar quando nasce cego ou quando

perdeu a visão por uma razão qualquer. Quando nasce cego tem a visão de

seu próprio mundo, quando pede a visão o seu mundo já esta criado.

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Uma das vantagens da classe que tem uma criança cega é que os educadores se tornam mais humanos, mais compreensivos, e os demais alunos se mostram mais satisfeitos com sua própria condição física. A cegueira não impede o desenvolvimento das principais habilidades mentais, desde que a criança, ou adolescente, receba uma educação especial. (LONNOY,1978, p. 152).

Diante dessa pespectiva, podemos considerar que a criança cega tem

potencial para ser desenvolvido, mas a essência está nas possíveis interações

que serão proporcionadas a ela pela escola, pela família e pelos amigos.

3.2. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO CEGO

Durante muitos anos, os cegos foram considerados como seres inúteis,

como espécies inferiores totalmente voltados à ignorância. A sociedade

considerava-se perfeita e media compentência do indivíduo pela sua perfeição,

caso contrário, tornava-se inviável a sobrevivência do mesmo no grupo social

ao qual pertencia.

A França foi a primeira a prestar ajuda material aos cegos. De acordo

com a lenda, o Rei Luiz XI e seu exército teriam sido presos pelos turcos

durante as cruzadas. Como resgate, o sultão na Turquia pediu uma fabulosa

soma em dinheiro, sob a ameaça de que por dia que demorasse a entrega,

vinte prisioneiros franceses seriam cegados. Durante quinze dias o fato se

sucedeu até que foram libertados juntamente com o rei. O Rei Luis Xl (depois

S. Luis) criou então em Paris, no ano de 1265, O Quinze-Vingts (15X20) para

servir de refúgio a 300 cegos. Na realidade esta instituição foi criada para dar

assistência a 300 franceses que se cegaram nas cruzadas. O Quinze-Vingts,

de então, era asilo e não uma escola, mas já era uma preocupação com o

infortúnio.

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A sociedade começava a dar para a pessoa portadora de necessidades

especiais condições mínimas de sobrevivência; contudo, ainda o mantinha

isolado, segredado, por vê-lo como um indivíduo digno de piedade sem a

menor potencialidade. No século XVII Jacques Bernoville publicou um livro

sobre o ensino de matemática para cegos. Nesta mesma época surgiram

várias tentativas de escritas para cegos, mas foi Valentin Hauy, quem na

realidade fez algo de concreto neste sentido. Em 1784, Hauy descobriu um

cego esmoler, de nome Françóes Lesuer. Percebeu que por meio do tato era

capaz de discernir um “sou” de um “escudo”.

Desse binômio, Hauy Lesueur, surgiu o protótipo da leitura táctil. Em

1786, Hauy fundou a primeira escola para cegos, tornando-se instituição

pública em 1791, o que serviu de exemplo para outros países. Em 1829 foi

instalado nas Américas o primeiro Instituto para cegos, em Massachusetts.

Charles Barbier, oficial do exército francês, que idealizou um sistema táctil,

utilizando doze pontos em relevo, passou a emitir mensagens cifradas e

secretas. Babier estendeu este método de comunicação às pessoas cegas.

Entretanto, o número de sinais usados era muito grande, o que tornaria longa e

difícil à leitura.

Foi a partir do método de Barbier que Louis Braille, aos 15 anos, cego

desde os três, e 40 anos após o trabalho de Hauy, desenvolve a leitura táctil

dos seis pontos, até hoje usado. Os seis pontos, combinados de acordo com o

número e a posição, geram 63 símbolos suficintes para todo alfabeto, número,

símbolos matemáticos, químicos, físicos e notas musicais.

O instrumento usado como suporte para a escrita Braille é a reglete; uma régua de madeira, metal ou plástica ajustada sobre uma base fixa e composta por um conjunto de celas distribuidas em linhas paralelas com um punção, uma haste de metal para perfurar o papel e produzir os pontos e relevos. A leitura tátil é realizada da esquerda para a direita, enquanto a escrita é efetuada da direita para a esquerda para evitar o espelhamento no verso da folha de papel.(ARGENDA;SÁ,2010,p.35).

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A descoberta de Braille ocorreu em torno de 1830, sendo de 1837

publicou seu primeiro livro. Não foi fácil a sua implantação. Mesmo na França,

no Instituto dos Jovens Cegos de París, houve reações. Reagiram, alguns por

descrença ou inveja, outros por interesse de ordem pessoal e muitos por

desconhecimento. Mas os jovens cegos aplaudiram.

No Brasil, o imperador D. Pedro II, inspirado no exemplo de José Alvares

de Azevedo, jovem cego que estudou na França durante 6 anos, e convencido

das reais possibilidades de aproveitamento escolar dos deficentes visuais,

baixou o Decreto Imperial no 1.428, de 12 de setembro de 1854, criando o

Imperial Instituto de Meninos Cegos. Esta instituição especializada foi

solenemente inaugurada com a presença do próprio Imperador em 17 de

setembro de 1854. Estava fixado o marco inicial da educação dos deficientes

visuais no Brasil e na América do Sul.

O imperial Instituto de Meninos Cegos que, após o advento da

República, passou a denominar-se Instituto Benjamin Constant, em

homenagam a seu grande defensor republicano, foi a única instituição de

educação de deficientes visuais no Brasil até 1926, quando foi inaugurado, em

Belo Horizonte, a segunda escola brasileira, o instituto São Rafael. Contudo, o

cego veio a adquirir sua emancipação política com o direito do voto, com o

Decreto no21.076, de 24.02.32. A lei que rege as eleições de 1934 e 1935

exigiu que os cegos assinassem em “Braille” somente no ato de qualificação do

titulo eleitoral. Para o processamento da votação, o presidente da Mesa

assinava as folhas eleitorais “a rogo” do eleitor cego, que trazia já de casa as

“chapas prontas”.

O decreto-lei no 7.586, de 28 de maio e 1945, em seu texto legal diz que

o cego teria que votar como os demais eleitores. Assim, o direito ao voto só foi

concedido àqueles que escreviam pelo alfabeto comum. Em 1960, foi

oficializado com a lei no 5.951 de 26 de dezembro, o ensino itinerante para

deficientes visuais, assim como a carreira de professor especializado no

Estado de São Paulo. Apenas um ano depois, a lei no 4.024, de 20 de

dezembro 1961, que fixou as Di

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retrizes de Bases de Educação Nacional, traz no art. 88 a confirmação

da necessidade de enquadrar os deficientes visuais no sistema geral de

educação, a fim de integrá-lo na comunidade.

Em 1973, com Decreto no 72.425 de 03.07.1973, foi criado o Ministério

da Educação e Cultura e Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), o

território nacional, a expansão e melhoria do atendimento aos excepcionais. O

CENESP veio para proporcionar oportunidades de educação, propondo e

implementando estratégias decorrentes dos princípios doutrinários políticos,

que orientam a Educação Especial no período pré-escolar, nos ensino do 1º e

2º graus, superior e supletivo para pessoas portadoras de necessidades

educativas especiais, visando sua participação progressiva na comunidade.

A partir desse decreto estava assegurada legalmente a assistência,

reabilitação e reinserção dos portadores de necessidades especiais na vida

econômica e social do país. Ficava proibida a discriminação e aberta a

possilidade de admissão ao serviço público.

3.3 A EDUCAÇÃO INFANTIL: EDUCAÇÃO PRECOCE O PROCESSO DE

INCLUSÃO EM CRECHE

Os bebês e crianças com deficiência visual necessitam receber afeto,

carinho e atenção de seus familiares para sentir-se mais seguros. A criança

precisa de pessoas que as entendam e às suas necessidades, pois elas se

estressam com muita facilidade. A ida do bebê com deficiência visual à creche

pode ser adiada se o meio familiar for aconchegante e tranquilo, possibilitando

o desenvolvimento integral, pois a mãe tem um papel importante na

interpretação do mundo que o cerca, propiciando assim, segurança para o seu

filho na primeira descoberta. As mães que trabalham se preocupam por não

ter com quem deixar o bebê, depois da família, a creche será o melhor lugar

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onde a criança encontrará pessoas habilitadas para compreender e atender os

seus apelos e necessidades.

Para incluir um bebê com deficiência visual em creches ou berçários, todas as pessoas precisam ser orientadas: diretora, coordenadora, professora e auxiliares. Essa é uma tarefa que pode ser desenvolvida em parceria com os serviços da comunidade, educadores especializados ou instituições que desenvolvam programas de Educação Infantil. O que deve ficar claro é que a criança com deficiência visual necessita de um período maior de adaptação do que as outras crianças. Principalmente porque a visão exerce papel fundamental no conhecimento, controle e adaptação ao meio. (MOTA; BRUNO, 2001, p.97).

As crianças com deficiência visual até os 3 anos de idades têm

dificuldades de diferenciar as pessoas que as cercam, para isto precisam de

um ambiente tranquilo e sem agito para ela não se assustar e, assim, facilitar a

interação com o meio. Quando a criança vai a creche pode acarretar medo,

tanto pelos pais e avós, pela dificuldade da separação. É importante que a

creche aceite inicialmente as famílias para o período de adaptação. A mãe leva

a criança para conhecer a escola, os objetos, o parque, adaptando-a aos

ruídos e cheiros. Essa adaptação pode levar meses. A família percebendo que

tem profissionais interessados e acolhedores, certamente haverá sentimentos

de segurança e relação de confiança com a escola.

Alguns bebês, principalmente os prematuros que

passaram muito tempo em UTI neonatal, que sofreram

experiências desagradáveis e traumatizantes nos

berçários tendem a desorganizar-se com mais

frequência. Qualquer movimento muito brusco, vozes

estranhas e objetos desconhecidos podem representar

ameaça. (MOTA; BRUNO, 2001, p.99).

Os primeiro contato tem que ser agradável, para que a criança não se

sinta ameaçada. Não tirá-lo do colo da mãe, pois ele se sente seguro. Nos

primeiros contatos com pessoas desconhecidas a criança deve ter experiências

agradáveis. Temos que ter paciência e compreender o bebê, acalmá-lo com

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toques, massagens e vibração pelo corpo. A família só será dispensável

quando a professora tiver certeza que vai dar conta de consolar a criança.

O jeito de falar, carregar, pegar a criança é muito importante para a

adaptação, por isso a professora tem que ser a mesma na hora de receber a

criança, ter a mesma maneira de falar, pois a criança pequena gosta de rituais.

O perfume da professora também é um forte sinal para a criança reconhece-la.

Quando muito pequena a criança, é normal que ela não consiga localizar as

pessoas pela fonte sonora, para isso é necessário que chegue perto para falar

e que ela possa tocá-la. Quando o bebê começa a emitir som, é importante

aproximar-se dele, para que percebe que você está interessada estabelecer

comunicação.

É importante que ele toque o rosto, a cabeça, as mãos da pessoa que fala com ele. Gostosas brincadeiras de falar não, mão, braço, barriga e pescoço da criança podem encantá-la e motivá-la para um bom bate-papo. Conhecer e tocar os amiguinhos, fazendo o rastreamento tátil, ajuda a construir a autoimagem e formar a imagem mental do outro. (MOTA; BRUNO, 2001, p. 101).

As crianças com deficiência visual podem aprender a bater palma, dar

tchau, jogar beijinho, nas mesmas idades das outras crianças, isso se forem

auxiliadas por outra pessoa, ajudando-as nos movimentos. A criança com

deficiência visual demonstra alegria ao ouvir música, mais não é aconselhável

deixá-lo ouvir por muito tempo, pois tem pouco significado quanto ao conteúdo.

Para Piaget a construção da linguagem depende da função simbólica, ou seja, da capacidade que a criança adquire por volta de um ano e meio ou dois anos de distinguir o significado do significante. A criança com deficiência visual para isso necessita cuide dela lhe diga o nome, ajude a explorar e pesquisar que, ao tocar o objeto, a mãe, a professora ou a pessoa que visualmente ou tatilmente os objetos sem, contudo, passar os conceitos de seu ponto de vista de vidente. (MOTA; BRUNO, 2001, p. 103).

O mais recomendado é que a professora cante com a criança,

ensinando os gestos para poder compreender e imitar, assim podendo ensinar

o significado das palavras e a representação simbólica.

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4. ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS

Toda criança é um ser humano desde o período de vida intrauterina.

Quando nasce são chamadas de recém-nascido, até um mês de idade. São

“bebê” do segundo ao décimo oitavo mês de idade. Tornam-se “criança” entre

dezoito meses até doze anos de idade. Na medicina é o pediatra que cuida do

desenvolvimento físico e das doenças das crianças. Os aspectos cognitivos

(intelectual e social) são realizados pela Pedagogia (Professores) nas

formalidades da vida escolar, desde a pré-escola, aos cinco anos de idade, ou

até antes, aos 3 anos de idade. Todos esses profissionais necessitam realizar

intervenções no desenvolvimento da criança, como afirma uma mãe quando

questionada sobre a instituição que atende o filho em horário ao da escola: “eu

não sei do diagnóstico de meu filho. Está escrito lá no papel”. Diante desse

depoimento fica claro que não basta a ação desses profissionais, mas a

orientação que eles dão aos pais.

A infância é um período de grande desenvolvimento físico e é marcado

pelo gradual crescimento da altura e do peso da criança, isto nos primeiros três

anos de vida até a puberdade. É um período em que o ser humano desenvolve

gradativamente mudanças no comportamento adquirindo bases de sua

personalidade. Nesta fase a criança não tem maturidade psicológica suficiente

para serem consideradas adolecentes, mesmo tendo o porte físico de um. Do

nascimento até o início da adolescência, os pais são os principais modelos da

criança com quem elas aprendem, principalmente por imitação. A atividade

principal de uma criança é a brincadeira, que é responsável por estimular

desenvolvimento intelectual infantil, a sua coordenação motora e outros

aspectos importantes ao desenvolvimento pleno da criança. Esse é um período

de muito investimento da família que deseja que a criança aprenda, como nos

revela a mãe entrevistada: “Quero que ele aprenda bem, para que ele se torne

independente”.

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Desde o seu nascimento até os décimo oitavo mes a criança depende

de seus pais, para se alimentar, locomover e cuidar de sua higiene. Neste

período a criança aprende atos básicos de locomoção como sentar, engatinhar

e andar. Neste estágio da vida, a criança cresce rapidamente, os primeiros

cabelos e os primeiros dentinhos. A maioria das crianças já conseguem

pronunciar as primeiras palavras, é um período caracterizado pelo

egocentrismo, pois a criança não compreende que faz parte de uma sociedade,

onde para ele o mundo gira em torno de si mesmo. A criança lentamente passa

a compreender melhor o mundo à sua volta, e a aprender que neste mundo há

regras que precisam ser obedecidas, embora ainda seja bastante egocêntrica.

Dos dezoito meses aos dois anos de idade o principal aspecto desta

faixa etária é o aumento do seu vocabulário, a criança já pode formar algumas

frases curtas, usando palavras já aprendidas; enfim, possui já hábito de asseio,

pois conseque controlar o intestino e a bexiga. Muitas vezes prefere brincar

sozinha a brincar com outras crianças da mesma faixa etária. No final desta

faixa etária, uma criança geralmente já sabe diferenciar pessoas do sexo

masculino e pessoas do sexo feminino, e também já começa a ter suas

próprias preferências, como roupas e entretenimentos. Todas essas

explicações sobre o desenvolvimento infantil ocorrem com todas as crianças,

independente de suas condições de vidente ou cega. O que vai interferir nessa

capacidade são os elementos externos, ou seja, as interações dos adultos e

famílias; isso exige um ambiente acolhedor e tranquilo, o que muitas vezes só

é encontrado na escola especial, como revela a professora da séries iniciais:

“na SAEDE a criança poderá se concentrar para aprender o Braille porque

necessita de silêncio, pois encontra dificuldades na sala de aula devido ao

barulho das atividades normais”.

Crianças dos três aos quatro anos de idade começam a desenvolver os

aspectos básicos de responsabilidade e de independência, preparando a

criança para o próximo estágio da infância e os anos iniciais de escola. Os pais

da criança são os principais modelos da criança nesta faixa etária. Geralmente

determinam se uma dada ação da criança foi boa ou má, muitas vezes

recompensando a criança pelas suas boas ações e castigando a criança pelas

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suas más ações. Também passam a aprender padrões de comportamento de

um processo chamado identificação, onde passam a se identificar com outra

pessoa por vários motivos, com um amigo, um parente ou uma babá. Diante

disso podemos considerar que a inclusão da criança cega é essencial para o

seu desenvolvimento.

A criança cresce lentamente, em contraste com o crescimento

acelerado ocorrido desde o nascimento até os dezoito meses de vida. O

período dos cinco aos nove anos é marcado pelo desenvolvimento psicológico

da criança. O seu físico desenvolve lento e gradualmente, mas acima de tudo

elas se desenvolvem e amadurecem socialmente, emocionalmente e

mentalmente. Conseguem discenir se uma ação é certa ou errada. A criança

passa procurar por diversas soluções, e a reconhecer a solução correta ou

aquela que mais se aplica ao solucionamento do problema.

Diante das entrevistas e das observações realizadas para essa

pesquisa, somos partícipes de Masini (1997, p. 35-36) quando afirma que:

No caso do deficiente visual, por exemplo, ele tem a possibilidade de organizar os dados, como qualquer outra pessoa, e estar aberto para o mundo, em seu modo próprio de perceber e de relacionar-se; [...] O que não se pode desconhecer é que o deficiente visual tem uma dialética diferente, devido ao conteúdo - que não é visual [...] É dessa dialética entre o específico e o geral que se define a estrutura psíquica, integrada ou não.

Isso nos remete a pensar que a criança cega tem outra percepção do

mundo. Masini ainda afirma: “[...] embora ficasse respondido que conhecer não

é ver, este permanecia como condição daquele” (MASINI, 1997, p. 81). A

mesma autora propõe uma reflexão bastante interessante sobre o “olhar” com

que cada qual se dirige às crianças com deficiência visual.

(...)o olhar direcionado à pessoa cega é o olhar da “falta de visão”, ressaltando que a importância da visão é a da experiência do vidente e a comunicação é fundada no visual. Dessa forma, a identidade do cego é a ausência de visão, ao invés de ser a presença dos sentidos que possui. Ela escreve: “[...] o não vidente (ou portador de deficiência visual) pode transformar-se em objeto, pois a presença do outro (vidente) é

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tão marcante que o rouba da sua própria” (MASINI, 1994, p. 89).

Ficou evidenciada, nas observações, a necessidade de uma formação

pedagógica dos professores para que se tenha clareza na contribuição da

fenomenologia das percepções para se entender o caminho da criança com

deficiência visual, visto que, diferentemente das teorias do desenvolvimento e

da aprendizagem que separam o corpo da mente, esta, ao contrário, confirma a

necessidade de construir o conhecimento, tendo como base o corpo na sua

inteireza, como nos afirma Merleau-Ponty (2000) quando diz estar “preocupado

com o vivido, Merleau-Ponty volta-se para o próprio corpo e diz que o corpo

sabe, o corpo compreende e é nele que o significado se manifesta” (p. 94).

No caso da criança observada e das entrevistas feitas com seus pais e

professores, há urgência em modificar a forma como eles percebem a própria

criança ou mesmo a forma como interagem com ele, pois a consciência da

criança cega está no corpo.

A consciência consiste em estar nas coisas por intermédio do corpo. A experiência do corpo faz cada um reconhecer o emergir do sentido aderido aos conteúdos, unidade de implicação em que diversas funções se desenvolvem dialeticamente. (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 83).

Com isso queremos afirmar que é importante que reconheçamos que a

identidade da criança cega se constitui em um mundo de vidente e

extremamente visual. Por isso a preocupação com os espaços, os objetos, as

interações, o corpo, como afirma a professora entrevistada, quando indagada

sobre a inclusão “dar oportunidade para o deficiente visual para participar de

todas as atividades”. Então inclusão é proporcionada ampliação do potencial

cognitivo da criança cega. É investir no preparo dos materiais, dos ambientes e

das próprias possíveis interações. Essa ideia revela-se também como uma

necessidade de planejamento inclusivo. Nas observações realizadas em sala

de aula regular sentimos falta desse propósito pois a criança cega era pouco

estimulada a participar das atividades.

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Em uma das entrevistas fica evidente que “(...) a criança tem cegueira

total, mas com grande capacidade de aprendizagem, ela tem motivação para

aprender quando acompanhado pelo professor especializado.” Essa ideia nos

remete a Lowenfeld (1974) quando afirma que a cegueira, relativamente às

questões cognitivas e perceptivas, impõe três limitações básicas ao indivíduo,

devido a: inicialmente, falta de variedade das experiências; falta de capacidade

para mover-se e, por último, dificuldade de interação com o ambiente.

Essas três condições foram observadas em sala de aula, confirmadas as

limitações impostas pela cegueira e alimentadas pelos que interagem com a

criança. Telford e Sawrey (1977) falam das limitações intrínsecas da

incapacidade que a cegueira provoca, quais sejam por falta de acesso à escrita

e leitura em tinta; a restrição da mobilidade independente; a falta de percepção

direta do ambiente e dos objetos e a privação das pistas sociais e de imitação.

Queremos afirmar que as dificuldades das crianças não são decorrentes

exclusivamente da cegueira, mas da falta de interação nos ambientes onde

está. Em suas pesquisas, Scholl e Schnur (1976 apud KIRK; GALLANGHER,

1991) indicaram que não existe atitude específica em relação à cegueira, além

de reação de estresse e incapacidade; todavia salientam que a perda da visão

causa certas restrições à variedade e profundidade de experiências cognitivas

e algumas limitações de experiências pelo fato da mobilidade ser restrita.

Dessa forma, as experiências dependem da criança e do meio sócio

cultural na qual está inserida.

A ideia mais difundida hoje em dia (COBO; RODRÍGUEZ; BUENO,

2003) é a de que a criança cega não é um vidente que carece de visão, mas a

compreensão é de que a sua maneira de perceber e apreender o mundo não é

igual à de uma criança sem a privação visual; em decorrência, a sua

organização sensorial.

Nesse sentido, Hampshire (1981 apud COBO; RODRÍGUEZ; BUENO,

2003, p. 98) afirma:

[...] a criança cega vive em estado de privação sensorial, já que relativamente poucos objetos lhe proporcionam sons, odor,

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etc., o que é continuamente necessário para atrair sua atenção da mesma forma que um objeto com cores brilhantes sempre terá entrada no sentido visual de uma criança vidente; existem, por isso, menos oportunidades para a criança cega desenvolver a coordenação ouvido-mão correspondente, e outras faculdades e, pelo mesmo motivo, será muito mais difícil incitá-la a explorar, guiada pela fala do adulto.

O contexto educacional observado exige da criança cega uma

apreciação das coisas e um comportamento semelhante ao do indivíduo

vidente. Outra consideração realizada é a ideia de que a criança cega construiu

para si, de ordem sócio psicológica, uma compensação por falta de interação.

Sabe-se que a visão é o sentido da apreensão do mundo de forma direta, global e à distância. Na sua ausência, há uma reorganização de toda a estrutura mental que possibilitará ao cego adquirir conhecimento sobre o mundo. Todos os relatos evidenciaram a força dessa outra e complexa reestruturação psicológica em razão da atividade fisiológica que visa a um maior desenvolvimento do tato ou da audição, mas principalmente de uma reorganização em virtude da possibilidade de o cego comunicar-se na experiência social. (ORMELEZI, 2000, p. 197).

Assim, a experiência da criança cega em sala de aula se apresentou

limítrofe com o relatado no diário de campo.

Observação 1:

“Quando entrei em sala de aula observei que estava sentando nos

fundos da sala, não tinha reglete, máquina Braille e também não tinha a

segunda professora, sabendo-se que o colégio tem estes materiais e não

fornece ao aluno, assim fica impossibilitado de acompanhar os demais”.

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Figura 1: Observação 1 Fonte: Observação em sala de aula na instituição investigada, 2013.

Essa realidade nos convida a pensar na marginalização da criança cega

na sua própria sala de aula. E assim questiona-se: nesse contexto vivido, quais

as contribuições efetivas da inclusão da criança cega na rede regular de

ensino?

A criança cega muitas vezes chega à escola sem um “passado” de experiências com seus colegas que enxergam, não apresenta as rotinas da vida cotidiana de acordo com a sua idade, os seus conceitos básicos com esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e temporal são quase inexistentes e sua mobilidade difícil, o que poderá levar à baixa estima e dificultara o seu ajustamento à situação escolar, isto é, a SUS inclusão de fato. (MACHADO, 2003, p. 25).

Nesse sentido a escola é um local efetivo de mediação e o educador

precisa proporcionar a possibilidade da criança cega conquistar conhecimentos

que não ocorrem espontaneamente. A criança cega, geralmente, é tratada

diferentemente.

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Observamos que o aluno em questão não tem problema com seus

colegas, professores e funcionários, nem mesmo dificuldades de locomoção

dentro da escola. Ele presta atenção, quer participar oralmente ou mesmo

escrever o que pensa. O que se percebe é a falta de materiais adaptados para

o aluno. Isso revela ou indica, ou mesmo explica o atraso no desenvolvimento

e na aprendizagem do aluno cego. Para compensar a falta de atenção o aluno

fica inquieto e ainda atrapalhando a aula, como revela a professora:

Figura 2: Observação 1 Fonte: Observação em sala de aula na instituição investigada, 2013.

“Realmente não posso dar atenção para ele, pois tenho 20 crianças para

atender, dificultando assim a aprendizagem dele”. Segundo a professora o

professor de educação especial aparece raramente e quando chega na sala de

aula fica no máximo uma hora. Para Sassaki:

O processo de inclusão exige uma mudança na sociedade: “ Incluir é trocar, entender, respeitar, valorizar, lutar contra exclusão, transpor barreiras que a sociedade criou para as pessoas. É oferecer o desenvolvimento da autonomia, por meio da colaboração de pensamentos e formulação de juízo de valor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida”. (SASSAKI, 1997, p. 41).

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Figura 3: Observação 2 Fonte: Observação em sala de aula na instituição investigada, 2013.

Nas aulas de educação física o professor comentou que deixa o aluno

bem independente, mas sempre observando o seu comportamento e sempre

chamando atenção para o perigo, pois o aluno não gosta de usar a bengala,

nunca fica isolado dos de mais. O professor relata que sempre está dando

atividades, exemplo: pular cordas e bambolear a corda, o educador nunca o

deixar ficar sozinho. Como diz Bruno:

A criança com deficiência visual, como as demais crianças, devem ser vistas conforme suas especificidades. Cada criança é um ser singular, único, com tempo e ritmos diferentes, os quais devem ser respeitados e valorizados em sua espontaneidade, em sua forma diferente de ser, de fazer, de compreender e agir no mundo. (BRUNO, 2004,p. 23).

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O processo de inclusão da criança cega precisa de profissionais

comprometidos, que consigam desafiar o sistema, e a si mesmo de modo a

garantir o desempenho integral da criança. Para Masini, (1997, p.35-36):

No caso de deficiente visual, por exemplo, ele tem a possibilidade de organizar os dados, como qualquer outra pessoa, e estar aberto para o mundo, em seu modo próprio de perceber e de relacionar-se; [...] O que não se pode desconhecer é que o deficiente visual tem uma dialética diferente, devido ao conteúdo – que não é visual [...] É dessa dialética, entre o específico e o geral que se define a estrutura psíquica, integrada ou não. Para a autora, a pessoa cega tem outra percepção do mundo. Ela ainda afirma: “[...] embora ficasse respondido que conhecer não é ver, este permanecia como condição daquele.

Desse modo, a pesquisa tentou mostrar que existem muitas

possibilidades de aprendizagem da criança cega, mas é necessário um

atendimento diferenciado à criança cega. Os desafios são muitos, mas o

encantamento e as vivências são o melhor aprendizado que um professor pode

ter.

4.1 ADAPTAÇÕES CURRICULARES

O texto a seguir tem como fundamento os “Parâmetros Curriculares

Nacionais: Adaptações Curriculares – estratégias para a educação de alunos

com necessidades educacionais especiais”, elaborado pela Secretaria de

Educação Fundamental do Ministério da Educação.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs consideram que as

instituições escolares devem flexibilizar seus currículos para atender à

diversidade dos educando, garantindo a qualidade no processo de ensino e

aprendizagem. Assim, as adaptações curriculares envolvem ações voltadas

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aos objetivos, conteúdos, processo avaliativo, temporalidades e a organização

dos trabalhos didático-pedagógico da escola.

As adaptações curriculares possibilitam atendimento apropriado às

peculiaridades dos alunos tornando o currículo mais dinâmico, definido o que

este deve aprender, como dos alunos tornando o currículo mais dinâmicos,

definindo o que este deve aprender, como e quando aprender, que forma de

organização de ensino são mais eficientes para o processo de aprendizagem, e

o que, como e quando avaliá-los. Dessa forma, faz-se necessário compreender

que nem todos os educandos atingirão o mesmo grau de abstração ou de

conhecimento, num tempo determinado.. Assim, o planejamento das atividades

escolares deve levar em conta a singularidade dos alunos.

A maior parte das adaptações curriculares realizadas pelo professor no

planejamento normal das atividades decentes, constituindo-se em pequenos

ajustes dentro do contexto normal da sala de aula.

As adaptações significativas diferenciam-se das adaptações não-

significativas, principalmente no que diz respeito à sua necessária

regulamentação pelo Conselho Estadual de educação.

4.2.ADAPTAÇÕES DE ACESSO AO CURRÍCULO

São definidas como alterações ou recursos espaciais, materiais ou de

comunicação que venham a facilitar os alunos com necessidades especiais a

desenvolver o currículo escolar. (BRASIL, 1999,p.44).

São exemplos de adaptações de acesso ao currículo, entre outros:

Mobiliário adaptados;

Sistemas Alternativos de comunicação;

Equipamentos para mobilidade;

Materiais didáticos-pedagógicos adaptados (em Braille, em Libras);

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Recursos adaptados para uso de equipamento de informática;

Recursos ópticos e não-ópticos;

Prótese auditiva;

Posicionamento adequado do aluno em sala de aula;

Adaptação e adequação do espaço físico da escola.

As adequações curriculares e as de acesso ao currículo devem ser

contempladas no Projeto Político Pedagógico da Escola, sabendo às equipes

dos SAEDEs e SAESPs a orientação técnica necessária à efetivação do

processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, as adaptações de acesso ao

currículo demandam a efetivação de políticas públicas voltadas à garantir de

recursos específicos( ajudas técnicas), disposta em forma de lei,

regulamentada pelo Decreto nº 5.296/2004.

5. ALFABETIZAÇÃO DO BRAILLE

O sistema Braille, é o método universal e natural de leitura e escrita para

as pessoas cegas. A célula Braille básica é composta por seis pontos a

grupados em duas colunas verticais de três pontos cada. Os pontos da 1ª

coluna são os pontos 1, 2 e 3 e os da 2ª coluna são os pontos 4, 5 e 6.

O valor dos pontos se dá da seguinte forma:

Para escrever

1,2,3 na direita

4,5,5 na esquerda.

Para ler

1,2,3 na esquerda

4,5,6 na direita.

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Os sinais do sistema Braille recebe, designações diferentes dependendo

do espaço que ocupa aqueles que cuja constituição figuram os pontos 1e/ou 4,

mas em que não entram os pontos 3 nem 6, chama-se sinais superiores.

Aqueles que são formados sem os pontos 1 e 4 chama-se sinais inferiores. Os

que ocupam só uma célula denominam-se sinais simples. Chama-se sinais

compostos os que obtem-se combinando dois ou mais sinais simples.

Com esta célula básica cujo tamanho é perfeitamente abrangível pela

área da polpa de um dedo, e reconhecível pelos milhares de receptores ali

localizados, pode-se construir 63 diferentes combinações. Com estas

combinações, facilmente identificáveis pelo tato, pode-se representar letras,

números, sinais de pontuação, sinais de matemática etc. Um dos instrumentos

mais utilizados para escrita em Braille, devido ao seu custo mais acessível, é

as reglete. É constituídas de linhas que podem variar em número, de acordo

com o equipamento as quais possuíam as celas Braille, dentro das quais se vai

escrevendo com o punção (instrumento de perfuração) ponto a ponto. Este

modo de escrever torna o trabalho bastante lente, exigindo do aluno que utiliza

mais esforço para acompanhar o professor e fazer suas anotações.

Como vimos a cima, podemos perceber que a posição dos pontos

modifica-se para escrita e leitura. Isso ocorre pelo fato de que a utilização da

reglete a escrita acontece da direita para esquerda, e a leitura aparece no

verso da folha e deve ser feita de maneira convencional da esquerda para a

direita.

Na utilização da “maquina de datilografia Braille” a escrita ocorre

normalmente como se dá a leitura, pois os pontos são impressos já no verso da

folha. Esta maquina é um recurso bastante utilizado. Ela possui nove teclas,

sendo seis para a escrita, que se da letra a letra, uma para a troca de linhas,

outra para retroceder um caractere e outra que é específica para a barra de

espaço. A utilização desse instrumento é bastante vantajosa, pois permite

grande agilidade na escrita, já que se escreve letra a letra, diferentemente do

que ocorre com a reglete, onde a escrita da se a ponto a ponto.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para esse trabalho podemos considerar que todos os objetivos foram

alcançados e hoje realmente temos crianças cegas matriculadas no ensino

regular, no entanto, as condições de aprendizagem necessitam ser revistas ou

repassadas, já que a inclusão é um direito e não um favor social. É perceptível

no discurso dos professores que a maioria não tem as informações adequadas

ao desenvolvimento e aprendizagem da criança cega o que nos remete a

pensar na formação continuada in locus como forma de dar respaldo teórico a

esses.

Quanto aos aspectos fundamentais da vida da criança cega que são

essenciais, destacamos as interações como os videntes, que necessitam ser

mediados pelo professor de modo a beneficiar a todos. Outro aspecto é o

compromisso da própria escola com relação ao apoio aos professores para o

trabalho com inclusão. Por último destacamos a amorosidade, tanto

explicitada nos estudos de Paulo Freire (2005) e que evidenciam que qualquer

profissional precisa ser preparado para a inclusão.

Cabe ressaltar que a inclusão da criança cega não é uma ameaça, nem

menos uma questão de piedade, pois a inclusão é desafiada a entende-lo

como um processo dinâmico, processual e sistêmico, até porque o mundo se

move, evolui e a história muda. O que necessitamos é ter consciência que

essas crianças precisam de respeito.

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Referências

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Anexo 1: ENTREVISTA COM A PROFESSORA

1- No Frei Damião tem SAEDE?

.

2- Seu curso lhe preparou para trabalhar com inclusão?

3- O que significa para você inclusão? Você acredita nisso?

4- È viável a inclusão do D.V. na rede regular de ensino?

5- De que modo a sala de recurso pode contribuir para o processo de ensino

aprendizagem?

6- O que diferencia o Jonatan dos demais na sala? Você acha que ele está

motivado para aprender?

7- A escola que você trabalha está preparada para a inclusão?

8- A quem você busca apoio?

9- Como você realiza a avaliação de seu aluno deficiente visual?

ENTREVISTA COM MÃE DE JONATAN

1- O que a senhora acha do atendimento da ACIC?

2- A senhora recebe orientação específica para seu filho?

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3- Você realizou a matrícula de seu filho na ACIC? Quais os documentos foram

solicitados?

4- Você conhece o diagnóstico de seu filho?

5- A senhora acredita que seu filho gosta de ir para a ACIC? E para sala

regular? Por quê?

6- Qual a sua preocupação?

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