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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFBV | WYDEN MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL MPGE RAISA RIO BRANCO COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS E ESTÁGIO EM DIREITO: UM ESTUDO DE CASO NA PROCURADORIA-REGIONAL DA UNIÃO EM RECIFE - PE RECIFE 2018

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFBV | WYDEN

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL – MPGE

RAISA RIO BRANCO

COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS E ESTÁGIO EM DIREITO: UM

ESTUDO DE CASO NA PROCURADORIA-REGIONAL DA UNIÃO EM

RECIFE - PE

RECIFE

2018

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RAISA RIO BRANCO

COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS E ESTÁGIO EM DIREITO: UM

ESTUDO DE CASO NA PROCURADORIA-REGIONAL DA UNIÃO EM

RECIFE - PE

Dissertação apresentada como requisito para

obtenção do grau de Mestre do curso de Mestrado

Profissional em Gestão Empresarial do Centro

Universitário UniFBV|Wyden sob orientação do

Prof. Dr. Diogo Henrique Helal.

Recife, 2018

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Catalogação na fonte -

Biblioteca do Centro Universitário UniFBV | Wyden, Recife/PE

B816c Branco, Raisa Rio.

Competências profissionais e estágio em direito: um estudo de

caso na Procuradoria-Regional da União em Recife - PE / Raisa

Rio Branco. – Recife : UniFBV | Wyden, 2018.

83 f. : il.

Orientador(a): Diogo Henrique Helal.

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Centro

Universitário UniFBV | Wyden.

1. Competências profissionais. 2. Estágio. 3. Direito. I.

Título. DISS 658[18.2]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca.

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AGRADECIMENTOS

À minha amada mãe, Cristina, por sempre ter acreditado em mim, por ser fonte de inspiração,

pela sua dedicação como mãe e exemplo de mulher. Ao meu pai, Rui, in memoriam, por todo

carinho que até hoje me preenche e tenho certeza que estaria orgulhoso.

Ao meu querido irmão, Neto (Rui), por ter, de diferentes formas, contribuído para que eu

chegasse até aqui.

Ao Prof. Diogo Helal, por ter me dado o privilégio de ser o meu orientador e por compartilhar

de toda sua genialidade e conhecimento e, principalmente, pela confiança de que era possível.

À Dorinha por todo o apoio emocional e intelectual, professora brilhante e de coração nobre.

À Procuradoria Regional da União da 5ª Região, gestoras e, em especial, a cada um dos

estagiários que me receberam de coração aberto e a quem serei eternamente grata. Obrigada,

meus queridos, tenho certeza de que chegarão longe!

Aos membros da OAB-PE que me receberam com tanto carinho e atenção.

Aos colegas do mestrado por terem sido fonte de inspiração e suporte.

À UniFBV e seus professores.

Aos membros da banca examinadora pelas valiosas considerações.

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“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que

[...] estava sempre começando, a certeza de que

era preciso continuar e a certeza de que seria

interrompido antes de terminar. Fazer da

interrupção um caminho novo. Fazer da queda um

passo de dança, do medo uma escada, do sono

uma ponte, da procura um encontro.”

(Fernando Tavares Sabino)

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RESUMO

O presente estudo objetivou identificar quais competências profissionais de estudantes do curso

de graduação de Direito, vinculados ao programa de estágio da Procuradoria-Regional da

União, em Recife – PE, têm sido formadas, segundo o modelo teórico-conceitual de Paiva e

Melo (2008). A abordagem utilizada foi de natureza qualitativa de caráter descritivo, tendo sido

adotado como estratégia de pesquisa o estudo de caso. Os sujeitos foram escolhidos pelo critério

de acessibilidade, totalizando 12 entrevistados. De uma forma geral, os entrevistados

reconhecem como o perfil do profissional de Direito aquele que possui características

relacionadas a ser um generalista, propositivo na elaboração de soluções, atualizado, flexível,

moderno, conhecedor de tecnologia e interativo. No que diz respeito à percepção de profissional

competente, os entrevistados destacaram competências de ordem cognitiva, funcional,

comportamental e ética. No entanto, preocupa-se o fato das componentes de ordem cognitiva e

ética terem apresentado baixa ocorrência como sendo formadas e desenvolvidas pela IES e o

programa de estágio. No que tange à contribuição do programa de estágio no desenvolvimento

de competências dos estudantes, houve um entendimento de que ele efetivamente contribui. Por

outro lado, as IES não apresentaram as contribuições que seriam esperadas. Percebeu-se, de

certa forma, um ruído entre as atuações da entidade de classe e a percepção dos entrevistados

sobre essas contribuições. Ao final, foram propostas ações para melhor configuração do

programa de estágio e sugestões de estudos futuros.

Palavras-chave: Competências profissionais, Estágio, Direito.

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ABSTRACT

The present study aimed to identify the professional competences of undergraduate students of

law, linked to the internship program of a Federal organization in Recife, Brazil, have been

formed according to the theoretical-conceptual model proposed by Paiva and Melo (2008). The

approach used was of a qualitative character of descriptive character, and the case study was

adopted as a research strategy. The research subjects were chosen according to the accessibility

criterion, totaling 12 interviewees. In general, interviewees recognize that the profile of the

legal professional has the characteristics related to being a generalist, propositive in the

elaboration of solutions, updated person, flexible, modern, technology-savvy and interactive.

Regarding the perception of competent professional, the interviewees highlighted cognitive,

functional, behavioral and ethical skills. However, it is worried that the components of cognitive

and ethical order have presented low occurrence as being formed and developed by the

educational institution and the internship program. Regarding the contribution of the internship

program in the development of students' competences, there was an understanding that it

effectively contributes. On the other hand, the educational institution did not present the

expected contributions. Despite the various actions promoted by the class entity, they are not

perceived by the students. At the end, actions were proposed to better configure the internship

program and suggestions for future studies.

Keywords: Professional skills, Internship, Law.

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LISTA DE SIGLAS

CEEO: Comissão de Estágio e Exame de Ordem

CEJ: Comissão de Educação Jurídica

IES: Instituição de Ensino Superior

LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

OAB: Ordem dos Advogados do Brasil

OAB-PE: Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Pernambuco

PRU5: Procuradoria Regional da União da 5° Região

TCE: Termo de Compromisso de Estágio

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Componentes da competência profissional...........................................................30

Quadro 2 – Sujeitos da pesquisa...............................................................................................41

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Estagiário competente.............................................................................................50

Tabela 2 – Profissional competente..........................................................................................52

Tabela 3 – Competências desenvolvidas pelos estudantes por meio do programa de estágio..56

Tabela 4 - Competências desenvolvidas pelos estudantes por meio da IES.............................62

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11

1.1 Objetivos da pesquisa ......................................................................................................... 14

1.1.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 14

1.1.2 Objetivos específicos ....................................................................................................... 14

1.2 Justificativas da pesquisa .................................................................................................... 15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 17

2.1 Competência profissional ................................................................................................... 19

2.2 Modelos sobre competência profissional ........................................................................... 23

2.2.1 Modelo americano ........................................................................................................... 23

2.2.2 Modelo francês ................................................................................................................ 25

2.2.3 Modelo teórico-conceitual de Paiva e Melo (2008) ........................................................ 27

2.3 Estágio e ensino superior .................................................................................................... 32

2.3.1 Estágio supervisionado e formação do perfil profissional............................................... 34

2.3.2 Estágio em Direito ........................................................................................................... 37

3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 39

3.1 Caracterização da Pesquisa ................................................................................................. 39

3.2 Locus da pesquisa ............................................................................................................... 39

3.3 Sujeitos da pesquisa ............................................................................................................ 41

3.4 Instrumentos de coleta dos dados ....................................................................................... 41

3.5 Análise dos dados ............................................................................................................... 42

3.6 Limite da pesquisa .............................................................................................................. 42

3.7 Limitações da pesquisa ....................................................................................................... 42

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS .................................................................. 44

4.1 Competências profissionais identificadas, de acordo com pesquisa documental ............... 44

4.2 Dados funcionais e demográficos dos entrevistados .......................................................... 46

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4.3 Perfil profissional, estagiário competente e profissional competente ................................ 47

4.4 A formação de competências profissionais, segundo os estagiários .................................. 54

4.5 A formação de competências profissionais, segundo as gestoras ...................................... 64

4.6 A formação de competências profissionais, segundo os representantes da OAB-PE ........ 68

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 72

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 75

APÊNDICE A - Roteiro entrevista gestoras programa de estágio .................................... 81

APÊNDICE B - Roteiro entrevista estagiários de Direito .................................................. 82

APÊNDICE C - Roteiro Representante OAB ...................................................................... 83

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1 INTRODUÇÃO

Antes de o futuro profissional ingressar formalmente no mercado de trabalho, geralmente, ele

pode ter a oportunidade de experienciar a realidade organizacional, sem as responsabilidades

que um profissional normalmente possui, uma vez que ainda se encontra em fase de formação;

a esse trabalhador denomina-se estagiário.

Durante o período em que a presente pesquisadora atuou como gestora de um programa de

estágio, em uma organização pública, foi possível identificar várias limitações que o programa

possuía como ociosidade por parte dos estudantes, efetividade do programa, mecanismos de

avaliação, turnover (rotatividade) e que eram difíceis de ser superadas. Essa experiência

transformou-se em motivação para a realização deste trabalho.

Associado a isso, algumas previsões preocupantes surgiram, a partir de um estudo intitulado

“The Future of Jobs”, publicado no ano de 2016, pelo Fórum Econômico Mundial (FEM), cujo

objetivo, dentre outros, era compreender de que forma as mudanças introduzidas pela 4ª

Revolução Industrial – Era ciberfísica, podem impactar nos níveis de emprego, no conjunto de

habilidades e padrões de recrutamento do futuro.

De acordo com essa publicação, quase metade do conteúdo ensinado no primeiro ano de um

curso, com quatro anos de duração, poderá estar desatualizado, quando os alunos se graduarem;

isto devido ao constante avanço tecnológico. Semelhantemente, em média, até 2020, mais de

um terço das habilidades desejadas para o desempenho das atividades, ainda não têm sido

levadas em consideração, em formação e treinamentos, atuais.

Sendo assim, cada vez mais, serão necessárias habilidades técnicas, sociais e analíticas. Nesse

contexto, pois, acredita-se que programas de estágio supervisionado possam assumir um papel

importante, na medida em que atuem como elemento integrador entre as necessidades do mundo

acadêmico e organizacional, ainda vistos como antagônicos.

Essa previsão já havia sido publicada por Nascimento e Teodósio (2005) quando alertaram para

a dificuldade de escolas de nível superior acompanharem a produção de conhecimento, face ao

ritmo do desenvolvimento tecnológico; em contrapartida, atividades empresariais poderiam

apresentar superficialidade e reprodução de modismos gerenciais.

Em paralelo, segundo Teixeira e Zacarelli (2007) é necessário que haja uma ressignificação do

trabalho, em função dessas mudanças tecnológicas que vêm revolucionado os campos da

informação e da comunicação, alterando até mesmo as noções de tempo, espaço, forma de

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pensar e agir das pessoas e das sociedades. Nesse sentido, ele (o trabalho) deve deixar de ser

percebido como mero meio de sobrevivência, para ser visto como meio de autodesenvolvimento

pessoal e profissional.

Da parte dos profissionais, segundo Zarifian (2001), esses devem buscar soluções diversas, a

fim de se sobressaírem nesse ambiente social complexo e instável e tornarem-se responsáveis

por suas ações, no sentido de representar um diferencial competitivo, tanto para eles próprios,

quanto para as organizações, as quais pertencem.

Sveiby (1998) entendia o valor da competência dos indivíduos, ao ponto de considerá-la um

ativo intangível, pertencente ao balanço patrimonial de uma organização. É nesse contexto,

então, que o termo competência ganha cada vez mais dimensão.

A palavra competência, apesar de ser empregada em diversas situações e compreensões, ainda

não possui um consenso e diversas definições têm sido atribuídas a ela (SANT’ANNA, 2008).

Para Fleury e Fleury (2001) ela é o saber agir responsável e reconhecidamente, por meio de

conhecimentos, recursos e habilidades, que agrega valores econômico (à organização) e social

(ao indivíduo).

Murari e Helal (2009) destacam os diferentes níveis de abordagem da competência: 1 -

individual/profissional; 2 - gerencial/funcional e 3 - organizacional. Quanto ao modo de

transmissão, ela pode se dar sob a forma de informação ou prática - experiência (SVEIBY,

1998). Nesse primeiro caso, tem-se como responsáveis as instituições de educação; no segundo,

o mercado de trabalho, representado por organizações.

Diante disso, propõe-se um desafio, tanto para instituições de ensino, quanto para organizações:

desenvolver o potencial de estudantes – ou competências, a fim de que possam chegar

preparados, ao ambiente corporativo. Com isso, entende-se que os ganhos estão destinados não

somente aos indivíduos e às organizações, mas também, à sociedade como um todo, que poderá

usufruir de melhores serviços e produtos, em tempos futuros.

Nesse contexto, o presente estudo se propõe a investigar sobre a formação de competências

profissionais para estagiários do curso de Direito, na Procuradoria-Regional da União da 5ª

Região (PRU5) em Recife – PE, a partir da perspectiva do modelo teórico-conceitual de Paiva

e Melo (2008).

De acordo com esse modelo, existem quatro atores sociais envolvidos no processo de formação

de competências profissionais: o primeiro é o Estado, que não será objeto de estudo da presente

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pesquisa; o segundo são as instituições de ensino (reconhecidas por estudantes estagiários da

PRU5, em Recife – PE); como terceiro têm-se as instituições coletivas (figuradas pela Ordem

dos Advogados de Pernambuco - OAB-PE); finalmente, o quarto, as organizações, de maneira

em geral (encenadas pela própria PRU5, em Recife – PE).

Ainda em relação ao modelo, a competência profissional é definida como um conjunto de

saberes diferenciados, a saber: competência intelectual, técnico-funcional, comportamental,

ética e política.

A Procuradoria-Regional da União da 5ª Região (PRU5) em Recife – PE representa a União

junto ao Tribunal Regional Federal e tem como Missão: atuar com efetividade na representação

jurídica da União, na defesa do interesse público e na garantia das políticas públicas, no âmbito

dessa Região. Compõem a PRU5 os seguintes setores: I - o Gabinete do Procurador Regional -

GPR; II – a Chefia de Gabinete do Procurador Regional – CG; III - a Coordenação-Geral

Jurídica - CGJ; IV – a Coordenação de Apoio à Atividade Jurídica – CAAJ e V – a Coordenação

de Cálculos e Perícias – CCP.

A PRU5 faz parte da Advocacia-Geral da União (AGU), órgão público nacional, que tem como

finalidade precípua a prestação de serviço de consultoria e assessoramento jurídicos, ao Poder

Executivo (BRASIL, 1988). Normalmente, os estágios oferecidos por essa Instituição atraem

diversos estudantes, motivados pelo seu aprimoramento profissional.

No entanto, não há, ainda, um processo formal de avaliação, sobre a efetividade do programa

de estágio, desenvolvido por essa Instituição, no que tange à formação de competências

profissionais, no caso específico, de estudantes do curso de graduação em Direito.

Dessa forma, o presente trabalho se propõe a responder a seguinte questão de pesquisa: quais

competências profissionais têm sido formadas por meio do programa de estágio para estudantes

do curso de graduação em Direito, na Procuradoria Regional da União, em Recife – PE, segundo

o modelo teórico-conceitual de Paiva e Melo (2008)?

Com o propósito de responder a essa questão, foram determinados os seguintes objetivos para

esta pesquisa.

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1.1 Objetivos da pesquisa

1.1.1 Objetivo geral

Analisar quais competências profissionais têm sido formadas por meio do programa de estágio

para estudantes do curso de graduação em Direito, na Procuradoria-Regional da União, em

Recife – PE, segundo o modelo teórico-conceitual de Paiva e Melo (2008).

1.1.2 Objetivos específicos

a) Identificar o perfil e as competências do profissional de Direito na percepção dos atores.

b) Identificar como Instituições de ensino, por meio da percepção de estagiários da PRU5,

em Recife – PE, contribuem para a formação de competências profissionais de

estudantes do curso de graduação em Direito.

c) Verificar como Instituições coletivas, por meio da atuação da Ordem dos Advogados do

Brasil - OAB-PE, contribuem para a formação de competências profissionais de

estudantes do curso de graduação em Direito.

d) Identificar como organizações, por meio da atuação da própria PRU5, em Recife – PE,

contribuem para a formação de competências profissionais de estudantes do curso de

graduação em Direito.

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1.2 Justificativas da pesquisa

São inquestionáveis as diferenças atinentes às dinâmicas das organizações públicas em relação

às privadas. Batista e Kool (2004, p. 152) entendem que “o Setor Público, por exigência

constitucional e por suas próprias finalidades, segue princípios diferentes daqueles que

orientam a iniciativa privada”. Paludo (2010) afirma, no entanto, que existem mais

similaridades que divergências entre elas; mas quanto à finalidade, não há dúvidas: uma preza

pelo bem-estar da coletividade (serviço público) e a outra o lucro do empresário (iniciativa

privada).

Comparando-se a realidade do serviço público com a iniciativa privada quanto à temática

estágio, há a concentração das vagas neste último. No entanto, não se pode ignorar o ambiente

de aprendizagem que o setor público proporciona (CORREIA; GONÇALVES, 2016). Soma-

se a isso,

o aumento de estágios em organizações públicas vem acompanhado das mais diversas

tentativas de balizar seu funcionamento (normas, criação de programas específicos,

centralização administrativa), que variam de aplicação e contexto de acordo com os

níveis de governo e a respectiva agendado mandatário. (CORREIA; GONÇALVES,

2016, p. 3).

Cassundé et al. (2017, p. 610) afirmam que “[...] pouco se produz e discute sobre a prática de

estágio nos cursos de graduação [...]”. Aliado a isso, quando se trata de estudos sobre a temática

estágio na realidade do serviço público, principalmente no que tange à formação de

competências profissionais, são ainda mais escassos.

Quase a totalidade dos estudos que abordam a temática estágio têm como foco, principalmente:

1- objetivos da prática; 2 - críticas (deficiências) aos formatos como a atividade é conduzida

nas organizações; 3 - a importância da atividade para o desenvolvimento profissional do

estudante; 4 - dificuldades encontradas pelos estagiários no desempenho das atividades.

Poucas pesquisas relacionam estágio e formação de competência profissional, principalmente,

na realidade corporativa do serviço público. Trata-se de uma realidade corporativa diferenciada,

considerando que o ingresso na carreira pública, no Brasil, se dá eminentemente por meio do

concurso público. Além disso, há escassez de pesquisas acerca das organizações públicas como

importante ambiente formador de competências e de estudos acerca das competências

profissionais dos graduados em Direito no contexto brasileiro.

Sabe-se que a experiência profissional é indispensável para que os acadêmicos entendam como

se dá a dinâmica organizacional e de sua futura área de atuação. Nas organizações privadas, a

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experiência profissional é condição sine qua non para os processos de recrutamento e admissão;

no entanto, na esfera pública, ainda é restrita para alguns cargos específicos. Correia e

Gonçalves (2016) ressaltam que o ambiente do setor público dispõe de capacidade para

desenvolver estudantes para além de questões profissionais e pessoais, como, por exemplo, a

dimensão cidadã.

Avaliar um programa de estágio é uma tarefa importante, na medida em que quando esse é

pensado de forma planejada e tem como objetivo o desenvolvimento de competências

profissionais, pensa-se estar contribuindo tanto para a sua própria qualidade, beneficiando, cada

vez mais, os estagiários, o desenvolvimento da própria organização, a partir dos conhecimentos

trazidos pelos acadêmicos quanto para a sociedade que recebe um profissional mais preparado.

Os resultados encontrados podem facilitar a gestão do programa no desenvolvimento das

competências dos estudantes e, consequentemente, para que esses realizem melhor as suas

atividades, contribuindo, assim, para alcance dos objetivos organizacionais. Além disso, tais

resultados da pesquisa podem interessar à gestão de outros programas de estágio.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os novos padrões de consumo, produção e emprego que emergiram, em meados do século XX

e início do século XXI, impactaram em diversos perfis profissionais, ampliando, assim, a

discussão acerca de competência; entendida em seu conceito mais usual como o conjunto de

conhecimentos, habilidades e atitudes (FLEURY, FLEURY, 2001).

O interesse pelo estudo sobre competências surgiu como consequência da necessidade de

reestruturação do sistema produtivo, até então dominante: o modelo fordista/taylorista de

organização do trabalho, no qual predominava a noção de qualificação.

Torna-se quase uma tarefa impossível debater a questão da competência sem fazer referência à

qualificação. Muitas vezes consideradas sinônimas, essas duas expressões envolvem aspectos

díspares, sendo necessário o esclarecimento de cada uma delas para o melhor entendimento

deste estudo.

Na visão de Manfredi (1999), a qualificação diz respeito aos aspectos ligados ao posto de

trabalho e não ao trabalhador e suas características: nessa perspectiva, o que importa é garantir

que esse último seja preparado para desempenhar tarefas ou funções específicas e operacionais.

Aqui, a ênfase é dada aos aspectos técnico-operacionais, menos teórica ou abrangente.

De acordo com Helal e Rocha (2008) em seu artigo intitulado “Da qualificação às

competências: o que há de novo?”, é destacada de que maneira essas duas expressões se

individualizam:

a ideia de competência passa a complementar o conceito de qualificação, na medida

em que as formas flexíveis e participativas de organização de trabalho da atualidade

exigem conhecimentos específicos e direcionados (qualificação), bem como

capacidade de lidar com as rápidas mudanças no decorrer do processo do trabalho,

que necessitariam de elementos subjetivos e personalíssimos como iniciativa,

criatividade ou capacidade de assumir riscos (competência) (HELAL; ROCHA, 2008,

p. 14).

Ainda consoante os supracitados autores, elas (a qualificação e a competência) são distintas,

pois se apresentam para realidades díspares, ou seja, se expressam em contextos diferentes.

Antes, para o sucesso da produção em massa, típica do modelo fordista de produção, exigia-se

do trabalhador um alto grau de especialização. No entanto, em decorrência das novas

tecnologias empregadas nas atividades produtivas, típicas dos modelos flexíveis de produção,

se é exigido do trabalhador, cada vez mais, atributos de ordem subjetiva.

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Diversos autores (HIRATA, 1994; MANFREDI, 1999; LE BOTERF, 2003; HELAL; ROCHA,

2008;) destacam a relevância que as características de ordem subjetiva têm no novo paradigma

industrial e que apenas o domínio de aspectos técnico-operacionais por parte dos profissionais

é insuficiente.

Tanto a qualificação como a competência podem ser definidas de diferentes formas, a depender

do ângulo e enfoque que se quer dar; fato é que a primeira está coexistindo, ou até mesmo,

sendo substituída pela segunda. O modelo de competência é uma alternativa à noção de

qualificação, tratando-se, assim, de expressões com significados e objetivos divergentes. O

conceito de competência se trata de uma reatualização do conceito de qualificação para

abranger os aspectos da nova organização produtiva (MANFREDI, 1999).

É relevante destacar que o modelo de competência surge a partir da necessidade de

reorganização do sistema produtivo para melhor atender às necessidades do capital. No entanto,

não se pode esquecer que o modelo fordista/taylorista de organização do trabalho não é uma

realidade totalmente superada. Hirata (1994) afirma que as novas modalidades produtivas

coexistem com o fordismo e que ele ainda é uma realidade majoritária, principalmente, em

países em desenvolvimento. Nessa mesma linha de raciocínio, Le Boterf (2003) ressalta a

importância de as empresas evoluírem cada vez mais e que estruturas organizacionais antigas e

novas, por vezes, coexistem.

Le Boterf (2003) apresenta uma constatação interessante acerca do profissional no novo

contexto produtivo ao afirmar a necessidade de ele superar a prescrição; que a simples execução

(do trabalho) não existe e acrescenta que um trabalho, por mais monótono que ele possa parecer,

também pode ser complexo. Ainda de acordo com o autor, são exigidas do profissional

competências para além da aplicação de instruções, como, por exemplo, a capacidade de

iniciativa e responsabilidade.

Ainda consoante o supracitado autor, destaca-se a importância prática da competência, ou seja,

ela só vai existir verdadeiramente diante de um acontecimento, do imprevisto. Esclarece-se que

para executar aquilo que está prescrito não é preciso necessariamente ser competente. O

profissional é competente quando ele, entre outras características, tem iniciativa e sabe tomar

decisões em momentos oportunos.

Hirata (1994) afirma que o conceito de competência ainda é bastante impreciso se comparado

ao de qualificação e os diferencia de forma bastante contundente ao individualizá-los para

realidades opostas.

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Para Fleury e Fleury (2001, p. 185) “A qualificação é usualmente definida pelos requisitos

associados à posição, ou ao cargo, ou pelos saberes ou estoque de conhecimentos da pessoa, os

quais podem ser classificados e certificados pelo sistema educacional”.

Le Boterf (2003) ressalta o caráter convencional que a noção de qualificação possui. Para ele,

o fato de uma pessoa acumular diploma de formação não significa dizer que a mesma tenha

competência de acordo com essa formação. Ela, por sua vez, é simplesmente capaz de dispor

recursos para formar tais competências. A qualificação não deve se opor à competência, nem

tampouco, para esse autor, essa última deve substituir a primeira.

Sendo assim, é corroborada a ideia de que a qualificação está ligada a aspectos técnicos, a uma

realidade engessada e que a competência está relacionada a uma realidade complexa, flexível.

Percebe-se que houve uma atualização conceitual do termo qualificação para que ela abrangesse

os novos elementos ligados às capacidades que os profissionais do final do século XX e início

do XXI precisam deter, ao que chamamos de competência. Aspectos subjetivos começam a

fazer parte desse novo perfil profissional demandado.

2.1 Competência profissional

Com a crise do modelo fordista de produção nos anos 1970, novas modalidades de organização

produtiva tiveram que ser pensadas, o que, inevitavelmente, terminou por refletir na classe

profissional. Segundo Zarifian (2001), foi na década de 1980 que pesquisadores e consultores

passaram a se interessar pelo tema competência. Nessa mesma linha de raciocínio, Le Boterf

(2003) afirma que nos anos 1970 predominava a noção de qualificação e que é só no decorrer

da década de 1980 que a competência ganha importância.

Manfredi (1999) destaca que a adoção de sistemas de produção flexíveis e novas formas de

organização do trabalho, que provocaram a reestruturação do sistema capitalista, faz entrar em

crise o modelo de qualificação, cuja base era no antigo paradigma de produção e organização

do trabalho (fordista/taylorista).

Corroborando com a supracitada autora, Helal e Rocha (2008) afirmam que, com a crise do

fordismo, buscam-se novas alternativas ao interesse do capital, sendo as organizações flexíveis

a resposta encontrada. Esses mesmos autores acrescentam que todas essas mudanças vão

impactar também na classe trabalhadora, que, a partir de então, deverá deter uma atitude bem

diferente da que possuía no antigo modelo produtivo (fordismo/taylorismo).

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Os consumidores passaram a exigir das empresas produtos e serviços variados, em quantidades

pequenas e não mais a padronização e produção em larga escala, típicas do modelo fordista de

produção. O processo de reestruturação das empresas do modelo fordista para o modelo flexível

deveu-se à revolução tecnológica. Com a finalidade de atender ao novo modo de produção e

organização do trabalho surge o conceito de competência. Nesse novo contexto produtivo,

exige-se do trabalhador mais características de ordem subjetiva e menos relacionadas ao saber-

fazer técnico (HELAL; ROCHA, 2008).

Para Zarifian (1994, apud FLEURY; FLEURY, 2008, p. 28) “[...] o conceito de competência

procura ir além do conceito de qualificação: refere-se à capacidade de a pessoa assumir

iniciativas, ir além das atividades prescritas, ser capaz de compreender e dominar novas

situações no trabalho, ser responsável e ser reconhecido por isso”. Fleury e Fleury (2008, p. 28)

destacam que “A competência não se limita, portanto, a um estoque de conhecimentos teóricos

e empíricos detidos pelo indivíduo, nem se encontra encapsulada na tarefa”.

O conceito de competência surge, assim, a partir da real necessidade de as empresas atenderem

ao ambiente cada vez mais mutável e imprevisível. O foco no cargo e nas habilidades físicas

dos profissionais já não mais atendiam às necessidades do mercado. O enfoque deixa de ser no

cargo e passa a ser no indivíduo. Fleury e Fleury (2008, p. 27) afirmam que “o conceito de

competência no contexto organizacional começou a ser elaborado sob a perspectiva do

indivíduo.”

Sant'Anna (2008) ressalta que a ideia de competência não é recente, apenas houve uma (re-)

conceituação e (re-) valorização decorrente de vários fatores, entre eles, o processo de

reestruturação produtiva. Fleury e Fleury (2008) ao abordarem sobre o tema, destacam que se

trata de vocabulário do senso comum. Manfredi (1999) também compartilha desse pensamento

ao destacar o uso indiscriminado dessa palavra, como se ela tivesse um sentido universal. Ainda

consoante a referida autora, a competência é um conceito que pode assumir diferentes

definições e está em construção/reconstrução permanentemente.

Para Fleury e Fleury (2008, p. 30) a competência pode ser definida como “um saber agir

responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos

e habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo. ”

Para Barato (1998 apud SANT’ANNA, 2008, p. 240) ela é “ [...] a capacidade pessoal de

articular saberes com fazeres característicos de situações concretas de trabalho.” Sant’Anna

(2008, p. 247) a define “como a resultante da combinação de múltiplos saberes – saber-fazer,

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saber-agir, saber-ser – capazes de propiciarem respostas com bom êxito, por parte dos

indivíduos, aos desafios advindos dos processos de reestruturação e modernização produtiva

em voga.”

A competência pode ser compreendida a partir de diferentes níveis: 1 - nível da pessoa; 2 - nível

das organizações; 3 - nível dos países (FLEURY; FLEURY, 2001). O foco do presente estudo

se dá no nível da pessoa, definida como a competência do indivíduo.

Um grupo de autores (HIRATA, 1994; MANFREDI, 1999; HELAL; ROCHA, 2008;

SANT’ANNA, 2008) traz ao debate sobre competência a questão da origem empresarial que o

termo possui; o que tem gerado diversas críticas por parte dos estudiosos (SANT’ANNA,

2008). A discussão acerca do tema competência também envolve uma perspectiva mais crítica

em torno do modelo. Diversos autores julgam-no como excessivamente pragmático e orientado

aos interesses patronais (SANT’ANNA, 2008).

De acordo com Dubar (1998, p. 100), o modelo de competência:

corresponde a uma concepção das relações de trabalho e da organização que valoriza

a empresa, o contrato individual de trabalho, a troca de uma "mobilização" pessoal

(commitment) contra marcas de reconhecimento (inclusive salariais), a integração

forte numa organização hierárquica.

Para Deluiz (2001, p. 14), “os acordos particulares entre empregador e empregado em termos

de uma ‘carteira de competências’ podem enfraquecer a negociação coletiva e desmobilizar a

ação sindical.”

No entanto, mesmo diante das diversas críticas, o modelo reflete muito a realidade do trabalho

no cenário produtivo atual, conforme destacado por Helal e Rocha (2008, p. 13),

apesar das críticas recebidas, o modelo de competência teve (e tem) grande sucesso

em função de estar fortemente associado às novas concepções do trabalho baseadas

na flexibilidade, nas quais estão presentes atributos como autonomia,

responsabilidade, capacidade de comunicação e polivalência.

Manfredi (1999, p. 11), ao mesmo tempo em que defende a noção de competência, a critica:

“nesse sentido, reafirmamos a hipótese de um movimento de reatualização, sem dúvida

inovador, para dar conta dos novos desafios que a realidade concreta propõe, contudo,

prisioneiro de uma lógica ancorada na perspectiva do capital e não do trabalho.”

Para fins do presente estudo, foi adotado o conceito de Paiva e Melo (2008) que definiram a

competência profissional como:

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[...] mobilização de forma particular pelo profissional na sua ação produtiva de um

conjunto de saberes de naturezas diferenciadas (que formam as competências

intelectual, técnico-funcionais, comportamentais, éticas e políticas) de maneira a gerar

resultados reconhecidos individual (pessoal), coletiva (profissional), econômica

(organização) e socialmente (sociedade). Concebe-se, então, competência profissional

como a meta-reunião de maneira singular e produtiva de competências compostas por

saberes variados. (2008, p. 349)

Zarifian (2001) propõe o modelo da competência ao perceber uma mudança de paradigma no

processo avaliativo da gestão de recursos humanos de determinadas empresas do setor

moveleiro francês da época (meados da década de 1980). No seu estudo, foi constatado que as

empresas passaram a demandar dos trabalhadores aspectos relacionados ao intelecto e não mais

à capacidade física. Esse mesmo autor afirma que só se pode entender a necessidade do modelo

de competência se forem levadas em consideração as mudanças que ocorreram no trabalho e

seus aspectos.

Ainda de acordo com o supracitado autor, no seu estudo são apresentados os três elementos

principais que impactaram no contexto atual do trabalho, tornando urgente o modelo de

competência, são eles: 1- evento; 2-comunicação e 3- serviço. O evento é definido como algo

que ocorre de forma inesperada, não planejada, mas que faz parte do cotidiano das empresas.

O evento também é visto a partir de uma segunda perspectiva (tem uma dupla acepção) e que

não diz respeito ao sistema produtivo, mas ao ambiente, externo ao sistema de produção. Sendo

assim, nesse sentido o evento está relacionado, por exemplo, a atender às novas necessidades

dos clientes.

Logo, cabe ao trabalhador fazer frente a esses eventos de forma a superá-los. Isso muda

completamente a perspectiva de trabalho dos moldes do modelo industrial clássico, pois não se

tem como prever o acaso, cabendo ao trabalhador mobilizar a sua competência no

enfrentamento das situações (ZARIFIAN, 2001).

Zarifian (2001, p. 42) afirma que “o conceito de trabalho retorna ao trabalhador. Não se pode

mais separá-los. O trabalho é a ação competente do indivíduo diante de uma situação de

evento”. O segundo elemento, a comunicação, é definido como a construção de bases de

compromisso e entendimento recíproco que garantem o sucesso das atividades desenvolvidas

conjuntamente. Na visão do autor, a melhora do desempenho das organizações vai depender da

qualidade das interações, o que rompe, por completo, a ideia do trabalho industrial clássico, que

prezava pela não comunicação. O terceiro e último elemento, o serviço, é definido como o que

transforma o modo de vida de um cliente-usuário; justifica o emprego dos trabalhadores e a

sobrevivência de uma organização. Nessa mesma linha de raciocínio, Le Boterf (2003) também

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aborda a questão do acaso no contexto profissional e da impossibilidade de controlar o

inesperado.

O debate acerca da competência também envolve a questão do seu caráter contextual. A

competência só existe quando comunicada e permutada; ela não se reduz a um único indivíduo,

depende da sua rede profissional; ela é, simultaneamente, individual e social, não sendo

possível, assim, existir sem interação. Além da rede de relacionamentos, as máquinas, os meios

de trabalho e os equipamentos, por exemplo, são recursos a serem mobilizados na construção

da competência do indivíduo. A competência é a capacidade de reunir saberes heterogêneos e

diversos na realização de uma dada tarefa; a situação laborativa é que vai determinar de que

forma se integrarão os saberes. Na competência tem-se singularidade e originalidade,

dependendo, assim, da capacidade e atuação do profissional (LE BOTERF, 2003).

Um dado curioso é apresentado acerca da competência: para que um indivíduo possa ser

considerado competente em seu ambiente de trabalho, é preciso tempo. Isso porque ela pode

variar de acordo com a situação em que intercede, depende de conjunto de imposições e de

recursos. Ser competente não se resume a possuir capacidades ou saberes, o indivíduo pode

deter esses conhecimentos e não saber aplicá-los oportunamente. A competência só existe em

uma situação concreta: surge quando há a união de um saber e um contexto. É importante

destacar que a capacidade de resolver um problema não pode ser a única definição do termo,

uma vez que existem problemas que não podem ser resolvidos, a exemplo de doenças cuja cura

inexiste (LE BOTERF, 2003).

Sendo assim, percebe-se que o conceito de competência envolve uma multiplicidade de

aspectos e questões. Diversos entendimentos têm sido discutidos; é tudo uma questão de ponto

de vista, o que só enriquece o debate acerca do tema. O termo competência tem sido definido

de diferentes formas, tornando-se um desafio determinar ou adotar-se um único conceito que

abranja toda a sua complexidade. Por essa razão, destaca-se a existência de duas correntes

teóricas que serão abordadas nos tópicos a seguir.

2.2 Modelos sobre competência profissional

2.2.1 Modelo americano

Dutra, Hipólito e Silva (2000) destacam a dificuldade quanto à conceituação de competência e

a multiplicidade de interpretações que o termo possui. Sendo assim, o debate acerca da

definição gira em torno de duas perspectivas teóricas: 1- a americana e 2 - a francesa.

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Fleury e Fleury (2001) destacam o pioneirismo do trabalho de McClelland no debate acerca de

competência. Para eles, a publicação do artigo “Testing for Competence rather than

Intelligence”, em 1973, inicia as discussões entre diversos estudiosos nos Estados Unidos.

A importância do trabalho de McClelland (1973) se dá, principalmente, pelo fato de questionar

a validade dos testes de inteligência que eram aplicados na sociedade americana dá época como

forma de determinar a valoração de uma pessoa em detrimento de outra em ambientes

acadêmicos e profissionais.

McClelland (1973) questionava o senso comum que acreditava que o desempenho escolar era

determinante para um bom desempenho na vida profissional; para ele, os testes de inteligência

da época não mediam a competência do indivíduo. A partir de uma pesquisa, o autor pôde

constatar que melhores notas (desempenho acadêmico) não significavam melhor carreira

profissional.

Autores como Boyatzis, Dailey, McClelland, e Spencer e Spencer são considerados os

principais no estudo da literatura americana acerca de competência. Nessa visão, competência

“significa o conjunto de qualificações que a pessoa tem para executar um trabalho com nível

superior de desempenho.” (DUTRA; HIPÓLITO; SILVA, 2000, p. 162). Ainda de acordo com

a visão americana:

[...] competência é o conjunto de qualificações ou características preconizáveis, que

permitem a alguma pessoa ter desempenho superior em certo trabalho ou situação. A

competência pode ser prevista ou estruturada, de modo que se estabeleça um conjunto

qualificador ideal, para que a pessoa apresente uma realização superior em seu

trabalho. (DUTRA; HIPÓLITO; SILVA, 2000, p. 162-163).

De acordo com Fleury e Fleury (2001, p. 185), a competência na visão americana é percebida

da seguinte forma,

[...] é pensado como conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes (isto é,

conjunto de capacidades humanas) que justificam um alto desempenho, acreditando-

se que os melhores desempenhos estão fundamentados na inteligência e personalidade

das pessoas. Em outras palavras, a competência é percebida como estoque de recursos,

que o indivíduo detém. Embora o foco de análise seja o indivíduo, a maioria dos

autores americanos sinalizam a importância de se alinharem as competências às

necessidades estabelecidas pelos cargos, ou posições existentes nas organizações.

Fleury e Fleury (2008, p. 28) criticam o modelo americano ao afirmarem, “em outras palavras,

definir um estoque de recursos individuais necessários ao bom desempenho em cada cargo ou

posição não é condição suficiente para atender a demanda por inovação e flexibilidade que se

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coloca às empresas”. Diante das diversas críticas recebidas pelo modelo americano, surge uma

outra corrente, o modelo francês, que será detalhado no tópico a seguir.

2.2.2 Modelo francês

Contemporaneamente ao debate norte-americano acerca do conceito de competência, surge

também a visão francesa. É no contexto de grandes mudanças econômicas, sociais e do

acirramento da competitividade das empresas francesas que a discussão do conceito de

competência se intensifica.

Le Boterf (2003, p. 16) afirma que,

A incerteza torna-se uma companheira fiel da economia e das empresas francesas. O

retorno a um contexto de crescimento constante e previsível é pouco provável. Essa

situação leva os diretores de empresa a apostar mais nas competências dos

empregados, na sua capacidade de adaptação e de iniciativa e na sua capacidade de

aprender do que em uma previsão fina das evoluções do conteúdo dos empregos.

De acordo com Dutra, Hipólito e Silva (2000, p. 163):

Durante os anos 80 e 90, muitos autores contestaram essa definição de competência,

associando-a às realizações das pessoas, àquilo que elas provêem, produzem ou

entregam. De conformidade com esses autores, o fato de a pessoa deter as

qualificações necessárias para certo trabalho não assegura que ela irá entregar o que

lhe é demandado. Esta linha é defendida por autores como Jacques (1990), LeBortef

(1995), Zarifian (1996), entre outros, em sua maioria europeus.

De acordo com Fleury e Fleury (2001, p. 186),

O debate francês a respeito de competência nasceu nos anos 70, justamente do

questionamento do conceito de qualificação e do processo de formação profissional,

principalmente técnica. Insatisfeitos com o descompasso que se observava entre as

necessidades do mundo do trabalho (principalmente da indústria), procuravam

aproximar o ensino das necessidades reais das empresas, visando a aumentar a

capacitação dos trabalhadores e suas chances de se empregarem. Buscava-se

estabelecer a relação entre competências e os saberes – o saber agir – no referencial

do diploma e do emprego. Do campo educacional o conceito de competência passou

a outras áreas, como o campo das relações trabalhistas, para se avaliarem as

qualificações necessárias ao posto de trabalho, nascendo assim o inventário de

competências: bilan de compétences.

Dois grandes estudiosos se destacam nessa abordagem: Guy Le Boterf e Philippe Zarifian. De

acordo com Le Boterf (2003, p. 12) “as competências geralmente são reconhecidas por meio de

saber (conhecimento), saber-fazer (habilidades) e saber ser (atitudes).”

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Tendo em vista que a competência é um agir responsável e reconhecido pelos outros, Le Boterf

(1995 apud FLEURY; FLEURY, 2001, p. 187) afirma que a competência é situada em 3 eixos:

a) na própria pessoa; b) na sua formação educacional; e c) experiência profissional.

Cabe ressaltar o aspecto da ação que envolve a definição de competência para os autores da

abordagem francesa.

A competência é realmente a competência de um indivíduo (e não a qualificação de

um emprego) e se manifesta e é avaliada quando de sua utilização em situação

profissional (na relação prática do indivíduo com a situação profissional, logo, a

maneira como ele enfrenta essa situação está no âmago da competência) (ZARIFIAN,

2001, p. 67).

Conforme já abordado anteriormente, na visão de Zarifian (2001), a emergência do modelo de

competência se dá em um contexto de evolução da concepção do trabalho e dos diversos

elementos que o envolvem. A ideia de Zarifian (2001, p. 68) é de propor um conceito que “[...]

reúna várias formulações”. Assim, ele sugere 3 abordagens de competência. a) A primeira

enfatiza o aspecto da mudança na organização do trabalho: “A competência é ‘tomar iniciativa’

é ‘o assumir responsabilidade’ do indivíduo diante de situações profissionais com as quais se

depara” (ZARIFIAN, 2001, p. 68); b) A segunda foca a dinamicidade de aprendizagem: “a

competência é um entendimento prático de situações que se apoiam em conhecimentos

adquiridos e os transforma na medida em que aumenta a diversidade das situações”

(ZARIFIAN, 2001, p. 72); e c) A terceira e última define como a “[...] faculdade de mobilizar

rede de atores em torno das mesmas situações” (ZARIFIAN, 2001, p. 74). Assim, o autor

reforça que a partir da combinação dessas três abordagens é possível compreender o que

realmente seja a competência.

A competência só se faz presente com as ações, ou seja, na prática, somente assim é possível

perceber a sua existência (ZARIFIAN, 2001). Ratificando essa ideia, de acordo com Le Boterf:

Não há competência senão posta em ato, a competência só pode ser competência em

situação. Ela não preexiste ao acontecimento ou à situação. Ela se exerce em um

contexto particular. É contingente. Sempre há "competência de'' ou "competência

para", o que significa dizer que toda competência é finalizada (ou funcional) e

contextualizada. (2003, p. 51-52)

Assim, o surgimento dessa segunda abordagem, em oposição à americana, se dá quando se

percebe que, mesmo que o indivíduo possua as qualificações necessárias para determinado

trabalho, não significa que elas sejam realmente utilizadas. (DUTRA; HIPÓLITO; SILVA,

2000).

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Cabe destacar o posicionamento dos pesquisadores brasileiros acerca da competência.

Inicialmente, os estudiosos se basearam na visão norte-americana, no entanto, posteriormente,

houve a introdução de autores franceses (FLEURY; FLEURY, 2001). Assim, nessa perspectiva,

ela é definida como a entrega de conhecimentos habilidade e atitudes que geram valor social

para o indivíduo e econômico para a organização (GOMES ET AL., 2008).

2.2.3 Modelo teórico-conceitual de Paiva e Melo (2008)

O modelo teórico-conceitual adotado nesta pesquisa, o de Paiva e Melo (2008), é originado do

estudo de Paiva (2007), que foi inspirado no modelo de competência profissional de Cheetham

e Chivers (1998). Esse último, além de permitir saber como a competência profissional e seus

vários componentes são adquiridos, também possibilita saber como os programas formais de

desenvolvimento auxiliam ou inibem nesse processo (CHEETHAM; CHIVERS, 1999, apud

MELO, 2012).

Para Cheetham e Chivers (2000, apud PAIVA, 2007, p. 45) esse modelo possibilitou analisar:

“a natureza da prática profissional (como os profissionais operam), a natureza das

modernas profissões, competência profissional, como pessoas reconhecem

competências profissionais em outras e como pessoas adquirem sua competência

profissional (um exame da contribuição de ambos o desenvolvimento formal e outros

tipos de experiência formativa)”.

De acordo com o modelo de Cheetham e Chivers (1998), quatro competências distintas,

compostas cada uma por diferentes conjuntos de habilidades, compõem a competência

profissional, a saber:

1. competência cognitiva / conhecimento – competência técnica / teórica / especialista

(conhecimento formal base de profissão); conhecimento tácito / prático (dificuldade de

articular ou passar, sempre ligado com a performance de funções particulares);

conhecimento procedural (rotinas básicas – como, o quê, quem, quando etc.);

conhecimento contextual (organização, setor, geografia, base de clientes etc.); e

aplicação de conhecimento (habilidades de síntese, transferência e conceitualização);

2. competência funcional – específica da ocupação (conjunto de funções específicas da

profissão); processual / organizacional / administrativa (planejamento, monitoramento,

implementação, delegação, evolução, administração do próprio tempo etc.); mental

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(capacidade de ler / escrever, de operar com números, de diagnosticar, habilidades em

tecnologia de informação etc.); e física (coordenação, destreza manual, habilidades de

digitação etc.);

3. competência comportamental ou pessoal – social / vocacional (autoconfiança,

persistência, controle emocional e de estresse, habilidades de escuta e interpessoais,

empatia, foco em tarefa etc.); e intraprofissional (coletividade, conformidade com

normas de comportamento profissional etc.);

4. competência ética / valores: pessoal (aderência a lei e aos códigos morais ou religiosos,

sensibilidade para necessidades e valores de terceiros etc.); e profissional (adoção de

atitudes apropriadas, adesão a códigos profissionais de conduta, autoregulação,

sensibilidade ambiental, foco em cliente, julgamento ético, reconhecimento dos limites

da própria competência, dever em manter-se atualizado e em ajudar no desenvolvimento

de neófitos na profissão, julgamentos sobre os colegas etc.).

Ainda de acordo com o modelo, permeando as quatro competências, haveria as

metacompetências e as transcompetências; a primeira caracterizada como “competências que

estão além de outras competências" (CHEETHAM; CHIVERS, 1998, p. 274); ela possibilita

ao indivíduo avaliar outras competências que detenha e/ou desenvolva. Quanto a segunda

(transcompetências), ela é definida como “competências que abrangem outras competências”

(CHEETHAM; CHIVERS, 1998, p. 274). Os autores situaram essas duas competências na

mesma posição e elas, conjuntamente, envolvem aspectos como comunicação, criatividade,

resolução de problemas, aprendizagem / autodesenvolvimento, agilidade mental, análise,

reflexão.

Acreditando que o ambiente também pode influenciar a atuação do profissional, a pesquisadora

Paiva (2007, p. 46) acrescentou ao modelo a competência política:

competência política – pessoal (percepção acerca dos jogos políticos inerentes às

organizações, daqueles relacionados às pessoas individualmente e dos derivados dos

interesses particulares do profissional etc.); profissional (adoção de comportamentos

apropriadas à manutenção do profissionalismo etc.); organizacional (ações voltadas

para o domínio ou fluência nas fontes estruturais e normativas de poder na organização

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onde desenvolve suas atividades produtivas etc.); e social (ações voltadas para o

domínio ou fluência nas fontes pessoais, relacionais e afetivas de poder etc.).

Assim, tendo por base o modelo de Cheetham e Chivers (1998), e por objeto professores do

ensino superior, Paiva (2007) propôs um modelo teórico-conceitual que apresenta a existência

de quatro atores sociais e de que forma eles atuam nesse processo: a) professores universitários

cujas competências profissionais estão em contínuo processo de reflexão; b) instituições de

educação superior com suas políticas e práticas pedagógicas e de gestão de pessoas, elas atuam

tanto na formação e desenvolvimento das competências profissionais individuais, como

também são responsáveis pela inserção desses sujeitos no mercado de trabalho; c) instituições

de interesse coletivo, associações profissionais e sindicatos, que são responsáveis pela

manutenção de competências profissionais coletivas; d) Estado, por meio da legislação

específica.

Assim, conforme já abordado, tendo como origem o estudo de Paiva (2007), Paiva e Melo

(2008) propuseram o modelo teórico conceitual, que será o adotado nesta pesquisa. Tal modelo

possui dupla finalidade: 1 - identificar as competências individuais; 2 – compreender as relações

entre os atores que atuam no processo de desenvolvimentos de competências individuais. No

entanto, no presente estudo considerou-se todos os atores, exceto o Estado.

Nesse modelo, 4 atores sociais atuam no processo de formação de competências profissionais:

1 - Instituições de Ensino; 2 – Estado; 3 - Instituições Coletivas e 4 – Organizações. No centro

desse modelo, localiza-se a competência profissional, formada por 5 diferentes tipos de

competências: a) competência intelectual; b) técnico-funcional; c) comportamental; d) ética e

e) política, as quais abarcam conjuntos de habilidades em cada uma delas. Ele pode ser

visualizado na seguinte Figura 01:

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Figura 1 – Modelo teórico de pesquisa

Fonte: PAIVA; MELO, 2008, p. 322.

A maneira como cada ator atua, pode ser definida conforme descrição abaixo:

a. As instituições de ensino são formadoras formais do profissional, ou seja, as

universidades e suas políticas e práticas internas pedagógicas e de gestão de pessoas

são responsáveis tanto pela formação e desenvolvimento das competências

profissionais individuais como pela absorção desses sujeitos no mercado de trabalho;

b. O Estado legisla sobre a formação, por meio das Leis de Diretrizes Básicas da

Educação e pareceres do Conselho Nacional de Educação; c. As organizações onde

os profissionais trabalham, por meio de suas políticas e práticas de gestão, contribuem

para a formação contínua e contextualizada do profissional; d. As instituições de

interesse coletivo (associações e conselhos profissionais, sindicatos etc.) regulam a

atuação do profissional e o sindicato das categorias profissionais envolvidas. (PAIVA

E SANTOS-JUNIOR, 2012, p. 901)

Os elementos da competência profissional podem ser resumidos de acordo com o seguinte

quadro abaixo:

Quadro 1 – Componentes da competência profissional

Componentes da competência profissional Saberes característicos

cognitiva saberes teóricos, qualificações para o trabalho

funcional saberes aplicados, de realização de tarefas

comportamental saberes pessoais e relacionais

ética saberes axiológicos

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política saberes político-relacionais

Fonte: Adaptado de Paiva e Melo (2008, 2009), com base em Paiva et al. (2012, p. 4)

Diversos estudos tiveram como parâmetro de análise teórico-conceitual o modelo analítico de

Paiva e Melo (2008); entre eles destaca-se o de Melo (2012). Em seu estudo, a pesquisadora

buscou identificar que competências profissionais um docente de pós-graduação em ensino à

distância on line, na opinião de professores e coordenadores, deveria possuir para lecionar

administração. Constatou-se que a maioria das competências profissionais desse professor se

relacionava com o modelo proposto por Paiva e Melo (2008), com a predominância da

competência cognitiva, seguida pelas competências funcional e comportamental e em menor

grau a ética e a política.

Barros, Melo e Agostini (2014), em um outro estudo, cuja finalidade era analisar a configuração

e a gestão das competências profissionais de médicos de uma determinada unidade hospitalar

mineira, foram observadas nesses profissionais a predominância das competências

comportamentais, funcionais e cognitiva; e, em menor intensidade, a ética e a política.

Rodrigues (2011), cujo estudo teve por objetivo a análise das competências dos egressos de um

programa de pós-graduação de uma Universidade Federal, verificou que havia a predominância

pelos egressos das competências técnico-funcionais e intelectuais.

Valadão Júnior, Almeida e Medeiros (2014) buscaram analisar e identificar as competências

desenvolvidas pelos egressos da empresa júnior de determinada Universidade Federal e

compreender o impacto dessas competências no desenvolvimento de suas carreiras

profissionais. Eles constataram que as competências comportamentais e técnico-funcionais

eram preponderantes, com baixa construção das competências éticas e políticas.

Barros e et. (2015), em pesquisa realizada em uma transportadora localizada na cidade de São

João del-Rei (MG), objetivaram analisar a formação e gestão das competências profissionais

dos empregados dessa empresa. Novamente, as competências preponderantes estavam

relacionadas às de ordem funcional, comportamental e cognitiva.

Dias (2016) em seu estudo objetivou investigar, na percepção de consultores juniores, de que

forma a atuação em determinada empresa júnior impacta na formação do profissional de

administração. Mais uma vez, houve a predominância no desenvolvimento de competências de

Cognição, Funcionais e Comportamentais/Pessoal, a última em maior grau.

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De um modo geral, de acordo com o levantamento de estudos que se utilizaram do modelo

teórico como referencial, foi possível constatar que as competências mais frequentemente

apresentadas entre os sujeitos foram aquelas relacionadas às competências cognitivas,

funcionais e comportamentais e as menos presentes eram aquelas relacionadas às competências

ética e política.

2.3 Estágio e ensino superior

O debate acerca do estágio envolve, em grande medida, o papel das instituições de ensino, uma

vez que a condição de estagiário depende da efetiva vinculação do estudante a uma instituição

de educação, no caso em estudo, de ensino superior.

Um novo perfil profissional passou a ser demandado pelas organizações diante dos avanços

tecnológicos. Características como a flexibilidade, o engajamento, a colaboração e a

versatilidade, por exemplo, passaram a ser valorizadas (CARVALHO, 1994; HELAL; NEVES;

FERNANDES, 2007 apud MURARI; HELAL, 2009) o que, inevitavelmente, termina por

refletir no meio acadêmico, que, a partir de agora, precisará formar esse novo profissional.

Em meados da década de 1990, houve uma imposição legal por parte do governo brasileiro para

que as instituições de ensino superior (IES) acompanhassem as mudanças que estavam

ocorrendo no cenário competitivo mundial. De acordo com Murari e Helal (2009), para que

fosse possível a formação de competências profissionais nos alunos, era necessário haver uma

reforma educacional, principalmente, no ensino superior.

Criada em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) foi a resposta dada

a esses anseios; ela reconfigurou os programas dos cursos superiores e difundiu o conceito de

competência (MURARI; HELAL, 2009). Francisco e Santos (2005, p. 27) ressaltam que “a

nova LDB reestruturou a educação nacional, criou novas modalidades de ensino e avançou em

diversos campos e níveis da educação”. A LDB rompe com entendimento de que a instituição

de ensino é a única responsável por prover a educação; o mundo do trabalho e da prática social

são incorporados ao ambiente educacional (NASCIMENTO; TEODÓSIO, 2005).

Entre os vários objetivos estabelecidos pela LDB para a educação superior, a formação de

graduados devidamente preparados para o ingresso no mercado profissional se torna um

desafio. Isso porque, na visão de Moretto (1999 apud FRANCISCO; SANTOS, 2005), com a

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mudança de paradigma na educação, ela não se trata mais de acumular conteúdo, mas sim

adquirir habilidades e competências na gestão de conteúdos. A grande questão que se apresenta

é que, ao que parece, as instituições de ensino não notaram essa mudança (FRANCISCO;

SANTOS, 2005).

O ensino superior é caracterizado como um ambiente que forma cidadãos para o exercício da

vida econômica e social, além de produzir conhecimentos. No entanto, apesar de seu importante

papel, ele apresenta uma série de deficiências como, por exemplo, o fracionamento da ciência

e por distanciá-la dos acontecimentos da realidade (MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA, 2017).

Alguns estudiosos (FREY; FREY, 2012; ROESCH, 2005) destacam ser recorrentes os

estudantes afirmarem que os modelos ensinados em sala não têm aplicabilidade; como também

o enfoque teórico que as aulas possuem. Os recém-formados relatam não se sentir seguros para

atuar profissionalmente, ou por não terem lidado com situações do mundo real ou por não terem

lidado com documentos atinentes à profissão (FREY; FREY, 2012).

Francisco e Santos (2005) afirmam que a competência, o conhecimento e a informação

assumem, no cenário educacional do século XXI, um papel de destaque para as empresas,

futuros profissionais e IES. No entanto, ainda de acordo com os autores, mesmo com todas as

evidências sobre a necessidade da formação de competências do seu alunado, o que se percebe

ainda é a deficiência por parte das IES em concretizar essa realidade no contexto educacional.

Inúmeras são as críticas à estrutura educacional ainda presente em muitas IES. Parece, muitas

vezes, haver um descompasso entre o que é aprendido em sala de aula e o que o mercado de

trabalho demanda. Francisco e Santos (2005) afirmam que não são novidades as discussões que

abordam as divergências entre o mundo acadêmico e o empresarial. Nessa mesma linha de

raciocínio, Grynspan (1999) frisa que não é só uma questão presente no Brasil, mas em todo o

mundo: os setores empresariais e universitários possuem finalidades e dinâmicas singulares.

Marinho-Araújo e Almeida (2017) destacam que a aplicação do que foi aprendido diante de

novas ou diferentes situações se torna um dos maiores desafios para as IES formarem em seus

acadêmicos; posturas relacionadas à crítica, reflexão e autonomia nem sempre são ensinadas.

De acordo com Marinho-Araújo e Almeida (2017, p. 2-3)

“Dessa forma, pesquisas e políticas públicas apontam, no cenário atual da educação

superior, para alternativas de formação com respostas curriculares organizadas em

torno de competências; de orientações de ensino que exigem aperfeiçoamento

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constante, dedicação e supervisão criativa do corpo docente, assim como posturas

ativas e participativas de aprendizagem – por parte dos estudantes –, que favoreçam a

aquisição e o desenvolvimento da agilidade, criatividade, autonomia, postura

inquisitiva e tomada de decisão (Almeida, Marinho-Araújo, Amaral & Dias, 2012;

Brasil, 2003; Dourado, 2011; Mesquita, Lima, Flores, Marinho-Araújo & Rabelo,

2015).

Todas essas discussões acerca do quão distante parece se encontrar a academia da realidade

proporcionam diversas reflexões e possibilidades. Na visão de Marsden e Townley (2012 apud

Beckhauser et al., 2017, p. 58) “a maioria das práticas operacionaliza alguma teoria, por mais

implícita, vaga e contraditória que ela possa ser”. Diversos autores (BECKHAUSER ET AL.,

2017; FREY; FREY, 2002; ROESCH, 2005) afirmam que o estágio se torna, assim, um

importante meio de o aluno testar esse argumento, do quão distante a academia parece se

encontrar da realidade, tão amplamente difundido.

Murari e Helal (2009) defendem que a aproximação e o entrosamento do acadêmico,

organização, instituição de ensino e sociedade pode se dar por meio do estágio, tornando

possível atender tanto as demandas do sistema educacional quanto as do mercado de trabalho.

Assim, nesse contexto de discrepâncias, o estágio surge como elemento integrativo e essencial

para que os estudantes preencham as possíveis lacunas existentes entre o meio acadêmico e o

empresarial.

2.3.1 Estágio supervisionado e formação do perfil profissional

Estagiar consiste numa das maneiras mais utilizadas de aproximar teoria e prática

(WITTMANN; TREVISAN, 2002). Nascimento e Teodósio (2005) afirmam que o aluno ao

buscar uma oportunidade de estágio, pode ter diversos objetivos a alcançar, a saber: a) geração

de renda para o pagamento das mensalidades do curso; b) exigência burocrática para formatura

e c) aplicação dos conhecimentos adquiridos em sala de aula.

Segundo a Lei n º. 11.788, que versa sobre o estágio de estudantes no Brasil, o estágio é definido

como:

[...] ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que

visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o

ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de

ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na

modalidade profissional da educação de jovens e adultos.

O estágio pode ser classificado basicamente em duas categorias: 1- estágio obrigatório; 2-

estágio não-obrigatório. A realização do primeiro é condição necessária para a graduação do

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acadêmico; quanto ao segundo, ele é realizado de forma optativa. A depender do projeto

pedagógico do curso, a iniciação científica, monitorias e atividades de extensão podem ser

igualadas ao estágio (BRASIL, 2008). O foco do presente estudo se dá sobre o estágio não

obrigatório.

Diversos autores conceituam o estágio e nessas definições também é possível perceber qual o

objetivo dessa prática. Para Lima e Carvalho (2000, p. 4) “o estágio se inclui em uma prática

de ensino-aprendizagem com caráter pedagógico marcado pela relação professor-aluno em

torno de uma experiência não-acadêmica [...]”. Para Murari e Helal (2009, p. 268), ele “[...]

deve ser analisado e compreendido como uma prática educativa que se desenvolve por meio de

um fato social e perpetua no discente competências humanas, intelectuais e criativas, sendo um

elo entre a práxis pedagógica e o mundo empresarial”.

Ignácio e Barbosa (2016) discorrem que o estágio objetiva relacionar a prática com a teoria para

que os acadêmicos possam desenvolver as habilidades imprescindíveis ao exercício da

profissão. Esses mesmos autores acreditam que se trata de uma chance de o aluno praticar o

que lhe foi ensinado em sala de aula, possibilitando, assim, o seu preparo para o mercado de

trabalho.

Entre os benefícios da realização do estágio, Beckhauser et al. (2017) destacam a possibilidade

de o estudante ter um melhor entendimento do que foi aprendido nas aulas, relacionando a teoria

com a prática, melhorar capacidade de criticidade e entender a realidade do mercado de

trabalho.

Já na visão de Francisco e Santos (2005), entre os benefícios proporcionados pela prática do

estágio, podem-se destacar: 1 - a questão de tratar-se de um meio diferenciado para adquirir

conhecimentos e competências; 2 - possibilitar que as empresas conheçam as instituições de

ensino e se estas estão capacitando os estudantes de acordo com as necessidades daquelas; 3 -

permitir que as IES avaliem a efetividade de seu ensino, podendo o estágio tornar-se, inclusive,

uma referência para atualização curricular e 4 - proporcionar aprendizado também para as

organizações.

Almeida, Lagemann e Sousa (2006) destacam a importância do relatório de estágio. Segundo

os autores, ele possibilita um melhor redirecionamento e redimensionamento dos assuntos

acadêmicos que são inaplicáveis à realidade organizacional. Acrescentam que essa iniciativa

permite renovar as estruturas curriculares e formar bons profissionais. No entanto, alertam que,

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para isso, é necessário que as instituições de ensino exerçam sua responsabilidade legal de

supervisão e controle.

Assim, é inegável a relevância do estágio para os estudantes, fato esse já constatado alguns anos

atrás por Murari e Helal (2009) ao concluírem que a prática, para os estudantes de administração

(sujeitos da pesquisa em questão) permite a formação de competências profissionais e contribui

para o acesso do estudante ao mercado de trabalho.

No entanto, apesar dos inúmeros benefícios proporcionados pela prática, existem algumas

questões que dificultam o pleno desenvolvimento dessa atividade por parte dos estudantes.

Muitas organizações não se mostram disponíveis à entrada de acadêmicos. Aspectos

relacionados quanto à real contribuição desses alunos e o receio de disponibilizar informações

são algumas das desconfianças apresentadas pelas empresas. Aliado a isso, somam-se as

queixas por parte dos estudantes relacionadas ao estágio, a saber: a escassez de tempo para

estagiar, aprofundamento em um único assunto, dificuldades na orientação, ansiedade e estresse

entre outros (FREY; FREY, 2002).

Outra crítica levantada quanto às vagas de estágio disponibilizadas pelas organizações é que

elas, muitas vezes, não são oportunidades satisfatórias; tratam-se de exploração de mão-de-obra

de baixo custo. Os acadêmicos são destacados para exercerem atividades repetitivas, sem a

oportunidade de conhecerem a empresa e aprender atividades atinentes à sua área de formação

(ROESCH, 2005).

Roesch (2005) expõe que garantir a conexão da experiência prática com os conhecimentos

acadêmicos se torna um desafio para a legislação que rege o estágio. Apesar de a autora fazer

referência à legislação antiga, é possível perceber que, mesmo com a nova legislação,

Beckhauser et al. (2017) afirmam que essa integração continua sendo um desafio. Nascimento

e Teodósio (2005, p. 5) argumentam que “vários desafios se colocam para a efetiva construção

de projetos de estágio que sejam transformadores e emancipadores dos discentes em formação”.

Planejar, executar, acompanhar e avaliar, por meio de orientações bem definidas, são condições

necessárias para que o estágio seja eficaz; soma-se a isso a necessidade de convergir com a

legislação e projetos pedagógicos dos cursos (ALBUQUERQUE; SILVA, 2006).

Marinho-Araújo e Almeida (2017) afirmam ser longo o processo de formação de um perfil

profissional competente. Isso porque, na visão dos autores, ele compreende a articulação de

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características pessoais e especificidades do exercício profissional com a construção de uma

história profissional, demandado também o desenvolvimento de competências.

Ainda consoante os supracitados autores

Ao deparar com um problema, o indivíduo nem sempre tem, de antemão, sua solução

ou todos os dados para uma tomada de decisão mais segura. É preciso construir um

amplo conjunto de procedimentos que considere diferentes formas de saberes

(acadêmicos, especializados, práticos, da experiência), algumas normas, regras e

técnicas próprias da profissão, assim como um sentido crítico e reflexivo que o leve a

fazer escolhas e julgamentos profissionais de forma ética, segura e clara.

(MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA, 2017, p. 2)

Ainda de acordo com eles:

“Para a construção desse perfil profissional, atuante e participativo, as trajetórias de

formação têm utilizado a abordagem por competências como estratégia privilegiada e

útil tanto ao desenvolvimento pessoal quanto à preparação para os papéis e funções a

serem desempenhados nos contextos de atuação profissional. No Brasil, as Diretrizes

Curriculares Nacionais para todos os cursos de graduação utilizam essa abordagem

como referência básica para a organização e o desenvolvimento curricular dos

referidos cursos (Brasil, 2003).” (MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA, 2017, p. 3)

De acordo com Murari e Helal (2009, p. 264),

No nível superior, as competências profissionais podem ser trabalhadas a partir de sua

aplicação nas organizações. Durante o estágio, o estudante pode expressar opiniões e

produzir uma percepção crítica do processo produtivo. É uma oportunidade de ver a

organização por diferentes ângulos, considerando a realidade das transformações

sociais e econômicas.

A relação entre a prática e conceitos proporciona a aprendizagem e juntos oportunizam a

reflexão, resultando no desenvolvimento do acadêmico (ALMEIDA; LAGEMANN; SOUSA,

2006).

Percebe-se, pois, que os ganhos com o estágio não se limitam apenas aos estudantes, e sim a

sociedade como um todo, principalmente, quando se trata do curso de Direito em que se é

comum ou frequente a existência de convênios com o Poder Judiciário, a fim de ampliar o

acesso dos cidadãos na busca de seus direitos.

2.3.2 Estágio em Direito

É inegável a relevância que as atividades práticas possuem para os cursos de graduação e no

curso de graduação em Direito, a realização de estágio supervisionado é elemento curricular

obrigatório. A Resolução CNE/CES n° 9, de 29 de setembro de 2004, estabelece as diretrizes

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curriculares para o curso de graduação em Direito no Brasil. Nela, pode-se observar a presença

obrigatória de 3 eixos de formação que devem compor o Projeto Pedagógico e Organização

Curricular do referido curso, a saber: I) Eixo de Formação Fundamental; II) Eixo de Formação

Profissional e III) Eixo de Formação Prática. O Eixo de Formação Prática, no qual o estágio

supervisionado se insere, tem como propósito proporcionar a interligação dos ensinamentos

teóricos, desenvolvidos pelos outros dois eixos, com a prática.

Apesar de a Resolução não estabelecer um eixo mais importante, o que se observa é que os

eixos de formação fundamental e prática são preteridos pelos estudantes em detrimento do de

formação profissional. Aliado a isso, a forma como o ensino ainda se apresenta, em que se

privilegiam aulas expositivas, não consegue acompanhar as necessidades que a sociedade do

século XXI precisa. Questões como pouco incentivo à pesquisa, seu caráter conservador,

teórico e formalismo em excesso são apenas algumas das críticas apontadas ao Direito

(IGNÁCIO; BARBOSA, 2016).

Todas essas questões são entraves que se apresentam e dificultam a formação do futuro

profissional de Direito. Esses mesmos autores afirmam que o profissional de Direito dessa nova

realidade deve, por meio da sua atuação, ter a capacidade edificar e raciocinar o próprio Direito.

Além da possibilidade de estagiar conforme as diretrizes estabelecidas pela Lei de estágio (Lei

nº 11.788, de 25 de setembro de 2008), abre-se a oportunidade ao graduando de Direito de

realizar o estágio profissional de advocacia. Tal estágio, previsto pelo Estatuto da Advocacia e

a OAB, Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, é intermediado pela OAB e tem a duração de dois

anos, não sendo, portanto, foco presente estudo.

No ano de 2018, foi lançado o programa de Residência Jurídica, uma parceria entre a OAB-PE

e uma IES localizada em Recife-PE. Trata-se de uma iniciativa restrita aos profissionais de

Direito que tenham até 5 anos de inscrição na OAB; e objetiva melhor preparar os jovens

advogados para atuação em escritórios de advocacia privados. Nele, são abordadas matérias

que não são estudadas na graduação (OAB-PE, 2018).

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3 METODOLOGIA

3.1 Caracterização da Pesquisa

A abordagem desta pesquisa foi essencialmente qualitativa, tendo em vista a natureza do seu

problema, o seu nível de aprofundamento e a expectativa por diferentes estratégias de

investigação, durante a coleta e análise dos dados (RAUPP; BEUREN, 2009; CRESWELL,

2010); além de ser mais adequada à investigação de um fenômeno social (RICHARDSON,

1999).

Este estudo também teve caráter descritivo; em que o pesquisador objetiva a descrição de

fenômenos, situações, contextos e eventos, detalhando como são e se apresentam, sem a

pretensão de indicar como eles se relacionam (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013).

Caracterizou-se, ainda, como um estudo de caso, que se realizou na Procuradoria-Regional da

União, em Recife – PE, órgão ligado a AGU - Advocacia-Geral da União, em Recife-PE. Esse

método prevê uma investigação mais aprofundada e exaustiva, de maneira a permitir um

conhecimento amplo e detalhado, acerca de um ou mais objetos (GIL, 2010).

3.2 Locus da pesquisa

O locus desta pesquisa refere-se à formação de competências profissionais por meio do

programa de estágio para estudantes do curso de graduação em Direito, na Procuradoria-

Regional da União, em Recife – PE, segundo o modelo teórico-conceitual de Paiva e Melo

(2008).

O Programa de estágio da Procuradoria-Regional da União em Recife (PRU5) envolve

estudantes de nível médio e superior. O órgão dispõe de 48 vagas de estágio para estudantes de

nível superior nas áreas de Direito, Administração e Ciências Contábeis; sendo que, dessa

totalidade, 32 são restritas ao curso de Direito, área finalística do órgão.

Todos os anos é realizado um concurso a nível nacional para admissão de novos estagiários. A

forma de ingresso no programa de estágio se dá por meio de seleção pública constituída de duas

etapas: a primeira envolve a realização de provas objetivas e a segunda, entrevistas, com a

possibilidade de aplicação de prova discursiva relacionada ao Direito. Exigem-se dos

candidatos conhecimentos atinentes à Língua Portuguesa, Direito Constitucional,

Administrativo e Processual Civil. No último concurso, realizado em 2017, houve seleção

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apenas para estudantes da área de Direito e foi possível a candidatura de graduandos que

estivessem cursando a partir do 1º período.

A escolha por esse locus se deu por motivo da facilidade de acesso aos dados, tendo em vista

que esta pesquisadora atua como analista nesse órgão. O Programa não possui um desenho

formal com a descrição de todas as atividades a serem desenvolvidas pelo estagiário de Direito,

nem quais habilidades e competências o estudante terá desenvolvido após a conclusão do

estágio, cabendo a cada supervisor, no caso em estudo, o advogado, o planejamento das

atividades a serem desempenhadas pelos estudantes. Capacitações e treinamentos não são

ofertados de forma regular e quando o são, envolvem o desenvolvimento de competências

estritamente técnicas. O instrumento de avaliação do desempenho do estudante se dá por meio

de um formulário padrão elaborado pelo agente de integração e é aplicado a cada 6 meses de

efetiva vinculação do estudante ao programa de estágio. A possibilidade de contratação de

agentes de integração é legalmente prevista para possibilitar um melhor andamento do instituto

do estágio. Ao agente de integração, na organização em estudo, compete intermediar a relação

entre os estudantes e a PRU5 no que diz respeito aos processos de recrutamento e admissão dos

futuros estagiários.

Os estudantes de Direito, em regra, atuam sob a supervisão de um único advogado, a quem cabe

toda a responsabilidade de formação desse estudante na organização. De acordo com a última

seleção, realizada em 2017, não há previsibilidade das atividades às quais caberão aos

estagiários, só sendo disponibilizada essa informação na segunda etapa do processo seletivo.

Conforme determinação da lei de estágio, a permanência do acadêmico no órgão deverá ter a

duração máxima de até 4 semestres.

Todas as atividades desempenhadas pelos estudantes são aprendidas diretamente na realização

das tarefas. Existe um processo prévio de ambientação do estagiário junto à gestão do programa,

com duração média de quatro horas, para que ele possa conhecer melhor a organização e receber

algumas orientações. Percebe-se que os antigos estagiários se dispõem de forma voluntária a

ajudar os novos estagiários no desenvolvimento das atividades jurídicas, mas nada que aconteça

de forma obrigatória ou planejada.

No Termo de Compromisso de Estágio (TCE) estão previstas todas as atividades a serem

desempenhadas pelos estudantes. No caso dos estagiários de Direito, geralmente, envolvem

atividades de auxílio nas seguintes questões: a) realização de buscas em legislação, doutrina e

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jurisprudência; b) no controle e exame de processos e ações; na confecção de pareceres

jurídicos, despachos e peças similares; entre outras atividades afins.

3.3 Sujeitos da pesquisa

A princípio, seriam entrevistados todos os estagiários que estivessem ativos no período

determinado para a realização das entrevistas. Sendo assim, dos 10 estagiários que se

encontravam vinculados ao programa de estágio, foram entrevistados 08, tendo em vista o

critério de saturação (GODOI; MATTOS, 2006). Além deles, foram entrevistadas as 2 gestoras

do programa de estágio e 02 representantes da OAB-PE.

O quadro abaixo apresenta os critérios de seleção dos sujeitos envolvidos e o quantitativo:

Quadro 2 – Sujeitos da pesquisa

Sujeitos da pesquisa Critério de seleção Quantidade de entrevistados

1 Estagiários do curso de Direito Selecionados por acessibilidade 08

2 Gestoras do programa de estágio Tipicidade 02

3 Representantes OAB em Recife Tipicidade 02

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

3.4 Instrumentos de coleta dos dados

Duas técnicas foram aplicadas para a coleta dos dados: pesquisa documental e entrevistas

semiestruturadas. A primeira possibilitou um entendimento mais objetivo sobre a realidade do

programa de estágio, na PRU5, bem como sobre a formação de competências profissionais dos

estagiários. Por meio dessa técnica, objetivou-se adquirir documentos essencialmente referentes

à estruturação do programa de estágio, a saber: normativas internas, editais, provas discursivas,

roteiro de seleção, relatórios de atividades do estágio e termo de compromisso de estágio. A

partir da pesquisa documental, que, conforme Gil (2002), possibilita melhor entendimento do

problema a ser estudado, foi possível compreender a estruturação do programa e melhor

formulação das perguntas de entrevista.

Quanto às entrevistas, o objetivo é obter dados de interesse da investigação (GIL, 2008); trata-

se de uma técnica que, naturalmente, deve permitir ao entrevistado uma melhor forma de se

expressar, sendo também, conferido ao pesquisador a possibilidade de acrescentar perguntas,

ao longo do processo (GODOI; MATTOS, 2006).

A entrevista semiestruturada foi a adotada para o presente estudo. Ela pode ser definida como

aquela que dispõe de um roteiro de perguntas ou assuntos, mas que, no decorrer das entrevistas,

outras questões podem ser formuladas com a finalidade de melhor entender o tema em estudo

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(SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013). As entrevistas ocorreram entre os meses de setembro

e outubro de 2018.

3.5 Análise dos dados

Após a coleta dos dados, o passo seguinte é analisá-los, o que pode ser feito, simultaneamente,

conforme indica Sampieri, Collado e Lucio (2013). Além da análise documental, outra técnica

utilizada no presente estudo foi a análise de conteúdo de Bardin (2011), definida como técnica

de análise das comunicações, por entende-se mais apropriada. De acordo com Berelson (1952,

apud GIL, 2008, p. 152), a análise de conteúdo pode ser definida como "uma técnica de

investigação que, através de uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo

manifesto das comunicações, tem por finalidade a interpretação destas mesmas comunicações".

O modelo de análise de conteúdo proposto por Bardin (2011) é composto por três fases: 1) pré-

análise; 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

Definida como a fase de organização, a pré-análise envolve, além de outros aspectos, a escolha

dos documentos que serão analisados. Assim, no presente estudo, as entrevistas foram

transcritas e, conforme estabelecido por Bardin, foi realizada a leitura “flutuante”.

Na etapa conhecida como exploração do material, são previstas as tarefas de codificação dos

dados. Assim, as entrevistas transcritas foram recortadas, utilizando-se como a unidade de

registro o tema. Tendo por base o modelo teórico-conceitual de Paiva e Melo (2008),

estabeleceu-se as categorias a priori, a saber: metacompetências e transcompetências;

competências cognitivas; funcionais; comportamentais; éticas e políticas.

Finalmente, a terceira e última fase, conhecida como tratamento dos resultados, a inferência e

a interpretação, conforme previsto, as falas dos entrevistados foram tratadas e interpretadas de

acordo com a finalidade dos objetivos estabelecidos.

3.6 Limite da pesquisa

Como limite para esta pesquisa, decidiu-se considerar apenas o curso de Direito, dentre dois

outros: Administração e Ciências Contábeis do programa de estágio, na PRU5, por ser

exatamente aquele que possui a maioria dos estudantes estagiários: 2/3 de todo o contingente.

3.7 Limitações da pesquisa

Ao longo da pesquisa, algumas limitações surgiram. A primeira delas foi o grande quantitativo

de estagiários da área de Direito que se desligaram do programa entre o período de idealização

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deste estudo e da efetiva realização das entrevistas. Essa questão se deu pela demora na

realização de um novo concurso de admissão, como ocorre todos os anos, o que impossibilitou

a entrada de novos estagiários. Além disso, houve a questão de dificuldade de acesso a um dos

entrevistados e a não autorização da gravação em uma das entrevistas.

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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

A coleta de dados dividiu-se em 2 etapas. A primeira parte constituiu-se de pesquisa documental

de dados primários com a respectiva legislação atinente ao estágio e as diretrizes curriculares

do curso de Direito e com os dados oriundos da documentação relativa ao programa de estágio,

todos eles submetidos à análise documental. A segunda parte foram as entrevistas, realizadas

com os atores elencados no modelo teórico conceitual de Paiva e Melo (2008).

4.1 Competências profissionais identificadas, de acordo com pesquisa documental

Nessa etapa, foram analisados todos os documentos fornecidos pela gestão do programa, alguns

de caráter público, como os editais e orientações internas entre outros; e os de caráter privado,

a exemplo dos formulários de avaliação utilizados nas entrevistas de seleção e as provas

discursivas. No último processo seletivo para estágio na PRU5, no ano de 2017, a escolha de

estudantes se deu por meio de seleção pública a nível nacional, composta por duas etapas: a

primeira tratava-se de prova objetiva e a segunda de uma entrevista, essa última com a

possibilidade de aplicação de questão discursiva. Conforme já citado anteriormente, poderiam

participar desse processo, graduandos a partir do primeiro. Na primeira etapa da seleção, é

exigido dos candidatos apenas o domínio de competências cognitivas, com a previsão de

conhecimentos relacionados à: Língua Portuguesa, conhecimentos gerais e noções de Direito

Constitucional, Administrativo e Processual Civil. Na segunda etapa, que são as entrevistas, até

pouco tempo, exigia-se como critério de pontuação a questão da experiência (funcional).

Atualmente, são avaliados 3 critérios na entrevista: conhecimento sobre a instituição

(cognitiva), expectativas sobre o estágio (comportamental) e conhecimentos específicos

(cognitiva). Já na prova discursiva, dois critérios são avaliados: 1 - correção gramatical

(funcional) e 2 – conhecimento específico (cognitiva). A prova discursiva na PRU5 é elaborada

por um advogado da União, convencionou-se que o responsável pela formulação da questão

seria o profissional que ocupasse a subprocuradoria nesse período. Nas duas últimas provas

discursivas, foram demandados dos candidatos conhecimentos referentes ao novo Código de

Processo Civil, o que caracteriza um certo direcionamento da organização para exigência e foco

nas competências cognitivas.

As atividades a serem executadas pelos estagiários, previstas no plano de estágio, estão

relacionadas ao auxílio no controle e acompanhamento dos processos e ações (funcional);

pesquisa de legislação, doutrina e jurisprudência (funcional); dar apoio na elaboração de notas

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técnicas e documentais (funcional); acompanhar os advogados na área jurídica no atendimento

e orientação (funcional) entre outras atividades. Tendo como parâmetro o modelo teórico de

Paiva e Melo (2008), percebe-se que, documentalmente, só estão previstas a realização de

atividades que tenham como foco o desenvolvimento de competências funcionais. No entanto,

isso não significa que outras competências não estejam sendo desenvolvidas, o que será melhor

identificado na realização das entrevistas.

Existe um programa de ambientação para os novos estagiários com duração média de 4 horas

para que os estudantes conheçam um pouco da organização e algumas regras básicas. Nesse

momento, são apresentadas as estruturas da AGU e da PRU5. Alguns pontos são esclarecidos

como, por exemplo, a duração do estágio, valor da bolsa, recesso e protocolos administrativos;

orientações de comportamentos também fazem parte dessa ambientação. Esse pode ser definido

como um dos únicos momentos em que estagiário tem contato com a gestão do programa para

entender um pouco sobre a realidade organizacional. Não são previstos, durante o estágio,

cursos de capacitação que promovam o desenvolvimento de competências para além das

funcionais.

A cada semestre concluído, o estudante é avaliado por meio de um formulário padrão

disponibilizado pelo agente de integração, documento esse denominado “Relatório de

Atividades do Estágio”. O formulário é dividido em duas partes: uma a ser preenchida pelo

estagiário e uma pelo seu supervisor. Primeiro, o estudante é convidado a responder perguntas

fechadas sobre oito aspectos relacionados ao estágio, a saber: 1 – aquisição de novos

conhecimentos e experiências decorrentes da realização do estágio; 2 – adequação do ambiente

de estágio; 3 – impacto do estágio em competências de cunho comportamental; 4 – contribuição

do estágio com o rendimento escolar; 5 – respeito à carga horária contratual; 6 –

acompanhamento por parte do supervisor na realização das atividades; 7 – respeito às atividades

contratuais e, no último ponto, há uma pergunta aberta para que o estudante possa deixar algum

comentário adicional sobre avaliação do estágio.

Na segunda parte do documento, o supervisor é quem realiza a avaliação do estudante. A

primeira questão é composta por sete subitens e o estudante pode ser avaliado de forma: 1 –

ótima; 2 – boa; 3 – regular ou 4 – ruim. Os aspectos avaliados são: 1 - facilidade de compreensão

das instruções/informações (metacompetências); 2 – assiduidade (funcional/ comportamental /

ética); 3 – pontualidade (funcional/ comportamental/ética); 4 – cooperação (pares/supervisor)

(comportamental/ética); 5 – discrição com informações organizacionais (comportamental /

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ética/política); 6 - capacidade de iniciativa (funcional/comportamental); 7 – nível de

conhecimento teórico (cognitiva). Na segunda questão se é perguntado, de ótimo a regular,

sobre o desempenho do estudante na realização de suas atividades (funcional). Na terceira,

pergunta-se se o estudante tem condições de realizar tarefas mais complexas (funcional). Na

quarta se há interesse na inclusão de novas atividades para o estudante e, na última questão, se

há interesse em realizar alguma observação adicional.

Percebe-se que há o predomínio de critérios de avaliação relacionados às competências:

funcionais, comportamentais e éticas. No entanto, no programa não há previsão do

desenvolvimento nem ações específicas que promovam essas duas últimas competências,

cabendo ao estudante essa responsabilidade de desenvolvê-las, já que ele é avaliado e essas

competências exercem um peso grande na sua avaliação.

No ano 2018, um novo edital foi publicado para seleção de estudantes de Direito, com algumas

modificações relevantes, com a correção de algumas distorções que ocorriam no edital anterior.

A seleção continua sendo em 2 etapas, no entanto, na segunda etapa composta pela entrevista,

abre-se a possibilidade de aplicação de questão discursiva, objetiva e análise curricular. Um

problema que se apresentava na seleção anterior, mas que foi corrigido para a seleção atual é a

existência de três modalidade de provas, de acordo com a periodização do estudante: prova tipo

1 – estudantes do 1º ao 3º semestre; prova tipo 2 - estudantes do 4º ao 6º semestre; prova tipo 3

– estudantes do 7º e 8º semestre.

4.2 Dados funcionais e demográficos dos entrevistados

No total, 12 pessoas foram entrevistadas: a) 8 estagiários; b) 2 representantes da Ordem dos

Advogados de Pernambuco (OAB-PE) e c) 2 gestoras do programa de estágio.

No período de realização das entrevistas com os estudantes de Direito, apenas 10 vagas, do total

de 32 disponibilizadas pelo programa, estavam ocupadas. Assim, optou-se, inicialmente, por

entrevistar aqueles estagiários que apresentassem maior tempo de casa, até que houvesse a

saturação das informações. No entanto, posteriormente, foram entrevistados todos aqueles que

estavam acessíveis durante o período estabelecido para a realização da coleta de dados, o que

findou com a saturação.

No que diz respeito à média de idade dos estudantes, todos eles estavam situados na faixa entre

20 a 25 anos. Quanto ao sexo, 5 eram mulheres (62,5%) e 3 homens (37,5%). Em relação à

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natureza da instituição de ensino ao qual estavam vinculados, 5 deles (62,5%) estavam

vinculados à instituição pública e o restante (37,5%) à privada.

Quanto à periodização, grande parte deles (87,5%) se encontrava já na metade e anos finais do

curso e apenas 1 estudante (12,5%) se encontrava nos anos iniciais, 4º período. No que se trata

do tempo de casa, a maioria (62,5%) possuía mais de 1 ano e 3 deles (37,5%), entre 7 e 11

meses. Quando perguntados sobre se se tratava da 1ª experiência profissional, 62,5%

responderam que sim e o restante 37,5% que não.

No que diz respeito aos representantes da OAB-PE, um deles (OAB01) estava vinculado à

Comissão de Estágio e Exame de Ordem (CEEO), cuja competência abrange a coordenação,

fiscalização e execução de atividades correlatas ao estágio profissional de Direito. Quanto ao

segundo representante (OAB02), ele estava vinculado à Comissão de Educação Jurídica (CEJ)

cuja competência envolve a atuação de forma prévia sobre cursos jurídicos no que diz respeito

às solicitações de criação, reconhecimento e credenciamento deles.

Quanto às gestoras do programa, uma tem a formação em administração, atuando como

administradora e a segunda tem formação jurídica, atuando como advogada na organização. A

primeira é servidora do órgão desde 2007, atuando no programa desde 2012. A segunda é

servidora desde 2005, atuando como gestora do programa desde 2017.

4.3 Perfil profissional, estagiário competente e profissional competente

A análise e apresentação dos resultados das entrevistas inicia-se com a percepção dos atores

sobre três questões: a) o perfil do profissional de Direito do século XXI, b) estagiário

competente e c) profissional competente. Considerou-se ser relevante o questionamento acerca

do perfil do profissional de Direito, uma vez que a identificação de um perfil facilita o

desenvolvimento de competências e um melhor direcionamento da formação desse futuro

profissional. Denominaram-se os entrevistados da seguinte forma: a) E01 a E08 os estagiários

de Direito; b) GES01 e GES02 as gestoras do programa, a primeira com formação na área

jurídica e a segunda em administração; c) OAB01 e OAB02 os representantes da OAB-PE, o

primeiro integrante da Comissão de Estágio e Exame de Ordem (CEEO) e o segundo da

Comissão de Educação Jurídica (CEJ).

Nesse contexto, a percepção da OAB-PE destaca-se, tendo em vista o papel dessa instituição

na regulamentação da atuação dos profissionais de advocacia. A mesma indagação foi replicada

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para os outros atores, para saber até que ponto se assemelhavam ou distanciavam do que a OAB

considera como perfil adequado.

Oficialmente não há um documento que estabeleça qual o perfil do profissional de Direito nem

que competências profissionais ele deve possuir ou desenvolver. Também foram pesquisados

artigos que, de alguma forma, apresentassem o perfil e competências, sendo localizado apenas

um estudo, o que impossibilitou a generalização de informações. Essa mesma dificuldade já

havia sido relatada por Rêgo e Isidro-Filho (2013) em sua pesquisa sobre o mapeamento de

competências de advogados. Existe o Código de Ética e Disciplina da OAB, mas que dispõe,

majoritariamente, sobre questões de caráter comportamental e ético.

Sendo assim, considerou-se como referência desse perfil e de competências profissionais as

estabelecidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em questão,

regulamentada pela Resolução CNE/CES Nº 9, de 29 de setembro de 2014, e as situadas na

Portaria nº 443, de 30 de maio de 2018, que estabelece o perfil do graduando em Direito para

fins de avaliação na prova do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) do

ano de 2018.

O Estado, por meio da Portaria nº 443, estabelece 5 categorias que incluem aspectos

pertencentes ao perfil do graduado em Direito, esse mesmo perfil também é o previsto nas

Diretrizes Curriculares do referido curso e compõe os seguintes aspectos: I. generalista,

humanístico e axiológico na atuação do Direito; II. reflexivo e crítico para a adequada

argumentação e interpretação dos fenômenos jurídicos e sociais; III. propositivo na elaboração

de alternativas voltadas para a intervenção nas situações jurídico-sociais; IV. ético no exercício

do Direito e na promoção do desenvolvimento da cidadania; e V. autônomo e dinâmico na

condução de sua própria aprendizagem. Sendo assim, o entendimento do Estado sobre o perfil

do profissional de Direito envolveria esses cinco aspectos.

Tendo por referência esses dois documentos, buscou-se fazer uma análise comparativa com

base nas respostas dos entrevistados. Observou-se que ser um generalista, assim como disposto

na Portaria nº 443, foi uma característica também observada por dois estagiários (E01 e E04) e

um dos representantes da OAB (OAB02). Este último destacou a importância de esse

profissional ser multifacetado.

O terceiro ponto apresentado pela Portaria, ser propositivo na elaboração de alternativas

voltadas para a intervenção nas situações jurídico-sociais, foi destacado somente por dois

estagiários (E07 e E08). Um deles ressalta o aspecto prático trazido pela abordagem francesa

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sobre o conceito de competência: [...] que saiba resolver problemas, né, um resolvedor de

problemas [...] (E08).

Assim como a segunda característica apresentada pela Portaria, a quarta também não foi

abordada por nenhum dos entrevistados. O último ponto estabelecido nesse documento foi

observado e trazido por todos os grupos de entrevistados. Todos eles destacaram a importância

de esse profissional ser uma pessoa atualizada, que está sempre em busca de novos

conhecimentos.

A flexibilidade foi uma característica apontada por três estagiários (E01, E04, E07) e um

representante da Ordem (OAB02), este último destaca a importância da resiliência no perfil do

profissional de Direito do século XXI.

Ser um profissional moderno no sentido de ser aberto às novidades, de não possuir apego a

formas antigas de pensar e agir, foi apontado pelos três grupos de entrevistados (estagiários,

gestoras e OAB-PE).

Outro elemento presente nesse perfil, de acordo com quatro estudantes (E02, E04, E07, E08) e

o OAB01, é a questão tecnológica. Para estes, o conhecimento e domínio de ferramentas ligadas

à tecnologia no fazer do Direito, na atuação desse profissional, é de extrema relevância. Ela foi

apresentada como um desafio para o profissional de Direito, conforme pode ser observado no

relato a seguir:

[..] em breve vai ser tudo eletrônico, então esse é um desafio muito grande pra quem,

por exemplo, não teve familiaridade ou na formação, na graduação, não teve acesso

a, a uma cadeira que tratava disso, Tecnologia Jurídica, de Direito da Informática, de

TI ligada ao Direito, essa coisa toda, a gente, muita gente não viu isso na faculdade,

aliás, essa é uma coisa bem nova e interessante que as próximas gerações vão ter de,

de se deparar. (OAB01)

Opostamente ao pontuado pela Portaria sobre ser um generalista, três estagiários afirmaram que

esse profissional precisa ser um especialista (E03, E06, E08). Essa preocupação, aliás, foi

destacada por um dos estagiários que ainda se encontra nos anos iniciais do curso, conforme

relato a seguir:

Eu acho que, atualmente, a especialização é o padrão, sabe, quanto mais especializado

o profissional, melhor ele se dá no mercado de trabalho [...] e é muito importante no

mercado, hoje, que a gente entenda isso no começo do curso [...] tu já tem que ir

direcionando o teu estudo, priorizando algumas matérias [...] (E06)

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Capacidade de criar e manter networking foi uma característica tanto observada por uma das

gestoras do programa (GES01) quanto por um dos representantes da OAB-PE (OAB02).

Assim, no intuito de identificação desse perfil, foram escolhidas as características de maior

ocorrência, ou seja, as que envolveram dois ou mais grupos de entrevistados, incluindo também

as previstas na Portaria nº 443. Sendo assim, na percepção dos entrevistados, e considerando a

Portaria, o perfil do profissional de Direito do século XXI envolveria aspectos como: ser um

profissional generalista, propositivo na elaboração de soluções, atualizado, flexível, moderno,

conhecedor de tecnologia e interativo. De certa forma, preocupa a questão da ausência da

indicação da dimensão ética na fala dos entrevistados, prevista apenas na redação da Portaria.

Antes de indagar os entrevistados sobre o que seria um profissional competente, houve o

questionamento sobre o que seria um estagiário competente, com a finalidade de descobrir se

havia algum entendimento diferente sobre esses dois momentos da vida profissional, um já

formado e o outro ainda em formação. Sobre o que seria um estagiário competente, as respostas

envolveram diversas características, predominando as competências de ordem funcional e

comportamental, de acordo com a tabela a seguir:

Tabela 1 – Estagiário competente

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Destacam-se alguns pontos observados na Tabela 1. Para os entrevistados as habilidades de

maior ocorrência estavam relacionadas às competências de ordem funcional e comportamental.

Em contrapartida, as de menor ocorrência foram aquelas relacionadas à metacompetência,

cognitiva, ética e política. No que diz respeito à baixa incidência de competências de ordem

cognitiva, isso pode estar relacionado ao fato de o estudante ainda encontrar-se em um processo

de formação, conforme relatos a seguir:

[...] sendo estagiário, no caso, de nível superior tem uma limitação de conhecimento,

né, porque vai adquirir o conhecimento com o passar do tempo, na universidade [...]

(E01).

[...] a diferença do estagiário para o profissional de fato é que nós estagiários, estamos

aqui numa atividade educativa, né, as vezes a gente não se apercebe disso, mas a gente

tá aqui na atividade de aprendizado propriamente dita [...] (E02).

o estagiário [...] ele tá ali num contexto diferente, num contexto de aprendizagem [...]

(E07).

[...] o estagiário, ele ainda é muito verde para algumas situações e, e o estágio é uma

grande oportunidade de amadurecimento, de, de entendimento a respeito da carreira

da advocacia, de, de ser apresentado aos primeiros embates, de ser apresentado às

primeiras responsabilidades [...] (OAB01).

De todas as características apresentadas, ser interessado/estudioso (cognitiva/comportamental)

e ser pontual (funcional) foram as únicas presentes nas falas de todos os grupos de entrevistados.

Cultivar relações interpessoais (comportamental) foi destacada por um dos estagiários como de

fundamental importância, inclusive com impacto no futuro do profissional:

[...] que saiba cultivar relações interpessoais saudáveis, porque no estágio, no estágio

você realmente começa a estabelecer a sua rede de contatos que vai lhe servir

profissionalmente. (E02)

Quando questionados sobre o que seria um profissional competente, de forma geral, houve um

predomínio de competências relacionadas às componentes cognitivas, funcionais,

comportamentais e éticas. Diferentemente do que ocorreu sobre a percepção do que seria um

estagiário competente, a componente ética obteve várias ocorrências. A seguir a tabela

ilustrativa:

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Tabela 2 – Profissional competente

Quando questionado sobre o que seria um estagiário competente e um profissional competente,

o entrevistado OAB01 disse não haver diferença, conforme o respectivo relato:

O estagiário competente certamente será um profissional competente [...]. Então, é

nesse contexto que o bom estagiário, que será um bom profissional, ele se apresente

[...] (OAB01).

Faz-se necessário destacar diversos aspectos no que diz respeito ao entendimento dos

entrevistados sobre profissional competente. De certa forma, houve uma maior divergência nas

respostas em comparação ao entendimento do que seria um estagiário competente. Tendo em

vista que algumas habilidades podem ser simultaneamente classificadas em mais de uma

categoria, houve o predomínio das competências de ordem comportamental e ética (06

entrevistados cada), funcional (05 entrevistados) e cognitiva (04 entrevistados). As de menor

ocorrência foram as relacionadas às competências políticas (02 entrevistados) e

metacompetências (01 entrevistado). Tendo em vista que nas Diretrizes Curriculares do curso

de Direito estão previstas as habilidade e competências a serem desenvolvidas pelos estudantes,

estas foram consideradas para fins de definição do profissional competente. De acordo com as

diretrizes, estão previstas habilidades e competências relacionadas as cognitivas, funcionais,

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comportamentais e éticas, não havendo a previsão de desenvolvimento de competências de

ordem política e as metacompetências.

Um dos estagiários trouxe a questão de não resumir a competência apenas como a capacidade

de resolver problemas, corroborando com Le Boterf (2003), conforme relato a seguir:

Acho que é esse que consegue entregar valor ao cliente, né, seja um servidor público

entregar valor à sociedade, seja um advogado privado entregar valor para o cliente

dele, resolver o seu problema, e ainda que não consiga resolver com uma demanda

sendo procedente, no caso de uma ação, mas entregar valor realmente, mostrar que

deu o seu melhor, no caso, e conseguir, pelo menos, demonstrar para o cliente essa

credibilidade, né. (E08)

No que diz respeito à competência funcional, um dos entrevistados trouxe a questão da

independência na resolução de problemas, em contrário às contribuições de Le Boterf (2003)

sobre o caráter interacional da competência, como pode ser demonstrado abaixo:

Ser completo, não, não precisar muito de ferramentas externas ou de tantas conexões

para resolver um problema, sabe. (E05)

Com relação ao componente comportamental, alguns aspectos trazidos pelos entrevistados se

destacam, entre eles:

O perfil do profissional do século XXI, é o perfil de um profissional muito ágil,

digamos assim, porque a velocidade da informação, que a gente tem hoje em dia né,

não permite que as pessoas sejam desatualizadas ou que, que tenha, de fato,

pensamentos mais rígidos, que não tenha uma interação com as outras pessoas e com

que tá acontecendo no mundo. Enfim, então o perfil do profissional competente, hoje,

é um profissional dedicado, um profissional aberto às mudanças, dinâmico, que tenha

uma boa interação com todos os demais profissionais e que seja muito bem

atualizado.(GES01)

Ainda relacionada com a componente comportamental, um estudante abordou a questão do

saber trabalhar em meio à adversidade. Apesar de ter sido um ponto trazido por apenas um dos

entrevistados, é uma questão extremamente presente na atuação no meio jurídico. A seguir o

relato ilustrativo:

[...] que saiba realmente trabalhar em meio à adversidade, né, o mundo direito, ele,

realmente, é muito complexo por conta da, das relações que nele se travam mesmo,

mesmo interpessoais, entre as partes, ou então dentro do processo [...] (E02)

Ainda com relação à componente comportamental, um dos estudantes trouxe a questão do amor

pela profissão como um elemento fundamental na composição do profissional competente:

Eu acho que, quando você mostra, principalmente quando você mostra vontade de

exercer aquilo, quando você tem, vamos dizer assim, amor pelo que você faz [...]

(E03)

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4.4 A formação de competências profissionais, segundo os estagiários

Tendo por base o modelo teórico-conceitual de Paiva e Melo (2008), foi verificada a

contribuição de cada um dos atores no processo de formação de competências profissionais dos

estagiários, na percepção desses últimos.

Primeiramente, eles foram questionados sobre a participação da própria organização (PRU5),

por intermédio do programa de estágio, na formação de suas competências profissionais. É

sabido, conforme modelo adotado, que as organizações possibilitam a formação contextual e

contínua do profissional mediante políticas e práticas de gestão. Assim, os estagiários foram

questionados sobre a contribuição dessa prática e do envolvimento da PRU5 na sua formação

de competências.

A primeira pergunta envolveu qual a contribuição do estágio na formação de competências. As

respostas envolveram alguns aspectos e que, até certo ponto, coincidiram.

Ratificando as contribuições de Ignácio e Barbosa (2016) sobre a importância do estágio como

um mecanismo de relacionar a teoria com a prática, três estudantes destacaram essa questão,

como pode ser percebido nos relatos a seguir:

Toda teoria levando pra prática fica muito melhor e no estágio você acaba levando pra

prática, eu acho que isso proporciona um conhecimento melhor, faz você saber mais

o conteúdo da Universidade [...] (E01).

[...] acho que quando você tá na faculdade, você não tem noção de como é na prática

[...] (E03).

Bom, eu costumo dizer que aqui é outra escola, né, outra faculdade porque, às vezes,

a gente, a gente ver lá o conteúdo na faculdade e tal e às vezes, muita coisa não faz

sentido, porque o estudante de Direito, ele só começa a ir pra prática no sétimo período

[...] quando eu entrei aqui, muita coisa começou a fazer sentido, né, porque, ah, eu fui

lembrando: “ah, eu vi aquilo” que se aplicava dessa forma e tal e até para você, eu

desenvolvi bem melhor, assim, a questão do entendimento lá do conteúdo que era

repassado, é como eu digo, tudo começou a fazer sentido depois que você começa a

estagiar, várias coisas, tipo, melhorou bastante minha compreensão dos conteúdos e

até o rendimento [...] (E05).

Dois estudantes afirmaram que a prática do estágio na PRU5 proporcionou um direcionamento

de carreira sobre que área do Direito seguir, conforme relatos abaixo:

[...] quando você vem para o estágio, você pode se identificar com uma determinada

área, você pode dizer “ah, isso não é o que eu quero, isso é o que eu quero, o que eu

gosto, o que eu não gosto” [...] (E03)

Me deu mais norte, assim, do que eu queria. Eu percebi que, eu gosto muito do Direito

Público e que o Direito Público engloba muito mais coisa do que eu pensava [...] (E06)

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Diferentemente do que diversos estudos trazem sobre precariedade das oportunidades de

estágio, conforme abordado por Roesch (2005), dois estudantes trouxeram o estágio na PRU5

como uma experiência positiva. A questão do efetivo contato com as atividades as quais o

Direito envolve, sem a subutilização do estudante foi trazido por eles como um ponto positivo

do estágio na PRU5. A seguir, os relatos ilustrativos:

Eu tive um contato real com o processo aqui, no meu antigo estágio era uma coisa

muito mais administrativa, aqui foi que eu consegui ter real contato com o processo

pra fazer peça, pra construir argumentação, tudo isso foi aqui. (E07)

[...] aqui a gente só faz atividade jurídica, final mesmo [...] a gente não tem aqui uma

atividade de atendimento, de telefone, de impressão de documentos, escanear, a gente

só faz aqui um trabalho realmente jurídico, mesmo de um advogado, então,

eliminando a parte de administrativa, que pra gente tomaria muito tempo, a gente fica

focado só na parte jurídica e acho que acaba aproveitando mais a experiência também.

(E08)

No que tange às contribuições da PRU5, como facilitador do desenvolvimento de competências

dos estudantes, as respostas envolveram basicamente três aspectos. Houve uma concentração

de respostas, 04 estagiários responderam que a organização proporciona um ambiente no qual

o estudante consegue desenvolver autonomia e flexibilidade. A seguir, os relatos que ilustram

isso:

[...]o fato da AGU não ter... assim, aquela coisa de só o advogado em cima de você o

tempo todo, me ajuda porque eu tenho dificuldade em cumprir cronograma, sei que

lá, eu trabalho melhor com flexibilidade, então pra mim ajuda, mas tem gente que tem

uma necessidade de uma cobrança maior, de ficar em cima, sabe, acho que depende

muito do tipo de estudante que chega aqui. (E04).

Eu acho que, os advogados com quem eu trabalhei até hoje, eles deixam a gente muito

livres assim... pra... desenvolver as tarefas. Eu acho isso muito importante porque

desenvolve na gente, assim, a capacidade de tentar fazer sem ter aquela ajuda o tempo

inteiro, sabe, tentar buscar a jurisprudência, o advogado acaba se tornando o último

caminho. (E06).

Eu gosto muito daqui porque, aqui tem o fato de que você lida muito com seu chefe

direto, né, então isso vai mudar muito, então na minha experiência, a minha chefe é

muito, ela é muito flexível, então ela, eu consigo me adaptar, dependendo das minhas

necessidades assim. Nunca tive problema com folga de prova, nunca tive problema

em fazer as peças no meu tempo, sempre eu tento assim, manter um ritmo, de uma

peça mais complicada, de eu passar mais tempo com ela, mas nunca tive problema

com isso, também quando eu precisei, que é o caso de agora, precisar ficar mais, mais

é mais para faculdade, ter mais aulas, e aí ela foi muito flexível em relação, então isso

facilita muito, né, facilita muito todo o processo. (E07)

Eu gosto de, da autonomia que a, que a AGU permite pra gente, a gente tem uma sala

que ficam praticamente só estagiários, a gente tem nossa liberdade também de

atuação, pode fazer com mais calma, com mais paciência, eu também gosto dessa

liberdade daqui, acho que isso acaba contribuindo numa autonomia, numa

responsabilidade com relação a prazos, tudo, não precisa ter alguém do seu lado lhe

cobrando, você sabe da sua responsabilidade, da sua obrigação. (E08)

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Um dos estudantes destacou que a PRU5 contribui com a formação de competências por

proporcionar um ambiente acolhedor, que existe empatia e um bom clima organizacional, o que

fornece um ambiente ideal para o desenvolvimento de competências. Observe-se o relato

ilustrativo abaixo:

[...] eu diria que foi a experiência mais positiva que eu tive no estágio foi aqui, porque

justamente por esse, por ter esse ambiente acolhedor, eu me senti à vontade pra

desenvolver as minhas habilidades de uma maneira melhor. (E02)

Quando perguntados sobre que habilidades e competências o estágio na PRU5 os ajudava a

desenvolver, as respostas foram bem convergentes; os estagiários também puderam responder

mais de uma competência. A seguir a tabela ilustrativa:

Tabela 3 – Competências desenvolvidas pelos estudantes por meio do programa de estágio

Conforme tabela ilustrativa acima, as habilidades de maior ocorrência foram aquelas

relacionadas às competências de ordem funcional (07 entrevistados), as metacompetências e as

competências comportamentais (03 estudantes cada). As de menor ocorrência foram as de

ordem cognitiva, ética e política, com uma ocorrência cada, tendo em vista que a habilidade de

relacionamento interpessoal está situada simultaneamente nas competências de ordem

comportamental, ética e política.

Cabe ressaltar alguns pontos relativos às respostas apresentadas pelos estudantes. Um deles

destacou que o estágio na PRU5 proporciona um melhor entendimento sobre os acontecimentos

do mundo jurídico (conhecimento contextual), o que diz respeito à competência cognitiva,

como pode ser visualizado abaixo:

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[...] a de ter uma consciência melhor sobre as coisas que acontecem juridicamente [...]

(E01)

A habilidade de redigir (funcional) foi destacada por mais da metade dos estagiários (E01, E02,

E03, E05 e E08), sendo a de maior ocorrência. Essa habilidade foi destacada pelos estudantes

no contexto da área jurídica. Os relatos a seguir ilustram tal situação.

A da escrita [...] (E01)

[...] a redação, a redação jurídica [...] (E02)

Escrita, foi uma coisa que me ajudou muito, pessoalmente, porque eu passei a escrever

peças, então, eu passei a praticar a linguagem jurídica, a praticar os textos da forma

mais específica [...] (E03)

[...] a primeira delas e fundamental, assim, acho que a questão da escrita, né, que a

gente começa a fazer muitas peças, a gente começa a ler mais e fazendo muito, muito

mesmo, então essa questão da escrita [...] (E05)

[...] a parte de redação de peças jurídicas [...] (E08)

Isso demonstra que, de certa forma, os estudantes estão conseguindo desenvolver o seu

potencial e que o estágio está proporcionando o desenvolvimento de competências.

Uma vez que os estagiários estão vinculados exclusivamente a um único profissional, o

advogado, a quem cabe toda a formação e desenvolvimento do estudante, considerou-se

imprescindível o questionamento sobre a atuação do supervisor, tendo em vista a

responsabilidade que cabe a esse profissional. Todos os entrevistados elogiaram o desempenho

do respectivo supervisor no desenvolvimento de suas atividades; um deles (E02)

excepcionalmente atua com dois supervisores. Com a existência do trabalho remoto, não há a

obrigatoriedade de o advogado estar presente todos os dias na PRU5, o que pode, de certa forma,

comprometer o desenvolvimento do estudante de não poder contar com a figura do supervisor

presencialmente em todos os momentos para sanar possíveis dúvidas. Essa questão da

relevância do contato pessoal foi abordada por dois dos estagiários, os relatos abaixo ilustram

isso:

[...] nos comunicamos não somente por e-mail, a gente gosta de manter esse canal

pessoalmente, ou seja, muitas vezes ele diz “oh, passa na minha sala tal, tal hora, etc.”

ou então, quando eu vejo que ele tá on-line, eu vou lá na sala dele perguntar se tá tudo

certo, se tem alguma coisa que ele tá precisando, eu acho que isso é uma coisa muito

saudável porque por mais que ajude o contato através de meios de comunicação que,

assim, eu acredito que pessoalmente ainda é uma coisa primordial [...] (E02)

[...] eu faço questão de entregar pessoalmente os trabalhos, porque é mais fácil, pra

ela ver, quando ela não pode ler na hora que eu entrego, eu mando por e-mail, ela lê e

depois a gente marca porque tem muitos advogados que preferem conversar mais pelo

Lync ou pelo telefone só que eu acho que é mais fácil pessoalmente. (E06)

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Quando perguntados sobre quem mais os auxiliavam no desenvolvimento da atividade jurídica

propriamente dita, quase a totalidade dos estudantes respondeu que solicitava auxílio aos outros

estagiários com os quais tinham contato. Apenas um dos estudantes (E08) afirmou que recorre

unicamente a sua supervisora e a mais ninguém.

Os estagiários foram incitados a responder sobre as limitações que o programa de estágio possui

e que, na percepção deles, dificultam o melhor desenvolvimento de suas competências. Um dos

estudantes (E01) respondeu que o baixo valor da bolsa era um fator limitante. Nesse caso, por

se tratar de um órgão do Poder Executivo federal, o valor da bolsa está atrelado a questões

legais, ou seja, que escapam da responsabilidade da gestão do programa. Dois deles (E02 e E03)

relembraram que a estrutura física foi por bastante tempo um limitador, pois não havia

disponibilidade de salas e computadores para todos os estagiários, mas que isso, atualmente,

pela diminuição de estudantes ativos, já é uma questão superada. Dois deles (E04 e E05)

responderam que não há nenhum fator limitante.

Cabe ainda destacar alguns dos aspectos limitantes apresentados pelo programa na percepção

de três dos estagiários. O estudante E06 destacou não perceber ou não estarem definidas que

responsabilidades competem a cada um dos profissionais (advogados, servidores e estagiários),

atuantes no órgão. Isso, de certa forma, dificulta o desenvolvimento das competências políticas.

Abaixo o relato que ilustra essa questão:

Eu acho que não fica muito claro, quais são as tarefas que são só para estagiários e

quais tarefas são apenas para advogados ou só para servidores, porque, às vezes eu, a

gente pega peça, estagiário, assim, pega peça, com valor muito alto, assim, exorbitante

e é meio confuso, não sei... eu acho que tinha que ser mais claro sabe. O que é

competência só do advogado, só do servidor e o que a gente pode fazer. (E06)

O estudante E07 relatou a dificuldade de movimentação entre as coordenações e o esgotamento

de assuntos que elas possuem:

[...] a gente fica muito preso no sistema, por exemplo, eu sou de determinada

coordenação e eu fico nela, eu entro aqui e dificilmente eu vou sair dela, [...] sei de

experiência de estagiários que tiveram muita dificuldade de sair de um advogado,

mesmo que tivesse sendo muito ruim pra ele, mesmo que o advogado não passasse

nada e que ele tivesse aprendendo, então eu acho que isso é uma coisa complicada, a

gente não, não tem experiência em outras coordenações e outras áreas, e aí acaba que,

em um determinado momento, o assunto se esgota né, porque a gente começa a repetir

os mesmos assuntos, as mesmas peças, e aí fica bastante, o aprendizado começa a se

estagnar.

Já o estudante E08 apresentou o excesso de liberdade como um aspecto limitante do programa

de estágio:

Eu acho que às vezes é esse excesso de liberdade, também, acaba atrapalhando, [...]

mas, assim, se o aluno tá aqui de primeiro estágio, ele não tem contato ainda, por

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exemplo, com processo, então ele tem que ficar toda hora indo trocar de andar para ir

procurar advogado, para saber do que fazer, de repente, naquele caso, quando as vezes

poderia, se o estagiário também ficasse um tempo na sala com o advogado, ter esse

contato e tirar dúvidas mais rápido, também [...] fico imaginando um aluno com as

matérias difíceis daqui que a gente tem, matérias muito específicas, que a gente não

vê na faculdade, ficando talvez tímido de ir até o advogado [...] fico imaginando um

aluno de começo de graduação, de quarto período, terceiro período, às vezes, que não

sabe processo civil, por exemplo ainda, tem que atuar no processo e não ter alguém

do lado para tirar dúvida rápido, né, tem que tá recorrendo toda hora aos próprios

estagiários que também não sabem, às vezes.

Após serem perguntados sobre as contribuições do estágio no desenvolvimento de

competências, os estudantes foram questionados sobre a participação da IES nessa atividade.

Entre todos atores envolvidos no processo de formação e desenvolvimento de competências

profissionais, a IES é a primeiro a atuar na vida profissional dos estudantes. A pergunta inicial

envolveu a relação da IES com o programa de estágio e os estudantes. A legislação de estágio

(BRASIL, 2008) prevê a indicação por parte da IES de um professor para o efetivo

acompanhamento das atividades a serem realizadas pelos estudantes, conforme trechos a seguir:

§ 1º O estágio, como ato educativo escolar supervisionado, deverá ter

acompanhamento efetivo pelo professor orientador da instituição de ensino e por

supervisor da parte concedente, comprovado por vistos nos relatórios referidos no

inciso IV do caput do art. 7o desta Lei e por menção de aprovação final.

III – indicar professor orientador, da área a ser desenvolvida no estágio, como

responsável pelo acompanhamento e avaliação das atividades do estagiário;

Apesar de os relatórios de estágio serem vistos como importantes e da necessidade de atuação

da IES na supervisão e controle dessa atividade, conforme salientado por Almeida, Lagemann

e Sousa (2006), quase a totalidade dos estudantes respondeu que esse acompanhamento por

parte da IES só se dá por mera questão burocrática, ou seja, no preenchimento dos relatórios

semestrais obrigatórios, enquanto outros não conseguiram perceber nem ao menos isso, ou seja,

não percebem nenhum envolvimento por parte da IES. Na percepção dos estudantes não há

preocupação ou envolvimento efetivo da faculdade na realização das suas atividades como

estagiário. Tal acompanhamento é devidamente previsto na lei de estágio ao estabelecer a

obrigatoriedade da IES em acompanhar as atividades desenvolvidas pelos estudantes. Houve

similaridade nas respostas tanto dos estudantes matriculados nas instituições públicas quanto

privadas. Os relatos a seguir demonstram essa realidade:

Eu não percebo (E01)

Nenhuma. Fiscalização nenhuma, acompanhamento nenhum, nenhum setor

especializado chega pra perguntar como é que tá, enfim, a participação institucional

na faculdade é nula. (E02)

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Jamais! (E04)

Não existe não. [...] é tudo mais administrativo [...] eles não procuram relatório, nada

disso. (E05)

Geralmente, eles só assinam lá mesmo. (E06)

Formalmente acompanha, né [...] é uma coisa muito formal, real não existe não. (E07)

Não, como estagiário, não. (E08)

O segundo questionamento em torno do papel da IES envolveu a forma como ela contribui com

essa formação de competências. Dos 05 estudantes que estão matriculados em instituição

pública de ensino, somente 01 afirmou que ela contribui e que essa atuação se dá por meio dos

grupos de estudo, pesquisa e extensão.

[...] tem muitos grupos de estudos, extensões, pesquisa lá e tudo isso é uma estrutura

que contribui pra poder eu aprender, formar essas competências, que inclusive ajudam

aqui, eu acho que, enquanto instituição, é isso que ela consegue fazer, melhor

contribui desse jeito, dando essas oportunidades, estrutura. (E01)

A promoção da extensão é uma das finalidades atribuídas às instituições de ensino superior,

conforme previsão da LDB. Ou seja, apesar de os estagiários não perceberem como uma

contribuição direta da IES, ela acontece e é legalmente prevista. A extensão pode ser definida

como um processo de caráter educativo, cultural científico e político capaz de fazer com que

haja a interação entre IES e a sociedade, e que tem como partícipes os alunos de graduação

devidamente acompanhados por um ou mais discentes (BRASIL, 2013).

De acordo com os relatos dos estudantes vinculados a uma instituição pública de ensino, em

um primeiro momento, eles não percebem essa contribuição, mas, no decorrer da resposta, eles

abordam a questão das atividades extraclasse, por meio da extensão acadêmica, conforme

relatos a seguir:

[...] por mais que haja pesquisa, extensão etc., não é uma coisa que chega pra você,

sabe, o aluno, ele tem que ele tá, muito interessado, ele precisa ter um interesse acima

da média, não é uma coisa que seja difundido [...] (E02)

Eu acho que não contribui tanto a instituição, enquanto instituição, ela não contribui

tanto [...] não há [...] um acompanhamento por parte deles [...] você encontra mais isso

nos grupos, onde você tem identidade dentro da faculdade [...] eu faço parte de um

grupo de extensão [...] mas é que a faculdade em momento nenhum se envolve com

esse desenvolvimento de competências, sabe, é mais você ir atrás de algumas pessoas

que às vezes nem necessariamente estão ligadas a faculdade, por exemplo, muita gente

dessa extensão não é da faculdade e aí você vai desenvolvendo meio que sozinho,

tanto que muita gente se perde nesse processo. (E06)

[...] a faculdade nos força a desenvolver, não sei, proatividade, você tem que procurar

as coisas porque, eu tenho que ir atrás de fazer extensão, de fazer pesquisa e fazer não

sei o quê para conseguir me formar bem [...] (E07)

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Apesar de a maioria dos estagiários oriundos de faculdade pública não perceber como uma

contribuição direta da instituição de ensino, a extensão é uma ação que contribui, mas que talvez

não sejam entendidas pelos estudantes por ainda estarem acostumados ao ensino tradicional que

comumente se dá dentro de sala de aula. Assim, para eles, as contribuições da faculdade se

limitam às atividades de extensão e são definidas como a principal contribuição da faculdade

pública no processo de formação de competências.

Ainda com relação à IES pública, houve dois depoimentos que trazem uma séria preocupação

sobre o papel da IES nessa formação de competências:

a Universidade [...], ela tem uma séria dificuldade em realmente tirar o melhor de seus

alunos [...] ela hoje tá no patamar de razoável para bom, no conceito do Ministério da

Educação, porque [...] tem os melhores alunos, né [...] então, assim, ajuda você a criar,

artificialmente, esse padrão como sendo institucional, mas, na verdade, não é [...]

Então, você pode perceber que a maioria dos alunos, ele, na verdade, ele decai o seu

desempenho, então, isso aconteceu comigo, eu estudava muito mais antes de entrar na

faculdade do que depois que entrei na faculdade [...] assim, burocraticamente, eu

acredito que está ótimo o programa da faculdade, agora, assim, na prática [...] eu tenho

minhas dúvidas até mesmo se há efetivamente essa preocupação com o futuro

profissional dos seus estudantes. Olha, eu diria que, ela não contribui não. (E02)

Não contribui. É muito você e você mesmo. (E04)

A LDB em seu artigo 43, inciso II, dispõe sobre a finalidade de a instituição de ensino de formar

graduados devidamente preparados para o ingresso no mercado profissional. Quando

questionados sobre se a IES em que estudavam os preparava, apenas três estudantes (E04, E05,

E08) afirmaram que sim e desses, apenas um estava vinculado a IES pública. Esse estudante

vinculado a uma instituição pública afirmou que sim, mas com ressalvas:

Sim e não. Se a gente entender mercado de trabalho como as carreiras de Estado, sim.

Toda a educação é voltada para você ser, no mínimo, um analista, sabe, analista, juiz,

procurador, toda a educação é voltada pra você pensar e agir como atuante de uma

carreira de Estado, mas para ser advogado não, que engloba boa parte do mercado de

trabalho para os estudantes de Direito [...] (E04)

Ainda com relação aos estudantes do ensino público, E01 afirmou que o ensino é bem fora do

que a realidade pede. Outros dois (E06, E07) afirmaram do caráter pouco prático do ensino e

muito focado em teoria.

Apesar de considerar que a IES não prepara para o mercado de trabalho, um dos estudantes

destacou que a ela abre oportunidades, não pela qualidade do seu ensino, mas pelo nome que

carrega:

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[...] você ter um diploma da faculdade [...] nesse meio, é você ter na verdade uma

chance de estar entre esses grandes [...] tem um peso grande, abre porta, então, é mais

pelo, pelo nome, pela tradição do que efetivamente pelo ensino jurídico da faculdade.

(E02)

Tabela 4 - Competências desenvolvidas pelos estudantes por meio da IES

Conforme tabela ilustrativa acima, as habilidades de maior ocorrência foram aquelas

relacionadas às metacompetências (quatro entrevistados), competências comportamentais e

políticas (duas ocorrências cada), tendo em vista que o relacionamento interpessoal está

relacionado simultaneamente a três competências distintas. As de menor ocorrência foram as

de ordem cognitiva (nenhuma ocorrência) e funcional e ética (relacionamento interpessoal),

com uma ocorrência para cada.

Merecem destaque algumas das falas trazidas pelos estagiários. Um deles afirmou que a sua

IES lhe ajuda a desenvolver o pensamento de um profissional, especificamente de atuação na

área pública. Essa capacidade pode ser classificada na competência política. Abaixo o relato

que ilustra melhor essa situação:

Pensar justamente com órgão do Estado, pensar como juiz, como procurador, como

promotor, como um advogado da União [...] (E04)

Um dos estagiários, vinculado a uma IES privada, respondeu a essa pergunta de forma inversa,

ou seja, optou por destacar a habilidade com a qual a IES não contribui, corroborando com as

contribuições de Ignácio de Barbosa (2016) sobre o baixo incentivo à pesquisa. Observe-se o

relato ilustrativo abaixo:

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Bom uma coisa que eu sinto falta, vou começar dizendo, assim, o que eu sinto falta,

né, lá, eu acho que falta muito essa questão de incentivar a pesquisa, inclusive, é o que

vem sendo criticado por alguns professores, porque são poucas as bolsas que são

voltadas para isso, entendeu [...] (E06)

São diversas as ações dos estudantes para se tornarem estagiários e futuros profissionais

competentes. No total, as respostas envolveram 11 ações distintas, a saber : 1 - aprofundar o

conhecimento das rotinas de trabalho (E01, E07); 2 - praticar a escrita (E01); 3 – estudar

bastante (E02, E08); 4 - participar de eventos da área (E02); 5 - trabalhar de forma profissional

(E02, E04); 6 - dedicar-se à área em que pretende atuar profissionalmente (E03); 7 – produzir

peças com qualidade e em tempo hábil (E05, E07); 8 - investir em atividades extraclasse (E06);

9 - relacionar-se bem com os professores (E06) ; 10 – priorizar certas matérias (E06); 11 -

automatizar procedimentos burocráticos e focar na área de interesse (E08).

Perguntou-se aos estudantes quais obstáculos eles enfrentavam, de uma forma geral, no

desenvolvimento de suas competências. Essas dificuldades poderiam dizer respeito a questões

de ordem pessoal, programa de estágio, IES ou de outra natureza. A de maior ocorrência

envolveu a IES, com cinco entrevistados, a saber: 1 – falta de comprometimento dos professores

e ensino excessivamente teórico (E01); 2 – Biblioteca desatualizada (E02, E07); 3 – falta de

incentivo à pesquisa (E05); 4 – relação distante da faculdade com o discente (E06). Quatro

entrevistados apontaram os obstáculos relacionados ao programa de estágio: 1 - baixo valor da

bolsa (E01, E08); 2 – biblioteca atualizada (E02); 3 – palestras (E02); 4 – não contribuição para

formação do advogado (E04).

Cabe destacar algumas das respostas citadas. O E02 entende que não só a IES, mas também o

estágio, tendo em vista tratar-se de uma atividade educativa, deveria proporcionar uma

biblioteca atualizada:

[...] as estruturas físicas onde, onde nós estagiamos, assim como as faculdades, eu

sinto falta, realmente, de uma biblioteca atualizada, e isso, isso realmente, eu acredito

que dificulta a dinamicidade do aprendizado que tem que ocorrer necessariamente

nesses lugares [...] (E02)

Um dos estagiários afirma que o programa de estágio não forma o estudante para atuação na

área privada:

[...] mas se você quer ser um advogado, de fato, a AGU não é interessante porque,

porque são matérias repetitivas, você vê quase tudo todo dia, sabe, e, às vezes, você

tem que tomar cuidado para não ficar em um trabalho mecânico, entregar uma peça

morna. (E04)

Apenas um dos estudantes trouxe uma percepção diferente com relação aos obstáculos

enfrentados que foi a questão do mercado de trabalho. Ele afirma que o mercado restringe a

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atuação dos estudantes/profissionais por demandar requisitos excessivos. O relato abaixo ilustra

essa questão:

[...] se eu quero me tornar alguém competente naquela área, eu poderia conseguir ser

mais competente, se eu conseguisse aprender mais sobre aquela área, se o mercado

fosse mais acessível, porque quando eu te digo acessível, é que hoje você tem muitas

exigências que você faz assim “não seria tão necessário” [...] tem outras áreas que eu

gosto, tipo Direito Empresarial, mas eu nunca consegui ter acesso à prática nessas

áreas porque o mercado é muito fechado, entende [...] eu queria conhecer essa área

especificamente, Direito Empresarial, Societário, e não, nunca tive acesso por isso,

porque o mercado sempre foi muito fechado, inclusive pra você aprender. (E03)

Responsáveis por regular a atuação profissional e manutenção de competências profissionais

coletivas, as instituições de interesse coletivo se restringiram, no caso em estudo, à atuação da

OAB-PE. Sendo assim, os estagiários foram provocados a responder sobre a atuação da Ordem

na sua formação de competência profissional.

Dos estudantes de IES pública, nenhum deles percebe essa atuação, somente um deles (E07),

estudante do 6º período, afirma que a OAB-PE esteve em sua faculdade uma única vez. Quanto

aos de IES privada, somente um deles (E05) afirma que percebe essa atuação, quanto aos

estudantes E03 e E08, eles demonstraram conhecer fragilmente a atuação da instituição, mas

que ela se dá de forma precária, os relatos abaixo demonstram isso:

Olhe, diretamente eu não consigo enxergar, mas, assim, se você, estudante, procurar,

você consegue achar essa participação [...] a gente indo atrás, a gente encontra [...]

mas diretamente, dentro das faculdades, não consegue perceber, sabe. (E03)

[...] não consegui perceber tanto essa atuação direta da OAB-PE [...] na minha

faculdade eles não foram tão presentes [...] se eu não fosse tão interessado no tema,

eu nem saberia como anda eles, entendeu, hoje, a OAB, porque eles, geralmente, não

vêm até a gente, enquanto estudante, eu acho muito fraca essa atuação, mas por eu ser

mais interessado, acompanhar as publicações tudo, eu acabo sabendo mais ou menos

eu que pé tá, mas eu digo pelo aluno que não tem essa iniciativa de ir atrás não vê nem

a atuação da OAB. (E08)

4.5 A formação de competências profissionais, segundo as gestoras

O primeiro questionamento envolveu a forma como o estágio na PRU5, na percepção das

gestoras, contribui para a formação de competências dos estudantes. As gestoras apresentaram

pensamentos distintos. A da área jurídica (GES01) trouxe um posicionamento mais direcionado

à sua área de formação, área fim da organização. Ela afirma que o estágio na PRU5 é

diferenciado, pois permite ao estudante conhecer todas as fases do processo, além disso, na

visão dela, o estudante tem acesso a diferentes matérias. A seguir o relato ilustrativo:

Eu, particularmente, considero que o estágio da PRU5 é um dos melhores estágios

para os estudantes Direito porque ele vai ter uma visão geral do Direito Público [...]

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ele vai visualizar tanto o processo no seu nascedouro quanto praticamente da sua

extinção [...] ele vai ter de fato uma visão geral do processo como um todo e as

matérias aqui são muito diversificadas, então, eu considero, de fato, um dos melhores

estágios para quem tá na formação profissional do estudante de Direito. (GES01)

Já para a gestora com formação em administração (GES02), ela apresenta o caráter prático que

o estágio possui, conforme relato a seguir:

[...] os estudantes, de fato, pegam no processo, de fato, estudam o processo [...] eles

trabalham de fato no processo, né, e diferente, assim, numa visão que não é a comum,

que é a visão da advocacia pública [...] eles têm uma visão de como o advogado da

União trabalha, né, e eu acho que esse é o diferencial do programa aqui [...] (GES02)

Quanto ao segundo questionamento, sobre a atuação da organização na formação e

desenvolvimento de competências do estagiário, pôde-se perceber, a partir da fala da gestora

jurídica (GES01), que há uma empatia da organização para com as necessidades dos estudantes,

com a finalidade de desenvolvimento deles.

[...] o interesse é que ele aprenda e não prejudicar o desenvolvimento dele na

Universidade, então, é sim, é feito tudo de acordo com as condições de cada estudante.

(GES01)

Já a segunda gestora (GES02) apontou algumas dificuldades que o programa apresenta e que,

na visão dela, impactam negativamente no andamento do programa, o que consequentemente,

pode vir a interferir no desenvolvimento de competências dos estudantes:

[...] a nossa bolsa de estágio, ela é a mesma há muito tempo, então, alguns estudantes

terminam que preferem ir para outros estágios [...] por sermos órgão público também,

a gente não tem, assim, autonomia pra dar todo o suporte que o estagiário precisaria,

por exemplo, acontece de algumas vezes a gente não ter computador para todos os

estagiários, né , a gente tem limite físico de estrutura pra receber os estagiários, então,

às vezes, um estagiário quer mudar de turno, mas, naquele determinado momento, a

gente não consegue porque a nossa [...] questão de mobiliário não comporta [...]

Apesar das deficiências apontadas por aspectos de ordem burocrática (financeira e estrutural),

a GES02 afirma que a organização proporciona, por meio da atuação dos advogados, todo o

suporte para que os estudantes se desenvolvam.

[...] em relação ao suporte técnico, aí eu acho que sim, eu acho que é, claro que varia,

a gente tem vários advogados da União, cada um tem sua forma de atuar, mas, é, em

relação a, a, a aos conceitos, em relação a, a, a disponibilidade que os Advogados têm

pra, tanto pra orientar em relação as atividades que vão ser desenvolvidas, quanto pra

orientar em relação a, ao mérito mesmo das questões, eu acho que a gente dá sim o

suporte... é, muitas vezes, mais que o, que o necessário pra que o estudante desenvolva

essa... as habilidades necessárias para eles atuarem como advogados, até porque a

maioria dos advogados, em um certo momento da vida, foram estagiários, então, eles

têm essa vivência, né, e a grande maioria tenta é, instruir o estudante da melhor

maneira possível porque, em um determinado momento da vida, eles vão ser colegas

de trabalho, então eu acho que a Procuradoria, na questão de conhecimento técnico,

dá sim o suporte para, para a boa formação dos Estagiários

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A atuação da gestão do programa no desenvolvimento de competências para além de técnicas

se dá de forma pontual e também é delegada para o setor ao qual o estudante está vinculado,

não havendo nenhum treinamento ou ações de capacitação que padronizem a forma como isso

se dará institucionalmente. Segue relato ilustrativo:

[...] logo no começo a gente dá esse suporte também da questão, da questão prática,

da convivência, de orientar em relação a essa questão deles desenvolverem essa

empatia, essas habilidades que são mais emocionais do que técnicas, né, eu acho que

a Procuradoria, como um todo, todo, assim, cada um dentro do seu, das suas

coordenação, trabalham para que eles desenvolvam essas, essas habilidades, é algo

que eu enfatizo muito, principalmente na época da integração e, todo momento que

eu tenho com os estudantes, eu enfatizo muito essa questão de, deles desenvolverem

é... essas habilidades enquanto estudantes porque depois que eles virarem

profissionais é... eles vão tá é... assim, eles vão ter menos chances de errar, claro que

todo mundo pode e deve, né, quando não tem outro jeito, mas é... quando eles fazem

isso enquanto estagiários, é a visão vai ser outra, né, então, assim, eu sempre oriento,

“tá com dúvida?” é...tire a dúvida, pergunte, para que não aconteça, pra que você não

faça todo um trabalho e você no final você percebe que tava errado e você poderia é...

não ter gasto todo esse tempo para fazer uma atividade errada, então, assim, eu acho

que, não só, não só a gestão do programa de estágio, mas eu acho que toda

procuradoria, ela é, os integrantes, né, priorizaram, por isso, sabe, os integrantes

priorizam por isso, sabe, primam por isso, por orientar o estudante. Não só na questão

das atividades as quais ele é demandado, mas a forma como ele faz, a forma como ele

se coloca, a forma como ele é fala com os colegas estagiários, com o servidor, com

os advogados, eu acho que tem toda essa preocupação com desenvolvimento de

outras, de outras habilidades e eu acho que isso é uma preocupação de toda a

Procuradoria para com o estudante de Direito. (GES02)

No que diz respeito às competências e habilidades desenvolvidas pelos estudantes junto ao

programa de estágio, a GES01 destacou que a oportunidade possibilita ao estagiário o

entendimento da abrangência do Direito e, principalmente, um conhecimento aplicado,

diferentemente do que a Universidade proporciona.

[...] o principal é essa percepção de amplitude, na verdade, do Direito, da diversidade

de matérias que existem [...]então ele vai ter uma visão muito mais prática da vivência

do Direito, do que ele vai ter na Universidade. (GES01)

Quanto a segunda gestora (GES02), ela também traz a questão do Direito de forma aplicada

(competência funcional) e da aplicabilidade dos conhecimentos aprendidos na IES:

[...] tem a questão do conhecimento técnico, né, de eles saberem diferenciar que

instrumentos vão usar em cada etapa do processo, que tipo de abordagem é, vai ser

utilizada para cada tipo de processo, isso é algo mais técnico, né, eles vão, na prática,

conhecer as diferenças dessas, dessas peças que eles aprendem na, na faculdade [...]

Além do desenvolvimento de competências funcionais, a GES02 acredita que o programa

proporciona ao estudante o desenvolvimento de competências de ordem comportamental e

ética:

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[...] em você ter o compromisso com, com a atividade que lhe foi repassada porque,

como a gente tem uma boa flexibilidade, o estudante, ele precisa aprender a lidar com

essa falta de, de vigilância, né, eu acho que isso é uma grande, que é um grande

aprendizado e, e você tinha até me perguntado anteriormente, o que é que faz um

estudante se diferenciar do outro, eu acho que esse ponto é um grande diferencial,

quando você aprende a desenvolver uma atividade, a cumprir seus prazos,

independente de ter é... uma pessoa para lhe fiscalizar pra lhe... supervisionar sempre

vai ter, né, mas, assim, não tem ninguém aqui dizendo, “oh, você não chegou às 8

horas”, né, então eu acho que lidar com essa liberdade é um diferencial que eles têm

aqui, porque a gente não tem de fato é... essa, essa, essa fiscalização [...]

A GES02 encerra afirmando que o programa possibilita o desenvolvimento de habilidades

relacionadas à pontualidade (funcional) e relacionamento interpessoal (comportamental, ética

e política).

[...] aos poucos, eles vão desenvolvendo outras habilidades, que é essa questão do

compromisso, da pontualidade, dessa sociabilidade também com o diferente [...]

(GES02)

Sobre as deficiências que o programa de estágio apresenta e que, no entendimento das gestoras,

impactam negativamente no desenvolvimento de competências dos estudantes, ambas

trouxeram questões de ordem financeira:

A minha grande limitação do programa é a baixa bolsa, né, o baixo valor da bolsa, ela

limita muito porque muitas vezes o estudante tem um custo, né, para vir, de

deslocamento, às vezes, de alimentação porque ele vem para o estágio e daqui já vai

direto para a Universidade, então, assim, existe um custo, e a bolsa fornecida pela

União é muito baixa, que muitas vezes sequer cobre os custos, dependendo da

localização de moradia desse estudante, então eu acho que é grande limitador.

(GES01)

Tem essas questões financeiras, né [...] (GES02)

A GES02 entende o conceito de limitação de ordem financeira de forma mais abrangente do

que o baixo valor da bolsa concedida aos estudantes e que isso impacta profundamente no

desenvolvimento do programa de estágio.

Têm essas questões financeiras, né, que envolvem a bolsa, que envolvem a questão

do aparelhamento mesmo, né, instalação física, questão de computador, e algo que eu

acho que que a gente poderia, que, assim, que poderia é... melhorar, seria, assim,

desenvolver um rodízio entre os estagiários, sabe, na verdade, as coordenações, só

que, o fato da bolsa não ser tão atraente, faz com que a gente tenha uma rotatividade

muito alta, o que dificulta a gente implementar esse tipo de atuação [...] então pra

gente termina não sendo algo vantajoso implementar um rodízio desse, que aí, eu acho

que daria mais oportunidades para os estudantes, eles iriam conhecer mais outras

áreas, né [...]essa rotatividade dificulta e faz com que a gente não implemente algo

que poderia ser muito benéfico para eles. (GES02)

A Orientação Normativa nº 2, que prevê a aceitação de estagiários em órgãos da administração

pública federal, estabelece que a elaboração do plano de atividades dos estudantes é realizada

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de forma acordada entre a IES e a organização provedora de estágio. Além disso, a lei de estágio

obriga que as IES avaliem as instalações das provedoras de estágio e sua adequação à formação

do estudante. Dessa forma, as gestoras foram indagadas a responder como se dá essa relação

entre a IES e a PRU5. Corroborando com as afirmações trazidas pelos estudantes, novamente,

essa relação só se dá por questões meramente burocráticas, previstas em lei.

A nossa intermediação desse programa em si de estágio é feita através do CIEE com

a instituição de ensino, então, de fato, a Procuradoria não tem nenhum contato com a

Instituição de ensino, só são passados os relatórios e enfim, eles dão baixa lá. (GES01)

Formalmente existe porque é... a lei pede que, pelo menos a cada 6 meses, haja essa

avaliação e essa avaliação ela é com, ela é coletiva, né, então do mesmo jeito que, e a

que a gente faz agora é a desenvolvida pelo CIEE, né, então, o estudante faz a auto

avaliação, o advogado faz a auto avaliação e a faculdade, ela toma ciência dessa

avaliação, né, então, assim, é feito esse acompanhamento, mas, da nossa parte é um

acompanhamento formal [...] a gente praticamente não tem contato com a faculdade,

porque o CIEE ele é esse elo, né, estudante-universidade-PRU5, né, então, a gente,

formalmente, não conversa com eles, eu tenho essa exigência de receber o documento,

a avaliação do estudante, assim, por uma questão de seguir a lei [...] (GES02)

De certa forma, percebe-se uma certa confusão no entendimento dos papéis que cabem a cada

um dos envolvidos, tendo em vista que compete ao agente de integração os aspectos

relacionados somente a questões de recrutamento e contratação dos estudantes. Mesmo

legalmente previsto, não há qualquer envolvimento das IES junto ao programa de estágio.

O último questionamento envolveu a atuação da OAB junto ao programa de estágio e ambas as

gestoras relataram que nunca houve esse contato.

4.6 A formação de competências profissionais, segundo os representantes da OAB-PE

As instituições coletivas, de acordo com o modelo adotado, são aquelas responsáveis por manter

competências profissionais coletivas e regular a atuação profissional. No presente estudo, essa

entidade foi representada pela OAB-PE.

Aos representantes da OAB-PE foi questionado que competências eles acreditavam que a

prática do estágio ajudava a formar e desenvolver nos estudantes. O representante OAB02

ressaltou a questão da oralidade (metacompetência), olhar para o mercado (competência

cognitiva), capacidade de iniciativa (competência comportamental) e resolução de problemas

(metacompetências).

OAB01 não respondeu a essa pergunta de forma direta, mas destacou os benefícios dessa prática

para ambos os envolvidos (estudante-organização). Além disso, ele trouxe a questão de aliar a

teoria com a prática:

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O estágio é uma mão de duas vias, como eu costumo dizer, é tão importante pra quem

fornece o estágio, como pra quem recebe a oportunidade de estagiar, é uma troca

muito rica de experiências, de conteúdos, de saber de vida mesmo [...] o estágio onde

realmente a atividade-fim do escritório, da entidade jurídica é levada a sério, é muito

rico para quem quer aprender e ter mais prática, aliar o conhecimento teórico ao

conhecimento prático. (OAB02)

Outra questão apresentada aos representantes refere-se à contribuição da OAB-PE na formação

e desenvolvimento de competências dos graduandos de Direito. Cada um apresentou a atuação

no contexto da sua respectiva Comissão. O OAB01 destacou a participação da Ordem nos

estágios profissionais de Direito, que são aqueles intermediados por ela. No que se trata sobre

que contribuições a OAB-PE tem oportunizado aos discentes, novamente os representantes

responderam com relação específica à Comissão da qual fazem parte. OAB01 trouxe a entidade

do estágio profissional que é aquele intermediado pela Ordem. Abaixo o relato ilustrativo:

O estágio ligado a Ordem é o estágio feito sob um convênio [...] por conta disso, tem

o interesse enorme em saber como é que esse estágio está sendo desenvolvido, de lado

a lado, então, nós fazemos, antes de firmar os convênios, uma vistoria nos escritórios

para saber se há condições realmente daquele escritório receber um estágio, um

candidato a estágio, ofertar um estágio, a gente vai lá pra ver a estrutura, saber quais

são as áreas que aquele escritório oferece que o, o estagiário vai trabalhar, quantos

advogados vão tá ligados ao estagiário porque, muitas vezes, infelizmente, ocorre o

desvio de função, o estagiário é contratado e ele passa a fazer muitas coisas que não

atividade de estagiário, claro que o estagiário tem de ralar muito, tem que ir para o

Fórum para ver processo, tem de separar página, tem de separar documento, mas não

é só isso, o estagiário tem que participar de reuniões com os advogados, de estratégias

de defesa, de estratégias de ação, tem de participar das audiências, do julgamento, ele

tem que estar totalmente vinculado à atividade-fim da advocacia, junto a entidade, ao

escritório, à Procuradoria que tá ofertando aquele estágio [...] a Ordem tem todo o

interesse em saber como é que esse estágio tá sendo desenvolvido. (OAB01)

Ainda no que se refere à contribuição na formação e desenvolvimento de competências dos

graduandos de Direito, o representante OAB02 trouxe a atuação da Ordem nas IES que,

consequentemente, impactam ou deveriam impactar nos discentes. Relatou ocorrência de

reuniões com as IES, debates, trocas de “boas-práticas” entre as IES e afirma manter diálogos

com o objetivo de apoiá-las e orientá-las.

No que diz respeito ao relacionamento da Ordem junto às IES e provedoras de estágio, essa

questão foi parcialmente respondida pelo OAB01, mas reforçou ainda mais as ações que a

entidade vem desenvolvendo em prol do desenvolvimento de competências do estudante de

Direito:

[...] nós fizemos, a um tempo atrás, uma cartilha do estagiário, feita a 4 mãos com o

IEL, então, por essa cartilha, foi fornecida a, a, aos estagiários que estavam sob a

chancela do IEL e da OAB, e também, isso é de domínio público que tá lá no site

nosso, uma série de recomendações, de informações compiladas, exclusivamente para

o estagiário numa cartilha. Então, isso é uma coisa importante, porque mostra a

presença da Ordem junto a essas entidades que credenciam e que fazem a, a seleção e

o meio de campo entre as empresas e os estagiários e a Ordem tem interesse também

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em olhar em que ambiente isso também se dá, né; junto ao NPJ’s, a Ordem também

se faz presente que é quando a gente lá faz uma visita, a gente troca uma ideia, há uma

comissão também lá na Ordem chamada comissão de, de assuntos acadêmicos [...]

Além disso, ele (OAB01) reiterou as afirmações trazidas pelo OAB02 no que diz respeito à

atuação da entidade junto as IES:

[...] a Comissão de Educação Jurídica fez outro dia uma, um evento com a Comissão

de Estágio e Exame de Ordem, a gente chamou todos os coordenadores dos cursos de

Direito lá na sede da OAB-PE pra discutir uma série de coisas, desde Exame de Ordem

à modernização de currículo, o ambiente de estágio, o desempenho das faculdades no

Exame de Ordem, a, a, a, o currículo dos núcleos de, de prática jurídica (NPJ), então

foi um encontro rico, que a gente ouviu bastante e que a gente também pôde trocar

ideias e ouvir, né, a Ordem tem interesse bastante em que o currículo de Direito seja

um currículo sempre atualizado, sempre buscando atualização pra dar ao mercado,

advogados, profissionais da advocacia cada vez mais preparados. (OAB02)

Foi questionado aos representantes quais as principais deficiências que o recém-formado em

direito apresentava. Apenas OAB01 respondeu a essa indagação.

Quando o bacharel em Direito, ele faz o exame de Ordem e passa então a ser

advogado, muitas vezes, a grande maioria das vezes, ele não tá totalmente preparado

para o mercado, então existe uma necessidade enorme de melhor preparo para o

mercado. Então, vem a ESA, que é a Escola Superior de Advocacia, e oferta,

disponibiliza atualizações, workshops, treinamentos, congressos, cursos de pós-

graduação, então é o, o braço acadêmico da Ordem entra nesse momento para ajudar

esse advogado, recém-saído da faculdade, pra dar a ele mais “pegada” do mercado,

porque a inexperiência é natural, é claro que isso é um fator que vai sempre estar

presente, mas essa inexperiência, ela precisa tá mais conectada, num é, com outras

situações que facilitem o advogado a desempenhar melhor, a vencer essa etapa inicial

tão difícil, então, é uma preocupação constante, voltando um pouquinho, da Comissão

de Estágio e Exame de Ordem, pra que o estágio seja um estágio bem feito, o

estagiário que fez um estágio bem feito, bem acompanhado, bem supervisionado, ele

vai ter menos dificuldade quando passar no exame de Ordem e começar a advogar por

si mesmo, seria a chancela de um advogado mais experiente, então, há uma

preocupação constante com isso, com a atualização de quem sai da faculdade, de com

a, o desempenho desse advogado porque o mau desempenho de um advogado

repercute para a Ordem, repercute negativamente, num é, então, por isso, o cuidado

todo que a gente tem, de, de, de presentear a sociedade com profissionais cada vez

mais bem preparados, isso é um desafio enorme.

O último questionamento envolveu a criação da Residência Jurídica.

Um projeto excelente da ESA, da Escola Superior da Advocacia, a Residência ela

chega como um, um, pra preencher um espaço, um vácuo que existia, justamente nessa

hipótese de o advogado recém-saído da faculdade, fez, pagou aquela cadeira lá, de

prática jurídica no NPJ, mas tá chegando ainda inexperiente, então escritórios mais

experimentados, mais gabaritados, recebem esse advogados, que também são

previamente, esses estagiários, que também são previamente selecionados e também

advogados que são previamente selecionados pra ofertar um período a mais, um

período de incubação maior para que ele saia depois, se quiser, ou se não for

aproveitado por aquelas bancas, que ofertam a residência, para que ele saia depois

mais bem, bem formado, num é, a atividade da advocacia é uma atividade de

aprimoramento contínuo, você tem que tá sempre estudando, sempre se reciclando e

a Residência, ela dá um impulso muito grande para quem tá saindo da faculdade, quem

abraça essa oportunidade. São escritórios de referência, que recebem pra um período

de tempo pré-estipulado, o, o advogado recém-formado e é uma experiência muito

boa, muito rica. Quem já está fazendo, tem dito, tanto quem, advogados recém-

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formados que estão já em plena residência como os escritórios que estão recebendo,

estão adorando a experiência, adorando, é como se fosse um estágio mais sofisticado,

porque ali dentro você não está falando mais com um estagiário, você tá falando com

um advogado, então é interessante você participar da formação propriamente de um

advogado recém- formado, bem legal. (OAB01)

A Residência Jurídica, ação iniciada em 2018, se apresenta, de certa forma, como uma

ferramenta que objetiva suprir algumas lacunas apresentadas por parte ou das IES, das

organizações ofertantes de estágio ou até mesmo do próprio estudante recém-formado.

Percebe-se, pois, de acordo com as afirmações trazidas pelos representantes da OAB-PE, que

há uma preocupação para com os acadêmicos de Direito no que diz respeito ao desenvolvimento

deles. A partir dos relatos apresentados, nota-se que, muitas vezes, a OAB-PE vem atuando no

preenchimento de lacunas/omissões que seriam responsabilidades das IES, como, por exemplo,

a formação de um profissional devidamente preparado para o mercado de trabalho, ou até

mesmo das ofertantes de estágio que, muitas vezes, provêm estágios que não preparam

adequadamente os estudantes e, nesse contexto, a Ordem vem reparar essas deficiências ou má

atuações por parte dos outros atores envolvidos no processo de desenvolvimento de

competências dos acadêmicos.

Em comparação aos outros estudos que se utilizaram do modelo teórico conceitual de Paiva e

Melo (2008), percebem-se algumas similaridades com o presente estudo no que diz respeito ao

desenvolvimento de competências. Os estagiários e gestoras foram demandados a responder

sobre quais as contribuições do programa de estágio e houve semelhança e abrangência de

respostas, principalmente, quanto aos aspectos funcionais e comportamentais. Na maioria dos

estudos, as competências de maior abrangência foram aquelas relacionadas as de ordem

cognitiva, funcional e comportamental e as de menor foram aquelas de ordem ética e política.

No presente estudo, além da baixa ocorrência de desenvolvimento das de ordem ética e política

por parte do programa de estágio, percebeu-se também com relação às competências de ordem

cognitiva.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente dissertação teve como objetivo geral analisar quais competências profissionais dos

estudantes do curso de graduação em Direito, na Procuradoria-Regional da União, em Recife –

PE, têm sido formadas por meio do programa de estágio, de acordo com o modelo teórico-

conceitual de Paiva e Melo (2008). Para tanto, foram entrevistados os atores que, segundo o

modelo adotado, com exceção do Estado, contribuem para essa formação e verificado como

cada um deles percebe a sua própria participação e a dos outros envolvidos. Utilizaram-se como

aporte teórico estudos que tratavam sobre competências profissionais, estágio e ensino superior.

A pesquisa teve abordagem qualitativa de caráter descritivo nos moldes de um estudo de caso.

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e para a análise dos dados, a análise documental

e de conteúdo.

Quatro objetivos específicos foram estabelecidos para entender a contribuição e percepção dos

atores envolvidos. Em relação ao primeiro objetivo específico, na percepção dos entrevistados,

sobre o perfil do profissional de Direito do século XXI, ele envolveria aspectos como: ser um

profissional generalista, propositivo na elaboração de soluções, atualizado, flexível, moderno,

conhecedor de tecnologia e interativo. Já com relação ao profissional competente, os

entrevistados entenderam como tal, de uma forma geral, aquele que possui habilidades

relacionadas às competências de ordem cognitiva, funcional, comportamental e ética. No

entanto, as componentes de ordem cognitiva e ética apresentaram baixa ocorrência, havendo

assim uma lacuna nessa formação.

Em relação ao segundo objetivo, há uma clara divisão entre os estudantes vinculados ao ensino

público e ao privado. Quanto ao envolvimento da IES no desenvolvimento das atividades do

estudante como estagiário, houve uma similaridade nas respostas, os estudantes afirmaram que

quase não há, resumindo-se apenas a questões burocráticas e legalmente previstas. No que diz

respeito à forma de contribuição da IES, somente um dos estudantes vinculado ao ensino

público consegue perceber essa contribuição direta e que ela se dá por meio das atividades de

extensão, pesquisa e grupos de estudo. Os estudantes do ensino público não percebem de forma

clara a contribuição da IES em sua formação e desenvolvimento de competências. Preocupa-se

o fato de muitos dos estudantes não perceberem que a IES prepara para o mercado de trabalho.

As competências profissionais que foram entendidas como contribuições das IES estavam

relacionadas, majoritariamente, às metacompetências, comportamentais e políticas, com baixa

ocorrência de competências de ordem ética, política e nenhuma ocorrência para ocorrência de

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ordem cognitiva. Percebe-se, de acordo com as falas dos entrevistados, uma baixa contribuição

da IES no desenvolvimento de competências profissionais e no preparo para o mercado de

trabalho, o que vai de encontro ao esperado. Além disso, a baixa ocorrência do desenvolvimento

de competências de ordem ética, política e, principalmente, cognitiva faz pensar sobre como o

ensino deveria estar melhor estruturado com a finalidade de desenvolver melhor essas

competências.

O terceiro objetivo específico envolveu a atuação da OAB-PE. A maioria dos estagiários

entrevistados e as gestoras do programa de estágio não percebem essa atuação e dos que

perceberam, disseram que ela se dá de forma frágil. No entanto, de acordo com os relatos

apresentados pelos representantes da OAB-PE, existem ações concretas que têm sido

realizadas, mas que, de certa forma, não estão sendo percebidas. Sendo assim, pode estar

ocorrendo algum ruído de comunicação entre os atores envolvidos.

Quanto ao quarto objetivo, é possível perceber várias contribuições do programa de estágio para

com o desenvolvimento dos estudantes. Relacionamento da teoria com a prática,

direcionamento de carreira e o contato efetivo com a atividade jurídica são algumas das

contribuições apontadas pelos estagiários. Corroborando com as falas dos estudantes, a gestão

do programa trouxe a questão da efetiva atuação deles com a atividade jurídica, do

desenvolvimento de competências de ordem funcional e de possibilitar o relacionamento da

teoria com a prática. As competências de maior ocorrência foram aquelas relacionadas as de

ordem funcional, comportamental e as metacompetências, preocupando-se a baixa ocorrência

das competências de ordem ética e política. De acordo os relatos apresentados pelos

acadêmicos, não há uma percepção, para a maioria dos entrevistados, da atuação por parte da

gestão do programa de estágio no desenvolvimento de competências, resumindo-se essa

atuação exclusivamente na figura do próprio supervisor. Não é previsto por parte da gestão do

programa ações que proporcionem o desenvolvimento de forma continuada de outras

competências para além das competências funcionais e que extrapolem a relação estagiário-

supervisor. Nota-se, assim, de um modo geral, uma contribuição positiva e efetiva na formação

e desenvolvimento de competências por parte do programa de estágio.

Mesmo diante da contribuição da PRU5 no desenvolvimento de competências dos estudantes,

sugere-se maior atuação da gestão do programa com a promoção de atividades que

desenvolvam competências para além daquelas diretamente relacionadas à atividade fim da

organização, como, por exemplo, as relacionadas as de ordem comportamental, ética e política.

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Além disso, sugere-se que haja uma maior comunicação entre a gestão do programa e os

supervisores de estágio com a finalidade de alinhamento na formação dos estudantes, como

também a criação de melhores instrumentos de avaliação desses estagiários. Para as IES, indica-

se maior envolvimento junto às unidades concedentes de estágio e seus estudantes que realizam

atividades de estágio. Finalmente, à OAB-PE, sugere-se uma maior presença nos diversos

espaços nos quais os acadêmicos de Direito estão inseridos, uma maior divulgação das

atividades promovidas pela organização e a maior inclusão dos estudantes nas suas atividades,

independentemente de haver ou não vinculação do estudante junto à Ordem.

Para melhor entendimento e debate da temática em questão, sugerem-se estudos que abranjam

outros cursos de graduação; que tratem sobre a formação de competências profissionais em

estágios no contexto da iniciativa pública e estudos que envolvam estagiários vinculados à rede

privada de ensino.

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APÊNDICE A - Roteiro entrevista gestoras programa de estágio

1. Fale sobre o programa de estágio na PRU5.

2. O que é um profissional competente? Qual o perfil do profissional do século XXI?

3. Para você, o que significa ser um estagiário competente?

4. De que forma você acha que o estágio na PRU5 contribui com a formação profissional dos estudantes?

5. Como você acha que a organização tem contribuído para o desenvolvimento de competências dos

estudantes?

6. Que competências e habilidades você acha que o estágio na PRU5 ajuda a desenvolver no estagiário?

7. Quanto à legislação, existe algo que limite a atuação da gestão do programa ou o melhor

desenvolvimento/atuação de estagiários nas atividades diárias? Cite e explique

8. Como o supervisor do estagiário na PRU5 acompanha as atividades do estudante?

9. Existe algum tipo de acompanhamento ou atuação por parte da instituição de ensino junto aos

estudantes e o programa de estágio?

10. Quais limitações você acredita que o Programa possui que impedem o melhor desenvolvimento dele

e, consequentemente, dos estudantes?

11. Existe alguma atuação da OAB junto ao Programa de Estágio?

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APÊNDICE B - Roteiro entrevista estagiários de Direito

a) Idade:

b) Sexo:

c) Onde estuda:

d) Período:

e) Tempo de casa:

f) 1ª experiência:

1. Para você, qual o perfil do profissional do século XXI?

2. Para você, o que significa ser um profissional competente?

3. Para você, o que significa ser um estagiário competente?

4. De que forma você acha que o estágio na PRU5 contribui para a formação profissional dos estudantes?

5. Como você acha que a organização tem contribuído para o desenvolvimento de competências dos

estudantes?

6. Que competências e habilidades você acha que o estágio na PRU5 ajuda você a desenvolver?

7. Quanto à legislação referente a estágio, existe algo que limite a sua atuação como estagiário na

realização das atividades diárias? Cite e explique

8. Como o seu supervisor acompanha as suas atividades como estagiário?

9. Além do supervisor, quem mais o ajuda na realização das suas atividades?

10. Quais limitações você acredita que o programa possui que impedem o melhor desenvolvimento dele

e, consequentemente, dos estudantes?

11. Você percebe alguma atuação/participação da OAB na sua formação de competências? Se sim, de que

forma?

12. O que você faz para ser um estagiário e futuro profissional competente?

13. Existe alguma atuação da IES junto a sua atividade como estagiário? Se sim, de que forma?

14. Como a sua instituição de ensino contribui com a sua formação de competências?

15. Você acha que a sua IES o prepara para o mercado de trabalho?

16. Que competências e habilidades, você acha que a sua IES lhe ajuda a desenvolver?

17. Que dificuldades você encontra, de um modo geral, para a sua formação de competências?

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APÊNDICE C - Roteiro Representante OAB

1. Qual o papel da OAB na regulação e supervisão dos estágios profissionais de Direito?

2. Que competências você acredita que o estágio ajuda a desenvolver nos estudantes?

3. Para você, o que significa ser um estagiário e profissional competente?

4. Qual o perfil do profissional de Direito do século XXI?

5. Como a OAB-PE tem dado oportunidades para que os estudantes de Direito adquiram e

desenvolvam suas competências profissionais?

6. A OAB-PE tem mantido relacionamento com as instituições de ensino e as provedoras de estágio

supervisionado a fim de apoiá-las na formação de competências profissionais dos estudantes de

Direito? De que tipo?

7. Quais as principais queixas/deficiências a OAB-PE tem percebido ou recebido decorrentes da

atuação dos advogados recém-formados?

8. Em que contexto se insere a Residência Jurídica?