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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFBV WYDEN MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL ANA IZABEL DE BRITO CASTRO SARTORI A CULTURA DA MORTE E GESTÃO DOS CUIDADOS PALIATIVOS: ESTUDO DE CASO EM UM HOSPITAL NA CIDADE DO RECIFE-PE RECIFE 2018

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFBV WYDEN

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL

ANA IZABEL DE BRITO CASTRO SARTORI

A CULTURA DA MORTE E GESTÃO DOS CUIDADOS PALIATIVOS:

ESTUDO DE CASO EM UM HOSPITAL NA CIDADE DO RECIFE-PE

RECIFE

2018

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ANA IZABEL DE BRITO CASTRO SARTORI

A CULTURA DA MORTE E GESTÃO DOS CUIDADOS PALIATIVOS:

ESTUDO DE CASO EM UM HOSPITAL NA CIDADE DO RECIFE-PE

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Profissional em Gestão Empresarial da Centro

Universitário UniFBV Wyden como requisito

para obtenção do título de Mestre em Gestão

Empresarial.

Orientadora:

Prof.ª Drª Maria Auxiliadora Diniz de Sá

Recife

2018

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Catalogação na fonte Biblioteca do Centro Universitário UniFBV | Wyden, Recife/PE

S251 Sartori, Ana Izabel de Brito Castro.

A cultura da morte e gestão dos cuidados paliativos: estudo de

caso em um hospital na cidade do Recife-PE. / Ana Izabel de

Brito Castro Sartori. – Recife: UniFBV | Wyden 2018.

99 f: il.

Orientador(a): Maria Auxiliadora Diniz de Sá.

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Centro

Universitário UniFBV | Wyden.

1. Cultura da morte. 2. Cuidados paliativos. 3. Organização

hospitalar. I. Título. DISS 658[18.1]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca.

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente, quero agradecer aos meus Guias Espirituais, pela proteção que me foi dada

durante todo o curso do meu mestrado e por terem me dado a oportunidade de pesquisar um

assunto complexo e subjetivo como a cultura da morte na prestação de serviços em cuidados

paliativos.

A todos os que fazem a Organização Hospitalar privada na cidade do Recife pela receptividade,

carinho, atenção e respeito que foram dispensados a mim, esta pesquisa não teria acontecido

sem a colaboração de todos.

Às famílias e cuidadores pela confiança e carinho que me foram dispensados, ao abordar um

assunto complexo como o ritual da morte, em um momento de fragilidade familiar.

Aos meus amigos, colegas e professores de mestrado, que durante dois anos me ensinaram a ter

uma nova postura de vida, me introduziram à área da gestão organizacional e me incentivaram

a iniciar uma nova etapa de vida, a de pesquisadora, a qual pretendo desenvolver com ética e

compromisso para o bem da sociedade.

Às minhas amigas e colegas anestesiologistas, que por muitas vezes me substituíram em sala

cirúrgica, para que eu pudesse estar presente nas aulas de mestrado.

À minha família, pelo apoio e paciência no ensinamento pelo auxílio com algumas áreas da

informática, as quais eram inacessíveis para mim antes do início do mestrado.

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“Não sei... se a vida é curta

ou longa demais para nós,

mas, sei que nada

do que vivemos tem sentido,

se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:

o colo que acolhe,

o braço que envolve,

a palavra que conforta,

o silêncio que respeita,

a alegria que contagia,

a lágrima que corre,

o olhar que acaricia,

o desejo que sacia,

o amor que promove.

E isso não é coisa do outro

mundo,

é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela não

seja curta, nem longa demais,

mas que seja intensa, verdadeira,

pura enquanto ela durar…”.

Cora Coralina (poetisa e contista goiana, Brasil, 1889-1985).

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RESUMO

Diante do aumento da longevidade observado no século XX, do aumento das doenças crônicas

não transmissíveis, da revolução tecnológica e terapêutica da medicina, chegou-se ao século

XXI com um questionamento sobre a dignidade da morte. Nesse contexto é que os cuidados

paliativos se inserem, para que o bem morrer seja possível e acessível, um cuidar com respeito,

amor e compaixão. Nessa linha de raciocínio, esta dissertação se propõe a investigar como a

cultura da morte e a gestão dos cuidados paliativos, em vista à qualidade da morte, têm sido

percebidos pelo tripé: gestores, equipe multidisciplinar e família/cuidador, em um hospital na

cidade do Recife-PE. Para essa verificação foram identificados a percepção sobre a cultura da

morte, aspectos técnicos e sociais, bem como fatores facilitadores e dificultadores dos cuidados

paliativos, por meio de um roteiro de entrevista semiestruturada/por pauta, junto aos sujeitos

envolvidos que prestam serviços em cuidados paliativos. Pela subjetividade do tema foi

escolhida a pesquisa qualitativa, descritiva, estudo de caso, para que através das respostas dos

sujeitos, a organização hospitalar ser avaliada em sua nova cultura em cuidados paliativos. Os

sujeitos da pesquisa foram os gestores hospitalar, do centro de terapia intensiva e a equipe

multidisciplinar responsável pela ação paliativista. Essa equipe multidisciplinar foi escolhida

por acessibilidade/intencionalmente, tendo como instrumento de pesquisa entrevistas gravadas

e transcritas integralmente com o pesquisador como parte da equipe multidisciplinar na situação

de não participante. A coleta de dados se deu nos meses de Abril a Junho de 2018, após

autorização do Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Recife-PE.

Para a compreensão dos dados, utilizou-se a Análise de conteúdo (BARDIN, 2013), com leitura

fluente para categorização que se relacionasse aos objetivos específicos e após foi efetuado

recortes de trechos da entrevista para identificação de subcategorias. Quanto aos resultados, foi

observado que os participantes se apercebem sobre a cultura da morte como inevitável, emoção,

descanso, processo de vida; ao que se refere aos cuidados paliativos, eles os definem como

alívio do sofrimento, conforto e dignidade para os doentes-família/cuidador e prolongamento

da vida para os doentes em sua terminalidade. Quanto aos aspectos técnicos dos cuidados

paliativos, a equipe multidisciplinar ressalta como dificuldades o fato de abordar a família em

momentos difíceis e de dor, além da falta de informações para a compreensão sobre o que sejam

cuidados paliativos e o consenso da equipe multidisciplinar. Em relação aos aspectos sociais,

os entrevistados relacionam algumas situações que podem complicar o ato de cuidar: a

religiosidade/espiritualidade, comunicação ineficaz, desavenças familiares e a própria

legislação vigente, no Brasil. Experiências pessoais são identificadas como facilitadores quanto

ao ritual da morte e os cuidados paliativos. Finalmente, diante das respostas dos sujeitos

conclui-se que a organização hospitalar investigada, tem sido reconhecida favoravelmente, pela

prestação de serviços em cuidados paliativos, mas é de fundamental importância que tenha um

departamento de bioética atuante, para dar suporte a equipe multidisciplinar, questionamentos

relacionados a indicação de cuidados paliativos.

Palavras Chave: Cultura da morte. Cuidados paliativos. Organização hospitalar.

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ABSTRACT

Due to the increase of longevity of the population, observed in the XX century, and the increase

in non-communicable chronic diseases such as cancers, the technological and therapeutical

revolution of medicine arrived in the XXI century proposing a question about the dignity of

death. It is in this context that palliative care is inserted, so that a “good death” is possible and

accessible, where care is given with respect, love and compassion. In this line of reasoning, this

dissertation proposes to investigate in a private hospital organization, in the city of Recife-PE.

How have the rituals of death and palliative care been perceived, on the view of quality of death,

by the tripod: managers, the multidisciplinary team and the family/caregiver. For this

verification, technical and social aspects were identified, as well as facilitating and hindering

aspects of palliative care. Using a qualitative research and a case study methodology, interviews

were done with the subjects involved and Content Analysis (BARDIN, 2013) was later applied

in order to better understand the collected data. The principle theoretical results observed were

that the participants perceive the ritual of death as a process of life, rest, emotion, relief and

even denial; and when palliative care is concerned, they define it as relief from suffering,

comfort and dignity for the terminally ill. As for the technical aspects of palliative care, the

multidisciplinary team emphasizes how difficult it is to approach the family in challenging and

painful moments, in addition to giving the adequate information for understanding the nature

of palliative care. Regarding social aspects, the interviewees relate some situations that may

complicate the act of caring: distorted religiosity/spirituality, ineffective communication,

family disagreement and the actual legislation in Brazil. Prior personal experiences are

identified as facilitators in the ritual of death and palliative care. Finally, the data suggest that

the investigated hospital organization has been favorably recognized for the provision of

palliative care services.

Key words: Ritual of death. Palliative care. Hospital organization

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RESUMEN

Ante el aumento de la longevidad observado en el siglo XX, del aumento de las enfermedades

crónicas no transmisibles, de la revolución tecnológica y terapéutica de la medicina, se llegó al

siglo XXI con un cuestionamiento sobre la dignidad de la muerte. En ese contexto es que los

cuidados paliativos se insertan, para que el bien morir sea posible y accesible, un cuidar con

respeto, amor y compasión. En esta línea de raciocinio, esta disertación se propone investigar

cómo la cultura de la muerte y la gestión de los cuidados paliativos, en vista a la calidad de la

muerte, han sido percibidos por el trípode: gestores, equipo multidisciplinario y familia /

cuidador, en un hospital en la ciudad de Recife-PE. Para esta verificación se identificó la

percepción sobre la cultura de la muerte, aspectos técnicos y sociales, así como factores

facilitadores y dificultadores de los cuidados paliativos, por medio de un itinerario de entrevista

semiestructurada / por pauta, junto a los sujetos involucrados que prestan servicios en cuidados

paliativos . Por la subjetividad del tema fue elegida la investigación cualitativa, descriptiva,

estudio de caso, para que a través de las respuestas de los sujetos, la organización hospitalaria

sea evaluada en su nueva cultura en cuidados paliativos. Los sujetos de la investigación fueron

los gestos hospitalarios, del centro de terapia intensiva y el equipo multidisciplinario

responsable de la acción paliativista. Este equipo multidisciplinario fue escogida por

accesibilidad / intencionalmente, teniendo como instrumento de investigación entrevistas

grabadas y transcritas íntegramente con el investigador como parte del equipo

multidisciplinario en la situación de no participante. La recolección de datos se dio en los meses

de abril a junio de 2018, tras la autorización del Comité de Ética e Investigación del Hospital

Universitario Oswaldo Cruz, Recife-PE. Para la comprensión de los datos, se utilizó el Análisis

de contenido (BARDIN, 2013), con lectura fluente para categorización que se relacionara con

los objetivos específicos y después se efectuó recortes de extractos de la entrevista para

identificación de subcategorías. En cuanto a los resultados, se observó que los participantes se

percibían sobre la cultura de la muerte como inevitable, emoción, descanso, proceso de vida; a

lo que se refiere a los cuidados paliativos, ellos los definen como alivio del sufrimiento, confort

y dignidad para los enfermos-familia / cuidador y prolongación de la vida para los enfermos en

su terminal. En cuanto a los aspectos técnicos de los cuidados paliativos, el equipo

multidisciplinario resalta como dificultades el hecho de abordar a la familia en momentos

difíciles y de dolor, además de la falta de informaciones para la comprensión sobre lo que sean

cuidados paliativos y el consenso del equipo multidisciplinario. En relación a los aspectos

sociales, los entrevistados relacionan algunas situaciones que pueden complicar el acto de

cuidar: la religiosidad / espiritualidad, comunicación ineficaz, desavenencias familiares y la

propia legislación vigente, en Brasil. Las experiencias personales se identifican como

facilitadores en cuanto al ritual de la muerte y los cuidados paliativos. Finalmente, ante las

respuestas de los sujetos se concluye que la organización hospitalaria investigada, ha sido

reconocida favorablemente, por la prestación de servicios en cuidados paliativos, pero es de

fundamental importancia que tenga un departamento de bioética actuante, para dar soporte al

equipo multidisciplinario, cuestionamientos relacionados con la indicación de cuidados

paliativos.

Palabras Clave: Cultura de la muerte. Cuidados paliativos. Organización hospitalaria.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMB Associação Médica Brasileira

ANCP Academia Nacional de Cuidados Paliativos

ABCP Associação Brasileira de Cuidados Paliativos

BiPAP BI-level Positive Airway Pressure

CEPON Centro de Estudos e Pesquisas Oncológicas

CFM Conselho Federal de Medicina

CPAP Continuous Positive Airway Pressure

GESTO Grupo Especial de Suporte Terapêutico Oncológico

HSPE/SP Hospital do Servidor Público, do Estado de São Paulo

HSPM/SP Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo

HUOC Hospital Universitário Oswaldo Cruz

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCA Hospital do Instituto Nacional do Câncer

OMS Organização Mundial da Saúde

PROCAPE Pronto Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco

SST Socioemotional Selective Theory

SUS Sistema Único de Saúde

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

USP Universidade de São Paulo

UTI Unidade de Terapia Intensiva

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11

1.1 Objetivos da pesquisa ................................................................................................ 14

1.1.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 14

1.1.2 Objetivos específicos ................................................................................................ 14

1.2 Justificativas da pesquisa .......................................................................................... 15

1.2.1 Justificativas teóricas ................................................................................................ 15

1.2.2 Justificativas práticas ................................................................................................ 16

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 18

2.1 O ritual da morte ........................................................................................................ 18

2.1.1 Cultura e a organização hospitalar ............................................................................ 24

2.2 Cuidados paliativos ................................................................................................... 30

2.2.1 Família/cuidador ....................................................................................................... 36

2.2.2 Equipe multidisciplinar ............................................................................................ 40

3 METODOLOGIA DA PESQUISA ............................................................................. 45

3.1 Caracterização da pesquisa ....................................................................................... 45

3.2 Locus da pesquisa ....................................................................................................... 45

3.3 Sujeitos da pesquisa ................................................................................................... 47

3.4 Instrumentos de coleta dos dados ............................................................................. 48

3.5 Processo de coleta dos dados ..................................................................................... 48

3.6 Técnica de análise dos dados ..................................................................................... 49

3.7 Limites e limitações .................................................................................................... 50

4 ANÁLISE DOS DADOS .............................................................................................. 51

4.1 Ritual da morte .......................................................................................................... 51

4.1.1 Ritual da morte, na percepção de gestores ................................................................. 52

4.1.2 Ritual da morte, na percepção da equipe multidisciplinar ......................................... 52

4.1.3 Ritual da morte, na percepção da família/cuidador ................................................... 53

4.2 Aspectos técnicos dos cuidados paliativos ................................................................ 58

4.2.1 Abordagem à família ................................................................................................ 58

4.2.2 Consenso da equipe multidisciplinar ........................................................................ 59

4.2.3 Informação sobre cuidados paliativos ....................................................................... 60

4.2.4 Materiais utilizados em cuidados paliativos .............................................................. 62

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4.3 Aspectos sociais dos cuidados paliativos .................................................................. 62

4.3.1 Religião, espiritualidade ........................................................................................... 62

4.3.2 Aspectos socioculturais ............................................................................................ 64

4.3.3 Desavenças familiares .............................................................................................. 66

4.3.4 Legislação ................................................................................................................. 67

4.3.5 Experiências pessoais ............................................................................................... 68

5 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 70

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 77

APÊNDICE A – ROTEIRO DA ENTREVISTA .......................................................... 82

ANEXO A – DECLARAÇÃO DE HELSÍNQUIA ....................................................... 83

ANEXO B – FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES

HUMANOS – PLATAFORMA BRASIL ...................................................................... 87

ANEXO C – COMPROVAÇÃO DE CADASTRO DO PROJETO NA

PLATAFORMA BRASIL .............................................................................................. 88

ANEXO D – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DO HOSPITAL UNIMED RECIFE .. 89

ANEXO E – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DO HUOC ............................................ 90

ANEXO F – CARTA DE ANUÊNCIA DO HUOC ....................................................... 91

ANEXO G – TERMO DE CONFIABILIDADE DO HUOC ........................................ 92

ANEXO H – PLANILHA DE REGISTROS DE PROJETOS PARA ANUÊNCIA

DO HUOC ........................................................................................................................ 93

ANEXO I – CONSENTIMENTO INFORMADO PARA AUTORIZAÇÃO DA

PESQUISA ....................................................................................................................... 94

ANEXO J – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............ 96

ANEXO L – GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE RECUSA

E SIGILO ......................................................................................................................... 97

ANEXO M – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DO HUOC ............................................ 98

ANEXO N – TERMO DE CUIDADOS PALIATIVOS ................................................ 99

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1 INTRODUÇÃO

Na história da humanidade, o homem vem superando as adversidades contra a sua existência,

o que tem ocasionado, por gerações sucessivas, melhor qualidade de vida. Nesse contexto é que

o ser humano tem, em sua trajetória de vida, o enfrentamento com a morte, pois sendo esta

inevitável, corresponde ao limite do seu poder, ou seja, a não imortalidade.

Segundo Figueiredo (apud BIFULCO; CAPONERO, 2016), o estudo da morte representa o

estudo da vida e o conhecimento da finitude, sendo este essencial, sobretudo, para o saber

médico. Diante da dificuldade de aceitação da mortalidade e do desejo pela dignidade do viver,

é que a ação em cuidados paliativos vem sendo discutida na sociedade do século XXI.

A cultura dos primitivos, nômades, era abandonar os que morriam, seguir em frente, em busca

da caça, preservar a sobrevivência (CHIAVENATO, 1998). Filósofos como Montaigne e

Spinosa (século XVI), Hegel (século XVII) e Hiedgger (século XIX), já admitiam que a

finitude, a morte, seria uma dimensão inalienável ao homem, sendo esta negada na existência

humana como questão primária (MARTA et al., 2009).

No Egito antigo, há 3 mil anos a.C., a morte dominava o dia a dia das pessoas, mas somente os

miseráveis eram depositados em valas. Aqueles que tinham como pagar, não morriam, viravam

múmias, eram colocados em pirâmides ou mastabas, com seus pertences, alimentos e valores,

em uma cultura de que houvesse uma provável volta à vida (CHIAVENATO, 1998).

Diante do aumento da expectativa de vida no século XXI, tem se iniciado uma preocupação

com o crescente número de pessoas com mais de 60 anos de idade. Nos últimos 100 anos, as

Nações Unidas vêm acreditando, que a expectativa de vida tenha aumentado em 145%, sobre o

que leva a se pensar no fenômeno da longevidade. No Brasil, segundo Oliveira et al. (2016) há

20,5 milhões de pessoas nessa faixa etária, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), seguindo essa projeção, em 2020 deverá haver 25 milhões de brasileiros

com idade superior a 65 anos.

Entretanto, pode-se perguntar: morre-se com dignidade? Essa questão, leva à uma discussão

entre a vontade do doente e a capacidade da medicina moderna, no intuito de prolongar a vida.

No entanto, a dignidade da vida está relacionada ao conhecimento e aceitação da finitude, alívio

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de sintomas incapacitantes, apoio emocional e espiritual, direito a despedida, pois não há

solução para a morte; essa é uma questão que vem sendo proposta por Kovács (2017), da

Universidade de São Paulo (USP) e divulgada por uma revista jornalística de circulação

nacional.

Da parte das organizações hospitalares, como gestoras da saúde secundária e terciária, tem por

meio da equipe multidisciplinar, a responsabilidade de acolher o doente-família /cuidador com

respeito e amor, para que o momento da morte seja de aceitação, sem traumas. À essa discussão

dá-se o nome de cuidados paliativos, definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em

2002 como “o cuidado ativo e total para pacientes cuja doença não é responsiva ao tratamento

de cura, ao controle da dor ou de outros sintomas, bem como aos problemas psicossociais e

espirituais” (MATSUMOTO, 2012).

Para Doyle (2009, p. 11), "cuidados paliativos são cuidados em pacientes com progressiva e

avançada doença, em que há expectativa de vida limitada, tendo como foco os cuidados em

qualidade de vida [...]”. Segundo este mesmo autor, não é indicado para uma doença específica,

nem se restringe a definir o tempo de vida em semanas ou meses. Seus princípios incluem bons

cuidados clínicos, qualquer que seja a doença e o seu estágio, se há possibilidade de cura ou

não, indistintamente, segundo a idade, sexo, raça, classe social ou crença dos pacientes. Cicely

Sanders, enfermeira, médica e assistente social, referência em cuidados paliativos na Inglaterra

nos 1960 afirma, (apud FERRIS, 2015, p. 4) “[...] o sofrimento só é intolerável quando ninguém

cuida”.

Segundo Mello e Ladeira (2017), a medicina paliativa é desconhecida por vários profissionais

de saúde, gestores hospitalares e até mesmo pelo Poder Judiciário, sendo, por muitas vezes,

confundida com a eutanásia; de certo é uma especialidade nova na área médica; inclusive, no

Brasil, ainda não há discussão no meio acadêmico, nem na sociedade e poder público.

Isso se confirma, diante dos resultados de uma pesquisa efetuada pela revista The Economist,

citada por Kovács (2017) em que o Brasil, em 2010, ocupava o 38º lugar no ranking de

qualidade de morte, dentre 40 países. Em 2015, mais uma comprovação de como a dignidade

do morrer não impacta a sociedade brasileira, em consequência, esta não discute a qualidade

desse ato. Quando esse resultado é ampliado e atualizado para 80 países, o Brasil se posiciona

no 42º lugar.

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Na verdade, a extensão geográfica do território brasileiro contribui para dificultar a implantação

em cuidados paliativos; no entanto, um compromisso precisa ser firmado com responsabilidade

para que seja construído um futuro promissor, em que o cidadão brasileiro possa usufruir da

prática da paliação diante de doenças que se encontram fora de possibilidades terapêuticas,

assim afirma Matsumoto (2012).

Conforme Maciel (2012), as referências internacionais sobre modelos em cuidados paliativos

são escassas, ou seja, cada país tem se adaptado com recursos próprios, pré-existentes. No

entanto, segundo Mello e Ladeira (2017), parece que há um consenso de que se trata de uma

necessidade de saúde pública, humanitária, pois a incidência de doenças crônicas não

transmissíveis tem crescido em virtude do aumento da expectativa de vida.

De maneira geral, quanto ao alívio do sofrimento aos pacientes terminais, não tem havido

discussão efetiva. Talvez pela persistência da dúvida entre eutanásia, mistanásia e distanásia.

Em um mundo globalizado, em que as pessoas convivem com culturas, religiões e moralidades

diferentes, a sociedade necessita discutir, até mesmo pressionar o poder público, para que haja

a legitimação da paliação (MELLO; LADEIRA, 2017).

Em contrapartida, o Reino Unido passa na frente quando reconhece a importância dos cuidados

paliativos como especialidade médica desde 1987. No Brasil, somente a partir de 2011 que a

medicina paliativa vem sendo incluída na área médica, pela resolução 1973/2011, do Conselho

Federal de Medicina (HERMES; LAMARCA, 2013).

Segundo Hermes e Lamarca (2013), também não há diretrizes nacionais que respaldem os

cuidados paliativos; os dados e a prática são precários, pouco difundidos; têm sido utilizadas

estatísticas estrangeiras, embora já existam organizações hospitalares que já iniciam esses

tratamentos com suas próprias resoluções.

Na área acadêmica médica, ainda não constam rotineiramente, disciplinas e currículos nos seus

cursos de graduação que estudem a morte; nesse caso, a ação médica, mesmo no século XXI,

vem sendo direcionada para a cura de doenças (HERMES; LAMARCA, 2013). Por outro lado,

tudo indica que a sociedade também espera que o ato médico favoreça a cura das diversas

doenças. Logo, cabe uma melhor divulgação e conscientização sobre o que sejam cuidados

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paliativos, pois isso poderá despertar a responsabilidade da saúde pública, para que ações sejam

efetuadas em prol da dignidade do ato de morrer. Aos poucos, está sendo introduzido no

currículo de algumas universidades e faculdades brasileiras, o estudo da tanatologia, mas ainda

não há referências científica quanto ao número de instituições que se dispõem a isso.

Com base nos argumentos aqui expostos, surge a curiosidade e o interesse em responder à

seguinte questão de pesquisa: como o ritual da morte e os cuidados paliativos, em vista à

qualidade da morte, têm sido percebidos pelo tripé: equipe multidisciplinar, família/cuidador e

gestor, em uma organização hospitalar privada, na cidade do Recife-PE?

1.1 Objetivos da pesquisa

1.1.1 Objetivo geral

Investigar como a cultura da morte e a gestão dos cuidados paliativos, em vista à qualidade da

morte, têm sido percebidos pelo tripé: gestores, equipe multidisciplinar e família/cuidador, em

uma organização hospitalar privada, na cidade do Recife-PE.

1.1.2 Objetivos específicos

a) identificar a cultura da morte, segundo a percepção de gestores, equipe multidisciplinar

e família/ cuidador, em uma organização hospitalar privada, na cidade do Recife-PE;

b) identificar, segundo a percepção de gestores e equipe multidisciplinar, aspectos técnicos

dos cuidados paliativos, implantados em uma organização hospitalar privada, na cidade

do Recife-PE;

c) identificar, segundo a percepção de gestores, equipe multidisciplinar e família/

cuidador, aspectos sociais dos cuidados paliativos, implantados em uma organização

hospitalar privada, na cidade do Recife-PE.

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1.2 Justificativas da pesquisa

1.2.1 Justificativas teóricas

Como foi exposto anteriormente, a atividade paliativista, no Brasil, ainda tem sido pouco

discutida na área acadêmica da saúde, entre gestores hospitalares, pelo poder judiciário,

administradores públicos e pela sociedade civil, em geral. Tem-se percebido que cada país tem

se adaptado de acordo com a própria cultura social de assistência à saúde pública (MACIEL,

2012; MELLO, LADEIRA, 2017).

Essa suspeita pode se aproximar de uma confirmação, na medida em que se observa o resultado

de uma pesquisa online, realizada para fins desta dissertação, sobre publicações referentes aos

cuidados paliativos, em organizações hospitalares, no Brasil. Quando se aborda o tema cuidados

paliativos e a cultura da morte, os resultados encontrados são em quantidades consideráveis. A

pesquisa entre 2014-2017 e quando da inserção dos construtos para o desenvolvimento da

fundamentação teórica, é observado que a quantidade e a qualidade das pesquisas não são

relevantes.

Quadro 1 – Levantamento sobre publicações, no Brasil (2014-2017).

Publicações Capes Sciello Pergamum Ebsco

Cuidados paliativos 3606 547 27 54

2014-2017 1107 208 25

Cuidados paliativos e família 103 96 6 57

2013-2017 48

2014-2017 53 27

Cuidados paliativos e equipe multidisciplinar 31 12 7 57

9

2014-2017 11

Cuidados paliativos e gestão hospitalar 15 103 1 57

2014-2017 38

Fonte: A autora, 2017.

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Os cuidados paliativos são atitudes necessárias para uma melhor abordagem aos pacientes que

se encontram fora de possibilidades terapêutica, entretanto, pouco é abordado no Brasil, do

ponto de vista educativo, e muitos profissionais de saúde desconhecem técnicas de paliação,

devido ao escasso número de publicações (GARCIA, 2012).

No Brasil, em 2011, a medicina paliativa foi inserida como “atuação” na área médica,

Resolução nº 1.973/2011, do Conselho Federal de Medicina (HERMES; LAMARCA, 2013).

Assim, nesse ano, foram certificados os primeiros médicos, pela Resolução nº 1.995/2012, nas

áreas de pediatria, clínica médica, anestesiologia, oncologia, geriatria, bem como na medicina

da família e comunidade. Em 2014, a Associação Médica Brasileira (AMB) inseriu os cuidados

paliativos na área de “atuação” da medicina intensiva e da cirurgia de cabeça e pescoço

(FERRIS, 2015). Diante desse fato, não há especialização ou centros de residência em medicina

paliativa e, consequentemente, não há profissionais com título de especialista nessa área, o que

pode ser, ainda, um fator ocasionador de insuficientes pesquisas.

De sua parte, o Conselho Federal de Enfermagem já vem apresentando os cuidados paliativos

como especialidade em enfermagem pela Resolução nº 570/2018 (CONSELHO FEDERAL DE

ENFERMAGEM, 2018), o que justifica uma maior frequência de pesquisa, tanto na área do

cuidar, como em gestão.

1.2.2 Justificativas práticas

Segundo Von Hohendorff e Melo (2009), o estudo da tanatologia é de fundamental importância

na graduação das ciências da saúde, a fim de reforçar a discussão sobre os cuidados paliativos

e promover a capacitação profissional especializada, para uma prestação de serviço efetiva.

Esse pensamento também é compartilhado por Azeredo, Rocha e Carvalho (2011), quando

compreendem que o estudo da morte deve proporcionar um novo comportamento para

graduandos e graduados, em vista a uma ação paliativista coerente, com respeito ao doente, à

família/cuidador e aos princípios básicos da cidadania; conscientizando-os que a morte está

para todos, que não existe imortalidade e não há vida sem morte.

Quanto aos gestores de organizações hospitalares públicas ou privadas, é importante que

adquiram uma mudança de postura diante da doença, não se fixando apenas na sua cura, pois

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pacientes fora de possibilidade terapêutica e suas famílias/cuidadoras precisam de resguardo

em suas decisões, proteção social e amparo, assim como afirma Frossard (2016). Essas

instituições devem ter como responsabilidade a interconexão entre doente-família/cuidador-

equipe multidisciplinar, por meio de uma gestão com amor, compaixão e respeito.

O poder público, de sua parte, precisa se responsabilizar pela assistência básica ou primária à

saúde, em nível ambulatorial, entendendo que não bastam somente os cuidados no sentido da

cura das diversas doenças, mas também, a conscientização sobre os cuidados paliativos, os

quais devem promover a dignidade do morrer. No caso das sociedades civil, jurídica e religiosa,

essas precisam, da mesma maneira, implementar essa discussão, para que o tabu da morte seja

amenizado.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O ritual da morte

A morte, bem como a sua aceitação ou negação, vai variar em função de hábitos, costumes e

modos de viver de uma comunidade, seja ela primitiva ou contemporânea, pois em princípio a

sua referência se fundamenta em aspectos culturais.

No Egito antigo, por exemplo, os mortos eram sepultados com roupas, alimentos, utensílios, na

concepção de que na outra vida, no pós-morte, poderiam usufruir dos bens materiais. Os índios

americanos, de suas partes, enterravam seus mortos com todos os seus pertences, na mesma

concepção da existência de vida pós morte (KLUBER-ROSS, 2016).

Cultura é um conceito antropológico e sociológico com múltiplas definições, que corresponde

à forma como uma comunidade expressa suas necessidades materiais e psicossociais, ou seja,

como uma comunidade define seu perfil de adaptação ao meio ambiente (MOTTA; CALDAS,

2009).

As configurações culturais estão previamente inscritas no inconsciente humano, em que as

condições ambientais internas e externas são responsáveis pelas combinações dos diversos

traços presentes. Estas combinações são os símbolos que correspondem à chave de uma cultura,

de uma comunidade humana (MOTTA; CALDAS, 2009).

Para Braz e Franco (2016), a morte corresponde a um construto sociocultural, político e

econômico, que envolve leis, valores, recursos humanos e dinheiro que, mesmo sendo igual

para todas as pessoas, se diferencia na forma do morrer, relacionando-se à classe social e

econômica, personalidade e outras variáveis, as quais podem ser denominadas de fatores

intrínsecos e extrínsecos.

Na idade Média, a morte era encarada com preparo e tranquilidade (SOUZA; BOEMER, 2005),

embora, na cultura da humanidade, tenha sempre se imaginado o ser humano como personagem

central em busca da sua imortalidade.

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A partir do século XX, a interdição do processo de morte tem sido acelerada, já que não se

morre em casa, mas sim, sozinho, solitário, em ambiente hospitalar — já não há mais emoção

ou perturbação da morte no ambiente familiar. Como afirma Moritz (2012) e Kovács (2012), o

morrer passou a acontecer não mais no domicílio, no aconchego da família, mas ao lado de

profissionais médicos e paramédicos, com equipamentos e medicamentos que perpetuam um

estado de impotência à cura. A morte passa, então, a ser dolorosa, solitária e assustadora.

A unidade de terapia intensiva, ao final do século XX, iniciou uma cultura de estimular a vida;

as pessoas passaram a morrer no ambiente hospitalar sem haver questionamento sobre a

dignidade desse ato. Sobre este aspecto, a medicina está sob um panorama dialético entre a

“verdade”, instituída pela ciência, e a “boa conduta”, debatida pela ética (MARTA et al., 2009).

Nessa mesma linha de raciocínio, Azeredo, Rocha e Carvalho (2011) chamam a atenção para a

dignidade e a paz do morrer, em contradição a um momento de temor, aflição e angústia, como

assim entendem Souza e Boemer (2005): para eles, a boa morte é aquela que ocorre quando o

indivíduo alcança uma idade avançada, que seja sem sofrimento, durante a sono ou em ambiente

hospitalar (MARTA et al., 2009).

Durante o desenvolvimento humano, a compreensão da morte tem sido dinâmica, desde a

infância as pessoas têm contato com as perdas, mas é na adolescência que se inicia o

entendimento do significado da morte (VON HOHENDORFF; MELO, 2009).

Nos primeiros meses de vida, a criança experimenta a sensação de morte por breves momentos

em que há a ausência materna. Essa vivência de separação, traz como consequência a sensação

de desamparo, de abandono, não poder sobreviver sem a mãe, é uma sensação forte, que pode

ser comparada à morte (KOVÁCS, 2012).

A concepção da morte para as crianças em torno de 7 anos pode ser explicada pela teoria de

Jean Piaget, em que pode se especificar os conceitos de irreversibilidade (alguém que morre

não volta a viver), da não funcionalidade (após a morte não há sinais vitais) e da universalidade

(todos os seres vivos morrem). A criança entende a concepção de morte diante do entendimento

da irreversibilidade (VON HOHENDORFF; MELO, 2009).

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Na adolescência o jovem constrói sua identidade, entende o significado da morte, mas não se

importa com a mesma, se crê imortal e por muitas vezes é a forma de dar sentido à vida. O herói

infantil pensa que pode desafiar o mundo, o herói adolescente acha que pode desafiar o mundo

e com certeza pode, o que resulta, por muitas ocasiões, o abuso as drogas ilícitas, direção

perigosa, a necessidade de viver intensamente, traz como consequência ferimentos e morte

(KOVÁCS, 2012; KOVÁCS; RODRIGUEZ, 2005).

Na idade adulta há a preocupação com estudos, casamentos, filhos, a morte significa frustação,

tristeza, dor, até porque nesta fase da vida a morte transforma as relações na família (VON

HOHENDORFF; MELO, 2009). O “apego” adulto é a tendência que o indivíduo tem em se

esforçar para manter proximidade e contato com uma pessoa ou várias, que ofereçam segurança

física ou psicológica. Este tipo de “apego” é diferente daquele sentido na infância, pois por

haver maior reciprocidade (BRAZ; FRANCO, 2016).

Interpreta-se que crianças que tiveram suas necessidades atendidas na infância, as quais lhes

deram segurança e proteção, apresentam uma organização emocional maior diante do luto da

morte, o que não ocorre com crianças em que suas necessidades não foram atendidas, como

confiança e segurança (BRAZ; FRANCO, 2016).

A morte passa a ser uma intrusa à vida das pessoas, e uma ameaça a onipotência do profissional

de saúde, o que ocasiona por muitas vezes a “conspiração do silêncio”, que é a situação em que,

a doença grave, pode ser encarada como uma situação comum, isso pode acarretar angustia, aos

pacientes, pelo não conhecimento da realidade de sua doença (KLUBER-ROSS, 2016). Essa

situação pode ocasionar no indivíduo doente, a impossibilidade de escolha de como este deseja

viver seus últimos dias e por vezes impede a resolução de pendências em situações mal

resolvidas (SOUZA; BOEMER, 2005).

Na velhice, por sua vez, a morte é encarada como natural, uma possibilidade real, não deixando

de salientar que os avanços médicos, fatores culturais, o luto vivenciado durante a vida,

contribuem como fatores antagônicos na aceitação da morte (VON HOHENDORFF; MELO,

2009).

Constata-se um aumento do número de pessoas que envelhecem, como consequência do

advento dos antibióticos, vacinas, quimioterapia, que eliminaram epidemias, que foram na

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história da humanidade, praticamente, as grandes responsáveis por diversas mortes (HERMES;

LAMARCA, 2013).

A morte corresponde um construto sociocultural, político e econômico, envolve leis, valores,

recursos humanos e dinheiro que mesmo sendo igual para todas as pessoas se diferencia na

forma do morrer, relacionando-se a classe social e econômica, personalidade e outras variáveis,

as quais podemos denominá-las de fatores intrínsecos e extrínsecos, podendo serem

exemplificados (BRAZ; FRANCO, 2016).

Segundo Braz e Franco (2016), existem fatores que favorecem proteção ou complicação para o

luto. O Quadro 2, especifica fatores que podem favorecer a proteção ao luto complicado,

ocasionando uma melhor administração do sentimento da perda.

Quadro 2 – Fatores que podem favorecer o luto

Fatores Justificativas

Apego seguro na infância

Pessoas quando adultas, demonstram maior

capacidade em ativar a resiliência, o luto é menos

traumático

Qualidade do vínculo Uma relação sem conflito, harmoniosa, tem

complicador menor com relação ao luto

Tipo de apoio subjetivo ao enlutado O enlutado necessita de apoio adequado e saudável

Realização de rituais O procedimento da despedida com rituais, por muitas

vezes, ameniza a dor da perda

Luto antecipatório É importante se aperceber da morte para que haja a

possibilidade de resolver pendências

Tipo de morte A morte por doença crônica sem sofrimento, permite

o processo de despedida menos doloroso

Luto reconhecido pelo enlutado e pela sociedade Importante reconhecer, acolher, se sensibilizar com o

luto do enlutado

Resiliência

Dependendo da personalidade do enlutado e se houve

na infância, o apego seguro, haverá flexibilidade,

criatividade pelo enlutado e melhor administração da

perda

Fonte: Adaptado de Braz e Franco (2016).

A interdição do processo de morte tem sido acelerada, podendo este fato ser consequência do

deslocamento da morte, já que, não se morre em casa, em família, não há mais emoção ou

perturbação da morte no ambiente familiar. Hoje o indivíduo morre sozinho, solitário, em um

leito hospitalar, longe da família. Não se discute os avanços nos campos dos saberes e

tecnológicos, o que pode influenciar na dignidade e na paz do morrer (AZEREDO; ROCHA;

CARVALHO, 2011).

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No Quadro 3, estão relacionados fatores que podem complicar o luto, o que ocasionará situações

em que a perda é inaceitável, sofrida, podendo ocasionar consequências orgânicas, emocionais

e sociais, danosas ao enlutado.

Quadro 3 – Fatores que podem complicar o luto

Fatores Justificativas

Apego inseguro na infância

Pessoas se tornam desorganizadas, repetem

comportamentos fracassados, não aceitam a

situação de perda

Qualidade do vínculo Relação com conflitos tem complicador maior na

aceitação da morte

Ciclo vital

A morte de crianças e jovens acarreta

desorganização do enlutado, na velhice a morte é

mais aceita

Percepção do apoio ao luto pelo enlutado Comunicação tumultuada, desavenças familiares e

sociais, ocasionam o luto conflituoso

Tipo de morte

Morte violente, repentina, doença aguda, não

permite despedida e traz como consequência o luto

com revolta

Não localização do corpo Não realizar o ritual da morte dificulta a aceitação

da morte

Personalidade do enlutado Transtorno psiquiátrico, dificuldade para adaptação

a novas situações dificulta a aceitação da morte

História de vida Perdas múltiplas e sucessivas pelo enlutado

ocasionam revolta diante de uma nova perda

Luto antecipatório Afastamento do ente querido, traz como

consequência culpa no enlutado após a morte

A pessoa que morreu e o seu significado A morte de filhos, cônjuge, pais, se comportam

como fator complicador

Luto não reconhecido pelo enlutado e pela

sociedade

O enlutado não vive seu processo do luto, não aceita

a perda, por defesa, “tenho que ser forte” ou por

situação de gênero “homem não chora”.

Fonte: Adaptado de Braz e Franco (2016).

Na Grécia antiga, em 1000-400 a.C, por exemplo, a velhice era tratada de forma depreciativa e

até mesmo com sentimento de pavor, ao mesmo tempo em que se cultuavam o corpo jovem e

saudável. Sobre esse aspecto, o filósofo e poeta Egípcio Ptah-Hotp descreveu a face cruel do

envelhecimento, denominando-a depressiva e desoladora (SANTOS, 2001).

Na Índia do século XXI, ao contrário, a velhice tem sido sinônimo de respeito: não há debate

angustiado da família, sobre o que fazer com seus velhos, esses são amparados e reverenciados

pelos mais jovens, os quais tocam seus pés em demonstração de respeito e são consultados

sobre assuntos importantes entre eles; ocupam posição de honra na família (GAWANDE,

2017).

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Harold Kusher, rabino americano escreveu: “Pertença às pessoas; aceite a dor como parte de

sua vida; saiba que você fez algo importante” (KUSHER apud BIFULCO; CAPONERO, 2016,

p. 173). Beauvoir (1990 apud SANTOS, 2001), descreveu percepções de personagens gregos

como Minermo (630 a.C), sacerdote em Colofos, em que falava: “Que vida? Qual o prazer sem

Afrodite de ouro?”; Anacreonte cantava: “Envelhecer é perder tudo que constitui a doçura da

vida”. Tito dizia: “Prefiro morrer a envelhecer”. Mesmo diante de uma cultura em que a

juventude é admirada, há aqueles em que por momentos, associam a velhice à sabedoria, como

Homero. No caso de Sólon, ele falava: “Avançar em anos, nunca deixo de aprender” (SANTOS,

2001).

O envelhecer no século XXI se apresenta em um panorama de opostos: de um lado, a velhice

se comporta como privilégio; de outro, a melhor qualidade de vida e a medicina promovem um

prolongamento da vida, por meio da cura ou controle clínico de doenças ou sentença, em que a

vida é mantida sem qualidade. A morte, pode não ser uma grande amiga do ser humano, mas é

sua companheira, desde o momento do seu nascimento.

Percebe-se que pessoas idosas, em geral, não se preocupam diretamente com a morte, sabe-se

que com boa alimentação, controle da pressão arterial, cuidados médicos necessários e com um

pouco de sorte, podem com frequência viver e administrar bem sua vida por um longo tempo.

A diminuição da incidência de morte súbita e o aumento dos índices de sobrevida, fazem com

que as pessoas estejam mais preocupadas com as possibilidades das perdas, com as

necessidades diárias da vida, debilidades físicas ou mentais, que podem alterar a capacidade

individual de independência (GAWANDE, 2017).

O envelhecimento é um processo que se transforma, pode ser acelerado ou reduzido, bloqueado

por algum tempo e até mesmo revertido, em que cada ser humano é responsável pelo seu próprio

envelhecer (SANTOS, 2001).

Enfim, a designação para combater as doenças, pelo que se tem conhecimento, existe, desde à

pré-história, na era romana, pelo papel do curandeiro; até porque, o adoecer sempre tem sido

uma ameaça ao grupo social, aquele em que está inserido o doente (FERRIS, 2015).

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De maneira geral, com os avanços tecnológicos e da ciência, a sociedade passou a ter uma maior

sobrevida; sendo assim, doenças passaram a ser evitadas, controladas e ou curadas. A

organização hospitalar passou a ser, por muitas vezes, o lugar onde abordagens insuficientes,

exageradas e desnecessárias, contribuíram para a manutenção de doentes, em que a mortalidade

é negada.

A cura de doenças, antes inimaginável, passou a ser possível diante da melhor qualidade de

formação na área médica, associado a uma crescente tecnologia em medicamentos e suportes

mecânicos de promoção à vida. Os médicos, nessas últimas décadas, passaram a ser

profissionais Tanatolíticos (KOVÁCS, 2012) ou destruidores da morte.

Pensa-se, porém, como afirma Kovács (2012) que é chegado o momento de se posicionar com

uma atitude diferente, diante de doentes que se encontram fora de possibilidades terapêutica,

sem possibilidade de cura. Na década de 1960, Cicely Sanders, enfermeira e assistente social,

iniciou uma cultura que consistia em cuidar de doentes, os quais se encontravam fora de

possibilidades terapêuticas. A finitude, mesmo que seja inevitável, carece de ser vista como um

importante momento da vida, que precisa ser bem vivida.

Lasch (1978 apud MARTA et al., 2009), já afirmava, que a humanidade vive em cultura

narcisista, em que há dificuldade de se discernir, como humanos. Vive-se em um mundo de

fantasias, de aparências, em que a realidade pode não ser valorizada. A negação da morte, pois,

tenta comprovar que não há finitude e que os humanos, não têm limite, ou seja, prepondera a

sensação de imortalidade.

2.1.1 Cultura e a organização hospitalar

Compreendendo a cultura brasileira, se entende como as organizações se estruturam no seu

território: costumes, crenças, valores e artefatos são fatores importantes na sua moldagem, pois

como define Schein (1987 apud MOTTA; CALDAS, 2009), a cultura organizacional está

intimamente relacionada com a cultura nacional de sua sociedade.

Como é conhecido, a cultura brasileira é iniciada pelos povos indígenas, portugueses e negros

africanos, essa miscigenação de certo, deu origem às várias subculturas, as quais, são

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delimitadas por regiões no território brasileiro. Pode-se assim dizer que, raças, etnias, classes

sociais, instituições e organizações são formadores de cultura (MOTTA; CALDAS, 2009).

De suas partes, as organizações empresariais possuem cada uma sua cultura, essa define como

as atitudes devem ser tomadas, uma vez que a cultura é a soma dos hábitos e das expectativas

compartilhadas (GAWANDE, 2017).

Quanto às organizações hospitalares, Foucault (1993 apud SEBASTIANY; CAVEIÃO, 2017)

quando escreveu a Microfísica do poder, salientou que na Europa, até o século XVIII, o hospital

não era um lugar para cura; era administrado por religiosos ou por aqueles que almejavam o

perdão dos pecados, pelo ato da caridade. Excluía os pobres e, para os que estavam morrendo,

não havia preocupação com a cura. Assim, era conhecido como um “morredouro”, local

somente frequentado pelos médicos, chamados de “doutores das pragas”.

No período medieval, o hospital era considerado um local de exílio para os indesejáveis; lá, os

“grandes médicos” não adentravam, pois os que frequentavam tinham sua reputação manchada

(SEBASTIANY; CAVEIÃO, 2017).

A medicina hospitalar iniciou a partir do século XIX, quando foi auferida aos profissionais, a

sapiência e o respeito, bem como a oportunidade da educação médica, nesses recintos. Os

aprendizes passaram a ser supervisionados, a beira do leito dos doentes internados

(SEBASTIANY; CAVEIÃO, 2017).

No século XX, já se falava sobre a frustração da morte, o erro médico e a interação entre a

equipe médica, o doente, a família e a organização hospitalar, na busca de um melhor

entendimento sobre o ser humano e seus aspectos psicológicos, iniciando, assim, a humanização

do ato médico (KOVÁCS, 2012).

A partir do século XX, a medicina pública preventiva iniciou e transformou o curso da vida

humana, aumentou a longevidade, a expectativa da morte se distanciou do cotidiano, envelhecer

e morrer passaram a ser questionados pela sociedade, em termos de valores, dinâmicas

familiares e as estruturas da saúde (GAWANDE, 2017; SEBASTIANY; CAVEIÃO, 2017).

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Após a Segunda Guerra Mundial, houve transformação na cultura hospitalar: as sulfas,

penicilinas e diversos antibióticos, se tornaram disponíveis; a tecnologia tornou-se uma aliada

e o hospital passou a ser um lugar em que a esperança e a cura predominavam, ocasionando a

mistificação do médico como um herói (GAWANDE, 2017).

Nesse tempo, a organização hospitalar também passou a ser um local de conflitos, com aspectos

racionais, técnicos, subjetivos e liberdade de expressão, onde a palavra de ordem era: salvar e

curar. Em um mesmo ambiente hospitalar, ainda existem unidades em que a morte é vista como

inesperada; em situação oposta, outras a entendem como inevitável. Nesse contexto

diferenciado, é fundamental que a gestão hospitalar ofereça subsídios de suporte emocional à

equipe médica-doente-família/cuidador (KOVÁCS, 2012).

Embora a morte tenha se institucionalizado no ambiente hospitalar, não há quase discussão

sobre as suas implicações para aqueles que lá atuam; em contrapartida, se intensifica a

mecanização na tentativa de amenizar ou afastar sentimentos (SEBASTIANY; CAVEIÃO,

2017).

No início dos anos 1980, se iniciou uma abordagem diferente, na gestão hospitalar, com a

introdução do profissional da psicologia nesse ambiente, principalmente nas unidades de

doenças infectocontagiosas, oncologia, neurologia, nefrologia, pediatria e terapia intensiva, em

que a cura pode ser inviável (KOVÁCS, 2012).

Nos países que apresentam índices de pobreza considerados, se observa que as mortes

acontecem nos domicílios, uma vez que as pessoas dificilmente têm acesso à saúde pública, ao

que se refere aos diagnósticos e tratamentos profissionais. Entretanto, em países em que há uma

maior renda da população, a assistência médica torna-se mais abrangente e disponível; nestes

casos, a morte pode se dar em ambientes hospitalares. Nota-se que também há mais busca por

qualidade de vida; assim, mesmo por ocasião da doença, a morte pode acontecer no aconchego

da família, no domicílio (GAWANDE, 2017).

Finalmente, na gestão hospitalar do século XXI, a morte não pode ser negligenciada; em geral,

os gestores formalizam ações de apoio, que fazem a diferença na política de humanização à

saúde das pessoas. Neste sentido, e independentemente do conhecimento da história, dos ritos

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culturais, da arte, da poesia, da literatura, das pesquisas, reflexões e vivências devem ser

possíveis, a fim de incluir a educação para a morte (SEBASTIANY; CAVEIÃO, 2017).

A predominância da tecnologia, a divisão da área médica em especialidades e

subespecialidades, levam à compreensão de que o ser humano não pode ser tratado em

“pedaços”; mas, pela humanização da medicina, pode-se entender o doente em sua

integralidade. Nesta perspectiva, a morte e o luto devem ser entendidos como naturais e

importantes, ao invés de se tentar prolongar a vida, muitas vezes, de uma forma desumana

(GAWANDE, 2017).

Sendo assim, na gestão hospitalar re-humanizada, é importante que a compreensão da morte e

do luto se faça com educação permanente, nas unidades hospitalares, para que haja melhoria na

relação médico-paciente-família. A organização hospitalar contemporânea necessita discutir

mais esses temas, pois a família/cuidador carece de cuidados, de amparo, uma vez que o doente

precisa se sentir competente para fazer a vida como sua responsabilidade (KOVÁCS, 2012).

Neste sentido, a organização hospitalar que se proponha a oferecer assistência em cuidados

paliativos, por exemplo, necessita priorizar um ambiente de acolhimento e humanização, bem

como de bem-estar físico, mental, social e espiritual, já que as perspectivas de cura não mais

existem. O doente é o foco de atenção e a humanização do cuidar é prioridade, não mais a

enfermidade (GARCIA; RODRIGUES; LIMA, 2014).

A abordagem da assistência hospitalar humanizada pela equipe multidisciplinar é importante

em todas as fases da doença, da morte, se estendendo até ao luto. No entanto, alguns hospitais

podem negar tudo isso, por temor em lidar com a morte. Nesses casos, a ciência desloca a morte

para o ambiente hospitalar e afasta o doente do seio da família, do seu próprio lar (KLUBER-

ROSS, 2016; SEBASTIANY; CAVEIÃO, 2017).

Por outro lado, a equipe multidisciplinar, que atua na especialidade paliativista, também

necessita de cuidados da organização hospitalar: é importante que ela se sinta amparada, que

não se aflija e possa se posicionar próxima daqueles que devem cuidar (KOVÁCS, 2012).

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É mandatório que as organizações hospitalares disponham de quarto individual para o doente

em paliação e ainda, acomodação satisfatória para a família/cuidador, como também, a ordem

de visitas e a alimentação (MACIEL, 2012).

Em uma organização hospitalar que se propõe à prestação de serviço em cuidados paliativos, é

de comum acordo os princípios de atuação: reconhecimento da dor, observância de outros

sintomas a fim de tratá-los, buscar o alívio do sofrimento psicossocial, bem como

espiritual/existencial, prover a família e pessoas próximas ao doente, manutenção de uma

comunicação humanizada entre equipe multidisciplinar-paciente-família/cuidador-amigos,

respeito à verdade e atuação multiprofissional constante (DOYLE, 2009).

Costa Filho et al. (2008) têm uma compreensão semelhante, sobre a abordagem terapêutica de

cuidados paliativos; para eles, a organização hospitalar deve dispor de uma equipe

multidisciplinar constituída de médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos,

psiquiatras, assistentes sociais, farmacêuticos, conselheiros espirituais e sacerdotes.

Acrescentam, ainda, que a medicina paliativa consiste em identificar e gerenciar todos os

problemas da internação clínica no âmbito físico, psicológico, espiritual ou social. A relação

organização hospitalar-paciente-equipe multidisciplinar-família/cuidador, precisa de

entendimento, respeito e amor. A Figura 1, abaixo explica de forma simplificada um modelo

de rede integrada em cuidados paliativo.

Figura 1 – Modelo de rede integrada em cuidados paliativos

ASSISTÊNCIA DOMICILIÁRIA

AMBULATÓRIO HOSPEDARIA (HÓSPICE)

UNIDADE DE INTERNAÇÃO

Fonte: Maciel (2012).

A unidade especializada em cuidados paliativos, denominada Hòspice e a unidade de

atendimento a pacientes em ambulatório ou domiciliar, não fazem parte deste estudo.

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Segundo Doyle (2009), é importante que a organização hospitalar que se proponha a iniciar

assistência em cuidados paliativos, tenha como objetivo: resolução ágil para qualquer

intercorrência, cuidados pertinentes ao doente e à família/cuidador, cuidados prolongados para

doentes incapacitados, reabilitação para pacientes gravemente incapacitados, além dos cuidados

com os pacientes em falência múltipla funcional avançada.

De acordo com Maciel (2012), é fundamental que a organização hospitalar que recebe pacientes

para paliação conheça os diagnósticos mais frequentes, as necessidades do doente e da sua

família/cuidador; finalmente, a cultura em paliação na cadeia da organização hospitalar já

existente, a fim de estimulá-la.

Na assistência aos cuidados paliativos, é primordial que haja resposta efetiva às seguintes

perguntas: a organização hospitalar tem recursos materiais e humanos para o trabalho em

paliação? Qual investimento para efetuação do projeto em paliação? Quais as resistências, com

relação a equipe multidisciplinar? Há necessidade de treinamento para a equipe

multidisciplinar? (MACIEL, 2012).

A mudança de cultura em uma organização hospitalar necessita ser bem administrada e

universalizada em todos os seus setores, para que seja eficiente. A enfermaria de cuidados

paliativos precisa ser bem gerida, a equipe multidisciplinar deve ser composta por médicos,

enfermeiros técnicos em enfermagem, psicólogo, assistente social, capelão de caráter

ecumênico, fisioterapeuta, farmacêutico clínico, voluntários, não deixando de ressaltar a

importância de outros profissionais e seus colaboradores (DOYLE, 2009).

Uma organização hospitalar que se propõe a oferecer serviço em cuidados paliativos, é

fundamental que integre os cuidados paliativos com as especialidades médicas existentes no

serviço hospitalar. O internamento hospitalar deve estar disponível por 24 horas, o acesso de

profissionais médicos especialistas, que não pertencem a essa organização hospitalar precisa

ser permitida, pois muitos doentes são assistidos em domicílio, na assistência primária. A

supressão da sensação de abandono, a garantia da segurança ao paciente – família /cuidador

com respostas rápidas, desmistificar a morte e estimular o ensino científico em cuidados

paliativos, promovem a disseminação da cultura de cuidados paliativos, na unidade hospitalar,

(MACIEL, 2012).

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As desvantagens precisam ser levadas em consideração: há organização hospitalar em que não

há possibilidade de uma maior integração entre o paciente e o meio ambiente, como no caso de

áreas verdes ou jardins; o agravamento do humor, observado em pacientes idosos; ainda, nos

casos de pequenos hospitais, em que o número de leitos para cuidados paliativos é menor que

10 unidades, poderá não compensar o investimento, já que é importante uma equipe

multidisciplinar para assistência, paciente-família/cuidador (MACIEL, 2012).

As necessidades para implantação de uma unidade de cuidados paliativos, precisam dispor de

determinados suportes e estímulos, tais como: impressos específicos para evolução clínica dos

paciente - templates no caso de prontuários eletrônicos, pacientes submetidos à alta hospitalar,

precisam continuar inseridos no ambiente hospitalar para qualquer intercorrência, a medicação

precisa ser padronizada com dispensação fácil, na alta hospitalar; enfim, facilidade para

internação de urgência ou eletiva, assim como transferência entre clínicas (MACIEL, 2012).

Algumas organizações hospitalares investem na criação de um grupo de profissionais bem

treinado, o qual assessora as diferentes especialidades, contribuindo para uma melhor relação

paciente-família/cuidador (DOYLE, 2009). Entretanto, esta equipe não se responsabiliza pelo

paciente em paliação de forma integralizada; há o que se pode denominar de Grupo Gestor.

Essa relação corresponde a maioria dos serviços que se designam a fazer cuidados paliativos

no Brasil (MACIEL, 2012).

Finalmente, pode-se dizer que, no mundo globalizado, a medicina paliativa vai além dos rótulos

da cura, religião, moralidades e culturas sociais, ela qualifica, desenvolve o aprendizado,

resgata o amor, o qual, quando se apresenta em tempo apropriado, torna a medicina geral mais

digna dos homens.

2.2 Cuidados paliativos

O verbo paliar, vem do latim palliare, palium, que significa proteger, sendo mais comumente

utilizado como remediar, dissimular, adiar ou protelar. Cuidados paliativos é uma filosofia de

vida, que representa uma extensão do tratamento curativo da medicina, em que consiste no bem-

estar do paciente e da família/cuidador, assessorando-os na tomada de decisões, estimulando o

crescimento e a evolução pessoal (COSTA FILHO et al., 2008). Para Doyle (2009), a

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denominação, cuidados paliativos, se refere preferencialmente aos cuidados de saúde

relacionados à especialidade em enfermagem.

Pode-se dizer que a prática dos cuidados paliativos teve início no século IV, quando uma

médica, romana, religiosa, Fabíola, fundara abrigo para pobres, doentes e peregrinos, na cidade

de Óstia, na Itália, com a expectativa de assisti-los. Para esta instituição, escolheu, o nome

Hóspice, do latim, hospedar. Essa prática assistencial serviu de exemplo aos mosteiros e

conventos, nos séculos VI e VII, que passaram a receber viajantes exaustos e doentes, em

consequência das Cruzadas. Lamentavelmente, no século XV, vários hóspices foram fechados,

em consequência da dissolução de muitos mosteiros, após a reforma religiosa, na Inglaterra

(FERRIS, 2015; PINTO, 2018).

Com esse mesmo sentimento, em 1842, Madame Jeane Garnier fundou o Dames de Calvarie

em Lion, França, o qual evoluiu para Federation des Associations des Dames de Calvaries, com

sete hóspices incluindo uma unidade na cidade de Nova York. Em 1997 a irmandade Irish

Sisters of Charity fundou o Our Lady’s Hospice, em Dublin e em 1905 foi fundado o Saint

Joseph’s Hóspice, em Londres (FERRIS, 2015).

No entanto, a vontade e a compreensão pelos cuidados assistenciais, parece que eram mais

fortes. Foi quando, mais tarde, no século XIX, surgiram as instituições de caridade da ordem

de São Vicente de Paula, que também visava o acolhimento de pobres, órfãos e doentes. Estas

foram se desenvolvendo, até que passaram a ter características de hospitais (FERRIS, 2015).

Na década de 50, a compreensão do hóspice estimulou Cicely Sanders, enfermeira e assistente

social, a fundar o Saint Cristopher’s, onde veio a desenvolver educação e pesquisa, além de

cuidados paliativos; em virtude de sua dedicação à assistência, é reconhecida como a fundadora

do movimento do hóspice moderno.

A cultura em cuidados paliativos, nos Estados Unidos, somente veio a dar sinal, na década de

70, por meio da ação de uma enfermeira, Florence Wald, totalmente independente do sistema

de saúde vigente. O termo cuidados paliativos passou a ser entendido como sinônimo de

hóspice, segundo o Dr: Balfour Mount, urologista no Canadá; também assim era utilizado, nos

Estados Unidos, como denominação popular, para descrever o local em que os doentes eram

submetidos ao programa de cuidados em paliação, assim como para designar a filosofia em

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cuidados paliativos — “ele está muito doente, ele precisa de hóspice”. Mais adiante, no início

da década de 80, surgiu a prática em cuidados paliativos, em domicílio, além de ter sido

sistematizado, nos Estados Unidos, pela legislação Medicare Hospice Benefit (FERRIS, 2015).

No Brasil, o primeiro serviço de cuidados paliativos foi iniciado no Hospital das Clínicas do

Rio Grande do Sul, pelo Departamento de Anestesiologia, intra hospitalar, em 1983. Mais

adiante, em 1989, surgiram o Centro de Estudos e Pesquisas Oncológicas (CEPON), em

Florianópolis e no Rio de Janeiro, bem como o Grupo Especial de Suporte Terapêutico

Oncológico (GESTO), no Hospital do Instituto Nacional do Câncer (INCA) (COSTA FILHO

et al., 2008).

Em 1997, foi fundada a Associação Brasileira de Cuidados Paliativos (ABCP), com o início do

curso sobre cuidados paliativos, pela Universidade de São Paulo. No ano seguinte, aconteceram

três acontecimentos importantes: primeiro, foi inaugurado o Hospital Unidade IV, exclusivo

para assistência paliativa, por iniciativa do Instituto Nacional do Câncer (MATSUMOTO,

2012); depois, foram realizados dois Eventos: o 1º Congresso de Cuidados Paliativos e o Fórum

Nacional de Cuidados Paliativos. Em 1999, o Instituto Nacional do Câncer iniciou o curso sobre

Cuidados Paliativos (FERRIS, 2015).

Nos anos 2000, seguiram-se mais ações em prol da prática dos cuidados paliativos; foram

inauguradas: uma enfermaria, no Hospital do Servidor Público, do Estado de São Paulo

(HSPE/SP) uma unidade de tratamento, no Hospital do Servidor Público Municipal de São

Paulo (HSPM/SP) e fundada a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), onde se

discute a regularização profissional, com critérios de qualidade (FERRIS 2015;

MATSUMOTO, 2012).

Nesse processo de acreditação, sobre a importância dos cuidados paliativos e, em meio à

mudança de paradigma, sobre a compreensão da morte, também como uma ação médica, foi

realizada uma pesquisa junto a 194 países (MERIEVERTON, 2018) em 2006, para fins de

interesse da Aliança Mundial de Cuidados Paliativos (World Wide Palliative Care Alliance)

sobre a situação dos cuidados paliativos em diversos países; assim, se apresentou o resultado

(WRIGHT et al., 2008):

a) sem atividade paliativa conhecida (nível 1);

b) com alguma atividade paliativa, centros isolados público ou privado (nível 2);

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c) com atividade paliativa localizada, sem integração ao sistema de saúde pública (nível

3);

d) com atividade paliativa integrada ao sistema de saúde pública (nível 4).

O Brasil ficou situado entre os 80 países, no nível 3; 35 deles se aproximaram do nível 4: Chile,

Costa Rica, Argentina, Austrália e África do Sul, além de outros situados no continente

europeu; no nível 1 haviam 79 países, sem qualquer informação sobre cuidados paliativos

(LYNCH; CLARK; CONNOR, 2006; WRIGHT et al., 2008) conferir a Tabela 1.

Tabela 1 – Assistência médica pelos cuidados paliativos

Países População assistida (mil/hab)

Reino no Unido 140.000

Costa Rica 1.166.000

Brasil 113.315.000

Fonte: Wright et al. (2008).

Esta mesma pesquisa foi repetida, em 2011, quando um novo mapa sobre os cuidados paliativos

foi apresentado. Foram investigados os mesmos 194 países; ao resultado, englobaram quatro

subgrupos aos níveis pré-determinados, segundo a pesquisa anterior, em 2006, ficando mais

detalhada a atuação em cuidados paliativos (LYNCH; CLARK; CONNOR, 2013):

a) sem atividade em cuidados paliativos (nível 1);

b) com alguma atividade em cuidados paliativos conhecida (nível 2);

c) com atividade em cuidados paliativos conhecida sem integração com o serviço de saúde

pública (nível 3);

d) com acesso à morfina restrito (nível 3.a);

e) com acesso à morfina viável, treinamento de profissionais em centros especializados

(nível 3.b);

f) com acesso à morfina viável e assistência paliativa em crescimento independente do

sistema de saúde pública (nível 3.c);

g) com atividade em cuidados paliativos conhecida, com integração com o serviço de saúde

pública (nível 4.);

h) com acesso à morfina e outras drogas potentes para alívio da dor, centros de ensino e

treinamento em paliação, preocupação com o cuidar em paliação pelos profissionais de

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saúde e pela comunidade, interesse no conceito nacional em organizações em cuidados

paliativos (nível 4.a);

i) com acesso à morfina e outras drogas potentes para alívio da dor, engajamento de

universidades, sociedade, organizações em cuidados paliativos, número crescente de

serviços em cuidados paliativos, existência de uma organização nacional em cuidados

paliativos (nível 4.b).

Quando da pesquisa em 2006, havia 115 países com atividade paliativa, nesta última pesquisa,

em 2011, 136 países tinham atividade paliativa (aumento de 9%). Na América do Sul, o Chile

se encontrava no nível 4a, Argentina 3b, Brasil 3a; Canadá, Estados Unidos da América, Europa

Ocidental e Escandinávia se encontravam no nível 4b. O maior crescimento em cuidados

paliativos ocorreu nos países africanos, pelo suporte do Diana Princess of Wales Memorial

Fund. Após 2012, têm sido feitas novas pesquisas, as quais ainda são desconhecidas (LYNCH;

CLARK; CONNOR, 2013).

Sobre essas divisões, Hermes e Lamarca (2013) subdividiram a assistência paliativa, em três

níveis: primário, em nível ambulatorial ou hóspice, extra hospitalar; secundário e terciário nas

organizações intra hospitalares.

Nesse avanço, o Brasil, lançou, em 2008, a Revista Brasileira de Cuidados Paliativos; em 2009,

o Conselho Federal de Medicina (CFM), inseriu o tema no Código de ética médica, como

princípio fundamental (FERRIS, 2015; MACIEL, 2012).

Em 2010, os Ministérios da Saúde e da Educação, bem como o Conselho Federal de Medicina

e a Associação Médica Brasileira (AMB) iniciaram uma discussão sobre a necessidade dos

cuidados paliativos, na rede pública de hospitais (MACIEL, 2012).

Enquanto no Reino Unido, a importância dos cuidados paliativos foi reconhecida como

especialidade médica, desde 1987, no Brasil, somente em 2011, a Medicina Paliativa foi

incluída na área médica, como atuação e não especialidade pela Resolução nº 1.973/2011, do

Conselho Federal de Medicina (HERMES; LAMARCA, 2013).

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Em 2013, pela Resolução nº 1.995/2012, a medicina paliativa é inserida como área de atuação

na pediatria, clínica médica, anestesiologia, oncologia, geriatria, bem como na medicina de

família e comunidade (FERRIS, 2015).

Em 2014, a Associação Médica Brasileira reconheceu os cuidados paliativos como área de

atuação, tanto na medicina intensiva, quanto em cirurgia de cabeça e pescoço (FERRIS, 2015).

O progresso dessa filosofia de tratamento também se beneficiou do II Fórum de Cuidados

Paliativos, promovido pelo Conselho Federal de Medicina, em São Paulo, no ano 2016; lá, foi

definido que eles precisam ser exercidos com interação ao sofrimento do doente, em uma

abordagem holística para a promoção da dignidade humana em que a paliação vai além do

paciente e alcança a família. Esta compreensão vai no mesmo sentido da definição emitida por

Maria Gorete Sales, presidente da ANCP: “medicina paliativa é uma abordagem que protege

uma pessoa de sintomas e do sofrimento de doenças graves que ameaçam a vida”

(ENTIDADES..., 2016, p. 10).

No Encontro Latino Americano sobre o fim da vida, em 2017, no Rio de Janeiro, o presidente

do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital, afirmou: “Os avanços técnicos científicos nos

desafiam cada vez mais à manutenção do bom senso, evitando-se por exemplo a distanásia”.

Neste encontro, foi enfatizado a importância da medicina paliativa, que não estende ou abrevia

a vida, mas assegura o bem-estar possível, a necessidade de a sociedade conhecer os riscos da

legislação referente à validação da eutanásia e o dever médico na preservação da vida

(DILEMAS..., 2017, p. 9).

Diante de denominações confusas, quanto à prática em cuidados paliativos, é importante fazer

a distinção entre: eutanásia, distanásia e ortotanásia. No primeiro caso, a morte é provocada por

sentimento de piedade; há a antecipação dela, por compaixão ou piedade. Pode ser passiva,

quando há omissão médica ao suporte mantenedor à vida e ativa, quando a ação médica é usada

para com o intuito de promover fim à vida. No segundo, é o prolongamento artificial da vida,

com sofrimento, quando não há possibilidade de cura. Finalmente, no terceiro, a morte acontece

pelo seu processo natural, sendo o oposto da eutanásia (REDE DE ENSINO LUIZ FLÁVIO

GOMES, 2017).

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Nos países menos desenvolvidos, os cuidados paliativos são de fundamental importância para

a sociedade, pela alta incidência de diagnósticos em estágios avançados da doença, em que o

tratamento não consegue ser efetivo (LYNCH; CLARK; CONNOR, 2011).

O cuidado paliativo tenta entender o homem como um todo, qualquer que seja sua idade, sexo,

educação, classe social, raça, idioma, cultura, crença ou doença, valorizando suas necessidades

físicas, emocionais, sociais e espirituais. Todos os doentes descrevem o mesmo sofrimento, as

mesmas necessidades e respondem igualmente à paliação, não se diferenciando em sua cultura

ou em seus credos (DOYLE, 2009).

As ações paliativas se iniciam no momento do diagnóstico, se desenvolvendo com a terapêutica,

podendo modificar o curso da doença. Na fase final da vida, os cuidados paliativos se

intensificam e se estendem até o período de luto, individualmente (MACIEL, 2012).

A Associação Internacional de Saúde em Cuidados Paliativos, diferencia a assistência em

paliação em 5 tipos de unidades de cuidados paliativos (MACIEL, 2012):

a) unidade hospitalar, hospital de nível secundário ou terciário, onde há leito específico

para pacientes em assistência paliativa;

b) unidade hospitalar “hóspice”, extra hospitalar, unidade de atendimento sem vínculo

hospitalar, para curtos períodos de internamentos, podendo ser anexo a uma organização

hospitalar, modalidade frequente na Europa e Estados Unidos da América;

c) unidade comunitária, em regime ambulatorial para assistência domiciliar, podendo

funcionar como “espaços dia”. Os doentes são recebidos e assistidos conforme suas

necessidades, mas não deixam o convívio familiar;

d) unidade domiciliar, assistência domiciliar está inserida na assistência primária à saúde

com visita domiciliar;

e) unidade hospedaria ou “Nursing Homes” ou hospedaria, acolhe o doente que se encontra

relativamente estável, mas não pode permanecer em seu domicílio por falta de cuidador

ou grande distância de uma organização hospitalar.

2.2.1 Família/cuidador

Ferris (2015) e Gawande (2017), tentando explicar necessidades de pacientes e família, por

ocasião da doença e do luto e associando-as aos cuidados paliativos, usaram o estudo sobre as

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necessidades básicas de Maslow (2018) nestes termos: na base, no 1º nível, estão as

necessidades básicas para a sobrevivência (comida, água, ar, sexo, excreção, respiração) no 2º

nível estão a segurança (corpo, emprego, moralidade, família, propriedade), no 3º nível estão

as emoções (amor, amizade, famílias, alegrias), no 4º nível as metas pessoais (realizações,

habilidades, confiança, conquista, respeito, conhecimentos), no topo, 5º nível está a

“autorrealização”, a realização pessoal (criatividade, ausência de preconceitos, solução de

problemas).

Gawande (2017) cita uma pesquisa de Laura Carstensen, psicóloga americana, na qual ela

elabora a Teoria da Seletividade Socioemocional, em que toda a euforia do 5º nível de Maslow,

no topo da pirâmide, com o passar dos anos de vida, o horizonte vai se contraindo, passando a

ser finito e incerto, com isso o foco da vida muda para os prazeres cotidianos, para as pessoas

que estão mais próximas, em que a espiritualidade individual pode influenciar na nova postura

de bem estar. Socioemotional Selective Theory (SST), ou Teoria da Seletividade Emocional,

tem sido um parâmetro de monitorização das necessidades e perspectivas pessoais ao longo da

vida. Com o envelhecimento, a ansiedade pela felicidade se torna menos estressante, o ser feliz

se apresenta em um horizonte próximo (CARSTENSEN, 2003, 2006; CARTENSEN;

ISAACOWITZ; CHARLES, 1999 apud STANFORD UNIVERSITY, 2018; GAWANDE,

2017).

O paciente é biológico, social, espiritual, psicológico, por isso deve ser cuidado em todas as

esferas, sendo importante uma atuação harmônica, para que não haja deficiência no tratamento

(FERRIS, 2016).

A academia Nacional de Cuidados Paliativos orienta para que a equipe multidisciplinar atue

junto com a família/cuidador na prestação de serviço ao doente que se encontra em paliação. A

família/cuidador necessita de apoio espiritual e social desde o diagnóstico até o óbito. Cuidados

paliativos compreende o período que se estende do momento do diagnóstico até o luto

(MELLO; LADEIRA, 2011).

Ferris (2015) explica de uma forma harmônica a ação em cuidados paliativos, em que o doente

e a família se encontram no centro da assistência humanizada para a dignidade do morrer:

1) gestão da doença: diagnóstico principal da doença, sempre observando seu prognóstico

(tempo de sobrevida), doenças associadas e feitos adversos (complicações);

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2) físico: mobilidade do doente, dor, hábitos, etc;

3) psicológico: personalidade, auto estima, medos, autoestima, etc;

4) social: cultura, crenças, hábitos, relacionamentos, diretiva antecipada, testamento, etc;

5) espiritual: valores, crenças, filiações religiosas, símbolos, etc;

6) questões práticas: dependentes, animais de estimação, cuidadores, etc;

7) cuidados do fim da vida: despedidas, reconciliação, rituais, funeral, etc;

8) perda e luto: tristeza, luto social, luto antecipatório (luto antes da morte), etc.

O ato de cuidar é inerente ao ser humano, é essencial, mamíferos e aves cuidam de sua cria até

que haja independência física, psíquica e econômica. A família/cuidador precisa saber e

entender que não está sozinha, o contato permanente com a equipe multidisciplinar é importante

para amenizar as complexidades do quadro clínico do doente (BIFULCO; CAPONERO, 2016).

As mudanças sutis ou dramáticas que possam ocorrer na família do doente, precisam ser

entendidas, observar o comportamento das crianças e estimular a renovação; recarregar as

baterias da família/cuidador (KLUBER-ROSS, 2016).

O cuidador muitas vezes é escolhido com imposição e contingência; deve se alguém

pertencente à família, sendo importante que tenha condições de tempo ou estrutura financeira

para se responsabilizar pelo doente, em contraposição, o cuidador profissional é aquele que é

contratado e treinado, não havendo necessidade de envolvimento emocional (BIFULCO;

CAPONERO, 2016).

O preparo emocional da família/cuidador contribui para que o doente não seja abandonado na

ocasião em que se institui os cuidados paliativos. A presença da família/cuidador precisa ser

precedida de compaixão e respeito pela equipe multidisciplinar (DOMINGOS, 2016).

O cuidador pertencente à família precisa ser respeitado pela equipe multidisciplinar e respeitar

a si próprio. Não há egoísmo em cuidar de si próprio, é sinal de generosidade. Para que o doente

se sinta bem, é importante que a família seja tratada com respeito. O doente aceita sua finitude

quando entende que sua ausência não acarretará desequilíbrio emocional, financeiro, legal ou

familiar (BIFULCO; CAPONERO, 2016).

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Problemas relacionado ao doente precisam ser discutidos antes da morte, enfrentar a dor da

perda precisa ser verbalizada. O doente, quando apresenta serenidade na sua finitude, faz com

que sua família se comporte com dignidade no momento da morte (KLUBER-ROSS, 2016).

A confiança e o vínculo com os familiares é de grande importância para o doente, estímulo,

compreensão, são fatores que podem diminuir a angústia e a humilhação diante da morte (SÁ,

1999).

O luto antecipatório ocorre quando a pessoa viva experimenta a perda antes que esta aconteça,

pode ser trabalhado e respeitado sempre levando em consideração o doente e a família, no

processo do adoecimento e do luto (BRAZ; FRANCO, 2016).

Kubler-Ross (2016) apresenta seis estágios de luto, os quais correspondem ao período do

anúncio ao doente da existência de uma doença com prognóstico sombrio, até o momento da

morte. Esses estágios, por muitas vezes, são compartilhados e assimilados pela

família/cuidador:

1) compreende a negação e o isolamento; significa a recusa do doente ao diagnóstico;

2) apresenta-se com um processo de revolta, raiva, ressentimento e a pergunta “Por que

eu?”, se torna frequente. Mágoa, irritação, acusações mútuas, distanciamento da

realidade, podem ser exteriorizados pelo doente, em relação à família/cuidador;

3) identificado pela barganha: o doente negocia com Deus, com médicos, com a

família/cuidador, com os amigos de Deus, os Santos;

4) depressão e a aceitação da doença se tornam compartilhadas entre doente-

família/cuidador. Essa fase é importante para que haja adaptação do processo de luto,

não deixando de ressaltar que a sensação de impotência se torna importante pela

família/cuidador;

5) início da aceitação da morte,

6) a esperança se torna presente, abre-se uma lacuna para o inesperado; o milagre da cura.

A abordagem na assistência aos cuidados paliativos com enfoque social, centralizado no

binômio família/cuidador é fundamental para que haja desenvolvimento da habilidade de

comunicação e conhecimento dos recursos familiares; para que os tratamentos sejam efetuados

de forma satisfatória (MORITZ, 2013).

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2.2.2 Equipe multidisciplinar

A relação médico-paciente é essencialmente uma relação humana de contato, em que é

construído o diagnóstico, o pilar fundamental da medicina. O médico Luiz Salvador de Miranda

Sá Junior, ex conselheiro do Conselho Federal de Medicina, afirma:

O carácter necessariamente altruísta, abnegado e beneficente da atividade profissional

médica deve ser considerado como o componente mais essencial dela ao qual se

subordinam todas as condutas dos médicos. Esta é a mais antiga e respeitável tradição

médica (MÉDICOS..., 2017, p. 10).

A formação dos profissionais da saúde, tem como preferência, a proteção das implicações entre

a vida e a morte, pois em algum momento a ciência não prevalece; assim, a busca pela

explicação científica é importante para aliviar a impossibilidade de curar (SEBASTIANY;

CAVEIÃO, 2017).

As pessoas têm adoecido diante de uma excessiva carga de sofrimento; essa situação é definida

como luto mal elaborado e está se tornando um problema de saúde pública. Os profissionais de

saúde que cuidam do sofrimento alheio são afetados por este mal, em consequência, não há

espaço para que esses profissionais cuidem de sua própria dor, ocasionando seu próprio

adoecimento (KOVÁCS, 2012).

O profissional médico necessita usar a tecnologia na vida do doente com dignidade, com

liberdade, para que haja contatos entre pessoas, é desumano o seu mau uso na promoção do

prolongamento da vida, em que o doente não mais participa do inter-relacionamento humano

(KLUBER-ROSS, 2016).

O trabalho em equipe pode se tornar frustrante, desmotivador e sem significado, quando os

procedimentos médicos efetuados em doentes fora de possibilidade de cura não são

compartilhados com toda a equipe. A vivência do limite da cura, da finitude, da impotência e

da não possibilidade de evitar o sofrimento pode ser extremamente doloroso para o profissional

de saúde (KOVÁCS, 2012).

Os jovens estudantes, quando inseridos no ambiente hospitalar, se deparam com a morte em

diferentes circunstâncias. Não há compreensão da emoção, resta apenas imitar as condutas dos

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profissionais em que o distanciamento afetivo, racionalização, impessoalidade, afastamento da

dor alheia, significam “proteção pessoal”. Todo novo profissional médico precisa encarar a

morte (GAWANDE, 2017).

O século XXI agudiza o uso da tecnologia e os jovens médicos recebem treinamento exaustivo

para preservar a vida de seus doentes, a qualquer custo. Os doentes na terminalidade, por muitas

vezes, recebem uma relação técnica, de desamparo, são menosprezados com o que de fato é

importante em sua vida como lugares, pessoas, cheiros e lembranças (SEBASTIANY;

CAVEIÃO, 2017).

O stress da equipe multidisciplinar, diante das expectativas do paciente e da família/cuidador,

estimula uma postura de humilhação ou arrogância do doente, ocasionando uma relação, equipe

multidisciplinar-paciente-família/cuidador forçada, com distorções, o que ocasiona vínculo

tenso e desgastante. Licenças médicas para a equipe não são incomuns, o desgaste e o

esgotamento emocional, sendo identificado como “Síndrome de Burnout” (BIFULCO;

CAPONERO, 2016).

O profissional médico tem suas expectativas em concordância com a especialidade escolhida.

Na unidade coronariana, é importante que medidas médicas sejam efetuadas rapidamente, com

efetividade, em que a morte pode ser uma surpresa. Na clínica oncológica, em que o processo

lento da morte acarreta sofrimento, o óbito pode ser aceito como alívio (KOVÁCS, 2012).

Na graduação dos profissionais de saúde, quando se discute a morte, esta está em contexto de

realização dos procedimentos corretos, técnicas assépticas, medicamentos e tecnologias. Não

há espaço para estudar o sentimento e a percepção da morte (AZEREDO; ROCHA;

CARVALHO, 2011).

A morte necessita ser discutida na graduação da área médica, pois quando se admite a própria

morte, se aprende a concretizar os ideais, o bem-estar, o que promove o respeito ao outro com

efeitos significativos na sociedade (KLUBERR-ROSS, 2016).

A equipe multidisciplinar, necessita promover assistência em cuidados paliativos ao doente e à

família/cuidador, sempre levando em consideração o não julgamento de valores, respeito às

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crenças familiares, aceitação à postura da família/cuidador diante da morte (KRUSE et al.,

2007).

A equipe médica necessita ter um profundo respeito para com as pessoas, suas crenças,

trajetórias de vida, sabores e dissabores, principalmente durante a finitude, pois muitas vezes

não há tempo para o processo da morte e do luto. Cuidar do outro, sentir a fragilidade, o

sofrimento, a angústia, o medo, a dor, a incerteza e a revolta do doente e de sua família/cuidador,

precisa ter um manejo especial (SEBASTIANY; CAVEIÃO, 2017).

O profissional médico, deve entender conceitos fundamentais de medicina geriátrica e de

bioética para o exercício da boa prática em cuidados paliativos, os quais, requerem um sentido

de urgência, atenção a cada detalhe das necessidades do doente e de sua família, ou seja, a

paliação deve ser biologicamente adequada, com pouca tecnologia e muito tato (SANCHEZ,

2015).

O objetivo do ato médico, passa a ser a cura, a morte pode significar o fracasso, vencer a doença

a qualquer custo, a morte é o adversário. Mesmo sendo uma verdade inabalável, a morte

atemoriza, não é vista como um desenlace possível (AZEREDO; ROCHA; CARVALHO,

2011).

Momentos inevitáveis precisam de uma abordagem humanizada, noticiar algo doloroso ao

doente e/ou família cuidador da forma mais simples possível, olhando nos olhos

(SEBASTIANY; CAVEIÃO, 2017).

Na graduação, na área da psicologia, não há espaço suficiente para o estudo da morte, assim

como na graduação médica, salientando que com o aumento do índice de sobrevida, já podemos

encontrar um interesse em programas de terceira idade, em que o profissional da psicologia

tenta amenizar as perdas sociais, físicas, psíquicas e familiares das pessoas. Na atividade

paliativa, o profissional da psicologia vem aos poucos ocupando seu espaço, não havendo ainda

um espaço detalhado. Essa situação pode ser em consequência possível do fato que o berço dos

cuidados paliativos, na Inglaterra, o psicólogo não está inserido na equipe multidisciplinar

(KOVÁCS, 2012).

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O profissional da psicologia é responsável pela busca da melhor qualidade de vida do paciente,

na tentativa de amenizar a ansiedade e depressão diante da morte. Tentar ajudar a

família/cuidador a compreender a doença, a morte e a perda de uma forma consciente,

desestimulando a “conspiração do silêncio”, que é a negação em dialogar sobre a doença.

Estimular para que o doente mantenha sua autonomia diante da morte, atuar nas alterações

psíquicas, amenizar o sofrimento, a depressão, oferecer suporte emocional à família/cuidador e

manter uma boa comunicação interpessoal para favorecer relação de confiança e respeito com

o doente (HERMES; LAMARCA, 2013).

A equipe de enfermagem é responsável pelo conforto, oferta medicamentosa, higiene e afeto; é

o profissional que mais se aproxima do doente e o que mais sofre diante do sintoma da dor que

acomete o paciente. A equipe de enfermagem, por muitas vezes, é o vínculo, entre o doente e o

profissional médico, consegue entender e ser intermediador do doente junto à equipe médica,

está em posição de contribuir para que haja a diminuição do sofrimento e a melhoria da

qualidade de vida do doente (GUTIEREZ; CIAMPONE, 2006).

O profissional de enfermagem é o mais pressionado pela angústia, sofrimento e ansiedade do

doente e da família/cuidador, na busca por respostas sobre a possibilidade de cura, queixas por

intervenções invasivas, dolorosas, por muitas vezes, são responsabilizados e até culpados pelo

agravamento do quadro clínico (KOVÁCS, 2012).

O desgaste emocional da equipe de enfermagem em confortar, realizar anseios, desejos e

vontades do doente, representa fator importante na ação dos cuidados paliativos, pois a essência

da formação em enfermagem é o ato do cuidar. A importância do profissional de enfermagem

nos cuidados paliativos representa o ponto de partida para uma nova cultura do cuidar. Cicely

Sanders, a precursora dos cuidados paliativos da medicina moderna, era enfermeira, graduou-

se em medicina e assistência social na tentativa de melhor servir àqueles que necessitassem de

cuidados paliativos (HERMES; LAMARCA, 2013).

O profissional assistente social, é responsável por adquirir informações do doente e da

família/cuidador no momento certo, possibilitando que a tristeza e as insatisfações sejam

verbalizadas, assim como ter conhecimento da situação socioeconômica da família/cuidador e

do doente. É importante que o assistente social fortaleça a conexão entre equipe

multidisciplinar-doente-família/cuidador, para que o paciente tenha uma morte digna, não

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deixando de ressaltar sua função nos preparativos para sepultamento (HERMES; LAMARCA,

2013).

A Academia Nacional de Cuidados Paliativos orienta para que a equipe multidisciplinar sempre

permaneça junto da família/cuidador, na prestação de serviço ao doente que se encontra em

paliação. A família/cuidador necessita de apoio espiritual e social, desde o diagnóstico até o

óbito. Cuidados paliativos compreende o período que se estende do momento do diagnóstico

até o luto (MELLO; LADEIRA, 2017).

A equipe multidisciplinar necessita promover assistência em cuidados paliativos ao doente e à

família/cuidador, sempre levando em consideração o não julgamento de valores, respeito a

crenças familiares, aceitação à postura da família/cuidador diante da morte (KRUSE et al.,

2007).

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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1 Caracterização da pesquisa

Esta pesquisa corresponde a um braço de uma pesquisa mais abrangente sobre a cultura da

morte e gestão dos cuidados paliativos, a qual será efetuada posteriormente, em uma

organização hospitalar pública na cidade do Recife e, após realização, ambas pesquisas serão

comparadas e posteriormente publicadas. Não há conflito de interesses.

Entende-se que a abordagem qualitativa seja a mais adequada a este estudo, tendo em vista a

busca do significado que os sujeitos têm em relação ao problema ou a questão (CRESWELL,

2010).

Este trabalho também se caracteriza como um estudo de caso, por se tratar de uma análise

aprofundada sobre uma determinada unidade de estudo (TRIVIÑOS, 2012). Para Yin (2001),

um estudo de caso é uma investigação empírica sobre um fenômeno contemporâneo, no seu

contexto real.

Trata-se ainda de uma pesquisa descritiva, uma vez que se limita apenas a descrever os

resultados, sem neles interferir; busca, ainda entender a complexidade do campo pesquisado

(FLICK, 2009).

3.2 Locus da pesquisa

O locus desta pesquisa refere-se ao estudo do ritual da morte e dos cuidados paliativos, em uma

organização hospitalar privada, na cidade do Recife-PE.

A organização hospitalar estudada é a unidade 1 de uma rede hospitalar, a qual iniciou suas

atividades em 23 de dezembro de 1998. Possui 49 leitos, sendo 10 para terapia intensiva, 20

para medicina clínica e 19 para clínica cirúrgica de pequena e média complexidade. A clínica

cirúrgica tem em torno de 487 cirurgias ao mês. Esta unidade tem um serviço de emergência

em clínica médica geral e otorrinolaringologia, com atendimento médio de 5 mil pacientes ao

mês.

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No início do ano de 2015, foi implantada uma cultura que beneficia cuidados paliativos, tendo

em vista o crescente aumento de pacientes com senilidade avançada e/ou pacientes fora de

possibilidades terapêuticas que se apresentam em leitos da unidade de terapia intensiva.

A dignidade desses pacientes passou a ser questionada, diante da distanásia (prolongamento da

vida por meio de tratamentos extraordinários) e da mistanásia (a morte miserável, antes da

hora).

Diante dessa situação, chegou o momento dessa unidade hospitalar rever posturas terapêutica,

sociais, culturais e emocionais, para que o enfrentamento da morte pudesse ser aceito como

inevitável. A reunião clínica, multidisciplinar, diária, na unidade de terapia intensiva, passou a

definir os pacientes que se encontravam fora de possibilidades terapêuticas, ou seja, sem

previsão de cura, portanto, aptos à paliação.

A partir de então, a comunicação à família tem sido feita pelo médico plantonista ou pelo

médico chefe da unidade de terapia intensiva e a assistência do psicólogo é rotineira. Nesse

processo, há uma explicação sobre o que seja a paliação e sobre a sua indicação. Segue o

consentimento da família, que deve ser informado e assinado para início do processo.

O segundo passo é uma consulta de acolhimento com a família, pela psicóloga, quando o

consentimento é informado e assinado. Nesse tempo, é indicado um familiar responsável pelo

paciente, que vai estar sob os cuidados da paliação. Para um melhor conforto e privacidade do

paciente e família/cuidador, é disponibilizado um apartamento, individual, com oferta de

oxigênio nasal, CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) Pressão Positiva Contínua de

Vias Aéreas), BiPAP (BI-level Positive Airway Pressure) Pressão Positiva de Vias Aéreas em

Dois Níveis) e bombas para infusão de medicações endovenosas. A monitorização dos sinais

vitais é disponibilizada somente com a solicitação da família, assim como transferência para a

unidade de terapia intensiva. Esse modelo difere daqueles anteriores, quando os pacientes

permaneciam na unidade de terapia intensiva até o óbito.

A unidade de terapia intensiva conta com 10 leitos e tem em seu corpo clínico: nove médicos

intensivistas, cinco enfermeiros, um técnico de hemodiálise, 10 técnicos de enfermagem, dois

nutricionistas, um psicólogo, sete fisioterapeutas, um assistente social e quatro funcionários de

serviços gerais. Quanto aos apartamentos clínicos, estes contam com: 20 leitos, três médicos

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em regime de diarista, seis enfermeiros, 20 técnicos de enfermagem e quatro funcionários de

serviços gerais.

Esta pesquisa corresponde um braço de uma pesquisa mais abrangente sobre o ritual da morte

e os cuidados paliativos, a qual será efetuada posteriormente, em uma organização hospitalar

pública na cidade do recife e após essas pesquisas serão comparadas e posteriormente

publicadas. Não há conflito de interesses.

3.3 Sujeitos da pesquisa

Sujeitos da pesquisa, definido por Sampieri, Colado e Lucio (2013) é um grupo de pessoas,

eventos, acontecimentos, comunidades, junto aos quais pode-se coletar os dados desejados.

Como sujeitos desta pesquisa, determinou-se, previamente, que seriam entrevistados gestores

da organização hospitalar, membros da equipe multidisciplinar e, evidentemente,

famílias/cuidador, seguindo a orientação dos objetivos específicos. Entretanto, durante o

percurso da pesquisa e diante dos acontecimentos imprevistos, relatados em uma próxima seção

(3.5) chegou-se às seguintes quantidades de sujeitos: dois gestores, cinco médicos (três

paliativistas e dois intensivistas) uma enfermeira intensivista, técnicos de enfermagem (quatro

intensivistas e dois paliativistas), além de três famílias/cuidador.

Esta equipe multidisciplinar foi escolhida por acessibilidade/intencionalmente, sendo relevante

que os sujeitos entrevistados estivessem exercendo a prestação de serviço em cuidados

paliativos. Esses profissionais exercem suas funções na Unidade de Terapia Intensiva (UTI),

onde por muitas vezes os cuidados paliativos são iniciados e na assistência paliativa em

apartamento individualizado; as famílias/cuidador foram aquelas que se propuseram a assinar

o termo formal para paliação. Todos os doentes que são admitidos para cuidados paliativos,

nessa organização hospitalar, necessitam de autorização por escrito, o qual é denominado de

denominado de Termo de Paliação.

Reconhece-se que esses sujeitos foram suficientes para que se alcançasse a saturação das

informações. As suas identidades estão resguardadas, uma vez que se utilizou, aqui, siglas para

distingui-los (Anexo A).

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3.4 Instrumentos de coleta dos dados

A coleta de dados foi efetuada por entrevista gravada, anotações foram feitas em um diário de

pesquisa, pois após o término de algumas entrevistas e desligamento do gravador, os sujeitos

por muitas vezes faziam observações relevantes para a pesquisa que não poderiam ser

ignoradas.

O pesquisador faz parte da equipe médica prestadora de serviço na organização hospitalar como

anestesiologista há 20 anos, mas não exerce função paliativista. A relação do pesquisador com

a equipe multidisciplinar sempre foi harmoniosa e profissional, não ocorreram dificuldades,

todos os participantes se dispuseram espontaneamente a participar da pesquisa.

O pesquisador se posicionou como parte da equipe multidisciplinar, na situação de não

participante, na ação dos cuidados paliativos. Foram feitas apenas quatro perguntas aos

entrevistados, pois o importante para o pesquisador era deixar os sujeitos sempre à vontade para

falar, sem indagações, apenas ouvi-los. Diante dessa postura os sujeitos se mostraram, seguros,

sem constrangimentos; entretanto, houve situações em que participantes da equipe

multidisciplinar se emocionaram, mas em nenhum momento o pesquisador interferiu ou

redirecionou o seguimento da pesquisa.

Os entrevistados sempre foram informados que, após a análise, tratamento dos resultados e

conclusão da pesquisa, as gravações e as transcrições das entrevistas seriam destruídas.

3.5 Processo de coleta dos dados

A coleta dos dados foi efetuada entre os meses de abril e junho de 2018, após a autorização da

pesquisa pelo Comitê de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC)

e Pronto Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco (Procape). O projeto foi inserido

e aprovado pela plataforma Brasil, CAAE 83742018.2.00005192.

O primeiro contato com os sujeitos se iniciou com a apresentação do pesquisador, foi exposto

a razão e a importância da pesquisa, assim como a necessidade de conhecimento da organização

hospitalar em avaliar a prestação em cuidados paliativos no seu terceiro ano de implantação.

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Antes do início das entrevistas, os respondentes foram informados de seus respectivos direitos,

quanto à não identificação pessoal e a cessação da entrevista por qualquer sentimento de

constrangimento pessoal. Foi apresentado o Termo de Consentimento Livre Esclarecido a todos

os respondentes e após a assinatura do mesmo, a entrevista era iniciada.

A receptividade foi amigável, tanto pela equipe multidisciplinar, quanto pela família/cuidador,

que se dispuseram a responder todas as questões; não foi observado constrangimento entre os

participantes e a relação foi cordial entre pesquisador e sujeitos. Ao final de cada entrevista,

compreendia-se mais sobre a realidade dos participantes e da importância de todos eles na

cultura de cuidados paliativos da referida organização hospitalar.

Foram realizadas entrevistas face a face, individualmente, no próprio ambiente de trabalho, as

quais foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas. Também foram registradas

observações, cujas anotações foram feitas em diário de campo, para um maior entendimento,

quando da análise dos dados. Impressões, experiências e sentimentos dos sujeitos ou do

pesquisador foram importantes para o contexto da análise.

Durante os 90 dias da pesquisa ocorreram oito óbitos de doentes na Unidade de terapia

intensiva, com indicação para paliação. A equipe multidisciplinar não obteve autorização

formal para inserção destes doentes em cuidados paliativos pelas respectivas famílias/cuidador.

3.6 Técnica de análise dos dados

Para um melhor entendimento da pesquisa em questão, a análise de conteúdo se comportou

como um procedimento clássico, do material textual das entrevistas. Foi efetuada a redução e

seleção do material obtido, relevando as partes importantes, para a solução da questão da

pesquisa (FLICK, 2009).

Segundo Bardin (2016, p. 15), a análise de conteúdo é “um conjunto de instrumentos

metodológicos cada vez mais sutis, em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a discursos

(conteúdos e continentes) extremamente diversificados”. Isso traz como consequência uma

oscilação entre o rigor da objetividade e a fecundidade da subjetividade, estimula o pesquisador

à curiosidade pelo escondido, o latente, o não aparente, o potencial pelo inédito ou o não dito.

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Após a transcrição integral das entrevistas gravadas, foi feito, segundo Bardin (2016), uma pré-

análise, com leitura flutuante, que foi um período de intuições e que teve como objetivo

sistematizar as ideias iniciais. Com a pré-análise, foram feitos recortes nos textos e cada

segmento dos contextos dos respondentes, que foram relevantes ao problema de pesquisa e aos

objetivos específicos, foi utilizado como exemplo potencial para a criação de categorias. Após

a categorização, foi efetuado a exploração do material, tratamento dos resultados e

interpretação.

3.7 Limites e limitações

A pesquisa se restringiu a uma única unidade hospitalar, privada, na cidade do Recife-PE e aos

sujeitos, gestores hospitalar, equipe multidisciplinar e família/cuidador, os quais vivenciam o

ritual da morte e dos cuidados paliativos.

A pesquisa se iniciou no momento de implantação do prontuário eletrônico na organização

hospitalar, o que dificultou o contato com alguns sujeitos da equipe multidisciplinar.

Acontecimentos sociais que ocorreram no Brasil nas duas últimas semanas de maio de 2018

dificultaram o acompanhamento de doentes em paliação. Houve três óbitos destes doentes e o

contato físico com a família/cuidador, não foi possível.

A inexperiência do pesquisador em pesquisar um tema subjetivo de cunho emocional, como o

ritual da morte, em doentes fora de possibilidades terapêutica, por não se aperceber de pontos

relevantes na pesquisa, situação essa que poderia ser melhor analisada por um pesquisador

experiente.

Conciliar a atuação de pesquisadora com a sua atividade profissional, médica anestesiologista

na rede privada de saúde, foi desgastante, pois os horários e dias das entrevistas foram de

conveniência dos sujeitos.

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4 ANÁLISE DOS DADOS

Este trabalho teve como objetivo geral investigar como o ritual da morte e os cuidados

paliativos, em vista à qualidade da morte, têm sido percebidos pelo tripé: gestor, equipe

multidisciplinar e família/cuidador, em uma organização hospitalar privada, na cidade do

Recife-PE.

A grade abaixo especifica os sujeitos entrevistados nomeando-os por siglas.

Tabela 2 – Identificação dos sujeitos entrevistados

Siglas Identificações dos sujeitos

GH Gestor Hospitalar

GH CTI Gestor Hospitalar do Centro de Terapia Intensiva

M.P 1 Médico Paliativista 1

M.P 2 Médico Paliativista 2

M.P 3 Médico Paliativista 3

T.E 1 Técnico de Enfermagem 1

T.E 2 Técnico de Enfermagem 2

T.E 3 Técnico de Enfermagem 3

T.E 4 Técnico de Enfermagem 4

T.E.P 1 Técnica de Enfermagem da Paliação 1

T.E.P 2 Técnica de Enfermagem da Paliação 2

F Fisioterapeuta

E Enfermeira

F/C 1 Família/Cuidador 1

F/C 2 Família /Cuidador 2

F/C 3 Família/Cuidador 3

Fonte: elaborada pela autora.

Para o procedimento da análise dos dados, tomou-se como referência os objetivos específicos

a seguir.

4.1 Ritual da morte

Nesta seção, apresenta-se o ritual da morte segundo a percepção de gestores da equipe

multidisciplinar e família/cuidador, em uma organização hospitalar privada, na cidade do

Recife-PE. Para facilitar a compreensão e estimular o diálogo, teve-se a ideia de separar os

depoimentos segundo cada uma das categorias dos sujeitos.

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4.1.1 Ritual da morte, na percepção de gestores

a pessoa nasce já sabendo que vai morrer [...] situação irreversível [...] às vezes jovem

[...] (G.H).

a vida é um sopro [...] os planos da gente nem sempre correspondem os planos de

Deus [...] é muito difícil [...] tem que falar amadurecer [...] atitudes de

responsabilidade [...] com os seus descendentes (GH.CTI).

Percebe-se, nesses depoimentos, que esses gestores são realistas, mais racionais, diante da

morte e a reconhecem como inevitável; pelo menos, na visão do cargo que ocupam. Essa

compreensão segue na linha de Kovács (2012, p. 23), quando acredita que “negar a morte é

uma das formas de não entrar em contato com experiências dolorosas”, negar ou reprimir a

morte é permitir-se viver em um mundo de fantasia, acreditando na imortalidade.

4.1.2 Ritual da morte, na percepção da equipe multidisciplinar

Quanto à visão sobre o ritual da morte, na compreensão da equipe multidisciplinar, pode-se

dividir em três categorias de análise: primeiro, um sentimento de processo da vida; segundo, de

passionalidade; por fim, de descanso.

[...] mais uma etapa da vida, sem mistério [...] é inevitável, é normal, nascemos,

crescemos e morremos (M.P.1).

representa o fim e o começo [...] a gente que trabalha na área da saúde [...] é sempre

companheiro da morte [...] não me acostumo, não vou mentir (T.E.1).

é o fim da vida [...] um dia vai acontecer [...] faz parte da vida [...] eu não penso muito

não [...] (T.E.2).

é uma coisa natural [...] destino final [...] que ela aconteça de uma forma mais

tranquila, mais natural, tanto pro paciente como pra família [...] (F.)

é uma segunda etapa da vida [...] a gente está aqui para cumprir uma função [...]

quando ela se encerra [...] a gente é chamado prum (sic) outro plano e acredito que a

vida continua acontecendo por lá. De uma forma diferente [...] (M.P.3).

sendo espírita [...] outro estágio de evolução [...] eu vim, cumpri o que tinha que

cumprir [...] esperar o que Deus tenha guardado para mim [...] (T.E.3).

[...] não vejo a morte como um fracasso [...] única certeza que a gente tem dessa vida

e que daqui tem algo melhor pra gente [...] só Deus sabe qual é a missão de cada um

(E).

Compreende-se, por meio desses depoimentos, que o aprendizado que a vida oferece pode

prover amadurecimento emocional para o enfrentamento da morte; nesse momento, a equipe

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multidisciplinar, por meio da terapia medicamentosa e tecnológica, dispõe do favorecimento da

cura e o médico passa a ser o senhor tanatolítico e a morte passa a ser uma intrusa na sociedade.

A discussão da morte introduzida ao longo da graduação na área das ciências da saúde, vem

instituindo um comportamento para graduados e graduandos, pois tem conscientizado que a

morte está para todos, não existe imortalidade, não há vida sem morte (AZEREDO; ROCHA;

CARVALHO, 2011).

Um segundo sentimento identificado, nessa equipe, refere-se à emoção, diante da morte.

sentimento, pena [...] tristeza [...] emoção [...] lágrima [...] a gente se apega ao paciente

né (sic) [...] a gente também da área sente muito (T.E.4).

Von Hohendorff e Melo (2009) justificam esse sentimento, entendendo que é na adolescência

que se inicia o entendimento sobre o significado da morte, mesmo se desde a infância, as

pessoas tenham tido contato com as perdas e tenham buscado compreensão sobre ela.

Por fim, o último sentimento percebido, nessa equipe, diz respeito ao descanso, até mesmo para

a família do moribundo.

Descanso [...] tá em hospital [...] tão sofrido [...] o próprio paciente diz, “eu queria

descansar” e até as famílias mesmo cansadas (T.E.P1).

a morte representa um descanso [...] a gente é como uma semente [...] nasce, cresce e

morre [...] é como se fosse uma viagem [...] retornar a casa do pai [...] (T.E.P.2).

4.1.3 Ritual da morte, na percepção da família/cuidador

Sobre a família/cuidador, ela também tem percepções variadas sobre o ritual da morte e, até

mesmo, semelhantes à equipe multidisciplinar; estas foram divididas em 2 categorias de análise:

inicialmente, um sentimento de processo da vida, seguida de descanso e por fim, de negação.

[...] falecimento do meu marido eu aceitei com muita facilidade a situação da morte

[...] estou preparada pra se acontecer com minha mãezinha [...] (F/C 1).

[...] é um descanso. Principalmente pra quem tá sofrendo [...] é um sono [...] outra

dimensão [...] (F/C 3).

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Compreende-se que para esses sujeitos, os doentes que já estejam fora de possibilidade

terapêuticas, chegaram ao final, a mais uma etapa da vida, por isso, a morte vem como um

descanso justo, suave; um sentimento de missão cumprida; a saudade, em contrapartida, será

tranquila. Segundo Kluber-Ross (2016), o ideal seria que a morte acontecesse no momento de

aceitação.

O luto antecipatório é de fundamental importância para a aceitação da morte, organiza

emocionalmente a família, estimula a resolução de pendências social e familiar.

[...] tinha uma percepção complicada [...] falecimento de meu pai com 3 meses de

vida [...] medo do escuro [...] tive que fazer tratamento (F/C 1).

Como exemplifica um membro da família/cuidador: a perda quando na primeira infância é

mal-entendida, ocasiona sofrimento, trazendo consequências danosas na vida adulta com

insegurança pessoal e revolta.

Não parei pra pensar sobre isso [...] a pessoa não aceita [...] mas às vezes é para o bem

do paciente [...] as vezes ele tá sofrendo tanto que ele mesmo preferia morrer [...] eu

não me preparei pra morte ainda não (F/C 2).

Em cuidados paliativos, a morte, entendida como ruptura de vínculo, vem acompanhada pela

tristeza e isso é interpretado como natural ou com revolta dependendo de fatores pessoais

(BRAZ; FRANCO, 2007).

Lido com ela todo dia, há quase 40 anos [...] aprende a aceitar com alguma

naturalidade [...] já aceito que minha mãe vai morrer (M.I.).

Desses depoimentos, entende-se que o ritual da morte é inevitável, então o melhor é não pensar,

acostumar-se; saber que ela existe: a aceitação é cogitada diante da impossibilidade da cura.

A morte sofrida traz como consequência perturbações emocionais, tanto para o doente como

para a família cuidador; a finitude precisa ser em ambiente de tranquilidade, de missão

cumprida para a equipe multidisciplinar- doente- família/cuidador; a organização hospitalar tem

sido mediadora dessa gestão.

[...]certas doenças, certas idades [...] o isolamento, as limitações, a perda da autonomia

[...] funcionalidade [...] a morte é um alívio, é um privilégio (M.P.2).

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É um descanso. Principalmente pra quem tá sofrendo [...] é um sono [...] outra

dimensão [...] (F/C 3).

Nessas declarações, acima, apreende-se que o ritual da morte, como descanso ou alívio, faz com

que diante da impossibilidade de cura de um doente, seja mais fácil aceitar. Na organização

hospitalar existem lugares em que a morte é uma surpresa, enquanto em outros setores, como

na unidade de terapia intensiva e de cuidados paliativos, ela é encarada como desfecho final;

alívio.

A morte corresponde um construto sociocultural, político, econômico; envolve leis, valores,

recursos humanos e dinheiro que, mesmo sendo igual para todas as pessoas, se diferencia, na

forma do morrer (BRAZ; FRANCO, 2016).

Não parei pra pensar sobre isso [...] a pessoa não aceita [...] mas às vezes é para o bem

do paciente [...] as vezes ele tá sofrendo tanto que ele mesmo preferia morrer [...] eu

não me preparei pra morte ainda não (F/C 2).

O ritual da morte, mesmo que seja inevitável, traz como consequência a tristeza devido à perda

do contato daqueles que se ama; gera um sentimento de impotência; a saudade de não mais vê-

los, não os tocar, provoca tristeza, é nesse momento que o egoísmo deve ser questionado.

Contrário a isso, recomendam Braz e Franco (2016): a morte por doença crônica sem

sofrimento, permite o processo de despedida menos traumático e com menor conflito pessoal.

A própria sociedade do século XXI contribui para esse sentimento de fuga, na medida em que

nega a morte, ao cultuar a juventude, o corpo jovem, ao invés de refletir também sobre o

envelhecimento e o processo do morrer (SEBASTIANY; CAVEIÃO, 2017).

Para melhor entender a compreensão que os sujeitos têm, sobre cuidados paliativos, decidiu-se

ir além desse objetivo específico da pesquisa e questioná-los a respeito; a seguir seguem as

respostas de um gestor (mais adiante) e da equipe multidisciplinar.

Cuidados paliativos é aliviar o sofrimento dos doentes que não têm mais

possibilidades de cura [...] você já está sendo médico e bem médico (M.P.1).

[...] não é uma forma nova pra mim [...] opero câncer [...] eu explicava pra família [...]

vou cuidar dele até o final [...] evitar o sofrimento [...] (M.I.).

[...] estudando e conhecendo mais [...] é evitar mais o sofrimento de um ente querido

[...] (T.E.1).

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[...] seria àquela situação em que a gente não tem muito o se fazer pelo paciente [...]

em termos de tratamento [...] evitar o sofrimento (M.P.3).

[...] dar o bem-estar pra paciente, sem fazer ela ter sofrimento [...] (T.E P1).

São pacientes que não têm mais o que ser feito, no quadro dele, da doença [...] fica só

os cuidados paliativos [...] medicação pra dor [...] banho, curativo, conforto [...]

evitando com que o paciente sofra mais (T.E.P.2).

Percebe-se que a compreensão que a equipe multidisciplinar tem, a respeito dos cuidados

paliativos, vai no mesmo sentido daquela emitida pela Organização Mundial da Saúde, em

2002: promotora de qualidade de vida, aos pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças

que ameaçam a continuidade da vida; cabe-lhes, pois, a prevenção e alívio do sofrimento

(MATSUMOTO, 2012).

Como se pode constatar, aliviar sofrimento foi a denominação mais enfatizada pela equipe

multidisciplinar: tentar evitar e amenizar o quanto possível o sofrimento do doente e da família.

Esses profissionais percebem que a cura está além da capacidade humana do saber; o que está

ao seu alcance é o cuidado da higiene, conforto, carinho e respeito.

[...] a gente deve dar o devido conforto (M.P.3).

[...] tentar dar um conforto pro paciente [...] pros familiares (sic - T.E P1).

[...] importante os cuidados paliativos [...] tem que permanecer o máximo conforto

possível [...] o tempo de vida que ele tiver [...] (T.E.2).

[...] dar um conforto ao paciente [...] com que ele venha sentir mais cuidado [...]

(T.E.4).

Confirmando, esses profissionais compreendem a essência do que sejam os cuidados paliativos:

se a morte é inevitável, que o conforto seja imprescindível, tanto para o doente, quanto para a

família/cuidador; durante a vida e até o momento da morte.

[...] dar uma melhor qualidade de morte do paciente [...] a eutanásia é crime [...] (E.).

[...] vai ser aquele cuidado que a gente vai ter com aquele ser humano ter um final de

vida digno [...] (T.E.3).

Nesse entendimento sobre os cuidados paliativos, também está incluso o gestor desse hospital

analisado:

Uma visão positiva, porque eu acho que a pessoa deve morrer com dignidade [...] é

desumano estar colocando um paciente em situações que não vão levar a nada como,

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entubar, sonda vesical, acesso central, [...] não leva a nada [...] aquela pessoa está

apenas vegetando (G.H.).

Para Doyle (2009), cuidados paliativos já considera os cuidados em qualidade de vida; não são

indicados para doenças específicas, não definem tempo de sobrevida; é uma filosofia na arte do

cuidar, independentemente do sexo, classe social, crença ou raça.

Ao contrário, o desconhecimento do que sejam os cuidados paliativos faz com que a ação

paliativista seja confundida ora com o largar, abandonar o doente à própria sorte, ora com

eutanásia, que corresponde ao ato de abreviação da vida; confundida, até mesmo, com a

distanásia que, ao contrário, é a insistência pela cura, fora de possibilidades terapêuticas,

conforme explica, abaixo, um dos gestores entrevistados.

Todo mundo recebe cuidados paliativos [...] nem todos recebem cuidados curativos

[...] é amenizar ou eliminar a dor [...] aliviar uma angústia [...] sofrimento [...]

sentimento de solidão [...] finitude [...] desespero [...] dar uma dignidade para cada

paciente [...] a ele e a família (G. CTI).

Conforme ressalta Kruse et al. (2007): considerar a morte como um processo normal, em

doentes fora de possibilidades terapêuticas, isto é, não postergar ou antecipar a morte; é integrar

os aspectos psicológicos e espirituais do paciente e de sua família.

Quanto à família/cuidador, por vezes, não consegue explicar, de uma forma concreta, o que

sejam os cuidados paliativos, embora tenham deixado transparecer que compreendem o

tratamento como forma de prolongar a vida sem sofrimento e que o amor, naquele pouco tempo

que resta àquele familiar, pode ser a maior expressão para que a morte lhe seja menos dolorida.

[...] cuidado que se dá ao paciente em fase terminal independente da idade [...] dando

conforto ao paciente e a família (F).

[...] veio para ajudar o médico [...] o paciente [...] falar a verdade, que ali chegou o

seu estágio final [...] deixar que a natureza atue, de uma forma mais natural possível

[...] (M.P.2).

[...] o médico disse [...] os rins parando [...] o problema pulmonar muito

comprometido, o coraçãozinho muito fraquinho [...] infecção generalizada [...] a gente

resolver não fazer hemodiálise e então usar esse tratamento paliativo [...] essa

medicina paliativa dá essa extensão de vida (F/C 1).

[...] o paciente tá numa fase terminal [...] os médicos tá (sic) cuidando dela ali, fazendo

o possível [...] (F/C 2).

É um paliativo [...] não quero que minha mãe fique com aquele buraco no pescoço

[...] (F/C 3).

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Finalmente, pode-se dizer que os sujeitos, independentemente da sua graduação ou

familiaridade, mostraram-se conhecedores ou compreensíveis, ao que pretende os cuidados

paliativos; sabem que a atenção aos detalhes, nas necessidades dos pacientes, não requer

tecnologia, e sim, o tato.

4.2 Aspectos técnicos dos cuidados paliativos

Nesta Seção, apresentam-se os resultados, referentes aos aspectos técnicos dos cuidados

paliativos, segundo a percepção de gestores e da equipe multidisciplinar, em uma organização

hospitalar privada, na cidade do Recife-PE. Como na seção anterior, os depoimentos estão

separados, em subseções, segundo cada aspecto técnico, para facilitar a compreensão e

estimular o diálogo.

4.2.1 Abordagem à família

[...] depende muito da família [...] mesmo tendo tudo resolvido [...] seu ente familiar

está em cuidado paliativo [...] há um choque às vezes entre os membros da família

(G.H.).

O plantonista tem dificuldade na abordagem com a família [...] quem aborda e como

aborda [...] às vezes a família não tem um preparo [...] ninguém quer ser o vilão [...]

não vejo facilidades em trabalhar com cuidados paliativos (M.P.1).

[...] a família precisa ser abordada [...] que ali chegou o seu estágio final [...] pacientes

muito idosos [...] estágio vegetativo [...] (M.P.2).

[...] quem aborda a família é o médico [...] o que dificulta mesmo é a família aceitar

(E).

Dificuldade, mais da família [...] têm famílias que não aceitam [...] têm uns que acham

que não tem mais jeito, aí assina a paliação (T.E. 4).

[...] não chega pra família pra dizer [...] não explica o que seriam cuidados paliativos

[...] sempre dando àquela esperança [...] a família vai querendo mais resultado [...]

(T.E. P1).

Resistência da família [...] entenderem que o parente deles tá em cuidados paliativos

[...] mesmo o médico orientando [...] eles não aceitam [...] (T.E. P 2).

Pelos depoimentos acima, parece que o tratamento por meio dos cuidados paliativos não é

simples: tudo indica que a fase da abordagem às famílias e a sua consequente aceitação gera

dificuldade, sobretudo para os médicos plantonistas. Há, também, o caso da falta de informação

sobre o tratamento, por parte deles mesmos, que atrapalha o relacionamento com as famílias.

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Noticiar a fase terminal foi e sempre será difícil para os profissionais médicos, uma vez,

inclusive, que a sua formação acadêmica é para promover a cura. Para tanto, acredita-se que a

melhor maneira de se alcançar sucesso, nessa etapa, é quando se consegue uma relação com

empatia, segura e de confiança, entre a equipe multidisciplinar, doentes e família/cuidador.

Kluber -Ross (2016) adverte para o fato de que corredor de hospital não é lugar adequado para

expor a família à gravidade do seu doente e falar sobre cuidados paliativos. A abordagem

familiar precisa ser feita de modo preciso, olho no olho, com palavras simples.

O médico precisa falar da limitação terapêutica, que a possibilidade de cura não tem viabilidade.

Os pacientes e a família/ cuidador apreciam quando recebem a notícia na intimidade de um

quarto, o sentimento de empatia é mais forte que a tragédia imediata da notícia.

A equipe multidisciplinar precisa de um diálogo estruturado como arsenal terapêutico, pois é

dessa forma que se eliminam dissabores (COSTA FILHO, 2008). Na ação dos cuidados

paliativos não pode haver dúvidas quanto à conduta ou atitude médica, toda a equipe precisa

estar coesa, em ponto de vista e ações: a dúvida não é bem acolhida.

Os pacientes que se encontram em cuidados paliativos necessitam de uma efetiva humanização

hospitalar – é indispensável – o doente é o foco da atenção, não sua enfermidade (GARCIA;

RODRIGUES; LIMA, 2014).

Relembrando que os cuidados paliativos é uma filosofia de vida, não devem ser ato obrigatório

para os doentes que se encontram fora de possibilidades terapêutica, a negação da família ao

ato da paliação deve ser respeitada.

4.2.2 Consenso da equipe multidisciplinar

O consenso da equipe multidisciplinar é fundamental, para que se institua uma nova cultura na

área de cuidados paliativos: demanda um trabalho conjunto, inclusive com todo o corpo

organizacional hospitalar. A mudança de cultura necessita ser exposta de maneira clara,

objetiva; dúvidas precisam ser explicadas e resolvidas.

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[...] consenso da equipe multidisciplinar [...] ter uma linha de pensamento [...] a

família aceitar essa fase final de vida [...] todos chegarão à morte (F).

[...] respaldo também dos colegas [...] às vezes eu me sinto só (M.P.2).

Cuidados paliativos não têm protocolos ou regras, mas sim atitudes: a equipe multidisciplinar

necessita de um gestor que coordene a postura e as consequentes decisões da equipe. O

posicionamento diante do doente e família/cuidador tem que ser uniforme; não pode haver

discordância.

A equipe precisa entender bem o que é paliação [...] apesar de não haver uma coisa

oficial ou um protocolo [...] a gente lidar de forma objetiva e clara com os familiares

[...] os médicos assistentes [...] me parece que tem uma dificuldade [...] ser objetivo

com a família [...] já fui muito mais radical e paliativista [...] fui aprendendo a ser mais

tolerante e a abordar de uma maneira mais compreensiva à família (M.I.).

O que facilita é uma boa equipe (T.E.3).

[...] um corpo multidisciplinar mais envolvido com esse paciente em paliação [...] dar

uma assistência maior [...] os cuidadores diretos, facilitaria muito (M.P.3).

Trabalhar com a morte e o sofrimento de doentes fora de possibilidades terapêuticas requer uma

liderança, um gestor, para que haja uma maior confiança, comprometimento e respeito na

equipe multidisciplinar, na prestação de serviço em cuidados paliativos; dúvidas, ansiedade,

devem ser resolvidas.

Uma organização, que tem na sua cultura estimular seus funcionários, tende a ter uma equipe

motivada, capacitada e resolutiva, do contrário, a equipe pode se desestimular, diante das

dificuldades (ASSIS; SILVA, 2015).

4.2.3 Informação sobre cuidados paliativos

As informações sobre o que são cuidados paliativos devem ser rotineiras e persistentes entre a

equipe multidisciplinar, a fim de que sinta segurança para discutir sobre pacientes de difícil

prognóstico ou limite da cura, por exemplo; ainda, devem pautar o respeito entre ela, os doentes

e a família/cuidador.

[...] especializações são necessárias, mas ela torna o profissional muito impessoal [...]

técnico [...] é importante para emitir uma opinião enquanto especialista [...] não para

ser responsável pelo gerenciamento do tratamento do paciente (G.CTI).

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[...] treinar [...] não só a família [...] toda a equipe [...] abordar a família [...] explicar

o que é cuidados paliativos [...] quando a gente não conhece, é mais difícil da gente

decidir [...] é tanto que na maioria das vezes, muitos (familiares) ainda se prendem e

dizem não (T.E.1).

[...] o estudo, a especialização da equipe multidisciplinar, vai melhorar os cuidados

paliativos (G.H).

[...] seria muito bom que [...] hospitais pudessem ter um centro educativo [...] mostrar

às pessoas o que realmente é a paliação [...] muitos pensam que paliação é execução

[...] (T.E.1).

Nas organizações hospitalares, a dificuldade na assistência aos doentes que se encontram em

sua terminalidade é difícil para a equipe multidisciplinar, principalmente no momento de

definição em que eles são considerados incuráveis (KRUSE et al., 2007).

Entretanto, parece que é o conhecimento que pode gerar o sentimento de contentamento,

satisfação em trabalhar com cuidados paliativos, uma vez que a identificação profissional com

o perfil do paciente em sua fase terminal, é fundamental para quem deseja trabalhar em cuidados

paliativos (BRAZ; FRANCO, 2017).

Por outro lado, as implicações éticas, devido aos conflitos na equipe multidisciplinar, precisam

ser resolvidas em prol do bem-estar de doentes e famílias/cuidador. Estes, sob cuidados

paliativos, são sujeitos em que seus valores, crenças e contexto social trazem um sobrecarga

para toda a equipe multidisciplinar; nesses casos, a assistência psicológica se faz necessária.

[...] é importante [...] um especialista [...] mas todo médico tem que ter esse

conhecimento, independente (sic) da especialidade (M.P 1).

[...] uma reciclagem sempre de cuidados paliativos, independente (sic) do setor que

você trabalhe (T.E.3).

[...] quando a gente explica que esses procedimentos invasivos vão lesar os pacientes

mais que beneficiar [...] não vão melhorar o prognóstico [...] a família entende com

mais facilidade (M.P.3).

[...] cuidados paliativos? Quando se diz a família o que é, realmente a paliação existe

(T.E. P1).

[...] acho que deveria ter uma palestra, alguma coisa que fizesse a família se

conscientizar o que é [...] estar em paliação (T.E. P2).

Finalmente, entende-se que programas de educação e de treinamento para a equipe

multidisciplinar permitem um acolhimento harmônico entre pacientes e família/cuidador.

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4.2.4 Materiais utilizados em cuidados paliativos

Sobre os materiais utilizados para alívio da dor dos doentes, higiene pessoal, apoio à

família/cuidador, desde a alimentação e espaço físico individual com conforto, são

imprescindíveis aos cuidados paliativos.

[...] condições de materiais, que inclusive aqui a gente tem [...] aqui tem tudo (E).

[...] já tive dificuldade de material [...] medicação [...] humanização [...] estrutura, em

um serviço público de referência oncológica [...] no hospital que eu trabalho eu não

tenho dificuldade alguma (T.E.3).

[...] um paciente que está em paliação, é um paciente normal [...] medicação no horário

[...] banho, aspiração [...] não há dificuldade (T.E.2).

Percebe-se que nessa unidade hospitalar, não há problema quanto aos materiais utilizados em

cuidados paliativos; entretanto, sabe-se que a saúde pública do Brasil não assume

responsabilidade na assistência aos doentes em sua fase terminal; poucos centros de formação

acadêmica pública se iniciam em cuidados paliativos, com recursos próprios. Diante dessa

realidade, a organização hospitalar privada vem assumindo mais uma vez a lacuna que deveria

ser preenchida pela assistência médica pública.

4.3 Aspectos sociais dos cuidados paliativos

Finalmente, nesta seção, apresentam-se os resultados concernentes aos aspectos sociais dos

cuidados paliativos, segundo a percepção de gestores, equipe multidisciplinar e

família/cuidador, em uma organização hospitalar privada, na cidade do Recife-PE. Como nas

seções anteriores, os depoimentos estão separados, em subseções, segundo cada aspecto social,

para facilitar a compreensão e estimular o diálogo.

4.3.1 Religião, espiritualidade

Tem-se notado a influência da religião, para o sucesso ou fracasso dos cuidados paliativos.

Quando se trata de religião e/ou espiritualidade distorcida, apego inseguro, comunicação

tumultuada entre os membros da família, luto antecipatório mal resolvido, estes casos podem

contribuir para luto complicado, ocasionando tumulto na relação com a equipe multidisciplinar

(Quadro 3).

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A família, a religião, a nova medicina de cura, tem que intervir! Dificulta a ação dos

cuidados paliativos [...] tem gente que diz que é enxugar gelo [...] que Deus dá

inteligência para curar [...] cada vez mais idosos [...] ter um foco nesse quesito da

paliação (M.P.1).

[...] no nosso país [...] as pessoas têm uma religiosidade distorcida [...] Deus pode tudo

[...] coloco pra eles que ele (Deus) não vai subverter a natureza que ele próprio criou

[...] (M.I.).

Segundo esses depoimentos, parece que membros da equipe multidisciplinar não consideram

que a religiosidade ajudanesse processo de tratamento.

A comunicação de uma doença incurável ou até mesmo diante de um esgotamento terapêutico

em doenças não consumptivas, impõe que o doente e sua família percorram seis estágios de

reação emocional, social e até mesmo orgânica; observa-se que, no sexto e último estágio, há a

espera do milagre (KLUBER-ROSS, 2016; KOVÁCS, 2012). “Deus salvará, Deus pode tudo!

Eu creio em Deus”. Em geral, esse estágio impossibilita a compreensão e aceitação para os

cuidados paliativos.

Em geral, a dignidade do ser humano está em uma visão teológica-religiosa, que o leva a crer

que seja uma criatura divina e redimida por Cristo. Para os cristãos, Deus é o senhor da vida e

não cabe ao ser humano tirar, abreviar ou comandá-la (BIFULCO; CAPONERO, 2016).

[...] sendo espírita [...] outro estágio de evolução [...] esperar o que Deus tenha

guardado para mim [...] (T.E.3).

[...] só Deus sabe qual é a missão de cada um (E).

[...]a gente é chamado prum (sic) outro plano e acredito que a vida continua

acontecendo por lá. De uma forma diferente [...] (M.P.3).

Os relatos acima referidos pelos sujeitos foram também analisados na percepção sobre o ritual

da morte como desfecho final da vida, e são novamente inseridos nos aspectos sociais dos

cuidados paliativos, na subcategoria espiritualidade e religião, como fator facilitador na

interpretação sobre a vida, a doença e a morte: todos são estágios cíclicos e interdependentes e

que a morte fim. Acredita-se que a maturidade espiritual possa favorecer uma melhor aceitação

na ação dos cuidados paliativos.

Por muitas vezes, a equipe multidisciplinar apresenta dificuldades na abordagem espiritual de

si própria; assim, esta insegurança pode interferir na relação doente-família/cuidador.

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Identificar, respeitar e estimular a espiritualidade, na ação dos cuidados paliativos, também

pode amenizar o sofrimento do cuidar e estimular uma relação mais humana (SAPORETTI;

SILVA, 2012).

A religiosidade ou espiritualidade interfere no ritual da morte, por muitas vezes, entendida

como uma rendição, quanto ao limite da vida. A crença em uma dimensão, além do mundo

material em que se vive, traz um conforto àqueles que desejam que ela não seja o fim de uma

existência. Imaginar que existe outra dimensão, além do mundo material e a possibilidade de

uma vida eterna, ameniza o medo.

O médico paliativista do século XXI ainda é visto com algum preconceito como o “anjo da

morte”, por seus próprios colegas médicos, corroborando mais uma vez a fragilidade ou

indefinição dos profissionais médicos em sua espiritualidade/religiosidade (BIFULCO;

CAPONERO, 2016).

4.3.2 Aspectos socioculturais

Este é um fator problemático, na sociedade brasileira, em que o poder público não assume a

responsabilidade de cuidar do cidadão. Doentes em sua terminalidade lotam os corredores dos

hospitais públicos e se misturam àqueles que procuram assistência médica, no setor de urgência.

Nos hospitais privados, os doentes fora de possibilidades terapêuticas, por muitas vezes, estão

em leitos de terapia intensiva, os quais deveriam estar direcionados a pacientes com doença

curável.

[...] a faixa etária que mais cresce são os nonagenários [...] muitos não têm qualidade

de vida [...] irritados [...] as famílias financeiramente comprometidas [...] os

cuidadores não são treinados, o país está envelhecendo e não está preparado para

isso [...] (M. P.2).

[...] tenho um paciente [...] quarenta e poucos anos [...] bronquiectasia em ambos os

pulmões [...] pneumos já avaliaram [...] fora de possibilidades terapêuticas de

transplante [...] é muito sofrido quando a gente tem um paciente de uma idade jovem

(M.P.3).

A sociedade brasileira está tendo o privilégio da longevidade e de viver a senilidade com

qualidade de vida, mas é importante sempre entender que esse privilégio traz a consequência

do aumento das doenças crônicas, não transmissíveis, degenerativas e cânceres.

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O home care, com suas nuances em cuidados paliativos, ainda não está devidamente implantado

com recursos hábeis e profissionais treinados (DOYLE, 2009). A busca por renda, na sociedade

brasileira do século XXI, traz como consequência a inclusão de cuidadores profissionais fora

do círculo familiar; esta, da sua parte, assume financeiramente o seu doente intradomicilar.

[...] no início da minha faculdade, mal se falava dessa questão da paliação [...] a

família às vezes não tem determinados conhecimentos [...] eu tô (sic) levando meu

paciente, meu familiar pra morte [...] (E).

O nosso país [...] as pessoas têm muita dificuldade de aceitar a terminalidade de um

parente [...] do ponto de vista cultural, nosso povo precisa evoluir [...] (M.I.).

O Sistema Único de Saúde (SUS), em 2002, incluiu a ação dos cuidados paliativos em

oncologia pela portaria 859 do Ministério da Saúde sobre disponibilização de opioides

(DOYLE, 2009). Atualmente, as ações públicas em cuidados paliativos são pontuais no

território brasileiro, os municípios não têm capacidade para gerenciar a administração de

opioides na assistência básica domiciliar.

O aumento de pessoas com idade acima de 60 anos, vem aumentando uma demanda por

cuidados paliativos e mais uma vez o poder público se exime de prestar essa assistência,

transferindo a ação paliativa para o serviço privado de saúde.

Na gestão hospitalar humanizada é de fundamental importância que a organização hospitalar

favoreça a educação permanente para a morte, para uma melhoria na relação equipe

multidisciplinar-família/cuidados (KOVÁCS, 2012).

A comunicação eficaz entre equipe multidisciplinar com a família/cuidador ocasiona um

ambiente harmônico, de confiança mesmo diante da perda iminente.

[...] a visita multidisciplinar [...] proposta terapêutica [...] conversa única [...]

esclarecimento dos familiares sobre o que é cuidados paliativos (G.CTI).

[...] o desligamento da família com o paciente [...] a gente entende [...]. A falta de

desapego [...] é desapegar daquele parente (T.E. P2).

[...] vai fazer quatro meses e meio que ela está aqui no hospital [...] dificuldades em

acompanhar toda a situação dela [...] cinco entradas na UTI [...] no apartamento [...]

o prazer de estar todo dia com ela [...] dá conforto e até ajuda a gente a aceitar a

situação final que vai acontecer [...] ela tá (sic) feliz ao ver que está junto da família

(F/C 1).

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A organização hospitalar que se propõe a exercer a cultura de cuidados paliativos necessita

favorecer o bem-estar físico, mental, espiritual e social, pois a cura não mais existe, o foco da

atenção é o doente e não mais a enfermidade (GARCIA; RODRIGUES; LIMA, 2014).

A humanização de uma organização hospitalar, na arte do cuidar, está no uso responsável da

tecnologia, servir as pessoas com empatia, promover a qualidade de vida das pessoas, ter

solidariedade e respeito pelo doente-família-equipe multidisciplinar é de fundamental

importância (SEBASTIANY; CAVEIÃO, 2017).

[...] fazer esse acolhimento na parte da tarde [...] uma ótima ideia [...] ela se sente bem

quando escuta a voz da família [...] fica sorridente [...] estou gostando dos cuidados

(F/C 2).

[...] tava mais ruim quando tava na urgência [...] passei 3 dias lá numa cadeira [...] 22

dias que a gente tá aqui (no quarto) [...] limpeza maravilhosa [...] alimentação também

[...] tem cuidado de perguntar o que a gente tá precisando [...] a nutricionista fez um

cardápio para mim [...] (sic - F/C 3).

O setor de urgência hospitalar é o local em que o doente tem seu acesso por intercorrência de

saúde, em sua maioria recebe diagnóstico, tratamento terapêutico e posteriormente é

normalmente inserido em sua rotina de vida. O doente em sua terminalidade, quando têm seu

acesso à organização hospitalar, por ocasião de intercorrência de sua doença, é direcionado ao

mesmo setor de urgência em que estão os doentes sob cuidados curativos.

O doente fora de possibilidade terapêutica necessita ser encaminhado à internação hospitalar

junto com sua família/cuidador. A permanência no setor de emergência precisa ser breve, a

acomodação individual é imprescindível, abordar sobre cuidados paliativos deve sempre ser na

intimidade família/cuidador-equipe multidisciplinar-doente.

4.3.3 Desavenças familiares

Desavenças familiares e suas particularidades são comuns, ocasionando até indefinição e

privação da ação dos cuidados paliativos; realmente, conviver com doentes fora de

possibilidades terapêuticas e com seus familiares, pode gerar conflitos, devido ao momento

tenso e estressante, quando as decisões nem sempre são fáceis.

[...] minha mãezinha sempre morou com minha irmã mais velha [...] eu e ela sempre

cuidamos dela [...] a outra irmã, que a senhora conheceu [...] esquisita, não ajuda,

atrapalha (F/C 1).

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Às vezes acho que a família está largando [...] a outra cuidadora [...] não tem carinho

[...] (F/C 2).

[...] eu tenho o que falar [...] minha irmã caçula, mora com minha mãe, não quer ficar

cinco minutos com minha mãe [...] ela sabia administrar muito bem a pensão da minha

mãe [...] hoje, eu administro a pensão da minha mãe, tudo é pra ela [...] eu faço tudo

na casa de minha mãe, depois ainda tem minha casa, é difícil [...] (F/C 3).

A angústia e a incerteza em ter um familiar em fase final da vida trazem como consequência

preocupações de ordem prática, já que a ordem familiar foi quebrada pela doença e eminência

da morte. Internação hospitalar em cuidados paliativos pode levar algum tempo; por muitas

vezes, a família/cuidador se sente mais segura(o) em ambiente hospitalar, mesmo que essa

situação possa trazer alguns transtornos familiares.

Com o advento da internet se iniciou uma facilitação na administração e obtenção de

informações por parte da família/cuidador: a distância da rotina de vida foi diminuída, mas é de

fundamental importância que a equipe multidisciplinar tenha sensibilidade, discernimento e

habilidade para tratar de cada assunto a seu tempo (OLIVEIRA, 2012).

[...] depende muito da família [...] mesmo tendo tudo resolvido [...] seu ente familiar

está em cuidado paliativo [...] há um choque às vezes entre os membros da família

(G.H.).

Diante deste depoimento, de um gestor hospitalar e de outros, emitidos por alguns membros da

equipe multidisciplinar, aqui relatados, sobre aspectos técnicos dos cuidados paliativos, pode-

se entender que, em muitas vezes, as desavenças familiares possam interferir negativamente

nessa ação, podendo até mesmo ocasionar a sua suspensão.

Por diversas vezes, a escolha do cuidador é feita de forma impositiva, a algum familiar: ora

escolhem aquele que está mais próximo, ou aquele mais desocupado ou, ainda, aquele que tem

uma estrutura econômica mais favorável para dar suporte aos cuidados médicos. Ao contrário,

quando se tem disponibilidade financeira, escolhem-se cuidadores sem vínculo familiar

(BIFULCO; CAPONERO, 2016); tal como se diz na mídia: “Pais órfãos de filhos vivos”.

4.3.4 Legislação

A criação de um grupo multiprofissional intra-hospitalar é importante para gerenciar debates,

reflexões, crenças, balizadas pela bioética. O direito a verdade é fundamental na relação equipe

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multidisciplinar-doente-família/cuidador, saber a verdade é vital para ter discernimento de

como processar e administrar a enfermidade.

Os valores éticos e morais obrigam a equipe multidisciplinar a estar ao lado do doente e da

família/cuidador; prosseguir tratamentos desnecessários em pacientes fora de possibilidade

terapêutica, por exemplo, vai de encontro ao código de ética médica (DOMINGOS; KFOURI

NETO; LIMA, 2016).

[...] amparo judicialmente [...] você continuar insistindo nesses tratamentos, não traz

benefício [...] pesquisas, trabalhos científicos, como eu diria [...] você tá (sic) fazendo

uma distanásia [...] (M.P.2).

A legislação é outro ponto importante [...] a vontade dele (paciente), ele perde a

capacidade de decisão, a família é quem decide [...] na maioria das vezes ao contrário

daquilo que ele queria [...] (M.I).

Em ambiente hospitalar, é importante que o departamento de bioética esteja inserido na tomada

de decisões sobre a morte, para fortalecer a equipe multidisciplinar (SEBASTIANY;

CAVEIÃO, 2017).

No caso dessa organização hospitalar, aqui analisada, todos os entrevistados salientaram sobre

o respeito com que lhes têm tratado, no sentido de se adaptar ao doente e às famílias/cuidador,

de maneira individualizada, de acordo com cada expectativa ou cultura.

4.3.5 Experiências pessoais

Entende-se que as experiências pessoais são importantes, inicialmente, para facilitar o

relacionamento entre a família/cuidador e a equipe multidisciplinar; depois, para promover a

aceitação das perdas dos entes queridos, de um modo menos traumático.

Mesmo quando se é magoado; quando se perde um “ente” querido, ou diante do sofrimento, é

de fundamental importância, para os que trabalham em cuidados paliativos, respeitar a mágoa,

as perdas e o sofrimento do outro, afinal de contas, isso deve fazer parte do ser humano,

principalmente dos profissionais da área da saúde.

[...] meu pai entubado [...] dei ordem lá pro médico da UTI não ressuscitar ele [...]

meu pai tá morrendo [...] (sic - M.I).

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Eu tive experiência de ter uma paliação [...] vai investir por investir [...] mais

sofrimento [...] não, então vamos dar conforto (T.E.P 1).

[...] um sobrinho [...] trauma de crânio grave [...] treze anos tetraplégico [...]

insuficiência renal [...] vai precisar dialisar [...] eu disse pra ele se não dialisar você

vai morrer [...] ele disse pra mim, é isso que eu quero [...] (M.I).

[...] meu marido veio a falecer [...] 33 anos casada [...] aceitei com muita facilidade a

situação da morte [...] (F/C 1).

[...] falei pra vó, vó não autoriza levar o vô pra UTI [...] eu sabia que a UTI não ia

curar o vô [...] deixa o vô em casa [...] (sic - MP 3).

Experiências pessoais, certamente, devem trazer à equipe multidisciplinar uma relação

empática com o doente-família/cuidador, já que a finitude – a morte – é inerente ao ser humano

e não pode ser tratada como uma doença.

Não foi observado, dentre os sujeitos da equipe multidisciplinar aqui entrevistados, dificuldades

na relação com a família/cuidador, mas segundo Bifulco e Caponero (2016), afastamentos e

pedidos de licença podem ser um sinal de desgaste e esgotamento dessa equipe, pois é

importante crescer interiormente, com responsabilidade ou, então, caminhar para a síndrome de

esgotamento, conhecida como Síndrome de burnout.

Braz e Franco (2017) definem fatores que protegem o luto, esses estão relacionados com as

experiências de cada pessoa e precisam fazer parte da vida dos que trabalham em cuidados

paliativos. A proteção ao luto e à perda, favorece uma oportunidade para uma melhor

comunicação com o doente-família/cuidado.

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5 CONCLUSÃO

Como foi evidenciado nesta pesquisa, a alteração demográfica do século XXI traz como

consequência o aumento da longevidade e, consequentemente, o aumento da morbimortalidade

das pessoas, sendo de fundamental importância que a dignidade da morte esteja inserida no

contexto social.

No Brasil, a ineficiência da saúde pública faz com que doentes em sua finitude, se encontrem

abandonados nos corredores de hospitais, em situação de sofrimento físico, emocional e social.

Em contrapartida, as Unidades de Terapia Intensiva nos hospitais privados, com toda a

infraestrutura terapêutica e tecnológica, favorecem a perpetuação da vida.

Não se espera que a organização hospitalar venha mudar sua cultura de assistência aos doentes,

para promover a cura e favorecer a saúde; no entanto, entende-se que a prestação de serviços

em cuidados paliativos é importante para que se tenha uma gestão humanizada com os doentes

em sua finitude. A morte não é uma doença, não existe medida terapêutica ou tecnológica que

a cure, pois ela é inevitável e deve ser vivenciada com dignidade, pelo tripé: equipe

multidisciplinar-doente-família.

Sobre o ritual da morte, percebeu-se, da parte da equipe multidisciplinar, que mesmo não sendo

aceito por alguns dos sujeitos, naturalmente, estes o encaram como inevitável, como algo que

faz parte da rotina da profissão e até mesmo da vida pessoal. Sendo assim, não foram

observados sentimentos como frustração e ansiedade, diante de doentes que se encontravam

fora de possibilidades terapêuticas; tudo indica que, para essa equipe, o sentimento de perda e

a tristeza não interferem na dinâmica da assistência em cuidados paliativos.

A síndrome de burnout, que vários pesquisadores afirmam como relevantes na equipe

multidisciplinar, pela impossibilidade de cura em doentes fora de possibilidades terapêutica,

não foi observada nos sujeitos pesquisados, até porque, alguns sujeitos citam a sua própria

espiritualidade e experiências pessoais em paliação de seus familiares como fatores importantes

para aceitação da morte.

No caso das famílias/cuidador, percebeu-se que elas não negam a morte, entendem que é

iminente, embora todo o tempo que resta, precisa ser bem vivido. A morte como descanso é a

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interpretação de todo um longo processo de ansiedade, cansaço físico, exaustão financeira e

emocional, pela doença incurável.

Sobre os cuidados paliativos, a equipe multidisciplinar define-os de acordo com sua graduação

e experiência profissional: alívio do sofrimento, conforto ao doente-família/cuidador e

dignidade para a morte; providências que acreditam ser necessárias e que podem amenizar a

dor da perda física.

Da parte da família/cuidador, tudo leva a crer que esta tem dificuldade na definição do que são

cuidados paliativos, no entanto, parece entender que é um “tratamento de cuidar” que pode

promover maior tempo de vida ao seu doente e que isso não o machuca. Entende, também, que

a cura não mais existe e que só o amor é a expressão para que a perda seja menos dolorida.

Quanto aos aspectos técnicos dos cuidados paliativos, a equipe multidisciplinar salienta a

dificuldade que sente em abordar as famílias/cuidador, pois a comunicação de más notícias não

é fácil nem agradável, para nenhuma das partes; isso dificulta, evidentemente, a ação

paliativista, embora o profissional médico, como líder da equipe, deva administrá-la.

Sobre esse aspecto, a educação continuada em cuidados paliativos foi pontuada por alguns da

equipe multidisciplinar. Salienta-se, aqui, que o desconhecido, em geral, amedronta e que o

estudo, como fomentador do conhecimento, deve contribuir para tomadas de decisões

coerentes, seguras e, ainda, estimular segurança para a abordagem da família/cuidador.

A organização hospitalar precisa se inserir intimamente e intensamente na relação

família/cuidador-equipe multidisciplinar na tentativa de amenizar as dificuldades entre esses

sujeitos para que seja favorecida uma melhor compreensão sobre os cuidados paliativos.

A educação continuada para a equipe multidisciplinar e a devida informação para a

família/cuidador, contribuem como fatores facilitadores para que abordagem familiar e dos

doentes seja harmoniosa.

No que se refere aos aspectos sociais dos cuidados paliativos, a equipe multidisciplinar ressalta

a religião/espiritualidade distorcida, como fator dificultador na ação paliativista. Alguns

profissionais acreditam que seja primordial a constante informação à família/cuidador, sobre

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cuidados paliativos. Citam experiências pessoais, de quando estavam na condição de família e,

portanto, responsáveis pela autorização da paliação de seus doentes.

Quanto à legislação concernente, essa ainda permanece sendo um fator que ocasiona

insegurança aos profissionais paliativistas entrevistados, mesmo diante do fato da distanásia já

estar inserida no código de ética médica como punição, ao profissional médico que assume

atitudes extremas na tentativa de cura em pacientes sem possibilidades terapêuticas.

Quanto aos aspectos sociais mais relevantes, citados pela equipe multidisciplinar, estão: a

cultura da sociedade local, a religião deturpada, a falta de informação sobre o que são cuidados

paliativos, bem como o desapego para com seu doente.

Para a família/cuidador, os aspectos sociais relevantes e, portanto, que merecem mais atenção,

são: desavenças familiares e suas consequências para o doente, discussões sobre aspectos

financeiros, além de disponibilidade para cuidar. Esses podem interferir na relação

família/cuidador-doente-equipe multidisciplinar; nesse contexto, a organização hospitalar, por

meio dos serviços social e psicológico, deve intervir a fim de amenizar esses conflitos.

Sobre esses aspectos sociais, ainda, chama-se a atenção para o acesso dos doentes crônicos, em

sua terminalidade, pelo setor de urgência/emergência geral: parece que isso desgasta a relação

equipe multidisciplinar-doente-família/cuidador, uma vez que já trazem consigo e com sua

família, desgaste emocional, ansiedade, insegurança, medo, apego; sendo assim, a organização

hospitalar necessita de uma abordagem diferenciada.

Quando se referiram à organização hospitalar investigada, todas as famílias salientaram o

respeito com que ela lhes tem tratado, no sentido de se adaptar ao doente e a cada

família/cuidador, aspectos esses individualizados, levando em consideração cada cultura

familiar.

De sua parte, a organização hospitalar, por intermédio de sua equipe multidisciplinar, apresenta-

se como gestora responsável pela humanização no ato de cuidar, daqueles pacientes que se

encontram fora de possibilidades terapêuticas, acolhendo a família/cuidador com respeito,

dignidade, promovendo aceitação da finitude.

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Para uma organização hospitalar que se propõe a prestar serviço em cuidados paliativos,

necessita que o departamento de recursos humanos entenda o que são cuidados paliativos para,

entender que a promoção de uma morte digna, precisa ser vivenciada e aceita diante de um

doente fora de possibilidades terapêuticas.

Recursos humanos para trabalhar com cuidados paliativos não têm relação com tempo de

serviço na área da saúde, a formação superior ou técnica. É de fundamental importância que o

perfil do profissional paliativista tenha “algo a mais”, pois cuidados paliativos não são guiados

por protocolos e sim por atitudes.

É de fundamental importância que toda a organização hospitalar, desde a entrada principal no

complexo hospitalar, na figura de todos os seus colaboradores, saiba o que são cuidados

paliativos e que, no ambiente onde trabalham, existe uma unidade de cuidados paliativos.

É importante salientar que prestar serviço em cuidados paliativos está além da humanização

hospitalar; não há protocolos e, como já foi evidenciado, são atitudes e essas têm que estar em

consonância entre equipe multidisciplinar-organização hospitalar-doente-família/cuidador.

Departamento de bioética, assistência social e psicologia têm responsabilidades relevantes na

assistência paliativa. Conviver com a morte eminente necessita de suporte contínuo.

Cada doente em sua terminalidade, bem como a sua família, precisa ser abordado pela

organização hospitalar, segundo seus valores, crenças, aspectos sociais e emocionais. Estes se

apresentam em um contexto diferente daqueles com possibilidade de cura, os quais procuram a

organização hospitalar diante de uma doença curável, em que a morte, mesmo sendo uma

possibilidade, a cura é possível; logo, os aspectos emocionais e sociais são de menor magnitude.

Em nenhum momento, a equipe multidisciplinar e a família/cuidador apontaram a organização

hospitalar investigada como fator dificultador na ação dos cuidados paliativos, mas diante do

que foi exposto nos aspectos técnicos, é importante que haja um gerenciamento mais profundo,

responsável e de cumplicidade entre equipe multidisciplinar-família/cuidador.

A figura abaixo define uma conclusão mais prática da responsabilidade da organização

hospitalar estudada quanto à prestação de serviços paliativos.

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Figura 2 – Modelo de integração Organização hospitalar x Cuidados paliativos

Fonte: elaborada pela a autora.

No centro da imagem temos a equipe multidisciplinar-doente-família/cuidador, que é

identificada a percepção sobre a cultura da morte com amadurecimento pessoal, assim como a

percepção do que são cuidados paliativos. Abraçando esse núcleo, é importante que o

departamento de bioética, psicologia e de assistência social, esteja coeso para fortalecer a

relação, dando suporte na prestação da ação paliativa. A organização hospitalar precisa estar no

gerenciamento amplo, solidificando a ação paliativa para que essa seja coerente e respeitosa em

todos os aspectos médicos, técnicos e sociais.

Finalmente, sugere-se que a organização hospitalar tenha um departamento de bioética que seja

ativo, para respaldo jurídico nas ações da equipe multidisciplinar, junto ao doente e à

família/cuidador, pois quando os pacientes se encontram fora de possibilidades terapêuticas, o

seu estado crônico pode provocar alterações físicas, emocionais, psicológicas, sociais e, até

mesmo, legais.

Enfim, esta pesquisa qualitativa, como todas elas subjetivas, na compreensão de alguns, pode

não apresentar uma percepção concreta sobre o que é o ritual da morte e os cuidados paliativos,

os aspectos técnicos e sociais, assim como a inserção da organização hospital como gestora.

Mas, mesmo assim, tem-se, aqui, a intenção de contribuir para que a sociedade brasileira possa

Equipe multidisciplinar-doente-família/cuidador

Bioética- psicologia- assistência social

Organização hospitalar

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iniciar a discussão sobre os doentes que se encontram fora de possibilidades terapêuticas e

estimular novas pesquisas, visto que a impossibilidade de cura de uma doença interfere na vida

das pessoas.

Trabalhar em cuidados paliativos, pesquisar cuidados paliativos, necessita de pessoas que

estejam além do simples ato de cuidar e pesquisar: o doente em paliação precisa ser abordado

no seu ser físico, dor e desconforto; no seu ser emocional, espiritual, social familiar e social da

sociedade em que se insere. Diante disso, é complexo abordar toda esta situação, sendo de

fundamental importância que as pesquisa em qualidade na ação paliativa seja constante já que

é difícil administrar o conjunto de alterações físicas, emocionais e socioeconômicas que a

incurabilidade de uma doença demanda.

Para finalizar esta minha pesquisa, tenho a ousadia de afirmar que, para o cuidar paliativo é

imprescindível: amor, respeito, caridade, compaixão, é necessário um cuidar do fundo da alma.

Figura 3 – Cuidados Paliativos do século XVIII

Fonte: Picasso (1987).

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Nesta figura podemos observar a doente em sua finitude, em ambiente domiciliar, assistida pelo

profissional médico que possui como único instrumento tecnológico o relógio para identificar

o batimento do pulso periférico da doente. Ao seu lado a imagem religiosa de uma “irmã de

caridade”, da ordem de São Vicente de Paula, precursor dos primeiros Óspices. Essa religiosa

alimenta e cuida da doente, assim como se responsabiliza civilmente por seu(sua) descendente.

Podemos definir essa imagem como Cuidados Paliativos do século XVIII.

Figura 4 – Cuidados Paliativos do século XXI

Fonte: Chagas (2016).

Na figura acima podemos identificar cumplicidade, respeito, amor, carinho e compaixão. Não

há instrumentos tecnológicos para promoção da vida. A espera da finitude é harmoniosa,

iluminada, com cumplicidade, não há angústia ou sofrimento, apenas a espera de cumprimento

de uma missão.

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APÊNDICE A – ROTEIRO DA ENTREVISTA

Roteiro da Entrevista

Equipe multidisciplinar:

Nome completo

Idade

Sexo

Graduação escolar

1- Qual a sua percepção sobre a morte?

2- Qual a sua percepção sobre cuidados paliativos?

3- Quais as dificuldades em trabalhar em cuidados paliativos?

4- Quais as facilidades em trabalhar com cuidados paliativos?

Família/Cuidador:

Nome completo

Idade

Sexo

Graduação escolar

1- Qual a sua percepção sobre a morte?

2- Qual a sua percepção sobre cuidados paliativos?

3- Quais as dificuldades em trabalhar em cuidados paliativos?

4- Quais as facilidades em trabalhar com cuidados paliativos?

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ANEXO A – DECLARAÇÃO DE HELSÍNQUIA

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ANEXO B – FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES

HUMANOS – PLATAFORMA BRASIL

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ANEXO C – COMPROVAÇÃO DE CADASTRO DO PROJETO NA PLATAFORMA

BRASIL

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ANEXO D – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DO HOSPITAL UNIMED RECIFE

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ANEXO E – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DO HUOC

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ANEXO F – CARTA DE ANUÊNCIA DO HUOC

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ANEXO G – TERMO DE CONFIABILIDADE DO HUOC

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ANEXO H – PLANILHA DE REGISTROS DE PROJETOS PARA

ANUÊNCIA DO HUOC

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ANEXO I – CONSENTIMENTO INFORMADO PARA AUTORIZAÇÃO DA

PESQUISA

CONSENTIMENTO INFORMADO PARA AUTORIZAÇÃO DA PESQUISA AOS

RESPONDENTES, GESTOR HOSPITALAR, EQUIPE MULTIDISCIPLINAR E

FAMÍLIA/CUIDADOR

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

O RITUAL DA MORTE E OS CUIDADOS PALIATIVOS: ESTUDO DE MÚLTIPLOS

CASOS EM DUAS ORGANIZAÇÕES HOSPITALARES PÚBLICA E PRIVADA NA

CIDADE DO RECIFE-PE.

Responsáveis: Dra: Maria Auxiliadora Diniz de Sá, Dr: José Anchieta de Brito e Mestranda

:Ana Izabel de Brito Castro Sartori.

Você está sendo convidado (a) como voluntário a participar da pesquisa, o ritual da morte

e os cuidados paliativos: estudo de múltiplos casos em duas organizações hospitalares, privada

e pública na cidade do Recife-Pe, sob a responsabilidade dos pesquisadores, Profª Dra: Maria

Auxiliadora Diniz de Sá, Profº Dr: José Anchieta Brito e mestranda Ana Izabel da Brito Castro

Sartori, que tem como objetivo entender o ritual da morte e dos cuidados paliativos, na

percepção do tripé, gestores hospitalares, equipe multidisciplinar e família/cuidador.

O procedimento de coleta de dados será com entrevistas, gravadas em áudio, realizadas no

ambiente hospitalar, pela pesquisadora Ana Izabel de Brito Castro Sartori, na tentativa de

compreender a percepção dos sujeitos a respeito dos objetivos específicos da pesquisa, de

acordo com a disponibilidade dos participantes, sendo o horário marcado previamente pelo

pesquisador.

No caso de ser detectado algum desconforto ou mobilização emocional no momento das

entrevistas, será disponibilizado um espaço de fala, com uma psicóloga, pertencente às referidas

organizações hospitalares, com o intuito de dar suporte a qualquer tipo de mobilização

emocional decorrente da pesquisa.

O benefício esperado com o resultado dessa pesquisa, está na oportunidade de estimular

uma nova forma de cuidar do doente fora de possibilidades terapêutica, oferecer apoio

emocional, a família/cuidador e a equipe multidisciplinar.

O (A) senhor (a) terá os seguintes direitos: 1ª a garantia de esclarecimento e respostava

qualquer pergunta;

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2ª liberdade de abandonar a qualquer

momento a pesquisa sem prejuízo para si;

3ª garantia de privacidade à sua identidade

e do sigilo de suas informações;

4ª garantia de que caso haja dano a sua

pessoa ou dependente, os prejuízos serão assumidos pela pesquisadora ou pela instituição

responsável, inclusive acompanhamento médico hospitalar. Caso haja gastos adicionais esses

serão absorvidos pela pesquisadora.

No caso de dúvidas e esclarecimentos o (a) senhor (a) deve procurar os pesquisadores, Ana

Izabel de Brito Castro Sartori (81) 999711865, Maria Auxiliadora Diniz de Sá (83) 996858372,

José Anchieta de Brito (81) 988264456.

Eu..................................................................................................................................................

.................................................................................................após ter recebido todos os

esclarecimentos e cientes dos meus direitos, concordo em participar dessa pesquisa, bem como

autorizo a divulgação e a publicação de minha informação para eventos de carácter científico.

Dessa forma assino este termo em duas vias junto com o pesquisador, ficando uma via sob meu

poder e outra em poder da pesquisadora.

Local Data........../........./.........

------------------------------------------------------------ --------------------------------

Assinatura do sujeito Assinatura do Pesquisador

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ANEXO J – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

DECLARAÇÃO DO PARTICIPANTE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO

(Elaborado de acordo com a resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde e

legislação complementar da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa)

Eu, _______________________________________ fui informado (a) dos objetivos da

pesquisa e esclareci minhas dúvidas. Sei que em qualquer momento poderei ter novas

informações. Os pesquisadores José Anchieta de Brito e Ana Izabel de Brito Casrtro Sartori,

me garantiram de que todos os dados desta pesquisa serão guardados em sigilo.

Em caso de dúvidas poderei ser esclarecido (a) a qualquer momento pelos pesquisadores

responsáveis: Profª Dra: Maria Auxiliadora Diniz de Sá ( 083) 996858372, Profº Dr: José

Anchieta de Brito e a mestranda Ana Izabel de Brito Castro Sartori (81) 988264456, (81)

999711865 respectivamente.

Emails: [email protected], [email protected],

[email protected].

Os pesquisadores podem ser encontrados pelo Comitê de Ética em Pesquisa do complexo

Hospitalar HUOC/PROCAPE UPE, situado na Rua Arnóbio Marques, 310 - Santo Amaro,

Recife-PE, CEP 74970-240. Tel: (81) 3184-1271. Funciona de segunda a sexta-feira no horário

de 8:00 às 12:00 e de 14:00 às 17:00. E-mail: [email protected]

O Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Pernambuco tem como objetivo

defender os interesses dos participantes, respeitando seus direitos e contribuir para o

desenvolvimento da pesquisa desde que atenda às condutas éticas. Declaro que concordo em

participar desse estudo. Recebi uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

________________________________________________

Assinatura do Participante Data: ___/___/___

__________________________________________________

Assinatura do Pesquisador Data: ___/___/

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ANEXO L – GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE

RECUSA E SIGILO

GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE RECUSA E GARANTIA DE

SIGILO:

Você será informado (a) sobre a pesquisa e caso tenha qualquer dúvida pode perguntar

a qualquer momento e ainda terá liberdade para não querer participar. Todas as informações

que você der durante a pesquisa serão mantidas em sigilo, ou seja, somente o pesquisador tem

acesso as informações. Seu nome ou o material que indique a sua participação não será liberado

sem a sua permissão.

Você não será identificado (a) em nenhum documento que possa resultar desta pesquisa.

Uma cópia deste documento será arquivada junto com o pesquisador, para posterior análise.

Após apresentação dos resultados, as transcrições serão arquivadas por 5 anos e depois

destruídas.

CUSTOS DA PARTICIPAÇÃO, RESSARCIMENTO E INDENIZAÇÃO POR

EVENTUAIS DANOS: A participação nesse estudo não tem custos para os entrevistados ou

retorno financeiro pela participação.

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ANEXO M – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DO HUOC

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ANEXO N – TERMO DE CUIDADOS PALIATIVOS