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CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL ROSANGELA BATISTA LOURENÇO A TERAPIA COGNITIVO - COMPORTAMENTAL APLICADA À PROCRASTINAÇÃO ACADÊMICA E NO TDAH: PROTOCOLO DE TÉCNICAS São Paulo 2019

CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO ... · Lourenço, Rosangela Batista. II. Pacheco, Silvia. III. Martins, Eliana Melcher. Rosangela Batista Lourenço Terapia Cognitivo-Comportamental

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CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO-

COMPORTAMENTAL

ROSANGELA BATISTA LOURENÇO

A TERAPIA COGNITIVO - COMPORTAMENTAL APLICADA À

PROCRASTINAÇÃO ACADÊMICA E NO TDAH:

PROTOCOLO DE TÉCNICAS

São Paulo

2019

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Rosangela Batista Lourenço

A TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL APLICADA À

PROCRASTINAÇÃO ACADÊMICA E NO TDAH: PROTOCOLO DE

TÉCNICAS

Trabalho de conclusão de curso Lato Sensu

Área de concentração: Terapia Cognitivo-Comportamental

Orientadora: Profa. Silvia Leite Pachecho

Coorientadora: Profa. Msc. Eliana Melcher Martins

São Paulo

2019

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Fica autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde que citada à fonte.

Terapia Cognitivo-Comportamental apliacada a procrastinação acadêmica e no

TDAH: protocolo de técnicas

Lourenço, Rosangela Batista, Silvia Pacheco, Eliana Melcher Martins – São Paulo, 2019.

28 f. + CD-ROM

Trabalho de conclusão de curso (especialização) - Centro de Estudos em Terapia

Cognitivo-Comportamental (CETCC).

Orientadora: Profª. Silvia Pacheco

Coorientadora: Profª. Msc. Eliana Melcher Martins

1 Terapia Cognitivo-Comportamental , 2. Procrastinação . I. Lourenço, Rosangela Batista.

II. Pacheco, Silvia. III. Martins, Eliana Melcher.

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Rosangela Batista Lourenço

Terapia Cognitivo-Comportamental aplicada à procrastinação acadêmica e no TDAH:

Protocolo de Técnicas.

Monografia apresentada ao Centro de Estudos em Terapia

Cognitivo-Comportamental como parte das exigências

para obtenção do título de Especialista em Terapia

Cognitivo-Comportamental

BANCA EXAMINADORA

Parecer: ____________________________________________________________

Prof. _____________________________________________________

Parecer: ____________________________________________________________

Prof. _____________________________________________________

São Paulo, ___ de ___________ de _____

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“Todos sentem medo, essa e uma verdade que não podemos negar.

Conhecer nossos medos e enfrenta-los e uma questão de decisão.”

- Miriam Rodrigues, Aline Reis “O segredo do Medo”.

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AGRADECIMENTOS

Escrever uma monografia sempre e um desafio, com diversas pessoas envolvidas

direta e indiretamente, inspirações que vêm de pessoas que não sabem que estão em nossas

cabeças quando estamos escrevendo, diante de nossos comportamentos e condições de vida

diária.

Primeiro de tudo, agradeço meus filhos, Vinicius e João Victor por me apoiarem, na

ideia de ingressar no curso de especialização, por todo amor e admiração que tem por mim e

meu trabalho.

É impossível não escrever uma monografia de pós-graduação sem lembrar-se do que

nos fez chegar ate aqui. Agradeço então a minha primeira especialização em neuropsicologia

que me fez conhecer melhor a terapia cognitiva comportamental e buscar esta especialização.

Também agradeço aos mestres do curso de Pós-Graduação do CETCC que, com seus

conhecimentos me ajudaram a aprofundar o conhecimento que tenho hoje em TCC: Júlio

Rafael, Cláudia Oliveira, Luan Carvalho, Eliana Welcher, Marjory Lugli, orientadora e

supervisora Silvia Pacheco e outros que me iluminaram todas as aulas a cada turma que

migrei nos últimos dois anos. Aos mestres, com carinho.

Agradeço também aos amigos que fiz ao longo do período de especialização que

muitas vezes me escutaram no meio do dia, uns leram capítulos desta obra agora pronta e me

deram palpites do que poderia ser melhorado, outros me incentivando a não desistir. Laís

Baroni, Marjory Lugli, Guilherme Carvalho, Cátia Lopes, Sara Mattos, Adilson Cavali, Higor

Marcelino e Dra Manuela D’Avino.

Agradeço também a equipe da minha clinica Mundo Neuropsi, por todo apoio,

cumplicidade e paciência com meus momentos de dedicação a essa especialização. Junto a

cada pessoa que de alguma forma passou por minha vida nesses últimos dois anos e fez a

diferença para que pudesse chegar ate aqui.

Agradeço também a todos meus pacientes. Vocês foram lembrados com muito carinho

enquanto escrevia cada palavra deste trabalho.

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RESUMO

O termo procrastinação pode ser entendido como um padrão de comportamentos evitativos

em relação a uma determinada atividade. O objetivo deste estudo foi realizar um

levantamento bibliográfico de artigos nacionais referentes à relação entre a procrastinação e a

terapia cognitivo-comportamental (TCC) com o objetivo especifico de elaborar um protocolo

de técnicas para auxiliar o terapeuta a manejar este tipo de comportamentos em indivíduos

que procuram ajuda psicoterápica para esta finalidade. Foram encontrados 9 artigos

caracterizados com um perfil psicológico específico de pessoas que costumam procrastinar

suas atividades, assim como duas populações específicas: estudantes e pessoas com TDAH.

Conclui-se que dentre as técnicas encontradas que podem ser utilizadas em ambas populações

encontram-se a definição de metas realistas de curto prazo, reestruturação cognitiva, treino de

habilidades e treino de solução de problemas, autoreforço e treino de autoinstrução.

Palavras-chave: Procrastinação, Terapia Cognitivo-Comportamental, estudantes, TDAH,

tratamento.

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ABSTRACT

Procrastination can be understood as a pattern of avoidant behaviors in relation to a particular

activity. The aim of this study was to conduct a bibliographic survey of national articles re-

garding the relationship between procrastination and cognitive-behavioral therapy with the

specific objective of developing a protocol of techniques to help the therapist to manage this

type of behavior in individuals seeking psychotherapeutic help for this purpose. We found 9

articles that found a specific psychological profile in people who usually procrastinate their

activities, as well as two specific populations: students and people with ADHD. We conclued

that among the techniques that can be used in both populations are realistic short-term goal

setting, cognitive restructuring, skill training and problem-solving training, self-

reinforcement, and self-instruction training.

Keywords: Procrastination, Cognitive Behavioral Therapy, students, ADHD, treatment.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8

2. OBJETIVO ........................................................................................................... 9

3. METODOLOGIA ................................................................................................ 10

4. RESULTADOS ................................................................................................... 11

5. DISCUSSÃO ...................................................................................................... 16

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 22

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 23

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1. INTRODUÇÃO

A procrastinação é definida pelo dicionário como o afastamento ou adiamento de uma

tarefa para um momento posterior podendo atrapalhar o funcionamento geral do indivíduo

(MICHAELIS, 2019). A procrastinação, apesar de não estar relacionada diretamente à casos

psiquiátricos podem causar intenso sofrimento psicológico ao indivíduo que procrastina, pois

geralmente está atrelada a cognições, emoções e comportamentos disfuncionais que realizam a

manutenção deste comportamento, fazendo com que o indivíduo procrastine cada vez mais

(BRITO & BAKOS, 2013).

A procrastinação, apesar de presente em diversos casos clínicos como no Transtorno de

Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtornos de Ansiedade, Transtorno Afetivo

Bipolar, Transtornos Depressivos entre outros, podem aparecer em indivíduos que não possuem

um diagnóstico psiquiátrico bem delimitado, como por exemplo, estudantes, principalmente

adolescentes e adultos inclusos em cursos superiores (WRIGHT, et al, 2012; BRITO &

BAKOS, 2013).

Wright (et al, 2012) aponta que a Terapia Cognitivo-Comportamental pode ser aplicada

em casos que não envolvem complexos casos psiquiátricos, podendo ser utilizada em casos

subclínicos ou quando os pacientes desejam uma modificação de hábitos de vida, construindo

comportamentos mais saudáveis e adaptativos para o alcance de metas.

Este estudo buscará na literatura informações sobre a eficácia da TCC no tratamento da

procrastinação de pacientes que procuram atendimento com tais padrões de comportamento.

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2. OBJETIVO

Este trabalho tem como o objetivo investigar quais as técnicas baseadas na Terapia

Cognitivo-Comportamental que podem ser úteis para romper o padrão de procrastinação de

estudantes e também de pessoas diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperatividade que chegam ao consultório clínico com esta queixa.

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3. METODOLOGIA

Para este estudo foi realizado uma revisão bibliográfica de produção científica nacional

nos últimos vinte anos (1999-2019) sobre o tema proposto a partir das seguintes palavras-

chave: procrastinação, terapia cognitivo-comportamental, estudantes, TDAH e tratamento, nas

bases de dados Scielo, BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e Pespsico. Os critérios de exclusão

do levantamento bibliográfico são artigos que antecedem a data de publicação estipulada, assim

como artigos que não se enquadram no tema proposto.

Foram escolhidos 9 artigos a partir deste levantamento para compor este trabalho.

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4. RESULTADOS

Este tópico se destina a apontar os resultados encontrados ao longo do levantamento

bibliográfico. Ao longo do estudo foram encontrados 15 artigos. Destes 6 foram excluídos por

não se enquadrarem no tema proposto. Os artigos que compõem o levantamento bibliográfico

encontram-se a seguir.

Machado & Schwartz (2018) realizam um estudo de revisão de literatura expondo os

motivos para estudantes procrastinarem. Entre os resultados encontrados, os autores apontam

quatro motivos principais: acúmulo de tarefas dentro e fora do campo acadêmico, adiamento de

tarefas estando relacionada ao acumulo de tarefas, a percepção do significado da tarefa

solicitada, ou seja, como o indivíduo percebe e entende aquela tarefa solicitada e, por fim

autorregulação da aprendizagem. O estudo não aponta intervenções no nível da terapia

cognitivo-comportamental.

Fontes & Barbosa (2018) apontam um modelo cognitivo-comportamental para a

procrastinação dentro de um contexto acadêmico. Entre as técnicas observadas os autores

apontam para a construção de limites realistas, assim como reestruturação cognitiva e mudança

de comportamentos, principalmente àqueles que realizam a manutenção da procrastinação.

Pereira (2017) realizaram um estudo relacionando a procrastinação com estratégias de

cooping de 221 estudantes universitários. O resultado mostra que os altos índices de

procrastinação está relacionado aos baixos índices de autodeterminação e baixo índice das

necessidades psicológicas básicas tais como disciplina, autonomia, assim como é observado

quanto maior índice de ansiedade, depressão e estresse, maior é a probabilidade e a frequência

dos acadêmicos procrastinarem suas atividades. Não há intervenções de ótica cognitivo-

comportamental neste estudo.

Monteiro (2014) realiza um protocolo de técnica cognitivo-comportamentais para o

tratamento de pacientes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e

entre os sintomas presentes nesta população estão os comportamentos de procrastinação. Entre

as técnicas indicadas recomenda-se as técnicas de reestruturação cognitiva onde se modifica os

pensamentos disfuncionais do paciente em relação a sua angústia de ter deixado as atividades

para trás assim como definir metas a curto prazo e estratégias comportamentais de solução de

problemas podem ser úteis para modificar o padrão de procrastinação desta população.

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Brito & Bakos (2013) realizaram um levantamento bibliográfico sobre a produção de

materiais acerca do estudo da procrastinação na terapia cognitivo-comportamental.

Encontraram 17 artigos que apontam uma preferencia em relação a resultados que envolvem a

correlação entre a procrastinação e o ambiente acadêmico, como sendo um setor onde se

encontra em grande parte a procrastinação. Entre as áreas de terapia que envolve o tratamento

da procrastinação encontram-se, além da Terapia Cognitivo-Comportamental de Beck, a

Terapia Racional Emotiva (TREC), Terapia baseada em Mindfulness e Terapia do Esquema.

Sampaio, Polydoro & Rosário (2012) avaliaram 663 estudantes de 18 a 59 anos através

de instrumentos de avaliação de Autorregulação de Aprendizagem e Procrastinação na área

acadêmica. O estudo aponta que a grande maioria dos participantes do estudo procrastinam

atividades acadêmicas e há uma correlação entre a autoregulação de aprendizagem e a

procrastinação. Quanto mais regulação o estudante possui, menor seu hábito de procrastinar. O

final do estudo, os autores apontam que técnicas cognitivo-comportamentais podem remediar

estes hábito, gerando comportamentos funcionais alternativos.

Gabalda e Stildes (2009) realizam um estudo relacionando a Zona de Desenvolvimento

Proximal (ZPD) de Vygostki com os retrocessos observados em sessões de psicoterapia e

relatou um estudo de caso de procrastinação acadêmica. As autoras apontam que quando o

indivíduo ultrapassa sua ZDP, o mesmo se sente acuado e retrocede no sentido do que já foi

aprendido, temeroso com as novas habilidades que estão sendo aprendidas. As autoras ainda

relatam que o processo de retrocesso é parte fundamental do processo terapêutico e é necessário

avaliar se é até aquela altura do processo terapêutico em que o paciente quer chegar ou se é

necessário estimulá-lo para que o mesmo ultrapasse sua ZDP e assimile novas informações. No

caso clínico descrito, as autoras utilizaram de técnicas para motivar o indivíduo e definiram

novas estratégias comportamentais para remediar os comportamentos de procrastinação.

Mesquita (et al, 2009) apontam o tratamento de comportamentos de procrastinação em

pacientes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade subtipo Desatento. Relatam

que a procrastinação está presente nesta população com grande frequência e é pouco abordada

pelos profissionais. Sugerem, entre as técnicas cognitivo-comportamentais através de um es-

tudo de caso, o estabelecimento de metas em curto prazo, organização de rotina e solução de

problemas.

Enumo & Kerbauy (1999) realizaram um estudo que delimita um perfil de pessoas que

costumam procrastinar em relação a estudantes em Vitória, no Espirito Santo. Foram avaliados

50 estudantes. Os dados observados apontam que cerca de 75 % dos estudantes costumam

“deixar para depois” atividades que necessitam ser realizadas. Observou-se também que mu-

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lheres costumam procrastinar mais do que homens, assim como pessoas mais jovens costumam

realizar este tipo de comportamento mais do que pessoas mais velhas (na faixa dos quarenta

anos, aproximadamente). Ao procrastinar, o sentimento mais presente em quase 30% da

população estudada é a de culpa e angústia, seguido de autodepreciação (13%) e sensação de

bem estar (8% a 11%).

Abaixo será descrito algumas técnicas da terapia cognitivo-comportamental com o

objetivo de montar um protocolo de técnicas que possam ser aplicadas pelo terapeuta em

estudantes e em pessoas com TDAH que mantêm comportamentos de procrastinação. Dentre

essas técnicas pode-se encontrar a reestruturação cognitiva, planejamento de ações, inserção de

comportamentos funcionais, listagem de metas e, entre outros.

O quadro abaixo sintetiza as técnicas cognitivo-comportamentais aplicadas a

procrastinação acadêmica.

Quadro 1 – Protocolo de técnicas cognitivo-comportamentais aplicadas à procrastinação

acadêmica (LOURENÇO, 2019).

Técnica Definição e aplicação

Estabelecimento de

problemas e metas

realistas

A definição de metas realistas para o processo de estudo e

fundamental para entender a quantidade de estudo acumulado ou

a dificuldade real do conteúdo. É necessário realizar uma

listagem de todo o conteúdo a ser estudado, identificar a

dificuldade pessoal para o estudo de cada conteúdo assim como

definir prioridades para conseguir definir o problema e traçar as

metas de estudo mais adequadas.

Técnicas de

Reestruturação

Cognitiva

Dentre as técnicas cognitivo-comportamentais mais básicas

encontram-se as técnicas de reestruturação cognitiva. É

necessário entender quais são as cognições e as crenças que estão

envolvidas no processo de aprendizagem e quais são os

pensamentos que mantêm o padrão de comportamento de

procrastinação. Formulários como Registro de Pensamentos

Disfuncionais preenchidos no momento em que o indivíduo esta

estudando, assim como técnicas de Questionamento Socrático e

seta descendente podem ser úteis para avaliar e responder os

pensamentos disfuncionais.

Treino de Habilidades

O treino de habilidades consiste em instalar novas habilidades e

novos comportamentos após o processo de reestruturação

cognitiva para “desafiar” os pensamentos disfuncionais.

Relacionando com as estratégias de ensino, após entender a

relação das cognições com o processo de estudo, é necessário

traçar novas habilidades e planejar o que vai ser estudado. Neste

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momento, aprender sobre técnicas de estudo pode ser eficaz. É

necessário identificar através do automonitoramento, quais são

os períodos em que a pessoa se sente com mais disposição para

estudar, assim como definir horários fixos para a prática.

Autoinstrução

O treino de autoinstrução consiste em o indivíduo fornecendo

instruções para si mesmo do que ele deve fazer em determinados

momentos do dia. Em relação à procrastinação acadêmica é

necessário disciplina para que o indivíduo estabeleça um horário

fixo para estudo e o cumpra ate que o mesmo se torne um hábito

(através do treino de habilidades).

Autorreforço

O autorreforço pode ser útil para reforçar o comportamento de

estudar. Após um período delimitado, o indivíduo pode se dar de

pequenos benefícios para descansar a mente e se presentear

através do comportamento realizado com sucesso. Ainda no

estabelecimento de metas, ele pode definir alguns ganhos que

pode se dar para quando atingir uma determinada meta. Sair com

amigos após passar semanas revisando uma matéria pode ser um

excelente reforço, por exemplo .

Fonte: elaborado por Lourenço (2019)

O quadro abaixo sumariza as técnicas aplicadas à procrastinação em relação ao TDAH

adulto.

Quadro 2 – Protocolo de técnicas cognitivo-comportamentais aplicadas à procrastinação

do TDAH adulto (LOURENÇO, 2019)

Técnica Descrição e aplicação

Organização de rotina

A organização de rotina é uma técnica básica a ser aplicada

em adolescentes ou adultos com TDAH, vai fornecer uma

visão mais clara e organizada dos compromissos fixos da

semana além de deixar exposto os períodos livres, inserir e

excluir atividades. A organização de rotina é também uma

habilidade que treina diversas funções executivas como

planejamento e monitoramento.

Definição de metas em curto

prazo

Por conta dos déficits em funções executivas o indivíduo

com TDAH possuem dificuldade em estabelecer e cumprir

metas muito longas onde a gratificação vem tardiamente. Por

isso, é necessário que seja estabelecido metas a curto prazo

onde ele possa se reforçar e ganhar gratificações a cada

conquista. Com o tempo estas metas podem ficar mais

distantes e as gratificações fragmentadas como em um caso

de economia de fichas onde o indivíduo “junta” uma

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quantidade determinada de ações gratificantes para,

posteriormente, haver um reforço positivo.

Reestruturação Cognitiva

Do mesmo jeito em relação à procrastinação acadêmica é

necessário entender o padrão cognitivo que mantem estes

comportamentos.

Solução de Problemas

Outra técnica comumente utilizada no tratamento do TDAH

de uma maneira geral. A partir da reestruturação cognitiva é

necessário aplicar a nova maneira de pensar a transfomando-

o em comportamentos mais adaptativos.

Autointrução

A capacidade de se autoinstrutir/dar ordens para si mesmo

de maneira funcional e positiva deve ser instalada e

reforçada para pessoas com TDAH. É importante, aplicado a

procrastinação, que estas ordens estejam relacionados a

limites realistas e atividades que possam ser realizadas em

um curto período de tempo onde o indivíduo consegue se

imaginar realizando e finalizando aquele procedimento.

Autorreforço

Complementar a técnica de definição de metas a curto prazo,

é necessário selecionar quais os reforçadores que podem ser

utilizados para gratificá-lo ao longo do processo de

rompimento do padrão de comportamentos de

procrastinação até que este comportamento se torne um

hábito e não precise de reforços de maneira frequente.

Fonte: Lourenço (2019)

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5. DISCUSSÃO

A partir dos resultados encontrados observa-se uma baixa produção científica

relacionando os comportamentos de procrastinação com técnicas da terapia cognitivo-

comportamental. Diversos artigos se dedicam a encontrar, avaliar e descrever um perfil

psicológico e de comportamento em pessoas que procrastinam suas atividades.

Entre os artigos que se dedicam a descrever um protocolo de técnicas baseada em

terapia cognitivo-comportamental as técnicas estão relacionadas a inserção de comportamentos

funcionais e técnicas de reestruturação cognitiva, técnicas de base para o tratamento em TCC.

Observa-se também, dentre os estudos, um grande índice de comportamentos relacionados à

procrastinação em duas populações específicas: estudantes e pessoas com Transtorno de Déficit

de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

5.1. Avaliação da procrastinação

Em seu estudo, Sampaio, Polydoro & Rosário (2012) apontam que a procrastinação em

ambiente acadêmico esta relacionada a uma falta de autorregulação no processo de

aprendizagem. Ou seja, quando uma pessoa tem dificuldade para identificar a real necessidade

de estudar e não regula o seu próprio comportamento para tal função a procrastinação acontece.

A procrastinação quando aplicada ao contexto de aprendizagem refere-se a um déficit

na capacidade de autorregulação do indivíduo que estão ligadas as funções cognitivas

(SAMPAIO, POLYDORO & ROSÁRIO, 2012). No entanto observa-se a importância de

avaliar as funções executivas para observar as capacidades cognitivas do indivíduo.

O processo de autorregulação pode ser definido pela neuropsicologia como um

componente das funções executivas que pode ser definida como um conjunto de hablidades

que permitem o indivíduo “... direcionar comportamentos a metas, avaliar a eficiência e a

adequação desses comportamentos, abandonar estratégias ineficazes em prol de outras mais

eficazes e desse modo, resolver problemas imediatos, de médio e longo prazo” (MALLOY-

DINIZ, et, al, 2014, p. 115).

Os autores supracitados, por sua vez definem a autorregulação dentro das funções

executivas como um processo de ativação, motivação, controle sobre os seus sentimentos e

emoções, em atividades levando em consideração o ganho social e não apenas a sua própria

motivação. (MALLOY-DINIZ, et al, 2014). Em relação à autorregulação aplicada a

aprendizagem autores apontam que o processo de aprendizagem depende de condições

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intrínsecas do indivíduo em identificar a importância do conteúdo a ser estudado assim como

do processo todo de ensino aprendizagem para que o comportamento de estudar seja realizado

de maneira mais efetiva1 (FONSECA, 2018).

Atualmente, estudos apontam a interligação entre a Terapia Cognitivo-Comportametal

com a neuropsicologia para entender o funcionamento do indivíduo e também para planejar

uma intervenção clínica em TCC de maneira mais efetiva (FRANCISCO, 2019; LIMA, et al,

2016). A avaliação das funções executivas para o planejamento da intervenção clínica em TCC

deve ser considerada em alguns casos, principalmente quando relacionados a procrastinação

acadêmica, pois é necessário entender se estas funções cognitivas estão preservadas para então

conseguir intervir de maneira mais apropriada. A avaliação de funções como planejamento e

flexibilidade cognitiva podem contribuir para a identificação de funções cognitivas

comprometidas que interferem no desenvolvimento do tratamento clinico e mantém os

comportamentos de procrastinação.

Além da avaliação das funções executivas, podem ser encontrados escalas e inventários

próprios para a avaliação da procrastinação como apontado por Sampaio, Polydoro & Rosário

(2012); Enumo & Kerbauy (1999) além de entrevista clínica e escalas e inventários de sintomas

psiquiátricos como ansiedade, depressão, estresse e condições psicológicas como resiliência,

pois também são fatores comorbidos associados à procrastinação.

A procratinação pode estar relacionada também a altos níveis de perfeccionsimo onde o

indivíduo instala em si mesmo para realizar determinadas atividades. (SAMPAIO,

POLYDORO & ROSÁRIO, 2012). Distorções cognitivas tais como pensamento dicotômico,

visão em túnel e pensamnetos do tipo deveria (BECK, 2013; LEAHY, 2019) podem realizar a

manutenção destes comportamentos. Para isso, o perfecionismo pode e deve ser avaliado para

entender quais oa fatores, para isso recomenda-se a Escala de Perfeccionismo e o Inventário

Metacognitivo (LEAHY, 2019) como sendo inventários explanatórios para um questionamento

mais profundo e mais amplos acerca dos fatores que realizam a manutenção dos

comportamentos de procrastinação.

5.2.Técnicas Cognitivo-Comportamentais aplicadas à procrastinação acadêmica

Em relação ao desempenho acadêmico, principalmente em indivíduos inseridos em

ensinos superiores, a procrastinação das atividades é uma das estratégias mais comumente

usadas trazendo prejuízos no desempenho acadêmico e podendo trazer diminuição da

1 O processo de autorregulação em relação ao processo de aprendizagem é estudado com mais propriedade no

campo da psicopedagogia.

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autoestima, abandono de tarefas e até mesmo de cursos superiores, aumento dos índices de

estresse, ansiedade e depressão. (BRITO & BAKOS, 2012)

Já foi discutido anteriormente o papel da autorregulação no processo de procrastinação.

Gabalda e Stiles (2009) descrevem a procrastinação em um ponto de vista baseado na teoria de

Vygoskty, mais precisamente no seu conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)

que pode ser definido por Fonseca (2018) como a distancia entre o que o indivíduo já sabe e o

que o indivíduo ainda pode saber.

De acordo com Gabalda & Stiles (2009), quando o terapeuta, ao longo do processo

terapêutico ou o indivíduo durante o processo de aprendizagem, não leva em consideração a

sua zona de desenvolvimento ou a zona de seu paciente, até onde ele pode chegar naquele

momento durante o processo terapêutico ou durante o processo de aprendizagem, o paciente ou

o indivíduo se retrai e procrastina as suas atividades, pois interioriza que aquela atividade em

específico é difícil de ser executada e não consegue executá-la como as outras que estão

anteriores à ZDP.

Fortes & Barbosa (2018) apontam que a construção de limites realistas, assim como a

modificação de pensamentos e comportamentos são úteis para o melhor desenvolvimento de

estratégias de ensino-aprendizagem e evitação dos comportamentos de procrastinação no

ambiente acadêmico. Transformando estes termos em técnicas cognitivo-comportamentais

encontramos o estabelecimento de metas e objetivos, assim como as técnicas de reestruturação

cognitiva e geração de alternativas racionais para comportamentos disfuncionais (BECK, 2013;

LEAHY, 2019).

A definição de problemas e metas realistas está entre os pressupostos básicos da terapia

cognitivo-comportamental. Beck (2013). É necessário delimitar os problemas que trouxeram o

paciente a procurar a psicoterapia para conseguir trabalhar de maneira mais funcional e efetiva.

Em relação aos estudos, é necessário entender as metas que o indivíduo coloca em si mesmo

para a realização dos seus estudos e o quão realistas estas são. Machado & Schwartz (2018)

apontam que, muitas vezes o motivo para estudantes procrastinarem é o acúmulo de tarefas

com a cognição de que darão conta de realizar tudo em um limitado período. Definir

prioridades antes de iniciar os estudos, planejar o que vai ser estudado pode ser útil para um

estudo mais eficaz.

Entre as técnicas que envolvem planejamento de ações Beck (2013) também aponta a

descrição de atividades diárias durante a semana. O processo inicial de Ativação

Comportamental envolve a descrição, durante a semana das atividades que o indivíduo realiza

para observar os intervalos entre uma atividade e outra e também inserir mais atividades de

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prazer. No caso da procrastinação no ambiente acadêmico, é indicado que o individuo

programe sua semana com as atividades acadêmicas e as atividades que não envolvem o

ambiente acadêmico, delimitar os tempos livres e inserir, dentre estes períodos livres horários

de estudos.

As técnicas que envolvem o processo de reestruturação cognitiva é a técnica chave da

TCC que consiste em identificar, avaliar e responder pensamentos disfuncionais tranformando-

os em pensamentos mais adaptativos (BECK, 2013; LEAHY, TIRCH & NAPOLITANO,

2013). O Registro de Pensamentos disfuncionais, o questionamento socrático, descoberta

guiada, dentre outras técnicas de reestruturação cognitiva podem ser uteis para modificar

cognições, no caso da procrastinação acadêmica, relacionados ao processo de estudo e ensino-

aprendizagem. Entender a maneira como o indivíduo se relaciona com o estudo, quais as

crenças que estão inseridas no processo de estudo e como estas foram construídas ao longo do

tempo são essenciais para o processo de reestruturação.

Uma vez com pensamentos reestruturados e funcionais é necessário instalar

comportamentos mais funcionais que condizem com esta nova maneira de pensar que o

indivíduo está experimentando, por isso as técnicas de solução de problemas e treino de

habilidades são uteis, pois eles dão a chance para a pessoa experimentar novos comportamentos

que desafiam estes pensamentos (BECK, 2013; WRIGHT, et. al, 2012). No âmbito acadêmico

é necessário instalar horários fixos de estudos, assim como delimitar as melhores técnicas de

estudos de acordo com a sua disponibilidade e habilidade cognitiva (ressaltando as tarefas de

avaliação voltadas à neuropsicologia).

O treino de autoinstrução é outra técnica que pode acarretar em eficácia para o

tratamento e o rompimento dos padrões de comportamentos de procrastinação. A técnica

consiste em dar instruções para si mesmo, sem depender de estímulos externos. (BECK, 2013).

O autorreforço também pode ser utilizado. Esta técnica consiste em se reforçar, elogiando-se ou

dando-se regalias como um tempo, por exemplo, um dia de folga depois de semanas de estudo,

entre outros, para afirmar aquele comportamento que está sendo modelado para aumentar as

chances do mesmo voltar a acontecer (WRIGHT, et al, 2012).

Ressalta-se ainda, se houver necessidade um acompanhamento multidisciplinar. Como

se trata de uma questão relacionada ao processo de aprendizagem, a intervenção

psicopedagógica não pode ser desconsiderada. Caso o acadêmico possua dificuldades no

processo de ensino, encaminhar para uma avaliação psicopedagógica pode fornecer resultados

satisfatórios, mesmo em adultos. Pode-se psicoeducar o paciente também sobre formas de

estudo de acordo com a sua necessidade e disponibilidade. Fleury & Amaral (2019) apresentam

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um extenso protocolo de técnicas de estudos que podem ser exploradas pelo acadêmico para

um estudo mais eficiente.

5.3.Técnicas cognitivo-comportamentais relacionadas à procrastinação no Transtorno

de Déficit de Atenção e Hiperatividade

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do

neurodesenvolvimento que tem como características principais sintomas de desatenção,

distrabilidade alta, hiperatividade e impulsividade. O diagnóstico geralmente é feito na infância

e os sintomas se mantém durante toda a vida do indivíduo. (APA, 2013). Dentre os sintomas

que geralmente estão associados a quadros de pessoas com TDAH encontra-se a procrastinação

(MONTEIRO, 2014; MESQUITA et al, 2009).

Os comportamentos de procrastinação estão fortemente ligados a um padrão

neurobiológico existe em indivíduos com TDAH que deve ser levado em consideração para a

identificação da queixa, conceitualização e confecção do plano de tratamento mais adaptativo

para o caso. Wagner, Rhode & Trentini (2016) apontam que indivíduos com TDAH possuem

déficits em funções executivas, principalmente nos campos de controle inibitório, planejamento

e monitoramento, que reforça os padrões de comportamento impulsivos e hiperativos2.

O tratamento cognitivo-comportamental padrão para o TDAH envolve o trabalho com a

procrastinação, sobretudo com adolescentes e adultos (MESQUITA, et al, 2009; SAFREN, et

al, 2008), pois uma vez com crianças o trabalho dedica-se para desenvolver estratégias para

diminuir a incidência de comportamentos de procrastinação com treino de solução de

problemas e estratégias de planejamento de atividades e implantação de rotinas (MAIA,

MASSUTI & ROSA, 2017).

Safren (et al, 2008) aponta que:

“Para adultos com TDAH, a procrastinação pode ser resultado do que

chamamos de evitação cognitiva, ou seja, deixar deliberadamente para depois a

realização de tarefas porque você é mais capaz de lidar com elas quando o

prazo da entrega se aproxima. A procrastinação também pode ser resultado de

expectativas perfeccionistas em relação ao produto final.” (SAFREN, et, al,

2008, p. 111)

Através do levantamento bibliográfico, tanto o levantamento de Monteiro (2014) quanto

o estudo de caso de Mesquita (et al, 2009) apontam entre as estratégias para a remediação dos

comportamentos de procrastinação as técnicas de estabelecimento de metas a curto prazo,

solução de problemas e organização de rotina.

2 A relação entre as funções executivas e os comportamentos de procrastinação foi explicado com mais detalhes ao

longo do tópico. 5.1. neste mesmo capítulo.

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As técnicas de estabelecimento de metas e solução de problemas não serão descritas

neste tópico, pois já se encontram descritas nos resultados.

A habilidade de organização de rotina está ligada a estratégia de planejamento de rotina

e monitoração que foi descrita anteriormente baseado nos ideias de Beck (2013), mas também

pode ser uma medida comportamental. Pessoas com TDAH possuem dificuldades em se

planejar ao longo da semana, por isso é ideal desenvolver uma capacidade de se organizar e

registrar as situações e eventos ao longo da semana em alguma espécie de agenda ou planner.

(MONTEIRO, 2018; MESQUITA et al, 2008; SAFREN et al, 2008).

Safren (et al, 2008) ainda aponta técnicas de reestruturação cognitiva com identificação

de possíveis distorções cognitivas que mantém o padrão de procrastinação, assim como realizar

uma listagem de pós e contras de procrastinar, avaliar o padrão de pensamentos que estão

envolvidos e utilizar pensamentos adaptativos em relação a procrastinação. O treino de

autorreforço e autoinstrução pode ser igualmente útil para romper o padrão de comportamento

procrastinador.

A terapia cognitivo-comportamental mostrou-se útil para a modificação destes

comportamentos, uma vez que os mesmos podem estar ligados a pensamentos disfuncionais

que acabam mantendo estes comportamentos.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho teve como objetivo encontrar um protocolo de técnicas cognitivo-

comportamentais que estão relacionadas ao tratamento e remediação de comportamentos de

procrastinação. Os resultados encontrados, embora não compatíveis com a expectativa da

autora, foi deveras satisfatório. Foi encontrado que há um padrão cognitivo em pessoas que

costumam procrastinar suas atividades, além de encontrar duas populações específicas que são

estudadas com mais frequência: alunos universitários e também adultos diagnosticadas com

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Em ambas populações o protocolo de

técnicas se vê de maneira bastante semelhante, porém com aplicações específicas e

indiossincráticas a cada população, podendo ser adaptada também a cada indivíduo.

Em relação à procrastinação acadêmica pode ser necessário um acompanhamento de

cunho psicopedagógico no sentido de identificação de estratégias de ensino funcionais que

colaboram com o rompimento de padrões de comportamento procrastinadores. Já em relação a

procrastinação no TDAH em adultos, pode ser necessário acompanhamento medicamentoso,

uma vez que o tratamento padrão para o transtorno consiste na utilização de medicamentos. Em

ambas populações foi encontrada uma correlação com a neuropsicologia, principalmente com

as habilidades cognitivas que envolvem as funções executivas. Recomendam-se mais estudos

nesta área dedicando-se a encontrar correlações mais profundas e baseadas em evidências.

Conclui-se que as técnicas cognitivo-comportamentais podem influenciar positivamente

no rompimento dos padrões de comportamentos ligados a procrastinação.

Recomenda-se a aplicação destas técnicas em estudos clínicos randominzados para

avaliar a efetividade destas técnicas, afim de elaborar um protocolo baseado nos tres pilares da

Terapia Cognitivo-Comportamental: Eficiência, Eficácia e Efetividade.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO

Termo de Responsabilidade Autoral

Eu Rosangela Batista Lourenço, afirmo que o presente trabalho e suas devidas partes

são de minha autoria e que fui devidamente informado da responsabilidade autoral sobre seu

conteúdo.

Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso

de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob o título “Terapia cognitivo-

Comportamental aplicada a procrastinação acadêmica e no TDAH : prtocolo de técnicas

”, isentando, mediante o presente termo, o Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-

Comportamental (CETCC), meu orientador e coorientador de quaisquer ônus consequentes de

ações atentatórias à "Propriedade Intelectual", por mim praticadas, assumindo, assim, as

responsabilidades civis e criminais decorrentes das ações realizadas para a confecção da

monografia.

São Paulo, __________de ___________________de______.

_______________________________________

Assinatura do (a) Aluno (a)