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 1. INTRODUÇÃO  A d i v u l g ação do q u a r t o r e l a t ó r io do P a i ne l I n t e r n a c i ona l Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC AR4) em 2007 gerou muitas questões a serem discutidas e analisadas. Polêmicas à parte, a confirmação da provável contribuição da atividade humana para o aquecimento do planeta foi o aspecto mais relevante deste documento. Entretanto, permanecem as incertezas quanto às reais conseqüências do aquecimento global, não se sabe ao certo qual seria a variação positiva da temperatura e nem como ocorreriam alterações no regime de chuvas, por exemplo . Esses aspectos de pendem da capacidade de regulação das emi ssões de gases de efeito estufa, isto é, do volume de redução de gases a ser definido nas rodadas de negociação da ordem ambiental internacional sobre o clima, como a Convenção de Mudanças Climáticas e o Protocolo de Kyoto. Independente do rumo da política internacional sobre mudança climática é preciso promover políticas nacionais e locais para preparar a sociedade às transformações em curso. Segundo o IPCC (2007), está prevista uma maior freqüência de ondas de calor em áreas urbanas, com maior intensidade e duração. Além disso, pode-se prever uma deterioração da qualidade do ar e o aumento de áreas de risco, em especial nas cidades tropicais, cada vez mais sujeitas às chuvas intensas que podem provocar escorregamentos de encostas e alagamentos. Não é possível aguardar certezas científicas para se adotarem medidas que atenuem os eventuais impactos gerados pelas mudanças climáticas. É fundamental organizar o país com base nos cenários elaborados até o Impactos das mudanças climáticas em cidades no Brasil W agner Costa Ribeiro

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  • 1. INTRODUO

    A divulgao do quarto relatrio do Painel InternacionalIntergovernamental sobre Mudanas Climticas (IPCC AR4) em 2007 geroumuitas questes a serem discutidas e analisadas. Polmicas parte, aconfirmao da provvel contribuio da atividade humana para oaquecimento do planeta foi o aspecto mais relevante deste documento.

    Entretanto, permanecem as incertezas quanto s reais conseqnciasdo aquecimento global, no se sabe ao certo qual seria a variao positivada temperatura e nem como ocorreriam alteraes no regime de chuvas, porexemplo. Esses aspectos dependem da capacidade de regulao das emissesde gases de efeito estufa, isto , do volume de reduo de gases a ser definidonas rodadas de negociao da ordem ambiental internacional sobre o clima,como a Conveno de Mudanas Climticas e o Protocolo de Kyoto.Independente do rumo da poltica internacional sobre mudana climtica preciso promover polticas nacionais e locais para preparar a sociedade stransformaes em curso.

    Segundo o IPCC (2007), est prevista uma maior freqncia de ondasde calor em reas urbanas, com maior intensidade e durao. Alm disso,pode-se prever uma deteriorao da qualidade do ar e o aumento de reasde risco, em especial nas cidades tropicais, cada vez mais sujeitas s chuvasintensas que podem provocar escorregamentos de encostas e alagamentos.

    No possvel aguardar certezas cientficas para se adotarem medidasque atenuem os eventuais impactos gerados pelas mudanas climticas. fundamental organizar o pas com base nos cenrios elaborados at o

    Impactos das mudanas climticas em cidades no Brasil

    Wagner Costa Ribeiro

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    momento, que resultam de pesquisas compiladas por pesquisadores de todoo mundo. hora de aplicar o princpio da precauo e propor medidas quepossam atenuar as implicaes causadas pelas mudanas globais queresultariam da elevao das temperaturas na Terra, entre outros impactos.Este artigo, ao sugerir aes para a adaptao s mudanas climticas emcidades do Brasil, procura contribuir para que as emisses em reas urbanaspossam ser reduzidas e, tambm, para diminuir os impactos socioambientaisgraves, que resultem em perdas de vidas humanas e de bens materiais.

    Para tal, o texto est dividido em trs partes: 1) a urbanizaobrasileira, que apresenta uma sntese do peculiar processo de urbanizaodo pas, marcado pela velocidade com que ocorreu, pela criao de vaziosurbanos e pela concentrao de riqueza em enclaves em meio pobreza; 2)adaptao, vulnerabilidade e risco socioambiental em cidades brasileiras,que discute conceitos que so teis para organizar as aes a seremimplementadas no curto, mdio e longo prazos no pas; e, 3) situaes derisco e adaptao em cidades brasileiras, que aborda os principais problemassocioambientais decorrentes das mudanas climticas nas cidades do Brasile sugestes para minimiz-los. Esse ltimo item est dividido em trs eixosde problemas relacionados s suas causas: aumento da temperatura; chuvasintensas; e elevao do nvel do mar. Por fim, seguem as consideraes finais,que sintetizam o trabalho.

    preciso alertar desde o incio que o quadro social do pas agrava osimpactos socioambientais das mudanas climticas nas cidades brasileiras.Sculos de segregao social pesam na hora de dimensionar aes paracombater as alteraes previstas pelos cientistas do IPCC. Parte expressivada populao brasileira que vive em reas de risco estar mais sujeita aosproblemas que as camadas mais abastadas e melhor situadas na estruturasocial do Brasil. Por isso, combater a excluso socioambiental a primeiramedida para evitar o pior: a perda de vidas humanas decorrentes do aumentode eventos extremos nas cidades brasileiras.

    2. A URBANIZAO BRASILEIRA

    O processo de urbanizao no Brasil singular, segundo demonstraramdiversos autores, como os gegrafos Milton Santos (1990 e 1993) e AnaFani Carlos (2001). Para o primeiro, esse processo marcado pela aceleraoe pelo ritmo intenso. A outra autora afirma que produto da lgica

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    especulativa, que resultou em vazios urbanos, concentrao de reas nobresem meio pobreza e na ocupao de stios urbanos indevidos, que setornaram reas de risco ambiental, analisadas por autores como Yvette Veiret(2007) e Ulrich Beck (1986).

    So nessas reas de risco que se acomodam os mais pobres, que vivemem condies subumanas, conforme designa a ONU, morando em favelas beira de crregos ou localizadas em encostas ngremes. Outros esto emambientes degradados, sem manuteno e com elevada concentraopopulacional, dividindo servios de gua, como se caracterizam os cortios.Em pior situao esto aqueles que no tm teto. So milhares de moradoresde rua que vivem em brechas do sistema virio ou ocupam praas durante anoite, dentre outros lugares, em busca de abrigo.

    A concentrao populacional brasileira se distribui na forma demetrpoles, cidades grandes e mdias A urbanizao do Brasil um fenmenorecente se comparado ao que ocorreu em pases centrais. A velocidade emque as cidades foram construdas, como, por exemplo, Maring (PR), queatualmente chega a cerca de 320.000 habitantes1, apesar de ter cerca de 60anos de sua fundao, no pode ser justificativa para a excluso social queencontramos nas reas urbanas do Brasil. Ela decorre da produo do espaourbano.

    Como bem apontaram o economista Paul Singer (1977) e Milton Santos(1994), a economia poltica da cidade trata o solo urbano como umamercadoria. A transformao de vastas pores de ambientes rurais em zonasurbanas atende a interesses de mercado, que vem a terra urbana como fontede lucro e de valorizao de capital. Esse modelo explosivo de acumulaode renda o maior responsvel pela segregao socioespacial que se identificanas cidades brasileiras.

    Em outros pases coube ao Estado induzir o crescimento urbano,segundo analisaram autores como o socilogo Manuel Castells (1983) e ogegrafo Horacio Capel (2002 e 2003), entre outros. No Brasil, mesmo aspoucas cidades planejadas ficaram merc de agentes urbanos, especuladorese empreendedores imobilirios, que muitas vezes driblaram planos diretores,como se verifica em Belo Horizonte ou em Goinia. Em nosso pas, a terra

    1 , acessado em novembro de 2007.

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    urbana definida quase que exclusivamente como uma mercadoria e muitoexcepcionalmente foi abordada segundo sua funo social. A aprovao doEstatuto da Cidade, em 20012, pode alterar esse quadro desolador, mas peloque se verifica at o momento, no possvel ser otimista. Esse importanteinstrumento de regulao da vida urbana carece de regulamentao, apesarde prever medidas interessantes como os estudos de impacto de vizinhanae a participao popular na gesto da cidade, ainda no ganhou capilaridadena sociedade brasileira.

    A relao entre industrializao e urbanizao fundamental paraexplicar parte dos problemas ambientais urbanos. Se no incio as cidadestinham funes voltadas ao comrcio e distribuio de mercadorias, apresena de indstrias alterou esse quadro. A cidade passou a desempenhartambm a funo de produtora de mercadorias.

    Mas a indstria no uma atividade econmica qualquer, ela exigeuma srie de servios urbanos para poder instalar-se e operar, alm de muitamo-de-obra, como foi o caso na Regio Metropolitana de So Paulo, nosculo 20. Para receber uma instalao industrial so projetadas vias,integrados sistemas de distribuio de energia e construdos conjuntoshabitacionais, inicialmente, pelas prprias indstrias para alojar trabalhadores.Eram as famosas vilas operrias, que restam como enclaves do patrimnioindustrial nas mais antigas cidades industriais brasileiras.

    At a dcada de 1980, as principais reas industriais do Brasil estavamem So Paulo e em seu entorno, definido aqui em um raio de cerca de 100km que abrangia Sorocaba, Campinas, So Jos dos Campos e Cubato.Alm disso, existiam ncleos industriais dispersos por Minas Gerais, emBelo Horizonte e Ipatinga; pelo Rio Grande do Sul, como em Caxias do Sule Porto Alegre; em Santa Catarina, no vale do Itaja; outras no Estado doRio de Janeiro, como em Barra Mansa; e algumas cidades isoladas no Nordeste,como em Recife e Paulista, em Pernambuco, ou mesmo em Salvador, naBahia. Tambm merece destaque Manaus (AM), devido instalao da ZonaFranca, que motivou a presena de um importante plo montador de bensde consumo eletrnicos desde 1967, que ainda se mantm. Manaus passou

    2 O Estatuto da Cidade foi criado pela Lei 10.257, de 10 de julho de 2001, entrou em vigor no dia 10

    de outubro de 2001 e regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituio Federal. Ele produto de

    anos de lutas de movimentos sociais urbanos, que tiveram parte de suas reivindicaes atendidas.

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    de cerca que 200.000 habitantes, em 1960, para cerca de 600.000 em 1980e, em 2000, atingiu cerca de 1.400.000 habitantes3. Um crescimentopopulacional de cerca de sete vezes em menos de 40 anos no pode ocorrersem resultar em dificuldades e impactos sociais, ambientais e econmicosgraves.

    O crescimento rpido das cidades encareceu o preo do solo urbano.Como as unidades fabris necessitam de vastas reas, muitas cidades deixaramde ser opo para plantas industriais pelo custo alto do terreno.

    Na dcada de 1990, a mudana do padro produtivo e polticas deatrao industrial alteraram o quadro da distribuio das indstrias no Brasil.Conhecida como guerra fiscal, resultou no crescimento industrial em Estadoscomo Gois, Cear, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sule Paran, e revigorou o setor secundrio no pas.

    A oferta de incentivos fiscais naqueles Estados da Federao permitiua presena de indstrias, mas com menor gerao de emprego que a verificadana industrializao dos Estados de So Paulo e Minas Gerais. A inevitvelatrao populacional que a indstria gerou no foi compensada pelaarrecadao de impostos. Como resultado, mais gente precisou utilizarservios pblicos sem que os municpios estivessem preparados para oferec-los, como indicou o economista Marcio Pochmann (2003). O resultado areproduo de processos sociais que se verificaram em metrpoles, como afavelizao e ocupao de reas de risco nas novas cidades industriais doBrasil.

    Paralelamente a esta segunda etapa da industrializao brasileira,ocorreu uma modernizao conservadora no campo, para lembrar daexpresso cunhada pelo socilogo Renato Ortiz (1989). A introduo demquinas agrcolas em reas rurais, associada ao endividamento de pequenosagricultores, desempregou muitos trabalhadores que tinham sua ocupaona agricultura.

    A migrao acentuada no teve o destino clssico das dcadasanteriores observada nas principais metrpoles do Brasil So Paulo e Riode Janeiro. O destino dos que perderam postos de trabalho no campo ou a

    3 , acessado em

    novembro de 2007.

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    terra passou a ser metrpoles regionais, como Fortaleza, Salvador e Recife.O inchao urbano, com as conseqncias sociais conhecidas, se multiplicoupelo pas. Favelas e cortios no so mais uma exclusividade de So Paulo eRio de Janeiro. Braslia Teimosa, em Recife, ou mesmo a favela do Dend,em Fortaleza, passaram a ser to conhecidas quanto Paraispolis, que ficaem So Paulo, ou a Rocinha, no Rio de Janeiro.

    Os problemas socioambientais urbanos se multiplicaram pelo territrionacional, e nessa escala que ele deve ser dimensionado, embora suaresoluo ocorra em escala local. Em outras palavras, no ser possvelatenuar impactos socioambientais e propor medidas para adaptao smudanas climticas apenas por meio de polticas pblicas municipais. Serpreciso um esforo conjunto, que mobilize diversos ministrios, como o deMeio Ambiente, o de Cidades e o de Sade, entre outros, j que muitas dasnovas cidades industriais ou mesmo as metrpoles regionais que incharamnos ltimos anos no tm recursos tcnicos e econmicos para financiar asalteraes necessrias para se adaptarem s mudanas climticas.

    Uma ao conjunta mobilizadora deve ser iniciada o mais rpidopossvel. Seria muito oportuno um Plano de Acelerao do CrescimentoSustentvel (PACSUS), que deveria ter como foco a recuperao de reasdegradadas em cidades e a melhoria da qualidade de vida da populaobrasileira. O crescimento da atividade econmica deve ser diferente do queocorreu at o sculo 20. preciso estimular a reviso dos erros cometidosno passado e no sua reproduo. Simplesmente propor aumento daproduo industrial de automveis ou de outros bens de consumo no mais suficiente para resolver os desafios do sculo 21.

    necessrio gerar trabalho para consertar o que o modelo hegemnicodo sculo passado degradou. Esta mudana de paradigma incipiente e opas que a aplicar antes que os demais vai levar vantagem, j que essa sernecessariamente desenvolvida e implementada por meio de conhecimentocientfico e tecnolgico. Gerar tecnologia de recuperao ambiental umdesafio a pesquisadores, empresrios e governos responsveis. Alm danecessidade de tecnologias que reduzam as emisses de gases de efeito estufae as que permitem uma adaptao s mudanas climticas globais, temasabordados a seguir.

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    3. ADAPTAO, VULNERABILIDADE E RISCO SOCIOAMBIENTAL EM CIDADES

    BRASILEIRAS

    Palavras de Desmond Tutu (2007), ainda que expressas para a escalamundial, ajudam a refletir sobre a situao no Brasil. Para ele, A adaptaose converteu em um eufemismo de injustia social a nvel mundial. Enquantoos cidados do mundo desenvolvido esto a salvo, os pobres, vulnerveis efamintos, esto expostos todos os dias de suas vidas dura realidade dasmudanas climticas.4

    No Brasil tambm encontramos parcela da populao que pode seadaptar muito bem s conseqncias das mudanas climticas nas cidades.Mas a ampla maioria est sujeita a riscos e no tem condies de enfrentaros desafios que os cenrios indicam. Adaptao, nos termos deste artigo, definida como investimentos em infra-estrutura para a proteo da populaoe, tambm, como a capacitao das pessoas para que saibam atuar diantedas situaes de risco que devem surgir em maior quantidade nas cidadesbrasileiras.

    O quadro social desigual do Brasil, mesmo que atenuado nos ltimosanos, ainda est longe de uma situao de equilbrio. Por isso precisoaproveitar todas as oportunidades que surgem para resoluo de problemase implementar medidas socioambientais que corrijam paulatinamente asdiscrepncias de renda e de acesso a servios no pas.

    Cidadania tambm expresso de qualidade de vida (RIBEIRO, 2002).O Brasil ainda no foi democratizado nesse aspecto. Mesmo com as reformasem curso, o acesso a ambientes adequados restrito a parcela minoritria dapopulao brasileira, certamente a que mais colabora para emisso de gasesde efeito estufa em cidades. So os que utilizam o transporte individual, tmabrigo decente e que sero menos afetados pelas mudanas climticas.

    A mais difcil tarefa a ser negociada politicamente, tanto na escalanacional quanto na internacional5, convencer quem usufrui as vantagens

    4 Tutu, Desmond. No necesitamos un apartheid en la adaptacin al cambio climtico. IN: Programa

    de las Naciones Unidas para el Desarrollo. Informe sobre Desarrollo Humano 2007-2008. Madrid,

    2007.5 Para uma anlise das negociaes internacionais sobre mudanas climticas ver Ribeiro (2002 e

    2001).

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    que a sociedade de consumo e intensiva em recursos energticos de basefssil disponibiliza a mudar seus hbitos. O emprego de artifcios financeirosj conhecidos, como o aumento das taxas para o uso dos carros em cidadesgrandes, em especial, nas reas centrais, pode ser lembrado como medidapara alterar esse quadro. Tambm preciso regulamentar o uso dasmotocicletas, cujas emisses so exageradas por falta de uma deciso federal,que precisa redefinir o volume de emisses dos motores de motocicletaspara nveis mais condizentes com a realidade contempornea.

    Mesmo que as emisses caiam rapidamente, o que muito poucoprovvel, os efeitos do aquecimento global sero sentidos pela populaodas cidades e metrpoles brasileiras por muito tempo. Eles resultam de gasesde efeito estufa lanados no passado, em especial pelos pases que seindustrializaram inicialmente.

    No existe ainda consenso em relao aos efeitos do aquecimentoglobal no Brasil., os modelos utilizados para simular o cenrio para os prximosanos geram resultados em escala regional e nacional. Ainda no temosmodelos consolidados que atestem o que realmente pode ocorrer no Brasil.Entretanto, j possvel encontrar bibliografia sobre alguns casos, comoNova Iorque (DEGAETANO, 1999), estudos preliminares comparativosde megacidades (MITCHELL, 1999) e anlises mais gerais que podem serteis na elaborao de pesquisas futuras (ARNELL, 2004 e KOUSKY eSCHNEIDER, 2003).

    Esses trabalhos indicam dificuldades para qualificar os impactossocioambientais em cidades brasileiras decorrentes das mudanas climticas.Por isso necessria uma reviso conceitual que auxilie a classificar ospossveis impactos. Seguem algumas definies de conceitos relacionadosaos riscos socioambientais que podem ser utilizados para avaliar e propormedidas mitigadoras e de adaptao para enfrentar os problemas resultantesdo aquecimento global em cidades do pas. Eles foram extrados da obra deVeiret (2007:24):

    Risco Percepo de um perigo possvel, mais ou menos previsvelpor um grupo social ou por um indivduo que tenha sido exposto aele;

    Incerteza Possibilidade de ocorrer um acontecimento perigososem que se conhea a probabilidade;

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    Indeterminao Situao em que um acontecimento desconhecidopoderia acontecer. , por exemplo, a situao de um homem denegcios que investe em uma inovao tecnolgica sem avaliartodas as implicaes de sua deciso;

    lea Acontecimento possvel; pode ser um processo natural,tecnolgico, social, econmico e sua probabilidade de realizao.O equivalente em ingls hazard;

    Perigo Termo empregado tambm para definir as conseqnciasobjetivas de uma lea sobre um indivduo, um grupo de indivduos,a organizao do territrio ou sobre o meio ambiente. Fato potenciale objetivo;

    Alvo Pessoas, bens, equipamentos, meio ambientes. Ameaadospela lea e suscetveis de sofrer danos e prejuzos;

    Vulnerabilidade Impacto previsvel de uma lea sobre os alvos.A vulnerabilidade pode ser humana, socioeconmica e ambiental;

    Crise Ocorrncia de um acontecimento cuja amplitude excede capacidade de gesto espontnea da sociedade que sofre esse evento;

    Catstrofe (do grego katastroph, devastao) Definida em funoda amplitude das perdas causadas s pessoas e aos bens. No hnecessariamente correlao entre importncia de uma lea e amagnitude dos danos.

    O resultado das alteraes climticas nas cidades brasileiras pode serexpresso em termos de incerteza e de indeterminao, nos termos definidosacima. Incerteza diante da falta de maior preciso do aumento da temperaturanos prximos cem anos. Outro aspecto que apresenta indefinio a alteraodo regime de chuvas. No se pode dimensionar ao certo o volume das chuvastorrenciais e concentradas em determinados perodos, embora os modelosindiquem estes fatos como provveis. Ou seja, ainda no se pode aferir aprobabilidade da ocorrncia das conseqncias das mudanas climticas nascidades brasileiras dado que vetores importantes, como o aumento datemperatura e a variao das chuvas, ainda no so conhecidos com preciso.Por isso, existe uma indeterminao quanto aos impactos socioambientais,

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    ou seja, as mudanas vo gerar acontecimentos em intensidade desconhecida,ainda que possam ser, de certo modo, estimados.

    Apesar disso, no resta dvida que as cidades brasileiras podem serafetadas pelas leas, ou seja, so locais onde ocorrero acontecimentosrelacionados s mudanas climticas. Trata-se de identificar os perigos e osalvos que eles afetam, para se evitar crises e uma catstrofe. Por isso, asmedidas devem ser tomadas com base no princpio da precauo, que ganhaainda maior relevncia quando envolve o risco de vidas humanas. Ou seja,na dvida quanto aos impactos socioambientais nas cidades brasileiras, preciso agir para enfrentar problemas antigos que resultaram do processorpido e particular de urbanizao no Brasil e atacar, com determinao,principalmente, a m condio de moradia da maioria da populao quevive em grandes cidades e metrpoles brasileiras.

    O conceito de vulnerabilidade6 fundamental nesse momento. preciso reavali-lo frente s alteraes derivadas do aquecimento global.Apesar de no existirem estudos conclusivos a respeito, isso no impedeque se possam indicar alguns dos problemas que a populao deve enfrentare que vai exigir polticas pblicas em escala nacional, estadual e regional.

    O perigo, como aponta VEIRET (2007), deve ser dimensionadosegundo o resultado do intenso processo de urbanizao do Brasil. Comovimos no incio deste texto, ele gerou reas com elevada concentrao depopulao de baixa renda, que acabou tendo como opo viver em situaesde risco, como fundos de vale, vrzeas de corpos dgua e encostas ngremes,ou, em cortios, em imveis degradados pela falta de manuteno. Cadauma dessas situaes expe de modo peculiar seus habitantes aos perigosresultantes do aquecimento global e geram situaes de risco que demandamadaptao.

    4. SITUAES DE RISCO E ADAPTAO EM CIDADES BRASILEIRAS

    Existem diversas formas de riscos decorrentes das mudanas climticasglobais nas cidades brasileiras. Vamos organiz-los segundo trs eixos dediscusso: aumento da temperatura, chuvas intensas e elevao do nvel domar.

    6 Esse conceito foco de estudos de autores como Bohle, Downing e Watts (1994), Burton (1997),

    Veiret (2007) e November (2002).

    Wagner Ribeiro

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    4.1 AUMENTO DA TEMPERATURA

    A elevao das temperaturas nas cidades, que devem ter dias e noitesmais quentes em maior quantidade que o verificado at o momento, aconfirmarem-se as previses, repercute na qualidade de vida e exige umareviso do uso das edificaes, bem como seu redimensionamento. Outrosaspectos a considerar so a poluio do ar e os efeitos da ilha de calor,estudados pela gegrafa Magda Lombardo (1985).

    Entre as conseqncias das emisses na escala local, a poluio do ar uma das mais graves. Essa gera um aumento de internaes de doentespor problemas respiratrios em perodos de estiagem, em especial no invernonas cidades das Regies Sudeste e Sul, quando se verifica com maiorfreqncia a chamada inverso trmica. A concentrao de poluentes deixaos olhos irritados, acelera o desenvolvimento de tosse, gripe e resfriado.Esses so problemas graves porque afetam mais as pessoas dos extremos dapirmide populacional: crianas at cinco anos e idosos.

    A populao costuma adotar solues prticas para amenizar asdificuldades que a elevada concentrao de poluentes gera como evitarambientes fechados, dormir junto a um recipiente com gua, no realizaratividade fsica ao ar livre depois das 10h00, entre outras. Porm, nenhumadelas implica em alterar o padro que o sistema de transporte aplicado imps:a predominncia do uso do carro.

    J em relao ilha de calor urbano, as metrpoles e grandes cidadesbrasileiras sofrem com essa situao, que agrava o quadro de sade dehipertensos e pode aumentar o nmero de mortes. Uma soluo para esseproblema passa pela regulamentao das construes, uma atribuiomunicipal, por meio do Cdigo de Obras e do Plano Diretor. Por isso preciso um trabalho de sensibilizao junto populao para que pressioneprefeitos e vereadores para que revisem os gabaritos de novas obras e asadaptem s condies climticas projetadas para o futuro.

    O maior entrave s alteraes no Cdigo de Obras o setor imobilirioque mantm, em geral, estreitas relaes com o poder executivo, como bemdemonstrou Santos (1990). Em sua obra, ele indicou como a presso dosetor da construo civil levou adoo de solues tcnicas queprivilegiaram as grandes obras e o adensamento populacional em reasconsideradas nobres em So Paulo.

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    Em muitas cidades e metrpoles, mantidas as edificaes de dimensesreduzidas que temos hoje, vai aumentar a parte da populao que instalaum condicionador de ar em residncias e no local de trabalho para obterconforto trmico interior. O aumento do uso de energia para esfriar ambientesurbanos tambm deve ser considerado.

    No ser possvel reduzir a temperatura de cada cmodo de cadaedifcio com a instalao de condicionadores de ar. Ser preciso renovaredificaes para permitir uma maior circulao de ar e o resfriamento dosambientes interiores e, alm disso, estabelecer normas para a construocivil que expressem claramente a necessidade de projetar ambientes maisamplos e com maior circulao de ar.

    O aumento da temperatura vai afetar diretamente o conforto trmicodas edificaes. As absurdas torres de vidro, que podem ser indicadas apases de clima temperado mas so inadequadas para pases tropicais, devemser evitadas. Atualmente, elas so habitveis graas a poderosos sistemas derefrigerao, que regulam a temperatura ambiente a cerca de 22 graus Celsius.Medidas, como as adotadas no municpio de So Paulo, que imps aosinvestidores e construtores urbanos a instalao de aquecimento da guapor meio do aproveitamento da energia solar, devem ser ampliadas em largaescala e podem tambm ser aplicadas para a gerao da energia usada naedificao.

    No mdio prazo, porm, a construo de novos edifcios envidraadosdeve ser desestimulada. Alm de demandar mais energia para nutrir os sistemasde refrigerao, elas tambm lanam ao entorno o ar quente que retiram dointerior dos prdios, contribuindo para a formao das ilhas de calor nascidades brasileiras.

    Outra conseqncia das mudanas climticas ser a maior freqnciade chuvas de elevada intensidade. A explicao para isso seria a elevadatemperatura da superfcie da metrpole, que aumenta pelo aquecimento globalmas tambm devido presena de veculos que irradiam calor dos motorese dos sistemas de refrigerao que lanam para fora dos edifcios o ar quenteque retiram de seu interior (LOMBARDO, 1985). Como resultado, as massasde ar frio se precipitam com mais intensidade e em pontos localizados, oque resulta em transtornos locais muito intensos, como alagamentos de vias,congestionamentos, perda de moradia de populao de baixa renda, prejuzos

    Wagner Ribeiro

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    materiais e, o mais grave, mortes, em geral de moradores de reas de risco7

    que no tm outra alternativa para morarem seno a de ocupar a beira derios ou encostas ngremes que acabam escorregando com a saturao dosolo que presena intensa das guas pluviais.

    Mais uma causa do aquecimento a produo do espao urbano, queno Brasil atende a demandas privadas e de acumulao sem qualquer sentidopblico8. Os prdios formam verdadeiras barragens circulao dos ventos.Isso altera o fluxo natural e desvia as correntes de ar o que afeta a ocorrnciae intensidade de chuvas (LOMBARDO, 1985).

    Esses problemas indicam que ser preciso atenuar a temperatura dasuperfcie das cidades e metrpoles brasileiras. Para isso, fundamentalestimular o abandono dos veculos ou alterar rapidamente o padro dosmotores para que deixem de emitir calor, tarefa que vai levar tempo para sercumprida. Alm disso, regulamentar a retirada de calor de ambientes fechadose evitar a construo de novos edifcios que necessitem dessa alternativatcnica para serem habitveis esto entre as medidas corretas a seremaplicadas. Tambm seria necessrio barrar a construo de torres elevadas,que chegam a ultrapassar vinte andares em alguns casos, tanto para usoresidencial quanto para instalao de escritrios. Nesse caso, uma alternativa promover seminrios junto a arquitetos e engenheiros para que discutamalternativas de projetos de prdios adequados aos padres tropicais e quepassassem a dispor de iluminao e circulao naturais, de acordo com aoferta de iluminao tpica de pases tropicais. Por fim, urgente estimular aadoo de novas tcnicas construtivas que se adaptem s temperaturas maiselevadas que devem afetar o pas.

    O plantio de rvores, medida que pode ser realizada em larga escala erapidamente, pode atenuar a temperatura da superfcie terrestre das reasurbanas no Brasil. A consulta a especialistas fundamental para indicaremo plantio de espcies originais de acordo com o tamanho das vias e caladasdo sistema virio. comum encontrar rvores imprprias em caladas quese rompem e dificultam caminhar, que dir o seu uso por cadeirantes. Asespcies podem ser combinadas de modo a oferecer um colorido natural no

    7 Para uma anlise dos riscos ambientais em reas urbanas ver Garcia-Tornel (2001) e November

    (2002). Jacobi (1999), por sua vez, organizou uma obra na qual se encontram artigos que tratam do

    tema.8 Para uma anlise do caso de So Paulo, ver Santos (1994, 1993 e 1990) e Carlos (2001).

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    perodo de florao. Cidades com mais rvores reduziro a temperatura dasuperfcie, o que pode diminuir as chuvas de elevada intensidade que seregistram nos ltimos anos, alm de ser muito mais aprazvel de se viver.

    Outro efeito do aquecimento global ser a incidncia em maiorfreqncia das chamadas pragas urbanas. As temperaturas mais elevadaspropiciaro a ocorrncia em maior escala de insetos como cupins epernilongos, entre outros, que afetam a qualidade de vida dos habitantes.Mesmo em nossos dias no raro o relato de habitantes que tm suas casasinvadidas por cupins, que destroem estruturas, telhados e mveis, algumasvezes a ponto de colocar em risco a habitabilidade do imvel. Ser precisocriar uma campanha de combate s pragas urbanas para evitar que sepropaguem a ponto de gerarem dificuldades aos moradores das cidadesbrasileiras ou que se transformem em vetores de propagao de doenas.

    4.2 CHUVAS INTENSAS

    O aumento das chuvas intensas pode acarretar no agravamento deproblemas j conhecidos dos brasileiros: alagamentos e escorregamentos deencostas.

    Os que vivem em fundos de vale, em geral junto a crregos, ou mesmoem reas de expanso natural dos corpos dgua so alvos potenciais dealagamentos. fundamental promover polticas para retirar a populaodessas reas, tarefa complexa, j que em alguns municpios isso foi realizadosem eliminar o problema.

    A clssica retirada da populao no basta. Alm disso, precisoocupar a rea com servios e equipamentos, ou mesmo mant-las comoreas naturais, mas com muita fiscalizao para evitar que aps suadesocupao novas famlias a utilizem para morar, criando uma nova situaode risco aos ocupantes.

    Cabe destacar aqui os parques lineares, projeto em implementao nomunicpio de So Paulo, que consiste na retirada da populao e recuperaoambiental da rea. A populao deslocada para outro local, em condomniospopulares. Deve-se atentar que a nova localizao deve propiciar aosmoradores manter os vnculos com a rea anterior, j que nela que elesencontram trabalho e possuem vnculos culturais e afetivos.

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    Do ponto de vista ambiental, os parques lineares se caracterizam pelareintroduo de espcies que l viviam. Alm disso, eles recebemequipamentos que os tornam aprazveis e utilizveis como centros de lazerpela populao do entorno. Outra vantagem ambiental a recuperao damata ciliar, que mantm a funo de reter gua e pode propiciar maior ofertahdrica para o municpio no mdio prazo, alm de evitar o escorregamentodas margens dos corpos dgua e seu assoreamento, o que amplia suacapacidade natural de assimilar a gua proveniente das chuvas. Esta maisuma alternativa que pode ser aplicada em outras realidades do pas.

    Em relao ocupao de encostas, a situao mais grave.Metrpoles como So Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador eRecife, para citar alguns exemplos, apresentam elevada concentraopopulacional em vertentes com mais de 70 graus de declividade, o que absolutamente inadequado. As edificaes no obedecem a critrios tcnicose podem, muitas vezes, colocar em risco seus habitantes.

    A autoconstruo agrava esse cenrio difcil, dado que a obra avanade acordo com a disponibilidade financeira da famlia, que acaba vivendopermanentemente no improviso e, pior, sujeita a queda de lajes e outraspartes da habitao, que, exposta s intempries, desgastam-se de modoprecoce. O ciclo parece no ter fim: a falta de dinheiro no permite concluira obra, que resulta em uma moradia inacabada, edificada sem critriostcnicos definidos nas normas e em um lugar de risco.

    Um dos fatores de risco que deve aumentar com as mudanasclimticas a eroso nas vertentes. Como as chuvas devem ser mais intensasem algumas regies, a gua ter mais velocidade e fora para gerar sulcos etransportar sedimentos, causando e/ou acelerando processos erosivos. Aeroso pode colocar em risco habitaes, ou pior, ocorrer em meio a umachuva forte, levando o que estiver na superfcie, inclusive pessoas e suasmoradias. Alm disso, uma eroso mais intensa contribui ainda mais para oassoreamento dos corpos dgua, o que aumenta a possibilidade dealagamentos nos fundos de vale.

    Para oferecer alternativa populao que vive em encostas ngremescabe lembrar o projeto desenvolvido em Santos, no Estado de So Paulo,no incio da dcada de 1990. Naquela ocasio foi realizado um mapeamentodas reas de risco em detalhe, salvo engano em escala de 1:5000, a ponto de

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    se localizarem as edificaes em risco de cada encosta. A populao foiesclarecida, por meio de uma comunicao direta, do perigo que sua moradiarepresentava sua vida, o que diminui muito a resistncia transfernciapara outro local. Alm disso, por meio da defesa civil, foi realizado um intensotreinamento para desocupao dos morros em caso de chuvas fortes.O resultado foi expressivo: durante anos no foram registradas mortes emSantos por escorregamento das encostas da Serra do Mar.

    Situao semelhante foi desenvolvida em Angra dos Reis, no Estadodo Rio de Janeiro, no final dos anos 1990 e incio do sculo 21. Porm, oabandono dessa estratgia, infelizmente, levou a vrias mortes em Angrapor ocasio de chuvas torrenciais em meados de 2000.

    A desocupao das encostas no ser realizada sem resistncia. Apesarde necessria, cara e demorada. Medidas paliativas, como oficinas junto populao para treinar a evacuao da rea em caso de chuva forte, sofacilmente executveis e podem evitar a perda de vidas. Mas para enfrentare resolver esse problema seria preciso retirar a populao e oferecer alternativade moradia, sem deixar de lado os vnculos sociais, culturais e de trabalhoque os envolvidos desenvolveram onde vivem.

    Uma possibilidade seria a transferncia de diversas famlias para ummesmo conjunto, o que manteria ao menos as relaes de vizinhana, laosculturais e afetivos. Alm disso, seria preciso criar postos de trabalho nasnovas reas de modo a oferecer alternativa para gerao de renda dosremovidos.

    Em relao aos cortios, a situao igualmente grave. A presena demuitas famlias em uma nica edificao, em si, colabora para sua degradao,dada seu uso intenso e para alm do que foi dimensionada. Pior que isso, emgeral os cortios so ilegais, ou seja, algum aluga o imvel e o subloca aoutras famlias. Por isso, no freqente realizar manuteno nas casas, namaior parte das vezes antigas e grandes.

    A m condio de conservao torna o imvel uma rea de risco.Chuvas intensas, associadas a ventos fortes, por exemplo, podem destelhara casa. Alm disso, ocorre a penetrao da gua na estrutura da casa, quepode danific-la e acarretar no desmoronamento do edifcio. No so rarosos casos de mortes e ferimentos graves de habitantes de cortios pela queda

    Wagner Ribeiro

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    de elementos construtivos, como tetos, parte de lajes ou mesmo do telhado,aps ou durante chuvas intensas.

    Essa situao exigiria tambm a retirada das famlias. Devem serenfrentados os mesmos problemas que nas encostas ngremes: realocarfamlias sem representar perdas de laos culturais, afetivos e de trabalho.Porm, existe um aspecto que distingue os habitantes de cortios dos quevivem em encostas. Em geral, eles esto no centro da cidade, ou em seucentro expandido, o que permite mais oferta de postos de trabalho a seusmoradores. Por isso, pode-se esperar maior resistncia sada do que doshabitantes de morros em reas perifricas.

    Por fim, importante lembrar que em muitas cidades do pas ocorreu,de modo errado, a impermeabilizao de corpos dgua e a ocupao devrzeas para instalao do sistema virio. As chuvas fortes devem agravaras j conhecidas enchentes em vias pblicas, que geram prejuzos e perdashumanas todos os anos no pas.

    Nesse caso, a recomendao radical: desocupar as reas de vrzea eavenidas instaladas em corpos dgua, tal qual j se verificam em cidadescomo Denver, nos Estados Unidos, e em algumas da Alemanha. Alm disso, fundamental ampliar as linhas de trens e de metr de modo a ofereceralternativa para o transporte e desestimular o uso de carros.

    O patrimnio edificado tambm ser afetado pelas mudanas climticas.Chuvas intensas e temperaturas mais elevadas vo exigir ainda maior atenopara a manuteno do patrimnio arquitetnico das cidades e metrpolesdo Brasil.

    A triste situao em que se encontra Ouro Preto (MG), patrimnio dahumanidade, no pode se repetir e tambm no deve ser seguida comoexemplo. A degradao dos edifcios histricos, aliada aos poucos recursospara sua conservao, resultou no abandono de quadras, com a conseqentemudana do uso e retirada da populao que vivia na rea.

    O mesmo se verificou no Pelourinho, em Salvador, cuja intervenodo governo estadual expulsou moradores e destinou a rea para fins tursticos(ZANIRATO, 2004), deixando aquela rea, tambm definida comopatrimnio da humanidade pela Unesco, sem a presena da populao quedava vida quele lugar. Como resultado, houve uma redefinio do uso do

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    solo com a instalao de servios comerciais, de alimentao e de hospedagempara turistas que visam conhecer o lugar.

    Chuvas fortes podem afetar o patrimnio edificado tombado e, semtrocadilho, tomb-los. Como decorrncia, tem-se um vcuo da memria dosbrasileiros que representa o esquecimento do passado do pas e a perda dereferncias histricas, de tcnicas construtivas e de beleza. Outro aspecto aconsiderar o fim de uma atividade econmica muito em voga e voltada aexplorar o patrimnio cultural: o turismo, que perderia sua razo de ser.

    4.3 ELEVAO DO NVEL DO MAR

    As cidades localizadas beira-mar tero outros focos devulnerabilidade. Elas devem merecer ateno especial para evitar mortes eprejuzos materiais relevantes.

    Uma caracterstica freqentemente encontrada nas cidades costeiras a intensa verticalizao, que pode ser apreendida em Santos e So Vicente,para citar um aglomerado urbano importante no Estado de So Paulo, e emmetrpoles regionais como Fortaleza e Recife, alm do Rio de Janeiro, entreoutras. Alm disso, comum o uso da orla para circulao de veculos, comvias expressas junto ao mar. O uso da costa ter que ser reavaliado luz dasmudanas climticas.

    A elevao do nvel dos oceanos em cerca de 1 metro j seria suficientepara impedir a circulao de carros em grande parte das vias construdas ematerros da faixa de praia. Interiorizar as vias no simples, j que implicariaem desapropriaes onerosas em reas com elevado preo. Ser preciso revero plano de circulao de veculos das cidades litorneas e reformular o sistemavirio. Esse problema deve ficar cargo do Estado, que tradicionalmentegerencia o fluxo de veculos bem como o planejamento do transito.

    A elevao do nvel da gua pode levar ao abandono de edifcios e aodeslocamento de populao que vive junto costa e de centros de serviosinstalados em praias. Nesse caso, cabe perguntar quem vai pagar a conta.Ela ser assumida somente pelos proprietrios privados?

    J para a populao de baixa renda, que, por exemplo, vive em palafitas,ser necessria uma interveno de governos estaduais, municipais e federal.A falta de recursos deste segmento social vai exigir uma ao governamentalpara sua transferncia para locais adequados e sem risco.

    Wagner Ribeiro

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    Outra dificuldade a ser enfrentada pelas cidades costeiras ser o destinodo esgoto. Lamentavelmente em muitas situaes, como no Guaruj, noEstado de So Paulo, o esgoto coletado e transportado ao mar atravs deemissrios submarinos sem qualquer tratamento prvio. Os clculos de vazodesse material foram realizados para nveis do mar mais baixo que osprojetados pelas mudanas climticas. Ser preciso redimensionar essesdutos, sob pena de ocorrer refluxo do material cidade, que pode agravarainda mais a ocorrncia de doenas na populao.

    A presena de indstrias na costa brasileira ter que ser protegida.Centros industriais como Cubato, em So Paulo, tero dificuldades emmanter as unidades fabris com a elevao da gua do mar.

    A retirada de populao ribeirinha pode vir a ser necessria caso nose contenha a gua do mar que venha a ser elevar. No Brasil, no so rarosos pescadores tradicionais que vivem da pesca e que tambm tero maisdificuldades para capturar os peixes. Muitos deles devem abandonar suaatividade tradicional e migrar para as reas urbanas, agravando a demandapor servios sociais.

    Sistemas de conteno das guas do mar sero fundamentais parasolucionar as dificuldades citadas acima. de se registrar que muitos pasespobres j possuem planos nacionais de adaptao s mudanas climticasglobais, como o caso de So Tom e Prncipe. Nesses casos, com muitoenfoque na conteno das guas do mar, que podem servir como orientaespara problemas comuns a serem enfrentados no Brasil.

    5. CONSIDERAES FINAIS

    No resta dvida que melhor prevenir que remediar, para lembrarde uma expresso popular. Essa mxima deve ser aplicada s cidadesbrasileiras quando se analisam as projees de aquecimento e de alteraono regime de chuvas.

    O principal problema decorrente da acelerada urbanizao que ocorreuno Brasil foi a concentrao da riqueza. Disso resultaram reas de riscosocioambiental que afetaram sobremaneira a populao de renda baixa, muitomais sujeita s implicaes das mudanas climticas que qualquer outrosegmento.

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    Por isso, as sugestes centrais deste texto podem ser traduzidas nabusca de alternativas para moradia da populao de baixa renda do pas.Somente com habitao segura, bem edificada e em local correto seroeliminados os efeitos mais perversos das mudanas climticas no Brasil: amorte de pessoas pobres.

    A retirada de populao de reas de risco a principal recomendaodeste trabalho. Cabe ao governo federal sugerir aos pases ricos, em especialaos que emitiram mais gases de efeito estufa no passado, que destinemrecursos para a construo de moradia popular. Alm, claro, destinarrecursos a essa finalidade, assim como os demais nveis de governo.

    Outras medidas tambm sero fundamentais, como as indicadas paraatenuar a elevao da temperatura. Cidades mais arborizadas sero maisagradveis para viver e amenizaro parcialmente o calor. Edifcios adequadoss condies tropicais que encontramos em grande parte do territriobrasileiro outra recomendao importante que ser realizada apenas sehouver uma nova regulamentao do Cdigo de Obras, atualmente sob agide do poder municipal.

    Reformular o sistema virio e de coleta de esgotos, em especial nascidades litorneas, tambm ser importante. A mudana do uso do solo dasavenidas beira-mar e a devoluo ao mar de reas apropriadas por meio deaterros tambm so recomendaes importantes. Do contrrio, o marpoder retomar seu territrio de modo rspido e sem aviso prvio.

    Outra importante recomendao que no se deve criar mais umaestrutura burocrtica destinada a tratar dos problemas decorrentes doaquecimento global. As dificuldades precisam ser analisadas diante daestrutura administrativa existente e devem envolver aes integradas dediversos ministrios, secretarias estaduais e municipais. Outro aspecto aconsiderar a cooperao internacional, que deve ser buscada dentro dosparmetros estabelecidos na Conveno sobre Mudanas Climticas, noFundo para os Pases Menos Adiantados e no Fundo Especial de MudanaClimtica. Essas e outras fontes podem indicar alternativas tcnicas e apoiofinanceiro para implementar as medidas para adaptao s mudanasclimticas nas cidades brasileiras.

    Outra recomendao atentar diversidade de stios urbanos e escalasdos aglomerados urbanos brasileiros. Tal variedade de situaes no permite

    Wagner Ribeiro

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    propor polticas rasas que possam ser aplicadas a todo o pas. Cada caso terque ser estudado considerando suas peculiaridades.

    A busca de tecnologias que atenuem as alteraes previstas outroaspecto relevante e que tambm pode resultar em divisas ao pas. Exportarconhecimento e alternativas tcnicas para mitigar e adaptar a populao eas cidades s mudanas climticas outra meta a ser alcanada. Recomenda-se a elaborao de editais de pesquisa e desenvolvimento de tecnologiascom estes fins.

    Porm, como as tcnicas no so neutras, elas tm de ser induzidaspara a resoluo de problemas socioambientais. Do contrrio, perderemosmais uma chance de melhorar as condies de vida de parte expressiva dapopulao do pas, que ainda est alijada dos benefcios que o consumo decombustveis fsseis geraram, mas que ser a mais afetada pelas mudanasclimticas em nossas cidades.

    Estamos diante de mais uma oportunidade para enfrentar problemasresultantes da urbanizao desigual do Brasil. Com ou sem mudanasclimticas eles tero que ser solucionados.

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    Resumo

    Evidncias cientficas, apresentadas no quarto Relatrio do Painel Intergovernamentalde Mudanas Climticas de 2007, no deixam dvidas que o planeta est aquecendo.Mais que isso, ele quase no deixa dvidas que a ao humana um dos fatoresmais relevantes nesse processo.

    No foi por outra razo que ele obteve tamanha repercusso. A imprensa deuenorme visibilidade ao texto, o que despertou na sociedade mundial, e, at certoponto, na brasileira, uma curiosidade sobre o tema.

    Porm, o papel dos governos antecipar aos eventos que possam colocar em riscoparcelas relevantes da populao do Brasil. Por isso, fundamental elaborar polticaspblicas capazes de atenuar os efeitos do aquecimento no territrio brasileiro. Paratal, importante ter claro que as diferenas sociais com as quais convivemos podemser, mais uma vez, fonte de agravamento das desigualdades. Segundo apontam osestudos do IPCC, a populao carente mais sujeita s ameaas da elevao datemperatura, o que pode acarretar em mortes, migrao e novas formas de pressosocial.

    Este trabalho procura contribuir para a elaborao de polticas pblicas que possamamenizar as conseqncias do aquecimento global no Brasil. As enormes diferenasde acesso informao e aos meios de se preparar para as alteraes provenientesdo clima da sociedade brasileira no podem ser esquecidas. Ao contrrio, elas devemser o ponto de partida das aes governamentais na busca da diminuio dedisparidades sociais no pas.

    Para contextualizar a dimenso do problema nas cidades brasileiras, o texto iniciacom uma apresentao da urbanizao no Brasil. Depois, trata de algumas fontesde emisso de gases estufa em cidades e metrpoles do pas. Alm disso, sugeremedidas para atenuar os impactos do aquecimento global populao. Conceitosde adaptao, vulnerabilidade e risco socioambiental so destacados para quepossam orientar a elaborao de alternativas para enfrentar as dificuldades

    Impactos das mudanas climticas em cidades no Brasil

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    decorrentes da elevao da temperatura planetria. Por fim, aborda algumas situaesde risco e formas de adaptao em cidades brasileiras em trs eixos de problemas:aumento da temperatura; chuvas intensas; e elevao do nvel do mar. Para encerrar,tm-se as consideraes finais, que sintetizam o texto.

    Palavras-chave

    Mudanas climticas, vulnerabilidade, Brasil, cidade, adaptao.

    Abstract

    Scientific evidences presented in the fourth report of the Intergovernmental Panel of Climate

    Change of 2007 are the proof that the planet is getting warmer. The document stated that human

    action is one of the process key factors and that is why the report had so much repercussion. The

    press has given great importance to the text, which made the global society, and, to some extent,

    Brazilians, curious about the subject.

    However, the role of governments is to anticipate events that may endanger a segment of the

    Brazilian population. It is crucial to develop public policies, which can mitigate the effects that the

    warming can have on the Brazilian territory. For that, it is important to clearly understand that

    social differences with which we live with can, once again, worsen inequalities. IPCC studies indicate

    that the poor are more subject to threats brought by temperature elevation, which can lead to death,

    migration and new forms of social pressure.

    This paper seeks to contribute to the elaboration of public policies that can alleviate the consequences

    of global warming in Brazil. The huge differences in access to information and the means to prepare

    for changes in the Brazilian society cannot be forgotten. Instead, they should be the point of

    departure of government actions seeking to reduce the social disparities in the country.

    To contextualize the scale of the problem in Brazilian cities, the text starts with a presentation of

    urbanization in Brazil. Then, presents some of the sources of greenhouse gases emission in cities

    and metropolis of the country. Moreover, suggests measures to mitigate global warming impacts on

    the population. Concepts of adaptation, social vulnerability and risk are emphasized to provide

    guidance to the development of alternatives to deal with the difficulties brought by the elevation of

    the planetary temperature. Finally, expands on some high-risk situations and how to adapt in

    Brazilian cities in three axes of problems: increased temperature, heavy rains and sea level rise. To

    close, the final considerations, which summarize the text.

    Keywords

    Climate change, vulnerability, Brazil, city, adaptation.

    Wagner Ribeiro

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    O autor

    WAGNER COSTA RIBEIRO gegrafo e professor associado do Departamento deGeografia e do Programa de Ps-Graduao em Cincia Ambiental (Procam/USP), onde coordena o Grupo de Estudos em Cincias Ambientais do Institutode Estudos Avanados. Foi presidente do Procam e editor da revista Terra Livre.Realizou estudos de ps-doutorado na Universidade de Barcelona e foi professorvisitante na Universidade de Sevilla (Espanha).

    Impactos das mudanas climticas em cidades no Brasil