CHOMSKY__N._Linguagem_e_Pensamento

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    Pre facio

    OS TR~S CAPfTULOS deste livro saoerssee um tanto desenvolvidas de tres eonferencias, as con-fereneias Beckman, que proferi na Universidade da CalifOr-nia, em Berkeley em janeiro de 1967. A primeira e uma ten-tativa de avaliar as contribui~iies passadas ao estudo do pen-samento, baseadas na peequisa e especula~ao concernentes dnatureza da linguagem. A segunda e devotada aos progressosoontemporsmeo da linguistica que tim in/luencia sobre 0 es-tudo do pensamento. A terceira e uma discussao altamenteespeculativa das dire~oes que 0 eeiudo da linguagem e dopensamenio pode tomar 1WS pr6ximos anos. As tree confe-reneias, portanto, re/erem-s ao passado> ao pres-ente e aofuturo.Dado 0 estado da pesquisa na hist6ria da lingiiistica,

    mesmo a tentativa de avaliar as contribuiroes passadas deveser considerada altamente conjetural. A lingiiistica modernaparticipa da ilusao - ereio que este e 0 iermo exato - deque as modernas cUncias do comoortamenio realizaram emalgum aspecto essencial a transifjao da eespecuiaciio para aciencia e de que os irabalho mais antigos podem SCm medode errar ser entregues aos antiqutirios. Evidentemente, qual-5

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    quer pessoo. racio1'Ul1{avorecera a. analise rigor()sa e 0. expe-riencia cuidadosa; mas p8nso que, em grau consideravel, ascciencias do comportamento estiio simplesmente. arremedam-do 08 aspectos superjiciais dae ciencia.s naturais; grande par~te de seu carater cientificQ loi reaLizado gra(,}a8 a rest~iiodo aBsunto, -e d concentra(}M preferencial em questoes perite-ricae. Este estreitamento de loco pode ser justijieado ee con~duz a realiz~oes de realsignifical)iio intelectuo,l, ma8 nesieeaeo penso que seria muito dificil mostrar que 0 eetreiuumen-to do campo conduziu a resultados profundos e significativos.Alem do mais, houve uma natural mas in/eliz tendencia aextrapolar da minguada. quantidade de conhecimento obtidomediante cuidadoso trabalho experimental e rigoroso prooes-samento de dadoe, para questoes de m;uito maw ampla sig-nifical)iio e de grande interesse social. sete e um Q,8suntoserio. Os specialistas tem a responsabilidade de tomar ola-r08 08 limites reais de sua compreensao e dos resultados quealcantlaram ate agora. Uma analise cuidadosa dsses limitesdenunt8trara, acredito, que pro.ticamente em todos os camposda 8 ciencias 80ciais ,e do comportxtmento os resultados conse~guidos ate agora nao apoiariW essa cextrapolatliio. Eata ana-{ise mostromi tambem, acredito, que as contribuil)oes do pen-samento e dr a especulariio antigos niio podem ser negligen-ciado sem risco, e que em grande parte ofereeem. uma baseindispensavel para um trabalho serio hoje em dm. Niio pre-tendo iustificar O4ui este ponto de vista em geral, mas sim-plesmente afirmar que e o ponto de vista subjaoente a s con-ferencias que se eeiruem;

    Na segunda oonferenoia. niio liz uma tentativa de daruma apresentagao sistematica daquilo que foi reo.lizado napesquisc. lingiiislica, ' antes, eoneenirei-me em problemas queS6 acham na fronteira da pesquisa e que ainda nao encon-traram uma solul)ao. Grande parte do material desta eonfe-rencia apareceu em um capitUlo intitulado Problemas deexplica~iio em lingiiistica em Explanations in Psychology,editado por R. Borger e F. Cioffi (Nova York, CambridgeUniversity Press, 1967) juntamente com iniereeeamies comen-tarios eriiioos por Max Black. As oonfereneiae 1 e 3 fazem.'Usode algum material retirado de uma conferencia proferidana Universidade de Chicago ,em abril de 1966, que apareceuem Changing Perspectives on Man, editado por R. Rothblatt

    (Chicago: University of Chicago Press, 1968). Uma parte< fa primeira conferencia {oi publicada. no Columbia UniversityForum, primavera. de 1968 (Vol. XI, n. 1), e uma parte do.terceira conferncia aparecerci no numero de outono de 1968(Vol. Xl, n. 3).

    Deseiaria. exprimir meus agradecimentos aos membrosdo . Faculdade e ao corpo de alunos de Berkeley pelos mui-tos eomenuirio e reQ,{lQesuteis, e, de modo mais geral, pelo ricoe estimulante clima intelectual em que tive 0 priviMgio depassar varios meses antes destas eonferencia, Sou gratotambem a John Ross ,e Morris Hale pelos Valioso8 comen-tanos e sugestoes que fizeram. -

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    CONTRIBUI{XJES LINGtJ1STICASPARA 0 ESTUDODO PENSAMENTO

    1. P a ss a do

    NST A S CONFERNCIAS gostariade focalizar a atencao sobre a seguinte questao : que eon-tribui~ 0 estudo da linguagem pode prestar a nossa com-p r e e n s i o < l a " n a t U r e z a h u r n a n a ? Ora n u m a - o r a ~ n o u t r a - m a -nifesta~o, esta questao abre caminho com dificuldade atra-ves do pensamento ocidental moderno. Numa epoca que eramenos autoconsciente e menos compartimentada do que anossa, a natureza da linguagem, os aspectos nos quais a lin-guagem reflete os processes rnentais humanos ou configurao fluxo e 0 carater do pensamento eram temas para 0 estudoe a especulaeao dos eruditos e amadores talentosos com umalarga variedade de interesses, pontos de vista e formacaointelectual. Enos seculos XIX e XX, como a lin&j!istica, afilosofia e_a psico~Q8j~f?rsaram-se com dificuldade portrilhar seus caminhos separados, os problemas classicos dalinguagem e dt? pensamento reaI!~~cera~lmente_e.serviram para ligar estes campos djvergentes, dando ' U m a .dire@o e urn significado a seus esforcps. Na ultima deeadahouve sinais de que esta separa@o, urn tanto artificial, e!J.~re-disciplinas pode estar chegando ao fim. Ja nao e mais umaquestao de honra para cada uma delas demonstrar sua abso-

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    luta indepeidencia em relacao as outras, e surgiram novosinteresses que perm item formular os problemas elassicos demaneiras criginais e as vezes sugestivas, por exemplo, emfUDf;ao das novas perspectivas ofereeidas pel a cibernetica epelas ciencias da comunicacao, em eontraste com as realiza--:;oesda psicologia comparada e fisioldgica, as quais desafiameonviccdes mantidas ha muito tempo e libertam a imagina-.:;iio cientlfica de certas peias tornadas parte tao familiar denosso ambients intelectual que ficavam quase fora da cons-ciencia. Tudo isto e altamente encorajador. Penso que hamais fermento salutar na psicolcgia do conhecimento - eno ramo particular da psieologia do conhecimento chama dolinguistica - do que houve durante muitos anos, E um dossinais mais encorajadores e que 0 ceticismo com relacao a sortodoxias do passado recente associa-se a eonscisncia dastentaeoes e perigos de uma prematura ortodoxia, conscienciaque, se perdurar, po de evitar 0 surgimento de u r n novo edesacreditado dogma.E' HeU enganar-se na avaliacao da cena atual; contudo,parece-me que 0 declinio do dogmatismo e a correspondenteprocura de novas enfoques para problemas velhos e muitasvezes ainda ref'ratarios e de todo inequivoca, nao somenteem Iingttistica, mas em todas as disciplinas que se referemao estudo do pensamento. Lembro-me multo bem de meu pro-prio sentimento de inquietude quando era estudante, em vistado fato de que, conforme pare cia, os problemas basicos destecampo estavam resolvidos . e que restava apenas af'iar e me-lhorar as tecnicas de analise lingulstica que eram razoavel-mente bern compreendidas e aplica-Ias a uma esfera mais am-pla de materia is Iingtiisticos. Nos anos posteriores a guer-ra, esta era a atitude dominante na maioria dos centres ati-vos de pesquisa, Lembro-me que urn eminente Iingiiista an-tropologico, em 1953, disse-me que nao tinha inteneao detrabalhar numa vasta colecao de materia is que havia reuni-do, pcrque dentro de poueos anos seguramente seria possi-vel programar urn computador para construir uma grama-tica, a partir de urn grande corpo de dados, usando tecni-cas que jii eram perfeitamente bern formalizadas. Naquelaepoea, isto niio pareeia uma atitude pouco razoavel, emboraa perspectiva fosse entristecedora para quem julgava, aupelo menos esperava, que os reeursos da inteligencia hurna-na fossem urn tanto mais profundos do que esses precedi-

    mentes e tecnicas poderiam revelar. Correspondentemente,houve urn acentuado deeiinio nos estudos do metodo Iingiila-tlco no princfpio da decada de 50, pois os mais ativos espl-ritos te6ricos voltararn-se para 0 problema de saber comourn corpo de teenica essencialmente fechado poderia ser apli-cado a algum novo dominic, digamos a analise do discursocorrente au a outros fenomenos culturais alem da linguagem .Cheguei a Harvard como estudante poueo depois que B. F.Skinner tinha proferido suas conferencias William James,mais tarde publicadas em seu livro Verbal Behavior. Entreoa pesquisadores ativos em f'ilosofia ou psieologia da lingua-gem havia entao pouca duvida que, embora faltassem deta-lhes, e embora as questoes pudessem nao ser realmente taosimples assim, contudo urn arcaboueo comportamentista, dotipo que Skinner tinha esbocado, revelar-se-ia inteiramenteadequado para acomodar 0 campo inteiro do uso lingti ist ieo.Ravia entao poucos motivos para duvidar da eonviccao deLeonard Bloomfield, Bertrand Russel, os positivistas logicos,os psicologos e filosofos em geral, segundo a qual a estru-tura da psieologia do astlmulo-resposta em breve seria es-tendida ate 0 ponto em que forneeeria uma explicacao sat is-fatoria para a mais misteriosa das faculdades humanas. Osespiritos mais radicals talvez sentissem, com 0 fim de fazerplena justica a essas faculdades, que se deve postular peque-nos 8 e r dentro do cerebro juntamente com S e R maiiis-eulos, que estavam abertos a inspeeao imediata, mas esta naoera inconsistente com 0 quadro geral.

    As vozes dos criticos, me smo as daqueles que tinhameonsideravel prestigio, deixaram simplesmente de ser ouvi-das. POl' exemplo, Karl Lashley fez urna brilhante critica daestrutura de ideias que prevalecia em 1948, sustentando quesubjacente ao uso da linguagem - e a todo comportamentoorganizado - deve haver mecanismos abstratos de uma es-pecie que nao sao analisavets em termos de associacao e quenao poderiam ter side criados POl' quaisquer desses meiostao simples. Porem seus argumentos e propostas, emborasolidos e compreensiveis, nao tiveram absolutamente efeitosobre 0 desenvolvimento do assunto e passaram desapercebi-dos mesmo em sua propria universidade (Harvard), na epocao centro dirigente da pesquisa psicolingutstiea, Dez anosmais tarde a contribuicao de Lashley comeeou a ser apre-

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    eiada, mas somente depois que suas conce~s foram rea-lizadas independentemente em outro contexto.Os progress os teenologicos da dseada de 1940 simplesmen-te retorcaram a euforia geraJ. Os computadores estavam nohorizonte, e a iminsncia de se vir a dispor deles reforcava acrenea de que bastaria obter uma compreensao teoriea dosfenomenos mais simples e mais superficialmente evidentese 0 resto se revelaria meramente ser mais do mesmos u~complexidads aparente que seria desemaranhada pelas ma- 'ravilhas eletrdnicas, 0 espeetrogrado de sons, criado durantea_~uerra, ofereceu uma promessa semelhante para a analisefisica dos sons da fala. As conferencias interdisciplinaressobre a analise da fala nos primeiros anos da decada de1950 sao hoj~ u~ leitura interessante. Havia algumas pou-c~~ pessoas tao ignorantes que chegavam a discutir a possi-bilidade, ou de fato a iminencia, de uma solueao final doproblema de converter a fala em escrita por uma convenien-te tecnica de engenharia. E apenas poucos anos depois des-cohriu-se jubilosamente que a tradu~ao meeanica e a abstra-~ao automatica estavam a um passo. Para aqueles que pro-c~ravam ~ma formulaeao mais matematica dos processes ba-SICOShav.la a teoria matematica da comunicacao, recente-mente eriada, que, conforme se acreditava amplamente noinieio da decada de 1950, trouxera urn conceito fundamentalt d inf ~ o. ~ncel 0 _~~~}!l_Q!'!'!l:~~~~L_QqRalnific.a.riaas ciencias so-CIalS_E l . ._l:t_~_5~~tlciasdQ.~mP2~!l1~l!~ e permifiri 'a" a -'cria~aode um~_flo.hda" e . sa~isfa0ria teoria matematica do comEor-t.am&nto humano de, ~~.s.~_."p!'Q~~l?ili~~ica. Aproximadamentena mesma epoca, a teoria dos automata'S desenvolveu-se co-m~ .urn estud~ independente, fazendo uso de n~i5es mate-mahcas estreitamente relacionadas, E foi ligada imediata-mente, com toda razao, a antigas exploraeoes da teoria dasredes neurais, Havia aqueles que, como John von Neumannpor exemplo, percebiam quer todo este desenvolvimento eraduvidoso e vacilante, no melhor dos casos, e provavelmentede todo erroneamente concebido, mas estes escnipulos nioehegavam ao ponto de eliminar 0 sentimento de que a rna-tematiea, a tecnologia, a linguistica comportamentista e apsicologia estavam convergindo para um ponto de vista mui-to simples e clare, inteiramente adequado a oferecer a com-preensao fundamental daquiIo que a tradi~o tinha envolvi-do em misterio,

    Pelo menos nos Estados Unidos, h8. hoje poucos tracesdas i1usOes dos primeiros anos posteriores a guerra. Se con-siderarmos 0 estado atual da metodologia linguistica estru-tural, da psicolinguistica de estimulo-resposta (quer seja es-tendida ou nao a teoria da mediacao) ou os modelos pro-baHsticos ou teorico-automatieos para 0 usa da Iinguagem,verificamos que em cada urn desses casos houve urn desen-volvimento paralelo, Uma analise euidadosa revelou que namedida em que 0 sistema de conceitos e principios propos-tos pade ser tornado precise, demonstrou-se ser inadequadode uma maneira fundamental. Os tipos de estruturas reali-ztiveis em termos dessas teorias. simples mente nao sao aque-les que devem ser postulados como subjacentes do uso dalinguagem, se quisermos satisfazer as eondieoes empiricasde adequaeao, E 0 que e mais, 0 carater de fracasso e ina-dequaeao e tal que da pouco motivo para se aereditar queestes enfoques se encontrem no caminho certo. Isto e , emcada um desses cas os sustentou-se - de mane ira muito per-suasiva em minha opiniao - que 0 enfoque nao e apenasinadequado mas erroneo em aspectos basi cos e importantes.Tornou-se de todo claro, aeredito, que se algum dia viermosa compreender como a linguagem e usada ou adquirida, te-remos de separar para estudo a parte e independente urnsistema cognoscitivo, um sistema do conhecimento e da cren-~, que se cria na primeira inf'ancia e interatua com mui-tos outros fatores, para determinar os tipos de eomporta-mento que observarnos; introd.!l:~i~do.l,1~ __~!!!!Q_tecnitp-l-_Ae-vemos isolar e estudar 0 sistem~i1~ c _ompe te n ci a l in g ui st ic ;_ aque esta subjacente ao comportarnentomas nao e compreen-dido de urn modo diretoe--slmple-i-iio comportameirtO~-Erestesistema de eompetencia lingmsfi'ca--r qualitativamente dife-rente de qualquer outra coisa que pode ser descrita em ter-mos dos metodos taxinsmicos da lingiiistica estrutural, dosconceitos da psicologia E-R, das no~Oes nascidas da teoriamaterna-tics da eomunieaeao ou da teoria dos autdmatos sim-ples. As teorias e modelos criados para descrever fenomenossimples e imediatamente dados na o podem incorporar 0 sis-tema real da competencia lingiiistica; a eextrapolaeaos par-tindo de simples descrieoes nao enfoca a realidade da com-petencia lingiiistiea j as estruturas mentais n3.0 sao simples-mente mais ou menos 0 mesmos , mas s a o qualitativamentediferentes das redes e estruturas complexas que podem ser

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    constituidas par elaboracao dos conceitos que pareciam taoprornissorss a tantos cientistas he. poueos anos atras, Nao setrata de uma questao de grau decomplexidade mas antesde qualidade de complexidade. Par conseguinte, na~ hi ra-zao para esperar que a tecnologia ao nosso alcance possaoferecer urn significativo discernimento au compreensao aurealizaeoes uteis : e bern sabido que nao conseguiu f'azer isso,e de fato, urn apreciavel investimento de tempo, energia edinheiro no usa dos computadores para a pesquisa lingiiis-tiea - apreciavel pelos pad roes de urn pequeno campo co-mo a Iingiiistica - nao proporcionou qualquer valioso pro-gresso em nossa compreensao do uso au da natureza da lin-guagem. Estes juizos sao rudes, mas penso que sao defensa-veis. Alem disso, sao poucodebatidos POl' ativos pesquisa-dares linguisticos au psicolingiiistieos.

    Ao mesmo tempo houve importantes progresses, acre-dito, em nossa compreensao da natureza da competencia lin-guistica e de alguns dos modos em que e posta em uso, masesses progresses, tais como sao, derivam de suposicoes mui-to diferentes daquelas que foram tao entusiasticamente ex-pendidas no periodo que estou discutindo. E ainda mais,esses progressos nao reduzlram a brecha entre 0 que e co-nhecido e a que pode ser visto estar alem do alcance doentendimento e da tecnica atuais j ao contrario, cada pro-gresso tornou claro que estes horizontes intelectuais acharn-se multo mais remotes do que ate agora se imaginava. Fi-naImente, tomou-se inteiramente claro, conforms me pare-ce, que as suposi~Oes e modos de abordar 0 tema que hojese revelam produtivos tem urn saber nitidamente tradicio-nal; em geral, uma tradi

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    tra a estrutura de ideias dos primeiros anos depois da guer-ra, que mencionei .no comeeo desta confersneia, Os carte-sianos proeuravam mostrar que, ~uando a teo ria do corpof'isico e definida e elarifieada, sendo estendida ate 0 limite,I ainda assim e ineapaz de explicar fates evidentes a intros-pec~ao e que. sao tambem confirmados POl' nossa observa-\ ~ao das a;oes de outros homens. Em particular, nao pedeexplicar 0 usc normal da linguagem humana, assim comonao pode explicar as propriedades essenciais do pensamento.POl' conseguinte, e necessario invocar urn principia inteira-mente novo, em termos cartesianos, postular uma segundasubstancia, cuja essencia e a pensamento, ao lado do corpoCOm suas propriedades essenciais de extensao e movimento.Este novo principio tern urn aspecto criador, que se evi-dencia mais claramente naquilo que podemos definir como 0aspecto criador do uso da linguagem, a capacidade, exclusi-vamente humana, de exprimir novos pensamentos e enten-del' expressdes de pensamento inteiramente novas dentro doarcabouco de uma linguagem instituida, linguagem que eurn produto cultural sujeito a leis e principios, em partepertencentes unicamente aele e em parte reflexos das pro-priedades gerais do espirito. Estas leis e principios, e 0 quese afirma, nao sao formulaveis em funcao da extensao, mes-rno a melhor elaborada, dos conceitos prriprios da analise doeomportamento e da interacao dos corpos fisieos, e niio saorealizaveis mesmo pelo automate mais complexo. De fato,Descartes afirmou que a unica indicacao segura de que urn~Zorpopossui.um espiritohumano, ~~ii~~'~"'i:imn~roautomata, reside na sua capacldade-de usar a linguagem dem : i ll e i r a normal; e afirmou'que 'esTacapaCiOaae--nao podeser enconfiidii em urn animal au urn automata, que" sob QU-tros aspectos, mostram sinais de inteligencia aparente queexcedem os de urn ser humano, rnesmo se urn tal organismoou maquina pudesse ser tao perfeitamente dotado quanto urnser humano de orgaos fisiologicos necessaries para produzira fala.

    Voltarei a este argumento e aos modos em que se desen-volveu. Mas penso ser importante acentuar que, com todasas suas lacunas e deficiencias, e urn argumento que deve serlevado a serio, Nada ha de absurdo na eonclusao, Parece-memuito possivel que naquele particular momento da evolueao

    do pensamento ocidental houvesse a possibilida:de do nasci-mento de uma eiencia da psicologia de urn tipo que ainda naoexiste, uma psicologia que comeca com 0 problema de ca-racterizar varies sistemas de conhecimento e crenca huma-nos, as conceitos em termos dos quais estes sao organizadose os principios a eLes subjacentes, e que somente entao sevolta para 0 estudo do modo como estes sistemas poderiamtel' sido erlados, mediante alguma eombinacao de estruturainata e interacao do organismo com 0 meio. Esta psicologiacontrastaria muito agudamente com 0 modo de compreendera inteligencia humana que eomeca postulando, por mati vas apriori, certos mecanismos especificos que, conforme se pre-tende, devem ser os que estao subjacentes it aquisi .;ao de todoconhecimento e crenea. Voltarei a esta distineao em uma con-ferenda subseqiiente. De momento, desejo apenas acentuara racionalidade da alternativa rejeitada e, 0 que e mais, suaconsistencia com a abordagem que se mostrou tao bern suce-dida na revolucao oeorrida na fisica no seculo XVII.H a paralelos metodologicos que talvez tenham sido in-corretamente apreciados entre 0 postulado carle siano de umasubstaneia cuja essencia era 0 pensamento e a aceitaeao pos-newtoniana de urn principio de atracao como propriedadeinata dos corpiisculos ultimos .da materia, prineipio ativo quegoverna os movimentos dos corpos. Talvez a contribuicao demaier alcance da filosofia cartesiana para 0 pensamento mo-demo tenha sido sua rejeicae da no~ao escolastica das for-mas substanciais e das qualidades reais, de tBdas aquelaspequenas imagens que esvoaeam pelo ' ar, a que Descartesse referiu com ironia. Com 0 exorcismo dessas qualidadesocultas 0 palco estava pronto para 0 surgimento de umafisica da materia em movimento e de uma psicologia queexplorava as propriedades do espirito. Mas Newton susten-tau que a fisica mecanica de Descartes nao funcionaria -o segundo livro dos Principia e em grande parte devotado aesta demonstracao o=- e que e necessario postular uma novaforc;a para explicar 0 movimento dos corpos. 0 postulado deuma forC;a de atraeao agindo a distancia era inconsistentecom as ideias claras e distintas do bom-senso e nao podiaser tolerado por urn cartesianoorlodoxo - tal fOl';a erasimplesmente uma outra qualidade oculta. Newton concor-dou inteiramente e tentou repetidas vezes descobrir uma

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    explica~o mecaniea da causa da gravidade. Rejeitou a ideiade que a gravidade e essencial e inerente a materia eafirmou que, dizer-nos que cada especie de coisas e dotadade uma propriedade especifica oculta (tal como a gravida-de) pela qual atua e produz efeitos manifestos, e nao nosdizer nada. Alguns historiadores da ciencia sugeriram queNewton esperava, assim como Descartes, escrever os Princi-pios da Filosofia, mas seu fracasso em explicar a causa dagravidade em fundamentos mecanicos restringiu-o aos Prim-cipios Matemdticos da Filosofia Natural. Assim, para 0 bom-senso de Newton, tanto quanto para 0 dos cartesianos, a fisi-ca ainda nao estava corretamente fundada, porque postulavauma forea mistica eapaz de ac;ao a distancia, De modo seme-lhante, 0 postulado do pensamento como principio explica-tivo, tal como fez Descartes, era inaceitavel para 0 tempe-ramento empirista. Mas 0 espantoso sucesso da fisica ma-tematica levou a melhor contra essas objecoes do bom-senso,e 0 prestigio da nova fisiea elevou-se tao alto que a psieo-logia especulativa do Iluminismo aceitou como certa a ne-cessidade de trabalhar dentro da moldura newtoniana, emvez de faze-Io com base na analogia newtoniana, coisa mui-to diferente. A forca oculta da gravidade foi aceita comoelemento evidente do mundo fisico, nao exigindo explicacao,e tornou-se inconcebivel que se tivesse de postular principiosinteiramente novas de funcionamento e organizaeao, fora daestrutura daquilo que logo se tornou 0 novo ebom-sensos.Parcialmente por esta razao, a procura de urna psicologiacientifica analoga, que exploraria os principles do pensamen-to, quaisquer que fossem, nao foi empreendida com a perti-naela que entao, como agora, era inteiramente possivel.

    Nao desejo passar por alto uma distinc;ao fundamentalentre a postulacao da gravidade e a postulaeao de uma rescogitans, isto e , a enorme disparidade no poder das teoriasexplicativas que foram criadas. Entretanto, penso ser ins-trutivo observar que as razdes para a insatisfaeao de New-ton, Leibniz e os cartesianos ortodoxos com a nova fisicasao surpreendentemente semelhantes aos motives pelos quaisuma psieologia racionalista dualista seria em breve rejeitada.Penso ser correto dizer que 0 estudo das propriedades e daorganisacao do pensamento foi prematuramente abandonado,em parte per motivos de todo espurios, e tambem indicar

    que ha uma certa ironia na concepeao comum de que esteabandono foi causado pela expansao gradual de urna atitudecientifica mais geral.Procurei chamar a atencao para algumas semelhaneasentre 0 clima intelectual do seculo XVII e 0 de nossos dias,E' esclareeedor, penso . eu, traear com mais detalhes 0 cursoespecifico do desenvolvimento da teoria linguistica duranteo periodo moderno, no contexto do estudo do pensamentoe do comportamento em geral.'Urn born comeco sao os escritos do medico espanhol JuanHuarte que, no final do seculo XVI, publicou urn estudo,amPiamente'txaduzido, sobre a natureza da inteligencja hu-mana. No curso de suas pesquisag:-Huarte admirou-se comoIato de que a palavra inteligencia, ingenio. parece tera mesma raiz latina de varias palavras que significam en-S'endra~~ ~u gerar. Isto, afirmou ele, da-nos urn indieio danatureza do pensamento. Assim, podem distinguir-se doispoderes geradores no hornem, urn, comum aos animais e a splan4.&.~.~_Q_oU~rQ......l ;!ru1i~iDandQa substancia espiritual. Ailfteli8'!!.~i~.ii.!!g~illg.L~.J!.~.Jl~J.t~rgerl!..dor. 0 entendimento euma faculdade geradoraj , A etimologia de Huarte nao e real-mente muito boa; no entanto, a intuicao e muito importante,Huarte prossegue distinguindo tres niveis de inteligen-cia. 0 mais baixo e a mteligencia docib , a qual satisfaza maxima que ele, juntamente com Leibniz e muitos outros,atribui erradamente a Arist6teles, a saber, que nada existeno pensamento que nao lhe seja transmitido simples mentepelos sentidos. 0 nivel seguinte, a inteligencia humana nor-mal, vai muito alem da l imitaeao empirista : e capaz de en-gendrar em si, por seu proprio poder, os principios sobreos quais repousa 0 conhecimento. Os espiritos humauos nor-mais sao constituidos de tal forma que ajudados apenaspelo sujeito, sem 0 auxilio de qualquer corpo, produzlraomilhares de eonceitos de que nunca ouviram falar. .. inven-tando e dizendo eoisas que nunca ouviram de seus mestresnem de qualquer boca. Assim, a inteligencia humana nor-mal e capaz de adquirir conhecimento mediante seus pr6-'pries recursos- internos, talvez fazendo uso dos dados do sen-!I~9t,_~,~,jli~aE.9~~~-~-:.~E'i!~r~!I::11m_~iiTemR~coJmpscitivom

    I PR"I'B detalhes e discuasao auplemen ta. ree, ve. ja-se men Ilvr-o, Curtf:'!sian LinguEstictJ(Nova York: Harper & Row. 1966) e as referenclas nele citadaa, {Ja puh]ic~-I,(I\~lu. 'lR Editorn VozeB).20 21

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    termos de coneeitos e principios produzidos em fundaman-tos independentes; e e eapaz de gerar novos pensamentose de encontrar novos e adequados modos de expressa-los, emfonnas que transcend em inteirarnente qualquer exercicio ouexperiencia,Huarte postula uma terceira especie de inteligencia, pormeio da qual alguns, sem arte ou estudo, dizem coisas tao

    sutis e surpreendentes, embora verdadeiras, que nunea fo-ram vistas, ouvidas ou escritas, nem mesmo sequer pensa-das. Refere-se aqui a verdadeira criatividade, 0 exercicioda imaginacao criadora em modos que excedem a inteligen-cia normal e podem, julgava ole, envolver euma mistura deloucura. -Huarte afirma que a distincan entre a inteligencia do-cil, que satisfaz a maxima empirista, e a inteligencia normal,com sua plena capacidade geradora, e a distincao entre urnanimal e 0 homem. Como medico, Huarte estava muito inte-ressado na patologia, Em particular, observa que a maisgrave deficiencia da inteligencia que pode afligir urn serhumano e restring ir-se ao mais baixo dos tres graus, it inte-

    ligencia docil, que se conforrna com os principios empiristas.Esta deficiencia, diz Huarte, assemelha-ss it des eunucos,incapazes de procriacao, Nestas tristes circunstancias, nasquais a inteligencia so pode receher estirnulos transmitidospelos sentidos e associa-los uns com os outros, a verdadeiraeducacao e evidentemente impossivel, pois faltam as ideiase principlos que permitem 0 crescimento do conhecimento edo entendimento. Neste caso, entiio nem as pancadas comuma vara, nem os gritos, nem 0 metodo, nero exemplos, nemtempo, nem experiencia, nem nada mais na natureza podemexcita-lo suficientemente para produzlr alguma coisa.A estrutura exposta pur Huarte e u ti ] para discutir ateoria psicologica, no periodo que se segue. E' tipico dopensamento ulterior a refreneia ao uso da l inguagem comoIndiee da inteligencia humana, daquilo que distingue 0 ho-mem dos animals, e espeeifieamente a acentuacao da capa-cidade criadora da inteligencia normal. Estes interesses do-minaram a psicologia e a lingtiistica racionalistas, Com 0surgimento do romantismo, a atencao deslocou-se para 0 ter-ceiro tipo de inteligencia, para a verdadeira criatividade,embora a suposicao racionalista de que a inteligencia huma-

    na normal e a unica livre e eriadora, e situada alem dos limi-tes da explicaeao mecanica, nao fosse abandonada e desem-penhasse urn importante papel na psicologia do romantis-mo e mesmo em sua filosofia social.

    Conforme ja meneionei, a teoria racionalista da lingu!,-gem, que se revelaria extremamente rica em discernimento~ l'ealizasoes, desenvolveu-se em parte derivando do inte-resse pelo problema dos outros espiritos. Uma grande quan-tidade de esforco foi devotada a considerasao da capacid!Eedos anima is obedecerem a ordens faladas, exprimir seus esta-d;;S~iil"ocion:a-is;-comunicarem-se l . l D s C o r r i os--'oufros e mesmoaparentemente coop~;a;;Ii"p7lra-;:unafinalidade comum; tudoisto, afirmou-se, podia ser explicado em fundamentos meca-nicos, conforme essa nocao era entao entendida, isto e . pelofuncionamento de mecanismos fisioldgicos, em termos dosquais podia-se formular as propriedades dOB reflexos, docondicionamento, do reforeo, da assoeiacso, etc. Os animaisnuo.c,~,~!_a_Q",~~s~!,oyi4()s,,?~,QlZg~

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    nAo e signifieativamente diferente da de hoje, ernbora sejainferior em precisao de tecniea, raio de a~o e grau deeonfianca da informacao,A proposito, n a o se deveria pensar que os unlcos argu-mentos eartesianos em favor da hipotese do animal-maquinafossem aqueles derivados da aparente ineapacidade dos ani-mais manifestarem 0 aspecto eriador do uso da linguagem.

    Houve tambem muitos outros, por exemplo, 0 medo naturalda explosao populacional nos dominies do espirito, se cad amosquito tivesse uma alma. Ou, assim tambem, 0 argumentodo Cardeal Melchior de Polignac, afirmando que a hipOtesedo animal-maquina derivava da aceitacao da bondade deDeus, pois, conforme assinalou, pode-se ver quanto maishumana e a doutrina segundo a qual os animals nao sofremdor." Ou, ha ainda 0 argumento de Louis Racine, filho dodrarnaturgo, que ficou impressionado com a seguinte ideia :Se os animals tivessem almas e fossem capazes de senti-mento, por que razdo se mostram insensiveis a afronta ea injustica feitas a eles POl' Descartes? Nao se levantariam,antes, encolerizados contra 0 chefe e a seita que os degrada-ram desta maneira 7 Dir-se-ia, suponho, que Louis Racineera considerado pelos contemporaneos como a prova vivade que urn brilhante pai pode nao tel' um brilhante filho.Mas 0 fato e que a discussao da existencia de outros espi-rites, e, POI ' eontraste, a natureza. mecanica dos animais,retornava continuamente ao aspecto criador do uso da Iin-guagem, it . afirmac;ao de que - segundo foi formula do poruma outra f'igura menor do seculo XVII - Sa os animaisraciocinassem seriam capazes de verdadeira fala, com suainfinita variedade,

    E' importante compreender quais as propriedades dalinguagem que mais impressionavam Descartes e seus adep-tos, A discussao daquilo que tenho chamado 0 aspecto cria-dor do uso da Iinguagems gira em torno de tres importantesobservacoes, A prime ira e que 0 uso normal da linguagem einovador, no sentido de que muito daquilo que dizemos nocurso do uso normal da linguagem e inteiramente novo, naoe a repetieao de nada que tenhamos ouvido antes nem mes-mo semelhante quanto it . fonna - em qualquer sentido iitil

    dos termos esemelhantes e forma, - a sentencas ou dis-cursos que ouvimos no passado, Isto e urn truismo, mas umtruismo importante, sendo muitas vezes passado POI ' alto enao infreqUentemente negado no periodo comportamentistada lingtiistica a que antes me referi, quando era quase uni-versalmente proclamado que 0 conhecimento da linguagemque uma pessoa tinha e representavel como urn eonjuntoarmazenado de fonnas aprendidas pela constante repeti~ao epelo treinamento detalhado, sendo a inovac;ao no maximo umaquestao de eanalogia. No entanto, e seguramente urn fatoque 0 mimero de proposicoes na lingua nativa de uma pes-soa que esta imediatamente compreendera sem qualquer sen-timento de dificuldade ou estranheza e astronomico : e queo ruimero de formas subiacentes ao nosso uso normal da lin-guagem, correspondendo a proposicoes dotadas de sentido efacilmente compreensiveis em nossa l ingua, e muitas ordensde grandeza major do que 0 mimero de segundos que hanuma vida humana, E' neste sentido que 0 uso normal dalinguagem e inovador,

    Contudo, na concepcao cartesiana mesmo 0 comporta-mento animal e potencialmente infinito em suas variedades,no sentido especial em que se pode dizer, com evidente idea-lizaC;ao, que as indicacoes de urn velocimetro sao potencial-mente infinitas em variedade. Isto e , se 0 comportamentoanimal e control ado POl' estimulos externos ou estados inter-nos (incluindo estes ultimos os que foram estabelecidos porcondicionamento) , entao, como os estimulos variam numaamplitude indefinida, assim tambem varia 0 comportamentodo animal. Porem 0 uso normal da Iinguagem nao e somenteinovador e potencialmente infinito em extensao, mas e tam-bern livre do controle de estimulos perceptive is, quer exter-nos, quer internos. Por causa desta ausencia de controle pe-'los estimulos e que a linguagem pode servir como instru-mento do pensamento e da auto-expressao, como acontece naosomente com os individuos excepcionalmente dotados e talen-tosos, mas tambem, de fato, com qualquer ser humano normal.

    Ainda assim, as propriedades da eondieao de estar des-ligado e livre do controle des estimulos nao excedem por simesmas os limites da explicacso mecanica. Portanto, a dis-cussao cartesiana dos limites da explicacao meeanica levouem conta urna terceira propriedade do use normal da lingua- :stes ex.....p!OB fo~am tornAdos do eo:ee lenw ell tudo de Leonora Cohen Roeenfield.From B..ut-M...mi .... f< > M&.. .. JfA cllO. .. . ( N. .. "" Yor k: Oxf ord Unlv er.U'1 Fren. 19U).A. eita~iies BiD parifr_ au"" do original.24 25

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    gem. a. saber, sua coereneia e sua adequacao a situacao, 0que evidentemente e coisa muito diferente do controls POl"estimulos externos. Nao podemos dizer de mane ira clara edefinida em que eonsiste a adequacaos e a coerencias masnao ha diivida que estes. concertos sao dotados de sentido,Podemos distinguir 0 uso normal da linguagem dos desvariosde urn maniaco ou da salda de urn computador com urn ele-mento casual. .A honestidade obriga-nos a admitir que, tal como .Des-cartes ha tres seculos atras, estamos longe hoje em dia deentender exatamente aquilo que permits a urn ser humanofalar de modo inovador, livre do controle de estimulos etambem adequada e coerentements, Este e urn problema S e -rio, que 0 psieologo e 0 biologists tern de enfrentar em ulti-ma instancia, e nao pode ser eliminado invocando-ss 0 ha-bito, 0 eondicionamento ou a seler;iio naturals,A analise cartesiana do problema dos outros espiritos,em termos do aspecto criador do uso da linguagem e de in-dicaeoes semelhantes dos limites da explicaeao meeanica naofoi inteiramente satisfatdria para a opiniao conternporanea

    - 0 Dicionario de Bayle, POl' exemplo, cita a incapacidade dedar uma prova satisfatoria da existencia de outros espiri-tos como 0 elemento mais fraco da filosofia cartesiana _e ~ouve uma longa e desnorteante serie de discussoes e pole-micas com relacao aos problemas que Descartes tinha levanrtado. Olhando depois de ?varios seculos decorridos, podemosver que 0 debate era i~()l!cludente. As propriedades do pen-samen,to humano e da Iinguagem"humana acentuadas peloscartesianos eram bastante rea i s; entao, como agora, esta-v~m ~l~m dos limit~s. de qualquer especie conhaeida de explica-c;aof isica. Nem a flsica, nem a biologia, nem a psicologia dao-nos qualquer indica-;;ao sobre 0 modo de tratar esses assuntos.Tal como no caso de outros problemas de dificil trata-m~nto, e tentador experimentar urn outro enfoque, uma rna-

    nerra de encarar que mostre 0 problema como mal concebi,do, como resultado de uma confusio conceitual. Esta e umalinha de raciocinio que foi seguida na fHosofia eonternpora-nea, mas, pareee-me, sem sucesso. E claro que tis eartesia-nos compreendiam, como Gilbert Ryle e outros criticos con.temporaneos compreendem, a diferenea entre apresentar cri-terios para 0 comportamento inteligente, de urn Iado, e apre-26

    sentar uma explicacao da possibilidade desse comportamen-to, de outro lado; mas, ao eontrsrio de Ryle, estavam inte-ressados no ultimo problema tanto quanto no primeiro. En-quanto cientistas, nao estavam satisfeitos com a formulaeaodas provas experimentais que deveriam mostrar que 0 com-portamento de Dutro organismo e criador, no sentido espe-cial hA pouco esbocado ; estavam tambem perturbados, e comtMa razao, pelo fato de que a capacidade indicada por essasprovas e eriterlos de observ.a~ao transcendiam a capacidadedos corpos tal como os entendiam, assim como estao alemdo alcance da explieacao ffsiea, tal como a compreendemoshoje, Certamente, nada ha de ilegitimo na tentativa de iralem da elaboracao de provas de observacao e da coleta deindicacoes para a construcao de alguma explicaeao teoricadaquilo que e observado, e isto era exatamente 0 que estavaem jogo no enfoque cartesiano do problema do pensamento.Conforme La Forge e outros insistiram, e ~~~~sario )!'....~l.~!!!_< ! . ~ . q _ l ! J I ~ . ,q!1~.S.~,P9d~..~!:rcebe:r ou imagin~n (no senttdo 'We -nieo, classico deste termo) , se esperamos compreender a na-tUl'eza _go esprit de 1'homme, assim _como Newton fez -com exito - aoprocurar compreender a natureza dos movi-mentos planet~r"ios.-be~ outro lado, as propostas dos eartesia-nos nao tlnham'sUbstancia real; os fen6menos em questao naoeram explicados satisfatoriamente atribuindo-os a urn eprin-cipio ativo chamado pensamento, cujas propriedades naoeram expostas de nenhum modo coerente ou compreensivel.

    Parece-me que 0 modo de enearar mais promissor hojeem dia consiste em descrever os fen6menos da linguageme da atividade mental 0 mais exatamente possivel, procurarerial' urn aparelho teorico abstrato que explique tanto quan-to posslveJ'e"Stes-f(~iiQme-no:S~JeveTi;L .. . __lI_rl~(!i_piosde suaorganizas;ao e funcionamento, sem tentar, por enqiianto, re-fel'i r--i iS- estruti iras--eprocessos mentais postulados a quais-quer meeanismos fisiol6gicos ou interpretar a func;ao men-tal em termos de ecausas fisicas. S6 podemos deixar aber-ta para 0 futuro a questao de saber como estas estruturase proeessos abstratos sao realizados ou explicados em termoseoncretos, provavelmente em termos que nao estao dentro docampo dOBprocessos fisicos, tal como sao atualmente enten-didos, conclusao que, se for correta, nao deveria surpreen-del' a ninguem,

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    A filosofia racionalista da linguagem fundiu-se com va-rios outros desenvolvimentos independentes no seeulo XVII,conduzindo a primeira teoria gera1 da estruttira-UnguTstiea -realmente importante, isto e, 0 ponto de vista geral queveio a ser _.conhecido como a gramatiea filosOfica:. ou uni-versal. Infelizmente,--a---gra;matica-filos6ficii-l--multo--poucocorihecida hoje em dia. Ha poucos estudos tecnicos ou eru-ditos, e estes poueos ou sao apologetieos, ou sao depreciati-vos. As referencias a gramatiea filos6fica nos modernos tra-tados sobre a linguagem sao tao destorcidas que nao ternqualquer valor. Mesmo urn especialista de tao alta padraocomo Leonard Bloomfield faz urna exposicac da gramaticafilosOfica em sua . obr a principal, Language, que nA D temquase qualquer semelhanea com 0 original e atribui a estatradi~ao concepcoes diametralmente opostas aquelas que me-lhor a earaeterizam, Por exemplo, Bloomfield e muitos ou-tros descrevem a gramatica filos6fica como sen do baseadaem urn modelo latino, como prescritiva, nao rnostrando qual-quer interesse nos sons' da fala e propensa a confuaao dafaIa com a escrita. Todas estas acusaedes sao falsas e e im-portante dissipar esses mitos para tornar possivel uma ava-Jia

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    como os principios da mecsnica celeste nao poderiam tersido criados de conformidade com estas observaeoes critieas.A cultura contemporanea naD tern condicoes de fazeruma avaliaeao definitiva das realizacoes da gramatica filo-sofiea. Nao foram lancados os alicerces para esta avaliacao,a obra original e por si mesma quase desconhecida, e a maiorparte dela e : quase impossivel de obter. Por exemplo, nao

    consegui encontrar um so exemplar nos Estados Unidos daiiniea edicao critica da Gramcitica de Port-Royal, editada hamais de um seeulo ; e embora 0 original frances esteja ago-ra de novo a dispoaicao do leitor', a unica ediC;ao inglesadesta importante obra, ao que parece, s o pode ser achada noMuseu Britanieo. E' uma pena que esta obra tivesse sidotao inteirame:ate desprezada, pois 0 pouco que dela se conhe-ce desperta a curiosidade e e extrema mente esclarecedor.Nao cabe aqui tentar uma avaliacao preliminar destaObI'Sou mesmo esboear seus traces principals, tal como apa-recem agora, com base no conhecimento atual e muito ina-dequado. Contudo desejo mencionar ao menos alguns poueosdos seus temas permanentes. Parece que uma das inovacoes

    da Gramatiea de Port-Royal de 1660 - obra que iniciou a,tradicao da gramatiea f 'i losof'ica - foi 0 reconhecimento daimportancia da noeao da frase como unidade gramatical. Agramatica anterior tinha sido em grande parte uma gramii-tica de classes de palavras e de inf'lexoes. Na teo ria carte-siana de Port-Royal, uma frase corresponde a uma ideiacornplexa, e uma proposicao e subdividida em frases conse-cutivas, que sao a seguir subdivididas em frases e assimper diante, ate ser alcaneado 0 nivel da palavra. Deste modo,obtemos aquilo que poderia ser chamado a estrutura su-perf'icials da sentenca em questao. Para usar aquela que setornou urn exemplo padrao, a sentenca Deus invisivel eriouomundo visivel contem 0 sujeito Deus invisivels e -0 pre-dicado eriou 0 mundo visivels, este ultimo contem a ideiacomplexa 0 mundo visivels e 0 verbo CI'jOU, e assim POl'diante, Mas e interessante que, embora a GI''(lmatica de Port-Royal tenha sido aparentemente a primeira a repousar demodo inteiramente sistematico na analise da estrutura su-perficial, reconhecia tambem a insuficisncia desta analise,De acordo com a teoria de Port-Royal, a estrutura superfi-Men.ton, Engl and: Seol a) Pre "" Limi ted, 1967.

    cial correspoude apenas ao som, ao aspeeto fisico da lingua-gem; mas quando 0' sinal e 'produzido, com sua estruturasuperficial, tern lugar uma correspondente analise mental da-quilo que podemos chamar a estrutura profunda, uma es-trutura formal que se relaciona diretamente nao com 0 sommas com 0 significado. No exernplo dado ha pouco, Deusinvisivel criou 0 mundo visivel, a estrutura profunda con-siste em um sistema de tres proposicoes, que Deus' e invi-sivel, que ele criou 0 mundos, que 0 mundo e visivels.As proposicoes que se correlacionam para formal' a estru-tura profunda na~ sao, evidentemente, asseveradas quando asentenca e usada para fazer uma afirmacao ; se digo que urnhomem sabio e honesto nao estou asseverando que os ho-mens sao sabios ou honestos, embora na teoria de Port-Royalas proposicoes urn homem e . sabin e urn homem e ho-nesto entrem na estrutura profunda. Ou melhor, estas pro-posicoes entram nas ideias complexas presentes no pensamen-to, embora raramente articuladas, no sinal, quando a pro-posicao e proferida, .

    A estrutura profunda relaciona-se com a estrutura su-perf'icial por certas operacoes mentais, - na moderna ter-minologia, por transformacoes gramaticais. Toda lingua po-de ser considerada como uma particular relaC;ao entre same significado. Seguindo a teoria de Port-Royal ate suas con-clusoes Iogicas, a gramatica de uma lingua deve center urnsistema de regras que caracteriza as estruturas profundae superficial e a relar,;ao de transformacao entre elas, e -se dew center 0 aspecto criador do uso da linguagem - quefaz isso em urn domlnio infinito de estruturas profundas esuperf'iclais conjugadas, Para usar a terminologia que Wil-helm von Humboldt empregou na. decada de 1830, a pessoaque fala faZUii1 uso infinito de meiosfinitos. Sua- grama-tiea, portanto, deve c()ntel'ulli-sisiema-fillito de regras que&'era um numero infinite de estruturas profundas e super-ficiais, adequadamente relacionadas, Deve tambem conter re-gras que relacionam estas estruturas abstratas com certasrepresentacoes de som e significado, representacdes que, pre-sumivelmente, sao constituidas de elementos psrtencentes res-pectivamente a fQI1etic.a.._universal e a semantica universal.Na essencia, este eo'. conceito de estrutura gramatical queesta sendo desenvolvido e elaborado hoje em' dia. Suas ral-

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    zes encontram-se claramente na tradi~io elassiea que estouagora discutindo, e os conceitos ' b asicos foram exploradoscom algum sucesso nesse periodo.A te~ria da estrutura profunda e superficial pareceba~tante simples, ao menos num esbOc;o tosco. No entanto,fOI be~ diferente de tudo quanto a precedeu e, 0 que e ain-da mars surpreendente, desapareceu quase sem deixar tra-cos it medida que a linguistiea moderna se desenvolvia nofinal d~ seculo passado. Desejo dizer apenas uma palavra

    a re~I?elto da relacao da teoria da estrutura profunda e su-perficial com 0 pensamento anterior e com 0 posterior noque se refere it linguagem. Existe uma semelhanca, que julgo altamente desnortea-dora. entre a teoria da estrutura profunda e superficial eu~a: tra~ic;a? muito .mais antiga, Os profissionais da gra-matiea filosofica foram muito cautelosos em acentuar estasemelhanca na Sua detalhada descri~ao da teo ria e nao he-sl~ram em exprimir 0 quanto deviam it grarnatica elassica,assim como .a algumas das principals figuras da grarnatl-ca renascentista, por exemplo, 0 erudite espanhol Sanctius.:tste au~or e~ I?arti~u)ar criou uma teo ria da elipse que teve

    grande. influsncia sobre a gramatica filos6fica. Conforme jaob~ervel, a Agramatiea filos6fica quase nao e compreendidahoje, Mas estes antecessores, como Sanctius, cairam total-mente no esquecimento. Ainda mais, como no easo de obrasdesse tipo, exists 0 problema de determinar n a o somenta 0que ele disse, mas tambem, coisa mais importante 0 queHe queria dizer. 'Nao hit d~vida, que, 80 desenvolver seu conceito da elip-se ~omo propnedade fundamental da linguagem, Sanctius deumuitos exemplos l ingiiist icos que superficialmente s a o estrei-tamente paralelos aos usados para desenvolver a teoria dae~t:utura profunda e superficial, tanto na gramatica filo-sof'ica quanto em suas variantes modernas muito mais ex-

    plici~8. Pareee, contudo, que 0 conceito de elipse e usado parSanctlUs. meramente co~o meio para a interpreta-;ii.o de tex-tos. ASSlm, para determinar 0 verdadeiro significado de umapassagem literaria real, de aedrdo com Sanctius, tem-se mui-tas vezes de constdera-la como uma variante eliptiea de umaparAfrase ma!s compIicada. Mas a teoria de Pozt:~C)yal eseu desenvolvimento ulterior, particularmente nas maos' do

    enciclopedista Du Marsais, deu uma interpretacao da elipsebastante diferente. A clara inteneao da gramatica filosoficaera criar uma teoria psicologica, nao uma tecnica de inter-pretacao de textos. A teo ria sustenta que a estrutura pro-funda subjacente, com sua ofganiza~ao abstrata de formaslinguisticas, esta presente no pensamento, enquanto 0 si-nal, com sua estrutura superficial, e produzido e pereebidopelos orgaos corporeos, E as operaeces de transformacao querelacionam a estrutura profunda com a superficial sao ope-raC;oes menta is reais, executadas pelo pensamento quandouma proposicao e enunciada ou compreendida, A distin~ao efundamental. De aeordo com a ultima interpretaeao, segue-seque deve haver. representado no pensamento, urn sistemafixo de principios generativos que earaeterizam e associamas estruturas profundas e superficiais de alguma maneiradefinida, em outras palavras, uma gramatica que e usada dealguma maneira quando 0 discurso e produzido ou interpre-tado. Esta gramatica representa a capacidade linguistica sub-jacente, a que anteriormente me referL 0 problema de de-terminar 0 carater destas gramaticas e dos principios que asgovernam e urn tipico problema de eiencia, talvez muito di-ficil, mas em principio admitindo respostas definidas, cer-tas ou erradas, conforme correspondam, ou nao, it realidademental. Mas a teoria da elipse como tecnica de interpreta-t;ao de textos nao e obrigada a consistir em um conjunto deprincipios representado de algum modo no pensamento co-mo aspecto da capacidade e da inteligencia humanas normais.Ao contrario, pode ser parcial mente ad hoc e irnplicar rnui-t08 fatores culturais e pessoais importantes para a obra lite-raria em analise.

    A teoria de Port-Royal relativa it estrutura profunda Ie superficial pertenee it psicologia enquanto tentativa de ela- rborar 0 segundo tipo de' inteligencia de Huarte, como explo- i,rac;ao das propriedades da inteligencia normal. 0 conceitode elipse em Sanctius, se e que 0 entendo corretamente, euma das muitas tecnicas que podem ser aplicadas quando aseondicoes as justificam e nao tendo uma representacao men-tal necessaria como aspecto de uma inteligencta normal. Em-bora os exemplos lingtiisticos usados sejam freqlientementesemelhantes, 0 contexte em que sao introduzidos e a estrutu-ra em que se ajustam sao fundamentalmente diferentes iem

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    particular, estao separados pela revolucao cartesiana. Propo-nho isto com alguma hesitacao, par causa da obscuridade dostextos relevantes e de seu fundamento intelectual, mas estainterpretacao parece-me correta.

    A relacao da teoria de Port-Royal com a moderna lin-guistlea estrutural e descritiva e um tanto mais clara. Estaultima restringe-se a analise do que chamei estrutura super-ficial, as propriedades forma is explicitas no sinal e -as fra-ses e unidades que podem ser determinadas a partir do si-naI, mediante tecnicas de segmentacao e c1assifica~iio.Estarestricao e perfeitamente eonsciente de si mesma e foi eon-siderada - aeredito que muito erroneamente - como umgrande progresso. 0 grande lingiiista suico Ferdinand deSaussure, que no fim do seculo passado colocou os alicereesda moderna lingtiistica estrutural, exprimiu a opiniao de queos iinicos metodos corretos de analise Iingufstica eram a seg-mentacao e a classificacao. Aplicando estes metod os, 0 lin-giiista determina os arranjos a que se reduzem as unidadesassim analisadas, sendo esses arranjos ou sintagmaticos -isto e , arranjos de sucessao literal na corrente da fala -ou paradigmaticos - isto e, relacoes entre unidades queocupam a mesma posicao na corrente da fala. Sustentou que,quando toda esta analise esta completa, a estrutura da lin-guagern e necessaria e completamente revelada, e a cienciada linguistica tera realizado inteiramente sua tarefa. Evi-dentemente, esta analise taxinomica nao deixa Iugar para asestruturas profundas no sentido da gramatica filos6fica. Porexemplo, 0 sistema de tres proposicoes subjacentes it sen-tenca : Deus invisivel eriou 0 mundo visivel, nao pode serderivado dessa sentenca por segmentacao e elassif'icacao dasunidades segmentadas, nem as operacoes de transformaeaoque relacionam a estrutura profunda com a superficial, po-dem, nest easo, ser expressas em termos de estruturas pa-radigmaticas e sintagmaticas, A moderna lingtiistica estrutu-ral tern si.do fiel a estas limitacoes, consideradas limitacoesnecessarias.

    De fato, Saussure em certo sentido foi mesrno alem,afastando-se da tradicao da gramatiea filosofica, Algumasvezes expressou a opiniao de que os processos de formacaode sentencas nao pertencem de todo ao sistema da lingua-gem, de que 0 sistema da linguagem restringe-se as unida-

    des Iingtllsticas como sons e palavras, e talvez algumas pou-cas frases fixas e urn pequeno mimero de arranjos muitogerais. Os mecanismos da formacao das sentencas sao, deoutro modo, livres de qualquer coaeao imposta pela estru-tura linguistica enquanto tal. Assim, nos proprius termosusados por ele, a formacao da sentenca estritamente nao euma questao de langue, mas e atribuida antes ao que cha-mou parole, sendo colocada assim fora do campo da linguis-tica propriamente dim; e urn processo de criacao livre, quenao sofre coacao pelas regras linguisticas, exceto na medi-da em que essas regras governam as farmas das palavrase os arranj os dos sons. Nesta concepcao, a sintaxe e urnassunto trivial. E de fato ha muito pouco trabalho sobresintaxe durante todo 0 periodo da linguistica estrutural.

    Ao tomar essa posicao, Saussure fazia-se eeo de urnaimportante critica da teoria linguistica humboldtiana feitapelo eminente lingiiista americano William Dwight Whitney.que evidentemente exerceu grande influencia sobre Saus~ure.De acordo com Whitney, a teoria linguistica humboldtiana,que em muitos aspectos estendeu as pontos de vista carte-sianos que venho diseutindo, era fundamental mente errada.Mais exatamente, uma lingua e simplesmente composta deurn vasto mimero de itens cada urn dos quais tem seu pro-prio tempo, ocasiao e efeito. Sustentava que a linguagemem sentido concreto... e... a soma de palavras e frases pe-las quais qualquer homern exprime seu pensamento; a ta-refa do lingiiista entao e fazer a lista destas formas Iinguis-ticas e estudar a hist6ria individual de cada uma delas. Emcontraste com a gramatica filos6fica, Whitney afirmava quenao ha nada universal relativamente a forma da linguageme que nao se pode aprender nada a respeito das proprieda-des gerais da inteligencia humana partindo do estudo doaglomerado arbitrario de formas que constitui a linguagemhumana. Con forme disse: A diversidade infinita da falahumana basta sozinha para constituir uma suficiente barrel-ra a af'irmacao de que a compreensao dos poderes da almaimplica a explicacao da linguagem. Igualmente, Delbruck,na obra padrao sobre a sintaxe comparada indo-europeta,denunciou a gramatica tradieional por tel' estabelecido tiposideais de sentencas subjacentes aos sinais ohservados, refe-rindo-se a Sanctius como 0 maior dogmatico neste dominic.

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    Com a expressao de sentimentos deste tipo, entramos naidade moderna do estudo da linguagem. 0 dobre de finadosda gramatica filosOfiea soou com as notaveis sucessos dosestudos comparados indo-europeus, que seguramente classifi-eam-se entre as imponentes realiza~oes da ciencia do seculoXIX. A concepcao da lingua gem, empobrecida e inteiramenteinadequada, expressa par Whitney, Saussure e numerososoutros revelou-se inteiramente conveniente para a etapa atualda pesquisa linguistica, Como resultado, esta concepeao foiconsiderada justificada, conviccao natural mas completamen-te enganada. A lingufstiea estrutural-descritiva moderna de-senvolveu-se dentro do mesmo arcabouco intelectual, e tam-bern fez progresses substanciais, aos quais volta rei direta-mente. Em contraste, a gramatica filos6fica nao apresentouconceitos convenientes para a nova gramatica comparada oupara 0 estudo de linguas exoticas, desconhecidas pelo inves-tigador, e estava, em certo sentido, esgotada. Tinha atingi-.do os limites do que podia ser realizado dentro da moldurade ideias e tecnicas entao existentes. Nao havia uma claracompreensao, ha urn seculo atras, do modo como se deveriaproceder para construir gramaticas generativas, que efa-zem uso infinito de meios finites e expressam a forma-organica da linguagem humana, aquela maravilhosa in-ven~ao (segundo as palavras da Gramatica de Port-Royal)-egracas a qual construimos, partin do de vinte e cinco ou trin-ta sons, uma infinidade de expressoes que, nao tendo emai mesmas qualquer semelhanea com 0 que se pass a em nos-so pensamento,ainda assim nos capacita a fazer os outrosconhecerem 0 segredo daquilo que eoncebemos e de todas asvarias atividades menta is que executamoss.

    Assim, 0 estudo da linguagem ehegou a uma situac;aoem que havia de urn lade urn conjunto de conceitos simplesque ofereciam base para alguns surpreendentes sucessos e,de outro lade, algumas ideias profundas mas urn tanto va-gas, que nao pareciam conduzir a qualquer nova pesquisaprodutiva. 0 resultado era inevitavel e de modo algurn deviaser deplorado. Criou-se a profissionalizacao deste campo deestudos, 0 deslocamento do interesse dos problemas classicosque tinham interesse geral paraintelectuais como Arnaulde Humboldt, por exernplo, para urn novo dominio, em gran-de parte definido pelas teenieas que essa mesma profissao

    tinha forjado na 801uo;;aode certos problemas. Esta evolu-~io e natural e muito adequada, mas nao deixa de ter peri-gos. Sem desejar exaltar 0 culto do amadorismo cavalhei-re sea , deve-se contudo reconhecer que as questoes classicast e rn uma vivacidade e significacao que faltam numa area depesquisa determinada pela aplicabilidade de certos instrumen-tos e metodos, mais do que pelos problemas de interesseintrinseco em si mesmos.

    A lio;;ao nao consiste em abandonar os instrumentosuteis; antes consiste, em primeiro lugar, em que se deveriamanter uma ~uficiente perspectiva para perceber a chegadadaquele dia inevitavel no qual a pesquisa que pode ser rea-lizada com esses instrumentos nao tern mais importancia ;e, em segundo lugar, que se deveria valorizar ideias e intui-c;oes que sao relevantes, embora talvez prematuras e vagase nao produtoras de pesquisa em uma etapa particular datecniea e do entendimento. Tendo a vantagem da visao re-trospectiva, penso que podemos agora ver claramente queo desapreco e 0 abandono de uma rica tradio;;ao mostrou, como tempo, ser multo prejudicial ao estudo da linguagem. Alemdisso, este desapreco e abandono seguramente naa eramne-cessarios, Talvez tivesse sido psicologicamente dificil, masnao ha razao em principio para que a exploracao bern suee-dida da abordagem estruturalista no estudo hist6rico e des-critivo naD pudesse ter sido associada ao claro reconheci-mento de suas Iimttacoes essenciais e de sua inadequacaofinal, em eomparacao com a tradicao que ela temporaria-mente, e muito justificavelmente, desJocou. Aqui, julgo, en-contra-se uma 1io;;aoque pode ser valiosa para 0 futuro estu-do da linguagem e do pensamento.

    Para concluir, penso que houve duas tradicoes da pesqui-sa realmente produtivas, as quais t e rn indiscutivel importan-cia para quem se interesse pelo estudo da linguagem hojeem dia, Uma e a tradi~iio da gramatica filosofica, que flo-resceu a partir do seculo XVII atraves do romantismo ; asegunda e a tradicao a que me tenho referido, de maneiraurn tanto incorreta, como estruturalista, que dominou apesquisa durante 0 seculo passado, ao menos ate 0 comeeode 1950. Demorei-me sobre as realizaeoes da primeira parmotivo de serem pouco conhecidas, assim como por sua im-portancia atual. A lingiiistica estrutural ampliou enormemen-te 0 campo da informacao de que dispomos e estendeu imen-

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    suravelmente 0 grau de confianea desses dados. Mostrou queexistem relacoes estruturaisna linguagem que podem serestudadas abstratamente. Elevou a preeisao do discurso arespeito da linguagem a niveis inteiramente novos. Mas pen-so que sua maior contribuicao pode ter sido aquela pela qual.paradoxalmente, foi multo severamente criticada. Refiro-mea cuidadosa e seria tentativa de construir procedimentosde deseoberta, aquelas tecnieas de segmentacao e classifi-ca~o a que Saussure se referia. Esta tentativa foi urn fra-casso; pen so que isso e agora geralmente compreendido, Foiurn fraeasso, porque essas tecnicas limitam-se, no melhor doscasas, aos fen6menos da estrutura de superficie, e nao po-dem por conseguinte revelar os mecanismos subjacentes aoaspecto criador do uso da linguagem e a expressao do con-tendo semantico. Mas 0 que permanece tendo importanciafundamental e que esta tentativa foi dirigida a questao ba-sica no estudo da linguagem, que pela primeira vez foi for-mulada de maneira clara e inteligivel. 0 problema levantadoera 0 de especificar os mecanismos que operam sobre osdados dos sentidos e produzem 0 conhecimento da linguagem,a competeneia linguiatica, E' 6bvio que estes mecanismosexistem. As eriancas aprendem urna primeira lingua; a lin-gua que aprendem e, no sentido tradicional, uma linguainstitucionalizada, nao urn sistema especificado ina to. A res-posta que foi proposta na metodologia da linguistica estru-tural revelou-se incorreta, mas isto tern pouca importanciacomparado ao fato de que 0 problema recebeu agora umaclara formulaeao.Whitehead descreveu uma vez a mentalidade da cienciamoderna como tendo sido forjada pela uniao do interesseapaixonado pel os fatos detalhados com igual devocao a ge-neralizacao abstrata. E' aproximadamente exato descrever alinguistics moderna como apaixonadamente interessada nofato detalhado, e a gramatica filosdfica como igualmentedevotada a generalizacao abstrata. Parece-me que chegou 0tempo de unir essas duas grandes correntes e criar umasintese que sera inferida de suas respectivas realizacoes.Nas duas conferencias seguintes procurarei ilustrar 0 modocomo a tradieao da gramatica filos6fica pode ser reconstitui-da e transformada em novos e desafiadores problemas, ecomo se pode, finalrnente, retornar de maneira produtiva asquestoes e, temas essenciais que deram origem a esta tradicao,

    CONTRIBUIC6ES LINGV1STICASPARA 0 ESTUDO'D O PENSAMENTO2. Presente *

    UMA DAS DIFICULDADES das cien-eias psicologicas consiste na familiaridade dos fenomenos deque tratam. Exige-se urn certo esforco inteleetual para vercomo tais fen6menos propdem serios problemas ou requeremcomplexas teorias explicativas. Tern-se a inclinacao de supd-los necessarios ou de algum modo enaturaiss.

    Os efeitos desta familiaridade dOBfenomenos foram fre-qiientemente discutidos. Wolfgang Kohler, por exemplo, lem-brou que os psicologos nao abrem territories inteiramentenovos, a maneira das ciencias naturais, simplesmente por-que o hornem conhecia praticamente todos os territ6rios davida mental muito tempo antes da fundacao da psieologiacientifica , .. porque ja no inicio de seu trabalho nao haviafatos mentais inteiramente desconhecidos que pudesse terdescoberto.1 As descobertas mais elementares da fisica c l a s -

    NOTA DO TRADUTOR, Dada a impossibilidade de repr-oduzir, mediante eQui-valente. em portugu~., a qUJIse tntalldade dos pr()blemaa e exemploa gra!"aticais di ....eutido. pelo Autnr neste segunda C()nferincia, optamos pela IlJanuten~~ da. Pro-posiCOes or iginaiB ingl.es8s. SeguimoB, neste. e ase, 0 precedente da tradU'!:BO fra.nce1!Iade outro Iivro de Noam Ohcenskv, La Lingui8tiq>le CaTU~.""e (Edition. du Stmil,Part s}, 0 " t ra du to t- e s, Neleya Delanoe e Dan Sperber , proeuram traslad&I' para efrances algumB. pr()POSi!1OeB exemplificatlvaB expostaa pelo Aut or, rna. e.ta recursclimita.do nao nos pareee tee aceeeeentado maior eaclareeimento 8iJ texte, Prefer-imos,por ta nt o. conse rva r a s f ormEl s o rigina iu .W. Kilhler, D1I?I

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    sica eausam urn cerro choque; 0 homem nao tern a . intui~iodaa 6rbitas elipticas ou da constante de gravitaeao, Mas osfatos mentais, mesmo os de natureza muito mais profun-da, nao podem ser edeseobertos pelo psicologo, porque s a oobjeto de conhecimento intuitivo, e, uma vez mostrados,sio evidentes.Hi tambem urn efeito mais sutil, Os fenomenos podemser tao familia res que realmente nao os vemos de todo, as-sunto que foi muito discutido por te6ricos da literatura e

    fi16sofos. Por exemplo, Viktor Shklovskij no eomeeo da de-eada de .1920 desenvolveu a ideia de que a fun~io da artepoetiea e tcrnar estranhos 0 objeto descrito. Quem vivena beira da praia acostuma.-se tanto ao murrmirio das on-das que nunea as ouve. E a prova disso e que dificilmenteouvimos as palavras que proferimos... Olhamos uns paraos outros, mas nem por isso vemo-nos uns aos Out1'08. Nossapercep!;8o do mundo desfez-se; 0 que ficou e 0 simples reco-nheeimento. Assim, a finalidade do artista e transferir 0que esta retratado para a cesfera da nova percep~io; co-mo exemplo, Shklovskij eita uma hist6ria de Toistoi na qualos costumes e as institui~s socials aparecem estranhossgra~s ao artificio de aprisenta-Ios do ponto de .vista deurn narrador que aconteee ser urn cavalo. A observacao de que olhamos uns para os outros, masnem por isso vemo-nos uns aos outross atingiu talvez elapropria 0 estado de epalavras que proferimos mas eertamen-te nao ouvimoss. Mas a familiaridade, tambem neste caso,nA o deveria obscureeer a importancia desta eompreensao,

    Wittgenstein faz uma observa~ semelhante, indieandoque eos aspectos das eoisas, mais importantes para nos, saoocultos por causa de sua simplicidade e familiaridade (so-moo ineapazes de pereeber algoma eoisa porque esta aeha-sesempre diante de nossos olhosj s." Passaa efornecer ...observacoes sobre a hist6ria natural dos seres humanos : naoestamos porem eontribuindo com euriosidades, mas comobeervaeoes que ninguem pOs em diivida e que deixaram deser notadas porque estiio sempre diante de nossos olhos."

    ve:j...... V. Ehrlich. RM..riGa FormaIiIIm. 2- ed. r..... (Nova YOJ'k, lIuma"ltlee,1986). pp. 150-161.Ludwlll WlttgeDsteln. PlIiloBopkiell.l In"uUgetiom (Nova YOJ'k, Oxfo.... Unl.vel'llt PI'e8II. 1968). Sec~ 129."Idem. Beeci o 415.

    Menos notado e 0 fato de perdermos de vista a neces-sidade de explicacao quando os fenomenos sao demasiadohabituais e 6bvios~. Temos a tendencia com demasiadafacilidade a admitir que as explicacoes devem ser transpa-rentes e proximas da superficie, 0 maior defei to da filosofiaelassica do pensamento, tanto racionalista quanta empirista,parece-me ser a suposic;ao nao discutida de que as proprie-dades e a conteudo do pensamento sao acessiveis a intros-peccao : e surpreendente ver quao raramente esta suposiC;3.ofoi posta em diivida, no que se refere a organteacao e fun-c;oes das facuJdades intelectuais,' mesmo com a revolucaofreudiana. Assim sendo, os amplos estudos de linguagemrealizados sob a influsncia do racionalismo cartesiano so-_freram da falta de apreciaeao quer do carater abstrato des-sas estruturas, que estao presentes ao espirito quandouma expressao- oral e produzida au sntendida, quer da exten-sao e cornplexidade da cadeia de operacoes que relacionamas estruturas mentais que expressam 0 conteudo semanticodo enunciado oral com a realizacao fisica.

    Urn defei to semelhante prejudica 0 estudo da linguageme do pensamento no periodo moderno. Parece-me que a fra-queza essencial do enfoque estruturalista e comportamentistadestes assuntos e a fe na superficialidade das explicaeoes, acrenca em que 0 pensamento deve ser mais simples em suaestrutura do que qualquer orgao fisico conhecido e que assuposicdes mais primitivas devem ser adequadas para expli-car qualquer fenomeno que possa ser observado. Assim,admite-se, sem raciocinio ou prova (ou e apresentado comoverdadeiro por definicao) que uma lingua e uma estrutu-ra de habitos, au uma rede de conexoes associativas, ouque 0 conhecimento da lingua e simplesmente uma questaode know-how, uma habilidade exprimivel como sistema dedisposicoes a dar respostas. Assim sen do, 0 conhecimento dalingua deve desenvolver-se lentamente pela repeticao e trei-namento, e sua aparente complexidade resulta mais da pro-Iiferacao de elementos muito simples do que de principiosprofundos de organizaeao mental, que podem ser in aces si-veis a introspeeeao, como as mecanismos da digestao ou domovimento coordenado. Embora nada haja inerentemente ir-racional na tentativa de expliear 0 conhecimento e 0 usa dalinguagem nestes termos, ela tambem nao tem particular

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    plausibilidade au justificacao a priori. Nao ha raza.o parareagir com mal-estar ou descrenca se 0 estudo do conheci-mento da linguagem e do uso deste conhecimento conduzi-rem a uma direeao inteiramente diferente.

    Pense que, para realizar progressos no estudo da lin-guagern e das faculdades cognoscitivas humanas em geral,e necessaria, em primeiro lugar, estabelecer a . distancia psi-quica dos datos menta IS, a que Kohler se referia, e entaoexplorar as possibilidades de criar teorias explicativas, sejao que for que proponham, a respeito da complexidade e abs-tratividade dos mecanismos subjacentes, Temos de reconhe-cer que mesmo os fenomenos mais f'amiliares exigem expli-ca~ao e que nao temos aeesso privilegiado aos mecanismossubjacentes, assim como nao temos na fisiologia ou na ffsica.S6 as hipoteses mais preliminares e conjeturais podem serfeitas com referencia a natureza da linguagem, seu uso eaquisicao, Como pessoas que fa1am seu idioma nativo, temosuma vasta quantidade de dados que nos sao acessiveis, Jus-tamente por esta razao e f'acil cair na armadilha de acredi-tar que nada ha para ser explicado, que, quaisquer que se-jam os principios organizadores e mecanismos subjacentesexistentes, estes devem ser dados, como os dados (data)sao dados (given). Nada poderia estar mais longe da ver-dade; uma tentativa de caracterizar precisamente 0 siste-ma de regras que dominamos e que nos perrnite compreen-der novas sentencas e produzir uma nova sentenca em umaocasiao adequada expulsara rapidamente qualquer dogrnatis-mo neste assunto. A procura de teorias explicativas deve co-mecar com a tentativa de determinar estes sistemas de ra-gras e revelar os principios que os governam,

    A pessoa que adquiriu conhecimento de uma lingua inte-riorizou urn sistema de regras que relaciona 0 som a 0 signi-ficado de urn modo particular. 0 lingtiista ao construir agramatica de uma lingua esta efetivamente propondo umahipotese com relacao a esse sistema interiorizado. A hipotesedo linguists, se for apresentada com suficiente explicitaeaoe precisao, terii certas consequencias empiricas referentes aforma das expressoes orais e suas interpretacoes pelo locutornativo, Evidentemente, 0 conhecimento da lingua - 0 sis-tema interiorizado de regras ~ e apenas urn dos muitosf'atores que determinam modo como uma expressao oral

    sera usada ou entendida em uma situaeao particular. 0 lin-gUista que se esforca por determinar 0 que constitui 0 co-nhecimento de uma lingua - construir uma gramatica cor-reta - esta estudando urn fator fundamental implicado nautiliza~fr da linguagem (perfonnance), mas nao 0 unico,Esta idealizaeao deve ser tida em mente quando se considerao problema da confirmaeao das gramaticas, tendo por baseos dados empiricos. Nao ha razao para que nao se deva tam-bern estudar a interaciio de muitos fatores envolvidos nosatos menta is complexes e subjacentes a utiliza~ao real, maseste estudo nao tern probabilidade de ir muito longe a naoser que os fatores separados sejam por si mesmos muitobern compreendidos,

    Em urn born senti do, a gramatica proposta por urn lin-guista e uma teoria explicativa. Sugere uma explicacao dofato que (sob a idealizacao meneionada) 0 locutor da lin-gua em questao percebera, interpretara, formam ou usarauma expressao oral de certos modos e nao de outros, Pode-se tambem procurar teorias explicativas de natureza maisprofunda. 0 locutor nativo adquiriu uma gramatica combase em indicacoes muito restritas e degeneradas; a gra-matiea tern conseqiiencias empiricas que se estendem muitoalem dos dados. Em urn nivel, os fenfnnenos de que a gra-matica trata sao explicados pelas regras da propria grama-tiea e pela interacao dessas regras, Em urn nivel mais pro-fundo estes mesmos fenfimenos sao explicados pelos prin-eipios que determinam a seleeao da gramatiea com base nosdados restritos e degenerados que se aeham ao alcanee dapessoa que adquiriu conhecimento da lingua, que construiupara si esta particular grarnatica. Os prmeipios que deter-minam a forma da gramatica e selecionam uma gramaticade forma adequada, com base em certos dados, constituemurn assunto que pode, seguindo 0uso tradicional, ser denomi-. nado gramatica universal. 0 estudo da gramatica univer-sal, assim entendido, e 0 estudo da natureza das faculdadesintelectuais humanas. Procura formular as condicoes neces-sarias e suficientes que urn sistema deve satisfazer para sequalif'icar como uma lingua humana potencial, condicoes quenao sao acidentalmente verdadeiras com rela

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    que determina aquila que conta como experrencia lingtiisticae que conhecimento linguistieo surge dessa experiencia. Agramatiea universal, portanto, constitui uma teoria explicati-va de especie multo mais profunda do que a gramatica par-ticular, embora a gramatica particular de uma lingua possatambem ser considerada como uma teoria explicativa.

    Na pratica, 0 linguista trata sempre do estudo tanto dagramatica universal quanta da particular. Quando constroiuma gramatiea descritiva, particular de uma maneira e na~de o~tra, tendo por base as dados de que dispoe, e guiado,conscientemsnts ou nao, por certas suposieoes relativas aforma da gramatica, e estas suposieoes pertencem a teoriada, gramatica universal, Inversamente, sua forrnulacao deprmcipios da gramatica universal deve ser justificada peloestu?o de suas c?nseqtieneias quando aplicada a gramaticasp~rtIculares. Assirn, em var'ios niveis 0 lingtiista esta im-phcado na construcao de teorias explicativas e em cadanivel existe uma clara interpretaeao psieologica de sua obrateorica e descritiva, No nivel da gramatiea particular, tentacaraeterizar 0 conhecimento de uma lingua, urn certo siste-ma cognoscitivo que foi desenvolvido - inconscientementee , claro.- pelo locutor-ouvinte norma1. No nivel da grama~tIea. un~v:rs~l, tenta estabelecer certas propriedades geraisd~ inteligencia humana. A lingulstica, assim caracterizada, esfmnlesmente 0 subeampo da psicologia que trata destes as-pectos do pensamento. )

    Procurarei dar alguma indieacao do tipo de trabalhoa~ora em andamento, que visa, de urn lado, a determinar osSIstemas de regras que constituern 0 conhecimento de urnalingua e, de outro lado, a revelar os principios que governamestes sistemas. Evidentemente, quaisquer conclus6es que pos-sam ser alcancadas hoje em dia com respeito it gramaticaparticular ou universal devem ser muito conjeturais e res-tritas em extens.ao. E num breve ensaio como este, somenteos contornos mars toscos podem ser indicados. Para dar umaamostra daquilo que esta sendo feito hoje, concentrar-me-eiem problemas que sao correntes pelo fato de poderern ser

    formulados com alguma elareza e estudados, ernbora aindaresistam a solucao,

    Conforme indiquei na primeira confereneia, creio que 0quadro de referencia mais adequado para 0 estudo dos pro-blemas da linguagem e do pensamento e 0 sistema de ideiascriado como parte da psicologia racionalista dos seculos XVIIe XVIII, elaborado em importantes aspectos pelos romanticose depois em grande parte esquecidos, quando a atencao sedeslocou para outros assuntos. De acordo com esta concepcaotradicional, urn sistema de proposieoes que exprimem 0 sig-nificado de uma sentence e produzido no pensamento quan-do a sentenca e realizada como sinal ffsico, sendo os doisrelacionados por certas operacoes fonnais que, na termino-logia corrente, podemos chamar transformat;oes gramaticais,Continuando com a terminologia corrente, podemos assim dis-tinguir a estrutura de super/ide da sentenca, a organizacaoem categorias e frases diretamente associadas ao sinal fisico,da estrutura projunda. subjacente, tambem urn sistema de ca-tegorias e frases, ma s de earater mais abstrato. Assim, aestrutura superficial da sentenca a wise man is honestpode analisa-la em sujeito, a wise man e predicado ishonest. A estrutura profunda, contudo, sera urn tanto di-ferente. Em particular, extraira da ideia complexa que cons-titui 0 sujeito da estrutura superficial uma proposicao subja-cente, com sujeito man e 0 predicado be wise. De fato,a estrutura profunda, na concepeao tradicional, e urn siste-ma de duas proposicoes, nenhuma das quais e afirmada, masque se inter-relacionarn de tal maneira que exprimem 0 sig-nificado da sentenea 8 wise man is honest. Podemos re-presentar .a estrutura profunda neste exemplo pela formula1, e a estrutura superficial pela formula 2, onde os colchetesconjugados sao rotulados para rnostrar a categoria de fraseque delimitam, (Muitos detalhes sao omitidos).1

    Par a deet ot ea. e . . . . . d~tere!'~a em profundidade de e:

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    l' 3. B. Atribuir 0 indicador wh- a NP mais profunda-mente engastada, man.b. Substituir a NP assim marcada por who.c. Riscar who is.d. Inverter man e wise.

    Aplicando apenas as operacoes a e b derivamos a estruturasubjacente a sentenca a man who is wise is honest, a quale urna realizacao possivel da estrutura subjacente (1). Se,ademais, aplicamos a operacao C (obtendo a man '.:ise ishonest ), devemos, em Ingles, aplicar tambem a operacao sub-sidiaria d, obtendo a estrutura superficial (2), que pode en-tao ser foneticamente interpretada.

    Se esta abordagem e correta em geral, uma pessoa queconhece uma lingua especffica tern 0 controle de uma grama-tica que gera (isto e, caracteriza) 0 conjunto infinito de es-truturas profundas potenciais, as transporta para estruturassuperficiais associadas e determina as inte~preta~oes sem~n-tieas e f'oneticas desses objetos abstratos. Partindo da in-formacao agora disponivel, parece exato propor que a estru-tura superficial determina completamente a interpretaeao fo-netica e que a estrutura profundaexprime aquelas funcoesgrarnaticais que desempenham urn papel na determinacao dainterpretaeao semantica, embora certos aspectos da estrutu-ra superficial possam tambem participar na deterrninaeaodo significado da sentenca, por meios que nao discutirei aqui.Uma gramatica desta especie definira, portanto, uma certaeorrelacao infinita entre sam e significado. Constitui urnprimeiro passe no sentido de explicar como uma pessoa po-de en tender uma sentenca arbitraria de sua lingua.

    .Mesmo este exemplo artificial mente simples serve parailustrar algumas propriedades das gramaticas que parecemser gerais. Pode ser gerada uma classe infinita de estrutu-

    SNP-------- ~VP/1", /\a m an S is honest

    NP~~I / \man is wise2' vigor aentre uma frase da categoria frase-nominal (noun phrase NP)e a sentenca (8) que diretamente a domina, e que a relaeaopredicado de vigora entre uma frase da categoria frase-verbal (verb phrase VP) e a sentenea que diretamente a do-mina, entao as estruturas 1 e 2 (equivalente, l' e 2') espe-cificam as funcoes gramaticais de sujeito e predicado da ma-neira pretendida. As fum;oes gramaticais da estrutura pro-funda (1) desempenham urn papel central na determinaeaodo significado da sentenea, A estrutura da frase indicada em2, de outro lado, esta estreitamente relacionada com sua/for-ma fonetica 1:' , especificamente, determina a entonaeao daexpressao oral representada,o conhecimento de uma lingua implica a capacidade deatribuir estruturas profundas e de superficie a uma serieinfinita de sentencas, relacionar adequadamente essas estru-turas e atribuir uma interpretaeao semantica e urns. inter-pretacao fonetica as estruturas con]ugadas, profunda e su-perficial. Este esboco da natureza da gramatica parece m-teiramente adequado como primeira aproximaeao para a ca-racterizacao do conhecimento de uma lingua.

    Como se relacionam as estruturas profunda e superfi-cial? Manifestamente, no exemplo simples dado, podemos for-mar a estrutura superficial partindo da estrutura profundaexecutando as seguintes operacoes:46

    P ara um desenvolvimento detalhado deste ponto de vlsta, ve.ia-se J. Katz eP. Pos ta l, An ln te gr ald Thear )1 o f J .i tly u.( "ti c DeBcr ipl itms (Camb ..lrlge, MRss.: M.l.T.Pre 1964) e meu lt vro A.peds of th, '1 heT1Iof S""ta:r; (Cflmbrtd~e, MR.: M:l.T.Fross. 1065). Ve.ia-se tambem Peter S , Rosenbaum, The GraJ)lmU;r of Engh"h ~,"dlt"t8Complement Conxtruf"tOtl~ (C,A.mbridge ,Mase. : M.I .T. . P .r ess. 196.) . Estes contem .rere-rencia& a um trabalho anterlor que estendom e '!l~f.hfu=.Rm.. Houve ~rande quanttrladede t.rabalho nos ulttmoe anos eetendendo e modificando ainda mals. ~sle mOIIo ~ dever gerai e explorando RS a lt er nat tv ae, A tualment e neste campo venflca-?e eonside-r avel f el 'men ta~i io e 'provavelmente pH.~8arRnlxum tempo an~5 Que u. ]10e~ra comeeea aeeentar e urn eerto mimero lie impor tantea uuestoes aejarn r esc lv idas ao n:en

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    ras profundas muito semelhantes a 1 mediante regras multosimples, que exprimem algumas poueas fun~oes gramaticaisrudimentares, se atribuirmos a essas regras uma propriedaderecursiva, em particular uma que lhes permita engastar es-truturas da forma [S",]S dentro de outras estruturas. Astransformacoes gramaticais se repetirao entao para formar,em ultima instancia, uma estrutura superficial que pode sermuito distants da estrutura profunda subjacente. A estru-tura profunda pode ser altamente abstrata ; pode nao ter ne-nhuma estrita correlacao ponto por ponto com a realizaeaofonetica, 0 conhecimento de uma lingua - a competencialingtiistica, no sentido tecnico deste termo, discutido breve-mente na primeira conferencia - implica 0 dominio dessesprocessos gramaticais.

    Apenas com esta armacao podemos eomecar a formularalguns dos problemas que exigem analise e explicacao, Urndos problemas principais e proposto pelo fa to de que a estru-tura superficial geralmente por si mesma da muito poucaindicacao do significado da sentenca, Ha,por exernplo, nume-rosas sentencas que sao ambiguas em uma certa maneiranao indicada pela estrutura superficial. Consideremos a sen-tenca 4:

    4. I disapprove of John's drinking.Esta sentenca pede referir-se ou ao fato de John beber ouao seu carater.

    A ambigtiidade e resolvida, de modos diferentes, nas sen-tencas 5 e 6:

    5. I disapprove of John's drinking the beer.6. I disapprove of John's excessive drinking.

    E' claro que estao implicados processosgramaticais. Observe-se que nao podemos simultaneamente estender 4 em ambosos modos ilustrados em 5 e 6; isto nos daria 7:

    7. * I disapprove of John's excessive drinking the beer. Nossa gramatica interiorizada atribui duas estruturas abstra-tas diferentes a 4, uma das quais relaciona-se com a estruturasubjacente a 5, e a outra com a estrutura subjacente a 6.Mas e no nivel da estrutura profunda que a distinc;ao e re-presentada; ela e obliterada pelas transformaeoes que trans-

    portam as estruturas profundas para a forma superficialassociada a 4.Os processos implicados nos exemplos 4, 5 e 6 sao muito

    comuns em ingles, Assim, a sentenca I disapprove of John'scooking pode implicar ou que eu penso que sua mulher deve-ria cozinhar ou que eu penso que ele usa alho demais, porexemplo. Ainda uma vez, a ambigtiidade e resolvida se esten-dermos a sentenca da maneira indicada em 5 e 6.. 0 fato de 7 ser anomala requer uma explicacao, A expli-

    ca

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    nem tampouco gosto da quaJidade do que Bill eozinha. Con-tudo, nao pode signifiear que nao gosto da qualidade do queJohn cozinha e tambem nao do fato de Bill cozinhar, ou,inversamente, trocando fato e qualidade. Isto e , na estru-tura subjacente (8) devemos entender as frases ambiguasJohn's cooking e Bill's cooking da mesrna maneira sepudermos riscar cooking. Parece razoavel admitir que 0que esta envolvido ai e alguma condicao geral sobre a apli-cabilidade das operacoes de cancelamento tal como aquela queproduz 9 partindo de 8, condicao urn tanto abstrata, que levaem consideracao nao somente a estrutura a que a operacaose aplica mas tambem a hist6ria da derivacao desta estrutura,

    Outros exemplos podem ser descobertos onde urn prind-pia semelhante parece estar em aC;ao.Assim, consideremos a .sentenca 10, que e presumivelmente derivada de 11 ou de 12e e portanto ambigua, ,.

    10. I know a taller man than Bill.11. I know a taller man than Bill does.12. I know a taller man than Bill is,

    Parece claro que a ambigiiidade de 10 nao e representada naestrutura superficial; cancelamento de does em II deixaexatamente a mesma estrutura que 0 cancelamento de isem 12. Mas .consideremos agora a sentenca 13.13. [know a taller man than Bill, and so does John.Esta sentence, tal como a 9, e ambigua de duas maneiras,em vez de ambigua de quatro maneiras. Pode ter 0 sentidode 14 au 15, mas nao de 16 au 17 ":

    14. I know a taller man than Bill does and John knowsa taller man than Bill does.15. Iknow a taller man than Bill is and John knowsa taller man than Bill is,

    16. I know a taller man than Bill is and John knowsa taller man than Bill does.

    17. I know a taller man than Bill does and John knowsa taller man than Bill is.

    "Pode tambem haver outras inter pretaeoes. baaeadaa em (Jutras ambiatildades naest ru tura "John 's cooktng", eapecf ficamente, R interpretacio canlbal e R. Inter-pr-eta--w io de "cooking" como "that which is cooked",1& Dever-la acen tuar- que Quando falo de uma sentenea eomo der-ivada POT tranf!i-forma~iio de outra sentenea, estou fnlnndo l ivre e inexatament e. 0 que deverfn dlzere Que a e st ru tu ra assoctada it. primeira sentenca e der iv ada da e st ru tu ra eub ja cent ea Bttgundo, Asslm, no CRBO agora diecutido, e a eatrutura superficial de to Que e der-i-vada, :l!iipgundo uma cer-ta pn.Qlise. OR. estrutura abstrata Que. se ecfresae um desen-volvlmento tranaformaclona) diferente, ae conver-ter-in na estrutuea superficial de 11.o fa to de que as sentences nio sao der ivadas de outr-ae aenteneaa mas antes das tru tur8ll IlUbj"tente. a elas fol exptlcttam ente admlti do desde D maia ant igo tn-balho de gram4tioa transiormaelonal gerativa cerca de 16 anos atd_,. mao enun-c iad~s informa is. c omo OJI deste texto, deancrtearam muitos laitoees e levaram a umas;!rande confusio na Jiteratura. 1'8tVez eontrtbua para eumentar a eonfusdo 0 fato deQue Urns teoria mui to d lf er en te dae r el ac;OeS tranBfoMnacionaia. crlada por ZeUigHaer-le , Hen r-s- His e outr os, re fer e-se r ealmente 8,8 oper.a~5ea. tranatorrnaclonats apJi...~adaa .A . ae nteneae, Veja~8e p er exemplo Z. S. Harris. "Co-occurrence an d T ea.nsfoema . .tfon in Linguistic Structure". em IA"g1Ugf. Vol. 33. N. 3, 11157. pp. 283-3~O. emuitas publica~fies ulterlores. Par-e mim e multos cutros falantes R a cn tenea 12. emal fo rmada, No entanto , a estrutura assoeieda Que ~ sub.iaee nte ;A. 10 sob uma eertaftnati.se deve eer- postulada, tedvea derlvando dn e st ru tu ra a asoci ada a 641 know a manwho is tall". than Bit! is"."Tarnbern niio node ter 0 Bignificado "I know a taller man than Bill and Johnlikes ice cream", Por coneeeulnee. ee 8. t'fIitt"utura profunda determl na 0 6jgn~ficRdonil. medida em que se trata de r - e - IBI ', , ' !OeSg l ' amR t i c a id . deve ser que Bigo COmo ...

    Mas surge agora urn problema, conforme podemos ver consi-derando mais cuidadosamente a derivacao de 13. Designemosa operacao de cancelamento que leva a 10 partindo de 11como T1, e a operacao de cancelamento que leva a 10 partin-do de 12 como T;I. Se aplicamos T 1 a cada um dos conjun-tos de 14 derivamos 18:

    18. I know a taller man than Bill and John knows ataller man than Bill.

    A aplicaeao de T:? a cada uma das proposicoes conjuntas(coniuncts) de 15 tambem dara em resuItado 18. Mas a apli-ca~ao de T, a uma proposicao conjunta e de T:! a outra pro-posic;ao conjunta em 16 dara tam bern 18, como fara 0 mes-mo procedimento (em sentido contrario) quando aplicado asduas conjuntas de 17. Assim, 18 pode ser derivada POI' apli-cac;ao de TIe T:l a qualquer das quatro forrnas subjacentes1 - - 1 , 15, 16 ou 17. A estrutura de 18 nao indica qual destase a forma subjacente; a distincao foi eliminada pelas ope-ra~oes de cancelamento T, e T2' Mas consideremos agora aoperacao T:~, que deriva I saw Bill and so did John' de cIsaw Bill and John saw Bill. Aplicando T3 a 18 derivamos13. Contudo, notamos que 13 pode tel' a interpretacao de l(ou 15, mas nao a de 16 ou 17. Assim, vemos que Ta podeapliear-se a 18 somente se 14 ou 15, mas nao 16 ou 17, fo-rem a estrutura subjacente a 18 nas derivaedes dadas de 18_Contudo, esta informacao nao e r