1

Click here to load reader

Cientistas buscam raízes genéticas do mal de Alzheimer

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Cientistas buscam raízes genéticas do mal de Alzheimer

40 l O GLOBO Quarta-feira 7 .11 .2012

Ciência

As raízes do malde Alzheimer

Família colombiana com rara mutação genética ajuda cientistas aidentificar sinais para detecção precoce da doença

TODD HEISLER/THE NEW YORK TIMES

Drama. A colombiana Laura Cuarta e seus filhos Maria Elsy e Dario, que sofrem com o Alzheimer desde a faixa dos 40 anos: instalação precoce fornece pistas sobre a doença

Um estudo que teve como alvo uma família co-lombiana com uma rara mutação genética quefaz com que seus integrantes desenvolvam omal de Alzheimer precocemente está ajudandoos cientistas a entender melhor como a doençaevolui, abrindo caminho para sua detecção etratamento preventivo. Segundoos pesquisado-res, foi possível encontrar sinais que caracteri-zariam o aparecimento do Alzheimer pelo me-nos 20 anos antes de a doença se instalar e pro-vocar danos irreversíveis no cérebro, muitomais cedo do que qualquer exame atualmentedisponível.Os cientistas do Instituto Banner para o Alz-

heimer e da Universidade de Boston, nos EUA,em colaboração com a Universidade de Antio-quia, na Colômbia, analisaram imagens do cé-rebro, o sangue e o fluido cerebrospinal (líquor)de 44 adultos de 18 a 26 anos pertencentes aogrupo familiar com cerca de cincomilmembrosque mora na cidade de Medellín e seus arredo-res. Destes, 20 carregam uma variação no geneconhecido como presenilina-1 (PSEN1) quetorna certo que vão sofrer com o Alzheimer emuma idade precoce.Apesar de nenhum dos voluntários ter qual-

quer sintoma do mal, a análise revelou diferen-ças significativas na estrutura e função cerebralentre os dois grupos, assim como nos seus flui-dos corporais. Segundo os pesquisadores, osportadores da mutação no PSEN1 apresentamuma maior atividade em regiões do cérebrochamadas hipocampo e para-hipocampo, en-volvidas com a consolidação da memória, alémde terem menos massa cinzenta em algumaspartes do órgão. Seu líquor, por sua vez, conti-nha altos níveis de uma proteína conhecida co-mo amiloide beta, cujo acúmulo em placas nocérebro já foi associado comomal. Essas placas,no entanto, só podem ser detectadas por voltade dez anos antes do aparecimento dos primei-ros sintomas da doença, já tendo então compro-metido parte do órgão.— Estas descobertas sugerem que as mudan-

ças no cérebro começam anos antes da instala-ção clínica domal de Alzheimer, e antesmesmodo início do depósito das placas de amiloide be-ta — conta Eric Reiman, do Instituto Banner eprincipal autor do artigo sobre o estudo, publi-cado na edição desta semana da revista “LancetNeurology”. — Isso levanta novas questõesquanto às primeiras alterações no cérebro en-volvidas com a predisposição a desenvolverAlzheimer e como elas podem ser atacadas porfuturas terapias preventivas.Hoje, exames de imagem do cérebro e do lí-

quor já são usados na tentativa de prever se umapessoa vai desenvolver Alzheimer, mas seus re-sultados não fornecem um diagnóstico definiti-vo. Os novos achados, no entanto, podem me-lhorar os parâmetros para a pesquisa destes bi-omarcadores, não só em pacientes com a rara

mutação que os leva a apresentar sintomas domal ainda na faixa dos 40 anos, como tambémnos que ele se instala mais tardiamente.— Este estudo soma mais peças para fechar o

quebra-cabeças do que é e comooAlzheimer seinstala — comenta o neurologista Oscar Bace-lar, membro titular da Academia Brasileira deNeurologia. — Cada vezmais se procura o diag-nóstico precoce, e no futuro poderemos até evi-tar que a doença se desenvolva.

TRATAMENTO PREVENTIVO EM TESTESegundo Bacelar, ainda não existem tratamen-tos aprovados contra a formação das placas deamiloide beta no cérebro. A expectativa, porém,é que, no prazo de dez anos, já exista algum tipode medicamento capaz de prevenir o Alzhei-mer. Indivíduos do grupo familiar da Colômbiaem que a doença já teria se instalado estão to-mando uma droga chamada crenezumab comoparte de um teste clínico iniciado este ano e co-ordenado por Reiman para avaliar sua eficácianesta prevenção. Por isso, Bacelar destaca a im-portância da criação de métodos e exames queconsigam identificar omais cedo possível quemjá começa a ter sinais da doença.—Hoje não podemos fazer nada com essa in-

formação, mas possivelmente no futuro tere-mos uma vacina ou soro antiamiloide beta efi-caz, e é um excelente passo termos biomarca-dores para diagnosticar o mal — avalia Bacelar,sobre a perspectiva aberta pelo estudo. — Mui-tas vezes, quando opaciente chega no consultó-rio, a doença já está bem avançada. A enfermi-dade é como um trem em movimento que ten-tamos frear, mas nunca para, e a ideia é não dei-xar ele nem sair da estação. l

CESARBAIMA

[email protected]

TODD HEISLER/THE NEW YORK TIMES

Terapia. Blanca Nelly banha o marido Carlos Alberto Villegas, que participa de teste clínico de nova droga contra o malTODD HEISLER/THE NEW YORK TIMES

Herança. Os filhos de Villegas temem ter a rara mutação

O estudo soma maispeças no quebra-cabeçado que é e como oAlzheimer se instala.Cada vez mais se procurao diagnóstico precoce, eno futuro poderemos atéevitar a doença

Classe inédita demedicamentospassa nos primeiros testes

nos Estados Unidos

FLÁVIAMILHORANCE

[email protected]

Uma nova classe de medicamentos re-dutores de colesterol foi bem recebidapela comunidade médica durante umevento da American Heart Association.Segundo o “New York Times”, os remé-dios, ainda em fase de teste, têm mos-trado resultados promissores, ofere-cendo opção às pessoas que não res-pondem ao tratamento com estatinas.Hoje, o colesterol alto afeta 40% da

população brasileira, de acordo comdados da OrganizaçãoMundial de Saú-de (OMS), e está relacionado ao au-mento do risco de doenças cardiovas-culares, principal causa de mortes nomundo: 17,3milhões por ano. Até 2030,a estimativa é de 25 milhões de óbitospor ano associados a doenças cardio-vasculares.Os números alarmantes vêm estimu-

lando indústrias farmacêuticas a inves-tir no setor. A expectativa das drogaspara controle de colesterol é chegar àredução de até 70% do índice em ques-tão de semanas. Atualmente, as estati-nas chegam a reduzir em 40% o LDL,conhecido como colesterol ruim. A re-comendação atual é o indivíduo man-ter o nível de LDL ematé 130mg/dl; emcaso de risco cardiovascular, abaixo de100 mg/dl, preferencialmente menordo que 70 mg/dl.— Com estas novas drogas, associa-

das às estatinas, é possível que pratica-mente todos os pacientes cheguem às

metas — afirmou ao“New York Times” Fre-derick Raal, da Univer-sidade de Witwaters-rand, da África do Sul,que apresentou estu-dos baseados nestaclasse de drogas.A nova classe é co-

nhecida como inibido-res de PCSK9. Os me-dicamentos não de-vem entrar no merca-do antes de 2015, jáque a maioria dos tes-tes durou até 12 sema-nas e envolveu menosde 200 pessoas. Por is-so, ainda serão neces-sárias mais comprova-ções de que as drogascontinuarão funcio-nando durante umlongo período com se-gurança. Enquanto is-to, as principais op-ções continuam a seras estatinas, já em suaquarta geração.Chefe do Serviço de

Cardiologia do Hospi-tal Universitário PedroErnesto (Uerj), Denil-son Albuquerque dizque a nova classe dedrogas contra o altocolesterol “ainda éuma promessa quepassa por investiga-ção” e defende a queestá no mercado.— A resposta positi-

va dos pacientes às es-tatinas é muito eleva-

da. Eu diria que a chamada resistênciaé pequena e ligada a efeitos colaterais,que atingem um percentual baixo depacientes, que não chega a 10%— afir-ma Albuquerque, que aponta reaçõesgastrointestinais e dores muscularescomo as complicações mais recorren-tes entre os pacientes.Ele explica que as estatinas são pouco

eficientes, entretanto, no grupo com al-to colesterol por causa genética. Nestecaso, pode ser necessário associar asestatinas com outros medicamentos.De acordo com o estudo “Coração

sob controle”, realizado pelo Ibope apedido da farmacêutica Pfizer, 62% dapopulação com 40 anos desconhecesua taxa de colesterol. Além disso, 72%não consomem seis porções de fruta everduras diariamente, e 74% não fazematividade física regularmente. A pes-quisa, que ouviu 2002 pessoas emagos-to deste ano,mostra que 22%dos entre-vistados declarou fumar, 21% serem hi-pertensos, e 6%, diabéticos, fatores que,junto ao alto colesterol, aumentam orisco de doença cardiovascular.— Tomar o remédio é importante,

mas ter hábitos saudáveis faz parte dotratamento — diz Albuquerque, apon-tando que atividade física leva a 20% deredução do colesterol. l

Nova estratégiapara combatercolesterol alto

70%É O ÍNDICE DEREDUÇÃOapontado pelouso da novaclasse deremédios,ainda emteste, contra oalto colesterol

40%É A REDUÇÃOATINGIDAcom o uso deestatinas, aclasse dedrogas maiseficiente hojecontra ocolesterol alto

20%É A REDUÇÃOPOSSÍVELdos níveis decolesterol sócom a práticade atividadesfísicas

UNúmero

Product: OGlobo PubDate: 07-11-2012 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_AP User: Schinaid Time: 11-06-2012 21:11 Color: CMYK