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8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
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A F F O N S O
D E C A R V A L H O
1 BATERIA, F0GO -
A mais empolgante narrativa da
R e v o l u ç ã o
de 1930,
com a
critica
imparcial, corajosa e serena da
a c ç ã o
dos vencedores e vencidos, dos factores p o l í t i c o s e
militares,
e das causas recentes e remotas que im-
pelliram
o Exercito a decidir da victoria da corrente
liberal.
O autor, official do nosso Exercito e jornalista
observador e culto, offerece nestas paginas, revesti
das do fulgor do seu estyla impressionista, a contri
b u i ç ã o n e c e s s á r i a das classes armadas á historia da
R e v o l u ç ã o .
L i v r o de i m p r e s s õ e s , colhidas no momento de lucta,
reflecte a grandiosidade e o
í m p e t o
enthusiasta do
povo
e dos soldados, que realizaram, num a v a n ç o
i r r e p r i m í v e l , a
e p o p é a
salvadora da Republica.
Brochado
. ÍSOOÍ)
E M T O D A S
AS
L I V R A R I A S
E N A
1
O V L Z Ç O B R A S I L E I R A E D I T O R A
Un a I.nvradlo, 10»
Telrph.
2-C773
Rio
th
Janeiro
T y p . Cupolo
I,nd. Snnta F . p h l K O n l a , 21 — S. Paul
MARIA
.IACECDA
de MOURA
iVifiZCKDCIC
ecscincos
V I G I A A TUA VIDA E NÃO
RENUNCIES
POR NADA AO T EU I IVRE
A R B Í T R I O ;
NA<
I M I T E S A
E S S E S
MAUS
COMEDIANTES
Q U E SÓ PODEM CANTAR EM
C O R O .
E P I C T E T Q
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l.nvrndlo.
IflO
Win
«V .Tan
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M a r i a L a c e r d a d e M o u r a
NTONIO C RLOS
C i v i l i z a ç ã o
Tronco de
scravos
EMPRESTAR É UM PRAZER
E V O L V E R É U M DEVER
O
homem
mais
fo r l e do
mundo
ê
o
mais
s o l i t á r i o .
IBSEN
NTON O
C RLOS
C A I X A P O S T A L 55071
C E P
0396 > 970
S Ã O P A U L O / S P
C I V I L I Z A Ç Ã O B R A S I L E I R A E D I T O R A
R u a L a v r a d i o 1 60 1 9 3 1 R i o d e Janeiro
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
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DA
A U T O R A
E m
torno
da
Educação
1918
exgotado.
Renovação 1919
exgotado.
A
Fraternidade e a Escola
1922
exgotado
(con
ferencia).
A Mulher moderna e o seu papel na sociedade actual
e na formação da civilização futura
1923
ex
gotado (conferencia).
«A Mulher é uma Degenerada
1924
exgotado
—
1.» e d i ç ã o ) .
A Mulher é uma Degenerada 1925
exgotado
—
(2.* e d i ç ã o ) .
L a
Mujer es una degenerada? 1925 Edição de Bue-
nos-Aires. não revista pela autora.
Lições
de
Pedagogia
—
(volume
1.°) — 1925
ex
gotado.
Religião do Amor e da Belle/a 192G
exgotado
—
(1.* e d i ç ã o ) .
Religião do Amor e da Belleza 1929 — (2.
a e d i ç ã o ) .
De Amundsen a Del Prete 1928.
Clero e Estado
1931.
NO P R E L O :
Fo r a
da Lei.
Clero e Fascismo.
A SAÍR:
Han Ryner e o Amor P l u r a l .
EM
P R E P A R O :
O
Individualismo
nco-estoico
de Han Ryner.
Gue r r a
á
G u e r r a
Psicologia Pedagógica — (1. e 2. volumes de Lições
de Pedagogia).
Problema humano: A questão sexual.
Krishnamurti,
Mahâtmâ
Gandhi c Han Ryner.
O problema do Amor — visto pela mulher: George Sand,
Isadora
Duncan, Alexandra Kollontai e Federica
Montseny.
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Vigia tu vid e não renuncies
por n d o teu livre arbítrio; não imites
a esses m us comedi ntes que só
podem
c nt r em coro .
Epicteto
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A
C IÊNC I A SERVIÇO D A
DEGENERECENCIA H U M A N A
A humanidade considerada na espécie con
serva a mentalidade rotineira atrasada empí r i ca
de todos os tempos de todos os rebanhos. Ainda
mais:
a civilização sufoca o instinto animal de de
fesa.
A
evolução
é
individual
e o conservantismo
das
massas
é assegurado pela influencia ancestral
fossilizada no subconciente
coletivo
e pela educa
ção
domesticadora até o servilismo.
Mas si o rebanho humano é sempre o mesmo
faminto de pão e divertimentos guerras ou
circo
politica
ou cinema sedento de prazeres brutaes e
de gargalhadas
sensuaes essa
vaga imensa ondu
lando
ao sabor de um Alexandre um mílcar Bar-
Cftj
um
An í b a l
um Xerxes um
Cesar Na p o l e ã o
Mussolini Papa
Dempsey Tunney um Chico
I3oia
um Rodolfo Valentino — em compensação
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10
Mtria Lacerda
e
Moura
a
ciência
progrediu tanto que deu origem a
fan
t ás t i co desequi l íbr io
na vida social, posta imedia
tamente a
serviço
das perversidades
i n o m i n á v e i s ,
de
toda a imbecilidade humana.
Descobertas,
inves t igações ,
os
m é t o d o s
cien
t í f i cos
atestam o
es f o r ço
da
elite
intelectual. Por
outro lado, cientistas se vendem cinicamente ao
poder, ao capital, á vaidade das
exibições.
E o capitalismo industrializado se apodera de
todo esse
afan
cient i f ico,
mesmo ainda em em
b r i ã o , de maneira que canaliza as energias humanas
em
uma
d i r eção ún i ca
— a luta de
compe t i ções ,
a
c o n c o r r ê n c i a e c o n ó m i c a ,
o
assalto
ás
pos ições
já
ocupadas, o nacionalismo e, consequentemente, as
guerras.
Todo o
g é n e r o
humano
vive
para a
cumpl i
cidade
brutal
da
p r o s t i t u i ç ã o
sob todos os
aspectos,
pois que a
o r g a n i z a ç ã o
social capitalista não passa
de um vasto bordel em que se compram e vendem
todos os sentimentos e as mais nobres
asp i r ações ,
o
Amor
e a Conciencia, as mais altas manifesta-
ções
da
V i d a
humana.
E toda a humanidade, em tempo de paz como
em
tempo de guerra,
vive,
trabalha,
luta
pela cum-
ivilização — Tronco e Escravos
11
plicidade que leva os humanos a se
e s t r a ç a l h a r e m
ferozmente nos campos de batalha.
E ,
enquanto nas Igrejas se prega o
A m a i -
vos uns aos outros , e se lembra o Não
m a t a r á s ,
sacerdotes
patriotas
a b e n ç o a m
a
av i ões , cour açados
e bandeiras, na
F r a n ç a
contra a Alemanha, na
A l e
manha contra a
F r a n ç a ,
na
I t á l i a ,
na
B é l g i ca
ou na
Á u s t r i a ,
em nome do mesmo
Jeová t e r r í ve l ,
em no
me do Deus
s a n g u i n á r i o
de todos os
exérc i tos ,
das
p á t r i a s
exclusivistas e do chauvinismo
cr i s tão .
D á - s e
ainda um
f e n ó m e n o
digno de nota: os
p r ó p r i o s
cientistas não se subtraem á
influencia
das
massas.
Enquanto nos seus gabinetes, em meio
de retortas e maquinas, experimentam, pesquizam,
atordoam-se na
i n q u i e t a ç ã o
absorvente de resolver
problemas ou aproximar-se de determinada verda
de, são
a d m i r á v e is ,
superiores, grandes na sua per
seve r ança ;
logo que atingem a uma pequenina rea
l i zação
e veem para o
c e n á r i o
social aplicar o re
sultado das suas
e x p e r i m e n t a ç õ e s ,
caem no
nivel
(UM massas, descem á vulgaridade do dogma, á
mediocridade
domesticada,
servil
e perversa das
Pátrias
e dos partidos.
Acorda-se o nacionalista, o religioso a
serviço
da
supe r s t i ção
e da
i g n o r â n c i a ,
o
c i d a d ã o
a
servi-
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12
Maria Lacerda de Moura
ço dos governos e das bandeiras contra outros go
vernos outros c id ad ão s e outras bandeiras.
E
toda a sua ciência se prostra aos pés do ca
p i t a l e da industria.
O esforço superior do homem livre é detur
pado é prostituido.
Todas as descobertas sem
exceção
alguma
todas as pesquizas da ciência são a ç a m b a r c a da s pe
los
interesses
industriaes e para as conquistas da
guerra consequentemente.
A
av i ação é instrumento nacionalista e as fa
ç a n h a s aviatorias ainda que um Amundsen um
Charcot um Nansen delas se
sirvam
para desco
brimentos cien t í f icos , são manejos da embriaguez
p a t r i ó t i c a ou da maroteira poli t ica — para açu la r
os c i d a d ã o s á defesa sagrada da pát r ia g lor io -
sa. . . E até as palavras teem o seu prestigio no
despertar das emoções ou das p a ix õ es capazes de
acordar o sentimento do
dever
nacional
O vapor a eletricidade o radio tudo absolu
tamente tudo tem o seu papel preponderante na
d es t ru i ção
pela guerra — em nome do
M o l o c
da
p á t r i a .
M a s , quem move os cordéis da diplomacia e
do
Estado são os banqueiros os famosos indus-
ivilização — Tronco de Escravos
13
triaes de av iões , submarinos c o u r a ç a d o s , torpedos
e metralhadoras — todos
esses
canibaes que se nu
trem dos campos de batalha.
E o rebanho humano continua a defender e
a respeitar p a t r i ó t i c a e religiosamente a todos os
interesses
legislativos e nacionalistas a toda auto
ridade c o n s t i t u í d a para afiar o cutelo que ha de
cortar piedosamente o
pescoço
e
abrir
o ventre
dos que vão entoando hinos alimentar a boca
escancarada
dos c a n h õ e s , das maquinas de guerra
que recebem e t r i t u ram a carne humana e a trans
formam em moeda corrente com que os grandes
industriaes e os
pol í t icos ,
seus
cú mp l i ces ,
compram
o poder a
g lor ia
e as
cor tezãs .
A t é mesmo a bondade imensa de Mme. Curie
está trabalhando para a d e s t r u i ç ã o do g é n e r o hu
mano.
Santos Dumont
o
sente
profundamente arre
pendido de haver c o n t r i b u í d o para a carnificina
gloriosa dos mi lh õ es de vitimas da ferocidade civi-
lizadora iniciada em 1914.
O c in emató g ra fo cu l t i v a a imbecilidade o
preconceito da força bruta o prejuizo patriota
a su p er s t i ção religiosa a moral farisaica da socie
dade fi l istéa,
o mundanismo parasita todas as to-
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14
Maria
acerda de Moura
lices seculares e todos os crimes de lesa-felicidade
humana.
Rara a
pel ícu la
de
tese
social elevada. Tão
rara que a ass i s tência no seu conjunto a repudia...
Descoberta
fel iz
sonhada talvez para a es
cola moderna para o
cultivo
da in te l igência caiu
imediatamente nas malhas do industrialismo absor
vente e foi colocada ao sabor e ao alcance das mas
sas em vez de servir para elevar a mentalidade
humana ao n iv e l do ideal cientifico puro e das as
p i raçõ es de r e n o v a ç ã o social pela ed u cação .
M a s
ha tanta
i m p u d ê n c i a
e tanta cupidez na
civi l ização
de industria que um
f i l m
como o do
l i
v ro
de Remarque consegue
atravessar
as malhas da
r e a ç ã o burguesa.
D á
que
pensar:
a
c iv i l ização
do
dollar será
engulida por si mesma m o r r e r á de apoplexia.
O
que se
verifica
com o
c i n e m a t ó g r a fo
a
ser
viço
da imbecilidade e da
i g n o rân c i a
sentimentalis
t a d á - se t am b ém
com o radio.
J á a radiotelefonia é instrumento da
policia
e uma agencia de
a n ú n c i o s
de todas as drogas que
envenenam a humanidade inclusive a droga l i te
r á r i a a c a d é m i c a a droga historico-patriotica a
droga das
caravanas
politicas e a droga dos encon-
ivilização —
Tronco
de Escravos 15
tros de pugilato e dos concursos comerciaes de
beleza.
Santos
Dumont Edison
Marconi
Mme.
Curie — instrumentos do progresso material para
a conquista do poder do dinheiro para o alarga
mento das fronteiras nacionaes contra outros ca
p i t ãe s
outras bandeiras e outros nacionalismos.
Marconi
já vendeu a p r ó p r i a conciencia:
fascista m a r q u ê s senador presidente nomeado da
Academia de Letras italianas . . .
Cada descoberta
cientifica
é nova fonte de
conflitos
internacionaes tudo concorrendo para
liquidar
mais
depressa
o
g é n e r o
humano.
Neste momento todos os grandes
l ab o ra tó r io s
q u ímico s es t ão ocupados no fabrico de
gazes
sem
pre e cada vez mais tóxicos para a p r ó x i m a guerra.
Sabe-se mesmo que
s e r á t a m b é m
aproveitado
o trabalho dos cientistas ocupados hoje em
cultivar
e exasperar a
v i ru lência
dos
mic ró b io s
das mais
terriveis molés t ias .
A t é mesmo o mundo p r o l e t á r i o embora o pro
testo contra a
civi l ização
burguesa-capitalista cava
a degenerecencia da espécie e coopera para
essa
luta dantesta ora
imprimindo
as imbecilidades es
critas pela burguesia
a c a d é m i c a p a t r i ó ti c a
e mun-
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16
Maria Lacerda e Moura
dana, ora fabricando
m u n i ç õ e s
e armas de guerra,
mesmo porque todas as conquistas do progresso
material constituem armas de guerra para o sus
t e n t á c u l o do dominio de uns e do servilismo e do-
mesticidade da maioria.
Seria bem p refer ível que o o p e r á r i o amputas
se ambas as m ã o s si se resolve a trabalhar em arse-
naes de guerra, de hidroplanos e metralhadoras,
c o u r a ç a d o s e torpedos. Deveria ter vergonha de si
mesmo ao
reivindicar
os
seus
direitos á liberdade,
a p ó s 8 ou mais horas de trabalho em estaleiros de
navios de guerra ou em um arsenal de idiotices
perversas ou de brigas de comadres, como, por
exemplo, as r ed açõ es das imprensas oficiaes.
D e qualquer modo, dentro da c iv i l ização , to
dos nós concorremos para o canibalismo
p a t r i ó t i co
das trincheiras e das pilhagens militares.
Entretanto, o trabalho intelectual não exclue
o trabalho manual e vice-versa; pelo contrario, a
harmonia de todo o ser vem da energia fisica em
a ç ã o e do prazer de
pensar
e agir e criar mental
mente.
O único homem que não contribue direta-
mente para a guerra, para a
d e s t r u i ç ã o ,
para a
ivilização — Tronco e Escravos 17
fome,
para a
peste,
para a miséria fisica e moral
é
o pequeno agricultor.
N ã o
o
capataz
que
d ir ige,
governa e explora,
de rebenque em punho, que humilha o semelhante,
enriquecendo-se á custa do suor alheio, mas, o hu
milde
lavrador que cava a terra e semeia a
n u t r i ção ,
a vida, a
f o rça ,
a alegria da fartura e da
fecundi
dade
sadia, porem, que não contribue para a ri
queza social, o que não exige o i n t e rmed iá r io para
as suas
t r an saçõ es
comerciaes.
A
volta
ao trabalho rude da terra
s e r á .
por
tanto,
a conciencia tranquila, para a l ém de toda
cumplicidade com a o r g a n i z a ç ã o social, baseada
na
ex p lo ração
do homem pelo homem?
N e m sempre. Parece-me que ainda não.
E justamente na p r o d u ç ã o da terra e mesmo
na propriedade da terra em si, que se a l icerça todo
o fo rmidável ed i f ic io da ex p lo ração social.
S i n i n g u é m plantasse s en ão o estrictamente
necessár io para si e para os seus f i lhos menores,
para os velhos e para as m ã e s e as c r i an ças e os
invál idos
da sua
f amí l ia ,
ao mesmo tempo
p ra t i -
cando o auxil io mutuo, — não se formariam
trusts de c a f é , de a ç ú c a r , de a l g o d ã o , de arroz,
de
t r igo ,
de mate, de todos os
g én ero s
de
primeira
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18
Maria Lacerda
e
Moura
necessidade
para fortuna dos reis da agricultura
industrializada — que não plantam e se enrique
cem á custa do suor dos que plantam.
D a í
a concurrencia aberta para as lutas co-
merciaes de c o m p e t i ç ã o , origem das guerras mo
dernas.
E
o
excesso
da
p r o d u ç ã o ,
sob todos os
aspe
ctos na lavoura como nas industrias
causa
de to
dos os conflitos na sociedade atual. O
nosso
mal
n ã o
vem da
falta
e sim do
excesso
de
p r o d u ç ã o .
A
misér i a do mundo moderno ainda vem da fartura
e do
excesso
de riqueza e de progresso material. Da
má d i s t r i b u i ção dos g é n e r o s alimenticios. Por ora
a terra daria bem para a sua p o p u l a ç ã o .
E o
o p e r á r i o
verdadeiramente conciente ope
r á r io
manual ou cientista manipulando o
pensa
mento no fundo das retortas ou nos cá lcu los e
problemas á procura das leis
naturaes
em
busca
da
r a z ã o
de ser da
vida
— não fabrica
armas
para
abrir
o ventre dos
seus p rópr ios f i lhos
em
holo
causto no altar da
p á t r i a , esse i d olo san g u in á r io
de
fauces escancaradas a absorver as energias de to
dos os
assalariados
do trabalho.
S i houvesse verdadeira c o m p r e e n s ã o do dever
humano os
indivíduos l ivres,
homens e mulheres
ivilização — Tronco e Escravos
19
concientes se recusariam a pactuar com
essa
c ivi-
l ização
de vampirismo social
voltariam
ao traba
lh o
duro da terra á vida simples e natural porem
cheia de co mp en saçõ es , de liberdade para deixar
sentir a alegria da conciencia que não
desce
á cum
plicidade de lutar em favor do esmagamento de
toda a humanidade.
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VORONOFF
Em meio dessa embriaguez de gozos materiaes,
desse del ír io
de progresso sensual, surge o
elixir
da
longa vida, com Vo rono f f .
A velhice é uma caricatura da i n fânc i a é a
meninice
sem a g r a ça a ingenuidade, a beleza, a
candura, a s edução da puer íc ia .
A
velhice é a idade da avareza, das preferen-
cias apaixonadas, da sordidez, do ego í smo das ex-
per iências adquiridas, da glutoneria, da falta de
higiene, das
des i lusões
das ideias fossilizadas.
A té aos 30 annos podemos receber impressões
novas, aceitamos ideias, mesmo quando venham
derrubar o
edif ício
calcificado da
h e r an ça
ancestral,
ainda que para voltarmos, mais tarde, ao ponto de
partida...
Depois, atravessamos o p e r í o do da r umin ação
e aí ficamos algum tempo, ou nos conservamos,
por toda a existência as almas ruminantes de
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
12/119
22
Maria
acerda
de Moura
que
fala
Romain
Rolland,
voltando aos
p r e ju í zos
aos preconceitos inculcados na adolecencia, pela
educação
e pelo exemplo.
As grandes conversões ou as conversões dos
livres-pensadores de rebanho, são fatos de todos os
dias.
A fraqueza de memoria, a perda da acuidade
sensorial, a
imaginação
cheia de fantasias
absurdas
e muitas
vezes
até perversas, a amb i ç ã o fazem da
velhice quiçá o pesadelo dos que velam por ela.
Sob outro aspecto, o velho,
nesta época
po
sitiva
de cupidez, quasi sempre é um estorvo: a
herança depende
da morte dos velhos...
O
velho, si não sabe
ficar
na moldura, na ex
pressão
de
Emile
Faguet, é um
desastre,
motivo
de
discórdias
em toda a familia,
motivo
de con
fl i tos
de toda ordem.
E que de r i d í cu lo além da fatalidade com
que a
própria
natureza satiriza a decrepitude
O
ideal é morrer no
vigor
das faculdades e
dos sentidos, ou, pelo menos, ao
atravessar
o Cabo
da Bôa
E s p e r a n ç a
no outono iluminado da vida,
antes
de entrar no das tormentas . . . e das
imbeci
lidades da caduquice, arremedo caricatural da in
genuidade
i n f an t i l .
iviliz ção —
Tronco
de
scravos 23
ituação humilhante de protegidos da
cari
dade
Como
são dignos de
admiração
e amor os ve
lhos estóicos mas, como são raros Como sào raros
os velhos de almas sãs para penetrar o sentido da
vida,
de almas jovens para desejar e continuar a
realização
interior pela bondade envolvente,
tole
rantes, compreensivos para deixar aos
moços
a
l -
berdade de pensar, de errar, de aprender, de adqui
r i r
experiências p r ó p r i a s
de
viver
segundo as suas
necessidades
e os seus sonhos precursores Sóc r a t e s
Réc l u s Kropotlcine,
Ibsen, Han Ryner...
Mas, a velhice gamenha, voronofizada é o
mesmo
ridiculo
dos cabellos e bigodes pintados,
emoldurando as rugas indiscretas ou a "maquilla-
ge" em
pessoas
idosas em que apontam, agressiva
mente, os
estragos
do tempo e as dores do mundo.
A juventude vem de dentro para fó ra . Des
pertar,
cultivar
as energias interiores, em vez de ir
buscar nos
artifícios
o
remédio
para os desvios e
as loucuras e a degenerecencia humana, alimenta
da e multiplicada com a
civilização
industrial capi
talista — eis o caminho da juventude eterna.
A
velhice é uma
etapa desagradável
do
cir
culo
evolutivo de uma parcella de vida em
relação
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
13/119
24
Maria Lacerda e Moura
ao Eterno e ao I n f i n i t o . A morte é a s o l u ç ã o a
ú n ica d ese j áv e l .
Depois . . . Quem
sabe?
Morrer,
transformar-se. .. A morte não exis
te. E' como as
vagas
do grande Oceano e vão e
voltam a quebrar-se nas praias iluminadas pelos
raios do Sol v ivif icador.
Descuramos os meios
naturaes
de garantir o
vigor do corpo, a r e s i s t ên c i a o rg ân ica a s a ú d e f i
sica e mental, viciamo-nos,
degeneramos
os
nossos
f i lhos
concebemos
esses f i lhos a t ra vés
do
v ic io
da
ociosidade, do trabalho f o r ç a d o do sensualismo
absorvente, da libertinagem: são os
filhos
do
t éd io
da embriaguez, do descuido, do
acaso.
A
vida
f i
ctícia e t r ág i ca das cidades nos envenena até o
fundo da conciencia, e,
degenerados
até a medula,
pretendemos encontrar o elixir da longa vida, para
voltarmos
embriagados de mais sensualismo baixo
e mais cupidez e entornarmos uns
restos
de exis
t ência ar t i f ic ia l
nas roletas, nos Cabarets , nos
b o rd é i s
nos lupanares e na vulgaridade senil mas
carada de juventude.
Mutilar-se
nas guerras — para a ciência pro
var
que pode recompor e embelezar, talvez, um
rosto ou suprir
ó r g ã o s
prova bem a brutalidade e
ivilização — Tronco e Escravos
25
a insensatez humana. N ão seria preferivel fazer
desaparecer
as causas das
guerras?
M a s
isso não é
possível
dentro de qualquer
o r g a n i z a ç ã o social baseada no capital e nos pre
conceitos
burgueses,
na moral farisaica do Cristia
nismo, como impossível - fechar as
casas
de prosti
t u i ção
substituindo o caftismo e o vampirismo so
cial
pela liberdade do amor, pelo pluralismo amo
roso sem a compra e a venda da carne feminina.
Assim,
inventam-se meios artificiaes para
mais rapidamente
degenerar-se
todo o
g é n e r o
hu
mano.
intoxicados de
vicios
de ociosidade, de pa
rasitismo
ou de
misér ia
de
d iges tões
doloridas ou
de
concepções
fossilizadas, alimentados de verda
des mortas , senis, almas ruminantes, somos
incapazes
de nos elevar um pouco acima da bestia
lidade
dos instintos p r imi t ivos sufocadas as
ener
gias interiores, adormecida a beleza de
cada
ser —
no ruido e nas
p r eo cu p açõ es
do mundo exterior.
vamos buscar, nas florestas, um ser l ivre e feliz
vivendo em harmonia com as
suas necesidades
na
turaes
e o inutilizamos ou o matamos, roubamos a
sua vitalidade ou reduzimo-la á metade — para
resucitar a
c a d á v e r e s
ambulantes, para estimular a
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
14/119
26
Maria acerda
de Moura
senilidades
impres t áve i s
cujo corpo envelhecido
precocemente, talvez em orgias e libertinagens, po
de dar
vida
a
filhos
predispostos á mesma degrada
ção
moral, com
tendências
á mesma senilidade pre
coce e cuja mente rotineira e
empírica
ha de con
tinuar a deitar regras de conduta de uma moral
também
senil — para
tirar
aos
moços
a liberdade
e a alegria de
viver
de acordo com as
necessidades
do momento e de acordo com a
evolução
e as ideias
e sonhos prenunciadores.
Si vivêssemos como os pás sa ros que são livres
logo após
os primeiros voos...
Mas,
conservar,
remoçar
artificialmente a
avós
e
tataravós
para
constituírem
novas
famílias
talvez,
e nos
tirar
mais a liberdade de
pensar
e agir
e obrigar-nos a um
beija mão
que nunca mais
terá
f i m
é simplesmente deshumano . . . é povoar a
vida
de fantasmas simiescos.
Imaginemos Clemenceau, o
"tigre"
voronofi-
zado: com que
petulância
perversa fomentaria de
longe uma nova guerra
Imaginemos um Ruy Barbosa falando, falando,
gesticulando ininterruptamente o seu patriotismo
contra os paes da
pátria
que lhe negaram, sistema-
iviliz ção
— Tronco de scravos 27
ticamente, o supremo prazer de d om í n i o em o lu
gar supremo de presidente da Republica brasileira
Acabaria
por exgotar a
nossa p a c i ê n c i a . . .
e exgotaria de vez os cofres da n a ç ã o . Seria a ban
carrota de tudo . . .
O
que é mais criminoso é
lançar
mão de um
sêr
vigoroso e
feliz
na sua
vida
simples, natural —
para, com o seu
sacr i f í c io
alimentarmos a velhos
dec r ép i t o s cuja vida foi um hino ao vicio á
liber
tinagem,
cujos
capitães
e cujo poder f oi adquirido
á
custa do suor alheio.
Porque um
s áb io
um
filosofo
autentico não
consentiria
nunca em martirizar um sêr para dele
tirar
recursos em seu proveito p r óp r i o .
As operações de
Voronoff,
a não ser as
p r i -
meiras
experiências suas
e de
seus
dicipulos em a
pobre gente dos hospitaes e asilos, sem direito a ne
nhum
direito,
são
operações
em os velhos endinhei
rados
e em os poderosos, cuja conciencia foi
amas
sada
no parasitismo, cujos cofres foram enriqueci
dos á custa da
exploração
de milhares e milhares de
ope r á r i o s á custa do
martirio
e servilismo do reba
nho humano.
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
15/119
28
Maria Lacerda
e
Moura
Depois,
os
ch ar l a t ães
da
ciência
podem
m u l -
t ipl icar
embustes
ou provocar
alei jões
moraes, a
sugestão f ica
e o seu prestigio cresce, porquanto
sentem crescer a co n f i an ça em si, e
eles
mesmos se
desdobram em valor aos seus p r ó p r i o s olhos.
T e m r a z ã o Bernard Shaw: O medico que
mata com coragem de convicções , com energia,
com
maestria,
sente
crescer seu orgulho em cada
crime que comete.
O m é t o d o de Steinach, pcofessor em Viena,
com
o enxerto de
g l â n d u l a s
de outro semelhante
o u com o enxerto de g l â n d u l a s do p r ó p r i o paciente,
te m
dado, dizem,
muito
mais resultados que o de
V o r o n o f f .
E ' , pelo menos, mais humano, é fei to com o
consentimento de um ind iv iduo que e s t a r á ciente
e conciente de que se vae prestar a servir a outro
ind iv iduo .
Muitas
fraudes e muitos crimes podem advir
d a í ;
entretanto, ha mais probabilidades de consen-
timento do sêr humano do que do macaco ...
M a s , outro medico n o t á v e l , o Dr. Juan E.
ivilização — Tronco e Escravos
29
Corulla, em um artigo em La N a c i ó n , a respeito
do Rejuvenecimento , diz:
. . .
Por outra parte, nem
V o r o n o f f
nem
Steinach puderam apresentar até agora um caso
de verdadeiro rejuvenecimento. São melhoras
parciaes, atinentes unicamente á esfera sexual,
dentro da qual é in eg áv e l aumento de atividade.
As cé lu l as
nervosas e os demais
ó r g ã o s
nobres
continuam como dantes. Não negamos que isso se-
j a resultado e bom, p o r é m , é preciso convir que es-
tamos todavia
muito
longe de haver encontrado a
fonte de Juventa e que é muito duvidoso que seja
esse
o melhor caminho para chegar até ela .
Resultado muito
ó p t i m o , d i r ã o
os velhos
exgotados.
Para a velhice libertina basta apenas o aumen-
to
da atividade sexual, e,
a p r è s
moi, le
d é l u g e
. . .
Entretanto, a longevidade, a l ém de ser caracte-
r í s t ica de famí l i a , ap t id ão h e red i t á r i a , depende
muito
mais de nós mesmos do que de
in tervenções
exteriores. E a longevidade sadia é trabalho de hi -
giene mental e de alegria interior, de uma bondade
incapaz de sacrificar a quem quer que seja em be-
neficio
p ró p r io .
Ademais,
que
sabemos
da Vida?
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
16/119
30 Maria acerda de Moura
Somos emparedados. E todos os nossos gestos
movem-se
a t r a v é s
da
nossa
profunda
i g n o rân c i a
p resu n ço sa .
Os humanos, temos a p r e t e n s ã o de nos consi
derarmos acima dos chamados irracionaes. E, orgu
lhosos, não queremos vêr os erros e os crimes criados
por nós mesmos em torno dos nossos destinos, es
t r a ç a l h a d o s
pela
nossa
perversidade calculada,
sór-
dida, mesquinha e a u t o r i t á r i a .
Que conhecemos dos liames biocosmicos?
A l é m de tudo, os simios e s t ão muito acima da
velhi e
parasitaria, da senilidade
libertina,
do caf-
tismo da conciencia humana civi l izada banqueiros
e
césares
vampiros sociaes, cuja
vida
é
sugada
na
dor
de todo o
g é n e r o
humano escravizado aos co
fres fortes, domesticado pela cidadania, dobado no
regimen
social da
ex p lo ração
do
p ró x imo .
A I N D A VORONOFF
V o r o n o f f
não é precursor, nem inovador, nem
individualidade
nascida fora do sécu lo indesejá-
vel entre os c o n t e m p o r â n e o s combatido pela ciên-
cia oficial
não é profeta de ideias novas e de so
nhos para serem arrebatados por outras g e raçõ es
nem ao menos é colaborador da c iência tomada a
ciência
em
seus
justos termos.
V o r o n o f f
é homem da sua
ép o ca
da
época
do jazz-band e de Josefina Baker.
D e
uma
e x p e r i m e n t a ç ã o cientifica
de labora
tório para o b se rv ação em torno das secreções das
g l â n d u l a s e do efeito dessas secreções no organis
mo
e, consequentemente, a
ap l i cação
do resultado
dessas exper iências na t e r a p ê u t i c a daí para char-
latanizar a
ciência
aplicando-a á industria de
ani
ma os e ao sensualismo senil — vae considerável
d i ferença.
N ã o
posso
compreender a c iência intervindo
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
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32 Maria Lacerda e Moura
no a p e r f e i ç o a m e n t o dos meios do homem extor
quir
dinheiro de outro homem, valendo-se da ci
rurgia,
no atentado á
vida fisiológica
dos animaes
sadios.
Compreendo a
necessidade
do
v e t e r i n á r i o ,
não
compreendo a v iv isecção a não ser como um del í -
r io de perversidade i n o m i n á v e l , nem chego a vêr a
vantagem da embriaguez
cientifica
que põe
milha
res de cobaias e cães e qualquer espécie de animal
á mercê
dos cientistas —
funcionár ios públ icos
— vaidosos quasi de fazer sofrer aos m á r t i r e s da
c i ên c i a , em nome de um
principio
ou de uma des
coberta ou de uma pesquiza ou dos
p ro b lemát i co s
benefícios
daí resultantes para todo o
g é n e r o
hu
mano, e, as mais das vezes, em nome do
salár io
pa
go pelo Estado, em nome do ordenado mensal.
Q u e s t ã o de e s t ô m a g o ou de idolos.
T a m b é m
os
sacerdotes p a g ã o s
sacrificavam
criaturas indefesas, animaes, c r i a n ç a s , homens e
mulheres, em nome da paz ou da guerra,
a f im
de
aplacar a có lera dos
deuses
— em beneficio da
humanidade.
O
Moloc
de hoje é a ciência.
T o l s t o i
o
d ef in iu
admiravelmente: A
ciên-
cia ocupa em
nossa
ép o ca exatamente o mesmo lu-
Civi ização — Tronco e Escravos 33
gar que ocupava o sacerd ó c io , ha alguns séculos.
Os mesmos bonzos revestidos de t í t u lo s , as
mesmas
castas
nas ciências : academias, universidades, con
gressos. A mesma c o n f i a n ç a e falta de cr i tér io por
parte dos crentes; as
mesmas d iv erg ên c i as
e as
mesmas
palavras
in co mp reen s ív e i s ,
a mesma pre
s u n ç ã o .
T e m r a z ã o
Bernard Shaw: si ao menos os
V o r o n o f f conseguissem, com a enxertia, fazer do
homem um macaco r e s p e i t á v e l . . .
N ã o .
O homem c o n t i n u a r á a
descer
sempre,
bem para baixo de todos os simios, na sua maldade
de criatura
civilizada,
com os seus raios
invisíveis
e raios da morte e
gazes
asfixiantes e
av iões
e
submarinos e torpedos e labo rató r ios c ien t í f icos
para estimular todas as v i ru lências , desde as guer
ras até o prazer
sa t ân i co
de martirizar os animaes
em nome do humanitarismo clinico.
N ã o
é sentimentalismo piegas e sim pan-hu-
manismo o que lemos em A t l â n t i d a de 21 de
Outubro de 1927. a p r o p ó s i t o da vivisecção:
D a p e r p e t r a ç ã o
de
atos
moraes maus não
p ô d e
resultar
benef íc ios ,
de maneira alguma, para
humanidade.
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
18/119
32 Maria Lacerda e Moura
no a p e r f e i ç o a m e n t o dos meios do homem extor
quir dinheiro de outro homem, valendo-se da ci
rurgia,
no atentado á
vida fisiológica
dos animaes
sadios.
Compreendo a
necessidade
do
v e t e r in á r io ,
não
compreendo a v iv isecção a não ser como um delí-
r i o
de perversidade
in o min áv e l ,
nem chego a vêr a
vantagem da embriaguez
cientifica
que põe
milha
res de cobaias e cães e qualquer espécie de animal
á mercê
dos cientistas —
func ionár io s públ icos
— vaidosos quasi de fazer sofrer aos m á r t i r e s da
c i ên c i a , em nome de um principio ou de uma des
coberta ou de uma pesquiza ou dos p ro b lemát i co s
benef íc ios daí resultantes para todo o g é n e r o hu
mano, e, as mais das vezes, em nome do
sa l á r io
pa
go pelo Estado, em nome do ordenado mensal.
Q u e s t ã o de e s t ô m a g o ou de idolos.
T a m b é m
os
sacerdotes p a g ã o s
sacrificavam
criaturas indefesas, animaes, c r i an ças , homens e
mulheres, em nome da paz ou da guerra,
a f im
de
aplacar a có lera dos
deuses
— em beneficio da
humanidade.
O
Moloc
de hoje é a ciência.
To l s to i
o
d ef in iu
admiravelmente: A
ciên-
cia ocupa em
nossa
ép o ca exatamente o mesmo lu-
ivilização — Tronco e Escravos 33
gar que ocupava o sacerd ó c io , ha alguns séculos.
Os mesmos bonzos revestidos de t í t u lo s , as
mesmas
castas nas ciências : academias, universidades, con
gressos. A mesma co n f i an ça e falta de cr i tér io por
parte dos crentes; as
mesmas d iv erg ên c i as
e as
mesmas
palavras in co mp reen s ív e i s , a mesma pre
s u n ç ã o .
T e m r a z ã o
Bernard Shaw: si ao menos os
V o r o n o f f conseguissem, com a enxertia, fazer do
homem um macaco r e s p e i t á v e l . . .
N ã o .
O homem c o n t i n u a r á a
descer
sempre,
bem para baixo de todos os simios, na sua maldade
de criatura
civilizada,
com os seus raios
inv is íveis
e raios da morte e
gazes
asfixiantes e
aviões
e
submarinos e torpedos e labo ratór ios c ien t í f icos
para estimular todas as
v i ru l ên c i as , desde
as guer
ras até o prazer sa t ân i co de martirizar os animaes
em nome do humanitarismo clinico.
N ã o
é sentimentalismo piegas e sim pan-hu-
manismo o que lemos em A t l â n t i d a de 21 de
Outubro de 1927. a p r o p ó s i t o da vivisecção:
D a p e r p e t r a ç ã o
de
atos
moraes maus não
p ô d e
resultar
benef íc ios ,
de maneira alguma, para
humanidade.
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34 Maria Lacerda e Moura
A crueldade nunca pode r á ser um caminho
para o
ap e r f e i ço amen t o
humano.
A
ciência
não se adquire com a crueldade.
E muito menos a sabedoria, acima de qualquer es
pécie
de
violência.
A i n d a
mais: Si a
fisiologia
não pode adean-
tar sem in f l ig i r horriveis torturas aos animaes inde
fesos, é melhor que a
fisiologia
fique
onde
está.
A
humanidade pode progredir sem a fisio-
logia,
porem, não
pode r á
progredir sem a piedade.
Extirpar uma g l â n d u l a sexual do macaco, na
da representa para o homem, mas, extirpar um tes
t í cu lo do homem 6 algo de muito importante na
sua integridade . . .
Quanto á v iv isecção , o p r ó p r i o Claude Ber
nard, o experimentador primus inter pares , que
massacrou, brutalmente, a dois mil
cães
e que, sem
anestesia,
os matou lentamente, o b á rb a ro que, para
atender aos protestos da sua
v i z inhança ,
cortava,
antes
das
exper iências ,
as cordas vocaes dos
ani
maes, a f im de que não uivassem de dor, o p róp r io
Claude Bernard diz: A
vivisecção
é a
des locação
do organismo v ivo por meio de instrumentos e de
processos que lhe podem isolar diferentes partes.
Reduzida a si mesma, ela só teria alcance restrito,
Civilização — Tronco e Escravos
35
e poderia, em certos casos, induzir-nos a erros sobre
o verdadeiro papel dos ó rg ão s . Por essas reservas,
eu não nego a utilidade nem mesmo a
necessidade
absoluta da vivisecção no estudo dos f enómeno s da
vida, eu a declaro apenas insuficiente.
Com efeito, nossos instrumentos de vivisec
ção
são tão grosseiros e
nossos
sentidos, tão imper
feitos que só podemos atingir no organismo as par
tes grosseiras e complexas.
N ã o obstante, a mania da vivisecção é o or
gulho da
ciência
moderna, e as vacinas e soros se
mul t ip l i cam
para
g á u d i o
da
t e r ap êu t i c a
industria
lizada e para o ma r t í r i o dantesco das cobaias e dos
simios.
Cousa a mais natural do mundo o homo sa-
pins roubar do macaco o que seria incapaz de
lh e
dar, o que
d i f ic i lmente ,
excepcionalmente, seria
capaz
de dar ao p r ó p r i o semelhante.
E para que? Si o resultado não
passa
de su
ges t ão
ou se
l imi t a
á
abso rpção
mais ou menos
len
ta do hormonio da g l â n d u l a transplantada?
Resultado para 3 ou 4 annos, findos os
quaes,
outra
enxertia é
necessár ia
para novo rejuveneci
mento.
E a imprensa popular, o jornalismo industria-
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
20/119
36
Maria Lacerda
e
Moura
lizado a
encher-se
de termos prometedores,
re ju
venecimento , el ix i r da juventude , como si Ca-
gliostro
tivesse voltado e o seu espectro
redivivo
derramasse
por sobre os homens a cornucopia de
todos os sonhos alquimistas transformados na reali
dade p a l p á v e l
da
v o ro n o f i zação .
A l i á s ,
o sonho da mocidade prolongada vem
de muito distante.
O v i d i o , em as Metamorfoses , conta que, no
antigo
Egito,
era praticada a
t r a n s f u s ã o
de
sangue
nos velhos, pelos
sacerdotes,
para rejuvenece-los.
T a m b é m
os
sacerdotes
de
A p o l o
utilizavam-
se do
sangue
dos gladiadores e atletas — como te
r a p ê u t i c a religiosa para o rejuvenecimento.
Pl in io e Celso, por sua vez, recordam essas
praticas clinico-religiosas de homoterapia.
E m Roma, J a r ã o e Taraquila, a mulher de
Tarquinio
Prisco, são exemplos, dizem os cronistas,
do anseio da co n serv ação da juventude.
U m
medico hebreu praticou a
t r a n s f u s ã o
de
sangue
em o
Papa In o cên c io V I I I ,
no secuIoXV.
A
pedra
fi losofal
e o
el ixir
da longa
vida,
a
alquimia,
os J o s é B á l s a m o e os Zanoni já dão a
ideia
da
p r e o c u p a ç ã o
absorvente em torno da
eter
na mocidade.
ivilização
—
Tronco
e
Escravos
37
E
o Dr. Fausto só encontra a juventude
a t r a v é s
do pacto com
M e f i s t ó f e l e s . . .
Suetonio, Galeno, Bacon, Armaiangaud, es
tudavam ou recordavam receitas para o prolonga
mento da juventude.
O caldo da rã, usado pela mulher de Galvani,
a
a l i m e n t a ç ã o
de galinhas, por sua vez alimentadas
co m v íb o ras
(Arnaud de
Villeneuve,
sécu los
X I I I
e
X I V ) ,
o
f r igor i f ico
de Hunter (parece-me), pa
ra a
co n serv ação
da mocidade... as
considerações
de B u f f o n , descrente de todo e qualquer processo
de prolongamento da
vida,
os conceitos de Stad-
m an e de Weber, aceitando a ideia da longevidade,
tudo isso prova bem o
interesse
em torno das ten
tativas conducentes ao rejuvenecimento.
M e t c h e n i k o f f
tenta-o
t a m b é m ; a l i á s
os seus
processos
parecem bem mais lógicos.
Depois,
as
exper iências
concludentes de Bar-
t h o ld , em 1849 (enxertos, t r a n s p l a n t a ç ã o de go-
nadas
de frangos): primeiramente os enxertos e em
segundo lugar a ideia nova ou o novo conceito a
respeito das
secreções
internas.
B r o w n - S é q u a r t , em 1889, cuja teoria sexual da
velhice é a de
V o r o n o ff ,
que
t a m b é m
se apoia na
o b serv ação dos eunucos. Os trabalhos de B r o w n -
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
21/119
38
Maria Lacerda
e
Moura
S é q u a r t
teem o
mér i to i n co n tes t áv e l
de haver sido
experimentados no
p r ó p r i o
autor, o que se não ve
r i f i cou
ainda com V o r o n o f f . . . ; Harms, 1914, en
xertos de
g l â n d u l a s
de animaes jovens em animaes
velhos;
Steinach e a vaso-ligadura nos enxertos;
Lespinasse, 1913, e o
processo
da
t r a n s p l a n t a ç ã o
de
g l â n d u l a s
de homem
v ivo ;
Lydston, 1914, e a
t r a n s p l a n t a ç ã o de g l â n d u l a s de homem morto, lo
go
a p ó s
o
passamento,
conservado em
f r igor i f ico ;
Lydston
e a t r a n s p l a n t a ç ã o das g l â n d u l a s do ch im
p a n z é ,
em 1916, etc. etc.
A opoterapia de B r o w n - S é q u a r t ou extratos
de
ó rg ão s
dos animaes, ainda hoje tratamento
mu i
to
aconselhado pelos
méd ico s ,
é considerado por
V o r o n o f f e seus d i sc íp u lo s , como paliat ivo,
cousa
j á
do
passado.
( A' Conquista da
V i d a
—
V o r o
n o f f . )
D i z V o r o n o f f nesse l iv ro : A ap l i cação qua-
si
universal, do
m é t o d o
de
B r o w n - S é q u a r t ,
não deu
quanto se
esperava,
e, atualmente,
es tá
quasi aban
donado. A
razão es t á
em que a
t r i t u r a ç ã o
da
g l â n
dula não permite extrair todo o produto, e o
l iqui
do obtido é pobre em elementos ativos.
Esse l iqu ido , como todo extrato o r g â n i c o , al-
tera-se rapidamente, perde
suas
propriedades e fre-
ivilização — Tronco e Escravos 39
q u e n t e m e i í t e torna-se toxico. Desde e n t ã o , sua a ç ã o
s ó pode ser m o m e n t â n e a . .
Assim é que, em ciência medica, a u l t i m a teo
r ia
ou a
u l t i m a
descoberta
d es t ró e todas
as ante
riores . . . E, por
associação
de ideias, lembro-me
da quasi centena de c r i an ças mortas pelas vacinas
de Calmette, anti-tuberculosas.
Pobres
cobaias humanas. . .
V o r o n o f f d e s t r ó e t a m b é m a Metch en ik o f f
com
os
seus
fermentos
lácteos.
Nada
fica
de pé : só o enxerto do
simio,
só
V o r o n o f f descobriu o elixir da longa vida. E, como
t a l , V o r o n o f f ri-se dos antiviviseccionistas.
A i n d a
podemos citar muitos nomes e outras
tantas
exper iências . O p r ó p r i o V o r o n o f f , no l iv ro
indicado
diz:
Essa cirurgia do porv i r , é o enxerto de nos
sos
ó r g ã o s ,
de
nossos
tecidos, de nossas
g l â n d u l a s .
O
caminho
es t á t r açad o
por nomes de primeira
l i
nha: Carrel, Dartigues, Eiselberg,
H o r m , K n u d
Sand, Kuttner, Lespinasse, Lexner, Lydston, M a r
ro ,
Mauclair,
M o r i s ,
Parragon,
Pende,
Pezard,
Steinach, Thorek,
T u f f i e r ,
J.
V o r o n o f f ,
Walker,
Zavadowsky, etc.
M a s , condena o enxerto das g l â n d u l a s do se-
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
22/119
40
Maria Lacerda e Moura
melhante, por muitas r azões ; defende apaixonada
mente o enxerto das
g l â n d u l a s
do
simio.
Vo r o n o f f só
aparece
positivamente em 1922,
isto não o impede de afirmar e deixar que um dos
seus
colaboradores afirmasse que os cientistas ame
ricanos ensaiaram e mal os seus m é t o d o s de enxer
t ia nos grandes m am í f e r o s e no homem. Esses cien
tistas são, precisamente, Lespinasse e
Lydston
. . .
Todas essas pesquizas no d omín i o da a lqui-
m ia ou da cirurgia p a g ã ou da c iência propriamen
te dita, provam bem que V o r o n o f f nada descobriu,
nada ou
p o uqu í s s imo contribuiu
para o estudo das
secreções glandulares, nada fez de novo, nada
adeantou s en ão em vulgarizar a q u e s t ão , trazendo-a
para o d omín i o
publico
no sentido de
industrializar
assunto de l abo ra tó r io .
E o lado med í o c r e , o lado r id ícu lo de todas
as cousas puramente praticas e populares.
O
rejuvenecimento por
processos
c l ínicos
e
t e r apêu t i co s continua no mesmo plano da utopia
absoluta.
E m todas essas exper imen tações , o que predo
mina
nos homens a
elas
submettidos, mais que tu
do, é a s u g e s t ão , depois... o amor p róp r io .
ivilização - Tronco e Escravos 41
N e m um homem d i r á que a enxertia não deu
resultado...
E , em tudo isso, quem vae pagar caro é o ma
caco.
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
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E VORONOFF
DESCOBRIU O
M A C A C O . .
Muitos
são os
aspectos
do
problema
V o r o -
n o f f . D iz o cientista que é engano apreciar os re-
sultados das
in tervenções
apenas sob o ponto de
vista genésico , como se dá geralmente e que esse
resultado é o menos importante e
aparente.
Frisa
m u i principalmente
os
benef íc ios
do
rejuvenecimen-
to
geral
de
todas
as
fu n çõ es ,
e
com especialidade
das funções cerebraes — o que é contestado por
outros cientistas. E são conhecidas as i n ú meras
o p eraçõ es de V o r o n o f f e positivamente pouco di-
vulgados os resultados . . . e quando o são escon-
didos no anonimato como os a n ú n c i o s populares
das
p a n a c é a s
milagrosas. Quem
faz essa
o p eração
fica envergonhado
e se
esconde...
N ão sei
por-
que . . .
N ã o s e r á um rejuvenecimento geral tam-
bém aparente proporcional ás secreções das g l ân -
dulas
enxertadas á sua
i r r i g ação
ou
n u t r i ç ã o ,
e
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
24/119
44
Maria Lacerda e Moura
que se ex g o ta rá com a su b s t i t u i ção das c é lu l as , pa
ra
dar lugar a uma queda mais brusca, á
volta
ao
primeiro estado de d e c a d ê n c i a senil?
N ã o s e r á como o efeito de certos excitantes
m o m e n t â n e o s
que deixam o paciente, depois, mais
abatido, mais desanimado, mais exgotado?
U m a labareda que o p rópr io ind iv iduo se in
cumbe de
apagar,
atirando-se, confiado ou descon
fiado,
ao rumor confuso e louco da vida ficticia
de gozos e libertinagens e sensualismo sob todos os
aspectos
ou intensificando a
ansiedade
ambiciosa
de o p e raçõ es financeiras e politicas, na atividade
multiplicada
na
e s p e r a n ç a
de abarcar, de acumu
lar,
de aproveitar, de ambicionar, de experimentar
novos prazeres e criar novas necessidades?
D a í ,
a degenerecencia de toda a mocidade na
crapulagem — á
espera
do dia em que um enxerto
de
simio
os torne a todos, novamente
v ir i l izados,
como si a alma pudesse virilizar-se ao contacto de
algumas cé lu las de carne simiesca, como si a inte
l igência brotasse, num estalo, das g l â n d u l a s enxer
tadas.
Os f an á t i co s da v o ro n o f i zação geralmente são
os falidos moraes, os que nunca sentiram a p ró p r i a
alma
e nunca
tiveram
mentalidade: para
esses,
de
ivilização — Tronco e Escravos 45
que vale rejuvenecerem as funções
cerebraes,
si
nunca existiram s en ão na vulgaridade dos rebanhos
atordoados de i g n o r â n c i a e sensualismo e domesti-
cidade?
E
essa
gente, exgotada de vicios, de medio
cridade, de cupidez que a v o ro n o f i zação vae ser
v ir e atirar á atividade feroz do industrialismo mo
derno e do Jazz-band sensual.
E , de
passagem,
a idade a d o r á v e l para a voro
n o f i zação vae entre os 45 e os 50 annos.
U m a pergunta indiscreta nos salta da pena:
porque V o r o n o f f não se fez ainda voronofizar?
E m
todo
caso,
que
degenere
toda a humani
dade, si quizer, acabe com toda a espécie, na lou-
cura de rejuvenecer a c ad áv eres mumificados de
perversidades e baixezas e de l í r io de embriaguez
sensual, já que os homens e as mulheres consentem
e se prestam a tudo, na
ansiedade
de criar e gozar
gozos de v icio e de luxur ia , na a m b i ç ã o de se
c ivi l i -
zarem até o aniquilamento
total
das guerras
cienti-
ficas. Mas, que direito tem a c iência dos homens de
in terv i r
na
vida
natural dos animaes para indus
trializar
as suas f u n çõ es o rg ân ica s?
Toda
a
c iência ,
toda a atividade humana é
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
25/119
46
Maria Lacerda e Moura
logo
industrializada no charlatanismo do aprovei
tamento de tudo para a
c ivi l ização
capitalista.
V o r o n o f f e s t á a serviço do dinheiro e da im
becilidade
humana.
A o homem não basta domesticar os animaes
para deles se
u t i l i zar : cr iou ,
degenerou tipos,
ani
qui lou , perturbou evo luções , na cupidez de
tirar
partido
da sua atividade, do seu valor
n u t r i t i v o
e
do instinto de
r e p r o d u ç ã o .
F o i muito mais longe. Que fez o homem, do
c ã o ? Fe-Io á sua imagem e s e m e l h a n ç a : f ie l , servil,
covarde para com os
senhores
e parasitas ociosos,
para com os que lhe batem; atrevido, impertinente,
a u t o r i t á r i o ,
perverso, exigente, feroz para com os
fracos:
t r ô p e g o s , mendigos, maltrapilhos, criados
e b o émio s n ó mad es .
Agora, V o r o n o f f vae enxertar os animaes
para aumentar o rendimento
industrial
dos reba
nhos.
V o r o n o f f
representa bem uma
época.
V o r o n o f f é um simbolo.
E
a
c iência
charlatanizada pelo
industrialis
m o moderno, a c iência a serviço do bezerro de ouro,
a c iência do vampirismo humano exgotado de se-
nilidade
precoce a sugar as
g l â n d u l a s
dos animaes.
ivilização — Tronco e Escravos 47
Enquanto a
c ivi l ização
inventa
vicios
e mais
vicios
e se
intoxica
de imbecilidades e preconceitos
e sufoca as mais nobres asp i rações e os mais bellos
sentimentos e degenera os organismos humanos no
delir io de gozar, de a ç a m b a r c a r tudo, numa cupi-
dez carnal de canibaes
civilizados,
enquanto o pro
gresso
industrializa e degenera t a m b é m aos
ani
maes d o més t i co s , os animaes chamados selvagens
respeitam as leis naturaes,
vivem
a
vida
simples em
plena natureza, satisfazendo ás
necessidades
inst in-
tivas, conservando a vitalidade, sóbr ios , sadios, exu
berantes
de energia o rg ân ica .
E justo que o l ibert ino, o luét ico , o a lcoó la-
t ra ,
o cocainomano, o jogador, o farrista, os t i
gres
politicos
profissionaes e senis, banqueiros e
escroques
elegantes, altos f u n c io n ár io s , senadores e
magistrados, intelectuaes p ro s t i t u íd o s e domestica
dos, juizes das conciencias alheias. . . é justo que
toda essa massa humana de parasitas e exploradores
do rebanho social vá buscar, nas florestas, o
ani
m al pujante de seiva, de vida — em virtude da sua
sobriedade inst int iva — e o prenda em ambiente
i n co mp at ív e l
com a sua liberdade, com os seus há
bitos selvagens e o mutile — para rejuvenecer a
criaturas de si mesmas mutiladas pela vulgaridade
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48
Maria Lacerda e Moura
ociosa e parasitaria, pela imbecilidade quintessen-
ciada de
p re ju ízos
e rotina, pela baixeza e
servilis
m o, pelo autoritarismo, pelo orgulho da inconcien-
cia
de si
mesmos?
Sob outro
aspecto,
pondo de parte os
a d m i r á
veis
estudos
do n o t á v e l professor G. Moussu, a
p r o p ó s i t o
dos enxertos animaes, ("Revue de Zoo-
technie", n.° 2, fevereiro de 1928
F r a n ç a ) ,
cujo
r e l a tó r io em torno das exper iências de melhora
mento do gado
colonial
f r an cês ,
pelo enxerto tes-
ticular animal, é a d m i r á v e l , trabalho t eór ico e de
d e m o n s t r a ç ã o
pratica, de
biologia,
de
fisiologia,
trabalho de cientista e do dominio experimental;
pondo de parte a mesma ideia de enxertia de
ani
maes
da mesma
espécie,
nos trabalhos de Steinach,
notabilissimo,
— a v o ro n o f i zação , si não passa
ain
da de e x p e r i m e n t a ç ã o , muito longe do que se p ô d e
denominar rejuvenecimento, poderia ter alguma
r a z ã o e objetivo clinico acentuado — no caso de
desordens o rg ân icas
provindas dos
ovár ios .
A
enxertia de outros
ovár ios
femininos
v i rá ,
talvez, substituir a o p e r a ç ã o brutal da ex t i rp ação
ivilização
—
Tronco
e
Escravos
49
dos
ovár ios
da mulher, cujas
co n seq u ên c i as ,
todos
sabem,
d esas t ro s í s s imas ,
sob o ponto de vista
isio-
psicologico,
determinam co mp l i caçõ es taes que po
dem levar a mulher ao manicomio, quando não a
maltratam e á f amí l i a , até o fim de uma existência
penosíss ima.
O
enxerto ovariano poderia, talvez, restituir-
lhe,
pelo menos por mais algum tempo, a
sensação
de
s a ú d e ,
de bem
estar.
A l i á s ,
quando as mulheres forem mais respon
sáveis e
donas
do seu p r ó p r i o corpo, creio bem que
taes
ex t i rpações
ovarianas
s e r ão
mais raras.
Por ora, a mulher, inconciente,
e s t á
inteira
mente á
m e r c ê
da vontade dos homens, e, quantas
vezes
a o p e ração é feita sem mesmo que ela saiba
de que se trata
E
mais
fáci l ,
entretanto, prolongar a
v i ta l i
dade,
retardar a
sen i í idade
— do que voltar
a t r á s . . .
Acho r a z ã o na resposta á enquête á qual con
correram
os Drs.
L e i t ã o
da Cunha e Moncorvo,
por occasião da estadia sensacional de V o r o n o f f
no Bras i l : homens e mulheres lucrariam mais, cor-
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
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50
ri acerda de Moura
rigindo
os erros alimentares, metodizando o tra
balho,
fugindo dos vicios
sociaes.
Mas, quem
pôde
cogitar de cousas de si tão
complexas como
simplificar
a vida, por exemplo?
Para
a
sugestão
de um ponto de partida, quan
do tudo falhou e
ninguém
se sacrifica e todos exi-
gem o sacrificio de outros, em uma
época
de
deca
dência
de tudo e de um surto estupendo de progres
so material — era preciso surgisse um
Voronoff.
E V o r o n o f f
descobriu o macaco...
O PREMIO NOBEL
D A PAZ
O
premio Nobel na Paz, em 1928, coube ao
esportista belga,
barão
de Coubertin, presidente do
omité Olímpico
Internacional.
A
imprensa aplaude, incondicionalmente, o
grande alcance de vistas dessa escolha, salientan
do o fato de que a
única
e verdadeira finalidade do
esporte é a paz entre os povos.
Os fatos provam o contrario, mas, os discos
de gramofone repetem a musica de um preconceito
an t i qu í s s imo mascarado na hipocrisiade uma nova
a sp i r a ç ão
proclamada por palavras e não nos
gestos.
S i
de relance,
passamos
os olhos
pelas sec
ções
esportistas dos jornaes, só vemos o anuncio
comercial dos emp r e s á r i o s porque o esporte, co
mo
os concursos de beleza, é meio de
vida lucrati
vo
e glorioso. . .) sentimos as rivalidades, as bri-
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52
Maria
Lacerda
de Moura
gas, a mesquinharia das
compe t i ções ,
a
concor rên-
cia,
a
luta
sob todos os
aspectos.
O esportismo para o publico — ou é vaidade
e
exibição, gloria
ou
prof i s são ,
ou tudo ao mesmo
tempo...
No meio masculino, o esportismo é fa-
tor
de celebridade — para "vencer", para conquis
tar posição no "tablado" do box social, para a
emancipação económica
ou nacionalismo patrio-
teiro.
A í , como em toda parte, na vida social, para
subir — é preciso abaixar-se . . .
A
politica
esportista é
igual
a qualquer po l i -
tica:
a
luta,
a
concor rênc ia ,
a guerra.
Si asistimos a uma partida de "foot-ball", de
"box",
força de e x p r e s s ã o : eu não as vejo nun
ca . . . ) de qualquer esporte, os "torcedores" to
mam as suas posições de defesa agressiva, e, quan
tas vezes, a
policia
tem de
intervir
para aplicar a
ducha conveniente aos desatinos apaixonados das
multidões
exaltadas
E
as "poules", o jogo dentro do jogo, as
riva
lidades dos aplausos e a "claque" de cada partido?
O
esporte em sociedade é sempre versus
Os torcedores enrouquecem á
força
de estimular
aos seus "eleitos". Exercicio fisico? Higiene? E
ivilização
—
Tronco
de
Escravos
53
a
multidão
aglomerada respirando pó e suor, a cus
pir e a gritar por cima das cabeças febris? Absurdo
denominar a isso —
educação fisica
E
entre gente da mesma cidade, do mesmo
bairro já se acentuam as rivalidades.
Si o jogo é entre cariocas e paulistas? Não é
preciso comentários em torno dessas "partidas"
emocionaes,
sensacionaes.
E
si formos mais longe? Uma partida entre
brasileiros
e argentinos?
A diplomacia
secreta,
esportista e governa
mental, tem de
intervir
para evitar
conflitos
inter-
nacionaes.
Ha
pouco, tivemos ocasião de falar das
o l i m p í a d a s , em que estudantes italianos fascistas
esmurraram a
estudantes
franceses. E até
citámos
uma pagina de I I Piccolo", quando transcreveu o
discurso de Ponn. Augusto Turati, no qual elogia
va,
comovidamente, ao
moço italiano,
o
heróe des
sas
façanhas
esportistas, em
razão
dos
seus
"pu
nhos firmes" em terras extrangeiras.
Uma
medalha de ouro foi cunhada expressa
mente para essa bravata o l ímp ica , e colocada ao
peito
do
joven
fascista, "orgulho da
r a ç a ,
fi lho
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54
Maria Lacerda de Moura
de Roma, f i lho da "Loba" — cé reb ro e c o r a ç ã o do
mundo" . . .
Piccolo" o transcreveu com a seguinte no
ta muito
significativa:
"Lo riproduciamo d'urgen-
za" . . . e o t i t u l o : "Farsi rispettare "
Vale
a pena transcrever
esse
trecho do dis
curso de Ponn. T u r a t i , Secretario do Partido Na
cional
Fascista, nessa
o cas i ão ,
em regosijo pela
"d ú p l i ce v i t t o r i a" dos
estudantes
fascistas: o soco
do italiano no rosto do f rancês .
"Bravos
a vós que vencestes, entre os estu
dantes
de todo o mundo, a co mp et i ção o l ímp ica ,
mas, t a m b é m , para premiar as vossas virtudes, não
somente de saltadores e corredores, como as de
"boxeurs" em terras de F r a n ç a .
(Aplausos, bravos, muito bem )
"Esse esporte não fora compreendido no pro
grama das o l imp íad as u n iv er s i t á r i a s , mas, as
cir-
cunstancias, a incompreensão a pouca educação
cívica
(muito bem
bravos aplausos)
da parte de
u m publico que assistia ás vossas compet ições ,
transformou-vos
imediatamente e vos levou a com
bater
essa
bela batalha, não mais esportiva, mas,
p o l i t i ca . (Mu i to bem aplausos.)
"Camaradas estudantes Nós vos queremos,
Civilização — Tronco de Escravos
55
porque
representaes
entre a mocidade italiana, a
nova
g e r a ç ã o ,
a parte eleita, a parte seleta. Mas,
amamo-vos porque sois a
expressão v iva
e melhor
deste
nosso
espirito e
desta nossa
p a ix ão . Si, cur
vados sobre os l ivros, cultos demais para serdes
belos e vivos; si fosseis somente criaturas de estu
do, educados a afrontar a vida na dura contenda
quotidiana
pela conquista de um posto, nós vos
co n s id e ra r í amo s , sim, filhos da I t á l i a ; mas, não po
d e r í a m o s amar-vos.
Amamo-vos
porque fostes venturosos, alegre
mente, com o vosso belo faseio recamado sobre o
peito,
a afirmar que a I t á l i a de hoje es tá com os
punhos e com o
c o r a ç ã o
firmes."
( " A c l a m a ç õ e s
v iv í s s imas" ( " I I Piccolo" — 1 de Setembro de
1928.)
Parece
impossível
A simplicidade clovnesca dos fascistas o con-
fesa. As outras n açõ es guardam reservas . . .
M a s ,
no fim,
es tá
conforme.
O
esporte é o preparo para as guerras. E a
I t á l i a fascista, cuja poli t ica imperialista de expan
são ter r i to r ia l é uma a m e a ç a e uma p r o v o c a ç ã o , or
ganizou
mesmo um quasi min is tér io de compet ições
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30/119
56
Maria Lacerda de oura
at lé t icas e até as mulheres se rão aproveitadas na
p r ó x i m a
guerra.
O
desenvolvimento das
forças f ísicas,
dos pu
nhos firmes, sem o
necessár io equilibrio
interior
para controlar o despertar dos instintos
bestiaes
de
luta,
do troglodita — é o maior dos crimes pra
ticados atualmente pelas sociedades.
A
G r é c i a
morreu quando cresceu a
força
e o
prestigio
dos lutadores, gladiadores e pugilistas.
P l a t ã o
já protestava: a
e d u c a ç ã o
fisica
e a
mental
devem caminhar paralelamente, como dois
cavalos atrelados ao mesmo carro.
M a s ,
as
sociedades
modernas fazem, do es
porte,
p ro f i s são
rendosa e
posição
social, e — o
preparo para as guerras.
E
n i n g u é m
melhor do que os profisionaes es
portistas para conhecer os bastidores da sua con
co r rên c i a
vaidosa e comercial,
p a t r i ó t i ca
e aventu
reira, chantagista e viciosa.
N i n g u é m
me
co n v en cerá
de que o box tem
por
objetivo a paz.
N i n g u é m c o n s e g u i r á
convencer-me de que se
querem
mu i t í s s imo
e de que são pacifistas dois con
tendores a se esmurrarem, mutuamente e estupi
damente, por dinheiro, e, mui principalmente, si
ivilização
— Tronco de
Escravos
57
u m é f rancês e o outro é a l e m ã o ; si um é italiano e
o outro,
f r an cês ;
si um é
j a p o n ê s
e o outro, ameri
cano do norte; si um é De Carolis e o outro, um
jornalista
de O Combate . . . por
ocasião
do ca
so I I Piccolo .
N i n g u é m
me
co n v en cerá
de que as
o l imp ía -
das fizeram a a p r o x i m a ç ã o entre a I t á l i a de Mus
solini
e a
F r a n ç a .
A
medalha fascista de premio ao soco do es
tudante italiano no rosto do
estudante
f r an cês é
uma prova i r r e fu t áv e l de que os jogos o l ímpicos , o
atletismo
teem por objetivo a paz internacional. . .
Entre nós, o incidente do E s p é r i a , em São
Paulo, é de
lógica
de aço.
Os jornaes da Capital paulista trataram larga
mente do assunto, em um protesto veemente con
tra a in v asão turbulenta do fascismo no Brasil, tra
zendo a
d i scó rd i a
e o odio para o seio da
famíl ia
italo-brasileira.
Reproduzo o c o m e n t á r i o de O Estado de
S ã o
Paulo do dia 25 de Dezembro de 1928, em
uma das
secções
esportistas:
8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf
31/119
58
Maria Lacerda de Moura
Um Incidente.
" U m incidente d e s a g r a d á v e l veio perturbar
o entusiasmo
dos espectadores,
logo
á
chegada
de
M a r t i n i
e
Weygand.
Quando
o primeiro foi
retirado
da
agua,
um
dos
assistentes, não
medindo, talvez,
o
alcance
de
suas
palavras, disse:
—
"Chegou
f r o u x o .
. ."
F o i
o
bastante para
ser
agredido
por
sócios
do
" E s p é r i a " , e,
entre
elíes,
alguns
que
eram
j u i -
zes
da
prova
e
membros
da
F e d e r a ç ã o
Enquanto algumas pessoas procuravam acal
mar
os
exaltados, M a r t i n i ,
que se
reanimara,
e,
sendo carregado
em
t r i u n fo , g r i t o u :
—
" V i v a
Roma "
—gr i to que
causou
má imp ressão no pu
blico, pelo
que, uma
senhora não
se
conteve,
e, em
protesto,
g r i t o u : — " V i v a
Roma, não
" V i v a o
" E s p é r i a " ,
e
v iv a M a r t i n i , isto
sim
N ã o
se
saiu
bem,
entretanto,
com esse seu
gesto
de
revolta,
sendo
agredida
o que
ainda agra
vou a s i t u ação .
Os fatos teriam co n seq u ên c i as g rav í s s imas
si
n ã o houvesse a i n t e rv en ção
decidida
de
outras
pes
soas
que se
achavam presentes. Mas, mesmo assim,
Civilização — Tronco de Escravos
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o " r o l o " continuou, tomando parte nele vár ios só
cios
do
" E s p é r i a " .
E m frente
ao
g a l p ã o
das
barcas, outro rapaz
fo i t a m b é m
agredido
por um sócio do
mesmo
Club.
Esses fatos
nos
fazem
pensar o
seguinte
a
respeito
da
i n t e n ç ã o
com que
aquele Club tomou
parte
na
prova:
Disputava-se
uma
prova esportiva
ou era a
supremacia
de uma
cidade
que se
tratava
de
afir-
mar?
E ra um valor esportivo a demonstrar ou uma
exibição
de
força
de
determinada corrente
de po
l i t ica
extrangeira
em
São Paulo?
Estas perguntas
es t ão
plenamente justificadas
por provas robustas.
E' a
segunda
vez que tal
fato
se verifica em uma c o m p e t i ç ã o esportiva em São
Paulo.
E m um dos
encontros entre
o
"Palestra"
e o
"Corintians",
já
tivemos
ocasião
de
noticiar
que
esses
Clubs,
no
Parque São Jorge, antes
de
inicia-
re m o
jogo
dos
quadros principaes, postaram-se
á
frente
da
tribuna em
que se
achava um C ô n s u l
(1)
aqui acreditado, e, estendendo os b raço s , fizeram
1) Mazzolini c ô n s u l fascista italiano
em
São Paulo.
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Maria Lacerda
de
Moura
uma
s a u d a ç ã o
bem caracterizadamente
poli t ica,
confirmando-a com os seus termos adequados.
O r a , tudo isso seria muito grave, si, primeira
mente, não
fosse
de um
r id ícu lo
clovnesco.
Assim termina o c o m e n t á r i o de O Estado .
Muitissimo
grave, sim.
M u s s o l i ni , T u r a t i
e
Cia .
são clovnescos, não ha duvida, nunca
n i n g u é m
duvidou disso, mas,
essa
pantomina, por demais
longa
e macabra,
a m e a ç a
estrang