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    A F F O N S O

      D E  C A R V A L H O

    1 BATERIA,  F0GO -

    A  mais empolgante  narrativa  da

      R e v o l u ç ã o

      de 1930,

    com a

      critica

      imparcial, corajosa e serena da

      a c ç ã o

    dos vencedores e vencidos, dos factores  p o l í t i c o s  e

    militares,

      e das causas recentes e remotas que im-

    pelliram

      o Exercito a decidir da victoria da corrente

    liberal.

    O  autor, official do  nosso  Exercito e jornalista

    observador e culto, offerece nestas paginas, revesti

    das do fulgor do seu estyla impressionista, a contri

    b u i ç ã o n e c e s s á r i a  das classes armadas á historia da

    R e v o l u ç ã o .

    L i v r o  de  i m p r e s s õ e s ,  colhidas no momento de lucta,

    reflecte a grandiosidade e o

      í m p e t o

      enthusiasta do

    povo

      e dos soldados, que realizaram, num  a v a n ç o

    i r r e p r i m í v e l ,  a

      e p o p é a

      salvadora da Republica.

    Brochado

      . ÍSOOÍ)

    E M   T O D A S

      AS

      L I V R A R I A S

      E N A

      1

    O V L Z Ç O  B R A S I L E I R A  E D I T O R A

    Un a  I.nvradlo, 10»

    Telrph.

      2-C773

    Rio

      th

    Janeiro

    T y p .  Cupolo

     

    I,nd. Snnta  F . p h l K O n l a ,  21 — S. Paul

    MARIA

    .IACECDA

    de MOURA

    iVifiZCKDCIC

    ecscincos

    V I G I A  A TUA  VIDA  E NÃO

      RENUNCIES

    POR  NADA AO T EU I IVRE

      A R B Í T R I O ;

      NA<

    I M I T E S  A

      E S S E S

      MAUS

      COMEDIANTES

    Q U E   SÓ  PODEM  CANTAR EM

      C O R O .

    E P I C T E T Q

    i th

    llun

      l.nvrndlo.

      IflO

    Win

      «V .Tan

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    M a r i a L a c e r d a d e M o u r a

    NTONIO C RLOS

    C i v i l i z a ç ã o

    Tronco  de

      scravos

    EMPRESTAR É UM PRAZER

    E V O L V E R É U M DEVER

    O

      homem

      mais

      fo r l e do

      mundo

      ê

      o

      mais

    s o l i t á r i o .

    IBSEN

    NTON O

      C RLOS

    C A I X A   P O S T A L  55071

    C E P

     0396 > 970

    S Ã O P A U L O / S P

    C I V I L I Z A Ç Ã O   B R A S I L E I R A   E D I T O R A

    R u a L a v r a d i o 1 60 1 9 3 1 R i o d e  Janeiro

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    DA

      A U T O R A

    E m

      torno

      da

      Educação 

    1918

     

    exgotado.

    Renovação  1919 

    exgotado.

    A

      Fraternidade e a Escola

     

    1922

     

    exgotado

      (con

    ferencia).

    A  Mulher moderna e o seu papel na  sociedade  actual

    e na  formação  da  civilização  futura

     

    1923

     

    ex

    gotado  (conferencia).

    «A  Mulher é uma Degenerada

     

    1924

     

    exgotado

      —

    1.»  e d i ç ã o ) .

    A  Mulher é uma Degenerada  1925 

    exgotado

      —

    (2.*  e d i ç ã o ) .

    L a

      Mujer es una degenerada?  1925  Edição  de Bue-

    nos-Aires. não revista pela autora.

    Lições

      de

      Pedagogia

      —

      (volume

      1.°) — 1925

     

    ex

    gotado.

    Religião  do Amor e da Belle/a  192G 

    exgotado

      —

    (1.*  e d i ç ã o ) .

    Religião  do Amor e da Belleza  1929 — (2.

    a  e d i ç ã o ) .

    De Amundsen a Del Prete  1928.

    Clero  e Estado

     

    1931.

    NO  P R E L O :

    Fo r a

      da Lei.

    Clero  e Fascismo.

    A  SAÍR:

    Han  Ryner e o Amor  P l u r a l .

    EM

      P R E P A R O :

    O

      Individualismo

      nco-estoico

      de Han Ryner.

    Gue r r a

      á

      G u e r r a

    Psicologia  Pedagógica  — (1. e 2. volumes  de  Lições

    de  Pedagogia).

    Problema humano: A  questão  sexual.

    Krishnamurti,

      Mahâtmâ

      Gandhi c Han Ryner.

    O  problema do Amor —  visto  pela mulher: George Sand,

    Isadora

      Duncan, Alexandra Kollontai e Federica

    Montseny.

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      Vigia  tu vid e não renuncies

    por  n d o teu  livre arbítrio;  não imites

    a  esses  m us  comedi ntes que só

      podem

    c nt r em  coro .

    Epicteto

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    A

      C IÊNC I A  SERVIÇO  D A

    DEGENERECENCIA  H U M A N A

    A   humanidade considerada na  espécie con

    serva a mentalidade  rotineira atrasada empí r i ca

    de todos os tempos de todos os rebanhos.  Ainda

    mais:

      a civilização  sufoca o  instinto  animal de de

    fesa.

    A

      evolução

      é

      individual

    e o conservantismo

    das

      massas

      é  assegurado  pela  influencia  ancestral

    fossilizada  no subconciente

      coletivo

      e pela educa

    ção

    domesticadora até o  servilismo.

    Mas si o rebanho humano é sempre o mesmo

    faminto  de pão e divertimentos guerras ou

      circo

    politica

      ou cinema sedento de prazeres brutaes e

    de gargalhadas

      sensuaes essa

      vaga imensa ondu

    lando

      ao sabor de um Alexandre um  mílcar  Bar-

    Cftj

      um

      An í b a l

    um Xerxes um

      Cesar Na p o l e ã o

    Mussolini Papa

    Dempsey Tunney um Chico

    I3oia

    um  Rodolfo Valentino — em  compensação

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    10

    Mtria Lacerda

      e

      Moura

    a

      ciência

      progrediu tanto que deu origem a

      fan

    t ás t i co desequi l íbr io

      na  vida  social, posta imedia

    tamente a

      serviço

     das perversidades

      i n o m i n á v e i s ,

     de

    toda a imbecilidade humana.

    Descobertas,

      inves t igações ,

      os

      m é t o d o s

      cien

    t í f i cos

      atestam o

      es f o r ço

      da

      elite

      intelectual. Por

    outro  lado, cientistas se vendem cinicamente ao

    poder, ao capital, á vaidade das

      exibições.

    E  o capitalismo industrializado se apodera de

    todo  esse

      afan

      cient i f ico,

      mesmo ainda em em

    b r i ã o , de maneira que canaliza as energias  humanas

    em

      uma

      d i r eção ún i ca

      — a  luta  de

      compe t i ções ,

      a

    c o n c o r r ê n c i a e c o n ó m i c a ,

      o

      assalto

      ás

      pos ições

      já

    ocupadas, o nacionalismo e, consequentemente, as

    guerras.

    Todo  o

      g é n e r o

      humano

      vive

      para a

      cumpl i

    cidade

      brutal

     da

      p r o s t i t u i ç ã o

      sob todos os

     aspectos,

    pois que a

      o r g a n i z a ç ã o

      social capitalista não passa

    de um vasto bordel em que se compram e vendem

    todos os sentimentos e as mais nobres

      asp i r ações ,

    o

      Amor

      e a Conciencia, as mais altas manifesta-

    ções

      da

      V i d a

      humana.

    E  toda a humanidade, em tempo de paz como

    em

      tempo de guerra,

      vive,

      trabalha,

      luta

     pela cum-

      ivilização —  Tronco  e  Escravos

    11

    plicidade  que leva os humanos a se

      e s t r a ç a l h a r e m

    ferozmente nos campos de batalha.

    E ,

      enquanto nas Igrejas se prega o

      A m a i -

    vos uns aos outros , e se lembra o Não

      m a t a r á s ,

    sacerdotes

     patriotas

      a b e n ç o a m

      a

      av i ões , cour açados

    e bandeiras, na

      F r a n ç a

     contra a Alemanha, na

      A l e

    manha contra a

      F r a n ç a ,

      na

      I t á l i a ,

      na

      B é l g i ca

      ou na

    Á u s t r i a ,

      em nome do mesmo

      Jeová t e r r í ve l ,

     em no

    me do Deus

      s a n g u i n á r i o

      de todos os

      exérc i tos ,

      das

    p á t r i a s

      exclusivistas e do chauvinismo

      cr i s tão .

    D á - s e

      ainda um

      f e n ó m e n o

      digno de nota: os

    p r ó p r i o s

      cientistas não se subtraem á

      influencia

    das

      massas.

      Enquanto nos  seus gabinetes, em meio

    de retortas e maquinas, experimentam, pesquizam,

    atordoam-se na

      i n q u i e t a ç ã o

      absorvente de resolver

    problemas ou aproximar-se de determinada verda

    de, são

     a d m i r á v e is ,

      superiores,  grandes  na sua per

    seve r ança ;

      logo que atingem a uma pequenina rea

    l i zação

      e veem para o

      c e n á r i o

      social aplicar o re

    sultado das  suas

      e x p e r i m e n t a ç õ e s ,

      caem no

      nivel

    (UM  massas,  descem á vulgaridade do dogma, á

    mediocridade

      domesticada,

      servil

      e perversa das

    Pátrias

      e dos partidos.

    Acorda-se o nacionalista, o religioso a

      serviço

    da

      supe r s t i ção

      e da

      i g n o r â n c i a ,

      o

      c i d a d ã o

      a

      servi-

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    12

    Maria Lacerda  de  Moura

    ço  dos governos e das bandeiras contra outros go

    vernos outros  c id ad ão s  e outras bandeiras.

    E

      toda a sua  ciência  se prostra aos pés do ca

    p i t a l  e da industria.

    O esforço  superior do homem  livre  é detur

    pado é  prostituido.

    Todas as descobertas sem

      exceção

      alguma

    todas as pesquizas da  ciência  são a ç a m b a r c a da s  pe

    los

      interesses

      industriaes e para as conquistas da

    guerra consequentemente.

    A

      av i ação  é instrumento nacionalista e as fa

    ç a n h a s  aviatorias ainda que um Amundsen um

    Charcot um Nansen delas se

      sirvam

      para desco

    brimentos  cien t í f icos ,  são manejos da embriaguez

    p a t r i ó t i c a  ou da maroteira  poli t ica  — para  açu la r

    os  c i d a d ã o s á defesa  sagrada  da  pát r ia g lor io -

    sa. . . E até as palavras teem o seu prestigio no

    despertar das  emoções  ou das  p a ix õ es  capazes  de

    acordar o sentimento do

     dever

      nacional

    O   vapor a eletricidade o  radio tudo absolu

    tamente tudo tem o seu papel preponderante na

    d es t ru i ção

      pela guerra — em nome do

      M o l o c

      da

    p á t r i a .

    M a s ,  quem move os  cordéis  da diplomacia e

    do

      Estado são os banqueiros os famosos indus-

      ivilização  —  Tronco  de  Escravos

    13

    triaes de  av iões ,  submarinos c o u r a ç a d o s ,  torpedos

    e metralhadoras — todos

     esses

     canibaes que se nu

    trem  dos campos de batalha.

    E  o rebanho humano continua a defender e

    a respeitar p a t r i ó t i c a  e religiosamente a todos os

    interesses

      legislativos e nacionalistas a toda auto

    ridade  c o n s t i t u í d a  para afiar o cutelo que ha de

    cortar piedosamente o

      pescoço

      e

      abrir

      o ventre

    dos que vão entoando hinos alimentar a boca

    escancarada

      dos  c a n h õ e s ,  das maquinas de guerra

    que recebem e  t r i t u ram  a carne humana e a trans

    formam  em moeda corrente com que os grandes

    industriaes e os

      pol í t icos ,

      seus

     cú mp l i ces ,

     compram

    o poder a

      g lor ia

      e as

      cor tezãs .

    A t é  mesmo a bondade imensa de Mme. Curie

    está  trabalhando para a  d e s t r u i ç ã o  do  g é n e r o  hu

    mano.

    Santos Dumont

      o

      sente

    profundamente arre

    pendido de haver  c o n t r i b u í d o  para a  carnificina

    gloriosa  dos  mi lh õ es  de  vitimas  da ferocidade  civi-

    lizadora  iniciada  em 1914.

    O c in emató g ra fo cu l t i v a  a imbecilidade o

    preconceito da  força  bruta o prejuizo patriota

    a  su p er s t i ção  religiosa a  moral  farisaica da socie

    dade  fi l istéa,

      o mundanismo parasita todas as to-

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    Maria

      acerda de  Moura

    lices  seculares  e todos os crimes de lesa-felicidade

    humana.

    Rara a

      pel ícu la

      de

      tese

      social elevada. Tão

    rara que a  ass i s tência no seu conjunto a repudia...

    Descoberta

      fel iz

    sonhada talvez para a es

    cola  moderna para o

      cultivo

      da  in te l igência caiu

    imediatamente nas malhas do industrialismo absor

    vente e foi colocada ao sabor e ao alcance das mas

    sas em vez de servir para elevar a mentalidade

    humana ao  n iv e l  do ideal cientifico  puro e das as

    p i raçõ es  de  r e n o v a ç ã o  social pela  ed u cação .

    M a s

    ha tanta

      i m p u d ê n c i a

      e tanta cupidez na

    civi l ização

      de industria que um

      f i l m

      como o do

     l i

    v ro

      de Remarque consegue

      atravessar

      as malhas da

    r e a ç ã o  burguesa.

    D á

      que

      pensar:

      a

      c iv i l ização

      do

      dollar  será

    engulida por si mesma m o r r e r á  de apoplexia.

    O

      que se

      verifica

      com o

      c i n e m a t ó g r a fo

      a

     ser

    viço

      da imbecilidade e da

      i g n o rân c i a

      sentimentalis

    t a d á - se t am b ém

      com o radio.

    J á  a radiotelefonia é instrumento da

      policia

    e uma agencia de

      a n ú n c i o s

      de todas as drogas que

    envenenam a humanidade inclusive a droga  l i te

    r á r i a a c a d é m i c a a droga historico-patriotica a

    droga das

      caravanas

     politicas e a droga dos encon-

      ivilização  —

      Tronco

      de  Escravos  15

    tros de pugilato e dos concursos comerciaes de

    beleza.

    Santos

      Dumont Edison

    Marconi

    Mme.

    Curie  — instrumentos do progresso material para

    a conquista do poder do dinheiro para o alarga

    mento das fronteiras nacionaes contra outros ca

    p i t ãe s

    outras bandeiras e outros nacionalismos.

    Marconi

      já vendeu a  p r ó p r i a  conciencia:

    fascista m a r q u ê s senador presidente nomeado da

    Academia de Letras italianas . . .

    Cada descoberta

      cientifica

      é nova fonte de

    conflitos

      internacionaes tudo concorrendo para

    liquidar

      mais

      depressa

      o

      g é n e r o

      humano.

    Neste momento todos os grandes

      l ab o ra tó r io s

    q u ímico s es t ão  ocupados no fabrico de

      gazes

     sem

    pre e cada vez mais  tóxicos para a  p r ó x i m a  guerra.

    Sabe-se  mesmo que

      s e r á t a m b é m

      aproveitado

    o trabalho dos cientistas ocupados hoje em

     cultivar

    e exasperar a

      v i ru lência

      dos

      mic ró b io s

      das mais

    terriveis  molés t ias .

    A t é mesmo o mundo p r o l e t á r i o embora o pro

    testo contra a

      civi l ização

      burguesa-capitalista cava

    a degenerecencia da  espécie  e coopera para

      essa

    luta  dantesta ora

      imprimindo

      as imbecilidades es

    critas pela burguesia

      a c a d é m i c a p a t r i ó ti c a

      e mun-

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    16

    Maria Lacerda  e  Moura

    dana, ora fabricando

      m u n i ç õ e s

      e armas de guerra,

    mesmo porque todas as conquistas do progresso

    material  constituem armas de guerra para o  sus

    t e n t á c u l o  do  dominio  de uns e do servilismo e do-

    mesticidade da maioria.

    Seria bem  p refer ível  que o  o p e r á r i o  amputas

    se ambas as  m ã o s  si se resolve a trabalhar em arse-

    naes  de guerra, de hidroplanos e metralhadoras,

    c o u r a ç a d o s  e torpedos. Deveria ter vergonha de si

    mesmo ao

      reivindicar

      os

      seus

     direitos á liberdade,

    a p ó s  8 ou mais horas de trabalho em estaleiros de

    navios de guerra ou em um arsenal de idiotices

    perversas ou de brigas de comadres, como, por

    exemplo,  as  r ed açõ es  das imprensas oficiaes.

    D e  qualquer modo, dentro da  c iv i l ização ,  to

    dos nós concorremos para o canibalismo

      p a t r i ó t i co

    das trincheiras e das pilhagens  militares.

    Entretanto, o trabalho intelectual não exclue

    o trabalho manual e vice-versa; pelo contrario, a

    harmonia  de todo o ser vem da energia  fisica  em

    a ç ã o  e do prazer de

      pensar

      e agir e criar mental

    mente.

    O único  homem que não contribue direta-

    mente para a guerra, para a

      d e s t r u i ç ã o ,

      para a

    ivilização —  Tronco  e  Escravos  17

    fome,

      para a

      peste,

      para a  miséria fisica  e  moral

    é

      o pequeno agricultor.

    N ã o

      o

      capataz

      que

      d ir ige,

      governa e explora,

    de rebenque em punho, que humilha o semelhante,

    enriquecendo-se á custa do suor alheio, mas, o hu

    milde

     lavrador que cava a terra e semeia a

      n u t r i ção ,

    a  vida,  a

      f o rça ,

      a alegria da fartura e da

      fecundi

    dade

      sadia, porem, que não contribue para a ri

    queza social, o que não exige o  i n t e rmed iá r io  para

    as  suas

      t r an saçõ es

      comerciaes.

    A

      volta

      ao trabalho rude da terra

      s e r á .

      por

    tanto,

      a conciencia tranquila, para  a l ém   de toda

    cumplicidade  com a  o r g a n i z a ç ã o  social,  baseada

    na

      ex p lo ração

      do homem pelo homem?

    N e m  sempre.  Parece-me  que ainda não.

    E justamente na  p r o d u ç ã o  da terra e mesmo

    na propriedade da terra em si, que se  a l icerça  todo

    o  fo rmidável ed i f ic io  da  ex p lo ração  social.

    S i n i n g u é m  plantasse  s en ão  o estrictamente

    necessár io  para si e para os  seus  f i lhos  menores,

    para os velhos e para as  m ã e s  e as  c r i an ças  e os

    invál idos

      da sua

      f amí l ia ,

      ao mesmo tempo

      p ra t i -

    cando o  auxil io  mutuo, — não se  formariam

    trusts de  c a f é ,  de  a ç ú c a r ,  de  a l g o d ã o ,  de arroz,

    de

      t r igo ,

      de mate, de todos os

      g én ero s

      de

      primeira

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    10/119

    18

    Maria Lacerda

      e

      Moura

    necessidade

    para fortuna dos reis da agricultura

    industrializada  — que não plantam e se enrique

    cem á custa do suor dos que plantam.

    D a í

      a concurrencia aberta para as lutas co-

    merciaes de  c o m p e t i ç ã o ,  origem das guerras mo

    dernas.

    E

    o

      excesso

      da

      p r o d u ç ã o ,

      sob todos os

      aspe

    ctos na lavoura como nas industrias

    causa

      de to

    dos os conflitos na sociedade atual. O

      nosso

      mal

    n ã o

      vem da

      falta

      e sim do

      excesso

     de

      p r o d u ç ã o .

      A

    misér i a  do mundo moderno ainda vem da fartura

    e do

     excesso

     de riqueza e de progresso material. Da

    má d i s t r i b u i ção  dos  g é n e r o s   alimenticios. Por ora

    a terra daria bem para a sua  p o p u l a ç ã o .

    E  o

      o p e r á r i o

      verdadeiramente conciente ope

    r á r io

      manual ou cientista manipulando o

      pensa

    mento no fundo das retortas ou nos  cá lcu los   e

    problemas á procura das leis

      naturaes

    em

      busca

    da

      r a z ã o

      de ser da

      vida

      — não fabrica

      armas

      para

    abrir

      o ventre dos

      seus  p rópr ios f i lhos

      em

      holo

    causto no altar da

      p á t r i a ,  esse  i d olo san g u in á r io

      de

    fauces  escancaradas  a absorver as energias de to

    dos os

     assalariados

      do trabalho.

    S i  houvesse  verdadeira  c o m p r e e n s ã o   do dever

    humano os

      indivíduos l ivres,

      homens e mulheres

    ivilização —  Tronco  e  Escravos

    19

    concientes se recusariam a pactuar com

      essa

      c ivi-

    l ização

      de vampirismo social

    voltariam

      ao traba

    lh o

      duro da terra á  vida  simples e natural porem

    cheia de  co mp en saçõ es ,   de liberdade para deixar

    sentir a alegria da conciencia que não

     desce

     á cum

    plicidade  de lutar em favor do esmagamento de

    toda a humanidade.

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    11/119

    VORONOFF

    Em  meio dessa embriaguez de gozos materiaes,

    desse  del ír io

      de progresso sensual, surge o

      elixir

      da

    longa  vida,  com  Vo rono f f .

    A  velhice é uma caricatura da  i n fânc i a é a

    meninice

      sem a  g r a ça a ingenuidade, a beleza, a

    candura, a  s edução  da  puer íc ia .

    A

      velhice é a idade da avareza, das preferen-

    cias apaixonadas, da sordidez, do  ego í smo das ex-

    per iências  adquiridas, da glutoneria, da  falta  de

    higiene,  das

      des i lusões

    das ideias fossilizadas.

    A té  aos 30  annos podemos receber  impressões

    novas, aceitamos ideias, mesmo quando venham

    derrubar o

      edif ício

      calcificado da

      h e r an ça

      ancestral,

    ainda que para voltarmos, mais tarde, ao ponto de

    partida...

    Depois,  atravessamos o  p e r í o do  da  r umin ação

    e aí ficamos algum tempo, ou nos conservamos,

    por  toda a  existência as almas ruminantes de

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    12/119

    22

    Maria

      acerda

      de  Moura

    que

      fala

      Romain

     Rolland,

      voltando aos

      p r e ju í zos

    aos preconceitos inculcados na adolecencia, pela

    educação

     e pelo exemplo.

    As  grandes  conversões  ou as  conversões  dos

    livres-pensadores de rebanho, são fatos de todos os

    dias.

    A  fraqueza de memoria, a perda da acuidade

    sensorial, a

      imaginação

      cheia de fantasias

      absurdas

    e muitas

      vezes

     até perversas, a  amb i ç ã o fazem da

    velhice quiçá  o pesadelo dos que velam por ela.

    Sob outro aspecto, o velho,

      nesta  época

      po

    sitiva

      de cupidez, quasi sempre é um estorvo: a

    herança  depende

      da morte dos velhos...

    O

      velho, si não sabe

      ficar

     na moldura, na ex

    pressão

      de

      Emile

      Faguet, é um

      desastre,

      motivo

    de

      discórdias

      em toda a  familia,

      motivo

      de con

    fl i tos

      de toda ordem.

    E  que de  r i d í cu lo além  da fatalidade com

    que a

      própria

      natureza satiriza a decrepitude

    O

      ideal é morrer no

      vigor

      das faculdades e

    dos sentidos, ou, pelo menos, ao

      atravessar

      o Cabo

    da Bôa

      E s p e r a n ç a

    no outono  iluminado  da  vida,

    antes

     de entrar no das tormentas . . . e das

      imbeci

    lidades da caduquice, arremedo caricatural da in

    genuidade

      i n f an t i l .

    iviliz ção —

      Tronco

      de

      scravos  23

    ituação  humilhante de protegidos da

      cari

    dade

    Como

      são dignos de

      admiração

      e amor os ve

    lhos  estóicos mas, como são raros Como sào raros

    os velhos de almas sãs para penetrar o sentido da

    vida,

      de almas jovens para desejar e continuar a

    realização

      interior  pela bondade envolvente,

      tole

    rantes, compreensivos para deixar aos

      moços

      a

      l -

    berdade de pensar, de errar, de aprender, de adqui

    r i r

      experiências  p r ó p r i a s

    de

      viver

      segundo as  suas

    necessidades

     e os seus sonhos precursores Sóc r a t e s

    Réc l u s Kropotlcine,

      Ibsen, Han Ryner...

    Mas,  a velhice gamenha, voronofizada é o

    mesmo

      ridiculo

      dos cabellos e bigodes pintados,

    emoldurando as rugas indiscretas ou a  "maquilla-

    ge" em

     pessoas

      idosas em que apontam, agressiva

    mente, os

      estragos

     do tempo e as dores do mundo.

    A  juventude vem de dentro para  fó ra .  Des

    pertar,

      cultivar

      as energias interiores, em vez de ir

    buscar nos

      artifícios

      o

      remédio

      para os desvios e

    as loucuras e a degenerecencia humana, alimenta

    da e multiplicada  com a

      civilização

      industrial capi

    talista  — eis o caminho da juventude eterna.

    A

      velhice é uma

      etapa  desagradável

      do

      cir

    culo

     evolutivo  de uma parcella de  vida  em

      relação

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    13/119

    24

    Maria Lacerda  e  Moura

    ao Eterno e ao  I n f i n i t o .  A morte é a  s o l u ç ã o a

    ú n ica d ese j áv e l .

      Depois . . . Quem

     sabe?

    Morrer,

      transformar-se. .. A morte não exis

    te. E' como as

      vagas

      do grande Oceano e vão e

    voltam  a  quebrar-se  nas praias iluminadas pelos

    raios do Sol  v ivif icador.

    Descuramos os meios

      naturaes

      de garantir o

    vigor  do corpo, a  r e s i s t ên c i a o rg ân ica a  s a ú d e f i

    sica e mental, viciamo-nos,

     degeneramos

      os

      nossos

    f i lhos

    concebemos

      esses  f i lhos a t ra vés

      do

      v ic io

    da

    ociosidade, do trabalho  f o r ç a d o do sensualismo

    absorvente, da libertinagem: são os

      filhos

      do

      t éd io

    da embriaguez, do descuido, do

      acaso.

      A

      vida

     f i

    ctícia  e  t r ág i ca  das cidades nos envenena até o

    fundo  da conciencia, e,

      degenerados

      até a medula,

    pretendemos encontrar o  elixir  da longa  vida,  para

    voltarmos

      embriagados de mais sensualismo baixo

    e mais cupidez e entornarmos uns

      restos

      de exis

    t ência ar t i f ic ia l

      nas roletas, nos Cabarets , nos

    b o rd é i s

    nos lupanares e na vulgaridade senil mas

    carada  de juventude.

    Mutilar-se

      nas guerras — para a  ciência  pro

    var

      que pode recompor e embelezar, talvez, um

    rosto ou suprir

      ó r g ã o s

    prova bem a brutalidade e

    ivilização —  Tronco  e  Escravos

      25

    a  insensatez  humana. N ão seria preferivel fazer

    desaparecer

      as  causas das

      guerras?

    M a s

    isso não é

      possível

    dentro de qualquer

    o r g a n i z a ç ã o  social  baseada  no capital e nos pre

    conceitos

      burgueses,

      na moral farisaica do Cristia

    nismo,  como  impossível - fechar as

      casas

      de  prosti

    t u i ção

    substituindo o caftismo e o vampirismo so

    cial

      pela liberdade do amor, pelo pluralismo amo

    roso sem a compra e a venda da carne feminina.

    Assim,

      inventam-se meios artificiaes para

    mais rapidamente

      degenerar-se

      todo o

      g é n e r o

      hu

    mano.

    intoxicados de

      vicios

    de ociosidade, de pa

    rasitismo

      ou de

      misér ia

    de

      d iges tões

      doloridas ou

    de

      concepções

      fossilizadas, alimentados de verda

    des mortas , senis, almas ruminantes, somos

    incapazes

     de nos elevar um pouco acima da bestia

    lidade

      dos instintos  p r imi t ivos sufocadas  as

      ener

    gias interiores, adormecida a beleza de

      cada

      ser —

    no ruido e nas

      p r eo cu p açõ es

      do mundo exterior.

    vamos buscar, nas florestas, um ser  l ivre  e  feliz

    vivendo  em harmonia com as

      suas necesidades

      na

    turaes

     e o inutilizamos ou o matamos, roubamos a

    sua vitalidade ou reduzimo-la á metade — para

    resucitar a

      c a d á v e r e s

      ambulantes, para estimular a

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    14/119

    26

    Maria  acerda

      de  Moura

    senilidades

      impres t áve i s

    cujo corpo envelhecido

    precocemente, talvez em orgias e libertinagens, po

    de dar

      vida

      a

      filhos

      predispostos á mesma degrada

    ção

      moral,  com

      tendências

      á mesma senilidade pre

    coce e cuja mente rotineira e

      empírica

      ha de con

    tinuar  a deitar  regras  de conduta de uma moral

    também

      senil — para

      tirar

      aos

      moços

      a liberdade

    e a alegria de

      viver

      de acordo com as

     necessidades

    do momento e de acordo com a

     evolução

     e as ideias

    e  sonhos  prenunciadores.

    Si  vivêssemos como os  pás sa ros que são livres

    logo  após

      os primeiros voos...

    Mas,

      conservar,

      remoçar

      artificialmente a

    avós

      e

      tataravós

      para

      constituírem

      novas

      famílias

    talvez,

     e nos

      tirar

     mais a liberdade de

     pensar

     e agir

    e obrigar-nos a um

      beija mão

      que nunca mais

      terá

    f i m

    é simplesmente deshumano . . . é povoar a

      vida

    de fantasmas simiescos.

    Imaginemos Clemenceau, o

      "tigre"

      voronofi-

    zado: com que

      petulância

      perversa fomentaria de

    longe uma nova guerra

    Imaginemos um Ruy Barbosa falando, falando,

    gesticulando ininterruptamente o seu patriotismo

    contra os paes da

      pátria

      que lhe negaram, sistema-

     iviliz ção

     —  Tronco  de  scravos  27

    ticamente, o supremo prazer de  d om í n i o em o lu

    gar supremo de presidente da Republica brasileira

    Acabaria

      por exgotar a

      nossa  p a c i ê n c i a . . .

    e exgotaria de vez os cofres da  n a ç ã o .  Seria a ban

    carrota de tudo . . .

    O

      que é mais criminoso é

      lançar

      mão de um

    sêr

     vigoroso e

      feliz

      na sua

      vida

      simples, natural —

    para, com o seu

      sacr i f í c io

    alimentarmos a velhos

    dec r ép i t o s cuja  vida  foi um hino ao  vicio á

      liber

    tinagem,

      cujos

      capitães

      e cujo poder f oi adquirido

    á

      custa do suor alheio.

    Porque um

      s áb io

    um

      filosofo

      autentico não

    consentiria

      nunca em martirizar um sêr para dele

    tirar

      recursos em seu proveito  p r óp r i o .

    As  operações  de

      Voronoff,

      a não ser as

      p r i -

    meiras

      experiências  suas

      e de

      seus

      dicipulos em a

    pobre gente dos hospitaes e asilos, sem  direito a ne

    nhum

      direito,

      são

     operações

     em os velhos endinhei

    rados

      e em os poderosos, cuja conciencia foi

     amas

    sada

      no parasitismo, cujos cofres foram enriqueci

    dos á custa da

      exploração

     de milhares e milhares de

    ope r á r i o s á custa do

     martirio

     e servilismo do reba

    nho humano.

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    15/119

    28

    Maria Lacerda

      e

      Moura

    Depois,

      os

      ch ar l a t ães

      da

      ciência

      podem

      m u l -

    t ipl icar

      embustes

      ou provocar

      alei jões

      moraes, a

    sugestão f ica

      e o seu prestigio cresce, porquanto

    sentem crescer a  co n f i an ça  em si, e

     eles

     mesmos se

    desdobram em valor aos  seus  p r ó p r i o s  olhos.

    T e m r a z ã o  Bernard Shaw: O medico que

    mata com coragem de  convicções ,  com energia,

    com

      maestria,

      sente

      crescer seu orgulho em cada

    crime  que comete.

    O m é t o d o  de Steinach, pcofessor em  Viena,

    com

      o enxerto de

      g l â n d u l a s

      de outro semelhante

    o u  com o enxerto de  g l â n d u l a s do p r ó p r i o  paciente,

    te m

      dado, dizem,

     muito

      mais resultados que o de

    V o r o n o f f .

    E ' ,  pelo menos, mais humano, é  fei to  com o

    consentimento de um  ind iv iduo  que  e s t a r á  ciente

    e conciente de que se vae prestar a servir a outro

    ind iv iduo .

    Muitas

      fraudes e muitos crimes podem advir

    d a í ;

      entretanto, ha mais probabilidades de consen-

    timento do sêr humano do que do macaco ...

    M a s ,  outro medico  n o t á v e l ,  o Dr. Juan E.

    ivilização  —  Tronco  e  Escravos

      29

    Corulla,  em um artigo em La N a c i ó n ,  a respeito

    do Rejuvenecimento , diz:

    . . .

      Por outra parte, nem

      V o r o n o f f

      nem

    Steinach puderam apresentar até agora um  caso

    de verdadeiro rejuvenecimento. São melhoras

    parciaes, atinentes unicamente á esfera sexual,

    dentro da qual é  in eg áv e l aumento de atividade.

    As cé lu l as

     nervosas e os demais

      ó r g ã o s

      nobres

    continuam como dantes. Não negamos que isso se-

    j a  resultado e bom,  p o r é m , é preciso convir  que es-

    tamos todavia

      muito

      longe de haver encontrado a

    fonte  de Juventa e que é muito  duvidoso que seja

    esse

     o melhor caminho para chegar até ela .

    Resultado  muito

      ó p t i m o , d i r ã o

      os velhos

    exgotados.

    Para a velhice libertina basta apenas o aumen-

    to

     da atividade sexual, e,

      a p r è s

      moi, le

      d é l u g e

    . . .

    Entretanto, a longevidade,  a l ém  de ser caracte-

    r í s t ica  de  famí l i a , ap t id ão h e red i t á r i a ,  depende

    muito

     mais de nós mesmos do que de

      in tervenções

    exteriores. E a longevidade sadia é trabalho de hi -

    giene mental e de alegria  interior,  de uma bondade

    incapaz de sacrificar a quem quer que seja em be-

    neficio

      p ró p r io .

    Ademais,

      que

      sabemos

      da Vida?

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    16/119

    30  Maria acerda  de  Moura

    Somos emparedados. E todos os nossos gestos

    movem-se

      a t r a v é s

      da

      nossa

      profunda

      i g n o rân c i a

    p resu n ço sa .

    Os humanos, temos a  p r e t e n s ã o de nos consi

    derarmos acima dos chamados irracionaes. E, orgu

    lhosos, não queremos vêr os erros e os crimes criados

    por  nós mesmos em torno dos  nossos  destinos, es

    t r a ç a l h a d o s

      pela

      nossa

      perversidade calculada,

      sór-

    dida,  mesquinha e  a u t o r i t á r i a .

    Que conhecemos dos liames biocosmicos?

    A l é m  de tudo, os simios e s t ão  muito acima da

    velhi e

      parasitaria, da senilidade

      libertina,

      do caf-

    tismo  da conciencia humana  civi l izada banqueiros

    e

      césares

    vampiros sociaes, cuja

      vida

      é

      sugada

      na

    dor

      de todo o

      g é n e r o

      humano escravizado aos co

    fres fortes, domesticado pela cidadania, dobado no

    regimen

     social da

      ex p lo ração

      do

      p ró x imo .

    A I N D A  VORONOFF

    V o r o n o f f

      não é precursor, nem inovador, nem

    individualidade

      nascida  fora  do  sécu lo indesejá-

    vel  entre os  c o n t e m p o r â n e o s combatido pela  ciên-

    cia oficial

    não é profeta de ideias novas e de so

    nhos para serem arrebatados por outras  g e raçõ es

    nem  ao menos é colaborador da  c iência tomada a

    ciência

      em

     seus

     justos termos.

    V o r o n o f f

      é homem da sua

      ép o ca

    da

      época

    do jazz-band e de Josefina Baker.

    D e

      uma

      e x p e r i m e n t a ç ã o  cientifica

      de labora

    tório  para  o b se rv ação  em torno das  secreções  das

    g l â n d u l a s  e do efeito  dessas  secreções  no organis

    mo

    e, consequentemente, a

      ap l i cação

      do resultado

    dessas  exper iências  na  t e r a p ê u t i c a daí para char-

    latanizar a

      ciência

      aplicando-a á industria de

      ani

    ma os e ao sensualismo senil — vae  considerável

    d i ferença.

    N ã o

      posso

     compreender a  c iência  intervindo

     

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    17/119

    32  Maria Lacerda  e  Moura

    no  a p e r f e i ç o a m e n t o  dos meios do homem extor

    quir

      dinheiro de outro homem, valendo-se da ci

    rurgia,

      no atentado á

      vida  fisiológica

      dos animaes

    sadios.

    Compreendo a

     necessidade

     do

     v e t e r i n á r i o ,

     não

    compreendo a  v iv isecção  a não ser como um  del í -

    r io  de perversidade  i n o m i n á v e l ,  nem chego a vêr a

    vantagem da embriaguez

      cientifica

      que põe

      milha

    res de cobaias e  cães  e qualquer  espécie  de animal

    á mercê

      dos cientistas —

      funcionár ios públ icos

    —  vaidosos quasi de fazer sofrer aos  m á r t i r e s  da

    c i ên c i a , em nome de um

      principio

     ou de uma des

    coberta ou de uma pesquiza ou dos

      p ro b lemát i co s

    benefícios

      daí resultantes para todo o

      g é n e r o

      hu

    mano, e, as mais das vezes, em nome do

      salár io

      pa

    go pelo Estado, em nome do ordenado mensal.

    Q u e s t ã o  de  e s t ô m a g o  ou de  idolos.

    T a m b é m

      os

      sacerdotes  p a g ã o s

      sacrificavam

    criaturas indefesas, animaes,  c r i a n ç a s ,  homens e

    mulheres, em nome da paz ou da guerra,

      a f im

      de

    aplacar a  có lera  dos

      deuses

      — em beneficio da

    humanidade.

    O

      Moloc

      de hoje é a  ciência.

    T o l s t o i

      o

      d ef in iu

      admiravelmente: A

      ciên-

    cia  ocupa em

     nossa

      ép o ca  exatamente o mesmo lu-

    Civi ização  —  Tronco  e  Escravos  33

    gar que ocupava o  sacerd ó c io ,  ha alguns  séculos.

    Os mesmos bonzos revestidos de  t í t u lo s ,  as

     mesmas

    castas

      nas  ciências :  academias, universidades, con

    gressos. A mesma  c o n f i a n ç a  e falta  de  cr i tér io  por

    parte dos crentes; as

      mesmas  d iv erg ên c i as

      e as

    mesmas

      palavras

      in co mp reen s ív e i s ,

      a mesma pre

    s u n ç ã o .

    T e m r a z ã o

      Bernard Shaw: si ao menos os

    V o r o n o f f  conseguissem, com a enxertia, fazer do

    homem  um macaco  r e s p e i t á v e l . . .

    N ã o .

      O homem  c o n t i n u a r á  a

      descer

      sempre,

    bem  para baixo de todos os simios, na sua maldade

    de criatura

     civilizada,

     com os seus  raios

      invisíveis

    e raios da morte e

     gazes

      asfixiantes e

      av iões

      e

    submarinos e torpedos e  labo rató r ios c ien t í f icos

    para estimular todas as  v i ru lências ,  desde  as guer

    ras até o prazer

      sa t ân i co

      de martirizar os animaes

    em   nome do humanitarismo  clinico.

    N ã o

      é sentimentalismo piegas e sim pan-hu-

    manismo o que lemos em  A t l â n t i d a de 21 de

    Outubro  de 1927. a  p r o p ó s i t o  da  vivisecção:

    D a p e r p e t r a ç ã o

      de

      atos

      moraes maus não

    p ô d e

      resultar

      benef íc ios ,

      de maneira alguma, para

    humanidade.

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    18/119

    32  Maria Lacerda  e  Moura

    no  a p e r f e i ç o a m e n t o  dos meios do homem extor

    quir  dinheiro de outro homem, valendo-se da ci

    rurgia,

      no atentado á

      vida  fisiológica

      dos animaes

    sadios.

    Compreendo a

      necessidade

     do

      v e t e r in á r io ,

     não

    compreendo a  v iv isecção  a não ser como um  delí-

    r i o

      de perversidade

      in o min áv e l ,

     nem chego a vêr a

    vantagem da embriaguez

      cientifica

      que põe

     milha

    res de cobaias e  cães  e qualquer  espécie de animal

    á mercê

      dos cientistas —

      func ionár io s públ icos

    —  vaidosos quasi de fazer sofrer aos  m á r t i r e s  da

    c i ên c i a , em nome de um  principio ou de uma des

    coberta ou de uma pesquiza ou dos  p ro b lemát i co s

    benef íc ios  daí resultantes para todo o  g é n e r o  hu

    mano, e, as mais das vezes, em nome do

      sa l á r io

      pa

    go pelo Estado, em nome do ordenado mensal.

    Q u e s t ã o  de  e s t ô m a g o  ou de  idolos.

    T a m b é m

      os

      sacerdotes  p a g ã o s

      sacrificavam

    criaturas indefesas, animaes,  c r i an ças ,  homens e

    mulheres, em nome da paz ou da guerra,

      a f im

      de

    aplacar a  có lera  dos

      deuses

      — em beneficio da

    humanidade.

    O

      Moloc

     de hoje é a  ciência.

    To l s to i

      o

      d ef in iu

      admiravelmente: A

      ciên-

    cia  ocupa em

      nossa

      ép o ca  exatamente o mesmo lu-

      ivilização —  Tronco  e  Escravos  33

    gar que ocupava o  sacerd ó c io ,  ha alguns  séculos.

    Os mesmos bonzos revestidos de  t í t u lo s , as

     mesmas

    castas nas  ciências :  academias, universidades, con

    gressos. A mesma  co n f i an ça  e falta  de  cr i tér io  por

    parte dos crentes; as

      mesmas  d iv erg ên c i as

      e as

    mesmas

      palavras  in co mp reen s ív e i s ,  a mesma pre

    s u n ç ã o .

    T e m r a z ã o

      Bernard Shaw: si ao menos os

    V o r o n o f f  conseguissem, com a enxertia, fazer do

    homem  um macaco  r e s p e i t á v e l . . .

    N ã o .

      O homem  c o n t i n u a r á  a

      descer

      sempre,

    bem  para baixo de todos os simios, na sua maldade

    de criatura

     civilizada,

     com os seus  raios

      inv is íveis

    e raios da morte e

      gazes

      asfixiantes e

      aviões

      e

    submarinos e torpedos e  labo ratór ios c ien t í f icos

    para estimular todas as

      v i ru l ên c i as ,  desde

      as guer

    ras até o prazer  sa t ân i co  de martirizar os animaes

    em  nome do humanitarismo  clinico.

    N ã o

      é sentimentalismo piegas e sim pan-hu-

    manismo o que lemos em  A t l â n t i d a de 21 de

    Outubro  de 1927. a  p r o p ó s i t o  da  vivisecção:

    D a p e r p e t r a ç ã o

      de

      atos

      moraes maus não

    p ô d e

      resultar

      benef íc ios ,

      de maneira alguma, para

    humanidade.

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    19/119

    34  Maria Lacerda  e  Moura

    A  crueldade nunca  pode r á  ser um caminho

    para o

      ap e r f e i ço amen t o

      humano.

    A

      ciência

      não se adquire com a crueldade.

    E  muito  menos a sabedoria, acima de qualquer es

    pécie

      de

      violência.

    A i n d a

      mais: Si a

      fisiologia

      não pode adean-

    tar sem  in f l ig i r  horriveis torturas aos animaes inde

    fesos, é melhor que a

      fisiologia

      fique

      onde

      está.

    A

      humanidade pode progredir sem a  fisio-

    logia,

     porem, não

     pode r á

      progredir sem a piedade.

    Extirpar  uma  g l â n d u l a  sexual do macaco, na

    da representa para o homem, mas, extirpar um tes

    t í cu lo  do homem 6 algo de  muito  importante na

    sua integridade . . .

    Quanto á  v iv isecção ,  o  p r ó p r i o  Claude Ber

    nard,  o experimentador primus inter  pares ,  que

    massacrou, brutalmente, a dois mil

     cães

     e que, sem

    anestesia,

     os matou lentamente, o  b á rb a ro  que, para

    atender aos protestos da sua

      v i z inhança ,

      cortava,

    antes

      das

      exper iências ,

      as cordas vocaes dos

      ani

    maes,  a f im  de que não uivassem de dor, o  p róp r io

    Claude Bernard diz: A

      vivisecção

      é a

      des locação

    do organismo  v ivo  por meio de instrumentos e de

    processos  que lhe podem isolar diferentes partes.

    Reduzida a si mesma, ela só teria alcance restrito,

    Civilização — Tronco  e  Escravos

      35

    e poderia, em certos casos, induzir-nos a erros sobre

    o verdadeiro papel dos  ó rg ão s .  Por  essas  reservas,

    eu não nego a utilidade nem mesmo a

      necessidade

    absoluta da  vivisecção  no estudo dos  f enómeno s  da

    vida,  eu a declaro apenas insuficiente.

    Com  efeito,  nossos  instrumentos de vivisec

    ção

      são tão grosseiros e

     nossos

     sentidos, tão imper

    feitos que só podemos  atingir no organismo as par

    tes grosseiras e complexas.

    N ã o  obstante, a mania da  vivisecção  é o or

    gulho  da

      ciência

      moderna, e as vacinas e soros se

    mul t ip l i cam

      para

      g á u d i o

      da

      t e r ap êu t i c a

      industria

    lizada e para o  ma r t í r i o  dantesco das cobaias e dos

    simios.

    Cousa a mais natural do mundo o homo sa-

    pins roubar do macaco o que seria incapaz de

    lh e

      dar, o que

      d i f ic i lmente ,

      excepcionalmente, seria

    capaz

      de dar ao  p r ó p r i o  semelhante.

    E  para  que?  Si o resultado não

     passa

      de su

    ges t ão

     ou se

      l imi t a

      á

      abso rpção

      mais ou menos

      len

    ta  do hormonio da  g l â n d u l a  transplantada?

    Resultado para 3 ou 4 annos, findos os

     quaes,

    outra

      enxertia é

      necessár ia

      para novo rejuveneci

    mento.

    E  a imprensa popular, o jornalismo industria-

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    20/119

    36

    Maria Lacerda

      e

      Moura

    lizado  a

      encher-se

      de termos prometedores,

      re ju

    venecimento ,  el ix i r  da juventude , como si Ca-

    gliostro

      tivesse voltado e o seu espectro

      redivivo

    derramasse

      por sobre os homens a cornucopia de

    todos os sonhos alquimistas transformados na  reali

    dade  p a l p á v e l

      da

      v o ro n o f i zação .

    A l i á s ,

      o sonho da mocidade prolongada vem

    de muito distante.

    O v i d i o ,  em as Metamorfoses , conta que, no

    antigo

     Egito,

      era praticada a

      t r a n s f u s ã o

      de

     sangue

    nos velhos, pelos

      sacerdotes,

      para rejuvenece-los.

    T a m b é m

      os

      sacerdotes

      de

      A p o l o

      utilizavam-

    se do

      sangue

     dos gladiadores e atletas — como te

    r a p ê u t i c a  religiosa para o rejuvenecimento.

    Pl in io  e Celso, por sua vez, recordam  essas

    praticas clinico-religiosas de homoterapia.

    E m  Roma,  J a r ã o  e Taraquila, a mulher de

    Tarquinio

     Prisco, são exemplos, dizem os cronistas,

    do anseio da  co n serv ação  da juventude.

    U m

      medico hebreu praticou a

      t r a n s f u s ã o

      de

    sangue

      em o

      Papa  In o cên c io  V I I I ,

      no secuIoXV.

    A

      pedra

      fi losofal

      e o

      el ixir

      da longa

      vida,

      a

    alquimia,

      os  J o s é B á l s a m o  e os Zanoni já dão a

    ideia

      da

      p r e o c u p a ç ã o

      absorvente em torno da

      eter

    na mocidade.

    ivilização

      —

      Tronco

      e

      Escravos

      37

    E

      o Dr. Fausto só encontra a juventude

    a t r a v é s

      do pacto com

      M e f i s t ó f e l e s . . .

    Suetonio, Galeno, Bacon, Armaiangaud, es

    tudavam ou recordavam receitas para o prolonga

    mento da juventude.

    O  caldo da rã, usado pela mulher de Galvani,

    a

      a l i m e n t a ç ã o

      de galinhas, por sua vez alimentadas

    co m v íb o ras

      (Arnaud de

      Villeneuve,

      sécu los

      X I I I

    e

      X I V ) ,

     o

      f r igor i f ico

      de Hunter (parece-me), pa

    ra a

      co n serv ação

      da mocidade... as

      considerações

    de  B u f f o n ,  descrente  de todo e qualquer  processo

    de prolongamento da

      vida,

      os conceitos de Stad-

    m an  e de Weber, aceitando a ideia da longevidade,

    tudo isso prova bem o

      interesse

      em torno das ten

    tativas conducentes ao rejuvenecimento.

    M e t c h e n i k o f f

      tenta-o

      t a m b é m ; a l i á s

      os  seus

    processos

     parecem bem mais  lógicos.

    Depois,

      as

      exper iências

      concludentes de Bar-

    t h o ld ,  em 1849 (enxertos,  t r a n s p l a n t a ç ã o  de go-

    nadas

     de frangos): primeiramente os enxertos e em

    segundo lugar a ideia nova ou o novo conceito a

    respeito das

      secreções

      internas.

    B r o w n - S é q u a r t , em 1889, cuja teoria sexual da

    velhice  é a de

      V o r o n o ff ,

      que

      t a m b é m

      se apoia na

    o b serv ação  dos eunucos. Os trabalhos de  B r o w n -

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    21/119

    38

    Maria Lacerda

      e

      Moura

    S é q u a r t

      teem o

      mér i to i n co n tes t áv e l

      de haver sido

    experimentados no

      p r ó p r i o

      autor, o que se não ve

    r i f i cou

      ainda com  V o r o n o f f  . . . ; Harms, 1914, en

    xertos de

      g l â n d u l a s

      de animaes jovens em animaes

    velhos;

      Steinach e a vaso-ligadura nos enxertos;

    Lespinasse, 1913, e o

     processo

     da

      t r a n s p l a n t a ç ã o

      de

    g l â n d u l a s

      de homem

      v ivo ;

      Lydston, 1914, e a

    t r a n s p l a n t a ç ã o  de  g l â n d u l a s  de homem morto, lo

    go

      a p ó s

      o

      passamento,

      conservado em

      f r igor i f ico ;

    Lydston

      e a  t r a n s p l a n t a ç ã o  das  g l â n d u l a s  do  ch im

    p a n z é ,

      em 1916, etc. etc.

    A  opoterapia de  B r o w n - S é q u a r t  ou extratos

    de

      ó rg ão s

      dos animaes, ainda hoje tratamento

      mu i

    to

      aconselhado pelos

      méd ico s ,

      é considerado por

    V o r o n o f f  e  seus  d i sc íp u lo s ,  como  paliat ivo,

      cousa

    j á

      do

     passado.

      ( A' Conquista da

      V i d a

      V o r o

    n o f f . )

    D i z V o r o n o f f  nesse  l iv ro :  A  ap l i cação  qua-

    si

     universal, do

      m é t o d o

      de

      B r o w n - S é q u a r t ,

     não deu

    quanto se

      esperava,

     e, atualmente,

      es tá

      quasi aban

    donado. A

      razão es t á

      em que a

      t r i t u r a ç ã o

      da

      g l â n

    dula não permite extrair todo o produto, e o

      l iqui

    do obtido é pobre em elementos ativos.

    Esse  l iqu ido ,  como todo extrato  o r g â n i c o ,  al-

    tera-se  rapidamente, perde

      suas

     propriedades e fre-

      ivilização —  Tronco  e  Escravos  39

    q u e n t e m e i í t e  torna-se  toxico.  Desde  e n t ã o , sua  a ç ã o

    s ó  pode ser  m o m e n t â n e a . .

    Assim  é que, em  ciência  medica, a  u l t i m a  teo

    r ia

      ou a

      u l t i m a

      descoberta

      d es t ró e  todas

      as ante

    riores . . . E, por

      associação

      de ideias, lembro-me

    da quasi centena de  c r i an ças  mortas  pelas  vacinas

    de Calmette, anti-tuberculosas.

    Pobres

      cobaias humanas. . .

    V o r o n o f f d e s t r ó e t a m b é m  a  Metch en ik o f f

    com

      os

     seus

     fermentos

      lácteos.

    Nada

      fica

      de pé : só o enxerto do

      simio,

      só

    V o r o n o f f  descobriu o  elixir  da longa  vida.  E, como

    t a l , V o r o n o f f  ri-se dos antiviviseccionistas.

    A i n d a

      podemos citar muitos nomes e outras

    tantas

      exper iências .  O  p r ó p r i o V o r o n o f f ,  no  l iv ro

    indicado

     diz:

    Essa  cirurgia  do  porv i r ,  é o enxerto de nos

    sos

      ó r g ã o s ,

      de

      nossos

      tecidos, de  nossas

      g l â n d u l a s .

    O

      caminho

      es t á t r açad o

      por nomes de primeira

      l i

    nha: Carrel, Dartigues, Eiselberg,

      H o r m , K n u d

    Sand, Kuttner, Lespinasse, Lexner, Lydston,  M a r

    ro ,

      Mauclair,

      M o r i s ,

      Parragon,

      Pende,

      Pezard,

    Steinach, Thorek,

      T u f f i e r ,

      J.

      V o r o n o f f ,

      Walker,

    Zavadowsky,  etc.

    M a s ,  condena o enxerto das  g l â n d u l a s  do se-

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    22/119

    40

    Maria Lacerda  e  Moura

    melhante, por muitas  r azões ;  defende apaixonada

    mente o enxerto das

      g l â n d u l a s

      do

      simio.

    Vo r o n o f f  só

     aparece

     positivamente em 1922,

    isto não o impede de  afirmar  e deixar que um dos

    seus

     colaboradores afirmasse que os cientistas ame

    ricanos ensaiaram e mal os seus m é t o d o s  de enxer

    t ia nos grandes  m am í f e r o s  e no homem. Esses cien

    tistas são, precisamente, Lespinasse e

     Lydston

    . . .

    Todas  essas  pesquizas no  d omín i o   da  a lqui-

    m ia  ou da cirurgia  p a g ã  ou da  c iência  propriamen

    te dita,  provam bem que  V o r o n o f f  nada descobriu,

    nada ou

      p o uqu í s s imo   contribuiu

      para o estudo das

    secreções  glandulares, nada fez de novo, nada

    adeantou  s en ão  em vulgarizar a  q u e s t ão ,  trazendo-a

    para o  d omín i o

      publico

     no sentido de

      industrializar

    assunto de  l abo ra tó r io .

    E o lado  med í o c r e ,  o lado  r id ícu lo   de todas

    as  cousas  puramente praticas e populares.

    O

      rejuvenecimento por

      processos

      c l ínicos

      e

    t e r apêu t i co s  continua no mesmo plano da utopia

    absoluta.

    E m  todas  essas  exper imen tações , o que predo

    mina

      nos homens a

      elas

     submettidos, mais que tu

    do,  é a  s u g e s t ão ,  depois... o amor  p róp r io .

    ivilização  -  Tronco  e  Escravos  41

    N e m  um homem  d i r á   que a enxertia não deu

    resultado...

    E ,  em tudo isso, quem vae pagar caro é o ma

    caco.

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    23/119

    E  VORONOFF

      DESCOBRIU  O

      M A C A C O . .

    Muitos

      são os

      aspectos

      do

      problema

      V o r o -

    n o f f .  D iz o  cientista  que é  engano  apreciar  os re-

    sultados  das

      in tervenções

      apenas  sob o  ponto  de

    vista  genésico ,  como  se dá geralmente e que esse

    resultado  é o menos  importante  e

      aparente.

      Frisa

    m u i principalmente

    os

     benef íc ios

      do

     rejuvenecimen-

    to

      geral

      de

      todas

     as

      fu n çõ es ,

      e

    com especialidade

    das  funções  cerebraes  — o que é  contestado  por

    outros cientistas.  E são conhecidas  as  i n ú meras

    o p eraçõ es  de  V o r o n o f f  e positivamente pouco di-

    vulgados  os resultados  . . . e quando  o  são escon-

    didos  no  anonimato como  os  a n ú n c i o s  populares

    das

      p a n a c é a s

      milagrosas. Quem

      faz essa

      o p eração

    fica  envergonhado

      e se

      esconde...

      N ão sei

      por-

    que . . .

    N ã o s e r á  um  rejuvenecimento geral tam-

    bém   aparente proporcional  ás  secreções  das  g l ân -

    dulas

      enxertadas á sua

      i r r i g ação

      ou

      n u t r i ç ã o ,

      e

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    24/119

    44

    Maria Lacerda  e  Moura

    que se  ex g o ta rá  com a  su b s t i t u i ção  das  c é lu l as ,  pa

    ra

      dar lugar a uma queda mais brusca, á

      volta

      ao

    primeiro  estado de  d e c a d ê n c i a  senil?

    N ã o s e r á  como o efeito de certos excitantes

    m o m e n t â n e o s

      que deixam o paciente, depois, mais

    abatido, mais desanimado, mais exgotado?

    U m a  labareda que o  p rópr io ind iv iduo  se in

    cumbe de

      apagar,

      atirando-se, confiado ou descon

    fiado,

      ao rumor confuso e louco da  vida  ficticia

    de gozos e libertinagens e sensualismo sob todos os

    aspectos

      ou intensificando a

      ansiedade

      ambiciosa

    de  o p e raçõ es  financeiras e  politicas,  na atividade

    multiplicada

      na

      e s p e r a n ç a

      de abarcar, de acumu

    lar,

      de aproveitar, de ambicionar, de experimentar

    novos prazeres e criar novas necessidades?

    D a í ,

      a degenerecencia de toda a mocidade na

    crapulagem — á

     espera

     do dia em que um enxerto

    de

      simio

      os torne a todos, novamente

      v ir i l izados,

    como si a alma  pudesse  virilizar-se  ao contacto de

    algumas  cé lu las  de carne simiesca, como si a  inte

    l igência  brotasse, num estalo, das  g l â n d u l a s  enxer

    tadas.

    Os  f an á t i co s  da  v o ro n o f i zação  geralmente são

    os falidos moraes, os que nunca sentiram a  p ró p r i a

    alma

      e nunca

      tiveram

      mentalidade: para

      esses,

      de

    ivilização —  Tronco  e  Escravos  45

    que vale rejuvenecerem as  funções

      cerebraes,

      si

    nunca existiram s en ão  na vulgaridade dos rebanhos

    atordoados de  i g n o r â n c i a  e sensualismo e domesti-

    cidade?

    E

    essa

      gente, exgotada de  vicios,  de medio

    cridade, de cupidez que a  v o ro n o f i zação  vae  ser

    v ir e atirar á atividade feroz do industrialismo mo

    derno e do Jazz-band sensual.

    E ,  de

     passagem,

      a idade  a d o r á v e l  para a  voro

    n o f i zação  vae entre os 45 e os 50 annos.

    U m a  pergunta indiscreta nos salta da pena:

    porque  V o r o n o f f  não se fez ainda voronofizar?

    E m

      todo

      caso,

      que

      degenere

      toda a humani

    dade, si quizer,  acabe  com toda a  espécie,  na  lou-

    cura de rejuvenecer a  c ad áv eres  mumificados de

    perversidades e baixezas e  de l í r io  de embriaguez

    sensual, já que os homens e as mulheres consentem

    e se prestam a tudo, na

      ansiedade

      de criar e gozar

    gozos de  v icio e de  luxur ia ,  na  a m b i ç ã o  de se

      c ivi l i -

    zarem até o aniquilamento

     total

      das guerras

      cienti-

    ficas. Mas, que direito tem a  c iência dos homens de

    in terv i r

      na

      vida

      natural dos animaes para indus

    trializar

      as suas  f u n çõ es o rg ân ica s?

    Toda

      a

      c iência ,

      toda a atividade humana é

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

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    46

    Maria Lacerda  e  Moura

    logo

      industrializada no charlatanismo do aprovei

    tamento de tudo para a

      c ivi l ização

      capitalista.

    V o r o n o f f e s t á  a  serviço do dinheiro e da im

    becilidade

      humana.

    A o  homem não  basta  domesticar os animaes

    para deles se

      u t i l i zar : cr iou ,

      degenerou tipos,

      ani

    qui lou ,  perturbou  evo luções ,  na cupidez de

      tirar

    partido

      da sua atividade, do seu valor

      n u t r i t i v o

      e

    do instinto de

      r e p r o d u ç ã o .

    F o i  muito  mais longe. Que fez o homem, do

    c ã o ?  Fe-Io á sua imagem e  s e m e l h a n ç a :   f ie l ,   servil,

    covarde para com os

      senhores

      e parasitas ociosos,

    para com os que lhe batem; atrevido, impertinente,

    a u t o r i t á r i o ,

      perverso, exigente, feroz para com os

    fracos:

      t r ô p e g o s ,  mendigos, maltrapilhos, criados

    e  b o émio s n ó mad es .

    Agora,  V o r o n o f f  vae enxertar os animaes

    para aumentar o rendimento

      industrial

      dos reba

    nhos.

    V o r o n o f f

      representa bem uma

      época.

    V o r o n o f f  é um simbolo.

    E

    a

      c iência

      charlatanizada pelo

      industrialis

    m o moderno, a  c iência  a  serviço do bezerro de ouro,

    a  c iência  do vampirismo humano exgotado de se-

    nilidade

      precoce a sugar as

      g l â n d u l a s

      dos animaes.

    ivilização —  Tronco  e  Escravos  47

    Enquanto a

      c ivi l ização

      inventa

      vicios

      e mais

    vicios

      e se

      intoxica

      de imbecilidades e preconceitos

    e sufoca as mais nobres  asp i rações  e os mais bellos

    sentimentos e degenera os organismos humanos no

    delir io  de gozar, de  a ç a m b a r c a r  tudo, numa  cupi-

    dez carnal de canibaes

      civilizados,

      enquanto o pro

    gresso

      industrializa e degenera  t a m b é m   aos

      ani

    maes  d o més t i co s ,  os animaes chamados selvagens

    respeitam as leis naturaes,

      vivem

      a

      vida

     simples em

    plena natureza, satisfazendo ás

     necessidades

      inst in-

    tivas, conservando a vitalidade, sóbr ios , sadios, exu

    berantes

      de energia  o rg ân ica .

    E justo que o  l ibert ino,  o  luét ico ,  o  a lcoó la-

    t ra ,

      o cocainomano, o jogador, o farrista, os t i

    gres

    politicos

      profissionaes e senis, banqueiros e

    escroques

     elegantes, altos  f u n c io n ár io s ,  senadores e

    magistrados, intelectuaes  p ro s t i t u íd o s  e domestica

    dos, juizes das conciencias alheias. . . é justo que

    toda essa massa humana de parasitas e exploradores

    do rebanho social vá buscar, nas florestas, o

      ani

    m al  pujante de seiva, de vida — em virtude da sua

    sobriedade  inst int iva  — e o prenda em ambiente

    i n co mp at ív e l

      com a sua liberdade, com os seus há

    bitos  selvagens e o  mutile  — para rejuvenecer a

    criaturas de si mesmas mutiladas pela vulgaridade

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    26/119

    48

    Maria Lacerda  e  Moura

    ociosa e parasitaria, pela imbecilidade quintessen-

    ciada de

      p re ju ízos

      e rotina, pela baixeza e

      servilis

    m o,  pelo autoritarismo, pelo orgulho da inconcien-

    cia

      de si

     mesmos?

    Sob outro

     aspecto,

      pondo de parte os

      a d m i r á

    veis

      estudos

      do  n o t á v e l  professor G. Moussu, a

    p r o p ó s i t o

      dos enxertos animaes, ("Revue de Zoo-

    technie", n.° 2, fevereiro de 1928

      F r a n ç a ) ,

      cujo

    r e l a tó r io  em torno das  exper iências  de melhora

    mento do gado

      colonial

      f r an cês ,

      pelo enxerto tes-

    ticular  animal, é  a d m i r á v e l ,  trabalho  t eór ico   e de

    d e m o n s t r a ç ã o

      pratica, de

      biologia,

      de

      fisiologia,

    trabalho de cientista e do dominio experimental;

    pondo de parte a mesma ideia de enxertia de

      ani

    maes

     da mesma

      espécie,

      nos trabalhos de Steinach,

    notabilissimo,

     — a  v o ro n o f i zação ,  si não passa

     ain

    da de  e x p e r i m e n t a ç ã o ,  muito longe do que se  p ô d e

    denominar rejuvenecimento, poderia ter alguma

    r a z ã o  e objetivo  clinico   acentuado — no  caso  de

    desordens  o rg ân icas

      provindas dos

      ovár ios .

    A

      enxertia de outros

      ovár ios

      femininos

      v i rá ,

    talvez,  substituir a  o p e r a ç ã o  brutal da  ex t i rp ação

    ivilização

     —

      Tronco

      e

      Escravos

      49

    dos

      ovár ios

      da mulher, cujas

      co n seq u ên c i as ,

      todos

    sabem,

      d esas t ro s í s s imas ,

      sob o ponto de vista

     

    isio-

    psicologico,

      determinam  co mp l i caçõ es  taes  que po

    dem levar a mulher ao manicomio, quando não a

    maltratam  e á  f amí l i a ,  até o fim de uma  existência

    penosíss ima.

    O

      enxerto ovariano poderia, talvez, restituir-

    lhe,

      pelo menos por mais algum tempo, a

      sensação

    de

      s a ú d e ,

      de bem

      estar.

    A l i á s ,

      quando as mulheres forem mais respon

    sáveis  e

     donas

     do seu  p r ó p r i o   corpo, creio bem que

    taes

      ex t i rpações

      ovarianas

      s e r ão

      mais raras.

    Por ora, a mulher, inconciente,

      e s t á

      inteira

    mente á

      m e r c ê

      da vontade dos homens, e,  quantas

    vezes

     a  o p e ração   é  feita  sem mesmo que ela saiba

    de que se trata

    E

    mais

      fáci l ,

      entretanto, prolongar a

      v i ta l i

    dade,

      retardar a

      sen i í idade

     — do que voltar

     a t r á s . . .

    Acho  r a z ã o   na  resposta á  enquête  á qual con

    correram

      os Drs.

      L e i t ã o

      da Cunha e Moncorvo,

    por occasião  da estadia sensacional de  V o r o n o f f

    no  Bras i l :  homens e mulheres lucrariam mais, cor-

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    27/119

    50

    ri acerda  de  Moura

    rigindo

      os erros alimentares, metodizando o tra

    balho,

      fugindo dos vicios

     sociaes.

    Mas,  quem

      pôde

      cogitar de  cousas  de si tão

    complexas como

      simplificar

      a  vida,  por exemplo?

    Para

     a

     sugestão

     de um ponto de partida, quan

    do tudo  falhou  e

      ninguém

      se sacrifica e todos  exi-

    gem o sacrificio de outros, em uma

      época

      de

     deca

    dência

     de tudo e de um surto estupendo de progres

    so material — era preciso surgisse um

      Voronoff.

    E   V o r o n o f f

      descobriu o macaco...

    O PREMIO  NOBEL

      D A PAZ

    O

      premio Nobel na Paz, em 1928, coube ao

    esportista belga,

      barão

      de Coubertin, presidente do

    omité Olímpico

      Internacional.

    A

      imprensa aplaude, incondicionalmente, o

    grande alcance de vistas  dessa  escolha, salientan

    do o fato de que a

      única

     e verdadeira finalidade do

    esporte é a paz entre os povos.

    Os fatos provam o contrario, mas, os discos

    de gramofone repetem a musica de um preconceito

    an t i qu í s s imo mascarado  na hipocrisiade uma nova

    a sp i r a ç ão

    proclamada por palavras e não nos

    gestos.

    S i

    de relance,

      passamos

      os olhos

      pelas  sec

    ções

      esportistas dos jornaes, só vemos o anuncio

    comercial  dos  emp r e s á r i o s porque o esporte, co

    mo

      os concursos de beleza, é meio de

      vida  lucrati

    vo

      e glorioso. . .) sentimos as rivalidades, as bri-

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    28/119

    52

    Maria

      Lacerda

      de  Moura

    gas, a mesquinharia das

      compe t i ções ,

      a

      concor rên-

    cia,

      a

      luta

      sob todos os

     aspectos.

    O  esportismo para o publico — ou é vaidade

    e

      exibição,  gloria

      ou

      prof i s são ,

      ou tudo ao mesmo

    tempo...

      No meio masculino, o esportismo é fa-

    tor

      de celebridade — para "vencer", para conquis

    tar  posição  no "tablado" do box social, para a

    emancipação económica

      ou nacionalismo patrio-

    teiro.

    A í ,  como em toda parte, na  vida  social, para

    subir  — é preciso abaixar-se . . .

    A

      politica

      esportista é

      igual

      a qualquer  po l i -

    tica:

      a

      luta,

      a

      concor rênc ia ,

      a guerra.

    Si  asistimos a uma partida de  "foot-ball",  de

    "box",

      força  de  e x p r e s s ã o :  eu não as vejo nun

    ca . . . ) de qualquer esporte, os "torcedores" to

    mam  as  suas  posições  de defesa agressiva, e, quan

    tas vezes, a

      policia

      tem de

      intervir

      para aplicar a

    ducha conveniente aos desatinos apaixonados das

    multidões

      exaltadas

    E

      as "poules", o jogo dentro do jogo,  as

      riva

    lidades dos aplausos e a "claque" de cada partido?

    O

      esporte em sociedade é sempre  versus

    Os torcedores enrouquecem á

      força

      de estimular

    aos  seus  "eleitos". Exercicio fisico? Higiene? E

    ivilização

     —

      Tronco

      de

      Escravos

      53

    a

      multidão

     aglomerada respirando pó e suor, a cus

    pir  e a gritar por cima das  cabeças febris? Absurdo

    denominar a isso —

      educação  fisica

    E

      entre gente da mesma cidade, do mesmo

    bairro  já se acentuam as rivalidades.

    Si  o jogo é entre cariocas e paulistas? Não é

    preciso  comentários  em torno  dessas  "partidas"

    emocionaes,

      sensacionaes.

    E

      si formos mais longe? Uma partida entre

    brasileiros

      e argentinos?

    A  diplomacia

      secreta,

      esportista e governa

    mental,  tem de

      intervir

      para evitar

      conflitos

      inter-

    nacionaes.

    Ha

      pouco, tivemos  ocasião  de falar das

    o l i m p í a d a s ,  em que  estudantes  italianos fascistas

    esmurraram a

      estudantes

      franceses. E até

      citámos

    uma pagina de  I I  Piccolo", quando transcreveu o

    discurso de Ponn. Augusto  Turati,  no qual elogia

    va,

     comovidamente, ao

      moço  italiano,

      o

      heróe des

    sas

      façanhas

      esportistas, em

      razão

      dos

      seus

      "pu

    nhos  firmes"  em terras extrangeiras.

    Uma

      medalha de ouro foi cunhada  expressa

    mente para  essa  bravata  o l ímp ica ,  e colocada ao

    peito

      do

      joven

      fascista, "orgulho da

      r a ç a ,

      fi lho

  • 8/17/2019 CIVILIZAÇÃO TRONCO DE ESCRAVOS.pdf

    29/119

    54

    Maria Lacerda  de  Moura

    de Roma,  f i lho da "Loba" —  cé reb ro  e c o r a ç ã o  do

    mundo"  . . .

    Piccolo" o transcreveu com a seguinte no

    ta  muito

      significativa:

      "Lo riproduciamo d'urgen-

    za" . . . e o  t i t u l o :  "Farsi rispettare "

    Vale

      a pena transcrever

      esse

      trecho do dis

    curso de Ponn.  T u r a t i ,  Secretario do Partido Na

    cional

      Fascista,  nessa

      o cas i ão ,

      em regosijo pela

    "d ú p l i ce v i t t o r i a"  dos

      estudantes

      fascistas: o soco

    do italiano no rosto do  f rancês .

    "Bravos

      a vós que vencestes, entre os estu

    dantes

      de todo o mundo, a  co mp et i ção o l ímp ica ,

    mas,  t a m b é m ,  para premiar as  vossas virtudes, não

    somente de saltadores e corredores, como as de

    "boxeurs" em terras de  F r a n ç a .

    (Aplausos,  bravos, muito  bem )

    "Esse  esporte não fora  compreendido no pro

    grama das  o l imp íad as u n iv er s i t á r i a s ,  mas,  as

      cir-

    cunstancias,  a  incompreensão a pouca  educação

    cívica

      (muito bem

    bravos aplausos)

      da parte de

    u m  publico que assistia ás  vossas  compet ições ,

    transformou-vos

      imediatamente e vos  levou a com

    bater

      essa

      bela batalha, não mais esportiva, mas,

    p o l i t i ca . (Mu i to  bem aplausos.)

    "Camaradas estudantes Nós vos queremos,

    Civilização  —  Tronco  de  Escravos

    55

    porque

      representaes

      entre a mocidade italiana, a

    nova

      g e r a ç ã o ,

      a parte eleita, a parte seleta. Mas,

    amamo-vos porque sois a

      expressão v iva

      e melhor

    deste

      nosso

      espirito e

      desta nossa

      p a ix ão .  Si, cur

    vados sobre os  l ivros,  cultos demais para  serdes

    belos e  vivos;  si fosseis somente criaturas de estu

    do,  educados  a afrontar a  vida  na dura contenda

    quotidiana

      pela conquista de um posto, nós vos

    co n s id e ra r í amo s ,  sim,  filhos  da  I t á l i a ;  mas, não po

    d e r í a m o s  amar-vos.

    Amamo-vos

      porque fostes venturosos, alegre

    mente, com o vosso belo faseio recamado sobre o

    peito,

      a afirmar que a  I t á l i a  de hoje  es tá  com os

    punhos e com o

      c o r a ç ã o

      firmes."

      ( " A c l a m a ç õ e s

    v iv í s s imas"  ( " I I Piccolo" — 1 de Setembro de

    1928.)

    Parece

      impossível

    A  simplicidade clovnesca dos fascistas o con-

    fesa. As outras  n açõ es  guardam  reservas . . .

    M a s ,

      no fim,

      es tá

      conforme.

    O

      esporte é o preparo para as guerras. E a

    I t á l i a  fascista, cuja  poli t ica  imperialista de expan

    são ter r i to r ia l  é uma  a m e a ç a  e uma  p r o v o c a ç ã o ,  or

    ganizou

     mesmo um quasi  min is tér io  de  compet ições

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    56

    Maria Lacerda  de  oura

    at lé t icas  e até as mulheres  se rão  aproveitadas na

    p r ó x i m a

      guerra.

    O

      desenvolvimento das

      forças f ísicas,

      dos pu

    nhos firmes, sem o

      necessár io  equilibrio

      interior

    para controlar o despertar dos instintos

     bestiaes

     de

    luta,

      do troglodita — é o maior dos crimes pra

    ticados atualmente  pelas sociedades.

    A

      G r é c i a

      morreu quando cresceu a

      força

      e o

    prestigio

      dos lutadores, gladiadores e pugilistas.

    P l a t ã o

      já protestava: a

      e d u c a ç ã o

      fisica

      e a

    mental

      devem caminhar paralelamente, como dois

    cavalos atrelados ao mesmo carro.

    M a s ,

      as

      sociedades

      modernas fazem, do es

    porte,

      p ro f i s são

      rendosa e

      posição

      social, e — o

    preparo para as guerras.

    E

      n i n g u é m

      melhor do que os profisionaes es

    portistas para conhecer os bastidores da sua con

    co r rên c i a

      vaidosa e comercial,

      p a t r i ó t i ca

      e aventu

    reira,  chantagista e viciosa.

    N i n g u é m

      me

      co n v en cerá

      de que o box tem

    por

      objetivo a paz.

    N i n g u é m c o n s e g u i r á

      convencer-me de que se

    querem

      mu i t í s s imo

     e de que são pacifistas dois con

    tendores a se esmurrarem, mutuamente e estupi

    damente, por dinheiro, e, mui principalmente, si

    ivilização

     —  Tronco  de

      Escravos

      57

    u m  é  f rancês  e o outro é  a l e m ã o ; si um é italiano e

    o outro,

      f r an cês ;

      si um é

      j a p o n ê s

      e o outro, ameri

    cano do norte; si um é De Carolis e o outro, um

    jornalista

      de O Combate . . . por

      ocasião

      do ca

    so  I I Piccolo .

    N i n g u é m

      me

      co n v en cerá

      de que as

      o l imp ía -

    das fizeram a  a p r o x i m a ç ã o  entre a  I t á l i a  de  Mus

    solini

      e a

      F r a n ç a .

    A

      medalha fascista de premio ao soco do es

    tudante italiano no rosto do

      estudante

      f r an cês  é

    uma prova  i r r e fu t áv e l  de que os jogos  o l ímpicos ,  o

    atletismo

      teem por objetivo a paz internacional. . .

    Entre nós, o incidente do  E s p é r i a ,  em São

    Paulo, é de

      lógica

      de aço.

    Os jornaes da Capital paulista trataram larga

    mente do  assunto,  em um protesto veemente con

    tra  a  in v asão  turbulenta do fascismo no Brasil, tra

    zendo a

      d i scó rd i a

      e o odio para o seio da

      famíl ia

    italo-brasileira.

    Reproduzo o  c o m e n t á r i o  de O Estado de

    S ã o

      Paulo do dia 25 de Dezembro de 1928, em

    uma das

      secções

      esportistas:

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    58

    Maria Lacerda  de  Moura

    Um   Incidente.

    " U m  incidente  d e s a g r a d á v e l  veio perturbar

    o entusiasmo

      dos espectadores,

      logo

     á

      chegada

      de

    M a r t i n i

      e

     Weygand.

    Quando

      o primeiro  foi

     retirado

      da

     agua,

     um

    dos

      assistentes,  não

     medindo, talvez,

      o

      alcance

      de

    suas

      palavras, disse:

      —

      "Chegou

      f r o u x o .

      . ."

    F o i

      o

      bastante  para

      ser

      agredido

      por

      sócios

    do

      " E s p é r i a " ,  e,

     entre

      elíes,

      alguns

      que

     eram

      j u i -

    zes

      da

     prova

     e

     membros

     da

      F e d e r a ç ã o

    Enquanto algumas  pessoas  procuravam acal

    mar

      os

      exaltados,  M a r t i n i ,

      que se

      reanimara,

      e,

    sendo  carregado

      em

      t r i u n fo , g r i t o u :

      —

    " V i v a

    Roma "

      —gr i to  que

     causou

      má imp ressão  no pu

    blico,  pelo

     que, uma

     senhora não

     se

     conteve,

     e, em

    protesto,

      g r i t o u :  — " V i v a

      Roma, não

    " V i v a  o

    " E s p é r i a " ,

      e

      v iv a M a r t i n i ,  isto

      sim

    N ã o

      se

      saiu

      bem,

     entretanto,

      com esse seu

    gesto

      de

     revolta,

     sendo

     agredida

    o que

     ainda agra

    vou  a  s i t u ação .

    Os fatos teriam  co n seq u ên c i as g rav í s s imas

      si

    n ã o  houvesse a  i n t e rv en ção

      decidida

     de

     outras

     pes

    soas

     que se

     achavam  presentes. Mas, mesmo assim,

    Civilização  —  Tronco  de  Escravos

    59

    o  " r o l o "  continuou, tomando parte nele  vár ios só

    cios

      do

      " E s p é r i a " .

    E m  frente

      ao

      g a l p ã o

      das

     barcas, outro rapaz

    fo i  t a m b é m

      agredido

      por um  sócio  do

      mesmo

    Club.

    Esses  fatos

      nos

      fazem

      pensar  o

      seguinte

      a

    respeito

      da

      i n t e n ç ã o

      com que

     aquele Club tomou

    parte

      na

     prova:

    Disputava-se

      uma

     prova esportiva

      ou era a

    supremacia

      de uma

     cidade

      que se

      tratava

      de

      afir-

    mar?

    E ra  um valor esportivo a  demonstrar  ou uma

    exibição

      de

      força

      de

      determinada corrente

      de po

    l i t ica

      extrangeira

      em

     São Paulo?

    Estas perguntas

      es t ão

      plenamente justificadas

    por  provas robustas.

      E' a

     segunda

      vez que tal

     fato

    se  verifica  em uma c o m p e t i ç ã o  esportiva  em São

    Paulo.

    E m  um dos

     encontros entre

      o

      "Palestra"

      e o

    "Corintians",

      já

      tivemos

      ocasião

      de

      noticiar

     que

    esses

     Clubs,

     no

     Parque São Jorge,  antes

     de

      inicia-

    re m  o

      jogo

     dos

     quadros principaes, postaram-se

      á

    frente

      da

     tribuna em

     que se

     achava um  C ô n s u l

      (1)

    aqui  acreditado,  e,  estendendo  os  b raço s ,  fizeram

    1)  Mazzolini c ô n s u l  fascista italiano

      em

     São Paulo.

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    6

    Maria Lacerda

      de

      Moura

    uma

      s a u d a ç ã o

      bem caracterizadamente

      poli t ica,

    confirmando-a  com os seus termos adequados.

    O r a ,  tudo isso seria muito grave, si, primeira

    mente, não

      fosse

      de um

      r id ícu lo

      clovnesco.

    Assim  termina o  c o m e n t á r i o  de O Estado .

    Muitissimo

      grave, sim.

      M u s s o l i ni , T u r a t i

      e

    Cia .

      são clovnescos, não ha duvida, nunca

      n i n g u é m

    duvidou  disso, mas,

      essa

      pantomina, por demais

    longa

      e macabra,

      a m e a ç a

      estrang