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___________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 06– Número 01 – 2011
1 – Graduandos em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Paraíba. Campus II. Centro de Ciências Agrárias.
2 – Graduando em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba. Campus II. Centro de Ciências Agrárias.
3 – Professor da Universidade Federal da Paraíba. Campus II. Centro de Ciências Agrárias. Departamento de Ciências
Biológicas. Laboratório de Botânica e Citogenética. Areia, Paraíba. CEP: 58397-000.
4 - Professor da Universidade Federal da Paraíba. Campus II. Centro de Ciências Agrárias. Departamento de Fitotecnia
e Ciências Ambientais. Laboratório de Etnoecologia. Areia, Paraíba. CEP: 58397-000. E-mail: [email protected]
CLASSIFICAÇÃO ETNOBOTÂNICA POR UMA COMUNIDADE RURAL EM UM
BREJO DE ALTITUDE NO NORDESTE DO BRASIL
Diego Batista de Oliveira Abreu1, Ronaldo Benevides de Oliveira Filho
2, Carlos Frederico Alves de
Vasconcelos Neto1, Camilla Marques de Lucena
1, Leonardo Pessoa Felix
3 e Reinaldo Farias Paiva
de Lucena4
RESUMO - A classificação folk é um ramo da etnobiologia que busca investigar a maneira como
as sociedades humanas vêem a natureza, sob o ponto de vista cognitivo, elucidando os princípios
subjacentes ao reconhecimento e classificação dos seres vivos. O presente estudo teve por objetivo
descrever e analisar a classificação etnobiológica feita por uma comunidade rural em um brejo de
altitude localizado no município de Areia (PB). A pergunta geradora de dados utilizada na
entrevista foi: “Quais plantas você conhece?”. Realizou-se um inventário de todos os genéricos folk.
Por meio da lista dos genéricos folk foi elaborado um banco de dados utilizado para a elaboração de
fichas de identificação dos genéricos e específicos folk. Com essas fichas foram realizados os
agrupamentos de todas as plantas, por quatro especialistas locais. Estes foram escolhidos pela
indicação de todos os moradores da comunidade. Na análise e representação dos agrupamentos
realizados foi utilizado o Diagrama de Venn e o programa Pilesort Multidimensional Scaling do
ANTHROPAC Software. Foram registrados 152 genéricos folk, distribuídos em 92
árvores/arbustos, 45 ervas, 11 cipós/trepadeiras, duas bromélias, uma parasita e um cacto. A
classificação desses especialistas compreendeu quatro níveis hierárquicos. Obteve-se 100 genéricos
monotípicos e 18 politípicos. Foram identificadas dez formas de vida e cinco critérios de
classificação. As informações do presente estudo sugerem a necessidade de mais estudos voltados
para a classificação folk, principalmente em outras áreas de brejo de altitude, para verificar se os
resultados no brejo de Areia se reproduziram ou serão encontrados padrões diferentes na
organização da classificação.
Unitermos: Etnobotânica, Classificação Folk, População Tradicional.
ABSTRACT - The folk classification is a branch of ethnobiology that investigate how human
societies see nature, under the cognitive point of view, elucidating the principles underlying the
recognition and classification of living things. This study aimed to describe and analyze the
classification ethnobiologic made by a rural community in an upland forest located in Areia (PB).
The question generates data used in the interview was: "Which plants do you know?" We conducted
an inventory of all generic folk. Through the list of generic folk was prepared a database used for the
preparation of notes identifying generic and specific folk. With these chips were made groupings of
all plants by four local experts. These were chosen by an indication of all community residents. In
the analysis and representation of groups conducted was used Venn diagram and the program's
ANTHROPAC Pilesort Multidimensional Scaling Software. 152 folk generics were recorded,
distributed in 92 trees/shrubs, 45 herbs, 11 lianas / vines, bromeliads, a parasite and a cactus. The
classification of these experts included four hierarchical levels. Reached 100 generic monotypic and
18 polytypic. We identified ten forms life and five classification criteria. The information from this
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study suggest the need for more studies into the folk classification, especially in other areas of
forest, to verify the results in the swamp Sand reproduced or be found different patterns in the
organization of the classification.
Uniterms: Ethnobotany, folk classifications, traditional population
INTRODUÇÃO
A classificação folk é um ramo da etnobiologia que se preocupa em investigar como as
sociedades humanas vêem a natureza, sob o ponto de vista cognitivo, elucidando os princípios
subjacentes ao reconhecimento e classificação dos seres vivos (Mourão & Montenegro, 2006).
Esses princípios que formam a base das classificações folk são os que decorrem do reconhecimento
e agrupamento dos organismos a partir da percepção das similaridades e diferenças morfológicas.
Contudo, nestas classificações incluem-se também fatores culturais, econômicos e ecológicos
(Mourão & Montenegro, 2006).
Segundo Mourão & Montenegro (2006) foram por meio de estudos com o registro dos
nomes de plantas e animais e suas possíveis utilizações pelas populações tradicionais que a
classificação folk teve seus primeiros passos na ciência, sendo realizada por Zeisberger (1887) e
Coudreau (1892). A partir desses inventários muitos outros trabalhos foram realizados ao longo
desses anos (Berlin et al., 1968; Berlin, 1973a, b; Berlin et al., 1973; Berlin 1976; Hays 1976; Hunn
1982; Hays 1983; Atran 1985), a partir dos quais, Berlin (1992) verificou que as populações
tradicionais, espalhadas pelo mundo, apresentavam formas semelhantes de classificação dos
animais e plantas, bem como a maneira de enquadrá-los dentro dos conceitos biológicos. No Brasil,
os primeiros estudos realizados com a classificação folk foram com populações indígenas de várias
etnias, como por exemplo, os Tupis-guaranis, Kaingang e Canela, os quais foram realizados nas
primeiras décadas do século passado (ver Carrara, 1997).
De forma geral, pode-se entender a classificação folk analisando três aspectos: 1) da
classificação, que analisa os princípios de organização de organismos em classes; 2) da
nomenclatura, que busca entender o pensamento que norteia a adoção de nomes às classes da
classificação folk e 3) da identificação, que busca compreender a relação existente entre os
caracteres dos organismos e a sua classificação (Berlin, 1973a, b).
A classificação folk já foi bastante estudada nas décadas passadas (Berlin et al., 1968;
Berlin, 1973a, b; Berlin et al., 1973; Berlin 1976; Hays, 1976; Hunn, 1982; Hays, 1983; Atran,
1985; Clément, 1995; Carrara, 1997; Atran, 1998), porém, hoje tem-se menos estudos realizados
com esse enfoque. Analisando os estudos atuais desenvolvidos com a temática da classificação feita
pelas populações tradicionais, com relação ao meio ambiente, pode-se observar que a maioria, no
Brasil, é desenvolvida no campo da etnozoologia (Mourão 2000; Mourão & Nordi 2002a, b; Araújo
2005; Mourão & Nordi 2006; Mourão et al., 2006; Mourão & Montenegro 2006; Souza & Begossi
2007), sendo poucos os estudos no Brasil com enfoque nas etnoclassificações botânicas (Sambatti
2001; Hanazaki et al., 2006; Peroni et al., 2007; Lucena, 2009).
Diante do panorama no Brasil da classificação folk, o presente estudo buscou entender a
dinâmica e a forma de construção da classificação folk das espécies vegetais conhecidas por
especialistas locais de uma comunidade rural de brejo de altitude adjacente ao Parque Estadual
Mata do Pau Ferro (Areia, Paraíba, Brasil), analisando e interpretando os critérios utilizados em
suas classificações. Como ponto de destaque é que se trata de um estudo pioneiro realizado em
brejos de altitude analisando esse sistema de classificação no estado da Paraíba. As informações
adquiridas na presente pesquisa poderão dar suporte para estudos futuros que busquem analisar se
no estado da Paraíba as populações tradicionais seguem o mesmo princípio de organização e
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classificação da biodiversidade, já que existem trabalhos realizados em outras áreas como caatinga
(Mourão et al. 2006; Lucena, 2009), mangue (Araújo, 2005) e áreas litorâneas (Mourão, 2002a, b).
MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo: Contexto Regional e Ambiental
No Nordeste do Brasil o termo brejo de altitude é usado de forma distinta (Andrade-Lima,
1982). De acordo com Lima et al. (1975), os “brejos” são ilhas de floresta úmida no semiárido
brasileiro condicionado pela altitude (500-1.110 metros), recebendo influência de ventos úmidos
originados no Oceano Atlântico, os solos são desenvolvidos e profundos com formações florestais e
cursos d’água permanentes (Andrade-Lima, 1960; Lins, 1989).
A diversidade de espécies nas matas úmidas dos brejos é provavelmente mais alta que nos
outros tipos de vegetação da região no Nordeste do Brasil (Sales et al., 1998). Do ponto de vista do
meio ambiente, a conservação dessa cobertura florestal é muito importante para manter o
ecossistema e as interações ecológicas entre fauna e flora. Contudo, Andrade-lima (1961), nos
lembra de que o seu papel mais importante talvez seja a preservação das fontes d’água nas bacias
dos rios maiores e menores, e as variedades de recursos, tais como produtos agrícolas, plantas
medicinais, fontes de energia, madeira para construção, recursos de lazer e atividades turísticas,
assim como recursos alimentícios para a fauna da região, além de serem também recursos úteis para
as populações tradicionais que vivem nessas áreas.
O município de Areia, onde foi realizado o presente trabalho, está situado numa região de
brejo de altitude no estado da Paraíba. É localizado na microrregião do Brejo e mesorregião do
Agreste Paraibano (68° 58’ 12’’ latitude e 35° 42’ 19’’ longitude). Abrange uma área de 269 Km².
Possui clima ameno e altitude de 618 metros acima do nível do mar. Sua população atualmente é de
23.837 habitantes (IBGE, 2010). Em Areia, existe um brejo de altitude que é considerado o de
maior proporção no Nordeste Oriental, Andrade & Lins, (1964). Esta característica deriva da
orientação quase perpendicular da escarpa da Borborema, na região, em relação à direção dos
alísios de sudeste. Nessa região foi criada o Parque Estadual Mata do Pau Ferro, com cerca de 600
hectares, constituindo uma unidade de conservação de domínio estadual, criada pelo Decreto
14.832, de 01 de outubro de 1992. Esse parque detém a mata de brejo mais representativa no estado
da Paraíba (Pôrto et al., 2004).
O Parque Estadual Mata do Pau Ferro, adjacente à comunidade onde foi desenvolvido o
presente estudo, localiza-se a 5 km da cidade de Areia (6° 58’12’S latitude e 35° 42’15’W
longitude), numa altitude variável entre 400 e 600 metros, temperatura média anual de 22 °C,
umidade relativa em torno de 85% e totais pluviométricos mensais em torno de 1.200 mm Mayo &
Fevereiro, (1982).
Retratos da Comunidade Estudada
A comunidade escolhida para a realização deste estudo encontra-se próxima ao Parque
Estadual Mata do Pau Ferro, sendo conhecida como comunidade Vaca Brava de Cima. A região
mais ao norte denomina-se Vaca Brava de Cima, situando-se nas imediações da barragem Vaca
Brava (6º59'40.24" S35º45'07.08" O). Essa parte da comunidade é constituída por seis residências
habitadas com predomínio da agricultura de subsistência, com alguns de seus moradores
desenvolvendo trabalhos terceirizados na área urbana da cidade de Areia. São moradores
remanescentes do antigo engenho conhecido por Vaca Brava de Cima. A região mais ao sul,
denomina-se Vaca Brava de Baixo, estando nas imediações do Engenho Vaca Brava de Baixo (ou
“Engenho Gondim”) (7º00'52.27"S 35º44'44.06"O), constituída por 20 residências, predominando
também a agricultura e prestação de serviços aos engenhos ativos da região.
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Inventário Etnobotânico Antes do início das entrevistas com os moradores dessa comunidade, foi realizada uma
conversa informal com cada um explicando o objetivo do estudo. Em um segundo momento, deu-se
início ao levantamento dos nomes vernaculares das espécies conhecidas na região por meio de
entrevistas semiestruturadas (Viertler, 2002; Albuquerque et al., 2010).
Na primeira etapa do trabalho, foi realizada uma entrevista, onde a pergunta geradora dos
dados foi: Quais plantas da Mata Pau Ferro você conhece? Por meio dessa pergunta se obteve a
relação de plantas conhecidas pelos moradores da comunidade. Entrevistaram-se 28 informantes (17
homens e 11 mulheres), representando 100% dos chefes domiciliares da comunidade. Além das
informações sobre as plantas, perguntou-se também se eles conheciam algum especialista local na
comunidade com relação ao conhecimento sobre a diversidade vegetal encontrada na Mata Pau
Ferro. Numa segunda etapa, e com posse desses dados, identificaram-se seis especialistas locais
(quatro homens e duas mulheres), todos pertencentes à região de Vaca Brava de Cima. Contudo,
dois informantes se negaram a participar da pesquisa, sendo a mesma realizada com quatro (três
homens e uma mulher).
Seguindo a metodologia proposta por Lucena (2009), realizou-se um inventário de todos os
genéricos folk (Berlin, 1992), ou seja, os nomes vulgares de plantas, conhecidos por cada
informante geral. Foram incluídas na listagem todas as plantas lenhosas (árvores, arbustos e
herbáceas de grande porte), bromélias, trepadeiras, cipós, epífitas, cactáceas e herbáceas (pequeno
porte), na qual foram incluídas as pteridófitas.
Por meio da lista dos genéricos folk foi montado um banco de dados que foi utilizado para a
elaboração de fichas de identificação dos genéricos e específicos folk. Com essas fichas foram
realizados pelos especialistas locais os agrupamentos de todas as plantas. Cada ficha foi produzida
com papel tipo cartolina sendo inscrito o nome de cada genérico e o específico folk.
As entrevistas semiestruturadas com os especialistas locais foram realizadas da seguinte
forma: foram colocadas aleatoriamente todas as fichas em uma mesa, em seguida solicitou-se a cada
um que organiza-se as plantas de acordo com o seu entendimento. Foi explicado que uma planta
poderia ficar sozinha, caso não houvesse características que a agrupassee com outras, além de ser
permitido separar os nomes que não conhecesse em um grupo a parte, denominado de
desconhecidas. Essa etapa foi realizada com cada informante separadamente. Depois de finalizada
esse primeiro agrupamento, considerado como grandes grupos, por meio dos quais se desvendou as
formas de vida utilizadas na classificação etnobiológica, foi perguntado se os mesmos poderiam ser
divididos em grupos menores, sendo elaborados subgrupos dentro de cada grupo maior.
Registrou-se em um caderno de anotações os nomes das plantas com seus respectivos grupos
e subgrupos. Ao término dessas anotações perguntou-se ao especialista qual o motivo da formação
de cada grupo, com a finalidade de inferir sobre os critérios de classificação adotados por cada um,
e a identificação das respectivas formas de vida.
Análise dos Dados
Os agrupamentos foram analisados segundo os critérios e justificativas propostas pelos
especialistas locais. Buscou-se comparar tais critérios com os registrados na literatura, além de
confirmar os nomes atribuídos as categorias geradas. Na comparação da classificação folk com a
científica foram adotadas as categorias hierárquicas de inclusão taxonômica de Berlin (1992), sendo
elas: reino, forma de vida, intermediário, genérico, específico e variedade. Foi analisado o contexto
dos genéricos, os quais podem ser divididos em monotípicos (quando possuíam um só nome,
podendo ser simples ou composto), e politípicos (quando é dividido em dois ou mais nomes).
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Outra comparação realizada entre as classificações folk e científica foram as
correspondências taxonômicas, sendo elas: correspondência 1:1, na qual o genérico folk
corresponde a uma espécie científica; sobre diferenciação, em que dois ou mais genéricos folk
correspondem a uma espécie científica e; subdiferenciação, a qual é dividida em dos subtipos:
subdiferenciação 1, quando um genérico folk representa duas ou mais espécies do mesmo gênero
científico, e subdiferenciação 2, na qual é evidenciada a correlação de um genérico folk com duas
ou mais espécies científica de gêneros diferentes.
Na análise e representação dos agrupamentos realizados pelos especialistas locais foi
utilizado o Diagrama de Venn adotado por Berlin (1992), e o programa Pilesort Multidimensional
Scaling (PMS) do ANTHROPAC, software (Analytic Technologies & Medical Decision Logic, Inc.
versão 1.0). Esse teste foi utilizado para analisar o grau de consenso dos especialistas, com relação
as suas classificações. Por meio do programa, também se pode analisar a proximidade dos
informantes com relação aos critérios classificatórios utilizados pelos mesmos. A nomeação desses
critérios foi elaborada pelos autores desse estudo.
As espécies coletadas foram identificadas com a ajuda de chaves analíticas e por
comparação com o material depositado no Herbário Jayme Coêlho de Moraes (EAN) da
Universidade Federal da Paraíba, e por consulta a especialistas.
RESULTADOS
Foram registrados 152 genéricos folk divididos em 92 árvores/arbustos, 45 ervas, 11
cipós/trepadeiras, duas bromélias, uma parasita e um cacto. A classificação dos especialistas
compreendeu quatro níveis da estrutura hierárquica proposta por Berlin (1992), não sendo
reconhecido o nível intermediário e variedade (Figura 1). Dos genéricos folk registrados e
nomeados pelos informantes, 100 foram monotípicos e 18 politípicos (Tabela 1).
O resultado das correspondências taxonômicas adquiridos pela análise das 97 espécies
botânicas coletadas e identificadas evidenciou 68 correspondências do tipo 1:1, 16 do tipo
sobrediferenciação, uma correspondência do tipo subdiferenciação tipo 1 e uma subdiferenciação do
tipo 2.
Os especialistas demonstraram um amplo conhecimento com relação ao elenco de plantas
adquirido nas entrevistas gerais pelos moradores da comunidade, porém, nenhum deles reconheceu
todas as plantas inventariadas. Um dos especialistas reconheceu 140 genéricos folk correspondendo
a 92,1% do total citado nas entrevistas, outro reconheceu 101 genéricos (66,5%), outro 82 (54%) e o
último 64 (42,1%). Todos os genéricos folk de porte lenhoso foram reconhecidos, havendo
distinções apenas com relação às herbáceas de pequeno porte, como no caso das espécies
pertencentes às famílias botânicas Poaceae e Pteridaceae. Os critérios utilizados pelos especialistas locais para classificar e agrupar os vegetais foram:
utilitário, morfológico, linguístico, tóxico, ecológico e não útil. Algumas plantas não foram
agrupadas por não compartilhar nenhuma característica que as unem com as demais, ficando assim
sozinhas. O critério utilitário foi dividido em alimentação, medicinal, madeireiro, tecnológico,
higiene, forrageiro, ornamental e construção (Tabela 1).
Como exemplo dos agrupamentos formados por meio dos critérios acima citados; tem-se o
caso da “jurema preta” (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir) e “jurema branca” (Mimosa
ophtalmocentra Mart. ex. Benth.) que foram agrupadas de acordo com suas utilidades e morfologias
(Figura 2); o caso do “ipê amarelo” (Tabebuia serratifolia (Vahl) G. Nichols.) e “ipê roxo”
(Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl), que foram agrupadas de acordo com suas
características morfológicas compartilhadas, como suas folhas, flores, madeira e altura (Figura 3);
da “aroeira branca”, “aroeira do brejo” (Schinus terebinthifolia Raddi.) e “aroeira do sertão”
(Myracrodruon urundeuva Allemão.) por ambas iniciarem seus nomes com a palavra aroeira,
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sendo assim um exemplo de critério linguístico; “olho de boi” (Dioclea violacea Mart. ex Benth.),
“maracujá mochila” (Passiflora cincinnata Mast.), “japecanga” (Similax cf. cissoides Mart. ex
Griseb.) e “erva de passarinho” (Phthirusa pirifolia (Humb; Bonpl & Kunth) Eichcer.) por
crescerem sobre árvores (critério ecológico) e; “coco catolé” (Syagrus oleracea (Mart.) Becc. e
“macaíba” (Acrocomia intumescens Drude.) por ambas servirem de alimento para as pessoas
(critério utilitário). Como exemplo de genéricos isolados tem-se “imbaúba” (Cecropia
pachystachya Trecul.) e “pimenta d’água” (Indeterminado), os quais não apresentaram
características compartilhadas com outras plantas.
Cerca de cinquenta e dois por cento dos genéricos folk receberam um critério de
classificação, trinta e cinco, três dois critérios e dez, seis três critérios. Para tal observação
considerou-se a união das classificações de todos os especialistas locais da comunidade de Vaca
Brava. O fato de um genérico folk ter recebido mais de um critério de classificação está vinculado,
além da união das informações ditas acima, ao fato da divisão de grupos maiores em subgrupos
(Tabela 1). Nesse sentido, têm-se indivíduos de espécies e famílias botânicas diferentes formando o
mesmo grupo, como é o caso da “Tiririca” (Cyperus rotundus L.) (Cyperaceae) e “Barba de Bode”
(Desmodium adscendens (Sw.) DC.) (Fabaceae) junto com os capins (Poaceae), por ambas
servirem de forragem para animais. Quando separados em subgrupos foi adotado para tal separação
características morfológicas, como altura e tipo de folhas.
Registraram-se dez formas de vida, sendo elas identificadas e nomeadas pelos especialistas
locais: mato grande, mato médio, mato pequeno, mato baixo, mato rasteiro, capim, palmeira, rama,
enxerto e espinho (Tabela 1). A forma de vida mato grande foi identificada por 49,1% dos
informantes, mato médio por 32,8%, mato pequeno 13,9%, espinho por 13,1%, rama por 9%, capim
e mato baixo por 8,2%; mato rasteiro por 3,3%; palmeira por 1,7%; enxerto por 0,81%.
As análises realizadas usando o programa Pilesort revelaram que na comunidade de Vaca
Brava não existe um sistema de classificação consensual entre os especialistas locais, onde foi
verificado que cada um utilizou critérios próprios e particulares na organização do universo vegetal
reconhecido por ele (Figura 4). Além disso, tomaram posições distintas na análise, na qual os
mesmos ficaram separados (Figura 5). Mesmo com esse contexto, houve uma tendência para
agrupar as espécies seguindo os princípios relacionados às formas de vida, onde se destaca um
grupo de plantas lenhosas, outro com as herbáceas e outro de plantas com espinhos (Figura 6). As
demais espécies ficaram ora margeando esses grupos, ora em sobreposição a eles (Figura 7).
Outra tendência observada foi dos agrupamentos seguirem a orientação do critério de plantas
utilitárias, tanto para usos madeireiros como não madeireiros. Exemplos desses agrupamentos
foram citados acima.
DISCUSSÃO
Na classificação folk do presente estudo foram registradas 73 genéricos folk de porte lenhoso
reconhecidos pelos especialistas locais. Esse grande número de espécies lenhosas também foi
registrado em uma comunidade rural na região de caatinga na Paraíba Lucena (2009), onde o autor
registrou 65 plantas lenhosas reconhecidas e citadas pelos especialistas locais. O maior
reconhecimento de espécies lenhosas pelos especialistas locais tem sido evidenciado na literatura
como uma tendência nas classificações etnobiológicas, pelo fato de espécies de grande porte ser de
mais fácil visualização e por haver um predomínio dessas espécies nas áreas pesquisadas, como
vem sendo registrado em alguns estudos (Kakudidi, 2004; Lucena, 2009).
Com relação aos genéricos folk, houve um predomínio dos monotípicos com 85% e os
politípicos com 14% do total dos genéricos registrados nas entrevistas. Esse baixo índice dos
politípicos tem sido registrado em outros estudos, como por exemplo, o de Lucena (2009), que
registrou 14% de politípicos, Hays (1974), 14%, Berlin et al. (1974). 16%, Brunel (1974), 11%,
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Berlin (1976), 18% e Mourão & Nordi (2002a), 23%. O presente estudo encontrou os politípicos em
formato “bitípicos”, apresentando dois taxa específicos, sendo os politípicos reconhecidos com um
nome composto. Essa relação de politípicos com nomes compostos vem sendo também registrada
na literatura (Berlin, 1976; Mourão et al., 2002a, b; Araújo 2005; Hanazaki et al., 2006; Haverroth
2007; Lucena 2009).
Nas classificações folk Berlin et al. (1973a, b) e Berlin (1992), propuseram ranks
hierárquicos para organizá-las, podendo assim realizar comparações com as classificações
científicas. Na comunidade de Vaca Brava foram reconhecidos quatro níveis dos propostos pelos
autores acima, exceto o nível intermediário e variedade. Esse mesmo padrão foi registrado por
Lucena (2009), em uma comunidade rural residente em área de caatinga na Paraíba. Essa tendência
tem sido evidenciada em outros estudos, como afirma Mourão et al. (2002a) ao mencionar que
usualmente só aparecem quatro dos seis níveis hierárquicos nas classificações folk.
A utilização de diferentes critérios para a realização das classificações folk pelas populações
locais, também tem sido registrada na literatura (Berlin, 1976; Mourão & Nordi (2002b); Jinxiu et
al., 2004; Kakudidi, 2004; Lucena, 2009). Em Vaca Brava se registrou um predomínio dos critérios
utilitários e morfológicos, predomínios estes apresentados também por Berlin (1976), Hun (1982),
Hanazaki et al., (2006), Haverroth, (2007) e Lucena, (2009). O critério ecológico encontrado no
presente estudo também foi registrado em outros trabalhos de classificação folk (Jensen, 1985;
Lucena, 2009), assim como o linguístico (Berlin, 1976), que se baseia nas semelhanças dos nomes
das plantas ou animais para realizarem os agrupamentos.
Os dados desse estudo enfatizam a importância do conhecimento da dinâmica de utilização
das espécies vegetais pelos moradores, em virtude do grande emprego de características utilitárias
das plantas na organização de suas classificações, sendo requisitadas por 98% dos especialistas
entrevistados na comunidade. Essa organização utilitária foi defendida por Hun (1982) e Ellen
(1993), que argumentam que a classificação só é realizada para animais e plantas que possuam
algum valor para a população em questão. Assim como no presente estudo com os vegetais,
Haverroth (2007), também registrou uma forte presença utilitária na classificação dos índios
Kaingang, onde as plantas foram agrupadas em diferentes categorias de uso.
Também foi utilizado, pelos especialistas, o critério das plantas que não apresentavam
utilidade, sendo agrupadas em um mesmo grupo. Esse conceito de planta não útil foi encontrado por
Berlin (1976), em seu estudo em Aguaruna, onde um terço das plantas conhecidas foi considerado
com ausência de importância cultural, sendo as mesmas, geralmente, genéricos monotípicos, o que
também foi observado no presente estudo.
Na classificação etnobiológica desse trabalho, encontrou-se espécies de famílias diferentes
agrupadas, tais como: Fabaceae, Anacardiaceae e Myrtaceae, reunidas em virtude do potencial
alimentício (critério utilitário). Além desse grupo, também se obteve agrupamentos de indivíduos de
famílias diferentes a partir do critério morfológico, como Lecytaceae e Erytroxilaceae, que foram
reunidos utilizando suas alturas. Em virtude de tal situação, vê-se que os informantes de Vaca Brava
seguem sua própria lógica classificatória, que nesse caso, vai contra a classificação científica, assim
como afirma Kakudidi (2004) e Lucena (2009).
Em alguns agrupamentos foram utilizados mais de um critério, sendo usado um critério para
o agrupamento maior, e o outro para o desmembramento do mesmo agrupamento em grupos
menores. Por exemplo, um informante reuniu espécies lenhosas e herbáceas de famílias diferentes
em um grande grupo utilizando como critério sua utilização medicinal, e quando perguntado se o
grupo poderia ser dividido, o especialista local redirecionou as espécies para subgrupos, utilizando
dessa vez a altura como parâmetro classificatório. Do mesmo modo, os informantes indígenas da
etnia “Dai” na China utilizam critérios variados em sua classificação, na qual foi identificado que
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uma mesma espécie pode receber nomes diferentes de acordo com suas características (Jinxiu et al.,
2004).
As formas de vida encontradas em Vaca Brava foram denominadas pelos especialistas locais
tomando como determinante suas características morfológicas, como altura e presença de estruturas
(ex.: espinho) e critérios ecológicos como o utilizado para identificar a forma de vida parasita, cipó
e trepadeira. A utilização dessas características na determinação das formas de vida foi apresentada
por (Kakudidi, 2004; Lucena, 2009).
As formas de vida mato grande mato médio, mato pequeno, mato rasteiro, espinho e rama
que foram registrados no presente estudo, apareceram também no estudo de Lucena (2009), em área
de caatinga na Paraíba. Outros trabalhos têm organizado as plantas pertencentes a essas formas de
vida com denominações diferentes, sendo as mesmas mais próximas das organizações acadêmicas,
denominadas como árvores, arbustos, herbáceas, lianas, trepadeiras e epífitas (Berlin, 1976; Jinxiu
et al., 2004; Kakudidi, 2004).
Nesse estudo, a análise do programa Pilesort mostrou uma tendência dos especialistas locais
agruparem as plantas de acordo com seus próprios critérios, não havendo concordância entre eles.
Situação semelhante foi encontrada por Lucena (2009), com agricultores em uma comunidade rural
de Soledade (Paraíba). A forma como os especialistas locais utilizaram os critérios classificatórios
pode ter colaborado para o amplo universo das denominações das formas de vida e os seus critérios
de classificação.
CONCLUSÃO O presente estudo evidenciou que os níveis hierárquicos da classificação seguiram os
indicados pela literatura, com cada um bem definido pelos informantes. As formas de vida foram
abundantes, sendo que algumas já foram evidenciadas na literatura e outras foram registradas pela
primeira vez. Os critérios de classificação foram predominantemente morfológicos e utilitários. Os
informantes não seguiram um modelo semelhante na organização de sua classificação.
Essas informações sugerem a necessidade de mais estudos voltados para a classificação
etnobiológica vegetal, principalmente em outras áreas de brejo de altitude, para verificar se os
achados no brejo de Areia se reproduziram ou serão encontrados padrões diferentes na organização
da classificação.
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66
___________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 06– Número 01 – 2011
Tabela 1: Lista das genéricas folk citadas pelos especialistas locais, viventes nos arredores do
Parque Estadual Mata do Pau Ferro, da comunidade Vaca Brava; famílias, gêneros e espécies,
critérios de classificação; Alimentação (AL), Construção (CON), Forragem (FO), Higiene (H),
Linguístico (L), Madeira (M), Medicinal (M), Morfológico (MO), Ornamental (O), Sozinho (S),
Tecnológico (TEC), Tóxico (T), Útil (U), Não útil (NU), Ecológico (EC). Formas de vida: Rama
(R), Enxerto (EN), Mato rasteiro (MR), Mato pequeno (MP), Mato baixo (MB), Mato médio (MM),
Mato grande (MG), Espinho (E), Palmeira (PAL), Capim (C).
Família/Espécie
Nome
Vulgar
Critérios de
Classificação
Formas de
vida
ANACARDIACEAE
MO / MM /
Myracrodruon urundeuva Allemão Aroeira do Sertão U / M / NU MG
Schinus terebinthifolia Raddi
Aroeira do Brejo
(Branca) U / NU/ MO
MM/MG
Spondias mombin L.
Cajá
U / MO
E / MG
Tapirira guianensis Aubl.
Cupiúba branca U / NU
MG
ANNONACEAE
Annona crassiflora Mart. Ariticum U / MO MM / MG
APOCYNACEAE
Himatanthus phagedaenicus (Mart.) Woodson. Lagarteiro NU MM
Tabernaemontana cf. heterophilla Vahl. Leiteiro NU/U MM / MG
ARACACEAE
Acrocomia intumescens Drude Macaíba NU / U PAL /MG
Syagrus oleracea (Mart.) Becc. Côco catolé U PAL /MG
ASTERACEAE
Conyza bonariensis (L.) Cronq Rabo de raposa U MP
ARALIACEAE
Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire et al. Sabaquí U / NU MM / MG
BIGNONIACEAE
Crescentia cujete L.
Cuité
U / M
MP / MG
Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl. Ipê roxo U / NU / MO MG
Tabebuia serratifolia (Vahl) G.Nichols. Ipê Amarelo (Pau
D’arco Amarelo)
U / NU / MO MG
BORAGINACEAE
Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. ex Steud. Louro freijorge
Heliotropium indicum L. Fedegoso U /L MR / MB
BROMELIACEA
Bromelia karatas L.
Abacaxi de Raposa
(Banana de Raposa)
U MB / MM
BURSERACEAE
Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Amescla
CACTACEAE
Cereus jamacaru DC.
Cardeiro
NU / AL
E
CAPPARACEAE
Cynophalla flexuosa (L.) J.Presl
Feijão Bravo
U / NU
MM / R
CECROPIACEAE
Cecropia pachystachya Trécul Imbaúba U /NU MG
CHRYSOBALANACEAE
Licania rigida Benth. Oiticica U MG
CONVOLVULACEAE
Ipomoea asarifolia (Desr.) Roem. & Schult. Salsa U
R / MP
cont.
67
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cont.
CLUSICACEAE
Clusia nemorosa G. Mel. Pororoca NU/U MG
Vismia guianensis (Aubl) Pers. Canelinha NU MG
CUCURBITACEAE
Mormodica charantia L. Melão de São Caetano
U
R / MR
CYPERACEAE
Cyperus rotundus L.
Tiririca (Tiririca
Branca)
U
C
DIOSCOREACEAE
Dioscorea orthogoneura Uline ex. Hochr.
Cará Babão (do mato) U
R
ERYHTROXYLACEAE
Erythroxylum pauferrense Plowman
Erythroxylum simonis Plowman Guarda orvalho
NU/U
MM / MG
EUPHORBIACEA
Sapium glandulosum (L.) Morong.
Burra Leiteira
NU
MM
Croton heliotropiifolius Kunth. Velame NU / MO MM / MP
FABACEAE
Albizia polycephala (Benth.) Killip ex Record. Bordão de Velho U / L MG
Anandenanthera colubrina (Vell.) Brenan.
Indet1.
Angico
Amorosa
NU / M
U / NU
E / MG
MG
Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. Mororó NU/U MM
Bowdichia virgilioides Kunth Sucupira-preta
Desmodium adscendens (Sw.) DC. Barba de Bode U /NU R / C
Dioclea grandiflora Mart. ex Benth. Olho de Boi U / L R
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong. Tambor = Orelha de
Negro
U / M / MO MG
Hymenaea courbaril L. var. courbaril. Jatobá U MG
Inga ingoides (Rich.) Will. Ingá U MG
Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz var.
ferrea. Pau – ferro (jucá)
U MG
Lonchocarpus araripensis Benth. Sicupira Branca
(Capoeira : Concha)
U / NU MG
M. ophtalmocentra Mart. ex. Benth. Jurema Branca NU MM / E
M. tenuiflora (Willd.) Poir. Jurema Preta U / NU MM / E
M.somnians Humb. & Bonpl. ex Willd. Malícia NU MB /MP/MR
Mimosa. caesalpiniaefolia Benth.
Sabiá com Espinho
(Sabiá lisa)
U / CON E / MM /MG
Pterogyne nitens Tul. Madeira Nova U / NU MG
Senegalia bahiensis (Benth.) Seigler & Ebinger Calumbim
Senegalia polyphylla (DC.) Britton & Rose. Espinheiro Preto
(Espinheiro)
U / NU / MO E / MG
Senegalia sp. Espinheiro Mole NU E/ MG
Indet1. Amorosa U / NU MG
Indet2. Camunzé U MG
Indet3. Piaca NU MG
LAMIACEAE
Hyptis suaveolens (L.) Point.
Alfazema de Caboclo
NU / MO
MM
Marsypianthes chamaedrys (Vahl) Kuntze Papaconha U / L R / MM
cont.
68
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cont.
LAURACEAE
Ocotea glomerata (Nees) Mez. Louro Freijorge U / NU MG/MM
LECYTHIDACEAE
Eschweilera ovata (Cambess.) Mart. ex Miers. Imbiriba U /NU MM / MG
LORANTHACEAE
Phthirusa pyrifolia (Kunth) Eichler.
Erva de Passarinho
U / S
EM
MALPGHIACEAE
Byrsonima gardnerana A.Juss. Murici U MG
MALVACEAE
Ceiba glaziovii (kuntze) K.Schum. Barriguda NU E
Guazuma ulmifoila Lam. Mutamba U MG
MELIACEAE
Brosimum guianense (Aubl.) Huber.
Quirí NU/U
MG
Cedrela odorata L. Cedro U MG
Ficus calyptroceras (Miq.) Miq. Gameleira U E /MG
Sorocea ilicifoilia Miq. Burra leitera U MG
MYRTACEAE
Campomanesia synchrona O. Berg. Guabiraba U/NU MG
Myrcia sp. Cupiúba preta (Roxa) U / NU MG
Myrcia sp. Jaboticaba U MM
Psidium guineense Sw. Araça U /MO
MB / MM /
MG
NYCTAGINACEA
Guapira opposita (Vell.) Reitz João mole
NU / L
MM / MG
OLACACEAE
Ximenia americana L. Oliveira U MG
PASSIFLORACEAE R / MP
Passiflora cincinnata Mast.
Passiflora sp.
Maracujá muchila
Canapú (Cumapú)
U / NU
U
R / MB / MP
R / MP
POACEAE-PANICOIDEAE
Panicum polygonatum Schrad. Capim de Seda U C
POACEAE
Indet4. Capim Luca U C
Indet5. Capim Miam U C
Indet6. Capim Navalha U C
Indet7. Capim Pé de Galinha U C
RHAMNACEAE
Ziziphus joazeiro Mart.
Juazeiro
U / H / NU
E / MG
RUBIACEAE
Borreria verticillata (L.) G.Mey. Vassoura de Botão
(Vassoura de relógio)
U / MO/NU /U / MO MM / MP
Genipa sp. Genipapo Branco U MM / MG
Genipa sp. Genipapo Bravo U / MO MM / MG
SAPINDACEAE
Allophylus laevigatus Radlk. Estraladeira U / NU / L MG / MM
Cupania impressinervia Acev.-Rodr. var.
(revoluta) Radlk.
Cabatã do Rego = da
Mata
U / NU / L MG
Serjania cearacasana (Jacq.) Willd Cipó de Lã U/NU CI
Talisia esculenta (A. St.-Hil) Radlk. Pitombeira
SAPOTACEAE
Chrysophyllum sp Pororoca
Chrysophyllum sp Laque NU MG
SMILACACEAE
Similax cissoides Mart. ex Griseb.
Japecanga
U/EC
CI
cont.
69
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cont.
SOLANACEAE
Solanum sp.
Gogóia Verde =
Vermelha
NU
E / MP
Solanum absconditum Agra. Jurubeba U MP
Indet8. Capim Luca U C
Indet9. Capim Miam U C
Indet10. Capim Navalha U C
Indet11. Capim Pé de Galinha U C
Indet12. Cipó de Balaio = de
Cesto
U/NU CI
Indet13. Cipó de Macaco NU CI
Indet14. Cipó Pau U CI
Indet15. Cipó Taboca U CI
Indet16. Diabinho NU / O/U MR / MM
Indet17. Espriteira U / NU MM / MB
Indet18. Gravatá U MB
Indet19. Limãozinho U / NU E / MM
Indet20. Maria Branca U / T/NU MG
Indet21. Mata Calado T /NU MP / MB
Indet22. Pimenta D’água NU/U MB / MP
Indet23. Pitiá U MG
Indet24. Purpuna U MG
Indet25. Quebra Pedra = Pedra
Panela
U R
Indet26. Saboneteira NU / L / M / MO/U MM / MG
Indet27. Sete Cascas U / NU MG
Indet28. Taboa NU MP
Indet29. Tinguí NU/T R / CI / MP
Indet30. Urinanã U MB / R
Indet31. Urtiga Branca U MM
Indet32. Vassoura Rabo de
Cavalo
U / NU / MO MM / MP
Indet33. Camará Branco U / NU MP/ MM
Indet34. Camará de Cavalo NU MM
Indet 35 Crauaçú U MP/R
70
___________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 06– Número 01 – 2011
Específico
Genérico
Reino
Forma de vida Táxon etnobiológico
Táxon biológico
Mato grande
Aroeira
Aroeira branca
Aroeira do brejo
Aroeira do sertão
Angico
Barriguda
Piaca
Genipapo
Cabatã
Oiticica
Braúna
Sicupira
Juazeiro
Figura 1: Representação esquemática das quatro categorias da classificação etnobiológica e
seus respectivos táxons, em uso simultâneo com a classificação hierárquica da comunidade
rural de Vaca Brava (Nordeste do Brasil), seguindo o modelo de Berlin (1992).
71
___________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 06– Número 01 – 2011
Jurema
Jurema branca
Piptadenia stipulaceae
Jurema preta
Mimosa tenuiflora
Mimosaceae
Mimosa
Piptadenia
Figura 2: Específico folk do genérico “Jurema”, citado pelos especialistas locais da
comunidade rural Vaca Brava, Paraíba, Brasil, e seus equivalentes na classificação científica.
72
___________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 06– Número 01 – 2011
Bignoniaceae
Tabebuia
Ipê
Ipê amarelo
Tabebuia serratifolia Ipê roxo
Tabebuia impetiginosa
Figura 3: Específico folk do genérico “Ipê”, citado pelos especialistas locais da comunidade
rural Vaca Brava, Paraíba, Brasil, e seus equivalentes na classificação científica.
73
___________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 06– Número 01 – 2011
Figura 5: Agrupamento dos especialistas locais da comunidade Vaca Brava, Paraíba,
Brasil, utilizando o pile-sort do ANTROPAC, versão 1.0.
Figura 4: Agrupamento das etnoespécies citadas pelos especialistas locais da
comunidade Vaca Brava, Paraíba, Brasil, utilizando o pile-sort do ANTROPAC,
versão 1.0.
74
___________________________________________ISSN 1983-4209 - Volume 06– Número 01 – 2011
Figura 6: Agrupamento das etnoespécies citadas pelos especialistas locais da comunidade
Vaca Brava, Paraíba, Brasil, em grupos utilitários, utilizando o pile-sort do ANTROPAC,
versão 1.0.
Figura 7: Agrupamento das etnoespécies citadas pelos especialistas locais da
comunidade Vaca Brava, Paraíba, Brasil, em grupos morfológicos, utilizando o pile-
sort do ANTROPAC, versão 1.0.
“Capim”
“Cipó”
“Mato Grande”
“Mato rasteiro”
“Mato pequeno”
Usos Madeireiros
Usos Não Madeireiros (Forragem)
Plantas Tóxicas