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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
CURSO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
Coletânea de músicas para trabalhoPortuguês como Língua Estrangeira
Lista A banda....................................................................2 Almanaque...............................................................3 Apesar de você.........................................................4 Carolina....................................................................5 Ciranda da bailarina.................................................6 Estação derradeira....................................................7 Eu te amo.................................................................8 João e Maria.............................................................9 Meu caro amigo.....................................................10 O que será..............................................................11 Olê, Olá..................................................................12 Passaredo................................................................13 Pedaço de mim.......................................................14 Piruetas...................................................................15 Quem te viu, quem te vê........................................16 Retrato em branco e preto......................................17 Samba do grande amor...........................................18 Sobre todas as coisas..............................................19 Todo o sentimento..................................................20 Vai passar...............................................................21 Trem das cores.......................................................22 Rancho fundo.........................................................23 CASA NO CAMPO...............................................24 Você não entende nada..........................................25 Eu sonhei que tu estavas tão linda.........................26 Quem de nós dois...................................................27 Por Enquanto..........................................................28 Garganta.................................................................29 Três apitos..............................................................30
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CURSO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
A bandaChico Buarque
1966Estava à toa na vidaO meu amor me chamou Pra ver a banda passarCantando coisas de amor
A minha gente sofridaDespediu-se da dorPra ver a banda passarCantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro parouO faroleiro que contava vantagem parouA namorada que contava as estrelas parouPra ver, ouvir e dar passagemA moça triste que vivia calada sorriuA rosa triste que vivia fechada se abriuE a meninada toda se assanhouPra ver a banda passarCantando coisas de amor
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensouQue ainda era moço pra sair no terraço e dançouA moça feia debruçou na janelaPensando que a banda tocava pra elaA marcha alegre se espalhou na avenida e insistiuA lua cheia que vivia escondida surgiuMinha cidade toda se enfeitouPra ver a banda passarCantando coisas de amor
Mas para meu desencantoO que era doce acabouTudo tomou seu lugarDepois que a banda passou
E cada qual no seu cantoEm cada canto uma dorDepois da banda passarCantando coisas de amor
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CURSO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
AlmanaqueChico Buarque
1980Ô menina vai ver nesse almanaque como é que isso tudo começouDiz quem é que marcava o tique-taque e a ampulheta do tempo disparouSe mamava de sabe lá que teta o primeiro bezerro que berrouMe responde, por favorPra onde vai o meu amorQuando o amor acabar
Quem penava no sol a vida inteira, como é que a moleira não rachouMe diz, me dizQuem tapava esse sol com a peneira e quem foi que a peneira esfuracouQuem pintou a bandeira brasileira que tinha tanto lápis de corMe responde por favorPra onde vai o meu amorQuando o amor acaba
Diz quem foi que fez o primeiro teto que o projeto não desmoronouQuem foi esse pedreiro, esse arquiteto, e o valente primeiro moradorDiz quem foi que inventou o analfabeto e ensinou o alfabeto ao professorMe responde por favorPra onde vai o meu amorQuando o amor acabar
Quem é que sabe o signo do capeta, o ascendente de Deus Nosso SenhorQuem não fez a patente da espoleta explodir na gaveta do inventorQuem tava no volante do planeta que o meu continente capotouMe responde por favorPra onde vai o meu amorQuando o amor acabar
Vê se tem no almanaque, essa menina, como é que termina um grande amorSe adianta tomar uma aspirina ou se bate na quina aquela dorSe é chover o ano inteiro chuva fina ou se é como cair o elevadorMe responde por favorPra que tudo começouQuando tudo acabar
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Apesar de vocêChico Buarque
1970
Hoje você é quem mandaFalou, tá faladoNão tem discussãoA minha gente hoje andaFalando de ladoE olhando pro chão, viuVocê que inventou de inventarToda a escuridãoVocê que inventou o pecadoEsqueceu-se de inventarO perdão
Apesar de vocêAmanhã há de serOutro diaEu pergunto a vocêOnde vai se esconderDa enorme euforiaComo vai proibirQuando o galo insistirEm cantarÁgua nova brotandoE a gente se amandoSem parar
Quando chegar o momentoEsse meu sofrimentoVou cobrar com ljuros, juroTodo esse amor reprimidoEsse grito contidoEste samba no escuroVocê que inventou a tristezaOra, tenha finezaDe desinventarVocê vai pagar e é dobrado
Cada lágrima roladaNesse meu penar
Apesar de vocêAmanhã há de ser Outro diaInda pago pra verO jardim florescerQual você não queriaVocê vai se amargarVendo o dia raiarSem lhe pedir licençaE eu vou morrer de rirQue esse dia há de virAntes do que você pensa
Apesar de vocêAmanhã há de ser Outro diaVocê vai ter que verA manhã renascerE esbanjar poesiaComo vai se explicarVendo o céu clarearDe repente, impunementeComo vai abafarNosso coro a cantarNa sua frente
Apesar de vocêAmanhã há de serOutro diaVocê vai se dar malEtc. e tal
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CarolinaChico Buarque
1967CarolinaNos seus olhos fundosGuarda tanta dorA dor de todo esse mundoEu já lhe expliquei que não vai darSeu pranto não vai nada mudarEu já convidei para dançarÉ hora, já sei, de aproveitarLá fora, amorUma rosa nasceuTodo mundo sambouUma estrela caiuEu bem que mostrei sorrindoPela janela, ói que lindoMas Carolina não viu
CarolinaNos seus olhos tristesGuarda tanto amorO amor que já não existeEu bem que avisei, vai acabarDe tudo lhe dei para aceitarMil versos cantei pra lhe agradarAgora não sei como explicarLá fora, amorUma rosa morreuUma festa acabouNosso barco partiuEu bem que mostrei a elaO tempo passou na janelaSó Carolina não viu
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Ciranda da bailarinaEdu Lobo - Chico Buarque
1982Procurando bemTodo mundo tem perebaMarca de bexiga ou vacinaE tem piriri, tem lombriga, tem amebaSó a bailarina que não temE não tem coceiraBerruga nem frieiraNem falta de maneiraEla não tem
Futucando bemTodo mundo tem piolhoOu tem cheiro de creolinaTodo mundo tem um irmão meio zarolhoSó a bailarina que não temNem unha encardidaNem dente com comidaNem casca de feridaEla não tem
Não livra ninguémTodo mundo tem remelaQuando acorda às seis da matinaTeve escarlatinaOu tem febre amarela
Só a bailarina que não temMedo de subir, genteMedo de cair, genteMedo de vertigemQuem não tem
Confessando bemTodo mundo faz pecadoLogo assim que a missa terminaTodo mundo tem um primeiro namoradoSó a bailarina que não temSujo atrás da orelhaBigode de groselhaCalcinha um pouco velhaEla não tem
O padre tambémPode até ficar vermelho Se o vento levanta a batinaReparando bem, todo mundo tem pentelhoSó a bailarina que não temSala sem mobíliaGoteira na vasilhaProblema na famíliaQuem não tem
Procurando bemTodo mundo tem...
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Estação derradeiraChico Buarque
1987
Rio de ladeirasCivilização encruzilhadaCada ribanceira é uma nação
À sua maneiraCom ladrãoLavadeiras, honra, tradiçãoFronteiras, munição pesada
São Sebastião crivadoNublai minha visãoNa noite da grande Fogueira desvairada
Quero ver a MangueiraDerradeira estaçãoQuero ouvir sua batucada, ai, ai
Rio do lado sem beiraCidadãos Inteiramente loucosCom carradas de razão
À sua maneiraDe calçãoCom bandeiras sem explicaçãoCarreiras de paixão anada
São Sebastião crivadoNublai minha visãoNa noite da grande Fogueira desvairada
Quero ver a MangueiraDerradeira estaçãoQuero ouvir sua batucada, ai, ai
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Eu te amoTom Jobim - Chico Buarque
1980Ah, se já perdemos a noção da horaSe juntos já jogamos tudo foraMe conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvariosRompi com o mundo, queimei meus naviosMe diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternasJá confundimos tanto as nossas pernasDiz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chãoSe na bagunça do teu coraçãoMeu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutidoMeu paletó enlaça o teu vestidoE o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãosTeus seios inda estão nas minhas mãosMe explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tontaTe dei meus olhos pra tomares contaAgora conta como hei de partir
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João e MariaSivuca - Chico Buarque
1977Agora eu era o heróiE o meu cavalo só falava inglêsA noiva do cowboyEra você Além das outras trêsEu enfrentava os batalhõesOs alemães e seus canhõesGuardava o meu bodoqueE ensaiava o rockPara as matinês
Agora eu era o reiEra o bedel e era também juizE pela minha leiA gente era obrigada a ser felizE você era a princesaQue eu fiz coroarE era tão linda de se admirarQue andava nua pelo meu país
Não, não fuja nãoFinja que agora eu era o seu brinquedoEu era o seu piãoO seu bicho preferidoSim , me dê a mãoA gente agora já não tinha medoNo tempo da maldadeAcho que a gente nem tinha nascido
Agora era fatalQue o faz-de-conta terminasse assimPra lá desse quintalEra uma noite que não tem mais fimPois você sumiu no mundoSem me avisarE agora eu era um louco a perguntarO que é que a vida vai fazer de mim
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Meu caro amigoFrancis Hime - Chico Buarque
1976Meu caro amigo me perdoe, por favorSe eu não lhe faço uma visitaMas como agora apareceu um portadorMando notícias nessa fitaAqui na terra 'tão jogando futebolTem muito samba, muito choro e rock'n'rollUns dias chove, noutros dias bate solMas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá pretaMuita mutreta pra levar a situaçãoQue a gente vai levando de teimoso e de pirraçaE a gente vai tomando que, também, sem cachaçaNinguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu não pretendo provocarNem atiçar suas saudadesMas acontece que não posso me furtarA lhe contar as novidadesAqui na terra 'tão jogando futebolTem muito samba, muito choro e rock'n'rollUns dias chove, noutros dias bate solMas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá pretaÉ pirueta pra cavar o ganha-pãoQue a gente vai cavando só de birra, só de sarroE a gente vai fumando que, também, sem cigarroNinguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu quis até telefonarMas a tarifa não tem graçaEu ando aflito pra fazer você ficarA par de tudo que se passaAqui na terra 'tão jogando futebolTem muito samba, muito choro e rock'n'rollUns dias chove, noutros dias bate solMas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá pretaMuita careta pra engolir a transaçãoE a gente tá engolindo cada sapo no caminho E a gente vai se amando que, também, sem um carinhoNinguém segura esse rojão
Meu caro amigo eu bem queria lhe escreverMas o correio andou ariscoSe permitem, vou tentar lhe remeterNotícias frescas nesse discoAqui na terra 'tão jogando futebolTem muito samba, muito choro e rock'n'rollUns dias chove, noutros dias bate solMas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá pretaA Marieta manda um beijo para os seusUm beijo na família, na Cecília e nas criançasO Francis aproveita pra também mandar lembrançasA todo o pessoalAdeus
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O que será (À flor da terra)
Chico Buarque1976
O que será que seráQue andam suspirando pelas alcovasQue andam sussurando em versos e trovasQue andam combinando no breu das tocasQue anda nas cabeças, anda nas bocasQue andam acendendo velas nos becosQue estão falando alto pelos botecosQue gritam nos mercados, que com certezaEstá na natureza, será que seráO que não tem certeza, nem nunca teráO que não tem conserto, nem nunca teráO que não tem tamanho
O que será que seráQue vive nas idéias desses amantesQue cantam os poetas mais delirantesQue juram os profetas embriagadosQue está na romaria dos mutiladosQue está na fantasia dos infelizes
Que está no dia-a-dia das meretrizesNo plano dos bandidos, dos desvalidosEm todos os sentidos, será que seráO que não tem decência, nem nunca teráO que não tem censura, nem nunca teráO que não faz sentido
O que será que seráQue todos os avisos não vão evitarPorque todos os risos vão desafiarPorque todos os sinos irão repicarPorque todos os hinos irão consagrarE todos os meninos vão desembestarE todos os destinos irão se encontrarE o mesmo Padre Eterno que nunca foi láOlhando aquele inferno, vai abençoarO que não tem governo, nem nunca teráO que não tem vergonha nem nunca teráO que não tem juízo
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Olê, OláChico Buarque
1965Não chore ainda nãoQue eu tenho um violãoE nós vamos cantarFelicidade aquiPode passar e ouvir E se ela for de samba Há de querer ficar
Seu padre toca o sinoQue é pra todo mundo saber Que a noite é criançaQue o samba é meninoQue a dor é tão velhaQue pode morrerOlê olê olê oláTem samba de sobraQuem sabe sambarQue entre na rodaQue mostre o gingadoMas muito cuidadoNão vale chorar
Não chore ainda nãoQue eu tenho uma razãoPra você não chorarAmiga me perdoaSe eu insisto à toaMas a vida é boaPara quem cantar
Meu pinho, toca forte,Que é pra todo mundo acordarNão fale da vida Nem fale da morteTem dó da menina
Não deixa chorarOlê olê olê oláTem samba de sobraQuem sabe sambarQue entre na rodaQue mostre o gingadoMas muito cuidadoNão vale chorar
Não chore ainda nãoQue eu tenho a impressãoQue o samba vem aíE um samba tão imensoQue eu às vezes penso Que o próprio tempoVai parar pra ouvir
Luar, espere um poucoQue é pro meu samba poder chegarEu sei que o violãoEstá fraco, está roucoMas a minha vozNão cansou de chamarOlê olê olê oláTem samba de sobraNinguém quer sambarNão há mais quem canteNem há lugar mais lugarO sol chegou antesDo samba chegarQuem passa nem ligaJá vai trabalharE você, minha amigaJá pode chorar
PassaredoFrancis Hime - Chico
Buarque1975-1976
Ei, pintassilgoOi, pintaroxoMelro, uirapuruAi, chega-e-viraEngole-ventoSaíra, inhambuFoge asa-branca
Vai, patativaTordo, tuju, tuimXô, tié-sangueXô, tié-fogoXô, rouxinol sem fimSome, coleiroAnda, trigueiroTe esconde colibriVoa, macucoVoa, viúvaUtiaritiBico calado
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Toma cuidadoQue o homem vem aíO homem vem aíO homem vem aí
Ei, quero-queroOi, tico-ticoAnum, pardal, chapimXô, cotoviaXô, pescador-martimSome, rolinhaAnda, andorinhaTe esconde, bem-te-viVoa, bicudoVoa, sanhaçoVai, juritiBico caladoMuito cuidadoQue o homem vem aíO homem vem aíO homem vem aí
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Pedaço de mimChico Buarque
1977-1978Oh, pedaço de mimOh, metade afastada de mimLeva o teu olharQue a saudade é o pior tormentoÉ pior do que o esquecimentoÉ pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mimOh, metade exilada de mimLeva os teus sinaisQue a saudade dói como um barcoQue aos poucos descreve um arcoE evita atracar no cais
Oh, pedaço de mimOh, metade arrancada de mimLeva o vulto teuQue a saudade é o revés de um partoA saudade é arrumar o quartoDo filho que já morreu
Oh, pedaço de mimOh, metade amputada de mimLeva o que há de tiQue a saudade dói latejadaÉ assim como uma fisgadaNo membro que já perdi
Oh, pedaço de mimOh, metade adorada de mimLeva os olhos meusQue a saudade é o pior castigoE eu não quero levar comigoA mortalha do amorAdeus
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PiruetasEnriquez - Bardotti - Chico
Buarque1981
Uma piruetaDuas piruetasBravo, bravoSuperpiruetasUltrapiruetasBravo, bravo
Salta sobreA arquibancadaE tomba de narizQue a moçadaVai pedir bisQue a moçada Vai pedir bis
Quatro cambalhotasCinco cambalhotasBravo, bravo
ArquicambalhotasHipercambalhotasBravo, bravoRompe a lonaBeija as nuvensTomba de narizQue os jovensVão pedir bisQue os jovensVão pedir bis
No intervaloTem cheirim de macarrãoE a barriga roncaMais do que um trovãoQuero um pratoCê tá loucoQuero um poucoCê tá chatoSó um pedaçoCê tá gordoEu te mordoSeu palhaçoOlha o públicoCansado de esperarO espetáculo nãoPode parar
Vinte piruetasTrinta piruetasBravo, bravoPolipiruetasMaxipiruetasBravo, bravoSobe ao céuFura a calotaE tomba de bumbumQue a patota
Grita mais umQue a patotaGrita mais um
No intervaloTem cheirim de macarrãoE a barriga roncaMais do que um leãoQuero um pratoCê tá loucoQuero um poucoCê tá chatoSó um pedaçoCê tá gordoEu te mordoSeu palhaçoOlha o público Cansado de esperarO espetáculoNão pode parar
Dez mil cambalhotasCem mil cambalhotasBravo, bravoMaxicambalhotasExtracambalhotasBravo, bravo
Salta alémDa atmosferaE cai onde cairQue a galeraMorre de rirQue a galeraMorre de rir
Ai, minhas costelasJá tô vendo estrelasBravo, bravoAi, minha cacholaNão tô bom da bolaBravo, bravoLona... nuvensTomba no hospitalUma piruetaUma cabriolaUma cambalhotaNão tô bom da bolaE o pessoalDelira...Maxipirulito...Ultravioleta...Bravo, bravo!
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Quem te viu, quem te vêChico Buarque - 1966
Você era a mais bonita das cabrochas dessa alaVocê era a favorita onde eu era mestre-salaHoje a gente nem se fala, mas a festa continuaSuas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua
Hoje o samba saiu procurando vocêQuem te viu, quem te vêQuem não a conhece não pode mais ver pra crerQuem jamais esquece não pode reconhecer
Quando o samba começava, você era a mais brilhanteE se a gente se cansava, você só seguia adianteHoje a gente anda distante do calor do seu gingadoVocê só dá chá dançante onde eu não sou convidado
Hoje o samba saiu procurando vocêQuem te viu, quem te vêQuem não a conhece não pode mais ver pra crerQuem jamais esquece não pode reconhecer
O meu samba se marcava na cadência dos seus passosO meu sono se embalava no carinho dos seus braçosHoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portãoPra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão
Hoje o samba saiu procurando vocêQuem te viu, quem te vêQuem não a conhece não pode mais ver pra crerQuem jamais esquece não pode reconhecer
Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classeDe dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasseEu não sei bem com certeza por que foi que um belo diaQuem brincava de princesa acostumou na fantasia
Hoje o samba saiu procurando vocêQuem te viu, quem te vêQuem não a conhece não pode mais ver pra crerQuem jamais esquece não pode reconhecer
Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeriaQuero que você assista na mais fina companhiaSe você sentir saudade, por favor não dê na vistaBate palmas com vontade, faz de conta que é turista
Hoje o samba saiu procurando vocêQuem te viu, quem te vêQuem não a conhece não pode mais ver pra crerQuem jamais esquece não pode reconhecer
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Retrato em branco e pretoTom Jobim - Chico Buarque
1968Já conheço os passos dessa estradaSei que não vai dar em nadaSeus segredos sei de corJá conheço as pedras do caminhoE sei também que ali sozinhoEu vou ficar, tanto piorO que é que eu posso contra o encantoDesse amor que eu nego tantoEvito tantoE que no entantoVolta sempre a enfeitiçarCom seus mesmos tristes velhos fatosQue num álbum de retratoEu teimo em colecionar
Lá vou eu de novo como um toloProcurar o desconsoloQue cansei de conhecerNovos dias tristes, noites clarasVersos, cartas, minha caraAinda volto a lhe escreverPra dizer que isso é pecadoEu trago o peito tão marcadoDe lembranças do passadoE você sabe a razãoVou colecionar mais um sonetoOutro retrato em branco e pretoA maltratar meu coração
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Samba do grande amorChico Buarque
1983Tinha cá pra mimQue agora simEu vivia enfim o grande amorMentiraMe atirei assimDe trampolimFui até o fim um amador
Passava um verãoA água e pãoDava o meu quinhão pro grande amorMentiraEu botava a mãoNo fogo entãoCom meu coração de fiador
Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peitoExijo respeito, não sou mais um sonhadorChego a mudar de calçadaQuando aparece uma florE dou risada do grande amorMentira
Fui muito fielComprei anelBotei no papel o grande amorMentiraReservei hotelSarapatelE lua-de-mel em Salvador
Fui rezar na SéPra São JoséQue eu levava fé no grande amorMentiraFiz promessa atéPra OxumaréDe subir a pé o Redentor
Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peitoExijo respeito, não sou mais um sonhadorChego a mudar de calçadaQuando aparece uma florE dou risada do grande amorMentira
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Sobre todas as coisasEdu Lobo - Chico Buarque
1982Pelo amor de DeusNão vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bemNão vê que Deus fica até zangado vendo alguémAbandonado pelo amor de Deus
Ao Nosso SenhorPergunte se Ele produziu nas trevas o esplendorSe tudo foi criado - o macho, a fêmea, o bicho, a florCriado para adorar o Criador
E se o CriadorInventou a criatura por favorSe do barro fez alguém com tanto amorPara amar Nosso Senhor
Não, Nosso SenhorNão há de ter lançado em movimento terra e céuEstrelas percorrendo o firmamento em carrosselPra circular em torno ao Criador
Ou será que DeusQue criou nosso desejo é tão cruelMostra os vales onde jorra o leite e o melE esses vales são de Deus
Pelo amor de DeusNão vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bemNão vê que Deus até fica zangado vendo alguémAbandonado pelo amor de Deus
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Todo o sentimentoCristóvão Bastos - Chico Buarque
1987
Preciso não dormirAté se consumarO tempoDa gentePreciso conduzirUm tempo de te amarTe mando devagarE urgentementePretendo descobrirNo último momentoUm tempo que refaz o que desfezQue recolhe todo o sentimentoE bota no corpo uma outra vez
Prometo te quererAté o amor cairDoenteDoentePrefiro então partirA tempo de poderA gente se desvencilhar da genteDepois de te perderTe encontro, com certezaTalvez num tempo da delicadezaOnde não diremos nadaNada aconteceuApenas seguirei, como encantadoAo lado teu
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Vai passarFrancis Hime - Chico Buarque
1984
Vai passarNessa avenida um samba popularCada paralelepípedoDa velha cidadeEssa noite vaiSe arrepiarAo lembrarQue aqui passaram sambas imortaisQue aqui sangraram pelos nossos pésQue aqui sambaram nossos ancestrais
Num tempoPágina infeliz da nossa históriaPassagem desbotada na memóriaDas nossas novas geraçõesDormiaA nossa pátria mãe tão distraídaSem perceber que era subtraídaEm tenebrosas transações
Seus filhosErravam cegos pelo continenteLevavam pedras feito penitentesErguendo estranhas catedraisE um dia, afinalTinham direito a uma alegria fugazUma ofegante epidemiaQue se chamava carnavalO carnaval, o carnaval(Vai passar)Palmas pra ala dos barões famintosO bloco dos napoleões retintosE os pigmeus do bulevarMeu Deus, vem olharVem ver de perto uma cidade a cantarA evolução da liberdadeAté o dia clarear
Ai, que vida boa, olerêAi, que vida boa, olaráO estandarte do sanatório geral vai passarAi, que vida boa, olerêAi, que vida boa, olaráO estandarte do sanatório geralVai passar
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Trem das cores
Caetano Veloso
A franja da encostaCor de laranja, capim rosa chá O mel desses olhos luzMel de cor ímparO ouro ainda não bem verde da serraA prata do tremA lua e a estrelaAnel de turquesaOs átomos todos dançamMadruga, reluz neblinaCrianças cor de romã entram no vagãoO oliva da nuvem chumbo ficandoPra trás da manhãE a seda do azul do papelQue envolve a maçãAs casas tão verde e rosaQue vão passando ao nos ver passarOs dois lados da jane......laE aquela num tom de azulQuase inexistente azul que não háAzul que é pura memória de algum lugarTeu cabelo preto, explícito objeto, castanhos lábiosOu, pra ser exato, lábios cor de açaí e aqui trem das coresSábios projetosTocar na centralE o céu de um azul celestecelestial
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CURSO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
Rancho fundoAry Barroso e Lamartine Babo
No rancho fundoBem pra lá do fim do mundo Onde a dor e a saudadeContam coisas da cidade
No rancho fundo De olhar triste e profundo
Pobre moreno Que de tarde no sereno
O moreno conta as mágoasTendo os olhos rasos d´áqua
Espera a lua no terreiroTendo o cigarro por companheiro
Sem um acenoEle pega da violaE a lua por esmolaVem pro quintal desse moreno
No rancho fundo Bem pra lá do fim do mundoNunca mais houve alegriaNem de noite, nem de dia
Os arvoredosJá não contam mais segredos
Os passarinhos Internaram-se nos ninhos
E a última palmeiraJá morreu na cordilheira
De tão triste essa tristezaenche de trevas a natureza
Tudo por quê?Só por causa do morenoQue era grande e hoje é pequeno Para uma casa de sapé
Se Deus soubesseda tristeza lá na serraMandaria lá pra cima todo o amor que há na terra
Porque o morenovive louco de saudade
Ele que eraO cantor da primaveraE até fez do rancho fundoo céu maior que tem no mundo
Só pro causa do venenoDas morenas da cidade
O sol queimandoSe uma flor lá desabrochaA montanha vai gelandoLembrando o aroma da cabrocha
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CURSO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
CASA NO CAMPO
Zé Rodrix
Eu quero uma casa no campoOnde eu __________ cantar muitos “rocks-rurais”E ____________ somente a certezaDos amigos do peito e nada maisEu quero uma casa no campoOnde eu ____________ ficarDo tamanho da pazE ______________ somente a certezaDos limites do ____________E nada mais.
Eu quero _____________ e ______________ pastando Solenes no meu jardimEu quero o _______________ das línguas cansadasEu quero a ______________ de óculosE o meu filho de cuca legalEu quero ___________ e _____________ com amorA pimenta e o salEu quero uma casa no campoDo _______________ ideal pau-a-pique, sapéOnde eu ____________ guardarMeus amigos e meus discosMeus livros e nada mais.
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CURSO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
Você não entende nada
Caetano Veloso
Quando eu chego em casa nada me consolaVocê está sempre aflitaLágrimas nos olhos de cortar cebolaVocê está tão bonitaVocê traz a Coca-Cola eu tomoVocê bota a mesaEu como, eu como, eu como, eu como Você
Você não está entendendo nada do que digo.Eu quero ir emboraEu quero dar o foraE quero que você venha comigoTodo dia, todo diaE quero que você venha comigoEu me sento, eu fumo, e comoEu não agüentoVocê está tão curtidaEu quero é botar fogo nesse apartamentoVocê não acreditaTraz meu café com suita, eu tomoTraz a sobremesa, eu comoEu como, eu como, eu como, eu comoVocêTem que saber o que eu quero é correr mundoCorrer perigoEu quero é ir emboraEu quero dar o foraE quero que você venha comigoTodo dia, todo diaE quero que você venha comigoTraga a Coca-Cola que eu tomo, que eu tomoBota a sobremesa, eu como
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CURSO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
Eu sonhei que tu estavas tão lindaLamartine Babo e Francisco Mattoso
Eu sonhei que tu estavas tão lindaNuma festa de raro esplendorTeu vestido de baile, lembro aindaEra branco, todo branco, meu amorA orquestra tocou uma valsa dolenteTomei-te aos braços fomos dançandoAmbos silentesE os pares que rodeavam entre nósTrocavam juras, diziam coisas à meia vozViolinos enchiam o ar de emoçõesE de ternura uma centena de coraçõesPrá despertar teu ciúme, tentei flertar alguémMas tu não flertaste ninguémOlhavas só para mimVitórias de amor canteiMas foi tudo um sonhoAcordei
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CURSO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
Quem de nós doisAna Carolina
Eu e vocêNão é assim tão complicado Não é difícil perceber Quem de nós dois Vai dizer que é impossível O amor acontecer Se eu disser que já nem sinto nada Que a estrada sem você é mais segura Eu sei você vai rir da minha cara Eu já conheço o teu sorriso, leio teu olhar Teu sorriso é só disfarce E eu já nem preciso Sinto dizer Que amo mesmo, tá ruim pra disfarçar Entre nós dois Não cabe mais nenhum segredo Além do que já combinamos No vão das coisas que a gente disse Não cabe mais sermos somente amigos E quando eu falo que eu já nem quero A frase fica pelo avesso Meio na contra-mão E quando finjo que esqueço Eu não esqueci nada E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais E te perder de vista assim é ruim demais E é por isso que atravesso o teu futuro E faço das lembranças um lugar seguro Não é que eu queira reviver nenhum passado Nem revirar um sentimento revirado Mas toda vez que eu procuro uma saída Acabo entrando sem querer na tua vida Eu procurei qualquer desculpa pra não te encarar Pra não dizer de novo e sempre a mesma coisa Falar só por falar Que eu já não tô nem aí pra essa conversa Que a história de nós dois não me interessa Se eu tento esconder meias verdades Você conhece o meu sorriso Leu no meu olhar Meu sorriso é só disfarce Por que eu já nem preciso
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CURSO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
Por Enquanto
Legião Urbana
Mudaram as estações e nada mudou Mas eu sei que alguma coisa aconteceu Está tudo assim tão diferente Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar Que tudo era prá sempre Sem saber Que o prá sempre Sempre acaba? Mas nada vai conseguir mudar o que ficou Quando penso em alguém Só penso em você E aí então estamos bem Mesmo com tantos motivos prá deixar tudo como está E nem desistir, nem tentar Agora tanto faz Estamos indo de volta prá casa
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
CURSO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
GargantaAna Carolina
Minha garganta estranha quando não te vejo Me vem um desejo doido de gritar Minha garganta arranha a tinta e os azulejos Do teu quarto, da cozinnha, da sala de estar Venho madrugada perturbar teu sono Como um cão sem dono me ponho a ladrar Atravesso o travesseiro, te reviro pelo avesso Tua cabeça enlouqueço faço ela rodar Sei que não sou santa, vezes vou na cara dura, Vezes hajo com candura pra te conquistar Mas não sou beata, me criei na rua E não mudo minha postura só pra te agradar Vim parar nessa cidade por força da circunstância Sou assim desde criança, me criei meio sem lar Aprendi a me virar sozinha E se eu tô te dando linha É pra depois te abandonar Aprendi a me virar sozinha E se eu tô te dando linha É pra depois te abandonar
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
CURSO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA
Três apitosNoel Rosa
Quando o apito da .............................................
Vem ferir os meus ouvidos, eu me lembro de você
Mas você anda, sem dúvida, bem ..........................
Pois está interessada em fingir que não me vê
Você que atende ao apito de uma chaminé de barro
Por que não atende ao grito tão ...................... da buzina do meu carro
Você no inverno sem meias vai pro trabalho
Não faz fé em ................................
Nem no frio você crê
Mas você é mesmo artigo que não se imita
Quando a ...................... apita
faz reclame de você.
Nos meus olhos você lê
Como eu sofro cruelmente
Com ........................... do gerente que dá ordens a você
Sou do sereno, poeta muito soturno
Vou virar ..........................................
E você sabe porquê.
Você só não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto do piano
Esses versos prá você, esses versos prá você