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Colisões e a vida Este ano tirei a minha carteira de motorista, o sonho e o terror de muitos jovens. Foi difícil, mas passei na prova de primeira. Logo no início não tinha coragem de andar sozinha por aí, exigia minha mãe no banco do carona para me ajudar, me guiar nos momentos de pânico. Afinal, é difícil entender o trânsito assim, tão rápido. Com o tempo, consegui conquistar as ruas sozinha, mas aí, veio a primeira batida. Não foi nada grave, ninguém se machucou, a não ser a minha confiança. Voltei à estaca zero e toda aquela autonomia precisou ser reconquistada. Fiquei pensando e cheguei à conclusão de que dirigir tem muito a ver com viver. Passamos grande parte da nossa vida no banco do carona, seja dos nosso pais, dos tios, dos amigos. Dependemos de outras pessoas para chegar onde queremos e para alcançar nossos objetivos e desejos. Então chega a hora de crescer e encarar as ruas sozinho. A carteira de motorista é como um atestado da maturidade, como se aquele papel dissesse: parabéns, agora você é um adulto, não depende mais dos outros para explorar o mundo, o direito de ir e vir agora é pleno. Quem não amaria isso? É o sonho de qualquer um, mas nem tudo que é bom, é fácil. Na verdade, quase nada. Conquistar esse título exige esforço, calma e dedicação, para provar que é capaz de cuidar da sua própria vida, e às vezes da dos outros. Aquele conforto, aquela segurança que vinha dos outros não existe mais, e isso acaba fazendo mais falta do que imaginávamos. Você vai encontrar obstáculos pelo caminho, as batidas são inevitáveis, mas nos fazem crescer, nos tornam independentes e corajosos. O susto é necessário para manter a calma na próxima vez. Pode ser que que a primeira seja a última, pode ser que muitas ainda estejam por vir, mas o certo é que a estrada quase nunca é reta. Existem curvas, quebra-molas, buracos e placas de pare, e é isso que faz a vida interessante. Afinal, se não pararmos vez ou outra em uma sinaleira, não podemos apreciar a vista.

Colisões e a vida

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Crônica "Colisões e a vida" de Luísa Dal Mas, produzida para a cadeira de Redação e Produção em Jornal da Famecos/PUCRS

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Page 1: Colisões e a vida

Colisões e a vida

Este ano tirei a minha carteira de motorista, o sonho e o terror de

muitos jovens. Foi difícil, mas passei na prova de primeira. Logo no início não

tinha coragem de andar sozinha por aí, exigia minha mãe no banco do

carona para me ajudar, me guiar nos momentos de pânico. Afinal, é difícil

entender o trânsito assim, tão rápido.

Com o tempo, consegui conquistar as ruas sozinha, mas aí, veio a

primeira batida. Não foi nada grave, ninguém se machucou, a não ser a

minha confiança. Voltei à estaca zero e toda aquela autonomia precisou ser

reconquistada.

Fiquei pensando e cheguei à conclusão de que dirigir tem muito a ver

com viver. Passamos grande parte da nossa vida no banco do carona, seja

dos nosso pais, dos tios, dos amigos. Dependemos de outras pessoas para

chegar onde queremos e para alcançar nossos objetivos e desejos.

Então chega a hora de crescer e encarar as ruas sozinho. A carteira

de motorista é como um atestado da maturidade, como se aquele papel

dissesse: parabéns, agora você é um adulto, não depende mais dos outros

para explorar o mundo, o direito de ir e vir agora é pleno.

Quem não amaria isso? É o sonho de qualquer um, mas nem tudo que

é bom, é fácil. Na verdade, quase nada. Conquistar esse título exige esforço,

calma e dedicação, para provar que é capaz de cuidar da sua própria vida, e

às vezes da dos outros. Aquele conforto, aquela segurança que vinha dos

outros não existe mais, e isso acaba fazendo mais falta do que

imaginávamos.

Você vai encontrar obstáculos pelo caminho, as batidas são

inevitáveis, mas nos fazem crescer, nos tornam independentes e corajosos.

O susto é necessário para manter a calma na próxima vez.

Pode ser que que a primeira seja a última, pode ser que muitas ainda

estejam por vir, mas o certo é que a estrada quase nunca é reta. Existem

curvas, quebra-molas, buracos e placas de pare, e é isso que faz a vida

interessante. Afinal, se não pararmos vez ou outra em uma sinaleira, não

podemos apreciar a vista.