como surgiu a abordagem sistêmica da Família

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PSICOLOGIA CLNICA: DO ENFOQUE INDIVIDUAL ABORDAGEM FAMILIARJoyce Cardoso Figueira*

Resumo: Este artigo se prope a fazer uma sntese da histria da psicologia clnica,

enfatizando a abordagem psicanaltica, seus conceitos principais, as fases do desenvolvimento psicossexual e os instrumentos tcnicos propostos por Sigmund Freud, seu criador, em fins do sculo XIX, em Viena. Posteriormente, destacada a histria das abordagens familiares, que tiveram suas origens na referida psicanlise. Da mesma forma, revisados seus principais conceitos. So destaques, tambm, alguns dos terapeutas familiares pioneiros nesta prtica clnica e suas contribuies em meados do sculo XX, nos Estados Unidos. Mostrando como as duas abordagens esto contextualizadas e correlacionando-as entre si, abordam-se os elos de ligao entre ambas, o que tm em comum e em que aspectos esto em divergncia, favorecendo uma compreenso mais aprofundada sobre o tema em questo.Palavras-chave: Psicologia Clnica. Psicanlise. Psiquismo. Abordagens familiares. Sistema. duplo vnculo. Fronteiras familiares.

CLINICAL PSYCHOLOGY: FROM AN INDIVIDUAL TO A FAMILY APPROACH

Abstract: This article offers a synthesis of the history of clinical psychology, emphasizing the psychoanalytical approach, its principal concepts, such as the psychosexual phases of development and the technical instruments proposed by its creater, Sigmund Freud, in the late 19th century in Vienna. The article then highlights the history of family approaches, which had their origins in psychoanalysis. The principal concepts are reviewed such. Some of the pioneer family therapists in this clinical practice from the mid 20th century in the United States will also be reviewed along with their contributions. The paper shows how the two approaches are contextualized and co-related to each other and analyzes the links between the two, and their similarities and differences, allowing a deeper understanding of the theme. Keywords: Clinical Psychology. Psychoanalysis. Family Approaches. Double Link. Family Borders. Family Hierarchy.

Mestre em Educao e Cultura pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Psicloga clnica, especializada em psicodrama e em terapia familiar sistmica. Presta atendimento clnico no Centro de Ateno Psicossocial (CAPS) em Florianpolis e em Clnica Particular.

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1 Introduo

Com o intuito de divulgar a abordagem familiar sistmica, retornamos a histria da Psicologia, da clnica e da psicanlise j que esta abordagem inaugurou um novo tempo, uma nova forma e uma nova teoria para a compreenso do gnero humano. Comparativamente s cincias exatas, tais como a Fsica e a Qumica (consideradas cincias nobres) que nos sculos XVII e XVIII j possuam reconhecimento pela sociedade, a psicologia uma cincia relativamente nova. definida como cincia somente no incio do sculo XX:O psiclogo britnico William McDougall definiu a psicologia, em 1908, como a cincia do comportamento, ao que parece pela primeira vez. Dessa forma, por volta do comeo do sculo XX, a psicologia americana conseguia sua independncia em relao filosofia, desenvolvia laboratrios nos quais aplicar os mtodos cientficos, formava sua prpria associao cientfica e definia-se formalmente como cincia a cincia do comportamento. (SCHULTZ, 2000, p.19).

Apesar de a clnica psicolgica constituir-se, tambm, em uma prtica recente (nos termos que esto sendo colocados), ela possui certa tradio, principalmente ao que se refere escola psicanaltica, a qual pode ser considerada a precursora da maioria das diversas abordagens clnicas utilizadas. Origina-se da psicanlise a forte tendncia prtica clnica individual, sendo que, a terapia sistmica familiar como abordagem clnica pouco conhecida e divulgada. Talvez, por ter surgido posteriormente, pois enquanto a psicanlise j mostrava indcios de sua presena no sculo XIX, o enfoque familiar surge somente em meados da dcada de cinqenta do sculo XX. Divulgar esta teoria tambm objetivo deste artigo. O enfoque sistmico familiar relativamente recente, portanto, quando comparado com a abordagem psicanaltica individual, nem por isso menos importante. Sua contribuio para o entendimento dos sistemas familiares, at o momento, pelo menos, se mostra deveras proveitoso e vlido no que tem provocado em termos de discusses, reflexes tericas e resultados clnicos.

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Torna-se relevante contextualizar esta teoria, levando em considerao, para efeito comparativo, os principais conceitos da psicoterapia psicanaltica individual, assim como os dados histricos de ambas as abordagens. Como surgiu o enfoque sistmico? Para suprir quais necessidades clnicas? A que e a quem se destina esta abordagem? A abordagem individual torna-se obsoleta aps estes novos enfoques e manejos clnicos? oportuno esclarecer que no se pretende produzir julgamentos sobre qual a abordagem est certa ou errada. Sistemicamente falando, pretende-se entender a insero da abordagem sistmica num meio, o qual, anteriormente, apenas admitia a abordagem individual. E a relao entre ambas as abordagens. O texto que se segue considera, inicialmente, a forma como a Psicologia situada no contexto histrico. Posteriormente, trata-se da obra de S. Freud, a Psicanlise: seus primrdios e conceitos imprescindveis para a compreenso da teoria psicanaltica. A seguir, so trazidos alguns dados do contexto histrico quando da criao dos primeiros conceitos e prtica sistmica, ou seja, de meados do sculo XX. Sero elencados os pioneiros desta abordagem e os conceitos fundamentais para a compreenso desta teoria. Com isto, espera-se poder situar o leitor em uma outra abordagem clnica e divulgar conceitos e uma compreenso que se considera essencial para o entendimento dos sistemas humanos, em especial, o sistema familiar.

2 Revisando a Histria e os principais conceitos da Teoria Psicanaltica:

Revendo dados histricos, constata-se que a Psicologia, como cincia formal, nasceu no final do sculo XIX. No entanto, as dvidas a respeito do homem sobre si mesmo so encontradas no incio das culturas e civilizaes, pois ao mesmo tempo em que o homem desenvolve o raciocnio e a cognio, surgem as primeiras questes a respeito deste tema. Muitos dos questionamentos da atual psicologia remetem-se aos primrdios da civilizao ocidental. Os filsofos gregos da Antigidade, entre os

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quais se sobressaem Scrates, Plato e Aristteles, manifestavam preocupaes com temas referentes mente, alma e s emoes humanas. Misturadas Filosofia, Metafsica e at mesmo s religies, as questes referentes Psicologia, ao comportamento humano e s relaes humanas circularam no transcorrer da histria da civilizao ocidental at o incio do sculo XX quando, ento, instituda a Psicologia cientfica. O bero da Psicologia, portanto, encontra-se na Idade Contempornea, na qual os avanos da indstria e da tecnologia causaram forte impacto na sociedade. No incio do sculo XX, a idia de cincia em si, estava baseada na fsica, na qumica e na biologia, e exigia comprovaes metodolgicas. O positivismo servia de critrio fundamental para o estabelecimento da cincia, atravs do empirismo1, do mtodo analtico dedutivo2 e das concepes da mecnica clssica3. Seguindo estes pressupostos de cumprimento do rigor cientfico, vrias correntes psicolgicas surgiram em diversas partes do mundo: o behaviorismo de J. B. Watson (1878-1958), nos Estados Unidos, os estudos do reflexo condicionado de Ivan P. Pavlov (1849 -1936), na Rssia e os laboratrios de psicofsica de Wilhelm Wundt (1832 -1920), na Alemanha, onde, mais tarde, se desenvolveria a teoria da Gestalt. Estes so os primrdios da psicologia como cincia. O que se pretende aqui, abordar a psicologia clnica em seu embasamento terico, com relao a abordagem individual e a abordagem familiar. A Psicologia clnica data suas origens tambm no incio do sculo XX e embora se diferencie da psicologia como cincia, na forma como ambas surgiram, a poca , praticamente, a mesma. Em 1896, conforme Wertheimer (1978, p.189), surgia, nos EUA, na Universidade de Pennsylvania, a primeira clnica psicolgica com o intuito deEmpirismo: Mtodo emprico desenvolvido por Locke, Berkeley e Hume, que propunha a descrio do procedimento indutivo, ou seja, realizar experimentos e tirar concluses gerais, que poderiam ser testadas novamente. Dentro da mesma perspectiva, Francis Bacon afirmava que "Saber poder", enfatizando a aplicao prtica do conhecimento e a possibilidade do "Homem" intervir na natureza e a querer control-la. 2 Ren Descartes props o mtodo analtico dedutivo para decompor o problema em suas partes e investig-las em sua ordem lgica, elevando a matemtica a sinnimo de cincia. 3 Issac Newton, atravs do conceito de fora de gravidade, produziu os enunciados da mecnica clssica na qual o Universo era concebido como uma mquina sendo governado por leis imutveis.1

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avaliar e tratar o comportamento anormal, liderada por Lightner Witmer. Em 1909, Hugo Mnsterberg publica o livro Psychotherapy (Psicoterapia), tambm nos EUA. O desenvolvimento da clnica, nesta poca, era lento, sendo impulsionado, fundamentalmente pela obra psicanaltica de Sigmund Freud. (SCHULTZ, 2000). A Psicologia clnica tem como sua primeira base terico/prtica a psicanlise. Esta, de forma diferente da psicologia enquanto cincia, tem sua origem na clnica mdica e no nos laboratrios das universidades. (BALDWIN, 1973). Mais precisamente, proveio da Psiquiatria que, j no sculo XIX, era um ramo slido da Medicina. Estava mais preocupada com o tratamento dos doentes, do que com a pesquisa propriamente dita. Portanto, estava ocupada com o comportamento anormal e utilizava como mtodo a observao clnica, enquanto as demais correntes enfocavam o estudo da personalidade normal e a pesquisa em laboratrios (inclusive valendo-se da pesquisa com animais). Inicialmente, portanto, preciso abordar a Histria e alguns conceitos da psicanlise. E, para isto, preciso conhecer Sigmund Freud. No fcil fazer uma sntese de sua obra. Considerado um dos grandes gnios contemporneos, o criador de uma vasta produo que contribui at os dias de hoje para a compreenso do gnero humano. Este artigo contempla, de forma breve, alguns conceitos apenas que se fazem pertinentes para os objetivos aqui pretendidos. Conforme o Dicionrio de Terapias Familiares, o termo Psicanlise pode ser definido da seguinte forma:

Primeiro modelo interdisciplinar de compreenso da personalidade humana e de ao teraputica no sculo XX, a psicanlise uma teoria do aparelho psquico que mostra a importncia dos processos inconscientes e dos mecanismos de defesa que os estruturam (recalques, isolamento, projeo, identificao projetiva) [...] A psicanlise reconheceu a importncia fundamental da sexualidade infantil e da represso que ela sofre durante o perodo de latncia. (MIERMONT, 1994, p. 451).

S. Freud (1856-1939) foi o criador da psicanlise. Suas primeiras obras a respeito desta abordagem datam do final do sculo XIX e ganham fora e

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prestgio nas duas primeiras dcadas do sculo XX. Sua teoria revolucionou a forma de perceber a doena mental e a concepo do seu tratamento que, at ento, era compreendida como causada pela m f e maus espritos, sendo que os tratamentos, neste perodo, baseavam-se, principalmente, em castigos e punio (inclusive fsica). O contexto cientfico, fundamentalmente positivista, no qual S. Freud estava inserido, valorizava os aspectos mecanicistas e o reducionismo, como j foi citado anteriormente. Ele no escapou s influncias de sua poca. Sua teoria revela aspectos deste paradigma positivista e prope uma viso determinista para o ser humano. Para situar aspectos importantes da teoria psicanaltica e, principalmente, das abordagens individuais, so destacados conceitos psicanalticos, referentes estrutura do psiquismo, ao desenvolvimento psicossexual e suas fases, enfatizando a questo do complexo de dipo, em virtude de sua importncia para a formao da personalidade, a anlise dos sonhos e a interpretao enquanto instrumentos clnicos bsicos, e a concepo de mecanismos de defesa, considerando-se que estes aspectos da psicanlise so imprescindveis para a compreenso de sua prtica clnica. S. Freud criou os instrumentos para a compreenso do psiquismo, da motivao e da personalidade humanas. Destacou o mundo dos afetos, como propulsor das vivncias e experincias pessoais. Sua obra, ainda hoje, serve de material para estudo, aprofundamento e discusso deste tema. Apesar das inmeras polmicas que provocou, longe de ser superada, ainda arrebanha inmeros estudiosos e pesquisadores para o tema. A teoria psicanaltica oferece os instrumentos para o entendimento da estrutura e da dinmica do psiquismo. A estrutura pode ser definida a partir dos trs elementos fundamentais, id, ego e superego, que se relacionam atravs de conflitos provocados por foras contrrias de impulsos ou pulso. O ego constitui-se na instncia de contato com a realidade, que precisa contrabalanar os instintos primitivos do id com as foras repressoras do superego (instncia representativa da moral social, adquirida atravs das regras transmitidas pelas figuras parentais).

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preciso novamente enfatizar que esta concepo do aparelho mental uma abstrao terica baseada num conjunto de definies convencionais. O id, o ego e o superego no tm existncia independente e representam agrupamentos prticos dos diferentes tipos de processo e funes mentais. [...] A utilidade dessa estrutura que ela proporciona um meio de conceituao e compreenso dos aspectos objetivos do comportamento humano e, assim, promove um alicerce para uma teoria geral dinmica do comportamento humano e da funo mental, tanto normal quanto patolgica. (DEWALD, 1981, p. 35)

A estes conceitos esto subjacentes as noes de inconsciente e prconsciente, onde ocorreriam os conflitos supracitados. Ao desenvolver estas noes, S. Freud proporcionou uma discusso sobre os processos psquicos at ento inexistente e favoreceu que, posteriormente, estes termos fossem aprofundados e utilizados at mesmo no cotidiano do homem comum. A atribuio da sexualidade fase do desenvolvimento humano reconhecida como infncia um aspecto de destaque na teoria psicanaltica. Este fato constituiu-se em uma afronta sociedade conservadora e puritana da poca. Para S. Freud, a base para a compreenso da neurose encontrava-se no desenvolvimento da sexualidade infantil. Foram destacados pelo criador da psicanlise cinco estgios do desenvolvimento psicossexual: os estgios oral, anal, flico, de latncia e genital, que iniciam a partir do nascimento. Em cada um dos estgios, identificam-se zonas ergenas especficas do corpo da criana. No estgio oral, que corresponde do nascimento aos dois anos aproximadamente, est em evidncia a boca, como parte do corpo que, quando estimulada, propicia prazer. No subseqente estgio anal, que corresponde ao perodo dos dois aos quatro anos, aproximadamente, o prazer ergeno infantil encontra-se no controle dos esfncteres, em conter ou expulsar. No estgio flico, dos cinco aos seis anos, ocorre a triangulao descrita por S. Freud como Complexo de dipo. Atravs de intenso afeto pelo progenitor do sexo oposto e, temendo a castrao, pelo progenitor do mesmo sexo, a criana resolveria este conflito identificando-se com este ltimo:

Ela (a psicanlise) apreende o drama da psique em torno de uma triangulao que estrutura o indivduo normal e/ou neurtico: o complexo de dipo aparece como um organizador e um

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obstculo das relaes familiares e sociais, que cumpre as suas funes a partir dos desejos e das interdies da criana confrontada, na realidade e no fantasma, afetiva e intelectualmente, s pessoas parentais. O complexo de dipo seria, pois, uma invariante emocional universal que estrutura de forma triangular o pertencimento do indivduo a sua famlia nuclear, bem como a necessidade que ele tem de desprender-se dela. (MIERMONT, 1994, p. 451).

O perodo de latncia, correspondente dos sete aos doze anos, aproximadamente, constitui-se em uma vivncia mais calma do ponto de vista dinmico, proporcionando espao para aquisio de habilidades, valores e papis sociais. Na fase genital, correspondente aos doze anos em diante, conhecida como adolescncia, haveria uma reativao dos impulsos sexuais da fase flica, s que, agora, com a chance de resoluo atravs da busca de parceiros fora do ambiente familiar. S. Freud sustentava que a personalidade humana constitua-se at os cinco anos de idade e que um dos alvos da terapia era emancipar os pacientes de sua dependncia infantil e ajud-los a assumir um papel mais adulto. (SHULTZ, 2000, p. 340) Entende-se, a partir da, a importncia atribuda resoluo do Complexo de dipo, e conseqente estruturao do superego atravs da identificao com o progenitor do mesmo sexo que a criana. Para a teoria psicanaltica, em cada estgio do desenvolvimento psicossexual, dependendo das dinmicas a que o indivduo esteja submetido, existe tanto a possibilidade de ele ultrapassar sem problemas, assim como de sofrer fixaes em alguma das diversas etapas, podendo, ento, desenvolver futuras neuroses. Outro aspecto de destaque na teoria desenvolvida por S. Freud a anlise dos sonhos como reveladores do desejo e a sua interpretao no processo psicanaltico. S. Freud, a partir desta nova compreenso, passou a utilizar este mtodo no tratamento de seus pacientes, sendo acrescentado j utilizada tcnica da associao livre (atravs da qual os pacientes falavam livremente sobre o que bem entendessem, sem preocupao com o sentido lgico de suas palavras, que eram ento, interpretadas pelo psicanalista).

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S. Freud, na elaborao de sua psicanlise, denominou de mecanismos de defesa do ego, os artifcios protetores deste ltimo contra ameaas insuportveis sob o ponto de vista afetivo, advindas tanto do meio exterior quanto de impulsos do prprio id. Ainda hoje, tais mecanismos so observados na prtica clnica como auxiliares nas definies diagnsticas e se prestam como instrumentos a serem trabalhados psicoterapicamente, j que limitam a vida do indivduo, deformando a sua conscincia. Como precursora das psicoterapias, a psicanlise proporcionou um modelo de atendimento clnico, a partir do qual muitas outras abordagens, posteriormente, se espelharam e utilizaram, embora, por vezes, fizessem uso de recursos tericos divergentes daqueles propostos por S. Freud. Originalmente, a idia de S. Freud constitua-se no atendimento de seus pacientes, de quatro a cinco vezes por semana. As psicoterapias de base psicanaltica, atualmente, utilizam uma ou duas sesses semanais, no mximo. O enfoque do trabalho clnico individual, tendo como objetivo o insight4. A neutralidade do terapeuta deve ser mantida e preservada, como estratgia de obteno da transferncia.5 Os sonhos so utilizados como material a ser trabalhado, mas no da forma minuciosa como na psicanlise ortodoxa, assim como a utilizao da associao livre. E o uso do div tem, progressivamente, se tornado obsoleto. Tudo o que se refere a contatos e contrato (honorrios, faltas, possveis encontros casuais entre terapeuta e paciente etc.) trabalhado interpretativamente, tornando-se, assim, material das sesses.

INSIGHT: Termo utilizado, inicialmente, pelos autores da teoria da Gestalt: Max Wertheimer (1880-1943), Kurt Koffka (1886-1941) e Wolfgang Khler (1887-1967) que o definiam como "[...] uma padronizao do campo perceptual de tal maneira que as relaes importantes so bvias; a formao da Gestalt na qual os fatores relevantes se ajustam em relao ao todo". (HEIDBREDER, 1981, p. 307) O mesmo termo foi utilizado na teoria psicanaltica, com o seguinte significado: "[...] implica um aumentado grau de autocompreenso e reconhecimento dos elementos da vida mental e emocional do indivduo que tenham sido, anteriormente, prconscientes e inconscientes. O insight pode ocorrer em vrios nveis de profundidades, desde uma compreenso intelectual at uma compreenso emocional completa". (DEWALD, 1981, p. 259) 5 TRANSFERNCIA: "A transferncia um processo de atualizao de desejos inconscientes, representvel sob a forma de relao de objetos, junto s pessoas encontradas em certos contextos precisos (relao amorosa, psicoteraputica, relao mestre-discpulo etc.) Enquanto falsa conexo, a transferncia aparece como uma relao de amor deslocada dos primeiros objetos conhecidos no decorrer da infncia (pais, conhecidos), para pessoas atualmente encontradas. Durante uma cura psicanaltica, a transferncia aparece como um artifcio amoroso: este aspecto artificial que deve ser observado e analisado. (MIERMONT, 1994, p. 568).

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S. Freud compreendeu a importncia da famlia na formao e estruturao do psiquismo. No entanto, seu enfoque e abordagem clnicos foram no indivduo. Seu tratamento tinha como objetivo o psiquismo:Freud no estava interessado na famlia atual; estava interessado na famlia-como-ela-era-envocada, aprisionada no inconsciente. Conduzindo o tratamento de forma privada, Freud salvaguardava a verdade do paciente na santidade do relacionamento teraputico e, assim, maximizava a probabilidade do paciente repetir, na relao com o analista, os aprendizados e os equvocos da infncia. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998, p. 22)

A psicanlise propunha o atendimento dirigido ao indivduo, a uma nica pessoa. Toda estrutura terica psicanaltica, embora considere a vivncia familiar como fonte dos conflitos, visa abordagem individual. Os posteriores psicanalistas seguidores de S. Freud, assim como seus dissidentes, (tais como Alfred Adler, Carl Young e Karen Horney, apenas para citar alguns) apesar de modificarem aspectos da teoria psicanaltica e da forma do atendimento clnico, mantiveram, como prtica, os atendimentos individuais. Faz parte desta prtica psicanaltica que membros de uma mesma famlia no devam ser atendidos conjuntamente, nem separadamente, pelo mesmo terapeuta. Por enfocar o psiquismo individual e interno, assim como o tratamento do aparelho psquico, as abordagens de base psicanaltica excluram qualquer hiptese de atendimento conjunto de membros de uma mesma famlia:

Embora o papel da famlia na etiologia dos problemas psiquitricos h muito venha sendo reconhecido, a maior parte dos clnicos acreditava que a excluso da famlia era uma condio necessria para anular sua influncia destrutiva. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998, p. 24).

Foi possvel observar at aqui, de forma breve e sucinta, as bases da teoria psicanaltica e a orientao para sua prtica de atendimentos individuais, com a inteno de fornecer dados histricos comparativos no sentido de ampliar a compreenso a respeito da teoria familiar sistmica.

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3 O incio da abordagem familiar sistmica, seus pioneiros e principais conceitos

Os pioneiros da prtica familiar rompem com os pressupostos anteriormente citados. Deparando-se com problemas prticos da clnica, gradativamente, a partir da metade do sculo XX, alguns psicanalistas comeam a atender os pacientes e seus familiares:

A terapia familiar surgiu dos problemas da clnica psiquitrica ligados a certos impasses pragmticos que a realidade cotidiana coloca aos terapeutas. Ela aparece como um recurso diante de realidades inextrincveis. Por meio da criao de acontecimentos singulares, inscrevendo-se no tempo e no espao, e modificando, nesse nvel, a evoluo espontnea da famlia, ela estabelece uma conexo entre a semiologia do corpo e a do esprito, e os modos de conduta, emoo e pensamento de microssistemas familiares em sofrimento. (MIERMONT, 1994, p. 33)

Um dos precursores deste tipo de abordagem conjunta a membros de uma mesma famlia foi o criador do Psicodrama, Jacob Levi Moreno (1889-1974), que, entre suas dramatizaes, abordou clinicamente um casal tratando de seus problemas conjugais. A ttulo de ilustrao, o Psicodrama, como abordagem psicoterpica no utiliza a teoria psicanaltica pois desenvolveu sua prpria teoria da personalidade (Teoria dos Papis), teoria do desenvolvimento (Teoria da Matriz de Identidade) e embasamento filosfico (viso de Homem: Homem s existe em relao). A abordagem familiar, por sua vez, parte do pressuposto que quem adoece o sistema familiar, e no apenas o indivduo ou paciente designado ou identificado6 e, portanto, prioriza a abordagem de todo sistema familiar:

Ao invs de tratar da doena mental de um indivduo, os terapeutas familiares tentam modificar as regras de comunicao, de percepo e de raciocnio que prevalecem no seio do grupo em que vive o paciente designado. Eles partem da hiptese de que as desordens de uma pessoa so sintoma da desordem de sua famlia. (LVY, 1993, p.140, grifos meus)

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A noo fundamental da abordagem sistmica que os distrbios mentais do P.I. refletem a doena do sistema familiar inteiro, devendo, portanto, ser tratado no contexto familiar. E, se algum evento afeta um membro da famlia, automaticamente, todos os demais, em determinado grau, tambm sero afetados. Convm abordar alguns aspectos da histria da prtica familiar. O desenvolvimento desta abordagem clnica ocorreu principalmente nos Estados Unidos, em meados da dcada de 50 do sculo XX. Grande parte dos pioneiros na terapia familiar era psicanalista. Isto se deve ao fato de que, com o advento das duas grandes Guerras Mundiais, os Estados Unidos terem acolhido psicanalistas refugiados de seus pases de origem europia. Conforme afirma Elkam (1998), em poucas dcadas, a psicanlise passou a ocupar as cadeiras mais importantes do cenrio psiquitrico norte-americano. Curiosamente, os pioneiros em terapias familiares eram psicanalistas, em sua maioria. importante assinalar a influncia do clima intelectual da poca:

De particular interesse para ns a mudana que se operou nos modelos explanatrios do comportamento humano, em particular no que se refere aos paradigmas predominantemente utilizados na rea denominada como das doenas mentais. De modo mais geral, essa mudana se dava a partir de modelos reducionistas, intrapsquicos e explanatrios, para aquele de carter psicossocial, contextual e sistmico. (ELKAM, 1998, p. 27)

Apesar de a psicanlise ter aberto as portas para uma nova compreenso da doena mental, conforme Elkam (1998, p. 28-29), seu modelo proporcionava algum descontentamento com o esprito e os conhecimentos da poca, entre eles a viso limitada do desenvolvimento psicolgico feminino, as mudanas na fsica ps-einsteiniana, a ciberntica (Weiner), a teoria da informao (Shannon), a lingstica (Korsybski) e a teoria geral dos sistemas (Von Bertanfly). Portanto, o paradigma que sustenta a terapia familiar revela um arcabouo terico diferente daquele da poca da estruturao da psicanlise:

O pensamento psicodinmico individual valeu-se de um conceito diferente, o do homem como um heri, permanecendoPaciente designado ou identificado (P.I.): termo utilizado em terapia familiar para designar o membro da famlia que est apresentando sintomas: "O portador dos sintomas ou paciente oficial, na identificao da famlia". (NICHOLS; SHCWARTZ, 1998, p. 487)6

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ele prprio, a despeito das circunstncias. [...] Esta percepo do indivduo poderia sobreviver num mundo em que os recursos do homem pareciam infinitos. A tecnologia moderna modificou este ponto de vista. A terra j no parece um territrio sem limites, esperando seus pretendentes, mas uma espaonave, cujos recursos esto diminuindo. Estas mudanas se refletem nas percepes atuais que o homem tem de si mesmo e de sua maneira de ser. (MINUCHIN, 1982, p. 14)

Como se observa, o paradigma de sustentao do pensamento sistmico repousa sobre a noo que se contrape s idias positivistas, definindo o conhecimento como dependente e relativo ao contexto, questionando a objetividade e a neutralidade caractersticas da cincia moderna e desafiando a certeza cientfica. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998). A noo de sistema remete-se compreenso holstica7. O termo sistema pode ser definido como um todo organizado em estruturas de mltiplos nveis, cada um dividido em subsistemas que so todos em relao s suas partes e partes em relao aos demais todos maiores. Cada parte-todo autnoma mas, simultaneamente, dependente e interligada. Kestler (1981), denomina a parte-todo de Hlon8, e utiliza-se da metfora da comparao das duas faces do mitolgico deus romano Jano, que atravs de cada uma delas podia observar dois nveis diferentes ao mesmo tempo:

Homem algum uma ilha; cada qual um hlon. Semelhantes a Jano, o deus romano de dois rostos opostos, os hlons possuem a dupla tendncia de, ao mesmo tempo, se portarem como todos quase independentes, afirmando suas individualidades, e agirem como partes integradas de todos maiores, na escala de hierarquias da existncia. Por conseguinte, um homem , a um s tempo, um ser nico e tambm parte de um grupo social, que, por sua vez, parte de um grupo maior, e assim por diante. (KOESTLER, 1981, p. 05).

Observa-se que o foco de observao transfere-se do indivduo para a relao ou conexo que ele mantm com as redes s quais est relacionado. Mais7

Termo que se refere noo de HOLISMO: "Do grego: que forma um todo, todo inteiro, o holismo designa as teorias segundo as quais um todo mais do que a soma das suas partes. P. Watzlawick et al. (1976) afirmam que 'a anlise de uma famlia no a soma das anlises de cada um dos seus membros.' A unidade familiar possui, pois, uma 'qualidade emergente' irredutvel s qualidades pessoais dos membros que a constituem". (MIERMONT, 1994, p. 303) 8 HLON: "O termo por mim proposto foi 'hlon', derivado do grego holos (todo), com o sufixo on que, como em prton e neutron, sugere a idia de partcula ou parte". (KOESTLER, 1987, p. 47, grifos meus).

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importante do que estudar ou tratar o indivduo passou a ser estudar ou tratar as suas relaes:

De acordo com esse ponto de vista, as famlias, tal como as florestas ou qualquer outro ecossistema, so dotadas de fronteiras e controlam o material e a informao que entrecruzam seus limites. So organizadas hierarquicamente tanto como parte que so de um sistema maior quanto no que diz respeito aos seus subsistemas componentes, tais como as geraes, grupos de irmos e irms, pares conjugais, rede de parentalidade por afinidade e a por diante. Os sistemas so fortemente auto-reguladores e anseiam por manter seu equilbrio prximo de padres de comparao identificveis. (ELKAM, 1998, p. 39).

Partindo destes pressupostos, possvel correlacionar com as noes de matria e energia da mecnica quntica: enfocando a personalidade do indivduo, perde-se de vista a dinmica da interao e, ao contrrio, conhecendo a dinmica relacional, perde-se de vista a posio assumida pelo indivduo enquanto estrutura. Esta seria a antinomia existente entre psicanlise e teoria sistmica, conforme Miermont (1994). Os primeiros estudos e prticas familiares desenvolveram-se atravs de profissionais e instituies que trabalhavam com pacientes esquizofrnicos. A observao contnua dos doentes internados demonstrava que eles pioravam com o contato com a famlia (freqentemente com a visita da me). Muitos pioravam quando tinham alta e voltavam para casa, ou ainda, outro membro da famlia comeava a desenvolver sintomas psiquitricos com a melhora do Paciente Identificado (P.I.). Estes dados indicavam algo alm de um problema dentro do indivduo. Inmeros estudos com famlias de esquizofrnicos mostravam que o indivduo psictico fazia parte de uma rede de padres de comunicao perturbados no seio da famlia. Dentre estas observaes destacam-se: a) os pais (figura do pai) distantes e separados dos filhos propiciavam que as mes ficassem mais prximas; b) o casal apresentava crises conjugais de longa data, prximo a estas crises o P.I. desencadeava surtos psicticos, servindo para aliviar as tenses conjugais, tornando-se o elemento de estabilidade familiar;

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c) os pacientes eram igualmente capazes de vitimizar outros membros da famlia; d) os pacientes contribuam para a manuteno de seu papel de doente e culpado. Como observam Nichols e Schwartz, esta mudana de foco propiciou conseqncias no lidar com os problemas humanos:

Esse deslocamento teve conseqncias profundas. A psicopatologia no estava mais localizada dentro do indivduo, os pais no eram mais vistos como viles e os pacientes como vtimas. Agora a natureza da interao era vista como sendo o problema, o que resultava em um prognstico mais otimista e modificava a prpria natureza do tratamento. O objetivo deixou de ser afastar os pacientes de suas famlias e passou a ser esclarecer os relacionamentos entre os pais e os pacientes, na esperana de melhor-los. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998, p. 34).

A partir de ento, a famlia passou a ser observada como um sistema, ou organismo biolgico funcionando como uma totalidade que se sobrepe aos indivduos em particular. De forma diferente da psicanlise, que possui em sua origem um criador S. Freud, como j se fez referncia anteriormente, na abordagem familiar encontram-se vrios autores em seus primrdios, sendo possvel identificar vrios plos tericos e nomes de destaque. Entre eles, sero abordados aqui: Murray Bowen, Don D. Jackson e o projeto de Palo Alto, onde se destacam as figuras de Gregory Bateson, John Weakland, Jay Haley, Virginia Satir, Paul Watzlawick, Carl Whitaker, Ivan Boszormenyi-Nagy e Salvador Minuchin. Acrescente-se, tambm, a influncia exercida pelo movimento Child Guidance (Orientao Infantil), o qual propiciou a ruptura da tradio que determinava que apenas um membro da famlia deveria ser tratado (SATIR, 1988). Destacaram-se, posteriormente, o grupo de Milo e a Escola de Roma. Convm ressaltar que os autores supracitados no encerram a totalidade dos pioneiros da abordagem familiar, pois muitos outros nomes e contribuies se fizeram importantes neste universo. Os nomes aqui em destaque so, portanto, mais significativos para a autora deste artigo. Murray Bowen era psiquiatra e especializou-se em esquizofrenia. Atravs da observao de membros de uma mesma famlia, tratados por terapeutas

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diferentes, concluiu que o cerne da questo era a unidade familiar e, a partir de 1955, comeou a tratar as famlias em conjunto. O sistema de idias que criou um dos mais completos e criteriosos da terapia familiar, sugerindo que os relacionamentos humanos constituem importantes reguladores do funcionamento humano em todos os nveis, tanto fsico como social e emocional e que a famlia humana multigeracional9 (relacionada h, pelo menos, trs geraes) constitui a rede relacional central e mais importante na vida de uma pessoa. (ELKAM, 1998). Theodore Lidz desenvolveu estudos sobre as famlias de esquizofrnicos com base na teoria psicanaltica, em 1941. De forma diferente do que se afirmava na poca, observou que a influncia da figura paterna era, freqentemente, mais destrutiva que a materna. Chegou a concluir ser prefervel crescer sem um pai do que com um pai que seja indiferente demais ou fraco demais para servir como modelo saudvel para a identificao. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998, p. 42) Acrescentou s suas observaes, o fato de ter encontrado relacionamentos conjugais exacerbadamente perturbados em todos os casos que estudou, sendo que, a partir da, desenvolveu material terico a respeito de discrdias conjugais, as quais favoreciam que os filhos se tornassem extremamente atormentados pelos conflitos dos pais. Seus trabalhos, mais tarde, iro influenciar o Grupo de Milo. Com todas as modificaes que a famlia vem sofrendo, a figura paterna, muitas vezes, tende a se distanciar dos filhos pequenos. A histria da terapia familiar no pode deixar de mencionar o grupo de Palo Alto, na Califrnia, o qual abrigou dois grupos, especificamente: o Projeto para o Estudo da Esquizofrenia, dirigido por Gregory Bateson e do qual tambm faziam parte: Jay Haley, John Weakland, Don Jackson e William Fry e, o outro grupo, que era dirigido por Don Jackson, chamado Mental Research Institute (conhecido tambm como MRI). O primeiro dedicava-se ao estudo cientfico interessando-se no estudo da comunicao e o segundo tinha como foco o tratamento das famlias.

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"A tarefa da famlia produzir e treinar novos grupos de seres humanos para serem independentes, formarem novas famlias e repetirem o processo, enquanto os grupos mais velhos perdem o poder, declinam e morrem. A vida familiar uma contnua troca de guarda multigeracional. E embora este processo, s vezes, seja suave, como as transaes dos partidos polticos numa democracia, com maior freqncia ele carregado de perigo e rompimento". (CARTER; McGOLDRICK, 1995, p. 87).

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Referindo-se ao trabalho desenvolvido pelo grupo de Palo Alto convm observar o comentrio tecido pelo Grupo de Milo:

Estes autores haviam percebido o erro da abordagem psicodinmica que fazia do indivduo o continente da patologia, e consideravam que, nesta viso, ignoravam-se as contribuies do contexto relacional e, particularmente, do mais importante, a famlia no qual aconteciam os problemas de comportamento. A pergunta que estes pioneiros formulavam era a seguinte: se mudassem os padres de interao familiar, poderiam mudar o problema do comportamento? (BOSCOLO, 1993, p. 18, grifos do autor).

Estes autores (grupo de Milo) tentaram conjugar os dois modelos e, mais tarde, observando sua incompatibilidade, partiram para a utilizao do modelo sistmico, sob a consultoria de Paul Watzlawick. Com relao a Gregory Bateson, sua contribuio considervel e sua obra ainda merece estudo e dedicao por parte de muitos pesquisadores. Junto com o grupo de Palo Alto, ele identificou como situao de duplo vnculo o padro comunicacional das famlias que possuam membros esquizofrnicos. De forma resumida, possvel dizer que o duplo vnculo marcado por uma relao essencial, a mensagem emitida por quem aplica o duplo vnculo contraditria e a vtima encontra-se incapacitada de metacomunicar-se. (BENOIT, 1982) O que se sobressai na teoria do duplo vnculo a impossibilidade, nestas famlias, da metacomunicao, ou seja, a comunicao sobre a comunicao, assim como a continuidade deste padro de comunicao, tornando seu efeito, em longo prazo, enlouquecedor.

Bateson soube empreender uma associao inovadora entre o pensamento sistmico e ciberntico e as cincias humanas. Ele utilizou, em particular, a observao e a experimentao etolgicas, em espaos at ento considerados pela cincia como marginais: o jogo animal, a criatividade cultural, o humor, ... a esquizofrenia. Esse pensador ops s cincias da matria e da substncia as cincias da forma e da relao, que aceitam a reflexo analgica, isto , a abordagem desses sistemas abertos em que as interrelaes prevalecem sobre os elementos constitutivos. Assim, revitalizou o conflito dialtico entre o dom da geometria e o dom da sutileza. (BENOIT, 1982, p. 0809, grifos meus).

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Convm lembrar que G. Bateson era antroplogo e realizou pesquisas sobre o comportamento animal, evoluo e ecologia. Trabalhou com Margaret Mead, em Bali e Nova Guin. Sua idia sobre os nveis de comunicao derivou da Teoria dos Tipos Lgicos de Bertrand Russell, que propunha que uma classe no pode ser um membro de si mesma, ou seja, as classes e os membros so de tipos lgicos diferentes. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998). Dentre suas contribuies, portanto, destacam-se a noo de duplo vnculo e a

metacomunicao. Toda a contribuio da teoria da comunicao fornecida pelo grupo de Palo Alto (incluindo-se aqui as obras de Paul Watzlawick) tornou-se relevante no desenvolvimento das terapias familiares, assim como na clnica de casais. Alm do conceito de duplo vnculo e metacomunicao, pode-se acrescentar o denominado axioma comunicacional, que a impossibilidade de se comunicar. Estas idias e noes, revolucionrias, na poca, ainda so bastante teis e consideradas na prtica da clnica familiar:

Se uma pessoa que manifesta um comportamento perturbado (psicopatologia) for isoladamente estudada, ento a investigao deve se interessar pela natureza da condio e, num sentido mais lato, pela natureza da mente humana. Se os limites da investigao forem ampliados de modo a incluir os efeitos desse comportamento sobre outros, as reaes destes quele e o contexto em que tudo isso ocorre, o foco transfere-se da mnade artificialmente isolada para as relaes entre as partes de um sistema muito mais vasto. Assim, o observador do comportamento humano passa de um estudo inferencial da mente para o estudo das manifestaes observveis da relao. (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 1981, p. 18, grifos meus).

Inicialmente tambm pertencente ao grupo de Palo Alto, Virgnia Satir um dos raros nomes femininos nesta etapa do desenvolvimento das terapias familiares. Seu enfoque no atendimento familiar dirigia-se a melhorar a comunicao, expresso de sentimentos e a desenvolver um clima de aceitao mtua e cordialidade entre os membros da famlia. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998). Destaca-se no seu livro Terapia do Grupo Familiar o desenvolvimento

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do que denomina como Cronologia da Famlia, tcnica sugerida com o intuito de desenvolver os tpicos enfocados e traar a construo da histria familiar. Carl Whitaker desenvolveu um estilo de atuao como terapeuta familiar que contempla a irreverncia, o uso do absurdo e a espontaneidade do terapeuta como instrumentos de provocao e confrontao ao sistema familiar, com a inteno de favorecer a flexibilidade e a mudana, j que considerava que o problema fundamental das famlias que elas esto distantes de suas emoes e da possibilidade de compartilhar seus sentimentos entre si. Introduziu, alm do atendimento conjunto ao sistema familiar, a utilizao da co-terapia na assistncia familiar, em 1943. Prtica, esta, que ainda se mantm nos dias atuais, assim como o atendimento com observao atravs do espelho unidirecional. Dentre seus alunos e seguidores de sua abordagem conhecida como experiencial destaca-se o nome do psiclogo contemporneo Bradford Keeney que desenvolve questes relativas esttica e utilizao do absurdo nos atendimentos. Ivan Boszormenyi-Nagy desenvolveu seu trabalho com terapia familiar desde 1950. Tambm era psiquiatra e tinha formao psicanaltica. Seus trabalhos e estudos inicialmente centravam-se em pesquisa em esquizofrenia. Foi o fundador, em 1957, do Eastern Pennsylvania Psychiatric Institute (EPPI) e autor de vrias obras que contriburam para o estudo da esquizofrenia e da terapia familiar. Seu trabalho ainda produz um forte impacto nas terapias familiares, principalmente pela noo que introduz de tica relacional:Uma de suas contribuies mais importantes foi introduzir o critrio da moralidade aos objetivos e tcnicas teraputicos. Segundo Nagy, nem o princpio do prazer e da dor nem a convenincia transacional so guias suficientes para o comportamento humano. Em vez disso, ele acredita que os membros da famlia tm de basear seus relacionamentos na confiana e na lealdade, e que precisam equilibrar o eixo dos direitos e deveres. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998, p. 63)

Fazendo referncia s questes relativas a temas presentes na atualidade, tais como as minorias e a excluso, acrescenta Elkam sobre os trabalhos mais recentes de Nagy:

Em seus trabalhos mais recentes, v a solidariedade intergeracional como o nico antdoto contra a acelerada

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explorao das geraes futuras tal como se constata tanto em nvel familiar (maus tratos, incesto) quanto em nvel geral (explorao anrquica dos recursos naturais, risco de destruio global). Nagy considera que os terapeutas, seja qual for a escola a que pertenam, no se podem permitir ignorar os danos reais que ameaam a sobrevivncia da espcie humana. (ELKAM, 1998, p. 104).

Portanto, importante notar que as propostas de Nagy ultrapassam as barreiras dos consultrios e dos atendimentos clnicos em geral, perpassando por preocupaes mais amplas sobre o convvio dos grupos e a preservao do meio ambiente. Sobre o conceito de solidariedade intergeracional, ou seja, a solidariedade enquanto prtica e vivncia entre as diversas geraes que convivem como a alternativa possvel para o pleno desenvolvimento de indivduos e sistemas familiares e comunitrios. Salvador Minuchin, tambm psiquiatra, nasceu na Argentina, onde desenvolveu um programa de abordagem familiar para tratar delinqentes. A partir deste trabalho, foi convidado, em 1955, para se tornar diretor da Philadelphia Child Guidance Clinic (onde se desenvolvia o trabalho de orientao infantil, como j foi citado anteriormente neste trabalho). Desenvolveu a noo do aspecto estrutural da terapia familiar a partir da observao de interaes e transaes familiares repetidas, constituindo um padro de interao e uma estrutura familiar:

A natureza da estrutura da famlia determinada por fronteiras emocionais que mantm os membros da famlia prximos ou distantes. Cada padro a proximidade conduzindo aglutinao, ou a distncia conduzindo disperso pode ser mais ou menos funcional para uma determinada famlia. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998, p. 64, grifos meus).

O trabalho do terapeuta familiar, para Minuchin (1982), deve dirigir-se s mudanas na organizao familiar, rompendo as estruturas disfuncionais, fortalecendo as fronteiras difusas e suavizando as rgidas. Dentro desta perspectiva, Minuchin desenvolve importantes conceitos relativos ao que se entende hoje como terapia familiar estrutural. Entre eles destacam-se: a noo de estrutura, as regras, os subsistemas e as fronteiras. A noo de estrutura familiar de Minuchin, passa pela sua composio e hierarquia dentro da famlia:

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Os subsistemas podem ser formados por gerao, sexo, interesse ou por funo [...] As fronteiras de um subsistema so as regras que definem quem participa e como [..]. A funo das fronteiras de proteger a diferenciao do sistema. Para o funcionamento apropriado da famlia, as fronteiras dos subsistemas devem ser ntidas. (MINUCHIN, 1982, p. 58-59).

A partir dos pioneiros da terapia familiar supracitados desenvolveram-se vrias abordagens e escolas. Entre elas destacam-se: o modelo estratgico (a partir dos expoentes de Palo Alto), o modelo experiencial (a partir de Carl Whitaker), o modelo estrutural de Minuchin, o modelo trigeracional do italiano Maurizio Andolfi, a escola de Milo, representada por Selvini, Boscolo, Giuliana Prata e Cecchin, que foram fortemente influenciados pela obra de G. Bateson e lanaram uma obra importante dentro das terapias familiares chamada: Paradoxo e Contraparadoxo (1978). O movimento de terapia familiar italiano teve incio somente a partir de 1967, quando Mara Selvini Palazzoli criou o Centro de Estudos da Famlia de Milo e, alguns anos mais tarde, por volta de 1971, desenvolveu-se a escola de Roma, liderada por M. Andolfi. Quanto forma do atendimento familiar, apesar de caractersticas especficas de algumas escolas, normalmente a freqncia quinzenal e as sesses duram de uma hora e meia a duas horas. Alguns terapeutas trabalham somente com todos os membros da famlia presentes, outros alternam os comparecimentos atravs dos subsistemas, outros ainda convidam vrias geraes para uma mesma sesso. Como se pode observar, conforme a abordagem, a forma varia. No entanto, mesmo havendo apenas um membro da famlia presente, possvel afirmar que a compreenso e a abordagem so sistmicas, considerando o foco nas interrelaes do indivduo. comum o uso de tarefas prescritas pelo terapeuta ou equipe de terapeutas que atendem a famlia (apesar de haver terapeutas familiares que questionem e discordem desta prtica). importante considerar que no h uma terapia familiar, mas muitas terapias de famlia, cada uma com maneiras distintamente diferentes de conceituar e tratar as famlias. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998, p. 21). Apesar da origem, fortemente psicanaltica, aps muitos estudos e tentativas clnicas de compatibilizar o atendimento psicanaltico s famlias, surge, entre vrios grupos, como j se viu no transcorrer deste trabalho, a proposta do atendimento familiar sistmico. Isto no significa uma superao da

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abordagem individual, mas o surgimento de uma nova abordagem dentro da clnica. Uma nova perspectiva que acena com muitas possibilidades para muitos dos conflitos e dificuldades interpessoais. De maneira ampla, poderia se dizer que a abordagem familiar tem se mostrado mais eficiente quando os problemas surgem em alguns dos filhos ou no relacionamento do prprio casal. De forma mais especfica, convm observar o que se segue:

A terapia familiar indicada para toda uma srie de transtornos do comportamento. Ela mostra os limites das intervenes quimioterpicas, piscanalticas e socioterpicas, os quais no significam que sejam obsoletas, elas podem ser prosseguidas de maneira conjunta: as doenas psicossomticas (asma, epilepsia, enurese, encoprese etc.), os transtornos alimentares do comportamento (anorexia, bulimia, alcoolismo, toxicomania), os transtornos psicticos (esquizofrenias, paranias), os transtornos mdico-legais do comportamento (crianas maltratadas, incesto, pais maltratados, passagens ao ato delituosas, violncia familiar etc.) constituem situaes nas quais parece pertinente pensar a estrutura do ecossistema familiar concernido nas suas relaes com a personalidade e os sistemas mais amplo. (MIERMONT, 1994, p. 321).

Portanto, conveniente levar em considerao que as terapias familiares no pretendem se sobrepor s abordagens individuais, nem especificamente abordagem psicanaltica. Sua atuao difere na forma prtica e na concepo epistemolgica. Alis, estas foram as concluses, de maneira ampliada, da maioria dos pioneiros das terapias familiares.

A famlia o contexto dos problemas humanos: e, como todos os grupos humanos, a famlia tem propriedades emergentes o todo maior que a soma de suas partes. Alm disso, no importa quantas e quo variadas sejam as explicaes dessas propriedades emergentes, todas elas recaem em duas categorias: estrutura e processo. A estrutura das famlias inclui tringulos, subsistemas e fronteiras. Entre os processos que descrevem a interao familiar reatividade emocional, comunicao disfuncional etc. , o conceito central a circularidade. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998, p. 70).

Com referncia abordagem sistmica, em termos gerais, o foco do seu trabalho clnico est nas redes de relacionamento e no no mundo interno do indivduo, ou seja, no seu psiquismo, embora isto ocorra em conseqncia do

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trabalho relacional. A noo de circularidade10 transforma a perspectiva de todos no sistema familiar, no havendo mais vtimas e culpados. A concepo de famlias, como seres vivos, fornece um novo referencial epistemolgico e uma nova forma de compreender os grupos humanos. Os recursos utilizados pelas abordagens familiares vo alm do trabalho verbal, por sinal enfatizando mais aspectos da forma do que do prprio contedo e lanando mo de tcnicas tais como o coro grego11, escultura da famlia12, jogos de papis13 etc. Ao invs da utilizao do desenvolvimento da transferncia como no processo psicanaltico, os terapeutas familiares, principalmente dentro da abordagem experiencial, enfatizaram os aspectos mais profundos, reais e verdadeiros do relacionamento teraputico. Esta abordagem foi fortemente influenciada pela psicologia humanista de Carl Rogers:

Outra sada clara para a terapia psicanaltica de grupo foi o modelo existencial ou experiencial. A terapia de grupo experiencial, estimulada pelos psiquiatras existenciais Ludwig Binswanger, Medar Boss e Rollo May, na Europa, e por Carl Rogers, Carl Whitaker e Thomas Malone nos Estados Unidos, enfatizava o envolvimento pessoal e profundo com os pacientes, em oposio dissecao das pessoas como se fossem objetos. A fenomenologia assumiu o lugar da anlise, e a experincia imediata, em especial a experincia emocional, era vista como a via principal para o crescimento pessoal. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998, p. 29).

Como recursos tcnicos, alm da utilizao do espelho unidirecional, a abordagem familiar tambm recorre, com freqncia, gravao atravs deCircularidade: "A interao entre os componentes de um sistema manifesta-se como uma seqncia circular, de modo que a relao entre quaisquer de seus elementos bilateral. Enquanto o pensamento linear postulava uma causalidade do tipo de uma implicao lgica se A, ento B (A>B) - , o pensamento sistmico resultou em uma bidirecionalidade do tipo - se A, ento B e se B, ento A(AB). Dentro desse pressuposto de causalidade circular, a ordem dos fatores no altera o produto". (GRANDESSO, 2000, p. 121). 11 Tcnica do Coro Grego: "Este constitui um tringulo composto do terapeuta, da famlia e de um grupo que observa por detrs do espelho unilateral e, como um coro nas peas do antigo teatro grego, tece comentrios sobre as aes dos participantes. Neste 'jogo teraputico', a famlia v dramatizados os seus papis recprocos, podendo a partir disto redefini-los positivamente". (PAPP, 1992, p. 13). 12 Tcnica da Escultura da Famlia: "Uma tcnica experiencial no-verbal, na qual os membros da famlia posicionam-se em um quadro vivo que revela aspectos importantes de suas percepes e sentimentos". (NICHOLS; SHWARTZ, 1998, p. 486). 13 Tcnica dos Jogos de Papis ou Role-Playing: Tcnica oriunda do psicodrama, criada por J. L. Moreno, que consiste em fazer com que os diversos membros da famlia troquem ou invertam de papis entre si.10

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vdeo-tape das sesses, para posteriores discusses com as prprias famlias que so atendidas, bem como para superviso de casos e treinamento de novos terapeutas de famlia. A utilizao dos recursos tecnolgicos atuais revela, inclusive, um novo contexto instrumental, diferente daquele utilizado no sigiloso consultrio em Viena, do Dr. S. Freud, nos primrdios do sculo XX.

4 Algumas correlaes entre o enfoque individual e o enfoque sistmico

Observa-se que o surgimento da abordagem familiar se deu a partir da psicanlise, em um contexto em que esta recebia forte reconhecimento por parte da sociedade. Alguns psicanalistas, baseados em estudos com pacientes esquizofrnicos, em sua maioria, romperam com a prtica do atendimento individual e comearam a atender em conjunto toda a famlia destes pacientes. Assim, a terapia familiar institui-se, gradativamente, como prtica clnica, lanando mo de recursos prticos e, baseada teoricamente em uma epistemologia divergente da que sustentava a psicanlise. Para a concepo sistmica, a idia de reduzir, para alcanar o tomo essencial, no faz sentido. A nfase est no processo, na rede de relaes, em como as relaes se processam. As partes no tm menor ou maior valor que o todo, pois o que se enfoca o processo. As mudanas nas funes em um dos componentes do sistema provocam mudanas imediatas nas funes

complementares nos demais, caracterizando o processo de crescimento do indivduo e a reorganizao contnua da famlia, atravs de seu ciclo vital. Uma das concepes mais importantes da teoria familiar sistmica remetese a uma noo advinda da Fsica Quntica, a qual demonstra que a parte de um todo ao mesmo tempo, todo e parte, indivduo (psiquismo) e social (relacional), similarmente noo de matria e energia. A partir dos trabalhos iniciais dos pioneiros em terapia familiar, novas concepes e escolas se desencadearam e, atualmente, se espalham por todos os continentes. As diversas abordagens crescem, somam adeses, idias e novas prticas criativas. A pesquisa se faz presente, embora com as limitaes que so tpicas das pesquisas na clnica. No entanto, dos modelos iniciais, os terapeutas

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familiares que chegaram posteriormente tiveram a chance de redefinir, remodelar, transformar e criar, dando incio a uma nova gerao de abordagens. Essas contribuies so inmeras. Na tentativa de superar falhas tcnicas na prtica e inadequaes tericas, assim como, na inteno de diminuir o sofrimento familiar, novos recursos e teorias foram se desenvolvendo. As polmicas entre as diversas abordagens geram discusses que favorecem o aperfeioamento do binmio teoria/prtica. Como se apresentou at aqui, a teoria das terapias familiares prope uma perspectiva diferente da proposta individual. Talvez seja razovel pensar que so propostas que se complementam. A abordagem familiar faz uma leitura diferente dos sintomas que so trazidos para a consulta. Quando feita uma leitura sistmica, os resultados surgiro sob esta tica, o mesmo equivalendo para a psicanlise, ou melhor, para a clnica individual. O que se pretende deixar claro que ambas as abordagens tm muito a contribuir para o entendimento do ser humano, seus relacionamentos e conflitos. No incio, vrias abordagens familiares se opuseram aos princpios psicanalticos radicalmente. Portanto, no h falha em se afirmar que, considerando a base epistemolgica de ambas as abordagens, elas se contrapem, muitas vezes, se excluindo. No entanto, isto no desqualifica a abordagem individual. Ambas tm aspectos valiosos para situaes diferentes. Alis, a abordagem familiar deve muito pioneira psicanlise, inclusive, a partir da originando a abordagem familiar psicanaltica. As diferenas so vlidas e qualificam as discusses entre as diversas teorias, vindo a acrescentar em termos tericos/prticos. medida que a Psicanlise era prtica reconhecida, disseminada pelas cincias em geral e aceita pelo pblico, sendo, inclusive, o pilar de sustentao para outras cincias que vinham na psicologia buscar suporte ( o caso da pedagogia, que sofreu forte influncia psicanaltica), e ainda, como muitos de seus pioneiros eram psicanalistas, julgou-se conveniente para a contextualizao da abordagem sistmica esta breve correlao entre ambas as teorias e experincias clnicas.

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