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Instituto de Ciências da Saúde Universidade Católica Portuguesa
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças
entre os 4 e os 6 anos de idade Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de
mestre em Terapia da Fala
Por
Catarina Maria de Carvalho Afonso Orientada pela Professora Doutora Maria João Freitas
Co-orientada pela Doutora Dina Caetano Alves
Escola Superior de Saúde do Alcoitão Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 1
Índice
Índice de Quadros 4
Índice de Gráficos 7
Índice de Figuras 9
Agradecimentos 10
Resumo 11
Abstract 12
Introdução 13
1. Enquadramento Teórico 15
1.1. Propriedades fonológicas do Português Europeu 15 1.1.1. Complexidade silábica 15 1.1.2. Extensão de palavra 22 1.1.3. Acento de palavra 22
1.2. Consciência fonológica 24 1.3. Desenvolvimento fonológico 28
1.3.1. Aquisição do constituinte Ataque 28 1.3.2. Extensão de palavra 35 1.3.3. Acento de palavra 36
1.4. Identificação de processos cognitivos: tempos de reacção 37
2. Metodologia 44
2.1. Questão orientadora e hipóteses 44 2.2. Caracterização da amostra 46 2.3. Material e métodos 47 2.4. Procedimentos 57 2.5. Tratamento dos dados 59
3. Descrição dos Resultados 61
3.1. Comportamento da amostra face à tarefa de segmentação silábica das 42 palavras 61 3.2. Análise estatística das segmentações dos dissílabos e dos trissílabos 62
3.2.1. Dissílabos com estrutura CV (Ataque simples) em posição inicial 64
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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3.2.2. Dissílabos com estrutura V (Ataque vazio) em posição inicial 67 3.2.3. Dissílabos com estrutura CCV (Ataque ramificado) em posição inicial 70 3.2.4. Trissílabos 77 3.2.5. Sumário 84
3.3. Análise do tempo de reacção: segmentações correctas 86 3.3.1. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CV inicial 86 3.3.2. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com V inicial 87 3.3.3. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CCV inicial 89 3.3.4. Tempo de segmentação em função do acento de palavra 90 3.3.5. Sumário 92
3.4. Análise do tempo de reacção: segmentações incorrectas 94 3.4.1. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CV inicial 94 3.4.2. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com V inicial 96 3.4.3. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CCV inicial 97 3.4.4. Tempo de segmentação em função do acento de palavra 98 3.4.5. Sumário 100
3.5. Comparação entre grupos por desempenho na prova de segmentação 102 3.5.1. Estímulos dissilábicos com CV inicial 102 3.5.2. Estímulos dissilábicos com V inicial 103 3.5.3. Estímulos dissilábicos com CCV inicial 104 3.5.4. Estímulos trissilábicos 107 3.5.5. Sumário 110
3.6. Correlações entre variáveis 111 3.6.1. Idade versus capacidade de segmentação correcta 111 3.6.2. Idade versus tempo de segmentação da sílaba inicial 112 3.6.3. Idade versus tempo de segmentação da palavra 113 3.6.4. Capacidade de segmentação correcta versus capacidade de nomeação 114 3.6.5. Sumário 114
3.7. Sumário final 115
4. Discussão dos Resultados 124
Conclusão 137
Referências Bibliográficas 140
Apêndices 148
Apêndice I – Imagens modificadas 149 Apêndice II – As 42 imagens utilizadas na prova de segmentação silábica 151 Apêndice III – Documento relativo ao pedido de autorização da recolha de dados 158 Apêndice IV – Documento de autorização assinado 161 Apêndice V – Folha de registo da prova de nomeação e de segmentação 164
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Apêndice VI – Imagens utilizadas como exemplo na prova de segmentação silábica 168
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Índice de Quadros
Quadro 1 – Ataques simples em Português Europeu, segundo Mateus e Andrade (2000). 17
Quadro 2 – Ataques vazios em Português Europeu (exemplos de Freitas & Santos, 2001). 18
Quadro 3 – Valores absolutos da combinatória oclusiva + líquida segundo Vigário e Falé (1993). 20
Quadro 4 – Valores absolutos da combinatória fricativa + líquida segundo Vigário e Falé (1993). 20
Quadro 5 – Ataques ramificados (combinatória obstruinte + vibrante, segundo Mateus & Andrade, 2000). 21
Quadro 6 – Ataques ramificados (combinatória obstruinte + lateral, segundo Mateus & Andrade, 2000). 21
Quadro 7 – Frequência de palavras segundo Vigário et al. (2004). 22
Quadro 8 – Posição do acento na palavra e percentagem de ocorrência (Vigário et al., 2006b). 23
Quadro 9 – Compilação de tarefas e capacidades testadas para avaliação de conhecimento e de consciência
fonológica (Alves et al., em preparação). 26
Quadro 10 – Segmentos que podem preencher o Ataque simples. 29
Quadro 11 – Percentagem de palavras em função do seu número de sílabas (Vigário et al., 2006a). 36
Quadro 12 – Estatística descritiva da variável idade. 46
Quadro 13 – Agrupamento da amostra com base na faixa etária. 47
Quadro 14 – Estímulos dissilábicos utilizados. 48
Quadro 15 – Estímulos trissilábicos utilizados. 49
Quadro 16 – Percentagem de sucesso na nomeação de dissílabos com CV inicial. 50
Quadro 17 – Percentagem de sucesso na nomeação de dissílabos com V inicial. 51
Quadro 18 – Percentagem de sucesso na nomeação de dissílabos com CCV inicial. 51
Quadro 19 – Percentagem de sucesso na nomeação de trissílabos proparoxítonos. 52
Quadro 20 – Percentagem de sucesso na nomeação de trissílabos paroxítonos. 53
Quadro 21 – Distribuição da amostra pelos dois subgrupos. 61
Quadro 22 – Frequências e percentagens de sucesso na tarefa de segmentação silábica. 62
Quadro 23 – Estatística descritiva da segmentação total das palavras (mínimo, máximo, média e desvio padrão). 62
Quadro 24 – Frequência e percentagem de palavras dissilábicas com CV inicial segmentadas correctamente. 65
Quadro 25 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com CV inicial. 66
Quadro 26 – Frequência e percentagem de palavras dissilábicas com V inicial segmentadas correctamente. 68
Quadro 27 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com V inicial. 69
Quadro 28 – Frequência e percentagem de palavras dissilábicas com CV inicial segmentadas correctamente. 72
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Quadro 29 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com CV inicial. 74
Quadro 30 – Frequência e percentagem de palavras dissilábica com ClV inicial segmentadas correctamente. 75
Quadro 31 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com ClV inicial. 77
Quadro 32 – Frequência e percentagem de palavras trissilábicas proparoxítonas segmentadas correctamente. 79
Quadro 33 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de trissílabos proparoxítonos. 81
Quadro 34 – Frequência e percentagem de palavras trissilábicas paroxítonas segmentadas correctamente. 82
Quadro 35 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de trissílabos paroxítonos. 83
Quadro 36 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com CV inicial. 103
Quadro 37 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com CV inicial. 103
Quadro 38 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com V inicial. 104
Quadro 39 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com V inicial. 104
Quadro 40 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com CCV inicial. 105
Quadro 41 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com CCV inicial. 105
Quadro 42 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com CV inicial. 106
Quadro 43 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com CV inicial. 106
Quadro 44 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com ClV inicial. 106
Quadro 45 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com ClV inicial. 107
Quadro 46 – Teste de Mann-Whitney (U) para os trissílabos. 107
Quadro 47 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos. 108
Quadro 48 – Teste de Mann-Whitney (U) para os trissílabos proparoxítonos. 108
Quadro 49 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos proparoxítonos. 109
Quadro 50 – Teste de Mann-Whitney (U) para os trissílabos paroxítonos. 109
Quadro 51 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos paroxítonos. 110
Quadro 52 – Coeficiente de correlação de Pearson para as variáveis idade e capacidade de segmentação. 112
Quadro 53 – Coeficiente de correlação de Pearson para as variáveis idade e tempo de segmentação da sílaba
inicial dos estímulos com CV inicial. 113
Quadro 54 – Coeficiente de correlação de Pearson para as variáveis idade e tempo de segmentação da palavra. 113
Quadro 55 – Resultados globais face à variável complexidade silábica. 125
Quadro 56 – Percentagem das extensões de palavra no adulto e na criança. 128
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Quadro 57 – Resultados globais face à variável extensão de palavra. 129
Quadro 58 – Resultados globais face à variável acento de palavra. 130
Quadro 59 – Percentagens de sucesso para todas as estruturas em análise. 132
Quadro 60 – Resultados globais face à variável idade para os três formatos silábicos. 133
Quadro 61 – Resultados globais face à variável idade para os dois padrões acentuais testados. 133
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Índice de Gráficos
Gráfico 1 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com CV em posição inicial. 65
Gráfico 2 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com V inicial. 67
Gráfico 3 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com CCV inicial. 71
Gráfico 4 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com CV inicial. 71
Gráfico 5 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com ClV inicial. 75
Gráfico 6 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos trissilábicos. 78
Gráfico 7 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos trissilábicos proparoxítonos. 79
Gráfico 8 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos trissilábicos paroxítonos. 82
Gráfico 9 – Tempo médio das segmentações correctas da sílaba inicial dos dissílabos com CV inicial. 86
Gráfico 10 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos dissílabos com CV inicial. 87
Gráfico 11 – Tempo médio das segmentações correctas da sílaba inicial dos dissílabos com V inicial. 88
Gráfico 12 – Tempo médio das segmentações correctas dos dissílabos com V inicial. 88
Gráfico 13 – Tempo médio das segmentações correctas da sílaba inicial dos dissílabos com CCV inicial. 89
Gráfico 14 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos dissílabos com CCV inicial. 90
Gráfico 15 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos trissílabos proparoxítonos. 91
Gráfico 16 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos trissílabos paroxítonos. 91
Gráfico 17 – Tempo médio das segmentações incorrectas da sílaba inicial dos dissílabos com CV inicial. 95
Gráfico 18 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos dissílabos com CV inicial. 95
Gráfico 19 – Tempo médio das segmentações incorrectas da sílaba inicial dos dissílabos com V inicial. 96
Gráfico 20 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos dissílabos com V inicial. 96
Gráfico 21 – Tempo médio das segmentações incorrectas da sílaba inicial dos dissílabos com CCV inicial. 97
Gráfico 22 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos dissílabos com CCV inicial. 98
Gráfico 23 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos trissílabos proparoxítonos. 99
Gráfico 24 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos trissílabos paroxítonos. 99
Gráfico 25 – Percentagem de segmentações correctas e incorrectas para os dissílabos. 116
Gráfico 26 – Tempo de segmentação da sílaba inicial para os dissílabos (segmentações correctas e incorrectas). 117
Gráfico 27 – Tempo de segmentação total das palavras dissilábicas (segmentações correctas e incorrectas). 118
Gráfico 28 – Comparação das frequências do número de segmentações correctas para os dissílabos, nos dois
grupos. 118
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Gráfico 29 – Percentagem de segmentações correctas e incorrectas para os dissílabos e trissílabos. 120
Gráfico 30 – Tempo de segmentação das palavras dissilábicas e trissilábicas (segmentações correctas e
incorrectas). 120
Gráfico 31 – Comparação das frequências dos dois grupos para os dissílabos e trissílabos. 121
Gráfico 32 – Percentagem de segmentações correctas e incorrectas para as palavras trissilábicas. 121
Gráfico 33 – Tempo de segmentação das palavras trissilábicas proparoxítonas e paroxítonas. 122
Gráfico 34 – Comparação das frequências dos dois grupos para os trissílabos paroxítonos e proparoxítonos. 123
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Índice de Figuras
Figura 1 – Esquema da organização interna da sílaba pá 16
Figura 2 – Representação do Ataque simples na palavra pés. 16
Figura 3 – Representação do Ataque vazio na palavra ovo. 18
Figura 4 – Representação do Ataque ramificado na palavra braço. 19
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Agradecimentos
Em primeiro lugar, tenho que agradecer à Professora Doutora Maria João Freitas, orientadora
deste trabalho, pelas inúmeras horas que passou comigo a discutir a elaboração do mesmo, por
todas as experiências que me proporcionou, as quais resultaram num crescimento profissional e
pessoal, e pela dedicação que teve para com este projecto, desde o seu início. Tenho que
agradecer à Doutora Dina Alves, co-orientadora desta tese, pelas horas que passámos a
identificar os critérios a utilizar, bem como a programar o instrumento de recolha de dados, de
forma a avaliarmos especificamente aquilo que queríamos avaliar. Não me poderia esquecer do
Doutor Rui Costa pelas longas horas que passámos a conversar, na tentativa de elaborar um
instrumento de recolha de dados e pela sua disponibilidade, mesmo quando o tempo não era
muito. Agradeço ainda à Professora Doutora Maria Emília Santos pela rapidez com que me
esclareceu todas as dúvidas.
Não posso deixar de agradecer à designer gráfica Ana Afonso, pelo tempo dispensado na
execução dos estímulos gráficos e pela paciência na modificação dos mesmos, sempre num curto
espaço de tempo.
Agradeço à Directora Celeste do Externato das Pedralvas, pela confiança no trabalho proposto e
por ter aceitado participar neste estudo. No seguimento, tenho que agradecer a todas as crianças e
educadoras que animadamente participaram na recolha dos dados.
Por fim, agradeço a todos aqueles que me ajudaram, das mais diversas formas, na realização
deste processo e que tiveram paciência para os meus dias de desespero.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Resumo
O objectivo deste estudo é o de testar o papel da complexidade prosódica na segmentação
silábica, manipulando-se três variáveis: complexidade silábica; extensão de palavra e acento de
palavra. Para o efeito, observaram-se 80 crianças portuguesas com uma média de idade de 64
meses, submetidas a uma tarefa de segmentação de 27 palavras dissilábicas paroxítonas com V,
CV e CCV iniciais e de 17 palavras trissilábicas, 7 proparoxítonas e 8 paroxítonas. O sucesso na
prova foi avaliado em função do número e do tempo de reacção para as segmentações silábicas,
tendo-se usado, para o efeito, o programa E-prime. A análise estatística foi feita através do
programa SPSS (11.5).
Quanto à variável complexidade silábica, os dados mostram que as crianças segmentam melhor
palavras com CV inicial (93%) do que com V inicial (89,9%), não se tendo verificado diferenças
significativas entres os dois formatos silábicos, o que confirma a natureza não marcada de ambas
as estruturas. Para o formato ramificado, a combinatória obstruinte + lateral é mais problemática
(16,8%) do que a combinatória obstruinte + vibrante (48,3%). Os tempos de reacção mostram
que sílabas com V inicial demoram menos tempo a ser segmentadas (1740 ms.) do que sílabas
com CV inicial (1790 ms.) e sílabas com CCV inicial (2045 ms.). No que diz respeito à variável
extensão de palavra, as palavras dissilábicas apresentam valores de sucesso mais elevados e
tempos de reacção mais baixos do que as palavras trissilábicas, o que corrobora os achados na
literatura. Para a variável acento de palavra, os trissílabos paroxítonos têm percentagens de
sucesso e tempos de segmentação mais elevados do que os proparoxítonos.
Finalmente, e tendo em conta a variável idade, as crianças mais velhas obtêm resultados
superiores na segmentação de estímulos com V e CV iniciais; nos estímulos dissilábicos com
CCV inicial, não se verifica o efeito da variável idade. Os resultados revelam o efeito das
variáveis complexidade silábica e extensão de palavra na tarefa de segmentação silábica,
confirmando as hipóteses iniciais; as variáveis acento de palavra e idade não confirmam as
hipóteses iniciais. Os resultados obtidos a partir da tarefa de consciência fonológica usada neste
estudo permitem identificar um paralelismo entre as estruturas CV e CCV no desenvolvimento
fonológico (Fikkert, 1994; Freitas, 2001; Lamprecht, et al., 2004; Ribas, Bonilha & Lamprecht,
2003) e no desempenho de tarefas de segmentação, não se tendo verificado o mesmo para a
estrutura V (Freitas, 1997a).
Palavras-chave: consciência fonológica; segmentação silábica; complexidade silábica; extensão
de palavra; acento de palavra.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Abstract
The purpose of this study is to test the role of the prosodic complexity in syllabic segmentation,
by manipulating three variables: syllabic complexity, word length and word stress. To perform
this study, 80 Portuguese children with a mean age of 64 months old were submitted to a
segmentation task of 27 dissyllabic words with penultimate stress and initial CV, V and CCV,
and 17 trissyllabic words, 7 with antepenultimate stress and 8 with antepenultimate stress. The
success of the task was evaluated through the number and the reaction time for syllabic
segmentation, using the E-prime software. The statistic analysis was performed under the SPSS
(11.5) software.
As for the syllabic complexity variable, the results show that children are better at segmenting
initial CV words (93%) than initial V words (89,9%), no significative difference being found
between the two syllabic shapes, which confirms the unmarked pattern of both structures. For the
branching Onset format, the obstruent + lateral (16,8%) sequence is more complex than the
obstruent + flap sequence (48,3% ). The reaction time results show that stimuli with an initial V
take less time to be segmented (1740 ms.) than those with an initial CV (1790 ms.) and initial
CCV (2045 ms.). As for the word length variable, the dissyllabic words present higher success
values and lower reaction times than the trissyllabic words, which corroborate the findings in the
literature. For the word stress variable, the trissyllabic words with penultimate stress exhibit
higher segmentation rates and higher segmentation times than the trissyllabic words with
antepenultimate stress.
Finally, and considering the age variable, older children obtain higher results when segmenting
initial V and CV stimuli; the age variable effect is not seen in the initial CCV dissyllabic words
stimuli. The results reveal the effect of syllabic complexity and word length, confirming the
initial hypotheses; word stress and age do not confirm the initial hypotheses. The results
gathered from this phonological awareness task allow the identification of a parallelism between
the CV and CCV structures in phonological development (Fikkert, 1994; Freitas, 2001;
Lamprecht, et al., 2004; Ribas, Bonilha & Lamprecht, 2003) and in the performance of
segmentation tasks; the same is not true for the V structure (Freitas, 1997a).
Key-words: phonological awareness; syllabic segmentation; syllabic complexity; word length;
word stress.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Introdução
Esta investigação insere-se no âmbito dos trabalhos sobre a consciência fonológica, abordando a
temática da consciência silábica, mais especificamente, a capacidade de crianças portuguesas,
com idades compreendidas entre os quatro anos e dois meses e os seis anos e cinco meses,
segmentarem palavras da sua língua. Tendo em conta a importância do controlo de variáveis
linguísticas na construção de estímulos para a avaliação da consciência fonológica, foram
estudadas as seguintes variáveis prosódicas:
i) Complexidade silábica, tendo-se manipulado a estrutura do Ataque na sílaba inicial da
palavra;
ii) Extensão de palavra, tendo-se utilizado estímulos dissilábicos e trissilábicos;
iii) Acento de palavra, tendo sido trabalhados os padrões acentuais paroxítono e
proparoxítono.
A selecção desta temática surgiu da necessidade de se estudar e de se criar estímulos que
contribuíssem para a avaliação da consciência fonológica em crianças portuguesas. Pretendeu-se,
igualmente, testar o efeito das variáveis complexidade silábica, extensão de palavra e acento de
palavra na relação com a variável idade, no desempenho de tarefas de evocação. No domínio da
Terapia da Fala, esta investigação é relevante no sentido de possibilitar, a posteriori, a
construção de avaliações que meçam a capacidade de segmentação silábica e que contemplem as
variáveis prosódicas testadas. Tendo em conta a escassez de estudos para o Português Europeu
que controlem as variáveis prosódicas supramencionadas, pretende-se inicialmente, com esta
investigação, contribuir com evidência empírica sobre o estudo do processamento destes
aspectos.
Os indicadores, neste estudo, são o número de segmentações na tarefa proposta e os tempos de
reacção associados ao processamento de cada estímulo, na concretização da tarefa de
segmentação efectuada no domínio da palavra. A medição de tempos de reacção tem sido uma
metodologia de utilização crescente no domínio da linguística e da psicolinguística, sendo uma
variável relevante por ter sido identificada correlação entre a dificuldade de processamento dos
estímulos e o tempo de resposta apresentado (Posner, 2005).
Esta investigação encontra-se organizada em quatro capítulos centrais. No capítulo um,
apresenta-se um breve enquadramento teórico relativamente às variáveis manipuladas neste
estudo. Foi adoptado o modelo “Ataque-Rima” de Selkirk (1984, citado por Mateus & Andrade,
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 14
2000) para a descrição da sílaba e dos seus constituintes. Por outro lado, dado terem sido
introduzidos estímulos com diferentes extensões, descrever-se-ão as extensões mais frequentes
no Português Europeu, tendo por base alguns estudos de frequência para essa mesma língua.
Ainda no domínio das propriedades prosódicas estudadas, e tendo em consideração que se
manipulou o padrão acentual das palavras trissilábicas, descrever-se-á sumariamente o acento de
palavra em Português Europeu, especificamente da classe nominal (Mateus et al., 2006). Neste
capítulo, apresentar-se-á ainda uma secção sobre o conceito de consciência fonológica,
abordando-se de forma mais pormenorizada o domínio da consciência silábica, no que se refere
às provas mais utilizadas e aos estudos realizados a nível nacional e internacional, os quais têm
demonstrado que as crianças em idade pré-escolar apresentam bons desempenhos em provas de
segmentação silábica (Burt, Holm & Dodd, 1999; Capovilla, Dias & Montiel, 2007; Gindri,
2006; Silva, 2003; Sim-Sim, 2001; Veloso, 2003). Será, ainda, descrito o desenvolvimento
fonológico no que se refere às três variáveis em estudo: complexidade silábica, extensão de
palavra e acento de palavra. Por fim, caracterizar-se-á a metodologia utilizada nesta
investigação, reflectindo-se sobre o uso de medidas cronométricas para a avaliação do
processamento linguístico, sumariando-se as principais tarefas que recorrem a esta metodologia.
Estudos recentes têm descrito a importância desta metodologia e têm salientado que o tempo de
processamento está directamente relacionado com a complexidade dos estímulos (Rayner &
Clifton, 2002).
No segundo capítulo, apresenta-se a questão geral que esteve na origem desta investigação, bem
como as quatro hipóteses colocadas. A metodologia adoptada, com informações sobre a amostra
utilizada, o material e os métodos adoptados, os procedimentos aplicados e a forma como os
dados foram tratados estatisticamente também serão descritos neste capítulo.
No terceiro capítulo apresentar-se-ão os principais resultados fornecidos pela análise estatística
ao nível do sucesso na prova de segmentação silábica, do tempo de reacção utilizado, da
comparação entre grupos e das correlações existentes entre as variáveis testadas, subdividindo-se
em função das variáveis consideradas.
A discussão dos resultados será realizada no quarto capítulo, onde se confrontam os resultados
obtidos nesta investigação com as hipóteses formuladas e com os estudos referidos no capítulo
um. Por fim, na conclusão salientar-se-ão os principais resultados obtidos, as limitações
encontradas no decorrer da investigação e a necessidade de mais investigações em determinados
domínios.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 15
1. Enquadramento Teórico
Tendo em consideração o objectivo central desta investigação, a revisão da literatura neste
capítulo centrar-se-á em quatro pontos distintos: i) propriedades silábicas no Português Europeu
(secção 1.1.); ii) definição do conceito de consciência fonológica e, especificamente, de
consciência silábica (secção 1.2.); iii) caracterização do desenvolvimento fonológico
relativamente ao constituinte Ataque, à extensão de palavra e ao acento de palavra (secção 1.3.);
iv) tempos de reacção como acesso de informação relativa ao processamento linguístico (secção
1.4.).
1.1. Propriedades fonológicas do Português Europeu
Nesta secção, caracterizar-se-á, sumariamente, o funcionamento fonológico do Português
Europeu relativamente a três aspectos: estrutura silábica, extensão de palavra e acento de
palavra.
1.1.1. Complexidade silábica
A sílaba é uma unidade fonológica que integra o conhecimento fonológico e, segundo diversos
autores, a sua natureza intuitiva constitui uma “evidência fundamental para a demonstração da
sua presença a nível do conhecimento fonológico dos sujeitos e, como tal, para a defesa do seu
estatuto linguístico e fonológico” (Veloso, 2003, p. 83).
A sílaba é considerada uma unidade linguística hierarquicamente organizada e na qual os
constituintes silábicos terminais estão associados a material segmental (Mateus, 1994; Mateus &
Andrade, 2000). Bernhardt e Stemberger (1998) referem o facto de as crianças nativas de uma
língua geralmente conseguirem dizer por quantas sílabas é formada uma palavra e quais as
fronteiras silábicas da mesma, apesar de algumas tarefas de silabificação poderem apresentar
alguns problemas. Desta forma, para muitos autores, a sílaba resulta de uma construção
perceptiva, criada pelo próprio ouvinte, que apresenta propriedades linguísticas específicas
(Mateus et al., 2006).
No modelo adoptado para a descrição do Português Europeu, a sílaba é vista como um objecto
multidimensional com uma organização hierárquica interna: o Ataque e a Rima, dominando, este
último, o Núcleo e a Coda (Bernhardt & Stemberger, 1998; Blevins, 1995). Cada constituinte
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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terminal está associado a uma ou duas posições no esqueleto, as quais se associam a unidades
segmentais como se pode observar na figura seguinte, a qual representa o modelo de “Ataque-
Rima”, proposto em Selkirk (1984, citado por Mateus, 1994; Mateus & Andrade, 2000).
Figura 1 – Esquema da organização interna da sílaba pá
Os constituintes silábicos podem estar ou não preenchidos e, no caso de o estarem, podem ser
ramificados ou não ramificados. Tendo em consideração que esta investigação se centra no
domínio do Ataque, neste capitulo apenas se descreverá este constituinte silábico1. Este
constituinte pode surgir em três formatos distintos: a) Ataque não ramificado preenchido (Ataque
simples); b) Ataque não ramificado vazio (Ataque vazio); c) Ataque ramificado ou complexo.
a) Ataque simples
O constituinte Ataque simples está associado a uma posição no esqueleto, sendo constituído por
um único segmento (Figura 2).
Figura 2 – Representação do Ataque simples na palavra pés.
1 Para mais informações sobre a sílaba e seus constituintes no Português Europeu, consulte-se Freitas e Santos (2001); Mateus (1994); Mateus e Andrade (2000); Mateus, Falé e Freitas (2005); entre outras.
σ Nível da sílaba
Ataque Rima Nível da Rima
X X Nível do esqueleto
[p a] Nível dos segmentos
σ
Ataque Rima
Núcleo Coda
X X X
[p ]
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 17
Todas as consoantes do inventário segmental do Português Europeu podem ocorrer em Ataque
simples inicial e em Ataque simples medial, na palavra, apesar de o segmento [] não ocorrer em
início de palavra e os segmentos [] e [] serem raros neste contexto. No quadro que se segue,
listam-se exemplos de palavras com os segmentos que podem ocupar esta posição silábica
(Quadro 1).
Quadro 1 – Ataques simples em Português Europeu, segundo Mateus e Andrade (2000).
Segmentos Posição inicial de palavra Segmentos Posição medial de palavra
[p] pala – [pa.l] [p] ripa – [i.p]
[t] tom – [to] [t] lato – [la.tu]
[k] calo – [ka.lu] [k] vaca – [va.k]
[f] fala – [fa.l] [f] estafa – [ta.f]
[s] selo – [se.lu] [s] caça – [ka.s]
[] chá – [a] [] acha – [a.]
[b] bala – [ba.l] [b] riba – [i.b]
[d] dom – [do] [d] lado – [la.du]
[] galo – [a.lu] [] vaga – [va.]
[v] vala – [va.l] [v] estava – [ta.v]
[z] zelo – [ze.lu] [z] casa – [ka.z]
[] já – [a] [] haja – [a.]
[m] mata – [ma.t] [m] gama – [.m]
[n] nata – [na.t] [n] gana – [.n]
[] sanha – [s.]
[l] lato – [la.tu] [l] mala – [ma.l]
[] lhano2 – [.nu] [] malha – [ma]
[] rato – [a.tu] [] carro – [ka.u]
[] caro – [ka.u]
2 Trata-se da única palavra existente no Português Europeu com o segmento [] em posição inicial de palavra.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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b) Ataque vazio
Em Português Europeu, é possível que o constituinte Ataque não se encontre associado a
material segmental, podendo ocorrer em posição inicial e medial de palavra, e sendo designado
como Ataque vazio. Na figura seguinte, apresenta-se a representação desta estrutura.
Figura 3 – Representação do Ataque vazio na palavra ovo.
A título ilustrativo apresenta-se, de seguida, um quadro com uma listagem de palavras
exemplificativas deste formato (Quadro 2).
Quadro 2 – Ataques vazios em Português Europeu (exemplos de Freitas & Santos, 2001).
Posição inicial de palavra Posição medial de palavra
abóbora – [ _.b.bu.] dia – [di._ ]
água – [ _a.] lua – [lu._ ]
égua – [ _..] seara – [si. _a.]
orvalho –[ _.va.u] coelho – [ku. _.u]
uvas – [ _u.v] pradaria – [p.d.i. _]
Trabalhos sobre o Português Europeu têm apresentado alguns dados quantitativos relativos às
diferentes estruturas silábicas anteriormente descritas. Em 1993, Andrade e Viana efectuaram um
estudo sobre os padrões silábicos mais frequentes nas produções verbais, tendo verificado que
52,39% das produções eram do tipo CV e que 17,32 % eram do tipo V, sendo estes os dois
padrões mais frequentes neste sistema linguístico.
Vigário e Falé (1993) utilizaram um corpus resultante de entrevistas efectuadas a 1400 falantes,
tendo constatado que, mais uma vez, o tipo CV surge em 52,8% da totalidade do corpus das
σ
Ataque Rima
Núcleo
X X
[∅ o .vu]
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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palavras polissilábicas. Relativamente à posição na palavra, no que se refere à estrutura CV, esta
ocorre predominantemente em posição medial de palavra, seguida da posição inicial de palavra
e, por fim, da posição final de palavra. O formato V foi apenas identificado em 7,4% das
produções verbais. Relativamente às palavras monossilábicas, os autores observaram que a
estrutura CV era a mais frequente, ocorrendo em 19,3% das situações.
Resultados semelhantes são descritos por Viana et al. (1996, citado por Vigário et al., 2006a),
onde se observou que 55% das ocorrências silábicas são do tipo CV, seguidas de estruturas V,
em 15,5% das produções. Vigário, Martins e Frota (2006b), num total de 41889 sílabas extraídas,
observaram que 46,4% das estruturas eram do tipo CV e que o segundo padrão mais frequente
era o V, aparecendo em 15,8% das situações.
c) Ataque ramificado
O Ataque ramificado encontra-se associado a duas consoantes (Figura 4), podendo surgir em
posição inicial ou medial de palavra (a consoante à esquerda é designada como C1; a consoante à
direita é designada como C2).
No Português Europeu, assim como noutras línguas, as combinatórias de segmentos em Ataque
ramificado seguem princípios universais de organização silábica3: as sequências mais frequentes
no domínio deste constituinte silábico são as combinatórias obstruinte (oclusiva ou fricativa)
seguida por uma líquida (lateral ou vibrante).
Segundo Mateus e Andrade (2000), a combinatória oclusiva + líquida é a mais frequente; as
combinações que contêm o segmento lateral [l] em posição de C2 são muito menos frequentes
3 Para mais informações sobre o assunto, consulte-se Andrade e Viana (1993); Freitas e Santos (2001); Mateus (1994); Mateus e Andrade (2000); Mateus et al. (2005); Vigário e Falé (1993).
Figura 4 – Representação do Ataque ramificado na palavra braço.
σ
Ataque Rima
Núcleo
X X X
[b a .su]
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do que aquelas que contêm o segmento vibrante [] nessa mesma posição. Vejam-se os valores
de referência (Quadros 3 e 4) para o Português Europeu, referidos por Vigário e Falé (1993).
Quadro 3 – Valores absolutos da combinatória oclusiva + líquida segundo Vigário e Falé (1993).
Oclusiva + Vibrante Oclusiva + Lateral
Posição inicial
Posição medial
Posição final Posição
inicial Posição medial
Posição final
p 98 50 10 pl 2 7 2
t 39 35 44 tl
k 11 10 2 kl 8 2 1
b 10 8 21 bl 6
d 2 6 dl
9 15 2 l 2 1
TOTAL 167 120 85 TOTAL 10 17 4
Quadro 4 – Valores absolutos da combinatória fricativa + líquida segundo Vigário e Falé (1993).
Fricativa + Vibrante Fricativa + Lateral
Posição inicial
Posição medial
Posição final Posição
inicial Posição medial
Posição final
f 13 3 fl 1 3
v 2 6
TOTAL 13 2 9 TOTAL 1 3 0
Analisando-se os quadros anteriores, observa-se um predomínio da sequência oclusiva + líquida
(93%) sobre a sequência fricativa + líquida (7%).
Nos quadros 5 e 6, ilustram-se as combinatórias possíveis em posição inicial e medial de palavra,
tanto para a combinatória obstruinte + vibrante (Quadro 5) como para a combinatória obstruinte
+ lateral (Quadro 6).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Quadro 5 – Ataques ramificados (combinatória obstruinte + vibrante, segundo Mateus & Andrade, 2000).
Combinatória de consoantes Posição inicial de palavra Posição medial de palavra
[p] prato – [pa.tu] comprar – [ko.pa]
[b] branco – [b.ku] abraço – [.ba.su]
[t] trapo – [ta.pu] retrato – [re.ta.tu]
[d] droga – [d.] sindroma – [si.do.m]
[k] cravo – [ka.vu] acre – [a.k]
[] graça – [a.s] regra – [.]
[f] frio – [fiw] refrescar – [.f.ka]
[v] __________ palavra – [p.la.v]
Quadro 6 – Ataques ramificados (combinatória obstruinte + lateral, segundo Mateus & Andrade, 2000).
Combinatória de Consoantes Posição inicial de palavra Posição medial de palavra
[pl] plano – [pl.nu] repleto – [.pl.tu]
[bl] bloco – [bl.ku] ablução – [.blu.saw]
[tl] ____________ atleta – [.tl.t]
[dl] ____________ adligar4 – [.dli.ar]
[kl] claro – [kla.ru] recluso – [.klu.zu]
[l] globo – [lo.bu] aglomerar – [.lu.me.a]
[fl] flor – [flo] aflorar – [.flu.a]
Existem, no Português Europeu, outros grupos consonânticos que, por não constituírem Ataques
ramificados, não são considerados nesta dissertação5:
i) Grupos SC, como em escola [kl]; ii) Sequências de nasal + nasal, como em amnistia [mniti]; iii) Sequências de oclusiva + nasal, como em apneia [pnj]; iv) Sequências de fricativa + oclusiva, como em afta [aft]; v) Sequências de oclusiva + oclusiva, como em apto [aptu]; vi) Sequências de oclusiva + fricativa, como em psicologia [psikului].
4 A única palavra que contém esta combinatória, segundo Mateus e Andrade (2000). 5 Para informação sobre a análise destas estruturas, veja-se Mateus e Andrade (2000).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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1.1.2. Extensão de palavra
Estudos recentes sobre a extensão de palavra e a sua frequência no Português Europeu têm sido
realizados por diversos autores. Vigário et al. (2004) realizaram investigações ao nível desta
variável linguística, tendo descrito parcialmente o corpus do Português Fundamental6 (corpus
TA90EP) em função do número de sílabas. Os resultados obtidos encontram-se resumidos no
quadro seguinte.
Quadro 7 – Frequência de palavras segundo Vigário et al. (2004).
Monossílabos Dissílabos Trissílabos Polissílabos
19,8% 42,6% 18,4% 7,6%
Os dados anteriores demonstram um predomínio de palavras dissilábicas, sendo que os
monossílabos e os trissílabos têm uma percentagem de ocorrência muito semelhante.
Relacionando os dados referentes à complexidade silábica e à extensão de palavra, Vigário e
Falé (1993) observaram que 52,8% das sílabas das palavras polissilábicas são do tipo CV e que,
nas palavras monossilábicas, 19,3% apresentam um padrão silábico do tipo CV.
A literatura da especialidade tem descrito que, inicialmente, as crianças tendem a adquirir
palavras monossilábicas em línguas como o Inglês, o Holandês, o Espanhol, o Japonês e o
Hebreu, contudo os dados mais recentes para o português Europeu não têm validado este
pressuposto (Vigário et al., 2004).
1.1.3. Acento de palavra
O acento de palavra é um dos factores prosódicos que contribui para a construção do ritmo nos
enunciados de fala de uma língua. O acento resulta de uma relação de contrastes entre as sílabas
dentro da palavra, na qual existe sempre uma sílaba acentuada, a mais forte, que se opõe à(s)
restante(s) sílaba(s) não acentuada(s), a(s) mai(s) fraca(s). Este contraste entre a sílaba tónica e
as sílabas átonas resulta de valores fonéticos superiores de intensidade, duração e altura na vogal
da sílaba tónica (Andrade, 1995, Delgado-Martins, 1982, Pereira, 1999, citado por Araújo,
2004). Embora o acento recaia sobre o Núcleo, este funciona como propriedade da sílaba, a qual
se torna proeminente em relação à(s) restante(s) sílabas, no domínio da palavra.
6 Para mais informações sobre o corpus do Português Fundamental, consulte-se Bacelar, Marques e Cruz (1987).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Todas as palavras lexicais (nomes, adjectivos, verbos e advérbios) são acentuadas. Tendo em
consideração que, neste estudo, todos os estímulos pertencem à classe nominal apenas se
descreverá o acento para esta mesma classe7.
Tradicionalmente, encontra-se descrito na literatura que o acento em Português Europeu tende a
estar próximo do final de palavra, podendo ocorrer em três posições distintas (Mateus et al.,
2006):
i) Na última sílaba, tornando a palavra aguda ou oxítona ([kf] <café>);
ii) Na penúltima sílaba, tornando a palavra grave ou paroxítona ([bnn] <banana>;
[kau] <carro>);
iii) Na antepenúltima sílaba, tornando a palavra esdrúxula ou proparoxítona ([avn]
<chávena>).
Outra forma de descrever o acento em Português implica a referência à estrutura morfológica das
palavras, referindo-se que o acento regular recai sobre a vogal da última sílaba do radical, no
caso dos nomes (Mateus, 1983; Mateus et al., 2005, 2006): [bok+] <boca>; [knet+]
<caneta> ou [kf+ø] <café>.
Para o Português Europeu, há poucos estudos sobre a frequência dos diferentes padrões acentuais
no domínio da palavra. Vigário et al. (2006b) referem os seguintes valores de referência para as
três posições tradicionais do acento nesta língua:
Quadro 8 – Posição do acento na palavra e percentagem de ocorrência (Vigário et al., 2006b).
Posição do acento %
Última sílaba 21,6%
Penúltima sílaba 74,4%
Antepenúltima sílaba 2%
Os dados compilados no quadro anterior confirmam o padrão paroxítono como a posição mais
frequente para o acento de palavra no Português Europeu.
7 Para revisão bibliográfica sobre o acento, em Português Europeu, consulte-se: Araújo (2004); Duarte (2000); Mateus et al. (2005, 2006).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 24
1.2. Consciência fonológica
O conceito de consciência fonológica reenvia para uma forma de conhecimento implícito,
através do qual as crianças em idade pré-escolar conseguem efectuar tarefas de manipulação
silábica, e para uma forma de conhecimento explícito da estrutura fonológica das palavras,
requerendo a capacidade de tornar a linguagem um elemento de reflexão, como se pode constatar
em tarefas como a identificação ou isolamento segmental (Signorini, 1998, citado por Lamprecht
et al., 2004; Flavell, 1981, citado por Silva, 2003). Segundo Sim-Sim (1998), a metalinguagem
refere-se à capacidade de reflectir sobre a linguagem, partilhando com o domínio cognitivo o
recurso a metaprocessos que permitem planificar e regular decisões. Assim, compreende-se que
a consciência fonológica se insira dentro do conhecimento metalinguístico, sendo este definido,
por esta autora, como o “conhecimento que permite reconhecer e analisar, de forma consciente,
as unidades de som de uma determinada língua, assim como as regras de distribuição e sequência
do sistema de sons dessa língua” (p.225). Gombert (1990) e Tunmer e Cole (1985, citado por
Capovilla & Capovilla, 2002a) definem a metalinguagem como a capacidade de reflectir sobre a
linguagem, promovendo a extracção imediata dos significados dos enunciados. Para Gombert
(1990), esta capacidade de reflectir sobre a linguagem não se desenvolve espontaneamente nas
crianças, a par do desenvolvimento linguístico, parecendo surgir mais tardiamente. Existem
autores que referem que o desenvolvimento metalinguístico está associado à emergência de
competências metacognitivas (conhecimento que o sujeito tem sobre os seus próprios processos
cognitivos), que ocorrem em fases mais avançadas da infância (Silva, 2003).
No âmbito dos trabalhos sobre o desenvolvimento cognitivo e metacognitivo, o conceito de
consciência fonológica começou a ser descrito e investigado no fim dos anos 70 e início dos anos
80 (Gillon, 2004). Este conceito pode ser genericamente definido como a capacidade de
manipular os elementos sonoros que constituem as palavras orais (Gombert, 1990; Lamprecht et
al., 2004; Tunmer & Rohl, 1991, citado por Silva, 2003) de forma voluntária e controlada
(Gombert, 1990). Sim-Sim (1998) define-o não só como a capacidade de reconhecer e analisar as
unidades sonoras de uma língua bem como de compreender os princípios inerentes à sua
distribuição e à construção de sequências fónicas possíveis no sistema sonoro da língua.
Para Treiman e Zukowski (1991, 1996), a capacidade de segmentar o discurso em unidades
hierarquicamente superiores desenvolve-se antes da capacidade de as dividir em unidades mais
pequenas na hierarquia dos constituintes fonológicos. De acordo com esta perspectiva, a
consciência fonológica desenvolve-se como um continuum e as crianças começam por segmentar
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 25
frases em palavras, palavras em sílabas, sílabas em constituintes silábicos e, finalmente,
constituintes silábicos em segmentos ou sons da fala.
Para alguns autores, nomeadamente para Morais (1991, citado por Harbers, Paden & Halle,
1999) e para Veloso (2003), a consciência fonológica apresenta múltiplos componentes:
i) Consciência das sílabas;
ii) Consciência das unidades intrassilábicas: o Ataque e a Rima;
iii) Consciência fonémica ou segmental8.
Desta forma, o termo consciência fonológica reenvia, não só para a consciência da estrutura
sonora das palavras, bem como para a compreensão de que estas são constituídas por unidades
de diferentes naturezas e dimensões: sílabas, unidades intrassilábicas e segmentos (Capovilla &
Capovilla, 1997, Cardoso-Martins, 1991, citado por Lamprecht et al., 2004; Silva, 2003; Sim-
Sim, 1998).
A investigação registada nesta dissertação centra-se apenas no domínio da consciência silábica e,
como tal, apenas se irá abordar, na presente revisão bibliográfica, esta componente da
consciência fonológica9.
O conceito de consciência silábica remete para a capacidade de as crianças identificarem as
sílabas de uma palavra, sendo importante realçar que a tarefa de segmentação silábica é a mais
intuitiva, trazendo poucas dificuldades à maioria das crianças (Lamprecht et al., 2004; Sim-Sim,
1998).
Segundo Silva, Martins e Almeida (2001), têm sido utilizadas diferentes tarefas para avaliar a
consciência fonológica, nomeadamente a consciência silábica, o que tem enviesado a
comparação entre os resultados obtidos e, consequentemente, a formulação de generalizações
sobre os mesmos. De facto, como indicadores de consciência silábica têm sido utilizadas provas
como: reconstrução silábica, segmentação, contagem, adição e inversão de sílabas. Desta
forma, a heterogeneidade das tarefas expostas diverge quer em termos dos requisitos mnésicos
exigidos bem como da complexidade das unidades linguísticas manipuladas (McBride-Chang,
8 Utilizar-se-á, nesta tese, os termos segmento e consciência segmental em vez dos termos fonema e consciência fonémica, referidos nas investigações no domínio da consciência fonológica. 9 Para mais informações sobre a consciência segmental e a consciência das unidades intrassilábicas consulte-se: Alves Martins (1996); Burt, Holm e Dodd (1999); Cardoso-Martins (1995); Morais, Cary, Alegria e Bertelson (1979); Freitas, Alves e Costa (2006); Parkinson e Gorrie (1995); Silva (2003); Sim-Sim (1998, 2001); Treiman e Zukowski (1991); Veloso (2003); Viana (2002); entre outros.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 26
1995; Silva et al., 2001). Os requisitos mnésicos prendem-se com o número de operações
cognitivas envolvidas na realização da tarefa. Assim, enquanto a tarefa de segmentação envolve
apenas uma operação cognitiva, a tarefa de supressão requer, previamente, uma análise dos
constituintes da palavra apresentada e uma capacidade de reter a palavra formada, depois de
realizada a tarefa de supressão. Por sua vez, a dimensão das unidades linguísticas e as suas
propriedades internas influenciam o sucesso na tarefa; estudos têm demonstrado que unidades
como a sílaba são mais facilmente manipuladas pelas crianças do que unidades como os
constituintes silábicos e o segmento (Treiman & Zukowski, 1991).
No sentido de se eliminar a disparidade nas tarefas utilizadas para a avaliação da consciência
fonológica, investigadores têm procurado listar as capacidades que podem ser avaliadas ao nível
da manipulação da sílaba e as tarefas que podem ser realizadas para tal avaliação. No Quadro 9,
apresenta-se a síntese proposta em Alves, Correia e Castro (em preparação).
Quadro 9 – Compilação de tarefas e capacidades testadas para avaliação de conhecimento e de consciência
fonológica (Alves et al., em preparação).
Capacidades Provas Exemplo
Reconstituição Síntese silábica São dadas as sílabas isoladamente e é pedido ao sujeito que identifique a palavra.
Segmentação
Segmentação
É dada uma palavra e é pedido ao sujeito que a segmente em sílabas.
Reprodução
Análise
Contagem
Identificação
Comparação com o modelo
É pedido que o sujeito identifique as sílabas da palavra para que possa proceder a tarefas de
identificação.
Igual / diferente
Exclusão da diferente
Identificação da sílaba
Manipulação - Exclusão
Apagamento da sílaba inicial / medial ou final
É pedido ao sujeito que mantenha em memória as sílabas da palavra e que as manipule segundo
a tarefa proposta.
Manipulação – Transposição Inversão silábica É dada uma palavra ao sujeito e é pedido que
este inverta a ordem das sílabas.
Produção Produção É dada uma palavra e é pedido ao sujeito que
produza uma palavra que tenha a mesma sílaba inicial.
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Pela análise do quadro anterior, verifica-se que a consciência silábica pode ser avaliada através
de diferentes tarefas, sendo importante ter em consideração este mesmo facto aquando da
comparação dos resultados de diferentes trabalhos, o que torna complexo o confronto entre
investigações.
Diversos estudos têm sido efectuados na área da consciência silábica e, dado nesta investigação
se ter optado pela prova de segmentação silábica, descrever-se-ão apenas alguns estudos que
avaliaram esta competência recorrendo a esta mesma prova. Sim-Sim (2001), num estudo sobre
o desenvolvimento da linguagem, com 446 crianças com idades compreendidas entre os 46 e os
83 meses, testou a capacidade de estas segmentarem palavras monossilábicas (um estímulo),
dissilábicas (quatro estímulos), trissilábicas (três estímulos) e polissilábicas (dois estímulos). Os
resultados demonstraram que as crianças mais novas, entre os 46 e os 52 meses, tinham uma
média de acerto de cinco em dez segmentações correctas possíveis e as crianças mais velhas,
entre os 77 e os 83 meses, tinham uma média de acerto de oito segmentações. Analisando mais
especificamente a estrutura dos estímulos, a autora detectou que ambos os grupos segmentavam
mais facilmente dissílabos do que trissílabos e que as sílabas do tipo CV eram as mais fáceis de
segmentar.
Burt et al. (1999) efectuaram um estudo com 57 crianças, com uma média de idade de 52 meses,
usando uma prova de segmentação silábica em palavras de baixa frequência, com o mesmo
padrão acentual e com duas a cinco sílabas. Os resultados demonstraram que as crianças mais
novas, entre os 41 e os 51 meses de idade, apresentavam uma média de 56 segmentações
correctas sobre 372 segmentações possíveis, enquanto que as crianças mais velhas, entre os 52 e
os 58 meses de idade, apresentavam uma medida de 65 segmentações correctas sobre 312
segmentações possíveis. Estes dados revelaram que tendia a haver uma estabilização desta
competência entre os 46 e os 58 meses de idade.
Num outro estudo, realizado por Veloso (2003) com palavras dissilábicas e trissilábicas
manipuladas por crianças com uma média de idade de seis anos e quatro meses, observou-se que
as crianças com esta idade conseguiam segmentar correctamente quase todos os estímulos, sendo
que 85,7% da amostra conseguiu obter a pontuação máxima. Este autor ainda observou que as
palavras com Ataque ramificado e com a combinatória obstruinte + lateral eram mais difíceis de
segmentar do que os estímulos com a combinatória obstruinte + vibrante.
Num estudo realizado por Capovilla et al. (2007), observou-se o comportamento de 384 crianças
brasileiras num conjunto de provas no domínio da sílaba. Foram avaliadas crianças a frequentar
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 28
desde a 1ª série até à 4ª série, isto é, com idades compreendidas entre os 85 e os 124 meses de
idade. Ao nível da prova de segmentação silábica, verificou-se que a maioria das crianças
avaliadas tinha bons desempenhos na sua realização, havendo uma ligeira evolução à medida que
as crianças iam crescendo. Importa salientar que a maioria das crianças mais velhas conseguiu
segmentar correctamente todos os estímulos.
Um estudo muito semelhante foi feito por Gindri (2006), no qual se avaliaram 90 crianças
brasileiras, do pré-escolar e da primeira série, em tarefas de consciência fonológica. Na tarefa de
segmentação silábica, observou-se que as crianças com uma média de idade de 78 meses
segmentavam correctamente metade dos estímulos apresentados, enquanto que as crianças mais
velhas, com uma média de 87 meses de idade, conseguiam resultados superiores. Mais uma vez,
observou-se uma correlação positiva entre o sucesso na prova de segmentação e a idade das
crianças.
1.3. Desenvolvimento fonológico
O processo de aquisição da fonologia tem sido descrito, nas últimas décadas, em função de
diferentes aspectos do funcionamento fonológico das línguas, a partir dos instrumentos de teoria
fonológica. O presente trabalho centra-se no domínio da sílaba e, como tal, apenas será descrita a
aquisição da sílaba, ao longo do desenvolvimento linguístico infantil. Dentro desta secção,
abordar-se-ão os aspectos linguísticos estudados nesta dissertação na perspectiva do seu
desenvolvimento linguístico: i) constituinte Ataque (secção 1.3.1.); ii) extensão de palavra
(secção 1.3.2.); iii) acento de palavra (secção 1.3.3.).
1.3.1. Aquisição do constituinte Ataque
Tendo em consideração que esta investigação pretende testar o comportamento das crianças
numa tarefa de segmentação silábica, analisando o impacto da complexidade associada ao
constituinte Ataque no desempenho da tarefa, importa descrever o comportamento verbal das
crianças face a esta estrutura nos diferentes estádios do desenvolvimento fonológico infantil.
No Português Europeu, os Ataques podem ser não ramificados (simples ou vazios) e
ramificados. Como tal proceder-se-á a uma apresentação da informação disponível sobre cada
uma das estruturas previamente indicadas, no percurso de desenvolvimento linguístico na língua
materna.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Ataque não ramificado
Em Português Europeu, como já foi referido, o Ataque simples está associado a apenas uma
posição no esqueleto, podendo esta ser preenchida por diferentes segmentos, como se ilustra no
quadro seguinte.
Quadro 10 – Segmentos que podem preencher o Ataque simples.
Classes de Segmentos Segmentos Exemplos
Oclusivas /p,t,k,b,d,/ [patu / [t] / [kau] / [bl] / [dedu] / [ato]
Nasais /m,n,/ [mal] / [nt] / [niu]
Fricativas /f,s,,v,z,/ [fak] / [sapu] / [up] / [vak] / [kaz] / [au]
Líquidas /l,,,/ [lat] / [i] / [pe] / [atu]
Segundo Jakobson (1941/68, citado por Freitas, 1997a), as consoantes oclusivas são os
segmentos mais frequentes nas línguas naturais, sendo os primeiros a serem produzidos pelas
crianças, a par com os segmentos nasais. Depois de adquiridas estas duas classes de segmentos,
surgem os segmentos fricativos, apesar de a qualidade segmental de uma fricativa associada a
este constituinte poder sofrer alterações até um período bastante tarde do desenvolvimento.
Numa fase inicial, estes segmentos fricativos são substituídos por segmentos oclusivos orais,
dado este ser o modo de articulação não marcado (Jakobson, 1941/68, citado por Freitas, 1997b),
que permite o contraste máximo de sonoridade entre o Ataque e o Núcleo. As consoantes
líquidas são os segmentos menos frequentes nas línguas do mundo, sendo adquiridas numa fase
mais tardia (Freitas, 1997b, 2001).
Segundo a tipologia de Fikkert (1994), existem três estádios distintos na aquisição do
constituinte Ataque não ramificado:
1) Estádios de aquisição do constituinte Ataque
- Estádio I: Ataque obrigatório associado a oclusivas
- Estádio II: Ataque vazio
- Estádio III: outro tipo de Ataque simples
- Estádio IIIa: nasais em Ataque simples
- Estádio IIIb: outros modos de articulação em Ataque simples, nomeada-
mente fricativas, líquidas e semivogais
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Relativamente aos estádios I e II referidos em Fikkert (1994), diversos estudos referem que o
formato CV tem sido descrito como universal e como tal, não é de esperar que nas primeiras
produções infantis existam estruturas do tipo V. No entanto, segundo Freitas (1997a) e Costa e
Freitas (1999), as crianças portuguesas exibem a emergência simultânea de estruturas CV e V,
no estádio inicial de produção, o que não espelha o comportamento das crianças holandesas,
descrito em Fikkert (1994): sílabas com estrutura V não são atestadas inicialmente nas produções
das crianças holandesas. Este aspecto leva Freitas (1997a) a propor que V e CV sejam estruturas
não marcadas no Português Europeu. Tal legitimaria o facto de, perante problemas com o
material segmental alvo numa estrutura CV, as crianças utilizarem a estratégia de apagamento do
segmento alvo, com consequente produção de uma estrutura do tipo V.
2) Exemplo da substituição de uma estrutura CV por uma estrutura V (Costa & Freitas, 1999)
Mexe /m/ [t] (Marta: 1;2.0)
Vovó /vv/ [oo] (João: 1;8.13)
Sangue /s/ [] (João: 2;1.23)
Sapo /sapu/ [apu] (João: 2;2.28)
Lobo /lobu/ [opu] (João: 2;8.27)
Bruxa /bu/ [u] (João: 2;2.28)
De acordo com Treiman e Zukowski (1991), durante o processo de aquisição de uma estrutura
problemática, as crianças tendem a seleccionar o formato universal. Tendo em consideração este
pressuposto e os dados ilustrados em (2), para as crianças portuguesas o formato não marcado
para além de CV seria também o da sílaba com a estrutura V, como se vê nos exemplos
seguintes, produzidos por crianças no momento de emergência das primeiras produções:
3) Produções com estrutura alvo V (Freitas, 1997a)
Água /a/ [aa] (Marta: 0;11.6)
É // [] (Marta: 1;0.25)
Olha // [j] (Marta: 1;2.0)
Ana /n/ [n] (Marta: 1;2.0)
Urso /usu/ [u] (Marta: 1;3.8)
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Note-se que a presença inicial de V na produção também foi observada noutros sistemas
linguísticos, nomeadamente no Alemão, no Espanhol, no Hebreu e no Português do Brasil
(Freitas, 1997a), não sendo exclusiva do Português Europeu.
Relativamente ao estádio III (outro tipo de Ataque simples), mais especificamente no que se
refere ao estádio IIIa (nasais em Ataque simples) as crianças portuguesas comportam-se como
seria de esperar, produzindo estes segmentos desde bastante cedo. Quanto ao estádio IIIb (outros
modos de articulação em Ataque simples), no Português Europeu, assim como no Holandês, a
ordem de aquisição dos segmentos é preferencialmente fricativas > líquidas, podendo também
ocorrer na sequência líquidas > fricativas (Fikkert, 1994; Freitas 1997a, 1997b).
Desta forma Freitas (1997a), com base nos dados observados no seu estudo, propõe uma
reformulação, para o Português Europeu, da proposta de Fikkert (1994) para os estádios de
aquisição do Ataque não ramificado:
4) Reformulação da escala de aquisição do Ataque não ramificado (Freitas, 1997a)
- Estádio I: Ataque simples associado a oclusivas
Ataque simples associado a nasais
Ataque vazio
- Estádio II: outros modos de articulação em Ataque simples (fricativas > líquidas
ou líquidas > fricativas)
Dados sobre a aquisição da estrutura silábica no Português Europeu, têm referido uma
percentagem que varia entre os 50 e os 80% de palavras com estrutura CV e uma percentagem de
20% para palavras com estrutura V (Freitas, Frota, Vigário & Martins, 2005).
Por fim, importa ainda ilustrar os dados relativos aos erros mais frequentemente produzidos por
crianças face a Ataques não ramificados. A este nível, têm sido descritos, essencialmente, dois
tipos de erros:
i) Substituição de modos e de pontos de articulação;
Avô /vo/ [d] (João: 1;0.12)
ii) Substituição de uma estrutura do tipo CV por uma estrutura do tipo V.
Tirar /tia/ [tia] (Raquel: 2;10.8)
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Ataque ramificado
Os Ataques ramificados são as últimas estruturas silábicas a serem adquiridas no português
(Freitas, 1997a; Lamprecht et al., 2004), estabilizando tardiamente no processo de aquisição.
Esta complexidade poderá estar relacionada com a dificuldade de processar duas consoantes no
domínio de um constituinte silábico bem como com o facto de a segunda consoante ser uma
líquida, segmento de aquisição tardia nesta língua (Miranda, 2007). Fikkert (1994) descreve três
estádios para a aquisição do constituinte Ataque ramificado:
5) Estádios de aquisição do constituinte Ataque
- Estádio 0: ausência de grupos consonânticos (∅ C1C2)
- Estádio 1: grupo consonântico reduzido ao primeiro elemento (C1C2 > C1∅)
- Estádio 2: grupo consonântico reduzido ao segundo elemento (C1C2 > C2∅)
- Estádio 3: são produzidos os dois elementos do grupo consonântico (C1C2)
Vários estudos têm demonstrado que, apesar de um segmento estar disponível no sistema da
criança, tal não significa que ele seja produzido em todas as posições silábicas:
6) Produções de [] em diferentes posições silábicas (Freitas & Santos, 2001)
Amarelo /mlu/ [mw] (Luís: 1;9.29)
Barco /baku/ [baku] (Luís: 1;9.29)
Frente /fet/ [fet] (Luís: 1;11.20)
Segundo Fikkert (1994) e Bernhardt e Stemberger (1998), as crianças não conseguem produzir
Ataques ramificados enquanto esta estrutura silábica não estiver disponível no sistema da
criança. Segundo Ribas (2003, 2007) a estabilidade da estrutura CCV ocorre por volta dos cinco
anos e cinco anos e dois meses no Português do Brasil, verificando-se, como estratégia de
reconstrução preferencial, a omissão do segmento lateral [l] ou vibrante []. Esta autora refere
que as crianças lidam com o constituinte Ataque ramificado do mesmo modo,
independentemente do segmento que ocupa a posição de C2, ou seja, independentemente dos
segmentos que ocupam a sequência, o que é relevante é a aquisição da estrutura silábica.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Para Freitas (2003), apesar de a informação prosódica ser essencial no desenvolvimento
linguístico infantil e estar disponível desde muito cedo, alguns constituintes prosódicos só estão
estáveis no sistema da criança em momentos mais tardios do seu desenvolvimento.
Tendo como base a escala de aquisição do constituinte Ataque ramificado, referida por Fikkert
(1994), Freitas (1997a) propõe, para o Português Europeu, a seguinte escala:
7) Estádios de aquisição do Ataque ramificado em Português Europeu
Estádio 0 – grupos consonânticos não surgem como alvos possíveis
Estádio 1 – grupo consonântico é reduzido ao primeiro elemento (uma oclusiva ou uma
fricativa) ou reduzido a um Ataque vazio (C1C2>·∅)
Braço /basu/ [bau] (João: 2;4.30)
Bruxa /bu/ [u] (João: 2;2.28)
Estádio 2 – grupo consonântico é reduzido ao segundo elemento, uma líquida ou
semivogal (C1C2> ∅C2)
Bicicleta /bisiklt/ [bsilet] (Luís: 2;2.27)
Estádio 3 – os dois elementos do grupo consonântico são produzidos
Estádio 3a – como estando associados a uma só posição no esqueleto (C1C2)
Estádio 3b – com vogal epentética entre as duas consonantes do segmento (.C1C2V >
.C1V.C2V) e conforme o alvo (C1C2)
Prenda /ped/ [ped] (Laura: 2;2.30)
Estádio 3c – conforme o alvo (.C1C2)
Como estratégias de reconstrução mais frequentes, podem salientar-se (Freitas, 1997a):
i) Substituição da estrutura CCV por uma estrutura V, havendo o apagamento do grupo
consonântico (C1C2V → ∅∅V);
Bruxa /bu/ [u] (João: 2;2.28)
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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ii) Redução do Ataque ramificado, com apagamento da consoante que ocupa a posição de C2
na estrutura (C1C2 → C1∅);
Praia /paj/ [paj] (Inês: 1;10.29)
iii) Redução do Ataque ramificado, com apagamento da consoante que ocupa a posição de C1
na estrutura C1C2V (C1C2 → ∅C2);
Flor /flo/ [lo] (Luís: 1;9.29)
iv) Inserção de uma vogal em epêntese entre as duas consoantes do Ataque ramificado (C1C2
→ C1VC2).
Pedra /pd/ [pd] (Luís: 2;5.7)
Relativamente ao Português do Brasil, diversas investigações têm sido realizadas no âmbito da
aquisição do constituinte silábico Ataque ramificado, referindo-se as várias estratégias de
reconstrução mais utilizadas (Lamprecht et al., 2004; Ribas, 2003, 2007; Ribas et al., 2003;
Souza, 2007). Segundo um estudo efectuado por Ribas (2003), as estratégias mais frequentes na
produção da estrutura CCV, são as seguintes:
i) Omissão do segmento que ocupa a posição de C2 (flor → [for] / fralda →
[fawd]);
ii) Substituição da lateral pela vibrante ou vice-versa (planta → [pt] / briga →
[bli]);
iii) Metátese de C2 (bicicleta → [blisikt] / pedra → [prd]);
iv) Semivocalização da líquida (bloco → [bwku];
v) Epêntese vocálica (branco → [brku]).
No geral, em 90% das situações, as crianças brasileiras, ao não conseguirem produzir a estrutura
CCV, tendem a apagar a consoante que ocupa a posição de C2 (Cristófaro-Silva, 2002; Miranda,
2007; Ribas et al., 2003). Ribas (2003) refere que o apagamento de C2 no grupo consonântico
ocorre essencialmente entre o primeiro e o terceiro ano de idade, enquanto a substituição da
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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líquida e os fenómenos de metátese e epêntese ocorrem mais tarde, entre os dois e os cinco anos
de idade.
Por seu lado, Avila (2000) refere que a produção do Ataque ramificado é favorecida pelas
seguintes condições: crianças com mais de três anos e seis meses; o Ataque apresentar a
combinatória oclusiva + lateral; a sílaba seguinte ser do tipo CV com um segmento fricativo.
Oliveira (2007), num estudo comparativo entre o Português do Brasil e o Espanhol, observou
que, em ambas as línguas, os erros mais frequentes na produção de estruturas do tipo CCV são: a
omissão do segmento que ocupa a posição de C2 e a substituição do segmento vibrante [] pelo
segmento lateral [l]. Neste mesmo estudo, verificou-se que os Ataques ramificados são mais
facilmente produzidos em posição medial de palavra (63,8%) do que em posição inicial de
palavra (41,5%), que a omissão do segmento C2 se observa, preferencialmente, em posição
medial de palavra e que a substituição da lateral pela vibrante ocorre essencialmente em posição
medial de palavra.
Concluindo, constata-se que o constituinte Ataque ramificado estabiliza numa fase mais tardia da
aquisição e que tal legitima a ocorrência de várias estratégias de reconstrução, sendo o
apagamento do segmento que ocupa a posição de C2 numa estrutura C1C2V a estratégia que mais
frequentemente se observa.
1.3.2. Extensão de palavra
Uma variável em análise neste estudo é a influência da extensão de palavra, neste caso particular
de dissílabos e trissílabos, na tarefa de segmentação silábica. Desta forma, importa descrever os
principais resultados obtidos sobre o desenvolvimento da extensão de palavra em Português
Europeu.
Um estudo efectuado por Vigário et al. (2006a) comparou o tamanho das palavras na fala adulta
com as produções efectuadas pelas crianças nos primeiros estádios de desenvolvimento (entre os
11 meses e um ano e quatro meses). Os dados encontrados neste estudo encontram-se resumidos
no Quadro 11.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Quadro 11 – Percentagem de palavras em função do seu número de sílabas (Vigário et al., 2006a).
Monossílabos Dissílabos Trissílabos Polissílabos
Produções espontâneas infantis 28,6% 46,6% 19% ______
Fala adulta dirigida à criança 43,9% 46,6% 8% 7,4%
Fala adulta não dirigida à criança 29,5% 43,6% 26,9% Menos de 5%
Os dados listados no quadro anterior revelam que, na fala adulta dirigida à criança, existe uma
alta frequência de palavras com uma e com duas sílabas e uma reduzida frequência de palavras
com três ou mais sílabas. Um outro dado interessante é que as produções espontâneas infantis se
aproximam mais dos valores obtidos na fala adulta não dirigida à criança do que da fala adulta
dirigida à criança. O Quadro 11 ainda revela que as crianças usam, na produção,
predominantemente dissílabos e menos frequentemente trissílabos. Efeitos de frequência
semelhantes são encontrados em trabalhos recentes no Francês ou Catalão (Demuth & Johnson,
2003, Prieto, 2004, citado por Vigário et al., 2004).
1.3.3. Acento de palavra
Como referido na secção 1.1.3., no Português Europeu o acento recai na última, na penúltima ou
na antepenúltima sílaba da palavra. Nos nomes e adjectivos, o acento recai essencialmente, em
80% das situações, na penúltima vogal, o que faz com que o padrão paroxítono seja o dominante
(Vigário et al., 2006b). Alguns estudos têm sido feitos neste domínio, nomeadamente na relação
entre acento e estrutura silábica. Vigário et al. (2006a) observaram a produção de dissílabos e de
trissílabos, tendo constatado que, em muitas situações, os trissílabos são produzidos como
dissílabos, podendo haver o apagamento de uma sílaba: [bunk] → [me]; ou aglutinação
de sílabas, com manutenção do Ataque da sílaba inicial e da Rima da sílaba tónica: [mou]
→ [mu].
Uma investigação realizada por Souza (2007) relacionou a estrutura silábica com o acento,
descrevendo que os processos que afectam a estrutura silábica podem estar relacionados com o
acento, havendo necessidade de analisar ambas as variáveis na explicação dos dados infantis.
Esta autora constatou que o acento está relacionado com os processos de apagamento silábico:
geralmente são as sílabas átonas que sofrem processos de apagamento, mais especificamente as
sílabas pré-tónicas. Relativamente aos processos de metátese, a autora também observou que esta
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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pode ser desencadeada pelo acento da palavra, já que, em produções como [kwadu] ou
[livu], o segmento migra para outra posição silábica, no domínio da sílaba tónica.
Avila (2000), num estudo efectuado ao nível das produções infantis, constatou que a sílaba
tónica é a não marcada, por ser saliente acusticamente e resistente à ocorrência de processos
fonológicos. No entanto, correlacionado o acento com a estrutura silábica, esta autora observou
que o ambiente mais favorável à produção do constituinte Ataque ramificado é a posição átona,
como na palavra cabra, talvez porque a criança processe a palavra apenas a partir do acento
(Azambuja, 1998, citado por Avila, 2000). Dentro desta vertente, Cristófaro-Silva (2004)
verificou que o constituinte Ataque ramificado ocorre predominantemente em posição átona
(25%) e não em posição tónica (11%). Num estudo comparativo entre as produções infantis e as
produções dos adultos, esta mesma autora observou que, enquanto que as crianças produzem
mais frequentemente estruturas do tipo CCV em posição pré-tónica, como na palavra biblioteca,
os adultos revelaram uma preferência pela posição pós-tónica, como na palavra lágrima. Um
estudo semelhante efectuado por Miranda (2007) destacou os dados relativos às produções
infantis relativamente a estruturas com Ataque ramificado, tendo observado que estas ocorrem
em cerca de 56% das situações em posição pós-tónica, em 35% das situações em posição pré-
tónica e em 11% das situações em posição tónica.
Para finalizar, importa referir que, num estudo realizado com jovens a frequentar desde o 7º ano
até ao 12º ano de escolaridade, se observou que estes eram capazes de identificar mais facilmente
palavras (90,9%) e pseudopalavras (86,1%) acentuadas na penúltima sílaba, o que reforça os
achados sobre o padrão acentual não marcado para o Português Europeu (Araújo, 2004). Esta
autora destaca o facto de o acompanhamento que é feito ao longo do percurso escolar das
crianças não garantir uma evolução do conhecimento dos sujeitos sobre o acento, já que o
tratamento do mesmo tende a ser redutor, centrando-se na ortografia.
1.4. Identificação de processos cognitivos: tempos de reacção
A investigação na área do processamento da linguagem tem procurado identificar as
metodologias adequadas para aceder ao modo como processamos enunciados linguísticos.
Uma das formas utilizadas para estudar o processamento humano da linguagem é a observação
directa dos enunciados, a qual apresenta uma série de limitações, já que o observador fica
limitado às produções do sujeito. Como alternativa a este método, podem criar-se situações
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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experimentais, nas quais se controlam os estímulos utilizados, as condições ambientais e a forma
como o sujeito responde aos estímulos apresentados. Neste tipo de estudos, é possível recorrer a
técnicas que permitem analisar diferentes aspectos do processamento linguístico bem como a
estratégias utilizadas pelos sujeitos quando confrontados com dificuldades ou incongruências
(Luegi, 2006).
Como metodologias de registo, podem ser utilizadas (Mitchell, 2004):
i) Metodologias on-line – recorrem a novas tecnologias, o que permite a análise do
processamento que decorre desde a apresentação do estímulo até à formulação da
resposta. As técnicas imagiológicas como os potenciais evocados, a ressonância
magnética, a ressonância magnética funcional e o movimento ocular são metodologias
desta natureza;
ii) Metodologias off-line – permitem aceder apenas à fase final do processo, isto é, à
resposta do sujeito testado. Esta metodologia é utilizada em tarefas como o
reconhecimento de palavras, a leitura de palavras e pseudopalavras e a segmentação de
palavras, registando-se o tempo de reacção da resposta dada pelo sujeito avaliado.
Apesar de as metodologias de observação on-line serem bastante utilizadas dado reflectirem com
maior precisão o processamento da informação, estas também são mais dispendiosas (Mitchell,
2004).
A medição de tempos de reacção é bastante utilizada na psicologia experimental, dado ser um
meio passível de ser utilizado quando se pretende medir a duração das operações cognitivas. Para
tal, recorre-se a medidas cronométricas para se aferir quais as operações mais complexas e, como
tal, mais demoradas (Posner, 2005). Actualmente, é possível combinar este recurso com técnicas
recentes de (Luegi, 2006):
i) Medição da actividade fisiológica, que inclui o registo do movimento dos olhos, através
do qual se pretende observar os padrões oculares produzidos pelos movimentos dos olhos
e o tempo de leitura de estímulos;
ii) Medição da actividade neuronal, através da qual se procura localizar as áreas
responsáveis pela linguagem bem como o tipo e a duração cognitiva envolvida no
processamento da linguagem. Estas técnicas recorrem à ressonância magnética,
ressonância magnética funcional, potenciais evocados e magnetoencefalografia. Apesar
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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de a resolução espacial ser bastante precisa, a resolução temporal não é muito fiável, já
que o sangue demora entre um a 10 segundos a chegar a essas regiões.
As medidas cronométricas, que foram utilizadas nesta investigação, permitem registar o tempo
de reacção dos sujeitos a um estímulo, neste caso, visual. Segundo a literatura, as medidas
cronométricas têm sido utilizadas desde os anos 70 e têm como principal objectivo medir o
decurso temporal dos processos mentais10 (Perea & Rosa, 1999). Foster (1979, citado por Perea
& Rosa, 1999) definiu dois pressupostos que estão na base das medidas cronométricas:
i) O processamento da linguagem pode ser analisado como uma sequência de operações em
que cada uma transforma um estímulo linguístico numa tarefa mental;
ii) Numa mesma tarefa experimental, é possível que estejam envolvidos processamentos
diferentes, dependendo do objectivo da tarefa.
Segundo a literatura, o tempo de reacção é a medida mais usada na avaliação dos processos
envolvidos nas tarefas de compreensão, sendo amplamente utilizado pela psicolinguística. O
tempo de reacção é definido como o intervalo que decorre entre a apresentação de um estímulo e
o início da resposta dada pelo sujeito (Rayner & Clifton, 2002). Normalmente, o tempo de
reacção é medido com elevado grau de precisão, em milissegundos, indicando o grau de
complexidade de um estímulo e das suas propriedades bem como das operações cognitivas
envolvidas no seu processamento (Faria, 2005). Este tempo está directamente relacionado com o
grau de dificuldade do processamento da informação de um estímulo, ou seja, quanto maior o
tempo de reacção, maior a dificuldade em processar a informação (Luegi, 2006).
Dentro da técnica cronométrica, é possível descrever três grandes grupos de tarefas:
Tarefas de Classificação
Este grupo de tarefas é caracterizado pela aplicação de um certo estímulo linguístico, o qual deve
ser classificado, de acordo com um critério previamente estabelecido, o mais rapidamente
possível. Tal tarefa pressupõe que os sujeitos consigam classificar o estímulo a partir do
10 Para mais informações sobre a medição de tempos de reacção em tarefas de processamento lexical, consulte-se Mattys (1997).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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momento em que tenham completado o processamento linguístico do mesmo (Perea & Rosa,
1999).
As tarefas de classificação podem englobar provas como as que a seguir se referem:
i) Decisão lexical – é apresentada uma sequência de letras e o sujeito deve decidir se essa
mesma sequência forma uma palavra ou uma não-palavra. Assim que o sujeito decidir,
deve carregar na tecla SIM, caso a sequência de letras forme uma palavra, e na tecla
NÃO, caso essa mesma sequência forme uma não-palavra. Nesta tarefa, o tempo de
reacção não é somente o tempo utilizado na identificação das letras mas também o tempo
gasto no acto motor de carregar na tecla correspondente (Álvarez, Veja & Carreiras,
1998; Perea & Rosa, 1999, 2003; Rayner & Clifton, 2002);
ii) Verificação semântica / categorização – é apresentada uma palavra e é perguntado ao
sujeito se a palavra que apareceu pertence a uma dada categoria. Se a imagem pertencer a
essa categoria, o sujeito deve carregar na tecla SIM, se não pertencer deve carregar na
tecla NÃO (Barbón & Cuetos, 2006; Perea & Rosa, 1999; Rayner & Clifton, 2002).
Tarefas de Nomeação
Nestas tarefas, os sujeitos têm de nomear, o mais rapidamente possível, um estímulo linguístico
que lhes é apresentado. Os estímulos podem ser apresentados em formato ortográfico com
palavras e / ou com pseudopalavras. Nesta tarefa, assim como na tarefa de decisão lexical, o
tempo de reacção não envolve somente a identificação do estímulo mas também o tempo
utilizado na articulação / nomeação do mesmo. Esta tarefa não necessita que os sujeitos tenham
que aceder ao significado da palavra, sendo apenas imprescindível que estes consigam converter
as sequências de grafemas em sequências de sons (Perea & Rosa, 1999).
Tarefas de Identificação
As tarefas de identificação dividem-se em duas provas:
i) Mascaramento – nesta tarefa, os sujeitos devem indicar, carregando numa determinada
tecla, o momento em que são capazes de identificar um estímulo, o qual aparece, numa
fase inicial, degradado e progressivamente vai surgindo com mais clareza (Bowers,
Vigliocco & Haan, 1998; Perea & Rosa, 1999; Salles, Jou & Stein, 2007). Na última
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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década, tem sido utilizada uma vertente mais específica desta prova, denominada por
mascaramento progressivo (Segui & Grainger, 1990), a qual permite medir o tempo de
reacção que os sujeitos demoram a identificar a imagem alvo;
ii) Priming – envolve a apresentação de uma sequência de duas palavras: uma palavra alvo e
um distractor. É pedido ao sujeito que identifique a palavra alvo, o mais rapidamente
possível, sendo medido esse mesmo tempo. Investigações recentes neste domínio têm
verificado que é mais fácil identificar o estímulo alvo se este estiver relacionado com o
estímulo distractor (cão, seguido da palavra gato) do que se essa relação não existir
(caneta, seguida da palavra gato) (Holcomb & Neville, 1990; Plaut & Booth, 2000;
Rayner & Clifton, 2002).
Para além destas tarefas que utilizam as medidas cronométricas na medição do processamento de
estímulos linguísticos, esta metodologia também tem sido utilizada em tarefas de leitura,
considerando que, nestas tarefas, o tempo de reacção indica, indirectamente, o tempo utilizado
no processamento interno da leitura (Perea & Rosa, 1999). As tarefas mais utilizadas têm sido:
i) Leitura de palavras – esta prova é utilizada quando o investigador está interessado em
saber o tempo que o sujeito demora a ler uma palavra num dado texto, sendo função do
investigador controlar a quantidade de texto que aparece. Desta forma, ao ser
apresentada uma palavra de cada vez, o investigador consegue medir o tempo de
processamento de cada palavra inserida numa determinada frase. Uma crítica feita a esta
abordagem é a de que não avalia a leitura em contexto natural (Rayner & Clifton,
2002);
ii) Apresentação rápida de estímulos visuais – esta tarefa avalia o quão rapidamente um
texto pode ser lido, aparecendo uma sequência de palavras com uma diferença de 50 a
400 milissegundos. O propósito desta tarefa é verificar dentro de que intervalos de
tempo, no aparecimento das palavras, os sujeitos conseguem ler (Capovilla &
Capovilla, 2002b). Os estudos têm indicado que os leitores conseguem ler e
compreender palavras até uma média de 1200 palavras por minuto, com uma nova
palavra a surgir a cada 50 milissegundos (Rayner & Clifton, 2002);
iii) Movimentos oculares – esta tarefa é essencialmente utilizada no estudo da leitura de
textos em silêncio. Metodologicamente, esta tarefa consiste em apresentar aos sujeitos
um texto que deve ser lido pelos mesmos. Através de tecnologia apropriada, são
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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avaliados os movimentos oculares dos sujeitos, o tempo de fixação numa determinada
palavra ou frase, o número de palavras que são fixadas e a frequência dos movimentos
oculares de retrocesso para voltar a ler uma palavra ou um conjunto de palavras (Costa,
2005; Luegi, 2006; Rayner & Clifton, 2002). Esta metodologia parte do princípio de
que a duração média das fixações e os tempos totais e parciais de leitura representam as
dificuldades de processamento e o grau de complexidade do estímulo em análise (Luegi,
2006).
Por fim, os tempos de reacção também podem ser utilizados em técnicas neurofisiológicas, as
quais permitem observar os processos mentais envolvidos numa dada actividade cognitiva.
Dentro deste conjunto de técnicas que utilizam os tempos de reacção, podem destacar-se:
i) Potenciais evocados – é a metodologia mais utilizada no registo da actividade cerebral
durante a produção e a compreensão da linguagem, através da qual se regista a
actividade eléctrica do cérebro por medição da variação da voltagem e da polaridade
(Habib, 2000; Luegi, 2006);
ii) Ressonância magnética / Ressonância magnética funcional – é um método de
diagnóstico por imagem que não recorre aos meios radioactivos, sendo as imagens
obtidas através de variações do campo magnético criadas pelo próprio aparelho (Castro
Caldas, 2000; Habib, 2000). Esta técnica tem como principal desvantagem o facto de a
resolução temporal ser relativamente pobre, ou seja, enquanto uma palavra pode
demorar 250 milissegundos a ser reconhecida, a ressonância magnética só consegue
medir estímulos com duração de dois ou três segundos (Rayner & Clifton, 2002).
Interessa salientar que a ressonância magnética funcional é de melhor qualidade e
apresenta como principal vantagem, relativamente à ressonância magnética, permitir
medir tempos de processamento muito curtos (Castro Caldas, 2000);
iii) Tomografia de emissão de positrões – permite pôr em evidência a actividade metabólica
do cérebro e estudar as variações regionais dessa actividade durante a execução de
tarefas específicas. É ingerida, pelo sujeito, uma pequena porção de material
radioactivo, o qual vai traçando o percurso do sangue e a sua pressão. A complexidade
da metodologia de aplicação desta técnica bem como o facto de ter de ser ingerida uma
substância radioactiva limita a sua aplicação (Castro Caldas, 2000). Através da
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 43
utilização desta técnica, é possível identificar as diferentes áreas cerebrais envolvidas no
processo de compreensão da linguagem (Rayner & Clifton, 2002).
No domínio da linguística, poucos estudos têm sido efectuados com recurso a técnicas
cronométricas, podendo-se salientar os trabalhos dos seguintes autores: Capovilla, Capovilla e
Macedo (2002); Castro, Caló e Gomes (2003); Costa (2005); Luegi (2006); Radeau, Besson,
Fonteneau e Castro (1998); Sucena e Castro (2005); Ventura, Morais e Kolinsky (2007).
Por fim, importa realçar que a técnica de medição dos tempos de reacção apresenta como
principais desvantagens:
i) Ao ser pedido aos sujeitos para carregarem num botão, está-se a introduzir uma tarefa
secundária, estando envolvido mais do que um processo;
ii) O tempo de reacção não reflecte exclusivamente o tempo de processamento do estímulo
linguístico, já que também engloba o tempo da reacção motora.
No entanto, esta técnica tem sido essencial para a avaliação / medição de tarefas de
compreensão, permitindo medir as dificuldades sentidas pelos sujeitos durante o processamento
dos estímulos linguísticos apresentados.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 44
2. Metodologia
No segundo capítulo desta dissertação, explicitam-se os critérios metodológicos adoptados neste
estudo, apresentando-se: i) a questão orientadora e as hipóteses colocadas (secção 2.1.); ii) a
caracterização da amostra (secção 2.2.); iii) o material e os métodos utilizados para a recolha de
dados (secção 2.3.); iv) os procedimentos utilizados (secção 2.4.); v) a metodologia do
tratamento dos dados (secção 2.5.).
2.1. Questão orientadora e hipóteses
Com base na revisão bibliográfica efectuada no capítulo anterior, colocou-se a seguinte questão
geral: “a complexidade prosódica no domínio da palavra interfere no desempenho da tarefa de
segmentação silábica?”
Para responder a esta questão geral, foram seleccionadas três variáveis prosódicas: complexidade
silábica associada ao constituinte Ataque; extensão de palavra em número de sílabas; acento de
palavra.
Assim, definiram-se as seguintes questões de trabalho:
i) Será que a tarefa de segmentação silábica das palavras difere significativamente em
função da alteração da complexidade silábica do constituinte Ataque em posição inicial
de palavra?
ii) Será que a tarefa de segmentação silábica da palavra difere significativamente em
função da alteração da extensão de palavra?
iii) Será que a tarefa de segmentação silábica da palavra difere significativamente em
função da variável acento de palavra?
Através da revisão da literatura existente, verificou-se que diferentes investigações
desenvolvidas no domínio da aquisição e desenvolvimento silábico (Bernhardt & Stemberger,
1998; Fikkert 1994; Lamprecht et al., 2004; Freitas, 1997a) sugerem que a aquisição do
constituinte Ataque é feita de forma contínua, passando por diferentes estádios: i) Ataque
simples e Ataque vazio; ii) Ataque ramificado. A par destas evidências, que revelam que o
desenvolvimento silábico se processa por estádios, formulou-se uma primeira hipótese:
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 45
Hipótese 1 – O sucesso na tarefa de segmentação silábica está directamente relacionado com a
complexidade do constituinte silábico em análise: palavras com o constituinte silábico simples
ou vazio em posição inicial de palavra são segmentadas mais facilmente do que palavras com o
constituinte silábico Ataque ramificado em posição inicial de palavra.
Por outro lado, os dados apontam para uma aquisição e produção inicial de palavras dissilábicas,
monossilábicas e, por fim, polissilábicas. Para o Português Europeu, alguns estudos
nomeadamente por Vigário et al. (2004, 2006b) revelam dados sobre as produções nos adultos,
salientando que os dissílabos surgem em cerca de 42,6% do corpus, enquanto que os trissílabos
(18,4%) e os monossílabos (19,8%) apresentam uma frequência bastante inferior. Dados
relativos à aquisição, revelam que 46% das produções observadas em crianças entre os 10 meses
e os dois anos correspondem a dissílabos seguidos de monossílabos (27%) e de trissílabos (20%).
A par das evidências de uma possível relação entre a extensão dos estímulos e o sucesso em
tarefas que avaliem a consciência fonológica (Albuquerque, 2003; Stahl & Murray, 1994;
Treiman & Zukowski, 1991, 1996), formulou-se uma segunda hipótese:
Hipótese 2 – As crianças segmentam mais facilmente palavras dissilábicas do que palavras
trissilábicas.
No presente trabalho, introduziram-se estímulos trissilábicos acentuados na penúltima sílaba e
acentuados na antepenúltima sílaba, ou seja, introduziram-se estímulos trissilábicos paroxítonos
e estímulos proparoxítonos. Sabendo-se que, no Português Europeu, a maioria dos estímulos são
acentuados na penúltima sílaba (54,4%) e que apenas 1,5% são acentuados na antepenúltima
sílaba (Vigário et al., 2004), colocou-se a seguinte hipótese:
Hipótese 3 – Os estímulos trissilábicos paroxítonos são segmentados mais facilmente do que os
estímulos trissilábicos proparoxítonos.
Por fim, a consciência fonológica tem sido descrita como uma competência que se vai
desenvolvendo ao longo do tempo e, como tal, as crianças começam por desenvolver a
capacidade de manipular unidades silábicas, posteriormente unidades intrassilábicas e, por fim,
segmentos (Adams, Foorman, Lundberg & Beeler, 1998; Liberman et al., 1974, Yopp, 1988,
citado por Silva, 2003; Treiman & Zukowski, 1991, 1996), sendo de esperar que:
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 46
Hipótese 4 – Quanto mais alta é a faixa etária das crianças, melhores os resultados obtidos na
prova de segmentação silábica.
2.2. Caracterização da amostra
A amostra utilizada foi constituída por crianças a frequentar uma escola privada no concelho de
Lisboa, freguesia de Benfica. Esta amostra foi seleccionada por conveniência, sendo o processo
de amostragem não probabilístico porque a probabilidade de escolher um elemento não foi igual
para todas as crianças, dados os critérios de exclusão previamente estabelecidos. Trata-se de uma
amostragem do tipo objectiva, já que os elementos foram seleccionados de acordo com um
determinado objectivo (Maroco, 2003). Importa, ainda, realçar que o processo de recolha da
amostra é caracterizado como disponível, tendo-se avaliado apenas as crianças que, no momento
da avaliação, se encontravam na sala de aula.
Foram avaliadas todas as crianças que frequentavam a sala dos quatro e dos cinco anos de idade
e que estavam presentes na escola no momento das avaliações. Excluíram-se todas as crianças
que, até à data da avaliação, não tivessem feito quatro anos, que já tivessem feito os sete anos de
idade ou que tivessem perturbações motoras, cognitivas ou da comunicação que pudessem
comprometer os resultados. Esta informação foi fornecida, a priori, pelas educadoras de cada
uma das salas.
Desta forma, a amostra foi constituída por 80 crianças, 40 do sexo feminino e 40 do sexo
masculino, com uma média de idades de 64,6 meses (Quadro 12).
Sendo a amostra constituída por 80 crianças, entre os 50 e os 77 meses de idade, era importante
efectuar subgrupos, para que se pudesse verificar em que faixa etária se acentuavam as
dificuldades na prova de segmentação silábica e a partir de que momento esta competência
tendia a estabilizar. Desta forma, agruparam-se as 80 crianças avaliadas com base na faixa etária
das mesmas.
80 50 77 64,64 7,238Idade da amostra(meses)
N Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Quadro 12 – Estatística descritiva da variável idade.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 47
Tendo em consideração que se avaliaram as crianças da sala dos quatro e da sala dos cinco anos,
optou-se por agrupar a amostra em dois grandes grupos: o grupo 1 com as crianças dos quatro
anos e dois meses aos cinco anos e dois meses; o grupo 2 com as crianças com idades
compreendidas entre os cinco anos e três meses e os seis anos e cinco meses. Através de uma
análise de frequências, foi possível observar a distribuição das 80 crianças pelos dois grupos
(Quadro 13).
Observando o Quadro 13, constata-se que o grupo 1 é constituído por 37 crianças, com uma
distribuição homogénea face à variável sexo (17 raparigas e 20 rapazes), e que o grupo 2 é
constituído por 43 crianças, 23 raparigas e 20 rapazes.
2.3. Material e métodos
Critérios linguísticos
Aquando da concretização desta investigação, foi necessário construir um instrumento de recolha
de dados. Para a identificação dos estímulos a utilizar foi fundamental estabelecer um conjunto
de critérios:
i) Selecção de palavras passíveis de serem apresentadas sob a forma de estímulo visual não
ortográfico, sendo o visionamento dos estímulos a etapa inicial para a execução da tarefa
de segmentação silábica;
ii) Identificação exclusiva de palavras dissilábicas e trissilábicas, dado serem as extensões
de palavra mais frequentes no Português Europeu (Mateus et al., 2006; Vigário et al.,
2004, 2006a);
iii) Escolha de palavras dissilábicas acentuadas na penúltima sílaba, sendo este o padrão
acentual mais frequente para o Português Europeu (Mateus et al., 2006);
Grupo Rapazes Raparigas Frequência total Percentagem (%)
1 17 20 37 46,3
2 20 23 43 53,8
Quadro 13 – Agrupamento da amostra com base na faixa etária.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 48
iv) Selecção de palavras dissilábicas que apresentassem um de três formatos silábicos
distintos em posição inicial de palavra: sílabas com Ataque simples (como em carro),
sílabas com Ataque vazio (como em olho) e sílabas com Ataque ramificado (como em
prato);
v) Palavras trissilábicas com Ataque simples em posição inicial de palavra, acentuadas na
penúltima sílaba (como em banana) ou na antepenúltima sílaba (como em chávena);
vi) Em todos os estímulos, presença de sílabas subsequentes do tipo CV, como em olho,
faca, braço, pêssego ou casaco, dado este ser o padrão silábico mais frequente no
Português Europeu (Andrade & Viana, 1993; Vigário & Falé, 1993), ser a estrutura não
marcada nas línguas do mundo (Jakobson, 1941/68, citado por Freitas, 1997a) e ser a
primeira estrutura a ser adquirida no processo de desenvolvimento infantil (Freitas,
1997a).
Identificação dos estímulos lexicais
Partindo-se dos critérios estabelecidos previamente, seleccionaram-se estímulos dissilábicos e
trissilábicos com os constituintes silábicos e padrões acentuais descritos anteriormente. Para esta
selecção, procurou-se identificar um mesmo número de estímulos para todas as estruturas
consideradas, para que fosse possível efectuar, a posteriori, comparações quantitativas.
Introduziram-se palavras do conhecimento lexical das crianças para que esta variável não
interferisse na realização da prova de segmentação silábica. Os Quadros 14 e 15 listam os 42
estímulos utilizados.
Quadro 14 – Estímulos dissilábicos utilizados.
Dissílabos
_V CV CV ClV
Olho Pato Prato Flauta
Asa Carro Fruta Planta
Uva Bola Bruxa Flores
Unha Dedo Braço
Anjo Gato Branco
Osso Faca Preto
Ovo Vela Prego
Ilha Luva Brinco
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 49
Importa salientar que, para os dissílabos com ClV inicial, apenas se introduziram três estímulos
devido à escassez de palavras com esta estrutura que fossem do conhecimento lexical das
crianças. Outro critério que fez com que o número de estímulos fosse diminuto foi o grau de
imageabilidade dos estímulos lexicais relevantes, ou seja, nem todos os estímulos encontrados
com esta estrutura linguística eram passíveis de ser representados graficamente. Por outro lado,
no estímulo flores, não se respeitou o critério de a sílaba subsequente ser do tipo CV devido à
dificuldade em encontrar estímulos que preenchessem este critério.
Quadro 15 – Estímulos trissilábicos utilizados.
Trissílabos
Proparoxítonos Paroxítonos
Chávena Banana
Pássaro Bolacha
Pêssego Borracha
Lâmpada Cavalo
Médico Gelado
Números Sapato
Página Garrafa
Casaco
Relativamente aos estímulos trissilábicos, verificaram-se algumas dificuldades em identificar
estímulos proparoxítonos que pudessem ser representados graficamente e que fizessem parte do
conhecimento lexical das crianças com a faixa etária considerada. Por estes motivos, apenas se
introduziram sete estímulos trissilábicos proparoxítonos e a palavra números não respeitou o
critério de a sílaba subsequente ser do tipo CV.
Construção dos estímulos visuais
Com a selecção dos estímulos efectuada, procedeu-se à elaboração de um estímulo visual para
cada palavra alvo integrada no desenho experimental. As ilustrações foram executadas
especificamente para este estudo, tendo sido elaboradas por uma designer gráfica. Para a sua
construção, foi necessário pesquisar trabalhos de investigação que tivessem recorrido a estímulos
visuais, nomeadamente os trabalhos de Alves (em preparação), Faria & Falé (2001), Guimarães
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 50
& Grilo (sd) e Nogueira (2007). Tendo em consideração que a prova seria aplicada a crianças em
idade pré-escolar, foi necessário adequar as imagens à idade das crianças. Foram também
adoptados os seguintes critérios, de forma a conferir homogeneidade aos estímulos:
i) O fundo das imagens ser branco;
ii) O traço ser da mesma espessura em todos os desenhos;
iii) Não ser utilizada uma grande variedade de cores num mesmo desenho;
iv) Cada imagem conter apenas o desenho do estímulo em análise ou, se necessário, um
elemento para o contextualizar.
De forma a controlar a qualidade das imagens, estas foram testadas através de uma prova de
nomeação, a qual foi aplicada a 25 crianças seleccionadas aleatoriamente da amostra total de 80
crianças, 14 raparigas e 11 rapazes, com uma média de idades de 57 meses. Nos quadros que se
seguem apresentam-se os resultados obtidos na prova de nomeação, organizados em função do
constituinte silábico.
Quadro 16 – Percentagem de sucesso na nomeação de dissílabos com CV inicial.
Estímulos ´CVCV
Nomeação
Espontânea (%) Após Estimulação (%) Após Repetição (%)
Pato 80 20
Carro 100
Bola 100
Dedo 72 28
Gato 100
Faca 100
Vela 92 4 4
Luva 100
A nomeação das palavras dissilábicas com Ataque simples na sílaba inicial tiveram bons
resultados na prova de nomeação e, como tal, não se sentiu necessidade de proceder a nenhuma
alteração.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 51
Quadro 17 – Percentagem de sucesso na nomeação de dissílabos com V inicial.
Estímulos ´VCV
Nomeação
Espontânea (%) Após Estimulação (%) Após Repetição (%)
Olho 100
Asa 60 28 12
Uva 96 4
Unha 20 64 16
Anjo 52 48
Osso 100
Ovo 100
Ilha 48 4 48
Através da análise dos resultados, observou-se que as crianças apresentaram dificuldades em
nomear espontaneamente as palavras unha, anjo e ilha. A palavra unha foi nomeada por 16% da
amostra como dedo e colocou-se a hipótese de esta nomeação poder estar relacionada com a
qualidade do estímulo visual, tendo-se procedido a uma alteração do mesmo. As palavras anjo e
ilha também apresentaram uma reduzida percentagem de sucesso na nomeação mas as imagens
não foram alteradas por se ter considerado que estas dificuldades estavam relacionadas com o
facto de as crianças nestas faixa etária ainda não terem no seu léxico mental estes conceitos.
Quadro 18 – Percentagem de sucesso na nomeação de dissílabos com CCV inicial.
Estímulos ´CCVCV
Nomeação
Espontânea (%) Após Estimulação (%) Após Repetição (%)
Prato 96 4
Fruta 56 8 36
Bruxa 96 4
Braço 60 36 4
Branco 8 92
Preto 48 52
Prego 12 8 80
Brinco 32 60 8
Flauta 76 24
Planta 48 4 48
Flores 92 8
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 52
A nomeação das palavras seleccionadas com Ataque ramificado em posição inicial trouxe alguns
problemas às crianças da faixa etária testada. Na palavra fruta, em 32% das situações a imagem
foi descrita, ou seja, as crianças nomearam todas as peças de fruta existentes na imagem. Tendo
em consideração que as palavras branco e preto eram representadas com uma forma irregular, as
crianças tendiam a imaginar o que a forma representava, obtendo-se um inventário de produções
muito distintas, desde fantasma a nariz, o que levou a que as mesmas fossem alteradas. A
palavra prego foi nomeada, em 52% das situações, como parafuso, tendo-se decidido alterar a
imagem representativa da mesma. Observando-se que a palavra brinco tinha sido nomeada como
colar, em 40% das incorrecções, e que, após estimulação, 60% da amostra nomeava-a
correctamente, optou-se por alterar a imagem que a representava. A palavra planta teve como
principais incorrecções a nomeação como folhas (20%) e como flor (16%). No entanto, a
imagem não foi alterada dado se ter considerado que a mesma representava o conceito
pretendido mas que o mesmo ainda não estava presente no léxico de todas a crianças da faixa
etária considerada.
Quadro 19 – Percentagem de sucesso na nomeação de trissílabos proparoxítonos.
Estímulos ´CVCVCV
Nomeação
Espontânea (%) Após Estimulação (%) Após Repetição (%)
Chávena 52 12 36
Pássaro 96 4
Pêssego 36 4 60
Lâmpada 64 4 32
Médico 96 4
Números 88 8 4
Página 4 36 60
Pela análise dos dados, observa-se que as crianças tiveram dificuldades em nomear as palavras
pêssego e página. A palavra pêssego foi nomeada incorrectamente em 20% das situações como
laranja, o que demonstra que a mesma ainda não estava presente no léxico de todas as crianças.
A palavra página foi nomeada incorrectamente em 24% das situações como folha e em 16%
como papel. Tais resultados revelaram que, nesta idade, as crianças ainda não tinham presente o
conceito de página, no entanto, como neste estudo iam ser testadas crianças com uma faixa etária
mais alargada, optou-se por deixar estas duas imagens, pretendendo-se observar se o
comportamento das crianças mais velhas era semelhante ao observado.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 53
Quadro 20 – Percentagem de sucesso na nomeação de trissílabos paroxítonos.
Estímulos CV´CVCV
Nomeação
Espontânea (%) Após Estimulação (%) Após Repetição (%)
Banana 100
Bolacha 28 4 68
Borracha 68 24 8
Cavalo 100
Gelado 100
Sapato 100
Garrafa 64 24 12
Casaco 96 4
Como se pode observar, a única palavra que levantou mais dificuldades foi a palavra bolacha.
Tendo em consideração que tal não seria de esperar, optou-se por modificar a imagem que a
representava.
Desta forma, foram alteradas as imagens para os seguintes estímulos lexicais seleccionados:
unha; branco; brinco; preto; prego e bolacha (Apêndice I).
Depois de se terem efectuado as alterações necessárias e se terem todas as imagens disponíveis
(Apêndice II), as mesmas foram aplicadas aos 80 elementos da amostra, tendo-se agrupado os
resultados da prova de nomeação da seguinte forma:
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 54
i) Estímulos excelentes – segmentação espontânea e/ou após estimulação superior a 95%:
Estímulos
Nomeação
Espontânea (%) Após estimulação (%) Espontânea + após estimulação (%)
Olho 97,5 97,5
Osso 100 100
Ovo 100 100
Pato 100 100
Carro 100 100
Bola 100 100
Dedo 77,5 22,5 100
Gato 100 100
Faca 100 100
Vela 95 2,5 100
Luva 98,8 1,2 100
Branco 2,5 97,5 100
Preto 16,2 83,8 100
Pássaro 98,8 1,2 100
Médico 98,8 1,2 100
Cavalo 100 100
Gelado 100 100
Sapato 100 100
Prato 93,8 5 98,8
Números 81,3 17,5 98,8
Casaco 85 13,8 98,8
Bruxa 93,8 3,8 97,6
Borracha 66,3 31,3 97,6
Flores 97,5 97,5
Braço 41,3 53,8 95,1
Asa 75 20 95
Uva 95 95
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 55
ii) Estímulos muitos bons – segmentação espontânea e/ou após estimulação entre 80% e
95%:
Estímulos Nomeação
Espontânea (%) Após estimulação (%) Espontânea + após estimulação (%) Unha 31,3 61,3 92,6
Garrafa 63,8 28,8 92,6
Brinco 62,5 28,8 91,3
Flauta 81,3 1,3 82,6
iii) Estímulos bons – segmentação espontânea e/ou após estimulação entre 70% e 80%:
Estímulos Nomeação
Espontânea (%) Após estimulação (%) Espontânea + após estimulação (%)
Anjo 3,8 68,8 72,6
Fruta 47,5 25 72,5
Chávena 50 21,3 71,3
Ilha 63,8 6,3 70,1
iv) Estímulos suficientes – segmentação espontânea e/ou após estimulação inferior a 70%:
Estímulos Nomeação
Espontânea (%) Após estimulação (%) Espontânea + após estimulação (%)
Bolacha 61,3 7,5 68,8
Lâmpada 58,8 6,3 65,1
Planta 52,5 12,5 65
Página 1,3 55 56,8
Pêssego 46,3 8,8 55,1
Prego 30 25 55
Posteriormente procedeu-se à programação do instrumento de avaliação para a prova de
segmentação silábica.
Para a aplicação da prova de segmentação silábica, foi utilizado o programa E-prime. Trata-se de
um programa americano, desenvolvido por Schneider, Eschman e Zuccolotto em 2002 e que tem
como principal vantagem poder utilizar, simultaneamente, imagem, palavra e som. Possibilita
ainda a medição de tempos de reacção em milissegundos, parâmetro usado para o estudo do
modo como diferentes estímulos linguísticos são processados, não utilizando apenas dados
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 56
extraídos da produção verbal. A medição de tempos de reacção em milissegundos permite extrair
informação detalhada quanto ao processamento cerebral de uma dada tarefa. Apesar de se
poderem obter inúmeros resultados com a utilização deste programa, apenas foi seleccionado o
tempo de segmentação, mais especificamente, o tempo utilizado para segmentar cada sílaba e o
tempo total utilizado na segmentação da palavra. Assim, optou-se por este programa informático
dado permitir:
i) O registo dicotómico (certo ou errado);
ii) A introdução simultânea de estímulos visuais e auditivos;
iii) A medição dos tempos de reacção de cada segmentação.
O tempo de reacção é assumido como indicador do grau de complexidade de um estímulo, pelas
suas propriedades e pelas operações cognitivas envolvidas no seu processamento (Faria, 2005;
Perea & Rosa, 1999). Este tempo está directamente relacionado com o grau de dificuldade do
processamento da informação de um estímulo, ou seja, quanto maior o tempo de reacção maior,
a dificuldade em processar a informação (Luegi, 2006).
Relativamente à aplicação do instrumento de recolha de dados, o E-prime foi programado para
que cada imagem aparecesse aleatoriamente no ecrã. A cada imagem estava associado um
registo áudio, tendo cada criança acesso à imagem e ao formato fonético do estímulo, para que
não fosse necessária a intervenção do investigador. Numa primeira fase, foi gravada a produção
de cada estímulo. Todas as gravações foram efectuadas pela mesma pessoa, para que o mesmo
tipo de voz fosse mantido, tendo-se utilizado um microfone unidireccional e o gravador áudio do
Windows. Assim, associaram-se os registos áudio às imagens respectivas para que, após o
aparecimento da imagem, surgisse, passada uma décima de segundo, o estímulo auditivo.
Desta forma, após a visualização da imagem e a audição da palavra correspondente, a criança
deveria carregar numa tecla previamente indicada o número de vezes correspondente ao número
de sílabas de cada palavra, aparecendo no canto inferior direito um traço horizontal a cada toque
na tecla, de forma a proporcionar uma percepção visual da execução da tarefa.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 57
2.4. Procedimentos
Obtenção das autorizações
A selecção da escola foi feita, por conveniência, com base na sua localização geográfica, tendo-
se avaliado as crianças numa escola privada no concelho de Benfica, no Externato das Pedralvas.
Para a obtenção da autorização, elaborou-se um documento escrito (Apêndice III) que explicava
sucintamente o conteúdo da investigação, o qual a directora da escola deveria rubricar caso
autorizasse a recolha de dados. Marcou-se uma reunião com a respectiva directora, que
concordou em autorizar a realização da investigação, assinando o documento supracitado
(Apêndice IV), responsabilizando-se pela totalidade das crianças, não sendo assim, necessária a
obtenção de autorizações por parte dos encarregados de educação.
Aplicação do instrumento de recolha de dados
A avaliação da amostra foi desenvolvida em duas etapas: a) aplicação da prova de nomeação
verbal; b) aplicação da prova de segmentação silábica.
a) Prova de nomeação
A prova de nomeação dos 42 estímulos identificados foi aplicada entre os dias 21 e 25 de Maio,
ao início da tarde. Relativamente ao protocolo de aplicação da prova, o investigador foi buscar
cada criança à sala de aula, havendo uma selecção aleatória, por parte da educadora, da criança
que acompanhava o investigador. A criança e o investigador dirigiam-se para uma sala onde não
estavam a decorrer quaisquer actividades e sentavam-se lado a lado, ficando a criança sentada na
cadeira em frente do computador. Posteriormente, era explicado à criança que iriam surgir
imagens no ecrã, as quais ela deveria nomear e, depois de o fazer, deveria carregar na tecla que
tinha uma seta, de forma a apresentar a imagem seguinte. Desta forma, apresentaram-se as
imagens através do programa Power Point do Windows XP, proporcionando uma participação
mais activa da própria criança na actividade. Durante a aplicação da prova, o investigador tinha
uma folha de registo (Apêndice V), anotando se a criança nomeava correctamente, se nomeava
após estimulação ou após repetição, sendo anotadas todas as nomeações produzidas pela criança.
Importa referir que cada avaliação durou cerca de 15 minutos por criança.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 58
b) Prova de segmentação silábica
A prova de segmentação silábica foi aplicada durante o mês de Junho, sempre da parte da manhã
(das 9:30 às 12 horas), tendo uma duração média de 20 minutos por criança. Tal como para a
prova de nomeação, o investigador foi buscar uma criança à sala de aula, havendo uma selecção
aleatória, por parte da educadora, da criança que acompanhava o investigador. A criança e o
investigador iam para uma sala onde não estavam a decorrer quaisquer actividades e sentavam-se
lado a lado, ficando a criança sentada na cadeira que estava à frente do computador. Numa fase
inicial, era perguntado à criança se sabia o que eram os bocadinhos das palavras11. Mesmo que a
criança dissesse que sabia, o investigador segmentava o seu próprio nome, utilizando o bater das
palmas para marcar cada sílaba. Posteriormente, era pedido à criança que fizesse o mesmo com o
seu nome, com a palavra mesa e com a palavra cadeira.
Seguidamente, era explicado à criança que iria realizar a mesma tarefa usando o computador, ou
seja, iriam aparecer imagens no ecrã e ela teria de estar com atenção para ouvir o nome das
mesmas. Assim que ouvisse o nome da imagem, deveria carregar na tecla “Y”, associada à
imagem do Noddy, o número de vezes correspondente ao número de bocadinhos. Foi efectuado
um treino com as palavras copo e laço (Apêndice VI).
Antes de se dar início à prova, aparecia o sinal de adição no ecrã do computador e era
perguntado à criança se estava pronta. O investigador dava início à prova carregando na tecla
“W”; para passar para a imagem seguinte, pressionava a tecla “P”. A única tecla que estava
acessível à criança era a tecla “Y”. Ao longo da prova, e de forma a encorajar as crianças a
realizarem a mesma, o investigador forneceu feedback positivo, utilizando expressões como:
“muito bem”; “é isso mesmo”; “boa”; entre outras.
Para além do registo dos tempos de reacção, através do teclado do computador, o investigador
recorria à mesma folha de registo utilizada para a prova de nomeação, anotando ao lado de cada
palavra a forma como a criança segmentava o estímulo alvo. Não foi efectuado nenhum registo
áudio das produções verbais de cada criança.
11 No conjunto das informações fornecidas às crianças, não foi empregue o termo sílaba mas sim “bocadinho da palavra”, dada a faixa etária da amostra.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 59
2.5. Tratamento dos dados
Para a análise dos dados, foi construída uma base de dados através do programa informático
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 11.5, onde foram inseridas diversas variáveis.
No que se refere à análise estatística, recorreu-se à estatística descritiva, a qual está relacionada
com a recolha, organização, análise e interpretação de dados empíricos (Martinez & Ferreira,
2007). Neste domínio, analisaram-se medidas de tendência central (média, moda, quartis e
percentis) e medidas de dispersão (desvio padrão). Para uma análise mais aprofundada dos
resultados, recorreu-se à estatística inferencial, a qual permitiu estimar características
desconhecidas, como sejam a distribuição amostral e a relação entre variáveis.
Relativamente à estatística inferencial, utilizou-se estatística paramétrica e estatística não
paramétrica. A estatística paramétrica foi utilizada na análise dos tempos de reacção utilizados
na segmentação de cada estrutura linguística considerada. Tendo em consideração que se
pretendia avaliar se o comportamento do mesmo conjunto de crianças variava nas segmentações
correctas, por exemplo, de estímulos dissilábicos e trissilábicos, aplicou-se o teste T de Student
para amostras relacionadas, de forma a verificar se as diferenças eram significativas. Importa
realçar que o mesmo teste compara médias de duas variáveis para um mesmo grupo (Pereira,
2004), ou seja, quando existem duas condições experimentais que envolvem os mesmos sujeitos
(Martinez & Ferreira, 2007). Aplicou-se directamente o teste paramétrico, tendo-se por base o
teorema do limite central, o qual postula que, para amostras com n > 30 elementos, pode aplicar-
se directamente a estatística paramétrica.
A estatística não paramétrica, que contempla testes que não necessitam de requisitos tão fortes
como os testes paramétricos, foi também utilizada. Esta estatística pode ser aplicada a amostras
pequenas, apesar de apresentar como principal desvantagem o facto de não ser tão potente, ou
seja, de não permitir encontrar tantas diferenças entre os dados quando elas realmente existem
(Maroco, 2003; Martinez & Ferreira, 2007; Pereira, 2004). Esta estatística foi aplicada na análise
dos tempos de reacção utilizados nas segmentações incorrectas de cada estrutura linguística
considerada, porque n < 30. Tendo em consideração que se pretendia avaliar o comportamento
do mesmo conjunto de crianças, aplicou-se o teste de Wilcoxon, sendo este a alternativa não
paramétrica ao teste T de Student.
Na comparação dos grupos, tendo por base a faixa etária, foi utilizada estatística não
paramétrica. Apesar de os dois grupos terem um n > 30, este era apenas ligeiramente superior
(grupo 1 = 37 crianças; grupo 2 = 43 crianças). Como tal, recorreu-se primeiramente ao teste
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 60
Kolmogorov-Smirnov, o qual revelou que as variáveis não apresentavam uma distribuição
normal, sendo preferível recorrer à estatística não paramétrica. Assim, aplicou-se o teste de
Mann-Whitney, o qual permitiu observar as diferenças entre os dois grupos.
Procedeu-se à análise de possíveis correlações entre as variáveis idade e capacidade de
segmentação correcta, idade e tempo de reacção e capacidade de nomeação e capacidade de
segmentação. Tendo em consideração que as variáveis idade, tempo de reacção e capacidade de
segmentação eram variáveis medidas numa escala intervalar e que a amostra era constituída por
80 crianças, não foi necessário verificar a distribuição das mesmas, tendo por base o teorema do
limite central (Maroco, 2003), o qual postula que, para amostras com n > 30, a estatística garante
a aproximação da distribuição normal, aplicando-se a correlação de Pearson. Como a variável
capacidade de nomeação era medida numa escala ordinal para a observação de correlações entre
esta variável e a capacidade de segmentação, foi necessário aplicar a alternativa não paramétrica
ao coeficiente de correlação Pearson, o coeficiente de correlação de Spearman.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 61
3. Descrição dos Resultados
Neste capítulo, dividir-se-á a descrição dos resultados obtidos em sete etapas: i) descrever-se-á o
comportamento das 80 crianças avaliadas face à tarefa de segmentação silábica das 42 palavras
utilizadas12 (secção 3.1); ii) realizar-se-á uma análise estatística das segmentações dos dissílabos
e trissílabos (secção 3.2); iii) proceder-se-á a uma análise estatística dos tempos de reacção
utilizados nas segmentações correctas (secção 3.3); iv) efectuar-se-á uma análise estatística
relativamente aos tempos de reacção utilizados nas segmentações incorrectas (secção 3.4); v)
analisar-se-á a capacidade de segmentação em cada grupo (secção 3.5); vi) analisar-se-ão as
correlações existentes entre as variáveis em análise (secção 3.6); vii) far-se-á um sumário dos
principais resultados obtidos (secção 3.7.).
Antes de se iniciar a descrição dos resultados importa relembrar, como descrito no capítulo 2,
que a amostra, constituída por 80 crianças, foi agrupada com base na faixa etária, como se repete
no Quadro 21.
Com base nos resultados obtidos, a amostra foi agrupada em dois grupos com um número de
crianças semelhante.
3.1. Comportamento da amostra face à tarefa de segmentação silábica das 42 palavras
Tendo em consideração que o objectivo principal desta investigação é o de observar a
capacidade de crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 6 anos de idade para
segmentarem palavras dissilábicas e trissilábicas, numa primeira fase, importa caracterizar os
dados relativos à tarefa de segmentação silábica, produto do comportamento da amostra face a
esta prova. Procedeu-se a uma análise de frequências, de forma a verificar o comportamento das 12 Para mais informações sobre os critérios de selecção das mesmas, consulte-se o capítulo 2.
Agrupamento da amostra
37 46,343 53,880 100,0
Grupo 1Grupo 2Total
Frequência Percentagem
Quadro 21 – Distribuição da amostra pelos dois subgrupos.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 62
crianças perante os 42 estímulos seleccionados, tendo-se observado que nenhuma criança foi
capaz de segmentar correctamente a totalidade dos estímulos apresentados e, apesar de o número
máximo de segmentações correctas ter sido 41, apenas uma criança conseguiu obter esta
classificação. O Quadro 22 refere-se ao número de segmentações correctas mais frequentes para
a totalidade da amostra.
Quadro 22 – Frequências e percentagens de sucesso na tarefa de segmentação silábica.
Segmentações Correctas Frequência (N) Percentagem (%) 30 5 6,3 32 6 7,5 34 7 8,8 35 7 8,8 31 8 10 36 11 13,8 38 13 16,3
Através da análise do Quadro 22, verifica-se que a maioria das crianças obteve entre 30 e 38
segmentações correctas, sendo que 16,3% da amostra conseguiu segmentar correctamente 38
palavras e que 13,8% conseguiu segmentar correctamente 36 palavras.
Mais do que a análise do número de segmentações correctas obtido pela maioria dos elementos
da amostra, importa verificar qual o número médio de segmentações correctas que as crianças na
faixa etária considerada conseguiram obter (Quadro 23).
Quadro 23 – Estatística descritiva da segmentação total das palavras (mínimo, máximo, média e desvio padrão).
Através do Quadro 23, verifica-se que em média as crianças conseguiram efectuar 33
segmentações correctas em 42 possíveis.
3.2. Análise estatística das segmentações dos dissílabos e dos trissílabos
Nesta secção, para cada estrutura linguística considerada neste estudo, procurar-se-á, analisar as
segmentações correctas e as incorrectas produzidas pelas crianças observadas. Na análise das
segmentações correctas, recorrer-se-á a estatística descritiva (análise de frequências) e, na análise
das segmentações incorrectas, destacar-se-á a frequência de ocorrência dos erros e descrever-se-
ão os tipos de erros ocorridos integrados numa tipologia de erros construída com base empírica.
80 16 41 33,00 5,382Capacidade de segmentação totalN Mínimo Máximo Média Desvio padrão
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 63
Aquando da análise destes resultados, procedeu-se à construção de uma tipologia dos erros
produzidos pelas crianças, a fim de agrupar e analisar os dados obtidos:
1) Inserção de segmento em posição inicial de palavra: inserção de um segmento, mais
especificamente de uma vogal, em posição inicial de palavra. Na totalidade dos casos, o
segmento corresponde à duplicação da vogal do Núcleo da sílaba inicial de palavra. A
título exemplificativo, para as palavras alvo ilha e osso, verificaram-se as seguintes
segmentações: [i.i.] (criança 10) e [o.o.su] (criança 17);
2) Inserção de segmento em posição medial de palavra: inserção de segmento no interior de
palavra, com alteração do número de sílabas da mesma. Na maioria das situações, houve
a inserção do segmento que ocupava a posição de Núcleo na sílaba anterior. Vejam-se os
exemplos das palavras alvo asa e carro: [a.z.] (criança 42) e [ka.a.u] (criança
20);
3) Inserção de segmento em posição final de palavra: adição de um segmento no final da
palavra. Em muitas situações, o segmento inserido foi o marcador de género usado na
palavra, a vogal [u], como em osso [o.su.u] (criança 75), ou o segmento [], como na
palavra lâmpada [l.p.d.] (criança 5). Importa realçar que o segmento [] foi
produzido isoladamente, não sendo integrado na sílaba alvo numa situação, na palavra
flores, [f.lo..] (criança 12);
4) Epêntese de vogal em Ataque ramificado: inserção de vogal entre os elementos de um
Ataque ramificado, tal como na palavra prato [p.a.tu] (criança 21) e na palavra
planta [p.l.t] (criança 62), em que se observou a epêntese do segmento [];
5) Aglutinação de sílabas átonas: fusão, numa mesma unidade, das sílabas átonas medial e
final, nos trissílabos. Este erro ocorreu nas palavras trissilábicas proparoxítonas, como
sejam as palavras pássaro [pa.su] (criança 12) e chávena [a.vn] (criança 16).
Importa salientar que as produções foram seleccionadas em função da sua estrutura
fonológica, não se dando destaque à omissão do segmento [] em contexto de fala
espontânea;
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 64
6) Aglutinação de sílaba tónica e de sílaba átona: fusão, numa mesma unidade, da sílaba
tónica e da sílaba átona, em trissílabos. Desta forma, tanto se verificaram aglutinações
das sílabas medial e final, como na palavra cavalo [k.valu] (criança 24), como das
sílabas inicial e medial, como ocorreu na palavra médico, [mdi.ku] (criança 14);
7) Ausência de segmentação: foi necessário criar esta categoria dado em algumas situações
as palavras não terem sido segmentadas, tendo sido consideradas monossilábicas. Esta
ausência de segmentação ocorreu, por exemplo, nas palavras unha [u] (criança 23) e
página [pain] (criança 8);
8) Omissão de segmento: omissão do segmento // em estímulos com o constituinte Ataque
ramificado (CCV), como se pôde observar na segmentação das palavras prego [p.u]
(criança 20) e preto [pe.tu] (criança 20).
3.2.1. Dissílabos com estrutura CV (Ataque simples) em posição inicial
Na literatura, é assumido que a estrutura CV constitui o formato silábico não marcado. Um dos
argumentos é o de que este é o primeiro formato silábico a existir nas primeiras produções das
crianças (Jakobson, 1941/68, citado por Freitas, 1997a). Começar-se-á por descrever os
resultados obtidos na tarefa de segmentação silábica com os dissílabos com estrutura CV inicial.
A segmentação de dissílabos com Ataque simples em posição inicial foi avaliada através da
utilização de oito estímulos: [bl]; [kau]; [dedu]; [atu]; [fak]; [luv];
[patu] e [vl].
A fim de se observar o número médio de segmentações correctas com os oito estímulos
supracitados, importa observar o Gráfico 1.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 65
Segmentações correctas
8,07,06,05,04,03,0
Freq
uênc
ia
70
60
50
40
30
20
10
0
Estatisticamente, a média de segmentações correctas foi de sete palavras (M = 7,4 / DP = 1,2),
sendo três o mínimo de palavras segmentadas correctamente. A segmentação da totalidade dos
estímulos dissilábicos com estrutura CV foi conseguida por 59 crianças, ou seja, por 73,8% da
amostra. Veja-se, no Quadro 24, o comportamento da amostra face a cada estímulo.
Quadro 24 – Frequência e percentagem de palavras dissilábicas com CV inicial segmentadas correctamente.
Palavras Frequência (N) Percentagem (%)
Pato 77 96,3
Carro 76 95
Vela 76 95
Bola 75 93,8
Dedo 74 92,5
Gato 74 92,5
Faca 72 90
Luva 71 88,8
Pela análise do Quadro 24, verifica-se que a palavra segmentada com uma maior percentagem de
sucesso foi a palavra pato (96,3%) e a palavra luva foi segmentada com mais dificuldade
havendo, no entanto, uma percentagem de êxito de 88,8%.
Analisando os dados numa perspectiva qualitativa, importa observar o tipo de incorrecções que
ocorreram aquando da segmentação dos oito estímulos com Ataque simples em posição inicial
de palavra. Vejam-se alguns exemplos listados em 8:
Gráfico 1 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com CV em posição inicial.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 66
8) Segmentações de dissílabos com CV em posição inicial
a) Inserção de segmento em posição medial de palavra
Carro /kau/ → [ka.a.u] (Criança 20: 4 anos e 8 meses)
Dedo /dedu/ → [de.e.du] (Criança 20: 4 anos e 8 meses)
Faca /fak/ → [fa.a.k] (Criança 5: 5 anos)
b) Inserção de segmento em posição final de palavra
Pato /patu/ → [pa.tu.u] (Criança 12: 5 anos e 2 meses)
Vela /vl/ → [v.l.] (Criança 42: 4 anos e 5 meses)
Gato /atu/ → [a.tu.u] (Criança 22: 5 anos)
c) Ausência de segmentação
Faca /fak/ → [fak] (Criança 17: 4 anos e 8 meses)
Luva /luv/ → [luv] (Criança 10: 4 anos e 11 meses)
Bola /bl/ → [bl] (Criança 25: 5 anos)
Os exemplos em 8) ilustram a existência de três estratégias distintas, para as quais se apresentam
dados quantitativos no Quadro 25:
Quadro 25 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com CV inicial.
Tipo de erros Frequência Idade (anos; meses)
Média Moda Mínimo Máximo Inserção de segmento em posição medial de palavra 3 4;07 4;06 4;06 5;00
Inserção de segmento em posição final de palavra 34 5;02 5;00 4;04 6;03
Ausência de segmentação 8 5;02 5;00 4;04 6;02
Analisando o Quadro 25, constata-se que, na prova de segmentação de palavras dissilábicas com
Ataque simples inicial, o erro mais frequente foi a inserção de segmento em posição final de
palavra, sendo as vogais [] e [u] os segmentos introduzidos por reduplicação do marcador de
género. O valor dado pela moda indica o valor mais frequente num intervalo de dados e, tendo
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Segmentações correctas
8,06,04,02,00,0
Freq
uênc
ia
70
60
50
40
30
20
10
0
em conta as faixas etárias em que estes erros ocorreram, verificou-se que as crianças com cinco
anos de idade foram as que mais recorreram a este tipo de estratégias.
3.2.2. Dissílabos com estrutura V (Ataque vazio) em posição inicial
Segundo Freitas (1997a), as crianças portuguesas apresentam a produção simultânea de sílabas
CV e V, no estádio inicial de produção, ou seja, Ataques simples e vazios são produzidos desde
o início, em conformidade com as estruturas silábicas dos estímulos alvo.
Neste trabalho, e para a análise da segmentação de palavras dissilábicas com Ataque vazio em
posição inicial, utilizaram-se oito palavras: [ju]; [az]; [i]; [ou]; [osu]; [ovu];
[u] e [uv].
Para se compreender de que forma as crianças avaliadas segmentaram os oito estímulos com V
inicial, observe-se o gráfico que se segue.
Estatisticamente, a média obtida foi de sete palavras segmentadas correctamente (M = 7,1 / DP =
1,55), sendo que apenas 48 crianças, 60% da amostra, conseguiram segmentar correctamente os
oito estímulos.
Depois de obtida a percentagem de sucesso na tarefa de segmentação silábica para esta estrutura
linguística, importa observar o comportamento face a cada estímulo (Quadro 26).
Gráfico 2 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com V inicial.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 68
Quadro 26 – Frequência e percentagem de palavras dissilábicas com V inicial segmentadas correctamente.
Palavras Frequência (N) Percentagem (%)
Anjo 73 91,3 Ilha 73 91,3
Osso 73 91,3
Olho 72 90
Uva 72 90
Unha 70 87,5
Ovo 69 86,3
Asa 67 83,8
Através da análise do Quadro 26, verifica-se que as palavras anjo, ilha e osso foram as que
obtiveram uma maior percentagem de sucesso na tarefa proposta, dado que 73 elementos da
amostra (91,3%) as segmentaram correctamente. Opostamente, a palavra asa foi a mais
problemática, tendo uma percentagem de sucesso de 83,8%.
Após a descrição estatística referente às segmentações correctas, importa agora identificar,
descrever e classificar os erros efectuados pelos elementos da amostra no decorrer da prova,
procedendo-se, assim, a uma descrição qualitativa dos dados relativos à segmentação de palavras
com Ataque vazio em posição inicial de palavra. Vejam-se alguns exemplos listados em 9:
9) Segmentações de dissílabos com V em posição inicial
a) Inserção de segmento em posição inicial de palavra
Ilha /i/ → [i.i.] (Criança 10: 4 anos e 11 meses)
Osso /osu/ → [o.o.su] (Criança 17: 5 anos e 1 mês)
Asa /az/ → [a.a.z] (Criança 33: 5 anos e 1 mês)
b) Inserção de segmento em posição medial de palavra
Unha /u/ → [u..] (Criança 57: 6 anos e 1 mês)
Asa /az/ → [a.z.] (Criança 42: 6 anos e 1 mês)
c) Inserção de segmento em posição final de palavra
Anjo /u/ → [.u.u] (Criança 13: 5 anos e 2 meses)
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Olho /ou/ → [o.u.u] (Criança 5: 5 anos)
Ovo /ovu/ → [o.vu.u] (Criança 71: 6 anos e 3 meses)
d) Ausência de segmentação
Anjo /u/ → [u] (Criança 9: 4 anos e 11 meses)
Olho /ou/ → [ou] (Criança 17: 4 anos e 8 meses)
Asa /az/ → [az] (Criança 53: 6 anos e 1 mês)
A análise dos dados permitem verificar que as crianças recorreram a quatro estratégias distintas
na tarefa de segmentação silábica, sumariadas e quantificadas no Quadro 27.
Quadro 27 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com V inicial.
Tipo de erros Frequência Idade (anos; meses)
Média Moda Mínimo Máximo Inserção de segmento em posição inicial de palavra 3 5;00 5;01 4;11 5;01
Inserção de segmento em posição medial de palavra 3 6;01 6;01 6;01 6;01
Inserção de segmento em posição final de palavra 52 5;01 5;02 4;03 6;04
Ausência de segmentação 13 5;03 4;06 4;05 6;04
Pela análise do Quadro 27, observa-se que, tal como na segmentação de palavras dissilábicas
com CV inicial, na segmentação de palavras dissilábicas com V inicial, o tipo de erro mais
frequente foi a inserção de segmento em posição final de palavra. Os segmentos inseridos em
posição final de palavra foram as vogais [u] e [], réplicas do marcador de género. Através da
análise do valor da moda, foi possível verificar que as crianças com cinco anos e dois meses
foram as que mais recorreram à estratégia de inserção de segmento em posição final de palavra.
Importa salientar que, no erro inserção de segmento em posição medial de palavra, foi inserido o
segmento [], sendo efectuado por três crianças, todas com seis anos e um mês.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 70
3.2.3. Dissílabos com estrutura CCV (Ataque ramificado) em posição inicial
No Português Europeu, o Ataque ramificado ocorre essencialmente com as combinações listadas
abaixo (Mateus et al., 2005; Mateus & Andrade, 2000)13:
10) Combinatórias mais frequentes para o Ataque ramificado
i) Oclusiva + Lateral → [bl]oco, [pl]aca, a[tl]eta, [l]ote, [kl]oro
ii) Fricativa + Lateral → [fl]or
iii) Oclusiva + Vibrante → [k]avo, []ilo, [p]ato, [b]inco, [t]ança, [d]agão
iv) Fricativa + Vibrante → [f]uta, li[v]o
De acordo com Freitas (1997a), e como para outras línguas, este é o último constituinte silábico
a emergir e a estabilizar, no percurso do desenvolvimento silábico infantil.
Como referido, foram inseridos neste trabalho estímulos que permitissem avaliar a capacidade de
segmentação com palavras que incluíssem estas quatro combinatórias segmentais em posição
inicial de palavra14.
Na prova aplicada, utilizaram-se os seguintes estímulos:
11) Estímulos utilizados com o constituinte Ataque ramificado
i) Oclusiva + Lateral /l/
[pl]anta
ii) Fricativa + Lateral /l/
[fl]auta [fl]ores
iii) Oclusiva + Vibrante //
[b]aço [b]anco [b]inco [b]uxa [p]ato
[p]ego [p]eto
iv) Fricativa + Vibrante //
[f]uta
13 Para mais informações sobre o Ataque ramificado no Português Europeu, consulte-se o capítulo 1. 14 Para mais informações sobre os estímulos introduzidos e critérios de inclusão, consulte-se o capítulo 2.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 71
Segmentações correctas
12,010,08,06,04,02,00,0
Freq
uênc
ia
30
20
10
0
Pode observar-se, no Gráfico 3, o comportamento das crianças perante a segmentação de
palavras dissilábicas com o constituinte Ataque ramificado em posição inicial de palavra.
Estatisticamente, a média de segmentações correctas foi de sete palavras (M = 7,0 / DP = 2,8),
sendo zero o mínimo de palavras segmentadas correctamente. As 11 segmentações foram
conseguidas por apenas cinco crianças, o que representa 6,3% da amostra.
Dissílabos com estrutura CV em posição inicial
Neste trabalho, e para a segmentação de palavras dissilábicas com o constituinte Ataque
ramificado CV em posição inicial, utilizaram-se oito palavras: [basu]; [bku];
[biku]; [bu]; [fut]; [patu]; [pu] e [petu]. Através do Gráfico 4, é
possível observar o número médio de segmentações correctas na segmentação dos oito estímulos
considerados.
Gráfico 3 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com CCV inicial.
Gráfico 4 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com CV inicial.
Segmentações correctas
8,07,06,05,04,03,02,01,00,0
Freq
uênc
ia
50
40
30
20
10
0
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 72
Estatisticamente, a média de segmentações correctas foi de seis palavras (M = 6,3 / DP = 2,4),
sendo zero o mínimo de palavras segmentadas correctamente. A segmentação da totalidade dos
estímulos foi conseguida por 40 crianças, o que perfaz 50% da amostra (Gráfico 4).
Comparativamente aos constituintes já descritos, Ataque simples e Ataque vazio, observaram-se
mais dificuldades na segmentação de palavras com Ataque ramificado inicial. Analisando-se a
percentagem de sucesso na segmentação dos oito estímulos considerados, verificaram-se
algumas diferenças na percentagem de segmentação dos estímulos utilizados (Quadro 28).
Quadro 28 – Frequência e percentagem de palavras dissilábicas com CV inicial segmentadas correctamente.
Palavras Frequência (N) Percentagem (%)
Prego 66 82,5 Brinco 66 82,5
Braço 64 80
Prato 63 78,8
Branco 63 78,8
Bruxa 62 77,5
Preto 60 75
Fruta 56 70
A segmentação de dissílabos com Ataque ramificado em CV foi uma tarefa que obteve uma
percentagem de sucesso, para todos os estímulos, superior a 70%. Pela análise do Quadro 28,
verifica-se que as palavras segmentadas correctamente pela maioria dos elementos da amostra
foram as palavras prego e brinco, as quais obtiveram uma percentagem de sucesso de 82,5%. Por
outro lado, a palavra fruta foi a que motivou maiores dificuldades, tendo sido segmentada
correctamente por 56 crianças, isto é, por 70% da amostra.
Para além da análise quantitativa descrita previamente, importa efectuar uma descrição
qualitativa dos dados relativos à segmentação de palavras com Ataque ramificado com o
segmento vibrante // em posição de C2. Vejam-se alguns exemplos listados em 12:
12) Segmentações de dissílabos com CV em posição inicial
a) Inserção de segmento em posição final de palavra
Prego /pu/ → [p.u.u] (Criança 4: 5 anos)
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 73
Bruxa /bu/ → [bu..] (Criança 22: 5 anos)
Preto /petu/ → [pe.tu.u] (Criança 34: 5 anos e 1 mês)
b) Epêntese de vogal
Prato /patu/ → [p.a.tu] (Criança 47: 6 anos e 4 meses)
Brinco /biku/ → [b.i.ku] (Criança 75: 5 anos e 4 meses)
Fruta /fut/ → [f.u.t] (Criança 5: 5 anos)
c) Ausência de segmentação
Prego /pu/ → [pu] (Criança 6: 4 anos e 6 meses)
Branco /bku/ → [bku] (Criança 23: 5 anos e 4 meses)
Bruxa /bu/ → [bu] (Criança 17: 4 anos e 8 meses)
d) Omissão de segmento
Prego /pu/ → [p.u] (Criança 68: 5 anos e 8 meses)
Preto /petu/ → [pe.tu] (Criança 17: 4 anos e 8 meses)
e) Epêntese de vogal e inserção de segmento em posição final de palavra
Preto /petu/ → [p.e.tu.u] (Criança 45: 6 anos e 3 meses)
Braço /basu/ → [b.a.su.u] (Criança 34: 5 anos e 1 mês)
f) Inserção de segmento em posição medial de palavra
Fruta /fut/ → [fu.t.] (Criança 70: 5 anos e 10 meses)
Pela observação dos estímulos lexicais com Ataque ramificado em CV inicial, verifica-se que
as crianças recorreram a uma maior diversidade de estratégias do que para os estímulos lexicais
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 74
com Ataque simples e com Ataque vazio. Vejam-se os resultados quantitativos relativos às
estratégias seleccionadas pelas crianças em observação no Quadro 29.
Quadro 29 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com CV inicial.
Tipo de erros Frequência Idade (anos; meses)
Média Moda Mínimo Máximo Inserção de segmento em posição final de palavra 31 5;02 5;00 4;06 5;11
Epêntese de vogal 94 5;05 4;08 4;05 6;04
Ausência de segmentação 8 5;00 4;06 4;05 6;01
Omissão de segmento 3 5;00 4;08 4;08 5;08 Epêntese de vogal e inserção de segmento em posição final de palavra 2 5;00 ------- 5;00 5;01
Inserção de segmento em posição medial de palavra 1 5;08 ------- ------- -------
Pela análise do Quadro 29, verifica-se que o erro epêntese de vogal é o mais frequente,
ocorrendo 94 vezes num total de 139 erros, seguido da inserção de segmento em posição final de
palavra, que se verificou 31 vezes num total de 139 erros. Observando a coluna referente à
moda, constata-se que, das seis estratégias identificadas, cinco são utilizadas por crianças com
menos de cinco anos e que a estratégia ausência de segmentação é utilizada pelas crianças mais
novas, com quatro anos e seis meses. Para os erros inserção de segmento em posição medial de
palavra, epêntese de vogal e inserção de segmento em posição final de palavra, não foi possível
estabelecer o valor da moda dado a frequência de ocorrência ser praticamente inexistente.
Dissílabos com estrutura ClV em posição inicial
Para a avaliação deste constituinte, identificaram-se apenas três estímulos e, por esse mesmo
facto, a análise estatística quantitativa apresenta algumas limitações. Para este estudo, foram
utilizadas as seguintes palavras com Ataque ramificado em ClV: [flo]; [flawt] e
[plt].
Através do Gráfico 5, é possível observar o número médio de segmentações correctas que as
crianças obtiveram na prova de segmentação com os três estímulos considerados.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 75
Segmentações correctas
3,02,01,00,0
Freq
uênc
ia
50
40
30
20
10
0
A análise do Gráfico 5, permite observar que as três palavras foram segmentadas correctamente
apenas por seis crianças, isto é, apenas 7,5% da amostra segmentou correctamente a totalidade
dos estímulos com a estrutura ClV em início de palavra (M = 0,8 / DP = 0,96). Importa ainda
realçar, no que se refere à média de segmentações correctas, que 51,2% da amostra não
conseguiu segmentar correctamente qualquer um dos três estímulos apresentados.
Pela análise do Quadro 30, podem observar-se as dificuldades que as crianças da faixa etária
considerada apresentaram em segmentar palavras com a estrutura em análise.
Quadro 30 – Frequência e percentagem de palavras dissilábica com ClV inicial segmentadas correctamente.
Palavras Frequência (N) Percentagem (%)
Flauta 24 30 Planta 21 26,3
Flores 18 22,5
Pela observação do Quadro 30, constata-se que a palavra flauta foi a que obteve uma maior
percentagem de segmentações correctas (30%) enquanto a palavra flores foi a que obteve uma
menor percentagem de êxito (22,5%).
Para além da análise quantitativa, importa agora efectuar uma descrição qualitativa dos dados
relativos à segmentação de palavras com Ataque ramificado ClV. Vejam-se alguns exemplos
listados em 13:
Gráfico 5 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com ClV inicial.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 76
13) Segmentações de dissílabos com ClV em posição inicial
a) Inserção de segmento em posição final de palavra
Flauta /flawt/ → [flaw.t.] (Criança 5: 5 anos)
Planta /plt/ → [pl.t.] (Criança 34: 5 anos e 1 mês)
b) Epêntese de vogal
Flauta /flawt/ → [f.law.t] (Criança 1: 4 anos e 11 meses)
Planta /plt/ → [p.l.t] (Criança 57: 6anos e 1 mês)
Flores /flor/ → [f.lo.r] (Criança 78: 5anos e 9 meses)
c) Epêntese de vogal e aglutinação silábica
Flauta /flawt/ → [f.lawt] (Criança 40: 4 anos e 5 meses)
Flores /flor/ → [f.lor] (Criança 77: 5 anos e 3 meses)
d) Ausência de segmentação
Planta /plt/ → [plt] (Criança 47: 6 anos e 4 meses)
Flores /flor/ → [flor] (Criança 6: 4 anos e 6 meses)
e) Epêntese de vogal e inserção de segmento em posição final de palavra
Flauta /flawt/ → [f.law.t.] (Criança 5: 5 anos)
f) Epêntese de vogal e produção isolada do segmento em posição final de palavra
Flores /flor/ → [f.lo.o.r.] (Criança 4: 5 anos)
g) Epêntese de vogal e produção isolada do segmento em posição medial de palavra
Flauta /flawt/ → [f.la.u.t] (Criança 52: 6 anos e 4 meses)
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 77
Pela análise dos exemplos apresentados acima, verifica-se que as crianças avaliadas sentiram
necessidade de recorrer a diversas estratégias para conseguirem segmentar os estímulos lexicais
com Ataque ramificado em ClV, de que se dá informação quantitativa no Quadro 31.
Quadro 31 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com ClV inicial.
Tipo de erros Frequência Idade (anos; meses)
Média Moda Mínimo Máximo Inserção de segmento em posição final de palavra 2 5;01 ------- 5;01 5;01
Epêntese de vogal 164 5;05 5;11 4;02 6;05
Epêntese de vogal e aglutinação silábica 3 5;01 5;01 4;05 5;09
Ausência de segmentação 2 5;05 ------- 4;06 6;04 Epêntese de vogal e inserção de segmento em posição final de palavra 1 5;00 ------- ------- -------
Epêntese de vogal e produção isolada do segmento em posição final de palavra 3 5;00 5;00 4;10 5;02
Epêntese de vogal e inserção de segmento em posição medial de palavra 1 5;00 ------- ------- -------
Observando o Quadro 31, verifica-se que a estratégia epêntese de vogal é mais utilizada pelas
crianças avaliadas, já que a mesma foi utilizada 164 vezes num total de 176 erros, enquanto que
as demais estratégias foram utilizadas uma, duas ou três vezes. As crianças com cinco anos
foram as que recorreram aos tipos de estratégias enumerados anteriormente, sendo a epêntese de
vogal, a estratégia que as crianças com cinco anos e onze meses utilizaram em maior número.
3.2.4. Trissílabos
No Português Europeu, as crianças produzem maioritariamente palavras dissilábicas mas desde
cedo começam a produzir trissílabos, sendo esta extensão de palavra bastante frequente também
nas produções dos adultos (Vigário et al., 2004, 2006a). Tendo em consideração que se pretendia
estudar a variável acento e não o formato silábico, optou-se por introduzir estímulos com o
formato não marcado, isto é, com CV (Jakobson, 1941/68, citado por Freitas, 1997a).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 78
Segmentações correctas
16,014,012,010,08,06,04,0
Freq
uênc
ia
20
10
0
Para a avaliação do comportamento das crianças face à segmentação de trissílabos, optou-se por
introduzir 15 estímulos nos quais foi controlada a variável acento de palavra15:
i) Trissílabos proparoxítonos: [avn]; [lpd]; [mdiku]; [numu];
[pain]; [pasu] e [pesu].
ii) Trissílabos paroxítonos: [bnn]; [bula]; [bua]; [kzaku];
[kvalu]; [af]; [ladu] e [spatu].
Através do Gráfico 6, é possível observar o comportamento das crianças avaliadas perante a
segmentação dos 15 estímulos trissilábicos, paroxítonos e proparoxítonos.
Observando o comportamento da amostra face à segmentação das palavras trissilábicas,
constata-se que, em 15 segmentações correctas possíveis, as crianças obtiveram um resultado
médio de 11 segmentações (M = 11,4 / DP = 3,1). Importa realçar que 22,5% da amostra
conseguiu segmentar correctamente os 15 estímulos apresentados e que 13,8% da amostra
conseguiu segmentar correctamente 12 estímulos.
15 Para mais informações sobre o critério de selecção dos estímulos consulte-se o capítulo 2.
Gráfico 6 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos trissilábicos.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 79
Segmentações correctas
7,06,05,04,03,02,01,00,0
Freq
uênc
ia
30
20
10
0
Trissílabos proparoxítonos (´CVCVCV)
Observando apenas os trissílabos proparoxítonos, a análise estatística efectuada permitiu
descrever o comportamento das crianças na tarefa de segmentação silábica face a esta estrutura,
como é possível observar no Gráfico 7.
Estatisticamente, verifica-se que apenas 20 crianças (25% da amostra) conseguiram segmentar
correctamente os sete estímulos (M = 4,6 / DP = 2) e que a maioria segmentou correctamente
apenas cinco dos sete estímulos apresentados.
Tendo em consideração o número de estímulos utilizados, veja-se no Quadro 32, de que forma as
crianças avaliadas se comportaram perante cada estímulo, para que seja possível perceber se
existiram diferenças significativas no número de segmentações efectuadas correctamente em
relação ao estímulo apresentado.
Quadro 32 – Frequência e percentagem de palavras trissilábicas proparoxítonas segmentadas correctamente.
Palavras Frequência (N) Percentagem (%)
Médico 64 80 Pássaro 63 78,8
Página 54 67,5
Chávena 52 65
Lâmpada 50 62,5
Números 44 55
Pêssego 40 50
Gráfico 7 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos trissilábicos proparoxítonos.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 80
Da análise do Quadro 32, constata-se que a percentagem de sucesso mais baixa foi de 50%, na
segmentação da palavra pêssego, e que a palavra menos problemática foi médico, segmentada
correctamente por 64 elementos, obtendo uma percentagem de êxito de 80%.
Depois de se terem descrito os resultados obtidos de forma quantitativa, importa descrevê-los
qualitativamente, ilustrando as estratégias utilizadas na segmentação de palavras trissilábicas
proparoxítonas. Vejam-se alguns exemplos listados em 14:
14) Segmentações de trissílabos com estrutura ´CVCVCV
a) Aglutinação de sílabas átonas
Pêssego /pesu/ → [pe.su] (Criança 2: 4 anos e 6 meses)
Números /numu/ → [nu.mu] (Criança 75: 5 anos e 4 meses)
Lâmpada /lpd/ → [l.pd] (Criança 29: 5 anos e 2 meses)
b) Aglutinação de sílaba tónica e de sílaba átona
Chávena /avn/ → [av.n] (Criança 31: 4 anos e 2 meses)
Médico /mdiku/ → [mdi.ku] (Criança 12: 4 anos e 9 meses)
Pássaro /pasu/ → [pas.u] (Criança 9: 4 anos e 11 meses)
c) Ausência de segmentação
Números /numu/ → [numu] (Criança 23: 5 anos e 4 meses)
Página /pain/ → [pain] (Criança 6: 4 anos e 6 meses)
Pássaro /pasu/ → [pasu] (Criança 47: 6 anos e 4 meses)
d) Inserção de segmento em posição final de palavra
Lâmpada /lpd/ → [l.p.d.] (Criança 4: 5 anos)
Pêssego /pesu/ → [pe.s.u.u] (Criança 38: 4 anos e 8 meses)
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 81
e) Produção isolada do segmento em posição final de palavra
Números /numu/ → [nu.m.u.] (Criança 34: 5 anos e 1 mês)
f) Inserção de segmento em posição medial de palavra
Lâmpada /lpd/ → [l.p..d] (Criança 21: 4 anos e 8 meses)
Observando os exemplos acima, verifica-se que as crianças avaliadas recorreram a diversas
estratégias para conseguirem segmentar os estímulos trissilábicos proparoxítonos. O Quadro 33
apresenta dados quantitativos relativos às estratégias utilizadas na tarefa de segmentação.
Quadro 33 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de trissílabos proparoxítonos.
Tipo de erros Frequência Idade (anos; meses)
Média Moda Mínimo Máximo Aglutinação de sílabas átonas 167 5;03 4;06 4;02 6;04
Aglutinação de sílaba tónica e de sílaba átona 7 5;00 4;11 4;02 5;09
Ausência de segmentação 13 5;08 6;04 4;06 6;05
Inserção de segmento em posição final de palavra 4 4;11 5;00 4;08 5;00 Produção isolada do segmento em posição final de palavra 1 5;01 ------- ------- -------
Inserção de segmento em posição medial de palavra 1 4;08 ------- ------- -------
Na prova de segmentação de palavras trissilábicas com ´CVCVCV, verificou-se um predomínio
do erro aglutinação de sílabas átonas, sendo uma estratégia utilizada 167 vezes em 197 erros
essencialmente por crianças com quatro anos e seis meses. A segunda estratégia mais utilizada
foi a ausência de segmentação a qual se verificou em 13 casos, tendo sido utilizada por crianças
com seis anos e quatro meses. Foram ainda utilizadas mais quatro estratégias, por crianças com
idades compreendidas entre os quatro anos e oito meses e os cinco anos e um mês, mas a sua
utilização não foi significativa.
Trissílabos paroxítonos (CV´CVCV)
A prova de segmentação de palavras trissilábicas paroxítonas obteve melhores resultados quando
comparada com a segmentação de palavras trissilábicas proparoxítonas. A observação do
Gráfico 8 permite ilustrar o aspecto anteriormente realçado.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 82
Segmentações correctas
8,07,06,05,04,03,02,01,0
Freq
uênc
ia
50
40
30
20
10
0
Pela observação da curva de distribuição do Gráfico 8, verifica-se que a maioria das crianças
teve um bom desempenho na tarefa de segmentação de estímulos trissilábicos paroxítonos. A
média de segmentações correctas foi de sete palavras (M = 6,8 / DP = 1,7), sendo importante
realçar que 55% da amostra conseguiu segmentar correctamente os oito estímulos apresentados.
Uma análise quantitativa incidente sobre cada estímulo permite extrair informação quanto à
percentagem de sucesso obtido para cada estímulo apresentado, registada no Quadro 34.
Quadro 34 – Frequência e percentagem de palavras trissilábicas paroxítonas segmentadas correctamente.
Palavra Frequência (N) Percentagem (%)
Sapato 75 93,8 Gelado 71 88,8
Bolacha 69 86,3
Borracha 68 85
Banana 68 85
Garrafa 67 83,8
Casaco 65 81,3
Cavalo 63 78,8
Pela análise do quadro anterior, verifica-se que a palavra sapato foi a que obteve um maior
número de segmentações correctas (93,8%); contrariamente, a palavra cavalo foi a que suscitou
mais dificuldades às crianças, tendo uma percentagem de êxito de 78,8%.
Uma análise qualitativa dos resultados obtidos permite realçar as estratégias utilizadas pela
amostra face a estímulos trissilábicos paroxítonos. Vejam-se alguns exemplos listados em 15:
Gráfico 8 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos trissilábicos paroxítonos.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 83
15) Segmentações de trissílabos com estrutura CV´CVCV
a) Aglutinação da sílaba tónica e da sílaba átona
Sapato /spatu/ → [s.patu] (Criança 26: 5 anos e 3 meses)
Gelado /ladu/ → [.ladu] (Criança 14: 4 anos e 6 meses)
Bolacha /bula/ → [bu.la] (Criança 71: 6 anos e 3 meses)
b) Inserção de segmento em posição final de palavra
Casaco /kzaku/ → [k.za.ku.u] (Criança 34: 5 anos e 1 mês)
Cavalo /kvalu/ → [k.va.lu.u] (Criança 4: 5 anos)
c) Inserção de segmento em posição medial de palavra
Borracha /bua/ → [bu.a..] (Criança 17: 4 anos e 8 meses)
Os exemplos anteriores ilustram os tipos de erros produzidos pelas crianças na realização da
tarefa de segmentação silábica de estímulos com estrutura CV´CVCV. Os principais tipos de
erros, a sua frequência de ocorrência e a média/moda da idade das crianças que os produziram
podem ser observados no Quadro 35.
Quadro 35 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de trissílabos paroxítonos.
Tipo de erros Frequência Idade (anos; meses)
Média Moda Mínimo Máximo Aglutinação das sílabas tónica e da sílaba átona 89 5;02 4;11 4;02 6;04
Inserção de segmentos em posição final de palavra 4 4;11 5;01 4;08 5;01
Inserção de segmentos em posição medial de palavra 1 4;08 ------- ------- -------
Analisando o Quadro 35, verifica-se que o erro mais frequente foi a aglutinação da sílaba tónica
e da sílaba átona, ocorrendo 89 vezes em 94 erros. Importa realçar que as crianças que
recorreram a esta estratégia tinham, maioritariamente, quatro anos e onze meses. Para além desta
estratégia, as crianças ainda segmentaram incorrectamente os estímulos com estrutura
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 84
CV´CVCV, inserindo segmentos em posição final, como o segmento [u]. As crianças que mais
frequentemente recorreram a esta estratégia tinham cinco anos e um mês.
3.2.5. Sumário
Comparando os resultados obtidos pela estatística descritiva para todos os formatos silábicos,
extensões de palavra e padrão acentual considerados, sintetizam-se, nesta secção, os resultados
obtidos na prova de segmentação silábica, bem como o tipo de erros existente para cada estrutura
silábica.
Segmentação silábica
1. Tanto os dissílabos com Ataque vazio como com Ataque simples obtiveram o maior
número de segmentações correctas;
2. Analisando a percentagem de êxito na segmentação dos dissílabos com Ataque não
ramificado, verificou-se que esta é superior para o Ataque simples (93%) do que para o
Ataque vazio (89,9%).
3. Observou-se uma maior facilidade na segmentação de estímulos dissilábicos com Ataque
não ramificado do que com Ataque ramificado (64,2%);
4. Em relação aos dissílabos com Ataque ramificado, segmentar palavras com ClV inicial
(16,8%) foi mais complexo do que com CV inicial (47,3%);
5. Foi mais fácil, para as crianças em idade pré-escolar, dos quatro aos seis anos de idade,
segmentarem palavras dissilábicas paroxítonas (93%) do que palavras trissilábicas
paroxítonas (85,3%);
6. Em relação aos trissílabos paroxítonos (85,3% de sucesso na segmentação), estes foram
segmentados mais facilmente do que os trissílabos proparoxítonos (65,5% de sucesso na
segmentação).
Concluindo, as crianças avaliadas conseguiram segmentar mais facilmente estímulos com
Ataque simples e vazio do que estímulos mais complexos com Ataque ramificado. Dentro dos
estímulos com Ataque ramificado, o Ataque ramificado ClV foi mais problemático para as
crianças do que o Ataque ramificado CV, ambos em posição inicial de palavra. Os trissílabos
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 85
foram mais problemáticos para as crianças do que os dissílabos e estas segmentaram mais
facilmente estímulos trissilábicos paroxítonos do que estímulos trissilábicos proparoxítonos.
Tipologia de erros
1. Nos dissílabos com Ataque simples e vazio, a principal incorrecção deveu-se à inserção
de um segmento em posição final de palavra, levando à inserção de mais um nó silábico;
2. Nos dissílabos com Ataque ramificado, a principal incorrecção deveu-se à epêntese de
vogal, isto é, inserção do segmento [], entre as duas consoantes do Ataque, levando à
inserção de mais um nó silábico;
3. Nos trissílabos, a principal incorrecção foi a aglutinação de sílabas, provocando a
diminuição do número de sílabas identificado.
Concluindo, para os dissílabos com Ataque simples em posição inicial, a estratégia mais
utilizada pelas crianças foi a inserção de um segmento em posição final de palavra. Geralmente,
o segmento inserido replicou o marcador de género da palavra; as crianças que mais recorreram a
esta estratégia tinham cinco anos. Para os dissílabos com Ataque vazio, a estratégia mais
produtiva foi, igualmente, a inserção de segmento em posição final de palavra e as crianças que
mais adoptaram este comportamento tinham cinco anos e dois meses.
Para os dissílabos com Ataque ramificado em posição inicial, a estratégia mais utilizada foi a
epêntese de vogal. Importa realçar que esta estratégia foi utilizada por crianças mais novas
(quatro anos e oito meses), aquando da segmentação de estímulos com CV inicial, e por
crianças bastante mais velhas (cinco anos e onze meses), aquando da segmentação de estímulos
com ClV inicial.
Relativamente aos estímulos trissilábicos, a estratégia mais recorrente foi a aglutinação de
sílabas, no entanto foram as crianças mais novas (com quatro anos e seis meses) que recorreram
a esta estratégia na segmentação de estímulos com estrutura ´CVCVCV. Nos estímulos
trissilábicos com estrutura CV´CVCV, esta estratégia foi utilizada por crianças mais velhas, com
quatro anos e onze meses.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 86
3.3. Análise do tempo de reacção: segmentações correctas
A medida cronométrica tempo de reacção é referida na literatura como indicadora do grau de
complexidade de um estímulo durante o seu processamento (Faria, 2005; Posner, 2005),
assumindo-se uma correlação positiva entre a medida e o grau de complexidade da estrutura16. O
tempo de reacção utilizado para segmentar cada estrutura linguística é um aspecto pouco descrito
em tarefas de segmentação silábica, sendo relevante a sua utilização na descrição do
processamento fonológico no Português Europeu.
Através da estatística descritiva, analisou-se, nesta secção, a média de tempo utilizado pelas
crianças observadas na segmentação da sílaba inicial e na segmentação total de cada estímulo.
Contabilizou-se o tempo de segmentação total a fim de se inferir possíveis diferenças na
segmentação de estímulos dissilábicos e trissilábicos e de se verificar o potencial impacto dos
formatos silábicos da sílaba inicial na segmentação da unidade palavra.
3.3.1. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CV inicial
O tempo de segmentação da sílaba inicial foi descrito através da estatística descritiva, tendo-se
analisado o tempo médio utilizado na segmentação de cada um dos oito estímulos utilizados. No
Gráfico 9, pode observar-se a distribuição dos valores pelos estímulos com Ataque simples na
sílaba inicial da palavra:
16 Para mais informações sobre o conceito de tempo de reacção e sua caracterização, consulte-se o capítulo 1, secção 1.4.
Gráfico 9 – Tempo médio das segmentações correctas da sílaba inicial dos dissílabos com CV inicial.
0
500
1000
1500
2000
2500
Pato Carro Bola Dedo Gato Faca Vela Luva
Tem
po d
e re
acçã
o (m
s.)
Estímulos apresentados
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 87
Pela observação do Gráfico 9, verifica-se que não existem grandes diferenças entre os oito
estímulos utilizados e que a sílaba segmentada mais rapidamente (1373 milissegundos) foi a
sílaba [a], referente à palavra [a.tu]. Com uma diferença de 546 milissegundos, a sílaba
segmentada mais lentamente (1919 milissegundos) foi a sílaba [b] da palavra [b.l].
Para além de se ter analisado o tempo de segmentação da sílaba inicial, observou-se o tempo de
reacção utilizado na segmentação total da palavra, no sentido de se verificar um potencial
impacto do tipo de sílaba inicial no tempo utilizado para a segmentação da palavra (Gráfico 10).
Pela observação do Gráfico 10, verifica-se que não existem diferenças significativas no tempo
utilizado na segmentação dos estímulos apresentados. O estímulo segmentado mais rapidamente
foi a palavra gato (2241 milissegundos) e, por outro lado, o estímulo que demorou mais tempo a
ser segmentado foi a palavra vela (2897 milissegundos).
3.3.2. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com V inicial
Os tempos obtidos na segmentação das sílabas iniciais das palavras dissilábicas com V inicial
não foram muito diferentes dos identificados na segmentação das palavras dissilábicas com CV
inicial, como se pode verificar pelo confronto entre os Gráficos 9 e 11.
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Gráfico 10 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos dissílabos com CV inicial.
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Observando o Gráfico 11, constata-se que, para os estímulos dissilábicos com V inicial, a sílaba
segmentada mais rapidamente foi a sílaba [o] da palavra [o.vu], com uma média de 1396
milissegundos. Por outro lado, a sílaba que demorou mais tempo a ser segmentada foi [] na
palavra [.u], com uma média de 2141 milissegundos.
O tempo de segmentação total dos oito estímulos com o constituinte Ataque vazio pode ser
observado através do Gráfico 12.
Analisando o Gráfico 12, constata-se que nenhum estímulo foi segmentado em menos de 2000
milissegundos. O estímulo segmentado em menor tempo foi a palavra ovo (2249 milissegundos)
e o estímulo que demorou mais tempo a ser segmentado foi a palavra anjo (2955 milissegundos).
Gráfico 11 – Tempo médio das segmentações correctas da sílaba inicial dos dissílabos com V inicial.
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Gráfico 12 – Tempo médio das segmentações correctas dos dissílabos com V inicial.
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3.3.3. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CCV inicial
No Gráfico 13, pode observar-se o tempo médio utilizado na segmentação da sílaba inicial dos
11 estímulos dissilábicos com Ataque ramificado em início de palavra.
Assim, relativamente aos 11 estímulos utilizados para avaliar o Ataque ramificado, a sílaba
[flaw] da palavra [flaw.t] foi a mais rapidamente segmentada, em apenas 1262
milissegundos, enquanto a sílaba [fu] da palavra [fu.t] foi segmentada mais lentamente,
em 2308 milissegundos. Se procedermos a uma análise do constituinte tendo em consideração o
segmento que preenche a posição de C2, as palavras utilizadas para testar a capacidade de
segmentação com ClV demoraram uma média de 1519 milissegundos a ser segmentadas,
enquanto que as palavras com CV demoraram uma média de 2087 milissegundos a ser
segmentadas.
No que se refere ao tempo de segmentação total utilizado na segmentação dos 11 estímulos com
o constituinte Ataque ramificado, este pode ser observado através do Gráfico 14.
Gráfico 13 – Tempo médio das segmentações correctas da sílaba inicial dos dissílabos com CCV inicial.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Pela análise do Gráfico 14, pode constatar-se que, dos 11 estímulos apresentados, a palavra
planta foi o estímulo segmentado em menor tempo (2421 milissegundos) enquanto que a palavra
flores foi a que demorou mais tempo a ser segmentada (3416 milissegundos).
3.3.4. Tempo de segmentação em função do acento de palavra
Tendo em consideração o estudo do efeito da variável acento de palavra na segmentação
silábica, procede-se, de seguida, à análise dos resultados relativos aos tempos de reacção da
palavra para os dois padrões acentuais considerados nesta dissertação.
Trissílabos proparoxítonos (´CVCVCV)
Pela análise do Gráfico 15 é possível observar os tempos médios utilizados na segmentação das
palavras trissilábicas proparoxítonas, verificando-se que nenhuma demorou, na sua totalidade,
menos de 3000 milissegundos a ser segmentada.
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Gráfico 14 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos dissílabos com CCV inicial.
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Analisando o Gráfico 15, observa-se que dos sete estímulos apresentados, a palavra lâmpada foi
a que foi segmentada mais rapidamente (3259 milissegundos) e a palavra números foi a que
demorou mais tempo a ser segmentada (4757 milissegundos).
Trissílabos paroxítonos (CV´CVCV)
Para a análise dos trissílabos paroxítonos, foram introduzidos oito estímulos, tendo-se verificado
diferenças no tempo total de segmentação da palavra, verificando-se que todos os estímulos
demoraram mais do que 3000 milissegundos a ser segmentados (Gráfico 16).
Gráfico 15 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos trissílabos proparoxítonos.
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Gráfico 16 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos trissílabos paroxítonos.
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Observando o gráfico anterior, verifica-se que a palavra gelado foi, dos oito estímulos, a que foi
segmentada mais rapidamente (3699 milissegundos) e que a palavra banana foi a que demorou
mais tempo a ser segmentada (5569 milissegundos).
3.3.5. Sumário
Os dados relativos aos tempos de reacção para a segmentação das palavras dissilábicas com
manipulação do Ataque da sílaba inicial e para a segmentação das palavras trissilábicas
paroxítonas e proparoxítonas permitem listar as seguintes generalizações:
Tempos médios de segmentação da sílaba inicial
1. Os tempos de reacção médios utilizados na segmentação da sílaba inicial dos dissílabos
com Ataque simples (Média = 1740 milissegundos) foram semelhantes aos utilizados na
segmentação da sílaba inicial dos dissílabos com Ataque vazio (Média = 1790
milissegundos);
2. A sílaba inicial dos dissílabos com Ataque ramificado apresentaram um tempo médio de
segmentação inferior (Média = 1629 milissegundos) ao da sílaba dos dissílabos com
Ataque simples (Média = 1740 milissegundos) e com Ataque vazio (Média = 1790
milissegundos);
3. A sílaba ClV inicial dos dissílabos foi segmentada mais rapidamente (Média = 1556
milissegundos) do que a sílaba CV na mesma posição (Média = 2069 milissegundos);
De acordo com os principais pontos sumariados, verifica-se que, quanto à variável complexidade
silábica, os estímulos dissilábicos com Ataque ramificado inicial (Média = 1629 milissegundos)
foram segmentados em menos tempo do que os estímulos dissilábicos com Ataque simples
inicial (Média = 1740 milissegundos) e com Ataque vazio inicial (Média = 1790 milissegundos).
Tais resultados não vão ao encontro do que seria esperado, tendo em conta a correlação positiva
entre o tempo de reacção e a complexidade linguística assumida na literatura (Faria, 2005;
Posner, 2005). Tal aspecto será discutido no capítulo 4. Ainda dentro do domínio da
complexidade silábica, os dados indicaram que os estímulos com ClV inicial foram
segmentados em menos tempo (Média = 1556 milissegundos) do que os estímulos com CV
inicial (Média = 2069 milissegundos), revelando mais facilidade em processar os estímulos que
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 93
apresentam a lateral. Tendo em consideração que tais resultados não seriam de esperar com base
nos dados de frequência, já que, no Português Europeu, a combinatória obstruinte + vibrante é
bastante mais frequente do que a combinatória obstruinte + lateral (Mateus & Andrade, 2000;
Vigário & Falé, 1993), aplicou-se o teste T de Student para amostras relacionadas de forma a
verificar-se se esta diferença é significativa. Os resultados obtidos indicam que não existem
diferenças estatisticamente significativas entre os tempos de segmentação da sílaba inicial do
tipo ClV e CV (t (39) = 0,78, p > 0,05).
Tempos médios de segmentação total da palavra
1. O tempo total de segmentação dos dissílabos com Ataque simples inicial (Média = 2635
milissegundos) foi muito próximo do tempo total de segmentação dos dissílabos com
Ataque vazio inicial (Média = 2649 milissegundos) e com Ataque ramificado inicial
(Média = 2982 milissegundos);
2. O tempo médio de segmentação total dos estímulos com CV em posição inicial (Média
= 2986 milissegundos) foi muito próximo do tempo médio de segmentação total dos
estímulos com ClV em posição inicial (Média = 2886 milissegundos);
3. Os trissílabos proparoxítonos demoraram menos tempo a ser segmentados (Média = 3875
milissegundos) quando comparados com os trissílabos paroxítonos (Média = 4200
milissegundos);
4. O tempo total de segmentação dos dissílabos paroxítonos (Média = 2635 milissegundos)
foi inferior ao tempo de segmentação dos trissílabos paroxítonos (Média = 4200
milissegundos).
Os dados sumariados anteriormente permitem verificar, quanto à variável complexidade silábica,
que esta variável não tem repercussões significativas no tempo de reacção utilizado na
segmentação das palavras, dado que os dissílabos com V, CV e CCV iniciais demoram
sensivelmente o mesmo tempo a ser segmentados.
Quanto à variável extensão de palavra, os resultados permitiram inferir que os estímulos
dissilábicos (Média = 2635 milissegundos) demoraram menos tempo a ser segmentados do que
os estímulos trissilábicos (Média = 4200 milissegundos). Analisando os tempos de segmentação,
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 94
e no sentido de se verificar o peso estatístico desta diferença aplicou-se o teste T de Student para
amostras relacionadas, o qual revelou que existem diferenças extremamente significativas entre
os tempos de segmentação dos dissílabos paroxítonos e dos trissílabos paroxítonos (t (79) = 6,53
p ≤ 0,000). Tal como seria de esperar, existe uma relação entre as variáveis extensão de palavra
e tempo de reacção utilizado.
Analisando os dados ao nível da variável acento de palavra, verificou-se que os trissílabos
proparoxítonos (Média = 3875 milissegundos) demoraram menos tempo a ser segmentados do
que os trissílabos paroxítonos (Média = 4200 milissegundos). Tais resultados, apesar de não
apresentarem diferenças estatisticamente significativas (t (77) = -0,16, p > 0,05), não seriam de
prever dada a natureza marcada do padrão proparoxítono e a natureza não marcada do padrão
paroxítono no Português Europeu. Este facto será retomado no capítulo 4.
3.4. Análise do tempo de reacção: segmentações incorrectas
A análise dos tempos de reacção utilizados na segmentação da sílaba inicial e na segmentação
total de cada um dos estímulos apresentados foi efectuada para as segmentações correctas e para
as segmentações incorrectas. Na secção 3.3., procedeu-se à análise dos tempos de reacção
utilizados nas segmentações correctas e, nesta secção, proceder-se-á à análise dos tempos de
reacção utilizados nas segmentações incorrectas.
3.4.1. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CV inicial
Os oito estímulos dissilábicos com o constituinte Ataque simples em posição inicial foram
segmentados incorrectamente 45 vezes em 640 segmentações. O Gráfico 17 ilustra o tempo
médio que cada sílaba inicial, de cada um dos estímulos apresentados, demorou a ser
segmentada.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 95
Como se pode ver pela análise do Gráfico 17, a sílaba inicial [pa] da palavra [pa.tu] foi a
sílaba segmentada em menos tempo (474 milissegundos). Contrariamente, a sílaba [de] da
palavra [de.du] foi a que, na totalidade das segmentações incorrectas ocorridas com os
estímulos em observação, apresentou um tempo superior de segmentação (3295 milissegundos).
Para além de se ter analisado o tempo de segmentação da sílaba inicial, considerou-se importante
observar o tempo de reacção utilizado na segmentação total de cada estímulo lexical (Gráfico
18).
Pela observação do Gráfico 18, verifica-se que existem algumas diferenças no tempo utilizado na
segmentação de cada um dos estímulos apresentados. O estímulo segmentado mais rapidamente
foi a palavra faca (1667 milissegundos) e, por seu lado, o estímulo que demorou mais tempo a
ser segmentado foi a palavra dedo, segmentada em 4757 milissegundos.
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Gráfico 17 – Tempo médio das segmentações incorrectas da sílaba inicial dos dissílabos com CV inicial.
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Pato Carro Bola Dedo Gato Faca Vela Luva
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Estímulos apresentados
Gráfico 18 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos dissílabos com CV inicial.
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Página 96
3.4.2. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com V inicial
Os oito estímulos com Ataque vazio foram segmentados incorrectamente 71 vezes em 640
segmentações. Através do Gráfico 19, é possível observar os tempos médios de segmentação da
sílaba inicial obtidos nas segmentações incorrectas.
Analisando os tempos de reacção relativamente à segmentação da sílaba inicial dos estímulos
dissilábicos com V inicial, observa-se que a sílaba [o] da palavra [o.u] foi a que demorou
menos tempo a ser segmentada, 902 milissegundos. Por outro lado a sílaba [i] da palavra
[i.] foi a que apresentou um tempo de segmentação maior (2630 milissegundos).
Procedeu-se, em seguida, a uma análise dos tempos médios de reacção da palavra nas
segmentações incorrectas dos oito estímulos lexicais apresentados, verificando-se algumas
diferenças entre os oito estímulos lexicais (Gráfico 20).
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Gráfico 19 – Tempo médio das segmentações incorrectas da sílaba inicial dos dissílabos com V inicial.
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Gráfico 20 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos dissílabos com V inicial.
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Analisando o tempo de reacção da palavra dos oito estímulos, verifica-se que o estímulo
segmentado em menor tempo foi a palavra olho, segmentada em 1959 milissegundos, e o
estímulo que demorou mais tempo a ser segmentado foi a palavra ilha, com 5211 milissegundos.
3.4.3. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CCV inicial
Os estímulos dissilábicos com CCV inicial foram os que obtiveram mais respostas incorrectas,
cerca de 315 segmentações incorrectas em 880 segmentações, com diferentes tempos de
segmentação da sílaba inicial (Gráfico 21).
Através da observação do Gráfico 21, constata-se que a sílaba [br] da palavra [br.ku] foi
a que foi segmentada em menos tempo, 1278 milissegundos, enquanto a sílaba [bra] da palavra
[bra.su] foi a que apresentou um tempo de segmentação superior (2795 milissegundos).
No que se refere ao tempo total utilizado na segmentação dos 11 estímulos com Ataque
ramificado em início de palavra, verificaram-se diferenças entre os estímulos apresentados
(Gráfico 22).
Gráfico 21 – Tempo médio das segmentações incorrectas da sílaba inicial dos dissílabos com CCV inicial.
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Pela análise do Gráfico 22, constata-se que, dos 11 estímulos apresentados, a palavra prego foi o
estímulo segmentado em menos tempo, 2465 milissegundos, enquanto que a palavra flores foi a
que demorou mais tempo a ser segmentada, 4493 milissegundos.
3.4.4. Tempo de segmentação em função do acento de palavra
Ao nível dos estímulos trissilábicos, verificaram-se 287 segmentações incorrectas em 1200
segmentações, com tempos de segmentação distintos. Tendo em consideração que foram
incluídos estímulos proparoxítonos e estímulos paroxítonos, importa observar os resultados
separadamente.
Trissílabos proparoxítonos (´CVCVCV)
Os estímulos trissilábicos proparoxítonos foram segmentados incorrectamente 193 vezes em 560
segmentações. No que se refere ao tempo de reacção para segmentar a totalidade dos estímulos
lexicais proparoxítonos, verificou-se que nenhum estímulo foi segmentado em menos de 2000
milissegundos (Gráfico 23).
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Gráfico 22 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos dissílabos com CCV inicial.
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Analisando-se o Gráfico 23, observa-se que, dos sete estímulos apresentados, a palavra página
foi a que foi segmentada mais rapidamente, em 2373 milissegundos, e a palavra números foi a
que demorou mais tempo a ser segmentada (4413 milissegundos).
Trissílabos paroxítonos (CV´CVCV)
Os estímulos trissilábicos paroxítonos foram segmentados incorrectamente 94 vezes em 640
segmentações, tendo-se observado diferenças nos tempos médios de segmentação total de cada
um dos oito estímulos considerados.
O Gráfico 24 ilustra os tempos médios de segmentação de cada estímulo, verificando-se que a
palavra bolacha foi a que levou menos tempo a ser segmentada, 1956 milissegundos, e que a
palavra garrafa foi a palavra segmentada mais lentamente (3267 milissegundos).
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Estímulos apresentados
Gráfico 23 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos trissílabos proparoxítonos.
Gráfico 24 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos trissílabos paroxítonos.
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3.4.5. Sumário
Os dados relativos aos tempos de reacção para a segmentação incorrecta das palavras dissilábicas
com manipulação do Ataque da sílaba inicial e para a segmentação da palavra dos trissílabos
paroxítonos e proparoxítonos permitem listar as seguintes generalizações:
Tempos médios de segmentação da sílaba inicial
1. A sílaba inicial dos dissílabos com Ataque simples foi segmentada em menos tempo
(Média = 1631 milissegundos) do que a sílaba inicial dos dissílabos com Ataque vazio
(Média = 2344 milissegundos);
2. A sílaba inicial dos dissílabos com Ataque ramificado apresentou um tempo médio de
segmentação (Média = 2295 milissegundos) mais elevado do que o obtido para a sílaba
inicial dos dissílabos com Ataque simples (Média = 1631 milissegundos) e inferior ao
valor obtido para a sílaba inicial dos dissílabos com Ataque vazio (Média = 2344
milissegundos);
3. O tempo de segmentação da sílaba inicial CV (Média = 2261 milissegundos) foi
semelhante ao tempo de segmentação da sílaba inicial ClV dos dissílabos (Média = 2229
milissegundos);
Analisando os tempos das segmentações incorrectas, e no que se refere à variável complexidade
silábica, verificou-se que os estímulos dissilábicos com ´VCV (Média = 2344 milissegundos)
demoraram mais tempo a ser segmentados do que os estímulos dissilábicos com ´CVCV (Média
= 1631 milissegundos). Pretendendo-se ver se esta diferença era significativa, aplicou-se o teste
de Wilcoxon, o qual revelou que não existem diferenças estatisticamente significativas entre os
tempos de segmentação dos dissílabos com V e CV inicial (Z = -1,19, p > 0,05). Relativamente
aos estímulos com ´CCVCV (Média = 1956 milissegundos), estes demoraram menos tempo a
ser segmentados do que os estímulos dissilábicos com ´VCV (Média = 2344 milissegundos).
Mais uma vez se verificou, através da aplicação do teste de Wilcoxon, que estas diferenças não
são significativas (Z = -0,22, p > 0,05). Analisando o constituinte Ataque ramificado, verificou-
se que não existem diferenças entre o tempo utilizado na segmentação de estímulos com CV
inicial (Média = 2261 milissegundos) e com ClV inicial (Média = 2229 milissegundos).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Tempos médios de segmentação total
1. Existiram diferenças entre o tempo total de segmentação dos dissílabos com Ataque
simples inicial (Média = 2894 milissegundos) e dos dissílabos com Ataque vazio inicial
(Média = 3606 milissegundos);
2. Existiram diferenças entre o tempo total de segmentação dos dissílabos com Ataque vazio
inicial (Média = 3606 milissegundos) e com Ataque ramificado inicial (Média = 4171
milissegundos);
3. Existiram diferenças entre o tempo médio de segmentação total dos dissílabos com CV
em início de palavra (Média = 3802 milissegundos) e o tempo médio de segmentação
total dos dissílabos com ClV inicial (Média = 4216 milissegundos);
4. Os trissílabos paroxítonos demoraram menos tempo a ser segmentados (Média = 2483
milissegundos) quando comparados com os trissílabos proparoxítonos (Média = 3201
milissegundos);
Os dados sumariados para os tempos de reacção totais por palavra anteriormente referidos
permitiram verificar, quanto à variável complexidade silábica, que os estímulos dissilábicos com
´CVCV (Média = 2894 milissegundos) foram os que demoraram menos tempo a ser
segmentados e, contrariamente, os estímulos dissilábicos com ´VCV (Média = 3606
milissegundos) foram os que suscitaram mais problemas às crianças. A estatística inferencial
permitiu verificar que as diferenças existentes entre os estímulos ´CVCV e ´VCV (Z = -1,19, p >
0,05) e entre os estímulos ´VCV e ´CCVCV (Z = -0.22, p > 0,05) não foram significativas.
Opostamente, o teste de Wilcoxon permitiu detectar diferenças significativas entre os tempos
utilizados na segmentação dos dissílabos com ´CVCV e ´CCVCV (Z = -2,17, p ≤ 0,05).
Relativamente à variável extensão de palavra, nas segmentações incorrectas, verificaram-se
diferenças entre os tempos utilizados para segmentar trissílabos paroxítonos (Média = 2483
milissegundos) e dissílabos paroxítonos (Média = 2894 milissegundos). A aplicação do teste de
Wilcoxon revelou que estas mesmas diferenças não são estatisticamente significativas (Z = -0,64,
p > 0,05).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 102
Analisando os dados ao nível da variável acento de palavra, verificou-se que os trissílabos
paroxítonos (Média = 2483 milissegundos) demoraram menos tempo a ser segmentados do que
os trissílabos proparoxítonos (Média = 3201 milissegundos). Tais resultados não apresentam
relevância estatística significativa (Z = -1,29 p > 0,05).
3.5. Comparação entre grupos por desempenho na prova de segmentação
Tal como foi referido na metodologia (capítulo 2), a comparação entre grupos foi efectuada
tendo em consideração a faixa etária.
Importa realçar que, tal como referido no capítulo dois, agruparam-se as 80 crianças em
subgrupos, com o objectivo de observar o desenvolvimento das crianças na prova de
segmentação silábica e verificar possíveis correlações entre a idade e a complexidade prosódica
dos estímulos.
Para o agrupamento por idade, recorreu-se à estatística não paramétrica. Apesar de ambos os
grupos terem mais do que 30 crianças, decidiu-se aplicar estatística não paramétrica dado n ser
ligeiramente superior a 30 (grupo 1 = 37 crianças; grupo 2 = 43 crianças) e a aplicação do teste
Kolmogorov-Smirnov ter demonstrado que a variável não tinha uma distribuição normal (sig <
0,05). Desta forma, recorreu-se ao teste Mann-Whitney, o qual permitiu comparar os dois grupos
e verificar se existiam diferenças estatisticamente significativas entre ambos. Com vista a este
agrupamento, criaram-se dois grupos: i) Grupo 1, com crianças com idades compreendidas entre
os quatro anos e dois meses e os cinco anos e dois meses; ii) Grupo 2, com crianças com idades
compreendidas entre os cinco anos e três meses e os seis anos e cinco meses.
Procurou-se verificar se existiam diferenças entre os grupos, relativamente às segmentações
correctas para os estímulos dissilábicos e trissilábicos com as diferentes estruturas consideradas
nesta dissertação.
3.5.1. Estímulos dissilábicos com CV inicial
Tentando perceber de que forma os dois grupos se comportam na segmentação de dissílabos com
Ataque simples inicial, foi necessário aplicar o teste de Mann-Whitney (Quadro 36).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 103
Quadro 36 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com CV inicial.
Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)
Média de Rank
Somatório de Rank
Média de Rank
Somatório de Rank U P
Segmentações correctas de dissílabos com CV inicial 33,58 1242,50 46,45 1997,50 539,5 0,001
Utilizando o teste de Mann-Whitney, verifica-se que existem diferenças extremamente
significativas entre o número de segmentações correctas para os dois grupos (p ≤ 0,001). Através
da análise das médias de Rank, verifica-se que o grupo 2 (Média de Rank = 46,45), com crianças
mais velhas, apresenta um desempenho superior ao do grupo 1 (Média de Rank = 33,58) na
segmentação de dissílabos com CV inicial.
Para se completar esta análise, decidiu-se utilizar a estatística descritiva, mais especificamente os
crosstabs, no sentido de se poder cruzar as variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos
com CV inicial, observando-se o comportamento das crianças dos dois grupos (Quadro 37).
Quadro 37 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com CV inicial.
Segmentações correctas de dissílabos com CV inicial
3 4 5 6 7 8 Total
Grupo 1 3 1 2 1 9 21 37
Grupo 2 0 1 0 1 3 38 43
Observando o Quadro 37 constata-se que, enquanto as crianças do grupo 1 chegam a obter três,
quatro e cinco segmentações correctas, todas as crianças do grupo 2 tiveram, pelo menos, seis
segmentações correctas, havendo um predomínio evidente de oito segmentações correctas.
Os dados permitem mostrar progressão no desenvolvimento da consciência silábica, na amostra
observada.
3.5.2. Estímulos dissilábicos com V inicial
Para a comparação do sucesso obtido pelos diferentes grupos na tarefa de segmentação de
dissílabos com estrutura V inicial, procedeu-se à aplicação do teste de Mann-Whitney (Quadro
38).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 104
Quadro 38 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com V inicial.
Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)
Média de Rank
Somatório de Rank
Média de Rank
Somatório de Rank U P
Segmentações correctas de dissílabos com V inicial 33,36 1234,50 46,64 2005,50 531,5 0,004
Analisando o teste de Mann-Whitney, verifica-se que existem diferenças muito significativas
entre o número de segmentações correctas para os dois grupos (p ≤ 0,01). Através da análise das
médias de Rank, verifica-se que o grupo 2 (Média de Rank = 46,64) apresenta um desempenho
superior ao do grupo 1 (Média de Rank = 33,36) na segmentação de dissílabos com V inicial.
Para se completar esta análise, decidiu-se utilizar a estatística descritiva no sentido de se poder
observar o comportamento das crianças dos dois grupos na segmentação correcta dos dissílabos
com Ataque vazio (Quadro 39).
Quadro 39 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com V inicial.
Segmentações correctas de dissílabos com V inicial
1 2 3 4 5 6 7 8 Total
Grupo 1 1 1 1 2 4 4 7 17 37
Grupo 2 0 0 0 0 0 4 8 31 43
Observando o comportamento das crianças de ambos os grupos de forma mais pormenorizada,
constatou-se que enquanto as crianças do grupo 1 chegam a obter menos de seis segmentações
correctas, todas as crianças do grupo 2 tiveram, pelo menos, seis segmentações correctas,
havendo um predomínio evidente de oito segmentações correctas. Mais uma vez, se observa uma
progressão no desenvolvimento da consciência silábica para o formato silábico Ataque vazio, na
amostra estudada.
3.5.3. Estímulos dissilábicos com CCV inicial
Quanto aos estímulos lexicais com CCV inicial, verificou-se se existem diferenças significativas
na segmentação dos 11 estímulos apresentados nos dois grupos estudados. Aplicou-se, para tal, o
teste de Mann-Whitney (Quadro 40).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 105
Quadro 40 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com CCV inicial.
Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43) Média de
Rank Somatório de Rank
Média de Rank
Somatório de Rank U P
Segmentações correctas de dissílabos com CCV inicial 41,59 1539,00 39,56 1701,00 755,0 0,692
Analisando os resultados do teste de Mann-Whitney, verifica-se que não existem diferenças
estatisticamente significativas entre o número de segmentações correctas para os dois grupos (p
> 0,05). Através da análise das médias de Rank, verifica-se que o grupo 1 (Média de Rank =
41,59) e o grupo 2 (Média de Rank = 39,56) têm valores muito semelhantes.
No sentido de se poder observar o comportamento dos dois grupos mais pormenorizadamente,
decidiu-se cruzar as variáveis idade e segmentação de dissílabos com CCV inicial, tendo-se
obtido o seguinte quadro:
Quadro 41 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com CCV inicial.
Segmentações correctas de dissílabos com CCV inicial
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Total
Grupo 1 0 1 3 2 2 1 3 3 8 8 3 3 37
Grupo 2 2 2 1 1 1 3 3 6 10 9 3 2 43
Pela análise do Quadro 41, verifica-se que tanto o grupo 1 como o grupo 2 tiveram
comportamentos semelhantes, pois houve um predomínio de crianças entre as 8 e 9
segmentações correctas; as restantes crianças distribuíram-se pelo número mínimo e máximo de
segmentações possíveis.
Ainda dentro deste constituinte e, dado terem sido incluídos estímulos com CV inicial e com
ClV inicial, importa verificar a presença ou a ausência de diferenças entre os grupos face à
segmentação de estímulos com estes dois segmentos em posição de C2.
Dissílabos com CV inicial
Foi aplicado o teste de Mann-Whitney para se perceber de que forma é que as crianças dos dois
grupos se comportavam na segmentação de estímulos lexicais com CV (Quadro 42).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 106
Quadro 42 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com CV inicial.
Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)
Média de Rank
Somatório de Rank
Média de Rank
Somatório de Rank U P
Segmentações correctas de dissílabos com CV inicial 40,59 1502,00 40,42 1738,00 792,0 0,971
Os resultados da aplicação do teste de Mann-Whitney mostram que não existem diferenças
estatisticamente significativas entre o número de segmentações correctas para os dois grupos (p
> 0,05), no que diz respeito aos estímulos com CV. Através da análise das médias de Rank,
verifica-se que o grupo 1 (Média de Rank = 40,59) e o grupo 2 (Média de Rank = 40,42) têm
valores idênticos.
Quadro 43 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com CV inicial.
Segmentações correctas de dissílabos com CV inicial
0 1 2 3 4 5 6 7 8 Total
Grupo 1 0 1 4 1 3 3 2 4 19 37
Grupo 2 2 2 1 1 3 3 3 7 21 43
O Quadro 43 comprova o comportamento semelhante entre os dois grupos: verifica-se um
predomínio, em ambos os grupos, das oito segmentações correctas e uma distribuição
homogénea pelos restantes números de segmentações possíveis.
Dissílabos com ClV inicial
Para se perceber como é que as crianças dos dois grupos se comportavam na segmentação de
estímulos com ClV foi necessário aplicar o teste de Mann-Whitney (Quadro 44).
Quadro 44 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com ClV inicial.
Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)
Média de Rank
Somatório de Rank
Média de Rank
Somatório de Rank U P
Segmentações correctas de dissílabos com ClV inicial 42,74 1581,50 38,57 1658,50 712,5 0,383
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 107
Aplicado o teste de Mann-Whitney, verifica-se que também não existem diferenças
estatisticamente significativas entre o número de segmentações correctas para os dois grupos (p
> 0,05), no que se refere aos estímulos com ClV. Através da análise das médias de Rank,
verifica-se que o grupo 1 (Média de Rank = 42,74) apresenta valores ligeiramente superiores aos
obtidos pelo grupo 2 (Média de Rank = 38,57).
No sentido de se completar estes resultados, considerou-se importante cruzar as duas variáveis
em estudo: idade e segmentação correcta de dissílabos com ClV inicial (Quadro 45), com o
objectivo de se observar o comportamento de ambos os grupos na segmentação de estímulos
com esta estrutura.
Quadro 45 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com ClV inicial.
Segmentações correctas de dissílabos com ClV inicial
0 1 2 3 Total
Grupo 1 17 11 5 4 37
Grupo 2 24 10 7 2 43
Em ambos os grupos, verifica-se a dificuldade das crianças em lidar com este grupo
consonântico, pois houve um predomínio de zero segmentações correctas, ou seja, de casos em
que as crianças não conseguiram segmentar nenhum dos estímulos apresentados.
Os resultados da análise estatística permitiram inferir que, independentemente do grupo e da
idade das crianças, estas apresentaram dificuldades em segmentar os estímulos com Ataque
ramificado em ClV inicial sendo esta uma estrutura problemática para a totalidade da amostra.
3.5.4. Estímulos trissilábicos
Em relação aos 15 estímulos trissilábicos, procurou-se observar o comportamento das crianças
dos dois grupos e, como tal, foi necessário aplicar o teste de Mann-Whitney (Quadro 46).
Quadro 46 – Teste de Mann-Whitney (U) para os trissílabos.
Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)
Média de Rank
Somatório de Rank
Média de Rank
Somatório de Rank U P
Segmentações correctas de trissílabos 33,86 1253,00 46,21 1987,00 550,0 0,017
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 108
Aplicado o teste de Mann-Whitney, verifica-se que existem diferenças muito significativas entre
o número de segmentações correctas para os dois grupos (p ≤ 0,01). Através da análise das
médias de Rank, verifica-se que o grupo 1 (Média de Rank = 33,86) apresenta valores inferiores
aos obtidos pelo grupo 2 (Média de Rank = 46,21), o que significa que as crianças mais velhas
têm mais facilidade em segmentar palavras trissilábicas.
O Quadro 47 permite uma análise mais pormenorizada dos resultados para os dois grupos:
Quadro 47 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos.
Segmentações correctas de trissílabos com CV inicial 3 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Total
Grupo 1 1 1 2 3 1 7 3 3 6 2 3 5 37
Grupo 2 0 2 1 0 3 4 1 3 5 5 6 13 43
Pela análise do Quadro 47, observa-se que as crianças dos dois grupos se distribuem entre as três
e as 15 segmentações. Observa-se que, no grupo 1, houve um predomínio de nove segmentações
correctas e, no grupo 2, houve um predomínio de 15 segmentações correctas.
Tendo em consideração que se introduziram estímulos trissilábicos proparoxítonos e
paroxítonos, procedeu-se à análise do comportamento dos grupos face a cada um destes padrões
acentuais.
Trissílabos proparoxítonos (´CVCVCV)
Com o objectivo de se verificar a existência de possíveis diferenças nas duas faixas etárias
quanto à segmentação de trissílabos proparoxítonos, foi, mais uma vez, aplicado o teste de
Mann-Whitney (Quadro 48).
Quadro 48 – Teste de Mann-Whitney (U) para os trissílabos proparoxítonos.
Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)
Média de Rank
Somatório de Rank
Média de Rank
Somatório de Rank U P
Segmentações correctas de trissílabos com ´CVCVCV 34,88 1290,50 45,34 1949,50 587,5 0,041
Analisando os resultados do teste de Mann-Whitney, verifica-se que existem diferenças
estatisticamente significativas entre o número de segmentações correctas para os dois grupos (p
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 109
< 0,05). Pela análise das médias de Rank, verifica-se que o grupo 1 (Média de Rank = 34,88)
apresenta valores inferiores aos obtidos pelo grupo 2 (Média de Rank = 45,34), ou seja, as
crianças mais velhas tiveram mais facilidade em segmentar palavras trissilábicas proparoxítonas
do que as crianças mais novas.
No sentido de poder especificar os resultados obtidos, recorreu-se à estatística descritiva, mais
especificamente aos crosstabs, isto é, ao cruzamento das duas variáveis em estudo (idade e
segmentação correcta de trissílabos proparoxítonos), tendo-se obtido os resultados que se
apresentam no quadro que se segue.
Quadro 49 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos proparoxítonos.
Segmentações correctas de trissílabos com ´CVCVCV
0 1 2 3 4 5 6 7 Total
Grupo 1 2 4 3 5 8 2 7 6 37
Grupo 2 0 4 0 4 8 8 5 14 43
Analisando-se o Quadro 49, constata-se que, no grupo 2, 14 crianças obtiveram as sete
segmentações correctas enquanto que apenas seis crianças do grupo 1 o conseguiram fazer. O
grupo 1 obteve o maior número de crianças nas quatro segmentações correctas, o que demonstra
a dificuldade com que as crianças mais novas lidaram com os trissílabos proparoxítonos,
contrariamente às crianças mais velhas.
Trissílabos paroxítonos (CV´CVCV)
Para verificar a existência de diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos,
relativamente aos oito estímulos trissilábicos paroxítonos, seguiu-se o mesmo procedimento:
aplicação do teste de Mann-Whitney (Quadro 50).
Quadro 50 – Teste de Mann-Whitney (U) para os trissílabos paroxítonos.
Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)
Média de Rank
Somatório de Rank
Média de Rank
Somatório de Rank U P
Segmentações correctas de trissílabos com CV´CVCV 33,12 1225,50 46,85 2014,50 522,5 0,004
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 110
Com base no teste de Mann-Whitney, observaram-se diferenças muito significativas entre o
número de segmentações correctas para os dois grupos (p ≤ 0,01). Através da análise das médias
de Rank, verifica-se que o grupo 1 (Média de Rank = 33,12) apresenta valores inferiores aos
obtidos pelo grupo 2 (Média de Rank = 46,85), ou seja, as crianças mais velhas tiveram mais
facilidade em segmentar palavras trissilábicas paroxítonas.
No sentido de se observar, mais detalhadamente, as diferenças entre os grupos, recorreu-se à
estatística descritiva (Quadro 51).
Quadro 51 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos paroxítonos.
Segmentações correctas de trissílabos com CV´CVCV inicial
1 2 3 4 5 6 7 8 Total
Grupo 1 0 0 3 1 5 8 7 13 37
Grupo 2 1 1 1 2 1 2 4 31 43
Na segmentação dos trissílabos paroxítonos, observou-se, através do Quadro 51, que 31 crianças
do grupo 2 conseguiram segmentar correctamente os oito estímulos com esta estrutura, enquanto
que apenas 13 crianças do grupo 1 o conseguiram fazer. Estes dados revelam as dificuldades
sentidas pelas crianças mais novas.
3.5.5. Sumário
Concluindo, depois de terem sido comparados os resultados dos dois grupos na tarefa de
segmentação silábica dos estímulos utilizados, tendo em consideração as três variáveis
prosódicas, é possível destacar os seguintes aspectos:
1. Para a variável complexidade silábica, verificaram-se diferenças estatisticamente
significativas entre o grupo 1 e o grupo 2 na tarefa de segmentação de dissílabos com CV
inicial (p = 0,001, p ≤ 0,001) e V inicial (p = 0,004, p ≤ 0,01). As crianças do grupo 2
obtiveram resultados mais elevados do que as crianças do grupo 1;
2. Para as segmentações de dissílabos com ClV inicial (p = 0,383, p > 0,05) e CV (p =
0,971, p > 0,05), não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre os
dois grupos. As crianças dos dois grupos comportaram-se de forma semelhante; no
entanto, na segmentação dos dissílabos com ClV inicial, as crianças mais novas tiveram
valores ligeiramente superiores aos das crianças mais velhas;
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 111
3. Para a variável acento de palavra, observaram-se diferenças estatisticamente
significativas entre os dois grupos na tarefa de segmentação de trissílabos com estrutura
´CVCVCV (p = 0,04, p ≤ 0,05) e com estrutura CV´CVCV (p = 0,004, p ≤ 0,01). As
crianças do grupo 2 obtiveram resultados mais elevados na segmentação de ambas as
estruturas;
4. Para a variável extensão de palavra, verificou-se que as diferenças entre os grupos eram
ligeiramente mais acentuadas nos dissílabos paroxítonos (p = 0,001, p ≤ 0,001) do que
nos trissílabos paroxítonos (p = 0,004, p ≤ 0,01), o que revela as dificuldades que as
crianças mais velhas ainda sentem ao segmentarem palavras trissilábicas.
No geral, a comparação entre os resultados da prova de segmentação silábica para as diferentes
estruturas linguísticas consideradas permitiu evidenciar as diferenças encontradas entre os dois
grupos. Foram, geralmente, as crianças do grupo 1, as crianças mais novas, as que apresentaram
mais dificuldades em segmentar os estímulos apresentados, embora este efeito não se tenha
verificado na segmentação dos estímulos com Ataque ramificado.
3.6. Correlações entre variáveis
Uma das principais metas da investigação retratada nesta dissertação é estabelecer relações entre
as variáveis seleccionadas. Para tal, é necessário recorrer aos testes de correlação. Para as
variáveis intervalares, aplicou-se o coeficiente de Pearson e, para as variáveis medidas numa
escala ordinal, aplicou-se a vertente não paramétrica deste mesmo teste, ou seja, o coeficiente de
correlação de Spearman. Optou-se por correlacionar as seguintes variáveis: i) idade versus
capacidade de segmentação correcta; ii) idade versus tempo de segmentação da sílaba inicial;
iii) idade versus tempo de segmentação da palavra; iv) capacidade de segmentação correcta
versus capacidade de nomeação.
3.6.1. Idade versus capacidade de segmentação correcta
Para investigar relações entre as variáveis idade e capacidade de segmentação correcta, aplicou-
se o coeficiente de Pearson, dada a amostra ter mais de 30 crianças e todas as variáveis serem
quantitativas. Foi encontrada correlação entre a variável idade e as variáveis segmentação de
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 112
trissílabos proparoxítonos, trissílabos paroxítonos e dissílabos com CV, conforme se pode
observar no Quadro 52.
Segmentações Correctas
Dissílabos com CV
Trissílabos com ´CVCVCV
Trissílabos com CV´CVCV
Idade dos participantes Correlação de Pearson 0,301 0,245 0,258
Sig. 0,007 0,028 0,021
Através da análise do Quadro 52, verifica-se que existe uma correlação significativa, positiva
baixa (rs = 0,245, p ≤ 0,05) entre as variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos com
´CVCVCV: quanto mais velhas as crianças, melhores resultados obtêm na segmentação de
trissílabos proparoxítonos. Correlação semelhante (rs = 0,258, p ≤ 0,05) foi observada entre as
variáveis idade e segmentação de trissílabos paroxítonos. Entre as variáveis idade e
segmentação de dissílabos com CV inicial, observou-se uma correlação muito significativa,
positiva baixa (rs = 0,301, p ≤ 0,01), ou seja, quanto mais velhas são as crianças, mais alta é a
percentagem de sucesso na prova de segmentação com estímulos com esta estrutura.
Não se verificou a existência de correlação entre as variáveis idade e capacidade de
segmentação de dissílabos com V inicial (rs = 0,186, p > 0,05) e entre as variáveis idade e
capacidade de segmentação de dissílabos com CCV inicial (rs = -0,058, p > 0,05).
Concluindo, a aplicação do teste de correlação de Pearson permitiu constatar que a prova de
segmentação, tanto dos dissílabos como dos trissílabos é influenciada pela idade das crianças.
3.6.2. Idade versus tempo de segmentação da sílaba inicial
Em relação a estas variáveis, procedeu-se à análise do coeficiente de correlação de Pearson entre
as variáveis idade e tempo de segmentação da sílaba inicial, para todos os formatos silábicos
avaliados nos dissílabos. Aquando da análise dos coeficientes de correlação verificou-se que este
apenas era positivo para os estímulos dissilábicos com Ataque ramificado CV (Quadro 53).
Quadro 52 – Coeficiente de correlação de Pearson para as variáveis idade e capacidade de segmentação.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 113
Analisando os resultados obtidos no Quadro 53, observa-se que existe uma correlação muito
significativa, negativa baixa (rs = -0,289, p ≤ 0,01), entre as variáveis idade e tempo de
segmentação da sílaba inicial dos estímulos com CV, ou seja, quanto mais velhas as crianças,
menos tempo utilizam na segmentação da sílaba inicial dos estímulos dissilábicos com esta
estrutura. Importa salientar que esta correlação não foi observada para os estímulos com Ataque
ramificado ClV (rs = 0,06, p > 0,05).
3.6.3. Idade versus tempo de segmentação da palavra
Aplicando-se o coeficiente de correlação de Pearson foi possível observar a existência de
correlações positivas entre as variáveis idade e tempo de segmentação da palavra para os
estímulos dissilábicos com Ataque vazio e com Ataque ramificado em posição inicial, bem como
para os estímulos trissilábicos proparoxítonos (Quadro 54).
Quadro 54 – Coeficiente de correlação de Pearson para as variáveis idade e tempo de segmentação da palavra.
TR dissílabos com V inicial
TR dissílabos com CV inicial
TR trissílabos com ´CVCVCV
Idade dos participantes Correlação de Pearson -0,232 -0,307 -0,242
Sig. 0,039 0,006 0,032
TR – Tempo de reacção
Pela análise do Quadro 54, observa-se que existe uma correlação significativa, negativa baixa (rs
= -0,232, p ≤ 0,05) entre as variáveis idade e tempo de segmentação dos dissílabos com V inicial.
A mesma correlação (rs = -0,242, p ≤ 0,05) foi observada para as variáveis idade e tempo de
Correlações
1 -,289*. ,010
-,289* 1
,010 .
Correlação de PearsonSig. (2-tailed)Correlação de Pearson
Sig. (2-tailed)
Idade dos participantes emmeses
Tempo de reacção palavrasdissilábicas com ´CrV
Idade dos participantesem meses
Tempo de reacçãopalavras dissilábicas
com ´CrV
Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).*.
Quadro 53 – Coeficiente de correlação de Pearson para as variáveis idade e tempo de segmentação da sílaba
inicial dos estímulos com CV inicial.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 114
segmentação dos estímulos trissilábicos proparoxítonos. A existência de uma correlação muito
significativa, negativa baixa (rs = -0,307, p ≤ 0,01) foi verificada entre as variáveis idade e
tempo de segmentação dos dissílabos com CV inicial. Assim, os dados mostram que quanto
mais velhas são as crianças mas rapidamente segmentam dissílabos com Ataque vazio e com
Ataque ramificado e trissílabos proparoxítonos
3.6.4. Capacidade de segmentação correcta versus capacidade de nomeação
Dado que foi aplicado um teste de nomeação, procurou-se verificar se o facto de os estímulos
lexicais serem do conhecimento das crianças influenciava o sucesso na prova de segmentação.
Tendo em consideração que a variável capacidade de nomeação é medida numa escala ordinal,
foi necessário recorrer à estatística não paramétrica, mais especificamente à alternativa não
paramétrica do coeficiente de correlação de Pearson, o coeficiente de correlação de Spearman.
Aplicando-se este mesmo coeficiente de forma a perceber a relação entre as variáveis
capacidade de segmentação correcta e capacidade de nomeação, verificou-se que não existe
qualquer correlação entre ambas (p > 0,05), ou seja, a capacidade de nomeação das imagens não
está correlacionada com o sucesso na tarefa de segmentação silábica dos estímulos apresentados.
Concluindo-se, a ausência de uma correlação entre estas variáveis demonstra que a tarefa de
nomeação e a prova de segmentação remetem para actividades cognitivas distintas e que o facto
de as crianças não conseguirem nomear correctamente um estímulo não influencia,
negativamente, o sucesso na prova de segmentação silábica
3.6.5. Sumário
Após a aplicação do coeficiente de correlação, é possível destacar a existência de correlações
entre as seguintes variáveis:
1. Correlação muito significativa, positiva baixa (rs = 0,301, p ≤ 0,01) entre as variáveis
idade e segmentação correcta de dissílabos com estrutura CV;
2. Correlação significativa, positiva baixa (rs = 0,245, p ≤ 0,05) entre as variáveis idade e
segmentação correcta de trissílabos com ´CVCVCV;
3. Correlação significativa, positiva baixa (rs = 0,258, p ≤ 0,05) entre as variáveis idade e
segmentação correcta de trissílabos com CV´CVCV;
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 115
4. Correlação muito significativa, negativa baixa (rs = -0,266, p ≤ 0,01) entre as variáveis
idade e tempo de segmentação da sílaba inicial dos estímulos com CV;
5. Correlação significativa, negativa baixa (rs = -0,232, p ≤ 0,05) entre as variáveis idade e
tempo de segmentação dos dissílabos com V inicial;
6. Correlação muito significativa, negativa baixa (rs = -0,307, p ≤ 0,01) entre as variáveis
idade e tempo de segmentação dos dissílabos com CV inicial.
7. Correlação significativa, negativa baixa (rs = -0,242, p ≤ 0,05) entre as variáveis idade e
tempo de segmentação dos trissílabos com ´CVCVCV;
Tais resultados permitem salientar, em relação à capacidade de segmentação, que apenas não
existe correlação entre as variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com V e CCV
inicial, ou seja, apenas para as estruturas V e CCV é que o comportamento das crianças é igual,
independentemente da idade.
Quanto ao tempo de segmentação total das palavras, verificou-se que não existe correlação entre
a idade e o tempo de segmentação dos dissílabos com CV e ClV e o tempo de segmentação dos
trissílabos paroxítonos, ou seja, apenas para estes constituintes é que o comportamento das
crianças é igual, independentemente da idade.
3.7. Sumário final
Nesta secção, procede-se à apresentação da síntese dos resultados obtidos para o capítulo 3.
Foram observadas as produções das crianças com base nas três variáveis prosódicas
consideradas:
a) Complexidade silábica (dissílabos com V, CV e CCV inicias);
b) Extensão de palavra (dissílabos paroxítonos e trissílabos paroxítonos com estruturas
silábicas do tipo CV – ´CVCV e CV´CVCV);
c) Acento de palavra (trissílabos proparoxítonos e trissílabos paroxítonos – ´CVCVCV e
CV´CVCV).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 116
Para cada uma das variáveis supracitadas, resumir-se-ão os resultados relativos: i) à frequência
de segmentações correctas e incorrectas; ii) ao tempo de reacção utilizado na segmentação da
palavra e / ou da sílaba inicial; iii) ao comportamento das crianças de acordo com os grupos
constituídos com base na idade; iv) correlações existentes.
a) Complexidade silábica
Inicialmente, procedeu-se à análise do comportamento das crianças face à tarefa de segmentação
silábica em dissílabos, que permitiram observar o impacto do Ataque no desempenho de uma
tarefa de segmentação silábica: ´CVCV como em [patu]; ´VCV como em [ou]; ´CCVCV
como em [bu].
Para o estudo da complexidade silábica, foram introduzidos estímulos dissilábicos com Ataque
simples, vazio e ramificado, apresentando-se, no Gráfico 25, o valor percentual de segmentações
correctas e incorrectas para cada um dos formatos silábicos mencionados.
Através da observação do Gráfico 25, verifica-se que as estruturas menos complexas, Ataque
simples e Ataque vazio, são estruturas segmentadas mais facilmente. Relativamente aos
estímulos mais complexos, verifica-se uma grande discrepância entre a percentagem de
segmentações correctas dos dissílabos com Ataque ramificado CV inicial e dos dissílabos com
Ataque ramificado ClV inicial. Tais resultados poderão estar relacionados com a frequência
reduzida de palavras com a combinatória obstruinte + lateral para o Português Europeu, sendo
este um assunto a discutir no capítulo 4.
Gráfico 25 – Percentagem de segmentações correctas e incorrectas para os dissílabos.
0,0%
20,0%
40,0%
60,0%
80,0%
100,0%
V CV CrV ClV
Perc
enta
gem
(%)
Estruturas silábicas
Segmentações Correctas Segmentações Incorrectas
CV ClV
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 117
Para além da análise da percentagem de sucesso, para a variável complexidade silábica analisou-
se também o tempo de reacção para a segmentação da sílaba inicial, a qual engloba as três
estruturas linguísticas indicadas previamente (Gráfico 26).
Analisando-se o tempo de reacção utilizado na segmentação da sílaba inicial dos dissílabos,
verifica-se que, nas segmentações correctas para os três formatos silábicos, o tempo de reacção
foi inferior ao utilizado nas segmentações incorrectas. Esta relação apenas não se verifica na
segmentação dos dissílabos com CV inicial, para os quais os tempos de segmentação foram
inferiores nas segmentações incorrectas, contrariamente ao esperado. Outro dado surpreendente
refere-se ao facto de a segmentação das sílabas ClV corresponder ao valor de tempo de reacção
mais baixo, o que poderá estar relacionado com as estratégias utilizadas na sua segmentação. As
palavras com a sílaba inicial do tipo CV foram as que demoraram mais tempo a ser
segmentadas, o que vai ao encontro daquilo que seria de esperar.
Para além do tempo de reacção para cada sílaba, mediu-se o tempo utilizado na segmentação
total da palavra, podendo-se observar os tempos médios, para cada constituinte analisado, no
gráfico que se segue.
0
500
1000
1500
2000
2500
V CV CrV ClVTem
po d
e re
acçã
o (m
s.)
Estruturas silábicas
Segmentações Correctas Segmentações Incorrectas
CV ClV
Gráfico 26 – Tempo de segmentação da sílaba inicial para os dissílabos (segmentações correctas e incorrectas).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 118
Analisando-se o Gráfico 27, observa-se que, para todos os constituintes, tal como seria de
esperar, a segmentação da palavra demorou mais tempo quando a tarefa de segmentação foi
efectuada de forma incorrecta. Observando as segmentações correctas, verifica-se que as
palavras com sílaba inicial com constituinte não ramificado foram segmentadas em menos tempo
do que as palavras com o constituinte ramificado na sua sílaba inicial, não se observando
diferenças entre os estímulos com V e os estímulos com CV inicial. Ao nível das palavras com
Ataque ramificado, o facto de o segmento em C2 ser diferente parece não influenciar o tempo
utilizado na segmentação da palavra, nas segmentações correctas. Nas segmentações incorrectas,
importa realçar o valor encontrado para os estímulos V, o que poderá estar relacionado com as
estratégias utilizadas pelas crianças, como se verá na discussão dos resultados, no capítulo 4.
Ainda se procedeu a uma análise por faixa etária. O Gráfico 28 revela o comportamento dos dois
grupos na segmentação dos dissílabos com V, CV e CCV inicial.
0500
10001500200025003000350040004500
V CV CrV ClV
Tem
po d
e re
acçã
o (m
s.)
Estruturas silábicasSegmentações Correctas Segmentações Incorrectas
CV ClV
Gráfico 27 – Tempo de segmentação total das palavras dissilábicas (segmentações correctas e incorrectas).
01020
3040
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Freq
uênc
ias -
cria
nças
Frequências - segmentações correctas
Grp 1 - CV Grp 2 - CV Grp 1 - VGrp 2 - V Grp 1 - CCV Grp 2 - CCV
Gráfico 28 – Comparação das frequências do número de segmentações correctas para os dissílabos, nos dois grupos.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 119
Os resultados revelaram que, para os estímulos com V e CV inicial foram as crianças mais novas
as que tiveram resultados de segmentação mais baixos. Para os estímulos CCV, verificou-se um
comportamento muito semelhante por parte dos dois grupos, o que reflecte a dificuldade que a
amostra, independentemente da idade, teve em segmentar palavras com este constituinte.
Por fim, ainda é possível salientar os dados das correlações, tendo-se observado correlações
significativas entre a variável idade e as seguintes variáveis:
• Segmentação de dissílabos com CV inicial (rs = 0,30, p ≤ 0,01);
• Tempo de reacção das palavras com CV inicial (rs = -0,29, p ≤ 0,01);
• Tempo de reacção da sílaba com V (rs = -0,23, p ≤ 0,05) e com CV (rs = -0,31, p ≤
0,01).
Tais resultados revelam que quanto mais velhas são as crianças mais facilidade têm em
segmentar estímulos com CV inicial. Outro dado importante refere-se à existência de correlações
entre as variáveis idade e tempo de segmentação das palavras com CV, ou seja, apenas em
palavras com esta estrutura se verificou que, quanto mais velhas são as crianças, menor é o
tempo utilizado na segmentação da palavra. Por fim, no que se refere ao tempo de segmentação
da sílaba inicial, verificou-se a existência de correlação entre a variável idade e o tempo de
segmentação das sílabas V e CV, onde se observou que quanto mais velhas são as crianças
menor é o tempo utilizado. Desta forma, as sílabas CV foram segmentadas de forma semelhante,
independentemente da idade, e o mesmo se verificou na segmentação das sílabas ClV.
b) Extensão de palavra
Inicialmente, foi efectuada a análise do comportamento das crianças face à tarefa de
segmentação silábica nos estímulos que permitiram estudar a variável extensão de palavra. Para
o estudo da extensão de palavra foram introduzidos estímulos dissilábicos paroxítonos como em
[kau] e estímulos trissilábicos paroxítonos como em [bnn]. Apresenta-se, no Gráfico
29, o valor percentual de segmentações correctas e incorrectas para cada uma das extensões de
palavra referidas.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 120
Observando-se as percentagens de sucesso para as duas extensões utilizadas, constata-se que as
crianças segmentaram melhor as palavras dissilábicas (93%), apresentando uma percentagem de
sucesso mais elevada do que a verificada para os trissílabos (85,3%).
Na análise da variável extensão de palavra, considerou-se pertinente observar os tempos
utilizados na segmentação das palavras, como se ilustra no Gráfico 30.
Como esperado, as palavras dissilábicas (Média = 2649 milissegundos) demoraram menos tempo
a ser segmentadas do que as palavras trissilábicas (Média = 4200 milissegundos), sendo
importante realçar que essa diferença se tornou praticamente insignificante ao nível das
segmentações incorrectas. Tal poderá dever-se às estratégias que as crianças utilizaram na
segmentação das mesmas; este aspecto será discutido no capítulo seguinte.
Gráfico 29 – Percentagem de segmentações correctas e incorrectas para os dissílabos e trissílabos.
Gráfico 30 – Tempo de segmentação das palavras dissilábicas e trissilábicas (segmentações correctas e incorrectas).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
´CVCV CV´CVCV
Perc
enta
gem
(%)
Extensões de palavra
Segmentações Correctas Segmentações Incorrectas
0
1000
2000
3000
4000
5000
´CVCV CV´CVCVTem
po d
e re
acçã
o (m
s.)
Extensões de palavra
Segmentações Correctas Segmentações Incorrectas
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 121
Para a análise dos resultados com base no agrupamento efectuado por faixa etária, importa
observar o Gráfico 31.
Gráfico 31 – Comparação das frequências dos dois grupos para os dissílabos e trissílabos.
Pela análise do Gráfico 31, verifica-se que, tanto para os dissílabos como para os trissílabos,
foram as crianças mais velhas as que tiveram mais facilidade em realizar a prova de segmentação
silábica.
c) Acento de palavra
Para o estudo do acento de palavra, foram introduzidos estímulos trissilábicos proparoxítonos
como em [mdiku] e paroxítonos como em [kzaku]. Apresenta-se, no Gráfico 32, o valor
percentual de segmentações correctas e incorrectas para cada um dos padrões silábicos
considerados.
0,0%
20,0%
40,0%
60,0%
80,0%
100,0%
´CVCVCV CV´CVCV
Perc
enta
gem
(%)
Padrões acentuais
Segmentações Correctas Segmentações Incorrectas
Gráfico 32 – Percentagem de segmentações correctas e incorrectas para as palavras trissilábicas.
05
101520253035
1 2 3 4 5 6 7 8Freq
uênc
ias -
cria
nças
Frequências - segmentações correctas
Grp 1 - CV´CVCV Grp 2 - CV´CVCVGrp 1 - ´CVCVCV Grp 2 - ´CVCVCV
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 122
O Gráfico 32 revela que as crianças avaliadas tiveram mais facilidade em segmentar
correctamente os estímulos trissilábicos paroxítonos, o que vai ao encontro dos dados descritos
na literatura sobre o padrão acentual mais frequente para o Português Europeu, como se verá no
capítulo 4.
Para além da percentagem de sucesso, analisou-se o tempo total utilizado na segmentação das
palavras, de forma a observar como é que o padrão acentual interfere com a tarefa de
segmentação (Gráfico 33).
Gráfico 33 – Tempo de segmentação das palavras trissilábicas proparoxítonas e paroxítonas.
Através da análise do Gráfico 33, foi possível verificar que, nas segmentações correctas, as
crianças demoraram mais tempo a segmentar palavras paroxítonas do que palavras
proparoxítonas, apesar de estas diferenças não serem significativas. Quando se observam as
segmentações incorrectas, verifica-se o comportamento oposto, ou seja, as crianças segmentam
mais rapidamente as palavras paroxítonas o que poderá estar relacionado com as estratégias
utilizadas na tarefa de segmentação, assunto a retomar na discussão dos resultados (capítulo 4).
Para a observação dos resultados obtidos pelos dois grupos, importa analisar o Gráfico 34, que
apresenta a frequência para cada segmentação correcta, podendo verificar-se o comportamento
das crianças do grupo 1 e do grupo 2 perante a segmentação de palavras trissilábicas com
padrões acentuais distintos.
0500
10001500200025003000350040004500
´CVCVCV CV´CVCV
Tem
po d
e re
acçã
o (m
s.)
Padrões acentuais
Segmentações Correctas Segmentações Incorrectas
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 123
Gráfico 34 – Comparação das frequências dos dois grupos para os trissílabos paroxítonos e proparoxítonos.
Observando os resultados esquematizados no Gráfico 34, verifica-se que, tanto para os
trissílabos proparoxítonos como para os paroxítonos, são as crianças mais novas que têm mais
dificuldades na prova de segmentação silábica.
Quanto aos dados obtidos após a aplicação do coeficiente de correlação, é possível salientar
correlações significativas entre a variável idade e as seguintes variáveis:
• Segmentação de trissílabos com ´CVCVCV (rs = 0,25, p ≤ 0,05);
• Segmentação de trissílabos com CV´CVCV (rs = 0,26, p ≤ 0,05).
Tais resultados revelam que, quanto mais velhas são as crianças, mais facilidades têm em
segmentar estímulos trissilábicos, independentemente do padrão acentual dos mesmos. Importa
realçar que não se encontraram correlações significativas entre as variáveis idade e tempo total
de segmentação da palavra.
No capítulo seguinte, discutir-se-ão os principais resultados obtidos, tendo por base as três
variáveis prosódicas – complexidade silábica, extensão de palavra e acento de palavra – e uma
variável extra-linguística, a idade.
05
101520253035
1 2 3 4 5 6 7 8Freq
uênc
ias -
cria
nças
Frequências - segmentações correctas
Grp 1 - CV´CVCV Grp 2 - CV´CVCVGrp 1 - ´CVCVCV Grp 2 - ´CVCVCV
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 124
4. Discussão dos Resultados
O objectivo central desta investigação consiste na análise do comportamento de crianças
portuguesas no desempenho de uma prova de segmentação silábica, na qual se manipularam três
variáveis prosódicas – complexidade silábica, extensão de palavra e acento de palavra – e uma
variável extra-linguística, a idade. Discutir-se-ão os resultados com base em informação sobre o
desenvolvimento linguístico e sobre a frequência das estruturas na língua, assumindo-se que i)
quanto mais precocemente surge o constituinte no desenvolvimento linguístico, mais simples o
seu processamento; ii) quanto mais frequente a estrutura, mais simples o seu processamento.
Nesta secção, discutir-se-ão os resultados obtidos após o tratamento estatístico, tendo em
consideração as variáveis em análise, confrontando-os com a informação disponível na literatura
e com as hipóteses formuladas no âmbito deste projecto.
Complexidade silábica
Diferentes estudos sobre a aquisição do constituinte Ataque, referenciados no capítulo 1, têm
descrito que, assim como acontece noutras línguas, no Português Europeu a aquisição do
constituinte Ataque não ramificado surge num primeiro estádio, seguido da aquisição do Ataque
ramificado (Bernhardt & Stemberger, 1998; Fikkert, 1994; Freitas, 1997a). Até meados dos anos
90, assumiu-se que o padrão CV, com Ataque simples associado a uma oclusiva, seria o primeiro
e único formato silábico a ser adquirido; posteriormente as crianças adquiririam o padrão V, com
Ataque vazio. Freitas (1997a) mostrou que as crianças portuguesas exibem simultaneamente, no
primeiro estádio de produção, a emergência de estruturas CV, associadas a oclusivas e nasais, e
de estruturas V. O mesmo se verificou para o Alemão, Espanhol, Hebreu e para o Português do
Brasil (Freitas, 1997a). Como referido no capítulo 1, estudos sobre a frequência dos diferentes
formatos silábicos para o Português Europeu referem que o formato silábico CV surge em cerca
de 50% das produções verbais, enquanto que o formato silábico V ocorre em cerca de 15% das
produções (Andrade & Viana, 1993; Vigário & Falé, 1993; Vigário et al., 2006a, 2006b).
A literatura tem referido que o constituinte Ataque ramificado é silabicamente mais complexo e
como tal, é o último a ser adquirido (Avila, 2000; Bernhardt & Stemberger, 1998; Cristófaro-
Silva, 2002; Fikkert, 1994; Freitas, 1997a; Lamprecht et al., 2004; Miranda, 2006; Ribas, 2003,
2007; Veloso, 2003). Dada a sua complexidade, as crianças recorrem a estratégias de
reconstrução aquando da sua produção, como sejam: apagamento do grupo consonântico;
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 125
redução do grupo consonântico ao primeiro ou ao segundo elemento; inserção de uma vogal
entre os elementos do grupo consonântico. Diferentes estudos têm revelado a existência de uma
frequência superior de estímulos com a combinatória oclusiva + líquida, do que com a
combinatória fricativa + líquida (Vigário & Falé, 1993). Na combinatória oclusiva + líquida é
mais frequente a existência de uma oclusiva seguida de uma vibrante do que de uma oclusiva
seguida de uma lateral, como se pode relembrar através da observação dos quadros 3 e 4 no
capítulo 1.
Relativamente à complexidade silábica, observaram-se os seguintes resultados quanto às
segmentações correctas e incorrectas, à percentagem de segmentações, ao tempo de reacção da
primeira sílaba e ao tempo de reacção da palavra:
Quadro 55 – Resultados globais face à variável complexidade silábica.
Formatos silábicos
% Segmentações
Tempo de reacção 1ªsílaba (ms.)
Tempo de reacção palavra (ms.)
Segmentações correctas
CV 93 1790 2649
V 89,9 1740 2635
CV 47,3 2069 2986
ClV 16,8 1556 2886
Segmentações incorrectas
CV 7 1631 2894
V 11 2344 3606
CV 52,7 2261 3802
ClV 83,2 2229 4216
No presente estudo, verificou-se não existirem diferenças significativas entre os estímulos
dissilábicos com Ataque simples, como em carro, e com Ataque vazio, com em olho, no que se
refere ao número de segmentações correctas. A análise da percentagem de sucesso permitiu
constatar que as crianças avaliadas obtiveram 93% de sucesso na segmentação de palavras
dissilábicas com CV inicial e 89,9% de sucesso na segmentação de palavras dissilábicas com V
inicial, ou seja, não se verificaram diferenças na segmentação de palavras com o constituinte
Ataque não ramificado. Tais valores permitem confirmar a natureza não marcada de ambas as
estruturas, na tarefa em avaliação. A análise dos tempos de reacção da segmentação do
constituinte Ataque não ramificado em posição inicial de palavra corrobora os dados referidos,
na medida em que as sílabas com CV inicial foram segmentadas em 1790 milissegundos e as
sílabas com V inicial foram segmentadas em 1740 milissegundos (valores médios). Desta forma,
os resultados encontrados revelam que as crianças parecem lidar da mesma forma com os
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 126
constituintes Ataque simples e Ataque vazio quando estes estão presentes em estímulos
dissilábicos.
Quanto ao constituinte Ataque ramificado, este obteve uma percentagem de sucesso de 64,2%,
sendo esta bastante inferior à encontrada para os constituintes Ataque simples (93%) e Ataque
vazio (89,9%). Analisando-se as combinatórias testadas neste estudo quanto ao constituinte
Ataque ramificado (obstruinte + vibrante e obstruinte + lateral), verifica-se que as crianças
conseguiram segmentar mais facilmente palavras com Ataque ramificado CV (47,3%), como
em bruxa, do que palavras com Ataque ramificado ClV (16,8%), como em planta, o que vai ao
encontro dos dados de frequências referidos na literatura para o Português Europeu (Vigário &
Falé, 2003). A análise dos tempos de reacção permitiu verificar que o Ataque ramificado em
CV demorou mais tempo a ser segmentado (2069 milissegundos) do que qualquer outro
constituinte. O Ataque ramificado em ClV (1556 milissegundos) foi o que demorou menos
tempo a ser segmentado. Este último dado não seria de esperar tendo em consideração os
trabalhos de Freitas (1997a), Veloso (2003) ou Vigário e Falé (1993), que referem que esta
combinatória é menos frequente e mais problemática no Português Europeu. Se o valor fosse
igual ao de CV (1790 milissegundos), poder-se-ia argumentar que as crianças estariam a
processar a estrutura como CV, à luz do que é proposto em Freitas (2003), em que Cl
processado como uma consoante complexa, num estádio inicial da aquisição de CCV. Como
ClV apresenta um valor mais baixo (1556 milissegundos) do que CV (1790 milissegundos), este
resultado fica por explicar, sendo necessárias mais investigações neste domínio.
Um outro dado interessante refere-se ao tempo médio de reacção para as segmentações
incorrectas. Os dados encontrados revelaram que, aquando das segmentações incorrectas, as
crianças demoraram mais tempo a segmentar sílabas do tipo V (2344 milissegundos) do que do
tipo CV (1631 milissegundos). Estes dados sugerem que apesar de as crianças lidarem de forma
semelhante com ambas as estruturas em contexto de segmentação correcta, as segmentações
incorrectas correspondem a tempos de reacção mais elevados para V do que para CV. Tal poderá
estar relacionado com a frequência com que estas estruturas surgem no léxico infantil, já que
dados de frequência (Andrade & Viana, 1993; Vigário & Falé, 1993; Vigário et al., 2006b),
referem a existência de um predomínio de sílabas do tipo CV nas produções das crianças e nas
dos adultos. Estudos em que foram utilizados tempos de reacção apontam para o facto de as
sílabas serem de alta ou de baixa frequência no léxico poder influenciar o tempo de
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 127
processamento das mesmas (Laganaro & Alario, 2006). No presente estudo verificou-se que,
apesar de os dados de estudos de frequência descreverem que CV é mais frequente do que V, CV
e V apresentaram o mesmo comportamento face às segmentações correctas e ao tempo de
reacção, não se observando o papel da frequência. No entanto, nas segmentações incorrectas CV
e V tiveram resultados diferentes, podendo revelar o efeito de frequência ou a activação de
outros aspectos, linguísticos ou extra-linguísticos, que justifiquem o processamento inadequado.
Dentro desta análise ainda se podem salientar os resultados obtidos nos tempos de segmentação
das estruturas CCV, os quais foram idênticos para o Ataque ramificado CV (2261
milissegundos) e para o Ataque ramificado ClV (2229 milissegundos), contrariamente aos
resultados obtidos para as percentagens de segmentações correctas. Assim, o tempo de reacção e
a capacidade de segmentação silábica parecem estar a medir aspectos diferentes do
processamento, já que enquanto o número de segmentações pareceu ser sensível às diferentes
estruturas linguísticas manipuladas, os tempos de reacção não foram sensíveis à complexidade
silábica, sendo necessária mais investigação neste domínio
Por fim, analisou-se o tempo de reacção na segmentação da palavra, no sentido de se verificar se
o tipo de constituinte em posição inicial exercia influência sobre o tempo total utilizado na
segmentação da mesma. Os resultados revelaram tempos de segmentação muito idênticos, ou
seja, as palavras dissilábicas com estrutura inicial não ramificada, Ataque simples (2649
milissegundos) e Ataque vazio (2635 milissegundos), foram segmentadas com tempos idênticos,
sendo estes semelhantes aos utilizados na segmentação de palavras com Ataque ramificado:
CV (2986 milissegundos) e ClV (2886 milissegundos). Assim, o facto de a palavra ter um
constituinte não ramificado, associado a material segmental ou vazio, não se reflecte no tempo
utilizado na segmentação do estímulo.
Contrariamente, verificaram-se diferenças significativas no tempo utilizado na segmentação
incorrecta da palavra. Os dados demonstraram um tempo de segmentação crescente para palavras
iniciadas pelas seguintes estruturas: CV (2894 milissegundos) < V (3606 milissegundos) < CV
(3802 milissegundos) < ClV (4216 milissegundos). As palavras com V inicial, quando
segmentadas incorrectamente, obtiveram um tempo de segmentação elevado devido à estratégia
seleccionada, já que na maioria das situações (73,2%), as crianças avaliadas, transformaram os
estímulos dissilábicos em trissilábicos, procedendo à inserção de um segmento em posição final
de palavra, como em osso [o.su.u]. O mesmo sucedeu para os estímulos com CCV inicial,
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 128
isto é, as crianças, em 82,2% das incorrecções, transformaram-nos em estímulos trissilábicos na
medida em que inseriram uma vogal entre o grupo consonântico, como em prato [p.a.tu].
Os resultados permitiram confirmar a primeira hipótese, “ o sucesso na tarefa de segmentação
silábica está directamente relacionado com a complexidade do constituinte silábico em análise:
palavras com o constituinte silábico simples ou vazio em posição inicial de palavra são
segmentadas mais facilmente do que palavras com o constituinte silábico Ataque ramificado em
posição inicial de palavra”, dado se ter verificado que o sucesso da prova de segmentação
silábica está relacionado com a complexidade silábica do constituinte Ataque: palavras com
Ataque não ramificado em posição inicial de palavra são segmentadas mais facilmente e obtêm
valores mais baixos de tempo de reacção do que palavras com Ataque ramificado em posição
inicial.
Extensão de palavra
Neste projecto foram testadas palavras dissilábicas e trissilábicas com a mesma estrutura silábica
(CV) e com o mesmo padrão acentual paroxítono: bola e banana, com o objectivo de se
poderem observar comportamentos distintos na segmentação de palavras com extensão diferente.
A literatura relevante, nomeadamente os estudos de Vigário et al. (2004, 2006a) e de Vigário e
Falé (1993), descreve, para o Português Europeu, um predomínio de palavras dissilábicas nas
primeiras produções verbais de crianças portuguesas, bem como nos adultos. Veja-se o quadro
seguinte com o sumário dos principais dados sobre a extensão de palavra.
Quadro 56 – Percentagem das extensões de palavra no adulto e na criança.
Monossílabos Dissílabos Trissílabos Polissílabos
Produções espontâneas infantis 28,6% 46,6% 19% ______
Produções nos adultos 19,8% 42,6% 18,4% 7,6%
Ao longo do seu desenvolvimento linguístico, as crianças começam a produzir trissílabos, apesar
de estes permanecerem com uma frequência de ocorrência inferior aos dissílabos.
No sentido de facilitar a análise dos resultados, no Quadro 57 apresentam-se os resultados para a
variável extensão de palavra (percentagem de segmentações e tempo de reacção da palavra).
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Quadro 57 – Resultados globais face à variável extensão de palavra.
Extensões de palavra % Segmentações Tempo de reacção palavra (ms.)
Segmentações correctas
´CVCV 93 2649
CV´CVCV 85,3 4200
Segmentações incorrectas
´CVCV 7 2894
CV´CVCV 14,7 2483
Os resultados encontrados neste estudo vão ao encontro dos dados referenciados anteriormente,
na medida em que se verificou uma percentagem de sucesso de 93% na segmentação dos
dissílabos paroxítonos e uma percentagem de sucesso de 85,3% na segmentação dos trissílabos
paroxítonos. Tal como seria de esperar, as crianças conseguiram segmentar mais facilmente
estímulos com duas sílabas do que estímulos com três sílabas, provavelmente devido ao facto de
as palavras dissilábicas serem mais frequentes no léxico infantil. No entanto, importa salientar
que não se tratou de uma diferença significativa.
Analisaram-se apenas os tempos de segmentação da palavra e não da sílaba dado estar-se a testar
a variável extensão de palavra e não a manipulação de qualquer constituinte silábico interno à
palavra. Os dados encontrados revelaram um tempo de reacção mais elevado na segmentação
dos trissílabos (4200 milissegundos) do que dos dissílabos (2649 milissegundos). Desta forma,
os dados encontrados ao nível dos tempos de reacção corroboram os resultados referidos na
literatura, quando considerada a percentagem de sucesso na prova de segmentação silábica:
estruturas mais frequentes tanto no adulto como nas produções das crianças, correspondem a
valores mais baixos de tempos de reacção.
Porém, no tempo utilizado nas segmentações incorrectas, praticamente não se verificaram
diferenças no tempo de segmentação dos estímulos com as duas extensões consideradas, tendo-
se constatado que as crianças, quando segmentavam incorrectamente os estímulos apresentados,
tendiam a demorar mais tempo a segmentar dissílabos (2894 milissegundos) do que trissílabos
(2483 milissegundos). Estes resultados poderão ser explicados tendo em consideração dois
aspectos:
i) Nas segmentações incorrectas dos dissílabos, em 88% das situações, as crianças
segmentaram-nos como se fossem trissílabos, já que inseriram segmentos em posição
final de palavra (91,9%), como em pato [pa.tu.u], e em posição medial de palavra
(8,1%), como em dedo [de.e.du];
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ii) Nas segmentações dos trissílabos, em 94,7% das situações, as crianças aglutinaram as
sílabas tónica e átona, como em sapato [s.patu], tornando-os estímulos dissilábicos e,
como tal, demorando menos tempo a segmentá-los.
Desta forma, os dados encontrados permitem confirmar a segunda hipótese colocada, “as
crianças segmentam mais facilmente palavras dissilábicas do que palavras trissilábicas”, já que
as crianças avaliadas que tiveram uma percentagem de sucesso mais elevada segmentaram mais
facilmente estímulos dissilábicos do que estímulos trissilábicos.
Acento de palavra
Para o Português Europeu, a literatura tem descrito como padrão acentual não marcado o acento
na penúltima sílaba da palavra, designado como grave ou paroxítono (Mateus et al., 2006;
Vigário et al., 2006b). Com base neste facto, optou-se por testar a variável acento de palavra
através da introdução de estímulos trissilábicos com dois padrões acentuais: estímulos
paroxítonos, como em casaco, e estímulos proparoxítonos, como em chávena. Estudos sobre a
aquisição dos padrões rítmicos, têm revelado que, para as palavras dissilábicas, as crianças
começam a produzir palavras acentuadas na última sílaba, oxítonas, produzindo ao longo do
desenvolvimento linguístico dissílabos acentuados na penúltima sílaba, paroxítonos, tornando-se
este o padrão mais frequente (Correia, Costa & Freitas, 2006; Vigário et al., 2006a).
Paralelamente, Araújo (2004) detectou numa amostra com indivíduos a frequentar do 7º ao 12º
ano de escolaridade, que estes são mais sensíveis às palavras paroxítonas do que proparoxítonas.
No quadro seguinte, resumem-se os principais resultados (percentagem de segmentações e tempo
de reacção para a palavra), para o estudo desta variável linguística.
Quadro 58 – Resultados globais face à variável acento de palavra.
Padrões acentuais % Segmentações Tempo de reacção palavra (ms.)
Segmentações correctas
´CVCVCV 65,5 3875
CV´CVCV 85,3 4200
Segmentações incorrectas
´CVCVCV 34,5 3201
CV´CVCV 14,7 2483
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Analisando-se os resultados referentes à percentagem de segmentações correctas, verificou-se
que as crianças segmentaram com mais sucesso os trissílabos paroxítonos, tendo obtido uma
percentagem de sucesso de 85,3%, do que os trissílabos proparoxítonos, onde se obteve uma
percentagem de êxito de 65,5%. Estes resultados vão ao encontro dos descritos na literatura,
onde o padrão não marcado, as palavras acentuadas na penúltima sílaba, é descrito como mais
frequente e, consequentemente, mais fácil de percepcionar para as crianças.
Para a análise da influência da variável acento de palavra sobre o tempo de reacção, optou-se
por considerar apenas o tempo utilizado na segmentação da palavra pelo facto de este aspecto
fonológico ser do domínio da palavra. Desta forma, procedeu-se à análise estatística dos dados,
tendo-se obtido resultados opostos aos que seria de esperar: ´CVCVCV (3875 milissegundos)
demoraram menos tempo a ser segmentados do que CV´CVCV (4200 milissegundos). Tendo em
consideração que a literatura refere que o tempo de reacção está directamente relacionado com a
complexidade dos estímulos (Faria, 2005; Rayner & Clifton, 2002) e com a frequência da sua
ocorrência (Laganaro & Alario, 2006), seria de esperar que os trissílabos paroxítonos fossem
segmentados em menos tempo dado terem: i) uma frequência de ocorrência bastante mais
elevada no sistema fonológico do Português Europeu do que os estímulos proparoxítonos; ii)
serem considerados como estímulos não marcados para o efeito de acentuação. No entanto, os
dados encontrados reflectem precisamente o contrário, isto é, as crianças demoraram mais tempo
a segmentar trissílabos paroxítonos (4200 milissegundos) do que trissílabos proparoxítonos
(3875 milissegundos). Apesar de a diferença encontrada não ter significado estatístico, já que p >
0,05, esta diferença regista-se no conjunto dos sujeitos avaliados. Estes resultados poderão estar
relacionados com o peso reduzido que a variável acento exerce em tarefas de segmentação
silábica, não exibindo a relevância detectada para as variáveis complexidade silábica e extensão
de palavra. Tais resultados necessitam de mais investigação para que os mesmos possam ser
explicados. Estudos sobre o desenvolvimento fonológico têm demonstrado este mesmo aspecto,
ou seja, que a variável acento pode exercer, em alguns contextos, uma influência menos
relevante nas produções verbais infantis (Freitas, Miguel & Faria, 2001; Nogueira, 2007).
Analisando-se os tempos de reacção obtidos para as segmentações incorrectas, verifica-se que o
tempo de segmentação foi mais elevado para os trissílabos proparoxítonos (3201 milissegundos)
do que para os trissílabos paroxítonos (2483 milissegundos).
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Desta forma, os dados encontrados não permitem confirmar, na totalidade, a terceira hipótese
colocada, “os estímulos trissilábicos paroxítonos são segmentados mais facilmente do que os
estímulos trissilábicos proparoxítonos”, já que os trissílabos paroxítonos não foram segmentados
mais facilmente do que os trissílabos proparoxítonos. Apesar de o número de segmentações
correctas ter sido superior para o padrão acentual não marcado, os tempos de reacção não
corroboraram este comportamento, já que não foram sensíveis a esta variável.
Idade
Estudos no domínio da consciência fonológica, em especial no desempenho de tarefas de
consciência silábica, têm demonstrado que as crianças conseguem obter mais sucesso à medida
que a faixa etária das mesmas vai aumentando (Adams, 1998; Burt et al., 1999; Capovilla et al.
2007, Gindri, 2006; Silva, 2003; Sim-Sim, 2001; Veloso, 2003). Desta forma, apesar de as
crianças já terem, geralmente, bons desempenhos na prova de segmentação silábica desde
bastante cedo, têm-se observado diferenças entre os resultados obtidos para as crianças do pré-
escolar e do 1º ciclo.
Numa primeira fase, procedeu-se à análise de percentagens de sucesso na tarefa de segmentação
para os dois grupos nas diferentes estruturas testadas (Quadro 59).
Quadro 59 – Percentagens de sucesso, na tarefa de segmentação, para todas as estruturas em análise.
Estrutura silábica Percentagem de sucesso (%)
Grupo 1 Grupo 2
CV 87,8 97,4
V 81,4 95,3
CCV 35,1 63,2
´CVCVCV 41,7 71,4
CV´CVCV 80,7 89,2
Observando-se os resultados obtidos para o grupo 1 e para o grupo 2, constata-se que o grupo
com as crianças mais velhas obteve percentagens de sucesso superiores para todas as estruturas
silábicas testadas. A percentagem de sucesso na segmentação do constituinte CCV foi a mais
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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baixa, para ambos os grupos, o que revela que a consciência silábica não se encontra estabilizada
antes da entrada para o 1º ciclo, pelo menos para todas as estruturas silábicas.
No sentido de se analisarem estes resultados mais aprofundadamente, foi necessário aplicar
coeficientes de correlação, salientando-se, nos quadros seguintes, os principais resultados face à
capacidade de segmentação e ao tempo de reacção da sílaba inicial e ao tempo de reacção da
palavra.
Quadro 60 – Resultados globais face à variável idade para os três formatos silábicos.
Coeficientes de correlação CV V CCV
Segmentações rs = 0,301, p≤0,01 rs = 0,186, p>0,05 rs = -0,158, p>0,05
Tempo de reacção – 1ª sílaba rs = -0,056, p>0,05 rs = -0,173, p>,05 rs = -0,266, p≤0,05
Tempo de reacção - palavra rs= -0,106, p >0,05 rs = -0,232, p≤0,05 Rs = -0,280, p≤0,01
Quadro 61 – Resultados globais face à variável idade para os dois padrões acentuais testados.
Coeficientes de correlação ´CVCVCV CV´CVCV
Segmentações rs = 0,245, p≤0,05 rs = 0,258, p≤0,05
Tempo de reacção – palavra rs= -0,242, p ≤0,05 rs = -0,212, p>0,05
Os resultados encontrados no presente estudo revelam que a idade influencia o sucesso na prova
de segmentação silábica, isto é, apesar de não se ter encontrado um coeficiente de correlação
muito elevado (rs = 0,234, p ≤ 0,05), o teste de correlação de Pearson permitiu observar que
quanto mais velhas são as crianças mais elevada é a percentagem de sucesso na prova de
segmentação silábica. Analisando-se estes dados de forma mais pormenorizada, verifica-se que a
idade apenas influenciou a segmentação dos estímulos dissilábicos com CV inicial (rs = 0,301, p
≤ 0,01), não se tendo observado esta mesma influência para os dissílabos com V inicial (rs =
0,186, p > 0,05) e com CCV inicial (rs = -0,158, p > 0,05).
De facto, analisando-se a distribuição dos erros efectuados tendo por base a idade, verifica-se
que os mesmos não podem ser correlacionados com esta variável extra-linguística, pois, para a
segmentação dos estímulos dissilábico com V inicial, observou-se que:
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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i) A estratégia inserção de segmento em posição inicial, como em ilha [i.i.], e
inserção de segmento em posição final de palavra, como em anjo [.u.u], era
efectuada, predominantemente, por crianças com cinco anos;
ii) A estratégia ausência de segmentação, como em olho [ou], era utilizada pelas crianças
mais novas, com quatro anos e seis meses;
iii) A estratégia inserção de segmento em posição medial de palavra, como em asa
[a.z.], era utilizada por crianças bastante mais velhas, com seis anos.
Importa referir, face às estratégias adoptadas na segmentação dos estímulos com V e com CV,
que geralmente foram as vogais [] e [u], marcadores de género, a ser inseridos, o que
demonstra que na segmentação silábica há outros níveis linguísticos a actuar, nomeadamente o
nível morfológico, o que mostra a necessidade de controlar outros aspectos gramaticais que não
apenas os fonológicos.
Quanto aos estímulos com CCV inicial, verificaram-se algumas diferenças face ao segmento que
ocupava a posição de C2, ou seja:
i) Quando os estímulos apresentavam o Ataque ramificado CV, as crianças com cinco
anos recorriam mais a estratégias como a epêntese de vogal, como em fruta [f.u.t];
ii) Quando os estímulos tinham o Ataque ramificado ClV, eram as crianças com cinco anos
e seis meses que utilizavam essa mesma estratégia.
Estes dados revelam a existência de sensibilidade às estruturas linguísticas e às suas
propriedades, o que reforça a necessidade de se controlarem estes aspectos na construção de
provas de consciência fonológica. Por outro lado, verifica-se que o constituinte Ataque
ramificado foi problemático para o processamento em tarefas de segmentação e que as crianças
com seis anos ainda não conseguem processar correctamente estímulos com Ataque ramificado
ClV. No entanto, o número reduzido de estímulos com este constituinte não permite confirmar
com precisão estes mesmos dados, sendo necessários mais estudos para a confirmação /
infirmação destes resultados.
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Relativamente aos trissílabos, observou-se que quanto mais velhas são as crianças maior é o
número de segmentações correctas, independentemente do padrão acentual dos mesmos:
trissílabos com ´CVCVCV (rs = 0,25, p ≤ 0,05) e trissílabos com CV´CVCV (rs = 0,26, p ≤
0,05). Estes dados reflectem, mais uma vez, a influência reduzida que o padrão acentual parece
ter sobre tarefas desta natureza.
Ao analisar-se o tempo de reacção, seria de esperar que existisse uma relação inversamente
proporcional entre o tempo de segmentação e a idade das crianças, ou seja, esperar-se-ia que
quanto mais velhas fossem as crianças menor seria o tempo utilizado na segmentação da sílaba
inicial e da palavra. No entanto, os resultados apenas confirmaram esta relação na segmentação
dos estímulos com Ataque ramificado CV (rs = -0,29, p ≤ 0,01) onde se observou que, quando
a idade cronológica das crianças aumenta, o tempo utilizado na segmentação da sílaba inicial
diminui, o que demonstra que as crianças de seis anos conseguem lidar melhor com este
constituinte do que as crianças com quatro anos. Nas restantes estruturas, CV, V e ClV, tal não
se verificou.
Desta forma, observando o paralelismo entre os resultados encontrados e o desenvolvimento
fonológico, verifica-se que CV está em conformidade com o desenvolvimento fonológico,
sendo uma estrutura adquirida mais tardiamente. Os formatos silábicos CV e V, também são
explicáveis tendo por base o desenvolvimento fonológico, verificando-se que não existe
progressão porque os valores, à partida, já são elevados e as incorrecções encontram-se
associadas apenas a problemas com o processamento do estímulo globalmente considerado. Os
resultados para o formato ClV ficam por explicar, não estando de acordo com o
desenvolvimento fonológico, sendo necessárias mais investigações neste domínio.
Observando-se o tempo de reacção utilizado na segmentação da palavra, verifica-se um maior
número de correlações entre as variáveis estudadas, isto é, os dados revelaram que quanto mais
velhas são as crianças menos tempo demoram a segmentar os dissílabos com Ataque vazio (rs =
-0,232, p ≤ 0,05) e com Ataque ramificado CV (rs = -0,307, p ≤ 0,01) e os trissílabos com
´CVCVCV (rs = -0,242, p ≤ 0,05). Desta forma, os dados revelam que quando as palavras
apresentam formatos silábicos não marcados (CV) e o padrão acentual não marcado (acento na
penúltima sílaba), as crianças comportam-se de forma semelhante, não existindo correlação com
a idade.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 136
Assim, os dados encontrados neste estudo não permitem confirmar a quarta hipótese colocada,
“quanto mais alta é a faixa etária das crianças, melhores os resultados obtidos na prova de
segmentação silábica”, na medida em que não se observou um sucesso crescente na prova de
segmentação, para todos os constituintes em análise, paralelo ao aumento da idade. A relação
entre a idade e o tempo de reacção também não foi confirmada, no entanto, os dados obtidos
parecem indicar que, para a estrutura CCV, as crianças mais velhas parecem lidar melhor com a
complexidade da mesma.
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Conclusão
Com o presente estudo, procurou-se compreender o comportamento das crianças observadas
numa tarefa de segmentação silábica, analisando-se este mesmo desempenho em função de três
variáveis prosódicas: complexidade silábica, extensão de palavra e acento de palavra.
Os dados encontrados permitiram verificar que as crianças testadas em idade pré-escolar têm
mais facilidade em segmentar palavras com o constituinte Ataque não ramificado em posição
inicial de palavra (CV e V), o que corrobora os dados descritos na literatura face à aquisição do
constituinte Ataque: o facto de as sílabas CV e V terem sido segmentadas com tempos
semelhantes confirma a natureza não marcada de ambas as estruturas para o Português Europeu
(Freitas, 1997a; Costa & Freitas, 1999). Note-se, no entanto, que V teve um comportamento
semelhante a CCV nas segmentações incorrectas, sendo necessário investigar as causas
subjacentes às segmentações incorrectas. As palavras com o constituinte Ataque ramificado na
sílaba inicial são descritas como mais complexas (Avila, 2000; Fikkert, 1994; Freitas, 1997a;
Lamprecht et al., 2004; Veloso, 2003) e, como tal, são mais problemáticas para as crianças, o
que se reflectiu no número de segmentações correctas bem como no tempo utilizado na
segmentação dos estímulos com este constituinte. No entanto, o facto de o Ataque ramificado
ClV ter demorado menos tempo a ser segmentado do que o Ataque ramificado CV não seria
previsível tendo em conta os dados de frequência (Vigário & Falé, 1993), sendo necessárias mais
investigações sobre o comportamento das crianças face a este constituinte, com o objectivo de se
poder verificar se se confirmam os resultados obtidos nesta dissertação.
Simultaneamente, observou-se, que os estímulos trissilábicos paroxítonos eram mais difíceis de
processar e demoravam mais tempo a ser segmentados do que os estímulos dissilábicos
paroxítonos. Tais resultados confirmam o predomínio do padrão dissilábico nas produções
infantis e no alvo descrito na literatura (Vigário & Falé, 1993; Vigário et al., 2004, 2006b). O
facto de as crianças terem comportamentos diferentes quando sujeitas a estímulos de extensão
diferente reforça a importância de os instrumentos de avaliação contemplarem esta variável.
Apesar de os trissílabos paroxítonos terem tido um maior número de segmentações correctas do
que os trissílabos proparoxítonos, o que confirma a natureza não marcada do padrão paroxítono
no Português Europeu (Mateus et al., 2006; Vigário et al., 2006b), esta dificuldade não se
reflectiu no tempo de segmentação, já que foi nos estímulos com o padrão paroxítono que o
tempo de reacção foi mais elevado, o que poderá estar relacionado com o peso reduzido que a
variável acento parece exercer em tarefas desta natureza. Desta forma, estes dados não puderam
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ser explicados, sendo necessário que investigações neste domínio sejam retomadas, no sentido de
se perceber o efeito desta variável em tarefas de segmentação silábica e da sua relação com os
tempos de reacção, decorrentes do processamento da palavra e dos vários aspectos linguísticos
nela contidos ou apenas do processamento do padrão acentual.
Quando se observou a influência da idade na segmentação dos estímulos utilizados, constatou-se
que, ao contrário do que seria de esperar, não eram as crianças mais velhas que tinham resultados
mais elevados em todos os formatos silábicos estudados, o que revela que não existe correlação
entre a capacidade de segmentação, especialmente de ClV, e a idade. No entanto essa relação
verifica-se no desenvolvimento fonológico. Estes resultados reforçam a necessidade de se
construírem instrumentos de avaliação controlados linguisticamente, que sejam testados com
uma amostra alargada, para que se possa obter, com fiabilidade, a hierarquização dos
comportamentos em cada faixa etária.
Na análise dos coeficientes de correlação verificou-se que não havia correlação entre a
capacidade de nomeação e a capacidade de segmentação, talvez porque ambas as estruturas
remetam para actividades cognitivas distintas.
Assim, apesar de se terem encontrado dados válidos e desencadeadores de investigação futura, os
mesmos não podem ser alargados para além da amostra estudada, sendo necessário, para tal, um
maior número de estímulos para todas as variáveis estudadas e um alargamento da amostra. Por
outro lado, a introdução de estímulos com uma vogal nasal nas palavras anjo, branco, brinco e
planta não foi controlada, apresentando todos os outros estímulos vogais orais na sílaba alvo. O
efeito da nasalidade fica, assim, por testar, podendo ter interferido na segmentação dos estímulos
apresentados. Uma outra limitação que pode ser referida, diz respeito à ausência de controlo de
C1 nas estruturas C1C2V, na medida em que esta posição foi ocupada por segmentos oclusivos e
fricativos e apenas se controlou o segmento que ocupava a posição de C2.Por fim, uma outra
limitação que pode ser referenciada é a ausência de gravação áudio na prova de segmentação
silábica, a qual limitou o confronto dos dados registados no programa informático com os dados
registados manualmente na folha de registo.
Esta investigação permitiu extrair dados sobre o constituinte Ataque, a extensão de palavra, o
acento de palavra e a sua relação com a medição dos tempos de reacção, os quais poderão ser
utilizados como base para a construção de futuros instrumentos de avaliação no domínio da
consciência fonológica. Seria igualmente relevante estudar o comportamento das crianças numa
prova de segmentação silábica, manipulando outros constituintes silábicos e a sua distribuição na
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palavra. Por fim, a variável acento de palavra deverá ser trabalhada para todos os padrões
acentuais existentes no Português Europeu, no sentido de proceder a uma descrição exaustiva do
seu efeito em tarefas de consciência silábica.
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Página 148
Apêndices
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 149
Apêndice I – Imagens modificadas
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Página 151
Apêndice II – As 42 imagens utilizadas na prova de segmentação
silábica
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Página 152
Estímulos dissilábicos com CV inicial
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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Estímulos dissilábicos com V inicial
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 154
Estímulos dissilábicos com CCV inicial
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Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 156
Estímulos trissilábicos com ´CVCVCV
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Página 157
Estímulos trissilábicos com CV´CVCV
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Apêndice III – Documento relativo ao pedido de autorização da
recolha de dados
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Natureza do Projecto Mestrado em Patologia da Linguagem
Título do Projecto Complexidade silábica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
Investigadora Catarina Maria de Carvalho Afonso
Instituição de Ensino Escola Superior de Saúde do Alcoitão e a Universidade Católica Portuguesa
Orientador Professora Dra. Maria João Freitas
Co-orientador Dra. Dina Alves
Descrição da Investigação
1 – Objectivos
• Testar o efeito das variáveis “complexidade silábica” e “idade”, em tarefas de evocação;
• Verificar a correlação existente entre a “complexidade silábica” e o “tempo de reacção”
inerente à concretização das referidas tarefas.
2 – Instrumento de recolha de dados
Para a concretização desta investigação recorrer-se-á a um conjunto de imagens, elaboradas para
o efeito, que serão apresentadas em suporte digital.
As imagens aparecerão individualmente no ecrã do computador, para a criança nomear.
Seguidamente esta deverá carregar numa tecla, devidamente assinalada, o número de vezes
correspondente ao número de sílabas de cada palavra. A metodologia adoptada permitirá o
registo de cada segmentação, bem como do tempo que a criança leva a efectuar cada uma delas.
3 – Procedimento inerente à realização da investigação
O instrumento previamente referido deverá ser aplicado individualmente e terá uma duração
aproximada de 20 minutos. Dada a faixa etária da presente investigação se situar entre os 4 anos
e os 6 anos, solicitar-se-á apenas os dados pessoais relativos à data de nascimento de cada
criança.
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Desta forma, venho por este meio pedir autorização para testar as crianças com a referida faixa
etária, que frequentem o externato que vossa excelência dirige.
Com os melhores cumprimentos e grata pela disponibilidade dispensada,
Lisboa, 16 de Maio de 2007
_____________________
(a investigadora)
Autorizo que a investigação intitulada “Complexidade silábica e segmentação de palavras
em crianças entre os 4 e os 6 anos” se realize no Externato das Pedralvas.
Não Autorizo que a investigação intitulada “Complexidade silábica e segmentação de
palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos” se realize no Externato das Pedralvas.
__________________
(a Directora)
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Apêndice IV – Documento de autorização assinado
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Apêndice V – Folha de registo da prova de nomeação e de
segmentação
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Dados de identificação da criança
Sexo: Feminino _____ Masculino _____
Data de Nascimento: _____ / _____ / _____ Idade: _____ anos e _____ meses
Número da avaliação: __________
Data da avaliação (nomeação): _____ / _____ / _____
Data da avaliação (segmentação silábica): _____ / _____ / ______
Palavras Nomeação Espontânea
Nomeação Após estímulo
Nomeação após repetição Segmentação
Olho
Asa
Uva
Unha
Anjo
Osso
Ovo
Ilha
Pato
Carro
Bola
Dedo
Gato
Faca
Vela
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Luva
Prato
Fruta
Bruxa
Braço
Branco
Preto
Prego
Brinco
Flauta
Planta
Flores
Chávena
Pássaro
Pêssego
Lâmpada
Médico
Números
Página
Banana
Bolacha
Borracha
Cavalo
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Gelado
Sapato
Garrafa
Casaco
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Apêndice VI – Imagens utilizadas como exemplo na prova de
segmentação silábica
Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos
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