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Instituto de Ciências da Saúde Universidade Católica Portuguesa Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos de idade Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de mestre em Terapia da Fala Por Catarina Maria de Carvalho Afonso Orientada pela Professora Doutora Maria João Freitas Co-orientada pela Doutora Dina Caetano Alves Escola Superior de Saúde do Alcoitão Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

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Instituto de Ciências da Saúde Universidade Católica Portuguesa

Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças

entre os 4 e os 6 anos de idade Dissertação apresentada à Universidade Católica Portuguesa para obtenção do grau de

mestre em Terapia da Fala

Por

Catarina Maria de Carvalho Afonso Orientada pela Professora Doutora Maria João Freitas

Co-orientada pela Doutora Dina Caetano Alves

Escola Superior de Saúde do Alcoitão Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

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Índice

Índice de Quadros 4

Índice de Gráficos 7

Índice de Figuras 9

Agradecimentos 10

Resumo 11

Abstract 12

Introdução 13

1. Enquadramento Teórico 15

1.1. Propriedades fonológicas do Português Europeu 15 1.1.1. Complexidade silábica 15 1.1.2. Extensão de palavra 22 1.1.3. Acento de palavra 22

1.2. Consciência fonológica 24 1.3. Desenvolvimento fonológico 28

1.3.1. Aquisição do constituinte Ataque 28 1.3.2. Extensão de palavra 35 1.3.3. Acento de palavra 36

1.4. Identificação de processos cognitivos: tempos de reacção 37

2. Metodologia 44

2.1. Questão orientadora e hipóteses 44 2.2. Caracterização da amostra 46 2.3. Material e métodos 47 2.4. Procedimentos 57 2.5. Tratamento dos dados 59

3. Descrição dos Resultados 61

3.1. Comportamento da amostra face à tarefa de segmentação silábica das 42 palavras 61 3.2. Análise estatística das segmentações dos dissílabos e dos trissílabos 62

3.2.1. Dissílabos com estrutura CV (Ataque simples) em posição inicial 64

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3.2.2. Dissílabos com estrutura V (Ataque vazio) em posição inicial 67 3.2.3. Dissílabos com estrutura CCV (Ataque ramificado) em posição inicial 70 3.2.4. Trissílabos 77 3.2.5. Sumário 84

3.3. Análise do tempo de reacção: segmentações correctas 86 3.3.1. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CV inicial 86 3.3.2. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com V inicial 87 3.3.3. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CCV inicial 89 3.3.4. Tempo de segmentação em função do acento de palavra 90 3.3.5. Sumário 92

3.4. Análise do tempo de reacção: segmentações incorrectas 94 3.4.1. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CV inicial 94 3.4.2. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com V inicial 96 3.4.3. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CCV inicial 97 3.4.4. Tempo de segmentação em função do acento de palavra 98 3.4.5. Sumário 100

3.5. Comparação entre grupos por desempenho na prova de segmentação 102 3.5.1. Estímulos dissilábicos com CV inicial 102 3.5.2. Estímulos dissilábicos com V inicial 103 3.5.3. Estímulos dissilábicos com CCV inicial 104 3.5.4. Estímulos trissilábicos 107 3.5.5. Sumário 110

3.6. Correlações entre variáveis 111 3.6.1. Idade versus capacidade de segmentação correcta 111 3.6.2. Idade versus tempo de segmentação da sílaba inicial 112 3.6.3. Idade versus tempo de segmentação da palavra 113 3.6.4. Capacidade de segmentação correcta versus capacidade de nomeação 114 3.6.5. Sumário 114

3.7. Sumário final 115

4. Discussão dos Resultados 124

Conclusão 137

Referências Bibliográficas 140

Apêndices 148

Apêndice I – Imagens modificadas 149 Apêndice II – As 42 imagens utilizadas na prova de segmentação silábica 151 Apêndice III – Documento relativo ao pedido de autorização da recolha de dados 158 Apêndice IV – Documento de autorização assinado 161 Apêndice V – Folha de registo da prova de nomeação e de segmentação 164

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Apêndice VI – Imagens utilizadas como exemplo na prova de segmentação silábica 168

 

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Índice de Quadros

Quadro 1 – Ataques simples em Português Europeu, segundo Mateus e Andrade (2000). 17 

Quadro 2 – Ataques vazios em Português Europeu (exemplos de Freitas & Santos, 2001). 18 

Quadro 3 – Valores absolutos da combinatória oclusiva + líquida segundo Vigário e Falé (1993). 20 

Quadro 4 – Valores absolutos da combinatória fricativa + líquida segundo Vigário e Falé (1993). 20 

Quadro 5 – Ataques ramificados (combinatória obstruinte + vibrante, segundo Mateus & Andrade, 2000). 21 

Quadro 6 – Ataques ramificados (combinatória obstruinte + lateral, segundo Mateus & Andrade, 2000). 21 

Quadro 7 – Frequência de palavras segundo Vigário et al. (2004). 22 

Quadro 8 – Posição do acento na palavra e percentagem de ocorrência (Vigário et al., 2006b). 23 

Quadro 9 – Compilação de tarefas e capacidades testadas para avaliação de conhecimento e de consciência

fonológica (Alves et al., em preparação). 26 

Quadro 10 – Segmentos que podem preencher o Ataque simples. 29 

Quadro 11 – Percentagem de palavras em função do seu número de sílabas (Vigário et al., 2006a). 36 

Quadro 12 – Estatística descritiva da variável idade. 46 

Quadro 13 – Agrupamento da amostra com base na faixa etária. 47 

Quadro 14 – Estímulos dissilábicos utilizados. 48 

Quadro 15 – Estímulos trissilábicos utilizados. 49 

Quadro 16 – Percentagem de sucesso na nomeação de dissílabos com CV inicial. 50 

Quadro 17 – Percentagem de sucesso na nomeação de dissílabos com V inicial. 51 

Quadro 18 – Percentagem de sucesso na nomeação de dissílabos com CCV inicial. 51 

Quadro 19 – Percentagem de sucesso na nomeação de trissílabos proparoxítonos. 52 

Quadro 20 – Percentagem de sucesso na nomeação de trissílabos paroxítonos. 53 

Quadro 21 – Distribuição da amostra pelos dois subgrupos. 61 

Quadro 22 – Frequências e percentagens de sucesso na tarefa de segmentação silábica. 62 

Quadro 23 – Estatística descritiva da segmentação total das palavras (mínimo, máximo, média e desvio padrão). 62 

Quadro 24 – Frequência e percentagem de palavras dissilábicas com CV inicial segmentadas correctamente. 65 

Quadro 25 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com CV inicial. 66 

Quadro 26 – Frequência e percentagem de palavras dissilábicas com V inicial segmentadas correctamente. 68 

Quadro 27 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com V inicial. 69 

Quadro 28 – Frequência e percentagem de palavras dissilábicas com CV inicial segmentadas correctamente. 72 

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Quadro 29 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com CV inicial. 74 

Quadro 30 – Frequência e percentagem de palavras dissilábica com ClV inicial segmentadas correctamente. 75 

Quadro 31 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com ClV inicial. 77 

Quadro 32 – Frequência e percentagem de palavras trissilábicas proparoxítonas segmentadas correctamente. 79 

Quadro 33 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de trissílabos proparoxítonos. 81 

Quadro 34 – Frequência e percentagem de palavras trissilábicas paroxítonas segmentadas correctamente. 82 

Quadro 35 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de trissílabos paroxítonos. 83 

Quadro 36 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com CV inicial. 103 

Quadro 37 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com CV inicial. 103 

Quadro 38 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com V inicial. 104 

Quadro 39 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com V inicial. 104 

Quadro 40 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com CCV inicial. 105 

Quadro 41 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com CCV inicial. 105 

Quadro 42 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com CV inicial. 106 

Quadro 43 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com CV inicial. 106 

Quadro 44 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com ClV inicial. 106 

Quadro 45 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com ClV inicial. 107 

Quadro 46 – Teste de Mann-Whitney (U) para os trissílabos. 107 

Quadro 47 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos. 108 

Quadro 48 – Teste de Mann-Whitney (U) para os trissílabos proparoxítonos. 108 

Quadro 49 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos proparoxítonos. 109 

Quadro 50 – Teste de Mann-Whitney (U) para os trissílabos paroxítonos. 109 

Quadro 51 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos paroxítonos. 110 

Quadro 52 – Coeficiente de correlação de Pearson para as variáveis idade e capacidade de segmentação. 112 

Quadro 53 – Coeficiente de correlação de Pearson para as variáveis idade e tempo de segmentação da sílaba

inicial dos estímulos com CV inicial. 113 

Quadro 54 – Coeficiente de correlação de Pearson para as variáveis idade e tempo de segmentação da palavra. 113 

Quadro 55 – Resultados globais face à variável complexidade silábica. 125 

Quadro 56 – Percentagem das extensões de palavra no adulto e na criança. 128 

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Quadro 57 – Resultados globais face à variável extensão de palavra. 129 

Quadro 58 – Resultados globais face à variável acento de palavra. 130 

Quadro 59 – Percentagens de sucesso para todas as estruturas em análise. 132 

Quadro 60 – Resultados globais face à variável idade para os três formatos silábicos. 133 

Quadro 61 – Resultados globais face à variável idade para os dois padrões acentuais testados. 133 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Índice de Gráficos

Gráfico 1 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com CV em posição inicial. 65 

Gráfico 2 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com V inicial. 67 

Gráfico 3 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com CCV inicial. 71 

Gráfico 4 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com CV inicial. 71 

Gráfico 5 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com ClV inicial. 75 

Gráfico 6 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos trissilábicos. 78 

Gráfico 7 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos trissilábicos proparoxítonos. 79 

Gráfico 8 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos trissilábicos paroxítonos. 82 

Gráfico 9 – Tempo médio das segmentações correctas da sílaba inicial dos dissílabos com CV inicial. 86 

Gráfico 10 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos dissílabos com CV inicial. 87 

Gráfico 11 – Tempo médio das segmentações correctas da sílaba inicial dos dissílabos com V inicial. 88 

Gráfico 12 – Tempo médio das segmentações correctas dos dissílabos com V inicial. 88 

Gráfico 13 – Tempo médio das segmentações correctas da sílaba inicial dos dissílabos com CCV inicial. 89 

Gráfico 14 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos dissílabos com CCV inicial. 90 

Gráfico 15 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos trissílabos proparoxítonos. 91 

Gráfico 16 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos trissílabos paroxítonos. 91 

Gráfico 17 – Tempo médio das segmentações incorrectas da sílaba inicial dos dissílabos com CV inicial. 95 

Gráfico 18 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos dissílabos com CV inicial. 95 

Gráfico 19 – Tempo médio das segmentações incorrectas da sílaba inicial dos dissílabos com V inicial. 96 

Gráfico 20 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos dissílabos com V inicial. 96 

Gráfico 21 – Tempo médio das segmentações incorrectas da sílaba inicial dos dissílabos com CCV inicial. 97 

Gráfico 22 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos dissílabos com CCV inicial. 98 

Gráfico 23 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos trissílabos proparoxítonos. 99 

Gráfico 24 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos trissílabos paroxítonos. 99 

Gráfico 25 – Percentagem de segmentações correctas e incorrectas para os dissílabos. 116 

Gráfico 26 – Tempo de segmentação da sílaba inicial para os dissílabos (segmentações correctas e incorrectas). 117 

Gráfico 27 – Tempo de segmentação total das palavras dissilábicas (segmentações correctas e incorrectas). 118 

Gráfico 28 – Comparação das frequências do número de segmentações correctas para os dissílabos, nos dois

grupos. 118 

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Gráfico 29 – Percentagem de segmentações correctas e incorrectas para os dissílabos e trissílabos. 120 

Gráfico 30 – Tempo de segmentação das palavras dissilábicas e trissilábicas (segmentações correctas e

incorrectas). 120 

Gráfico 31 – Comparação das frequências dos dois grupos para os dissílabos e trissílabos. 121 

Gráfico 32 – Percentagem de segmentações correctas e incorrectas para as palavras trissilábicas. 121 

Gráfico 33 – Tempo de segmentação das palavras trissilábicas proparoxítonas e paroxítonas. 122 

Gráfico 34 – Comparação das frequências dos dois grupos para os trissílabos paroxítonos e proparoxítonos. 123 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Índice de Figuras

Figura 1 – Esquema da organização interna da sílaba pá 16 

Figura 2 – Representação do Ataque simples na palavra pés. 16 

Figura 3 – Representação do Ataque vazio na palavra ovo. 18 

Figura 4 – Representação do Ataque ramificado na palavra braço. 19 

 

 

 

 

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   Página 10     

Agradecimentos

Em primeiro lugar, tenho que agradecer à Professora Doutora Maria João Freitas, orientadora

deste trabalho, pelas inúmeras horas que passou comigo a discutir a elaboração do mesmo, por

todas as experiências que me proporcionou, as quais resultaram num crescimento profissional e

pessoal, e pela dedicação que teve para com este projecto, desde o seu início. Tenho que

agradecer à Doutora Dina Alves, co-orientadora desta tese, pelas horas que passámos a

identificar os critérios a utilizar, bem como a programar o instrumento de recolha de dados, de

forma a avaliarmos especificamente aquilo que queríamos avaliar. Não me poderia esquecer do

Doutor Rui Costa pelas longas horas que passámos a conversar, na tentativa de elaborar um

instrumento de recolha de dados e pela sua disponibilidade, mesmo quando o tempo não era

muito. Agradeço ainda à Professora Doutora Maria Emília Santos pela rapidez com que me

esclareceu todas as dúvidas.

Não posso deixar de agradecer à designer gráfica Ana Afonso, pelo tempo dispensado na

execução dos estímulos gráficos e pela paciência na modificação dos mesmos, sempre num curto

espaço de tempo.

Agradeço à Directora Celeste do Externato das Pedralvas, pela confiança no trabalho proposto e

por ter aceitado participar neste estudo. No seguimento, tenho que agradecer a todas as crianças e

educadoras que animadamente participaram na recolha dos dados.

Por fim, agradeço a todos aqueles que me ajudaram, das mais diversas formas, na realização

deste processo e que tiveram paciência para os meus dias de desespero.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Resumo

O objectivo deste estudo é o de testar o papel da complexidade prosódica na segmentação

silábica, manipulando-se três variáveis: complexidade silábica; extensão de palavra e acento de

palavra. Para o efeito, observaram-se 80 crianças portuguesas com uma média de idade de 64

meses, submetidas a uma tarefa de segmentação de 27 palavras dissilábicas paroxítonas com V,

CV e CCV iniciais e de 17 palavras trissilábicas, 7 proparoxítonas e 8 paroxítonas. O sucesso na

prova foi avaliado em função do número e do tempo de reacção para as segmentações silábicas,

tendo-se usado, para o efeito, o programa E-prime. A análise estatística foi feita através do

programa SPSS (11.5).

Quanto à variável complexidade silábica, os dados mostram que as crianças segmentam melhor

palavras com CV inicial (93%) do que com V inicial (89,9%), não se tendo verificado diferenças

significativas entres os dois formatos silábicos, o que confirma a natureza não marcada de ambas

as estruturas. Para o formato ramificado, a combinatória obstruinte + lateral é mais problemática

(16,8%) do que a combinatória obstruinte + vibrante (48,3%). Os tempos de reacção mostram

que sílabas com V inicial demoram menos tempo a ser segmentadas (1740 ms.) do que sílabas

com CV inicial (1790 ms.) e sílabas com CCV inicial (2045 ms.). No que diz respeito à variável

extensão de palavra, as palavras dissilábicas apresentam valores de sucesso mais elevados e

tempos de reacção mais baixos do que as palavras trissilábicas, o que corrobora os achados na

literatura. Para a variável acento de palavra, os trissílabos paroxítonos têm percentagens de

sucesso e tempos de segmentação mais elevados do que os proparoxítonos.

Finalmente, e tendo em conta a variável idade, as crianças mais velhas obtêm resultados

superiores na segmentação de estímulos com V e CV iniciais; nos estímulos dissilábicos com

CCV inicial, não se verifica o efeito da variável idade. Os resultados revelam o efeito das

variáveis complexidade silábica e extensão de palavra na tarefa de segmentação silábica,

confirmando as hipóteses iniciais; as variáveis acento de palavra e idade não confirmam as

hipóteses iniciais. Os resultados obtidos a partir da tarefa de consciência fonológica usada neste

estudo permitem identificar um paralelismo entre as estruturas CV e CCV no desenvolvimento

fonológico (Fikkert, 1994; Freitas, 2001; Lamprecht, et al., 2004; Ribas, Bonilha & Lamprecht,

2003) e no desempenho de tarefas de segmentação, não se tendo verificado o mesmo para a

estrutura V (Freitas, 1997a).

Palavras-chave: consciência fonológica; segmentação silábica; complexidade silábica; extensão

de palavra; acento de palavra.

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Abstract

The purpose of this study is to test the role of the prosodic complexity in syllabic segmentation,

by manipulating three variables: syllabic complexity, word length and word stress. To perform

this study, 80 Portuguese children with a mean age of 64 months old were submitted to a

segmentation task of 27 dissyllabic words with penultimate stress and initial CV, V and CCV,

and 17 trissyllabic words, 7 with antepenultimate stress and 8 with antepenultimate stress. The

success of the task was evaluated through the number and the reaction time for syllabic

segmentation, using the E-prime software. The statistic analysis was performed under the SPSS

(11.5) software.

As for the syllabic complexity variable, the results show that children are better at segmenting

initial CV words (93%) than initial V words (89,9%), no significative difference being found

between the two syllabic shapes, which confirms the unmarked pattern of both structures. For the

branching Onset format, the obstruent + lateral (16,8%) sequence is more complex than the

obstruent + flap sequence (48,3% ). The reaction time results show that stimuli with an initial V

take less time to be segmented (1740 ms.) than those with an initial CV (1790 ms.) and initial

CCV (2045 ms.). As for the word length variable, the dissyllabic words present higher success

values and lower reaction times than the trissyllabic words, which corroborate the findings in the

literature. For the word stress variable, the trissyllabic words with penultimate stress exhibit

higher segmentation rates and higher segmentation times than the trissyllabic words with

antepenultimate stress.

Finally, and considering the age variable, older children obtain higher results when segmenting

initial V and CV stimuli; the age variable effect is not seen in the initial CCV dissyllabic words

stimuli. The results reveal the effect of syllabic complexity and word length, confirming the

initial hypotheses; word stress and age do not confirm the initial hypotheses. The results

gathered from this phonological awareness task allow the identification of a parallelism between

the CV and CCV structures in phonological development (Fikkert, 1994; Freitas, 2001;

Lamprecht, et al., 2004; Ribas, Bonilha & Lamprecht, 2003) and in the performance of

segmentation tasks; the same is not true for the V structure (Freitas, 1997a).

Key-words: phonological awareness; syllabic segmentation; syllabic complexity; word length;

word stress.

 

 

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Introdução

Esta investigação insere-se no âmbito dos trabalhos sobre a consciência fonológica, abordando a

temática da consciência silábica, mais especificamente, a capacidade de crianças portuguesas,

com idades compreendidas entre os quatro anos e dois meses e os seis anos e cinco meses,

segmentarem palavras da sua língua. Tendo em conta a importância do controlo de variáveis

linguísticas na construção de estímulos para a avaliação da consciência fonológica, foram

estudadas as seguintes variáveis prosódicas:

i) Complexidade silábica, tendo-se manipulado a estrutura do Ataque na sílaba inicial da

palavra;

ii) Extensão de palavra, tendo-se utilizado estímulos dissilábicos e trissilábicos;

iii) Acento de palavra, tendo sido trabalhados os padrões acentuais paroxítono e

proparoxítono.

A selecção desta temática surgiu da necessidade de se estudar e de se criar estímulos que

contribuíssem para a avaliação da consciência fonológica em crianças portuguesas. Pretendeu-se,

igualmente, testar o efeito das variáveis complexidade silábica, extensão de palavra e acento de

palavra na relação com a variável idade, no desempenho de tarefas de evocação. No domínio da

Terapia da Fala, esta investigação é relevante no sentido de possibilitar, a posteriori, a

construção de avaliações que meçam a capacidade de segmentação silábica e que contemplem as

variáveis prosódicas testadas. Tendo em conta a escassez de estudos para o Português Europeu

que controlem as variáveis prosódicas supramencionadas, pretende-se inicialmente, com esta

investigação, contribuir com evidência empírica sobre o estudo do processamento destes

aspectos.

Os indicadores, neste estudo, são o número de segmentações na tarefa proposta e os tempos de

reacção associados ao processamento de cada estímulo, na concretização da tarefa de

segmentação efectuada no domínio da palavra. A medição de tempos de reacção tem sido uma

metodologia de utilização crescente no domínio da linguística e da psicolinguística, sendo uma

variável relevante por ter sido identificada correlação entre a dificuldade de processamento dos

estímulos e o tempo de resposta apresentado (Posner, 2005).

Esta investigação encontra-se organizada em quatro capítulos centrais. No capítulo um,

apresenta-se um breve enquadramento teórico relativamente às variáveis manipuladas neste

estudo. Foi adoptado o modelo “Ataque-Rima” de Selkirk (1984, citado por Mateus & Andrade,

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2000) para a descrição da sílaba e dos seus constituintes. Por outro lado, dado terem sido

introduzidos estímulos com diferentes extensões, descrever-se-ão as extensões mais frequentes

no Português Europeu, tendo por base alguns estudos de frequência para essa mesma língua.

Ainda no domínio das propriedades prosódicas estudadas, e tendo em consideração que se

manipulou o padrão acentual das palavras trissilábicas, descrever-se-á sumariamente o acento de

palavra em Português Europeu, especificamente da classe nominal (Mateus et al., 2006). Neste

capítulo, apresentar-se-á ainda uma secção sobre o conceito de consciência fonológica,

abordando-se de forma mais pormenorizada o domínio da consciência silábica, no que se refere

às provas mais utilizadas e aos estudos realizados a nível nacional e internacional, os quais têm

demonstrado que as crianças em idade pré-escolar apresentam bons desempenhos em provas de

segmentação silábica (Burt, Holm & Dodd, 1999; Capovilla, Dias & Montiel, 2007; Gindri,

2006; Silva, 2003; Sim-Sim, 2001; Veloso, 2003). Será, ainda, descrito o desenvolvimento

fonológico no que se refere às três variáveis em estudo: complexidade silábica, extensão de

palavra e acento de palavra. Por fim, caracterizar-se-á a metodologia utilizada nesta

investigação, reflectindo-se sobre o uso de medidas cronométricas para a avaliação do

processamento linguístico, sumariando-se as principais tarefas que recorrem a esta metodologia.

Estudos recentes têm descrito a importância desta metodologia e têm salientado que o tempo de

processamento está directamente relacionado com a complexidade dos estímulos (Rayner &

Clifton, 2002).

No segundo capítulo, apresenta-se a questão geral que esteve na origem desta investigação, bem

como as quatro hipóteses colocadas. A metodologia adoptada, com informações sobre a amostra

utilizada, o material e os métodos adoptados, os procedimentos aplicados e a forma como os

dados foram tratados estatisticamente também serão descritos neste capítulo.

No terceiro capítulo apresentar-se-ão os principais resultados fornecidos pela análise estatística

ao nível do sucesso na prova de segmentação silábica, do tempo de reacção utilizado, da

comparação entre grupos e das correlações existentes entre as variáveis testadas, subdividindo-se

em função das variáveis consideradas.

A discussão dos resultados será realizada no quarto capítulo, onde se confrontam os resultados

obtidos nesta investigação com as hipóteses formuladas e com os estudos referidos no capítulo

um. Por fim, na conclusão salientar-se-ão os principais resultados obtidos, as limitações

encontradas no decorrer da investigação e a necessidade de mais investigações em determinados

domínios.

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1. Enquadramento Teórico

Tendo em consideração o objectivo central desta investigação, a revisão da literatura neste

capítulo centrar-se-á em quatro pontos distintos: i) propriedades silábicas no Português Europeu

(secção 1.1.); ii) definição do conceito de consciência fonológica e, especificamente, de

consciência silábica (secção 1.2.); iii) caracterização do desenvolvimento fonológico

relativamente ao constituinte Ataque, à extensão de palavra e ao acento de palavra (secção 1.3.);

iv) tempos de reacção como acesso de informação relativa ao processamento linguístico (secção

1.4.).

1.1. Propriedades fonológicas do Português Europeu

Nesta secção, caracterizar-se-á, sumariamente, o funcionamento fonológico do Português

Europeu relativamente a três aspectos: estrutura silábica, extensão de palavra e acento de

palavra.

1.1.1. Complexidade silábica

A sílaba é uma unidade fonológica que integra o conhecimento fonológico e, segundo diversos

autores, a sua natureza intuitiva constitui uma “evidência fundamental para a demonstração da

sua presença a nível do conhecimento fonológico dos sujeitos e, como tal, para a defesa do seu

estatuto linguístico e fonológico” (Veloso, 2003, p. 83).

A sílaba é considerada uma unidade linguística hierarquicamente organizada e na qual os

constituintes silábicos terminais estão associados a material segmental (Mateus, 1994; Mateus &

Andrade, 2000). Bernhardt e Stemberger (1998) referem o facto de as crianças nativas de uma

língua geralmente conseguirem dizer por quantas sílabas é formada uma palavra e quais as

fronteiras silábicas da mesma, apesar de algumas tarefas de silabificação poderem apresentar

alguns problemas. Desta forma, para muitos autores, a sílaba resulta de uma construção

perceptiva, criada pelo próprio ouvinte, que apresenta propriedades linguísticas específicas

(Mateus et al., 2006).

No modelo adoptado para a descrição do Português Europeu, a sílaba é vista como um objecto

multidimensional com uma organização hierárquica interna: o Ataque e a Rima, dominando, este

último, o Núcleo e a Coda (Bernhardt & Stemberger, 1998; Blevins, 1995). Cada constituinte

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terminal está associado a uma ou duas posições no esqueleto, as quais se associam a unidades

segmentais como se pode observar na figura seguinte, a qual representa o modelo de “Ataque-

Rima”, proposto em Selkirk (1984, citado por Mateus, 1994; Mateus & Andrade, 2000).

Figura 1 – Esquema da organização interna da sílaba pá

Os constituintes silábicos podem estar ou não preenchidos e, no caso de o estarem, podem ser

ramificados ou não ramificados. Tendo em consideração que esta investigação se centra no

domínio do Ataque, neste capitulo apenas se descreverá este constituinte silábico1. Este

constituinte pode surgir em três formatos distintos: a) Ataque não ramificado preenchido (Ataque

simples); b) Ataque não ramificado vazio (Ataque vazio); c) Ataque ramificado ou complexo.

a) Ataque simples

O constituinte Ataque simples está associado a uma posição no esqueleto, sendo constituído por

um único segmento (Figura 2).

Figura 2 – Representação do Ataque simples na palavra pés.

                                                            1 Para mais informações sobre a sílaba e seus constituintes no Português Europeu, consulte-se Freitas e Santos (2001); Mateus (1994); Mateus e Andrade (2000); Mateus, Falé e Freitas (2005); entre outras.

σ Nível da sílaba

Ataque Rima Nível da Rima

X X Nível do esqueleto

[p a] Nível dos segmentos

σ

Ataque Rima

           Núcleo Coda

X X X

[p ]

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Todas as consoantes do inventário segmental do Português Europeu podem ocorrer em Ataque

simples inicial e em Ataque simples medial, na palavra, apesar de o segmento [] não ocorrer em

início de palavra e os segmentos [] e [] serem raros neste contexto. No quadro que se segue,

listam-se exemplos de palavras com os segmentos que podem ocupar esta posição silábica

(Quadro 1).

Quadro 1 – Ataques simples em Português Europeu, segundo Mateus e Andrade (2000).

Segmentos Posição inicial de palavra Segmentos Posição medial de palavra

[p] pala – [pa.l] [p] ripa – [i.p]

[t] tom – [to] [t] lato – [la.tu]

[k] calo – [ka.lu] [k] vaca – [va.k]

[f] fala – [fa.l] [f] estafa – [ta.f]

[s] selo – [se.lu] [s] caça – [ka.s]

[] chá – [a] [] acha – [a.]

[b] bala – [ba.l] [b] riba – [i.b]

[d] dom – [do] [d] lado – [la.du]

[] galo – [a.lu] [] vaga – [va.]

[v] vala – [va.l] [v] estava – [ta.v]

[z] zelo – [ze.lu] [z] casa – [ka.z]

[] já – [a] [] haja – [a.]

[m] mata – [ma.t] [m] gama – [.m]

[n] nata – [na.t] [n] gana – [.n]

[] sanha – [s.]

[l] lato – [la.tu] [l] mala – [ma.l]

[] lhano2 – [.nu] [] malha – [ma]

[] rato – [a.tu] [] carro – [ka.u]

[] caro – [ka.u]

                                                            2 Trata-se da única palavra existente no Português Europeu com o segmento [] em posição inicial de palavra.

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b) Ataque vazio

Em Português Europeu, é possível que o constituinte Ataque não se encontre associado a

material segmental, podendo ocorrer em posição inicial e medial de palavra, e sendo designado

como Ataque vazio. Na figura seguinte, apresenta-se a representação desta estrutura.

Figura 3 – Representação do Ataque vazio na palavra ovo.

A título ilustrativo apresenta-se, de seguida, um quadro com uma listagem de palavras

exemplificativas deste formato (Quadro 2).

Quadro 2 – Ataques vazios em Português Europeu (exemplos de Freitas & Santos, 2001).

Posição inicial de palavra Posição medial de palavra

abóbora – [ _.b.bu.] dia – [di._ ]

água – [ _a.] lua – [lu._ ]

égua – [ _..] seara – [si. _a.]

orvalho –[ _.va.u] coelho – [ku. _.u]

uvas – [ _u.v] pradaria – [p.d.i. _]

Trabalhos sobre o Português Europeu têm apresentado alguns dados quantitativos relativos às

diferentes estruturas silábicas anteriormente descritas. Em 1993, Andrade e Viana efectuaram um

estudo sobre os padrões silábicos mais frequentes nas produções verbais, tendo verificado que

52,39% das produções eram do tipo CV e que 17,32 % eram do tipo V, sendo estes os dois

padrões mais frequentes neste sistema linguístico.

Vigário e Falé (1993) utilizaram um corpus resultante de entrevistas efectuadas a 1400 falantes,

tendo constatado que, mais uma vez, o tipo CV surge em 52,8% da totalidade do corpus das

σ

Ataque Rima

Núcleo

X X

[∅ o .vu]

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palavras polissilábicas. Relativamente à posição na palavra, no que se refere à estrutura CV, esta

ocorre predominantemente em posição medial de palavra, seguida da posição inicial de palavra

e, por fim, da posição final de palavra. O formato V foi apenas identificado em 7,4% das

produções verbais. Relativamente às palavras monossilábicas, os autores observaram que a

estrutura CV era a mais frequente, ocorrendo em 19,3% das situações.

Resultados semelhantes são descritos por Viana et al. (1996, citado por Vigário et al., 2006a),

onde se observou que 55% das ocorrências silábicas são do tipo CV, seguidas de estruturas V,

em 15,5% das produções. Vigário, Martins e Frota (2006b), num total de 41889 sílabas extraídas,

observaram que 46,4% das estruturas eram do tipo CV e que o segundo padrão mais frequente

era o V, aparecendo em 15,8% das situações.

c) Ataque ramificado

O Ataque ramificado encontra-se associado a duas consoantes (Figura 4), podendo surgir em

posição inicial ou medial de palavra (a consoante à esquerda é designada como C1; a consoante à

direita é designada como C2).

No Português Europeu, assim como noutras línguas, as combinatórias de segmentos em Ataque

ramificado seguem princípios universais de organização silábica3: as sequências mais frequentes

no domínio deste constituinte silábico são as combinatórias obstruinte (oclusiva ou fricativa)

seguida por uma líquida (lateral ou vibrante).

Segundo Mateus e Andrade (2000), a combinatória oclusiva + líquida é a mais frequente; as

combinações que contêm o segmento lateral [l] em posição de C2 são muito menos frequentes

                                                            3 Para mais informações sobre o assunto, consulte-se Andrade e Viana (1993); Freitas e Santos (2001); Mateus (1994); Mateus e Andrade (2000); Mateus et al. (2005); Vigário e Falé (1993).

Figura 4 – Representação do Ataque ramificado na palavra braço.

σ

Ataque Rima

Núcleo

X X X

[b a .su]

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do que aquelas que contêm o segmento vibrante [] nessa mesma posição. Vejam-se os valores

de referência (Quadros 3 e 4) para o Português Europeu, referidos por Vigário e Falé (1993).

Quadro 3 – Valores absolutos da combinatória oclusiva + líquida segundo Vigário e Falé (1993).

Oclusiva + Vibrante Oclusiva + Lateral

Posição inicial

Posição medial

Posição final Posição

inicial Posição medial

Posição final

p 98 50 10 pl 2 7 2

t 39 35 44 tl

k 11 10 2 kl 8 2 1

b 10 8 21 bl 6

d 2 6 dl

9 15 2 l 2 1

TOTAL 167 120 85 TOTAL 10 17 4

Quadro 4 – Valores absolutos da combinatória fricativa + líquida segundo Vigário e Falé (1993).

Fricativa + Vibrante Fricativa + Lateral

Posição inicial

Posição medial

Posição final Posição

inicial Posição medial

Posição final

f 13 3 fl 1 3

v 2 6

TOTAL 13 2 9 TOTAL 1 3 0

Analisando-se os quadros anteriores, observa-se um predomínio da sequência oclusiva + líquida

(93%) sobre a sequência fricativa + líquida (7%).

Nos quadros 5 e 6, ilustram-se as combinatórias possíveis em posição inicial e medial de palavra,

tanto para a combinatória obstruinte + vibrante (Quadro 5) como para a combinatória obstruinte

+ lateral (Quadro 6).

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Quadro 5 – Ataques ramificados (combinatória obstruinte + vibrante, segundo Mateus & Andrade, 2000).

Combinatória de consoantes Posição inicial de palavra Posição medial de palavra

[p] prato – [pa.tu] comprar – [ko.pa]

[b] branco – [b.ku] abraço – [.ba.su]

[t] trapo – [ta.pu] retrato – [re.ta.tu]

[d] droga – [d.] sindroma – [si.do.m]

[k] cravo – [ka.vu] acre – [a.k]

[] graça – [a.s] regra – [.]

[f] frio – [fiw] refrescar – [.f.ka]

[v] __________ palavra – [p.la.v]

 

Quadro 6 – Ataques ramificados (combinatória obstruinte + lateral, segundo Mateus & Andrade, 2000).

Combinatória de Consoantes Posição inicial de palavra Posição medial de palavra

[pl] plano – [pl.nu] repleto – [.pl.tu]

[bl] bloco – [bl.ku] ablução – [.blu.saw]

[tl] ____________ atleta – [.tl.t]

[dl] ____________ adligar4 – [.dli.ar]

[kl] claro – [kla.ru] recluso – [.klu.zu]

[l] globo – [lo.bu] aglomerar – [.lu.me.a]

[fl] flor – [flo] aflorar – [.flu.a]

Existem, no Português Europeu, outros grupos consonânticos que, por não constituírem Ataques

ramificados, não são considerados nesta dissertação5:

i) Grupos SC, como em escola [kl]; ii) Sequências de nasal + nasal, como em amnistia [mniti]; iii) Sequências de oclusiva + nasal, como em apneia [pnj]; iv) Sequências de fricativa + oclusiva, como em afta [aft]; v) Sequências de oclusiva + oclusiva, como em apto [aptu]; vi) Sequências de oclusiva + fricativa, como em psicologia [psikului].

                                                            4 A única palavra que contém esta combinatória, segundo Mateus e Andrade (2000). 5 Para informação sobre a análise destas estruturas, veja-se Mateus e Andrade (2000).

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1.1.2. Extensão de palavra

Estudos recentes sobre a extensão de palavra e a sua frequência no Português Europeu têm sido

realizados por diversos autores. Vigário et al. (2004) realizaram investigações ao nível desta

variável linguística, tendo descrito parcialmente o corpus do Português Fundamental6 (corpus

TA90EP) em função do número de sílabas. Os resultados obtidos encontram-se resumidos no

quadro seguinte.

Quadro 7 – Frequência de palavras segundo Vigário et al. (2004).

Monossílabos Dissílabos Trissílabos Polissílabos

19,8% 42,6% 18,4% 7,6%

Os dados anteriores demonstram um predomínio de palavras dissilábicas, sendo que os

monossílabos e os trissílabos têm uma percentagem de ocorrência muito semelhante.

Relacionando os dados referentes à complexidade silábica e à extensão de palavra, Vigário e

Falé (1993) observaram que 52,8% das sílabas das palavras polissilábicas são do tipo CV e que,

nas palavras monossilábicas, 19,3% apresentam um padrão silábico do tipo CV.

A literatura da especialidade tem descrito que, inicialmente, as crianças tendem a adquirir

palavras monossilábicas em línguas como o Inglês, o Holandês, o Espanhol, o Japonês e o

Hebreu, contudo os dados mais recentes para o português Europeu não têm validado este

pressuposto (Vigário et al., 2004).

1.1.3. Acento de palavra

O acento de palavra é um dos factores prosódicos que contribui para a construção do ritmo nos

enunciados de fala de uma língua. O acento resulta de uma relação de contrastes entre as sílabas

dentro da palavra, na qual existe sempre uma sílaba acentuada, a mais forte, que se opõe à(s)

restante(s) sílaba(s) não acentuada(s), a(s) mai(s) fraca(s). Este contraste entre a sílaba tónica e

as sílabas átonas resulta de valores fonéticos superiores de intensidade, duração e altura na vogal

da sílaba tónica (Andrade, 1995, Delgado-Martins, 1982, Pereira, 1999, citado por Araújo,

2004). Embora o acento recaia sobre o Núcleo, este funciona como propriedade da sílaba, a qual

se torna proeminente em relação à(s) restante(s) sílabas, no domínio da palavra.

                                                            6 Para mais informações sobre o corpus do Português Fundamental, consulte-se Bacelar, Marques e Cruz (1987).

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Todas as palavras lexicais (nomes, adjectivos, verbos e advérbios) são acentuadas. Tendo em

consideração que, neste estudo, todos os estímulos pertencem à classe nominal apenas se

descreverá o acento para esta mesma classe7.

Tradicionalmente, encontra-se descrito na literatura que o acento em Português Europeu tende a

estar próximo do final de palavra, podendo ocorrer em três posições distintas (Mateus et al.,

2006):

i) Na última sílaba, tornando a palavra aguda ou oxítona ([kf] <café>);

ii) Na penúltima sílaba, tornando a palavra grave ou paroxítona ([bnn] <banana>;

[kau] <carro>);

iii) Na antepenúltima sílaba, tornando a palavra esdrúxula ou proparoxítona ([avn]

<chávena>).

Outra forma de descrever o acento em Português implica a referência à estrutura morfológica das

palavras, referindo-se que o acento regular recai sobre a vogal da última sílaba do radical, no

caso dos nomes (Mateus, 1983; Mateus et al., 2005, 2006): [bok+] <boca>; [knet+]

<caneta> ou [kf+ø] <café>.

Para o Português Europeu, há poucos estudos sobre a frequência dos diferentes padrões acentuais

no domínio da palavra. Vigário et al. (2006b) referem os seguintes valores de referência para as

três posições tradicionais do acento nesta língua:

Quadro 8 – Posição do acento na palavra e percentagem de ocorrência (Vigário et al., 2006b).

Posição do acento %

Última sílaba 21,6%

Penúltima sílaba 74,4%

Antepenúltima sílaba 2%

Os dados compilados no quadro anterior confirmam o padrão paroxítono como a posição mais

frequente para o acento de palavra no Português Europeu.

                                                            7 Para revisão bibliográfica sobre o acento, em Português Europeu, consulte-se: Araújo (2004); Duarte (2000); Mateus et al. (2005, 2006).

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1.2. Consciência fonológica

O conceito de consciência fonológica reenvia para uma forma de conhecimento implícito,

através do qual as crianças em idade pré-escolar conseguem efectuar tarefas de manipulação

silábica, e para uma forma de conhecimento explícito da estrutura fonológica das palavras,

requerendo a capacidade de tornar a linguagem um elemento de reflexão, como se pode constatar

em tarefas como a identificação ou isolamento segmental (Signorini, 1998, citado por Lamprecht

et al., 2004; Flavell, 1981, citado por Silva, 2003). Segundo Sim-Sim (1998), a metalinguagem

refere-se à capacidade de reflectir sobre a linguagem, partilhando com o domínio cognitivo o

recurso a metaprocessos que permitem planificar e regular decisões. Assim, compreende-se que

a consciência fonológica se insira dentro do conhecimento metalinguístico, sendo este definido,

por esta autora, como o “conhecimento que permite reconhecer e analisar, de forma consciente,

as unidades de som de uma determinada língua, assim como as regras de distribuição e sequência

do sistema de sons dessa língua” (p.225). Gombert (1990) e Tunmer e Cole (1985, citado por

Capovilla & Capovilla, 2002a) definem a metalinguagem como a capacidade de reflectir sobre a

linguagem, promovendo a extracção imediata dos significados dos enunciados. Para Gombert

(1990), esta capacidade de reflectir sobre a linguagem não se desenvolve espontaneamente nas

crianças, a par do desenvolvimento linguístico, parecendo surgir mais tardiamente. Existem

autores que referem que o desenvolvimento metalinguístico está associado à emergência de

competências metacognitivas (conhecimento que o sujeito tem sobre os seus próprios processos

cognitivos), que ocorrem em fases mais avançadas da infância (Silva, 2003).

No âmbito dos trabalhos sobre o desenvolvimento cognitivo e metacognitivo, o conceito de

consciência fonológica começou a ser descrito e investigado no fim dos anos 70 e início dos anos

80 (Gillon, 2004). Este conceito pode ser genericamente definido como a capacidade de

manipular os elementos sonoros que constituem as palavras orais (Gombert, 1990; Lamprecht et

al., 2004; Tunmer & Rohl, 1991, citado por Silva, 2003) de forma voluntária e controlada

(Gombert, 1990). Sim-Sim (1998) define-o não só como a capacidade de reconhecer e analisar as

unidades sonoras de uma língua bem como de compreender os princípios inerentes à sua

distribuição e à construção de sequências fónicas possíveis no sistema sonoro da língua.

Para Treiman e Zukowski (1991, 1996), a capacidade de segmentar o discurso em unidades

hierarquicamente superiores desenvolve-se antes da capacidade de as dividir em unidades mais

pequenas na hierarquia dos constituintes fonológicos. De acordo com esta perspectiva, a

consciência fonológica desenvolve-se como um continuum e as crianças começam por segmentar

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frases em palavras, palavras em sílabas, sílabas em constituintes silábicos e, finalmente,

constituintes silábicos em segmentos ou sons da fala.

Para alguns autores, nomeadamente para Morais (1991, citado por Harbers, Paden & Halle,

1999) e para Veloso (2003), a consciência fonológica apresenta múltiplos componentes:

i) Consciência das sílabas;

ii) Consciência das unidades intrassilábicas: o Ataque e a Rima;

iii) Consciência fonémica ou segmental8.

Desta forma, o termo consciência fonológica reenvia, não só para a consciência da estrutura

sonora das palavras, bem como para a compreensão de que estas são constituídas por unidades

de diferentes naturezas e dimensões: sílabas, unidades intrassilábicas e segmentos (Capovilla &

Capovilla, 1997, Cardoso-Martins, 1991, citado por Lamprecht et al., 2004; Silva, 2003; Sim-

Sim, 1998).

A investigação registada nesta dissertação centra-se apenas no domínio da consciência silábica e,

como tal, apenas se irá abordar, na presente revisão bibliográfica, esta componente da

consciência fonológica9.

O conceito de consciência silábica remete para a capacidade de as crianças identificarem as

sílabas de uma palavra, sendo importante realçar que a tarefa de segmentação silábica é a mais

intuitiva, trazendo poucas dificuldades à maioria das crianças (Lamprecht et al., 2004; Sim-Sim,

1998).

Segundo Silva, Martins e Almeida (2001), têm sido utilizadas diferentes tarefas para avaliar a

consciência fonológica, nomeadamente a consciência silábica, o que tem enviesado a

comparação entre os resultados obtidos e, consequentemente, a formulação de generalizações

sobre os mesmos. De facto, como indicadores de consciência silábica têm sido utilizadas provas

como: reconstrução silábica, segmentação, contagem, adição e inversão de sílabas. Desta

forma, a heterogeneidade das tarefas expostas diverge quer em termos dos requisitos mnésicos

exigidos bem como da complexidade das unidades linguísticas manipuladas (McBride-Chang,

                                                            8 Utilizar-se-á, nesta tese, os termos segmento e consciência segmental em vez dos termos fonema e consciência fonémica, referidos nas investigações no domínio da consciência fonológica. 9 Para mais informações sobre a consciência segmental e a consciência das unidades intrassilábicas consulte-se: Alves Martins (1996); Burt, Holm e Dodd (1999); Cardoso-Martins (1995); Morais, Cary, Alegria e Bertelson (1979); Freitas, Alves e Costa (2006); Parkinson e Gorrie (1995); Silva (2003); Sim-Sim (1998, 2001); Treiman e Zukowski (1991); Veloso (2003); Viana (2002); entre outros.

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1995; Silva et al., 2001). Os requisitos mnésicos prendem-se com o número de operações

cognitivas envolvidas na realização da tarefa. Assim, enquanto a tarefa de segmentação envolve

apenas uma operação cognitiva, a tarefa de supressão requer, previamente, uma análise dos

constituintes da palavra apresentada e uma capacidade de reter a palavra formada, depois de

realizada a tarefa de supressão. Por sua vez, a dimensão das unidades linguísticas e as suas

propriedades internas influenciam o sucesso na tarefa; estudos têm demonstrado que unidades

como a sílaba são mais facilmente manipuladas pelas crianças do que unidades como os

constituintes silábicos e o segmento (Treiman & Zukowski, 1991).

No sentido de se eliminar a disparidade nas tarefas utilizadas para a avaliação da consciência

fonológica, investigadores têm procurado listar as capacidades que podem ser avaliadas ao nível

da manipulação da sílaba e as tarefas que podem ser realizadas para tal avaliação. No Quadro 9,

apresenta-se a síntese proposta em Alves, Correia e Castro (em preparação).

Quadro 9 – Compilação de tarefas e capacidades testadas para avaliação de conhecimento e de consciência

fonológica (Alves et al., em preparação).

Capacidades Provas Exemplo

Reconstituição Síntese silábica São dadas as sílabas isoladamente e é pedido ao sujeito que identifique a palavra.

Segmentação

Segmentação

É dada uma palavra e é pedido ao sujeito que a segmente em sílabas.

Reprodução

Análise

Contagem

Identificação

Comparação com o modelo

É pedido que o sujeito identifique as sílabas da palavra para que possa proceder a tarefas de

identificação.

Igual / diferente

Exclusão da diferente

Identificação da sílaba

Manipulação - Exclusão

Apagamento da sílaba inicial / medial ou final

É pedido ao sujeito que mantenha em memória as sílabas da palavra e que as manipule segundo

a tarefa proposta.

Manipulação – Transposição Inversão silábica É dada uma palavra ao sujeito e é pedido que

este inverta a ordem das sílabas.

Produção Produção É dada uma palavra e é pedido ao sujeito que

produza uma palavra que tenha a mesma sílaba inicial.

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Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos  

   Página 27     

Pela análise do quadro anterior, verifica-se que a consciência silábica pode ser avaliada através

de diferentes tarefas, sendo importante ter em consideração este mesmo facto aquando da

comparação dos resultados de diferentes trabalhos, o que torna complexo o confronto entre

investigações.

Diversos estudos têm sido efectuados na área da consciência silábica e, dado nesta investigação

se ter optado pela prova de segmentação silábica, descrever-se-ão apenas alguns estudos que

avaliaram esta competência recorrendo a esta mesma prova. Sim-Sim (2001), num estudo sobre

o desenvolvimento da linguagem, com 446 crianças com idades compreendidas entre os 46 e os

83 meses, testou a capacidade de estas segmentarem palavras monossilábicas (um estímulo),

dissilábicas (quatro estímulos), trissilábicas (três estímulos) e polissilábicas (dois estímulos). Os

resultados demonstraram que as crianças mais novas, entre os 46 e os 52 meses, tinham uma

média de acerto de cinco em dez segmentações correctas possíveis e as crianças mais velhas,

entre os 77 e os 83 meses, tinham uma média de acerto de oito segmentações. Analisando mais

especificamente a estrutura dos estímulos, a autora detectou que ambos os grupos segmentavam

mais facilmente dissílabos do que trissílabos e que as sílabas do tipo CV eram as mais fáceis de

segmentar.

Burt et al. (1999) efectuaram um estudo com 57 crianças, com uma média de idade de 52 meses,

usando uma prova de segmentação silábica em palavras de baixa frequência, com o mesmo

padrão acentual e com duas a cinco sílabas. Os resultados demonstraram que as crianças mais

novas, entre os 41 e os 51 meses de idade, apresentavam uma média de 56 segmentações

correctas sobre 372 segmentações possíveis, enquanto que as crianças mais velhas, entre os 52 e

os 58 meses de idade, apresentavam uma medida de 65 segmentações correctas sobre 312

segmentações possíveis. Estes dados revelaram que tendia a haver uma estabilização desta

competência entre os 46 e os 58 meses de idade.

Num outro estudo, realizado por Veloso (2003) com palavras dissilábicas e trissilábicas

manipuladas por crianças com uma média de idade de seis anos e quatro meses, observou-se que

as crianças com esta idade conseguiam segmentar correctamente quase todos os estímulos, sendo

que 85,7% da amostra conseguiu obter a pontuação máxima. Este autor ainda observou que as

palavras com Ataque ramificado e com a combinatória obstruinte + lateral eram mais difíceis de

segmentar do que os estímulos com a combinatória obstruinte + vibrante.

Num estudo realizado por Capovilla et al. (2007), observou-se o comportamento de 384 crianças

brasileiras num conjunto de provas no domínio da sílaba. Foram avaliadas crianças a frequentar

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Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos  

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desde a 1ª série até à 4ª série, isto é, com idades compreendidas entre os 85 e os 124 meses de

idade. Ao nível da prova de segmentação silábica, verificou-se que a maioria das crianças

avaliadas tinha bons desempenhos na sua realização, havendo uma ligeira evolução à medida que

as crianças iam crescendo. Importa salientar que a maioria das crianças mais velhas conseguiu

segmentar correctamente todos os estímulos.

Um estudo muito semelhante foi feito por Gindri (2006), no qual se avaliaram 90 crianças

brasileiras, do pré-escolar e da primeira série, em tarefas de consciência fonológica. Na tarefa de

segmentação silábica, observou-se que as crianças com uma média de idade de 78 meses

segmentavam correctamente metade dos estímulos apresentados, enquanto que as crianças mais

velhas, com uma média de 87 meses de idade, conseguiam resultados superiores. Mais uma vez,

observou-se uma correlação positiva entre o sucesso na prova de segmentação e a idade das

crianças.

1.3. Desenvolvimento fonológico

O processo de aquisição da fonologia tem sido descrito, nas últimas décadas, em função de

diferentes aspectos do funcionamento fonológico das línguas, a partir dos instrumentos de teoria

fonológica. O presente trabalho centra-se no domínio da sílaba e, como tal, apenas será descrita a

aquisição da sílaba, ao longo do desenvolvimento linguístico infantil. Dentro desta secção,

abordar-se-ão os aspectos linguísticos estudados nesta dissertação na perspectiva do seu

desenvolvimento linguístico: i) constituinte Ataque (secção 1.3.1.); ii) extensão de palavra

(secção 1.3.2.); iii) acento de palavra (secção 1.3.3.).

1.3.1. Aquisição do constituinte Ataque

Tendo em consideração que esta investigação pretende testar o comportamento das crianças

numa tarefa de segmentação silábica, analisando o impacto da complexidade associada ao

constituinte Ataque no desempenho da tarefa, importa descrever o comportamento verbal das

crianças face a esta estrutura nos diferentes estádios do desenvolvimento fonológico infantil.

No Português Europeu, os Ataques podem ser não ramificados (simples ou vazios) e

ramificados. Como tal proceder-se-á a uma apresentação da informação disponível sobre cada

uma das estruturas previamente indicadas, no percurso de desenvolvimento linguístico na língua

materna.

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Ataque não ramificado

Em Português Europeu, como já foi referido, o Ataque simples está associado a apenas uma

posição no esqueleto, podendo esta ser preenchida por diferentes segmentos, como se ilustra no

quadro seguinte.

Quadro 10 – Segmentos que podem preencher o Ataque simples.

Classes de Segmentos Segmentos Exemplos

Oclusivas /p,t,k,b,d,/ [patu / [t] / [kau] / [bl] / [dedu] / [ato]

Nasais /m,n,/ [mal] / [nt] / [niu]

Fricativas /f,s,,v,z,/ [fak] / [sapu] / [up] / [vak] / [kaz] / [au]

Líquidas /l,,,/ [lat] / [i] / [pe] / [atu]

Segundo Jakobson (1941/68, citado por Freitas, 1997a), as consoantes oclusivas são os

segmentos mais frequentes nas línguas naturais, sendo os primeiros a serem produzidos pelas

crianças, a par com os segmentos nasais. Depois de adquiridas estas duas classes de segmentos,

surgem os segmentos fricativos, apesar de a qualidade segmental de uma fricativa associada a

este constituinte poder sofrer alterações até um período bastante tarde do desenvolvimento.

Numa fase inicial, estes segmentos fricativos são substituídos por segmentos oclusivos orais,

dado este ser o modo de articulação não marcado (Jakobson, 1941/68, citado por Freitas, 1997b),

que permite o contraste máximo de sonoridade entre o Ataque e o Núcleo. As consoantes

líquidas são os segmentos menos frequentes nas línguas do mundo, sendo adquiridas numa fase

mais tardia (Freitas, 1997b, 2001).

Segundo a tipologia de Fikkert (1994), existem três estádios distintos na aquisição do

constituinte Ataque não ramificado:

1) Estádios de aquisição do constituinte Ataque

- Estádio I: Ataque obrigatório associado a oclusivas

- Estádio II: Ataque vazio

- Estádio III: outro tipo de Ataque simples

- Estádio IIIa: nasais em Ataque simples

- Estádio IIIb: outros modos de articulação em Ataque simples, nomeada-

mente fricativas, líquidas e semivogais

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Relativamente aos estádios I e II referidos em Fikkert (1994), diversos estudos referem que o

formato CV tem sido descrito como universal e como tal, não é de esperar que nas primeiras

produções infantis existam estruturas do tipo V. No entanto, segundo Freitas (1997a) e Costa e

Freitas (1999), as crianças portuguesas exibem a emergência simultânea de estruturas CV e V,

no estádio inicial de produção, o que não espelha o comportamento das crianças holandesas,

descrito em Fikkert (1994): sílabas com estrutura V não são atestadas inicialmente nas produções

das crianças holandesas. Este aspecto leva Freitas (1997a) a propor que V e CV sejam estruturas

não marcadas no Português Europeu. Tal legitimaria o facto de, perante problemas com o

material segmental alvo numa estrutura CV, as crianças utilizarem a estratégia de apagamento do

segmento alvo, com consequente produção de uma estrutura do tipo V.

2) Exemplo da substituição de uma estrutura CV por uma estrutura V (Costa & Freitas, 1999)

Mexe /m/ [t] (Marta: 1;2.0)

Vovó /vv/ [oo] (João: 1;8.13)

Sangue /s/ [] (João: 2;1.23)

Sapo /sapu/ [apu] (João: 2;2.28)

Lobo /lobu/ [opu] (João: 2;8.27)

Bruxa /bu/ [u] (João: 2;2.28)

De acordo com Treiman e Zukowski (1991), durante o processo de aquisição de uma estrutura

problemática, as crianças tendem a seleccionar o formato universal. Tendo em consideração este

pressuposto e os dados ilustrados em (2), para as crianças portuguesas o formato não marcado

para além de CV seria também o da sílaba com a estrutura V, como se vê nos exemplos

seguintes, produzidos por crianças no momento de emergência das primeiras produções:

3) Produções com estrutura alvo V (Freitas, 1997a)

Água /a/ [aa] (Marta: 0;11.6)

É // [] (Marta: 1;0.25)

Olha // [j] (Marta: 1;2.0)

Ana /n/ [n] (Marta: 1;2.0)

Urso /usu/ [u] (Marta: 1;3.8)

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Note-se que a presença inicial de V na produção também foi observada noutros sistemas

linguísticos, nomeadamente no Alemão, no Espanhol, no Hebreu e no Português do Brasil

(Freitas, 1997a), não sendo exclusiva do Português Europeu.

Relativamente ao estádio III (outro tipo de Ataque simples), mais especificamente no que se

refere ao estádio IIIa (nasais em Ataque simples) as crianças portuguesas comportam-se como

seria de esperar, produzindo estes segmentos desde bastante cedo. Quanto ao estádio IIIb (outros

modos de articulação em Ataque simples), no Português Europeu, assim como no Holandês, a

ordem de aquisição dos segmentos é preferencialmente fricativas > líquidas, podendo também

ocorrer na sequência líquidas > fricativas (Fikkert, 1994; Freitas 1997a, 1997b).

Desta forma Freitas (1997a), com base nos dados observados no seu estudo, propõe uma

reformulação, para o Português Europeu, da proposta de Fikkert (1994) para os estádios de

aquisição do Ataque não ramificado:

4) Reformulação da escala de aquisição do Ataque não ramificado (Freitas, 1997a)

- Estádio I: Ataque simples associado a oclusivas

Ataque simples associado a nasais

Ataque vazio

- Estádio II: outros modos de articulação em Ataque simples (fricativas > líquidas

ou líquidas > fricativas)

Dados sobre a aquisição da estrutura silábica no Português Europeu, têm referido uma

percentagem que varia entre os 50 e os 80% de palavras com estrutura CV e uma percentagem de

20% para palavras com estrutura V (Freitas, Frota, Vigário & Martins, 2005).

Por fim, importa ainda ilustrar os dados relativos aos erros mais frequentemente produzidos por

crianças face a Ataques não ramificados. A este nível, têm sido descritos, essencialmente, dois

tipos de erros:

i) Substituição de modos e de pontos de articulação;

Avô /vo/ [d] (João: 1;0.12)

ii) Substituição de uma estrutura do tipo CV por uma estrutura do tipo V.

Tirar /tia/ [tia] (Raquel: 2;10.8)

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Ataque ramificado

Os Ataques ramificados são as últimas estruturas silábicas a serem adquiridas no português

(Freitas, 1997a; Lamprecht et al., 2004), estabilizando tardiamente no processo de aquisição.

Esta complexidade poderá estar relacionada com a dificuldade de processar duas consoantes no

domínio de um constituinte silábico bem como com o facto de a segunda consoante ser uma

líquida, segmento de aquisição tardia nesta língua (Miranda, 2007). Fikkert (1994) descreve três

estádios para a aquisição do constituinte Ataque ramificado:

5) Estádios de aquisição do constituinte Ataque

- Estádio 0: ausência de grupos consonânticos (∅ C1C2)

- Estádio 1: grupo consonântico reduzido ao primeiro elemento (C1C2 > C1∅)

- Estádio 2: grupo consonântico reduzido ao segundo elemento (C1C2 > C2∅)

- Estádio 3: são produzidos os dois elementos do grupo consonântico (C1C2)

Vários estudos têm demonstrado que, apesar de um segmento estar disponível no sistema da

criança, tal não significa que ele seja produzido em todas as posições silábicas:

6) Produções de [] em diferentes posições silábicas (Freitas & Santos, 2001)

Amarelo /mlu/ [mw] (Luís: 1;9.29)

Barco /baku/ [baku] (Luís: 1;9.29)

Frente /fet/ [fet] (Luís: 1;11.20)

Segundo Fikkert (1994) e Bernhardt e Stemberger (1998), as crianças não conseguem produzir

Ataques ramificados enquanto esta estrutura silábica não estiver disponível no sistema da

criança. Segundo Ribas (2003, 2007) a estabilidade da estrutura CCV ocorre por volta dos cinco

anos e cinco anos e dois meses no Português do Brasil, verificando-se, como estratégia de

reconstrução preferencial, a omissão do segmento lateral [l] ou vibrante []. Esta autora refere

que as crianças lidam com o constituinte Ataque ramificado do mesmo modo,

independentemente do segmento que ocupa a posição de C2, ou seja, independentemente dos

segmentos que ocupam a sequência, o que é relevante é a aquisição da estrutura silábica.

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Para Freitas (2003), apesar de a informação prosódica ser essencial no desenvolvimento

linguístico infantil e estar disponível desde muito cedo, alguns constituintes prosódicos só estão

estáveis no sistema da criança em momentos mais tardios do seu desenvolvimento.

Tendo como base a escala de aquisição do constituinte Ataque ramificado, referida por Fikkert

(1994), Freitas (1997a) propõe, para o Português Europeu, a seguinte escala:

7) Estádios de aquisição do Ataque ramificado em Português Europeu

Estádio 0 – grupos consonânticos não surgem como alvos possíveis

Estádio 1 – grupo consonântico é reduzido ao primeiro elemento (uma oclusiva ou uma

fricativa) ou reduzido a um Ataque vazio (C1C2>·∅)

Braço /basu/ [bau] (João: 2;4.30)

Bruxa /bu/ [u] (João: 2;2.28)

Estádio 2 – grupo consonântico é reduzido ao segundo elemento, uma líquida ou

semivogal (C1C2> ∅C2)

Bicicleta /bisiklt/ [bsilet] (Luís: 2;2.27)

Estádio 3 – os dois elementos do grupo consonântico são produzidos

Estádio 3a – como estando associados a uma só posição no esqueleto (C1C2)

Estádio 3b – com vogal epentética entre as duas consonantes do segmento (.C1C2V >

.C1V.C2V) e conforme o alvo (C1C2)

Prenda /ped/ [ped] (Laura: 2;2.30)

Estádio 3c – conforme o alvo (.C1C2)

Como estratégias de reconstrução mais frequentes, podem salientar-se (Freitas, 1997a):

i) Substituição da estrutura CCV por uma estrutura V, havendo o apagamento do grupo

consonântico (C1C2V → ∅∅V);

Bruxa /bu/ [u] (João: 2;2.28)

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ii) Redução do Ataque ramificado, com apagamento da consoante que ocupa a posição de C2

na estrutura (C1C2 → C1∅);

Praia /paj/ [paj] (Inês: 1;10.29)

iii) Redução do Ataque ramificado, com apagamento da consoante que ocupa a posição de C1

na estrutura C1C2V (C1C2 → ∅C2);

Flor /flo/ [lo] (Luís: 1;9.29)

iv) Inserção de uma vogal em epêntese entre as duas consoantes do Ataque ramificado (C1C2

→ C1VC2).

Pedra /pd/ [pd] (Luís: 2;5.7)

Relativamente ao Português do Brasil, diversas investigações têm sido realizadas no âmbito da

aquisição do constituinte silábico Ataque ramificado, referindo-se as várias estratégias de

reconstrução mais utilizadas (Lamprecht et al., 2004; Ribas, 2003, 2007; Ribas et al., 2003;

Souza, 2007). Segundo um estudo efectuado por Ribas (2003), as estratégias mais frequentes na

produção da estrutura CCV, são as seguintes:

i) Omissão do segmento que ocupa a posição de C2 (flor → [for] / fralda →

[fawd]);

ii) Substituição da lateral pela vibrante ou vice-versa (planta → [pt] / briga →

[bli]);

iii) Metátese de C2 (bicicleta → [blisikt] / pedra → [prd]);

iv) Semivocalização da líquida (bloco → [bwku];

v) Epêntese vocálica (branco → [brku]).

No geral, em 90% das situações, as crianças brasileiras, ao não conseguirem produzir a estrutura

CCV, tendem a apagar a consoante que ocupa a posição de C2 (Cristófaro-Silva, 2002; Miranda,

2007; Ribas et al., 2003). Ribas (2003) refere que o apagamento de C2 no grupo consonântico

ocorre essencialmente entre o primeiro e o terceiro ano de idade, enquanto a substituição da

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líquida e os fenómenos de metátese e epêntese ocorrem mais tarde, entre os dois e os cinco anos

de idade.

Por seu lado, Avila (2000) refere que a produção do Ataque ramificado é favorecida pelas

seguintes condições: crianças com mais de três anos e seis meses; o Ataque apresentar a

combinatória oclusiva + lateral; a sílaba seguinte ser do tipo CV com um segmento fricativo.

Oliveira (2007), num estudo comparativo entre o Português do Brasil e o Espanhol, observou

que, em ambas as línguas, os erros mais frequentes na produção de estruturas do tipo CCV são: a

omissão do segmento que ocupa a posição de C2 e a substituição do segmento vibrante [] pelo

segmento lateral [l]. Neste mesmo estudo, verificou-se que os Ataques ramificados são mais

facilmente produzidos em posição medial de palavra (63,8%) do que em posição inicial de

palavra (41,5%), que a omissão do segmento C2 se observa, preferencialmente, em posição

medial de palavra e que a substituição da lateral pela vibrante ocorre essencialmente em posição

medial de palavra.

Concluindo, constata-se que o constituinte Ataque ramificado estabiliza numa fase mais tardia da

aquisição e que tal legitima a ocorrência de várias estratégias de reconstrução, sendo o

apagamento do segmento que ocupa a posição de C2 numa estrutura C1C2V a estratégia que mais

frequentemente se observa.

1.3.2. Extensão de palavra

Uma variável em análise neste estudo é a influência da extensão de palavra, neste caso particular

de dissílabos e trissílabos, na tarefa de segmentação silábica. Desta forma, importa descrever os

principais resultados obtidos sobre o desenvolvimento da extensão de palavra em Português

Europeu.

Um estudo efectuado por Vigário et al. (2006a) comparou o tamanho das palavras na fala adulta

com as produções efectuadas pelas crianças nos primeiros estádios de desenvolvimento (entre os

11 meses e um ano e quatro meses). Os dados encontrados neste estudo encontram-se resumidos

no Quadro 11.

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Quadro 11 – Percentagem de palavras em função do seu número de sílabas (Vigário et al., 2006a).

Monossílabos Dissílabos Trissílabos Polissílabos

Produções espontâneas infantis 28,6% 46,6% 19% ______

Fala adulta dirigida à criança 43,9% 46,6% 8% 7,4%

Fala adulta não dirigida à criança 29,5% 43,6% 26,9% Menos de 5%

Os dados listados no quadro anterior revelam que, na fala adulta dirigida à criança, existe uma

alta frequência de palavras com uma e com duas sílabas e uma reduzida frequência de palavras

com três ou mais sílabas. Um outro dado interessante é que as produções espontâneas infantis se

aproximam mais dos valores obtidos na fala adulta não dirigida à criança do que da fala adulta

dirigida à criança. O Quadro 11 ainda revela que as crianças usam, na produção,

predominantemente dissílabos e menos frequentemente trissílabos. Efeitos de frequência

semelhantes são encontrados em trabalhos recentes no Francês ou Catalão (Demuth & Johnson,

2003, Prieto, 2004, citado por Vigário et al., 2004).

1.3.3. Acento de palavra

Como referido na secção 1.1.3., no Português Europeu o acento recai na última, na penúltima ou

na antepenúltima sílaba da palavra. Nos nomes e adjectivos, o acento recai essencialmente, em

80% das situações, na penúltima vogal, o que faz com que o padrão paroxítono seja o dominante

(Vigário et al., 2006b). Alguns estudos têm sido feitos neste domínio, nomeadamente na relação

entre acento e estrutura silábica. Vigário et al. (2006a) observaram a produção de dissílabos e de

trissílabos, tendo constatado que, em muitas situações, os trissílabos são produzidos como

dissílabos, podendo haver o apagamento de uma sílaba: [bunk] → [me]; ou aglutinação

de sílabas, com manutenção do Ataque da sílaba inicial e da Rima da sílaba tónica: [mou]

→ [mu].

Uma investigação realizada por Souza (2007) relacionou a estrutura silábica com o acento,

descrevendo que os processos que afectam a estrutura silábica podem estar relacionados com o

acento, havendo necessidade de analisar ambas as variáveis na explicação dos dados infantis.

Esta autora constatou que o acento está relacionado com os processos de apagamento silábico:

geralmente são as sílabas átonas que sofrem processos de apagamento, mais especificamente as

sílabas pré-tónicas. Relativamente aos processos de metátese, a autora também observou que esta

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pode ser desencadeada pelo acento da palavra, já que, em produções como [kwadu] ou

[livu], o segmento migra para outra posição silábica, no domínio da sílaba tónica.

Avila (2000), num estudo efectuado ao nível das produções infantis, constatou que a sílaba

tónica é a não marcada, por ser saliente acusticamente e resistente à ocorrência de processos

fonológicos. No entanto, correlacionado o acento com a estrutura silábica, esta autora observou

que o ambiente mais favorável à produção do constituinte Ataque ramificado é a posição átona,

como na palavra cabra, talvez porque a criança processe a palavra apenas a partir do acento

(Azambuja, 1998, citado por Avila, 2000). Dentro desta vertente, Cristófaro-Silva (2004)

verificou que o constituinte Ataque ramificado ocorre predominantemente em posição átona

(25%) e não em posição tónica (11%). Num estudo comparativo entre as produções infantis e as

produções dos adultos, esta mesma autora observou que, enquanto que as crianças produzem

mais frequentemente estruturas do tipo CCV em posição pré-tónica, como na palavra biblioteca,

os adultos revelaram uma preferência pela posição pós-tónica, como na palavra lágrima. Um

estudo semelhante efectuado por Miranda (2007) destacou os dados relativos às produções

infantis relativamente a estruturas com Ataque ramificado, tendo observado que estas ocorrem

em cerca de 56% das situações em posição pós-tónica, em 35% das situações em posição pré-

tónica e em 11% das situações em posição tónica.

Para finalizar, importa referir que, num estudo realizado com jovens a frequentar desde o 7º ano

até ao 12º ano de escolaridade, se observou que estes eram capazes de identificar mais facilmente

palavras (90,9%) e pseudopalavras (86,1%) acentuadas na penúltima sílaba, o que reforça os

achados sobre o padrão acentual não marcado para o Português Europeu (Araújo, 2004). Esta

autora destaca o facto de o acompanhamento que é feito ao longo do percurso escolar das

crianças não garantir uma evolução do conhecimento dos sujeitos sobre o acento, já que o

tratamento do mesmo tende a ser redutor, centrando-se na ortografia.

1.4. Identificação de processos cognitivos: tempos de reacção

A investigação na área do processamento da linguagem tem procurado identificar as

metodologias adequadas para aceder ao modo como processamos enunciados linguísticos.

Uma das formas utilizadas para estudar o processamento humano da linguagem é a observação

directa dos enunciados, a qual apresenta uma série de limitações, já que o observador fica

limitado às produções do sujeito. Como alternativa a este método, podem criar-se situações

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experimentais, nas quais se controlam os estímulos utilizados, as condições ambientais e a forma

como o sujeito responde aos estímulos apresentados. Neste tipo de estudos, é possível recorrer a

técnicas que permitem analisar diferentes aspectos do processamento linguístico bem como a

estratégias utilizadas pelos sujeitos quando confrontados com dificuldades ou incongruências

(Luegi, 2006).

Como metodologias de registo, podem ser utilizadas (Mitchell, 2004):

i) Metodologias on-line – recorrem a novas tecnologias, o que permite a análise do

processamento que decorre desde a apresentação do estímulo até à formulação da

resposta. As técnicas imagiológicas como os potenciais evocados, a ressonância

magnética, a ressonância magnética funcional e o movimento ocular são metodologias

desta natureza;

ii) Metodologias off-line – permitem aceder apenas à fase final do processo, isto é, à

resposta do sujeito testado. Esta metodologia é utilizada em tarefas como o

reconhecimento de palavras, a leitura de palavras e pseudopalavras e a segmentação de

palavras, registando-se o tempo de reacção da resposta dada pelo sujeito avaliado.

Apesar de as metodologias de observação on-line serem bastante utilizadas dado reflectirem com

maior precisão o processamento da informação, estas também são mais dispendiosas (Mitchell,

2004).

A medição de tempos de reacção é bastante utilizada na psicologia experimental, dado ser um

meio passível de ser utilizado quando se pretende medir a duração das operações cognitivas. Para

tal, recorre-se a medidas cronométricas para se aferir quais as operações mais complexas e, como

tal, mais demoradas (Posner, 2005). Actualmente, é possível combinar este recurso com técnicas

recentes de (Luegi, 2006):

i) Medição da actividade fisiológica, que inclui o registo do movimento dos olhos, através

do qual se pretende observar os padrões oculares produzidos pelos movimentos dos olhos

e o tempo de leitura de estímulos;

ii) Medição da actividade neuronal, através da qual se procura localizar as áreas

responsáveis pela linguagem bem como o tipo e a duração cognitiva envolvida no

processamento da linguagem. Estas técnicas recorrem à ressonância magnética,

ressonância magnética funcional, potenciais evocados e magnetoencefalografia. Apesar

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de a resolução espacial ser bastante precisa, a resolução temporal não é muito fiável, já

que o sangue demora entre um a 10 segundos a chegar a essas regiões.

As medidas cronométricas, que foram utilizadas nesta investigação, permitem registar o tempo

de reacção dos sujeitos a um estímulo, neste caso, visual. Segundo a literatura, as medidas

cronométricas têm sido utilizadas desde os anos 70 e têm como principal objectivo medir o

decurso temporal dos processos mentais10 (Perea & Rosa, 1999). Foster (1979, citado por Perea

& Rosa, 1999) definiu dois pressupostos que estão na base das medidas cronométricas:

i) O processamento da linguagem pode ser analisado como uma sequência de operações em

que cada uma transforma um estímulo linguístico numa tarefa mental;

ii) Numa mesma tarefa experimental, é possível que estejam envolvidos processamentos

diferentes, dependendo do objectivo da tarefa.

Segundo a literatura, o tempo de reacção é a medida mais usada na avaliação dos processos

envolvidos nas tarefas de compreensão, sendo amplamente utilizado pela psicolinguística. O

tempo de reacção é definido como o intervalo que decorre entre a apresentação de um estímulo e

o início da resposta dada pelo sujeito (Rayner & Clifton, 2002). Normalmente, o tempo de

reacção é medido com elevado grau de precisão, em milissegundos, indicando o grau de

complexidade de um estímulo e das suas propriedades bem como das operações cognitivas

envolvidas no seu processamento (Faria, 2005). Este tempo está directamente relacionado com o

grau de dificuldade do processamento da informação de um estímulo, ou seja, quanto maior o

tempo de reacção, maior a dificuldade em processar a informação (Luegi, 2006).

Dentro da técnica cronométrica, é possível descrever três grandes grupos de tarefas:

Tarefas de Classificação

Este grupo de tarefas é caracterizado pela aplicação de um certo estímulo linguístico, o qual deve

ser classificado, de acordo com um critério previamente estabelecido, o mais rapidamente

possível. Tal tarefa pressupõe que os sujeitos consigam classificar o estímulo a partir do

                                                            10 Para mais informações sobre a medição de tempos de reacção em tarefas de processamento lexical, consulte-se Mattys (1997).

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momento em que tenham completado o processamento linguístico do mesmo (Perea & Rosa,

1999).

As tarefas de classificação podem englobar provas como as que a seguir se referem:

i) Decisão lexical – é apresentada uma sequência de letras e o sujeito deve decidir se essa

mesma sequência forma uma palavra ou uma não-palavra. Assim que o sujeito decidir,

deve carregar na tecla SIM, caso a sequência de letras forme uma palavra, e na tecla

NÃO, caso essa mesma sequência forme uma não-palavra. Nesta tarefa, o tempo de

reacção não é somente o tempo utilizado na identificação das letras mas também o tempo

gasto no acto motor de carregar na tecla correspondente (Álvarez, Veja & Carreiras,

1998; Perea & Rosa, 1999, 2003; Rayner & Clifton, 2002);

ii) Verificação semântica / categorização – é apresentada uma palavra e é perguntado ao

sujeito se a palavra que apareceu pertence a uma dada categoria. Se a imagem pertencer a

essa categoria, o sujeito deve carregar na tecla SIM, se não pertencer deve carregar na

tecla NÃO (Barbón & Cuetos, 2006; Perea & Rosa, 1999; Rayner & Clifton, 2002).

Tarefas de Nomeação

Nestas tarefas, os sujeitos têm de nomear, o mais rapidamente possível, um estímulo linguístico

que lhes é apresentado. Os estímulos podem ser apresentados em formato ortográfico com

palavras e / ou com pseudopalavras. Nesta tarefa, assim como na tarefa de decisão lexical, o

tempo de reacção não envolve somente a identificação do estímulo mas também o tempo

utilizado na articulação / nomeação do mesmo. Esta tarefa não necessita que os sujeitos tenham

que aceder ao significado da palavra, sendo apenas imprescindível que estes consigam converter

as sequências de grafemas em sequências de sons (Perea & Rosa, 1999).

Tarefas de Identificação

As tarefas de identificação dividem-se em duas provas:

i) Mascaramento – nesta tarefa, os sujeitos devem indicar, carregando numa determinada

tecla, o momento em que são capazes de identificar um estímulo, o qual aparece, numa

fase inicial, degradado e progressivamente vai surgindo com mais clareza (Bowers,

Vigliocco & Haan, 1998; Perea & Rosa, 1999; Salles, Jou & Stein, 2007). Na última

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década, tem sido utilizada uma vertente mais específica desta prova, denominada por

mascaramento progressivo (Segui & Grainger, 1990), a qual permite medir o tempo de

reacção que os sujeitos demoram a identificar a imagem alvo;

ii) Priming – envolve a apresentação de uma sequência de duas palavras: uma palavra alvo e

um distractor. É pedido ao sujeito que identifique a palavra alvo, o mais rapidamente

possível, sendo medido esse mesmo tempo. Investigações recentes neste domínio têm

verificado que é mais fácil identificar o estímulo alvo se este estiver relacionado com o

estímulo distractor (cão, seguido da palavra gato) do que se essa relação não existir

(caneta, seguida da palavra gato) (Holcomb & Neville, 1990; Plaut & Booth, 2000;

Rayner & Clifton, 2002).

Para além destas tarefas que utilizam as medidas cronométricas na medição do processamento de

estímulos linguísticos, esta metodologia também tem sido utilizada em tarefas de leitura,

considerando que, nestas tarefas, o tempo de reacção indica, indirectamente, o tempo utilizado

no processamento interno da leitura (Perea & Rosa, 1999). As tarefas mais utilizadas têm sido:

i) Leitura de palavras – esta prova é utilizada quando o investigador está interessado em

saber o tempo que o sujeito demora a ler uma palavra num dado texto, sendo função do

investigador controlar a quantidade de texto que aparece. Desta forma, ao ser

apresentada uma palavra de cada vez, o investigador consegue medir o tempo de

processamento de cada palavra inserida numa determinada frase. Uma crítica feita a esta

abordagem é a de que não avalia a leitura em contexto natural (Rayner & Clifton,

2002);

ii) Apresentação rápida de estímulos visuais – esta tarefa avalia o quão rapidamente um

texto pode ser lido, aparecendo uma sequência de palavras com uma diferença de 50 a

400 milissegundos. O propósito desta tarefa é verificar dentro de que intervalos de

tempo, no aparecimento das palavras, os sujeitos conseguem ler (Capovilla &

Capovilla, 2002b). Os estudos têm indicado que os leitores conseguem ler e

compreender palavras até uma média de 1200 palavras por minuto, com uma nova

palavra a surgir a cada 50 milissegundos (Rayner & Clifton, 2002);

iii) Movimentos oculares – esta tarefa é essencialmente utilizada no estudo da leitura de

textos em silêncio. Metodologicamente, esta tarefa consiste em apresentar aos sujeitos

um texto que deve ser lido pelos mesmos. Através de tecnologia apropriada, são

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avaliados os movimentos oculares dos sujeitos, o tempo de fixação numa determinada

palavra ou frase, o número de palavras que são fixadas e a frequência dos movimentos

oculares de retrocesso para voltar a ler uma palavra ou um conjunto de palavras (Costa,

2005; Luegi, 2006; Rayner & Clifton, 2002). Esta metodologia parte do princípio de

que a duração média das fixações e os tempos totais e parciais de leitura representam as

dificuldades de processamento e o grau de complexidade do estímulo em análise (Luegi,

2006).

Por fim, os tempos de reacção também podem ser utilizados em técnicas neurofisiológicas, as

quais permitem observar os processos mentais envolvidos numa dada actividade cognitiva.

Dentro deste conjunto de técnicas que utilizam os tempos de reacção, podem destacar-se:

i) Potenciais evocados – é a metodologia mais utilizada no registo da actividade cerebral

durante a produção e a compreensão da linguagem, através da qual se regista a

actividade eléctrica do cérebro por medição da variação da voltagem e da polaridade

(Habib, 2000; Luegi, 2006);

ii) Ressonância magnética / Ressonância magnética funcional – é um método de

diagnóstico por imagem que não recorre aos meios radioactivos, sendo as imagens

obtidas através de variações do campo magnético criadas pelo próprio aparelho (Castro

Caldas, 2000; Habib, 2000). Esta técnica tem como principal desvantagem o facto de a

resolução temporal ser relativamente pobre, ou seja, enquanto uma palavra pode

demorar 250 milissegundos a ser reconhecida, a ressonância magnética só consegue

medir estímulos com duração de dois ou três segundos (Rayner & Clifton, 2002).

Interessa salientar que a ressonância magnética funcional é de melhor qualidade e

apresenta como principal vantagem, relativamente à ressonância magnética, permitir

medir tempos de processamento muito curtos (Castro Caldas, 2000);

iii) Tomografia de emissão de positrões – permite pôr em evidência a actividade metabólica

do cérebro e estudar as variações regionais dessa actividade durante a execução de

tarefas específicas. É ingerida, pelo sujeito, uma pequena porção de material

radioactivo, o qual vai traçando o percurso do sangue e a sua pressão. A complexidade

da metodologia de aplicação desta técnica bem como o facto de ter de ser ingerida uma

substância radioactiva limita a sua aplicação (Castro Caldas, 2000). Através da

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utilização desta técnica, é possível identificar as diferentes áreas cerebrais envolvidas no

processo de compreensão da linguagem (Rayner & Clifton, 2002).

No domínio da linguística, poucos estudos têm sido efectuados com recurso a técnicas

cronométricas, podendo-se salientar os trabalhos dos seguintes autores: Capovilla, Capovilla e

Macedo (2002); Castro, Caló e Gomes (2003); Costa (2005); Luegi (2006); Radeau, Besson,

Fonteneau e Castro (1998); Sucena e Castro (2005); Ventura, Morais e Kolinsky (2007).

Por fim, importa realçar que a técnica de medição dos tempos de reacção apresenta como

principais desvantagens:

i) Ao ser pedido aos sujeitos para carregarem num botão, está-se a introduzir uma tarefa

secundária, estando envolvido mais do que um processo;

ii) O tempo de reacção não reflecte exclusivamente o tempo de processamento do estímulo

linguístico, já que também engloba o tempo da reacção motora.

No entanto, esta técnica tem sido essencial para a avaliação / medição de tarefas de

compreensão, permitindo medir as dificuldades sentidas pelos sujeitos durante o processamento

dos estímulos linguísticos apresentados.

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2. Metodologia

No segundo capítulo desta dissertação, explicitam-se os critérios metodológicos adoptados neste

estudo, apresentando-se: i) a questão orientadora e as hipóteses colocadas (secção 2.1.); ii) a

caracterização da amostra (secção 2.2.); iii) o material e os métodos utilizados para a recolha de

dados (secção 2.3.); iv) os procedimentos utilizados (secção 2.4.); v) a metodologia do

tratamento dos dados (secção 2.5.).

2.1. Questão orientadora e hipóteses

Com base na revisão bibliográfica efectuada no capítulo anterior, colocou-se a seguinte questão

geral: “a complexidade prosódica no domínio da palavra interfere no desempenho da tarefa de

segmentação silábica?”

Para responder a esta questão geral, foram seleccionadas três variáveis prosódicas: complexidade

silábica associada ao constituinte Ataque; extensão de palavra em número de sílabas; acento de

palavra.

Assim, definiram-se as seguintes questões de trabalho:

i) Será que a tarefa de segmentação silábica das palavras difere significativamente em

função da alteração da complexidade silábica do constituinte Ataque em posição inicial

de palavra?

ii) Será que a tarefa de segmentação silábica da palavra difere significativamente em

função da alteração da extensão de palavra?

iii) Será que a tarefa de segmentação silábica da palavra difere significativamente em

função da variável acento de palavra?

Através da revisão da literatura existente, verificou-se que diferentes investigações

desenvolvidas no domínio da aquisição e desenvolvimento silábico (Bernhardt & Stemberger,

1998; Fikkert 1994; Lamprecht et al., 2004; Freitas, 1997a) sugerem que a aquisição do

constituinte Ataque é feita de forma contínua, passando por diferentes estádios: i) Ataque

simples e Ataque vazio; ii) Ataque ramificado. A par destas evidências, que revelam que o

desenvolvimento silábico se processa por estádios, formulou-se uma primeira hipótese:

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Hipótese 1 – O sucesso na tarefa de segmentação silábica está directamente relacionado com a

complexidade do constituinte silábico em análise: palavras com o constituinte silábico simples

ou vazio em posição inicial de palavra são segmentadas mais facilmente do que palavras com o

constituinte silábico Ataque ramificado em posição inicial de palavra.

Por outro lado, os dados apontam para uma aquisição e produção inicial de palavras dissilábicas,

monossilábicas e, por fim, polissilábicas. Para o Português Europeu, alguns estudos

nomeadamente por Vigário et al. (2004, 2006b) revelam dados sobre as produções nos adultos,

salientando que os dissílabos surgem em cerca de 42,6% do corpus, enquanto que os trissílabos

(18,4%) e os monossílabos (19,8%) apresentam uma frequência bastante inferior. Dados

relativos à aquisição, revelam que 46% das produções observadas em crianças entre os 10 meses

e os dois anos correspondem a dissílabos seguidos de monossílabos (27%) e de trissílabos (20%).

A par das evidências de uma possível relação entre a extensão dos estímulos e o sucesso em

tarefas que avaliem a consciência fonológica (Albuquerque, 2003; Stahl & Murray, 1994;

Treiman & Zukowski, 1991, 1996), formulou-se uma segunda hipótese:

Hipótese 2 – As crianças segmentam mais facilmente palavras dissilábicas do que palavras

trissilábicas.

No presente trabalho, introduziram-se estímulos trissilábicos acentuados na penúltima sílaba e

acentuados na antepenúltima sílaba, ou seja, introduziram-se estímulos trissilábicos paroxítonos

e estímulos proparoxítonos. Sabendo-se que, no Português Europeu, a maioria dos estímulos são

acentuados na penúltima sílaba (54,4%) e que apenas 1,5% são acentuados na antepenúltima

sílaba (Vigário et al., 2004), colocou-se a seguinte hipótese:

Hipótese 3 – Os estímulos trissilábicos paroxítonos são segmentados mais facilmente do que os

estímulos trissilábicos proparoxítonos.

Por fim, a consciência fonológica tem sido descrita como uma competência que se vai

desenvolvendo ao longo do tempo e, como tal, as crianças começam por desenvolver a

capacidade de manipular unidades silábicas, posteriormente unidades intrassilábicas e, por fim,

segmentos (Adams, Foorman, Lundberg & Beeler, 1998; Liberman et al., 1974, Yopp, 1988,

citado por Silva, 2003; Treiman & Zukowski, 1991, 1996), sendo de esperar que:

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Hipótese 4 – Quanto mais alta é a faixa etária das crianças, melhores os resultados obtidos na

prova de segmentação silábica.

2.2. Caracterização da amostra

A amostra utilizada foi constituída por crianças a frequentar uma escola privada no concelho de

Lisboa, freguesia de Benfica. Esta amostra foi seleccionada por conveniência, sendo o processo

de amostragem não probabilístico porque a probabilidade de escolher um elemento não foi igual

para todas as crianças, dados os critérios de exclusão previamente estabelecidos. Trata-se de uma

amostragem do tipo objectiva, já que os elementos foram seleccionados de acordo com um

determinado objectivo (Maroco, 2003). Importa, ainda, realçar que o processo de recolha da

amostra é caracterizado como disponível, tendo-se avaliado apenas as crianças que, no momento

da avaliação, se encontravam na sala de aula.

Foram avaliadas todas as crianças que frequentavam a sala dos quatro e dos cinco anos de idade

e que estavam presentes na escola no momento das avaliações. Excluíram-se todas as crianças

que, até à data da avaliação, não tivessem feito quatro anos, que já tivessem feito os sete anos de

idade ou que tivessem perturbações motoras, cognitivas ou da comunicação que pudessem

comprometer os resultados. Esta informação foi fornecida, a priori, pelas educadoras de cada

uma das salas.

Desta forma, a amostra foi constituída por 80 crianças, 40 do sexo feminino e 40 do sexo

masculino, com uma média de idades de 64,6 meses (Quadro 12).

Sendo a amostra constituída por 80 crianças, entre os 50 e os 77 meses de idade, era importante

efectuar subgrupos, para que se pudesse verificar em que faixa etária se acentuavam as

dificuldades na prova de segmentação silábica e a partir de que momento esta competência

tendia a estabilizar. Desta forma, agruparam-se as 80 crianças avaliadas com base na faixa etária

das mesmas.

80 50 77 64,64 7,238Idade da amostra(meses)

N Mínimo Máximo Média Desvio padrão

Quadro 12 – Estatística descritiva da variável idade.

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Tendo em consideração que se avaliaram as crianças da sala dos quatro e da sala dos cinco anos,

optou-se por agrupar a amostra em dois grandes grupos: o grupo 1 com as crianças dos quatro

anos e dois meses aos cinco anos e dois meses; o grupo 2 com as crianças com idades

compreendidas entre os cinco anos e três meses e os seis anos e cinco meses. Através de uma

análise de frequências, foi possível observar a distribuição das 80 crianças pelos dois grupos

(Quadro 13).

Observando o Quadro 13, constata-se que o grupo 1 é constituído por 37 crianças, com uma

distribuição homogénea face à variável sexo (17 raparigas e 20 rapazes), e que o grupo 2 é

constituído por 43 crianças, 23 raparigas e 20 rapazes.

2.3. Material e métodos

Critérios linguísticos

Aquando da concretização desta investigação, foi necessário construir um instrumento de recolha

de dados. Para a identificação dos estímulos a utilizar foi fundamental estabelecer um conjunto

de critérios:

i) Selecção de palavras passíveis de serem apresentadas sob a forma de estímulo visual não

ortográfico, sendo o visionamento dos estímulos a etapa inicial para a execução da tarefa

de segmentação silábica;

ii) Identificação exclusiva de palavras dissilábicas e trissilábicas, dado serem as extensões

de palavra mais frequentes no Português Europeu (Mateus et al., 2006; Vigário et al.,

2004, 2006a);

iii) Escolha de palavras dissilábicas acentuadas na penúltima sílaba, sendo este o padrão

acentual mais frequente para o Português Europeu (Mateus et al., 2006);

Grupo Rapazes Raparigas Frequência total Percentagem (%)

1 17 20 37 46,3

2 20 23 43 53,8

Quadro 13 – Agrupamento da amostra com base na faixa etária.

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iv) Selecção de palavras dissilábicas que apresentassem um de três formatos silábicos

distintos em posição inicial de palavra: sílabas com Ataque simples (como em carro),

sílabas com Ataque vazio (como em olho) e sílabas com Ataque ramificado (como em

prato);

v) Palavras trissilábicas com Ataque simples em posição inicial de palavra, acentuadas na

penúltima sílaba (como em banana) ou na antepenúltima sílaba (como em chávena);

vi) Em todos os estímulos, presença de sílabas subsequentes do tipo CV, como em olho,

faca, braço, pêssego ou casaco, dado este ser o padrão silábico mais frequente no

Português Europeu (Andrade & Viana, 1993; Vigário & Falé, 1993), ser a estrutura não

marcada nas línguas do mundo (Jakobson, 1941/68, citado por Freitas, 1997a) e ser a

primeira estrutura a ser adquirida no processo de desenvolvimento infantil (Freitas,

1997a).

Identificação dos estímulos lexicais

Partindo-se dos critérios estabelecidos previamente, seleccionaram-se estímulos dissilábicos e

trissilábicos com os constituintes silábicos e padrões acentuais descritos anteriormente. Para esta

selecção, procurou-se identificar um mesmo número de estímulos para todas as estruturas

consideradas, para que fosse possível efectuar, a posteriori, comparações quantitativas.

Introduziram-se palavras do conhecimento lexical das crianças para que esta variável não

interferisse na realização da prova de segmentação silábica. Os Quadros 14 e 15 listam os 42

estímulos utilizados.

Quadro 14 – Estímulos dissilábicos utilizados.

Dissílabos

_V CV CV ClV

Olho Pato Prato Flauta

Asa Carro Fruta Planta

Uva Bola Bruxa Flores

Unha Dedo Braço

Anjo Gato Branco

Osso Faca Preto

Ovo Vela Prego

Ilha Luva Brinco

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Importa salientar que, para os dissílabos com ClV inicial, apenas se introduziram três estímulos

devido à escassez de palavras com esta estrutura que fossem do conhecimento lexical das

crianças. Outro critério que fez com que o número de estímulos fosse diminuto foi o grau de

imageabilidade dos estímulos lexicais relevantes, ou seja, nem todos os estímulos encontrados

com esta estrutura linguística eram passíveis de ser representados graficamente. Por outro lado,

no estímulo flores, não se respeitou o critério de a sílaba subsequente ser do tipo CV devido à

dificuldade em encontrar estímulos que preenchessem este critério.

Quadro 15 – Estímulos trissilábicos utilizados.

Trissílabos

Proparoxítonos Paroxítonos

Chávena Banana

Pássaro Bolacha

Pêssego Borracha

Lâmpada Cavalo

Médico Gelado

Números Sapato

Página Garrafa

Casaco

Relativamente aos estímulos trissilábicos, verificaram-se algumas dificuldades em identificar

estímulos proparoxítonos que pudessem ser representados graficamente e que fizessem parte do

conhecimento lexical das crianças com a faixa etária considerada. Por estes motivos, apenas se

introduziram sete estímulos trissilábicos proparoxítonos e a palavra números não respeitou o

critério de a sílaba subsequente ser do tipo CV.

Construção dos estímulos visuais

Com a selecção dos estímulos efectuada, procedeu-se à elaboração de um estímulo visual para

cada palavra alvo integrada no desenho experimental. As ilustrações foram executadas

especificamente para este estudo, tendo sido elaboradas por uma designer gráfica. Para a sua

construção, foi necessário pesquisar trabalhos de investigação que tivessem recorrido a estímulos

visuais, nomeadamente os trabalhos de Alves (em preparação), Faria & Falé (2001), Guimarães

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   Página 50     

& Grilo (sd) e Nogueira (2007). Tendo em consideração que a prova seria aplicada a crianças em

idade pré-escolar, foi necessário adequar as imagens à idade das crianças. Foram também

adoptados os seguintes critérios, de forma a conferir homogeneidade aos estímulos:

i) O fundo das imagens ser branco;

ii) O traço ser da mesma espessura em todos os desenhos;

iii) Não ser utilizada uma grande variedade de cores num mesmo desenho;

iv) Cada imagem conter apenas o desenho do estímulo em análise ou, se necessário, um

elemento para o contextualizar.

De forma a controlar a qualidade das imagens, estas foram testadas através de uma prova de

nomeação, a qual foi aplicada a 25 crianças seleccionadas aleatoriamente da amostra total de 80

crianças, 14 raparigas e 11 rapazes, com uma média de idades de 57 meses. Nos quadros que se

seguem apresentam-se os resultados obtidos na prova de nomeação, organizados em função do

constituinte silábico.

Quadro 16 – Percentagem de sucesso na nomeação de dissílabos com CV inicial.

Estímulos ´CVCV

Nomeação

Espontânea (%) Após Estimulação (%) Após Repetição (%)

Pato 80 20

Carro 100

Bola 100

Dedo 72 28

Gato 100

Faca 100

Vela 92 4 4

Luva 100

 

A nomeação das palavras dissilábicas com Ataque simples na sílaba inicial tiveram bons

resultados na prova de nomeação e, como tal, não se sentiu necessidade de proceder a nenhuma

alteração.

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Quadro 17 – Percentagem de sucesso na nomeação de dissílabos com V inicial.

Estímulos ´VCV

Nomeação

Espontânea (%) Após Estimulação (%) Após Repetição (%)

Olho 100

Asa 60 28 12

Uva 96 4

Unha 20 64 16

Anjo 52 48

Osso 100

Ovo 100

Ilha 48 4 48

Através da análise dos resultados, observou-se que as crianças apresentaram dificuldades em

nomear espontaneamente as palavras unha, anjo e ilha. A palavra unha foi nomeada por 16% da

amostra como dedo e colocou-se a hipótese de esta nomeação poder estar relacionada com a

qualidade do estímulo visual, tendo-se procedido a uma alteração do mesmo. As palavras anjo e

ilha também apresentaram uma reduzida percentagem de sucesso na nomeação mas as imagens

não foram alteradas por se ter considerado que estas dificuldades estavam relacionadas com o

facto de as crianças nestas faixa etária ainda não terem no seu léxico mental estes conceitos.

Quadro 18 – Percentagem de sucesso na nomeação de dissílabos com CCV inicial.

Estímulos ´CCVCV

Nomeação

Espontânea (%) Após Estimulação (%) Após Repetição (%)

Prato 96 4

Fruta 56 8 36

Bruxa 96 4

Braço 60 36 4

Branco 8 92

Preto 48 52

Prego 12 8 80

Brinco 32 60 8

Flauta 76 24

Planta 48 4 48

Flores 92 8

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   Página 52     

A nomeação das palavras seleccionadas com Ataque ramificado em posição inicial trouxe alguns

problemas às crianças da faixa etária testada. Na palavra fruta, em 32% das situações a imagem

foi descrita, ou seja, as crianças nomearam todas as peças de fruta existentes na imagem. Tendo

em consideração que as palavras branco e preto eram representadas com uma forma irregular, as

crianças tendiam a imaginar o que a forma representava, obtendo-se um inventário de produções

muito distintas, desde fantasma a nariz, o que levou a que as mesmas fossem alteradas. A

palavra prego foi nomeada, em 52% das situações, como parafuso, tendo-se decidido alterar a

imagem representativa da mesma. Observando-se que a palavra brinco tinha sido nomeada como

colar, em 40% das incorrecções, e que, após estimulação, 60% da amostra nomeava-a

correctamente, optou-se por alterar a imagem que a representava. A palavra planta teve como

principais incorrecções a nomeação como folhas (20%) e como flor (16%). No entanto, a

imagem não foi alterada dado se ter considerado que a mesma representava o conceito

pretendido mas que o mesmo ainda não estava presente no léxico de todas a crianças da faixa

etária considerada.

Quadro 19 – Percentagem de sucesso na nomeação de trissílabos proparoxítonos.

Estímulos ´CVCVCV

Nomeação

Espontânea (%) Após Estimulação (%) Após Repetição (%)

Chávena 52 12 36

Pássaro 96 4

Pêssego 36 4 60

Lâmpada 64 4 32

Médico 96 4

Números 88 8 4

Página 4 36 60

 

Pela análise dos dados, observa-se que as crianças tiveram dificuldades em nomear as palavras

pêssego e página. A palavra pêssego foi nomeada incorrectamente em 20% das situações como

laranja, o que demonstra que a mesma ainda não estava presente no léxico de todas as crianças.

A palavra página foi nomeada incorrectamente em 24% das situações como folha e em 16%

como papel. Tais resultados revelaram que, nesta idade, as crianças ainda não tinham presente o

conceito de página, no entanto, como neste estudo iam ser testadas crianças com uma faixa etária

mais alargada, optou-se por deixar estas duas imagens, pretendendo-se observar se o

comportamento das crianças mais velhas era semelhante ao observado.

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   Página 53     

Quadro 20 – Percentagem de sucesso na nomeação de trissílabos paroxítonos.

Estímulos CV´CVCV

Nomeação

Espontânea (%) Após Estimulação (%) Após Repetição (%)

Banana 100

Bolacha 28 4 68

Borracha 68 24 8

Cavalo 100

Gelado 100

Sapato 100

Garrafa 64 24 12

Casaco 96 4

 

Como se pode observar, a única palavra que levantou mais dificuldades foi a palavra bolacha.

Tendo em consideração que tal não seria de esperar, optou-se por modificar a imagem que a

representava.

Desta forma, foram alteradas as imagens para os seguintes estímulos lexicais seleccionados:

unha; branco; brinco; preto; prego e bolacha (Apêndice I).

Depois de se terem efectuado as alterações necessárias e se terem todas as imagens disponíveis

(Apêndice II), as mesmas foram aplicadas aos 80 elementos da amostra, tendo-se agrupado os

resultados da prova de nomeação da seguinte forma:

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   Página 54     

i) Estímulos excelentes – segmentação espontânea e/ou após estimulação superior a 95%: 

Estímulos

Nomeação

Espontânea (%) Após estimulação (%) Espontânea + após estimulação (%)

Olho 97,5 97,5

Osso 100 100

Ovo 100 100

Pato 100 100

Carro 100 100

Bola 100 100

Dedo 77,5 22,5 100

Gato 100 100

Faca 100 100

Vela 95 2,5 100

Luva 98,8 1,2 100

Branco 2,5 97,5 100

Preto 16,2 83,8 100

Pássaro 98,8 1,2 100

Médico 98,8 1,2 100

Cavalo 100 100

Gelado 100 100

Sapato 100 100

Prato 93,8 5 98,8

Números 81,3 17,5 98,8

Casaco 85 13,8 98,8

Bruxa 93,8 3,8 97,6

Borracha 66,3 31,3 97,6

Flores 97,5 97,5

Braço 41,3 53,8 95,1

Asa 75 20 95

Uva 95 95

 

 

 

 

 

 

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   Página 55     

ii) Estímulos muitos bons – segmentação espontânea e/ou após estimulação entre 80% e

95%:

Estímulos Nomeação

Espontânea (%) Após estimulação (%) Espontânea + após estimulação (%) Unha 31,3 61,3 92,6

Garrafa 63,8 28,8 92,6

Brinco 62,5 28,8 91,3

Flauta 81,3 1,3 82,6

 

iii) Estímulos bons – segmentação espontânea e/ou após estimulação entre 70% e 80%:

Estímulos Nomeação

Espontânea (%) Após estimulação (%) Espontânea + após estimulação (%)

Anjo 3,8 68,8 72,6

Fruta 47,5 25 72,5

Chávena 50 21,3 71,3

Ilha 63,8 6,3 70,1

 

iv) Estímulos suficientes – segmentação espontânea e/ou após estimulação inferior a 70%:

Estímulos Nomeação

Espontânea (%) Após estimulação (%) Espontânea + após estimulação (%)

Bolacha 61,3 7,5 68,8

Lâmpada 58,8 6,3 65,1

Planta 52,5 12,5 65

Página 1,3 55 56,8

Pêssego 46,3 8,8 55,1

Prego 30 25 55

 

Posteriormente procedeu-se à programação do instrumento de avaliação para a prova de

segmentação silábica.

Para a aplicação da prova de segmentação silábica, foi utilizado o programa E-prime. Trata-se de

um programa americano, desenvolvido por Schneider, Eschman e Zuccolotto em 2002 e que tem

como principal vantagem poder utilizar, simultaneamente, imagem, palavra e som. Possibilita

ainda a medição de tempos de reacção em milissegundos, parâmetro usado para o estudo do

modo como diferentes estímulos linguísticos são processados, não utilizando apenas dados

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   Página 56     

extraídos da produção verbal. A medição de tempos de reacção em milissegundos permite extrair

informação detalhada quanto ao processamento cerebral de uma dada tarefa. Apesar de se

poderem obter inúmeros resultados com a utilização deste programa, apenas foi seleccionado o

tempo de segmentação, mais especificamente, o tempo utilizado para segmentar cada sílaba e o

tempo total utilizado na segmentação da palavra. Assim, optou-se por este programa informático

dado permitir:

i) O registo dicotómico (certo ou errado);

ii) A introdução simultânea de estímulos visuais e auditivos;

iii) A medição dos tempos de reacção de cada segmentação.

O tempo de reacção é assumido como indicador do grau de complexidade de um estímulo, pelas

suas propriedades e pelas operações cognitivas envolvidas no seu processamento (Faria, 2005;

Perea & Rosa, 1999). Este tempo está directamente relacionado com o grau de dificuldade do

processamento da informação de um estímulo, ou seja, quanto maior o tempo de reacção maior,

a dificuldade em processar a informação (Luegi, 2006).

Relativamente à aplicação do instrumento de recolha de dados, o E-prime foi programado para

que cada imagem aparecesse aleatoriamente no ecrã. A cada imagem estava associado um

registo áudio, tendo cada criança acesso à imagem e ao formato fonético do estímulo, para que

não fosse necessária a intervenção do investigador. Numa primeira fase, foi gravada a produção

de cada estímulo. Todas as gravações foram efectuadas pela mesma pessoa, para que o mesmo

tipo de voz fosse mantido, tendo-se utilizado um microfone unidireccional e o gravador áudio do

Windows. Assim, associaram-se os registos áudio às imagens respectivas para que, após o

aparecimento da imagem, surgisse, passada uma décima de segundo, o estímulo auditivo.

Desta forma, após a visualização da imagem e a audição da palavra correspondente, a criança

deveria carregar numa tecla previamente indicada o número de vezes correspondente ao número

de sílabas de cada palavra, aparecendo no canto inferior direito um traço horizontal a cada toque

na tecla, de forma a proporcionar uma percepção visual da execução da tarefa.

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   Página 57     

2.4. Procedimentos

Obtenção das autorizações

A selecção da escola foi feita, por conveniência, com base na sua localização geográfica, tendo-

se avaliado as crianças numa escola privada no concelho de Benfica, no Externato das Pedralvas.

Para a obtenção da autorização, elaborou-se um documento escrito (Apêndice III) que explicava

sucintamente o conteúdo da investigação, o qual a directora da escola deveria rubricar caso

autorizasse a recolha de dados. Marcou-se uma reunião com a respectiva directora, que

concordou em autorizar a realização da investigação, assinando o documento supracitado

(Apêndice IV), responsabilizando-se pela totalidade das crianças, não sendo assim, necessária a

obtenção de autorizações por parte dos encarregados de educação.

Aplicação do instrumento de recolha de dados

A avaliação da amostra foi desenvolvida em duas etapas: a) aplicação da prova de nomeação

verbal; b) aplicação da prova de segmentação silábica.

a) Prova de nomeação

A prova de nomeação dos 42 estímulos identificados foi aplicada entre os dias 21 e 25 de Maio,

ao início da tarde. Relativamente ao protocolo de aplicação da prova, o investigador foi buscar

cada criança à sala de aula, havendo uma selecção aleatória, por parte da educadora, da criança

que acompanhava o investigador. A criança e o investigador dirigiam-se para uma sala onde não

estavam a decorrer quaisquer actividades e sentavam-se lado a lado, ficando a criança sentada na

cadeira em frente do computador. Posteriormente, era explicado à criança que iriam surgir

imagens no ecrã, as quais ela deveria nomear e, depois de o fazer, deveria carregar na tecla que

tinha uma seta, de forma a apresentar a imagem seguinte. Desta forma, apresentaram-se as

imagens através do programa Power Point do Windows XP, proporcionando uma participação

mais activa da própria criança na actividade. Durante a aplicação da prova, o investigador tinha

uma folha de registo (Apêndice V), anotando se a criança nomeava correctamente, se nomeava

após estimulação ou após repetição, sendo anotadas todas as nomeações produzidas pela criança.

Importa referir que cada avaliação durou cerca de 15 minutos por criança.

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   Página 58     

b) Prova de segmentação silábica

A prova de segmentação silábica foi aplicada durante o mês de Junho, sempre da parte da manhã

(das 9:30 às 12 horas), tendo uma duração média de 20 minutos por criança. Tal como para a

prova de nomeação, o investigador foi buscar uma criança à sala de aula, havendo uma selecção

aleatória, por parte da educadora, da criança que acompanhava o investigador. A criança e o

investigador iam para uma sala onde não estavam a decorrer quaisquer actividades e sentavam-se

lado a lado, ficando a criança sentada na cadeira que estava à frente do computador. Numa fase

inicial, era perguntado à criança se sabia o que eram os bocadinhos das palavras11. Mesmo que a

criança dissesse que sabia, o investigador segmentava o seu próprio nome, utilizando o bater das

palmas para marcar cada sílaba. Posteriormente, era pedido à criança que fizesse o mesmo com o

seu nome, com a palavra mesa e com a palavra cadeira.

Seguidamente, era explicado à criança que iria realizar a mesma tarefa usando o computador, ou

seja, iriam aparecer imagens no ecrã e ela teria de estar com atenção para ouvir o nome das

mesmas. Assim que ouvisse o nome da imagem, deveria carregar na tecla “Y”, associada à

imagem do Noddy, o número de vezes correspondente ao número de bocadinhos. Foi efectuado

um treino com as palavras copo e laço (Apêndice VI).

Antes de se dar início à prova, aparecia o sinal de adição no ecrã do computador e era

perguntado à criança se estava pronta. O investigador dava início à prova carregando na tecla

“W”; para passar para a imagem seguinte, pressionava a tecla “P”. A única tecla que estava

acessível à criança era a tecla “Y”. Ao longo da prova, e de forma a encorajar as crianças a

realizarem a mesma, o investigador forneceu feedback positivo, utilizando expressões como:

“muito bem”; “é isso mesmo”; “boa”; entre outras.

Para além do registo dos tempos de reacção, através do teclado do computador, o investigador

recorria à mesma folha de registo utilizada para a prova de nomeação, anotando ao lado de cada

palavra a forma como a criança segmentava o estímulo alvo. Não foi efectuado nenhum registo

áudio das produções verbais de cada criança.

                                                            11 No conjunto das informações fornecidas às crianças, não foi empregue o termo sílaba mas sim “bocadinho da palavra”, dada a faixa etária da amostra.

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   Página 59     

2.5. Tratamento dos dados

Para a análise dos dados, foi construída uma base de dados através do programa informático

Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 11.5, onde foram inseridas diversas variáveis.

No que se refere à análise estatística, recorreu-se à estatística descritiva, a qual está relacionada

com a recolha, organização, análise e interpretação de dados empíricos (Martinez & Ferreira,

2007). Neste domínio, analisaram-se medidas de tendência central (média, moda, quartis e

percentis) e medidas de dispersão (desvio padrão). Para uma análise mais aprofundada dos

resultados, recorreu-se à estatística inferencial, a qual permitiu estimar características

desconhecidas, como sejam a distribuição amostral e a relação entre variáveis.

Relativamente à estatística inferencial, utilizou-se estatística paramétrica e estatística não

paramétrica. A estatística paramétrica foi utilizada na análise dos tempos de reacção utilizados

na segmentação de cada estrutura linguística considerada. Tendo em consideração que se

pretendia avaliar se o comportamento do mesmo conjunto de crianças variava nas segmentações

correctas, por exemplo, de estímulos dissilábicos e trissilábicos, aplicou-se o teste T de Student

para amostras relacionadas, de forma a verificar se as diferenças eram significativas. Importa

realçar que o mesmo teste compara médias de duas variáveis para um mesmo grupo (Pereira,

2004), ou seja, quando existem duas condições experimentais que envolvem os mesmos sujeitos

(Martinez & Ferreira, 2007). Aplicou-se directamente o teste paramétrico, tendo-se por base o

teorema do limite central, o qual postula que, para amostras com n > 30 elementos, pode aplicar-

se directamente a estatística paramétrica.

A estatística não paramétrica, que contempla testes que não necessitam de requisitos tão fortes

como os testes paramétricos, foi também utilizada. Esta estatística pode ser aplicada a amostras

pequenas, apesar de apresentar como principal desvantagem o facto de não ser tão potente, ou

seja, de não permitir encontrar tantas diferenças entre os dados quando elas realmente existem

(Maroco, 2003; Martinez & Ferreira, 2007; Pereira, 2004). Esta estatística foi aplicada na análise

dos tempos de reacção utilizados nas segmentações incorrectas de cada estrutura linguística

considerada, porque n < 30. Tendo em consideração que se pretendia avaliar o comportamento

do mesmo conjunto de crianças, aplicou-se o teste de Wilcoxon, sendo este a alternativa não

paramétrica ao teste T de Student.

Na comparação dos grupos, tendo por base a faixa etária, foi utilizada estatística não

paramétrica. Apesar de os dois grupos terem um n > 30, este era apenas ligeiramente superior

(grupo 1 = 37 crianças; grupo 2 = 43 crianças). Como tal, recorreu-se primeiramente ao teste

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Kolmogorov-Smirnov, o qual revelou que as variáveis não apresentavam uma distribuição

normal, sendo preferível recorrer à estatística não paramétrica. Assim, aplicou-se o teste de

Mann-Whitney, o qual permitiu observar as diferenças entre os dois grupos.

Procedeu-se à análise de possíveis correlações entre as variáveis idade e capacidade de

segmentação correcta, idade e tempo de reacção e capacidade de nomeação e capacidade de

segmentação. Tendo em consideração que as variáveis idade, tempo de reacção e capacidade de

segmentação eram variáveis medidas numa escala intervalar e que a amostra era constituída por

80 crianças, não foi necessário verificar a distribuição das mesmas, tendo por base o teorema do

limite central (Maroco, 2003), o qual postula que, para amostras com n > 30, a estatística garante

a aproximação da distribuição normal, aplicando-se a correlação de Pearson. Como a variável

capacidade de nomeação era medida numa escala ordinal para a observação de correlações entre

esta variável e a capacidade de segmentação, foi necessário aplicar a alternativa não paramétrica

ao coeficiente de correlação Pearson, o coeficiente de correlação de Spearman.

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3. Descrição dos Resultados

Neste capítulo, dividir-se-á a descrição dos resultados obtidos em sete etapas: i) descrever-se-á o

comportamento das 80 crianças avaliadas face à tarefa de segmentação silábica das 42 palavras

utilizadas12 (secção 3.1); ii) realizar-se-á uma análise estatística das segmentações dos dissílabos

e trissílabos (secção 3.2); iii) proceder-se-á a uma análise estatística dos tempos de reacção

utilizados nas segmentações correctas (secção 3.3); iv) efectuar-se-á uma análise estatística

relativamente aos tempos de reacção utilizados nas segmentações incorrectas (secção 3.4); v)

analisar-se-á a capacidade de segmentação em cada grupo (secção 3.5); vi) analisar-se-ão as

correlações existentes entre as variáveis em análise (secção 3.6); vii) far-se-á um sumário dos

principais resultados obtidos (secção 3.7.).

Antes de se iniciar a descrição dos resultados importa relembrar, como descrito no capítulo 2,

que a amostra, constituída por 80 crianças, foi agrupada com base na faixa etária, como se repete

no Quadro 21.

Com base nos resultados obtidos, a amostra foi agrupada em dois grupos com um número de

crianças semelhante.

3.1. Comportamento da amostra face à tarefa de segmentação silábica das 42 palavras

Tendo em consideração que o objectivo principal desta investigação é o de observar a

capacidade de crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 6 anos de idade para

segmentarem palavras dissilábicas e trissilábicas, numa primeira fase, importa caracterizar os

dados relativos à tarefa de segmentação silábica, produto do comportamento da amostra face a

esta prova. Procedeu-se a uma análise de frequências, de forma a verificar o comportamento das                                                             12 Para mais informações sobre os critérios de selecção das mesmas, consulte-se o capítulo 2.

Agrupamento da amostra

37 46,343 53,880 100,0

Grupo 1Grupo 2Total

Frequência Percentagem

Quadro 21 – Distribuição da amostra pelos dois subgrupos.

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crianças perante os 42 estímulos seleccionados, tendo-se observado que nenhuma criança foi

capaz de segmentar correctamente a totalidade dos estímulos apresentados e, apesar de o número

máximo de segmentações correctas ter sido 41, apenas uma criança conseguiu obter esta

classificação. O Quadro 22 refere-se ao número de segmentações correctas mais frequentes para

a totalidade da amostra.

Quadro 22 – Frequências e percentagens de sucesso na tarefa de segmentação silábica.

Segmentações Correctas Frequência (N) Percentagem (%) 30 5 6,3 32 6 7,5 34 7 8,8 35 7 8,8 31 8 10 36 11 13,8 38 13 16,3

Através da análise do Quadro 22, verifica-se que a maioria das crianças obteve entre 30 e 38

segmentações correctas, sendo que 16,3% da amostra conseguiu segmentar correctamente 38

palavras e que 13,8% conseguiu segmentar correctamente 36 palavras.

Mais do que a análise do número de segmentações correctas obtido pela maioria dos elementos

da amostra, importa verificar qual o número médio de segmentações correctas que as crianças na

faixa etária considerada conseguiram obter (Quadro 23).

Quadro 23 – Estatística descritiva da segmentação total das palavras (mínimo, máximo, média e desvio padrão).

Através do Quadro 23, verifica-se que em média as crianças conseguiram efectuar 33

segmentações correctas em 42 possíveis.

3.2. Análise estatística das segmentações dos dissílabos e dos trissílabos

Nesta secção, para cada estrutura linguística considerada neste estudo, procurar-se-á, analisar as

segmentações correctas e as incorrectas produzidas pelas crianças observadas. Na análise das

segmentações correctas, recorrer-se-á a estatística descritiva (análise de frequências) e, na análise

das segmentações incorrectas, destacar-se-á a frequência de ocorrência dos erros e descrever-se-

ão os tipos de erros ocorridos integrados numa tipologia de erros construída com base empírica.

80 16 41 33,00 5,382Capacidade de segmentação totalN Mínimo Máximo Média Desvio padrão

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   Página 63     

Aquando da análise destes resultados, procedeu-se à construção de uma tipologia dos erros

produzidos pelas crianças, a fim de agrupar e analisar os dados obtidos:

1) Inserção de segmento em posição inicial de palavra: inserção de um segmento, mais

especificamente de uma vogal, em posição inicial de palavra. Na totalidade dos casos, o

segmento corresponde à duplicação da vogal do Núcleo da sílaba inicial de palavra. A

título exemplificativo, para as palavras alvo ilha e osso, verificaram-se as seguintes

segmentações: [i.i.] (criança 10) e [o.o.su] (criança 17);

2) Inserção de segmento em posição medial de palavra: inserção de segmento no interior de

palavra, com alteração do número de sílabas da mesma. Na maioria das situações, houve

a inserção do segmento que ocupava a posição de Núcleo na sílaba anterior. Vejam-se os

exemplos das palavras alvo asa e carro: [a.z.] (criança 42) e [ka.a.u] (criança

20);

3) Inserção de segmento em posição final de palavra: adição de um segmento no final da

palavra. Em muitas situações, o segmento inserido foi o marcador de género usado na

palavra, a vogal [u], como em osso [o.su.u] (criança 75), ou o segmento [], como na

palavra lâmpada [l.p.d.] (criança 5). Importa realçar que o segmento [] foi

produzido isoladamente, não sendo integrado na sílaba alvo numa situação, na palavra

flores, [f.lo..] (criança 12);

4) Epêntese de vogal em Ataque ramificado: inserção de vogal entre os elementos de um

Ataque ramificado, tal como na palavra prato [p.a.tu] (criança 21) e na palavra

planta [p.l.t] (criança 62), em que se observou a epêntese do segmento [];

5) Aglutinação de sílabas átonas: fusão, numa mesma unidade, das sílabas átonas medial e

final, nos trissílabos. Este erro ocorreu nas palavras trissilábicas proparoxítonas, como

sejam as palavras pássaro [pa.su] (criança 12) e chávena [a.vn] (criança 16).

Importa salientar que as produções foram seleccionadas em função da sua estrutura

fonológica, não se dando destaque à omissão do segmento [] em contexto de fala

espontânea;

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   Página 64     

6) Aglutinação de sílaba tónica e de sílaba átona: fusão, numa mesma unidade, da sílaba

tónica e da sílaba átona, em trissílabos. Desta forma, tanto se verificaram aglutinações

das sílabas medial e final, como na palavra cavalo [k.valu] (criança 24), como das

sílabas inicial e medial, como ocorreu na palavra médico, [mdi.ku] (criança 14);

7) Ausência de segmentação: foi necessário criar esta categoria dado em algumas situações

as palavras não terem sido segmentadas, tendo sido consideradas monossilábicas. Esta

ausência de segmentação ocorreu, por exemplo, nas palavras unha [u] (criança 23) e

página [pain] (criança 8);

8) Omissão de segmento: omissão do segmento // em estímulos com o constituinte Ataque

ramificado (CCV), como se pôde observar na segmentação das palavras prego [p.u]

(criança 20) e preto [pe.tu] (criança 20).

3.2.1. Dissílabos com estrutura CV (Ataque simples) em posição inicial

Na literatura, é assumido que a estrutura CV constitui o formato silábico não marcado. Um dos

argumentos é o de que este é o primeiro formato silábico a existir nas primeiras produções das

crianças (Jakobson, 1941/68, citado por Freitas, 1997a). Começar-se-á por descrever os

resultados obtidos na tarefa de segmentação silábica com os dissílabos com estrutura CV inicial.

A segmentação de dissílabos com Ataque simples em posição inicial foi avaliada através da

utilização de oito estímulos: [bl]; [kau]; [dedu]; [atu]; [fak]; [luv];

[patu] e [vl].

A fim de se observar o número médio de segmentações correctas com os oito estímulos

supracitados, importa observar o Gráfico 1.

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Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos  

   Página 65     

Segmentações correctas

8,07,06,05,04,03,0

Freq

uênc

ia

70

60

50

40

30

20

10

0

Estatisticamente, a média de segmentações correctas foi de sete palavras (M = 7,4 / DP = 1,2),

sendo três o mínimo de palavras segmentadas correctamente. A segmentação da totalidade dos

estímulos dissilábicos com estrutura CV foi conseguida por 59 crianças, ou seja, por 73,8% da

amostra. Veja-se, no Quadro 24, o comportamento da amostra face a cada estímulo.

Quadro 24 – Frequência e percentagem de palavras dissilábicas com CV inicial segmentadas correctamente.

Palavras Frequência (N) Percentagem (%)

Pato 77 96,3

Carro 76 95

Vela 76 95

Bola 75 93,8

Dedo 74 92,5

Gato 74 92,5

Faca 72 90

Luva 71 88,8

Pela análise do Quadro 24, verifica-se que a palavra segmentada com uma maior percentagem de

sucesso foi a palavra pato (96,3%) e a palavra luva foi segmentada com mais dificuldade

havendo, no entanto, uma percentagem de êxito de 88,8%.

Analisando os dados numa perspectiva qualitativa, importa observar o tipo de incorrecções que

ocorreram aquando da segmentação dos oito estímulos com Ataque simples em posição inicial

de palavra. Vejam-se alguns exemplos listados em 8:

Gráfico 1 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com CV em posição inicial.

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   Página 66     

8) Segmentações de dissílabos com CV em posição inicial

a) Inserção de segmento em posição medial de palavra

Carro /kau/ → [ka.a.u] (Criança 20: 4 anos e 8 meses)

Dedo /dedu/ → [de.e.du] (Criança 20: 4 anos e 8 meses)

Faca /fak/ → [fa.a.k] (Criança 5: 5 anos)

b) Inserção de segmento em posição final de palavra

Pato /patu/ → [pa.tu.u] (Criança 12: 5 anos e 2 meses)

Vela /vl/ → [v.l.] (Criança 42: 4 anos e 5 meses)

Gato /atu/ → [a.tu.u] (Criança 22: 5 anos)

c) Ausência de segmentação

Faca /fak/ → [fak] (Criança 17: 4 anos e 8 meses)

Luva /luv/ → [luv] (Criança 10: 4 anos e 11 meses)

Bola /bl/ → [bl] (Criança 25: 5 anos)

Os exemplos em 8) ilustram a existência de três estratégias distintas, para as quais se apresentam

dados quantitativos no Quadro 25:

Quadro 25 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com CV inicial.

Tipo de erros Frequência Idade (anos; meses)

Média Moda Mínimo Máximo Inserção de segmento em posição medial de palavra 3 4;07 4;06 4;06 5;00

Inserção de segmento em posição final de palavra 34 5;02 5;00 4;04 6;03

Ausência de segmentação 8 5;02 5;00 4;04 6;02

Analisando o Quadro 25, constata-se que, na prova de segmentação de palavras dissilábicas com

Ataque simples inicial, o erro mais frequente foi a inserção de segmento em posição final de

palavra, sendo as vogais [] e [u] os segmentos introduzidos por reduplicação do marcador de

género. O valor dado pela moda indica o valor mais frequente num intervalo de dados e, tendo

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   Página 67     

Segmentações correctas

8,06,04,02,00,0

Freq

uênc

ia

70

60

50

40

30

20

10

0

em conta as faixas etárias em que estes erros ocorreram, verificou-se que as crianças com cinco

anos de idade foram as que mais recorreram a este tipo de estratégias.

3.2.2. Dissílabos com estrutura V (Ataque vazio) em posição inicial

Segundo Freitas (1997a), as crianças portuguesas apresentam a produção simultânea de sílabas

CV e V, no estádio inicial de produção, ou seja, Ataques simples e vazios são produzidos desde

o início, em conformidade com as estruturas silábicas dos estímulos alvo.

Neste trabalho, e para a análise da segmentação de palavras dissilábicas com Ataque vazio em

posição inicial, utilizaram-se oito palavras: [ju]; [az]; [i]; [ou]; [osu]; [ovu];

[u] e [uv].

Para se compreender de que forma as crianças avaliadas segmentaram os oito estímulos com V

inicial, observe-se o gráfico que se segue.

Estatisticamente, a média obtida foi de sete palavras segmentadas correctamente (M = 7,1 / DP =

1,55), sendo que apenas 48 crianças, 60% da amostra, conseguiram segmentar correctamente os

oito estímulos.

Depois de obtida a percentagem de sucesso na tarefa de segmentação silábica para esta estrutura

linguística, importa observar o comportamento face a cada estímulo (Quadro 26).

Gráfico 2 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com V inicial.

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Quadro 26 – Frequência e percentagem de palavras dissilábicas com V inicial segmentadas correctamente.

Palavras Frequência (N) Percentagem (%)

Anjo 73 91,3 Ilha 73 91,3

Osso 73 91,3

Olho 72 90

Uva 72 90

Unha 70 87,5

Ovo 69 86,3

Asa 67 83,8

Através da análise do Quadro 26, verifica-se que as palavras anjo, ilha e osso foram as que

obtiveram uma maior percentagem de sucesso na tarefa proposta, dado que 73 elementos da

amostra (91,3%) as segmentaram correctamente. Opostamente, a palavra asa foi a mais

problemática, tendo uma percentagem de sucesso de 83,8%.

Após a descrição estatística referente às segmentações correctas, importa agora identificar,

descrever e classificar os erros efectuados pelos elementos da amostra no decorrer da prova,

procedendo-se, assim, a uma descrição qualitativa dos dados relativos à segmentação de palavras

com Ataque vazio em posição inicial de palavra. Vejam-se alguns exemplos listados em 9:

9) Segmentações de dissílabos com V em posição inicial

a) Inserção de segmento em posição inicial de palavra

Ilha /i/ → [i.i.] (Criança 10: 4 anos e 11 meses)

Osso /osu/ → [o.o.su] (Criança 17: 5 anos e 1 mês)

Asa /az/ → [a.a.z] (Criança 33: 5 anos e 1 mês)

b) Inserção de segmento em posição medial de palavra

Unha /u/ → [u..] (Criança 57: 6 anos e 1 mês)

Asa /az/ → [a.z.] (Criança 42: 6 anos e 1 mês)

c) Inserção de segmento em posição final de palavra

Anjo /u/ → [.u.u] (Criança 13: 5 anos e 2 meses)

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Olho /ou/ → [o.u.u] (Criança 5: 5 anos)

Ovo /ovu/ → [o.vu.u] (Criança 71: 6 anos e 3 meses)

d) Ausência de segmentação

Anjo /u/ → [u] (Criança 9: 4 anos e 11 meses)

Olho /ou/ → [ou] (Criança 17: 4 anos e 8 meses)

Asa /az/ → [az] (Criança 53: 6 anos e 1 mês)

A análise dos dados permitem verificar que as crianças recorreram a quatro estratégias distintas

na tarefa de segmentação silábica, sumariadas e quantificadas no Quadro 27.

Quadro 27 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com V inicial.

Tipo de erros Frequência Idade (anos; meses)

Média Moda Mínimo Máximo Inserção de segmento em posição inicial de palavra 3 5;00 5;01 4;11 5;01

Inserção de segmento em posição medial de palavra 3 6;01 6;01 6;01 6;01

Inserção de segmento em posição final de palavra 52 5;01 5;02 4;03 6;04

Ausência de segmentação 13 5;03 4;06 4;05 6;04

Pela análise do Quadro 27, observa-se que, tal como na segmentação de palavras dissilábicas

com CV inicial, na segmentação de palavras dissilábicas com V inicial, o tipo de erro mais

frequente foi a inserção de segmento em posição final de palavra. Os segmentos inseridos em

posição final de palavra foram as vogais [u] e [], réplicas do marcador de género. Através da

análise do valor da moda, foi possível verificar que as crianças com cinco anos e dois meses

foram as que mais recorreram à estratégia de inserção de segmento em posição final de palavra.

Importa salientar que, no erro inserção de segmento em posição medial de palavra, foi inserido o

segmento [], sendo efectuado por três crianças, todas com seis anos e um mês.

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3.2.3. Dissílabos com estrutura CCV (Ataque ramificado) em posição inicial

No Português Europeu, o Ataque ramificado ocorre essencialmente com as combinações listadas

abaixo (Mateus et al., 2005; Mateus & Andrade, 2000)13:

10) Combinatórias mais frequentes para o Ataque ramificado

i) Oclusiva + Lateral → [bl]oco, [pl]aca, a[tl]eta, [l]ote, [kl]oro

ii) Fricativa + Lateral → [fl]or

iii) Oclusiva + Vibrante → [k]avo, []ilo, [p]ato, [b]inco, [t]ança, [d]agão

iv) Fricativa + Vibrante → [f]uta, li[v]o

De acordo com Freitas (1997a), e como para outras línguas, este é o último constituinte silábico

a emergir e a estabilizar, no percurso do desenvolvimento silábico infantil.

Como referido, foram inseridos neste trabalho estímulos que permitissem avaliar a capacidade de

segmentação com palavras que incluíssem estas quatro combinatórias segmentais em posição

inicial de palavra14.

Na prova aplicada, utilizaram-se os seguintes estímulos:

11) Estímulos utilizados com o constituinte Ataque ramificado

i) Oclusiva + Lateral /l/

[pl]anta

ii) Fricativa + Lateral /l/

[fl]auta [fl]ores

iii) Oclusiva + Vibrante //

[b]aço [b]anco [b]inco [b]uxa [p]ato

[p]ego [p]eto

iv) Fricativa + Vibrante //

[f]uta

                                                            13 Para mais informações sobre o Ataque ramificado no Português Europeu, consulte-se o capítulo 1. 14 Para mais informações sobre os estímulos introduzidos e critérios de inclusão, consulte-se o capítulo 2.

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   Página 71     

Segmentações correctas

12,010,08,06,04,02,00,0

Freq

uênc

ia

30

20

10

0

Pode observar-se, no Gráfico 3, o comportamento das crianças perante a segmentação de

palavras dissilábicas com o constituinte Ataque ramificado em posição inicial de palavra.

Estatisticamente, a média de segmentações correctas foi de sete palavras (M = 7,0 / DP = 2,8),

sendo zero o mínimo de palavras segmentadas correctamente. As 11 segmentações foram

conseguidas por apenas cinco crianças, o que representa 6,3% da amostra.

Dissílabos com estrutura CV em posição inicial

Neste trabalho, e para a segmentação de palavras dissilábicas com o constituinte Ataque

ramificado CV em posição inicial, utilizaram-se oito palavras: [basu]; [bku];

[biku]; [bu]; [fut]; [patu]; [pu] e [petu]. Através do Gráfico 4, é

possível observar o número médio de segmentações correctas na segmentação dos oito estímulos

considerados.

Gráfico 3 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com CCV inicial.

Gráfico 4 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com CV inicial.

Segmentações correctas

8,07,06,05,04,03,02,01,00,0

Freq

uênc

ia

50

40

30

20

10

0

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   Página 72     

Estatisticamente, a média de segmentações correctas foi de seis palavras (M = 6,3 / DP = 2,4),

sendo zero o mínimo de palavras segmentadas correctamente. A segmentação da totalidade dos

estímulos foi conseguida por 40 crianças, o que perfaz 50% da amostra (Gráfico 4).

Comparativamente aos constituintes já descritos, Ataque simples e Ataque vazio, observaram-se

mais dificuldades na segmentação de palavras com Ataque ramificado inicial. Analisando-se a

percentagem de sucesso na segmentação dos oito estímulos considerados, verificaram-se

algumas diferenças na percentagem de segmentação dos estímulos utilizados (Quadro 28).

Quadro 28 – Frequência e percentagem de palavras dissilábicas com CV inicial segmentadas correctamente.

Palavras Frequência (N) Percentagem (%)

Prego 66 82,5 Brinco 66 82,5

Braço 64 80

Prato 63 78,8

Branco 63 78,8

Bruxa 62 77,5

Preto 60 75

Fruta 56 70

A segmentação de dissílabos com Ataque ramificado em CV foi uma tarefa que obteve uma

percentagem de sucesso, para todos os estímulos, superior a 70%. Pela análise do Quadro 28,

verifica-se que as palavras segmentadas correctamente pela maioria dos elementos da amostra

foram as palavras prego e brinco, as quais obtiveram uma percentagem de sucesso de 82,5%. Por

outro lado, a palavra fruta foi a que motivou maiores dificuldades, tendo sido segmentada

correctamente por 56 crianças, isto é, por 70% da amostra.

Para além da análise quantitativa descrita previamente, importa efectuar uma descrição

qualitativa dos dados relativos à segmentação de palavras com Ataque ramificado com o

segmento vibrante // em posição de C2. Vejam-se alguns exemplos listados em 12:

12) Segmentações de dissílabos com CV em posição inicial

a) Inserção de segmento em posição final de palavra

Prego /pu/ → [p.u.u] (Criança 4: 5 anos)

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Bruxa /bu/ → [bu..] (Criança 22: 5 anos)

Preto /petu/ → [pe.tu.u] (Criança 34: 5 anos e 1 mês)

b) Epêntese de vogal

Prato /patu/ → [p.a.tu] (Criança 47: 6 anos e 4 meses)

Brinco /biku/ → [b.i.ku] (Criança 75: 5 anos e 4 meses)

Fruta /fut/ → [f.u.t] (Criança 5: 5 anos)

c) Ausência de segmentação

Prego /pu/ → [pu] (Criança 6: 4 anos e 6 meses)

Branco /bku/ → [bku] (Criança 23: 5 anos e 4 meses)

Bruxa /bu/ → [bu] (Criança 17: 4 anos e 8 meses)

d) Omissão de segmento

Prego /pu/ → [p.u] (Criança 68: 5 anos e 8 meses)

Preto /petu/ → [pe.tu] (Criança 17: 4 anos e 8 meses)

e) Epêntese de vogal e inserção de segmento em posição final de palavra

Preto /petu/ → [p.e.tu.u] (Criança 45: 6 anos e 3 meses)

Braço /basu/ → [b.a.su.u] (Criança 34: 5 anos e 1 mês)

f) Inserção de segmento em posição medial de palavra

Fruta /fut/ → [fu.t.] (Criança 70: 5 anos e 10 meses)

Pela observação dos estímulos lexicais com Ataque ramificado em CV inicial, verifica-se que

as crianças recorreram a uma maior diversidade de estratégias do que para os estímulos lexicais

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   Página 74     

com Ataque simples e com Ataque vazio. Vejam-se os resultados quantitativos relativos às

estratégias seleccionadas pelas crianças em observação no Quadro 29.

Quadro 29 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com CV inicial.

Tipo de erros Frequência Idade (anos; meses)

Média Moda Mínimo Máximo Inserção de segmento em posição final de palavra 31 5;02 5;00 4;06 5;11

Epêntese de vogal 94 5;05 4;08 4;05 6;04

Ausência de segmentação 8 5;00 4;06 4;05 6;01

Omissão de segmento 3 5;00 4;08 4;08 5;08 Epêntese de vogal e inserção de segmento em posição final de palavra 2 5;00 ------- 5;00 5;01

Inserção de segmento em posição medial de palavra 1 5;08 ------- ------- -------

Pela análise do Quadro 29, verifica-se que o erro epêntese de vogal é o mais frequente,

ocorrendo 94 vezes num total de 139 erros, seguido da inserção de segmento em posição final de

palavra, que se verificou 31 vezes num total de 139 erros. Observando a coluna referente à

moda, constata-se que, das seis estratégias identificadas, cinco são utilizadas por crianças com

menos de cinco anos e que a estratégia ausência de segmentação é utilizada pelas crianças mais

novas, com quatro anos e seis meses. Para os erros inserção de segmento em posição medial de

palavra, epêntese de vogal e inserção de segmento em posição final de palavra, não foi possível

estabelecer o valor da moda dado a frequência de ocorrência ser praticamente inexistente.

Dissílabos com estrutura ClV em posição inicial

Para a avaliação deste constituinte, identificaram-se apenas três estímulos e, por esse mesmo

facto, a análise estatística quantitativa apresenta algumas limitações. Para este estudo, foram

utilizadas as seguintes palavras com Ataque ramificado em ClV: [flo]; [flawt] e

[plt].

Através do Gráfico 5, é possível observar o número médio de segmentações correctas que as

crianças obtiveram na prova de segmentação com os três estímulos considerados.

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Segmentações correctas

3,02,01,00,0

Freq

uênc

ia

50

40

30

20

10

0

A análise do Gráfico 5, permite observar que as três palavras foram segmentadas correctamente

apenas por seis crianças, isto é, apenas 7,5% da amostra segmentou correctamente a totalidade

dos estímulos com a estrutura ClV em início de palavra (M = 0,8 / DP = 0,96). Importa ainda

realçar, no que se refere à média de segmentações correctas, que 51,2% da amostra não

conseguiu segmentar correctamente qualquer um dos três estímulos apresentados.

Pela análise do Quadro 30, podem observar-se as dificuldades que as crianças da faixa etária

considerada apresentaram em segmentar palavras com a estrutura em análise.

Quadro 30 – Frequência e percentagem de palavras dissilábica com ClV inicial segmentadas correctamente.

Palavras Frequência (N) Percentagem (%)

Flauta 24 30 Planta 21 26,3

Flores 18 22,5

Pela observação do Quadro 30, constata-se que a palavra flauta foi a que obteve uma maior

percentagem de segmentações correctas (30%) enquanto a palavra flores foi a que obteve uma

menor percentagem de êxito (22,5%).

Para além da análise quantitativa, importa agora efectuar uma descrição qualitativa dos dados

relativos à segmentação de palavras com Ataque ramificado ClV. Vejam-se alguns exemplos

listados em 13:

Gráfico 5 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos dissilábicos com ClV inicial.

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   Página 76     

13) Segmentações de dissílabos com ClV em posição inicial

a) Inserção de segmento em posição final de palavra

Flauta /flawt/ → [flaw.t.] (Criança 5: 5 anos)

Planta /plt/ → [pl.t.] (Criança 34: 5 anos e 1 mês)

b) Epêntese de vogal

Flauta /flawt/ → [f.law.t] (Criança 1: 4 anos e 11 meses)

Planta /plt/ → [p.l.t] (Criança 57: 6anos e 1 mês)

Flores /flor/ → [f.lo.r] (Criança 78: 5anos e 9 meses)

c) Epêntese de vogal e aglutinação silábica

Flauta /flawt/ → [f.lawt] (Criança 40: 4 anos e 5 meses)

Flores /flor/ → [f.lor] (Criança 77: 5 anos e 3 meses)

d) Ausência de segmentação

Planta /plt/ → [plt] (Criança 47: 6 anos e 4 meses)

Flores /flor/ → [flor] (Criança 6: 4 anos e 6 meses)

e) Epêntese de vogal e inserção de segmento em posição final de palavra

Flauta /flawt/ → [f.law.t.] (Criança 5: 5 anos)

f) Epêntese de vogal e produção isolada do segmento em posição final de palavra

Flores /flor/ → [f.lo.o.r.] (Criança 4: 5 anos)

g) Epêntese de vogal e produção isolada do segmento em posição medial de palavra

Flauta /flawt/ → [f.la.u.t] (Criança 52: 6 anos e 4 meses)

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   Página 77     

Pela análise dos exemplos apresentados acima, verifica-se que as crianças avaliadas sentiram

necessidade de recorrer a diversas estratégias para conseguirem segmentar os estímulos lexicais

com Ataque ramificado em ClV, de que se dá informação quantitativa no Quadro 31.

Quadro 31 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de dissílabos com ClV inicial.

Tipo de erros Frequência Idade (anos; meses)

Média Moda Mínimo Máximo Inserção de segmento em posição final de palavra 2 5;01 ------- 5;01 5;01

Epêntese de vogal 164 5;05 5;11 4;02 6;05

Epêntese de vogal e aglutinação silábica 3 5;01 5;01 4;05 5;09

Ausência de segmentação 2 5;05 ------- 4;06 6;04 Epêntese de vogal e inserção de segmento em posição final de palavra 1 5;00 ------- ------- -------

Epêntese de vogal e produção isolada do segmento em posição final de palavra 3 5;00 5;00 4;10 5;02

Epêntese de vogal e inserção de segmento em posição medial de palavra 1 5;00 ------- ------- -------

Observando o Quadro 31, verifica-se que a estratégia epêntese de vogal é mais utilizada pelas

crianças avaliadas, já que a mesma foi utilizada 164 vezes num total de 176 erros, enquanto que

as demais estratégias foram utilizadas uma, duas ou três vezes. As crianças com cinco anos

foram as que recorreram aos tipos de estratégias enumerados anteriormente, sendo a epêntese de

vogal, a estratégia que as crianças com cinco anos e onze meses utilizaram em maior número.

3.2.4. Trissílabos

No Português Europeu, as crianças produzem maioritariamente palavras dissilábicas mas desde

cedo começam a produzir trissílabos, sendo esta extensão de palavra bastante frequente também

nas produções dos adultos (Vigário et al., 2004, 2006a). Tendo em consideração que se pretendia

estudar a variável acento e não o formato silábico, optou-se por introduzir estímulos com o

formato não marcado, isto é, com CV (Jakobson, 1941/68, citado por Freitas, 1997a).

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   Página 78     

Segmentações correctas

16,014,012,010,08,06,04,0

Freq

uênc

ia

20

10

0

Para a avaliação do comportamento das crianças face à segmentação de trissílabos, optou-se por

introduzir 15 estímulos nos quais foi controlada a variável acento de palavra15:

i) Trissílabos proparoxítonos: [avn]; [lpd]; [mdiku]; [numu];

[pain]; [pasu] e [pesu].

ii) Trissílabos paroxítonos: [bnn]; [bula]; [bua]; [kzaku];

[kvalu]; [af]; [ladu] e [spatu].

Através do Gráfico 6, é possível observar o comportamento das crianças avaliadas perante a

segmentação dos 15 estímulos trissilábicos, paroxítonos e proparoxítonos.

Observando o comportamento da amostra face à segmentação das palavras trissilábicas,

constata-se que, em 15 segmentações correctas possíveis, as crianças obtiveram um resultado

médio de 11 segmentações (M = 11,4 / DP = 3,1). Importa realçar que 22,5% da amostra

conseguiu segmentar correctamente os 15 estímulos apresentados e que 13,8% da amostra

conseguiu segmentar correctamente 12 estímulos.

                                                            15 Para mais informações sobre o critério de selecção dos estímulos consulte-se o capítulo 2.

Gráfico 6 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos trissilábicos.

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Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos  

   Página 79     

Segmentações correctas

7,06,05,04,03,02,01,00,0

Freq

uênc

ia

30

20

10

0

Trissílabos proparoxítonos (´CVCVCV)

Observando apenas os trissílabos proparoxítonos, a análise estatística efectuada permitiu

descrever o comportamento das crianças na tarefa de segmentação silábica face a esta estrutura,

como é possível observar no Gráfico 7.

Estatisticamente, verifica-se que apenas 20 crianças (25% da amostra) conseguiram segmentar

correctamente os sete estímulos (M = 4,6 / DP = 2) e que a maioria segmentou correctamente

apenas cinco dos sete estímulos apresentados.

Tendo em consideração o número de estímulos utilizados, veja-se no Quadro 32, de que forma as

crianças avaliadas se comportaram perante cada estímulo, para que seja possível perceber se

existiram diferenças significativas no número de segmentações efectuadas correctamente em

relação ao estímulo apresentado.

Quadro 32 – Frequência e percentagem de palavras trissilábicas proparoxítonas segmentadas correctamente.

Palavras Frequência (N) Percentagem (%)

Médico 64 80 Pássaro 63 78,8

Página 54 67,5

Chávena 52 65

Lâmpada 50 62,5

Números 44 55

Pêssego 40 50

Gráfico 7 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos trissilábicos proparoxítonos.

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   Página 80     

Da análise do Quadro 32, constata-se que a percentagem de sucesso mais baixa foi de 50%, na

segmentação da palavra pêssego, e que a palavra menos problemática foi médico, segmentada

correctamente por 64 elementos, obtendo uma percentagem de êxito de 80%.

Depois de se terem descrito os resultados obtidos de forma quantitativa, importa descrevê-los

qualitativamente, ilustrando as estratégias utilizadas na segmentação de palavras trissilábicas

proparoxítonas. Vejam-se alguns exemplos listados em 14:

14) Segmentações de trissílabos com estrutura ´CVCVCV

a) Aglutinação de sílabas átonas

Pêssego /pesu/ → [pe.su] (Criança 2: 4 anos e 6 meses)

Números /numu/ → [nu.mu] (Criança 75: 5 anos e 4 meses)

Lâmpada /lpd/ → [l.pd] (Criança 29: 5 anos e 2 meses)

b) Aglutinação de sílaba tónica e de sílaba átona

Chávena /avn/ → [av.n] (Criança 31: 4 anos e 2 meses)

Médico /mdiku/ → [mdi.ku] (Criança 12: 4 anos e 9 meses)

Pássaro /pasu/ → [pas.u] (Criança 9: 4 anos e 11 meses)

c) Ausência de segmentação

Números /numu/ → [numu] (Criança 23: 5 anos e 4 meses)

Página /pain/ → [pain] (Criança 6: 4 anos e 6 meses)

Pássaro /pasu/ → [pasu] (Criança 47: 6 anos e 4 meses)

d) Inserção de segmento em posição final de palavra

Lâmpada /lpd/ → [l.p.d.] (Criança 4: 5 anos)

Pêssego /pesu/ → [pe.s.u.u] (Criança 38: 4 anos e 8 meses)

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e) Produção isolada do segmento em posição final de palavra

Números /numu/ → [nu.m.u.] (Criança 34: 5 anos e 1 mês)

f) Inserção de segmento em posição medial de palavra

Lâmpada /lpd/ → [l.p..d] (Criança 21: 4 anos e 8 meses)

Observando os exemplos acima, verifica-se que as crianças avaliadas recorreram a diversas

estratégias para conseguirem segmentar os estímulos trissilábicos proparoxítonos. O Quadro 33

apresenta dados quantitativos relativos às estratégias utilizadas na tarefa de segmentação.

Quadro 33 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de trissílabos proparoxítonos.

Tipo de erros Frequência Idade (anos; meses)

Média Moda Mínimo Máximo Aglutinação de sílabas átonas 167 5;03 4;06 4;02 6;04

Aglutinação de sílaba tónica e de sílaba átona 7 5;00 4;11 4;02 5;09

Ausência de segmentação 13 5;08 6;04 4;06 6;05

Inserção de segmento em posição final de palavra 4 4;11 5;00 4;08 5;00 Produção isolada do segmento em posição final de palavra 1 5;01 ------- ------- -------

Inserção de segmento em posição medial de palavra 1 4;08 ------- ------- -------

Na prova de segmentação de palavras trissilábicas com ´CVCVCV, verificou-se um predomínio

do erro aglutinação de sílabas átonas, sendo uma estratégia utilizada 167 vezes em 197 erros

essencialmente por crianças com quatro anos e seis meses. A segunda estratégia mais utilizada

foi a ausência de segmentação a qual se verificou em 13 casos, tendo sido utilizada por crianças

com seis anos e quatro meses. Foram ainda utilizadas mais quatro estratégias, por crianças com

idades compreendidas entre os quatro anos e oito meses e os cinco anos e um mês, mas a sua

utilização não foi significativa.

Trissílabos paroxítonos (CV´CVCV)

A prova de segmentação de palavras trissilábicas paroxítonas obteve melhores resultados quando

comparada com a segmentação de palavras trissilábicas proparoxítonas. A observação do

Gráfico 8 permite ilustrar o aspecto anteriormente realçado.

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Segmentações correctas

8,07,06,05,04,03,02,01,0

Freq

uênc

ia

50

40

30

20

10

0

Pela observação da curva de distribuição do Gráfico 8, verifica-se que a maioria das crianças

teve um bom desempenho na tarefa de segmentação de estímulos trissilábicos paroxítonos. A

média de segmentações correctas foi de sete palavras (M = 6,8 / DP = 1,7), sendo importante

realçar que 55% da amostra conseguiu segmentar correctamente os oito estímulos apresentados.

Uma análise quantitativa incidente sobre cada estímulo permite extrair informação quanto à

percentagem de sucesso obtido para cada estímulo apresentado, registada no Quadro 34.

Quadro 34 – Frequência e percentagem de palavras trissilábicas paroxítonas segmentadas correctamente.

Palavra Frequência (N) Percentagem (%)

Sapato 75 93,8 Gelado 71 88,8

Bolacha 69 86,3

Borracha 68 85

Banana 68 85

Garrafa 67 83,8

Casaco 65 81,3

Cavalo 63 78,8

Pela análise do quadro anterior, verifica-se que a palavra sapato foi a que obteve um maior

número de segmentações correctas (93,8%); contrariamente, a palavra cavalo foi a que suscitou

mais dificuldades às crianças, tendo uma percentagem de êxito de 78,8%.

Uma análise qualitativa dos resultados obtidos permite realçar as estratégias utilizadas pela

amostra face a estímulos trissilábicos paroxítonos. Vejam-se alguns exemplos listados em 15:

Gráfico 8 – Histograma das segmentações correctas dos estímulos trissilábicos paroxítonos.

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15) Segmentações de trissílabos com estrutura CV´CVCV

a) Aglutinação da sílaba tónica e da sílaba átona

Sapato /spatu/ → [s.patu] (Criança 26: 5 anos e 3 meses)

Gelado /ladu/ → [.ladu] (Criança 14: 4 anos e 6 meses)

Bolacha /bula/ → [bu.la] (Criança 71: 6 anos e 3 meses)

b) Inserção de segmento em posição final de palavra

Casaco /kzaku/ → [k.za.ku.u] (Criança 34: 5 anos e 1 mês)

Cavalo /kvalu/ → [k.va.lu.u] (Criança 4: 5 anos)

c) Inserção de segmento em posição medial de palavra

Borracha /bua/ → [bu.a..] (Criança 17: 4 anos e 8 meses)

Os exemplos anteriores ilustram os tipos de erros produzidos pelas crianças na realização da

tarefa de segmentação silábica de estímulos com estrutura CV´CVCV. Os principais tipos de

erros, a sua frequência de ocorrência e a média/moda da idade das crianças que os produziram

podem ser observados no Quadro 35.

Quadro 35 – Tipos de erros mais frequentes na segmentação de trissílabos paroxítonos.

Tipo de erros Frequência Idade (anos; meses)

Média Moda Mínimo Máximo Aglutinação das sílabas tónica e da sílaba átona 89 5;02 4;11 4;02 6;04

Inserção de segmentos em posição final de palavra 4 4;11 5;01 4;08 5;01

Inserção de segmentos em posição medial de palavra 1 4;08 ------- ------- -------

Analisando o Quadro 35, verifica-se que o erro mais frequente foi a aglutinação da sílaba tónica

e da sílaba átona, ocorrendo 89 vezes em 94 erros. Importa realçar que as crianças que

recorreram a esta estratégia tinham, maioritariamente, quatro anos e onze meses. Para além desta

estratégia, as crianças ainda segmentaram incorrectamente os estímulos com estrutura

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CV´CVCV, inserindo segmentos em posição final, como o segmento [u]. As crianças que mais

frequentemente recorreram a esta estratégia tinham cinco anos e um mês.

3.2.5. Sumário

Comparando os resultados obtidos pela estatística descritiva para todos os formatos silábicos,

extensões de palavra e padrão acentual considerados, sintetizam-se, nesta secção, os resultados

obtidos na prova de segmentação silábica, bem como o tipo de erros existente para cada estrutura

silábica.

Segmentação silábica

1. Tanto os dissílabos com Ataque vazio como com Ataque simples obtiveram o maior

número de segmentações correctas;

2. Analisando a percentagem de êxito na segmentação dos dissílabos com Ataque não

ramificado, verificou-se que esta é superior para o Ataque simples (93%) do que para o

Ataque vazio (89,9%).

3. Observou-se uma maior facilidade na segmentação de estímulos dissilábicos com Ataque

não ramificado do que com Ataque ramificado (64,2%);

4. Em relação aos dissílabos com Ataque ramificado, segmentar palavras com ClV inicial

(16,8%) foi mais complexo do que com CV inicial (47,3%);

5. Foi mais fácil, para as crianças em idade pré-escolar, dos quatro aos seis anos de idade,

segmentarem palavras dissilábicas paroxítonas (93%) do que palavras trissilábicas

paroxítonas (85,3%);

6. Em relação aos trissílabos paroxítonos (85,3% de sucesso na segmentação), estes foram

segmentados mais facilmente do que os trissílabos proparoxítonos (65,5% de sucesso na

segmentação).

Concluindo, as crianças avaliadas conseguiram segmentar mais facilmente estímulos com

Ataque simples e vazio do que estímulos mais complexos com Ataque ramificado. Dentro dos

estímulos com Ataque ramificado, o Ataque ramificado ClV foi mais problemático para as

crianças do que o Ataque ramificado CV, ambos em posição inicial de palavra. Os trissílabos

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foram mais problemáticos para as crianças do que os dissílabos e estas segmentaram mais

facilmente estímulos trissilábicos paroxítonos do que estímulos trissilábicos proparoxítonos.

Tipologia de erros

1. Nos dissílabos com Ataque simples e vazio, a principal incorrecção deveu-se à inserção

de um segmento em posição final de palavra, levando à inserção de mais um nó silábico;

2. Nos dissílabos com Ataque ramificado, a principal incorrecção deveu-se à epêntese de

vogal, isto é, inserção do segmento [], entre as duas consoantes do Ataque, levando à

inserção de mais um nó silábico;

3. Nos trissílabos, a principal incorrecção foi a aglutinação de sílabas, provocando a

diminuição do número de sílabas identificado.

Concluindo, para os dissílabos com Ataque simples em posição inicial, a estratégia mais

utilizada pelas crianças foi a inserção de um segmento em posição final de palavra. Geralmente,

o segmento inserido replicou o marcador de género da palavra; as crianças que mais recorreram a

esta estratégia tinham cinco anos. Para os dissílabos com Ataque vazio, a estratégia mais

produtiva foi, igualmente, a inserção de segmento em posição final de palavra e as crianças que

mais adoptaram este comportamento tinham cinco anos e dois meses.

Para os dissílabos com Ataque ramificado em posição inicial, a estratégia mais utilizada foi a

epêntese de vogal. Importa realçar que esta estratégia foi utilizada por crianças mais novas

(quatro anos e oito meses), aquando da segmentação de estímulos com CV inicial, e por

crianças bastante mais velhas (cinco anos e onze meses), aquando da segmentação de estímulos

com ClV inicial.

Relativamente aos estímulos trissilábicos, a estratégia mais recorrente foi a aglutinação de

sílabas, no entanto foram as crianças mais novas (com quatro anos e seis meses) que recorreram

a esta estratégia na segmentação de estímulos com estrutura ´CVCVCV. Nos estímulos

trissilábicos com estrutura CV´CVCV, esta estratégia foi utilizada por crianças mais velhas, com

quatro anos e onze meses.

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   Página 86     

3.3. Análise do tempo de reacção: segmentações correctas

A medida cronométrica tempo de reacção é referida na literatura como indicadora do grau de

complexidade de um estímulo durante o seu processamento (Faria, 2005; Posner, 2005),

assumindo-se uma correlação positiva entre a medida e o grau de complexidade da estrutura16. O

tempo de reacção utilizado para segmentar cada estrutura linguística é um aspecto pouco descrito

em tarefas de segmentação silábica, sendo relevante a sua utilização na descrição do

processamento fonológico no Português Europeu.

Através da estatística descritiva, analisou-se, nesta secção, a média de tempo utilizado pelas

crianças observadas na segmentação da sílaba inicial e na segmentação total de cada estímulo.

Contabilizou-se o tempo de segmentação total a fim de se inferir possíveis diferenças na

segmentação de estímulos dissilábicos e trissilábicos e de se verificar o potencial impacto dos

formatos silábicos da sílaba inicial na segmentação da unidade palavra.

3.3.1. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CV inicial

O tempo de segmentação da sílaba inicial foi descrito através da estatística descritiva, tendo-se

analisado o tempo médio utilizado na segmentação de cada um dos oito estímulos utilizados. No

Gráfico 9, pode observar-se a distribuição dos valores pelos estímulos com Ataque simples na

sílaba inicial da palavra:

                                                            16 Para mais informações sobre o conceito de tempo de reacção e sua caracterização, consulte-se o capítulo 1, secção 1.4.

Gráfico 9 – Tempo médio das segmentações correctas da sílaba inicial dos dissílabos com CV inicial.

0

500

1000

1500

2000

2500

Pato Carro Bola Dedo Gato Faca Vela Luva

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

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   Página 87     

Pela observação do Gráfico 9, verifica-se que não existem grandes diferenças entre os oito

estímulos utilizados e que a sílaba segmentada mais rapidamente (1373 milissegundos) foi a

sílaba [a], referente à palavra [a.tu]. Com uma diferença de 546 milissegundos, a sílaba

segmentada mais lentamente (1919 milissegundos) foi a sílaba [b] da palavra [b.l].

Para além de se ter analisado o tempo de segmentação da sílaba inicial, observou-se o tempo de

reacção utilizado na segmentação total da palavra, no sentido de se verificar um potencial

impacto do tipo de sílaba inicial no tempo utilizado para a segmentação da palavra (Gráfico 10).

Pela observação do Gráfico 10, verifica-se que não existem diferenças significativas no tempo

utilizado na segmentação dos estímulos apresentados. O estímulo segmentado mais rapidamente

foi a palavra gato (2241 milissegundos) e, por outro lado, o estímulo que demorou mais tempo a

ser segmentado foi a palavra vela (2897 milissegundos).

3.3.2. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com V inicial

Os tempos obtidos na segmentação das sílabas iniciais das palavras dissilábicas com V inicial

não foram muito diferentes dos identificados na segmentação das palavras dissilábicas com CV

inicial, como se pode verificar pelo confronto entre os Gráficos 9 e 11.

0500

100015002000250030003500

Pato Carro Bola Dedo Gato Faca Vela Luva

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

Gráfico 10 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos dissílabos com CV inicial.

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Observando o Gráfico 11, constata-se que, para os estímulos dissilábicos com V inicial, a sílaba

segmentada mais rapidamente foi a sílaba [o] da palavra [o.vu], com uma média de 1396

milissegundos. Por outro lado, a sílaba que demorou mais tempo a ser segmentada foi [] na

palavra [.u], com uma média de 2141 milissegundos.

O tempo de segmentação total dos oito estímulos com o constituinte Ataque vazio pode ser

observado através do Gráfico 12.

Analisando o Gráfico 12, constata-se que nenhum estímulo foi segmentado em menos de 2000

milissegundos. O estímulo segmentado em menor tempo foi a palavra ovo (2249 milissegundos)

e o estímulo que demorou mais tempo a ser segmentado foi a palavra anjo (2955 milissegundos).

Gráfico 11 – Tempo médio das segmentações correctas da sílaba inicial dos dissílabos com V inicial.

0

500

1000

1500

2000

2500

Olho Asa Uva Unha Anjo Osso Ovo Ilha

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

Olho Asa Uva Unha Anjo Osso Ovo Ilha

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

Gráfico 12 – Tempo médio das segmentações correctas dos dissílabos com V inicial.

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0

500

1000

1500

2000

2500

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

3.3.3. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CCV inicial

No Gráfico 13, pode observar-se o tempo médio utilizado na segmentação da sílaba inicial dos

11 estímulos dissilábicos com Ataque ramificado em início de palavra.

Assim, relativamente aos 11 estímulos utilizados para avaliar o Ataque ramificado, a sílaba

[flaw] da palavra [flaw.t] foi a mais rapidamente segmentada, em apenas 1262

milissegundos, enquanto a sílaba [fu] da palavra [fu.t] foi segmentada mais lentamente,

em 2308 milissegundos. Se procedermos a uma análise do constituinte tendo em consideração o

segmento que preenche a posição de C2, as palavras utilizadas para testar a capacidade de

segmentação com ClV demoraram uma média de 1519 milissegundos a ser segmentadas,

enquanto que as palavras com CV demoraram uma média de 2087 milissegundos a ser

segmentadas.

No que se refere ao tempo de segmentação total utilizado na segmentação dos 11 estímulos com

o constituinte Ataque ramificado, este pode ser observado através do Gráfico 14.

Gráfico 13 – Tempo médio das segmentações correctas da sílaba inicial dos dissílabos com CCV inicial.

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Pela análise do Gráfico 14, pode constatar-se que, dos 11 estímulos apresentados, a palavra

planta foi o estímulo segmentado em menor tempo (2421 milissegundos) enquanto que a palavra

flores foi a que demorou mais tempo a ser segmentada (3416 milissegundos).

3.3.4. Tempo de segmentação em função do acento de palavra

Tendo em consideração o estudo do efeito da variável acento de palavra na segmentação

silábica, procede-se, de seguida, à análise dos resultados relativos aos tempos de reacção da

palavra para os dois padrões acentuais considerados nesta dissertação.

Trissílabos proparoxítonos (´CVCVCV)

Pela análise do Gráfico 15 é possível observar os tempos médios utilizados na segmentação das

palavras trissilábicas proparoxítonas, verificando-se que nenhuma demorou, na sua totalidade,

menos de 3000 milissegundos a ser segmentada. 

0500

1000150020002500300035004000

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

Gráfico 14 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos dissílabos com CCV inicial.

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Analisando o Gráfico 15, observa-se que dos sete estímulos apresentados, a palavra lâmpada foi

a que foi segmentada mais rapidamente (3259 milissegundos) e a palavra números foi a que

demorou mais tempo a ser segmentada (4757 milissegundos).

Trissílabos paroxítonos (CV´CVCV)

Para a análise dos trissílabos paroxítonos, foram introduzidos oito estímulos, tendo-se verificado

diferenças no tempo total de segmentação da palavra, verificando-se que todos os estímulos

demoraram mais do que 3000 milissegundos a ser segmentados (Gráfico 16).

Gráfico 15 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos trissílabos proparoxítonos.

0500

100015002000250030003500400045005000

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

0100020003000400050006000

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

Gráfico 16 – Tempo médio utilizado nas segmentações correctas dos trissílabos paroxítonos.

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   Página 92     

Observando o gráfico anterior, verifica-se que a palavra gelado foi, dos oito estímulos, a que foi

segmentada mais rapidamente (3699 milissegundos) e que a palavra banana foi a que demorou

mais tempo a ser segmentada (5569 milissegundos).

3.3.5. Sumário

Os dados relativos aos tempos de reacção para a segmentação das palavras dissilábicas com

manipulação do Ataque da sílaba inicial e para a segmentação das palavras trissilábicas

paroxítonas e proparoxítonas permitem listar as seguintes generalizações:

Tempos médios de segmentação da sílaba inicial

1. Os tempos de reacção médios utilizados na segmentação da sílaba inicial dos dissílabos

com Ataque simples (Média = 1740 milissegundos) foram semelhantes aos utilizados na

segmentação da sílaba inicial dos dissílabos com Ataque vazio (Média = 1790

milissegundos);

2. A sílaba inicial dos dissílabos com Ataque ramificado apresentaram um tempo médio de

segmentação inferior (Média = 1629 milissegundos) ao da sílaba dos dissílabos com

Ataque simples (Média = 1740 milissegundos) e com Ataque vazio (Média = 1790

milissegundos);

3. A sílaba ClV inicial dos dissílabos foi segmentada mais rapidamente (Média = 1556

milissegundos) do que a sílaba CV na mesma posição (Média = 2069 milissegundos);

De acordo com os principais pontos sumariados, verifica-se que, quanto à variável complexidade

silábica, os estímulos dissilábicos com Ataque ramificado inicial (Média = 1629 milissegundos)

foram segmentados em menos tempo do que os estímulos dissilábicos com Ataque simples

inicial (Média = 1740 milissegundos) e com Ataque vazio inicial (Média = 1790 milissegundos).

Tais resultados não vão ao encontro do que seria esperado, tendo em conta a correlação positiva

entre o tempo de reacção e a complexidade linguística assumida na literatura (Faria, 2005;

Posner, 2005). Tal aspecto será discutido no capítulo 4. Ainda dentro do domínio da

complexidade silábica, os dados indicaram que os estímulos com ClV inicial foram

segmentados em menos tempo (Média = 1556 milissegundos) do que os estímulos com CV

inicial (Média = 2069 milissegundos), revelando mais facilidade em processar os estímulos que

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   Página 93     

apresentam a lateral. Tendo em consideração que tais resultados não seriam de esperar com base

nos dados de frequência, já que, no Português Europeu, a combinatória obstruinte + vibrante é

bastante mais frequente do que a combinatória obstruinte + lateral (Mateus & Andrade, 2000;

Vigário & Falé, 1993), aplicou-se o teste T de Student para amostras relacionadas de forma a

verificar-se se esta diferença é significativa. Os resultados obtidos indicam que não existem

diferenças estatisticamente significativas entre os tempos de segmentação da sílaba inicial do

tipo ClV e CV (t (39) = 0,78, p > 0,05).

Tempos médios de segmentação total da palavra

1. O tempo total de segmentação dos dissílabos com Ataque simples inicial (Média = 2635

milissegundos) foi muito próximo do tempo total de segmentação dos dissílabos com

Ataque vazio inicial (Média = 2649 milissegundos) e com Ataque ramificado inicial

(Média = 2982 milissegundos);

2. O tempo médio de segmentação total dos estímulos com CV em posição inicial (Média

= 2986 milissegundos) foi muito próximo do tempo médio de segmentação total dos

estímulos com ClV em posição inicial (Média = 2886 milissegundos);

3. Os trissílabos proparoxítonos demoraram menos tempo a ser segmentados (Média = 3875

milissegundos) quando comparados com os trissílabos paroxítonos (Média = 4200

milissegundos);

4. O tempo total de segmentação dos dissílabos paroxítonos (Média = 2635 milissegundos)

foi inferior ao tempo de segmentação dos trissílabos paroxítonos (Média = 4200

milissegundos).

Os dados sumariados anteriormente permitem verificar, quanto à variável complexidade silábica,

que esta variável não tem repercussões significativas no tempo de reacção utilizado na

segmentação das palavras, dado que os dissílabos com V, CV e CCV iniciais demoram

sensivelmente o mesmo tempo a ser segmentados.

Quanto à variável extensão de palavra, os resultados permitiram inferir que os estímulos

dissilábicos (Média = 2635 milissegundos) demoraram menos tempo a ser segmentados do que

os estímulos trissilábicos (Média = 4200 milissegundos). Analisando os tempos de segmentação,

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   Página 94     

e no sentido de se verificar o peso estatístico desta diferença aplicou-se o teste T de Student para

amostras relacionadas, o qual revelou que existem diferenças extremamente significativas entre

os tempos de segmentação dos dissílabos paroxítonos e dos trissílabos paroxítonos (t (79) = 6,53

p ≤ 0,000). Tal como seria de esperar, existe uma relação entre as variáveis extensão de palavra

e tempo de reacção utilizado.

Analisando os dados ao nível da variável acento de palavra, verificou-se que os trissílabos

proparoxítonos (Média = 3875 milissegundos) demoraram menos tempo a ser segmentados do

que os trissílabos paroxítonos (Média = 4200 milissegundos). Tais resultados, apesar de não

apresentarem diferenças estatisticamente significativas (t (77) = -0,16, p > 0,05), não seriam de

prever dada a natureza marcada do padrão proparoxítono e a natureza não marcada do padrão

paroxítono no Português Europeu. Este facto será retomado no capítulo 4.

3.4. Análise do tempo de reacção: segmentações incorrectas

A análise dos tempos de reacção utilizados na segmentação da sílaba inicial e na segmentação

total de cada um dos estímulos apresentados foi efectuada para as segmentações correctas e para

as segmentações incorrectas. Na secção 3.3., procedeu-se à análise dos tempos de reacção

utilizados nas segmentações correctas e, nesta secção, proceder-se-á à análise dos tempos de

reacção utilizados nas segmentações incorrectas.

3.4.1. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CV inicial

Os oito estímulos dissilábicos com o constituinte Ataque simples em posição inicial foram

segmentados incorrectamente 45 vezes em 640 segmentações. O Gráfico 17 ilustra o tempo

médio que cada sílaba inicial, de cada um dos estímulos apresentados, demorou a ser

segmentada.

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   Página 95     

Como se pode ver pela análise do Gráfico 17, a sílaba inicial [pa] da palavra [pa.tu] foi a

sílaba segmentada em menos tempo (474 milissegundos). Contrariamente, a sílaba [de] da

palavra [de.du] foi a que, na totalidade das segmentações incorrectas ocorridas com os

estímulos em observação, apresentou um tempo superior de segmentação (3295 milissegundos).

Para além de se ter analisado o tempo de segmentação da sílaba inicial, considerou-se importante

observar o tempo de reacção utilizado na segmentação total de cada estímulo lexical (Gráfico

18).

Pela observação do Gráfico 18, verifica-se que existem algumas diferenças no tempo utilizado na

segmentação de cada um dos estímulos apresentados. O estímulo segmentado mais rapidamente

foi a palavra faca (1667 milissegundos) e, por seu lado, o estímulo que demorou mais tempo a

ser segmentado foi a palavra dedo, segmentada em 4757 milissegundos.

0500

100015002000250030003500

Pato Carro Bola Dedo Gato Faca Vela LuvaTem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

Gráfico 17 – Tempo médio das segmentações incorrectas da sílaba inicial dos dissílabos com CV inicial.

0500

100015002000250030003500400045005000

Pato Carro Bola Dedo Gato Faca Vela Luva

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

Gráfico 18 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos dissílabos com CV inicial.

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   Página 96     

3.4.2. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com V inicial

Os oito estímulos com Ataque vazio foram segmentados incorrectamente 71 vezes em 640

segmentações. Através do Gráfico 19, é possível observar os tempos médios de segmentação da

sílaba inicial obtidos nas segmentações incorrectas.

Analisando os tempos de reacção relativamente à segmentação da sílaba inicial dos estímulos

dissilábicos com V inicial, observa-se que a sílaba [o] da palavra [o.u] foi a que demorou

menos tempo a ser segmentada, 902 milissegundos. Por outro lado a sílaba [i] da palavra

[i.] foi a que apresentou um tempo de segmentação maior (2630 milissegundos).

Procedeu-se, em seguida, a uma análise dos tempos médios de reacção da palavra nas

segmentações incorrectas dos oito estímulos lexicais apresentados, verificando-se algumas

diferenças entre os oito estímulos lexicais (Gráfico 20).

0500

10001500200025003000

Olho Asa Uva Unha Anjo Osso Ovo Ilha

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

Gráfico 19 – Tempo médio das segmentações incorrectas da sílaba inicial dos dissílabos com V inicial.

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

Olho Asa Uva Unha Anjo Osso Ovo Ilha

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

Gráfico 20 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos dissílabos com V inicial.

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   Página 97     

Analisando o tempo de reacção da palavra dos oito estímulos, verifica-se que o estímulo

segmentado em menor tempo foi a palavra olho, segmentada em 1959 milissegundos, e o

estímulo que demorou mais tempo a ser segmentado foi a palavra ilha, com 5211 milissegundos.

3.4.3. Tempo de segmentação para estímulos dissilábicos com CCV inicial

Os estímulos dissilábicos com CCV inicial foram os que obtiveram mais respostas incorrectas,

cerca de 315 segmentações incorrectas em 880 segmentações, com diferentes tempos de

segmentação da sílaba inicial (Gráfico 21).

Através da observação do Gráfico 21, constata-se que a sílaba [br] da palavra [br.ku] foi

a que foi segmentada em menos tempo, 1278 milissegundos, enquanto a sílaba [bra] da palavra

[bra.su] foi a que apresentou um tempo de segmentação superior (2795 milissegundos).

No que se refere ao tempo total utilizado na segmentação dos 11 estímulos com Ataque

ramificado em início de palavra, verificaram-se diferenças entre os estímulos apresentados

(Gráfico 22).

Gráfico 21 – Tempo médio das segmentações incorrectas da sílaba inicial dos dissílabos com CCV inicial.

0500

10001500200025003000

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

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   Página 98     

Pela análise do Gráfico 22, constata-se que, dos 11 estímulos apresentados, a palavra prego foi o

estímulo segmentado em menos tempo, 2465 milissegundos, enquanto que a palavra flores foi a

que demorou mais tempo a ser segmentada, 4493 milissegundos.

3.4.4. Tempo de segmentação em função do acento de palavra

Ao nível dos estímulos trissilábicos, verificaram-se 287 segmentações incorrectas em 1200

segmentações, com tempos de segmentação distintos. Tendo em consideração que foram

incluídos estímulos proparoxítonos e estímulos paroxítonos, importa observar os resultados

separadamente.

Trissílabos proparoxítonos (´CVCVCV)

Os estímulos trissilábicos proparoxítonos foram segmentados incorrectamente 193 vezes em 560

segmentações. No que se refere ao tempo de reacção para segmentar a totalidade dos estímulos

lexicais proparoxítonos, verificou-se que nenhum estímulo foi segmentado em menos de 2000

milissegundos (Gráfico 23).

0500

100015002000250030003500400045005000

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

Gráfico 22 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos dissílabos com CCV inicial.

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Analisando-se o Gráfico 23, observa-se que, dos sete estímulos apresentados, a palavra página

foi a que foi segmentada mais rapidamente, em 2373 milissegundos, e a palavra números foi a

que demorou mais tempo a ser segmentada (4413 milissegundos).

Trissílabos paroxítonos (CV´CVCV)

Os estímulos trissilábicos paroxítonos foram segmentados incorrectamente 94 vezes em 640

segmentações, tendo-se observado diferenças nos tempos médios de segmentação total de cada

um dos oito estímulos considerados.

O Gráfico 24 ilustra os tempos médios de segmentação de cada estímulo, verificando-se que a

palavra bolacha foi a que levou menos tempo a ser segmentada, 1956 milissegundos, e que a

palavra garrafa foi a palavra segmentada mais lentamente (3267 milissegundos).

0500

100015002000250030003500

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

0500

100015002000250030003500400045005000

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estímulos apresentados

Gráfico 23 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos trissílabos proparoxítonos.

Gráfico 24 – Tempo médio utilizado nas segmentações incorrectas dos trissílabos paroxítonos.

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3.4.5. Sumário

Os dados relativos aos tempos de reacção para a segmentação incorrecta das palavras dissilábicas

com manipulação do Ataque da sílaba inicial e para a segmentação da palavra dos trissílabos

paroxítonos e proparoxítonos permitem listar as seguintes generalizações:

Tempos médios de segmentação da sílaba inicial

1. A sílaba inicial dos dissílabos com Ataque simples foi segmentada em menos tempo

(Média = 1631 milissegundos) do que a sílaba inicial dos dissílabos com Ataque vazio

(Média = 2344 milissegundos);

2. A sílaba inicial dos dissílabos com Ataque ramificado apresentou um tempo médio de

segmentação (Média = 2295 milissegundos) mais elevado do que o obtido para a sílaba

inicial dos dissílabos com Ataque simples (Média = 1631 milissegundos) e inferior ao

valor obtido para a sílaba inicial dos dissílabos com Ataque vazio (Média = 2344

milissegundos);

3. O tempo de segmentação da sílaba inicial CV (Média = 2261 milissegundos) foi

semelhante ao tempo de segmentação da sílaba inicial ClV dos dissílabos (Média = 2229

milissegundos);

Analisando os tempos das segmentações incorrectas, e no que se refere à variável complexidade

silábica, verificou-se que os estímulos dissilábicos com ´VCV (Média = 2344 milissegundos)

demoraram mais tempo a ser segmentados do que os estímulos dissilábicos com ´CVCV (Média

= 1631 milissegundos). Pretendendo-se ver se esta diferença era significativa, aplicou-se o teste

de Wilcoxon, o qual revelou que não existem diferenças estatisticamente significativas entre os

tempos de segmentação dos dissílabos com V e CV inicial (Z = -1,19, p > 0,05). Relativamente

aos estímulos com ´CCVCV (Média = 1956 milissegundos), estes demoraram menos tempo a

ser segmentados do que os estímulos dissilábicos com ´VCV (Média = 2344 milissegundos).

Mais uma vez se verificou, através da aplicação do teste de Wilcoxon, que estas diferenças não

são significativas (Z = -0,22, p > 0,05). Analisando o constituinte Ataque ramificado, verificou-

se que não existem diferenças entre o tempo utilizado na segmentação de estímulos com CV

inicial (Média = 2261 milissegundos) e com ClV inicial (Média = 2229 milissegundos).

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Tempos médios de segmentação total

1. Existiram diferenças entre o tempo total de segmentação dos dissílabos com Ataque

simples inicial (Média = 2894 milissegundos) e dos dissílabos com Ataque vazio inicial

(Média = 3606 milissegundos);

2. Existiram diferenças entre o tempo total de segmentação dos dissílabos com Ataque vazio

inicial (Média = 3606 milissegundos) e com Ataque ramificado inicial (Média = 4171

milissegundos);

3. Existiram diferenças entre o tempo médio de segmentação total dos dissílabos com CV 

em início de palavra (Média = 3802 milissegundos) e o tempo médio de segmentação

total dos dissílabos com ClV inicial (Média = 4216 milissegundos);

4. Os trissílabos paroxítonos demoraram menos tempo a ser segmentados (Média = 2483

milissegundos) quando comparados com os trissílabos proparoxítonos (Média = 3201

milissegundos);

Os dados sumariados para os tempos de reacção totais por palavra anteriormente referidos

permitiram verificar, quanto à variável complexidade silábica, que os estímulos dissilábicos com

´CVCV (Média = 2894 milissegundos) foram os que demoraram menos tempo a ser

segmentados e, contrariamente, os estímulos dissilábicos com ´VCV (Média = 3606

milissegundos) foram os que suscitaram mais problemas às crianças. A estatística inferencial

permitiu verificar que as diferenças existentes entre os estímulos ´CVCV e ´VCV (Z = -1,19, p >

0,05) e entre os estímulos ´VCV e ´CCVCV (Z = -0.22, p > 0,05) não foram significativas.

Opostamente, o teste de Wilcoxon permitiu detectar diferenças significativas entre os tempos

utilizados na segmentação dos dissílabos com ´CVCV e ´CCVCV (Z = -2,17, p ≤ 0,05).

Relativamente à variável extensão de palavra, nas segmentações incorrectas, verificaram-se

diferenças entre os tempos utilizados para segmentar trissílabos paroxítonos (Média = 2483

milissegundos) e dissílabos paroxítonos (Média = 2894 milissegundos). A aplicação do teste de

Wilcoxon revelou que estas mesmas diferenças não são estatisticamente significativas (Z = -0,64,

p > 0,05).

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Analisando os dados ao nível da variável acento de palavra, verificou-se que os trissílabos

paroxítonos (Média = 2483 milissegundos) demoraram menos tempo a ser segmentados do que

os trissílabos proparoxítonos (Média = 3201 milissegundos). Tais resultados não apresentam

relevância estatística significativa (Z = -1,29 p > 0,05).

3.5. Comparação entre grupos por desempenho na prova de segmentação

Tal como foi referido na metodologia (capítulo 2), a comparação entre grupos foi efectuada

tendo em consideração a faixa etária.

Importa realçar que, tal como referido no capítulo dois, agruparam-se as 80 crianças em

subgrupos, com o objectivo de observar o desenvolvimento das crianças na prova de

segmentação silábica e verificar possíveis correlações entre a idade e a complexidade prosódica

dos estímulos.

Para o agrupamento por idade, recorreu-se à estatística não paramétrica. Apesar de ambos os

grupos terem mais do que 30 crianças, decidiu-se aplicar estatística não paramétrica dado n ser

ligeiramente superior a 30 (grupo 1 = 37 crianças; grupo 2 = 43 crianças) e a aplicação do teste

Kolmogorov-Smirnov ter demonstrado que a variável não tinha uma distribuição normal (sig <

0,05). Desta forma, recorreu-se ao teste Mann-Whitney, o qual permitiu comparar os dois grupos

e verificar se existiam diferenças estatisticamente significativas entre ambos. Com vista a este

agrupamento, criaram-se dois grupos: i) Grupo 1, com crianças com idades compreendidas entre

os quatro anos e dois meses e os cinco anos e dois meses; ii) Grupo 2, com crianças com idades

compreendidas entre os cinco anos e três meses e os seis anos e cinco meses.

Procurou-se verificar se existiam diferenças entre os grupos, relativamente às segmentações

correctas para os estímulos dissilábicos e trissilábicos com as diferentes estruturas consideradas

nesta dissertação.

3.5.1. Estímulos dissilábicos com CV inicial

Tentando perceber de que forma os dois grupos se comportam na segmentação de dissílabos com

Ataque simples inicial, foi necessário aplicar o teste de Mann-Whitney (Quadro 36).

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Quadro 36 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com CV inicial.

Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)

Média de Rank

Somatório de Rank

Média de Rank

Somatório de Rank U P

Segmentações correctas de dissílabos com CV inicial 33,58 1242,50 46,45 1997,50 539,5 0,001

Utilizando o teste de Mann-Whitney, verifica-se que existem diferenças extremamente

significativas entre o número de segmentações correctas para os dois grupos (p ≤ 0,001). Através

da análise das médias de Rank, verifica-se que o grupo 2 (Média de Rank = 46,45), com crianças

mais velhas, apresenta um desempenho superior ao do grupo 1 (Média de Rank = 33,58) na

segmentação de dissílabos com CV inicial.

Para se completar esta análise, decidiu-se utilizar a estatística descritiva, mais especificamente os

crosstabs, no sentido de se poder cruzar as variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos

com CV inicial, observando-se o comportamento das crianças dos dois grupos (Quadro 37).

Quadro 37 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com CV inicial.

Segmentações correctas de dissílabos com CV inicial

3 4 5 6 7 8 Total

Grupo 1 3 1 2 1 9 21 37

Grupo 2 0 1 0 1 3 38 43

Observando o Quadro 37 constata-se que, enquanto as crianças do grupo 1 chegam a obter três,

quatro e cinco segmentações correctas, todas as crianças do grupo 2 tiveram, pelo menos, seis

segmentações correctas, havendo um predomínio evidente de oito segmentações correctas.

Os dados permitem mostrar progressão no desenvolvimento da consciência silábica, na amostra

observada.

3.5.2. Estímulos dissilábicos com V inicial

Para a comparação do sucesso obtido pelos diferentes grupos na tarefa de segmentação de

dissílabos com estrutura V inicial, procedeu-se à aplicação do teste de Mann-Whitney (Quadro

38).

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Quadro 38 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com V inicial.

Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)

Média de Rank

Somatório de Rank

Média de Rank

Somatório de Rank U P

Segmentações correctas de dissílabos com V inicial 33,36 1234,50 46,64 2005,50 531,5 0,004

Analisando o teste de Mann-Whitney, verifica-se que existem diferenças muito significativas

entre o número de segmentações correctas para os dois grupos (p ≤ 0,01). Através da análise das

médias de Rank, verifica-se que o grupo 2 (Média de Rank = 46,64) apresenta um desempenho

superior ao do grupo 1 (Média de Rank = 33,36) na segmentação de dissílabos com V inicial.

Para se completar esta análise, decidiu-se utilizar a estatística descritiva no sentido de se poder

observar o comportamento das crianças dos dois grupos na segmentação correcta dos dissílabos

com Ataque vazio (Quadro 39).

Quadro 39 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com V inicial.

Segmentações correctas de dissílabos com V inicial

1 2 3 4 5 6 7 8 Total

Grupo 1 1 1 1 2 4 4 7 17 37

Grupo 2 0 0 0 0 0 4 8 31 43

Observando o comportamento das crianças de ambos os grupos de forma mais pormenorizada,

constatou-se que enquanto as crianças do grupo 1 chegam a obter menos de seis segmentações

correctas, todas as crianças do grupo 2 tiveram, pelo menos, seis segmentações correctas,

havendo um predomínio evidente de oito segmentações correctas. Mais uma vez, se observa uma

progressão no desenvolvimento da consciência silábica para o formato silábico Ataque vazio, na

amostra estudada.

3.5.3. Estímulos dissilábicos com CCV inicial

Quanto aos estímulos lexicais com CCV inicial, verificou-se se existem diferenças significativas

na segmentação dos 11 estímulos apresentados nos dois grupos estudados. Aplicou-se, para tal, o

teste de Mann-Whitney (Quadro 40).

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Quadro 40 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com CCV inicial.

Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43) Média de

Rank Somatório de Rank

Média de Rank

Somatório de Rank U P

Segmentações correctas de dissílabos com CCV inicial 41,59 1539,00 39,56 1701,00 755,0 0,692

Analisando os resultados do teste de Mann-Whitney, verifica-se que não existem diferenças

estatisticamente significativas entre o número de segmentações correctas para os dois grupos (p

> 0,05). Através da análise das médias de Rank, verifica-se que o grupo 1 (Média de Rank =

41,59) e o grupo 2 (Média de Rank = 39,56) têm valores muito semelhantes.

No sentido de se poder observar o comportamento dos dois grupos mais pormenorizadamente,

decidiu-se cruzar as variáveis idade e segmentação de dissílabos com CCV inicial, tendo-se

obtido o seguinte quadro:

Quadro 41 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com CCV inicial.

Segmentações correctas de dissílabos com CCV inicial

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Total

Grupo 1 0 1 3 2 2 1 3 3 8 8 3 3 37

Grupo 2 2 2 1 1 1 3 3 6 10 9 3 2 43

Pela análise do Quadro 41, verifica-se que tanto o grupo 1 como o grupo 2 tiveram

comportamentos semelhantes, pois houve um predomínio de crianças entre as 8 e 9

segmentações correctas; as restantes crianças distribuíram-se pelo número mínimo e máximo de

segmentações possíveis.

Ainda dentro deste constituinte e, dado terem sido incluídos estímulos com CV inicial e com

ClV inicial, importa verificar a presença ou a ausência de diferenças entre os grupos face à

segmentação de estímulos com estes dois segmentos em posição de C2.

Dissílabos com CV inicial

Foi aplicado o teste de Mann-Whitney para se perceber de que forma é que as crianças dos dois

grupos se comportavam na segmentação de estímulos lexicais com CV (Quadro 42).

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   Página 106     

Quadro 42 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com CV inicial.

Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)

Média de Rank

Somatório de Rank

Média de Rank

Somatório de Rank U P

Segmentações correctas de dissílabos com CV inicial 40,59 1502,00 40,42 1738,00 792,0 0,971

Os resultados da aplicação do teste de Mann-Whitney mostram que não existem diferenças

estatisticamente significativas entre o número de segmentações correctas para os dois grupos (p

> 0,05), no que diz respeito aos estímulos com CV. Através da análise das médias de Rank,

verifica-se que o grupo 1 (Média de Rank = 40,59) e o grupo 2 (Média de Rank = 40,42) têm

valores idênticos.

Quadro 43 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com CV inicial.

Segmentações correctas de dissílabos com CV inicial

0 1 2 3 4 5 6 7 8 Total

Grupo 1 0 1 4 1 3 3 2 4 19 37

Grupo 2 2 2 1 1 3 3 3 7 21 43

O Quadro 43 comprova o comportamento semelhante entre os dois grupos: verifica-se um

predomínio, em ambos os grupos, das oito segmentações correctas e uma distribuição

homogénea pelos restantes números de segmentações possíveis.

Dissílabos com ClV inicial

Para se perceber como é que as crianças dos dois grupos se comportavam na segmentação de

estímulos com ClV foi necessário aplicar o teste de Mann-Whitney (Quadro 44).

Quadro 44 – Teste de Mann-Whitney (U) para os dissílabos com ClV inicial.

Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)

Média de Rank

Somatório de Rank

Média de Rank

Somatório de Rank U P

Segmentações correctas de dissílabos com ClV inicial 42,74 1581,50 38,57 1658,50 712,5 0,383

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   Página 107     

Aplicado o teste de Mann-Whitney, verifica-se que também não existem diferenças

estatisticamente significativas entre o número de segmentações correctas para os dois grupos (p

> 0,05), no que se refere aos estímulos com ClV. Através da análise das médias de Rank,

verifica-se que o grupo 1 (Média de Rank = 42,74) apresenta valores ligeiramente superiores aos

obtidos pelo grupo 2 (Média de Rank = 38,57).

No sentido de se completar estes resultados, considerou-se importante cruzar as duas variáveis

em estudo: idade e segmentação correcta de dissílabos com ClV inicial (Quadro 45), com o

objectivo de se observar o comportamento de ambos os grupos na segmentação de estímulos

com esta estrutura.

Quadro 45 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com ClV inicial.

Segmentações correctas de dissílabos com ClV inicial

0 1 2 3 Total

Grupo 1 17 11 5 4 37

Grupo 2 24 10 7 2 43

Em ambos os grupos, verifica-se a dificuldade das crianças em lidar com este grupo

consonântico, pois houve um predomínio de zero segmentações correctas, ou seja, de casos em

que as crianças não conseguiram segmentar nenhum dos estímulos apresentados.

Os resultados da análise estatística permitiram inferir que, independentemente do grupo e da

idade das crianças, estas apresentaram dificuldades em segmentar os estímulos com Ataque

ramificado em ClV inicial sendo esta uma estrutura problemática para a totalidade da amostra.

3.5.4. Estímulos trissilábicos

Em relação aos 15 estímulos trissilábicos, procurou-se observar o comportamento das crianças

dos dois grupos e, como tal, foi necessário aplicar o teste de Mann-Whitney (Quadro 46).

Quadro 46 – Teste de Mann-Whitney (U) para os trissílabos.

Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)

Média de Rank

Somatório de Rank

Média de Rank

Somatório de Rank U P

Segmentações correctas de trissílabos 33,86 1253,00 46,21 1987,00 550,0 0,017

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Aplicado o teste de Mann-Whitney, verifica-se que existem diferenças muito significativas entre

o número de segmentações correctas para os dois grupos (p ≤ 0,01). Através da análise das

médias de Rank, verifica-se que o grupo 1 (Média de Rank = 33,86) apresenta valores inferiores

aos obtidos pelo grupo 2 (Média de Rank = 46,21), o que significa que as crianças mais velhas

têm mais facilidade em segmentar palavras trissilábicas.

O Quadro 47 permite uma análise mais pormenorizada dos resultados para os dois grupos:

Quadro 47 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos.

Segmentações correctas de trissílabos com CV inicial 3 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Total

Grupo 1 1 1 2 3 1 7 3 3 6 2 3 5 37

Grupo 2 0 2 1 0 3 4 1 3 5 5 6 13 43

Pela análise do Quadro 47, observa-se que as crianças dos dois grupos se distribuem entre as três

e as 15 segmentações. Observa-se que, no grupo 1, houve um predomínio de nove segmentações

correctas e, no grupo 2, houve um predomínio de 15 segmentações correctas.

Tendo em consideração que se introduziram estímulos trissilábicos proparoxítonos e

paroxítonos, procedeu-se à análise do comportamento dos grupos face a cada um destes padrões

acentuais.

Trissílabos proparoxítonos (´CVCVCV)

Com o objectivo de se verificar a existência de possíveis diferenças nas duas faixas etárias

quanto à segmentação de trissílabos proparoxítonos, foi, mais uma vez, aplicado o teste de

Mann-Whitney (Quadro 48).

Quadro 48 – Teste de Mann-Whitney (U) para os trissílabos proparoxítonos.

Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)

Média de Rank

Somatório de Rank

Média de Rank

Somatório de Rank U P

Segmentações correctas de trissílabos com ´CVCVCV 34,88 1290,50 45,34 1949,50 587,5 0,041

Analisando os resultados do teste de Mann-Whitney, verifica-se que existem diferenças

estatisticamente significativas entre o número de segmentações correctas para os dois grupos (p

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< 0,05). Pela análise das médias de Rank, verifica-se que o grupo 1 (Média de Rank = 34,88)

apresenta valores inferiores aos obtidos pelo grupo 2 (Média de Rank = 45,34), ou seja, as

crianças mais velhas tiveram mais facilidade em segmentar palavras trissilábicas proparoxítonas

do que as crianças mais novas.

No sentido de poder especificar os resultados obtidos, recorreu-se à estatística descritiva, mais

especificamente aos crosstabs, isto é, ao cruzamento das duas variáveis em estudo (idade e

segmentação correcta de trissílabos proparoxítonos), tendo-se obtido os resultados que se

apresentam no quadro que se segue.

Quadro 49 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos proparoxítonos.

Segmentações correctas de trissílabos com ´CVCVCV

0 1 2 3 4 5 6 7 Total

Grupo 1 2 4 3 5 8 2 7 6 37

Grupo 2 0 4 0 4 8 8 5 14 43

Analisando-se o Quadro 49, constata-se que, no grupo 2, 14 crianças obtiveram as sete

segmentações correctas enquanto que apenas seis crianças do grupo 1 o conseguiram fazer. O

grupo 1 obteve o maior número de crianças nas quatro segmentações correctas, o que demonstra

a dificuldade com que as crianças mais novas lidaram com os trissílabos proparoxítonos,

contrariamente às crianças mais velhas.

Trissílabos paroxítonos (CV´CVCV)

Para verificar a existência de diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos,

relativamente aos oito estímulos trissilábicos paroxítonos, seguiu-se o mesmo procedimento:

aplicação do teste de Mann-Whitney (Quadro 50).

Quadro 50 – Teste de Mann-Whitney (U) para os trissílabos paroxítonos.

Grupo 1 (n = 37) Grupo 2 (n = 43)

Média de Rank

Somatório de Rank

Média de Rank

Somatório de Rank U P

Segmentações correctas de trissílabos com CV´CVCV 33,12 1225,50 46,85 2014,50 522,5 0,004

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Com base no teste de Mann-Whitney, observaram-se diferenças muito significativas entre o

número de segmentações correctas para os dois grupos (p ≤ 0,01). Através da análise das médias

de Rank, verifica-se que o grupo 1 (Média de Rank = 33,12) apresenta valores inferiores aos

obtidos pelo grupo 2 (Média de Rank = 46,85), ou seja, as crianças mais velhas tiveram mais

facilidade em segmentar palavras trissilábicas paroxítonas.

No sentido de se observar, mais detalhadamente, as diferenças entre os grupos, recorreu-se à

estatística descritiva (Quadro 51).

Quadro 51 – Cruzamento das variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos paroxítonos.

Segmentações correctas de trissílabos com CV´CVCV inicial

1 2 3 4 5 6 7 8 Total

Grupo 1 0 0 3 1 5 8 7 13 37

Grupo 2 1 1 1 2 1 2 4 31 43

Na segmentação dos trissílabos paroxítonos, observou-se, através do Quadro 51, que 31 crianças

do grupo 2 conseguiram segmentar correctamente os oito estímulos com esta estrutura, enquanto

que apenas 13 crianças do grupo 1 o conseguiram fazer. Estes dados revelam as dificuldades

sentidas pelas crianças mais novas.

3.5.5. Sumário

Concluindo, depois de terem sido comparados os resultados dos dois grupos na tarefa de

segmentação silábica dos estímulos utilizados, tendo em consideração as três variáveis

prosódicas, é possível destacar os seguintes aspectos:

1. Para a variável complexidade silábica, verificaram-se diferenças estatisticamente

significativas entre o grupo 1 e o grupo 2 na tarefa de segmentação de dissílabos com CV

inicial (p = 0,001, p ≤ 0,001) e V inicial (p = 0,004, p ≤ 0,01). As crianças do grupo 2

obtiveram resultados mais elevados do que as crianças do grupo 1;

2. Para as segmentações de dissílabos com ClV inicial (p = 0,383, p > 0,05) e CV (p =

0,971, p > 0,05), não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre os

dois grupos. As crianças dos dois grupos comportaram-se de forma semelhante; no

entanto, na segmentação dos dissílabos com ClV inicial, as crianças mais novas tiveram

valores ligeiramente superiores aos das crianças mais velhas;

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   Página 111     

3. Para a variável acento de palavra, observaram-se diferenças estatisticamente

significativas entre os dois grupos na tarefa de segmentação de trissílabos com estrutura

´CVCVCV (p = 0,04, p ≤ 0,05) e com estrutura CV´CVCV (p = 0,004, p ≤ 0,01). As

crianças do grupo 2 obtiveram resultados mais elevados na segmentação de ambas as

estruturas;

4. Para a variável extensão de palavra, verificou-se que as diferenças entre os grupos eram

ligeiramente mais acentuadas nos dissílabos paroxítonos (p = 0,001, p ≤ 0,001) do que

nos trissílabos paroxítonos (p = 0,004, p ≤ 0,01), o que revela as dificuldades que as

crianças mais velhas ainda sentem ao segmentarem palavras trissilábicas.

No geral, a comparação entre os resultados da prova de segmentação silábica para as diferentes

estruturas linguísticas consideradas permitiu evidenciar as diferenças encontradas entre os dois

grupos. Foram, geralmente, as crianças do grupo 1, as crianças mais novas, as que apresentaram

mais dificuldades em segmentar os estímulos apresentados, embora este efeito não se tenha

verificado na segmentação dos estímulos com Ataque ramificado.

3.6. Correlações entre variáveis

Uma das principais metas da investigação retratada nesta dissertação é estabelecer relações entre

as variáveis seleccionadas. Para tal, é necessário recorrer aos testes de correlação. Para as

variáveis intervalares, aplicou-se o coeficiente de Pearson e, para as variáveis medidas numa

escala ordinal, aplicou-se a vertente não paramétrica deste mesmo teste, ou seja, o coeficiente de

correlação de Spearman. Optou-se por correlacionar as seguintes variáveis: i) idade versus

capacidade de segmentação correcta; ii) idade versus tempo de segmentação da sílaba inicial;

iii) idade versus tempo de segmentação da palavra; iv) capacidade de segmentação correcta

versus capacidade de nomeação.

3.6.1. Idade versus capacidade de segmentação correcta

Para investigar relações entre as variáveis idade e capacidade de segmentação correcta, aplicou-

se o coeficiente de Pearson, dada a amostra ter mais de 30 crianças e todas as variáveis serem

quantitativas. Foi encontrada correlação entre a variável idade e as variáveis segmentação de

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   Página 112     

trissílabos proparoxítonos, trissílabos paroxítonos e dissílabos com CV, conforme se pode

observar no Quadro 52.

Segmentações Correctas

Dissílabos com CV

Trissílabos com ´CVCVCV

Trissílabos com CV´CVCV

Idade dos participantes Correlação de Pearson 0,301 0,245 0,258

Sig. 0,007 0,028 0,021

Através da análise do Quadro 52, verifica-se que existe uma correlação significativa, positiva

baixa (rs = 0,245, p ≤ 0,05) entre as variáveis idade e segmentação correcta de trissílabos com

´CVCVCV: quanto mais velhas as crianças, melhores resultados obtêm na segmentação de

trissílabos proparoxítonos. Correlação semelhante (rs = 0,258, p ≤ 0,05) foi observada entre as

variáveis idade e segmentação de trissílabos paroxítonos. Entre as variáveis idade e

segmentação de dissílabos com CV inicial, observou-se uma correlação muito significativa,

positiva baixa (rs = 0,301, p ≤ 0,01), ou seja, quanto mais velhas são as crianças, mais alta é a

percentagem de sucesso na prova de segmentação com estímulos com esta estrutura.

Não se verificou a existência de correlação entre as variáveis idade e capacidade de

segmentação de dissílabos com V inicial (rs = 0,186, p > 0,05) e entre as variáveis idade e

capacidade de segmentação de dissílabos com CCV inicial (rs = -0,058, p > 0,05).

Concluindo, a aplicação do teste de correlação de Pearson permitiu constatar que a prova de

segmentação, tanto dos dissílabos como dos trissílabos é influenciada pela idade das crianças.

3.6.2. Idade versus tempo de segmentação da sílaba inicial

Em relação a estas variáveis, procedeu-se à análise do coeficiente de correlação de Pearson entre

as variáveis idade e tempo de segmentação da sílaba inicial, para todos os formatos silábicos

avaliados nos dissílabos. Aquando da análise dos coeficientes de correlação verificou-se que este

apenas era positivo para os estímulos dissilábicos com Ataque ramificado CV (Quadro 53).

Quadro 52 – Coeficiente de correlação de Pearson para as variáveis idade e capacidade de segmentação.

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   Página 113     

Analisando os resultados obtidos no Quadro 53, observa-se que existe uma correlação muito

significativa, negativa baixa (rs = -0,289, p ≤ 0,01), entre as variáveis idade e tempo de

segmentação da sílaba inicial dos estímulos com CV, ou seja, quanto mais velhas as crianças,

menos tempo utilizam na segmentação da sílaba inicial dos estímulos dissilábicos com esta

estrutura. Importa salientar que esta correlação não foi observada para os estímulos com Ataque

ramificado ClV (rs = 0,06, p > 0,05).

3.6.3. Idade versus tempo de segmentação da palavra

Aplicando-se o coeficiente de correlação de Pearson foi possível observar a existência de

correlações positivas entre as variáveis idade e tempo de segmentação da palavra para os

estímulos dissilábicos com Ataque vazio e com Ataque ramificado em posição inicial, bem como

para os estímulos trissilábicos proparoxítonos (Quadro 54).

Quadro 54 – Coeficiente de correlação de Pearson para as variáveis idade e tempo de segmentação da palavra.

TR dissílabos com V inicial

TR dissílabos com CV inicial

TR trissílabos com ´CVCVCV

Idade dos participantes Correlação de Pearson -0,232 -0,307 -0,242

Sig. 0,039 0,006 0,032

TR – Tempo de reacção

Pela análise do Quadro 54, observa-se que existe uma correlação significativa, negativa baixa (rs

= -0,232, p ≤ 0,05) entre as variáveis idade e tempo de segmentação dos dissílabos com V inicial.

A mesma correlação (rs = -0,242, p ≤ 0,05) foi observada para as variáveis idade e tempo de

Correlações

1 -,289*. ,010

-,289* 1

,010 .

Correlação de PearsonSig. (2-tailed)Correlação de Pearson

Sig. (2-tailed)

Idade dos participantes emmeses

Tempo de reacção palavrasdissilábicas com ´CrV

Idade dos participantesem meses

Tempo de reacçãopalavras dissilábicas

com ´CrV

Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).*.

Quadro 53 – Coeficiente de correlação de Pearson para as variáveis idade e tempo de segmentação da sílaba

inicial dos estímulos com CV inicial. 

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   Página 114     

segmentação dos estímulos trissilábicos proparoxítonos. A existência de uma correlação muito

significativa, negativa baixa (rs = -0,307, p ≤ 0,01) foi verificada entre as variáveis idade e

tempo de segmentação dos dissílabos com CV inicial. Assim, os dados mostram que quanto

mais velhas são as crianças mas rapidamente segmentam dissílabos com Ataque vazio e com

Ataque ramificado e trissílabos proparoxítonos

3.6.4. Capacidade de segmentação correcta versus capacidade de nomeação

Dado que foi aplicado um teste de nomeação, procurou-se verificar se o facto de os estímulos

lexicais serem do conhecimento das crianças influenciava o sucesso na prova de segmentação.

Tendo em consideração que a variável capacidade de nomeação é medida numa escala ordinal,

foi necessário recorrer à estatística não paramétrica, mais especificamente à alternativa não

paramétrica do coeficiente de correlação de Pearson, o coeficiente de correlação de Spearman.

Aplicando-se este mesmo coeficiente de forma a perceber a relação entre as variáveis

capacidade de segmentação correcta e capacidade de nomeação, verificou-se que não existe

qualquer correlação entre ambas (p > 0,05), ou seja, a capacidade de nomeação das imagens não

está correlacionada com o sucesso na tarefa de segmentação silábica dos estímulos apresentados.

Concluindo-se, a ausência de uma correlação entre estas variáveis demonstra que a tarefa de

nomeação e a prova de segmentação remetem para actividades cognitivas distintas e que o facto

de as crianças não conseguirem nomear correctamente um estímulo não influencia,

negativamente, o sucesso na prova de segmentação silábica

3.6.5. Sumário

Após a aplicação do coeficiente de correlação, é possível destacar a existência de correlações

entre as seguintes variáveis:

1. Correlação muito significativa, positiva baixa (rs = 0,301, p ≤ 0,01) entre as variáveis

idade e segmentação correcta de dissílabos com estrutura CV;

2. Correlação significativa, positiva baixa (rs = 0,245, p ≤ 0,05) entre as variáveis idade e

segmentação correcta de trissílabos com ´CVCVCV;

3. Correlação significativa, positiva baixa (rs = 0,258, p ≤ 0,05) entre as variáveis idade e

segmentação correcta de trissílabos com CV´CVCV;

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   Página 115     

4. Correlação muito significativa, negativa baixa (rs = -0,266, p ≤ 0,01) entre as variáveis

idade e tempo de segmentação da sílaba inicial dos estímulos com CV;

5. Correlação significativa, negativa baixa (rs = -0,232, p ≤ 0,05) entre as variáveis idade e

tempo de segmentação dos dissílabos com V inicial;

6. Correlação muito significativa, negativa baixa (rs = -0,307, p ≤ 0,01) entre as variáveis

idade e tempo de segmentação dos dissílabos com CV inicial.

7. Correlação significativa, negativa baixa (rs = -0,242, p ≤ 0,05) entre as variáveis idade e

tempo de segmentação dos trissílabos com ´CVCVCV;

Tais resultados permitem salientar, em relação à capacidade de segmentação, que apenas não

existe correlação entre as variáveis idade e segmentação correcta de dissílabos com V e CCV

inicial, ou seja, apenas para as estruturas V e CCV é que o comportamento das crianças é igual,

independentemente da idade.

Quanto ao tempo de segmentação total das palavras, verificou-se que não existe correlação entre

a idade e o tempo de segmentação dos dissílabos com CV e ClV e o tempo de segmentação dos

trissílabos paroxítonos, ou seja, apenas para estes constituintes é que o comportamento das

crianças é igual, independentemente da idade.

3.7. Sumário final

Nesta secção, procede-se à apresentação da síntese dos resultados obtidos para o capítulo 3.

Foram observadas as produções das crianças com base nas três variáveis prosódicas

consideradas:

a) Complexidade silábica (dissílabos com V, CV e CCV inicias);

b) Extensão de palavra (dissílabos paroxítonos e trissílabos paroxítonos com estruturas

silábicas do tipo CV – ´CVCV e CV´CVCV);

c) Acento de palavra (trissílabos proparoxítonos e trissílabos paroxítonos – ´CVCVCV e

CV´CVCV).

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   Página 116     

Para cada uma das variáveis supracitadas, resumir-se-ão os resultados relativos: i) à frequência

de segmentações correctas e incorrectas; ii) ao tempo de reacção utilizado na segmentação da

palavra e / ou da sílaba inicial; iii) ao comportamento das crianças de acordo com os grupos

constituídos com base na idade; iv) correlações existentes.

a) Complexidade silábica

Inicialmente, procedeu-se à análise do comportamento das crianças face à tarefa de segmentação

silábica em dissílabos, que permitiram observar o impacto do Ataque no desempenho de uma

tarefa de segmentação silábica: ´CVCV como em [patu]; ´VCV como em [ou]; ´CCVCV

como em [bu].

Para o estudo da complexidade silábica, foram introduzidos estímulos dissilábicos com Ataque

simples, vazio e ramificado, apresentando-se, no Gráfico 25, o valor percentual de segmentações

correctas e incorrectas para cada um dos formatos silábicos mencionados.

 

Através da observação do Gráfico 25, verifica-se que as estruturas menos complexas, Ataque

simples e Ataque vazio, são estruturas segmentadas mais facilmente. Relativamente aos

estímulos mais complexos, verifica-se uma grande discrepância entre a percentagem de

segmentações correctas dos dissílabos com Ataque ramificado CV inicial e dos dissílabos com

Ataque ramificado ClV inicial. Tais resultados poderão estar relacionados com a frequência

reduzida de palavras com a combinatória obstruinte + lateral para o Português Europeu, sendo

este um assunto a discutir no capítulo 4.

Gráfico 25 – Percentagem de segmentações correctas e incorrectas para os dissílabos.

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

V CV CrV ClV

Perc

enta

gem

(%)

Estruturas silábicas

Segmentações Correctas Segmentações Incorrectas

CV ClV

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   Página 117     

Para além da análise da percentagem de sucesso, para a variável complexidade silábica analisou-

se também o tempo de reacção para a segmentação da sílaba inicial, a qual engloba as três

estruturas linguísticas indicadas previamente (Gráfico 26).

Analisando-se o tempo de reacção utilizado na segmentação da sílaba inicial dos dissílabos,

verifica-se que, nas segmentações correctas para os três formatos silábicos, o tempo de reacção

foi inferior ao utilizado nas segmentações incorrectas. Esta relação apenas não se verifica na

segmentação dos dissílabos com CV inicial, para os quais os tempos de segmentação foram

inferiores nas segmentações incorrectas, contrariamente ao esperado. Outro dado surpreendente

refere-se ao facto de a segmentação das sílabas ClV corresponder ao valor de tempo de reacção

mais baixo, o que poderá estar relacionado com as estratégias utilizadas na sua segmentação. As

palavras com a sílaba inicial do tipo CV foram as que demoraram mais tempo a ser

segmentadas, o que vai ao encontro daquilo que seria de esperar.

Para além do tempo de reacção para cada sílaba, mediu-se o tempo utilizado na segmentação

total da palavra, podendo-se observar os tempos médios, para cada constituinte analisado, no

gráfico que se segue.

0

500

1000

1500

2000

2500

V CV CrV ClVTem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estruturas silábicas

Segmentações Correctas Segmentações Incorrectas

CV ClV

Gráfico 26 – Tempo de segmentação da sílaba inicial para os dissílabos (segmentações correctas e incorrectas).

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Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos  

   Página 118     

Analisando-se o Gráfico 27, observa-se que, para todos os constituintes, tal como seria de

esperar, a segmentação da palavra demorou mais tempo quando a tarefa de segmentação foi

efectuada de forma incorrecta. Observando as segmentações correctas, verifica-se que as

palavras com sílaba inicial com constituinte não ramificado foram segmentadas em menos tempo

do que as palavras com o constituinte ramificado na sua sílaba inicial, não se observando

diferenças entre os estímulos com V e os estímulos com CV inicial. Ao nível das palavras com

Ataque ramificado, o facto de o segmento em C2 ser diferente parece não influenciar o tempo

utilizado na segmentação da palavra, nas segmentações correctas. Nas segmentações incorrectas,

importa realçar o valor encontrado para os estímulos V, o que poderá estar relacionado com as

estratégias utilizadas pelas crianças, como se verá na discussão dos resultados, no capítulo 4.

Ainda se procedeu a uma análise por faixa etária. O Gráfico 28 revela o comportamento dos dois

grupos na segmentação dos dissílabos com V, CV e CCV inicial.

0500

10001500200025003000350040004500

V CV CrV ClV

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Estruturas silábicasSegmentações Correctas Segmentações Incorrectas

CV ClV

Gráfico 27 – Tempo de segmentação total das palavras dissilábicas (segmentações correctas e incorrectas).

01020

3040

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Freq

uênc

ias -

cria

nças

Frequências - segmentações correctas

Grp 1 - CV Grp 2 - CV Grp 1 - VGrp 2 - V Grp 1 - CCV Grp 2 - CCV

Gráfico 28 – Comparação das frequências do número de segmentações correctas para os dissílabos, nos dois grupos.

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Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos  

   Página 119     

Os resultados revelaram que, para os estímulos com V e CV inicial foram as crianças mais novas

as que tiveram resultados de segmentação mais baixos. Para os estímulos CCV, verificou-se um

comportamento muito semelhante por parte dos dois grupos, o que reflecte a dificuldade que a

amostra, independentemente da idade, teve em segmentar palavras com este constituinte.

Por fim, ainda é possível salientar os dados das correlações, tendo-se observado correlações

significativas entre a variável idade e as seguintes variáveis:

• Segmentação de dissílabos com CV inicial (rs = 0,30, p ≤ 0,01);

• Tempo de reacção das palavras com CV inicial (rs = -0,29, p ≤ 0,01);

• Tempo de reacção da sílaba com V (rs = -0,23, p ≤ 0,05) e com CV (rs = -0,31, p ≤

0,01).

Tais resultados revelam que quanto mais velhas são as crianças mais facilidade têm em

segmentar estímulos com CV inicial. Outro dado importante refere-se à existência de correlações

entre as variáveis idade e tempo de segmentação das palavras com CV, ou seja, apenas em

palavras com esta estrutura se verificou que, quanto mais velhas são as crianças, menor é o

tempo utilizado na segmentação da palavra. Por fim, no que se refere ao tempo de segmentação

da sílaba inicial, verificou-se a existência de correlação entre a variável idade e o tempo de

segmentação das sílabas V e CV, onde se observou que quanto mais velhas são as crianças

menor é o tempo utilizado. Desta forma, as sílabas CV foram segmentadas de forma semelhante,

independentemente da idade, e o mesmo se verificou na segmentação das sílabas ClV.

b) Extensão de palavra

Inicialmente, foi efectuada a análise do comportamento das crianças face à tarefa de

segmentação silábica nos estímulos que permitiram estudar a variável extensão de palavra. Para

o estudo da extensão de palavra foram introduzidos estímulos dissilábicos paroxítonos como em

[kau] e estímulos trissilábicos paroxítonos como em [bnn]. Apresenta-se, no Gráfico

29, o valor percentual de segmentações correctas e incorrectas para cada uma das extensões de

palavra referidas.

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   Página 120     

Observando-se as percentagens de sucesso para as duas extensões utilizadas, constata-se que as

crianças segmentaram melhor as palavras dissilábicas (93%), apresentando uma percentagem de

sucesso mais elevada do que a verificada para os trissílabos (85,3%).

Na análise da variável extensão de palavra, considerou-se pertinente observar os tempos

utilizados na segmentação das palavras, como se ilustra no Gráfico 30.

Como esperado, as palavras dissilábicas (Média = 2649 milissegundos) demoraram menos tempo

a ser segmentadas do que as palavras trissilábicas (Média = 4200 milissegundos), sendo

importante realçar que essa diferença se tornou praticamente insignificante ao nível das

segmentações incorrectas. Tal poderá dever-se às estratégias que as crianças utilizaram na

segmentação das mesmas; este aspecto será discutido no capítulo seguinte.

Gráfico 29 – Percentagem de segmentações correctas e incorrectas para os dissílabos e trissílabos.

Gráfico 30 – Tempo de segmentação das palavras dissilábicas e trissilábicas (segmentações correctas e incorrectas).

0%

20%

40%

60%

80%

100%

´CVCV CV´CVCV

Perc

enta

gem

(%)

Extensões de palavra

Segmentações Correctas Segmentações Incorrectas

0

1000

2000

3000

4000

5000

´CVCV CV´CVCVTem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Extensões de palavra

Segmentações Correctas Segmentações Incorrectas

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   Página 121     

Para a análise dos resultados com base no agrupamento efectuado por faixa etária, importa

observar o Gráfico 31.

Gráfico 31 – Comparação das frequências dos dois grupos para os dissílabos e trissílabos.

Pela análise do Gráfico 31, verifica-se que, tanto para os dissílabos como para os trissílabos,

foram as crianças mais velhas as que tiveram mais facilidade em realizar a prova de segmentação

silábica.

c) Acento de palavra

Para o estudo do acento de palavra, foram introduzidos estímulos trissilábicos proparoxítonos

como em [mdiku] e paroxítonos como em [kzaku]. Apresenta-se, no Gráfico 32, o valor

percentual de segmentações correctas e incorrectas para cada um dos padrões silábicos

considerados.

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

´CVCVCV CV´CVCV

Perc

enta

gem

(%)

Padrões acentuais

Segmentações Correctas Segmentações Incorrectas

Gráfico 32 – Percentagem de segmentações correctas e incorrectas para as palavras trissilábicas.

05

101520253035

1 2 3 4 5 6 7 8Freq

uênc

ias -

cria

nças

Frequências - segmentações correctas

Grp 1 - CV´CVCV Grp 2 - CV´CVCVGrp 1 - ´CVCVCV Grp 2 - ´CVCVCV

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   Página 122     

O Gráfico 32 revela que as crianças avaliadas tiveram mais facilidade em segmentar

correctamente os estímulos trissilábicos paroxítonos, o que vai ao encontro dos dados descritos

na literatura sobre o padrão acentual mais frequente para o Português Europeu, como se verá no

capítulo 4.

Para além da percentagem de sucesso, analisou-se o tempo total utilizado na segmentação das

palavras, de forma a observar como é que o padrão acentual interfere com a tarefa de

segmentação (Gráfico 33).

Gráfico 33 – Tempo de segmentação das palavras trissilábicas proparoxítonas e paroxítonas.

Através da análise do Gráfico 33, foi possível verificar que, nas segmentações correctas, as

crianças demoraram mais tempo a segmentar palavras paroxítonas do que palavras

proparoxítonas, apesar de estas diferenças não serem significativas. Quando se observam as

segmentações incorrectas, verifica-se o comportamento oposto, ou seja, as crianças segmentam

mais rapidamente as palavras paroxítonas o que poderá estar relacionado com as estratégias

utilizadas na tarefa de segmentação, assunto a retomar na discussão dos resultados (capítulo 4).

Para a observação dos resultados obtidos pelos dois grupos, importa analisar o Gráfico 34, que

apresenta a frequência para cada segmentação correcta, podendo verificar-se o comportamento

das crianças do grupo 1 e do grupo 2 perante a segmentação de palavras trissilábicas com

padrões acentuais distintos.

0500

10001500200025003000350040004500

´CVCVCV CV´CVCV

Tem

po d

e re

acçã

o (m

s.)

Padrões acentuais

Segmentações Correctas Segmentações Incorrectas

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   Página 123     

Gráfico 34 – Comparação das frequências dos dois grupos para os trissílabos paroxítonos e proparoxítonos.

Observando os resultados esquematizados no Gráfico 34, verifica-se que, tanto para os

trissílabos proparoxítonos como para os paroxítonos, são as crianças mais novas que têm mais

dificuldades na prova de segmentação silábica.

Quanto aos dados obtidos após a aplicação do coeficiente de correlação, é possível salientar

correlações significativas entre a variável idade e as seguintes variáveis:

• Segmentação de trissílabos com ´CVCVCV (rs = 0,25, p ≤ 0,05);

• Segmentação de trissílabos com CV´CVCV (rs = 0,26, p ≤ 0,05).

Tais resultados revelam que, quanto mais velhas são as crianças, mais facilidades têm em

segmentar estímulos trissilábicos, independentemente do padrão acentual dos mesmos. Importa

realçar que não se encontraram correlações significativas entre as variáveis idade e tempo total

de segmentação da palavra.

No capítulo seguinte, discutir-se-ão os principais resultados obtidos, tendo por base as três

variáveis prosódicas – complexidade silábica, extensão de palavra e acento de palavra – e uma

variável extra-linguística, a idade.

 

 

 

05

101520253035

1 2 3 4 5 6 7 8Freq

uênc

ias -

cria

nças

Frequências - segmentações correctas

Grp 1 - CV´CVCV Grp 2 - CV´CVCVGrp 1 - ´CVCVCV Grp 2 - ´CVCVCV

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   Página 124     

4. Discussão dos Resultados

O objectivo central desta investigação consiste na análise do comportamento de crianças

portuguesas no desempenho de uma prova de segmentação silábica, na qual se manipularam três

variáveis prosódicas – complexidade silábica, extensão de palavra e acento de palavra – e uma

variável extra-linguística, a idade. Discutir-se-ão os resultados com base em informação sobre o

desenvolvimento linguístico e sobre a frequência das estruturas na língua, assumindo-se que i)

quanto mais precocemente surge o constituinte no desenvolvimento linguístico, mais simples o

seu processamento; ii) quanto mais frequente a estrutura, mais simples o seu processamento.

Nesta secção, discutir-se-ão os resultados obtidos após o tratamento estatístico, tendo em

consideração as variáveis em análise, confrontando-os com a informação disponível na literatura

e com as hipóteses formuladas no âmbito deste projecto.

Complexidade silábica

Diferentes estudos sobre a aquisição do constituinte Ataque, referenciados no capítulo 1, têm

descrito que, assim como acontece noutras línguas, no Português Europeu a aquisição do

constituinte Ataque não ramificado surge num primeiro estádio, seguido da aquisição do Ataque

ramificado (Bernhardt & Stemberger, 1998; Fikkert, 1994; Freitas, 1997a). Até meados dos anos

90, assumiu-se que o padrão CV, com Ataque simples associado a uma oclusiva, seria o primeiro

e único formato silábico a ser adquirido; posteriormente as crianças adquiririam o padrão V, com

Ataque vazio. Freitas (1997a) mostrou que as crianças portuguesas exibem simultaneamente, no

primeiro estádio de produção, a emergência de estruturas CV, associadas a oclusivas e nasais, e

de estruturas V. O mesmo se verificou para o Alemão, Espanhol, Hebreu e para o Português do

Brasil (Freitas, 1997a). Como referido no capítulo 1, estudos sobre a frequência dos diferentes

formatos silábicos para o Português Europeu referem que o formato silábico CV surge em cerca

de 50% das produções verbais, enquanto que o formato silábico V ocorre em cerca de 15% das

produções (Andrade & Viana, 1993; Vigário & Falé, 1993; Vigário et al., 2006a, 2006b).

A literatura tem referido que o constituinte Ataque ramificado é silabicamente mais complexo e

como tal, é o último a ser adquirido (Avila, 2000; Bernhardt & Stemberger, 1998; Cristófaro-

Silva, 2002; Fikkert, 1994; Freitas, 1997a; Lamprecht et al., 2004; Miranda, 2006; Ribas, 2003,

2007; Veloso, 2003). Dada a sua complexidade, as crianças recorrem a estratégias de

reconstrução aquando da sua produção, como sejam: apagamento do grupo consonântico;

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Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos  

   Página 125     

redução do grupo consonântico ao primeiro ou ao segundo elemento; inserção de uma vogal

entre os elementos do grupo consonântico. Diferentes estudos têm revelado a existência de uma

frequência superior de estímulos com a combinatória oclusiva + líquida, do que com a

combinatória fricativa + líquida (Vigário & Falé, 1993). Na combinatória oclusiva + líquida é

mais frequente a existência de uma oclusiva seguida de uma vibrante do que de uma oclusiva

seguida de uma lateral, como se pode relembrar através da observação dos quadros 3 e 4 no

capítulo 1.

Relativamente à complexidade silábica, observaram-se os seguintes resultados quanto às

segmentações correctas e incorrectas, à percentagem de segmentações, ao tempo de reacção da

primeira sílaba e ao tempo de reacção da palavra:

Quadro 55 – Resultados globais face à variável complexidade silábica.

Formatos silábicos

% Segmentações

Tempo de reacção 1ªsílaba (ms.)

Tempo de reacção palavra (ms.)

Segmentações correctas

CV 93 1790 2649

V 89,9 1740 2635

CV 47,3 2069 2986

ClV 16,8 1556 2886

Segmentações incorrectas

CV 7 1631 2894

V 11 2344 3606

CV 52,7 2261 3802

ClV 83,2 2229 4216

No presente estudo, verificou-se não existirem diferenças significativas entre os estímulos

dissilábicos com Ataque simples, como em carro, e com Ataque vazio, com em olho, no que se

refere ao número de segmentações correctas. A análise da percentagem de sucesso permitiu

constatar que as crianças avaliadas obtiveram 93% de sucesso na segmentação de palavras

dissilábicas com CV inicial e 89,9% de sucesso na segmentação de palavras dissilábicas com V

inicial, ou seja, não se verificaram diferenças na segmentação de palavras com o constituinte

Ataque não ramificado. Tais valores permitem confirmar a natureza não marcada de ambas as

estruturas, na tarefa em avaliação. A análise dos tempos de reacção da segmentação do

constituinte Ataque não ramificado em posição inicial de palavra corrobora os dados referidos,

na medida em que as sílabas com CV inicial foram segmentadas em 1790 milissegundos e as

sílabas com V inicial foram segmentadas em 1740 milissegundos (valores médios). Desta forma,

os resultados encontrados revelam que as crianças parecem lidar da mesma forma com os

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Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos  

   Página 126     

constituintes Ataque simples e Ataque vazio quando estes estão presentes em estímulos

dissilábicos.

Quanto ao constituinte Ataque ramificado, este obteve uma percentagem de sucesso de 64,2%,

sendo esta bastante inferior à encontrada para os constituintes Ataque simples (93%) e Ataque

vazio (89,9%). Analisando-se as combinatórias testadas neste estudo quanto ao constituinte

Ataque ramificado (obstruinte + vibrante e obstruinte + lateral), verifica-se que as crianças

conseguiram segmentar mais facilmente palavras com Ataque ramificado CV (47,3%), como

em bruxa, do que palavras com Ataque ramificado ClV (16,8%), como em planta, o que vai ao

encontro dos dados de frequências referidos na literatura para o Português Europeu (Vigário &

Falé, 2003). A análise dos tempos de reacção permitiu verificar que o Ataque ramificado em

CV demorou mais tempo a ser segmentado (2069 milissegundos) do que qualquer outro

constituinte. O Ataque ramificado em ClV (1556 milissegundos) foi o que demorou menos

tempo a ser segmentado. Este último dado não seria de esperar tendo em consideração os

trabalhos de Freitas (1997a), Veloso (2003) ou Vigário e Falé (1993), que referem que esta

combinatória é menos frequente e mais problemática no Português Europeu. Se o valor fosse

igual ao de CV (1790 milissegundos), poder-se-ia argumentar que as crianças estariam a

processar a estrutura como CV, à luz do que é proposto em Freitas (2003), em que Cl

processado como uma consoante complexa, num estádio inicial da aquisição de CCV. Como

ClV apresenta um valor mais baixo (1556 milissegundos) do que CV (1790 milissegundos), este

resultado fica por explicar, sendo necessárias mais investigações neste domínio.

Um outro dado interessante refere-se ao tempo médio de reacção para as segmentações

incorrectas. Os dados encontrados revelaram que, aquando das segmentações incorrectas, as

crianças demoraram mais tempo a segmentar sílabas do tipo V (2344 milissegundos) do que do

tipo CV (1631 milissegundos). Estes dados sugerem que apesar de as crianças lidarem de forma

semelhante com ambas as estruturas em contexto de segmentação correcta, as segmentações

incorrectas correspondem a tempos de reacção mais elevados para V do que para CV. Tal poderá

estar relacionado com a frequência com que estas estruturas surgem no léxico infantil, já que

dados de frequência (Andrade & Viana, 1993; Vigário & Falé, 1993; Vigário et al., 2006b),

referem a existência de um predomínio de sílabas do tipo CV nas produções das crianças e nas

dos adultos. Estudos em que foram utilizados tempos de reacção apontam para o facto de as

sílabas serem de alta ou de baixa frequência no léxico poder influenciar o tempo de

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   Página 127     

processamento das mesmas (Laganaro & Alario, 2006). No presente estudo verificou-se que,

apesar de os dados de estudos de frequência descreverem que CV é mais frequente do que V, CV

e V apresentaram o mesmo comportamento face às segmentações correctas e ao tempo de

reacção, não se observando o papel da frequência. No entanto, nas segmentações incorrectas CV

e V tiveram resultados diferentes, podendo revelar o efeito de frequência ou a activação de

outros aspectos, linguísticos ou extra-linguísticos, que justifiquem o processamento inadequado.

Dentro desta análise ainda se podem salientar os resultados obtidos nos tempos de segmentação

das estruturas CCV, os quais foram idênticos para o Ataque ramificado CV (2261

milissegundos) e para o Ataque ramificado ClV (2229 milissegundos), contrariamente aos

resultados obtidos para as percentagens de segmentações correctas. Assim, o tempo de reacção e

a capacidade de segmentação silábica parecem estar a medir aspectos diferentes do

processamento, já que enquanto o número de segmentações pareceu ser sensível às diferentes

estruturas linguísticas manipuladas, os tempos de reacção não foram sensíveis à complexidade

silábica, sendo necessária mais investigação neste domínio

Por fim, analisou-se o tempo de reacção na segmentação da palavra, no sentido de se verificar se

o tipo de constituinte em posição inicial exercia influência sobre o tempo total utilizado na

segmentação da mesma. Os resultados revelaram tempos de segmentação muito idênticos, ou

seja, as palavras dissilábicas com estrutura inicial não ramificada, Ataque simples (2649

milissegundos) e Ataque vazio (2635 milissegundos), foram segmentadas com tempos idênticos,

sendo estes semelhantes aos utilizados na segmentação de palavras com Ataque ramificado:

CV (2986 milissegundos) e ClV (2886 milissegundos). Assim, o facto de a palavra ter um

constituinte não ramificado, associado a material segmental ou vazio, não se reflecte no tempo

utilizado na segmentação do estímulo.

Contrariamente, verificaram-se diferenças significativas no tempo utilizado na segmentação

incorrecta da palavra. Os dados demonstraram um tempo de segmentação crescente para palavras

iniciadas pelas seguintes estruturas: CV (2894 milissegundos) < V (3606 milissegundos) < CV

(3802 milissegundos) < ClV (4216 milissegundos). As palavras com V inicial, quando

segmentadas incorrectamente, obtiveram um tempo de segmentação elevado devido à estratégia

seleccionada, já que na maioria das situações (73,2%), as crianças avaliadas, transformaram os

estímulos dissilábicos em trissilábicos, procedendo à inserção de um segmento em posição final

de palavra, como em osso [o.su.u]. O mesmo sucedeu para os estímulos com CCV inicial,

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Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos  

   Página 128     

isto é, as crianças, em 82,2% das incorrecções, transformaram-nos em estímulos trissilábicos na

medida em que inseriram uma vogal entre o grupo consonântico, como em prato [p.a.tu].

Os resultados permitiram confirmar a primeira hipótese, “ o sucesso na tarefa de segmentação

silábica está directamente relacionado com a complexidade do constituinte silábico em análise:

palavras com o constituinte silábico simples ou vazio em posição inicial de palavra são

segmentadas mais facilmente do que palavras com o constituinte silábico Ataque ramificado em

posição inicial de palavra”, dado se ter verificado que o sucesso da prova de segmentação

silábica está relacionado com a complexidade silábica do constituinte Ataque: palavras com

Ataque não ramificado em posição inicial de palavra são segmentadas mais facilmente e obtêm

valores mais baixos de tempo de reacção do que palavras com Ataque ramificado em posição

inicial.

Extensão de palavra

Neste projecto foram testadas palavras dissilábicas e trissilábicas com a mesma estrutura silábica

(CV) e com o mesmo padrão acentual paroxítono: bola e banana, com o objectivo de se

poderem observar comportamentos distintos na segmentação de palavras com extensão diferente.

A literatura relevante, nomeadamente os estudos de Vigário et al. (2004, 2006a) e de Vigário e

Falé (1993), descreve, para o Português Europeu, um predomínio de palavras dissilábicas nas

primeiras produções verbais de crianças portuguesas, bem como nos adultos. Veja-se o quadro

seguinte com o sumário dos principais dados sobre a extensão de palavra.

Quadro 56 – Percentagem das extensões de palavra no adulto e na criança.

Monossílabos Dissílabos Trissílabos Polissílabos

Produções espontâneas infantis 28,6% 46,6% 19% ______

Produções nos adultos 19,8% 42,6% 18,4% 7,6%

Ao longo do seu desenvolvimento linguístico, as crianças começam a produzir trissílabos, apesar

de estes permanecerem com uma frequência de ocorrência inferior aos dissílabos.

No sentido de facilitar a análise dos resultados, no Quadro 57 apresentam-se os resultados para a

variável extensão de palavra (percentagem de segmentações e tempo de reacção da palavra).

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Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos  

   Página 129     

Quadro 57 – Resultados globais face à variável extensão de palavra.

Extensões de palavra % Segmentações Tempo de reacção palavra (ms.)

Segmentações correctas

´CVCV 93 2649

CV´CVCV 85,3 4200

Segmentações incorrectas

´CVCV 7 2894

CV´CVCV 14,7 2483

Os resultados encontrados neste estudo vão ao encontro dos dados referenciados anteriormente,

na medida em que se verificou uma percentagem de sucesso de 93% na segmentação dos

dissílabos paroxítonos e uma percentagem de sucesso de 85,3% na segmentação dos trissílabos

paroxítonos. Tal como seria de esperar, as crianças conseguiram segmentar mais facilmente

estímulos com duas sílabas do que estímulos com três sílabas, provavelmente devido ao facto de

as palavras dissilábicas serem mais frequentes no léxico infantil. No entanto, importa salientar

que não se tratou de uma diferença significativa.

Analisaram-se apenas os tempos de segmentação da palavra e não da sílaba dado estar-se a testar

a variável extensão de palavra e não a manipulação de qualquer constituinte silábico interno à

palavra. Os dados encontrados revelaram um tempo de reacção mais elevado na segmentação

dos trissílabos (4200 milissegundos) do que dos dissílabos (2649 milissegundos). Desta forma,

os dados encontrados ao nível dos tempos de reacção corroboram os resultados referidos na

literatura, quando considerada a percentagem de sucesso na prova de segmentação silábica:

estruturas mais frequentes tanto no adulto como nas produções das crianças, correspondem a

valores mais baixos de tempos de reacção.

Porém, no tempo utilizado nas segmentações incorrectas, praticamente não se verificaram

diferenças no tempo de segmentação dos estímulos com as duas extensões consideradas, tendo-

se constatado que as crianças, quando segmentavam incorrectamente os estímulos apresentados,

tendiam a demorar mais tempo a segmentar dissílabos (2894 milissegundos) do que trissílabos

(2483 milissegundos). Estes resultados poderão ser explicados tendo em consideração dois

aspectos:

i) Nas segmentações incorrectas dos dissílabos, em 88% das situações, as crianças

segmentaram-nos como se fossem trissílabos, já que inseriram segmentos em posição

final de palavra (91,9%), como em pato [pa.tu.u], e em posição medial de palavra

(8,1%), como em dedo [de.e.du];

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Complexidade prosódica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos  

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ii) Nas segmentações dos trissílabos, em 94,7% das situações, as crianças aglutinaram as

sílabas tónica e átona, como em sapato [s.patu], tornando-os estímulos dissilábicos e,

como tal, demorando menos tempo a segmentá-los.

Desta forma, os dados encontrados permitem confirmar a segunda hipótese colocada, “as

crianças segmentam mais facilmente palavras dissilábicas do que palavras trissilábicas”, já que

as crianças avaliadas que tiveram uma percentagem de sucesso mais elevada segmentaram mais

facilmente estímulos dissilábicos do que estímulos trissilábicos.

Acento de palavra

Para o Português Europeu, a literatura tem descrito como padrão acentual não marcado o acento

na penúltima sílaba da palavra, designado como grave ou paroxítono (Mateus et al., 2006;

Vigário et al., 2006b). Com base neste facto, optou-se por testar a variável acento de palavra

através da introdução de estímulos trissilábicos com dois padrões acentuais: estímulos

paroxítonos, como em casaco, e estímulos proparoxítonos, como em chávena. Estudos sobre a

aquisição dos padrões rítmicos, têm revelado que, para as palavras dissilábicas, as crianças

começam a produzir palavras acentuadas na última sílaba, oxítonas, produzindo ao longo do

desenvolvimento linguístico dissílabos acentuados na penúltima sílaba, paroxítonos, tornando-se

este o padrão mais frequente (Correia, Costa & Freitas, 2006; Vigário et al., 2006a).

Paralelamente, Araújo (2004) detectou numa amostra com indivíduos a frequentar do 7º ao 12º

ano de escolaridade, que estes são mais sensíveis às palavras paroxítonas do que proparoxítonas. 

No quadro seguinte, resumem-se os principais resultados (percentagem de segmentações e tempo

de reacção para a palavra), para o estudo desta variável linguística.

Quadro 58 – Resultados globais face à variável acento de palavra.

Padrões acentuais % Segmentações Tempo de reacção palavra (ms.)

Segmentações correctas

´CVCVCV 65,5 3875

CV´CVCV 85,3 4200

Segmentações incorrectas

´CVCVCV 34,5 3201

CV´CVCV 14,7 2483

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Analisando-se os resultados referentes à percentagem de segmentações correctas, verificou-se

que as crianças segmentaram com mais sucesso os trissílabos paroxítonos, tendo obtido uma

percentagem de sucesso de 85,3%, do que os trissílabos proparoxítonos, onde se obteve uma

percentagem de êxito de 65,5%. Estes resultados vão ao encontro dos descritos na literatura,

onde o padrão não marcado, as palavras acentuadas na penúltima sílaba, é descrito como mais

frequente e, consequentemente, mais fácil de percepcionar para as crianças.

Para a análise da influência da variável acento de palavra sobre o tempo de reacção, optou-se

por considerar apenas o tempo utilizado na segmentação da palavra pelo facto de este aspecto

fonológico ser do domínio da palavra. Desta forma, procedeu-se à análise estatística dos dados,

tendo-se obtido resultados opostos aos que seria de esperar: ´CVCVCV (3875 milissegundos)

demoraram menos tempo a ser segmentados do que CV´CVCV (4200 milissegundos). Tendo em

consideração que a literatura refere que o tempo de reacção está directamente relacionado com a

complexidade dos estímulos (Faria, 2005; Rayner & Clifton, 2002) e com a frequência da sua

ocorrência (Laganaro & Alario, 2006), seria de esperar que os trissílabos paroxítonos fossem

segmentados em menos tempo dado terem: i) uma frequência de ocorrência bastante mais

elevada no sistema fonológico do Português Europeu do que os estímulos proparoxítonos; ii)

serem considerados como estímulos não marcados para o efeito de acentuação. No entanto, os

dados encontrados reflectem precisamente o contrário, isto é, as crianças demoraram mais tempo

a segmentar trissílabos paroxítonos (4200 milissegundos) do que trissílabos proparoxítonos

(3875 milissegundos). Apesar de a diferença encontrada não ter significado estatístico, já que p >

0,05, esta diferença regista-se no conjunto dos sujeitos avaliados. Estes resultados poderão estar

relacionados com o peso reduzido que a variável acento exerce em tarefas de segmentação

silábica, não exibindo a relevância detectada para as variáveis complexidade silábica e extensão

de palavra. Tais resultados necessitam de mais investigação para que os mesmos possam ser

explicados. Estudos sobre o desenvolvimento fonológico têm demonstrado este mesmo aspecto,

ou seja, que a variável acento pode exercer, em alguns contextos, uma influência menos

relevante nas produções verbais infantis (Freitas, Miguel & Faria, 2001; Nogueira, 2007).

Analisando-se os tempos de reacção obtidos para as segmentações incorrectas, verifica-se que o

tempo de segmentação foi mais elevado para os trissílabos proparoxítonos (3201 milissegundos)

do que para os trissílabos paroxítonos (2483 milissegundos).

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Desta forma, os dados encontrados não permitem confirmar, na totalidade, a terceira hipótese

colocada, “os estímulos trissilábicos paroxítonos são segmentados mais facilmente do que os

estímulos trissilábicos proparoxítonos”, já que os trissílabos paroxítonos não foram segmentados

mais facilmente do que os trissílabos proparoxítonos. Apesar de o número de segmentações

correctas ter sido superior para o padrão acentual não marcado, os tempos de reacção não

corroboraram este comportamento, já que não foram sensíveis a esta variável.

Idade

Estudos no domínio da consciência fonológica, em especial no desempenho de tarefas de

consciência silábica, têm demonstrado que as crianças conseguem obter mais sucesso à medida

que a faixa etária das mesmas vai aumentando (Adams, 1998; Burt et al., 1999; Capovilla et al.

2007, Gindri, 2006; Silva, 2003; Sim-Sim, 2001; Veloso, 2003). Desta forma, apesar de as

crianças já terem, geralmente, bons desempenhos na prova de segmentação silábica desde

bastante cedo, têm-se observado diferenças entre os resultados obtidos para as crianças do pré-

escolar e do 1º ciclo.

Numa primeira fase, procedeu-se à análise de percentagens de sucesso na tarefa de segmentação

para os dois grupos nas diferentes estruturas testadas (Quadro 59).

Quadro 59 – Percentagens de sucesso, na tarefa de segmentação, para todas as estruturas em análise.

Estrutura silábica Percentagem de sucesso (%)

Grupo 1 Grupo 2

CV 87,8 97,4

V 81,4 95,3

CCV 35,1 63,2

´CVCVCV 41,7 71,4

CV´CVCV 80,7 89,2

Observando-se os resultados obtidos para o grupo 1 e para o grupo 2, constata-se que o grupo

com as crianças mais velhas obteve percentagens de sucesso superiores para todas as estruturas

silábicas testadas. A percentagem de sucesso na segmentação do constituinte CCV foi a mais

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baixa, para ambos os grupos, o que revela que a consciência silábica não se encontra estabilizada

antes da entrada para o 1º ciclo, pelo menos para todas as estruturas silábicas.

No sentido de se analisarem estes resultados mais aprofundadamente, foi necessário aplicar

coeficientes de correlação, salientando-se, nos quadros seguintes, os principais resultados face à

capacidade de segmentação e ao tempo de reacção da sílaba inicial e ao tempo de reacção da

palavra.

Quadro 60 – Resultados globais face à variável idade para os três formatos silábicos.

Coeficientes de correlação CV V CCV

Segmentações rs = 0,301, p≤0,01 rs = 0,186, p>0,05 rs = -0,158, p>0,05

Tempo de reacção – 1ª sílaba rs = -0,056, p>0,05 rs = -0,173, p>,05 rs = -0,266, p≤0,05

Tempo de reacção - palavra rs= -0,106, p >0,05 rs = -0,232, p≤0,05 Rs = -0,280, p≤0,01

Quadro 61 – Resultados globais face à variável idade para os dois padrões acentuais testados.

Coeficientes de correlação ´CVCVCV CV´CVCV

Segmentações rs = 0,245, p≤0,05 rs = 0,258, p≤0,05

Tempo de reacção – palavra rs= -0,242, p ≤0,05 rs = -0,212, p>0,05

Os resultados encontrados no presente estudo revelam que a idade influencia o sucesso na prova

de segmentação silábica, isto é, apesar de não se ter encontrado um coeficiente de correlação

muito elevado (rs = 0,234, p ≤ 0,05), o teste de correlação de Pearson permitiu observar que

quanto mais velhas são as crianças mais elevada é a percentagem de sucesso na prova de

segmentação silábica. Analisando-se estes dados de forma mais pormenorizada, verifica-se que a

idade apenas influenciou a segmentação dos estímulos dissilábicos com CV inicial (rs = 0,301, p

≤ 0,01), não se tendo observado esta mesma influência para os dissílabos com V inicial (rs =

0,186, p > 0,05) e com CCV inicial (rs = -0,158, p > 0,05).

De facto, analisando-se a distribuição dos erros efectuados tendo por base a idade, verifica-se

que os mesmos não podem ser correlacionados com esta variável extra-linguística, pois, para a

segmentação dos estímulos dissilábico com V inicial, observou-se que:

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i) A estratégia inserção de segmento em posição inicial, como em ilha [i.i.], e

inserção de segmento em posição final de palavra, como em anjo [.u.u], era

efectuada, predominantemente, por crianças com cinco anos;

ii) A estratégia ausência de segmentação, como em olho [ou], era utilizada pelas crianças

mais novas, com quatro anos e seis meses;

iii) A estratégia inserção de segmento em posição medial de palavra, como em asa

[a.z.], era utilizada por crianças bastante mais velhas, com seis anos.

Importa referir, face às estratégias adoptadas na segmentação dos estímulos com V e com CV,

que geralmente foram as vogais [] e [u], marcadores de género, a ser inseridos, o que

demonstra que na segmentação silábica há outros níveis linguísticos a actuar, nomeadamente o

nível morfológico, o que mostra a necessidade de controlar outros aspectos gramaticais que não

apenas os fonológicos.

Quanto aos estímulos com CCV inicial, verificaram-se algumas diferenças face ao segmento que

ocupava a posição de C2, ou seja:

i) Quando os estímulos apresentavam o Ataque ramificado CV, as crianças com cinco

anos recorriam mais a estratégias como a epêntese de vogal, como em fruta [f.u.t];

ii) Quando os estímulos tinham o Ataque ramificado ClV, eram as crianças com cinco anos

e seis meses que utilizavam essa mesma estratégia.

Estes dados revelam a existência de sensibilidade às estruturas linguísticas e às suas

propriedades, o que reforça a necessidade de se controlarem estes aspectos na construção de

provas de consciência fonológica. Por outro lado, verifica-se que o constituinte Ataque

ramificado foi problemático para o processamento em tarefas de segmentação e que as crianças

com seis anos ainda não conseguem processar correctamente estímulos com Ataque ramificado

ClV. No entanto, o número reduzido de estímulos com este constituinte não permite confirmar

com precisão estes mesmos dados, sendo necessários mais estudos para a confirmação /

infirmação destes resultados.

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Relativamente aos trissílabos, observou-se que quanto mais velhas são as crianças maior é o

número de segmentações correctas, independentemente do padrão acentual dos mesmos:

trissílabos com ´CVCVCV (rs = 0,25, p ≤ 0,05) e trissílabos com CV´CVCV (rs = 0,26, p ≤

0,05). Estes dados reflectem, mais uma vez, a influência reduzida que o padrão acentual parece

ter sobre tarefas desta natureza.

Ao analisar-se o tempo de reacção, seria de esperar que existisse uma relação inversamente

proporcional entre o tempo de segmentação e a idade das crianças, ou seja, esperar-se-ia que

quanto mais velhas fossem as crianças menor seria o tempo utilizado na segmentação da sílaba

inicial e da palavra. No entanto, os resultados apenas confirmaram esta relação na segmentação

dos estímulos com Ataque ramificado CV (rs = -0,29, p ≤ 0,01) onde se observou que, quando

a idade cronológica das crianças aumenta, o tempo utilizado na segmentação da sílaba inicial

diminui, o que demonstra que as crianças de seis anos conseguem lidar melhor com este

constituinte do que as crianças com quatro anos. Nas restantes estruturas, CV, V e ClV, tal não

se verificou.

Desta forma, observando o paralelismo entre os resultados encontrados e o desenvolvimento

fonológico, verifica-se que CV está em conformidade com o desenvolvimento fonológico,

sendo uma estrutura adquirida mais tardiamente. Os formatos silábicos CV e V, também são

explicáveis tendo por base o desenvolvimento fonológico, verificando-se que não existe

progressão porque os valores, à partida, já são elevados e as incorrecções encontram-se

associadas apenas a problemas com o processamento do estímulo globalmente considerado. Os

resultados para o formato ClV ficam por explicar, não estando de acordo com o

desenvolvimento fonológico, sendo necessárias mais investigações neste domínio.

Observando-se o tempo de reacção utilizado na segmentação da palavra, verifica-se um maior

número de correlações entre as variáveis estudadas, isto é, os dados revelaram que quanto mais

velhas são as crianças menos tempo demoram a segmentar os dissílabos com Ataque vazio (rs =

-0,232, p ≤ 0,05) e com Ataque ramificado CV (rs = -0,307, p ≤ 0,01) e os trissílabos com

´CVCVCV (rs = -0,242, p ≤ 0,05). Desta forma, os dados revelam que quando as palavras

apresentam formatos silábicos não marcados (CV) e o padrão acentual não marcado (acento na

penúltima sílaba), as crianças comportam-se de forma semelhante, não existindo correlação com

a idade.

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   Página 136     

Assim, os dados encontrados neste estudo não permitem confirmar a quarta hipótese colocada,

“quanto mais alta é a faixa etária das crianças, melhores os resultados obtidos na prova de

segmentação silábica”, na medida em que não se observou um sucesso crescente na prova de

segmentação, para todos os constituintes em análise, paralelo ao aumento da idade. A relação

entre a idade e o tempo de reacção também não foi confirmada, no entanto, os dados obtidos

parecem indicar que, para a estrutura CCV, as crianças mais velhas parecem lidar melhor com a

complexidade da mesma.

 

                          

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Conclusão

Com o presente estudo, procurou-se compreender o comportamento das crianças observadas

numa tarefa de segmentação silábica, analisando-se este mesmo desempenho em função de três

variáveis prosódicas: complexidade silábica, extensão de palavra e acento de palavra.

Os dados encontrados permitiram verificar que as crianças testadas em idade pré-escolar têm

mais facilidade em segmentar palavras com o constituinte Ataque não ramificado em posição

inicial de palavra (CV e V), o que corrobora os dados descritos na literatura face à aquisição do

constituinte Ataque: o facto de as sílabas CV e V terem sido segmentadas com tempos

semelhantes confirma a natureza não marcada de ambas as estruturas para o Português Europeu

(Freitas, 1997a; Costa & Freitas, 1999). Note-se, no entanto, que V teve um comportamento

semelhante a CCV nas segmentações incorrectas, sendo necessário investigar as causas

subjacentes às segmentações incorrectas. As palavras com o constituinte Ataque ramificado na

sílaba inicial são descritas como mais complexas (Avila, 2000; Fikkert, 1994; Freitas, 1997a;

Lamprecht et al., 2004; Veloso, 2003) e, como tal, são mais problemáticas para as crianças, o

que se reflectiu no número de segmentações correctas bem como no tempo utilizado na

segmentação dos estímulos com este constituinte. No entanto, o facto de o Ataque ramificado

ClV ter demorado menos tempo a ser segmentado do que o Ataque ramificado CV não seria

previsível tendo em conta os dados de frequência (Vigário & Falé, 1993), sendo necessárias mais

investigações sobre o comportamento das crianças face a este constituinte, com o objectivo de se

poder verificar se se confirmam os resultados obtidos nesta dissertação.

Simultaneamente, observou-se, que os estímulos trissilábicos paroxítonos eram mais difíceis de

processar e demoravam mais tempo a ser segmentados do que os estímulos dissilábicos

paroxítonos. Tais resultados confirmam o predomínio do padrão dissilábico nas produções

infantis e no alvo descrito na literatura (Vigário & Falé, 1993; Vigário et al., 2004, 2006b). O

facto de as crianças terem comportamentos diferentes quando sujeitas a estímulos de extensão

diferente reforça a importância de os instrumentos de avaliação contemplarem esta variável.

Apesar de os trissílabos paroxítonos terem tido um maior número de segmentações correctas do

que os trissílabos proparoxítonos, o que confirma a natureza não marcada do padrão paroxítono

no Português Europeu (Mateus et al., 2006; Vigário et al., 2006b), esta dificuldade não se

reflectiu no tempo de segmentação, já que foi nos estímulos com o padrão paroxítono que o

tempo de reacção foi mais elevado, o que poderá estar relacionado com o peso reduzido que a

variável acento parece exercer em tarefas desta natureza. Desta forma, estes dados não puderam

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ser explicados, sendo necessário que investigações neste domínio sejam retomadas, no sentido de

se perceber o efeito desta variável em tarefas de segmentação silábica e da sua relação com os

tempos de reacção, decorrentes do processamento da palavra e dos vários aspectos linguísticos

nela contidos ou apenas do processamento do padrão acentual.

Quando se observou a influência da idade na segmentação dos estímulos utilizados, constatou-se

que, ao contrário do que seria de esperar, não eram as crianças mais velhas que tinham resultados

mais elevados em todos os formatos silábicos estudados, o que revela que não existe correlação

entre a capacidade de segmentação, especialmente de ClV, e a idade. No entanto essa relação

verifica-se no desenvolvimento fonológico. Estes resultados reforçam a necessidade de se

construírem instrumentos de avaliação controlados linguisticamente, que sejam testados com

uma amostra alargada, para que se possa obter, com fiabilidade, a hierarquização dos

comportamentos em cada faixa etária.

Na análise dos coeficientes de correlação verificou-se que não havia correlação entre a

capacidade de nomeação e a capacidade de segmentação, talvez porque ambas as estruturas

remetam para actividades cognitivas distintas.

Assim, apesar de se terem encontrado dados válidos e desencadeadores de investigação futura, os

mesmos não podem ser alargados para além da amostra estudada, sendo necessário, para tal, um

maior número de estímulos para todas as variáveis estudadas e um alargamento da amostra. Por

outro lado, a introdução de estímulos com uma vogal nasal nas palavras anjo, branco, brinco e

planta não foi controlada, apresentando todos os outros estímulos vogais orais na sílaba alvo. O

efeito da nasalidade fica, assim, por testar, podendo ter interferido na segmentação dos estímulos

apresentados. Uma outra limitação que pode ser referida, diz respeito à ausência de controlo de

C1 nas estruturas C1C2V, na medida em que esta posição foi ocupada por segmentos oclusivos e

fricativos e apenas se controlou o segmento que ocupava a posição de C2.Por fim, uma outra

limitação que pode ser referenciada é a ausência de gravação áudio na prova de segmentação

silábica, a qual limitou o confronto dos dados registados no programa informático com os dados

registados manualmente na folha de registo.

Esta investigação permitiu extrair dados sobre o constituinte Ataque, a extensão de palavra, o

acento de palavra e a sua relação com a medição dos tempos de reacção, os quais poderão ser

utilizados como base para a construção de futuros instrumentos de avaliação no domínio da

consciência fonológica. Seria igualmente relevante estudar o comportamento das crianças numa

prova de segmentação silábica, manipulando outros constituintes silábicos e a sua distribuição na

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palavra. Por fim, a variável acento de palavra deverá ser trabalhada para todos os padrões

acentuais existentes no Português Europeu, no sentido de proceder a uma descrição exaustiva do

seu efeito em tarefas de consciência silábica.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Apêndices  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Apêndice I – Imagens modificadas

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Apêndice II – As 42 imagens utilizadas na prova de segmentação

silábica

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Estímulos dissilábicos com CV inicial

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Estímulos dissilábicos com V inicial

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Estímulos dissilábicos com CCV inicial

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Estímulos trissilábicos com ´CVCVCV

 

 

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   Página 157     

Estímulos trissilábicos com CV´CVCV

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Apêndice III – Documento relativo ao pedido de autorização da

recolha de dados

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Natureza do Projecto Mestrado em Patologia da Linguagem

Título do Projecto Complexidade silábica e segmentação de palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos

Investigadora Catarina Maria de Carvalho Afonso

Instituição de Ensino Escola Superior de Saúde do Alcoitão e a Universidade Católica Portuguesa

Orientador Professora Dra. Maria João Freitas

Co-orientador Dra. Dina Alves

Descrição da Investigação

1 – Objectivos

• Testar o efeito das variáveis “complexidade silábica” e “idade”, em tarefas de evocação;

• Verificar a correlação existente entre a “complexidade silábica” e o “tempo de reacção”

inerente à concretização das referidas tarefas.

2 – Instrumento de recolha de dados

Para a concretização desta investigação recorrer-se-á a um conjunto de imagens, elaboradas para

o efeito, que serão apresentadas em suporte digital.

As imagens aparecerão individualmente no ecrã do computador, para a criança nomear.

Seguidamente esta deverá carregar numa tecla, devidamente assinalada, o número de vezes

correspondente ao número de sílabas de cada palavra. A metodologia adoptada permitirá o

registo de cada segmentação, bem como do tempo que a criança leva a efectuar cada uma delas.

3 – Procedimento inerente à realização da investigação

O instrumento previamente referido deverá ser aplicado individualmente e terá uma duração

aproximada de 20 minutos. Dada a faixa etária da presente investigação se situar entre os 4 anos

e os 6 anos, solicitar-se-á apenas os dados pessoais relativos à data de nascimento de cada

criança.

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   Página 160     

Desta forma, venho por este meio pedir autorização para testar as crianças com a referida faixa

etária, que frequentem o externato que vossa excelência dirige.

Com os melhores cumprimentos e grata pela disponibilidade dispensada,

Lisboa, 16 de Maio de 2007

_____________________

(a investigadora)

Autorizo que a investigação intitulada “Complexidade silábica e segmentação de palavras

em crianças entre os 4 e os 6 anos” se realize no Externato das Pedralvas.

Não Autorizo que a investigação intitulada “Complexidade silábica e segmentação de

palavras em crianças entre os 4 e os 6 anos” se realize no Externato das Pedralvas.

__________________

(a Directora)

 

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Apêndice IV – Documento de autorização assinado

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   Página 164     

 

Apêndice V – Folha de registo da prova de nomeação e de

segmentação

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   Página 165     

Dados de identificação da criança

Sexo: Feminino _____ Masculino _____

Data de Nascimento: _____ / _____ / _____ Idade: _____ anos e _____ meses

Número da avaliação: __________

Data da avaliação (nomeação): _____ / _____ / _____

Data da avaliação (segmentação silábica): _____ / _____ / ______

 

Palavras Nomeação Espontânea

Nomeação Após estímulo

Nomeação após repetição Segmentação

Olho

Asa

Uva

Unha

Anjo

Osso

Ovo

Ilha

Pato

Carro

Bola

Dedo

Gato

Faca

Vela

 

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Luva

Prato

Fruta

Bruxa

Braço

Branco

Preto

Prego

Brinco

Flauta

Planta

Flores

Chávena

Pássaro

Pêssego

Lâmpada

Médico

Números

Página

Banana

Bolacha

Borracha

Cavalo

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Gelado

Sapato

Garrafa

Casaco

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   Página 168     

Apêndice VI – Imagens utilizadas como exemplo na prova de

segmentação silábica

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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