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II. Estudantes universitários regularmente matriculados em curso de Ciências Econômicas em
Instituições de Ensino Superior do Estado, reconhecidas pelo Ministério de Educação - MEC
ou recém formados no segundo semestre de 2013 ou primeiro semestre de 2014 escolhidos
entre aqueles selecionados pelas respectivas escolas e considerados por elas as melhores
monografias de conclusão do curso.
COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR: DETERMINANTES DA INTENÇÃO DE
CONSUMO DOS CHAPECOENSES NO PERÍODO DE NOVEMBRO DE 2012 A
FEVEREIRO DE 2014
RESUMO
Este trabalho tem como principal identificar quais características individuais determinaram o
comportamento de consumo dos chapecoenses no período de novembro de 2012 a março de
2014. Fez-se levantamento das principais teorias que tratam do comportamento do
consumidor no âmbito da teoria econômica. Após o levantamento dessas, optou-se por utilizar
a base teórica da teoria do consumidor e da economia comportamental como apoio na análise
dos resultados. A pesquisa caracteriza-se como aplicada, com lógica indutiva, a abordagem
utilizada é quantitativa com profundidade descritiva, além disso, valeu-se de pesquisa
bibliográfica e levantamento de dados secundários. Os dados foram obtidos no Observatório
Socioeconômico da Mesorregião Oeste de Santa Catarina e referem-se aos consumidores
chapecoenses economicamente ativos para o período de novembro de 2012 a fevereiro de
2014. Construiu-se um modelo econométrico geral com dados de 2.928 indivíduos e outro
que contempla a proxy para expectativas racionais com 705 amostras, ambos modelos
consideram variáveis determinantes do consumo. Para o tratamento desses dados, utilizou-se
o modelo de regressão não linear logit. Como resultado, identificou-se que fatores
relacionados à percepção da situação financeira pessoal e expectativa quanto ao futuro
econômico do país são mais relevantes do que variáveis elencadas como fundamentais pela
teoria neoclássica. A inclusão da variável que capta as expectativas racionais dos agentes
mostrou que ter conhecimento sobre o mercado impacta positivamente na intenção de
consumo, contrário a perspectiva da economia comportamental que vê na ausência de
racionalidade a expansão do consumo.
Palavras-chave: teoria do consumidor; economia comportamental; expectativas racionais;
consumidores de Chapecó; intenção de consumo.
ABSTRACT
This paper has as main identify individual characteristics determined the consumption
behavior of chapecoenses from November 2012 to March 2014. There was an survey the
major theories dealing with consumer behavior in the context of economic theory. After
surveying these, we chose to use the theoretical basis of consumer theory and behavioral
economics to support the analysis of results. The research is characterized as applied to
inductive logic, the approach is quantitative descriptive with depth, moreover, drew on a
literature survey and secondary data. The data were obtained from the Centre for
Socioeconomic Meso West of Santa Catarina and refer to economic assets for the period from
November 2012 to February 2014 Chapecoenses consumers. Consequently it was constructed
a general econometric model with data from 2,928 individuals and another that includes a
proxy for rational expectations with 705 samples, both models consider variables determining
consumption for processing such data, we used the nonlinear regression model logit. As a
result, we found that factors related to perceptions of personal financial situation and
expectations about the economic future of the country are more relevant than as fundamental
variables listed by neoclassical theory. Finally, the inclusion of the variable that captures the
expectations of rational agents showed that having knowledge about the market positively
impacts on consumer intention, unlike the perspective of behavioral economics that sees
rationality in the absence of the expansion of consumption.
Keywords: consumer theory; behavioral economics; rational expectations; Chapecó
consumers; intends to use.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Curvas de Indiferença ............................................................................................................ 14
Figura 2: Restrição Orçamentária ......................................................................................................... 18
Figura 3: Maximização da satisfação do consumidor ........................................................................... 21
Figura 4: PIB principais cidades de Santa Catarina - 2010 ................................................................... 38
Figura 5: Evolução do PIB de Chapecó - SC ........................................................................................ 39
Figura 6: Função probit ......................................................................................................................... 53
Figura 7: Função logística ..................................................................................................................... 55
Figura 8: Impacto médio das variáveis - modelo geral ......................................................................... 70
Figura 9: Impacto médio das variáveis - modelo com expectativas racionais ...................................... 78
LISTA DE TABELAS
Tabela 1:Resultados logit para o modelo geral (modelos 1 – 6) ........................................................... 61
Tabela 2: Resultados logit para o modelo geral (modelo 7 – 12) .......................................................... 63
Tabela 3:Efeitos marginais para o modelo geral (modelos 1- 6)........................................................... 65
Tabela 4: Efeitos marginais para o modelo geral (modelos 7-12)......................................................... 66
Tabela 5:Resultados logit com expectativas racionais (modelos 1-6) ................................................... 72
Tabela 6:Resultados logit com expectativas racionais (modelos 7-12) ................................................. 74
Tabela 7:Efeitos marginais com expectativas racionais (modelos 1 – 6) .............................................. 75
Tabela 8: Efeitos marginais com expectativas racionais (modelos 7 – 12) ........................................... 76
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 7
1.1 TEMA ..................................................................................................................................... 8
1.2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ...................................................................................................... 8
1.3 OBJETIVOS ............................................................................................................................. 10
1.3.1 Objetivo geral .................................................................................................... 10
1.3.2 Objetivos específicos ......................................................................................... 10
1.4 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................. 10
2 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................... 12
2.1 TEORIA DO CONSUMIDOR .................................................................................................... 12
2.2 TEORIAS ALTERNATIVAS DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ................................... 24
2.2.1 Economia Comportamental ............................................................................. 24
2.2.2 Neuroeconomia ....................................................................................................... 30
2.2.3 Avaliação empírica do comportamento do consumidor: como o marketing
utiliza a teoria econômica em seus estudos ................................................................... 32
2.3 DESCRIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE CHAPECÓ-SC ................................................................. 37
3 MÉTODOS E TÉCNICAS ............................................................................................... 41
3.1 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................................ 42
3.2 CATEGORIAS E VARIÁVEIS ........................................................................................................... 45
3.3 FORMAS DE OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA ....................................................... 52
3.3.1 O modelo econométrico ......................................................................................... 56
3.3.1.1 Modelo Geral................................................................................................................. 57
3.3.1.2 Modelo com expectativas racionais .............................................................................. 58
4 RESULTADOS ................................................................................................................. 60
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 79
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 81
7
1 INTRODUÇÃO
Inseridos em um ambiente de constantes mudanças e consumidores cada vez mais
exigentes, os empresários são desafiados diariamente a criar algo que os diferencie e a agregar
valor sem aumentar, na mesma proporção, os custos repassados aos clientes. Analogamente,
aumentar a utilidade proporcionada aos consumidores a fim de que eles se sintam cada vez
mais satisfeitos com os produtos e serviços ofertados.
Assim, a microeconomia, especificamente a teoria do consumidor, busca compreender
como os consumidores tomam suas decisões de compra frente as restrições impostas por sua
renda. Pinheiro et al. (2006, p.15) destacam que essa teoria baseia-se na visão do consumidor
apoiada na racionalidade econômica, na qual seu comportamento é autocentrado, com
escolhas fundamentadas no maior benefício ao menor custo possível. De modo complementar,
Pindyck e Rubinfeld (2010, p.61) apresentam a teoria do comportamento do consumidor
como a forma de descrever o modo como os consumidores alocam suas rendas entre
diferentes bens e serviços, na busca de maximizar bem-estar.
Para compreender o comportamento adotado pelos consumidores, a análise pode se
valer de três etapas: 1) preferências do consumidor: descrever os motivos que levam as
pessoas a preferirem um bem a outro; 2) restrições orçamentárias: considerar o preço das
mercadorias e a renda limitada dos consumidores, o que restringe seu poder de compra; 3)
escolhas do consumidor: dadas as suas preferências e a sua limitação de renda, os
consumidores escolhem as combinações de mercadoria – cesta de mercado - que maximiza
sua satisfação (PINDYCK; RUBINFELD, 2010, p.62).
Conforme, Besanko e Braeutigam (2004, p.55-57) uma cesta de mercado é o conjunto
de quantidades específicas de um ou mais bens que são desejados pelos consumidores. Nesta,
podem estar contidas, por exemplo, vários itens de vestuário, ou então, uma combinação de
vestuário, alimentos, utensílios domésticos ou serviços que o consumidor deseja contratar.
Mas, mesmo que os consumidores optem por uma cesta de mercado que maximize sua
utilidade, cabe ressaltar que a contínua disponibilidade de determinado bem incorre na
geração de um decréscimo de utilidade para o consumidor.
Desse modo, Varian (2012, p.57) expõe que a função utilidade do consumidor consiste
em um modo de numerar as suas cestas de consumo conforme as suas preferências. Quanto
mais à direita, mais preferidas são as cestas de mercado e maiores pontuações lhes são
atribuídas. Este mesmo autor apresenta, além disso, o conceito de utilidade marginal, utilizado
8
para compreender a variação da utilidade do consumidor quando este adquire um pouco mais
de determinado bem.
Porém, na vida real, essas preferências dos consumidores não podem ser observadas
diretamente, fazendo-se necessária a observação do comportamento para sua identificação
(VARIAN, 2012, p.123). Varian (2012, p.141) salienta ainda que o axioma da preferência
revelada é fundamental na identificação desse comportamento, pois, caso uma cesta de
consumo for escolhida quando qualquer outra poderia ter sido escolhida, a primeira revela-se
como preferida à segunda. Essa observação do comportamento dos consumidores é o que
pode permitir uma estimação das preferências que estão ocultas nas escolhas. Logo, quanto
maior a observação mais exatidão se tem com as previsões. Porém, além do axioma da
preferência revelada, as preferências dos indivíduos podem ser identificadas através de
questionários que visam medir a intenção de consumo.
Nesse contexto, conhecer o perfil dos consumidores e as características, como renda,
idade, gênero, grau de instrução, que influenciam sua intenção de consumo torna-se uma
ferramenta extremamente útil aos empresários. Por intermédio dessas informações, podem ser
estabelecidas estratégias que atinjam o segmento alvo, tragam vantagem competitiva à
organização e otimizem seus recursos escassos. Além disso, conhecer a intenção de consumo
das famílias auxilia na previsão do comportamento da economia em geral, uma vez que o
Produto Interno Bruto (PIB) de determinada localidade pode ser previsto de acordo com a
ótica do produto, da demanda ou da renda. Assim, identificar o comportamento dos
consumidores consiste no levantamento do consumo das famílias, o que, por sua vez gera
informações capazes de auxiliar na previsão de resultados agregados (MIRANDA, 2014).
1.1 TEMA
O tema do presente trabalho caracteriza-se como um estudo sobre as variáveis
determinantes do comportamento do consumidor chapecoense, para o período específico de
novembro de 2012 a fevereiro de 2014.
1.2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
Para melhor compreender o comportamento dos consumidores pode-se utilizar um
instrumento que mensura a satisfação e a intenção de consumo dos indivíduos, conhecido
9
como Índice de Confiança do Consumidor (ICC). Esse índice é calculado pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV) em sete das principais capitais brasileiras – Belo Horizonte, Brasília,
Porto Alegre, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Conforme a Confederação
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), que também calcula o
índice para algumas regiões metropolitanas do país, o mesmo visa identificar o humor dos
consumidores de acordo com a percepção de suas finanças, perspectivas futuras das suas
condições bem como das condições econômicas do país.
Em Chapecó-SC o Índice de Confiança do Consumidor (ICC-Uno) é calculado desde
novembro de 2012 pelo curso de Ciências Econômicas da Universidade Comunitária da
Região de Chapecó (Unochapecó), por meio do Observatório Socioeconômico da
Mesorregião Oeste de Santa Catarina. Para obtenção dos dados do ICC-Uno entrevista-se,
mensalmente, uma amostra significativa da população chapecoense. O questionário é
estruturado com base em quatro categorias. São elas: variáveis de controle, variáveis para o
cálculo do ICC-Uno, intenção de consumo e avaliação dos governos.
A fórmula de cálculo considera questões referentes à situação atual e futura do
entrevistado, do país, intenção de consumo bem como seu endividamento e inadimplência.
Atrelando-se os temas às demais questões que compõem o questionário, obtêm-se
informações mais precisas sobre o perfil de consumo dos chapecoenses.
No município de Chapecó, ainda não foram realizados estudos que identifiquem quais
os fatores que contribuem para a elevação da intenção de consumo da população
economicamente ativa1. Cumpre ressaltar que a literatura microeconômica considera que
variáveis como renda, gênero e, escolaridade são fundamentais para compreender o
comportamento da intenção de consumo (BESANKO; BRAEUTIGAM, 2004, p.54). É
justamente nesse ponto que a presente pesquisa se insere, mensurando os condicionantes do
comportamento do consumidor em Chapecó.
Portanto, buscar maior conhecimento sobre as decisões de consumo dos chapecoenses
se torna pertinente para que os empresários da região possam tomar melhores decisões frente
a um cenário de indecisão e recursos escassos. Por meio dessa ferramenta, os empresários
podem direcionar a formulação de suas estratégias, reduzir seus custos e satisfazer mais seus
clientes, melhorando o seu desempenho econômico.
1 Indivíduos acima de 16 anos que estejam trabalhando ou procurando emprego.
10
Diante do exposto, esta pesquisa visa responder a seguinte questão: Quais são as
características individuais que determinaram a intenção de consumo dos chapecoenses no
período de novembro de 2012 a fevereiro de 2014?
1.3 OBJETIVOS
Nessa sessão, descreve-se tanto o objetivo geral, como os objetivos específicos da
pesquisa.
1.3.1 Objetivo geral
O objetivo geral desta pesquisa é identificar quais as características individuais
determinaram a intenção de consumo dos chapecoenses no período de novembro de 2012 a
fevereiro de 2014.
1.3.2 Objetivos específicos
Como objetivos específicos citam-se:
Revisar na literatura microeconômica os fatores que determinam o comportamento do
consumidor;
Construir um modelo econométrico para estimar as características individuais que
afetam a intenção de consumo dos chapecoenses;
Analisar os dados do modelo econométrico, identificando quais os fatores que
aumentam a probabilidade de consumo entre os indivíduos da população
economicamente ativa de Chapecó.
1.4 JUSTIFICATIVA
Compreender o comportamento dos consumidores consiste em uma tarefa difícil,
porém de grande relevância. Empresas que conseguem obter informações a respeito de seu
público, da demanda de mercado para seu produto ou identificar uma nova necessidade dos
consumidores está um passo à frente dos concorrentes. Isso ocorre em função de que muitas
vezes o conhecimento do senso comum sobrepõe-se ao saber cientifico, e a utilização de
técnicas para diagnóstico do comportamento do consumidor são ignoradas.
11
Do mesmo modo que as empresas se beneficiam os consumidores também podem
auferir vantagens com essas informações de mercado. À medida que as organizações
conhecem seus clientes e as necessidades destes, também conseguem descobrir o que devem
produzir, em quais quantidades e quais os preços que podem praticar. Portanto, todos os
recursos podem ser otimizados, o saldo positivo gerado pode ser repassado aos consumidores
e expandida a quantidade vendida, o que retorna em lucro para o empresário. Além disso,
quanto maior o nível de informação disponível, maior as chances de obter vantagens nas
negociações.
No âmbito acadêmico, a aplicação da Economia em assuntos do dia a dia gera grandes
contribuições e auxilia na sua compreensão. Desenvolver trabalhos em áreas ainda pouco
exploradas, como é o caso da economia comportamental, abre possibilidades para novas
pesquisas. Expor que existe algo além do tradicional, construir e/ou aplicar algo concreto
contribui para o avanço da academia. Ainda, o trabalho apresenta grande contribuição sobre a
previsibilidade da intenção de consumo para obtenção de resultados agregados.
Por fim, o presente trabalho justifica-se também pelo fato de ser desenvolvido no
município de Chapecó, situado na região Oeste de Santa Catarina, que serve de polo para mais
de 200 municípios, mas que carece de estudos científicos em diversas áreas. Assim, a
utilização de uma base de dados significativa, analisada de acordo com uma visão aprimorada
do comportamento do consumidor, gera informações que podem ser consideradas um ganho
tanto para a academia, quanto para sociedade.
12
2 REVISÃO DE LITERATURA
Com o intuito de embasar a pesquisa a partir da problemática e dos objetivos
definidos, segue a revisão de literatura sobre a teoria neoclássica no campo microeconômico,
especificamente, a teoria do consumidor. Além dessa, apresentam-se teorias alternativas para
compreensão do comportamento do consumidor, como a economia comportamental, a
neuroeconomia e abordagens do marketing.
2.1 TEORIA DO CONSUMIDOR
A teoria neoclássica versa sobre a satisfação das necessidades ilimitadas dos agentes,
dada a limitação dos recursos disponíveis. A ciência econômica divide-se em dois ramos, a
macroeconomia e a microeconomia. A macroeconomia estuda a economia como um todo, ou
seja, em termos agregados, enquanto a microeconomia analisa o comportamento individual de
famílias, indústrias ou associações (BESANKO; BRAEUTIGAM, 2004, p.2).
Complementarmente, Thompson Junior e Formby (2003, p.1) citam que a teoria
microeconômica objetiva explicar e prever preços e quantidade de produção de uma firma,
escolhas dos consumidores, eficiência na produção e custos dos produtores.
A teoria do comportamento do consumidor, derivada da microeconomia neoclássica,
busca compreender de que forma os consumidores optam pelos diversos bens e serviços
disponíveis no mercado, dada a restrição imposta pela sua renda (PINDYCK; RUBINFELD,
2010, p.61-62). Miller (1981, p.14), por sua vez, indica que o indivíduo passa a ser o centro
dos estudos, para que suas preferências possam ser elencadas com o intuito de realizar
previsões testáveis sobre seu comportamento.
Os seguintes axiomas descrevem o comportamento do consumidor: 1) o consumidor
individual identifica qual a combinação de produtos lhe é preferível, ou então, quais lhe
proporcionam a mesma satisfação; 2) o consumidor possui preferências transitivas, ou seja, é
coerente em suas escolhas; 3) por possuir necessidades ilimitadas e incapacidade de saciá-las,
o indivíduo prefere mais mercadorias a menos; 4) o consumidor possui conhecimento da
disponibilidade dos bens, tecnologias empregadas e dos preços dos mesmos (MILLER, 1981,
p.14-15).
Autores como Varian (2012, p.36-38), Pindyck e Rubinfeld (2010, p.63-64) e Besanko
e Braeutigam (2004, p.55-56) resumem as quatro hipóteses descritas anteriormente em apenas
três, que são apresentadas na sequência.
13
A primeira das hipóteses considera que as preferências dos consumidores são
completas. Assim, os indivíduos podem comparar e ordenar todas as cestas disponíveis no
mercado. Desse modo, caso duas cestas A e B estejam à disposição, o consumidor representa
sua preferência da seguinte forma: tem preferência pela cesta A em comparação a cesta
B (𝐴 ≻ 𝐵); prefere a cesta B à cesta A (𝐴 ≺ 𝐵); ou, é indiferente entre as duas cestas
(𝐴 = 𝐵). Resumidamente, os indivíduos valem-se de seus gostos e preferências para ordenar
as cestas de consumo a sua disposição, de modo que cada uma delas pode ser preferível ou as
duas serem indiferentes.
O segundo axioma trata da escolha baseada em mais bens que possuem percepção de
preferência diferente pelo consumidor. As escolhas são consistentes, caso o indivíduo prefira
a cesta A à cesta B, e prefira a cesta B à cesta D, para ele, a cesta A é preferível à cesta D.
Simbolicamente, isto pode ser representado por: Se 𝐴 ≻ 𝐵 e𝐵 ≻ 𝐷, então 𝐴 ≻ 𝐷.
O terceiro axioma evidencia o fato dos consumidores sempre preferirem consumir
mais, a menos bens. Isso ocorre porque as pessoas nunca estão completamente satisfeitas,
então, mesmo que por quantidades muito pequenas, prefere-se a cesta que comporta maiores
quantidades.
Varian (2012, p.38-39) mostra a explanação gráfica das preferências dos
consumidores, conhecida como curvas de indiferença. Estas, por sua vez, representam as
combinações de cestas de mercado que proporcionam o mesmo nível de satisfação ao
consumidor (PINDYCK; RUBINFELD, 2010, p.64-66).
A inclinação da curva de indiferença é representada por uma reta descendente por
considerar a hipótese de que mais é preferível a menos (MILLER, 1981, p.16). Além disso, as
curvas de indiferença representam as escolhas que os consumidores devem fazer em função
da sua renda limitada, pois estes devem abrir mão de um bem para adquirir maiores
quantidades de outro (PINDYCK; RUBINFELD, 2010, p.67). A Figura 1, abaixo, mostra as
várias curvas de indiferença que o consumidor se defronta.
14
Figura 1: Curvas de indiferença
Fonte: Elaboração própria com base em Samuelson e Nordhaus (2012,p.90)
As curvas U1 e U2 representam curvas de indiferença com nível de satisfação inferior
a U3, e assim sucessivamente. Os pontos A, B, C e D, representam a mesma satisfação obtida
pelos consumidores (U3), apenas com quantidades diferentes de cada um dos bens. Miller
(1981, p.16) destaca que para cada ponto no espaço de bens, há uma única curva de
indiferença que o cruza e que essas curvas não podem se cruzar, pois isto violaria o axioma da
transitividade.
Paralelo a isso, Thompson Junior e Formby (2003, p.42-43) ressaltam que o
consumidor é indiferente às várias combinações de bens possíveis sobre uma mesma curva,
mas não é indiferente às várias combinações possíveis em curvas distintas. Os mesmos
autores afirmam que quanto mais afastadas da origem dos eixos estiverem às curvas de
indiferença, maior satisfação essa combinação propicia ao consumidor, de modo que cada
curva possa representar a fronteira entre as combinações de produtos que o indivíduo
considera mais ou menos satisfatória.
Como existem inúmeras combinações de quantidades para apenas dois bens, também
existem várias curvas de indiferença para representá-los. Para auxiliar na expressão gráfica
utiliza-se um conjunto dessas curvas, denominado mapa de indiferença, como mostrado na
Figura 1. Este mapa fornece a descrição completa das preferências dos consumidores por
meio de uma infinidade de curvas (PINDYCK; RUBINFELD, 2010, p.66; THOMPSON
JUNIOR; FORMBY, 2003,p.42-43;BESANKO; BRAEUTIGAM, 2004, p.62-63).
15
Para atingir os pontos ótimos, os consumidores muitas vezes precisam abdicar de um
bem para adquirir outro. Nesse sentido, a taxa de substituição pode ser definida como taxa
marginal de substituição (TMS), que para Miller (1981, p.19) representa o número de
unidades de um bem X qualquer que o consumidor deve abdicar para obter unidades
adicionais de um bem Y. Complementarmente, Thompson Junior e Formby (2003, p.46)
indicam que a TMS “é a taxa na qual o consumidor deseja substituir um bem por outro de
forma a manter constante o seu nível de satisfação”. A representação algébrica, discreta no
tempo, proposta por esses autores consiste na razão pela qual o consumidor está disposto a
substituir um produto por outro. Assim tem-se:
𝑻𝑴𝑺 =Δ𝑌
Δ𝑋 (2)
Na equação 2, ΔY representa a quantidade do bem Y que o consumidor está disposto a
abrir mão, enquanto ΔX simboliza o número de unidades do produto X que o mesmo deseja
adquirir para suprir a falta de Y. A razão de troca não permanece constante ao longo da curva,
pois a cada unidade auferida de qualquer um dos bens o indivíduo supre seu desejo e torna-se
cada vez menos propenso a abdicar do outro bem. A TMS, no tempo contínuo, torna-se a
derivada da curva de indiferença (THOMPSON JUNIOR e FORMBY, 2003, p.46).
Besanko e Braeutigam (2004, p.64-65) afirmam que em um gráfico em que X e Y
representam o eixo horizontal e vertical, respectivamente, a TMS, em qualquer cesta de
mercado, é o valor negativo da inclinação da curva de indiferença no ponto que representa
essa cesta. Outra forma de explicar o valor negativo concerne ao ato de desistir de um produto
para conseguir outro (PINDYCK; RUBINFELD, 2010, p.67-69).
Nesse sentido, as curvas de indiferença convexas fazem com que a TMS diminua ao
longo da própria curva. Ou seja, para Besanko e Braeutigam (2004, p.65-66) a TMS diminui à
medida que aumenta-se o consumo de um dos bens. Assim, Varian (2012, p.69-70) expõe que
a TMS mede a taxa em que o consumidor se encontra na fronteira entre trocar um bem pelo
outro ou não.
Com o intuito de descrever as preferências do consumidor, que antigamente eram
visualizadas apenas como uma forma de medir a felicidade dos consumidores, hoje se procura
identificar o comportamento dos indivíduos (VARIAN, 2012, p.56-57). Similarmente,
Thompson Junior e Formby (2003, p.22) remetem à utilidade o conceito da capacidade dos
bens e serviços de satisfazer as necessidades dos indivíduos. Conforme estes autores, a
16
utilidade possui características objetivas e subjetivas, de modo que se relaciona com gostos,
percepções, personalidade e estado de espírito do indivíduo.
Miller (1981, p.21-22), por sua vez, conceitua utilidade como o poder de satisfação
dos desejos. Contrariamente ao apresentado por Thompson Junior e Formby (2003, p.22-23),
Miller defende o ponto de vista de que a utilidade é puramente subjetiva, de modo que não
existe nenhuma maneira de medir a quantidade de utilidade que um indivíduo possa ter
adquirido a partir de determinado produto. Mesmo assim, destaca que utilidade é a percepção
do consumidor, e que economistas podem analisar as escolhas dos consumidores em termos
de utilidade.
Pindyck e Rubinfeld (2010, p.72) garantem que as pessoas obtêm utilidade quando
adquirem produtos que lhes dão prazer ou então evitando as que lhes trazem insatisfação.
Ainda, expõem que a utilidade se refere ao valor numérico da satisfação que o consumidor
obtém em uma cesta de mercado.
Além disso, Thompson Junior e Formby (2003, p.23) observam na utilidade uma
forma de se comparar os graus de satisfação proporcionados por diferentes padrões de
consumo de bens e serviços diversos. Samuelson e Nordhaus (2012, p.74-76) explicam que as
primeiras noções de utilidade nas ciências sociais foram formuladas por Jeremy Bentham
(1748-1831), para o qual a legislação deveria se basear na promoção da máxima felicidade
para o maior número de indivíduos. Posteriormente a isso, economistas neoclássicos como
William Stanley Jevons (1835 – 1882) ampliaram a teoria para explicar o comportamento do
consumidor. Para estes autores, a decisão de consumo era baseada na utilidade adicional ou
marginal de cada bem. A visão da utilidade cardinal mensurável passou a ser desnecessária,
quando as teorias modernas da utilidade ordinal e das curvas de indiferença desenvolvidas por
Vilfredo Pareto, John Hicks, RGD Allen, Paul Samuelson entre outros vieram à tona.
A Teoria da Preferência Revelada, desenvolvida por Paul Samuelson, foi elaborada
com o intuito de tratar a utilidade como medida ordinal, ou seja, ordenar as preferências de
acordo com escolhas dos agentes. Essa teoria possibilitou tratar os modelos econômicos por
meio de observações dos agentes (SAMUELSON, 1975 apud THEODORO, 2012, p.11-12).
Ao que concerne à ordenação das cestas, Varian (2012. P.57-61), expõe que a única
propriedade relevante para a utilidade é o modo que os consumidores ordenam as cestas de
bens. Nesse sentido, apenas a hierarquização delas faz sentido ao passo que a extensão dessa
diferença não recebe tanta ênfase. A função utilidade pode ser identificada a partir de curvas
17
de indiferença quando as preferências são monotônicas2. Esse método consiste em traçar a
diagonal e rotular as curvas de indiferença com a distância desde sua origem até o final da
reta. Com esse método, obter-se-ia maior utilidade e maiores valores para as curvas de
indiferença mais afastadas da origem, convergindo com o que já foi apresentado sobre as
preferências dos consumidores.
Para elaborar uma função utilidade Pindyck e Rubinfeld (2010, p.72), esclarecem que
se trata de uma fórmula que associa níveis de utilidade a cestas de mercado individuais, de
forma que cabe ao pesquisador elaborá-la conforme sua conveniência. Nesse sentido, os
autores exemplificam ao utilizar uma função de utilidade para uma cesta que contém dois
produtos - X e Y. Essa função, de acordo com os mesmos autores, seria representada por
𝑢 = (𝑋, 𝑌) = 𝑋 + 2𝑌. Assim, as várias possibilidades de quantidades de cada um dos bens
gerariam níveis de utilidade diversos.
Quanto maior a quantidade de bens que o indivíduo consumir, maior será sua utilidade
total, ou seja, a satisfação total por consumi-los. Porém, há um ponto em que não se obtém
mais satisfação em aumentar o consumo, esse é chamado de ponto de saturação, a partir dele,
a utilidade total começa a apresentar declínio (THOMPSON JUNIOR; FORMBY, 2003,
p.23).
A fim de obter maiores informações sobre a utilidade, Besanko e Braeutigam (2004,
p.57 - 58) propõem analisar a variação no nível de utilidade em comparação com a variação
no nível de consumo através da utilização do conceito de utilidade marginal, que mede a taxa
em que a utilidade total varia conforme o consumo aumenta em uma unidade. Para representar
as curvas de utilidade total e utilidade marginal os autores salientam alguns pontos
fundamentais: a) as utilidades total e marginal não devem ser representadas no mesmo
gráfico; b) a utilidade marginal representa a inclinação da função utilidade; c) a mesma
relação apresentada pelas funções total e marginal aplica-se para outras medidas da economia,
de modo que a função marginal normalmente é a inclinação da total.
Até o presente momento foram apresentados alguns dos fatores que influenciam a
decisão dos consumidores, dada as suas preferências. Porém, sabe-se que consumidores
delimitam suas compras também em função da sua renda. Varian (2012, p.21-22) propõe a
análise de dois bens (que ele denomina como p1 e p2) e m representando a quantidade total de
renda que o consumidor tem à disposição para gastar. Desse modo, a restrição orçamentária
total poderia ser representada por:
2 O consumidor prefere consumir mais de determinado bem a menos.
18
𝑝1𝑥1 + 𝑝2𝑥2 ≤ 𝑚 (2.1)
Após elaborada a função, percebe-se que a combinação de cestas de mercados obtidas
pelos consumidores deve ter um custo menor ou igual a m. Varian (2012, p. 21-22) representa
esses conjuntos de bens que se pode adquirir, de acordo com os preços e restrição
orçamentária, como o conjunto orçamentário do consumidor.
Figura 2: Restrição orçamentária
Fonte: Elaboração própria com base em Pindyck e Rubinfeld (2005, p.69)
Para compreender a limitação com a qual os consumidores se defrontam na hora de
alocar sua renda, pode-se considerar que o indivíduo conta com uma renda fixa que será gasta
com os produtos X e Y. Assim, a linha do orçamento representa todas as combinações
possíveis para que o total de dinheiro gasto na aquisição de X e Y seja igual a renda
disponível (PINDYCK; RUBINFELD, 2005, p.68). Na Figura 2, acima, pode-se observar que
o ponto B consiste na compra de 30 unidades do bem Y e 20 unidades do bem X, enquanto o
ponto D representa a compra de 20 unidades do bem Y e 40 unidades do bem X, por exemplo.
Todos os pontos que estão sobre a curva podem ser adquiridos pelo consumidor,
porém ele escolherá aquele que lhe proporcionar maior utilidade. A inclinação da linha do
orçamento é igual à razão dos preços dos bens com sinal negativo. Por fim, o intercepto
(𝐼/𝑃𝑦) com o eixo horizontal indica a maior quantidade de X que pode ser adquirida com a
renda disponível. Da mesma forma, o intercepto (𝐼/𝑃𝑦) com o eixo vertical representa a
19
maior quantidade de Y que pode ser comprada com os recursos disponíveis (PINDYCK;
RUBINFELD, 2005, p.69-70).
O ponto ótimo de consumo, no qual os consumidores determinam as quantidades de
cada bem a ser adquirida, pode ser encontrado na maximização da utilidade pelo consumidor.
Pindyck e Rubinfeld (2010, p.132), utilizam o exemplo da função utilidade representada por
𝑈(𝑋, 𝑌) = 𝑙𝑜𝑔𝑋 + 𝑙𝑜𝑔𝑌, com dois bens. Assim, a utilidade marginal do bem X é dada pela
derivada parcial da função utilidade em relação a esse bem, representada pela seguinte
equação:
𝜕𝑈(𝑋,𝑌)
𝜕𝑋=
𝜕(𝑙𝑜𝑔𝑋+𝑙𝑜𝑔𝑌)
𝜕𝑋=
1
𝑋 (2.2)
De modo que a maximização da utilidade total do consumidor pode ser expressa por:
Maximizar 𝑈 (𝑋, 𝑌) (2.3)
Sendo que toda renda disponível pelo consumidor será alocada na aquisição de dois
bens apenas, utiliza-se X e Y para representar as quantidades das duas mercadorias, Px e Py
na representação dos preços, enquanto I indica a renda disponível. A condição de maximizar a
utilidade do consumidor de acordo com sua renda pode ser indicada por:
𝑃𝑥𝑋 + 𝑃𝑦𝑌 = 𝐼 (2.4)
Pindyck e Rubinfeld (2010, p.132), afirmam que a utilização da técnica de otimização
com restrições pode fornecer a demanda para cada um dos produtos, e sugerem o método dos
multiplicadores de Lagrange para resolver esse problema. O lagrangiano constitui-se de uma
função a ser maximizada ou minimizada e uma variável que multiplicará a restrição.
Inicialmente escreve-se a função a ser maximizada, que neste caso se trata da utilidade
do consumidor. Além disso, o 𝜆 corresponde a velocidade da aceleração e é a variávelque
multiplicará a restrição orçamentária. Neste caso, o lagrangiano é:
∅ = 𝑈(𝑋, 𝑌) − 𝜆(𝑃𝑥𝑋 + 𝑃𝑦𝑌 − 𝐼) (2.5)
20
Para alcançar as condições necessárias à maximização, diferencia-se ∅ em relação à
𝑋, 𝑌 𝑒 𝜆, e em seguida, igualam-se as derivadas a zero. O resultado é:
(2.6)
𝜕𝜙
𝜕𝑋= 𝑈𝑀𝑥 (𝑋, 𝑌) − 𝜆𝑃𝑥 = 0
𝜕𝜙
𝜕𝑌= 𝑈𝑀𝑦 (𝑋, 𝑌) − 𝜆𝑃𝑦 = 0
𝜕𝜙
𝜕𝜆= 𝑃𝑥𝑋 + 𝑃𝑦𝑌 − 𝐼 = 0
Representa-se a utilidade marginal por 𝑈𝑀. Assim, 𝑈𝑀𝑥(𝑋, 𝑌) =𝜕𝑈(𝑋,𝑌)
𝜕𝑋, ou seja, é a
variação da utilidade ocasionada pelo aumento no consumo do bem X. Pindyck e Rubinfeld
(2010, p.133) sugerem que as equações podem ser reescritas como:
(2.7)
𝑈𝑀𝑥 = 𝜆𝑃𝑥
𝑈𝑀𝑦 = 𝜆𝑃𝑦
𝑃𝑥𝑋 + 𝑃𝑦𝑌 = 𝐼
Para apresentar a condição de maximização da utilidade e as quantidades de cada bem
que serão consumidas, pode-se igualar o 𝜆 das equações, da seguinte forma:
(2.8)
𝑈𝑀𝑥
𝑃𝑥= 𝜆
𝑈𝑀𝑦
𝑃𝑦= 𝜆
A partir disso, de acordo com a equação abaixo, tem-se que a utilidade marginal,
dividida pelo seu preço é igual para ambos os produtos:
𝜆 =𝑈𝑀𝑥
𝑃𝑥=
𝑈𝑀𝑦
𝑃𝑦 (2.9)
21
Após o isolamento do 𝜆, isola-se também X e Y para se obter as demandas individuais,
conforme se segue:
𝑥 =𝑎𝑃𝑦𝑌
(1−𝑎)𝑃𝑥 (2.10)
𝑦 =(1−𝑎)𝑃𝑥𝑋
𝑎𝑃𝑦 (2.11)
As demandas individuais demonstram o quanto é requisitado pelos consumidores,
dado os preços destes bens e a renda disponível. De acordo com as equações das demandas
individuais percebe-se que elas são inversamente proporcionais à renda, o que indica que o
consumo é restringido por esta. Além disso, à medida que o consumo de Y aumenta a
demanda por X tende a diminuir. O contrario também é verdadeiro. O ponto ótimo é
encontrado quando uma das curvas de indiferença do consumidor tangencia a sua reta de
restrição orçamentária, como mostra a Figura 3 abaixo.
Figura 3: Maximização da satisfação do consumidor
Fonte: Elaboração própria com base em Pindyck e Rubinfeld (2005, p.72).
22
O ponto A indica as quantidades ótimas de consumo para cada um dos bens, em
função de estar no ponto em que a linha do orçamento tangencia a curva de utilidade U2. O
ponto D poderia auferir maior satisfação por estará localizado na curva mais afastada da
origem. Porém está além do alcance da restrição orçamentária, podendo ser alcançado a partir
de um incremento na restrição orçamentária. O ponto B, em contraponto, mesmo estando
sobre a linha do orçamento apresenta uma TMS superior à relação dos preços, o que indica
que mais produtos poderiam ser adquiridos para maximizar a utilidade. A distribuição da
renda para obtenção desse ponto pode ser obtida quando se analisa que a inclinação da curva
de indiferença é igual à 𝑇𝑀𝑆𝑥𝑦, em qualquer ponto, e também à razão entre as utilidades
marginais dos dois bens (THOMPSON JUNIOR; FORMBY, 2003, p.46-47).
Quando o preço de determinado bem sofre alguma alteração ocorrem dois efeitos:
efeito substituição e efeito renda. O efeito substituição, os consumidores tenderão a comprar
mais de um bem se ele se tornar mais barato e menos dos produtos que se tornarem
relativamente mais caros, de modo que a utilidade seja mantida (PINDYCK; RUBINFELD,
2005, p.99). Mansfield e Yohe (2006, p.78) complementam a análise ao afirma que o efeito
substituição é sempre negativo, uma vez que as curvas de indiferença são convexas a partir da
origem, de modo que se o preço de um determinado bem aumenta e a renda efetiva se mantém
a constante, o consumo desse bem sempre declina. O contrário é válido.
Quanto ao efeito renda, ele consiste na mudança na quantidade demandada de um bem
em virtude da mudança na renda efetiva (MANSFIELD; YOHE 2006, p.77). O fato de um
dos bens se tornar mais barato faz com que o poder de compra dos consumidores se amplie,
de modo que se consegue comprar a mesma quantidade de bens com menos recursos
financeiros, caso o bem seja normal (PINDYCK; RUBINFELD, 2005, p.99). Se o bem é
inferior, a diminuição da renda provoca um acréscimo na demanda, elucidando que o efeito
renda pode ser tanto positivo quanto negativo (VARIAN, 2012, p.148).
Como a direção do efeito renda depende do tipo de bem em questão, cabe ressaltar que
bens normais são aqueles que apresentam correlação positiva entre mudanças na renda e no
consumo. Assim, para tais bens, um aumento na renda ocasiona a expansão do seu consumo,
como exemplo pode-se citar iogurte, refrigerante, chocolates (MANSFIELD; YOHE 2006,
p.77). Porém, nem todos os bens são normais, existem aqueles em que a quantidade
demandada cai à medida que a renda aumenta, a esses se atribui o nome de bens inferiores,
pois com um nível de renda maior os consumidores podem adquirir produtos que, de acordo
com as suas percepções, são considerados melhores, para exemplificar estes citam-se
mortadela e salsicha (PINDYCK; RUBINFELD, 2005, p.95).
23
Além disso, há uma particularidade nos bens inferiores, pois Pindyck e Rubinfeld
(2005, p.100-101) destacam que há casos em que o efeito renda é grande o suficiente para
compensar o efeito substituição, de modo que a curva da demandada passe a ter inclinação
ascendente. O resultado dessa observação é que a quantidade demandada pode estar
diretamente relacionada ao preço, ao menos em uma faixa da variação do preço. Esse tipo de
bem é conhecido como bem de Giffen, produtos como pão, sal e outros produtos básicos
servem de exemplo (MANSFIELD; YOHE 2006, p.78).
De acordo com Varian (2012, p.82) a escolha ótima dos bens em análise é chamada de
cesta demandada do consumidor. Assim, é comum que quando os preços dos bens e a renda
dos consumidores variam, a escolha ótima também se modifique. Portanto, pode-se dizer que
a função demanda é aquela que relaciona a escolha ótima com diferentes valores de preços e
rendas.
Nas explanações feitas anteriormente, utilizou-se apenas um consumidor para análise.
Mesmo o mercado sendo composto por inúmeros indivíduos, cada um com a sua restrição
orçamentária, quantidades distintas de cada bem e utilidades diferentes, a partir da curva de
demanda individual pode-se obter a curva de demanda do mercado pela soma das curvas
individuais (MANSFIELD; YOHE 2006, p.61).
Pindyck e Rubinfeld (2010, p.104), afirmam que a curva de demanda de mercado se
desloca para a direita à medida que mais consumidores entram no mercado. Entre os fatores
que influenciam a demanda destacam-se preço do bem, renda do consumidor, gosto e
preferência e preços de outros bens. Estes interferem na quantidade demanda por um grande
grupo de consumidores e consequentemente também afetam a demanda de mercado.
A literatura neoclássica apresenta pressupostos de que os consumidores são racionais e
fazem suas escolhas baseados nas suas preferências dada a restrição imposta por sua renda.
Como não é possível identificar esse consumo antes que ele ocorra, os economistas valem-se
da teoria da preferência revelada na qual a partir do comportamento do consumidor
identificam-se as preferências. Sabe-se assim, que os consumidores tomam suas decisões
baseados na sua renda, gostos e preferências, no preço do bem que desejam consumir assim
como no preços de outros bens, porém isso nem sempre é suficiente para identificar como o
consumidor irá se comportar e por isso faz-se necessário avançar para outras áreas de
pesquisa.
24
2.2 TEORIAS ALTERNATIVAS DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
O objetivo dessa seção é explorar os estudos recentes sobre a teoria do consumidor de
modo que se possa complementar, com novos elementos, os conceitos expostos pela
microeconomia tradicional. O foco principal é o estudo da economia comportamental, mas
também se faz menção à neuroeconomia e ao marketing, que traduz os conceitos da teoria
econômica para a administração.
2.2.1 Economia Comportamental
Nas seções anteriores, apresentou-se a mais conhecida linha de pensamento da ciência
microeconômica na qual o consumidor é considerado como otimizador e que se satisfaz com
as suas escolhas (ROCHA, 2009, p.28). Porém, Costa (2013, p.14) salienta que essa visão
sofre críticas por duas razões. Primeiramente pelo excesso de simplificações, pois seus
pressupostos não consideram questões atuais do comportamento do consumidor, como a
diferença cognitiva entre os consumidores e as particularidades de cada consumidor. O
segundo alvo de críticas refere-se à desatualização do modelo, uma vez que o mesmo foi
elaborado na primeira metade do século XX, não passando por atualizações, e mesmo assim
continuar sendo a visão da economia sobre o comportamento individual dos agentes3.
A economia comportamental não abandona as ideias da economia clássica, mas as
complementa com novos pressupostos e com análises empíricas de como os indivíduos se
comportam no dia a dia (RABIN, 2002, p.658). Mesmo assim, defensores do modelo
tradicional alegam que isso não constitui um problema, se apenas alguns agentes econômicos
tomam decisões subótimas. Ou seja, as escolhas não são realizadas da melhor forma possível,
de modo que em geral os consumidores são racionais. (COSTA, 2013, p.21).
Além disso, a economia comportamental pode ser considerada uma ciência que une a
Psicologia à Economia com o intuito de sanar dúvidas e explorar temas de interesse dos
economistas valendo-se dos conhecimentos oriundos da Psicologia. A complementaridade
existente entre a economia e a análise do comportamento deve-se ao fato de ambas terem o
comportamento humano como base de estudo. No âmbito econômico, o interesse maior está
nos comportamentos que definem a alocação dos recursos escassos, enquanto na análise do
comportamento, há um comprometimento com uma corrente filosófica (behaviorismo
3 A desatualização do modelo não é consenso entre os economistas, sendo esta uma visão particular de Costa
(2013).
25
radical4) e adota como método a experimentação indutiva (FRANCESCHINI; FERREIRA,
2012, p.317).
Muitas das características e linhas de estudo da economia comportamental concernem
ao fato da mesma ter sido desenvolvida na área econômica. A Psicologia não foi determinante
nos rumos da área, porém, beneficia-se com uma gama de pessoas interessadas em suas
contribuições. A interdisciplinaridade promovida pelas áreas traz limitações, como:
estranhamentos com a linguagem, mais comum aos economistas, realização de experimentos
que comprovem a generalidade entre espécies dos resultados observados em laboratório,
pouca divulgação. Por outro lado, a grandeza de complementar as áreas está justamente no
engrandecimento dos dois campos e o aprimoramento de uma linguagem comum às áreas
(FRANCESCHINI; FERREIRA, 2012, p.324).
O argumento dos economistas comportamentais, é que as ideias provenientes da
psicologia podem aprimorar os modelos de comportamento do consumidor desenvolvidos
pela economia neoclássica. Diferentemente do proposto pela teoria tradicional, propõem que
os agentes econômicos valorizam de forma diferente ganhos e perdas da mesma magnitude,
incorrendo que a perda tenha maior valor subjetivo do que o ganho (TASSI, 2011, p.11).
De acordo com Rocha (2009, p.30) as condições necessárias para aplicar a teoria
tradicional são questionáveis e impraticáveis em função das incertezas do ambiente,
mudanças, imperfeições e desequilíbrios. Dessa forma, esta autora salienta que os
pressupostos dessa teoria acabam sendo violados devido às mudanças e ao questionamento da
racionalidade. Duas obras são citadas corriqueiramente como base para a teoria alternativa,
entre elas a teoria da racionalidade limitada de Herbert Simon, na qual, conforme expõe
Balestrin (2013, p.4), o indivíduo é limitado no conhecimento de todas as alternativas e
incapaz de estabelecer critérios para otimizar suas decisões. Ou seja, o indivíduo procura
tomar decisões que atendam aos padrões mínimos de satisfação e não de otimização. A outra
obra é o estudo desenvolvido por Daniel Kahneman e Vernon Smith sobre a incerteza e risco
no contexto da racionalidade limitada (ROCHA, 2009, p.30).
A visão heterodoxa do comportamento do consumidor apresenta o homem como um
tomador de decisão, não sendo indispensavelmente racional e maximizador de suas escolhas e
satisfação. Pressupõe que o consumidor toma suas decisões com certa racionalidade, porém
ela não é perfeita e presente a todo o momento, de modo que a contextualização do espaço-
4 Consiste na interpretação filosófica de dados obtidos através da investigação do comportamento sistemático do
consumidor (MATOS, 2013, p.6).
26
temporal e a consideração de que há assimetria de informações fazem-se necessários
(ROCHA, 2009, p.31-32).
Simon (1971, apud ROCHA, 2009, p.31) expõe que o homem em vez de maximizar
busca uma ação satisfatória ou razoavelmente boa, pois o mundo que ele percebe é apenas um
modelo simplificado e confuso do mundo real. Ainda de acordo com este autor, as escolhas
desse consumidor são baseadas numa imagem simplificada da situação e considera os fatores
que julgar mais fundamentais.
Ainda sobre a racionalidade limitada dos indivíduos, Simon (1957, apud SILVA et al,
2009, p. 2) afirma que a escolha racional não ocorrer em função dos indivíduos não possuírem
informações completas, habilidades computacionais e, também, devido ao custo pela busca
ótima. Como as informações necessárias não podem ser analisadas em sua totalidade, os
gestores procuram a satisfação ao invés da maximização da decisão, aceitando boas decisões
dados os limites impostos. Portanto, para este mesmo autor, os gestores assim como os
consumidores tem a intenção de agir racionalmente, mas, em razão de suas limitações
cognitivas e computacionais, nem sempre conseguem escolher a melhor alternativa, optando
apenas por uma alternativa aceitável (FERNANDES, 2000, apud SILVA et al, 2009, p. 6).
Nesse contexto, Silva et al (2009, p.6) expõem que para a teoria da racionalidade
limitada “a racionalidade limitada é uma característica dos agentes tomadores de decisão,
enquanto a incerteza está relacionada aos estados do ambiente no qual se processa uma
transação, ou seja, o ambiente no qual o agente está inserido”. Desse modo, os autores
expõem que quanto mais incerto o ambiente de atuação dos agentes tomadores de decisão,
maiores também são as dificuldades em prever os efeitos das mudanças do ambiente e a
escolha da melhor alternativa.
Ariely (2008, p.196) exibe que, diferentemente da economia tradicional, os
economistas comportamentais “acreditam que somos suscetíveis a influencias do ambiente
imediato, a emoções irrelevantes, à imprevidência e a outas formas de irracionalidade”. Para
este autor, o lado bom dos erros cometidos consiste no aprimoramento contínuo, na
elaboração de estratégias, ferramentas e métodos que auxiliem na tomada de decisão assim
como para atingir o bem-estar geral. Com base em tal ponto de vista, uma das principais
diferenças entre a economia tradicional e a comportamental consiste na “gratuidade” de
aprender com os erros.
Neste contexto, Rocha (2009, p.31) salienta que o fator psicológico é fundamental na
determinação da escolha, pois é com base em seu conteúdo cognitivo que o tomador de
decisão adota estratégias típicas para solucionar o problema e definir a escolha. Kahneman
27
(2012, p.78-92) apresenta o conceito de armadilhas cognitivas, para explicar como é definida
a escolha por parte do consumidor. Como uma das armadilhas, o autor apresenta a diferença
entre experiência e memória, explicitando que o “eu” da experiência consiste no
conhecimento que se tem sobre o presente, na qual se tem basicamente o presente como base
para tomada de decisão. Por outro lado, o “eu” da lembrança é aquele que registra e mantém
as histórias de vida, e é, principalmente, ele que serve de norte para a tomada de decisão. O
consumo, para Kahneman (2012, p.471-481), é impulsionado pela memória de algo que se
identifica com a lembrança do que foi bom, ou então pela lembrança que outra pessoa tem e
compartilha.
Sabe-se que as decisões sobre consumo são baseadas na memória de algo que foi bom
ou que foi satisfatório para outro consumidor que transmite esta informação aos demais.
Percebe assim, o quanto as decisões individuais são influenciáveis. Portanto, ao se analisar o
comportamento do consumidor, é preciso considerar a importância da publicidade que visa
induzir este comportamento (ROCHA, 2009, p.32). As empresas buscam influenciar o
comportamento dos consumidores por meio da força de persuasão exercida pelas
propagandas, de modo que aquelas que passam maior clareza e qualidade na divulgação do
produto normalmente são as que realizam as vendas (LEAL, 2011, p.32-33).
Para Schwartz (2004 apud ROCHA, 2009, p.32-33) decisões acertadas envolvem
diversas questões, entre elas: definir objetivos, relacionar alternativas, avaliar a probabilidade
de estas atenderem aos objetivos, selecionar quais alternativas foram aprovadas, utilizar as
consequências da escolha para mudar os objetivos, a importância atribuída a eles e o modo de
examinar os próximos objetivos. Vislumbra-se que a tomada de decisão pode ser um processo
difícil de administrar e influenciado por diversas variáveis que, depois de satisfeitas as
necessidades do indivíduo, são remodeladas com base nas suas necessidades ilimitadas.
Sobre as atitudes dos consumidores, Pinheiro (2009, p.42) afirma que são formadas
como resultado de uma experiência direta com o produto, com informações adquiridas de
outras pessoas ou então do modo de exposição do produto pela propaganda. Ainda, as atitudes
refletem o lado motivacional dos consumidores, o que pode influenciar ou afastar determinada
compra.
Quanto aos desvios em relação ao modelo de ação racional, pode-se destacar que os
indivíduos tendem a subestimar o risco em determinados contextos, ceder a desejos
momentâneos, resistir às mudanças, e basear suas decisões com base em informações que
estão disponíveis, facilmente acessáveis, ou então mais salientes, e que não necessariamente
são informações relevantes, incorrendo em resultados indesejados para o indivíduo e/ou para
28
o coletivo (SANTOS et al., 2013). Ainda, Ariely (2008, p.198-199), salienta que existe uma
força (emoções, relatividade, normas sociais, etc.) que influencia o comportamento dos
consumidores e, que embora tenha enorme poder sobre os indivíduos, há a tendência de
subestimar ou ignorar totalmente esse poder. Essa força acomete da mesma forma,
especialistas e novatos de maneira sistemática e previsível, sendo que os erros resultantes são
apenas o modo que cada indivíduo tem de levar a vida.
Reid (2009, p.10) salienta que o conhecimento financeiro é importante, porém não
suficiente para garantir que as decisões sejam ótimas. Além disso, a renda dos indivíduos,
assim como para teoria neoclássica, é uma variável significativa para a determinação do
comportamento do consumidor. Portanto, mesmo a não racionalidade extrema sendo uma
espécie de lugar-comum, não significa que os indivíduos estejam de mãos atadas. Como
solução, cita-se a vigilância do comportamento individual, o pensar de outra maneira sobre as
decisões, e a utilização da tecnologia para superar deficiências inerentes ao ser humano
(ARIELY, 2008, p. 199).
Teoricamente a economia comportamental tem condições de agregar muito à teoria
neoclássica, porém, na prática, alguns modelos nem sempre são fáceis de concretizar. O
objetivo é verificar a influência dos fenômenos psicológicos sobre a economia, para então
extrair alternativas de pesquisa e pressupostos formais que atendam a parcimônia,
rastreabilidade e que o foco seja relevante e útil para os economistas. O ponto de partida seria
a identificação de onde e como as premissas econômicas clássicas dão errado. Porém, essa
identificação não é simples. A diferença que existe entre clareza conceitual e veracidade da
realidade comportamental é o principal problema da modelagem econômica (RABIN, 2002,
p.661).
Rabin (2002, p.672) ainda menciona que os métodos de análises econômica, tanto
empíricos, quanto os estudos mais sofisticados e exatos, possuem muitas virtudes, mas
acabam por incorrer em um problema: omitem grande quantidade de informações da
realidade. O mesmo autor alerta ainda que as análises econômicas devem incorporar mais
simplificações, modelos estilizados da cognição humana e considerar preferências e
comportamento humano.
A economia comportamental é, então, fundamental para alargar o discurso econômico,
mas esta deve torna-se mais aberta e crítica, de modo que se torne um meio de pesquisa
atuante e revolucionário em vez de um momento passageiro (RUBINSTEIN, 2013, p. 11).
Rabin (2002, p.657) exibe que a economia comportamental não pode ser uma moda
passageira, pois suas suposições sobre os agentes econômicos podem melhorar a forma como
29
compreendemos a economia, uma vez que realiza considerações sobre os seres humanos de
modo psicologicamente realista.
Dessa forma, Rabin (2002, p.673-674) alerta para alguns cuidados e preocupações que
os pesquisadores devem ter com a integração entre Psicologia e a Economia. Primeiramente,
com a crescente aceitação da economia comportamental alguns economistas acabaram por
deixar de lado a visão tradicional. Porém, esse não é o objetivo. Assim, não se deve perder de
vista as premissas econômicas mais realistas, uma vez que o objetivo é substituir apenas o que
for imperfeito e incorporar aspectos realistas da natureza humana. A segunda preocupação do
autor refere-se às diferenças entre as duas áreas. Rabin (2002, p. 675) assume que não existe
uma correlação negativa entre o realismo psicológico e o gosto pela rastreabilidade,
formalismo, parcimônia e simplificação, porém, também não há uma correlação entre aqueles
que gostam de modelos matemáticos e aqueles que estudam o comportamento real. Portanto, a
preocupação consiste na separação entre comportamentalistas e modeladores, por falta de
consenso e simplificação nos estudos.
Exposta a base da economia comportamental, as variáveis que complementam e
diferem da visão tradicional do comportamento do consumidor, parte-se para explanação de
alguns modelos capazes de traduzir de melhor forma a realidade e preencher algumas lacunas
da teoria neoclássica. Entre os modelos, Thaler e Bernatzi (1995 apud MURAMATSU;
FONSECA, 2008, p.3) citam o do viés de projeção, do desconto hiperbólico e aqueles que
permitem menos de 100% de autocontrole, os quais têm obtido ótimos resultados na
explicação de anomalias e também na capacidade de explicar dados da economia real em
exercícios de calibração e simulação econômica.
O modelo de viés de projeção foi desenvolvido por George Loewenstein, Ted
O’Donoghue e Matthew Rabin em 2003. Esse modelo pode ser apresentado como previsões
de utilidade absoluta do consumo e da utilidade marginal do consumo, que normalmente
encontram-se entre os verdadeiros valores futuros e os valores do seu estado presente
(MURAMATSU; FONSECA, 2008, p.3).
A principal contribuição de tal desenvolvimento é o reconhecimento de que os
agentes apresentam dificuldades em fazer estimativas de suas preferências,
gostos, valores e emoções futuras, baseando-se por isso, fortemente em seus
estados viscerais presentes para avaliar as alternativas, e efetivamente escolher
(MURAMATSU; FONSECA, 2008, p. 3).
Portanto, o modelo faz uma crítica ao modelo tradicional que não considera os vieses
que ocorrem na mente humana e ressalta a dificuldade encontrada pelos consumidores na hora
30
de escolherem o que consumir ao ponto que todas as informações disponíveis podem-no
confundir e nem sempre são suficientes para tomada de decisão ótima (MURAMATSU;
FONSECA, 2008, p.3).
Similarmente, o modelo de desconto hiperbólico é derivado do modelo de utilidade
descontada tradicional, que considera a taxa de desconto constante e assume que os agentes
não apresentam mudanças nas suas preferencias com o passar do tempo. Porém, não é isso
que ocorre, uma vez que o consumo de hoje decorre de condições passadas, atuais e futuras
(THEODORO, 2012, p. 16-17). Assim, Lowenstein e Lerner (2003 apud THEODORO, 2012,
p.17) ressaltam que como o comportamento se reflete na taxa de desconto, surge a taxa de
desconto hiperbólica, que comporta essas mudanças intertemporais das escolhas dos
indivíduos. Muramatsu e Fonseca (2008, p.105) complementam que nesse modelo “os
indivíduos descontam a utilidade a taxas decrescentes”, pois a importância de consumir algo
imediatamente diminui à medida que o horizonte temporal se expande, sugerindo assim uma
função de desconto hiperbólico.
Desse modo, a principal contribuição da economia comportamental consiste no fato de
ressaltar que os consumidores não são racionais ao extremo, contrapondo-se assim a teoria
neoclássica. Para os economistas comportamentais, os consumidores podem comprar seus
bens por impulso, induzidos pela propaganda ou pela percepção de outras pessoas, podendo
incorrer a um arrependimento, de modo que a utilidade não seja maximizada. Além disso, por
meio dessa linha de pesquisa economistas conseguem compreender melhor os consumidores e
fazer previsões mais realistas.
2.2.2 Neuroeconomia
Com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre o comportamento do consumidor
na tomada de decisão, utiliza-se a abordagem da neuroeconomia. Para Costa (2013, p.3) a
neuroeconomia é resultado da união de diversas técnicas e conhecimentos de Filosofia,
Sociologia, Psicologia, Economia e Neurologia, que com a ajuda de aparelhos de diagnóstico
por imagem de ressonância magnética consegue identificar características pertinentes ao
comportamento do consumidor. A neuroeconomia objetiva mostrar um novo modo para
explicar como as decisões dos indivíduos são compreendidas, principalmente as relacionadas
ao consumo (MOREIRA; PACHECO; BARBATO, 2011, p.108). No mesmo sentido, Tassi
(2011, p.11-12) ressalta que economistas comportamentais e cientistas cognitivos visualizam
31
na neuroimagem funcional um importante instrumento capaz de testar e desenvolver teorias
alternativas às neoclássicas.
Camerer, Loewenstein e Prelec (2005, p.10) argumentam que a neurociência aponta
para um novo conjunto de construções que fundamentam a tomada de decisão dos
consumidores. Para os autores, as tecnologias científicas não são apenas ferramentas
utilizadas para explorar novas áreas, mas formas de definir novos campos científicos de
estudo e apagar os limites existentes. E, é isso que tem acontecido com a economia que tem
seus limites constantemente reformulados pela matemática, econometria e métodos de
simulação. Alguns métodos como o uso imagem cerebral, medição de único neurônio,
estimulação elétrica cerebral (EBS), psicopatologia e danos cerebrais em humanos, medida
psicofísica, tensor de difusão de imagem (DTI) estão sendo utilizados para compreender o
comportamento dos consumidores (CAMERER; LOEWENSTEIN; PRELEC, 2005, p.10-15).
No contexto de evolução das técnicas de estudo sobre o sistema nervoso, a principal
contribuição pode ser atribuída aos progressos da neuroimagem que, de modo não invasivo,
permite compreender melhor a relação entre a função neural e a atividade cognitiva (TASSI,
2011, p.11). Entre os métodos supracitados, o mais comum é o da imagem cerebral que
consiste na análise e comparação de várias imagens do cérebro de pessoas que estejam
executando tarefas diferenciadas, uma “experimental” e outra de “controle”. Desse modo,
podem-se fazer comparações entre as diferentes áreas do cérebro que são ativadas a partir da
diferentes atividades. Sobre o método de imagem do cérebro existem três testes que são
básicos: eletro-encefalograma (ou EEG) que utiliza eletrodos conectados ao couro cabeludo
para mensurar a atividade elétrica sincronizada e identificar respostas comportamentais; a
tomografia por emissão de pósitrons (PET) que mede o fluxo de sangue no cérebro, sendo que
este aumenta à medida que a células neurais de determinada região incrementam suas
atividade; e, por fim, o mais atual é a ressonância magnética funcional (FMRI), que também
monitora o fluxo de sangue no cérebro, mas utilizando mudanças nas propriedades magnéticas
devido a oxigenação do sangue (CAMERER; LOEWENSTEIN; PRELEC, 2005, p.12).
No princípio dos estudos sobre racionalidade na economia neoclássica explorava-se o
pensamento racional para todas as pessoas. Atualmente, com a chegada da economia
comportamental, percebe-se que as decisões tomadas por impulso estão relacionadas à região
do cérebro ligada à emoção. Já as decisões racionais concentram-se em outra região cerebral
cujo processamento é defasado em relação à ágil organização das impressões e sentimentos
advindos das decisões intuitivas (COSTA, 2013, p.28).
32
Ferreira et al (2006, p. 4) apresentam que modelos mentais são integrantes da
neuroeconomia e consistem em “imagens, pressupostos e histórias que trazemos em nossas
mentes, acerca de nós mesmos, outras pessoas, instituições e todo aspecto do mundo”. De
modo geral, esses modelos descrevem o que se vê e explicam como duas pessoas podem ver o
mesmo acontecimento e descrevê-lo de modo diferente. Esses modelos, geralmente, são
tácitos, muitas vezes não são testados e examinados.
As críticas à neurociência e, consequentemente, à neuroeconomia concernem ao fato
de que elas fornecem uma imagem das regiões do cérebro em que as coisas acontecem ou
então, mostra que o comportamento dos indivíduos é causado por uma ação do sistema
nervoso, o que parece bem óbvio. Porém, o objetivo de longo prazo dessas ciências é rastrear
quais partes do cérebro são ativadas por diferentes tarefas e quais tarefas se sobrepõem as
outras. Dessa forma, neurocientistas estão compreendendo o que as diferentes partes do
cérebro fazem como elas interagem e, também, como o cérebro resolve os mais diversos
problemas (CAMERER; LOEWENSTEIN; PRELEC, 2005, p.14-15).
Assim, a neuroeconomia visa a identificar e conhecer o comportamento dos
consumidores através de imagens cerebrais. Mas, além da economia comportamental e da
neuroeconomia que já foram apresentadas, a visão do marketing também é relevante e será
exposta a seguir.
2.2.3 Avaliação empírica do comportamento do consumidor: como o marketing utiliza
a teoria econômica em seus estudos
Para avaliar empiricamente o comportamento do consumidor, utilizam-se muitas vezes
os instrumentos desenvolvidos pelo marketing. O marketing não constitui uma ciência teórica,
porém, aproveita-se dos desdobramentos teóricos da teoria econômica para realizar sua
análise empírica. O objetivo dessa seção é evidenciar como o marketing emprega os conceitos
teóricos da microeconomia tradicional, da economia comportamental, assim como da
neuroeconomia para evidenciar, na prática, o comportamento dos consumidores.
O marketing passou a ter preocupação com o comportamento do consumidor a partir
da década de 1950, assim, a comercialização dos produtos deveria iniciar-se com a
constatação dos desejos e necessidades dos consumidores para então as empresas definirem e
ajustarem as quantidades a serem ofertadas. Mesmo com o conhecimento da importância que
essa visão tem para auxiliar a tomada de decisão empresarial muitas empresas ainda não são
orientadas para o marketing (LAS CASAS, 2012, p.181).
33
Profissionais de marketing buscam estudar as compras dos consumidores para
descobrir o que, onde e quanto eles compram. Porém, descobrir esses fatores não é uma tarefa
simples em função das respostas estarem nas cabeças dos consumidores (KOTLER;
ARMSTRONG, 2007, p.112). O objetivo de estudar o comportamento do consumidor, de
acordo com Las Casas (2012, p.181), é compreender as influências e características do
comprador, para então obter condições de fazer propostas adequadas de ofertas de marketing.
Para que o marketing seja bem sucedido as empresas devem se conectar com seus clientes,
entender seu cotidiano e as mudanças que ocorrem ao longo do seu ciclo de vida para
assegurar que os produtos certos estão sendo disponibilizados aos clientes certos e da maneira
certa (KOTLER; KELLER, 2012, p.163).
O processo de decisão de compra pode ser dividido em cinco estágios, sendo eles:
reconhecimento das necessidades, busca por informações, avaliação das alternativas, decisão
de compra e avaliação pós-compra. Os mesmos serão descritos a seguir de acordo com Las
Casa (2012, p. 184-190), Kotler e Armstrong (2007, p.127-129) e Kotler e Keller (2012,
p.179-186).
O primeiro passo é o reconhecimento das necessidades. O comprador reconhece um
problema ou uma necessidade, que pode ser acionada por estímulos internos quando uma
necessidade normal dos indivíduos atinge um nível alto o suficiente para se tornar um
impulso, como mostrado pela neuroeconomia. O estimulo também pode ser externo e ocorre
quando o anúncio de uma propaganda ou a conversa com amigos induzem a pessoa a pensar
em comprar determinado produto, retomando o conceito explanado pela economia
comportamental, em que a lembrança de algo está diretamente relacionada com a compra.
Pesquisar os consumidores, identificar suas necessidades, o que as desencadeia e o que os
leva a adquirir o produto em questão é base para compreender o comportamento de compra
dos indivíduos.
Posteriormente a identificação das necessidades, inicia-se a busca por informações.
Uma das fontes mais importantes para informação sobre algum produto é a propaganda, pois
os consumidores, em geral, procuram verificar vários anúncios e comerciais antes de
decidirem qual produto adquirir. Além da propaganda, eles buscam informações em fontes
internas, aquelas que estão na memória, tanto lembranças e experiências vivenciadas, como
em fontes externas, que provém de vendedores de lojas, propagandas, folhetos e amigos.
Quando o consumidor possuir uma recordação da situação, dificilmente recorrer a outra fonte.
Isto indica o quanto a satisfação com o consumo passado interfere na compra.
34
A avaliação das alternativas, próximo passo, consiste na maneira como o consumidor
processa as informações para determinar a compra. As pessoas normalmente utilizam diversos
processos de avaliação das alternativas, processos estes, que dependem das suas
características pessoas assim como da situação específica da compra. Em alguns casos, fazem
pouca ou nenhuma avaliação e compram na base do impulso e intuição. Por outro lado,
podem comprar tanto sem consultar ninguém, quanto consultando, previamente, amigos,
guias de compras e vendedores. A maioria dos consumidores, antes de realizar uma compra,
principalmente se ela for vultosa, pondera diversos atributos, o que torna o processo de
identificação de seu comportamento mais complexo e, mais difícil, o processo de influenciar
suas decisões.
Após elencados os possíveis produtos para compra o consumidor parte para a decisão
de compra, na qual mesmo tendo disposição para compra ele ainda pode desistir. A
desistência ocorre normalmente por dois motivos: adiamento ou demora na implementação e
desvio na escolha identificada. Decidir e realizar a compra pode incorrer em alguns
problemas, que fazem com que postergar a compra seja uma forma de aliviar a tensão gerada.
Além disso, questões como ameaça de perder o emprego, possibilidade de comprar de outra
pessoa com preço menor ou outros eventos inesperados podem impedir que a compra se
concretize. Já o desvio nas escolhas pode acontecer pelo produto estar em falta, a marca não
estar disponível, lançamento de novos produtos que são mais atraentes, entre outras
possibilidades.
Kotler e Keller (2012, p.164-179) e Kotler e Armstrong (2007, p.112-122) expõem
que o comportamento de compra do consumidor é influenciado por fatores culturais, sociais e
pessoais, sendo que são os culturais que exercem maiores e mais profundas influências.
Quanto aos fatores culturais, elenca-se cultura, subcultura e classe social como os mais
importantes no comportamento de compra. A cultura é o principal determinante dos desejos e
comportamentos de uma pessoa, de modo que a influência da família e outras instituições
importantes contribuem significativamente na definição dos valores culturais, estes
imprescindíveis na determinação da oferta e desenvolvimento de novos produtos. A
subcultura fornece a identificação e socialização mais especificas de seus membros, como:
nacionalidade, religião, grupos raciais, regiões geográficas. Já as classes sociais, constituem
uma espécie de estratificação social na qual os indivíduos são hierarquicamente ordenados e
cujos integrantes apresentam valores, interesses e comportamentos similares (KOTLER;
KELLER, 2012, p.164-179).
35
Os fatores sociais podem ser divididos em grupos de referência, família, papéis sociais
e status. Grupos de referência exercem influência direta e indireta sobre o comportamento do
consumidor. As influências diretas são chamadas de grupos de afinidade. Alguns destes
grupos são primários, como amigos, vizinhos e familiares. Outros são secundários, a exemplo
de grupos religiosos ou profissionais. As pessoas também são influenciadas por grupos
aspiracionais, que o indivíduo se deseja pertencer, e grupos dissociativos, cujos valores ou
comportamentos são rejeitados. Quando a influência do grupo é significativa, o marketing
procura atingir os líderes de opinião desses grupos, pois, estes, normalmente são altamente
confiantes, ativos e usuários frequentes da categoria em questão, assim como exposto pela
economia comportamental (KOTLER; KELLER, 2012, p.164-179; KOTLER;
ARMSTRONG, 2007, p.112-122).
A família constitui outro grupo importante e influente no processo de compra, pois é a
mais importante organização de consumo da sociedade, sendo por isso, tão estudada. Os
membros da família podem determinar grande parte do comportamento do comprador, de
modo que é relevante conhecer os papéis que cada indivíduo desempenha e a influência do
marido, esposa e filhos na compra de diferentes bens e serviços. As crianças, são grandes
influenciadoras no processo de decisão e fazem com que produtos adquiridos por adultos
sejam decididos por elas, interferindo na decisão dos pais (KOTLER e KELLER, 2012,
p.164-179; KOTLER e ARMSTRONG, 2007, p.112-122)..
Para finalizar os fatores sociais, os papéis desempenhados pelos consumidores e o
status individual que representam nos diversos grupos aos quais estão inseridos constituem
importante fonte de informações além de definirem normas de comportamento. A posição dos
indivíduos nos grupos depende do papel que os indivíduos representam, ou seja, atividades
que desempenham, o que consequentemente define o status da pessoa (KOTLER e KELLER,
2012, p.164-179; KOTLER e ARMSTRONG, 2007, p.112-122).
Quanto aos fatores pessoais, Kotler e Keller (2012, p.164-179) citam características
como idade e estágio no ciclo de vida, ocupação e circunstâncias econômicas, personalidade e
autoimagem, estilo de vida e valores. A idade e estágio no ciclo de vida referem-se as
decisões relacionadas com comida, roupas, móveis, lazer, e gostos em geral, delimitados pela
idade. O número, idade e sexo dos membros da família moldam os padrões de consumo dos
indivíduos. Além disso, episódios como casamentos, nascimento de filhos, doenças,
divórcios, mudança na carreira e aposentadoria são cruciais para identificar novas
necessidades dos clientes, a saber: bancos, advogados, psicólogos e conselheiros
profissionais, por exemplo.
36
De acordo com Kotler e Keller (2012, p.164-179) e Kotler e Armstrong (2007, p.112-
122), a ocupação e circunstâncias econômicas atuam como determinantes na identificação das
necessidades dos consumidores e definem grupos com interesse acima da média por
determinado produto ou a oportunidade de customização para satisfazer ainda mais o cliente.
Essa diferenciação só será efetivada se o cliente dispuser de circunstâncias econômicas
favoráveis: renda disponível, economias e bens, débitos, capacidade de endividamento.
Personalidade e autoimagem referem-se ao conjunto de traços psicológicos distintos,
identificado pela autoconfiança, domínio, autonomia, submissão, sociabilidade, capacidade de
adaptação. Através destes fatores desenvolve-se uma combinação específica de características
humanas que podem ser atribuídas a determinada marca, constituindo a personalidade da
marca, a qual serve de referência para atingir o público alvo (KOTLER e KELLER, 2012,
p.164-179; KOTLER e ARMSTRONG, 2007, p.112-122).
Por fim, Kotler e Keller (2012, p.164-179) apresentam que consumidores com as
mesmas características sociais e culturais podem apresentar comportamentos distintos em
função de seu estilo de vida e valores. O estilo de vida consiste no seu padrão de vida
expresso por atividades, interesses e opiniões, definidos por restrições monetárias ou de
tempo. É importante identificar a quantidade de consumidores que se depara com significativa
restrição monetária para que as empresas possam desenvolver produtos com custos mais
baixos, assim como identificar o quanto o tempo é importante e para quantas pessoas com o
intuito de criar bens e serviços convenientes.
Além destes, Kotler e Armstrong (2007, p.122-125) afirmam que fatores psicológicos
também influenciam significativamente no comportamento do consumidor. Essa interferência
ocorre através da motivação, quando uma necessidade é forte o suficiente para fazer com que
o indivíduo procure satisfazê-la. A percepção é outro fator determinante e consiste no
processo pelo qual o consumidor seleciona, organiza e interpreta informações para formar sua
visão do mundo e responder ao estado motivacional em que se encontra. Há também a
aprendizagem, que modifica o comportamento dos indivíduos a partir das experiências por
eles vivenciadas. Esse processo ocorre por intermédio de impulsos, estímulos, sinais,
respostas e reforços. Por fim, as crenças, pensamentos descritivos que as pessoas possuem
sobre algo, e atitudes, que são avaliações, sentimentos e tendências quanto a um objeto ou
ideia, são grandes influenciadores nas atitudes dos consumidores.
Todas as teorias e contribuições apresentadas são de suma importância para
identificação do perfil de consumo dos indivíduos, cada qual com um ponto de vista
específico, porém vinculado. A interdisciplinaridade que o tema abordado contempla mostra-
37
se definitiva para responder a problemática do presente estudo. Porém, apenas as teorias sobre
comportamento do consumidor talvez não sejam suficientes para compreender o modo dos
chapecoenses se comportarem, assim, a seguir apresenta-se um pouco do contexto histórico
do município assim como dados atuais do município.
2.3 DESCRIÇÃO SOCIOECONÔMICA DE CHAPECÓ-SC
Localizado no Oeste do estado de Santa Catarina, Chapecó foi uma das primeiras
cidades criadas no impulso colonizador e durante vários anos serviu de sede administrativa de
um vasto território, o que lhe garantiu a centralidade que se manifesta até hoje. Os primeiros
colonizadores eram oriundos do estado do Rio Grande do Sul e vieram com o objetivo de
conquistar as próprias terras, fixando-se ao longo do Rio Uruguai (HENN, 2010, p.1).
Com uma visão um pouco divergente, Tozzo, Figueiredo e Oliveira (2009, p. 4882)
afirmam que até o ano de 1838 o Oeste catarinense era habitado por índios, e após este
período “tropeiros paulistas e imigrantes italianos e alemães vindos do Rio Grande do Sul
começaram a cruzar a região, rumo a São Paulo, para comercializar gado”. As paradas dos
tropeiros e a vinda das companhias colonizadoras intensificou o processo de migração de
outros estados, culminando no desenvolvimento econômico do município.
Henn (2010, p.2) salienta que aos poucos a mata nativa deu espaço à produção
agrícola de subsistência. A partir dessa configuração um novo perfil socioeconômico passou a
ser delineado com base na cultura de produção de excedente, mesmo que ainda de modo
artesanal (FUJITA, 2013, p.314). Em razão das dificuldades encontradas, principalmente de
transporte, o excedente passou a ser utilizado na criação de animais de pequeno porte, como
galinhas e porcos, os quais eram vendidos aos comerciantes locais que os industrializavam,
com o intuito de comercializar principalmente a banha (HENN, 2010, p.2).
O crescimento acelerado de Chapecó, de acordo com Hass (2006, p.78), iniciou a
partir dos anos 1970, na época do milagre econômico durante o regime militar. Nesse período,
houve a ampliação das agroindústrias existentes, criação de novas indústrias e modernização
da agricultura. Henn (2010, p.2) salienta que o Estado exerceu papel importante na
constituição e consolidação das agroindústrias chapecoenses, pois entre as décadas de 1970 e
1980 foram disponibilizados expressivos empréstimos para investimento em unidades fabris.
Este mesmo autor salienta, em contraponto, os problemas sociais ocasionados pela expansão
das empresas:
38
A produção agrícola passa a ser controlada pelas agroindústrias, selecionando
produtos e produtores de acordo com as suas necessidades. Isso ocasionou a
falência e exclusão de pequenos agricultores e da pequena propriedade familiar
de subsistência e, consequentemente, o aumento da migração intra-regional e de
famílias sem-terra, agravando a problemática social no campo e na cidade.
(HENN, 2010, p.3).
Para Hass (2006, p. 79), ficava cada vez mais evidente a existência de espaços em
separado, para incluídos e excluídos dentro da mesma sociedade. Um cinturão de pobreza
formou-se nos arredores da cidade. E, nem mesmo todo o assistencialismo prestado pelo
poder público, consegue reverter a situação dos migrantes motivados pelo ideal de
desenvolvimento e progresso do município.
De acordo com o IBGE (2013), Chapecó registrou, no censo de 2010 183.530
habitantes situados, quase em sua totalidade, no perímetro urbano do município. Já em 2013 a
população estimada pelo IBGE foi de 198.188, mostrando o potencial de crescimento. A
cidade atua como polo para aproximadamente 200 municípios e 1 milhão de habitantes, sendo
reconhecida como capital do Oeste catarinense. Conforme Hass (2006, p.82), em Chapecó o
setor de comércio, prestação de serviços e autônomos têm crescido consideravelmente nos
últimos anos.
Sobre o posicionamento econômico de Chapecó em relação aos demais municípios de
Santa Catarina, esta cidade tem grande representatividade e consolida-se como uma das
maiores economias do Estado. A Figura 4 mostra essa relação com as demais cidades.
Figura 4: PIB das principais cidades de Santa Catarina - 2010
Fonte: Elaboração própria com base em IBGE (2014)
0.00
5,000,000.00
10,000,000.00
15,000,000.00
20,000,000.00
39
Além de ocupar a 7ª posição no ranking do PIB, salienta-se que é única cidade do
oeste catarinense com esse potencial, ou seja, nenhum outro município situado na região
interiorana do Estado apresenta números tão elevados para o PIB. Conforme dados do IBGE
(2014), após Chapecó a mesorregião oeste conta com o município de Concórdia, distante
80Km da primeira, que ocupa a 14ª posição. Ainda referente ao PIB do município se percebe
a evolução do mesmo na Figura 5, os valores apresentado são em termos reais para o ano de
2000.
Figura 5: Evolução do PIB de Chapecó - SC
Fonte: Elaboração própria com base em IpeaData (2014)
De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2014), a renda per
capita média do município cresceu 132,80% nas últimas duas décadas, o que representa uma
evolução de R$437,01 em 1991 para R$674,35 em 2000 e, por fim, aumentou para
R$1.017,34 em 2010 em termos constantes. As famílias em extrema pobreza - aquela com
renda domiciliar per capita inferior a R$ 70,00 por mês - reduziram de 10,55% em 1991 para
0,65% em 2010. Além disso, a porcentagem de pobres também reduziu no mesmo período,
passando de 28,01% em 1991 para 2,70% em 2010.
Referente ao último censo demográfico realizado pelo IBGE, em 2010 a população em
idade ativa5 do município era de 109.785 pessoas, aproximadamente 60% do total. Por outro
lado, a população economicamente ativa6 para esse mesmo ano foi de 104.752, representando
57,07% da população. Sobre a taxa de atividade do mercado de trabalho chapecoense, que 5 Pessoas com 10 anos ou mais de idade (IBGE, 2014).
6 Pessoas de 10 a 65 anos de idade classificadas como ocupadas ou desocupadas na semana de referência da
pesquisa (IBGE, 2014).
0.00
500,000.00
1,000,000.00
1,500,000.00
2,000,000.00
2,500,000.00
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
40
considera indivíduos com 18 anos ou mais, se percebe que em 2010 109.575 habitantes eram
considerados economicamente ativos, representando 78% da população. Por outro lado, a
população economicamente não ativa, naquele ano, era composta com 28.999 indivíduos,
correspondente a 22%. Destes 78% da população economicamente ativa, apenas 3,87% estão
desocupados (ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, 2014).
Quanto aos setores de atividade econômica, constata-se que a agropecuária ocupa o
último lugar em representatividade, mesmo que uma vez essa era a principal atividade do
município. Sobre a indústria do município está é considerada forte, porém, ainda perde
espaço para o setor de serviços, que cresce a cada ano.
Quadro 1: Setores de atividade econômica - 2010
Variável Chapecó Santa Catarina Brasil
AGROPECUÁRIA 95.800 6.225.443 105.163.000
INDÚSTRIA 1.399.134 25.317.920 539.315.998
SERVIÇOS 2.518.314 43.017.306 1.197.774.001 Fonte: Elaboração própria com base em IBGE (2014)
Assim, a partir dos dados elencados pode-se perceber o potencial do município de
Chapecó, que já possui grande representatividade no Estado e destaca-se nacionalmente pela
sua agroindústria. Além disso, destaca-se que a renda dos munícipes vem crescendo com o
passar do tempo e diminuindo a desigualdade, proporcionando a um maior número de pessoas
a possibilidade de expandir o consumo.
41
3 MÉTODOS E TÉCNICAS
Com o intuito de efetivação da pesquisa, delimitam-se os métodos e técnicas utilizados
para concretização dos objetivos definidos anteriormente. Desse modo, é exposto o modo de
operacionalização da pesquisa. Conforme Marconi e Lakatos (2010, p.44- 46) todas as
ciências caracterizam-se pela utilização de métodos, de modo que não há ciência sem o
emprego de métodos científicos. Para estas autoras, o método pode ser definido como um
conjunto de atividades sistemáticas e racionais que permitem ao pesquisador atingir o objetivo
proposto a partir de um caminho traçado, no qual os erros são detectados para auxiliar as
decisões dos cientistas.
Existem várias formas de classificar as pesquisas. Neste trabalho utiliza-se a pesquisa
aplicada, uma vez que o objetivo é a aplicação de um conhecimento derivado da teoria
econômica. Essa classificação visa gerar conhecimentos para aplicação prática, com o
objetivo de solucionar problemas específicos, envolvendo verdades e interesses locais
(MORESI, 2013, p.8). Similarmente, Vergara (2006, p.47) apresenta que a pesquisa aplicada
é fundamentalmente motivada pela necessidade de resolver problemas concretos, tendo por
finalidade a prática.
Quanto à lógica da pesquisa, esta se caracteriza como indutiva e consiste em um
processo mental que, a partir de uma base de dados suficientes, infere-se uma verdade geral
ou universal, não contida nas partes examinadas. O objetivo dos argumentos é conduzir a
conclusões mais amplas que as premissas que basearam a pesquisa (MARCONI; LAKATOS,
2010, p.53). Como elementos fundamentais para toda indução, as autoras elencam que
primeiramente devem-se observar certos fatos e fenômenos, posteriormente agrupá-los esses
de acordo com a relação constante entre eles e, por fim, classificá-los.
Referente à abordagem, a mesma identifica-se como quantitativa, pois quando o objetivo
é medir as relações entre variáveis (associações ou causa-efeito), ou avaliar o resultado de
algum sistema ou projeto, o enfoque quantitativo mostra-se como mais adequado (ROESCH,
2006, p.130). Marconi e Lakatos (2010, p.269) complementam que no método quantitativo os
pesquisadores valem-se de amplas amostras e informações numéricas.
Ainda, quanto ao nível de profundidade da pesquisa, esta se enquadra como sendo
descritiva. A pesquisa descritiva expõe características de determinada população ou
fenômeno, pode estabelecer correlações entre variáveis e definir a sua natureza. Assim, ela
não precisa explicar os fenômenos que está descrevendo, mesmo que sirva de base para tal
explicação (VERGARA, 2006, p.47). Roesch (2006, p.130) complementa afirmando que se
42
utiliza a pesquisa descritiva quando se pretende contar quantos ou em que proporção
identifica-se certa opinião ou característica, ou então, com que frequência certos eventos estão
associados entre si.
Quanto às técnicas utilizadas, vale-se da pesquisa bibliográfica, descrita por Vergara
(2006, p.48) como um estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em
livros, revistas, jornais, ou seja, materiais acessíveis ao público em geral, podendo ser de fonte
primária ou secundária. Conforme Dmitruk (2004, p.68) essa técnica objetiva levantar
informações sobre temas e abordagens já trabalhados por outros pesquisadores verificando as
contribuições teóricas sobre o assunto de interesse. A autora complementa expondo que a
pesquisa bibliográfica pode ser considerada o primeiro passo do trabalho científico,
independente da área de conhecimento. Outra técnica aqui utilizada é econometria, que
segundo Gujarati (2006, p.1), consiste na aplicação da estatística matemática aos dados
econômicos, utilizada para apoiar estudos empíricos aos modelos formulados pela economia
matemática e obter resultados numéricos. A pesquisa bibliográfica é utilizada em função de
necessitar de uma fundamentação teórica que forneça suporte para compreensão e análise das
características dos consumidores.
Por fim, realizou-se um levantamento de dados secundários, uma vez que estes são
coletados pelo curso de Ciências Econômicas da Universidade Comunitária da Região de
Chapecó (Unochapecó), por meio do Observatório Socioeconômico da Mesorregião Oeste de
Santa Catarina, encontram-se disponíveis e já serviram de base para outros estudos. Esses
dados são coletados com periodicidade mensal desde novembro de 2012, com uma amostra de
aproximadamente 190 questionários/mês. Portanto, esta pesquisa engloba 2.928 observações
de consumidores chapecoenses. A seguir apresenta-se o referencial teórico que servirá de base
para análise dos resultados.
3.1 REFERENCIAL TEÓRICO
Após o levantamento das diferentes teorias e modelos, que descrevem o
comportamento do consumidor, elencaram-se as mais teorias que se considerou como mais
adequadas para fornecer a base teórica de análise do trabalho. Procurou-se unir a teoria
neoclássica com a economia comportamental no intuito de incluir variáveis que não são
explicitamente levadas em conta no modelo neoclássico.
43
Desse modo, a teoria neoclássica apresenta que o comportamento dos consumidores é
definido pelos fatores renda, preço do bem em questão, preço de bens substitutos e gostos e
preferência, o que nem sempre é suficiente. Nesse sentido, a teoria do consumidor apoia-se na
premissa de que o indivíduo é racional, de modo que seu bem-estar é maximizado e suas
escolhas sempre são ótimas (PINDYCK; RUBINFELD, 2010, p.61). Mas, como essa escolha
não é identificada antes da compra, economistas valem-se da teoria da preferência revelada, a
qual identifica as preferências a partir do comportamento dos agentes.
Varian (2012, p.124-127) salienta que há uma única cesta demandada em cada
orçamento, isso ocorre porque existe uma cesta ótima que deve ser melhor que qualquer outra
para o consumidor e assim se mostrar revelada perante as demais. Logo, a preferência
revelada pelo consumidor refere-se a uma relação que existe entre a cesta realmente
demandada e as cestas que poderiam ter sido demandadas dada a restrição imposta pela renda.
Assim, o consumidor maximizador irá optar pela cesta que pode adquirir e que comporte as
maiores quantidades dos bens disponíveis. Por exemplo, caso a cesta A seja preferível à cesta
B, e a cesta B preferível a cesta C, dado o pressuposto da transitividade, a cesta A mostra-se
diretamente revelada como preferível a B e indiretamente revelada como preferível à cesta C.
Nesse sentido, Varian (2012, p.124-127) afirma que o axioma fraco da preferência
revelada (AFrPR) indica que se a cesta A for diretamente revelada como preferível a B e as
duas cestas não forem idênticas, não pode ocorrer de B ser diretamente revelada como
preferível a A. Em outras palavras, se a cesta B puder ser adquirida quando a cesta A for
realmente comprada, quando a cesta B for comprada, a cesta A não estará ao alcance de
compra do consumidor. Desse modo, quando tem-se:
𝑝1𝑎1+𝑝2𝑎2 ≥𝑝1𝑏1+𝑝2𝑏2 3.1
Não se pode ter
𝑞1𝑏1+𝑞2𝑏2 ≥𝑞1𝑎1+𝑞2𝑎2 3.2
Portanto, quando o consumidor escolhe tanto a cesta A quanto a cesta B ele está
violando o axioma fraco da preferência revelada e não está adotando um comportamento
maximizador. Quando o axioma é violado, percebe-se que o comportamento desse
consumidor não é condizente com a teoria econômica neoclássica. O axioma fraco da
preferência revelada impõe uma condição observável que tem que ser satisfeita por todos os
consumidores maximizadores (VARIAN, 2012, p.131).
44
Porém, há uma condição mais forte que também é útil. Deste modo, o axioma forte da
preferência revelada (AFoPR) indica que se a cesta A for revelada como preferida à cesta B,
direta ou indiretamente, e B não for igual a cesta A, logo, B não pode ser direta ou
indiretamente revelada como preferível à cesta A. Assim como no AFrPR, se o consumidor
for maximizador, ele irá satisfazer o AFoPR. Por outro lado, se as escolhas observadas
satisfazem o AFoPR, as preferências identificadas sempre serão boas, o que poderia ter
gerado as escolhas observadas. O AFoPR é uma condição necessária e suficiente para que as
escolhas observadas sejam compatíveis com o modelo econômico da escolha do consumidor
(VARIAN, 2012, p.134).
Nesse ponto, percebe-se que o comportamento dos consumidores só pode ser
identificado após a realização da compra. Caso a decisão tomada não seja ótima ocorre uma
violação tanto do axioma fraco, quanto do axioma forte da preferência revelada. Ocorre que,
dada as diversas variáveis do ambiente, as quais estão em constante mudança, dados os gostos
e preferências, as informações imperfeitas do mercado, entre outros fatores que impactam na
tomada de decisão, nem sempre os indivíduos conseguem otimizar suas escolhas (VARIAN,
2012, p.134).
Assim, outra ferramenta importante para mensurar o comportamento dos
consumidores são os índices de confiança do consumidor, que procuraram identificar o
consumo antes que ele ocorra. Na prática, são entrevistados consumidores e buscam-se
informações sobre suas características socioeconômicas, situação econômica atual e futura,
perspectivas com relação à economia atual e futura, além de produtos de preferência e
intenção de compra de algum produto específico. A partir dessas informações, pode-se ter
uma perspectiva de como esses indivíduos irão se comportar, além da geração de índices que
prospectam o seu otimismo ou pessimismo em relação ao futuro, o que tende a indicar
possível aumento ou diminuição na demanda (WEISS, 2003)
Em função da complexidade, a identificação do comportamento dos consumidores é
que se faz necessária a compreensão dos fatores que exercem influência sobre ele. Para tanto,
a teoria neoclássica, já demonstrada, apresenta algumas lacunas que podem ser preenchidas
pela economia comportamental. Esta, de acordo com Ariely (2008, p.196), engloba a
investigação das diversas formas de ação espontânea que o indivíduo pode ter, fato que gera
ganhos em longo prazo em função do aprendizado que os erros proporcionam, opondo-se à
visão da teoria neoclássica que preza pelo indivíduo racional e maximizador. O autor salienta
também que a força exercida pelo impulso na hora de tomar decisões impacta, da mesma
forma, todos os indivíduos, demonstrando ser difícil agir de modo racional sempre. Ainda
45
sobre economia comportamental, Kahnemann (2012, p.78-92) explana que as armadilhas
cognitivas com as quais os consumidores deparam-se constantemente, são responsáveis por
boa parte das suas decisões de consumo. As armadilhas são formas de “enganar” o cérebro e
impedir que o comportamento seja sempre racional.
Reid (2009, p.9) explana que na visão dos economistas comportamentais não significa
que as pessoas sejam irracionais, mas sim, que existem outras formas sistemáticas e
previsíveis para evidenciar que elas se comportam de maneira diferente ao tradicionalmente
esperado. Desse modo, além de algumas variáveis expostas pela teoria do consumidor, neste
trabalho, são utilizados alguns fatores apontados pela economia comportamental para auxiliar
na identificação do comportamento do consumidor chapecoense. Entre esses fatores, pode-se
citar a percepção dos indivíduos frente à sua situação financeira atual e futura, como
“percebem” as condições econômicas do país para os próximos anos, alguns fatores pessoais
que impactam o consumo, como, por exemplo, se possuem filhos menores de 18 anos, sua
intenção de adquirir crédito que incremente a renda ou valor de endividamento já contraído.
Porém, além destas variáveis, principalmente, objetiva-se avaliar se as expectativas racionais
dos agentes impactam, ou não, na intenção de consumo.
Todos os fatores elencados captam, de alguma forma, explicações para o
comportamento dos indivíduos e fornecerem informações que vão além da visão da economia
neoclássica, englobando variáveis situacionais dos indivíduos. Dessa forma, a seguir serão
expostas as variáveis utilizadas, esclarecendo o motivo do seu uso e o impacto esperado de
cada uma.
3.2 CATEGORIAS E VARIÁVEIS
Uma variável pode ser considerada uma classificação ou medida, podem ser
quantidades, qualidades, características, magnitudes, traços, etc., que se alteram em casos
particulares e são totalmente abrangentes e mutuamente excludentes. Assim, o conceito
operacional pode ser um objeto, processo, agente, fenômeno ou problema (MARCONI;
LAKATOS, 2010, p.175-180). As autoras explanam que as variáveis quantitativas não
possuem a limitação de classificá-las em conjuntos de categorias, pois elas permitem verificar
diferenças de graus em relação à determinada propriedade ou atributo.
A população em questão são munícipes chapecoenses, porém, engloba apenas aqueles
que tenham idade igual ou superior a 16 anos e que estejam trabalhando ou procurando
emprego na semana de referência, caracterizando-se, assim, como economicamente ativos.
46
Quanto à amostra dessa população, utilizam-se critérios estatísticos convencionais, com grau
de confiança de 90%, correspondendo a aproximadamente 190 questionários mensais. O
banco de dados para o mês de fevereiro de 2014 comporta 2.928 observações de
consumidores chapecoenses. Conforme apresentado, esses dados foram obtidos através do
Observatório Socioeconômico da Mesorregião Oeste de Santa Catarina, mantido pelo curso
de Ciências Econômicas da Unochapecó, que realiza a coleta dos dados para o cálculo do
Índice de Confiança do Consumidor Chapecoense.
As variáveis utilizadas na identificação de quais características individuais
determinaram o comportamento do consumidor chapecoense foram divididas entre explicada
e explicativa, em virtude da estimação do modelo econométrico. Portanto, as categorias e
variáveis correspondentes são relacionadas abaixo:
Categoria A (explicada): Intenção de Consumo: Refere-se à mensuração da intenção de
consumo dos chapecoenses no mês de referência da pesquisa do Índice de Confiança do
Consumidor Chapecoense, e entrará como dependente no modelo econométrico. A única
variável que representa essa categoria de análise é:
i) Intenção de compra: objetiva-se identificar qual é a intenção de consumo dos
chapecoenses, para tanto, utiliza-se como medida se os indivíduos consideram, no momento
da entrevista, se o mês de referência é uma boa hora para adquirir bens duráveis (tais como
geladeira, fogão, televisão, entre outros). A variável é medida por meio de uma dummy, ou
seja, assume o valor igual a 1 caso a intenção de compra seja observada, e o zero caso esta
não seja observada. Portanto, trata-se de uma proxy para a variável explicativa da teoria da
preferência revelada, descrita no referencial teórico.
Categoria B (explicativa): características individuais dos consumidores chapecoenses: É
comportada por variáveis que descrevem o perfil dos indivíduos entrevistados, sendo
relacionadas:
ii) Renda: considera-se a remuneração pelo fator de produção trabalho, representada na
pesquisa como renda individual. Essa variável é fundamental, pois, conforme defendido pela
teoria neoclássica, é ela que determina o poder de compra dos consumidores, e
consequentemente seu nível de consumo. No presente trabalho, utilizou-se o logaritmo da
renda em função dos valores apresentarem grande diferença, assim, com o logaritmo, tem-se
valores mais próximos. Espera-se que o impacto dessa variável seja positivo na intenção de
47
consumo, pois a medida que a renda aumenta, espera-se que aumente também o consumo
individual, fato que corroboraria a teoria neoclássica, que elenca a renda como principal
determinante do consumo, e com a economia comportamental, que também afirma que a
renda individual tem impacto sobre o consumo.
iii) Grau de instrução: caracteriza-se como anos de estudo dos entrevistados, com
classificação de 0 a 8 anos de estudo; de 8 a 11 anos de estudo; de 11 a 15 anos de estudo e
acima de 15 anos de estudo. Essa variável é medida por meio de variáveis dummies. Sobre o
grau de instrução, acredita-se que o mesmo tem efeito positivo no consumo, uma vez que
quanto maior o nível de instrução, maiores as perspectivas de crescimento na renda, e
consequentemente, no consumo. O impacto positivo é apregoado por ambas as teorias
propostas para análise.
iv) Idade: refere-se à idade cronológica dos consumidores. Consideram-se apenas
indivíduos que tenham idade acima de 16 anos. A idade mínima estabelecida pela pesquisa
justifica-se pelo fato de que a partir dessa idade, as pessoas já podem ser contratadas pelas
empresas como menores aprendizes, receber salários e ser consideradas como
economicamente ativas. A variável idade, a priori, não tem nenhum sinal esperado, uma vez
que de acordo com a teoria revisada, as diferentes fases da vida implicam em
comportamentos, em relação ao consumo, diferenciados. Ou seja, não é possível afirmar, por
exemplo, que quanto maior ou menor a idade, maior será o consumo. Desse modo, essa
variável está inserida no modelo apenas como variável de controle e objetiva-se conhecer o
impacto da mesma sobre a intenção de consumo.
v) Estado civil: busca-se identificar o comportamento dos consumidores solteiros,
casados, com união estável ou outros tipos de estado civil. Essa variável é medida em
dummies. Acredita-se que indivíduos solteiros influenciem positivamente na intenção de
consumo, enquanto os casados, ou com união estável impactem negativamente por possuírem
maiores obrigações e estarem no estágio de vida em que devem sustentar a si e a casa.
vi) Número de filhos: identifica o número de filhos menores de 18 anos dos
entrevistados. Considera-se essa variável em função de que filhos até essa idade,
normalmente, valem-se da renda dos pais, o que tende a diminuir o poder aquisitivo dos
genitores. Desse modo, essa variável tende a apresentar impacto negativo sobre a intenção de
consumo.
vii) Aplicações financeiras: faz-se o levantamento de quais aplicações financeiras os
consumidores chapecoenses possuem. Estas podem ser: poupança, títulos públicos,
previdência privada, ações, entre outros. Essa variável identifica parte do perfil de consumo
48
dos indivíduos, pois, quanto maior o nível de aplicações financeiras, menor é a renda
disponível para consumo imediato. Para fins de análise, as aplicações financeiras são dividas
em renda fixa, renda variável e outras aplicações financeiras. Essa variável é medida em
dummies e também é esperado que impacte negativamente sobre a intenção de consumo, o
que seria plausível de acordo com a economia comportamental, pois quanto maiores as taxas
de poupança menor é o consumo presente, uma vez que se torna mais atrativo poupar do que
investir.
viii) Gênero: consiste na classificação dos entrevistados entre sexo feminino e masculino,
pois ambos apresentam distintos comportamentos de compra. Desse modo, essa variável é
medida em dummy. Para isso, são computados valores igual a 1 quando o consumidor é do
sexo feminino, o que acredita-se que tem um impacto positivo na intenção de consumo.
Conforme a economia comportamental, o consumo por parte das mulheres muitas vezes é
mais elevado quando se leva em consideração o fato do consumo impulsivo, da troca de
informações sobre produtos com demais pessoas e da disposição feminina em estar em
ambientes que impulsionem o consumo, características que não estão tão presentes no gênero
masculino. Os consumidores do sexo masculino são computados pelo intercepto da equação.
ix) Proxy para expectativas racionais: busca-se identificar se os consumidores possuem
informações reais referentes ao mercado e de que forma essa variável afeta o comportamento
desses. Para mensurar o nível de conhecimento dos indivíduos sobre o mercado, utilizou-se o
questionamento sobre qual a expectativa do nível dos preços para os próximos 6 a 12 meses.
Adotou-se a margem de erro de 2,5 pontos percentuais, para mais ou para menos. Como base
para comparação, utilizou-se o valor médio da inflação7 para os 6 meses posteriores à
entrevista, o que ocasionou redução da amostra para 705 observações. Assim, as respostas
obtidas no questionamento, já considerando a margem de erro, foram comparados aos valores
da inflação para o período correspondente. Desse modo, os indivíduos que acertaram a
inflação para os 6 meses subsequentes foram considerados detentores de conhecimento no
mercado e assumiram valores igual a 1, caso contrário assumiram valor igual a 0. Essa
variável é importante para aplicação da economia comportamental, uma vez que pode ser o
principal ponto de divergência entre esta e a teoria neoclássica. Assim, objetiva-se conhecer o
impacto dessa variável, caso o impacto seja positivo a variável ratificará o exposto pela teoria
neoclássica, pois dado o conhecimento dos indivíduos sobre o aumento dos preços, espera-se
que estes antecipem seu consumo, ainda mais se tratando de produtos com valor elevado. Por
7 Utilizou-se os valores fornecidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE.
49
outro lado, se o impacto for negativo a economia comportamental será representada, pois
nessa o consumo é impulsionado justamente pela falta de racionalidade.
x) Situação financeira atual: identifica-se qual a percepção dos consumidores
chapecoenses frente à sua situação financeira no momento da realização da entrevista. A
variável demonstra se os consumidores consideram que estão em uma situação melhor, pior
ou igual há um ano, sendo que se a resposta for positiva considera que estão mais propensos
ao consumo e em caso negativo, menos. Além disso, acredita-se que o impacto na intenção de
consumo exercido por essa variável seja positivo, pois com uma situação financeira melhor no
presente, comparativamente ao passado os consumidores podem prospectar um novo padrão
de consumo.
xi) Situação financeira em um ano: esta variável avalia a expectativa de consumo para o
próximo ano e identifica possíveis antecipações de demanda com a compra de bens duráveis,
adquiridos por intermédio de dívidas de longo prazo, relacionadas às expectativas de se
conseguir cumprir os contratos firmados. Como a variável imediatamente anterior, a
expectativa de melhoria financeira no futuro sugere incremento na renda além de fazer com
que os consumidores sintam-se mais confiantes com o futuro. Desse modo, acredita-se em um
impacto positivo no consumo, este que pode ser gerado via compras parceladas em longo
prazo, pois para o indivíduo sua situação irá melhorar ainda mais.
xii) Inflação: procura-se identificar qual a perspectiva dos chapecoenses frente ao
aumento generalizado e contínuo do nível de preços. As respostas variam entre maiores,
menores ou iguais, sendo que quando há expectativa de que, futuramente eles sejam maiores
pode-se consumir menos ou antecipar o consumo. No caso dessa variável, os resultados
também são medidos por meio de variável dummies e não há sinal esperado para a mesma,
uma vez que objetiva-se conhecer o impacto dela.
xiii) Casa própria: com a identificação de que o indivíduo possui casa própria, infere-se
que ele não possui despesas com aluguel, o que resulta em maior parcela da renda disponível
para consumo. Para tanto, a medida se dá por meio da utilização de uma variável dummy.
Espera-se, um impacto positivo desta variável sobre o consumo.
xiv) Intenção de adquirir crédito: a expectativa de adquirir crédito revela um possível
aumento na demanda, ocasionado pelo recurso extra. Essa hipótese contribui com a teoria
neoclássica e com a economia comportamental no que se refere ao aumento na renda. Porém,
pode contribuir ainda mais com a segunda teoria, em comparação à primeira, caso incorra em
pagamento de altas taxas de juro para realizar o consumo ao ponto da satisfação do
50
consumidor não ser maximizada, o que demonstraria falta de racionalidade por parte dos
consumidores. Mesmo assim, o impacto no consumo deve ser positivo.
xv) Valor do endividamento: caso os consumidores estejam endividados, busca-se saber
qual o valor comprometido com essa obrigação, uma vez que quanto maior o endividamento
menos renda estará à disposição para consumo. Com o endividamento dos consumidores,
espera-se que essa variável impacte negativamente a intenção de consumo, pois o indivíduo
endividado, pode já ter realizado a compra de um bem durável e estar pagando o mesmo e,
ainda, a obrigação pode salientar a insatisfação com obrigações mensais, representando assim
os fatores psicológicos descritos pela economia comportamental.
xvi) Datas especiais: em função da sazonalidade do comércio, são utilizadas variáveis
dummies para representar os períodos de maior consumo. Incluem-se nessas datas: Páscoa,
Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia das Crianças e Natal, por serem as datas em que o
consumo dos indivíduos concentra-se acima da média.
xvii) Situação econômica do país em um ano: identifica-se a expectativa dos
consumidores quanto a situação econômica do país para o próximo ano. Essa variável capta
mais as propostas da economia comportamental, pois comporta variáveis do ambiente em que
os consumidores estão inseridos e de que modo suas expectativas são criadas a partir de sua
percepção acerca deste ambiente. Para esse caso, utiliza-se uma variável dummy que capta a
melhoria econômica do país como um todo para o próximo ano e, obviamente, espera-se um
impacto positivo no consumo.
xviii) Situação econômica do país em cinco anos: identifica-se a expectativa dos
consumidores quanto a situação econômica do país para os próximos cinco anos. Do mesmo
modo que a variável anterior, nessa são considerados aspectos da economia comportamental e
busca-se medir o impacto da positividade dos consumidores a partir da variável dummy.
Assim, nessa também, espera-se que o impacto seja positivo na probabilidade de consumo.
O resumo das variáveis estabelecidas para análise e o impacto que cada uma deve
exercer sobre o consumo pode ser visualizado no Quadro 2.
51
Quadro 2: Sinais esperados das variáveis explicativas
VARIÁVEIS SINAL
Situação financeira atual +
Situação financeira em um ano +
Expectativas racionais Não há sinal esperado
Preços maiores Não há sinal esperado
Intenção de adquirir crédito +
Renda +
Casa própria +
Casado/União Estável -
Solteiro +
Escolaridade 8 a 11 anos -
Escolaridade 11 a 15 anos +
Escolaridade mais de 15 anos +
Renda fixa -
Renda variável -
Renda diversificada -
Datas especiais +
Gênero feminino +
Idade Não há sinal esperado
Número de filhos -
Valor do endividamento -
Expectativa do país em 1 ano +
Expectativa do país em 5 anos +
Fonte: Elaboração própria
Dessa forma, após elencadas as variáveis a serem analisadas, pode-se definir a forma
de operacionalização da pesquisa, ou seja, o modo como essas são organizadas e tratadas a
fim de fornecer informações que possam responder ao problema de pesquisa.
52
3.3 FORMAS DE OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA
Na análise dos dados, valeu-se do software estatístico SPSS, através da licença da
Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Unochapecó, para tabulá-los, e do
software Eviews, versão de estudantes, para estimação do modelo. Sobre a regressão
utilizada, ressalta-se que se utilizou um modelo no qual a variável dependente é binária.
Assume-se, assim, valor igual a 1 caso o indivíduo possua determinada característica e 0 caso
não possua. Esses modelos são adequados em função do objetivo da pesquisa ser identificar o
quanto cada variável selecionada afeta a intenção de consumo dos chapecoenses. Além disso,
esses modelos podem ser considerados úteis em qualquer problema econômico em que o
agente deva escolher entre duas alternativas (HILL; JUDGE; GRIFITHS, 2010, p.426-427).
Entre os modelos probabilísticos com variáveis dependentes binárias podem-se citar
três abordagens: modelo de probabilidade linear, modelo probit e modelo logit. Modelos de
escolha discreta possuem em comum a característica da heterocedasticidade, em função das
respostas variarem entre 0 e 1, o que acarreta na falta de variância constante entre os
regressores. Conforme Gujarati (2006, p.316), a presença de heterocedasticidade é mais
comum nos dados de corte transversal do que nas séries temporais, isso porque, no primeiro
caso, normalmente, trate-se de dados individuais que apresentam características diferentes.
Os modelos de probabilidade linear são estimados por meio de mínimos quadrados
ordinários, porém com a variável dependente variando entre 0 e 1. Porém esses modelos
apresentam alguns problemas: os valores estimados apresentam valores inferiores a 0 e
superiores a 1, o que ocasiona a impossibilidade de se definir a probabilidade do evento
ocorrer, pois na teoria das probabilidades não existe chance superior a 100% ou inferior a zero
de algum evento ocorrer; ausência de normalidade nos termos de erro (𝑢𝑖);
heterocedasticidade dos termos de erro (𝑢𝑖); e, geralmente apresentam valores muito baixos
para o R². De acordo com Gujarati (2006, p.170) R² mede a qualidade do ajuste da equação de
regressão, ou seja, mostra a proporção ou percentual da variação da variável dependente que é
explicada pela variável explanatória. Desse modo, esses modelos não são atrativos do ponto
de vista lógico, pois pressupõem que o efeito marginal ou incremental de X permanece
constante (GUJARATI, 2006, p.469-474).
Em função da restrição imposta por modelos de probabilidade linear, a opção
escolhida no presente trabalho foi a utilização de modelos não lineares projetados
especificamente para variáveis dependentes binárias, como, por exemplo, os modelos de
regressão probit e logit (STOCK; WATSON, 2004, p.206). O modelo probit é considerado
53
um modelo de estimação que emerge da função de distribuição acumulada normal
(GUJARATI, 2006, p.490). Hill, Judge e Grifiths (2010) sugerem que para manter a
probabilidade no espaço entre 0 e 1 pode-se utilizar uma relação em forma de S entre as
variáveis explicativas e a variável explicada. Isso é possível, pois, à medida que x cresce, a
curva de probabilidade cresce rapidamente no início e depois passar a crescer a taxas
decrescentes. Portanto, os modelos probit fornecem a probabilidade de um determinado
evento ocorrer. A Figura 6 apresenta a função probit.
Figura 6: Função probit
Fonte: Elaboração própria com base em Gujarati (2006, p.496)
A inclinação, ou coeficiente angular, da curva fornece a mudança na probabilidade
para a variação de uma unidade em 𝑥.
Porém, para a operacionalização da presente pesquisa, utiliza-se uma regressão
logística, que tem como finalidade, assim como todos os modelos de regressão, descrever a
relação entre uma variável resposta e uma ou mais variáveis explicativas independentes. Em
função da variável dependente do modelo ser dicotômica, ou seja, assumir apenas os valores 0
ou 1, a análise econométrica do presente trabalho pode ser definida como um modelo de
escolha discreta.
54
O modelo de regressão logit, é um modelo não-linear e assume uma função de
distribuição acumulada logística padrão, representada por F (STOCK; WATSON, 2004,
p.209). A equação deste modelo, conforme Gujarati (2006, p.481), pode ser exposta por:
𝑃𝑖 =1
1+ 𝑒−𝑍𝑖 = 𝑒𝑧
1+ 𝑒𝑧 (3.3)
Na equação acima, 𝑍𝑖= 𝛽1+𝛽2𝑋𝑖, onde os betas (𝛽) são os parâmetros da equação,
enquanto 𝑋𝑖 representa o vetor de variáveis explicativas padrão. De acordo com Gujarati
(2006, p.481), é fácil verificar que, como 𝑍𝑖 varia entre -∞ e +∞, 𝑃𝑖 varia entre 0 e 1 e se
relaciona com 𝑍𝑖 (isto é, 𝑋𝑖) de modo não linear, atendendo as exigências de que a medida
que as variáveis explicativas aumentam a variável explicada aumenta também, embora se
mantenha na faixa entre 0 e 1; e de que a relação entre as duas categorias de variáveis seja não
linear. Porém, ao resolver essas exigências incorre-se em um problema de estimação porque
𝑃𝑖 é não linear não apenas em 𝑋, mas também nos β, o que faz com que a estimação por MQO
gere estimadores não confiáveis.
Para tanto, faz-se necessária a linearização da equação. Se 𝑃𝑖, probabilidade de o
evento ocorrer, é dada pela Equação 3.3, logo (1-𝑃𝑖), a probabilidade do evento não ocorrer é:
1 − 𝑃𝑖 = 1
1+ 𝑒𝑍𝑖 (3.4)
Podendo ser reescrita da seguinte forma:
𝑃𝑖
1− 𝑃𝑖=
1+ 𝑒𝑍𝑖
1+ 𝑒−𝑍𝑖 =𝑒𝑍𝑖 (3.5)
Se o logaritmo natural for aplicado à Equação 3.5, obtém-se a linearização:
𝐿𝑖 = ln (𝑃𝑖
1−𝑃𝑖) = 𝑍𝑖 (3.6)
Portanto, L, conforme Gujarati (2006, p.482), o logaritmo da razão das chances não é
somente linear em 𝑋, mas também é linear nos parâmetros. Dessa forma, 𝐿 é denominado o
logit e, consequentemente, os modelos são denominados de modelos logit. Em função dos
dados serem referentes a famílias individuais, a estimativa por meio de MQO é inviável, o que
55
implica na utilização do método da máxima verossimilhança (MV) para estimar os
parâmetros. A aplicação de modelos logit fornece o efeito marginal da probabilidade de que
determinado evento ocorra. A função logit pode ser visualizada na Figura 7:
Figura 7: Função logística
Fonte: Elaboração própria com base em Wooldridge (2006, p.519)
Cabe ainda ressaltar que o modelo logit, de acordo com Gujarati (2006, p.482), possui
algumas características próprias, a saber:
1 – Quando 𝑃 passa de 0 a 1, o logit varia de - ∞ para +∞.
2 – Mesmo 𝐿 sendo linear em 𝑋, as probabilidades do modelo não o são, contrastando o
exposto no modelo linear.
3 – Apesar de haver apenas uma variável 𝑋 inclusa no modelo, podem-se incluir quantos
regressores forem necessários.
4 – Se 𝐿 é positivo, significa que, quando o valor de um ou mais regressores aumenta, as
chances de que o regressando seja igual a 1 aumenta. Porém, se 𝐿 for negativo, as chances do
regressando ser igual a 1 diminui a medida que aumenta o valor de 𝑋.
56
5 – Sobre a interpretação do modelo logit 3.6, pode-se dizer que β2 mede a variação de 𝐿 em
resposta a uma unidade de variação em 𝑋. O intercepto β1 é o valor do logaritmo das chances
favoráveis que determinado evento ocorra.
6 – A partir de um nível de renda, poder-se-ia estimar não as chances de que determinado
evento ocorra, mas sim, a probabilidade do mesmo existir.
7 – O modelo logit pressupõe que o logaritmo da razão de chances se relaciona linearmente
tanto com 𝑋𝑖 como com 𝑃𝑖 .
Além disso, os valores fornecidos pelos coeficientes após a estimação do modelo não
possuem muito significado e demandam um novo cálculo capaz de fornecer o efeito marginal
da probabilidade de cada variável. Castelar et al. (2007, p.16) utilizam a fórmula abaixo para
cálculo do efeito marginal, em que o produto 𝑥′𝛽 representa o vetor de coeficientes
multiplicado por um vetor que apresenta valores para as variáveis independentes. No presente
trabalho utiliza-se a média de cada variável.
𝑒𝑥′𝛽
1 + 𝑒𝑥′𝛽(1 −
𝑒𝑥′𝛽
1 + 𝑒𝑥′𝛽) 𝛽 (3.7)
Para interpretar os resultados obtidos após a estimação dos modelos, Wooldridge
(2006, p.523-524) ressalta que todos programas econométricos fornecem os coeficientes com
os sinais de efeito das variáveis e a significância estatística. Como medida do grau de ajuste
pode-se utilizar a percentagem corretamente prevista, esse é calculado de forma que quando a
probabilidade estimada de y for superior a 0,5 (𝑦1> 0,5) o mesmo assuma valor igual a 1, e
quando for inferior (𝑦1< 0,5) assuma valor igual a 0. Assim, a percentagem de vezes que y
previsto for igual o verdadeiro, que se sabe que é 0 ou 1, pode ser considerada a percentagem
corretamente prevista do modelo. Além disso, a estatística t e o valor p também são utilizados
para avaliar a significância estatística do modelo. O valor p sugere que para os níveis de 90%,
95% e 99% esse deve ser inferior a 0,10, 0,05 e 0,01, respectivamente, para apresentar
significância estatística (REIS, 2014).
3.3.1 O modelo econométrico
A partir da descrição das variáveis e do modelo de regressão logit, a opção escolhida,
neste trabalho, foi elaborar dois modelos - um modelo geral e outro capaz de captar o efeito
das expectativas racionais dos consumidores. A inclusão da proxy para expectativas racionais
57
tem como objetivo analisar a proposta da economia comportamental que retrata os indivíduos
como não sendo racionais o tempo todo, assim, procura-se identificar se o fato de possuir
expectativas racionais afeta o consumo dos chapecoenses. Com a separação dos modelos, se
busca analisar se as expectativas racionais dos indivíduos impactam na intenção de consumo,
ou seja, se a economia comportamental pode ser descrita na prática, uma vez que essa é a
principal diferença entre as teorias. Os modelos estimados são cross section, no qual,
conforme Gujarati (2006, p.21), os dados disponíveis para análise são coletados no mesmo
ponto do tempo. Ambos os modelos são apresentados a seguir:
3.3.1.1 Modelo Geral
O objetivo do modelo geral é mensurar como a variação nas características individuais
dos consumidores chapecoenses afeta a sua probabilidade de consumo. Para tanto, baseado na
literatura econômica neoclássica e comportamental, elegeram-se algumas variáveis para
compor um modelo básico, sendo elas: a percepção do consumidor de que está em uma
condição financeira melhor do que há um ano, expectativa de um futuro melhor, expectativa
de inflação, intenção de adquirir crédito, logarítmo da renda, casa própria, estado civil, nível
de escolaridade, aplicação financeira, datas especiais medindo a sazonalidade do comércio,
gênero, idade, número de filhos, endividamento, expectativa perante a situação econômica do
país para o próximo ano e para os próximos cinco anos. Desse modo, após inclusão de todas
as variáveis, se obteve 12 modelos distintos.
O modelo é constituído da seguinte forma:
𝑌 = ƒ(𝛽1 + 𝛽2𝑋2𝑖𝑡 + 𝛽3𝑋3𝑖𝑡
+ 𝛽4𝑋4𝑖𝑡 + 𝛽5𝑋5𝑖𝑡
+ 𝛽6𝑋6𝑖𝑡 + X𝑖𝑡 + 𝑢𝑡 ) (3.8)
Na equação acima, estão descritas as variáveis base do modelo geral, sendo elas: estar
em uma condição financeira melhor agora do que um ano atrás (𝛽2𝑋2𝑖𝑡 ), expectativa de
futuro melhor (𝛽3𝑋3𝑖𝑡 ), expectativa de inflação ( 𝛽4𝑋4𝑖𝑡
), intenção de adquirir crédito
(𝛽5𝑋5𝑖𝑡 ) e renda (𝛽6𝑋6𝑖𝑡
). Além disso, a equação apresenta o termo X𝑖𝑡 contempla as demais
variáveis de controle individual, a saber: casa própria, estado civil, escolaridade, aplicações
financeiras, datas especiais, gênero, idade, número de filhos, endividamento, expectativa para
o país no próximo ano e próximos cinco anos. Além das variáveis dependentes e
independentes já citadas, o modelo conta ainda com o parâmetro 𝛽1 que representa o
58
intercepto do modelo. O parâmetro 𝛽1 representa ainda a base para interpretação das variáveis
dummies, ou seja, a categoria não para cada dummy inclusa no modelo. Por fim, o modelo
ainda apresenta a variável 𝑢𝑡, com o intuito de representar o erro da equação, ou seja, todas as
variáveis omitidas no modelo, porém, que afetam 𝑌. No próximo tópico é apresentado o
modelo que inclui as expectativas racionais.
3.3.1.2 Modelo com expectativas racionais
Conforme apresentado pela economia comportamental, o principal ponto
complementar à teoria neoclássica consiste no fato de que os consumidores nem sempre são
racionais. Com o intuito de captar se o fato de possuir informações do mercado, aqui
denominado como expectativas racionais, impacta a intenção de consumo dos chapecoenses,
optou-se por realizar os mesmos procedimentos do modelo geral, porém, substituindo, a
variável “preços_maiores” - que mede, naquele modelo, a expectativa de inflação - pela proxy
de expectativas racionais, que mensura o real conhecimento da inflação pelos indivíduos.
Conforme descrito anteriormente, em função dos dados serem de apenas 4 meses se obteve
705 observações, número inferior ao do modelo geral.
O objetivo do modelo com expectativas racionais continua sendo mensurar a
probabilidade de cada variável independente explicar a intenção de consumo dos
chapecoenses. Porém, como variáveis independentes básicas, têm-se a percepção do
consumidor de que está em uma condição financeira melhor do que a um ano atrás, a
expectativa de um futuro melhor, as expectativas racionais, a intenção de adquirir crédito e o
logarítmo da renda. Posteriormente, de maneira sequencial, assim como no modelo geral,
foram acrescentadas demais variáveis independentes. Após inclusão de todas as variáveis,
obteve-se 12 modelos distintos.
O modelo será constituído da seguinte forma:
𝑌 = ƒ(𝛽1 + 𝛽2𝑋2𝑖𝑡 + 𝛽3𝑋3𝑖𝑡
+ 𝛽4𝑋4𝑖𝑡 + 𝛽5𝑋5𝑖𝑡
+ 𝛽6𝑋6𝑖𝑡 + X𝑖𝑡 + 𝑢𝑡 ) (3.9)
Similarmente ao modelo 3.8, estão descritas as variáveis base do modelo geral, que
são: estar em uma condição financeira melhor agora do que um ano atrás (𝛽2𝑋2𝑖𝑡 ),
expectativa de futuro melhor (𝛽3𝑋3𝑖𝑡 ), expectativas racionais ( 𝛽4𝑋4𝑖𝑡
), intenção de adquirir
crédito (𝛽5𝑋5𝑖𝑡 ) e renda (𝛽6𝑋6𝑖𝑡
). Além disso, a equação apresenta o termo X𝑖𝑡 que considera
59
as demais variáveis de controle individual, a saber: casa própria, estado civil, escolaridade,
aplicações financeiras, datas especiais, gênero, idade, número de filhos, endividamento,
expectativa para o país no próximo ano e próximos cinco anos. Além das variáveis
dependentes e independentes já citadas, o modelo conta ainda com o parâmetro 𝛽1 que
representa o intercepto do modelo. O parâmetro 𝛽1 expressa o valor base das dummies,
quando essas estão incluídas. Por fim, o modelo ainda apresenta a variável 𝑢𝑡, com o objetivo
de representar o erro da equação, ou seja, todas as variáveis omitidas no modelo, porém, que
afetam 𝑌.
60
4 RESULTADOS
Para análise do perfil de consumo dos chapecoenses e identificação de quais
características individuais que determinam seu consumo, utilizaram-se as variáveis sugeridas
pelo referencial teórico e disponíveis no banco de dados. Aplicou-se o modelo de regressão
não-linear logit e os resultados provenientes da estimação dos modelos são apresentadosna
sequência.
Os resultados apresentados na Tabela 1 se referem aos 12 modelos estimados. As três
primeiras linhas da Tabela 1 apresentam as porcentagens em que cada modelo foi estimado
corretamente. A primeira linha contém valores de 𝒀 = 𝟎 expressam a porcentagem das vezes
em que o modelo previu corretamente que o indivíduo não tem intenção de consumo.
Percebe-se que à medida que as variáveis covariadas foram incluídas o modelo registrou
menor acerto de que o indivíduo não consumiria no mês de referência.
Já na segunda linha, tem-se os valores de 𝒀 = 𝟏, ou seja, a porcentagem das vezes que
o modelo previu corretamente que o indivíduo possui intenção de consumo. Assim, os acertos
do modelo para respostas positivas a intenção de consumo aumentam à medida que os
controles são incluídos.
A terceira linha apresenta o quanto, em média, o modelo previu corretamente as
respostas dos indivíduos. Ou seja, aproximadamente em 60% dos casos o modelo previu
corretamente as respostas, sendo esse um resultado satisfatório uma vez que em modelos de
cross section o ajuste tende a ser baixo. Conclui-se assim, que em termos médios, a inclusão
das variáveis covariadas melhorou significativamente a previsão de consumo.
61
Tabela 1:Resultados logit para o modelo geral (modelos 1 – 6)
MODELO 1 MODELO 2 MODELO 3 MODELO 4 MODELO 5 MODELO 6
Y=0 93,83% 93,77% 92,99% 93.64% 87.4% 87.28%
Y=1 10,75% 10,84% 11,89% 11.89% 20.72% 20.45%
TOTAL 58,63% 58,63% 58,63% 59% 59.15% 58.96%
CONSTANTE -0.3037 -0.3036 -0.4408 -0.4307 -0.4042 -0.3978
(-0.4685) (0.4687) (0.2980) (0.3271) (0.3586) (0.3673)
MELHOR AGORA 0.4064 0.4067 0.3974 0.361 0.4217 0.4219
(0,000) (0.0000) (0.0000) (0.0000) (0.0000) (0.0000)
FUTURO MELHOR 0.2457 0.2457 0.2349 0.2365 0.2406 0.2415
(0.0096) (0.0096) (0.0135) (0.0131) (0.0116) (0.0114)
PREÇOS MAIORES -0.0044 -0.0047 -0.0044 -0.0046 -0.0044 -0.0044
(0.0062) (0.0124) (0.0254) (0.0217) (0.0162) (0.0160)
CRÉDITO 0.2232 0.2228 0.2258 0.2272 0.2281 0.2280
(0.0412) (0.0416) (0.0387) (0.0379) (0.0368) (0.0368)
LOG RENDA -0.0638 -0.0638 -0.0427 -0.0430 -0.0358 -0.0351
(0.2660) (0.2654) (0.4635) (0.4695) (0.5487) (0.5575)
CASA PRÓPRIA
0.0003 0.0000 0.0001 0.0001 0.0000
(0.7448) (0.9834) (0.9594) (0.9625) (0.9677)
CASADO/UNIÃO
-0.0726 -0.0742 -0.0783 -0.0779
(0.0813) (0.0828) (0.0681) (0.0698)
SOLTEIRO
0.0734 0.0748 0.0790 0.0785
(0.0781) (0.0803) (0.0658) (0.0675)
ESCOLARIDADE 8-11
ANOS
-0.0122 -0.0189 -0.0197
(0.8625) (0.7900) (0.7815)
ESCOLARIDADE 11-15
ANOS
-0.0216 -0.0196 -0.0191
(0.7683) (0.7897) (0.7948)
ESCOLARIDADE MAIS 15
ANOS
0.0354 0.0400 0.0403
(0.7412) (0.7097) (0.7077)
RENDA FIXA
-0.2059 -0.2052
(0.0105) (0.0108)
RENDA VARIÁVEL
0.2264 0.2246
(0.6958) (0.6972)
RENDA DIVERSIFICADA
-0.0202 -0.0191
(0.9727) (0.9741)
DATAS ESPECIAIS
-0.0348
(0.6741)
Fonte: Elaboração própria (2014)
Para a análise do nível de significância estatística de cada variável, optou-se por
utilizar o valor-p, entre parênteses na Tabela 1. As variáveis que demonstraram ser
estatisticamente significativas para o modelo geral a um nível de 90% de significância são:
casado ou união estável, solteiro, valor do endividamento. Para o nível de 95% de
62
significância, tem-se apenas a intenção de adquirir crédito até o 11º modelo e a expectativa
de preços maiores nos modelos 3 e 4. Por fim, com maior rigorosidade estatística, variáveis
significativas a 99%, são situação financeira melhor agora, expectativa de situação
financeira melhor no futuro, expectativa de preços maiores, nos modelos 1,2, e 5, além de
possuir aplicação financeira em renda fixa e ter expectativas positivas para economia do país
no próximo ano.
Por outro lado, as variáveis que demonstraram não ser estatisticamente significativas,
em nenhum dos níveis, são: renda, casa própria, escolaridade em todos os níveis, aplicações
em renda fixa e renda diversificada e datas especiais. A Tabela 2 apresenta os valores
encontrados para os modelos 7 a 12.
63
Tabela 2: Resultados logit para o modelo geral (modelo 7 – 12)
MODELO 7 MODELO 8 MODELO 9 MODELO 10 MODELO
11
MODELO
12
Y=0 87.28% 87.15% 87.15% 87.6% 86.34% 86.40%
Y=1 20.37% 20.45% 20.63% 20.37% 23.27% 23.35%
TOTAL 58.93% 58.89% 58.96% 59.11% 59.64% 59.72%
CONSTANTE -0.3958 -0.4042 -0.4066 -0.3849 -0.4178 -0.4198
(0.3699) (0.3618) (0.3589) (0.3856) (0.3516) (0.3498)
MELHOR AGORA 0.4218 0.4230 0.4223 0.4232 0.4084 0.4081
(0.0000) (0.0000) (0.0000) (0.0000) (0.0000) (0.0000)
FUTURO MELHOR 0.2390 0.2393 0.2403 0.2444 0.2334 0.2330
(0.0123) (0.0122) (0.0119) (0.0106) (0.0152) (0.0156)
PREÇOS MAIORES -0.0046 -0.0047 -0.0047 -0.0047 -0.0044 -0.0044
(0.0129) (0.0125) (0.0121) (0.0120) (0.0159) (0.0160)
CRÉDITO 0.2266 0.2269 0.2276 0.2239 0.2048 0.2044
(0.0381) (0.0379) (0.0374) (0.0407) (0.0622) (0.0632)
LOG RENDA -0.0353 -0.0354 -0.0353 -0.0412 -0.0470 -0.0469
(0.5551) (0.5534) (0.5554) (0.4918) (0.4377) (0.4384)
CASA PRÓPRIA -0.0002 -0.0002 -0.0002 -0.0002 -0.0003 -0.0003
(0.8887) (0.9002) (0.8935) (0.8946) (0.8218) (0.8231)
CASADO/UNIÃO -0.0776 -0.0788 -0.0778 -0.0766 -0.0736 -0.0737
(0.0706) (0.0682) (0.0722) (0.0769) (0.0909) (0.0906)
SOLTEIRO 0.0780 0.0792 0.0782 0.0770 0.0739 0.0741
(0.0692) (0.0670) (0.0711) (0.0757) (0.0895) (0.0892)
ESCOLARIDADE 8-11
ANOS -0.0215 -0.0211 -0.0216 -0.0224 -0.0266 -0.0267
(0.7616) (0.7659) (0.7611) (0.7520) (0.7096) (0.7088)
ESCOLARIDADE 11-15
ANOS -0.0179 -0.0167 -0.0180 -0.0195 -0.0026 -0.0026
(0.8073) (0.8210) (0.8071) (0.7921) (0.9715) (0.9716)
ESCOLARIDADE MAIS 15
ANOS 0.0410 0.0393 0.0411 0.0434 0.0307 0.0307
(0.7027) (0.7146) (0.7026) (0.6867) (0.7765) (0.7760)
RENDA FIXA -0.2050 -0.2048 -0.2051 -0.2044 -0.2068 -0.2068
(0.0109) (0.0110) (0.0109) (0.0112) (0.0106) (0.0106)
RENDA VARIÁVEL 0.2272 0.2264 0.2290 0.1015 0.0724 0.0729
(0.6940) (0.6949) (0.6916) (0.8650) (0.9019) (0.9012)
RENDA DIVERSIFICADA -0.0222 -0.0216 -0.0238 0.1030 0.1345 0.1341
(0.9700) (0.9707) (0.9677) (0.8654) (0.8220) (0.8227)
DATAS ESPECIAIS -0.0334 -0.0334 -0.0341 -0.0381 -0.0740 -0.0739
(0.6873) (0.6867) (0.6808) (0.6459) (0.3772) (0.3773)
FEMININO 0.0005 0.0005 0.0005 0.0005 0.0005 0.0005
(0.4215) (0.4318) (0.4494) (0.4573) (0.4254) (0.4287)
IDADE 0.0002 0.0002 0.0002 0.0001 0.0001
(0.8304) (0.8526) (0.8518) (0.8902) (0.8895)
NÚMERO FILHOS 0.0001 0.0001 0.0000 0.0000
(0.7256) (0.7208) (0.8773) (0.8895)
VALOR
ENDIVIDAMENTO 0.0000 0.0000 0.0000
64
(0.0620) (0.0732) (0.0731)
EXPECTATIVA PAÍS (1) 0.2735 0.2707
(0.0009) (0.0024)
EXPECTATIVA PAÍS (5) 0.0074
(0.9332)
Fonte: Elaboração própria (2014)
Quanto aos modelos seguintes, que corresponde do 7º até o 12º modelo, as variáveis
estatisticamente significativas ao nível de 90%, são: casado/união estável, solteiro, valor do
endividamento e ter a intenção de adquirir crédito, mas apenas a partir do 11º modelo. Para o
nível de 95% de significância, tem-se apenas a intenção de adquirir crédito até o 11º modelo.
Por fim, com maior rigorosidade, as variáveis significativas a 99% são situação financeira
melhor agora, expectativa de situação financeira melhor no futuro, expectativa de preços
maiores, aplicação financeira em renda fixa e ter expectativas positivas para economia do
país no próximo ano.
Sobre as variáveis que não são significativas para o modelo, em nenhum dos níveis,
são: renda, casa própria, escolaridade em todos os níveis, aplicações em renda fixa e renda
diversificada, datas especiais, ser do gênero feminino, ter filhos menores de 18 anos e possuir
expectativa positiva frente à situação econômica do país para os próximos cinco anos.
Como os resultados fornecidos pelos softwares estatísticos para modelos logit não
apresentam coeficientes interpretáveis, faz-se necessário o cálculo do efeito marginal de cada
variável, conforme a equação 3.7. A Tabela 3 apresenta os valores marginais de cada variável,
do modelo 1 ao 6.
65
Tabela 3: Efeitos marginais para o modelo geral (modelos 1- 6)
VARIÁVEIS
MODELO
1
MODELO
2
MODELO
3
MODELO
4
MODELO
5
MODELO
6
CONSTANTE -0,0759 -0,0759 -0,1102 -0,1077 -0,1011 -0,0995
MELHOR AGORA 0,0997 0,0998 0,0976 0,0973 0,1033 0,1034
FUTURO MELHOR 0,0609 0,0609 0,0582 0,0586 0,0596 0,0598
PREÇOS MAIORES -0,0011 -0,0012 -0,0011 -0,0011 -0,0011 -0,0011
CRÉDITO 0,0558 0,0557 0,0564 0,0568 0,0570 0,0570
LOG RENDA -0,0151 -0,0151 -0,0104 -0,0105 -0,0088 -0,0086
CASA PRÓPRIA
0,0001 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
CASADO/UNIÃO
-0,0182 -0,0185 -0,0196 -0,0195
SOLTEIRO
0,0183 0,0187 0,0197 0,0196
ESCOLARIDADE 8-11 ANOS
-0,0031 -0,0047 -0,0049
ESCOLARIDADE 11-15 ANOS
-0,0054 -0,0049 -0,0048
ESCOLARIDADE MAIS 15 ANOS
0,0088 0,0100 0,0101
RENDA FIXA
-0,0513 -0,0512
RENDA VARIÁVEL
0,0566 0,0561
RENDA DIVERSIFICADA
-0,0050 -0,0048
DATAS ESPECIAIS
-0,0087
Fonte: Elaboração própria (2014)
Dentre as variáveis que não possuem significância estatística nos modelos descritos,
esperava-se que variáveis como a renda, possuir casa própria, possuir mais de 11 anos de
escolaridade e datas especiais fossem apresentar sinal positivo. Destas, que não foram
estatisticamente significativas, corresponderam às expectativas apenas as seguintes variáveis:
ter de 11 a 15 anos de estudo, renda diversificada, ser do gênero feminino e a expectativa
positiva da situação econômica do país para os próximos 5 anos.
66
Tabela 4: Efeitos marginais para o modelo geral (modelos 7-12)
VARIÁVEIS MODELO
7
MODELO
8
MODELO
9
MODELO
10
MODELO
11
MODELO
12
CONSTANTE -0,0990 -0,1010 -0,1016 -0,0962 -0,1044 -0,1050
MELHOR AGORA 0,1034 0,1036 0,1035 0,1037 0,1002 0,1020
FUTURO MELHOR 0,0593 0,0593 0,0596 0,0606 0,0579 0,0583
PREÇOS MAIORES -0,0012 -0,0012 -0,0012 -0,0012 -0,0011 -0,0011
CRÉDITO 0,0566 0,0567 0,0569 0,0559 0,0512 0,0511
LOG RENDA -0,0087 -0,0087 -0,0087 -0,0101 -0,0114 -0,0117
CASA PRÓPRIA 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 -0,0001 -0,0001
CASADO/UNIÃO -0,0194 -0,0197 -0,0195 -0,0192 -0,0184 -0,0184
SOLTEIRO 0,0195 0,0198 0,0195 0,0192 0,0185 0,0185
ESCOLARIDADE 8-11 ANOS -0,0054 -0,0053 -0,0054 -0,0056 -0,0066 -0,0067
ESCOLARIDADE 11-15 ANOS -0,0045 -0,0042 -0,0045 -0,0049 -0,0007 -0,0007
ESCOLARIDADE MAIS 15 ANOS 0,0102 0,0098 0,0103 0,0109 0,0077 0,0077
RENDA FIXA -0,0511 -0,0510 -0,0511 -0,0509 -0,0515 -0,0517
RENDA VARIÁVEL 0,0568 0,0566 0,0572 0,0254 0,0181 0,0182
RENDA DIVERSIFICADA -0,0055 -0,0054 -0,0060 0,0257 0,0336 0,0335
DATAS ESPECIAIS -0,0083 -0,0084 -0,0085 -0,0095 -0,0185 -0,0185
FEMININO 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001 0,0001
IDADE 0,0001 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
NÚMERO FILHOS 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
VALOR ENDIVIDAMENTO 0,0000 0,0000 0,0000
EXPECTATIVA PAÍS (1) 0,0681 0,0677
EXPECTATIVA PAÍS (5) 0,0018
Fonte: Elaboração própria (2014)
Ainda entre as variáveis que não possuem significância estatística para os modelos 7 a
12, esperava-se que a renda, possuir casa própria, possuir mais de 11 anos de escolaridade,
datas especiais, ser do gênero feminino e possuir expectativa positiva para os próximos cinco
anos com relação ao país fossem apresentar sinal positivo. Destas, corresponderam as
expectativas apenas: possuir casa própria até o 10º modelo, ter de 11 a 15 anos de estudo, ser
do gênero feminino e a expectativa positiva da situação econômica do país para os próximos 5
anos. A variável idade, que não possuía sinal esperado, mostrou não exercer impacto sobre a
intenção de consumo.
Entre as variáveis listadas acima que demonstraram não ser significativas aos modelos
estabelecidos, percebe-se que o log da renda apresenta sinal negativo em todos os modelos,
porém seu comportamento é instável em todos os modelos. Isso pode ser explicado em função
da propensão marginal a consumir cair à medida que o nível da renda aumenta, como as
literaturas em economia comportamental e neoclássica apontam. Esse resultado não é gratuito,
o fato de a variável estar em nível de renda importa muito, já que o nível capta nenhum efeito
67
renda na função utilidade dos indivíduos. Para se captar tal efeito a variável teria que ser a
taxa de crescimento da renda, assim o efeito renda seria captado. Além da renda, a variável
gênero feminino também se esperava que contribuísse significativamente na explicação do
consumo dos chapecoenses, porém, como retrata a economia comportamental, as armadilhas
cognitivas, influência de amigos, propaganda, lembranças acometem, do mesmo modo,
homens e mulheres, não havendo distinção entre gêneros. Isso pode ser visualizado nos
resultados em que, mesmo não sendo significativo, o impacto é praticamente nulo.
Com base nos valores estimados do efeito marginal pode-se analisar o impacto de cada
variável na intenção de consumo. Para tanto, as considerações as seguir são realizadas para as
variáveis identificadas como estatisticamente significativas para o modelo. Apenas a variável
que mensura o impacto do endividamento não apresentou sinal compatível com o esperando,
de modo que a influência sobre a intenção de consumo é nula e o endividamento não afeta a
probabilidade do individuo consumir bens duráveis.
Sobre a expectativa de inflação, percebe-se que um aumento de 1% na expectativa de
preços maiores ocasiona uma redução de 0,11% a 0,12% na probabilidade de consumir,
mostrando-se praticamente constante à medida que mais variáveis são acrescentadas. Esse
resultado é contrário ao proposto pela teoria neoclássica, que parte do princípio de que os
indivíduos consideram o preço dos bens em questão e procuram consumir aqueles que lhes
proporcionam maior utilidade por um menor custo, nesse caso, se o indivíduo espera que
haverá um aumento nos preços ele tende a consumir no presente para garantir um preço
melhor. Porém, de certo modo, corrobora o ponto de vista da economia comportamental ao
ponto que traduz a não otimização dos recursos disponíveis. Além disso, esse comportamento
pode refletir a utilização da moeda como reserva de valor pelos consumidores, outro sinal que
evidencia as propostas da economia comportamental na prática, uma vez que, dada a
expectativa de inflação no futuro, o valor poupado no presente valerá menos. Isso porque,
haverá perda do poder aquisitivo dos indivíduos, se os preços aumentam é necessário maiores
valores monetários para adquirir os mesmos bens.
As demais variáveis significativas apresentaram sinal esperado. A percepção de que o
consumidor está em uma situação financeira melhor agora do que há um ano faz com que ele
aumente sua perspectiva de consumo. Desse modo, a cada aumento de 1% na percepção de
melhoria da situação financeira pessoal dos indivíduos cresce aproximadamente 10% a
probabilidade de consumo. Os valores mantêm-se com pequenas variações ao longo dos doze
modelos, o que indica que mesmo com o acréscimo de mais variáveis explicativas para a
intenção de consumo, esta variável possui um alto poder de explicação.
68
A perspectiva de melhores condições financeiras pessoais em comparação com a atual
também apresentara sinal positivo, conforme o esperado. Isto corrobora a visão de que os
consumidores que acreditam que futuramente estarão em melhor condição financeira tendem
a ampliar seu consumo presente em aproximadamente 0,7%. Essa resposta fornecida pelo
modelo explicita o que a economia comportamental e teoria neoclássica afirmam, uma vez
que estar financeiramente melhor significa ampliação da renda disponível e essa expectativa,
mesmo que para um futuro razoavelmente distante, já pode interferir no consumo imediato.
Por outro lado, a economia comportamental engloba as duas variáveis como
determinantes do ambiente em que os indivíduos estão inseridos e de como ocorre seu
posicionamento nele, de modo que, os fatores psicológicos envolvidos na percepção dos
consumidores são determinantes na decisão de consumo por parte deles. Assim, para essa
teoria, o fato do indivíduo ter a percepção de estar financeiramente melhor, mesmo que sua
renda real não tenha aumentado, faz com que ele aumente seu consumo. Logo, para economia
comportamental a renda não é a única determinante, considerando-se também que caso o
consumidor tenha a lembrança de que em períodos de situação econômica favorável do país
ele também estava em uma situação financeira boa, a expectativa de melhorias ampliará seu
consumo.
A intenção de adquirir crédito por parte dos consumidores apresenta impacto positivo
na intenção de consumo, pois se configura como um incremento na renda. Esse crédito pode
ser por meio de financiamentos bancários, compras parceladas, empréstimos, enfim, alguma
forma de ampliar a renda dos consumidores e, consequentemente, expandir seu consumo.
Assim, tudo o mais permanecendo constante, o aumento na intenção de adquirir crédito,
acarreta, em média, uma ampliação na probabilidade de consumo de quase 6%, perdendo
representatividade apenas nos últimos dois modelos, mas mesmo assim mantem-se na casa
dos 5%. Logo, essa variável confirma as propostas da economia comportamental e da teoria
neoclássica em que a renda é uma das principais determinantes do consumo. Nesse caso, a
ampliação da restrição imposta pela renda possibilita maior consumo e satisfação aos
consumidores. Assim, a aquisição de crédito que está cada vez mais facilitada pelas políticas
de crédito do governo, sejam elas empréstimo pessoal ou crédito consignado, poderiam
sugerir certa endogeneidade no modelo, isso porque a intenção de consumir explicaria a
intenção de adquirir crédito. Porém, não é isso que ocorre uma vez que nem todos que
adquirem crédito o utilizam para consumir bens duráveis e, além disso, a estabilidade do
parâmetro sugere a não existência de simultaneidade.
69
Quanto ao estado civil dos consumidores, pode-se perceber que estar casado ou em
união estável reduz a probabilidade de consumo em quase 2% em todos os modelos, por outro
lado, solteiros ampliam a probabilidade de consumo praticamente na mesma proporção. Isso
ocorre em função dos casados ou com união estável possuírem maiores obrigações com
manutenção das despesas domésticas, já possuírem maior experiência quanto a administração
da renda e, na maioria das vezes, já possuírem bens duráveis, sendo que estes não adquiridos
com frequência. Já os solteiros muitas vezes ainda moram com os pais, possuem maior
parcela da renda livre, podem apresentar perfil mais impulsivo e podem estar próximos de
constituírem sua família, o que demandaria aquisição de bens duráveis. Além disso, casados
ou com união estável podem estar dispostos a aplicar suas rendas na aquisição de casa
própria, terrenos, automóvel, ou seja, investir em bens de capital e não consumir, o que muitas
vezes só é possível com a renda dos dois indivíduos.
Dentre as aplicações financeiras elencadas, apenas a variável aplicações em renda fixa
mostrou-se com significância estatística para os modelos analisados. Como se esperava,
possuir aplicações em renda fixa impacta negativamente sobre a intenção de consumo, isso
porque, como tratado pela teoria neoclássica limita a renda e disponibiliza-se menor parcela
dessas para consumo ou valoriza mais investimento em poupança, por exemplo. Como esses
resultados possuem relação direta com a variável constante, que é a base das dummies e nesse
caso possivelmente trata-se de indivíduo viúvo ou divorciado, sem aplicações financeiras e
com nível baixo de escolaridade, há também a possibilidade de tratarem-se de pessoas mais
velhas que são mais avessas ao risco e preferirem aplicar seu dinheiro em algo seguro, como a
poupança.
Por fim, como última variável significativa dos modelos analisados, a expectativa de
melhoria no cenário econômico nacional para o próximo ano impacta positivamente na
intenção de consumo. Esse impacto, em ambos os modelos, é de aproximadamente 6,8%. Esta
apresentou maior efeito marginal de todos os modelos, incorrendo que a visualização do
cenário futuro para o país, a expectativa do futuro e de como estará o ambiente em que esses
consumidores estão inseridos impacta mais entre as variáveis apontadas como principais
determinantes pela teoria neoclássica e da própria economia comportamental. Ainda assim, o
destaque dessa variável é explicado pela economia comportamental, que capta os efeitos do
ambiente e assim explica o comportamento dos consumidores, para tanto, o fato de estes
possuírem perspectivas positivas sobre o futuro reduz suas incertezas e riscos relacionados às
escolhas, fazendo com que o consumo seja efetivado com maior facilidade.
70
Ademais, em todas as variáveis significativas, o parâmetro variou pouco de
intensidade. Entre as variáveis significativas para o modelo, a Figura 8 apresenta as que
exerceram maior impacto.
Figura 8: Impacto médio das variáveis - modelo geral
Fonte: Elaboração própria (2014)
O maior impacto sobre a probabilidade de consumir registra-se por parte das variáveis
situacionais dos indivíduos, o que está em consonância ao que apresenta a economia
comportamental, na qual o ambiente em que o consumidor está inserido assim como a sua
percepção é que determinam seu consumo. Portanto, a ordem das variáveis que exercem
maior impacto sobre a intenção de consumo é: situação financeira atual, expectativa
econômica do país para o próximo ano, situação financeira futura, intenção de adquirir
crédito, aplicações em renda fixa (impacto negativo), solteiro, casado ou união estável
(impacto negativo), expectativas de preços maiores (impacto negativo) e endividamento.
4.2 ANÁLISE PARA O MODELO COM EXPECTATIVAS RACIONAIS
O segundo conjunto de modelos desenvolvidos tem como propósito analisar o impacto
das expectativas racionais dos consumidores na intenção de consumo. Para tanto, tem-se a
mesma variável dependente, enquanto modifica-se, no conjunto das explicativas, apenas a
expectativa de inflação pela expectativa racional. Nesse sentido, as variáveis possuem o
mesmo sinal esperado já descritos no Quadro 2 e a proxy para expectativas racionais, assim
como a variável preços maiores, permite conhecer qual o seu impacto na intenção de
-0.08
-0.04
0
0.04
0.08
0.12
MEL
HO
R A
GO
RA
EXP
ECTA
TIV
A P
AÍS
(1
)
FUTU
RO
MEL
HO
R
CR
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O
CA
SAD
O/U
NIÃ
O
PR
EÇO
S M
AIO
RES
VA
LOR
END
IVID
AM
ENTO
71
consumo. A Tabela 3 apresenta os resultados da regressão não-linear logit considerando as
expectativas racionais.
72
Tabela 5:Resultados logit com expectativas racionais (modelos 1-6)
MODELO 1 MODELO 2 MODELO 3 MODELO 4 MODELO 5 MODELO 6
Y=0 20,22% 19,67% 19,67% 21,31% 21,86% 25,68%
Y=1 82,82% 83,26% 83,7% 86,78% 82,38% 81,50%
TOTAL 54,88% 54,88% 55,12% 57,56% 55,37% 56,59%
CONSTANTE 1,2330 1,2151 1,1115 0,7959 0,7296 0,6911
(0,2765) (0,2848) (0,3518) (0,5196) (0,5562) (0,5777)
MELHOR AGORA -0,0693 -0,0670 -0,0750 -0,0840 -0,0977 -0,0975
(0,7626) (0,7703) (0,7449) (0,7165) (0,6751) (0,6754)
FUTURO MELHOR -0,0232 -0,0238 -0,0239 -0,0265 -0,0097 -0,0061
(0,9286) (0,9267) (0,9265) (0,9184) (0,9703) (0,9812)
EXPECTATIVAS
RACIONAIS 0,3311 0,3336 0,3379 0,3559 0,3519 0,3510
(0,1730) (0,1704) (0,1654) (0,1444) (0,1478) (0,1476)
CRÉDITO 0,4476 0,4472 0,4518 0,4681 0,4471 0,4549
(0,0955) (0,0957) (0,0936) (0,0870) (0,1040) (0,0996)
LOG RENDA -0,1524 -0,1548 -0,1551 -0,1186 -0,1019 -0,1033
(0,3239) (0,3186) (0,3245) (0,4648) (0,5305) (0,5251)
CASA PRÓPRIA
0,0451 0,0461 0,0448 0,0579 0,0576
(0,8464) (0,8456) (0,8509) (0,8094) (0,8101)
CASADO/UNIÃO
0,1264 0,1220 0,1523 0,1331
(0,7215) (0,7315) (0,6686) (0,7094)
SOLTEIRO
0,1125 0,0522 0,0699 0,0409
(0,7571) (0,8878) (0,8497) (0,9123)
ESCOLARIDADE 8-11
ANOS
0,1527 0,1560 0,1684
(0,3800) (0,3730) (0,3386)
ESCOLARIDADE 11-15
ANOS
0,1383 0,1362 0,1441
(0,4140) (0,4210) (0,3939)
ESCOLARIDADE MAIS 15
ANOS
-0,2849 -0,2861 -0,3062
(0,2183) (0,2175) (0,1887)
RENDA FIXA
-0,1420 -0,1500
(0,4917) (0,4694)
DATAS ESPECIAIS
0,1446
(0,4815)
Fonte: Elaboração própria (2014)
Os resultados expostos nas Tabelas 5 e 6 apresentam os valores para a estimação do
modelo logit, contemplando as expectativas racionais dos consumidores. Portanto, a primeira
linha contém os valores de 𝒀 = 𝟎 que expressam a porcentagem de vezes que o modelo
previu corretamente que os indivíduos não tinham intenção de consumir. À medida que mais
variáveis explicativas são incluídas no modelo aumenta-se o poder explicativo do mesmo. Por
outro lado, na segunda linha tem-se os valores para 𝒀 = 𝟏 que representam a porcentagem de
vezes que o modelo estimou corretamente que os indivíduos teriam a intenção de consumir.
73
Nesse caso, a inclusão de variáveis covariadas fez com que o modelo perdesse valor
explicativo. Mesmo assim, o nível mais baixo de acerto foi de 74,22%.
A terceira linha contém as porcentagens representativas de quanto em média o modelo
previu corretamente as respostas dos indivíduos. Os valores variam de 54,88% a 59,07%. À
medida que variáveis são incluídas no modelo percebe-se essa mudança, sendo que a
porcentagem mais alta não foi encontrada quando todas as variáveis estavam sendo
consideradas. Mesmo com o aumento do número de variáveis com poder explicativo não
representar, em todos os casos, melhoria no ajuste do modelo, os resultados podem ser
considerados positivos, pois o ajuste é satisfatório.
74
Tabela 6:Resultados logit com expectativas racionais (modelos 7-12)
MODELO 7 MODELO 8 MODELO 9 MODELO 10 MODELO 11 MODELO 12
Y=0 28.96% 31.69% 32.24% 32.24% 38.25% 39.34%
Y=1 79.74% 80.18% 76.21% 75.77% 76.00% 74.22%
TOTAL 57.07% 58.54% 56.59% 56.34% 59.07% 58.58%
CONSTANTE 12.205 15.887 13.709 1.445 1.509 1.508
(0.3534) (0.2551) (0.3326) (0.322) (0.300) (0.300)
MELHOR AGORA -0.1012 -0.1202 -0.1213 -0.122 -0.100 -0.094
(0.6643) (0.6078) (0.6052) (0.602) (0.677) (0.695)
FUTURO MELHOR 0.0000 -0.0029 -0.0238 -0.024 -0.052 -0.049
(0.9999) (0.9912) (0.9274) (0.926) (0.845) (0.854)
EXPECTATIVAS
RACIONAIS 0.3879 0.3859 0.3906 0.392 0.408 0.418
(0.1110) (0.1136) (0.1107) (0.110) (0.102) (0.096)
CRÉDITO 0.4536 0.4487 0.4727 0.471 0.426 0.405
(0.1015) (0.1044) (0.0878) (0.089) (0.128) (0.152)
LOG RENDA -0.1533 -0.1492 -0.1390 -0.151 -0.183 -0.186
(0.3645) (0.3762) (0.4103) (0.394) (0.305) (0.299)
CASA PRÓPRIA 0.0558 0.0703 0.0941 0.092 0.094 0.114
(0.8183) (0.7732) (0.7018) (0.707) (0.702) (0.646
CASADO/UNIÃO 0.1124 0.0054 0.0585 0.062 0.045 0.024
(0.7560) (0.9889) (0.8825) (0.875) (0.910) (0.951
SOLTEIRO 0.0109 -0.1961 -0.1166 -0.112 -0.129 -0.156
(0.9769) (0.6736) (0.8077) (0.816) (0.786) (0.745
ESCOLARIDADE 8-
11 ANOS 0.1282 0.1218 0.1248 0.125 0.081 0.067
(0.4762) (0.4972) (0.4890) (0.487) (0.660) (0.717
ESCOLARIDADE 11-
15 ANOS 0.1336 0.1237 0.1208 0.121 0.165 0.160
(0.4313) (0.4677) (0.4803) (0.481) (0.340) (0.353
ESCOLARIDADE
MAIS 15 ANOS -0.2557 -0.2393 -0.2393 -0.239 -0.239 -0.221
(0.2839) (0.3161) (0.3171) (0.316) (0.321) (0.364)
RENDA FIXA -0.1642 -0.1650 -0.1652 -0.162 -0.236 -0.252
(0.4289) (0.4274) (0.4289) (0.438) (0.266) (0.241)
DATAS ESPECIAIS 0.1236 0.1342 0.1259 0.119 0.092 0.092
(0.5489) (0.5160) (0.5438) (0.571) (0.665) (0.664)
FEMININO -0.2375 -0.2429 -0.2439 -0.242 -0.210 -0.218
(0.2624) (0.2515) (0.2506) (0.255) (0.330) (0.311)
IDADE -0.0071 -0.0054 -0.005 -0.005 -0.006
(0.4720) (0.5937) (0.588) (0.589) (0.570)
NÚMERO FILHOS 0.0059 0.006 0.006 0.006
(0.0000) (0.000) (0.000) (0.000)
VALOR
ENDIVIDAMENTO 0.000 0.000 0.000
(0.787) (0.646) (0.629)
EXPECTATIVA
PAÍS (1) 0.428 0.409
(0.044) (0.058)
75
EXPECTATIVA PAÍS
(5) 0.120
(0.584)
Fonte: Elaboração própria (2014)
Entre todas variáveis elencadas, são consideradas significativas ao nível de 90% de
significância a intenção de adquirir crédito nos modelos 1, 2, 3, 4, 6, 9 e 10, a expectativa da
situação econômica do país para o próximo ano apenas no último modelo e as expectativas
racionais também no último modelo. Com 95% de significância, demonstrou-se ser
estatisticamente significativa apenas a expectativa do país para o próximo ano no 11º modelo.
Por fim, com 99% de significância, somente a variável número de filhos até 18 anos mostrou-
se estatisticamente significativa. A Tabela 7 apresenta os efeitos marginais para as variáveis
dos modelos 1 ao 6.
Tabela 7:Efeitos marginais com expectativas racionais (modelos 1 – 6)
MODELO
1
MODELO
2
MODELO
3
MODELO
4
MODELO
5
MODELO
6
CONSTANTE 0.3083 0.3038 0.2779 0.1990 0.1824 0.1728
MELHOR AGORA -0.0173 -0.0167 -0.0187 -0.0210 -0.0244 -0.0243
FUTURO MELHOR -0.0058 -0.0059 -0.0060 -0.0066 -0.0024 -0.0015
EXPECTATIVAS RACIONAIS 0.0827 0.0833 0.0843 0.0888 0.0878 0.0876
CRÉDITO 0.1117 0.1116 0.1128 0.1168 0.1116 0.1136
LOG RENDA -0.0285 -0.0287 -0.0287 -0.0248 -0.0223 -0.0225
CASAPRÓPRIA
0.0113 0.0115 0.0112 0.0145 0.0144
CASADO/UNIÃO
0.0316 0.0305 0.0380 0.0333
SOLTEIRO
0.0281 0.0130 0.0175 0.0102
ESCOLARIDADE 8 A 11 ANOS
0.0381 0.0390 0.0421
ESCOLARIDADE 11 A 15 ANOS
0.0345 0.0340 0.0360
ESCOLARIDADE MAIS DE 15 ANOS
-0.0712 -0.0715 -0.0766
RENDA FIXA
-0.0354 -0.0374
DATAS ESPECIAIS
0.0361
Fonte: Elaboração própria (2014)
Por fim, para conclusão das análises, têm-se os efeitos marginais ocasionados pelas
variáveis nos modelos em que as expectativas racionais foram incluídas, considerando-se
apenas as variáveis que se mostraram significativas.
A intenção de adquirir crédito mostrou-se mais significativa com a inclusão das
expectativas racionais, pois o aumento de 1% na intenção de adquirir crédito impacta
positivamente a probabilidade de consumir em aproximadamente 11%. Novamente,
corroborando a teoria neoclássica e a economia comportamental, a intenção de adquirir
crédito expande a renda dos consumidores, o que reflete diretamente na intenção de consumo.
76
Relacionando com as expectativas racionais, que é a diferença entre os modelos, o aumento
na influência da variável crédito pode ser justificado pelo fato de que consumidores com real
conhecimento do aumento da inflação antecipam seu consumo e, quando necessário,
adquirem crédito para que a compra se concretize. Cabe lembrar que esse crédito pode ser via
compras parceladas.
Tabela 8: Efeitos marginais com expectativas racionais (modelos 7 – 12)
MODELO
7
MODELO
8
MODELO
9
MODELO
10
MODELO
11
MODELO
12
CONSTANTE 0.3051 0.3972 0.3427 0.3612 0.3774 0.3770
MELHOR AGORA -0.0253 -0.0300 -0.0303 -0.0305 -0.0249 -0.0235
FUTURO MELHOR 0.0000 -0.0007 -0.0059 -0.0060 -0.0129 -0.0121
EXPECTATIVAS RACIONAIS 0.0968 0.0963 0.0974 0.0977 0.1019 0.1043
CRÉDITO 0.1132 0.1120 0.1180 0.1176 0.1064 0.1010
LOG RENDA -0.0286 -0.0282 -0.0273 -0.0284 -0.0304 -0.0305
CASAPRÓPRIA 0.0139 0.0176 0.0235 0.0231 0.0234 0.0283
CASADO/UNIÃO 0.0281 0.0013 0.0146 0.0155 0.0112 0.0061
SOLTEIRO 0.0027 -0.0489 -0.0291 -0.0279 -0.0323 -0.0390
ESCOLARIDADE 8 A 11 ANOS 0.0320 0.0304 0.0312 0.0313 0.0202 0.0168
ESCOLARIDADE 11 A 15 ANOS 0.0334 0.0309 0.0302 0.0301 0.0412 0.0401
ESCOLARIDADE MAIS DE 15
ANOS -0.0639 -0.0598 -0.0598 -0.0599 -0.0598 -0.0553
RENDA FIXA -0.0410 -0.0412 -0.0412 -0.0405 -0.0589 -0.0628
DATAS ESPECIAIS 0.0309 0.0335 0.0314 0.0296 0.0229 0.0230
FEMININO -0.0592 -0.0605 -0.0607 -0.0603 -0.0523 -0.0544
IDADE -0.0018 -0.0013 -0.0014 -0.0013 -0.0014
NÚMERO FILHOS 0.0015 0.0015 0.0015 0.0015
VALORENDIVIDAMENTO 0.0000 0.0000 0.0000
EXPECTATIVA PAIS (1) 0.1059 0.1013
EXPECTATIVA PAIS (5) 0.0299
Fonte: Elaboração própria (2014)
Sobre o número de filhos menores de 18 anos, essa variável se mostrou
estatisticamente significativa, demonstrando-se que o aumento de 1% no número de filhos
menores de 18 anos impacta em um acréscimo de 0,15% na probabilidade de consumir. Esse
resultado, mesmo pequeno, é contrário a expectativa inicial de que ter filhos menores de 18
anos reduziria o consumo, pois nesses casos os pais normalmente abrem mão de um consumo
próprio ou para a casa em detrimento com gastos com saúde, educação, vestuário dos filhos.
Quanto à expectativa de melhoria no cenário econômico nacional para o próximo ano,
percebe-se que o aumento de 1% nessa variável aumenta a probabilidade de consumo em
média, 10,59% no 11º modelo e 10,13% no 12º modelo. Esses valores são comparados ao
77
intercepto do modelo, que capta a base das dummies, que para esse caso referem-se a homens,
com nível de escolaridade de até 8 anos, divorciados ou viúvos, que não possuem aplicações
financeiras e não possuem expectativas positivas com relação ao futuro. Percebeu-se também
que com o incremento de expectativas racionais o impacto da variável é maior, mostrando
assim que o indivíduo que considera o aumento nos preços acredita que esse poderá servir
para aquecer a economia e, consequentemente, melhorar a situação econômica do país. Essa
variável é explicada exclusivamente pela economia comportamental, uma vez que a teoria
neoclássica não a considera, e ressalta a importância de se considerar variáveis situacionais
nas análises do comportamento dos consumidores, pois o impacto delas muitas vezes é maior
do que as que estão aparentemente mais ligadas ao consumo, como renda, preço, gênero.
A última variável com significância estatística analisada é a expectativa racional. Essa
se mostra significativa apenas no último modelo em que todas as variáveis covariadas estão
inclusas. Este modelo registrou maior impacto sobre a probabilidade de consumir. Desse
modo, tudo o mais permanecendo constante, o aumento de 1% nas expectativas racionais
aumenta a probabilidade de consumir em 10,43%. Os resultados indicam que a medida que se
controla o consumo por todas as características observáveis a variável expectativas racionais
torna-se estatisticamente significativa. Ademais, o parâmetro torna-se maior com os controles.
Isso pode sugerir, que o uso de estimadores de efeitos fixos, primeira diferença pode tornar os
resultados para o modelo com expectativas racionais mais robusto.
O resultado do modelo 12 vai ao encontro da proposta da teoria neoclássica que preza
a presença constante da racionalidade e otimização nas decisões por parte dos consumidores,
especialmente do ponto de vista macroeconômico, no que tange aos trabalhos da teoria novo
clássica. Quanto ao que trata a economia comportamental, de que a racionalidade não está
presente em todas as decisões, o modelo 12 apresenta oposição a essa. Isso ocorre porque para
economia comportamental os indivíduos tomam suas decisões com base em opções
satisfatórias e nem sempre maximizadoras, ou seja, nem sempre racionais, incorrendo assim
no aumento do consumo. Portanto, quando possuir expectativas racionais impacta
positivamente no consumo a economia comportamental é refutada. Sobre as variáveis que se
mostraram significativas, a Figura 9 apresenta o impacto médio das mesmas.
78
Figura 9: Impacto médio das variáveis - modelo com expectativas racionais
Fonte: Elaboração própria (2014)
De modo geral, as principais variáveis determinantes do consumo dos chapecoenses
consiste na aquisição de crédito, na lembrança que possuem do passado bem como no
sentimento em relação ao presente e ao futuro. A relação apresentada com passado, presente e
futuro é tratado apenas na economia comportamental e refere-se, basicamente, ao proposto
por Kahneman (2012) ao que diz respeito as decisões tomadas com base na lembrança.
Também, ratifica o exposto por Ariely (2008) de que os indivíduos são suscetíveis às
influências do ambiente. Além disso, tanto a teoria do consumidor quanto a economia
comportamental tiveram aplicação prática com os modelos desenvolvidos, mesmo que
algumas variáveis não corresponderam aos sinais esperados. Por fim, esse modelo, em que as
expectativas racionais foram incluídas, aparenta ter apresentado resultados piores em relação
ao modelo geral, pois menos variáveis mostraram-se significativas e, em média, o modelo
acertou menos as respostas dos indivíduos. A resposta para essa perda na qualidade dos
resultados é a redução no número de observações, uma vez que o modelo geral contou com
2.928 observações e o que incluía a racionalidade com 705 observações.
0
0.04
0.08
0.12
CRÉDITO EXPECTATIVASRACIONAIS
EXPECTATIVA PAIS (1) NÚMERO FILHOS
79
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento desse trabalho objetivou o levantamento das teorias sobre o
comportamento do consumidor para avaliar em que medida as características dos
consumidores chapecoenses impactam na intenção de consumo dos mesmos para o período de
novembro de 2012 a fevereiro de 2014.
Como base utilizou-se a teoria do consumidor com a visão neoclássica de que as
determinantes do consumo são a renda, o preço do bem que indivíduo deseja comprar, o preço
de outros bens e o gosto e preferências destes consumidores. Além disso, a teoria neoclássica
preza que os consumidores são sempre racionais e tomam decisões ótimas. Valeu-se também
da economia comportamental, uma teoria relativamente nova que surgiu com o propósito de
complementar a tradicional teoria do consumidor. Para os economistas comportamentais, o
principal contraponto aos neoclássicos reside no fato de que consumidores não conseguem ser
racionais o tempo todo e acabam tomando decisões em que sua satisfação não é maximizada.
A revisão de literatura contribuiu para identificar as variáveis que serviriam de base na
identificação das características determinantes do consumo dos chapecoenses.
Diante dessa revisão, elencaram-se variáveis para a construção do modelo
econométrico a ser estimado pela técnica de regressão logística, o logit. A partir disso foram
propostas duas formas funcionais empíricas: um modelo geral com 2.928 observações, e um
modelo que inclua uma proxy para expectativas racionais dos agentes com 705 observações.
Sobre o modelo que incluía as expectativas racionais como determinante do consumo,
obtiveram-se resultados bem distintos do anterior quanto à significância, impacto e amplitude
desse impacto, o que pode ser explicado pelo número reduzido da amostra. A variável
expectativas racionais mostrou-se determinante do consumo apenas em um modelo,
esclarecendo a proposta da economia neoclássica e traduzindo o consumo antecipado por
parte dos indivíduos que sabem qual será o impacto nos preços. Por outro lado, também em
consonância com a economia comportamental, o impacto dessa variável não foi muito
expressivo refletindo que nem todos indivíduos são racionais e que a racionalidade muitas
vezes está ausente na hora de confirmar a compra.
Em geral, identifica-se que o comportamento dos consumidores chapecoenses é
melhor explicado, em ambos os modelos, por variáveis relacionadas a percepção da condição
financeira individual e expectativa de melhorias na economia nacional, sem mostrar relação
direta com as variáveis propostas pela teoria neoclássica. Os resultados dos principais
determinantes confirmam o exposto pela economia comportamental no que diz respeito ao
80
impacto que o ambiente em que o consumidor está inserido exerce, considerando variáveis
situacionais do indivíduo, como expectativas, percepção, emoções e características do
momento em que as entrevistas foram realizadas.
Por fim, como sugestão para próximos trabalhos, considera-se viável a incorporação
de novas variáveis que sejam capazes de explicar em maiores proporções a intenção de
consumo, uma vez que os resultados apresentados nesta monografia, especialmente no
modelo com expectativas racionais, sugerem que componentes não observáveis afetam o
consumo dos agentes e podem estar relacionados com as variáveis explicativas dos modelos
estimados.
Nesse sentido, utilizar um painel com efeitos fixos ou um estimador de primeiras
diferenças pode melhorar os resultados apresentados nessa monografia. No entanto, esses
estimadores não são ensinados nos cursos de graduação do Brasil, o que torna sua
possibilidade de aplicação para trabalhos de graduação muito distante. Isso sugere que o
ensino de econometria nos cursos de graduação é bastante limitado, precisando ser atualizado
para que os profissionais possam realizar predições e previsões de maneira mais consistente
no mercado.
81
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