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Revista Ética e Filosofia Política Nº 16 Volume 1 junho de 2013 124 COMUNIDADES ATINGIDAS POR MINERAÇÃO E VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: CENÁRIOS EM CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO Denise de Castro PEREIRA 1 Luzia Costa BECKER 2 Raquel Oliveira WILDHAGEN 3 RESUMO: O governo brasileiro promove o crescimento econômico do país através de um conjunto de investimentos em infraestrutura e medidas de incentivo e facilitação do investimento privado, seguindo um modelo que privilegia grandes corporações e a exportação de bens. No que se refere aos bens minerais, se por um lado, os lucros e divisas gerados revelam o sucesso da ação do Estado, por outro, os conflitos socioambientais e a flexibilização de leis e regras de controle ambiental revelam o fracasso da ação do Estado em garantir o direito ao desenvolvimento das populações residentes nos territórios foco dos grandes empreendimentos. Nesse sentido, o crescimento das atividades minero siderúrgicas no Brasil vem sendo acompanhado pela mobilização de vários grupos da sociedade civil frente às alegações de violações de direitos humanos cometidas no âmbito destas operações. O objetivo desse artigo é analisar os impactos e danos existentes e ocasionados pela implantação do projeto mineral Minas-Rio no município de Conceição do Mato Dentro. Os impactos tratados são, em particular, aqueles registrados por habitantes das comunidades atingidas pelo empreendimento. Palavras-chave: Violação de direitos humanos; Cenários; Conflitos socioambientais; Atingidos por mineração; Comunidades rurais; Conceição do Mato Dentro. INTRODUÇÃO A Constituição Federal de 1988 definiu o Brasil como uma República Democrática fundamentada na liberdade, na igualdade e na dignidade humana. Não 1 Dra. em Sociologia (UFRJ), Professora no Departamento de Administração, ICEG; Coordenadora do Laboratório de Cenários Socioambientais em Municípios com Mineração - Labcen/Proex, PUC Minas. [email protected] 2 Dra. em Ciência Política (IUPERJ), Pesquisadora colaboradora do Labcen/PUC Minas e do Grupo de Pesquisa Sociedade e Meio Ambiente (CNPq). [email protected] 3 Graduada em Administração, bolsista FAPHEMIG. Contribuíram também as bolsistas Emilene Kareline Marciano dos Santos (PIBIC/CNPq) e Maíra Barbosa Santos (FAPEMIG) do LABCEN/Puc- Minas. [email protected]

COMUNIDADES ATINGIDAS POR MINERAÇÃO E VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: CENÁRIOS EM CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO

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Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 124 COMUNIDADES ATINGIDAS POR MINERAO E VIOLAO DOS DIREITOS HUMANOS: CENRIOS EM CONCEIO DO MATO DENTRO Denise de Castro PEREIRA 1 Luzia Costa BECKER2 Raquel Oliveira WILDHAGEN3 RESUMO:O governobrasileiropromoveocrescimentoeconmicodopasatravsde umconjuntodeinvestimentoseminfraestruturaemedidasdeincentivoefacilitao do investimento privado, seguindo um modeloque privilegia grandes corporaes e a exportaodebens.Noqueserefereaosbensminerais,seporumlado,oslucrose divisasgeradosrevelamosucessodaaodoEstado,poroutro,osconflitos socioambientaiseaflexibilizaodeleiseregrasdecontroleambientalrevelamo fracassodaaodoEstadoemgarantirodireitoaodesenvolvimentodaspopulaes residentesnosterritriosfocodosgrandesempreendimentos.Nessesentido,o crescimentodasatividadesminerosiderrgicasnoBrasilvemsendoacompanhado pelamobilizaodevriosgruposdasociedadecivilfrentesalegaesdeviolaes de direitos humanos cometidas no mbito destas operaes. O objetivo desse artigo analisarosimpactosedanosexistenteseocasionadospelaimplantaodoprojeto mineralMinas-RionomunicpiodeConceiodoMatoDentro.Osimpactostratados so, em particular, aqueles registrados por habitantes das comunidades atingidas pelo empreendimento. Palavras-chave:Violaodedireitoshumanos;Cenrios;Conflitossocioambientais; Atingidos por minerao; Comunidades rurais; Conceio do Mato Dentro. INTRODUO AConstituioFederalde1988definiuoBrasilcomoumaRepblica Democrticafundamentadanaliberdade,naigualdadeenadignidadehumana.No 1 Dra.emSociologia(UFRJ),ProfessoranoDepartamentodeAdministrao,ICEG; CoordenadoradoLaboratriodeCenriosSocioambientaisemMunicpioscomMinerao- Labcen/Proex, PUC Minas. [email protected] Dra.emCinciaPoltica(IUPERJ),PesquisadoracolaboradoradoLabcen/PUCMinasedo Grupo de Pesquisa Sociedade e Meio Ambiente (CNPq). [email protected] Graduada em Administrao, bolsista FAPHEMIG. Contriburam tambm as bolsistas Emilene KarelineMarcianodosSantos(PIBIC/CNPq)eMaraBarbosaSantos(FAPEMIG)doLABCEN/Puc-Minas. [email protected] Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 125 obstante o status de cidadania institucionalizao dos direitos civis, polticos, sociais eambientais,opasavanoupouconasuperaodashistricasdesigualdades regionaiseinjustiassociais.OdesenvolvimentoeconmicopromovidopeloEstado nasltimasdcadas,apesardodiscursodasustentabilidade,emmeioaeconomia globalizadaecontroladapelocapital,mantmohistricodeproduodeinjustias socioambientaiseaindadeviolaodosdireitosfundamentaisdapessoahumana. Assim,naprimeiraseodoartigo,prope-seumareflexoarespeitodoconflito estruturalqueestnasbasesdosistemaeconmicocapitalistaquenecessariamente precisacontarcomaatuaodoEstadoparagarantireefetivarosdireitos constitucionais da populao brasileira no atual processo de desenvolvimento do pas.Nasegundaseo,apsapresentaroprojetoMinas-Riocontextualizadono processodedesenvolvimentodoestadodeMinasGerais,analisa-seolicenciamento ambientaldoempreendimentoeocumprimentoounodascondicionantes determinadaspeloEstadoparagarantiramelhoriadascondiessocioeconmicase ambientaisdoterritriobemcomoosdireitosfundamentaisdapopulaolocal.Em especfico,analisa-seacondicionante59quetratadoreassentamentodosatingidos diretaeindiretamentepelaminerao.AomissodoEstadonafiscalizaodo cumprimento das condicionantes considerada como forte indcio de negligncia com as injustias socioambientais e com as violaes dos direitos humanos ocorridas. Naterceiraseo,considera-seamanifestaodosatoresenvolvidospoder pblico,poderprivadoesociedadecivilnoprocessodeacompanhamentoda implantaodoprojetoMinas-Rio,apsaconcessodaLicenadeInstalaodo empreendimentoFaseII.AnfaserecainaanlisedasAtasdasreuniesdaReasa, ancoradas pelo Ministrio Pblico, de documentos de denncia de violao de direitos humanos e recomendaes produzidas e protocolados por entidades da sociedade civil e das falas dos atingidos, registrando diretamente as suas condies especficas. Nasconsideraesfinais,retoma-seadiscussoarespeitodasbases contraditriasdosistemacapitalistapararessaltarmaisumavezaimportnciado papeldoEstadonamediaodosinteressesenorespeitoaosdireitoshumanos. Conclui-sequeaqualidadedevidaeosdireitoshumanosserorespeitados, Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 126 garantidoseprotegidos,seasociedadecivilcontinuarpressionandoe responsabilizandooEstadopelasinjustiaseviolaesocorridasporcontadasua omisso e negligencia com o processo de desenvolvimento. 1.Desenvolvimentoeconmicoedireitoshumanos:capitalversusjustia ambiental Apressodosmovimentoscomunitriosesociaisvemimplicandona consolidaodosEstadosdedireito,sendoquealutaemproldosdireitoshumanos constituiumeixofundamentaldapoltica.Enquantoseconsolidaoregistroda primeirageraodosdireitospolticos,civisecvicos,balizandoopoderdeaodo Estadoesefortaleceodasegundageraodosdireitossociais,econmicose culturais,queimpeumaaopositivaaoEstado,umaterceirageraodedireitos, destavezcoletivos,fazsuaapario:direitoinfncia,direitoaomeioambiente, direito cidade, direito ao desenvolvimento dos povos (SACHS, 1998).Na declarao sobre o direito ao desenvolvimento, dentre outras prerrogativas, reconhece-sequeesteumprocessoeconmico,social,culturalepoltico abrangente,quevisaamelhoriaconstantedobem-estardetodaapopulaoede todos os indivduos com base na sua participao ativa, livre e significativa no processo dedesenvolvimentoenajustadistribuiodosbenefciosdelederivados;equea criaodecondiesfavorveisaodesenvolvimentodospovoseindivduosconstitui, primordialmente,umaresponsabilidadedosseusEstados(ORGANIZAODAS NAESUNIDAS,1986.Grifosnossos).Mas,quetipodedesenvolvimentopodeo Estadopromoveregerenciardentrodosistemahistricocapitalista,pautadona acumulao de capital?Sabe-sequegrandepartedascondiesgeraisoupressupostossociaisda produodemercadoriasnosistemacapitalistarefere-sescondiesnaturais4e estas, apesar da dependncia visceraldo sistema, nabusca de maiorrentabilidade na 4 Temos, como exemplo, a utilizao doespao urbano comolocus do consumo e da circulao de automveise o uso dos recursosnaturais (gases da atmosfera, como meio para combusto deenergia fsseis e para descarga dos dejetos dessa combusto, e guas limpas, como meio de gerao de energia, irrigao, processos industriais, escoamento de detritos industriais, consumo humano etc.). Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 127 acumulaoderiquezaabstrata,conduzemdegradaodoterritrio.Isso,porsua vez, gera o crescimento contnuo dos custos das tarefas de provimentodas condies naturais da produo. Tais tarefas, na luta pela externalizao dos custos de produo edeprovimentodascondiesdeproduo,acabamsendooperadaspeloEstadoe custeadas pela tributao de parcelas crescentes do valor excedente produzido. Ousocapitalistadascondiesnaturaiscomocondiesdoprocessode acumulao de riqueza abstrata choca-se com outras formas de apropriao social das condies naturais seja para fins cientficos ou ldicos, seja como fundamentodavidaorgnicaoudaidentidadeterritorialdedeterminadas populaes e comunidades. (CARNEIRO, 2005, p. 29). Oconflitorevela-seestruturalededifcilsoluoquandousosdiferenciados para um mesmo territrio se estabelecem em bases contraditrias. Ou seja, quando o valordeusoquepopulaestradicionaisfazemdoespaosechocacomovalorde trocaquenovosexploradoresdoterritrioimpemaele(BECKER,2009).Neste processo,amediaoestataldevenecessariamenteasseguraroprovimentoeouso dascondiesnaturaiscomocondiesdaproduocapitalista,mas,aomesmo tempo, deve responder s presses de classes e grupos sociais interessados em outros usos das condies naturais.SeoEstadonoconsegueconciliaraumentodarendapercapita, desconcentraoderenda,melhorianosindicadoressociaiseambientaiscomum efetivocontroledavalorizaoexacerbadadocapitalpressupostofundantedo sistema capitalista, o desenvolvimento territorialno atual processo de globalizao da economia,serinsustentvel,promotordeinjustiassocioambientaisevioladorde direito humanos. Osestudosquedemonstramasfacesda(in)justiaedosconflitosambientais contribuemparadesvelarasestratgiasdedesenvolvimentoterritorial(ACSELRAD, BEZERRA,2010,entreoutros).ComodestacaAcselrad(2006)areestruturaodas dinmicasprodutivasedoscenriossociopolticosapsosanosde1980,permitem identificarosestadosnacionaiscadavezmenoscomofronteirasdefensivasde proteodeterritriospoliticamentedelimitados,atuandoprogressivamentecomo plataformas ofensivas para a economia mundial. (p. 232) Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 128 Nestecontexto,ainjustiaambientalsecolocacomoomecanismopeloqual sociedadesdesiguais,dopontodevistaeconmicoesocial,destinamamaiorcarga dosdanosambientaisdodesenvolvimentospopulaesdebaixarenda,aosgrupos raciaisdiscriminados,aospovostnicostradicionais,aosbairrosoperrios,s populaes marginalizadas e vulnerveis (ACSERALD et al., 2004). Naprevenoecontroledasinjustiasambientais,alegislaoambiental apresenta-secomomediadorejulgadornoprocesso.Noobstante,conforme destacadonodocumentodoProcessodeArticulaoeDialogoInternacionalparaos DireitosHumanos(PAD,2012),alegislaoambiental,comoinstrumentode precauodosproblemassociais,averiguaoedirecionamentodasustentabilidade ambientaldasatividadesprodutivasvistaetratadacomopeaburocrticaque precisaserflexibilizadaaomximo,demodoaaceleraraimplantaodosprojetose polticas econmicas. Nesse sentido, enquanto se aceleram os esforos institucionais paraaimplementaodegrandesprojetoseconmicos,flexibilizandoalegislao ambiental,destacam-se,poroutrolado,alentidoeosimpassesnaimplementao dosdireitosdaspopulaestradicionaisterra,gua,aoterritrioediversidade cultural garantidos na Constituio Federal de 1988.(PAD, 2012).No contexto de defesa do direito ao desenvolvimento enquanto um processo econmico,social,culturalepolticoabrangente,quevisaamelhoriaconstantedo bem-estardetodaapopulaoedetodososindivduosoEstadotma responsabilidade de garantir os direitos fundamentais de todos. obrigao do Estado respeitar,protegeregarantirosdireitoshumanos.Essadefiniodecarter constitucionaltomadapelaFederaoInternacionaldeDireitosHumanos(FIDH, 2011)comopontoseminalparaotratamentodasviolaesdedireitoshumanos,por rgosregionaiseinternacionais,eminstnciasjurdicasequasejurdicas.Comtal referncia, considera-se (...)violaoaosdireitoshumanosquandoaaoouinao(omisso)do Estadono protegeuos direitoshumanos daspessoasou dedeterminados grupos(noqueserefereobrigaodoEstadoderespeit-los).Quantoa obrigao do Estado de proteger, refere-se obrigao de prevenir que um terceiro(incluindoumaempresa)possainterferirnoexercciodosdireitos humanos. A obrigao do Estado de garantir os direitos humanos refere-se Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 129 obrigaodetornarefetivoogozodosdireitoshumanos.Talobrigao implica o dever de garantir que toda pessoa disponha de recursos acessveis eeficazesparaaefetivaodeseusdireitoseobrigatambmaoEstadoa outorgarumareparaospessoascujosdireitossoviolados.Estas obrigaes aplicam-se a 'todos os poderes do Estado (executivo, legislativo e judicial)eoutrasautoridadespblicasouestaduais,emqualquermbito que seja, nacional, regional ou local, [que] esto em condies de assumir a responsabilidade do Estado Parte. (FIDH, Justia Global, Justia nos Trilhos. 2011, p. 9. Excludas as notas de rodap.). 2 Desenvolvimento regional pela via minerria: direitos humanos e cenrios Emmeiosdiversasatividadeseconmicas,consideramosaopodoEstado brasileiro em tomar a minerao comoum dos principais vetores capazes de alavancar o desenvolvimentonopas.Nestesentido,segundoaSecretariadeDesenvolvimento Econmico (SEDE) do estado de Minas Gerais, o papel do Estado estabelecer polticas pblicas,comoagenteindutor,articuladorefomentadordodesenvolvimento econmicosustentvelpormeiodaimplementaodeaes,atividadeseprojetos capazes de atrair novos investimentos e propiciar a modernizao, o desenvolvimento e expanso dos negcios da indstria mineral no estado, buscando a melhoria do bem-estar da populao e a distribuio de renda. Para tanto, dentre as aes estabelecidas nosetormineral,noobjetivodeampliaroacessoaosmercados,oEstadopassoua reforarosinstrumentosdeintelignciaepromoocomercialeampliouaredede acordos internacionais (BARROSO, 2009, p. 14. Grifos nossos).Dentreosprojetosminerriosemprocessodelicenciamentoambientalno estado,destacamosoprojetoMinas-Rio,compostodetrsestruturas:mina, mineroduto e porto. A rea de implantao da mina a cu aberto, parte da Reserva de Biosfera da Serra do Espinhao (2005), compreende cerca de 3.880 hectares, afetando diretamenteosmunicpiosdeConceiodoMatoDentro,AlvoradadeMinas,Dom Joaquim e Serro. O mineroduto,com extenso de 525 km, passar por 32 municpios, sendo 25 no estado de Minas Gerais e 7 no estado do Rio de Janeiro, onde se instalar a terceira estrutura do projeto: o porto de Au no municpio de So Joo da Barra.Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 130 OsimpactosnegativosdainstalaodaminaemConceiodoMatoDentro5 eramclaroseforamretratadosnoParecernicodoSistemaEstadualdeMeio Ambiente SISEMA que analisou o EIA/Rima apresentado pelo empreendedor. No que concerneaodireitoqualidadedevidaeparticipaoativa,livreesignificativano processodedesenvolvimento,adverteomediadordoprocessodelicenciamento ambiental queAlgunscursosdguaterosuasdisponibilidadeshdricasreduzidas, principalmente nascentes, que podem se extinguir, presentes nas serras do Sapo,deItapanhoacangaedaFerrugem.Essescursosdguanos compemapaisagemdaregio,massoatualmenteutilizadosparao abastecimentohumano,dessedentao deanimais,irrigao,agroindstria (fabricaodequeijoecachaa),lazer,pescarecreativa.(MINASGERAIS, 2008, p. 87).(...)oscontatosrealizadospelaequipedoSISEMAemvisitaregiodo empreendimentoeasmanifestaesregistradasnasaudinciaspblicas atestavam que os grupos de interesse, principalmente aqueles diretamente impactadospeloempreendimento(moradores,proprietriosdeterras, usurios dos cursos hdricos situados em reas requeridas para instalao do empreendimento) desconheciam a magnitude em que sero afetados e no estavam participando de qualquer processo de definio das medidas a eles destinadas. (SISEMA, 2008, p. 102). Antesdepromoverasoluodosproblemasapontados,garantindoassimos direitosdascomunidadesatingidas,conformeprevalegislaoambiental,oEstado deu o direito de permanncia do empreendimento no territrio ao conceder a Licena Prvia(LP)doempreendimentoem11dedezembrode2008.Ficoudeterminado, contudo,queaempresadeveriacumprirdiversascondicionantesparaentoresolver os problemas e minimizar os impactos negativos da implantao do empreendimento.Paratanto,aempresaAngloAmericanformulouoPlanodeControle Ambiental6 (PCA). Em maro de 2009, elaformalizou junto ao SISEMA a solicitaoda 5 Omunicpiositua-senaregiosetentrionaldoestadodeMinasGerais,a160kmdeBelo Horizonteepossuiumareade1.727Km2.Apresentando oIDH-Mde0.672(PNUD,2000), revela-se como um dos municpios pobres e perifricos na economia da mesorregio Central do estado. Apesar do setorterciriotercrescidonaltimadcada,grandepartedapopulaoaindavivedaeconomiade subsistnciaedaagropecuria.Noanode2010,apopulaototalera17.908habitantes,sendo9.003 homens e 8.905 mulheres. Na rea urbana, viviam 12.269 habitantes e na rea rural, 5.639 (IBGE, 2010).6 Odocumentoconstitudoportrsvolumes:ICaracterizaodoempreendimentoe programas do meio fsico; II Programas estruturantes e programas do meio bitico; III Programas do meio socioeconmico (SISEMA 002/2009). Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 131 LicenadeInstalao(LI),posteriormentedivididaporessergoemfasesIeII, acompanhada do PCA (ANGLO AMERICAN, 2009). Ressalta-se que o cumprimento das condicionantes condio sine qua non para concesso de novas licenas. Sobtalperspectiva,oParecernicodoSISEMA,emitidoemnovembrode 2010,queanalisaeavaliaoPCA,incluindoosseusprogramas,eoatendimentos condicionantesdaLPderesponsabilidadedoempreendedorparaconcessodaLI, revela-seemblemtico.Relacionadaaodesenvolvimentoequalidadedevidadas comunidadeslocais,destacamosacondicionante55queobrigaoempreendedora apresentar os resultados do Cadastro Patrimonial e Social, as minutas de acordo com cadacategoriadeatingidoeosanteprojetosdereassentamentorural,incluindo alternativasdereasviveissuaimplantaonaregiodeinserodo empreendimentoparaconcessodaLIfaseII.ApesardodocumentoAFB-EXT: 180/2010identificarosproprietrioseposseirosdaspropriedadesafetadasnarea denominadaemergencial,bemcomoseusherdeirosresidentesenoresidentes, avaliaostcnicosdoSISEMA,queodocumentoapresentadonoseconfiguracomo umcadastramentosocial.(SISEMA,2010,p.84).Nessemesmodocumento,ao denominar as famlias atingidas como atingidos em situao emergencial, v-se que ocadastramentosocialeoreassentamentoruralnoacontececoncomitanteao avano das medidas para instalao das estruturas da mina. ApesardostcnicosdoSISEMAconcluremsobreonocumprimentodestae de outras condicionantes que viriam garantir a qualidade de vida da populao local, o EstadorepresentadopelaequipeinterdisciplinardoSISEMAoptaporsugeriraos conselheirosdaURC-JequitinhonhaodeferimentodaLIfases1e2pleiteadapela Anglo American, a qual concedida no dia 9 de dezembro de 2010.Osistemticoperdodadoempresademonstranegligncia,omissoe desrespeitodoPoderPblico(estadualemunicipal)comaspopulaesquefazemo Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 132 uso tradicional do territrio, ou seja, que dependem da economia de subsistncia7 sem a qual, como o prprio nome indica, no podem subsistir/sobreviver/manter-se.Emagostode2011,aempresadepesquisasocialDiversusapresentaolaudo relativocaracterizaodareaDiretamenteAfetada(ADA)ereadeInfluenciaDireta (AID)damina.Dentreosvriosproblemasidentificados,orelatodainadequaodo TermodeAcordoemrelaoaoTACdeIrap,definidocomorefernciaparao reassentamentoruralmostraquenemoEstado,nemaempresaapresentaramsolues paragarantirosdireitosdascomunidadesatingidas.AequipedepesquisadaDiversus recomenda a imediata suspenso da implantao do empreendimento enquanto no for resolvidaaquestodasfamliasemsituaesconsideradasemergenciais,inclusivecom suatransfernciaparaasnovasreaseapromoodarevisodoProgramade NegociaoFundiriaadequando-oaoTACIrap,conformedeterminaode condicionante do Copam/Supram Jequitinhonha (DIVERSUS,2011, p. 321). Contudo, em agostode2012,exatamenteumanodepois,oadendoaoDiagnsticode2011da empresadepesquisasocialrevelaqueamaioriadosproblemascontinuavasem soluo (DIVERSUS, 2012). OlicenciamentoambientalencaminhadodeformanegligentepeloSISEMA, pela empresa e pelo poder pblico local revela-se em um catalisador dos conflitos, das violaesdosdireitoshumanosedassituaesdeinjustiasocioambiental amplamentecontestadaspelosgruposorganizadosdasociedadecivilquepassoua contarcomaintervenodoMinistrioPblico,conformeanalisaremosnaprxima seo. 3AsituaodosatingidospeloProjetoMinas-RioeaRededeAcompanhamento Socioambiental: reconhecendo a violao de direitos OmovimentosocialdosatingidospelamineraoemConceiodoMato Dentro comeou a tomar forma, ainda indireta, com os questionamentos e discusses 7 Baseadanoplantiodehortaliasenacriaodeanimais,ambosfortementedependentesda qualidadedaterraedasguas.guasestasquenoavanodasaesparaimplantaodasatividades ligadas ao empreendimento minerrio, ficam cada vez mais sujas e inadequadas para o consumo. Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 133 emdiferentesfrunspresenciaisevirtuais.Inicialmenteasdiscussescolocavamem pauta a reorientao do vetor de desenvolvimento para a via minerria e as condies objetivasqueapresentavamedefendiamaimplantaodoempreendimento. Gradativamente os grupos de interesses com vis econmico foram se posicionando a favor do novo eixo, valorizando o crescimento econmico. Por outro lado, em paralelo estratgiadiscursivasobreainevitabilidadedaminerao,tendoemvistaarigidez locacionaleosinteressesdascoalizesdominantes,tantonombitodoEstado, quantodomercado,asprticasempresariaisparaasuainstalaodemonstravam-se imperativas.Osproblemasgeradosafetavamaestruturafundirialocaleomodode vidadapopulao,especialmente,daparcelarural,localizadanasreaspretendidas paraainstalaodacava,barragemderejeitos,pilhadeestriledemais equipamentos do projeto. Asformasdeabordagemaosproprietriosdeterraparacompraporparteda empresamineradoraforaminicialmentecamufladaspeloschamadoslaranjasque anunciavam seus interesses para negcios agrrios. Os preos das terras comearam a sofreralteraesprovocadaspelasoportunidadesdomercadoimediato.Coma declaraodequeoprojetoentrariaemfasedelicenciamento,asnegociaes passaramaserexplicitadas.ComagestoassumidapelaAngloAmericanem2008, destaca-seaopopelafragmentaodoprocessodenegociao,semconsideraras comunidadeseaspossibilidadesdenegociaocoletiva,conjunta,inclusiveparao reassentamentodosatingidosfisicamente.Desdeessemomento,tornavam-se tambmexplcitos,osnovosestratagemasdasempresas,aincludasprticasde empresas prestadoras de servio, que agiram como estimuladores das discrdias entre asfamlias,queinsistiamemdisseminarinformaesfalsassobreascondiese direitosdascomunidadestradicionais,queinvadiamterrenosdevidamentecercados, que intimidavam e ameaavam os moradores. Comaprofusodosproblemaseaintensificaodasconsequncias vivenciadas pelas comunidades do entorno e, pontualmente, com a impossibilidade de garantiadecumprimentodecondicionantessociaiseambientaisporpartedo empreendedor,oquetambmimplicafaltadefiscalizaoporpartedosrgos Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 134 competentes,omovimentodosatingidosserevitalizou.Aspressesedemandas dirigidasaoMinistrioPblicoFederal,EstadualeDefensoriaPblicatambmse avolumaram. Aindaem2011,partedapopulaoreconhecidacomoatingidadiretamente encontrando-seemsituaoprecria,organizoureuniesqueculminaramnum processo deregistro das situaes de cada famlia em relao ao seureassentamento e indenizao. Por dois dias foram gravados e assinados mais de 30 depoimentos que denunciavam os acordos no cumpridos, com a presena da Defensoria Pblica.Em2012,ascondiesdeprecariedadeeosdireitosambientaisinfringidos levaramparalisaodaobraporforadeAesCivisPblicas.Contudo,a manifestaodeacirramentodosconflitosviriaaocorrercomaarticulao institucional em defesa dos direitos dos atingidos.ComainterveninciadaCoordenadoriadeInclusoeMobilizaoSociais CIMOS8,oMinistrioPblicoEstadual,oMinistrioPblicoFederaleaDefensoria PblicadoEstadodeMinasGeraisconvocaramumaaudinciapblicaemabrilde 2012,comosatingidosnacomunidadedeSoSebastiodoBomSucessoouSapo, distritodomunicpiodeConceiodoMatoDentro.Asprincipaispromotorias envolvidaseramasdeMeioAmbienteedeDireitosHumanos.Oobjetivoeraaoitiva deintegrantesdasociedadecivil,sobretudodosprpriosatingidospelomencionado empreendimento, agregando as denncias e reclamaes, nas comunidades. Buscava-se,aomesmotempo,umavisoglobaldoproblemaeaefetivaodosobjetivosdo MinistrioPblicodecumprirseupapelprecpuodeassegurarosDireitos Fundamentais, listados e no garantidos efetivamente. (CIMOS, 2013). OsatingidospeloempreendimentoMinas-Riomaisumavezverbalizaramas dennciasjregistradasemoutrasreuniespblicas,revelandoaomissodoEstado 8 Noanode2009,atravsdaResoluon.8de18demaro,foicriadaaCoordenadoriade InclusoeMobilizaoSocialCIMOScomoobjetivodeserumespaoorganizadodentrodo Ministrio Pblico do Estado de Minas Gerais (MPMG), dedicado s questes de participao e incluso social,dedebateeformao,sempre naperspectivadainterlocuocomosdiversosatoressociais, nos maisvariadosespaos,ongs,sindicatos,Igrejas,criandouma interfaceentreoMPeaSociedadeCivil Organizada. (MPMG, CIMOS, 2013). Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 135 emgarantirosdireitoshumanosdascomunidadesdaADA,pornofazercumpriras condicionantes determinadas pelo prprio rgo licenciador o SISEMA.Osprincipaisproblemasrelatadosforamassociadosaonocumprimentodas condicionantes expressos nas seguintes dimenses: no reconhecimento de atingidos; nocumprimentodoscontratossobreareestruturaofundiria;adestruiodo mododevidalocal,namedidaemqueaagriculturafamiliaredemaisatividadesde subsistnciatornavam-seimpraticveispelasintercorrnciasterritoriais;o comprometimentodasadepelosimpactosambientaisesociais;adegradaoda qualidadedagua,adestruiodoscursosdgua;aprecarizaodainfraestrutura rodoviria.Anfasedadaviolaododireitosadeequalidadedevidaatravs dosimpactosambientaisfoimarcante,comoseconfirmacomosfragmentos discursivos extrados da Ata da Audincia Pblica destacados a seguir: WelersonAparecidoReis(RepresentantedacomunidadedeCrregos) comentousobreasexplosesquesoconstantesnaquelelocale manifestouasincertezasqueacometemopovodalocalidadedeCrregos em razo do empreendimento. Jerusa (professora da Escola Municipal de So Jos do Arruda, municpio de AlvoradadeMinas)falousobreaenormequantidadedepoeiranaescola queficasmargensdeumaviabastantemovimentada;afirmouqueesta poeira pode estar causando doenas nas crianas, a exemplo da gripe; falou tambmsobrebarro,afaltadegua,afaltadetransporteescolar,bem como, tambm se referiu ao barulho. JosPepino(representantedacomunidadedeguaQuente)chamaa ateno principalmente para a questo da qualidade da gua, exibindo dois recipientes,que,segundoafirma,seriaumcomgualimpacomoeramos crregos e rios da regio antes da chegada da Anglo e outro recipiente com gua barrenta, afirmando ser a situao atual da gua do crrego que passa pelasuapropriedade[...].Ressaltouafaltadecumprimentopelaempresa do que foi pactuado e mencionou sobre a queda de sua renda familiar, em razodoempreendimentominerrio.(RededeAcompanhamento Socioambiental, Ata da Audincia Pblica, Abr./2012). Baseados em pesquisa de campo, na leitura de documentao oficial produzida noprocesso,naobservaoparticipantenasreuniesdaURC-Jequitinhonhaedo movimentodosatingidos,diversasentidadesdasociedadecivilproduzirame protocolaramjuntoaosrgoscompetentesumdocumentodenunciandoaviolao dedireitoshumanos.Tomava-secomorefernciaoRelatriodaCDDPH(2011)sobre Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 136 direitosdosatingidosporbarragens.Foramsistematizadasinformaesretratando situaesindicativasdeviolaodosseguintesdireitos:1)Direitoinformaoe participao;2)Direitoliberdadedereunio,associaoeexpresso;3)Direitoao trabalhoeaumpadrodignodevida;4)Direitomoradiaadequada;5)Direito educao;6) Direito a um ambiente saudvel e sade; 7) Direito justa negociao, tratamentoisonmico,conformecritriostransparentesecoletivamenteacordados; 8) Direito de ir e vir; 9) Direito s prticas e aos modos de vida tradicionais, assim com ao acesso e preservao de bens culturais, materiais e imateriais; 10) Direito dos povos indgenas,quilombolasetradicionais;11)Direitodegruposvulnerveisproteo especial;12)Direitodeacessojustiaearazovelduraodoprocessojudicial;13) Direitodeproteofamliaealaosdesolidariedadesocialoucomunitria;14) Direitomelhoriacontnuadascondiesdevida.Considerandoasinteraesda observaoparticipante,paracadasituao,foramapresentadasrecomendaes decorrentes de questes expressas pelos atingidos, como intuitode contribuir com o reconhecimentodocomplexoproblemaporpartedoMinistrioPblicoe,portanto, agilizar o processo de tratamento de conflitos e a reparao aos danos gerados.Considerando que as violaes so intolerveis para uma sociedadeque desde o processo de redemocratizao avanou na direo de um aparato legal-institucional (constitucionaleinfraconstitucional)equeoBrasilassumecompromissos internacionaisincompatveiscomaviolaosistemticadeDireitosHumanos, individuais e coletivos, as entidades relatoras apontaram aes efetivas, com urgncia, e props trs diretivas igualmente relevantes:-Imediatasuspensodesituaes,processoseaes,deresponsabilidade direta ou indireta de agentes pblicos ou privados, que configurem violao deDireitosHumanos;-ReparaoecompensaodeviolaesdeDireitos HumanosconstatadaspeloMP,apsaveriguaonosdospontos destacadosnessaDenncia,mastambmpontosdeoutrasdennciasque foremaeleencaminhadas,demodoaresgatar,aindaque progressivamente,advidasocialeambientalacumuladaaolongodos ltimosseisanos;-Prevenodenovasviolaesnofuturo,atravsde polticas, programas e instrumentos legais que assegurem o pleno gozo dos direitosporpartedaspopulaes,grupossociais,comunidades,famliase indivduos atingidos pelo projeto mineral Minas-Rio na regio de Conceio doMatoDentro,nosmunicpiosporondepassaominerodutoenaregio Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 137 deSoJoodaBarra[ondeselocalizaoPorto].(MOVSAMetal.,2012,p. 84). Diantedagravidadeedaurgnciacomqueosproblemasdeveriamser tratados,osprocuradoresepromotoresdecidiramrealizarreuniesmensais, itinerantes,paraconheceremarealidadedasdiferentescomunidades,ampliandoo canaldecomunicaoentreosatingidoseosMinistriosPblicos.Apartirdos problemasexpostos,anunciaramqueestudariamasmedidascabveis,ressaltandoa oportunidadedeaplicarrecomendaesempresaeaosrgospblicosenvolvidos. Optaramporelaborarrecomendaesconjuntassobreostemasconsiderados essenciaisedeinterfaceemsuasrespectivasreasdeatuaoeasrecomendaes particularizadas quando convenientes.Aprimeirareuniomensal,apsaAudinciaPblicaConjunta,ocorreuem 17/maio/2012,emSoJosdoJassm,distritodeAlvoradadeMinas.Atemtica predominantefoiareproduoeoaprofundamentodosdiscursosdosatingidos, destacando-seasdennciasdeameaasecerceamentolivremanifestaoe liberdade de expresso por parte de agentes da prefeitura de Alvorada de Minas sobre professores da redepblica. A Procuradorade Direitos Humanos presente na reunio fezrecomendao publica e especfica aos representantes do poder local. A dinmicadasaudiespblicasnessareunioestimularamaCIMOSaconstituir,aRedede AcompanhamentoSocioambientalREASA.Elafoicriadaapartirdanecessidadede seacompanharresponsabilidadeseimpactossocioambientaisdeempreendimento minerrioemConceiodoMatoDentroeregio.(REDEDEACOMPANHAMENTO SOCIOAMBIENTAL,2013).Anunciou-seaindaqueem16demaiode2012,foram oficializadasvriasRecomendaesempresa,assinadasemconjunto,centradasnas questes que configuravam as violaes de direitos do cidado, das comunidades e de direitos ambientais.Recomenda-se que a empresa: -Promovaaimediatasuspensodesituaes,processoseaes,de responsabilidadediretaouindiretadeagentesprivados,queconfigurem violaodedireitoshumanos;-Promovaareparaoecompensaode violaesdedireitoshumanosconstatadas,demodoaresgatar,aindaque progressivamente,advidasocialeambientalacumuladaaolongodos ltimos anos; - Promova a preveno de novas violaes no futuro, atravs de polticas, programas e instrumentos legais que assegurem pleno gozo dos Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 138 direitosporpartedaspopulaes,grupossociais,comunidades,famliase indivduosatingidosdiretaouindiretamentepeloempreendimento;- Promovaamanutenoregulardasestradaseasinaisutilizadospelo empreendedor,sejaemnomeprprioousubcontratada,sobpenade caracterizao do crime de perigo (atentado contra a segurana do meio de transporte);-Abstenha-sedeentraroupermanecer,sem aautorizaodo proprietrio,empropriedadesparticulares,sobpenadecaracterizaodo crimedeviolaodedomicilio;-Abstenha-sedecausarqualquerdanoa cercas,porteirasemata-burros,sobpenadecaracterizaodocrimede dano.Nocasodoincidenteocorrerdeformaculposa,quepromovaa imediataeintegralreparao;-Abstenha-sedeameaarouconstranger, aindaquemoralmente,e/ouperturbarotrabalhoouosossegodas comunidadesatingidas,sobpenadecaracterizaodoscrimesdeameaa e/ou constrangimento ilegal e/ou da contraveno penal de perturbao de sossegoalheio;-Promovaadivulgaoeentregadecopiadapresente recomendaoacadaumdeseusrepresentanteslegais,funcionriose prepostos. FIXA-SEOPRAZODE40(quarenta)dias,contadosdanotificao,parao envio de informaes a cerca das providncias adotadas pelo empreendedor paraaefetivaodoRecomendado.(RecomendaoN2/2012.Redede Acompanhamento Socioambiental, 2013). ARecomendaodeN6/2012,tambmassinadaemconjuntopelos promotoresdeJustiaeProcuradoradaRepblica,apstodososconsiderandos, sintetizava:

Figura 1 Recorte da Recomendao N 06/2012, do MPMG, Comarca de CMD. Em11dejunhode2012,ocorreuaprimeirareuniodaRedede Acompanhamento Socioambiental REASA, na comunidade de So Jos do Arruda, no Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 139 municpio de Alvorada de Minas. As comunidades atingidas continuavam a denunciar o desrespeitoporpartedaempresaemrelaosrestriesaotrnsitodeveculos pesadosnarodoviaMG10,sejaemterritrioshabitadospelascomunidadesouem reasdeconservaoambiental,gerandoriscosvidaeameaasambientais.A imprudnciadosmotoristasdeveculosutilizadospela(s)empresa(s)eoexcessode poeiraqueameaavamechegavamaimpediroacessoescolaruraljtinhasido consideradana1Recomendaoconjuntade16/Mai/2012,doMinistrioPblico Federal e Estadual empresa, ao municpio de Alvorada de Minas e ao Departamento de Estradas de Rodagem revelando a persistncia do problema. Documentos contendo explicaesgeraiseesclarecimentossobreprogramasemexecuoforam encaminhadosaoMinistrioPblicopeloDER,em02/julho/2012epelaempresa,em 12/julho/2012emrespostaasRecomendaesConjuntas1e2.Ageneralidadecom queforamcontestadaseconsideradasasrecomendaesmostraograude distanciamentodaempresaedosrgosestataisdarealidadedacomunidadelocal que continuaram denunciando as violaes e os problemas no solucionados. Nestestermos,odebatesobreoreconhecimentodosatingidoscontinuavano centrodasdiscusses.Asntesesobreainvisibilidadedosatingidosseexpressavade vrias formas: Cada pessoa est descobrindo a cada dia como que atingida e o em que atingida. Aqui, a minha propriedade est fechada e eu no estou atingido hoje. Eles compraramtudoaoredordemimeeunoestouatingidono.Eudivido com a Anglo cinco vrtices e no estou atingido no. (Fragmentos de falas dos atingidos na Reunio de 11/06/2012, Audio/Labcen). Aexposiocondiodenoreconhecidocomoatingidopelaminerao causava manifestaes de tenso, angstia, medo, insegurana, falta de perspectivae refletia-senainsistentemanifestaoerelatosdecondiesfamiliares,individuaise coletivas em busca de registros, perante as autoridades do Estado - MPF, MPE e DPMG doquadrodevulnerabilidadesocialaqueeramsubmetidasascomunidades,os proprietriosdeterraseseusfamiliares.Diantedosrelatosedaclaravisodequea postura da empresa no havia mudado, o Promotor Pblico concluiu: Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 140 () Eu no consigo falar isso pra todo mundo, mas (...) eu sinto que eles so (...)forasteirosquenotemnenhumamorpelaterra(...)tratamtodo mundoquefilhodaterradeumamaneiracomoseelefosseoantigo escravo,oucomosefossemosantigosndios.Queelesvochegar,vo tomartudodeassalto,voemboraevodeixaroprejuzopratrs. (FragmentosdefalasdoPromotorPbliconaReuniode11/06/2012, Audio/Labcen). Diante da sistemtica negligencia da empresa e da omisso do Estado, a reao e o enfrentamento direto da comunidade empresa comea a ganhar reconhecimento publico. Nesse sentido, o Sr. lcio Pacheco deu o exemplo da comunidade do Gond, quesfoirespeitadapelaempresaeteveseusmata-burrosconsertadosdepoisque bloqueouaestrada.ElelembrouqueaDesobedinciaCivilumdireitodas comunidades agredidas. (Ata 1 Reunio Reasa. 11/junho/2012, p. 3) As reunies da REASA se sucederam e ao longo de um ano de debates (de abril-2012aabril-2013),osproblemasganhavamfeiescomplementares,distintasemais complexas.Oquadroabaixosintetizaadiversidadedesituaesidentificadasno percursodaREASAequecontribuemparaesboarriscoseameaasintegridadeda pessoa humana. Quadro 1 Principais temas tratados na REASA (jul./2012 - abr./2013) REUNIOPROBLEMA IDENTIFICADO Junho/2012 So Jos do Arruda - Problemas de infraestrutura; - No reconhecimento dos atingidos; - Situao fundiria sem soluo. - O trnsito de carretas pesadas na porta da escola, com suas consequncias evidentes comoapoeira,insegurananatravessiadealunos,familiareseprofessores,ficou muito evidente nesta reunio que foi realizada na prpria escola. Julho/2012 Gond -FamliasdacomunidadeBuriti,reassentadasnacomunidadedoTijucalque, provavelmente,seratingidapelosempreendimentosdaValee/oudaManabi(em Morro do Pilar); - Relatos de maior nmero de atropelamentos pelas estradas rurais;- Trfego pesado nas estradas; Barulho; Poeira; Pontes e mata-burros danificados; - Situao fundiria sem soluo. Agosto/2012 Itapanhoacanga -Discussosobreacontaminaoepoluiodasguaseaconsequnciaparaa populao e para a criao dos animais;- Seca de nascentes e falta de gua em diferentes localidades;- Desmatamento e aparecimento de animais silvestres nas redondezas das casas; - Situao fundiria sem soluo. Setembro/2012 Crregos - Permanece em debate a questo da gua; - Tratamento de esgoto para todas as comunidades; - Acessibilidade das estradas;Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 141 -Polmicassobreosusosdodistritoparafinstursticos,portergrandepartede territriotombadopelopatrimniohistrico,ouparaatendersdemandasde alojamento para trabalhadores da empresa; -Inexistnciadeinfraestruturalocalparasuportaracrscimopopulacional,casoa empresautilizassedasacomodaeslocaiscomoalojamento.Faltadeestruturade distribuiodeguaerededeesgotoinexistenteparaatenderapopulaolocal, imagina com a chegada de trabalhadores. -Conflito local,acirradoporrepresentantesdaempresa,entreosdonosdepousada interessadosnolucrogeradoemumavertenteeoutrapreocupadacomessas questes de infraestrutura e conservao de patrimnio histrico - Situao fundiria sem soluo. Outubro/2012 Vale do Lambari ou Nova Mumbuca - Situao fundiria sem soluo. -ResgatedoTermodeIrapcomorefernciaparaacondicionantequetratada reestruturao fundiria; -Orepresentantedaempresaapresentaquadrocomasfamliasquereconhecem como atingidas e o status das negociaes. -NocumprimentodosparmetrosmnimosdoTACdeIrap,poisareunio aconteceunacasade D.Julita,senhoraoctagenria,reassentada,queno conseguia sequerabrirasjanelasdesua casa(janelasmuitopesadasparasuacondio fsicae suaidade),portanto,moradiainadequada,quintalsemplantas;noestavasendo fornecidoinsumo,assistnciatcnica,acompanhamentopsicosocialnemcesta bsica.Novembro/2012 SoSebastiodo BomSucesso- Sapo - Apresentao do Diagnstico Socioeconmico da Diversus, que mapeia comunidades eindicaquetodaabaciadoRiodoPeixeser impactada pelabarragem,bemcomo pela captao de gua para o mineroduto; - Enfrentamento com a falta de respostas por parte da empresa; - Situao fundiria sem soluo. - Foram solicitadas pela comunidade respostas objetivas da empresa sobre o status de cumprimento de todos os parmetros do TAC Irap para os atingidos. O promotor Dr. Marcelo se recusou a receber o relatrio de mais de 300 folhas que a empresa levou comasinformaisobjetivasqueacomunidadesqueria.ODr.FranciscoGeneroso interviueacabourecebendootalrelatrio.Dr.Marcelodestacouqueexisteum abismoentreoqueaempresaapresentanosrelatriosearealidadeditapelas comunidades. Dezembro/2012 Serra da Ferrugem - Permanece central a discusso sobre reconhecimento dos atingidos;-Representantedaempresareafirmaqueadireodoempreendimentono reconhece o estudo da Diversus; -Novasdennciasdeinvasodepropriedadeprivadaporfuncionriosarmados,a exemplodosseguranasarmadosemoutraocasio,comoreapresentadonovdeo Conceio Guarde nos Olhos (VALLE, 2009). -Dennciassobremilciaarmadadaempresa.Aempresaporsuaveznegou apresentoudocumentodizendoqueaAnglonuncahaviautilizadomilciaarmada.O atingidioLcioPimentaapresentouovdeoConceio:guardenosolhosepassoua filmagemmostrandodeformaincontestvelosseguranasarmadosintimidandoos atingidos. - Permanece a situao fundiria sem soluo. Janeiro/2013 Conceio do Mato Dentro -Resoluoporpartedacomunidadedoencaminhamentodedemandasjurdicas junto ao Ministrio Pblico, contra a empresa; -Apontamentodequeaempresanotemdado respostasclarascomunidade ede que o representante da mesma tem a funo de postergar as propostas de resoluo dos problemas levantados pela sociedade; - Permanece a questo fundiria sem soluo. Fevereiro/2013-AcomunidadecobrouaformulaodeumprojetodaAngloAmericanparaaSo Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 142 GondSebastiodoBonsucessoeadjacncias,visandoasreascultural,socialede agricultura familiar;- Preocupao da comunidade com os impactos atuais e futuros do projeto e a inrcia da empresa e do Estado perante os mesmos; -Identifica-seanecessidadedearticulaoentreasesferaspblicasmunicipale estadual. - Falta de assistncia, poluio e contaminao das guas;- Identifica-se a necessidade de tornar pblica a causa dos atingidos; -RepresentantesdaAngloAmericanseretiramdareunioantesdoseutrminode forma abrupta. - Permanece a questo fundiria sem soluo. Maro/2013 gua Quente -Esclarecimentoepedidodeumposicionamentoassertivoporpartedos representantes da empresa; -ReclamaessobreascondiesdasguasdosCrregosPassaSeteePereira,que inexiste para os usos tradicionais. -Descontentamentounanimecomadistribuiodeguainstaladapelaempresae noticiadapelamesmacomoAANGLOFAZ.Denunciou-sejchegouafaltarguaquase10diaseaempresadistribuindogarrafasde20litrosdeguamineralpara todos os usos (consumo, comida, limpeza, banho, etc). -Precariedadedascondiesambientaisnascomunidades:fossasdefeituosase invaso de pernilongos h mais dois anos; -Distribuioinsuficienteefaltadeguaparaacomunidadeeosanimaisnagua Quente; - Reestruturao fundiria na comunidade gua Quente;- Permanece a questo fundiria sem soluo. Abril/2013 URC Jequitinhonha Diamantina-DiscussosobreaimpropriedadedanoaceitaodoDiagnsticoSocioeconmico DIVERSUS, (2011) por parte do SISEMA, da SUPRAM/URC-Jequitinhonha; -Reconhecimentoporpartedaequipetcnicaquenotinhamconhecimentodos fatos relatados pela comunidade naquele momento.- Informao por parte da Superintendente da SUPRAM Jequitinhonha de que no tm capacidade tcnica instalada para acompanhamento e fiscalizao de cumprimento de condicionantes, o que implica em limitaes da ao sobre a realidade local. - Permanece a questo fundiria sem soluo. Fonte: Sntese elaborada pelo Labcen. AsimplicaesdasquestesrecorrentesnasreuniesdaREASApermitemcompor umasntesenosseguintestermos:incertezaeinseguranadapopulaoemrelao aofuturo,paralisiadeatividadesprodutivas;insatisfaoerevoltacomaempresae suasprticas;cansaopsicolgicoeemocionaldosatingidos;discussesacaloradas retomamoconceitodeatingidoseprovocamconfrontaessobreadefinioda empresaeascondiesdevidadosatingidospresentes;indignaodacomunidade emrelaolistadaquelesqueaempresaconsideracomoatingidosemcomparao comaslistasresultantesdaempresa,doCOPAM/SUPRAM/URC-Jequitinhonhaedo Diagnstico Socioeconmico da Diversus (2011). Aps o encontro daREASA de abril de 2013, queantecedeu a reunio da URC-Jequitinhonha,emDiamantina,registrou-sequeoConselheiroPromotordeJustia encaminhara duas medidas significativas: 1)Aprovaode moode repdioSEMAD,naltima reuniodaURC,a pedido do Ministrio Pblico; Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 143 2)Elaboraoeencaminhamento,peloMinistrioPblico,de RecomendaodirecionadaaoSecretriodeEstadodeMeioAmbientee DesenvolvimentoSustentvelparainclusodaapresentaodoestudoda Diversusnapautada74reuniodaURC.NaRecomendaoforam apontadas,almdequesteslegaisesociaisincidentes,as responsabilidadesfuncionaisdosagentespblicoscujasaespossam causarprejuzosscomunidades.(Trechodeemail,PromotordeJustia Coordenadoria das Promotorias de Justia de Meio Ambiente das Bacias dos Rios Jequitinhonha e Mucuri, 29/04/2013). Os problemas gerados pela reestruturao fundiria decorrente da apropriao doterritriopeloempreendimento,ouseja,impostaaosmoradores,epela fragilizaodeparceladacomunidadedevidorecusapeloreconhecimentodasua condiodeatingidopelaempresamineradora,fazrealarcomoserecompeo quadrosociallocal:osdeslocadosfisicamente9soreassentados,maspartedeles registra problemas como inadequao das construes, no cumprimento de clusulas dosacordosassinadoseameaasdenovosreassentamentostendoemvistaa ampliaodafronteiradamineraonaregio,oqueimplicaremnovos reassentamentos; os deslocados econmicos, que tem interrompidas ou eliminadas as suas condies produtivas.Neste sentido, deslocam-se no apenas pessoas ou famlias isoladamente, mas comunidades inteiras como demonstram documentos anexados aos autos do processo de licenciamento. Em pesquisa censitria computou-se 417domiclios,dosquais405(97,12%)commoradorese12(2,88%)sem moradorespermanentes.Foramcaracterizadas1.480pessoasvivendoem 22localidades,quevodesdedistritos,passandoporcomunidadesbem delimitadasaatregiesformadasporumasequnciade propriedadesao longodeumaestradadereferncia,casodaestradaentreSoJosdo JassmeodistritodeSoSebastiodoBomSucesso(Sapo).(DIVERSUS, 2011, p. 37). As comunidades do distrito de So Sebastio do Bom Sucesso ou Sapo e Gond, entreoutras,podemexemplificarasituaodosdeslocadoseconomicamente.Suas condiesdevidaestoengessadascomoafirmouoPresidentedaAssociaodos 9 Aodiscutiroconceitodeatingido,Vainer(2008,p.6)resgataelementosdavisodos organismosmultilaterais:Odeslocamentoeconmicoaqueleresultantedainterrupodeatividades econmicasmesmosemqualquerconotaofsico-territorial.Apenascomoilustraosepoderiacitar tambmopequenocomerciantequeperdesuaclientela,ouocaminhoneiroquerecolhiaoleitede produtores que no existem mais. Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 144 MoradoresdoSoSebastiodoBomSucessoeRegio.Adegradaodascondies sociaiseambientaissefazvisvel,sejapelocontingentedetrabalhadoresl hospedados,pelapoeiradotrfego,pelaimpossibilidadedecontinuarasplantaes semsaberemquemedidaequandoserofisicamenteafetadospelasoperaesda empresaoumesmocompradosjquenohprevisodereassentamento.A reunio de 18 fevereiro de 2013 registra a seguinte discusso:MariaGuerraperguntouseOSapoconsideradoatingidoouno? Maurcio Martins respondeu: No atingido. Maria Guerra afirmou que o Sapoaltamenteatingido.Maurciorespondeuque,segundooprojeto,o Saponoestnareaatingida.Questionadoemrelaoreade abrangnciadacava,Maurciorespondeuqueoassuntonopoderiaser discutido. Maria Guerra disse que est impossvel viver no Sapo, que desde quechegou,afirmaestdestruindoolugar,queaentradaestcheiade buraco,queaspessoasvoseacomodando,ficandocommedoenose manifestam. (Ata da Reunio, REASA, 18/02/2012, p.3). O que a gente preocupa que j est impossvel de viver no Sapo. Por que? Quantosanostemqueafirmajestl?Efoisdestruindo,s destruindo...Eassim,opessoalvaiacomodando,vaificandomorrendode medo, sabe? E que isso gente, vamos falar no, que isso gente, a gente tem quefalar,temquever,falaroqueestbom,falaroque queestruim.O esgotoacuaberto,otantodelixoqueproduzporcausadonmerode pessoasqueestl.(FragmentodefaladaAtingidanaReuniodaREASA, 18/02/2012. Audio/Labcen). O que se percebe em todo este processo que as negativas da empresa sobre oreconhecimentodemoradoresecomunidadesatingidas,oucomopreferem, afetadosdiretaouindiretamente,seatmaoprocessoformalelegaldo licenciamento,daoficializaogarantidapelainseroounodonomedapessoano EIAouemdocumentosgeradospelorgolicenciador.Assim,insistemnaexistncia de 80 ncleos familiares contempladas com o status de atingidos e, apenas, com estes, se desdobram os contratos de reassentamento e indenizao.OSr.Celso[representantedaempresa]disseaindaque,[...]aAnglo Amricaestseguindonantegraadefiniodalistadeatingidos determinada pelo COPAM. (Ata da Reunio, REASA, 09/11/2012, p. 2) OpromotorFrancisco Generosocontestoua faladoSr.Celsoquandodisse queaempresavemcumprindoasdeterminaesdoCOPAM,poiseleconsideroudescumpridas,nomspassado,ascondicionantes59,66,67, 104e105,relativasaosimpactossociais.JoSr.Jniordissequea Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 145 empresafoi multadapordescumprimentodas condicionantes1,44,59,60, 61,64,66,67,87,99,104,105,emR$5.000,00.(AtadaReunio,REASA, 09/11/2012, p. 15). Aos demais, cabe o sentimento permanente da injustia como relata o Sr. Jos Pepinoemtodasas12reuniesrealizadas(comoapresentadonofragmento discursivo anteriormente citado). Emdocumentoprotocoladoem30/04/2013,nacmaraMunicipalde Conceio do Mato Dentro, entre a Comisso daURC-Jequitinhonha e os atingidos da gua Santa, Mumbuca e Ferrugem, os atingidos registram que: Ao mesmo tempo em que a empresa inclui nomes sem critrios claros no rol deatingidos,deixadecolocarnomesquejdeveriamconstarnalistade atingidos, pois j tm suas propriedades decretadas como servido de mina peloDNPM.[...]Nestamesmanovalistadenomesdepessoasatingidas que vem sendo apresentada pela Anglo, vemos que ela deixa de colocar os nomesdosherdeirosreferentesavrios-senodetodos-espliosali constantes. Vale ressaltar que o nome destes herdeiros constam da lista de atingidosjaprovadapeloCopamequeportantosopartesreconhecidas legitimas[...]Tambm cabesalientarqueoutrosproprietriosdeterrasda rea considerada diretamente atingida pelo empreendimento, no tm seus nomesvinculadosanenhumalistasequer.[...] Estesestocomsuasterras griladas pela empresa. Pois esto impedidos de entrar em suas propriedades umavezqueaempresa,numaatituderecorrentedurantetodoo licenciamento,fechouocaminhodeacessossuaspropriedades,ferindo assim, numa declarada atitude de afronta, uma das leis mais bsicas, como a do direito de ir e vir. [...] O pressuposto discursivodoInternational Financial Corporation (2001) quando anunciaanecessidadedereconhecimentodeatingidosporempreendimentosode queocorraamelhoriadascondiesdevidacomotambmrealaVainer(2008). Contraditoriamente,nocasoemestudo,observa-seanoconsideraoporparteda empresadasrecomendaesdaspolticasglobaisdedesenvolvimento,sejamasdos organismosassociadosONU(BID,BIRD,IFC,OITentreoutros),sejamasderecorte empresarialcomoasdomovimentoMiningMineralsandSustainableDepelopment Project (MMSD). Ou ainda, como tambm foi destacado pela Procuradora da Repblica dosDireitosdoCidado,presentenareuniode09/11/2012,quequestionou pontualmenteatica,acapacidadetcnicaeosvaloresmoraisdosempregadosda empresa que, ali na REASA, presenciavam todos os depoimentos, mas demonstravam-Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 146 se insensveis ao tomar decises incapazes de romper com as limitaes da forma de tratar a situao da populao local. Ademais, a presena da empresa nas reunies da REASA,apsadecisodequeaempresateriaumtempode15minutospara respondersdemandaseencaminhamentosdareunioanterior,foimarcadapela manifestaodeestritoapegoaosdocumentosqueautorizavamainstalaodo empreendimento,ouseja,oEIAeaslicenasambientais,mesmoqueoscontedos dosestudostivessemsidoquestionadospeloParecernicodoSISEMA(2008),bem como diante dos registros oficiais de condicionantes no cumpridas, como constatado na Atas das reunies da URC-Jequitinhonha. Consideraes Finais Asbasescontraditriasdosistemacapitalistaestimulaoconfrontoentreos detentoresdocapitaleosdetentoresdosrecursosnaturaisnasdiversasregiesdo BrasilespecialmentequandooEstadonoassumeopapelderealmediadordos interessesedorespeitoaosdireitoshumanos.Olicenciamentoambientaldoprojeto Minas-Rioparececumprircomasmetasdocrescimentoeconmicodoestadode Minas Gerais, mas evidencia a impossibilidade de sua instalao seguida da defesa dos direitoshumanoselementares:educao,sade,qualidadedevida,dentreoutros. Relegandoparaumplanosecundrioaproduodavida,ficacadavezmaisvisvela importnciadosmovimentossociaisorganizados,eatravsdeles,aconstruode espaosquebuscamdebaterseriamenteoscaminhosalternativosparaaefetivao dos direitos. OcasodeConceiodoMatoDentrorefleteumpadrodasviolaesaos direitosambientaisehumanoscomumscidadesemunicpiosatingidosporgrandes empreendimentosnoBrasil.Opoderpblicoquedeveriarepresentarosinteresses sociaisacabasempreagindoemproldeinteressesparticulares,favorecendoos grandesempreendimentosetomandoademocraciaapenascomoumcontexto figurativo,poisrelaesdepoderqueseestabelecemsodemasiadasinjustaseos processosparticipativosacabamsendoapenasparafinsdeimagemdaempresaedo Revista tica e Filosofia Poltica N 16 Volume 1 junho de 2013 147 poderpblicoparaomundo.Onocumprimentodascondicionantesdeterminadas pelo SISEMA somado ao sistemtico perdo empresa pelo descumprimento implicou napoluioincessante,nosdanoscontnuosaosrecursoshdricosdentreoutrosque vieram produzir impactos sobre as condies de vida da populao, assim como sobre suasplantaes,afetandoseusmodosdevidaeaumentandoaprecariedadeea pobrezadascomunidadesafetadas,emviolaoaodireitodetodapessoaaumnvel de vida adequado. AsreuniesdaREASA,apesarderepresentaremumavanonainseroda populaonosprocessosdediscussodosimpactosdoempreendimento,refletemo descasodopoderpblicoestadual,quenuncaparticipoudeformaefetivadas reunies, da empresa que nunca apresentou respostas satisfatrias populao.QuantoaoMinistrioPblico,pode-sedizerquefalta-lheousadiaparagerar aesqueimpeammaioresprejuzosscomunidadesafetadas,namedidaemque direitosrespeitadoseleiscumpridassignificariammaiorpoderderegnciadoEstado frenteaosinteressesdemercado.Aoinvsdeaocautelar,oMinistrioPblico prope mediar. A REASA nesse sentido, parece cumprir o papel de mobilizao social a queobjetivaaCIMOS.Noobstante,processosdelicenciamentoambientale instalao de grandes empreendimentos minerrios no Brasil, em especfico no estado de Minas Gerais, vem requerendo cada vez mais a judicializao da questo ambiental diantedasistemticaviolaoaosdireitoshumanos,devidoainao(omisso)do Estado. Referncias Bibliogrficas ACSERALD, H. 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