Conceito de Cidade-Aeroporto Ganha Fôlego No Mundo

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  • 8/18/2019 Conceito de Cidade-Aeroporto Ganha Fôlego No Mundo

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    Conceito de cidade-aeroporto ganha

    fôlego no mundo

    02/10/2014

    Pesquisador norte-americano, Joh Kasarda, criador da ideia da aerotrópolis, explica

     benefícios da construção de cidades em torno de aeorportos.

    Foto: Divulgação.

    A criação de uma cidade ao redor de um aeroporto vem ganhando fôlego por todo o

    mundo. A chamada aerotrópolis (aero, de aeroporto, e pólis, do grego, cidade) se baseia

    na tese da proximidade da infraestrutura urbana aos terminais aéreos de cargas e de

     passageiros. O conceito, desenvolvido por John Kasarda, diretor do Centro Comercial

    Aéreo na UCN (Universidade da Carolina do Norte) e professor de Estratégia doInstituto Kenan (instituição ligada à universidade onde são realizadas pesquisas nas

    áreas de empreendedorismo, desenvolvimento econômico e competitividade global),

     prevê o desenvolvimento de uma região de grande importância econômica, tendo como

     ponto central um aeroporto, em que a integração modal para o transporte de passageiros

    e de cargas é essencial.

    De acordo com Kasarda, uma aerotrópolis é uma sub-região metropolitana, cuja

    infraestrutura, uso da terra e economia são centrados em um aeroporto, oferecendo a

    conectividade rápida de seus negócios a seus fornecedores, clientes e parceiros de

    empresa, em nível nacional e mundial. “Uma definição simplificada é: uma cidade

    construída em torno de um aeroporto”, afirma ele. Kasarda tem mais de cem artigos e

    dez livros sobre infraestrutura da aviação, logística e desenvolvimento urbano

     publicados.

    Seu livro mais recente, “Aerotrópolis: o novo modo como vamos viver” (coautoria com

    Greg Lindsay), foi destaque na revista “Time”, em 2011, como uma das “dez ideias que

    vão mudar o mundo”. Em 2013, Kasarda também foi classificado como “um dos cem

    maiores inovadores de cidades de todo o mundo” pela revista “Future Cities”. No

    Brasil, ele desenvolve um projeto em parceria com o governo de Minas Gerais para a

    implantação da aerotrópolis no Aeroporto Internacional Tancredo Neves – Confins, em

    Belo Horizonte, além de já ter contato com outros órgãos também interessados no

    http://www.acetradeways.com.br/wp-content/uploads/2014/10/entrevista-1.jpg

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     projeto. Nesta entrevista, concedida à revista CNT Transporte Atual , ele detalha o

    conceito de aerotrópolis. Acompanhe os principais trechos.

    Quais as características principais de uma aerotrópolis? 

    A aerotrópolis é composta do aeroporto e dos negócios dependentes da aviação periférica e empreendimentos residenciais associados. Quando falo em aviação

    dependente, refiro-me a empresas que são capazes de operar, principalmente, por causa

    da conectividade nacional e global proporcionada pelo transporte de passageiros e de

    carga. A aerotrópolis também contém um conjunto completo de instalações comerciais

    que apoia os negócios dependentes da aviação de carga e dos milhares de viajantes

    aéreos que passam pelo aeroporto anualmente. Estão incluídos entre eles, a expedição, a

    logística de terceiros, as instalações de armazenamento e distribuição, hotéis, salas de

    exposições, salas de reuniões e complexos, edifícios de escritórios para executivos de

    viagens aéreas intensivas e profissionais, com lojas, restaurantes, lazer, entretenimento e

    locais de turismo.

    No mundo, esse conceito já está sendo empregado? Que exemplos o senhor citaria?  

    Há mais de 40 aerotrópolis em desenvolvimento em todo o mundo. Bons exemplos

    incluem aquelas dentro e ao redor dos aeroportos de Amsterdã, Pequim, Dalas, Dubai,

    Hong Kong, Memphis e Seul.

    Qualquer aeroporto pode se tornar uma aerotrópolis? Existe uma área com

    tamanho específico para se criar essa estrutura? 

     Nem todo aeroporto pode gerar uma aerotrópolis. Para a implantação, deve haver rotas

    aéreas suficientes (com pelo menos algum serviço internacional), economia local ou

    mercado de tamanho suficiente para criar uma demanda significativa para passageiros e

    cargas, uma força de trabalho com habilidades necessárias para atender às indústrias

    dependentes da aviação e um local de apoio e governo do Estado. Também deve haver

    uma boa conectividade de superfície para o aeroporto, de interseções metropolitanas-

    chaves.

    O Brasil tem vocação para a implantação de aerotrópolis? Onde?  

    Os melhores locais são as principais regiões metropolitanas do Brasil, onde já existem

    aeroportos internacionais com espaço para novos desenvolvimentos em torno deles. Emalguns casos, onde o espaço nas proximidades é limitado, pode haver uma reconversão

    industrial perto do aeroporto para permitir novos negócios voltados à aviação.

    Na implantação de uma aerotrópolis, como devem ser divididas as

    responsabilidades do poder público e da iniciativa privada? 

    Uma aerotrópolis não pode se desenvolver sem investimento público substancial e

    também do setor privado. Ela exige um novo reforço coordenado desses investimentos,

     por meio da comunicação eficaz, cooperação e colaboração entre os intervenientes dos

    dois setores. O governo é normalmente responsável pelo amplo planejamento da

    aerotrópolis, bem como de sua infraestrutura básica e serviços públicos de superfície.Enquanto o setor privado é o principal responsável por investimentos de capital nos

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    negócios. Em alguns casos, as PPPs (Parcerias Público-Privadas) podem ser criadas

    tanto para infraestrutura, quanto para o desenvolvimento das facilidades dos negócios.

    Quais os benefícios econômicos e sociais das aerotrópolis? 

    Os benefícios econômicos que ela fornece são: conectividade local, nacional e globalmais eficiente, que reduz os custos de empresas, aumenta a produtividade e expande o

    alcance de mercado. Isso também contribui para aumentar o investimento, o comércio,

    os empregos e a prosperidade global da região metropolitana. Os benefícios sociais de

    uma aerotrópolis, devidamente planejada e desenvolvida, incluem trajetos mais curtos e

    mais rápidos para o trabalho e para casa, volumes reduzidos de tráfego e das emissões,

    que contribuem para a sustentabilidade ambiental, e a sustentabilidade social, por meio

    da localização e do design adequados da comunidade residencial.

    Quais as vantagens que a aerotrópolis traz para o transporte de passageiros e de

    cargas? 

    As principais vantagens são o trânsito mais rápido e eficiente, que contribui para uma

    melhor mobilidade local, regional, nacional e global.

    A implantação das aerotrópolis está muito ligada ao transporte aéreo de cargas,

    mas, no Brasil, essa atividade ainda é muito pequena na divisão da matriz de

    transporte. Isso pode ser um problema? Como solucioná-lo? 

     Na verdade, o Brasil tem um mercado substancial de carga aérea, o maior da América

    do Sul e um dos maiores do mundo. Enquanto outras formas de transporte de cargas no

    Brasil podem ser consideravelmente maiores em peso, a carga aérea contribui com uma

     porcentagem muito elevada do valor do comércio do Brasil (importações mais

    exportações). Muitas das principais indústrias do país, tais como equipamento

    aeroespacial, microeletrônica, farmacêutica, autopeças e perecíveis de alto valor (peixe

    fresco, flores frescas, frutas frescas etc) não poderiam existir sem o serviço de carga

    aérea da nação.

    Sempre se falou na necessidade de um distanciamento entre o aeroporto e a cidade

    por questões de segurança. O que mudou agora para que se defenda a construção

    de uma cidade ao redor de um aeroporto? 

    O planejamento da aerotrópolis é voltado para a segurança. Ele coloca as comunidadesresidenciais e os edifícios altos fora das rotas de voo das aeronaves e fora das zonas de

    outros desenvolvimentos para minimizar os riscos de acidentes.

    Como está o desenvolvimento do projeto da aerotrópolis de Confins, em Minas

    Gerais? 

    O desenvolvimento dentro e em torno do Aeroporto Internacional Tancredo Neves-

    Confins e da aerotrópolis da Grande Belo Horizonte está progredindo. Em menos de dez

    anos, desde que o modelo foi abraçado pela liderança do governo, a infraestrutura de

    transporte de superfície para o aeroporto foi melhorada, e grandes obras ainda estão em

    andamento. A zona do aeroporto industrial foi desenvolvida e está operando. A área demanutenção de aeronaves da Gol foi construída, contribuindo com a geração de mais de

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    1.000 postos de trabalho, e grandes grupos comerciais evoluíram na região do

    aeroporto. Funcionários do governo local e de Minas Gerais estão colaborando com o

    setor privado e as principais universidades da região para facilitar novos investimentos

    na aerotrópolis. O Fashion City Brasil, o maior showroom do mercado de moda de

    vestuário da América do Sul, a apenas cinco minutos do terminal do aeroporto, vai abrir

    nos próximos meses. Tão importante quanto, a Cidade Administrativa do Estado deMinas Gerais, empregando cerca de 16 mil pessoas, foi inaugurada há três anos, no

    corredor principal da aerotrópolis (Linha Verde), que liga o terminal à cidade de Belo

    Horizonte. Tudo isso está levando mais desenvolvimento ao longo do corredor da

    aerotrópolis Belo Horizonte.

    O aeroporto de Confins tem a infraestrutura necessária para a implantação de

    uma aerotrópolis? 

    O terminal está se expandindo rapidamente e melhorando a sua infraestrutura para se

    tornar uma poderosa aerotrópolis. Isso inclui um segundo terminal de passageiros, uma

    segunda pista de pouso e decolagem, áreas atualizadas de carga, e melhores estradasinternas. Sob a nova concessão do operador aeroportuário, outras grandes melhorias de

    infraestrutura aeroportuária e instalações estão em obras.

    Em quanto tempo a aerotrópolis de Belo Horizonte estará madura, em condições

    de competir mundialmente? 

    Desenvolver uma aerotrópolis é mais como correr uma maratona do que uma disparada

    de cem metros. Dada a grande escala e o escopo econômico da aerotrópolis de Belo

    Horizonte, levará pelo menos duas décadas para ela alcançar seu potencial competitivo

    total. No entanto, mesmo os gigantes nascem pequenos e, conforme acima mencionado,

    grandes progressos já foram feitos com efeitos competitivos positivos. Eu teria a

    expectativa que isso fosse acumulativo com efeitos concorrenciais globais significativos

    sendo vistos nos próximos cinco anos.

    Com a implantação da aerotrópolis em Confins, qual deve ser o futuro do

    aeroporto da Pampulha? 

    O aeroporto da Pampulha nunca poderá sustentar o desenvolvimento de uma

    aerotrópolis, nem tornar a região competitiva a nível mundial. Embora conveniente, é

    muito pequeno para essa função e um tanto perigoso, dada a densidade de

    desenvolvimento de seus arredores. Sua aparência é apertada, um pouco sem graça, enão oferece uma boa primeira impressão de Belo Horizonte para os seus visitantes

    aéreos que passam pelo aeroporto. Também atrai o tráfego do Aeroporto Internacional

    de Belo Horizonte, necessário para esse aeroporto continuar a desenvolver novas rotas.

    Em minha opinião, a Região Metropolitana de Belo Horizonte seria mais bem servida,

    eliminando o tráfego aéreo comercial da Pampulha e convertendo-o em um aeroporto de

    aviação geral que sirva táxis aéreos, jatos executivos e demais aeronaves particulares

     para executivos. O terreno onde o aeroporto fica é tão bem posicionado e valioso que a

    Infraero poderia ter a sua própria mina de ouro se fosse para fechar o aeroporto e vender

    a terra para uso de desenvolvimento de qualidade mista comercial e residencial ou

    firmar uma PPP com o setor privado para desenvolver essa terra como outros aeroportos

    importantes têm feito na Europa.

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    Além da consultoria que o senhor está prestando para o governo de Minas Gerais

    no desenvolvimento da aerotrópolis de Belo Horizonte, outros Estados brasileiros

     já procuraram pelo seu trabalho? 

    Sim, tenho falado com outros operadores aeroportuários e governos no Brasil, mas a

    única relação concreta que eu tenho no momento é com a Secretaria do Estado de MinasGerais de Desenvolvimento Econômico.

    Para ter acesso ao conteúdo completo da CNT Transprote Atual, clique aqui.

    Livia Cerezoli

    Agência CNT de Notícias