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Professora Raquel Lemos E-mail: [email protected] Conteúdo da Aula: Conceitos em Direito do Trabalho Método: Aula Expositiva Para reflexão:
“Costuma-se dizer, também, que a grande fábrica está desaparecendo, dando lugar
a pequenos “empreendedores”, que organizam a própria força de trabalho. Diz-se ainda
que como conseqüência dos AVANÇOS TECNOLÓGICOS, cada vez mais o trabalhador
é deslocado para a própria residência, onde presta serviços à distância, para várias outras
pessoas ou empresas.
Se isto, sob o ponto de vista superficial dos fatos, pode se apresentar como uma
verdade, de modo algum constitui fundamento para demonstrar que o emprego acabou ou
vai acabar.
Primeiro, há que se verificar em que proporção isto atinge o mundo do trabalho
em um país ainda economicamente debilitado como o Brasil. Basta dar uma saidinha do
encastelado mundo das teorias e andar pelas ruas para verificar o imenso número de
pessoas, nos mais variados segmentos, trabalhando nas condições típicas de um
empregado: vendedores de lojas em geral, secretárias em escritórios de toda espécie,
frentistas de postos de gasolinas, enfermeiros dos hospitais, professores em escolas
particulares, lixeiros, vendedores de rua, bancários, trabalhadores domésticos, operários
em fábricas, cortadores de cana, colhedores de laranja, caixas de supermercado, vigias,
vigilantes e etc.
Quanto se estabelece a proposição de que o emprego não existe mais, é como se
todas as pessoas fossem, de uma hora para outra, “deletadas” do nosso cotidiano e este,
então, seria um efeito concreto do avanço tecnológico sobre o emprego.
Além disso, os tais “empreendedores” são, na verdade, pequena parcela da classe média
burguesa, que possui uma qualificação diferenciada que lhes permite desenvolver uma
atividade por contra própria, o que, afinal é uma aspiração natural no contexto da
sociedade capitalista” (Relação de Emprego & Direito do Trabalho. Jorge Luis Souto
Maior.São Paulo: LTr, 2007, p. 20)
Aula:
A se considerar o passeio histórico, realizados nas aulas 1 e 2, e diante da reflexão aqui
proposta, é válido questionar: QUAL O CONCEITO DE EMPREGADO?
O conceito de EMPREGADO encontra-se exposto no artigo 3º da Consolidação das Leis
do Trabalho. Vejamos:
ARTIGO 3º: “Considera-se EMPREGADO toda PESSOA FÍSICA que presta serviços
de NATUREZA NÃO EVENTUAL a empregador, sob DEPENDÊNCIA DESTE e
mediante SALÁRIO” (grifos nossos)
Sendo assim, são estes os requisitos para ser empregado:
1) Pessoa física: relação de pessoalidade, é o que se denomina a “prestação pessoal
de serviços”. Exemplo concreto: Se contrato a Maria para a realização de serviços
domésticos em minha residência, não posso admitir que a Regina a substitua com
freqüência. A relação de emprego supõe que só se admita a prestação pessoal, ou
seja, por aquela pessoa contratada.
Neste tópico, vale a pena rememorar que em sala de aula, trabalhamos a questão
do PEJOTISMO, o que na verdade, se resume a uma tentativa das empresas para
desconfigurar a relação de emprego, mediante a contratação de prestação de
serviços por “pessoa física” que se vê coagida a emitir nota fiscal de prestação de
serviços, mensalmente. Ora, nestes casos, e havendo os requisitos flagrantes da
relação de emprego, tem-se FRAUDE À RELAÇÃO DE EMPREGO.
O trabalho com o qual o empregador tem o direito de contar é o de determinada e
específica pessoa e não de outra. Assim, não pode o empregado por sua livre
iniciativa, fazer-se substituir por outra pessoa, sem o consentimento do
empregador.
Veja bem: Ocasionalmente, a prestação pessoal de serviços pode-se fazer
substituir, desde que com o consentimento do empregador. Quando a substituição
se torna regra, passando o pretenso empregado a ser substituído de forma
permanente, não há que se falar mais em nexo empregatício. Falta a pessoalidade
do exercício.
Ainda merece atenção a seguinte premissa: A RELAÇÃO DE EMPREGO É
UMA RELAÇÃO FÁTICA, OU SEJA, PRESENTES SEUS REQUISITOS,
NÃO HÁ TENTATIVA DE FRAUDE QUE SUPERE ESTA REALIDADE. No
caso da emissão de nota fiscal, por exemplo, o simples fato desta realizar-se por
pessoa jurídica não afasta ou nubla a relação de emprego, se esta é emitida
sequencialmente, sempre para o mesmo empregador, e com os demais requisitos a
seguir demonstrados.
2) Não eventualidade na prestação de serviços: este conceito deve ser
compreendido como a HABITUALIDADE (FREQUÊNCIA) da prestação de
serviços. Neste sentido, esclarece-se que a jornada pode não ocorrer de segunda a
sexta-feira, bastando, portanto, sua habitualidade. Por exemplo: a prestação de
serviços domesticas realizada duas vezes por semana; a professora que lecione
quatro dias numa instituição de ensino.
A não eventualidade deve ser entendida simplesmente como habitulidade, é
aquele que exerce uma atividade de modo permanente. Por óbvio, diante da
necessidade normal e permanente da empresa.
3) Onerosidade: empregado é um trabalhador assalariado, portanto, alguém que,
pelo serviço que presta, recebe uma retribuição. Caso os serviços sejam
executados gratuitamente pela sua natureza, não se configurará a relação de
emprego. Há um exemplo sempre citado para elucidar este ponto: uma freira que
gratuitamente presta serviços num hospital, levando lenitivo religioso aos
pacientes. O DEVER DO EMPREGADO É PRESTAR SERVIÇOS, O
DEVER DO EMPREGADOR É PAGAR OS SALÁRIOS.
4) Dependência ou Subordinação: Em função da situação do contrato de trabalho,
o empregado está sujeito a receber ORDENS, em decorrência do PODER DE
DIREÇÃO DO EMPREGADOR.
De maneira clara, pode-se dizer que EMPREGADO É TRABALHADOR
SUBORDINADO. AUTÔNOMO TRABALHA SEM SUBURDINAÇÃO. Ora, o
contrato de trabalho é um contrato de atividade, isto quer dizer que a atividade de
alguém é dirigida por outrem, mediante salário. Em se tratando de trabalhador
autônomo não há o poder de direção sobre a atividade do trabalhador. O autônomo
não está subordinado às ordens e serviços de outrem, uma vez que, sendo
independente, trabalhará quando quiser, como quiser e segundo os critérios que
determinar. Autodetermina-se no trabalho. O empregado, ao contrário,
subordina-se no trabalho.
A subordinação é nítida a base hierárquica da empresa. É fácil percebe-la nos
operários de uma fábrica, trabalhando nas máquinas, sob a fiscalização de um chefe
ou encarregado, marcando cartão de ponto para cumprir e ganhando salário.
Entretanto, quanto mais elevado o nível do trabalhador, mais tênue é a subordinação.
Assim, nos altos escalões administrativos da empresa, há diretores que têm
subordinação leve, quase imperceptível. Só o fato de, numa empresa, alguém se
inserir na organização para cumprir diretrizes que não traça, mas que provêm de
uma assembléia da sociedade, já se tem um indicativo.
Em resumo, é a soma da quantidade de ordens que revelará a situação. Quanto maior
o número de ordens, mais clara estará a subordinação. Para tanto, exemplificamos em
sala de aula: a fiscalização da jornada de trabalho, a obrigação de uso de uniforme, a
obrigação de registro em cartão de ponto, o intervalo para refeição pré-fixado, a
impossibilidade de utilizar e-mail pessoal na máquina da empresa, a revista periódica
para fiscalização de objetos da empresa e etc.
Dica: para facilitar a compreensão do conceito de empregado, sugere-se a sigla
PONES.
P = PESSOA FISICA
O = ONEROSIDADE
NE = NÃO EVENTUALIDADE
S = SUBORDINAÇÃO
Finalmente, duas questões ainda foram abordadas em debate na sala de aula:
1) TELETRABALHO: O sociólogo italiano Domenico de Mais, de grande prestígio
no Brasil, em seu livro “O ÓCIO CRIATIVO” , define teletrabalho como “um trabalho
realizado de longe dos escritório empresariais e dos colegas de trabalho, com
comunicação independente com a sede central do trabalho e com outras sedes, através
de um uso intensivo das tecnologias de comunicação e da informação, mas que não são,
necessariamente, sempre de natureza informática”.
Teletrabalhador é aquele que trabalha com o uso de tecnologia moderna, em
especial a tela do computador, de comunicação fora da empresa destinatária do seu
serviço.
Não há, no entanto, somente computadores na atividade profissional moderna. Há
outros equipamentos modernos: fax, fotocopiadoras, internet, telefones celulares e fixos
que podem ou não ser ferramentas coadjuvantes no teletrabalho. Os serviços pelos quais
respondem os teletrabalhadores são enviados de uma sede para outra, NÃO
EXIGINDO A PRESENÇA FÍSICA NA EMPRESA, A NÃO SER
ESPORADICAMENTE, O QUE AMPLIA A AUTODETERMINAÇÃO DO
TEMPO DE TRABALHO, mas via de regra, não afasta a relação empregatícia.
2) A questão da fiscalização de e-mail eletrônico: como temática e
questionamento diante dos avanços tecnológicos, as empresas e empregadores passaram
a adotar caminhos jurídicos para fiscalização do uso do computador, este entendido como
INSTRUMENTO DO TRABALHO, pelo Tribunal Regional do Trabalho.
Assim é que diante das inúmeras polêmicas levadas aos Juizes do Trabalho,
passou-se a questionar:
Qual o limite para o empregado no uso do computador?
A limitação ao e-mail pessoal do empregado é possível? Sua fiscalização pelo
empregador é juridicamente amparada?
Fiscalizar os sites acessados pelos empregados a fim de verificar o tempo
efetivamente dedicado aos interesses da empresa é medida que encontra amparo
legal?
Diante dos recorrentes casos, a Justiça do Trabalho está sendo levada a consolidar
seu entendimento. Por isso, hoje, o computador é considerado instrumento de trabalho, e
portanto, seu uso está adstrito à limites e limitações. Perfeitamente considerável que a
empresa celebre Termo de Uso com os empregados, bem como regule internamente sua
utilização. Aliás, neste sentido, tem-se tornado rotina no ato da contratação a assinatura
de termos e declarações que conferem ao empregado respeito às normas internas de
utilização dos aparelhos.
De fato, essa fiscalização somente transpõe a barreira legal, quando realizada
sem conhecimento do empregado, às escuras e em ofensa ao direito de privacidade
do empregado. Este ainda é o entendimento majoritário da Justiça do Trabalho, que
como dito, continua a enfrentar dilemas propostos pela tecnologia, e não previstos ou
regulamentados na Consolidação das Leis do Trabalho.