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#04 SETEMBRO/OUTUBRO 2012 CONCEITUAL AmaReloS

CoNCeItuAL - abd.org.br · ABD CONCEITUAL SET/OUT 2012 070 DESIGN jAunE AMARELOS André Poli e Roberta Queiroz visitaram a ... RJ Luiz saldanha arinho Filho, Membro Efet. Cons. Delib

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Amarelos

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Amigos e parceiros,

Este número da ABD Conceitual vem repleto de luzes, in-tensidades, atitudes, otimismos e alegrias. São essas, talvez, as principais características da cor que escolhemos para a quarta edição da revista: o amarelo. Difícil explicar as cores. Mas sabe--se que o amarelo é a tonalidade que simboliza o sol, o verão, a prosperidade; estimula o raciocínio; desperta a criatividade.

O termo amarelo vem de amarellus, diminutivo de amaros, palavra do baixo latim que significava “amargo”. Amargo? Pois sim. Mas, se a origem da palavra é confusa, seus sig-nificados e representações são sempre vibrantes. É cor que incomoda, provoca, divide opiniões. Nunca é neutra, con-sensual. Há quem goste do amarelo e quem o despreze por sua grande intensidade.

Em Chojnice, cidade ao norte da Polônia, descobrimos o WAMHouse, escritório de design que combina elementos de arquitetura, decoração e comunicação visual para criar, com hu-mor e cores fortes, peças inovadoras para ambientes com per-sonalidade. Da Polônia, seguimos para a França, onde fomos convidados a visitar a Maison&Objet e a Paris Design Week para selecionar o que há de inovador no design global. Lá, apro-veitamos para conversar com India Mahdavi, designer e arqui-teta iraniana radicada na França.

Yes, nós também temos banana: a mais pop das frutas não podia ficar de fora desta edição por suas múltiplas e diverti-das simbologias nas artes e no design. Assim como o neon, as esculturas de luz. E o amarelo como representação da riqueza barroca, da ostentação das cortes, do ouro como símbolo de po-der. Na Alemanha, próximo a Berlim, o Palácio Sanssouci é exemplo mais que perfeito do estilo Rococó, ápice da utilização do ouro na arquitetura e em ornamentos internos.

Amarelo é luz. E, na reportagem “Luz do sol”, descobrimos que, ao longo da história, a luz natural sempre influenciou – metafórica ou literalmente – o modo como o homem edifica o seu habitat.

Nós, da ABD Conceitual, segui-mos edificando ideias e propostas com o objetivo de inspirar os profissionais de design de interiores que trabalham para construir a melhor harmonia en-tre o homem, seus anseios e seu meio.

Carolina Szabó

Amareluz

ABD CONCEITUAL SET/OUT 2012

DESIGN070

AMARELOS

JAUNEAndré Poli e Roberta Queiroz visitaram a Maison&Objet a convite da organização do evento

Armário Pavão de madeira, revestido de chapas de madrepérola, com aplicação de pavão esculpido à mão em metal dourado, da Janet Morais. Almofada em veludo amarelo cardinal, com brasão de escola tradicional inglesa, Timothy Oulton. Pote de porcelana amarela com aplicação de dragão, Franz. Mesa Around em madeira de pinus, Muuto. Jogo de chá Bulki Set em porcelana, Muuto. Galo em vidro amarelo da Daum. Sofá Chesterfiled em couro amarelo cardeal, Timothy Oulton

Fundadora em Los Angeles da boutique-design-estúdio

Touch, a brasileira Zoë Melo aponta oito produtos

com princípios de sustentabilidade, escala

humana e funcionalidade

Oito

1

porUM

A série de mobiliário do belga Maarten de Ceulaer reinterpreta clássicos do design, como se houvessem passado por mutações nucleares. Esferas de espuma são presas à estrutura básica do móvel, que depois é completamente coberto por uma camada de borracha texturizada que lembra o veludo. O processo de manu-fatura garante que o resultado sejam objetos únicos, di-ferentes de peças desenvolvidas em grande escala.

SUSTENTABILIDADE050

ABD CONCEITUAL SET/OUT 2012

FOTO

NIC

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EEFS

Mutation Series Maarten De Ceulaer

ELA É FRUTA, ELA É AMARELA, ELA É POP

YES,NÓS TEMOS

TEXTO EDUARDO LOGULLO

028 POP ART

ABD CONCEITUAL SET/OUT 2012

D A B A N A N A , A F R U TA , muito se sabe, muito se come, muito se vê. Basta fazer um Google para descobrir que a coitada da banana é considerada uma pseudobaga da bananeira. A bananeira, por sua vez, é planta herbácea da família Musaceae. Banana, menina, tem vitamina. Banana é o quarto produto alimentar mais produzido no mundo. Dá--lhe, banana: a pseudobaga da bananeira é cultiva-da em 130 países. Ou seja, bananas everywhere. Vamos dar uma banana para este parágrafo e es-corregar para o próximo.

Talvez por tamanha universalidade e ubiquidade, a banana se tornou, durante o século pas-sado (o século que trouxe imenso poder às imagens), um ícone visualmente muito explorado. A banana, descobriram todos, era pop na essência: sua simplicidade de amarelo rajado de manchas escuras, mais o formato curvo quase fáli-co, permitiram incontáveis citações nas artes plás-ticas, cinema, publicidade e moda.

Mas, cá entre nós, comer banana nunca foi um ato bonito. Faltaria, digamos, estética ao ato de descascar a banana e se deparar com aquele fruto insinuante diante dos lábios. Assim, logo sensuali-zaram a assexuada banana. A palavra banana, pelo menos em português, ganhou significados pejora-tivos, maliciosos ou depreciativos. Em inglês, nem sempre: a expressão “You don’t know bananas” (mais ou menos ‘você não entende nada’) caiu em desuso, embora ainda exista.

A banana também encantou os europeus que a trouxeram do Oriente para o Novo Mundo. Aqui se adaptaram bem e se tornaram elementos simbóli-cos dos trópicos, das terras de vegetação exótica, do nativismo colonialista. A banana merecia um es-tudo sócio-antropológico sério. Bananeira, não sei, bananeira, sei lá: isso é lá com você.

Acima, a dançarina norte-americana

Josephine Baker e seu saiote de bananas

estilizadas, anos 1920, Paris: a pioneira do

banana style

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Amarelos

CAPA revista ABD Conceitualterá cinco edições em 2012. A cada número, a publicação vai abordar uma cor e as incontáveis possibilidades que ela oferece. Na edição 04, o tema é o amarelo.

*

Publishers André Poli e roberta Queiroz

Consultoria Editorial eduardo Logullo | marcos Guinoza

Conselho Editorial Carolina szabó, renata Amaral, Jéthero Cardoso,

roberto Negrete e Alex Lipszyc

Diretora Executiva ABD maria Cecília Giacaglia

Colaboradores Amer moussa, Daniel Costa (tratamento de imagens), Daiane

Ferreira Domingos, evelyn Leine (arte), Fabio Galeazzo, Gustavo Garcia

(Papanapa), Jéthero Cardoso, Luan silva, marcella Aquila, roberto Negrete, Zoë melo

Diretora de Arte Cinthia behr

Editor de Fotografia renato elkis

Jornalista Responsável marcos Guinoza mtb 31683

Revisão Ana Cecilia Chiesi

Pesquisa de Imagens Charly Ho

Publicidade

Para anunciar [email protected]

VeLVet eDItorA LtDA 11 3082 4275

www.velveteditora.com.br

ABD Associação brasileira dos Designers de Interiores

www.abd.org.br

Presidente SP Carolina szabó, Vice Presidente SP renata Duarte Amaral,

Diretora Financeira SP márcia regina de souza Kalil, Diretora Nacional SP

maria Luiza Junqueira da Cunha (malu), Diretora Nacional RJ Paula Neder de

Lima, Diretora Nacional PR Fabianne Nodari brandalise, Diretor Nacional MG

Carlos Alexandre Dumont (Carico), Membro Efet. Cons. Delib. SP Alexander

Jonatan Lipszyc, Membro Efet. Cons. Delib. SP brunete Frahia Fraccaroli,

Membro Efet. Cons. Delib. BA Delma morais macedo, Membro Efet. Cons.

Delib. SP Fernando Piva, Membro Efet. Cons. Delib. SP Jhétero Cardoso de

miranda, Membro Efet. Cons. Delib. RJ Luiz saldanha marinho Filho, Membro

Efet. Cons. Delib ES rita de Cássia marques da silva (Garajau), Membro Efet.

Cons. Delib. SP roberto Daniel Negrete, Suplente Cons. Deliberat. SP Luciana

teperman, Suplente Cons. Deliberat. SP maria do Carmo brandini, Suplente

Cons. Deliberat. SP terezinha Nigri basiches, Membro Efet. Cons. Fiscal DF

Denise Fátima de Faria Zuba, Membro Efet. Cons. Fiscal SP marília brunetti

de Campos Veiga, Membro Efet. Cons. Fiscal SP maurício Peres Queiroz dos

santos, Suplente Cons. Fiscal RJ Ana maria de siqueira Índio da Costa,

Suplente Cons. Fiscal BA eneida márcia da silva Alves, Suplente Cons. Fiscal

MG Jaqueline miranda Frauches

Sugestões

[email protected]

setembro/outubro 2012

CoNCeItuAL#04

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade

dos autores e não refletem a opinião da revista.

eDItorIAL 03

abd conceitual Set/out 2012

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sumárIo04

011 YELLOW POWERPor que venerar o amarelo? um quase-manifesto pelo tema desta edição

020 NAVE FUTUROKITSCHescritório de design polonês cria ambientes e objetos inovadores com humor e cromatismos vibrantes

024 UMA QUESTÃO DE CONTEÚDOOs encapsulados chegaram para ficar

028 YES, NÓS TEMOS BANANAo que Josephine baker, Carmen miranda e Andy Warhol teriam em comum?

032 BRILHO NO TUBOLuz vintage. Luz de cassino e cabaré. Luz glamour. É o neon: as esculturas de luz

036 LUZ DO SOLA luz natural através dos tempos e a sua importância nos habitats humanos

042 O SIGNO DO OUROo metal que reluz e que traduz formas de poder

047 1, 2, 3: JÁ!AbD organiza rally que leva os competidores às principais lojas de decoração e design de são Paulo

050 JUST TOUCHescolhas certas para tempos que pedem sustentabilidade

057 ADMIRÁVEL MUNDO NOVOAbD Conceitual visita em Paris a feira de moda-casa maison&objet e indica as novidades do setor

073 EM ROTAos percursos do Paris Design Week

076 A MORTE DO BEGEo chic-frígido e os sofás sem graça. Por Fabio Galeazzo

078 AMBRA E RUBINOos ambientes criados pelo designer italiano Nino Zoncada para o transatlântico eugenio C. Por roberto Negrete

080 ENADE 2012Participar ou não? eis a questão. Por Jéthero Cardoso

082 FAÇA-SE LUZA obra “iluminada” de James turrell

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abd conceitual Set/out 2012

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CADERNOINSIDE

Por que fugir do amarelo?

Por que evitar o amarelo?

Por que venerar o amarelo?

TEXTO EDuarDo logullodEsign/ilusTraçõEs papaNapa

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O mais expansivo entre os matizes também é o que mais atrai os olhos. Quem não gosta

de amarelo, bege será. Gostar do amarelo é trazer possibilidade de algum avanço, algum

choque, algum raio. Por tantos motivos-rumos-vontades-escolhas-ações, cai na cabeça

uma lista com fatos amarelos a varejo. Amarelíadas.

Quem misturar verde com vermelho na proporção exata (e difícil), chegará ao amarelo.

E se espantará.

O amarelo conjuga verbos futuristas.

Nunca enganar o olhar de ninguém, nem mesmo dos daltônicos: isso é garantia exclusiva

dos amarelos e seus matizes amestrados.

O amarelo do sol cega? Dizem que sim.

O amarelo do girassol gira? Dizem que sim.

Van Gogh entrou em delírios amarelos e se tornou um outsider capaz até de cortar fora

a própria orelha.

Uma casa de fachada amarela nunca será um endereço normal.

O jogo da amarelinha tem 500 anos e se chamava “pular macaca” quando chegou ao

Brasil, vindo da Península Ibérica. Suas regras são assim: uma pequena pedra é lançada

na primeira casa e o jogador deve percorrer o trajeto do traçado pulando (ora com um pé,

ora com os dois), evitando o quadrado onde a pedra caiu. A sequência se repete enquanto

a pedra avança de casa em casa e o grau de dificuldade aumenta.

O livro mais conhecido do escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984) se chama “Jogo

da Amarelinha” (em espanhol, “Rayuela”). É um livro de leitura quase aleatória, como

indica o próprio autor. Começa-se por qualquer capítulo (Cortázar sugere o 73), por ser

um romance de fluxo de consciência introspectiva: os personagens oscilam e brincam

com a mente subjetiva do leitor, para permitir vários finais.

A rainha Elizabeth II preza a cor amarela em seu imenso e inenarrável guarda-roupa real.

Em sua primeira visita oficial à ex-arquiinimiga Irlanda, ela desembarcou toda vestida de

amarelo. Inclusive bolsa e chapéu. Causou.

O amarelo foi a cor-símbolo dos czares da Rússia.

O russo (nascido na atual Geórgia) Vladimir Maiakóvski (1893-1930), um dos poetas mais

importantes do mundo moderno, aderiu à Revolução Soviética, participou do movimento

cubo-futurista, era homem de paixões, arrebatador e lírico, épico e avançado. Suicidou-

se com um tiro. Foi o autor do curioso verso “Dizem que existe um homem feliz. E este

homem vive no Brasil”. A roupa favorita de Maiakóvski era uma blusa de seda amarela.

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O quindim brasileiro leva coco e deixou de ser parente culinário do brisa-do-lis, a ma-

triz lusitana que originou o quindim nos tempos coloniais. Sabe-se apenas que ambos

continuam amarelos.

O tradicional bairro Casa Amarela, em Recife, deve seu nome ao português Joaquim

dos Santos Oliveira, que para celebrar a cura de sua tuberculose, pintou em tons ocres

a casa em que habitava. E o local virou referência pela “casa amarela”.

O cartão amarelo é utilizado em várias modalidades de esporte. No futebol, o juiz in-

dica ao jogador um determinado nível de punição por seu comportamento, como aviso

de infração leve. No rúgbi, o jogador é suspenso por 10 minutos. Na esgrima serve

como aviso, anulando a ação que o atleta acabou de fazer. Nas MMA (artes marciais

mistas), é mostrado como aviso; o terceiro cartão amarelo ao mesmo atleta resulta na

sua desqualificação.

Escultor e criador de móbiles e stabiles, o norte-americano Alexander Calder (1898-

1976) gostava tanto da cor amarela que, ao ser convidado na década de 1960 para criar

a nova identidade da empresa aérea Braniff, estreou a proposta com a pintura externa

de um Boeing 727 inteiramente em amarelo. A fuselagem do avião depois recebeu so-

breposições de seus abstracionismos coloridos.

Os táxis de Nova York são os yellow cabs.

Placas de sinalização de trânsito usam o amarelo como cor de fundo. Uma convenção

internacional e que se vale de estudos sobre superfícies pintadas de amarelo e que se

tornam perceptíveis mesmo sob a escuridão.

A bandeira brasileira tem um losango amarelo. Hum... vamos pular este tópico?

“E as rosas eram todas amarelas” é o nome de uma canção de Jorge Benjor.

Rosas amarelas, para os místicos, trazem significados de alegria, amizade e desejo.

Pêra, melão, banana, abacaxi, maracujá: os nutricionistas garantem que os alimentos

de cor amarela guardam antioxidantes e substâncias que beneficiam diferentes fun-

ções do organismo.

Alguns tipos de canários podem ser amarelos e que jamais deveriam ser aprisionados

em gaiolas.

Quem lembraria, de um momento para o outro, da música “Brasília Amarela”, do grupo

Mamonas Assassinas? Ninguém. Estaria ali a gênese cultural da classe C?

Vitamina C efervescentes são amarelas. Mas qual será a cor da vitamina C?

O jacaré-de-papo-amarelo vive quase 50 anos e ninguém pergunta a sua idade.

Lady Gaga já usou muitas perucas amarelas ––but nobody cares.

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Falar hoje sobre “raças” ou “raça amarela” é quase uma bobagem. Espalhe por aí:

a expressão “raças humanas” refere-se a antigos conceitos antropológicos, forte-

mente criticados e quase em desuso. Classifica grupos populacionais com base em

conjuntos de características somáticas e crenças sobre ancestralidade comum,

além de basear-se em traços visíveis como cor da pele, conformação do crânio e

do rosto e tipo de cabelo, bem como a auto-identificação. Em stricto sensu, nem

deveríamos mais falar em raças humanas, desde que se confrontou com o desen-

volvimento da genética na segunda metade do século 20. Somos todos possíveis

amarelos-pardos-brancos-mouros-louros-índios-semitas-negros-marcianos-ruiv-

os-mezzo símios de olhos puxados e narizes aduncos.

O pior uso da cor amarela em todos os tempos veio do nazismo: o regime totali-

tário alemão que quase destruiu a Europa durante a Segunda Guerra, forçava os

cidadãos de origem judaica, de todos os países invadidos pelo exército hitlerista, a

usarem uma estrela amarela no peito, para que assim fossem segregados, perse-

guidos e condenados.

Fiquei tão triste com a frase acima que vou tomar um suco de laranja para ver se passa.

Lâmpadas que emitem fachos de luz amarelados são mais quentes e tornam os ambi-

entes mais confortáveis, além de estimularem o relaxamento mental.

Na Fórmula 1, a bandeira amarela aponta um drama: significa “perigo logo à frente”,

“proibido ultrapassar” ou “reduza a velocidade”.

O pequeno sapo amarelo das florestas tropicais é um bufonídeo que contém toxinas

ainda pouco analisadas. Pesquisas recentes apontam que a cura do Mal de Alzheimer

poderá vir dele, o raro bufonídeo amarelo.

Dandelion, amor-perfeito, margarida, helianthus, buds, açafrão, lírio, mal-me-quer, ch-

apéu-de-napoleão, moréia, melão de São Caetano, titônia, caaponga, cipó de ouro, xy-

ris, cravo amarelo, hibisco, picão, alamanda, estrelinha gorda, mussaenda, trialia, dália:

elas somam mais de uma centena de espécies.

Lançaram esmaltes de unhas na cor amarela. Precisamos adotar imediatamente e de-

pois participar de uma reunião bem séria naquela empresa bem séria.

Batom amarelo: também tem.

O amarelo magnetiza a pupila.

Recanto: o amarelo ilumina qualquer canto.

Em 1939, Ary Barroso compôs “Camisa Amarela”, um samba-canção que termina com

esses versos: O meu pedaço me domina, me fascina, ele é o tal / Por isso não levo a mal

/ Pegou a camisa / A camisa amarela / Botou fogo nela / Gosto dele assim / Passada

a brincadeira / Ele é pra mim.

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O amarelo não é normal.

O amarelo não é para qualquer um.

O sol é amarelo?

Amar elos amarelos.

Sonhar que chegou em casa e que

todos os móveis são amarelos, as

paredes amarelas e o piso amarelo.

Fechar os olhos e ver tudo amarelo.

Amarelo pode ser começo. E pode ser

fim. De tudo. De nada. Obrigado. Não

tem de quê.

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futurokitschnave

texto Amer moussA

Equilíbrio, cores vibrantes e bom humor nos projetos do escritório de design polonês WAMHouse

AmbIeNte016

O estúdio WAMHouse oferece produtos de design

de interiores que vão de poltronas e aparadores até componentes

para cozinhas e banheiros

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abd conceitual Set/out 2012

AmbIeNte018

Apesar do senso de humor, a dupla se mostra cautelosa na composição dos espaços, dedicando especial atenção aos detalhes e buscando o equilíbrio das partes com o todo

u m e s C r I t ó r I o D e D e s I G N P o L o N ê s tem conseguido refletir, em cores e formas, o espí-rito de liberdade que, finalmente, vibra em um dos países que mais sofreu com a dureza da Guerra Fria. Fundado em 2005 por Karina Wiciak e mariusz Warsinski – dupla formada em design gráfico, fo-tografia e engenharia civil –, o estúdio WAMHouse combina elementos de arquitetura, iluminação e comunicação visual para criar peças inovadoras e ambientes descontraídos.

situado em Chojnice, pequena cidade ao norte da Polônia, o escritório está instalado próximo do Parque Nacional bory tucholskie. Com um ambien-te natural a poucos passos da empresa, a equipe consegue se transportar para fora do método aca-dêmico de projetar, o que permite uma abordagem

sem preconceitos do programa arquitetônico – bem como um olhar aberto para novos conceitos do mo-biliário de interiores. No resultado é possível reco-nhecer a natureza como uma das maiores fontes de inspiração do grupo, desde seus aspectos universais até suas especificidades regionais.

o WAmHouse oferece uma gama de produtos de design de interiores que vai desde poltronas e aparadores até precisos componentes para cozinhas e banheiros. todos os produtos sinte-tizam o minimalismo moderno com a irreverên-cia contemporânea. Apesar do senso de humor onipresente, a dupla se mostra sempre cautelosa na composição dos espaços, dedicando especial atenção aos detalhes, buscando sempre a coesão e o equilíbrio das partes com o todo.

um ótimo exemplo é a excêntrica poltrona Zje-dzony (algo como “comido”, em polonês). Projetada no formato de uma banana descascada, permite que o usuário se sente confortavelmente enquanto é “abraçado” pelo mais puro plástico tropicalizado. A estrutura de encaixe da peça assimila o modo de fabricação industrial moderno, ao mesmo tempo em que reinventa a tradicional cadeira funcional. Pelo seu desenho incomum, cairia bem tanto em residências particulares como em saguões públicos – uma maneira divertida de esperar por alguém ou de se alimentar de novas energias.

Paralelamente à linha de mobiliário, o WAmHou-se se ocupa também com projetos de interiores em diferentes escalas, como o conceito “Gold Kitchen”. Dentro da ideia de facilitar as operações culinárias do dia a dia, pressupõe a compatibilização dos desenhos personalizados, desenvolvidos pelo estúdio, com os melhores fabricantes de ferragens e marcenaria do mercado. Ao final, tem-se uma cozinha que se adapta perfeitamente aos hábitos do morador sem perder a matriz estética de cores e luzes intensas.

No site do escritório na internet é possível en-contrar mais informações sobre os projetos, bem como links para um blog e um portal de fotografia – que também leva o nome do grupo e aparece como uma extensão das mesmas ideias arquite-tônicas, só que aplicadas à linguagem fotográfica. o WAmHouse costuma postar referências em sua página no Facebook, onde pode-se constatar que a nave futurokitsch dos objetos resignificados ainda pretende percorrer muitas galáxias. n

www.wamhouse.plwww.facebook.com/wamhouse.company

Ao lado, a poltrona Zjedzony, projetada no formato de uma banana descascada. A irreverência é uma das principais características dos projetos do WAMHouse

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abd conceitual Set/out 2012

teCNoLoGIA020

De CoNteúDoumA Questão

texto André poli

FiquE PoR DENtRo DoS NoVoS ENCAPSulADoS

Ambiente com objetos

encapsulados, da Bleu Nature

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ação

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teCNoLoGIA022

C e r tA V e Z , e m F I r e N Z e , eu olhava “o Nas-cimento de Vênus”, de sandro botticelli, em uma sala da Galeria Uffizi. Na tela, em que flores voam e uma concha flutua, vi a natureza tão encapsulada dentro de tantas representatividades que encontrei o meu discurso: a Imagem Interior.

Durante a renascença, entre os ideais de perfei-ção, estava criar ilusões que fossem as mais próxi-mas possíveis da natureza. mas a pintura evoluiu com os séculos – e os interesses, claro, se tornaram outros. eugene Delacroix (1798-1863) viu a luz do marrocos e mostrou, meio século antes, possibilida-des para o impressionismo, o estilo que, na tentativa de capturar a luz, abriu caminho para os modernis-tas que subverteriam as formas e assumiram a cor (um exemplo dessa representatividade da natureza é o italiano Giorgio morandi). mais tarde vieram os expressionistas abstratos, como mark rotko (1903-1970), que assumiram a pintura como massa física de pigmento sob superfícies, na maioria dos casos linho, telas ou papel.

onde quero chegar? Na evolução da tecnolo-gia industrial, em que hoje podemos representar (ou apresentar) a natureza com a própria matéria: encapsulamos exemplos do mundo natural como se Botticelli apenas pegasse a flor ou a concha e a mantivesse em suspensão dentro de outra matéria. Isso não é uma descoberta desta década. Lembro perfeitamente das peças de resina que adornavam bares de beira-mar nos anos 1970 com carangue-jos, cavalos marinhos e estrelas-do-mar encap-suladas em esferas de resina. essas esferas quase sempre terminavam como pesos de papel ou no câmbio de algum táxi.

Agora, grandes empresas desenvolvem técnicas de escala para este processo quase artesanal: em chapas de alguns metros quadrados ou cúbicos, é possível incorporar uma grande possibilidade de texturas e de objetos, das mais incríveis formas, tex-turas e cores. sem contar que também é possível a qualquer pessoa customizar suas criações/escolhas. Podem encapsular-se fibras naturais, materiais sinté-ticos, metais, peças orgânicas, flores, conchas, raízes etc. Na sequência, os encapsulados em chapas ou blocos se transformam naquilo que a imaginação mandar: portas, mesas, divisórias, luminárias. os en-capsulados chegaram e apontam para o futuro. n

Ambiente e bancos com troncos de árvores encapsulados, da Bleu Nature

Acima, tecido metálico e cubos de papel dourado encapsulados em chapa, da 3Form

VERSÁTIL E INOVADORSão vários os processos de desenvol-vimento de produtos encapsulados. O mais comum é o uso de algum tipo de resina líquida que, por meio de um “catalisador”, transforma-se em blo-co sólido. Há empresas que utilizam material reciclado. Na fabricação dos produtos são usadas duas chapas prontas de resina e, entre elas, são colocados os materiais a serem encapsulados. Depois, as chapas vão para uma prensa e, por fim, são refi-lados. O interessante desse processo é a versatilidade: diversos tipos de materiais podem ser encapsulados, mesmo que não sejam materiais de série das empresas fabricantes.

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eLA É FrutA, eLA É AmAreLA, eLA É PoP

YES,Nós temos

texto eduArdo logullo

024 PoP Art

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D A b A N A N A , A F r u tA , muito se sabe, muito se come, muito se vê. basta fazer um Google para descobrir que a coitada da banana é considerada uma pseudobaga da bananeira. A bananeira, por sua vez, é planta herbácea da família musaceae. banana, menina, tem vitamina. banana é o quarto produto alimentar mais produzido no mundo. Dá--lhe, banana: a pseudobaga da bananeira é cultiva-da em 130 países. ou seja, bananas everywhere. Vamos dar uma banana para este parágrafo e es-corregar para o próximo.

talvez por tamanha universalidade e ubiquidade, a banana se tornou, durante o século pas-sado (o século que trouxe imenso poder às imagens), um ícone visualmente muito explorado. A banana, descobriram todos, era pop na essência: sua simplicidade de amarelo rajado de manchas escuras, mais o formato curvo quase fáli-co, permitiram incontáveis citações nas artes plás-ticas, cinema, publicidade e moda.

mas, cá entre nós, comer banana nunca foi um ato bonito. Faltaria, digamos, estética ao ato de descascar a banana e se deparar com aquele fruto insinuante diante dos lábios. Assim, logo sensuali-zaram a assexuada banana. A palavra banana, pelo menos em português, ganhou significados pejora-tivos, maliciosos ou depreciativos. em inglês, nem sempre: a expressão “You don’t know bananas” (mais ou menos ‘você não entende nada’) caiu em desuso, embora ainda exista.

A banana também encantou os europeus que a trouxeram do oriente para o Novo mundo. Aqui se adaptaram bem e se tornaram elementos simbóli-cos dos trópicos, das terras de vegetação exótica, do nativismo colonialista. A banana merecia um es-tudo sócio-antropológico sério. bananeira, não sei, bananeira, sei lá: isso é lá com você.

Acima, a dançarina norte-americana

Josephine Baker e seu saiote de bananas

estilizadas, anos 1920, Paris: a pioneira do

banana style

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026 PoP Art

Porém, estamos aqui para fugir do banal – este ter-mo francês que traz o mesmo sentido em português e que não tem nada a ver com “banana”. estamos aqui para louvar a amarelidão da banana, a pseudobaga que já foi louvada musicalmente até por Jorge ben Jor em “Vendedor de bananas”. (A letra cita as varie-dades da popular banana: prata, ouro, são tomé, nanica, da terra, ouro, figo, d’água, maçã etc.)

Pergunta: quem foi a primeira pessoa a incorpo-rar a banana como elemento pop? resposta: Jose-phine baker, nos loucos anos 1920, nos palcos de Paris. A dançarina americana que abalou a europa com coreografias livres e absurdas, apareceu de repente com um saiote feito de bananas estiliza-das. Isso nos anos 1920, repito. Dá para imaginar o escândalo. Assim, La baker é madrinha da banana pop, banana louca, banana sexy.

Em 1943, outra mulher absurda cha-mada Carmen Miranda estava no auge do sucesso no Hemisfério Norte, sendo a terceira artista a ganhar mais dinheiro no star-system americano. Seus filmes agora são obras-primas do camp. o mais rico, mais exagerado e melhor produzido de todos foi “the Gang’s All Here” (em português, “entre a Loura e a morena”), dirigido por busby bekerley e coreografa-do por Hermes Pan. No meio do filme, La Miranda vem numa carroça repleta de bananas, cantando “the Girl With the tutti-Frutti Hat”. Cenas depois, sua figura se destaca no meio de uma mega-core-ografia de estúdio (cenários imensos, piscinas qui-lométricas, balés aquáticos, figurinos luxuosos e câ-meras panorâmicas). em cena antológica, Carmen

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aparece com uma cascata de frutas que parecem jorrar de sua cabeça até o fundo infinito, com efei-tos visuais arrojados para a época. Ali aconteceu o ápice da banana-star.

Parece que os gringos têm mais fetiche na banana do que nós, os habitantes do país que Paulo Francis chamava de “Bana-não”. Por aqui tivemos pelo menos um destaque importante no culto à pseudo-baga da bananeira: o pintor e desenhista Antônio Henrique Amaral, cele-brado no mercado das artes do final dos anos 1960 em diante. É dele a série de trabalhos que usaram a banana como leit-motiv em telas grandes, intensas e tropicalistas, pintadas no começo dos 70’s.

Pouco antes disso, a banana havia caído no colo de Andy Warhol, na alucinada Nova York dos sixties. Foi quando o inventor da cultura pop, o sacerdo-te do lixo-luxo, criou a capa do primeiro disco do grupo Velvet underground & Nico, cujo vocalista tinha o nome de Lou reed. o resto é história. Hoje, aquela capa é considerada uma das cem mais re-presentativas do século 20.

bananas não faltariam para outras citações. Con-tudo, é melhor preservar um pouco a sua santa imagem para evitar desgastes. uma salva de palmas para a mais simpática das frutas. salve a banana. n Cenas de “The Gang’s

All Here”, filme estrelado por Carmen Miranda em 1943: o estilo camp do diretor Busby Bekerley e as bananas na “paisagem” tropical. Abaixo, na página à esquerda, reproduções da capa de Andy Warhol para o disco do Velvet Underground & Nico, 1967

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brILHo No tubotexto luAn silvA | fotos renAto elkisNeon: esculturas de luz

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Dependendo dos gases misturadose das cores dos tubos, pode-se chegar a váriastonalidades de neon. Além disso, é possível dar qualquer formato ao tubo de luz

A At m o s F e r A t e r r e s t r e é o ar que respiramos. ela é composta, principalmente, por ni-trogênio, oxigênio e argônio. os demais gases que a compõe estão presentes em quantidades ínfimas e podem ser manipulados pela indústria para diver-sos fins. Um desses gases é o neônio. Gás nobre, escasso na terra, mas presente em abundância no cosmos. Com ele, faz-se o neon.

Luz vintage e retrô. Luz de cassino e cabaré. Luz glamour. Impossível imaginar as ruas de Las Vegas sem fachadas e sinalizações repletas de neon. ou a time square dos anos 40, época ápice do neon na avenida, com cerca de duas mil lojas iluminadas por essa luz. No brasil, os bordéis e estabelecimen-tos da rua Augusta, em são Paulo, surgiam no sé-culo passado “escrevendo sua história com neon” nas mais variadas formas, como canta o rapper emicida. símbolo do insone e incandescente, toda essa novidade luminosa não teria sido possível sem a dedicação de dois personagens da história.

No final do século 19, desfrutando das farturas advindas da revolução Industrial, a Inglaterra era a nação mais rica e poderosa do mundo. em 1898, nos laboratórios da university College London, tra-balhavam dois renomados químicos britânicos, sir Willian ramsay e seu assistente, morris W. travers. ramsay, já famoso por ter descoberto a existência dos gases nobres na atmosfera terrestre, sabia da possibilidade de outras descobertas e, por isso,

insistia nas pesquisas. em um dos experimentos, retirou amostra de ar da atmosfera e a resfriou em baixas temperaturas. o ar virou líquido e, em segui-da, foi fracionado e fervido. Na medida em que fer-via, o gás era capturado em um tubo. Ao notarem que o tubo estava sendo preenchido por tonalida-de vermelha, perceberam a existência de um novo elemento. “A chama da luz vermelha do tubo con-tou sua própria história”, disse travers. Desse modo, descobriram o neon, (do grego néos, que significa novo). Na ocasião, desvendaram também a exis-tência de dois outros elementos: criptônio (Kr) e xenônio (Xe) – completando, assim, a família dos gases nobres na tabela periódica.

A descoberta possibilitou que os engenheiros pensassem em novos produtos. em 1910, pelas mãos do francês George Claude, surgiu o primei-ro letreiro em neon. Dependendo dos gases mis-turados e das cores dos tubos, pode-se chegar à tonalidade desejada. Além disso, devido à forma de produção, é possível dar qualquer formato ao tubo de luz. os publicitários logo se apropriaram do po-tencial do produto, expandindo seu uso pelo oci-dente. em 1920, empresários norte-americanos já importavam a invenção para os estados unidos. Ar-quitetos passaram a utilizar em seus projetos, deli-neando os contornos dos edifícios com aplicações luminosas. As luzes de neon se transformaram em um dos símbolos mais emblemáticos da cultura de

Las Vegas, decorando com as mais diversas cores as fachadas de cassinos como Planet Hollywood, Caesars Palace, binions Horsehoe, Golden Nugget e muitos outros.

A substituição das fachadas de neon por outras fontes de iluminação e o fechamento de alguns desses cassinos motivaram a criação do primeiro museu do mundo dedicado a preservar as obras em neon. o Neon museum foi fundado em 1996, em Las Vegas, e hoje possui cerca de 150 peças que já estiveram presentes, desde a década de 1930 até os dias atuais, nas superfícies dos edifí-cios da cidade.

No brasil, o neon também foi usado em proje-tos arquitetônicos e de design. maurício Queiroz, designer de consumo, acredita que, com a chega-da do LeD, a produção do neon está em declínio. Para ele, o LeD já substituiu o neon. “A proposta de utilizar o neon não é ter uma luz fiel, até porque a qualidade do foco não é a melhor. utilizo o neon esporadicamente, para uma iluminação indireta, quando quero proporcionar um clima vintage.”

Já para rafael Leão, arquiteto de iluminação, há prós e contras de se trabalhar com o material. “Com o neon, tem-se liberdade em relação à forma. É pos-sível fazer curvatura para todos os lados, atingindo uma forma tridimensional. É uma escultura de luz.” Apesar de concordar que o LeD ilumina com mais intensidade quando comparado ao neon, Leão acredita que um nunca substituirá o outro, pois os dois apresentam propostas diferentes. Além dis-so, para ele, novas tecnologias favoreceram o uso do neon, o que contradiz com a ideia de declínio. “Antigamente, os transformadores utilizados para acender as peças de neon eram eletromagnéticos. Faziam barulho, vibravam e esquentavam. Hoje, as fontes são eletrônicas. são mais modernas, conso-mem menos energia e não fazem ruído.” n

www.neonmuseum.org

o eSpecialiSta

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Edvar Ferreira Silva é dono da Neon Três Estações, empresa que há mais de 30 anos produz letreiros luminosos de neon.

CORES O neon pode ser executado em 20 cores. Tra-balhamos com 10 em gás argônio e 10 em gás neônio.

DURABILIDADE As cores iluminadas com gás argô-nio duram mais.

VIDA ÚTIL Depende de vários aspectos, mas neon exposto no tempo tem vida útil menor. Se estiver em ambiente interno, dura de 3 a 4 anos, e pode ser consertado caso os eletrodos queimem.

DIâMETROS Os mais comuns são de 10 mm e 12 mm.

PROCESSO DE ExECUÇÃO Recebemos a arte via e--mail e a reproduzimos no tamanho e cor solicitados pelo cliente.

VALORES Quando trata-se de filetamentos retos, é cobrado por metro linear; quando o logo é trabalha-do, a cobrança é pela arte.

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texto mArcellA AquilA

Ao longo da história, a luz natural sempre influenciou o modo como o homem edifica o seu habitat

LuZ Do soL

INúmeros são os eXemPLos em Que o soL INFLueNCIA As CoNstruções Ao LoNGo Dos temPos

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D e s D e o s P r I m ó r D I o s At É H o J e , o sol ainda fornece elemento fundamental para que a vida possa crescer e florescer neste planeta azul. o astro que dita o ritmo das nossas jornadas é tam-bém aquele que nos surpreende com os espetá-culos lunares, rompe com a monotonia ambiental marcando o compasso das estações do ano e, so-bretudo, estabelece a medida da nossa passagem pelo tempo. No espaço-terra, porém, a presença em maior ou menor intensidade da luz solar leva não apenas a diferenças no comportamento hu-mano, mas também se reflete no modo como o homem edifica o seu habitat. Olhar para a maneira como o engenho humano responde aos estímulos da luz solar na história nos traz indícios tanto das necessidades do corpo quanto do espírito em cada época e em cada cultura.

Inúmeros são os exemplos em que o sol influen-cia – metafórica ou literalmente – as construções ao longo dos tempos. Na antiguidade, ele reina-va absoluto no panteão da civilização egípcia e, embora não exercesse influência direta sobre as formas-funções, era o sol quem determinava a lo-calização das mais famosas edificações dessa civili-zação. As pirâmides encontram-se na margem es-querda do Nilo, alinhando-se na direção poente, do crepúsculo, e, portanto, apontando o caminho que deveriam seguir os mortos. Já na Hélade clássica, aquele que quisesse vir a ser livre das sombras de-veria caminhar na direção da luz do sol – era o que cantava Platão, no mito da caverna (e Gal Costa em “Fa-tal”, de 1971). No Panteão romano, por sua vez, não é o deus-sol, como imagem-representação, que protagoniza a cena e, sim, a própria presença--luz. É no Panteão de Agripa, uma das construções greco-romanas em melhor estado de presentifica-ção, que se revela a luz como elemento plástico na composição arquitetônica. uma abertura no cen-tro da cúpula (um feixe duro e em contraste com a penumbra interna) permite que o sol penetre no edifício, destacando a cada hora do dia uma por-ção do edifício. trata-se de uma das mais impres-sionantes sínteses da relação homem-natureza no que diz respeito ao espaço edificado.

essa equação onde, de um lado pese a razão hu-mana – curiosa, inventiva e capaz de transformar a natureza – e do outro, a própria natureza – uma força que, muitas vezes, demonstra sua preponde-rância sobre as vontades do homem – nem sem-pre encontra confluência na história. Do ponto de vista da produção artística e, mais especificamen-fo

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te da arquitetura, é interessante observar como o trabalho com o signo “luz” pode expressar ora uma tendência de pesar para um lado da equação, ora para o outro. um exemplo emblemático dessa “di-ferença de pesos” encontramos quando, durante a Idade média, contrapõem-se as proposições do gótico e do renascimento. Na arquitetura góti-ca, a luz é elemento concreto, fundamental para a estruturação do espaço e símbolo da presença divina. enquanto a mística gótica se apoia na con-templação dos elementos naturais e, sobretudo, na luz como materialidade divina, o renascimento se apoiará na razão humana como instrumento de conhecimento, de apreensão da natureza. Ao estabelecer o homem como “medida de todas as coisas”, o renascimento irá valorizar outros priori-dades na composição arquitetônica que não a pró-pria materialidade-luz. Ao mesmo tempo, a luz será pensada e investigada, principalmente no campo da pintura, enquanto matéria-prima fundamental ao estímulo ótico, ao sentido visual humano.

Após um longo período de dicotomia, será ape-nas no século 20 que a luz-clareza de propósitos & a luz-elemento plástico-construtivo irão consti-tuir um só corpo. o século 19, que vira nascer a luz elétrica, também amargava as piores condições de habitação nas grandes cidades. se, por um lado, o avanço técnico-científico da “era do maquinismo” permitia a construção de palácios de vidro em Lon-dres e arranha-céus em Chicago e Nova York, gran-de parte da população vivia em habitações extre-mamente insalubres – conforme descreve Angels em “A questão da Habitação”, de 1873. o século 20 amanhecia diante das possibilidades abertas pelos novos meios e das contradições de metrópoles que não respondiam mais às necessidades funda-mentais do homem. mas, como a época era mira-culosa, as leis do movimento moderno nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatores destru-tivos. Em arquitetura, isso significou a fundação de uma nova linguagem e, com ela, um conjunto de princípios-elementos construtivos que buscavam, essencialmente, “restabelecer ou estabelecer a harmonia entre o homem e seu meio.”, escreve Le Corbusier. Nesse sentido, a luz natural, assim como a ventilação, figuram tanto como elementos fun-cionais – signos de uma racionalidade construtiva – quanto plástico-poéticos – pensados e trabalha-dos em sua materialidade.

os mesmos princípios que levam Alvar Aalto a construir na Finlândia, seu país natal, com o maior

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eNQuANto A mÍstICA GótICA tem A LuZ Como mAterIALIDADe DIVINA, o reNAsCImeNto se APoIArá NA rAZão HumANA

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aproveitamento possível da luz solar e com materiais de maior capacidade térmica, e que geram os brise--soleil, o teto-jardim e a fachada livre em Le Corbusier. No brasil, é a antropofagia que comanda toda uma geração de arquitetos deglutidores dos princípios modernos. entre os resultados aqui formulados, te-mos desde a releitura dos muxarabis árabes – nas fachadas construídas com cobogós – até o pavilhão tropicalista realizado por sérgio bernardes para in-corporar o brasil, em 1958, na exposição mundial de bruxelas. este edifício, que consiste num avarandado descendente que encontra um amplo jardim tropical na sua parte central, tem a entrada de luz e água das chuvas controlada por uma enorme bola flutuante.

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A LuZ NAturAL FIGurA tANto Como eLemeNto FuNCIoNAL QuANto PLástICo-PoÉtICo

Ao lado, projeto para escola em Várzea

Paulista, do escritório FGMF, de São Paulo.

As outras imagens que ilustram esta

reportagem são do projeto Camarines

House, do escritório A-cero, de Madrid

Em tempos de eletrificação do mundo – onde os muxarabis da primeira geração do moderno tor-naram-se verdadeiras pupilas eletrônicas (Instituto do mundo árabe, em Paris) – o trabalho com a luz na arquitetura pode assumir novos programas. Na medida em que os espaços virtuais assumem-se mais e mais como possíveis espaços de trabalho, “resta” aos espaços físicos a dimensão do encon-tro corpóreo e de possíveis experiências coletivas. Abre-se, assim, para a arquitetura, um campo am-plo para experimentação, onde a luz, enquanto es-tímulo à percepção, pode ser explorada ambiental-mente não apenas em uma única direção (visual), mas nos cinco sentidos. n

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O estilo rococó, derivado do Barroco, foi o ápice da utilização do ourona arquitetura e em ornamentos internos. Mas o universo simbólico de “sucesso”

que permeia a palavra ouro permanece forte até hoje

texto Amer moussA

o signo do ouro

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Aqui, escultura gigante de maçã feita de cerâmica, com pintura dourada (Lisa Pappon para Bull&Stein). Na pág. ao lado, espelho Guilt, em metal martelado com moldura dourada

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BANHADO EM OURODouração consiste na aplicação de uma finíssima camada de ouro sobre qualquer elemento, metálico ou não. Existem diversas técnicas possíveis, como a colagem de folhas sobre a base através de adesivos, bem como aplicação de ceras, vernizes e até mesmo compostos metálicos com pó de ouro. Atualmente, foi desenvolvido um método conhecido por galvanoplastia, que utiliza correntes elétricas para melhor aderência dos materiais. A vantagem deste procedimento sobre os demais é a durabilidade, tornando-se ideal para peças que exigem manipulação constante, como louças e joias. o fator negativo é a presença de metais pesados no procedimento, o que torna essa indústria, somada ao processo predatório da garimpagem do ouro, um dos ciclos produtivos mais tóxicos engendrados pelo homem.

o o u r o É D o s m e tA I s mais resistentes. Ca-paz de manter solidez reluzente mesmo em condi-ções extremas de temperatura, umidade e poluição; e sempre atrai olhares e pensamentos mundanos distraídos. Absurdamente rentável: com apenas um grama do material puro é possível esticar um fio de 3 km de extensão e 0,005 milímetros de diâmetro. ou obter uma lâmina quadrada semitransparente de 70 cm de largura por 0,1 micrômetro de espessura.

Acredita-se que o ouro tenha aterrissado na su-perfície terrestre de carona em meteoritos pré-histó-ricos. Devido à alta densidade, supõe-se que a maior parte tenha afundado, e permanece depositada no núcleo do planeta na forma de pepitas. Ainda assim, hieróglifos egípcios de 4600 anos atrás o descrevem como substância “mais abundante do que a sujeira”.

Civilizações posteriores também fizeram uso do metal: dentro do templo grego Pathernon ficava a escultura em madeira de 12 metros de altura da deusa Athena, coberta por ouro e marfim. Os ro-manos trataram de desenvolver novos métodos de extração em larga escala, por introdução de minas hidráulicas. Apesar de o considerarem inútil e prefe-rirem outros metais, na América dos astecas o ouro era intitulado “excremento divino”.

o período conhecido como barroco – entre o fim do século XVI e meados do século XVIII – foi um dos grandes momentos da utilização do ouro na arquitetura, seja na forma de iconografia externa – revestimento de estátuas e monumentos – ou em espaços internos, em minuciosos detalhes orna-mentais. Em 1747, o então rei da Prússia, Frederico o Grande, inaugura, nas cercanias de berlim, uma das mais luxuosas construções da europa. situado em Potsdam, o Palácio sanssouci (que em francês significa “sem preocupação”) foi uma deslumbrante residência de verão concebida a partir dos desejos estéticos pessoais do monarca, o que resultou em

grande experimentação de formas e ornamentos. o resultado? Ambientes reluzentes gotejantes, onde nenhum componente parece ter escapado de uma pincelada dourada – inclusive as capas dos livros.

Construído sobre um platô com horizonte a per-der de vista, a residência tinha como objetivo servir de refúgio a artistas e filósofos cansados dos exausti-vos compromissos e representações da corte alemã. Voltaire, amigo íntimo do rei, era figura tão frequente no palácio que possuía um quarto com o seu nome. Além do edifício principal, foram construídas pelo parque pequenas estruturas de apoio. Peculiares e bizarras edificações, todas exibem algo em comum: acabamentos em ouro. tal conjunto de obras ma-neiristas caracterizou um estilo que ficaria conheci-do como rococó Fredericano, o qual mais tarde in-fluenciaria diversas escolas de arquitetura na Europa (e mesmo no brasil).

Com a revolução Industrial, as propriedades e qualidades químicas do ouro passam a receber atenção especial, sobressaindo o seu valor utilitário sobre o simbólico. Apesar de a burguesia emergente adorar um adorno, as vanguardas do século 20 tra-taram de colocar o ouro no devido lugar, detonando o patamar de frivolidade e desperdício que a exces-

Lustre Eternity, com aplicação manual de cristais que são colocados individualmente na estrutura da peça (Janet Morais para Koket). Abaixo, banqueta de madeira com estofado em tecido adamascado (Koket)

O Palácio Sanssouci, em Postdam, é exemplo do estilo Rococó, o ápice da utilização do ouro na arquitetura e em ornamentos internos. Abaixo, Gran Vase, em porcelana pintada (Jean Boggio para Franz)

siva exuberância dos palácios e igrejas rococós havia atingido. A elas coube o papel histórico fundamental de avisar que a verdadeira riqueza reside na ideia do “que fazer”, e não na matéria em si.

A tecnologia moderna encontrou outros usos para o ouro em edifícios, revestindo vidros com pe-lículas que refletem raios (infra) vermelhos e amare-los, deixando passar verdes e azuis. Vantagens: bar-rar o calor no verão e guardá-lo no inverno – porque o inverso do processo é verdadeiro.

Ainda assim, o universo simbólico de “sucesso” que permeia a palavra ouro permanece muito for-te até hoje. o bom rapaz é um “menino de ouro”. A pessoa generosa tem “coração de ouro”, e os gran-des campeões são condecorados com medalhas de ouro. os bem-nascidos foram criados em “berço de ouro”, provavelmente por casais que selaram a união com alianças de ouro. manter um segredo é “escon-der o ouro”, contá-lo à pessoa errada é “entregar o ouro”. O bom conselho é ficar calado, pois o “silêncio é de ouro”. basta escolher a frase certa e, assim, fe-char tudo com “chave de ouro”. n

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rally organizado pela ABd leva competidores às principais lojas de

decoração e design de são Paulo

já!1,2,3,N A P r I m e I r A e D I ç ã o do Design Weekend, evento que teve como missão celebrar o design, a arte, a decoração e o urbanismo na cidade de são Paulo, a AbD criou um rally de regularidade em que os participantes – para vencer os desafios da prova – tiveram que passar pelas principais lojas de deco-ração e design da capital paulista. Disputaram o rally 26 equipes, totalizando 88 profissionais inscritos. Durante a corrida, a AbD e os competidores apro-veitaram para recolher alimentos não perecíveis que foram doados para a Cruz Verde, instituição sem fins lucrativos que presta assistência a portadores de pa-ralisia cerebral grave. Foram arrecadadas 2,5 tonela-das de alimentos. “Achei maravilhoso, veio bastante gente. todos gostaram e conheceram lojas que não conheciam. Foi um encontro perfeito.”, avalia Caroli-na szabó, presidente da AbD.

o Design Weekend aconteceu entre os dias 23 e 26 de agosto e, além do rally organizado pela AbD, teve intervenções artísticas, cursos, feiras, exposi-ções, palestras e shows espalhados por diversas lo-calidades de são Paulo. n

www.abd.org.brwww.designweekend.com.brwww.cruzverde.org.br

Acima, Daniela Taboada, Jéthero Cardoso e Marcia Pinto. Ao lado, a equipe vencedora do rally

Acima, da esquerda para a direita: Monica Seabra, Midiã Borges e Maria

Claudia; Cecília Giacaglia, Jéthero Cardoso e Carolina Szabó. Ao lado,

à esquerda: Elba Cristina, Patricia Rocha e Cristina Rocha; abaixo,

Renata Amaral e Márcia Kali. Ao lado, à direita, Christian Blum,

Angela Borsoi, Marta Castineiras e Andrea. Abaixo, Danilo Costa,

Luana Mattos, Alessandra Marques e Rodrigo Costa

EvEntO ABd

Participantes com as regras da prova. Carolina Szabó, presidente da ABD, explica aos designers as regras do rally. Cave Evangelista, Paulo Roberto e Adriana Rezende

1º LUgAR Roberta Banqueri, Manoel Brancante, Ana Bartira e Omar Zein 2º LUgAR Myrna Porcaro, Priscila Bernardi, Karina Korn e Angela Maluf 3º LUgAR Cave Evangelista, Paulo Roberto, Adriana Rezende e Camila Barbosa

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Fundadora em Los Angeles da boutique-design-estúdio

touch, a brasileira Zoë Melo aponta oito produtos

com princípios de sustentabilidade, escala

humana e funcionalidade

Oito

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A série de mobiliário do belga maarten de Ceulaer reinterpreta clássicos do design, como se houvessem passado por mutações nucleares. esferas de espuma são presas à estrutura básica do móvel, que depois é completamente coberto por uma camada de borracha texturizada que lembra o veludo. o processo de manu-fatura garante que o resultado sejam objetos únicos, di-ferentes de peças desenvolvidas em grande escala.

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Mutation Series Maarten de Ceulaer

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SoftwallMolo (Canada)

Batucada Brunno jahara

Invento do grupo canadense que tem tudo a ver com a prati-cidade da vida urbana e que propõe soluções inteligentes: um sistema de divisórias independentes, que se expande ou contrai para criar espaços privativos em grandes áreas. A estrutura ce-lular das divisórias agem no isolamento acústico, enquanto as superfícies translúcidas ou opacas controlam a luz.

A coleção batucada, produzida em alumínio anodizado, é composta por vasos, lustres e bandejas de formatos, cores e tamanhos diversos. A superfície martelada dos objetos faz alusão aos ins-trumentos de percussão improvisados com latas e galões metálicos, utilizados em comunidades periféricas. A matéria-prima, reciclada, passa por um processo que a torna 30% mais resistente que o ferro e possibilita acabamento de cores vibrantes. são os primeiros produtos desenhados pelo designer brunno Jahara a serem lançados no brasil, depois de trabalhar por mais de cinco anos na europa. A coleção foi exibida no milan Fuori salone e nas semanas de design ICFF New York e de Valência, como parte das exposições da touCH.

3 5Carambolasergio Matos

Droprita Botelho

Por ter vivido próximo da reserva Xingu, na cidade de Paranatinga (mt), o designer brasileiro Sérgio Matos desenvolve um trabalho bastante influen-ciado pela cultura indígena e pela floresta, nas cores e no uso de materiais naturais. seus objetos, que buscam uma identidade brasileira, ganharam prêmios e participações em exposições no brasil e no exterior.

o desenho do cofre “Drop” faz um paralelo entre economia e responsabilidade no uso do dinheiro e da água. O conteúdo acumulado só pode ser aces-sado ao quebrar a gota de cerâmica, lembrando que só deveríamos usar nossos recursos quando real-mente necessário. A designer portuguesa rita bote-lho participou de exposições em Lisboa, edimburgo, milão e Nova York. ela projeta móveis, produtos, em-balagens e joias.

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8Balancenathalie dewez

Cadeira Vó Judithnicole tomazi/Oferenda Objetos

Openstudio veríssimo

Criado pela designer belga e produzido pela established & sons, de Londres, a luminária de mesa balance é um tubo de alumínio. O transformador das lâmpadas de LED ficam aco-modados na base do objeto, o que garante o peso necessá-rio para o equilíbrio da peça. Com um toque, a peça entra em movimento pendular, em torno do apoio horizontal.

A muito simpática cadeira Vó Judith conecta gerações por meio de design em escala e artesanato. Com o uso do refu-go da indústria têxtil, o projeto reforça a questão da susten-tabilidade, enquanto sua técnica remete ao uso do tempo com atividades desconectadas do mundo virtual. os traba-lhos de Nicole tomazi já foram expostos na mostra brazil è Cosi (Fuori saloni di milano, 2009) e saloni satellite (saloni Del mobile di milano 2010). Atualmente tem produtos nas lojas tok&stok, A Lot of (sP), entre outras.

o banco open tem design simples e inteligente: além de sua função básica, pode ser usado como mesa de apoio ou para segurar portas. Projetado pelo studio Veríssimo, de Portugal, é produzido pela touch em Los Angeles em diversas cores, com madeira reciclada de freixo. O estúdio surgiu da colaboração entre Cláudio Cardoso e telma Veríssimo. seus trabalhos fo-ram expostos na Itália, estados unidos, Japão e Holanda.

TOUCHCom estúdios em Los Angeles e São Paulo, a empresa faz estraté-gias de criação, desenvolvimento e vendas. Na curadoria de design, propõe parcerias com feiras de design, lojas, galerias, museus, hotéis e restaurantes em todo o mundo. Seleciona criações que consigam bom posicionamento mercadológico, no intuito de expandir o design como uma ferramenta que faz a diferença. “O objetivo maior é realizar trabalhos que incorporem proces-sos de soluções sociais e sustentá-veis”, resume Zoë Melo. www.do-not-touch.com

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texto e fotos André poli

design

Ambiente de Timothy Oulton em exposição na Maison&Objet

admirável mundo novoO design globalizado e sustentável mostrado em Paris

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MAISON&OBJET – FICHA TÉCNICAn A segunda edição 2012 da feira de moda-casa aconteceu entre os dias 7 e 11 de setembro no centro de exposições Paris Nord Villepinte.n São mais de 3 mil expositores (43% de marcas interna-cionais) em uma área de 135 mil m2.n A Maison&objet é realizada duas vezes por ano e apre-senta tendências em objetos e acessórios de luxo, cenogra-fias, materiais futuristas e novos conceitos de arquitetura. n A feira é dividida em 8 diferentes pavilhões, como “Scènes d’intérieur” (com criações de designers renoma-dos e de grandes marcas internacionais); “Maison&objet Projets” (com soluções técnicas para planejamento de ponta); “Now! Design à Vivre” (design para o dia a dia); e “Maison&objet outdoor/indoor” (a arte de viver ao ar livre).n Na edição anterior, o evento recebeu 40 mil visitantes.

Mais informações: www.maison-objet.com

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FA C I L I D A D e s N ã o FA LtA m para se chegar ao centro de exposições Paris Nord Villepinte, onde aconteceu este ano a maison&objet: há linhas de ônibus gratuitas à disposição dos visitantes, em shuttle service a cada 15 minutos a partir de vários pontos da cidade – chamados de “navetes”, são ônibus modernos, com ar-condicionado, bagagei-ro e motoristas gentis.

No total, a maison&objet contou com oito enor-mes pavilhões, divididos por temas que vão de uten-sílios domésticos até as mais recentes novidades da indústria do design. Tudo é bem explicado e asses-sorado por um staff impecável. Vale lembrar que os objetos e materiais expostos na feira já estão prontos para chegar ao mercado e ser adquiridos em lojas.

Cada pavilhão tem suas surpresas. mas era no pavilhão de número 8, chamado “Now! Design à Vivre”, que estavam concentrados os principais lançamentos.

entre tantos acontecimentos, chamou atenção a fusão de coisas muito distantes, de estilos e pes-soas. este é o legado da era da internet, onde o mundo virtual se funde cada vez mais ao real, e co-nectado por um sistema nervoso digital que aproxi-ma cada ideia e pensamento da sua concretização. É o design francês que desenha peças orientais; o alemão que produz no marrocos. os próprios ma-teriais mesclam-se de forma inusitada: peças de metal com matérias orgânicas; linhas com vidro. As cores explodem em combinações flúor, com tons pastéis. As formas angulares e diamantadas se misturam com formas arredondadas e orgânicas. Aliás, os materiais orgânicos estão em alta, numa tentativa de construir um mundo novo e susten-tável. em alguns casos, não passam de tentativas. mas os acertos nessa área já são grandes.

Vale ver a beleza da natureza sendo reprodu-zida. A maison&objet faz um recorte do que está sendo produzido no mundo em todas as áreas que compõem uma habitação, seja ela doméstica ou corporativa. são expoentes de um design que está integrado com as leis da natureza, onde o processo determina a forma e a utilidade do produto. e não foi por acaso que os Irmãos Campana foram home-nageados como Criadores do Ano.

A seguir, veja o que encontramos de mais interes-sante na maison&objet.

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Na página ao lado, Cheval, cavalo em madeira forrado com retalhos de tapetes antigos, de Frederrique Morrel.

Aqui, instalação no hall de entrada da Maison&Objet e muro de grama na entrada do pavilhão 8, onde

estavam reunidos os principais lançamentos da feira

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sem abandonar as referências clássicas, o estilo inglês apresentado na maison&objet aparece rejuvenescido nas cores e nos aca-bamentos. Ao lado, cama box com colchão feito manualmente com materiais naturais e mais de 7.535 molas. Acima, estante brass Drum em madeira pintada. Pufe de veludo vermelho cardinal (master’s ottoman). Baú Oxford forrado com tecido listrado. todos os produtos: timothy oulton

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em tempos de preocupação com o meio ambiente, espaços e mobiliários inspirados na natureza são tendência. mirror Cirkel, madeiras fatiadas com aplicação de espelho. Lustre Artiq, luminária com estrutura de metal e pendentes em cerâmica e luzes de LeD. Cadeira Louise Crusoé, com estrutura de galhos entrelaçados, assento e almofadas em tecido ou couro. Candelabros bougeoir Castor, feitos de galhos. todos os produtos: bleu Nature. menos a luminária de chão Alibabig, feita de fibra de vidro, da marca Karman

NAtureZA VIVA

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sofá e almofadas estofados com tecidos customizados, da Conceptuwall. Vaso de cristal colorido Pivoni – Peony da Daum. Vaso de porcelana com aplicação de bolas coloridas, de Jean boggio. Na página ao lado, cinzeiro em porcelana com cromolitogravrua e acabamento pintado à mão e folhas de ouro nas bordas. Alian tomas para Haviland

CromAtIsmos

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básico e elegante, o preto continua se reinventando e surpreendendo. Na página ao lado, armário Jean boggio para Franz, em laca preta com aplicação de painel de porcelana. banqueta mandy, com estrutura metálica e assento em tecido. Luminária de chão Lotus, com base produzida em madeira esculpida à mão e pintada de dourado, cúpula em seda preta. mesa de jantar Intuition, com pés em metal fosco, acabamento em dourado e tampo preto. Caveira (falta a legenda). espelho reve, com moldura em preto metálico. todos os produtos: Koket

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referências orientais, cromatismos vibrantes, soluções divertidas. Na página ao lado, adesivos de parede da empresa japonesa. Vaso em porcelana azul com aplicação de dragão laranja e ambiente

com inspiração chinesa do designer Jean boggio. Canecas de Paul Frank. Cadeira

bold modern, com estrutura metálica forrada de espuma poliuretano, da seletti

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AmAreLos

jauneAndré Poli e roberta Queiroz visitaram a Maison&Objet a convite da organização do evento

Armário Pavão de madeira, revestido de chapas de madrepérola, com aplicação de pavão esculpido à mão em metal dourado, da Janet morais. Almofada em veludo amarelo cardinal, com brasão de escola tradicional inglesa, timothy oulton. Pote de porcelana amarela com aplicação de dragão, Franz. mesa Around em madeira de pinus, muuto. Jogo de chá bulki set em porcelana, muuto. Galo em vidro amarelo da Daum. Sofá Chesterfiled em couro amarelo cardeal, Timothy Oulton

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um percurso pela região central de Paris

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A PA r I s W e e K D e s I G N é um evento que acontece em paralelo à feira de moda-casa maison&objet. Devido ao sucesso da primeira edição, em 2011, quando atraiu 60 mil pessoas, os organiza-dores resolveram repeti-lo este ano.

o evento consiste em um percurso pelas charmo-sas ruas e avenidas da região central de Paris, onde o público faz passeios temáticos, conhece novos lu-gares e coleções, tem acesso a exposições inéditas, encontra nomes importantes do design. o percurso é organizado por zonas geográficas, com visitas a ate-liers, lojas, showrooms, galerias e restaurantes.

são sete rotas abrangendo diversas áreas do de-sign. mas o visitante, de acordo com as suas áreas de interesse, pode criar o seu próprio caminho.

No trajeto dedicado ao design de interiores, uma das convidadas era India mahadavi, designer e arqui-teta iraniana radicada na França. em conversa com a AbD Conceitual, a designer falou sobre o seu en-canto pelo brasil. ela já veio ao país, quando conhe-ceu trancoso, na bahia, rio de Janeiro e Inhotim, em minas Gerais. India também indicou os locais onde

suas criações podem ser encontradas. Na rue de Las Cases, 3, há ambientes completos desenvolvidos pela designer. E no número 5 da mesma rua estão à venda pequenos objetos de decoração de sua autoria.

A Paris Week Design foi realizada entre 10 e 16 de setembro, em um momento em que os holofotes do mundo estão voltados para Paris devido à Journées du Patrimoine – dois dias em que o governo organiza diversas atividades para incentivar as pessoas a visita-rem os patrimônios culturais da França.

www.parisdesignweek.fr

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Restaurante Germain, em Paris. Projeto de India Mahadavi com elementos que remetem à década de 1970 e Sophie, uma escultura gigante de uma garota amarela, criação do artista plástico Accueil Xavier Veilhan

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roberta Queiroz visitou a Paris design Week a convite da organização do evento

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Abajur com pé em madeira e cúpula que India Mahadavi pescou em um mercado de pulgas. Ao lado, ambientes de lojas em Paris com peças criadas pela designer

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a S m u da n ç a S sócio-comportamen-tais do mundo digital, e econômicas, ocorridas pela ascensão dos países emergentes, e que diariamente invadem e transformam nosso estilo de vida e há-bitos de consumo, têm gerado resultados irreversíveis na humanidade. na decora-ção, felizmente, é cada vez mais crescen-te o número de profissionais que adotam o uso da cor na busca de soluções estéti-cas que refletem a própria personalidade, e a dos clientes.

o que antes era considerado pelos “cromatófobas” como extravagante e ou-sado, no mundo contemporâneo tornou--se uma ferramenta na busca pela liber-dade de expressão.

Segundo Jung, “as cores são a língua nativa do subconsciente”. Não só refletem nossos valores, mas afetam e moldam a maneira como vivemos – por vezes fun-

cionando como um antidepressivo, um antídoto contra a tristeza; uma terapia.

com isso, é libertador notar que, che-gamos ao fim do uso imperativo do bege, cor que ascendeu na historia da civiliza-ção ocidental como fórmula infalível para se evitar mensagens indesejadas, tornan-do-se símbolo de uma época em que os conceitos de bom-gosto vinham de fora para dentro de modo etnocêntrico.

para mim, um ambiente todo bege, muitas vezes, é impressionantemente sombrio e tedioso e conta uma história de superficialidade, um testemunho dos tempos de uma sociedade regida pelo medo e a insegurança.

medo de amar? medo de errar? insa-tisfação? vontade de agradar a tudo e a todos? não suporta críticas? não ouse, escolha o bege!

é triste, neste momento onde tanto se comenta sobre economia criativa, vi-vermos em um dos maiores laboratórios do mundo e, ao folhear revistas e visitar mostras de decoração, notar o crescente número de colegas que mergulham nes-

se universo chic-frígido das camas sem tesão e dos sofás imundos disfarçados pelo tom bege. pergunto: onde busca-mos nossas raízes? nossas referências? em algum hotel de milão? na vizinha mia-mi? Hello, brasilidade!

claro, toda unanimidade é burra e sim-plesmente gongar, repudiar e tripudiar sobre o excesso do bege seria ato desres-peitoso com um passado glorioso e um presente internacionalmente reconheci-do. tem quem gosta e deve ser respeitado.

Quer inovar? Sede de amar? provocar sensações? deixar um legado? assuma seu tom. n

A MORTE DO BEgEo chic frígido e os sofás imundos

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Por Fabio Galeazzo

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Fabio Galeazzo é designer de interiores, consultor e proprietario da Galeazzo Design, empresa multidisciplinar de criação. www.fabiogaleazzo.com.br

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 m b a r é u m a co r d e a m a r e lo que recebeu seu nome da resina fóssil bas-tante usada na produção de joias.

Âmbar, em italiano, é ambra. e este era o nome de um dos projetos mais emblemá-ticos de nino Zoncada (1898-1988), genial artífice italiano dos interiores de transatlân-ticos notáveis do seu país.

o ponto alto da sua carreira foi o proje-to do eugenio c, um dos mais belos navios criados para a rota da américa latina. antes, houve muitos vapores elegantes: o francês l’atlantique (sem dúvida, o mais lindo) ou o alemão cap arcona ou o inglês alcantara. além de transportar, esses navios enfeitiça-vam com a beleza de seus salões. e, como navegar era a única forma de chegar, as via-gens transatlânticas propiciavam casamen-tos, negócios ou, simplesmente, diversão.

Sabiamente, os franceses usavam os seus navios como exposições do gosto na-cional, de interiores a vinhos. Sabiamente, o governo francês subsidiava a construção destas embaixadas. e foi o eugenio c, ita-lianíssimo, o último desta espécie, navio de três classes com decoração deslumbrante e muito glamour que, em pouco tempo, seria roubado pela simples proposta de cruzar o atlântico em poucas horas. o eu-genio c chegou um pouco tarde.

Houve, no período que se seguiu à Se-gunda guerra, uma restauração da frota italiana e um abandono dos interiores de estilo, abrindo espaço para uma de-coração mais inspirada no movimento moderno, leve e delicada, para a qual Zoncada tinha uma linguagem singular, confortável e acolhedora.

os interiores do eugenio c tinham uma unidade como poucos navios. na verdade, foi Zoncada quem criou o projeto todo, conseguindo um diálogo harmônico e contínuo de proa à popa. o mobiliário fora

produzido pela também italiana cassina e, ainda hoje, pode ser encontrado em leilões mundo afora. território exclusivo para faná-ticos por transatlânticos da era de ouro.

ambra e rubino eram os salões da primeira classe. foi no rubino que, pela primeira vez na vida, experimentei uma orzata (bebida feita de amêndoas, sem álcool). o rubino, com estofados em tons de vinho e areia, pisos de vinil lustrosos e brilhantes (eram polidos todas as ma-nhãs) e paredes em madeiras escuras. o ambra tinha pista de baile, parede elípti-ca com janelas para a proa e tetos na cor da joia que lhe dava o nome, repetida em poltronas de veludo combinadas com ou-tras em tons de areia.

ainda me lembro do cheiro da cera, do barulho da enceradeira e do sabor da be-bida. ainda lembro os painéis de massimo campigli, das escadas simétricas e da sutil elegância do décor. mal sabia eu que, ao notar o trabalho do nino Zoncada, o meu destino já estava escrito. n

AMBRA E RUBINOos interiores assinados pelo designer italiano nino Zoncada para o transatlântico eugenio c

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Por roberto Negrete

Roberto Negrete é designer de interiores. Nasceu em Buenos Aires. Desde 1982, vive em São Paulo. É conselheiro da ABD. www.robertonegrete.com.br

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Salão Rubino

Salão Ambra

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e n t e n d e m oS a n ec e SS i da d e e somos favoráveis às avaliações realizadas pelo inep (instituto nacional de estudos e pesquisas educacionais anísio teixeira), atra-vés do enade (exame nacional de desem-penho de estudantes). o resultado dessas provas permite análise do ensino e sua qua-lidade, e estabelece parâmetros para o aper-feiçoamento dos seus processos.

mas as provas a que os alunos de design de interiores foram submetidos, nos dois últimos exames, não avaliaram o conteúdo que lhes foi ensinado. São provas com ên-fase em design de produto e design gráfico, e excluem as especificidades do design de interiores, prejudicando o seu objetivo.

podemos entender design como uma soma de processos criativos que levam à concepção de um projeto, com diversas me-todologias, tecnologias e métodos de pro-dução. entretanto, consideramos um desvio conceitual entender que a titulação em de-

sign possa permitir a produção de quaisquer concepções criativas denominadas design. Essas atividades profissionais são distintas e obedecem a necessidades específicas em cada tipo de produção.

no mundo, o design está organizado por entidades, subdivididas por sua especiali-dade: ifi (international federation of inte-rior design), icSid (international council of Societies of industrial design) e icograda (International Council of Grafic Design Asso-ciations). um exame nacional que objetiva avaliar o desempenho dos cursos de design deverá obedecer também às especificida-des de cada uma das atividades.

a base do projeto de interiores é o espa-ço arquitetônico. e o desenho arquitetônico é ferramenta que permite compreender o espaço e sua volumetria. em nenhuma das outras áreas do design é necessária essa compreensão. Este fato nos leva a refletir sobre as particularidades de cada área – que podem até ter disciplinas em comum, mas possuem mais diferenças do que afinidades no conjunto de seus conteúdos.

depois da análise da publicação das diretri-zes da prova de design 2012, constatamos a

incompatibilidade entre o que se ensina nas escolas de design de interiores e o conteúdo proposto por essas diretrizes. Soma-se a isso a ausência de diretrizes curriculares nacionais para a área de design de interiores, e temos os dispositivos que resguardam a escola na deci-são de participar, ou não, do enade.

cabe à escola avaliar os conteúdos da prova do enade e decidir sobre o enqua-dramento de determinado curso. certo é que muitos alunos de design de interiores vão participar dos exames do enade no dia 25 de novembro, e é provável que esses alunos tenham um desempenho sofrível, o que mostrará a incongruência entre a pro-va e o que foi ensinado.

O que precisa ficar claro é que a área de design de interiores ainda não possui dire-trizes curriculares nacionais que possam dar lastro e pertinência à elaboração de uma prova especifica. Isso, no entanto, não implica que tenhamos que nos submeter a provas que são elaboradas para outras for-mações em design.

no vi encontro nacional de coordena-dores e professores de design de interiores, que ocorre em 26 e 27 de outubro, em ati-baia, Sp, teremos a participação da arquiteta fernanda marques e do deputado federal ricardo izar, que irão apresentar o projeto de lei de regulamentação profissional do desig-ner de interiores. neste encontro, discutire-mos questões relativas ao ensino. e também abriremos espaço para um breve debate sobre o enade. n

ENADE 2012participar ou não? eis a questão Por Jéthero Cardoso

Jéthero Cardoso é coordenador do curso de Design de Interiores da Belas Artes e membro do Conselho Deliberativo da ABD

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FAçA-se LuZA obra “iluminada” de James Turrelle L e É A r t I s tA P L á s t I C o , tem 69 anos, e define a sua arte assim: “meu trabalho é sobre o espaço e a luz que habita nele. trata-se de como se pode estar diante desse espaço e materiali-zá-lo. trata-se da visão de cada um, como o pensamento sem palavras que provém de olhar para o fogo.” James turrell começou sua carreira nos anos

1960, na Califórnia. Por mais de quatro décadas, vem criando obras que uti-lizam os efeitos da luz dentro de um espaço, e suas criações são exibidas em importantes museus do mundo. A arte de turrell ultrapassa a investiga-ção puramente científica de fenôme-nos ópticos e seu fascínio pela luz está relacionado com sua busca pelo lugar

que a humanidade ocupa no universo. Atualmente, o artista vive em Flagstaff, no Arizona, de onde supervisiona o seu mais ambicioso trabalho: um projeto de land art em roden Crater, um vulcão extinto que turrell vem transformando em observatório. n

www.hess-family.com/turrell_ gallery_tour.html

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