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#05 NOVEMBRO/DEZEMBRO 2012 CONCEITUAL azuis

CONCEITUAL - ABD · denise Fátima de Faria zuba, Membro Efet. Cons. Fiscal SP marília brunetti de Campos veiga, Membro Efet. Cons. Fiscal SP maurício Peres Queiroz dos Santos,

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012

CONCEITUAL

azuis

Amigos e parceiros,

A primeira edição da revista ABD Conceitual surgiu em março de 2012. Naquele início, como é comum acontecer em estréias, tínhamos mais dúvidas que certezas sobre o êxito deste novo projeto. Será que a revista daria certo? Será que atingiríamos os objetivos propostos? Será que conseguiría-mos agregar valor ao segmento de design de interiores?

As respostas para essas questões vieram com a sequên-cia editorial da publicação. De modo rápido, expandimos ideias, temas, abordagens e, agora – após esmiuçar a clareza do branco, o dinamismo do vermelho, a sustentabilidade do verde e a alegria do amarelo – posso afirmar com convicção: sim, nós conseguimos!

E para celebrar essa sensação de dever cumprido, nada mais apropriado que fechar 2012 em azuis.

Azuis que acalmam; azuis que levam à reflexão; azuis que ajudam a clarear as ideias; azuis do mar, do céu – e da liber-dade que move todo ser em movimento.

Ser como Verner Panton ou Eero Saarinen ou Arne Jaco-bsen e outros “vikings” que transformaram a gelada Escan-dinávia em referência de design limpo, simples e bonito. Ser como Eric Cahan, fotógrafo de Nova York que nos apresen-ta “Sky Series”, conjunto de imagens do nascer e do pôr do sol que mostram as múltiplas cores do céu.

Tem mais: mergulhamos nas piscinas azuis da Califórnia, visitamos A Casa Azul de Frida Kahlo, resgatamos a história dos azulejos portugueses, discutimos a fotografia como obra de coleção e decoração, analisamos a casa como espaço de determinação individual, desnudamos os “corpos azuis” do artista plástico francês Yves Klein.

Com o azul, finalizamos o tema Cores. Em 2013, seguire-mos com a nossa proposta de infor-mar, debater, inspirar, provocar, sur-preender e levar aos profissionais de design de interiores uma revista em sintonia com este novo mundo: mais dinâmico, colaborativo, im-permanente. Até lá!

Carolina Szabó

Ciclo de cores066 biblioteca

o a z u l d a c o r d o m a r – e que é tam-bém o do planeta terra – corresponde às frequên-cias mais altas entre as ondas eletromagnéticas que compõem o espectro luminoso visível. isso sig-nifica que, de todas as ondas-cor que integram a luz branca, e que sensibilizam o olho humano, a azul é aquela que oscila mais rapidamente. ao mesmo tem-po, e ao contrário do que se possa concluir, as altas frequências da cor azul produzem efeito calmante sobre o corpo humano, favorecendo as atividades in-telectuais e de meditação. E talvez não seja à toa que uma das imagens mais associadas à tranquilidade e ao relaxamento seja aquela, clássica, da praia para-disíaca – com céu e mar azuis – ou ainda que, para os amantes da leitura, a praia seja um dos ambientes mais interessantes à dedicação dessa atividade.

Além do azul, elementos como o silêncio relativo e o olhar acessível à linha do hori-zonte compõem esse ambiente que, na me-dida em que não sobrecarrega os sentidos, favorece a concentração e a reflexão. Se o ambiente urbano, onde vive a maior parte da popu-lação mundial, apresenta hoje condição caótica aos cinco sentidos, solicitando-os simultaneamente e de modo permanente, a casa – célula individual – por sua vez, acaba configurando um espaço de contra-ponto a essa saturação. e ainda que imaginemos uma cidade saudável, onde mesmo os ambientes de uso coletivo estejam aptos à prática de atividades que exijam concentração, a existência de espaços de uso puramente individual, como alternativa ao coletivo, não deverá ser abolida. Se vibramos em alta frequência nas ruas, procuramos na casa um reduto de tranquilidade e, sendo esse um espaço de deter-minação individual, podemos muni-lo com estímu-los que permitam investigar e aprofundar a relação que estabelecemos com nossos próprios sentidos.

Se até pouco tempo atrás (meados do século 20), tanto a casa quanto os espaços de uso coletivo res-pondiam a funções rigidamente estabelecidas, hoje, a maior facilidade de acesso aos recursos de comu-nicação e produção de que dispomos relativizou os programas de uso dos espaços. um café ou uma li-vraria tornaram-se possíveis ambientes de trabalho; os espaços de trabalho (escritórios), por outro lado, são cada vez mais pensados como ambientes de encon-tro, de troca de ideias e tomada de decisões. Da mes-

abd conceitual nov/dez 2012

texto Marcella aquila

Se vibramos em alta frequência nas ruas, procuramos na casa – célula individual – um reduto de tranquilidade

ambieNteS PoSSÍVeiS

design020

Design escandinavo: looks futuristas, desenhos limpos e formas puras

Poderviking

texto Amer moussA

abd conceitual nov/dez 2012

A história do patrimônio azulejar português

pois!orA,

texto Luan SiLva

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012

CONCEITUAL

azuisCAPA revista ABD Conceitualterá cinco edições em 2012. A cada número, a publicação vai abordar uma cor e as incontáveis possibilidades que ela oferece. Na edição 05, o tema é o azul.

*

Publishers André Poli e roberta Queiroz

Consultoria Editorial eduardo Logullo | marcos Guinoza

Conselho Editorial Carolina Szabó, renata Amaral, Jéthero Cardoso,

roberto negrete e Alex Lipszyc

Diretora Executiva ABD maria Cecília Giacaglia

Diretora Regional ABD/DF Angela borsoi

Colaboradores Amer moussa, Camila brito Paula, daiane Ferreira domingos,

evelyn Leine (arte), Fabio Galeazzo, Gabriel marchi,

Gustavo Garcia (Papanapa), Ilana bessler, Jéthero Cardoso,

Luan Silva, Lucas magno, marcella Aquila e roberto negrete

Diretora de Arte Cinthia behr

Editor de Fotografia renato elkis

Jornalista Responsável marcos Guinoza mTb 31683

Revisão Ana Cecilia Chiesi

Pesquisa de Imagens Joanna Heliszkowski

Publicidade

Para anunciar [email protected]

veLveT edITorA LTdA 11 3082 4275

www.velveteditora.com.br

ABD Associação brasileira dos designers de Interiores

www.abd.org.br

Presidente SP Carolina Szabó, Vice Presidente SP renata duarte Amaral,

Diretora Financeira SP márcia regina de Souza Kalil, Diretora Nacional SP

maria Luiza Junqueira da Cunha (malu), Diretora Nacional RJ Paula neder de

Lima, Diretora Nacional PR Fabianne nodari brandalise, Diretor Nacional MG

Carlos Alexandre dumont (Carico), Membro Efet. Cons. Delib. SP Alexander

Jonatan Lipszyc, Membro Efet. Cons. Delib. SP brunete Frahia Fraccaroli,

Membro Efet. Cons. Delib. BA delma morais macedo, Membro Efet. Cons.

Delib. SP Fernando Piva, Membro Efet. Cons. Delib. SP Jhétero Cardoso de

miranda, Membro Efet. Cons. Delib. RJ Luiz Saldanha marinho Filho, Membro

Efet. Cons. Delib ES rita de Cássia marques da Silva (Garajau), Membro Efet.

Cons. Delib. SP roberto daniel negrete, Suplente Cons. Deliberat. SP Luciana

Teperman, Suplente Cons. Deliberat. SP maria do Carmo brandini, Suplente

Cons. Deliberat. SP Terezinha nigri basiches, Membro Efet. Cons. Fiscal DF

denise Fátima de Faria zuba, Membro Efet. Cons. Fiscal SP marília brunetti

de Campos veiga, Membro Efet. Cons. Fiscal SP maurício Peres Queiroz dos

Santos, Suplente Cons. Fiscal RJ Ana maria de Siqueira Índio da Costa,

Suplente Cons. Fiscal BA eneida márcia da Silva Alves, Suplente Cons. Fiscal

MG Jaqueline miranda Frauches

Sugestões

[email protected]

novembro/dezembro 2012

ConCeITUAL#05

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade

dos autores e não refletem a opinião da revista.

edITorIAL 03

Abd CONCEITUAL NOv/dEz 2012

SUmárIo04

011 O TEOREMA DO AZUL Azul-claro, azul-bebê, azul-marinho, azul-turquesa. Azuis: epílogo de 2012; início de outros estudos

020 PODER VIKINGo design que vem do frio da escandinávia: looks futuristas, desenhos limpos, formas puras

026 PINCÉIS VIVOSYves Klein e a busca pelo azul perfeito

030 NEM TUDO É AZULAs cores do céu nas imagens do fotógrafo americano eric Cahan

034 SPLISH SPLASHna ensolarada Califórnia, a piscina é uma instituição. Conheça a história desse playground aquático que virou mania mundial

040 SKATE SHAPECultura alternativa surgida na Califórnia na década de 1960, o skate inspira ambientes e mobiliário

046 PENSAMENTO-CORJohn Gage e a investigação histórica das motivações humanas que orientam a escolha de uma determinada cor

048 MERCADO ABERTOAbd premia novos talentos do design de interiores

050 EQUILÍBRIO PSICOFÍSICOParco Acque: spa e centro de bem-estar em Gubbio, na Itália

054 ORA, POIS!A história do patrimônio azulejar português

060 AMBIENTES POSSÍVEISSe vibramos em alta frequência nas ruas, procuramos em casa um reduto de tranquilidade

066 “NUNCA PINTEI SONHOS”A Casa Azul de Frida Kahlo e diego rivera

068 FOTO CHOQUEA fotografia como obra de arte

076 ÉTICA & ESTÉTICAComo nós, designers, queremos ser lembrados? Panteras ou ratos? Por Fabio Galeazzo

078 OBSERVADOR DO MUNDOJean royère: um dos últimos decoradores integrais. Por roberto negrete

080 REDAÇÃO FINALevento da Abd debate projeto que regulamenta profissão de designer de interiores. Por Jéthero Cardoso

082 ENSAIO SOBRE O AZULo espetáculo de dança contemporânea da bailarina mariana mello

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Abd CONCEITUAL NOv/dEz 2012

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CADERNOINSIDE

texto EDuarDo logullodesign papaNapa

O pássaro azulão é tão azul que se torna preto e tão preto

que se torna azul. O canto do azulão é triste quando está na

gaiola. O azulão canta de tristeza e os imbecis acham lin-

do. A solidão do azulão é um azul atroz. Ao mesmo tempo,

o azulão sabe que a liberdade é azul.

A cor Azul trAz um chAmAdo distAnte. PlAní-

cies de sonho. o torPor dos Primeiros de-

grAus do sono. existe enigmA no Azul. tAl-

vez Por AssociAr-se A imensAs exPAnsões

do mundo nAturAl: céu, mAr, Ar. o Pingo no

olho, A cAvernA, o burAco submArino, A que-

dA livre, A mAdrugAdA cAlmA dos contos de

christiAn Andersen, o chuvisco que chAPis-

cA, A PoçA d’águA que resPingA, o cAbelo Azul

dAs velhAs de miAmi, o hAlo dos deuses hindu-

ístAs. Azul misturA medo e surPresA. nem sei

bem Porquê. vAi, Azulão.

Em inglês, azul é blue. E o termo blue também pode signifi-

car triste. E o canto dos blues é triste, triste, triste. O blues

paralisa. Cutuca. Futuca. Machuca. Desalenta. Dói. Billie

Holiday usava sombra azul e engolia calada a sua dor de

azulão urbano. Uma mulher que engoliu o azul para sempre.

E nunca mais morreu, mesmo deixando de existir. Os blues

dela deram essa permanência de intensidade. Azulona pes-

soa, azulona negona, azulona persona.

Mas podemos pensar ainda no azul-claro, que vem a ser

um primo cara-pálida do azul. O azul-claro é enternecedor

e capaz de levantar semblantes derrubados em questão de

segundos. E se você pintar a parede do escritório de azul-

-claro, haverá um acesso de sono coletivo: trata-se de um

tom que existe para não provocar, porém acalmar. Iemanjá é

sereia e usa um vestidão azul. Se Iemanjá vestisse vermelho,

o mar nunca serenaria e ela perderia o titulo de sereia para

virar sirigaita. E vamos combinar que orixá de fundo do mar

não pode ser sirigaita nem vestir vermelho. Então deixa

ela lá com o azul-claro dela e pronto. Pra quê discutir

com tonalidades?

A R

M A R

a z u l - t u r q u E S a

t u r q u i a t u r q u i n h a m u n i zd e s o u z a

p e d rap r e c i o s a

Existe também o azul-bebê. Evidentemente vamos pu-

lá-lo e trancafiá-lo numa masmorra para que dali nunca

mais volte, pois bebês ficam bem de cores vivas, ora.

O azul-bebê é invenção de alguma enfermeira de ber-

çário. Neurótica. Pudera: as pessoas acham que quanto

mais fraco o tom do azul, menos intenso será o choro

do bebê. Então as mães acreditam e surge a simpatia,

a adoção generalizada, a empatia pelo azul mais sem

graça do sistema solar, o azul-bebê. Roxo nele.

Agora chamamos ao microfone o azul-turquesa. Palmas,

auditório. Silêncio. Silêncio. Bom, pode voltar ao seu

lugar na platéia, azul-turquesa. Não fique triste, existe

muita gente que gosta de você. Juro. Você tem um tom

meio esverdeado, diferenciado, sei lá. Algumas pes-

soas consideram que você é envolvente, refrescante

e tranquilizante. O problema é que quase ninguém sabe

de onde vem esse nome composto. Turquesa? Mas na

Turquia tudo é vermelho. Olha que procurei, viu. Será

da pedra preciosa? Nada de explicações. Talvez você,

azul-turquesa, seja invenção da decoradora Turqui-

nha Muniz de Souza, lá nos anos 1960. Satisfeito?

Palmas, auditório.

bom, Assim chegAmos Ao ePílogo do nos-

so trAnscendentAl estudo dAs cores. Foi

Azul, deu Azul, gAnhou Azul, Ficou Azul.

quAl A AurA dessA cor tão PoPulAr no PlA-

netA? Por que As PessoAs se identiFicAm tAn-

to com o Azul? mistérios, enigmAs, névoAs

dA mente humAnA, brumAs do conhecimen-

to, PreciPícios do desconhecido, vibrAções

óticAs de lAkshmi, A deusA hindu que vive

cercAdA de Azuis, Azulzinhos, Azulões, Azu-

lAços. o Azul FlutuA no céu dA vibrAção.

Azule-se. como queríAmos demonstrAr.

deSIGn016

Design escandinavo: looks futuristas, desenhos limpos e formas puras

Poderviking

texto Amer moussA

Abd CONCEITUAL NOv/dEz 2012

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Cadeiras Wave, da designer dinamarquesa Nanna Ditzel; e poltrona Very Round (2006), de Louise Campbell

Pesquisas afirmam que fitar o azul puro por deter-minado tempo diminui o ritmo cardíaco e a respira-ção. Hibernar. baixar a frequência. muita calma para pensar e ter tempo para projetar – o novo. em terras geladas, o desenho dos objetos, o modo de produ-ção e a usabilidade – ou tudo junto: o design – pode ser decisivo para a sobrevivência humana.

Habitantes de países como dinamarca, Suécia e noruega que o digam. Altamente funcional, o design escandinavo é eficiente sem demandar ele-mentos pesados. Tem como metas ser facilmente transportável e ecologicamente produzido. e o mais importante: acessível ao maior número possível de consumidores, pois assim se mantém o equilíbrio social necessário para um desenvolvimento comum.

Apesar da intensa industrialização, que dominou o modo de produção mundial a partir do início do século XIX, países como a Suécia conseguiram – di-ferentemente dos norte-americanos, por exemplo – manter a independência das associações locais de artesãos frente à voracidade do grande capital. em 1845, cria a Sociedade Sueca de Artesanato e desenho Industrial, que visava à evolução dos meios de produção, porém sem perder o conhecimento acumulado – ou seja, a tradição – dos pequenos produtores.

Ao colocar em contato essas duas esferas – arte-sanato e indústria – fundou as bases de um modelo progressista, que ficou conhecido como “instrustrial arts”. Tal movimento acontecia não só no norte da europa. Foi uma resposta à brutalidade da Primei-ra Guerra, que exigiu dos artistas posturas revolu-cionária e não somente evolucionárias. As escolas bauhaus (Alemanha) e vhkuthemas (União Sovié-tica) foram férteis tentativas no sentido de produzir uma síntese entre arte, artesanato e indústria.

O termo “design escandinavo” passou a ser difun-dido a partir dos anos 50, através de uma exposição de mesmo nome que atravessou a América. deste momento em diante, o conceito de “scandinavian way of living” começa a circular internacionalmen-te, tendo como base os mesmos princípios que nos vem à mente até hoje: simplicidade, desenho limpo, leveza, inspiração na natureza, clima e comporta-mento nórdicos (reclusão, introspecção), acessibi-lidade e disponibilidade a todos e, principalmente, ênfase na alegria do ambiente doméstico.

Um dos grandes nomes desta safra é o dina-marquês Hans Wegner (1914-2007). Caudaloso, o designer projetou mais de 500 cadeiras diferentes, das quais 100 foram artigos de produção em massa.

Poltronas Mondial (1978 e 2001), de Nanna Ditzel; poltrona Bless You, da dinamarquesa Louise Campbell. Na página ao lado, Série 7 (1955), de Arne Jacobsen

Abd CONCEITUAL NOv/dEz 2012

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O termo “design escandinavo” surgiu nos anos 1950, por meio de uma exposição de mesmo nome que atravessou a américa

outro recordista é o seu conterrâneo Arne Jacobsen (1902 - 1971). Arquiteto de formação desenhou edi-fícios, mobiliário, papel de parede e até talheres, mas foram as cadeiras Ant – também conhecidas como Formiga (1951) – e a Série 7 (1955) que, além de ganharem diversos prêmios, se tornaram as cadeiras de maior sucesso comercial do mundo.

o também dinamarquês verner Panton (1926-1998), engenheiro e arquiteto, se enveredou pelo mundo de cores e formas puras, destacando-se principalmente pela cadeira Panton (1960) – a pri-meira peça de plástico executada através de um úni-co ponto. Certa vez, provocou: “a maioria das pes-soas passa a vida nas sombras, numa conformidade

Poltrona The Egg, modelo 3316,

desenhado por Arne Jacobsen em 1958.

Abaixo, ambiente com poltronas

da linha 3300 do mesmo designer

Ao lado, poltronas The Icon-Familly, de Nanna Ditzel. Abaixo, cadeiras suspensas de Verner Panton

Ambiente de apartamento em Londres com cadeiras e mesa criadas pelo designer finlandês Eero Saarinen

bege, mortalmente com medo de usar cores. o pro-pósito principal do meu trabalho está em provocá--las para usar a imaginação”.

O arquiteto finlandês Eero Saarinen (1910-1961) também vestiu a camisa da corrente escandinava de design. Junto com Charles eames, com quem tra-balhou durante os anos em que viveu nos estados Unidos, desenvolveu diversos objetos premiados, in-clusive aeroportos e monumentos. espécie de nie-meyer ianque, devido à alta plasticidade e ousadia no desenho, é o autor da cadeira Tulipa (1955), um grande hit de elegância do mobiliário moderno.

designers como nanna ditzel (1923–2005) e Louise Campbell (1970) são outras que aparecem como fortes representantes da cultura nórdica. A contribuição desta para a cultura ocidental é indis-cutível: inúmeros diretores, cineastas e fotógrafos ainda utilizam mobiliário escandinavo sempre que desejam compor um look futurista.

A estética do “objeto de consumo de massa com um toque de graça” tem o poder de lembrar ao usu-ário que o criador do produto é humano. nfO

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“A maioria das pessoas passa a vida numa conformidade bege. O propósito do meu trabalho é provocá-las a usar a imaginação.” – Verner Panton

Abd CONCEITUAL NOv/dEz 2012

deSIGn020

texto LucAs mAgno

Yves Klein: do vazio fez-se o azul

PreCUrSor dA ArTe ConTemPorâneA, YveS KLeIn eXPerImenToU TUdo: FoToGrAFIA, eSCULTUrA, LITerATUrA, múSICA, PerFormAnCe

022 ArTe

É b e m A L I , e n T r e o C É U e A T e r r A , diluindo a linha do horizonte e expandindo-se ao infinito, em um feixe de cor azulada, saturada e lu-minosa, que encontramos Yves Klein.

Precursor da arte contemporânea, já anunciava por acaso uma das maiores características dos ar-tistas pós-modernos: a multiplicidade dos suportes de criação. Conhecido como pintor, mas não por esse único ofício, experimentou tudo: fotografia, escultura, literatura, música, performance. Para Klein, como na série de obras com esponjas, não havia limites para absorver suas ideias.

o ano é 1928, período de entre guerras. Por aqui, surgia o movimento Antropofágico e, em nice, ci-dade francesa rodeada pelo azul, nascia Yves Klein, filho de pintores. Seu pai era paisagista e sua mãe pertencia à vanguarda parisiense da Art Informel. Sem formação acadêmica no campo das artes, foi autodidata e teve seu desenvolvimento intelectu-al provocado pelas viagens que realizou. em uma passagem pelo Japão, torna-se mestre em judô e se aprofunda nos estudos da teoria zen-budista, que iria predominar na convergência entre criação e fi-losofia – eixo central das ideias dos seus trabalhos.

A trajetória de Klein com as cores é marcada por três momentos: o dourado, o rosa e o azul. Azul IKb (International Klein blue) foi a cor que o tornou céle-bre. Para conseguir o tom exato, passou por um ano de experimentos, misturando pigmentos ao lado de seu amigo, o químico edouard Adam. Assim, após patentear a sua invenção e começar a usá-la, suas obras se tornam únicas – tanto em conceito quanto em técnica, mas especialmente em cor. Foi esse azul ultramarino que virou o seu maior signo.

A monocromia e a ação da natureza eram duas constantes nas obras de Klein. Pintou uma série de quadros seguindo o primeiro conceito. Usava a ação da chuva e do fogo para criar imagens, escul-piu o ar em sua obra de 1001 balões, obviamente na cor IKb, que voaram livres por Paris. elevou seu trabalho a uma zona pictórica imaterial.

PInCÉIS vIvoS

Abd CONCEITUAL NOv/dEz 2012

Acima, Monique (ANT 57), 1960, 115 x 96 cm. Na página ao lado, Héléna (ANT 50), 1960, 109 x 75 cm. Ambas: pigmento puro e resina sintética sobre papel colado sobre tela

muito antes de 2008, quando, no circuito ar-tístico brasileiro, aconteceu a bienal do vazio, ge-rando protestos e ira, Klein buscava esse mesmo vazio (uma área livre de referências externas) e já tinha executado a ideia em 1957. mas foi três anos depois, em 1960, que começam suas principais rupturas com o sistema vigente de fazer arte, ofi-cializando sua busca por novas linguagens e pela singularidade coletiva. Klein e outros artistas criam o movimento dos novos realistas.

em março do mesmo ano, fez barulho com a sé-rie de obras “Anthropométrie de l›Époque Bleue”. em uma exposição-performance, abandonou um dos materiais-símbolos do pintor: o pincel, e apre-sentou três modelos nuas se lambuzando de tinta azul. na parede e no chão, tiras de papel formavam grandes telas, e as três mulheres manchadas de azul se movimentavam sobre as superfícies. Livres à aleatoriedade do ato, decalcando os corpos com a fluidez do movimento, eram orquestradas por Klein e moviam-se no ritmo da Sinfonia monótona, criada pelo artista em 1949 e executada por músi-cos presentes. eram pinceis vivos. e o resultado são corpos impressos, figuras que remetem à pintura rupestre. mais uma ironia do artista, estética tão ar-caica e técnica tão moderna.

Em outubro de 1960, Klein publica “Le Sault dans Le vide”, fotomontagem que sintetiza bem sua car-reira curta e intensa. era ele, saltando de um prédio, rumo ao vazio. vazio que ultrapassa limites de tem-po e espaço. de braços abertos para o risco e para o futuro, voando em direção à imensidão azul que o guiou. Klein se jogou em direção ao amanhã. o amanhã que sempre se faz presente.

Como diria o filósofo francês Bachelard: “No iní-cio não há nada / depois um nada profundo / e depois uma profundidade azul”. A profundidade azul de Yves Klein. n

www.yveskleinarchives.org

A TrAJeTórIA de KLeIn Com AS CoreS É mArCAdA Por TrêS momenToS: o doUrAdo, o roSA e o AzUL. FoI o AzUL IKb QUe o TornoU CÉLebre

Abd CONCEITUAL NOv/dEz 2012

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Abaixo, exposição-performance “Anthropométrie de l’Époque Bleue”, Paris, março de 1960. Na página ao lado, Héléna, (ANT 50), 1960, 218 x 151 cm, pigmento puro e resina sintética sobre papel colado sobre tela

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Abd CONCEITUAL NOv/dEz 2012

nem tudo é azulAS CoRES Do Céu NAS

iMAGENS Do FotóGRAFo ERiC CAhAN

TExTO mARCoS guInozA

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Abd CONCEITUAL NOv/dEz 2012

At R A í D o P E l A l u z N At u R A l , a luz solar, Eric Cahan apontou a lente da sua câmera para o alto a fim de capturar as ondas de luz que colorem o céu. A esse conjunto de imagens ele deu o nome de “Sky Series”. Cahan mora em Nova York. Além de fotógrafo, é escultor. Para alcançar as cores desejadas, utiliza filtros de resina e, depois, faz ajustes no Photoshop. Mas Cahan conta que o processo de encontrar os tons certos é intuitivo: “No registro, sinto a cor que precisa ser destacada, que quer aparecer.”

As imagens de “Sky Series” mostram o nascer e o

pôr do sol em lugares como Califórnia, Flórida, Nova York e Costa Rica. Sobre esses dois momentos de maior beleza da luz solar, o fotógrafo explica: “O nascer do sol normalmente tem uma camada marinha e o céu tem menos nuvens. Se esperar pela hora certa, pode-se ver um brilho claro antes de o sol nascer. Em um pôr do sol, as cores são mais saturadas.”

Não é simples fotografar o céu com olhar próprio, sem cair no lugar-comum dos retratos banais com a luz do sol ao fundo. Eric Cahan consegue. n

ericcahan.com

030 PISCInA

SplishSplashUm histórico das piscinas, esse playground aquático que virou mania mundial

texto Amer moussA

Na página ao lado, a atriz Esther Williams no filme A Rainha do Mar, de 1952. Sobre ela, dizem que, seca, era como as outras; molhada, virava uma estrela

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