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REPÚBLICA DE ANGOLA UNIÃO NACIONAL PARA A INDEPENDÊNCIA TOTAL DE ANGOLA 1 VÍCIOS E DESVIOS À LEI QUE ENFERMAM O PROCESSO ELEITORAL REACÇÃO DA UNITA ÀS DECLARAÇÕES DA PORTA-VOZ DA CNE 24 DE AGOSTO DE 2012 Minhas senhoras Meus senhores Muito bom dia a todos.

Conferência de Imprensa do Dr. Alcides Sakala

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Intervenção do Dr. Alcides Sakala na Conferência de Imprensa da UNITA sobre Vícios e Desvios à Lei Eleitoral

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VÍCIOS E DESVIOS À LEI

QUE ENFERMAM O PROCESSO ELEITORAL

REACÇÃO DA UNITA ÀS DECLARAÇÕES DA PORTA-VOZ DA CNE

24 DE AGOSTO DE 2012

Minhas senhoras

Meus senhores

Muito bom dia a todos.

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É um prazer estarmos novamente juntos e agradeço, uma vez mais, a vossa presença

nesta conferência de imprensa que tem lugar num momento importante da história do

nosso país. Os angolanos preparam-se, de facto, para votar no próximo dia 31 de Agosto

de 2012, para exercerem assim um direito fundamental de cidadania, consagrado na

Constituição da Republica de Angola, que é o de escolher livremente os dirigentes do

nosso país para os próximos 5 anos.

Senhoras e senhores jornalistas

Ouvimos ontem com muita apreensão as declarações da porta voz da Comissão

Nacional Eleitoral relativas ao Memorando Sobre os Vícios e Desvios à Lei Que

Enfermam o Processo Eleitoral, que a UNITA apresentou no passado dia 17 de Agosto.

Ainda não recebemos a resposta oficial da CNE, que nos é devida. Esperamos, assim,

que a todo o momento ela nos chegue. Tão logo a recebamos, faremos uma

comunicação aos angolanos.

Convirá, todavia, dizer que o que ouvimos da Doutora Júlia Ferreira, porta-voz da

CNE, remete-nos a apresentar já a seguinte reacção:

A resposta apresentada pela CNE, não reconhece em nenhum momento que

violou a lei, e não responde às questões de fundo suscitadas pela UNITA,

enquanto contribuição da UNITA para o aprofundamento da democracia, da

transparência eleitoral e do Estado de Direito.

Ao insistir em não observar o postulado na Lei Orgânica Sobre as Eleições

Gerais e na Lei Orgânica Sobre a Organização e Funcionamento da Comissão

Nacional Eleitoral, a CNE confirma-nos que perdeu a legitimidade moral para

organizar e presidir esta eleição.

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Na sua resposta, a CNE procura atacar a UNITA pelo facto de a UNITA ter

citado debilidades detectadas pela auditoria que a própria CNE mandou efectuar.

Ao invês de corrigir as debilidades que a auditoria revelou, a CNE considera

“infundadas” as debilidades detectadas pela sua própria auditoria ao sistema do

registo eleitoral, só porque essas debilidades foram citadas, transcritas ou

reveladas pela UNITA.

A CNE não negou o facto de que não cumpriu o prazo de 31 de Julho para

iniciar a divulgação dos cadernos eleitorais, como manda a lei. De facto, não

ouvimos a porta-voz da CNE esclarecer aos angolanos a razão porque a CNE

não cumpre os prazos fixados por lei para divulgar os cadernos eleitorais, ou o

nome dos membros das mesas de voto, quando, em Maio, a própria CNE enviou

uma carta ao senhor Presidente da República afirmando que, já naquela altura, as

condições estavam criadas para se realizarem as eleições em 31 de Agosto.

Minhas senhoras Meus senhores

Também dissemos no nosso Memorando que “o processo de selecção e

recrutamento dos eleitores que irão trabalhar nas mesas de voto não foi imparcial

nem transparente. A grande maioria dos seleccionados foi escolhida antes do

concurso público ter sido aberto”. Não ouvimos a porta-voz da CNE apresentar

factos que provam o contrário.

Os angolanos sabem que as pessoas já estavam escolhidas a partir de listas

feitas pelos CAP’s do MPLA, e que o concurso público só foi feito para “inglês

ver”, como se diz na gíria.

No seu Memorando, a UNITA afirmou, cito, “a auditoria preliminar também

revelou que nem o Ministério de Administração do Território (MAT) nem a

CNE têm o pleno controlo da segurança do Ficheiro Informático Central do

Registo Eleitoral (FICRE).

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Toda a segurança da informação, toda a responsabilidade pela gestão e pelos

acessos ao nível de sistemas e bases de dados, estão a cargo de uma empresa

privada contratada para o efeito, a SINFIC, que é uma empresa ligada ao partido

que está no poder há mais de 30 anos. Os processos, normas e procedimentos

relacionados com esta área, não estão formalmente definidos nem

documentados. Isto significa, que a integridade do FICRE e do número de

eleitores relatado não pode ser garantida. Significa também que ninguém pode

garantir que todos os portadores de cartões sejam de facto eleitores legítimos”.

Na sua resposta, em nunhum momento a CNE não nega esta grave debilidade.

Não explica porque é que não controla a segurança da nossa informação, nem

porque é que deixa esta reponsabilidade pública na mão de privados. Os

angolanos exigem esta explicação.

Há outra violação grave da Lei apontada no Memorando da UNITA, que não foi

respondida pela porta-voz da CNE. É a existência de pessoal estranho à CNE a

dirigir e controlar os centros de escrutínio. Mencionamos especificamente o

Brigadeiro Rogério Saraiva, ligado à Casa Militar do Presidente da República. É

uma das pessoas que concretizou a fraude informática em 2008. É a mesma

pessoa que tem dito à boca cheia que a fraude de 2012 já está preparada.

Caríssimos jornalistas

Como disse, não recebemos ainda a resposta oficial da CNE. Estamos à espera.

Já no Memorando que remetemos à CNE em Junho, havíamos referido esta

interferencia da Casa Militar do Presidente da República. Não obtivemos

qualquer resposta. Agora, pelo que ouvimos da sua porta-voz, a CNE volta a

esquivar-se desta questão. Nós iremos insistir, porque os angolanos querem

saber se há ou não há pessoal da Casa Militar do Presidente da República a

interferir no trabalho desta CNE.

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A CNE também não negou que violou a lei no que toca ao sistema de

transmissão dos resultados. Afirmamos que “a solução tecnológica adoptada

pela CNE, não possibilita a transmissão das actas a partir das assembleias de

voto, para efeitos do apuramento provisório, como estabelece o artigo 123º da lei

36/11”. A CNE não nega isso. Afirmamos também que “todo o sistema de

transmissão dos resultados não foi definido pelo Plenário, nem foi objecto de

discussão, análise e testes por esse órgão”. Foi um grupo pequeno, dominado

pelo MPLA que definiu tal sistema. A porta-voz da CNE, também não negou

isso.

Ouvimos apenas a porta-voz da CNE afirmar que as questões por nós suscitadas

“são de índole subjectiva e sem respaldo na Lei”.

Já nos diziam isso no caso da Dra. Suzana Inglês. Já nos diziam isso também no

caso do voto antecipado e do voto no exterior. E quem foi que teve de mudar a

sua posição? Qual das posições tinha o respaldo da Lei? A posição da UNITA

ou a posição da CNE?

Os factos falam por si. Vejamos, assim, mais alguns exemplos:

Afirmamos, no nosso Memorando do dia 17, que a CNE ainda não havia

efectuado o concurso público para organizar a auditoria às linhas de transmissão

do INATEL, aos centros de despacho das actas e aos programas de computador

a utilizar para transmitir os resultados, como estabelece a Lei Orgânica Sobre as

Eleições Gerais.

Soubemos agora, que no dia 20, três dias depois de ler o nosso Memorando, a

CNE apresentou às pressas o relatório de uma auditoria que devia ter

apresentado no passado dia 31 de Julho, nos termos da lei.

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Sabemos também que, dias depois de ler o nosso Memorando, a CNE começou a

afixar em algumas assembleias de voto, os cadernos eleitorais, que devia ter

começado a divulgar no passado dia 31 de Julho, como manda a lei.

Sabemos ainda que, dias depois de ler o nosso Memorando, em particular a

página 5, onde se diz que a CNE “tem no seu mapeamento o número de pessoas

que deverá votar em cada mesa, mas não divulgou os seus nomes”...e se não

divulgar os nomes (que a lei manda divulgar até 31 de Julho), podemos prever

uma grande confusão no dia da eleição, a CNE fez esforços para analisar os

exemplos do Moxico que havíamos mencionado.

A CNE foi buscar nomes de pessoas que estão alistadas para votar nas

Assembleias que indicamos. Depois de analisar o mapeamento com os cadernos

eleitorais respectivos, como havíamos sugerido, a CNE, pelo que sabemos,

concordou connosco no facto de que somente a divulgação prévia de nomes de

pessoas que deverão votar em cada mesa, contribuirá para uma votação ordeira e

evitará a confusão.

Também aqui, fica provado que as questões suscitadas são fundamentadas, e

têm, sim, sólido respaldo legal. Tanto é assim, que a CNE veio a correr atrás

delas para cumprir a lei. E ainda bem que assim seja.

Minhas senhoras

Meus senhores

Como afirmamos no início, vamos aguardar a resposta oficial da CNE para

fornecer aos angolanos a nossa posição numa resposta cabal.

De momento, a julgar pelo que ouvimos da porta-voz da CNE, temos base

suficiente para afirmar que a CNE não corrigiu os vícios de violação da lei que

lhe foram apontados.

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Em particular, não corrigiu a instrução que deu aos presidentes das mesas de

voto para não cumprir o dever legal de entregar aos delegados de lista, para

assinar e levar consigo, cópias de todas as actas que forem usadas para o

apuramento provisório, como mandam a alínea d) do nº 2 do art.º 95º e o número

4 do artigo 123º da Lei nº 36/11, de 21 de Dezembro. Esta é a situação mais

grave.

Ouvimos a porta-voz da CNE afirmar há dias, que a CNE vai disponibilizar aos

delegados de lista a transcrição das actas, que será feita segundo o arbítrio dos

presidentes das mesas.

Esta medida, aliás, é uma decisão arbitrária do senhor presidente da CNE, que

não tem competência para anular uma deliberação do Plenário da CNE que

decide em sentido diferente. Portanto, é uma medida enganosa. É nula.

E não nos deve surpreender que o facto de o senhor Presidente da CNE assumir

tal arbitrariedade, porque, infelizmente, apesar de ser juíz, é a mesma pessoa que

presidiu o júri que designou a Dra Suzana Inglês para presidente da CNE, em

violação à lei. Violou a lei uma vez, descaradamente, em má fé, e pode violá-la

outra vez, também, descaradamente, e em má fé.

A Lei é clara. A CNE deve entregar cópia das próprias actas, não a sua

transcrição. As cópias devem ser assinadas pelos delegados de lista nas

assembleias de voto. Depois de assinadas, devem ser transmitidas pela via mais

rápida, a partir das assembleias de voto, com toda a transparência. Os resultados

que saírem da assembleia de voto, testemunhados por todos, devem ser os

mesmos que devem chegar aos centros de escrutínio.

Não pode haver intersecção no caminho. Nem pode haver trocas das actas.

Temos de ter esta garantia, agora, antes de irmos votar. É isto o que os

angolanos irão exigir na grande manifestação que convocamos para amanhã, dia

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25 de Agosto de 2012, em todo o país. Esta exigência é bem fundamentada e

tem amplo suporte suporte legal.

Minhas senhoras e meus senhores

Desde que o processo eleitoral começou, os poderes públicos têm violado a lei e

a UNITA tem protestado contra tais violações. E é por força destes protestos que

alguns vícios de violação da lei têm sido corrigidos. Foi assim no caso da Dra.

Suzana Inglês. Foi assim no caso do voto antecipado. Foi assim no caso do voto

no exterior. Foi assim no caso dos cadernos eleitorais.

Agora, faltam as actas. Precisamos de fazer um novo protesto para termos

fotocópias fieis das actas, que devem ser entregues aos delegados de lista no

mesmo dia, nas assembleias de voto, e não no dia seguinte, noutro lugar

qualquer, a dezenas ou centenas de quilómetros de distância.

Precisamos, assim, de fazer um novo protesto, porque o partido no poder está a

manipular a CNE e os órgãos de comunicação social do Estado para violar a lei,

fazerem batota e agirem como seus agentes, não como servidores isentos e

imparciais. Lembremo-nos dos seguintes factos:

A Rádio Nacional de Angola, o Jornal de Angola e a Televisão Pública de

Angola, fazem propaganda desmedida para o Partido no poder, e posicionam-se

abertamente contra as demais candidaturas.

As pessoas seleccionadas para trabalhar nas mesas de voto e nos centros de

escrutínio, pertencem, na sua maioria, a um só partido.

Os cadernos eleitorais contêm muitos erros; não foram divulgados em tempo

para se fazerem as correcções devidas.

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O sistema de transmissão dos resultados eleitorais que pretendem utilizar no dia

31, não respeita a lei. Os resultados vão ser transportados de carro ou a pé, pela

polícia, para serem transmitidos a partir das Administrações Municipais e das

Comissões Municipais Eleitorais. A lei manda transmiti-los a partir das

assembleias de voto.

A CNE não quer entregar cópia fiel dos resultados eleitorais aos representantes

dos partidos políticos nas assembleias de voto, como manda a lei.

A CNE contratou pessoas ligadas ao SINFO para dirigir e controlar os Centros

de Escrutínio.

O Executivo, através das Embaixadas de Angola no estrangeiro, está a negar a

emissão de vistos a observadores estrangeiros que a própria CNE convidou para

virem observar as eleições nos termos da lei.

Assim, em defesa de eleições livres, justas e transparentes, e pela legalidade,

os angolanos são chamados em todo o país a participar numa manifestação

pacífica para exigir a todos o estrito cumprimento da Lei.

Em Luanda, a manifestação será no Largo da Família, junto ao 1º de Maio, às 13H00.

Nas outras cidades, os responsáveis da UNITA indicarão os locais indicados para esta

manifestação.

Os angolanos querem eleições livres, justas e transparentes e nos termos da lei.

Não queremos mais do que isso.

Muito obrigado pela vossa atenção !