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CONSEQÜÊNCIAS DE SITIOS ARQUEOLÓGICOS ESCAVADOS E NÃO INUNDADOS PELO LAGO DA USINA HIDRELÉTRICA DE SERRA DA MESA. Goiânia, 2006/2 Sérgio Henrique de O. Mesquita 1 Antônio Pasqualetto 2 Acadêmico: Acadêmico de Engenharia Ambiental – UCG. [email protected] Orientador: Prof. Dr. Universidade Católica de Goiás e Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET Goiás.Coordenador Núcleo de Pesquisa em Engenharia (NUPENGE). [email protected] Resumo No interior de Goiás foi erguida uma barragem no curso do rio Tocantins para viabilizar a construção da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa, cuja represa resultou em um lago de cerca de 1.780 km 2 . A referida área abrange, parcialmente, oito municípios daquele estado, e compreende região cuja ocupação histórica legou importantes sítios arqueológicos que são testemunhos do período colonial: a ocupação bandeirante, que apresenta importantes vestígios de áreas de mineração, a ocupação agropastoril e antigas vilas e lugarejos. O salvamento histórico arqueológico procedeu-se durante três anos ininterruptos de pesquisa de campo, evidenciando riquíssimo patrimônio cultural. Este trabalho tem como propósito apresentar e avaliar os resultados do estudo realizado. Palavras-chave: Salvamento Arqueológico, Usina Hidrelétrica Serra da Mesa. Abstract In the interior of Goiás a barrage in the course of the river Tocantins was raised to make possible the construction of the Plant Hidrelétrica de Serra of the Table, whose dam resulted in a lake of about 1.780 km 2 . The related area encloses, partially, eight cities of that state, and understands a region whose historical occupation bequeathed important archaeological small farms that are today certifications of the colonial period: the bandeirante occupation, that presents important vestiges of mining areas, the agropastoril occupation and old villages and lugarejos. The archaeological historical rescue proceeded during three years uninterrupted from research from field, evidencing one riquíssimo cultural patrimony. This work has as intention to present and to evaluate the results of the carried through study. Rey-Words:Archaeological rescue, Plant Hidrelétrica Serra of the Mesa.

CONSEQÜÊNCIAS DE SITIOS ARQUEOLÓGICOS …professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/7074... · No dia 24 de outubro de 1996, houve o fechamento das comportas de

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CONSEQÜÊNCIAS DE SITIOS ARQUEOLÓGICOS

ESCAVADOS E NÃO INUNDADOS PELO LAGO DA USINA

HIDRELÉTRICA DE SERRA DA MESA.

Goiânia, 2006/2

Sérgio Henrique de O. Mesquita 1 Antônio Pasqualetto2

Acadêmico: Acadêmico de Engenharia Ambiental – UCG. [email protected] Orientador: Prof. Dr. Universidade Católica de Goiás e Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET Goiás.Coordenador Núcleo de Pesquisa em Engenharia (NUPENGE). [email protected]

Resumo No interior de Goiás foi erguida uma barragem no curso do rio Tocantins para

viabilizar a construção da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa, cuja represa resultou em um lago de cerca de 1.780 km2. A referida área abrange, parcialmente, oito municípios daquele estado, e compreende região cuja ocupação histórica legou importantes sítios arqueológicos que são testemunhos do período colonial: a ocupação bandeirante, que apresenta importantes vestígios de áreas de mineração, a ocupação agropastoril e antigas vilas e lugarejos. O salvamento histórico arqueológico procedeu-se durante três anos ininterruptos de pesquisa de campo, evidenciando riquíssimo patrimônio cultural. Este trabalho tem como propósito apresentar e avaliar os resultados do estudo realizado.

Palavras-chave: Salvamento Arqueológico, Usina Hidrelétrica Serra da Mesa.

Abstract

In the interior of Goiás a barrage in the course of the river Tocantins was raised to make possible the construction of the Plant Hidrelétrica de Serra of the Table, whose dam resulted in a lake of about 1.780 km2. The related area encloses, partially, eight cities of that state, and understands a region whose historical occupation bequeathed important archaeological small farms that are today certifications of the colonial period: the bandeirante occupation, that presents important vestiges of mining areas, the agropastoril occupation and old villages and lugarejos. The archaeological historical rescue proceeded during three years uninterrupted from research from field, evidencing one riquíssimo cultural patrimony. This work has as intention to present and to evaluate the results of the carried through study.

Rey-Words:Archaeological rescue, Plant Hidrelétrica Serra of the Mesa.

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1 Introdução

O crescimento demográfico ocorrido em Goiás na década de 40 com a

construção e transferência da capital para Goiânia, e intensificado no início da década de

60 com a construção de Brasília, provocou maior articulação territorial e conseqüente

crescimento econômico para o Estado. A situação da falta de disponibilidade de energia

elétrica nesse período alcançava índices alarmantes, comprometendo a demanda da

produção industrial, agravados pela construção de Brasília, com isso já se visava o

aproveitamento hidrelétrico do rio Tocantins, cuja zona de influência correspondia a

40% da superfície e 30% da população do Estado, previa ainda a regularização da vazão

do Alto Tocantins, ou seja a futura usina do lago Serra da Mesa. (FURNAS CENTRAIS

ELÉTRICAS S.A. E NACIONAL ENERGÉTICA S.A. FURNAS, 1997).

Com o desenvolvimento de projetos arqueológicos na Região Niquelândia

(UHE-Serra da Mesa), desde a década de 1970, além de evidenciar rico potencial,

possibilitou a identificação de sítios importantes para o conhecimento arqueológico

goiano, brasileiro e de toda a América. A UFG, com interveniência do Museu

Antropológico, realizou a execução do Projeto de salvamento Arqueológico Pré-

Histórico da UHE Serra da Mesa-GO), testemunhos de manifestações culturais das

ocupações humanas pretéritas, encontradas na área de influência direta (cota de 460m de

altitude) e de influência indireta (cota de 470m de altitude) do futuro reservatório da

UHE-Serra da Mesa, por meio das etapas de reconhecimento geral, levantamento,

prospecção e escavação (MARTINS, 1998). Foram localizados 93 sítios, cinqüenta

ocorrências arqueológicas e 1.082 pontos prospectados, constituindo acervo de 55.000

testemunhos.

No dia 24 de outubro de 1996, houve o fechamento das comportas de desvio

do rio Tocantins, dando início ao processo de formação do lago; que atingiria cota de

460m de altura e espelho d’água com 1.784 Km2 (FURNAS, 1996).

O lago da UHE-Serra da Mesa não atingiu sua cota máxima, com isso teve

sítios expostos a céu aberto. Com o sobe e desse das águas, e o não enchimento do

reservatório os sítios arqueológicos também estão sujeitos a um tipo de perturbação

artificialmente induzida pela ação antrópica. Nos reservatórios das usinas hidrelétricas, a

3

oscilação da lâmina d’água e o embate das ondas os afetam. Não se sabe exatamente o

que acontecerá, sempre haverá um vestígio para as populações futuras.

4

2 LEGISLAÇAO

Os estudos de arqueologia são definidos legalmente para serem realizados antes

das ações potencialmente impactantes. As ações a serem aplicadas devem obedecer às

normas da pesquisa arqueológica e tem como meta preservar, por meio da pesquisa, o

patrimônio arqueológico, a fim de gerar conhecimento científico, incorporando a

memória nacional e disponibilizando à sociedade em geral.

A arqueologia possui normas legais específicas, sendo que a legislação

brasileira que comanda o patrimônio cultural é relativamente antiga, ou seja, do início do

século XX (BRASIL-Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937). A partir daí,

publica-se a Lei Federal nº 3.924, de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os

monumentos arqueológicos e pré-históricos. É nesse instrumento legal que se

estabelecem normas para a execução da pesquisa arqueológica, e nele se definem

procedimentos para a obtenção de autorização para a prática arqueológica em território

nacional. A autorização passa a ser emitida pelo órgão representante da União, nesse

caso, o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional – IPHAN que tem

também, como obrigatoriedade promover a fiscalização do trabalho realizado.

O patrimônio arqueológico brasileiro constitui uma história das gerações do

passado, e assim compete às gerações do presente valorizar e proteger essa história que é

avaliado como recurso cultural finito e irrenovável. (BRASIL-Decreto-Lei nº 25, de 30

de novembro de 1937).

Aos instrumentos legais, citados anteriormente, juntam-se outros dispositivos

com o propósito de garantir a preservação e o conhecimento do patrimônio arqueológico

brasileiro (Art.20, X, CF; Art. 23, III, CF.; Art. 1 caput, CF) e dos assuntos ambientais

(Cap. VI, 225, CF.), e mais recentemente, a portaria nº 230, de 17 de dezembro de 2002

(IPHAN,2002).

Com isso fica claro o cumprimento, por parte do empreendedor, das diferentes

etapas que compõem a prática arqueológica, conforme a legislação prevista para os

licenciamentos ambientais de obras que afetam o patrimônio arqueológico brasileiro,

nesse caso em específico, o da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa, em Goiás.

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3 A ARQUEOLOGIA

Os estudos de arqueologia no Brasil se intensificaram a partir da segunda

metade do século XX, mais especificamente, a partir da década de 1970 com a execução

de projetos em diversas regiões do país (MARTINS, 1998). O desenvolvimento desses

projetos não só permitiu ter idéia da presença humana e diversidade cultural existente no

país, em uma época anterior à colonização européia, como também mostrou a

importância da realização de estudos de arqueologia para o conhecimento de uma

história do Brasil muito pouco entendido, e explorado, até então. Existem no Brasil

vários centros especializados no estudo da arqueologia. Sendo que os principais estão

ligados às instituições acadêmicas e a museus. A pesquisa arqueológica no Brasil cresce

a cada ano e as maiorias dos trabalhos em desenvolvimento são da chamada arqueologia

por contrato e são trabalhos realizados em áreas que irão sofrer algum tipo de impacto

(FERNANDES, 2001).

Em Goiás se tem notícia de evidências arqueológicas desde a década de1930.

Mas, foi somente na década de 1970 que se iniciaram os primeiros planejamentos de

pesquisa arqueológica. (ANDREATTA, 1975-1985). Com isso, a divisão regional para o

cadastramento de sítios arqueológicos do Estado contemplando a sua antiga divisão

geopolítica e administrativa, foi organizada conforme Melo e Breda (1972),

considerando as bacias hidrográficas em quatro áreas: Araguaia (GO-A), Tocantins

(GO-T), Paranaíba (GO-P), São Francisco (GO-F) e seus afluentes.O universo desta

pesquisa está localizada na Área Tocantins, Região Quarta, denominada Niquelândia –

Região Ni (Figura 1).

A História das pesquisas arqueológicas na Região Arqueológica Niquelândia

(GO-Ni) data da década de 1970. O registro de vários sítios arqueológicos dos tipos:

líticos, lito-cerâmicos e abrigados incorpora os dados levantados por diferentes

programas arqueológicos. Da mesma forma, a datação mais recuada para a Região

Centro-Oeste, até o momento, localiza-se na Área Arqueológica Tocantins, na Região do

lago de Serra de Mesa - GO, identificada sob a sigla GO-Ni. (SCHIMITZ, et al.,

1976/1977; MARTINS 1993/1998/1999).

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FIGURA 1 – DIVISÃO REGIONAL PARA CADASTRAMENTO DE SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS

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4 A HIDRELETRICIDADE E A QUESTÃO AMBIENTAL

A pressão internacional pela utilização de fontes energéticas com menor

potencial poluidor contribui, ainda que em caráter secundário, para o direcionamento da

política energética do país no caminho da expansão da geração hidrelétrica. A queima de

22 combustíveis fósseis (principalmente o petróleo e o carvão) e o desmatamento por

queimadas, são os principais emissores de gás carbônico (CO2) para a atmosfera, o que

afeta o clima em termos de mudanças globais. Um dos problemas associados à opção

hidrelétrica é a falta de estudos conclusivos sobre o impacto ambiental quantitativo de

uma usina de grande porte. Estima-se que o alagamento de áreas extensas florestadas,

tem influência direta nos níveis de CO2 e metanos (CH4) lançados para a atmosfera

regionalmente. Resultados obtidos por Tavares de Lima (1998), identificaram no

reservatório de Tucuruí uma fonte considerável de CH4 para a atmosfera, especialmente

nos períodos de estiagem, sendo que parcela significativa de material orgânico provém

de bancos de macrófitas aquáticas. Outros trabalhos similares somam um grande esforço

de pesquisa para a quantificação de fluxos de gases estufa para a atmosfera, a partir de

grandes reservatórios.

No entanto, existem poucos dados quantitativos e estudos conclusivos sobre

estas emissões, o que empobrece a definição da hidroeletricidade como energia limpa.

Além da questão das emissões de gases estufa, o mau dimensionamento de

reservatórios em fase de projeto ocasiona outros tipos de danos ambientais e sócio-

econômicos. O alagamento de áreas consideradas não alagáveis, a necessidade de

deslocamento de comunidades inteiras e a baixa relação potência/área alagada são

problemas conhecidos da comunidade científica voltada para estudos de reservatórios.

No Brasil, destacam-se os casos de Tucuruí, no qual, em fase de enchimento,

teve que se proceder um novo deslocamento populacional em função do alagamento não

planejado de áreas adjacentes; Balbina, cuja relação potência/área é da ordem de 0,1

MW/km2, considerada baixíssima; e Sobradinho, cujo projeto definiu o deslocamento de

cerca de 60.000 pessoas (Dias Leite, 1997; Müller, 1995).

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Em média, um terço dos acidentes com barragens verificados no mundo têm

sido decorrentes da capacidade inadequada dos seus vertedouros, os quais são sujeitos a

suportar cargas maiores do que as especificadas no projeto (PESSOA, 1992).

O desenvolvimento de novas técnicas e a proposição de modelos mais

realísticos para o cálculo de parâmetros de alagamento de reservatórios hidrelétricos,

pode contribuir para a otimização dos projetos, de certa forma minimizando os impactos

ambientais e sócios econômicos associados a estes empreendimentos.

5 RESERVATÓRIOS: IMPORTÂNCIA E RELAÇÕES

AMBIENTAIS

Margalef (1983) definiu reservatório como sendo um sistema híbrido entre um

rio e um lago. Segundo este, o rio represado regula e retarda seu fluxo; o repositório de

águas apresenta um equilíbrio mais avançado, tanto em termos dos limites físicos,

quanto em termos de suporte à vida (figura 2).

FIGURA 2 – BARRAGEM DA UHE

A taxa de renovação da água nos reservatórios é menor que em um rio, porém

maior que em um lago e as organizações verticais de um lago e horizontais de um

rio,assumem característica intermediária em um reservatório, o que determina a

necessidade de estudos específicos relativos a estes meios, como os ambientais.

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Os impactos ambientais do represamento de rios estão associados ao tamanho e

volume do reservatório, tempo de residência da água e localização geográfica, sendo os

principais: inundação de áreas agrícolas, empecilho à migração de peixes, perda de

vegetação e fauna, mudanças na fauna e flora aquáticas, mudanças no regime

hidrológico, alterações no transporte de sedimentos, proliferação de vetores de doenças

de veiculação hídrica, perda do patrimônio histórico/cultural, efeitos sociais na

população local e mudanças nas atividades econômicas locais (TUNDISI, 1986).

Os rios com maior potencial de aproveitamento hidrelétrico, geralmente

suportam vários empreendimentos, que são construídos em cascata. A regularização da

vazão, obtida com o represamento, potencializa o uso hidrelétrico à jusante, favorecendo

novos empreendimentos. Este efeito acaba por multiplicar os impactos decorrentes

destas construções.

Em decorrência da construção de usinas hidrelétricas no Brasil, originaram-se

muitos tipos de degradação ambiental, entre elas, a redução do fluxo d'água,

modificando a distribuição vertical e horizontal de características bióticas e abióticas,

resultando frequentemente em processos de eutrofização. De acordo com Tundisi

(1986), as principais causas da eutrofização são os despejos de esgotos domésticos,

industriais e resíduos agrícolas, a poluição atmosférica na forma de precipitação e a

vegetação remanescente em represas não desmatadas antes do fechamento das

comportas. Este último fator, associado à lixiviação de insumos agrícolas, aplica-se

diretamente a reservatórios hidrelétricos.

A eutrofização, segundo Tundisi (1986), é um fator importante no

“envelhecimento” dos reservatórios no hemisfério sul, sendo comum neste processo uma

fase de dominância de macrófitas aquáticas. O estudo comparativo deste processo é

importante na determinação da vida útil dos reservatórios hidrelétricos.

Silva (1994) descreve o aumento dos gradientes físicos, químicos e biológicos

como fator condicionante ao surgimento de compartimentos de água com características

diferenciadas que, por si, alteram a estrutura espacial do reservatório. Esta estrutura,

determinante do funcionamento da represa, depende dos níveis de entrada e saída de

água, bem como do volume e área de alagamento. O balanço hídrico, neste caso,

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representa um importante fator ecológico, agindo na modificação dos níveis de oxigênio

dissolvido e no transporte de nutrientes, organismos planctônicos e sedimentos.

Tal constatação é corroborada por Pereira Filho (1991), para o qual, grandes

reservatórios dendríticos, com tipos de sub-bacias e profundidades variáveis,

determinam variações espaciais na qualidade da água e condições de vida no interior dos

mesmos.

6 A USINA HIDRELÉTRICA DE SERRA DA MESA

As referências que se seguem foram extraídas do Relatório (FURNAS, 1997).

O local escolhido para implantação dessa obra hidrelétrica, foi onde o rio Tocantins

atravessa uma intrusão granítica (Serra da Mesa), de excelentes características,

considerando que a mesma é de grande porte, tais como: a casa de força em caverna

escavada no interior desse “domo granítico” com um baixíssimo consumo de concreto,

se comparado com a maioria das demais obras desse tipo no Brasil. A Usina com 1.293

MW de potência nominal, tem sua barragem de enrocamento com núcleo de argila com

altura de 150 m em sua crista. Foram escavados, em rocha, dois túneis com 680 m de

comprimento cada, totalizando a retirada de 290.000 m3 de rocha. Serra da Mesa tem o

maior reservatório do Brasil em volume de água, com 54,4 bilhões de m3,

profundidade média de 30 m e máxima de 145 m junto à barragem, totalizando uma área

de 1.784 Km2. O túnel de acesso à casa de força tem o comprimento de 440m, 10m de

largura e 7,60m de altura, e a escavação em rocha foi de 30.020m3. A casa de força é a

parte do sistema de geração onde se alojam as turbinas e geradores e diversos outros

equipamentos auxiliares e acessórios necessários a produção eficiente de energia

elétrica, como mostra no quadro 1.” Características do Projeto Serra da Mesa.”

A barragem foi totalmente escavada em rocha, com volume de 178.336m3, com

cumprimento de 137m, largura de 29,20m e altura de 69,80m.

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Quadro 1. Características do Projeto da Usina Hidrelétrica da Serra da Mesa.

MOTORIZAÇÃO

Potencia instalada (MW) 1275

Energia garantida (MW/ano) 650

RESERVATORIO

Nível máximo (m) 460

Área inundada na cota máxima (Km2) 1784

Volume total (Km3) 54,4

Volume útil (Km3) 43,25

CASA DE FORÇA

Tipo Subterrânea

Numero de unidades 3

Potencia unitária (MW) 425

Tipo de turbina Francis/Eixo vertical

Altura de queda nominal (m) 129

Vazão máxima turbina/unidade (m3/s) 390

FONTE: FURNAS (1996).

A geração de energia ocorre através de três turbinas Francis/eixo (Figura 3)

vertical de 431MW de potência nominal, A primeira turbina entrou em operação em

abril de 1998; a segunda, em setembro de 1998 e a terceira em dezembro de 1998.

FIGURA 3 – TURBINA FRANCIS/EIXO

A ligação da Usina com o sistema foi feita através de uma linha de transmissão

de 500 KV entre a Usina e a estação de Samambaia, em Brasília. Também será o elo de

ligação entre os sistemas SUL/SUDESTE/CENTRO-OESTE e NORTE/NORDESTE,

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através da ligação com o sistema de Linhas de Transmissões de concessões de

FURNAS.

O lago da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa “atingira” ao final do

enchimento, 460m acima do nível do mar e, quando ao pé da barragem, a profundidade

será de 145m. A maior largura será no leito do rio Bagagem próxima á CODEMIM, com

16 km, e a margem mais próxima de uma cidade é em Uruaçu. (Figura 4)

FIGURA 4 – RIO BAGAGEM

O lago vai inundar uma área de 1.784 Km2, serão 54,4bilhões de m3 de água,

com a formação de mais de 200 ilhas. De um lado, vai acontecer um impressionante

impacto ambiental, que afetará mais de 36 mil hectares de cerrado e milhares de espécies

animais, além de expulsar moradores de 1,1 mil propriedades que ficaram embaixo

d’água. De outro, vai se produzir em energia o equivalente a cinco vezes o consumo

de Brasília, o que entre outras coisas, rende anualmente 12 milhões de reais em

“royalties” para os municípios atingidos pelo lago.

Soma-se a isso, a criação de um imenso potencial turístico para a região e a

própria possibilidade de desenvolvimento gerado pela energia, tanto na agropecuária

como na indústria (RODRIGUES, 1997).

Quando estiver completamente cheio, o lago será o quarto maior do país,

perdendo para os reservatórios de Sobradinho (BA), Tucuruí (PA) e Balbina (AM). A

profundidade média do lago, que é de 30m, corresponde a uma altura de um prédio de

15 andares.

O funcionamento da usina proporciona ao rio Tocantins uma vazão maior da

anterior ao represamento, de 600m3 /s, beneficiando o surgimento de outras Usinas a

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Jusante (Cana Brava, Lajeado, Peixe) e o maior aproveitamento da produção de energia

na Usina de Tucuruí (PA) (CULLEN, 1964).

No quadro 2 está a área dos municípios atingidos pela UHE de Serra da Mesa e

na figura 5 ,a localização da barragem da UHE Serra da Mesa.

Quadro 2. Área dos municípios atingidos pela UHE de Serra da Mesa , Go

Municípios

Área (Km2)

Município

Área (Km2)

Inundada

Área do Município

Inundada (%)

Área Município Inundada, área total

(%)

Minaçu 2.860 47,7 1,67 2,67

Campinorte 1.069,6 3,5 0,33 0,20

Campinaçu 1.976,9 332,3 16,81 18,62

Colinas do Sul 1.707,6 68,5 4,01 3,84

Uruaçu 2.135,3 277,5 13,00 15,55

Niquelândia 9.847,2 1.018,7 10,35 57,09

Barro Alto 2.046,1 35,8 1,35 2,01

São Luis Norte 723,8 0,5 0,07 0,03

TOTAL 22.366,5 1.784,5 7,98 100,00

FONTE: FURNAS (1997).

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FIGURA 5 – LOCALIZAÇÃO DA BARRAGEM DA UHE SERRA DA MESA

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A Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa está localizada no norte do Estado de

Goiás, na cidade de Minaçu (13°50’ S / 48°18’ W), Figura 6.

FIGURA 6 - ÁREA DE ESTUDO: USINA HIDRELÉTRICA DE SERRA DA MESA - MINAÇU/GO

Trata-se de um represamento do rio Tocantins em sua porção mais à montante.

Envolve a descarga dos três principais tributários da nascente do Tocantins: rio

Bagagem, rio Maranhão ou Tocantinzinho e rio Claro.

A área de abrangência do reservatório compreende uma porção crustal antiga

(anterior ao pré-cambriano), com formações de interesse geológico-econômico. No

entanto, boa parte destes recursos continuará disponível por estar em locais com altitude

bem mais elevada que a cota máxima do reservatório. É o caso do complexo

Niquelândia, que margeará dois grandes braços da represa. (margem esquerda, figura 7).

FIGURA 7 – MARGEM ESQUERDA DE NIQUELANDIA

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Algumas formações sedimentares recentes são encontradas à jusante da região

de alagamento. O solo predominante no local é do tipo latossolo vermelho-amarelo

distrófico, que cobre boa parte do Planalto Central Goiano.

O relevo apresenta variações rápidas com formas aguçadas, com diferentes

ordens de grandeza, separadas geralmente por vales em “V”. A vegetação predominante

é o cerrado típico, arbóreo aberto com florestas de galeria e presença mínima de trechos

com vegetação densa (Projeto RADAMBRASIL, 1981, (Figura 8)).

Esta característica de relevo propicia o alagamento em forma dentrítica,

favorecendo o surgimento de compartimentos ou corpos d’água, alguns com

comportamento estanque em termos de hidrodinâmica.

Uma grande variação do nível do reservatório pode ser estabelecida pelo regime

hídrico da região. As cotas pré-definidas como mínima e máxima são 413 e 460 metros,

respectivamente, afetando consequentemente o volume e a vazão da represa,

alternadamente, em épocas secas e chuvosas.

(A

(B) (C)

FIGURA 8 – FOTOGRAFIAS DO RESERVATÓRIO: (A) VISÃO PANORÂMICA DA MARGEM

ESQUERDA DO RESERVATÓRIO;

(B) VISTA AÉREA DO RESERVATÓRIO; (C) VISTA AÉREA DA BARRAGEM.

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A região de abrangência do reservatório mantém as condições climáticas

peculiares ao centro oeste brasileiro, apresentando uma estação chuvosa no verão, com

médias de precipitação mensal em torno de 250-350 mm, e uma estação seca no inverno,

quando a média cai para 0-25 mm mensais.

A forte seca que acontece nos meses de julho-agosto-setembro determina uma

espécie de “ciclo do fogo”, quando ocorrem queimadas na região. A vegetação começa a

se regenerar no início de novembro e atinge um máximo de produção no fim do verão.

Estas variações são importantes do ponto de vista do analista de dados de

sensoriamento remoto, uma vez que estes padrões podem afetar a imagem de diversas

formas.

6.1 Justificativas para o não enchimento do reservatório

A velocidade de enchimento do reservatório (de acordo com o projeto inicial, o

reservatório atingiria sua cota máxima – 460 metros – em 2 anos, ou seja, em

outubro/98), pode ter sido reduzida por vários fatores, muitos dos quais relacionados a

erros sistemáticos de projeto. Outro fator que pode ter influenciado o processo de

enchimento foi o aumento do período de estiagem na região. Sabe-se que a precipitação

dominante do processo de enchimento está relacionada aos meses de outubro a março,

quando o volume precipitado é maior, permitindo um escoamento superficial mais

consistente e conseqüente descarga na represa. Durante os outros meses,

correspondentes ao período seco, boa parte do volume precipitado (que já é pequeno),

retorna à atmosfera por processos de evapotranspiração. A contribuição do período de

estiagem para o enchimento dos reservatórios é mínima.

Dados fornecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL (1998),

indicam uma precipitação nos meses de outubro a dezembro de 1997, em média 35%

menor que a série histórica dos últimos 33 anos para a região. Apesar dos dados não

estarem completos (as medidas de precipitação para o ano de 1998 ainda não foram

tabuladas pela ANEEL), percebe-se aqui um fator determinante da velocidade de

enchimento do reservatório.( Quadro 3 ).

18

Quadro 3: Dados pluviométricos ANEEL – Estação São Félix.

FONTE: ANNEL (1998)

Coincidentemente, no biênio 97/98 se manifestou uma das mais intensas séries

de fenômenos climáticos associados ao El Niño (INPE/CPTEC, 1998). Apesar de a

região Centro-Oeste estar localizada em uma faixa de estabilidade em relação ao

fenômeno El Niño, caberia investigações pormenorizadas sobre a influência do mesmo

no regime hídrico local.

6.2 Estudos de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento

A metodologia apresentada é de fácil aplicação. Os valores encontrados foram

compatíveis com estudos similares realizados pela empresa Furnas S. A. e consultores

contratados, indicando uma razoável confiabilidade do método, ainda que relativa. Tais

valores permitem concluir que:

. Mantêm-se as indicações do erro médio apontado por trabalhos preliminares

sobre o volume e área da represa da UHE Serra da Mesa, da ordem de 30% a menor para

o volume e 50% a menor para a área, em relação aos valores projetados;

. O erro de projeto já afeta as estimativas de geração hidrelétrica da UHE Serra

da Mesa na mesma proporção ao erro médio de volume, ou seja, a usina tem uma vazão

de consumo cerca de 30% menor que o previsto para a cota atual de alagamento (446

metros) (figura 9).

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FIGURA 9 – COTA DE 446 METROS

Com relação cota-dia da UHE Serra da Mesa, FURNAS S.A. (1997), quadro 4.

e figura 10, do mosaico de imagens JERS-1/SAR da região da UHE Serra da Mesa,

identificadores 388/324 e 389/324, obtidas em 19.11.97.

Quadro 4 – Cota-dia da UHE Serra da Mesa.

FONTE: FURNAS, (1997).

FIGURA 10 – MOSAICO DE IMAGENS JERS-1/SAR DA REGIÃO DA UHE SERRA DA MESA,

IDENTIFICADORES 388/324 E 389/324, OBTIDAS EM 19.11.97.

20

Com isso boa parte dos projetos das grandes hidrelétricas brasileiras foi

desenvolvida há cerca de duas décadas, quando os recursos computacionais ainda não

estavam disponibilizados como da forma atual. Este é o caso da Usina Hidrelétrica de

Serra da Mesa. O levantamento topográfico realizado durante a fase pré-projeto data de

1981. A obra esteve paralisada durante alguns anos por embargo judicial, quando foi

questionado o Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental da obra.

O fato é que este levantamento apresenta erros tanto na planimetria quanto na

altimetria. No entanto, tais erros, apesar de evidentes, são de difícil mensuração a partir

dos dados existentes, uma vez que estes dados foram obtidos com base naquele

levantamento.

Para se obter um refinamento ainda maior das determinações de volume e área,

seria necessária a retificação da base cartográfica existente. Esta tarefa poderia ser

realizada de duas maneiras, não exatamente excludentes:

. Realização de uma extensa rede de amostragens sobre o reservatório, com o

levantamento de cotas batimétricas e posicionamento com GPS.

Tal procedimento é realizado com sucesso em reservatórios norte-americanos,

especialmente os que estão sob os cuidados da Texas Water Development Board

(SOLIS, 1998). Ali, os dados são obtidos de transects ao longo da represa com

espaçamento de cerca de 155 metros e estações a cada 6.3 metros. As informações são

processadas no programa Arc-View (ESRI), através de redes triangulares irregulares;

. Geração de um modelo numérico de terreno a partir de imagens SAR

estereoscópicas, anteriores ao alagamento, baseado em técnicas de interferometria. Este

modelo seria completamente independente da base de dados atual, comprovadamente

problemática. No entanto, seria preciso fazer uma pesquisa sobre a existência de tais

imagens para este estudo.

Ainda, de forma a se obter uma análise comparativa ao método proposto,

poderiam ser realizados os seguintes estudos:

. A determinação de área e volume em outro programa de geoprocessamento,

utilizando a representação de malha triangular irregular para todo o processo;

21

6.3 Sítios Arqueológicos

Foram referenciados dois sítios arqueológicos pré-históricos e dois históricos.

No total, foram registrados in loco, pelo Projeto de Salvamento Arqueológico Pré-

Històrico da UHE Serra da Mesa – GO (PA-SALV-SM), no período de fevereiro de 1995

a março de 1998, (37 meses de trabalho), 93 sítios arqueológicos, 50 ocorrências

arqueológicos, e percorridos 1082 pontos no universo de trabalho. O acervo constituído

por cerca de 55000 testemunhos.

Várias foram as instituições e equipes envolvidas no resgate arqueológico de

Serra da Mesa como:Universidade Federal de Goiás; Universidade Católica de Goiás;

Universidade de São Paulo; Universidade Estadual Paulista; Universidade Católica Dom

Bosco de Campo Grande; Universidade de Brasília.

Os 93 sítios arqueológicos estão registrados em vários municípios: sendo 37

sítios em Niquelândia; 25 em Campinaçu; 13 em Minaçu; 9 em Barro Alto; 6 em Uruaçu

e 3 em Colinas do Sul.

Sendo que 33 sítios (Quadro 5 ), ou seja, 30.69% dos mesmos sofrem com a

oscilação da cota das águas, e o não enchimento do reservatório. Os sítios arqueológicos

também estão sujeitos a um tipo de perturbação artificialmente induzida pela ação

antrópica: nos reservatórios das usinas hidrelétricas, a oscilação da lâmina d’água e o

embate das ondas afetam os sítios arqueológicos alçados pelo soerguimento da lâmina

d’água. Não se sabe exatamente o que acontecerá com os sítios arqueológicos afogados

pelo enchimento da usina hidrelétrica.

22

Quadro 5 - Sítios arqueológicos não inundados pelo lago da Usina Hidrelétrica de Serra

da Mesa.

Líticos Idade do Material(anos) Método de Datação GO-Ni.200 Sítio Peixe Borboleta ___ ___ GO-Ni.202 Sítio Piracanjuba 570 C14 GO-Ni.210 Sítio Branquinha ___ ___ GO-Ni.211 Sítio Arapuá 360 TL GO-Ni.212 Sitio Surubim ___ ___ GO-Ni.219 Sucupira ___ ___ GO-Ni.193 Costa Santos ___ ___ GO-Ni.142 Serra Grande ___ ___ GO-Ni.145 Água Boa ___ ___ GO-Ni.129 Palmeira ___ ___ GO-Ni.178 Lapa Riacho Fundo ___ ___ GO-Ni.192 Serra da Conceição ___ ___ GO-Ni.177 Abrigo Pedra Negra ___ ___ GO-Ni.171 Pedra Rolada ___ ___ GO-Ni.169 Sítio Santa Cruz 1.131 TL GO-Ni.160 Boa Sorte ___ ___ GO-Ni.137 Corego do Meio 987 TL GO-Ni.127 Lajinha 280 TL GO-Ni.147 Sítio Bateias ___ ___ GO-Ni.149 Flor da Mata ___ ___ GO-Ni.132 Sítio Manoel Candido 817 TL GO-Ni.133 Sitio Bom Jardim 1.089 TL GO-Ni.138 Aroeira ___ ___ GO-Ni.139 Guatambu ___ ___ GO-Ni.140 Córrego do Prata ___ ___ GO-Ni.141 Barbosa ___ ___ GO-Ni.134 Abrigo Polague 1.204 TL GO-Ni.136 Gruta C. Carneiro 1.127 TL GO-Ni.143 Córrego Brasilinho ___ ___ GO-Ni.128 Sitio Três Ranchos 354 TL GO-Ni.159 Sitio Cordeiro ___ ___ GO-Ni.150 Igrejinha dos Barbosas ___ ___ GO-Ni.152 Sítio Toqueiro 483 TL Legenda:

TL - Termoluminescência.

C14 – Datação Radiocarbônica.

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No PA-SALV-SM, a obtenção de datações absolutas dos sítios arqueológicos

foi considerada como dado importante, complementar às demais informações obtidas

por meio das análises dos testemunhos materiais líticos, cerâmico, de ossos (humanos e

animais), pinturas rupestre, etc., que proporcionariam a inserção dos sítios numa escala

cronológica. Foram utilizados, para tanto, três métodos de datações:

1. Os ensaios de termoluminescência (TL);

2. A datação radiocarbonica (C14);

3. O método de ressonância paramagnética eletrônica (RPE).

Foram encaminhadas 48 amostras de sítios arqueológicos registrados na área de

Serra da Mesa para datações por termoluminescência (TL), duas amostras para exames

por ressonância paramagnética eletrônica (RPE) e 22 amostras de carvão para cálculo de

idade radiocarbônica (C14). (MARTINS, 1999).

Do resultado das análises, pode-se afirmar que a ocupação humana na área de

Serra da Mesa desenrolou-se desde aproximadamente 10.250 anos (margem de erro

entre + - 90 anos). A idade do GO-Ni.148 (Sítio Fidalgo), único sítio lítico que forneceu

material (carvão associado a objetos líticos, numa profundidade de 1,40 cm), para a

datação, (Análise feita por C14), conforme a cronologia da Região Arqueológica de

Niquelândia - Ni-, no Estado de Goiás (MELO E BRENDA, 1972).

Mas não é a mais antiga do Estado de Goiás, as amostras de carvão do sítio

GO-Ni.49, no município de Hidrolândia – GO, foram datadas e comprovadas a idade de

10.750 anos (SCHMITZ, 1976).

Já os resultados de datações por termoluminescência (TL), na área de Serra da

Mesa no caso do GO-Ni.176 (Abrigo Pedra Talhada), aproximadamente 2.860 anos

(Análise feita por TL).

A pesquisa arqueológica de Serra da Mesa, juntamente com as demais

realizadas no Estado de Goiás, proporcionam o melhor entendimento da ocupação e do

cotidiano das populações pré-coloniais, a partir de sua intensificação e aprofundamento.

24

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Sem perder de vista a peculiaridade da área de Serra da Mesa, tanto no que se

refere à sua ambientação quanto nos aspectos arqueológicos, conclui-se que o estado de

conservação dos sítios foi um dos principais problemas enfrentados na investigação

arqueológica. À medida que vão sendo ampliadas as atividades de extrativismo mineral

e vegetal, bem como a pecuária extensiva e de aproveitamento para lavouras de soja e

arroz, os sítios arqueológicos tornam-se cada vez mais alterados, diminuindo o nível de

informações arqueológicas oferecidas e também à possibilidade de serem localizados

por futuros pesquisadores.

Correntes de fundo, ao erodir o novo leito, dispersarão evidências

arqueológicas redepositando-as em outros locais. Ou, ainda, o assoreamento poderá

soterrá-las sob espessas camadas de lama. A avaliação deste tipo de impactos é, hoje,

altamente especulativa.

A partir de então, recomenda-se o resgate dessa memória cultural, de pelo

menos os 11 (onze) sitos arqueológicos, ou seja, 25% dos não inundados pelo

enchimento do reservatório, pois apresentam alto potencial de importância para gerações

futuras, devido suas datações variarem desde 280 anos até 1204 anos antes do presente,

devendo-se isolar as áreas, pois se sabe que a região está sendo ocupada, com construção

de casas, hotéis, pousadas, criação de gado e agricultura irrigada, uma ocupação

desorganizada que gera grandes prejuízos para o nosso meio ambiente e que acarretará

em um curto período o desaparecimento total de todos os sítios existentes nessa região

denominada Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa - GO.

25

DICIONÁRIO

A engenharia de barragens e a hidrologia estabeleceram alguns conceitos

relativos a reservatórios hidrelétricos, os quais são explanados a seguir para melhor

entendimento do texto:

MONTANTE – região da rede de drenagem, bacia ou manancial hídrico, localizada em

nível altimétrico superior ao do objeto referenciado;

JUSANTE – contrário de “montante”, ou seja, região da unidade de estudo (rede de

drenagem, bacia ou manancial hídrico) localizada em nível altimétrico inferior ao do

objeto referenciado;

COTAS – valor “z” em um sistema de eixos tridimensional “x,y,z”, atribuído a uma

localização no terreno. Uma sequência de pontos com a mesma cota se constitui numa

isolinha. Esta é a representação básica de uma curva de nível (Ex.: cota 460 representa a

curva de nível de 460 metros);

NÍVEL MAXIMUM MAXIMORUM – nível do reservatório projetado como nível

máximo de suporte ao alagamento;

NÍVEL MÁXIMO NORMAL – nível projetado como máximo de suporte operacional da

usina;

NÍVEL MÍNIMO NORMAL – nível mínimo de operação, abaixo do qual não há

geração de energia pelas turbinas;

VOLUME MORTO – volume contido abaixo do nível mínimo normal do reservatório;

VOLUME ÚTIL – volume contido entre os níveis mínimo e máximo normais do

reservatório;

EXUTÓRIO – ponto mais à jusante de uma bacia hidrográfica, por onde se dá o

escoamento do canal principal da bacia;

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